Revista varal 16

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Varal do Brasil— julho/agosto 2012 www.varaldobrasil.com Literário, sem frescuras! ISSN ISSN ISSN ISSN 1664 1664 1664 1664-5243 5243 5243 5243 Ano 3 Ano 3 Ano 3 Ano 3 - Julho/Agosto 2012 Julho/Agosto 2012 Julho/Agosto 2012 Julho/Agosto 2012—Edição no. 16 Edição no. 16 Edição no. 16 Edição no. 16 © Tschuwawah - Fotolia.com

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Literário, sem frescuras! ISSN ISSN ISSN ISSN 1664166416641664----5243 5243 5243 5243

Ano 3 Ano 3 Ano 3 Ano 3 ---- Julho/Agosto 2012Julho/Agosto 2012Julho/Agosto 2012Julho/Agosto 2012————Edição no. 16Edição no. 16Edição no. 16Edição no. 16

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®

LITERÁRIO, SEM FRESCURAS

Genebra, verão de 2012

No. 16

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EXPEDIENTE Revista Literária VARAL DO BRASIL

NO. 16 - Genebra - CH

Copyright Vários Autores

O Varal do Brasil é promovido, organizado e rea-lizado por Jacqueline Aisenman

Site do VARAL: www.varaldobrasil.com

Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com

Textos: Vários Autores

Colunas:

Clara Machado

Daniel Ciarlini

Fabiane Ribeiro

Sarah Venturim Lasso

Sheila Kuno

Ilustrações: Vários Autores

Foto capa: ©-Tschuwawah---Fotolia.com

Foto contracapa: Paulo Aisenman

Muitas imagens encontramos na internet sem ter o nome do autor citado. Se for uma foto ou um desenho seu, envie um e-mail para nós e tere-mos o maior prazer em divulgar o seu talento.

Revisão parcial de cada autor

Revisão geral VARAL DO BRASIL

Composição e diagramação:

Jacqueline Aisenman

A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A revista está gratuitamente para download em seus sites e blogs.

Se você deseja participar do VARAL DO BRASIL NO. 17 envie seus textos até 10 de agosto de 2012 para: [email protected]

O tema da edição no. 17 será: Nossa Infância

Em setembro a revista

VARAL DO BRASIL vem com o tema

NOSSA INFÂNCIA

Participe! Peça o formulário pelo e-mail: [email protected]

Inscrições até 10 de agosto!

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Chegou o verão no hemisfério norte! Depois de longos meses de frio - podemos mesmo falar de um dos piores invernos dos últimos vinte anos - eis que o calor do verão aquece enfim corpos e corações.

Este ano foi um ano especial para o Varal: muitos números de nossa revista que está cada vez conquistando um espaço maior e, de quebra, chegando ao coração de leitores ao redor do mun-do que estão sempre mais participativos. Uma alegria para todos nós!

Também lançamos nossa segunda coletânea, Varal Antológico 2, em três cidades que nos rece-beram de coração aberto e com muita festa regada à música, poesia e bons papos literários.

Fomos a Salvador dia 25 de maio, a Belo Horizonte no dia 31 de maio e a Brumadinho no dia primeiro de junho. Contamos para estes significativos eventos que fizeram o Varal se estender na Bahia e em Minas Gerais, com o apoio de muita gente! Vamos agradecer aqui os que coor-denaram diretamente, mas não esquecemos que os envolvidos foram muitos!

Norália de Mello Castro e a Prefeitura da cidade de Brumadinho , Secretaria da Cultura e Casa de Cultura Carmita Passos; Renata Rimet e Valdeck Almeida de Jesus em Salvador, assim co-mo as proprietárias gentilíssimas do Beco da Rosália;. E, finalmente, mas nunca por último, Cle-vane Pessoa de Araújo Lopes e Marcos Llobus em Belo Horizonte. Com estes últimos levamos também nosso agradecimento ao pessoal encantador do Restaurante Dona Preta, aos poetas participantes do Conversa ao Pé do Fogão e do Sarau da Lagoa do Nado. Estiveram conosco nos três encontros, diversos coautores do livro, os quais enriqueceram, com suas vivências e presença, cada um dos eventos acima relacionados! Neste número trazemos para você algumas fotos para compartilhar nossa alegria!

Com o sucesso da segunda coletânea, abrimos as inscrições para a seleção prévia para o Varal Antológico no. 3 e que será lançado no ano que vem no Brasil.

Fazemos questão de agradecer a todos os autores participantes deste número e de todos as edições já publicadas pelo Varal. Vocês são a alma que faz do Varal do Brasil uma revista viva, alegre, realmente literária sem frescuras!

Entramos em férias no período julho/agosto e desejamos a todos, onde estiverem, o que de me-lhor possa haver na vida! Nos encontraremos em setembro (inscrições abertas até dez de agos-to) com a edição no. 17 falando sobre Nossa Infância!

Sua Equipe do Varal

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1. AILTON SALES

2. ALMA LUSITANA

3. ANA MARIA ROSA

4. ANA ROSENROT

5. ANDRE L. A. SOARES

6. ANDRÉ VALÉRIO SALES

7. ANTÔNIO FIDÉLIS

8. ANTONIO VENDRAMINI NETO

9. CARLOS BRUNNO S. BARBOSA

10. CARLOS CONRADO

11. CLARA MACHADO

12. DANIEL CIARLINI

13. DANIEL CRAVO SILVEIRA

14. DANILO A. DE ATHAYDE FRAGA

15. DHIOGO JOSÉ CAETANO

16. DOMINGOS A. R. NUVOLARI

17. ELISE SCHIFFER

18. ELISEU RAMOS DOS SANTOS

19. ESTRELA RADIANTE

20. FABIANE RIBEIRO

21. FELIPE CATTAPAN

22. FERNANDA DE FIGUEIREDO FERRAZ

23. FRANCISCO FERREIRA

24. FRANCY WAGNER

25. GIORDANA BONIFÁCIO

26. GLADYS GIMÉNEZ

27. GUACIRA MACIEL

28. HELENA KUNO

29. HELENA BARBAGELATA

30. HILDA FLORES

31. ISABEL C. S. VARGAS

32. IVANE PEROTTI

33. JOANA ROLIM

34. JOSE CAMBINDA DALA

35. JOSE CARLOS DE PAIVA BRUNO

36. JOSÉ HILTON ROSA

37. JUAN BARRETO

38. KARINE ALVES RIBEIRO

39. LARIEL FROTA

40. LÉNIA AGUIAR

41. LENIVAL NUNES DE ANDRADE

42. LINA MACIEIRA

43. LUCIA AEBERHARDT

44. LUNNA FRANK

45. MAGNO OLIVEIRA

46. MARCOS TORRES

47. MARIA DALVA LEITE

48. MARIA LUIZA FALCÃO

49. MARIA LUIZA FRONTEIRA

50. MARIO REZENDE

51. NINA DE LIMA

52. RAFIKI ZEN

53. REGINA COSTA

54. ROBERTO ARMORIZZI

55. ROZELENE FURTADO DE LIMA

56. RUTE MIRANDA

57. SANDRA NASCIMENTO

58. SANDRA BERG

59. SARAH VENTURIM LASSO

60. SHEILA KUNO

61. VARENKA DE FÁTIMA

62. VIVIANE SCHILLER BALAU

63. WILLIAN LANDO CZEIKOSKI

64. WILSON CARITTA

65. WILSON DE OLIVEIRA JASA

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Abundancia

Por Ailton Sales

Família sempre unida Mesa farta e agasalho Dinheiro na dose certa

Fruto do próprio trabalho Muita paz muita harmonia Muito amor e tolerância

Essa é a vida prometida Por Jesus... Em abundancia.

Família desagregada

Muito luxo e ostentação Dinheiro em demasia

Sempre fácil sempre à mão Sem paz sem tranquilidade

Em constante vigilância Essa é a vida oferecida

Pelo Homem... Na abundancia.

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Déjà-vu

Por Ana Maria Rosa

Ia passando por uma rua próxima, quando sentiu o desejo irresistível de rever aquela ca-sa. Parou o carro e deixou que suas pernas a levassem à rua das mangueiras. Era melhor vol-tar – uma mulher de trinta anos parecendo uma adolescente – iria apenas passar como quem não quer nada, só para dar uma olhada. De longe, avistou a casa amarela. Parou tentando re-cuperar a respiração. Ainda havia tempo de voltar. Seu corpo impulsionou-se até o número 25. Quedou-se observando: a fachada imponente, a porta entalhada, o muro de pedra, o jardim de rosas, a grade alta... Em que momento tudo se acabara? Antes, entrava sem se anunciar, agora não podia sequer tocar a campainha. Precisava desistir. Dobrou a esquina e viu o por-tãozinho do quintal, aberto. Olhou para os lados e entrou.

Experimentou o trinco da porta da cozinha. Arrodeou a casa, viu uma janela aberta. Vol-te, Marina, volte... Escutou o silêncio da casa, o coração aos pulos. Estava louca. Uma mulher casada com um deputado, mãe de dois filhos – escondida – espreitando o interior de uma ca-sa! Assomou a cabeça à janela e viu a sala de jantar parada no tempo: a mesa grande, as ca-deiras de veludo verde, os quadros, o lustre. Apenas as cortinas eram novas – cor de vinho. Mulherzinha de mau gosto! Fechou os olhos, calculou a altura da janela – como da primeira vez que dormira com ele – agarrou-se ao parapeito e pulou.

Ouviu o chuveiro e a voz dele vinda de longe – Quem é?

Entrou no quarto, escondeu-se atrás da cortina, ficou a espiá-lo – belo e viril – enxugando o cabelo. Ouviu a ordem – Marina, saia daí!

Marina fundiu-se ao corpo nu. Sentiu uma mistura de prazer, felicidade e dor, tudo mistu-rado. Teve medo de estar sonhando novamente. Desejou morrer: não queria acordar em sua casa, na cama ao lado do marido.

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Escolhas *

Ana Rosenrot

De um canto escuro e apertado, vejo a chuva que cai pesada, gelando as almas e anunciando a proximidade do inverno, para angústia dos que nada tem.

Observo as pessoas que passam apressadas, coloridos guarda-chuvas tremulam como bandeiras, todos correm em busca de seus destinos, não me enxergam, minha caixa de es-molas está molhada e vazia.

Mas a vida é assim mesmo, uns se abrigam em luxuosos carros importados, outros em cantos escuros e úmidos, a sorte não sorri para todos, como um dia sorriu pra mim.

Minha vida vai correndo como a enxurrada, cheia de sujeira e abandono, o medo cres-cendo conforme a água da enchente sobe, me sinto tão só, ninguém olha em minha direção, sou a imagem dos seus temores mais íntimos, acham que nunca estarão no meu lugar e pen-sar que um dia também pensei assim.

A chuva se arrasta por horas, sinto meus ossos doerem devido ao excesso de umidade, meu corpo parece estar apodrecendo junto com os jornais que me servem de cobertor e como o papel, minha alma se dissolve, misturando-se com a lama da rua.

Pouco tempo atrás, parece que já faz um século, minha vida era outra, eu tinha dinheiro e posição, mas fiz escolhas erradas, me envolvi com as piores pessoas e destruí as conquis-tas de toda uma vida, devido a ganância e a ambição.

Agora estou aqui, vivendo os segundos, colhendo os restos do mundo, tão inoportuno e dispensável quanto o entulho que se acumula.

O sol volta a brilhar e as pessoas retomam sua rotina e de repente, alguém que conhe-ço de outra vida me atira uma moeda, o faz como se jogasse uma pedra em um rio, pouco se importando onde irá cair, pelo menos, com a moeda, ela acha que aliviou a possível parcela de culpa que sente sobre minha triste situação, mas a culpa somente existe em quem se julga culpado e essa culpa é toda minha.

Hoje eu sou filho do mundo, flagelo da humanidade, não me diga que sente pena de mim, pois todos querem me ver longe de suas vistas, até mesmo você, com sua beleza com-prada, mas eu estou melhor agora, pois me sinto vivo, real, faço parte de suas ruas e praças, sempre estarei ao seu lado, lembrando ao mundo que a miséria existe.

A vejo se afastar, passos rápidos, tensos, quem estou enganando, preciso alcançá-la, olhar em seus olhos outra vez, me levanto, sigo em sua direção, ela entra no carro, alguém a espera, perco a coragem de me aproximar, ela pertence a outro mundo e nele eu não existo mais.

Volto a me esconder da vida naquele canto escuro, talvez um dia, eu tome coragem e faça com que meu grito seja ouvido, até mesmo por você, talvez.

*Conto premiado com Menção Honrosa no III Concurso de Poesias, Contos e Crônicas de Jacareí “Troféu Jacaré” 2011.

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ALICE Por André L. Soares Alice, embebida de pureza, há poucas horas, chegara ao planeta, ainda estava imune à maldade, quando as notícias velozes rasgaram-lhe as têmporas. Lágrimas verdes vertendo das retinas, pontas de dor aguda a lhe fisgar o peito, grito de clave de sol, preso à garganta, ela então, vê a santa desnuda sob a luz fria do cotidiano,... momento em que o belo pintou-se de breu (sabor amargo de inocência trincada). Cansada, recolhe-se ao quarto, a proteger-se dos cristais e plasmas. Após sangrar lembranças, cerra pálpebras, chora e soluça outra vez, sozinha. Por fim, Alice adormeceu! Em seus sonhos ainda existem flores, a água e a verdade parecem cristalinas e até o coração do homem é bom. Acanhado, procurei algo que a fizesse sentir-se melhor quando acordasse; tentei criar um ‘origami’, mas já era tarde... eu só tinha em mãos, a realidade. .

Foto de André L. Soares

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TEMPO DE REFLETIR

Por Lenival de Andrade

Amigos humanos terráqueos

Vejam bem

E prestem muita atenção também

Pois estamos vivendo

Num tempo muito difícil

Para todos nós

E é muito bom

Parar para pensar

Pensar e refletir

A DEUS perdão pedir

De joelhos e perante ele

Ser Supremo, Soberano e Maior

Sobre tudo e todos

Além de todo o mar, céu e infinito

Pensem e meditem

Antes de tudo o que vai fazer e falar

Não precisa complicar

Sem precisar medir

Pois sempre é tempo

Tempo de refletir

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Deus grego

Por Lúcia Brüllhardt

Estou em Atenas, exatamente em um antigo cemitério, parada de frente a um túmulo branco coberto por lindas lápis-lazúlis. A beleza era tamanha, que fascinada com o brilho das pe-dras me abaixo para pegá-las. De repente surge a minha frente um deslum-brante “deus grego” LINDO! Pele branca, olhos cor de mel, cabelos doura-dos e um corpo desenhado pelas mãos de Zeus. Ele veste um minivestido de seda branca com um cinto dourado e sandálias de couro amarradas nas pernas, musculosas e depila-das. Tinha uma postura elegante e os braços cruzados na altura do peito. Em cada braço na altura dos músculos uma pulseira em ouro ma-ciço. Levanto minha cabeça e olho para ele que me fala : - Atenção! Não toque nestas pedras. ACORDEI! (tudo não tinha passado de um so-nho). Alguns anos após este sonho, viajava de férias para Grécia uma amiga e na volta me traz de presente uma pulseira de pedras “ lápis-lazúlis.”. Em minha mente uma explosão de luzes como um raio, me traz a tona o “deus grego” me avi-sando para não tocar nas pedras. Muito assus-tada, mas contendo minhas emoções agrade-ço, pego a pulseira guardo em minha bolsa... Na ida para minha casa teria que passar por uma ponte com um riacho de forte correnteza. No meio da ponte ouço uma voz que me acon-selha : - Joga a pulseira fora, pois a mesma está pre-parada para te destruir a partir do momento que colocares no braço. (Assustada, e quase sem folego, não hesitei. Obedeci) A vida continuou no ritmo normal.

Vez por outra recebia a visita da amiga que me perguntava : - A pulseira que te dei, você não vai usar? Já vim aqui diversas vezes e não te vejo com ela ? Com um grande aperto no coração e um frio que me percorria toda a espinha dorsal eu res-pondia : Aquela linda e maravilhosa pulseira só uso em ocasião especial. Foi o melhor presente que você me deu. Obrigada. Abraçava ela e

beijava.

7 Anos passados, em uma manhã de segunda-feira, em meu escritório recebo um telefonema informando que minha amiga ( a da pulseira ) tinha sido assassinada com 19 facadas e o ros-to tinha sido completamente destruído por áci-do. Novamente aquela explosão de luzes como um raio em minha mente e como cenas de filme passa o sonho, o deus grego, a pulseira, a tra-vessia no riacho..... em meio a turbulência de imagens, a voz que me revela : Seria você. Tentei acordar do pesadelo; ERA REALIDADE, eu não estava dormindo, passado o choque e recuperadas minhas forças emocionais, que devido ao ocorrido me abalaram profundamen-te, continuei minha rotina diária...

Quando em uma bela tarde de verão europeu, decido caminhar na beira do lago. Aquela tarde de domingo era muito especial, o dia estava realmente lindíssimo, céu azulado, a brisa leve que balançava meus longos cabelos negros, um cheiro de alegria, felicidade misturada com satisfação parava no ar. Eu estava muito feliz e eufórica, uma dose dupla de felicidade batia em meu peito. Não entendia porque estava tão fe-liz.

Ao chegar no lago, decido subir até uma clarei-ra, onde poderia observar todo o movimento de pessoas e contemplar os contrastes de cores céu, mar, árvores e montanhas. Um local ideal para deitar e desfrutar a natureza.

Jogo minha toalha na grama verde, sento e co-loco meus óculos de sol. Tiro minha roupa bem devagar, ficando somente de biquíni, sentido assim, o toque dos raios de sol em meu corpo e o vento leve acariciando minha pele. Naquele exato momento sinto que olhos me observam. Ainda sentada, giro minha cabeça para à direi-ta, vejo um jovem de uns 27 anos, loiro, pele branca, cabelos dourados. O mesmo também sentado, óculos de sol, somente de calção de banho preto bem justo ao corpo, olhava exata-mente em minha direção.

Tentei disfarçar, mais ele me observava com grande intensidade. Não era discreto, olhava e olhava MESMO.

Perdendo a paciência me levanto, vou em sua direção, paro em frente a ele que permanece sentado, eu em pé com as mãos na cintura, quase gritando pergunto :

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- O que você tanto olha?

Ele muito calmo, sereno e com uma grande classe, tira os óculos de sol e coloca na cabe-ça, olha bem em meus olhos, sorri e me res-ponde :

- Eu estou olhando para você.

Eu meia desconcertada, totalmente sem saber o que responder falei :

- Vamos entrar na água? E saio correndo e me jogo nas águas geladas do lago de Bienne. Após o mergulho olho para trás pensando que ELE tinha me acompanhado.

Mas ELE continuava sentado sorrindo e olhan-do em minha direção.

Completamente irritada saio da água quase ro-xa e tremendo de frio, volto a onde ele perma-necia e grito :

- O que você está fazendo sentado aí? Eu te convidei para nadar!

Agora com um sorrido mais largo , ele se levan-ta coloca uma toalha em meus ombros e me fala:

_ Eu tentei te avisar que é começo de verão aqui na Suíça... à água esta CONGELADA, in-felizmente você não me deu atenção e saiu correndo em direção ao lago. Gostei muito de ver sua demonstração de coragem.

Coragem que nada, aquele homem tinha me deixado completamente desnorteada, a ponto de me jogar nas aguas congeladas de um lago. Quem era ele? De onde vinha?O que fazia aqui ? Eu tinha que descobrir isso urgente. Sem perder tempo , convidei o estranho para jantarmos juntos. Ele aceitou.

Ao anoitecer , espero meu estranho, que até então eu não sabia seu nome nem onde mora-va ( tinha esquecido de perguntar). Exatamente na hora marcada e no local acertado , ele che-ga. Agora muito mais lindo, que a tarde. Entro em seu carro e vamos a um restaurante com espe-cialidade francesa. O restaurante funcionava em um antigo castelo, e o lugar que restava, era uma mesinha exatamente com dois lugares na torre. Sentamos e fomos servidos com um coquetel de boas vindas. Brindamos, e no tilintar das ta-ças, a explosão de luzes em minha mente, trás a imagem do deus grego, que conheci (em so-nho) na cidade de Atenas.

Era ele. ERA ELE, em carne e osso, ali na mi-nha frente, naquele castelo, era real... Me en-gasgo, perco o folego, tremo. Uma sensação de felicidade, medo e curiosidade percorre todo meu ser. Controlando o vendaval de emoções, respiro e falo compassadamente : - Tenho a impressão de que já te conheço há vários anos. O meu deus grego me responde : A partir de hoje eis que tudo se transforma. Vim aqui na terra para te levar a uma outra dimen-são, viver contigo um amor intenso e te entre-gar o segredo dos nossos antepassados. Londres, Paris, Veneza, Barcelona, Maurício, Pretoria, Tailândia e Brasil. Atravessamos os sete mares. De trem, navio e avião, cruzamos de leste a oeste e de norte a sul. Loucuras deliciosas vividas plenamente, como dois apaixonados, vivemos durante 15 anos. Durante este período ele foi meu mestre, aman-te, amigo e colaborador. Até o dia em que o destino através da morte nos separou. Hoje en-contro me aqui sozinha NA FRIA NOITE DE INVERNO. Fico pensando e sonhando em todas as belas coisas que vivemos e vencemos juntos. Infelizmente você não esta mais aqui e me sin-to abandonada. Como companheira a solidão. Nos encontramos em uma tarde de verão, lem-bras? Que lindo este dia junto a ti.

Você foi para mim um presente dos céus. Na-quela tarde quando você olha em meus olhos vi que um amor belo e invencível nascera. Lembro que desejei viver eternamente com vo-cê, onde juntos poderíamos transportar monta-nhas. Lembro de seu sorriso e nos dias de do-mingo que juntos corríamos e brincávamos co-mo duas crianças. Você não lembra? Para mim foi ontem ,você sempre foi o homem que dese-jei para mim. Eu e vocês, dois! Ouço nossa canção, sinto suas mãos que tocam em mim...Ilusão. Você não está aqui . Você tornou-se distante. Velho amigo, desejo seu ombro pa-ra apoiar minha face como antigamente. A dor de sua ausência dilacera minha alma, meu pei-to e meu ser... O amor solitário fere e acaba com as forças que tenho. Volta em meus so-nhos. Explode em luzes no meu pensamento, te materializar para um último adeus. Desejo somente antes de morrer poder reviver os dias lindos que tivemos.. Sentir seu hálito perfuma-do e quente entre meu corpo me fazendo tre-mer de prazer. Meu amado, como é bom relem-brar os momentos que passei ao seu lado.

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Volto a Atenas, tentando te encontrar, mais lá você não está. Talvez a beira do lago, ou no res-taurante castelo, lá também você não está.

Eu não conseguirei viver sem você. Ouve minha dor, houve meu lamento.

Eu grito de paixão e desejo. Meu deus grego.

Não quero ir para outros braços, não quero sentir outros beijos. O sétimo céu quero ver somente com você.

Como forma de amenizar a saudade , olho nossas fotos e os presentes que recebi de você, du-rante nossa caminhada aqui na terra. No meio de tantos, uma pequena caixinha vermelha em forma de coração, me chama atenção. Curioso, nunca tinha a visto antes. Abro –a e, encontro um papel no qual está escrito :

“ deus, mito, lenda, sonho ou alucinação “

Lágrimas quentes rolam dos meus olhos, que caem pesadas no chão e se transformarão em

lápis-lazúlis. .

Amazônia

Por Magno Oliveira

As aves não mais voam

Os peixes não mais nadam

Os pássaros não mais cantam

As pessoas não mais se amam.

Tudo isso por culpa do homem e a sua maldade

Tudo por culpa do homem e a sua falta de caridade.

As nossas matas desmatadas

As nossas florestas devastadas

Nossos animais em extinção

Nosso medo da poluição.

A Amazônia é nossa devemos protege lá

A Amazônia é nossa devemos ama lá.

Viva o verde, viva a Amazônia,

Viva os índios, viva a alegria.

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O CLUBE DOS VIRA-LATAS é uma organização não governa-

mental, sem fins lucra&vos, que mantém em seu abrigo ho-

je mais de 400 animais que são cuidados e alimentados dia-

riamente. Boa parte desses animais chegou ao Clube após

atropelamentos, acidentes, maus tratos e abandono. Nosso

obje&vo é resgatá-los das ruas, tratá-los e conseguir um lar

responsável para que eles possam ter uma vida feliz.

Por que ajudar os animais?

Você sabia que no Brasil milhões de cães e gatos

vivem nas ruas, passando fome, frio e todos os &pos

de necessidades? Cerca deles 70% acabam em abri-

gos e 90% nunca encontrarão um lar. Parte será ví&-

ma ainda de atropelamentos, espancamentos e to-

dos os &po de maus tratos.

Infelizmente, não é possível solucionar este proble-

ma da noite para o dia. A castração dos animais de

rua é uma solução para diminuir as futuras popula-

ções mas não resolve o problema do agora. Sendo

assim, algumas coisas que você pode fazer para aju-

dar um animal carente hoje:

Adotar um animal de maneira responsável

Voluntariar-se em algum abrigo.

Doar alimento (ração) e/ou remédios para abrigos.

Contribuir financeiramente com ONGs.

Nunca abandonar seu animal

Como o Clube vive? Somente de doações. Todas as

nossas contas são públicas, assim como extratos

bancários e notas fiscais.

Como ajudar o Clube? Para manter esses mais de

400 peludos em nosso abrigo, contamos hoje ape-

nas o trabalho dos voluntários e com o dinheiro de

doações. Todos podem ajudar, seja divulgando o

Clube, seja adotando um animal ou mesmo doando

dinheiro, ração ou medicamentos. Qualquer doa-

ção, de qualquer valor por menor que seja, é bem-

vinda. As contas do Clube bem como o des+no de

todo o dinheiro estão abertas para quem quiser

BRADESCO (banco 237 para DOC)

Agência: 0557

CC: 73.760-7

Titular: Clube dos Vira-Latas

CNPJ: 05.299.525/0001-93 Ou

Banco do Brasil (banco 001 para DOC)

Agência: 6857-8

CC: 1624-1

Titular: Clube dos Vira-Latas

CNPJ: 05.299.525/0001-93

(Saiba mais sobre o Clube em h$p://fr-

fr.facebook.com/ClubeDosViraLatas?ref=ts)

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AS TOURADAS DE SEVILHA

Por Antonio Vendramini Neto

Nos caminhos percorridos em terras espanholas, visitei juntamente com a companheira, a esplendo-rosa cidade de Sevilha, em pleno verão europeu. Trata-se de uma terra aguerrida, povo cheio de vida, dando a impressão que estão sempre nervo-sos e apressados, mas não vimos nada de excep-cional em sua metrópole que os levasse a ter esse comportamento, pelo contrario, é um povo muito acolhedor, talvez seja o espírito da raça.

A paixão que os eleva, são as touradas, que é uma questão de cultura, que veio da mistura de europeus e seus conquistadores, mais recente-mente, os mouros que ficaram em seu território por mais tempo, cerca de 700 anos, transforman-do-se na “caliente” região de Andaluzia.

Além dela, visitamos as principais cidades como; Mérida, Córdoba e Granada, estão situadas a Su-deste da Península Ibérica é a capital da província da Comunidade Autônoma, sendo a quarta cidade espanhola, com cerca de 700.000 mil habitantes.

O que mais nos impressionou, foram os acervos e as arquiteturas da época que estou descrevendo como sendo a dos Mouros. No ano 712 da nossa era, o Califa Musa, acompanhado de seu filho e com um exercito de 18.000 homens, cruzou o es-treito e procedeu a conquista, em busca de pasta-gens de abundancia de água.

Ocupou as cidades de Medina, Carmona e Sevilha e, seguidamente atacou Mérida que após sitiada a conquistou. A Cidade então passou também a ser território Mouro. E foram eles que lhe deram o no-me atual, a portentosa Sevilha.

Nesta época a sua riqueza cultural cresceu enor-memente com a chegada dos árabes, em tanto, que tinha dependência do Califado de Córdoba convertendo-se na mais importante de AL - Anda-luz. Os cristãos reconquistaram a cidade em 1248 durante o reinado de Fernando III de Castela. Foi também sede da exposição Ibera America em 1929 e da exposição mundial em 1992, onde inú-meras obras foram erigidas em seu louvor.

O clima é muito gostoso, com aquele tempero me-diterrâneo, com temperatura media anual de 19 graus, o que a faz uma das mais quentes da Euro-pa, dado a proximidade com o continente Africano, tornando-se o paraíso dos turistas, dobrando a população. Em julho a temperatura sobe para até 35, superando no apogeu do verão em mais de 40 graus.

É um povo festeiro, com uma cultura de danças regionais como o Flamenco de mais antigamente e os mais modernos com as Sevilhanas. Tem tam-bém a semana santa que é percorrida pelas ruas finalizando na belíssima cadetral.

Destacam-se a “Feria de Abril”, de caráter folclóri-co, com milhares de pessoas vindas de toda a Es-panha, e no recinto da festa as pessoas se reú-nem para cantar e dançar. “Durante a semana”, realizam-se uma serie de touradas, de fama nacio-nal, na conhecida “Plaza de Toros, La Maestran-za”, onde tivemos a oportunidade de visitar, mas nos dias que se seguiram, não houve touradas, ficamos então com o museu muito bem montado em suas dependências.

AS TOURADAS REGISTRADAS NO MUSEU

O espetáculo em sua praça de touros é algo parecido a um ginásio esportivo. As pessoas sentam nas arquibancadas para assistirem e em todas as “corridas” o “toro” é sacrificado.

O matador o enfrenta com uma capa vermelha, o qual é ajudado pelos seus assistentes, de-pois vêm os “picadores” que dão as suas esto-cadas, enfraquecendo os seus músculos, inicia-se então a etapa com os gritos da platéia de olé-olé, que “pegou” nos jogos de futebol aqui no Brasil, quando o time vencedor quer tam-bém dar o seu espetáculo.

O papel do toureiro é fazer um bonito show, deixando o touro cansado, tirando suspiros da torcida. È uma pena a judiação que é feito com o animal. Mas nesse país é tradição e nunca vai acabar. Eu sempre torço pelo touro, porque o bicho homem faz dele um palhaço dentro do picadeiro e acabando com sua existência.

Enfim, depois de tantos passos, gritos de olé, o matador se prepara para a estocada final. Com um movimento de espada escondida so-bre a capa, faz com que o animal se aproxime, enfiando em seu dorso, fazendo-o cair. É o fi-nal.

No museu, pudemos ver os cartazes das toura-das de antigamente, destacando-se, o terrível “Manuel Rodrigues”, conhecido nos meios co-mo “El Manolete”, um dos maiores matadores que já existiu, morreu no dia da tourada marca-da no cartaz (28\08\1947), foi ferido pelo touro “Islero”, no meio da “Praça de Toros Linares”.

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Sedex lírico: Carta a uma senhora poeta

Por Carlos Bruno S. Barbosa

Hoje a noite amanheceu mais fria e pálida em mim, senhora. Me disseste que não sa-bes escrever, jogaste fora um poema lindo sobre essa angústia que nos atinge e, com ele, levaste à cova da insegurança vários versos que morreram antes de poderem crescer. En-quanto escrevo isso com os olhos caídos, em luto pelos poemas que não te aconteceram, ou-ço minha vizinha lá fora aconselhar uma amiga: “Tem que pensar pra cima e não pra baixo.” Desconheço o assunto que a levou a tal reflexão, prefiro guardar apenas essa poesia que sua voz, indelicadamente alta e decididamente vigorosa, me transmite sem querer.

Quando tornei-me professor e quis me dedicar a inspirar meus alunos a escreverem, sempre trouxe comigo o sonho louco de Bukowski de imaginar que deveria haver um poeta em cada esquina da vida e, assim, aprendi a ver poesia em quase tudo, pois quase tudo é múltiplo, lírico e singular. A arte salvou minha vida; sem ela, confesso que me jogaria debaixo de um carro, me atiraria no mar ou me tornaria uma pessoa apática, sem gosto pra nada, inu-tilizada pela própria inexistência. Sei que o ato de escrever não permite que salvemos o mun-do, não impede que aviões se atirem sobre prédios inocentes, não traz a cura do câncer, não tira a dor da perda de alguém; mas salva a invisível alma que agoniza, impede que pilotemos tais aviões contra casas que amamos, controla a dor estagnada e mantém vivas aquelas pes-soas que se perderam no caminho. E também sei o quão difícil é este caminho que escolhi: às vezes, converso com paredes surdas; às vezes, me sinto ridículo; às vezes, estou muito só... Mas e aquele verso que alguém ouviu e levou pra própria vida, como um urso de pelúcia que, apesar da aparência inútil, conforta a criança que levamos pra cama quando nos nina-mos em sonhos difíceis? E aquela febre de encontrar a palavra certa e a impressão de que a Terra toda volta a se mover quando a encontramos? E esse brilho nos teus olhos, senhora, outrora estrela, agora triste fagulha... por que pensas em exterminá-lo de vez? Por que perder tudo isso, por que deixar de escrever?

A vida, na maioria das vezes, é inglória e rancorosa, senhora, e, talvez, por isso, não nos deixe prazer em nossa arte; talvez, por isso, quando escrevemos, o ar parece rarefeito pra tais ações. A vida, quase sempre, nos ignora, senhora, renega nossos talentos e faz-nos esquecer dos diamantes que carregamos nas cavernas de nós mesmos. Me disseste que não sabes escrever, como um planeta dourado que se julga inabitável pra qualquer habitante de valor. Me desculpe os olhos tristes, senhora, mas o que dizes não condiz com teus versos sublimes de lirismo incontestável, nem a vida que sempre carregaste nas palavras vivas de calor e amor. A vida já apaga muitas luzes nos túneis da rotina; não deixes que a tua própria insegurança desfaça a única chama independente que nos restou. Volta a escrever, senhora, por favor...

(http://diariosdesolidao.blogspot.com/2011/09/sedex-lirico-carta-uma-senhora-poeta.html)

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O gozo

Por Carlos Conrado

A Terra banha-se despida Sob o olhar de Deus.

O pudor horrorizado grita:

- Isto é um crime contra a decência!

Voluptuosa a Terra atiça Os desejos secretos de quem a fez. O olhar, vendo as curvas benditas

Atende ao convite do incesto, Na pirâmide pubiana atira

O esperma onipotente.

Ergue-se no tempo um riso Símbolo da satisfação

Deste orgasmo de Deus.

Pintura de Carlos Conrado

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SEDA BRANCA

Por Daniel Cravo Silveira

Plana no escuro dos céus, a Lua

Farol solitário de branca luz

Peregrina vestal nua

És meu tesouro e minha cruz.

Forasteiro das horas incertas

Nesta noturna visita,

A revelar-te das ruas desertas

O meu amor selenita.

Lua nova, lua tímida, fugidia

Teus sorrisos se calaram

Teu silêncio é uma lança

A cortar do coração toda a esperança.

Não temas este amar que te revelo

Não há culpa, nem pecado se o sinto

Não vês que és da vida, o meu elo

Da sanidade à terra, és meu cinto.

Dos céus a distância te protege

Meus lábios, meus abraços, não te alcançam

Seda branca, a reinar eterna no paraíso.

Jogo ao vento minhas rimas que se lançam

Ao espaço, a tua busca, por um sorriso!

Imagem TMK(Tom.CJ)

h$p://moblog.net/view/299298/white-lady

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ARMAND LESTAT

Por Lunna Frank

Foi naquela noite quente e chuvosa, quando Antonella, bebia uma taça de vinho tinto suave, olhou pela janela do seu quarto, vendo o céu, a lua cheia estava enorme foi quando começou a sentir uma sensação diferente uns calafrios ao mesmo tempo um calor enorme tremia como se estivesse com uma febre muito alta.

Sentiu uma transformação uma vontade enorme de uivar percebeu-se forte dominadora, nesse momento a chuva fina caia lá fora, quando desceu as escadas do sobrado acendeu as luzes da sala de estar sentiu aquele vento frio, eram as janelas que estavam abertas, fechou as janelas e as cortinas, quando resolveu tomar mais uma taça de vinho, avistou aquela sombra vinda em sua direção, sentiu um medo enorme mais a sombra atraiu com um perfume forte envolvente.

Era aquele homem belo, forte e diferente, com os olhos fixos em Antonella, meio anestesiada com o vinho e o perfume que exalava me tomou pelas mãos dei o ar da minha graça, nesse mo-mento seu colar de pérolas negras arrebentou, sentiu uma grande concentração de energias e prazeres, começou a uivar e pontapear nem sabia a quantas andava, percebeu então que ele a tomava em seus braços beijou seu pescoço sua boca era gélida e quente ao mesmo tempo.

Um beijo profundo ardente misturando suas salivas foi festejando o momento sem dar conta, pa-recia que já conhecia aquele homem, se entregou sem reservas, com um simples movimento mordeu e chupou seu pescoço, é um prazer indescritível como jamais sentiu em toda sua vida.

Fizeram amor e sentiu umas gotas de sangue em seus lábios, sentiu um arrepio muito forte, de-pois desfaleceu. Quando acordou estava nua na praia bem em frente da sua casa do seu lado uma capa negra e duas taças de vinho personalizadas com um nome, apanhou a capa cobriu seu corpo e foi correndo para casa.

Estava amanhecendo, tomou um banho quente, um café forte, quando se deparou com duas marcas em seu pescoço eram marcas pequenas dois furinhos com um pequeno hematoma em volta, todos os pensamentos passaram naquela hora estava confusa cansada com sono.

Anoiteceu, quando acordou festejou aquele momento, tive um pouco de medo mais a excitação era maior, refletindo o que teria acontecido já que lembrava vagamente, misturando os pensa-mentos entre o sonho e a realidade.

Mais a memoria visual daquele homem lindo, forte daquela figura que emergiu na penumbra da noite em sua sala, com aquele olhar misterioso jamais poderia ter sido um sonho, já que deixou suas marcas em seu pescoço.

Pensou que fosse ser transformada em uma morta viva um ser da noite, mais ao contrario esse homem deixou um presente, sua marca o dom da imortalidade, deu as mãos a palmatoria para as mulheres que como Antonelle já viveram essa magnifica experiência do amor sobrenatural.

E todas as noites chuvosas de verão, vai para janela do seu quarto com as duas taças de vinho, vestindo sua capa totalmente nua uivando para lua cheia esperando por Armand Lestat para re-viver essa experiência de amor maravilhosa e saborear as gotas do seu sangue adocicado, fazer amor e celebrar com uma taça de vinho tinto até a próxima lua cheia.

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Querendo Ter Coragem

Por Maria Dalva Leite

Passado reconfortante

Para passar a exaustão,

Busco achar o sentido perdido

La onde me encontro

O sentido proibido também me visita

Lá onde me encontro: cama de nuvens, num local acolhedor

Onde só o bem estar e a alegria podem me acompanhar

Rígida numa posição confortável rejeito as mudanças que sempre surpreendem,

Fujo da dor escondendo-me do que incomoda.

Navegando em águas calmas, ficar bem é o melhor

Petrificada longe da dor.

Entender o que esta se passando

Compreender e se lembrar da lição que a mestra vida nos dá..

Abençoa-la em todas nuances e inserir- se como parte do todo.

Unir-se à vida.

Dar bom- dia para o dia, Saudar o sol, a chu-va, o luar,

Respirar o mesmo ar que nos contata com todas formas de ser, desde a menor formigui-nha, as folhagens das plantas, todos animais , a grama verdinha, verdinha ondulada pelo vento.

Todas pessoas do mundo interconectadas respirando o mesmo ar.

Existindo juntas na linda atmosfera, pulmão da terra, preenchendo o olhar de cores,

prenhe de frescor e odores, amadurecidos em toda sua trajetória pelo universo.

Sorrir para o tempo magnânimo

Compreender as oportunidades,

Não se apavorar com o caminho,

Bem-fazer toda ajuda,

Pular as pedras

Saltar os obstáculos e deixar passar a onda,

Contornar a montanha se ela estiver obstruin-do o caminho,

E fixar-se nas marcas que lhe trarão de volta, caso precise voltar,

Não se esqueça de cumprimentá-la antes de por o pé na estrada

Por nada solte a mão de Deus,

O perigo ronda,

Não esmoreça

A insegurança filha do medo

Deve ser evitada,

Ela surrapa as encostas, rola as pedras, afun-da os precipícios.

Cuidado! tenha fé.

Tudo é para o bem.

A segurança é a magia que fará você transpor os obstáculos, E ficar distante do medo

Repito : não solte a mão de Deus, ocupe-se dele e atenção por onde pisa para não falsear o passo, e fraquejar.

Deus seja louvado.

Vamos em frente que atrás vem gente.

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Genuínas reminiscências

Por Maria Luzia Fronteira

Arrebata-me uma saudade na rajada do vento, na morrinha e na invernada que rasga o silen-

cio oh, e à noitinha junto à lareir’ acender o lume, com a saruga do pinheiro, os gravetos d’

acácia, e as folhas tenras d’ eucalipto e do loureiro, e das bagas oh, o cheiro, sob as rachas

da lenha resguardada no palheiro de paredes de pedra e de telhado rijo fabricado n’ olaria da

minha rua.

Arrebata-me a saudade das brasas na lareira sob a panela de ferro, cozendo o milho, ou a

sopa de trigo ou o bolo do caco e a castanha no brasume p’a família inteira.

Arrebata-me uma saudade na cartola e no garrafão de vime, e no corno do boi cheio de vinho

caseiro amiúde...e dos poios laranja terra, adubada com o estrume da vaca e a mondada a

eito das urtigas e da erva melada...e das botas d’água da rega na levada clorofilada de mus-

gos, ervas aromáticas, treviscos, giestas, dente de leão, abundâncias, trevos, pata de gali-

nha, junquilhos e malvas.

Arrebata-me uma saudade na vassoura de urze e na vassoura de palha e no cabo de madei-

ra, da pá, da foice, da pedoa, da enxada do machado e da lima...oh e arrancar a erva do pá-

tio na calçada.

Arrebata-me uma saudade de beber água com sabor a terra das nascentes e do verde dos

montes ingremes, numa bica de palma fazendo a ponte na levada quebrada.

Ah e do toque das ave-marias, às seis e meia e as mulheres resguardadas de pés em banho-

maria absorvendo um calorzinho na derme fria, e as mãos em direção ao azul do céu, ora

num tom azul anil, ora num tom azul mar, ora num tom azul petróleo ora num tom místico

pardacento rezand’o terço e dando as graças pelo berço abençoado em que foramos acolhi-

dos.

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25 ANOS

Por Sarah Venturim Lasso

Bem vindos 25 anos Faço bodas de prata de mim mesma

Como uma rosa desabrochando Feminina Menina

Virando mulher Em 25 primaveras juvenis Despeço-me da juventude

E abro as portas Para um caminho sem volta

Trilhado por mim mesma Em noites de insônia

Rumo ao desconhecido Adulta

Com frio Com medo

Sozinha Acompanhada de mim mesma

Nessa vida Como um jardim Seco e inóspito

Sigo firme e forte Rumo ao verão

E a chuva E mesmo sem saber Como será o amanhã

Sigo positiva E pensativa

Como uma rosa Driblando meus próprios espinhos

Enlaçados em meu corpo frágil Mesmo sem saber do amanhã

Sigo rosa, A espera da colheita do amor.

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ROCAMBOLE DE GOIABADA

http://tudogostoso.uol.com.br/

Ingredientes

• 3 claras em neve • 3 gemas • ½ xícara de água • 1 xícara de açúcar • 1 xícara de farinha de trigo • 1 colher de chá de fermento 300 g de goiabada derretida

Modo de fazer

1. Bater na batedeira as claras em neve, após jogar a gemas, a água, em seguida o açúcar, o trigo e por último o fermento

2. Colocar a massa em forma retangular grande untada em forno pré-aquecido

3. Assim que retirar do fogo colocar a massa sobre um pano de prato polvilhado com açúcar (ou papel manteiga)

4. Enrole imediatamente e reserve Derreta a goiabada e aplique, enrole novamente e polvilhe açúcar ou cubra com chantilly

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Uma Árvore Chamada Terezinha-Centro Cultural Lagoa do Nado -Jardim dos Poetas -Belo Horizonte - MG

Por Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Jacqueline Aisenman de azul, e sua árvore, Terezinha, observada por Rogé-rio Salgado e por mim, (Clevane Pessoa), no Jardim dos Poetas-Lagoa do nNdo, em 31 de maio de 2012.Salgado e eu . Crédito da foto: Lecy de Souza Marco Llobus marcara para 31 de maio, a segunda edição do Jardim dos Poetas(**): poetas que passaram pela Lagoa do Nado (*)em Saraus de Poesia , os que fizeram parte do histórico pro-cesso ... A premiada prosadora e poeta Norália de Castro Mello estava nos primórdios da organização, em Brumadinho, de um lançamento- do Varal do Brasil-2, onde estamos na qualidade de coau-toras e organizada por Jacqueline Aisenman a qual lançaria também seu próprio novo livro, "Briga de Foice", pela Design Editora , de Jaguará do Sul/SC, um belo trabalho editorial. Jacqueline também é catari-nense-e mora há anos, em Genebra. Norália sonhava em reunir aqui, os coautores mineiros. Queria sobretudo, oferecer a Jacqueline a grande oportunidade de conhecer Inhotim (**).Mas as negociações se arrastavam, graças aos valores -e ela então, investiu potencialmente na Prefei-tura de Brumadinho, onde hoje reside, que cedeu-lhe a Casa da Cultura-para a recepção de 01 de junho, hospedagem aos poetas e prosadores, várias benesses. A Secretaria de Cultura e Tu-rismo entrou no esquema produtivo-e Norália pode contar com Juliana Brasil, Regina Esméria, Maria Lúcia Guedes, Maria Carmen de Souza, que se empenharam na decoração e na degusta-ção de acepipes tipicamente mineiros juninos. Segundo comentários dos autores e convidados, foi uma grande confraternização-continuada em Inhotim e depois no Restaurante D. Carmita, com os lançamentos das antologias citas e livros dos presentes .

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Bem, então, no Dia 31, aqui em Belo Horizon-te, começamos a recepção à Jacqueline, que seria homenageada junto com Diovvani Men-donça (leia-se Paz e Poesia ***) , no Sarau da Lagoa do Nado, no Restaurante D. Preta, re-duto de poetas ,artistas e pessoas da Paz, a convite de Claudio Marcio Barbosa , produtor cultural e poeta, que faz parte da família que administra o D.Preta. preparam um substancial prato mineiríssimo, o Feijão Tropeiro (****). Foi organizada uma mesa de livros , para a degustação da mente e do espírito, por que não, do coração? Jacqueline recebeu as "Palmas Barrocas" -alusivas à arte sacra mi-neira, uma criação da artista de Sabará-uma das mais antigas cidades mineiras- Dirléia Ne-ves Peixoto e que são parcimoniosamente dis-tribuídas pelo grupo de Poetas Pela Paz e pela Poesia., grupo que realiza o Paz e Poesia em Belo Horizonte (*****). No D. Preta, , esperamos a chegada de Norá-lia, que chegou com sua filha Daniela. Desse momento, participaram os poetas e artistas de Belo Horizonte, Marco Llobus, Neuza ladeira Rodrigo Starling, Iara Abreu, Maria Moreira, Adão Rodrigues, Fátima Sampaio, Rogério Salgado, Claudio Márcio Barbosa , Serginho BH (fundo musical ao violão) e eu. Coautoras de outros Estados e cidades estiveram no con-graçamento: Yara Darin, Maria Clara Macha-do, e, com Norália e Daniela, também artista, chegou a alegre Madhu Maretiori, que lan-çou seu encantador "Em Nome de Gaia"- mi-nilivro de grande conteúdo. Bem, esse prólogo longo , mas necessário ao registro de nossa história de poetas, nos leva agora, à Lagoa do Nado. Lá, além do mini tour pelo pulmão verde e su-as águas, com passagem pela exposição a céu aberto da obra enraizada de Mestre Thi-bau., Jacqueline e nós, poetas convidados , fomos levados para plantar nossa árvore no Jardim da Poesia. Quando saí de casa, sabendo que cada árvore

poderia ser madrinha ou afilhada do poeta e o poeta escolheria o nome de sua árvore, pen-sei em achegar-me a uma que desse muitas flores , para dar-lhe o nome de minha mãe, que adorava o verde. Eu andava daqui e dali, mas fui atraída por um cedro. Mesmo ele apre-sentando uma praga branca. Não consegui afastar-me das lindas folhas oblongas e aceti-nadas. Então, pensei: vou dar-lhe o nome de Máximo, pois meu avô ,paraibano, trovador, cordelista e jornalista, repentista sonetista, que ensinou-me a metrificar e amar a poesia ainda no seu colo, não obstante árvore do gênero feminino na gramática, mas comum dos dois na espécie, Cedro sempre vai lembrar-me o gênero masculino. Desejei muita sorte ao meu cedro-que cresça o máximo, seja o máximo-sobrenome de vovô, Luiz Máximo de Araújo -pensei . Depois de curtir a árvore que me escolheu, fui circular e quando Jacqueline Aisenman foi ba-tizar a sua, ela disse-me;-Terezinha, o nome de minha mãe. Fiquei literalmente arrepiada .Claro que o pre-nome da santinha de Lisieux é muito comum, mas eu, que vivo na memória e no imaginário, escritora que sou, logo pensei : -Mamãe, que adorava o pai, deu-lhe lugar. E assim , toda vez que for ao jardim de nós, Poetas, no CC Lagoa do nado, vou acarinhar essas duas árvores: pela amiga distante, em outro país, Jacqueline Aisenman e cultura o nome materno de ambas, e o d e vovô, meu mago iniciador que revelou-me a POIESIS, co-mo soi ser, com autoria, orgulho e ale-gria ::Terezinha e Máximo. Mais tarde, já em casa, li um texto maravilho-so, em Varal Antológico 2 de Jaqueline Aisen-man ,denominado Pintura Ingênua, onde ela abre ao leitor o grande amor por seu pai ("Meu pai, sentado na cozinha, palpitava a vida, dava palpites em tudo"), onde a mãe amada entrea-parece, figura de fundo e de pal-co ,indispensável( "Ou ia pelos braços queri-dos de minha mãe, braços)

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cheios de alma") . Realmente , esse plantio para mim, transcendeu os objetivos lindos desse jardim de árvores: permitiu-me a sagrada memória familiar vir bailar conosco por entre as mudinhas esperanço-sas... (A Jacqueline Aisenman, agradecendo o convite para ser e estar em Varal Antológico 2:alegria e honra).

Jacqueline, vendo nossos livros. Nas mãos, Sais—de Rogerio Salgado. Na pilha, meu Asas de Água e Nós, de Rodrigo Starling-entre outros.

Exemplares de Varal Antológico- antologia coordenada por Jac-queline Aisenman

Café com Letras é da ALTO, em teófilo oto-ni e Lírios sem Delírios, meu livro mais re-cente (selo aBrace). Revistas internacionais aBrace

Convite para o evento em Brumadinho

Fotos de Clevane Pessoa

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Varal Antológico 2 se estende entre os poetas em Be lo Horizonte

Fotos de Yara Abreu, Clevane Pessoa, Yara Darin ent re outros

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UMA CONVERSA AO PÉ DO FOGÃO, UM SARAU PERFEITO!

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Guerra sem paz

Por Lina Macieira

O homem

é a luz do seu

próprio eu

rebeldia sem cor

forte carência espiritual

armas interior.

O homem reprime sua vontade

de fazer amor, fugindo da paz

homem insolente, homem frágil

digno de morrer e mata.

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NO MUNDO DA

FICÇÃO CIENTÍFICA Por Daniel C. B. Ciarlini

O adeus de Bradbury e

Fahrenheit 451

Deixando saudades e uma extensa lista de romances e contos, Ray Bradbury, escritor americano considerado um dos pilares do gê-nero da ficção científica moderna, morreu na manhã do último dia 6 de junho, aos 91 anos. Era natural de Waukegan, Illinois, Estados Uni-dos, onde nasceu em 22 de agosto de 1920. Viveu a maior parte de sua vida em Los Ange-les, Califórnia.

Diferentemente de Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein, que foram des-cobertos por John W. Campbell Jr. na era das pulp magazines, Bradbury foi o único escritor da década de 40 a surgir no campo da ficção científica de maneira, por assim dizer, indepen-dente, sem apadrinhamento, cujos conheci-mentos científicos e técnicos não foram adquiri-dos em academias, mas de maneira empírica, autodidata. Estreou na literatura com o conto Hollerbochen’s dilemma, publicado entre 1938 e 1939, e iniciou a carreira como profissional em 1941, quando teve seu primeiro conto pago divulgado na Super Science Stories. Anos mais tarde já era visto assinando textos na Astoun-ding e nas principais revistas congêneres que circulavam os EUA. Período este que seu no-me virou febre e angariou um público conside-rável de leitores em toda a porção Norte da América.

Além de ter explorado com talento o campo da ficção científica, teve proveitosas participações no gênero do horror, onde, inclu-sive, foi referência e conquistou o reconheci-mento e o respeito de figuras como Stephen King, considerado o mestre do terror e do sus-pense da contemporaneidade. É a Bradbury que King dedica Dança Macabra (1981), cole-tânea de ensaios impressionistas que discutem a manifestação do horror nos campos da litera-tura e cinema.

Ray Bradbury era o último dos moicanos que representava a Geração de Ouro da ficção científica moderna, formada também por Isaac Asimov, Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke. Foi considerado o apóstolo dos gentios e o em-baixador da ficção científica para o mundo ex-terior (ou seja, além das fronteiras estaduni-denses), pois “Pessoas que não liam livros desse gênero e que se retraíam diante de suas convenções pouco familiares e de seu vocabu-lário bastante especializado, descobriram que eram capazes de ler e entender Ray Bradbury”, segundo afirmou Asimov em ensaio à TV Gui-de, em 12 de janeiro de 1980. Sendo um dos mestres da science fiction, não podia deixar de ter publicado clássicos como As Crônicas Mar-cianas, coletânea de vinte e seis contos que consolidou sua carreira e foi classificada pelo próprio autor como uma espécie de “mitologia espacial”, escrita nos anos 50.

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Apesar de ser considerado um dos qua-tro pilares da ficção científica, estranhamente não gostava desta denominação, negando mui-tas vezes que fosse escritor do gênero. Além disso, dos casos peculiares que marcam a sua biografia, sabe-se da aversão que tinha por via-gens de avião e de jamais ter dirigido um auto-móvel. Escreveu peças de teatro, poemas e foi roteirista de sucesso, tendo adaptado Moby Dick para Hollywood. Antes de se tornar escri-tor, era jornaleiro. Começou a escrever para sustentar a família.

Em Fahrenheit 451, um de seus livros mais famosos, Bradbury produz uma narrativa tipicamente soft e distópica. Desvenda uma so-ciedade transformada pelos avanços dos meios de comunicação que alienam a sociedade. A leitura de livros é vista como proibida e para manter a ordem o governo manda queimar bi-bliotecas e até residências que comportam lei-tores. Interessante observar que este papel é desempenhado pelos bombeiros, vistos como mantenedores da ordem. Apesar de escrito na década de 50, ainda é notável a ironia do autor ao analisar o aspecto alienado das pessoas frente às futilidades trazidas pelo desenvolvi-mento econômico: “O que mais falam é de mar-cas de carro ou roupas ou piscinas [...] todos dizem a mesma coisa e ninguém diz nada dife-rente de ninguém” (op. cit., p. 51-2). Ou ainda: “O clangor reduziu as pessoas à submissão; não corriam, não havia lugar nenhum para on-de correr” (op. cit., p. 116).

Guy Montag, a personagem principal, observando as pessoas encasteladas em te-lões de televisão afixados nas paredes de suas residências, onde assistem a programas e ao mesmo tempo interagem (um tipo de antecipa-ção aos reality shows), assim desabafa: “Ninguém mais presta atenção. Não posso falar com as paredes porque elas estão gritando pa-ra mim. Não posso falar com minha mulher; ela escuta as paredes. Eu só quero alguém para ouvir o que tenho a dizer. E talvez, se eu falar por tempo suficiente, minhas palavras façam sentido” (op. cit., p. 120, grifos do autor).

Sem nada a instruir a não ser o exercício e as práticas esportivas, à escola é reservado o papel de formar “corredores, saltadores, fundis-tas, remadores, agarradores, detetives, aviado-res e nadadores em lugar de examinadores, críticos, conhecedores e criadores imaginati-vos” (op. cit., p. 88), sendo, pois, a palavra “intelectual” um tipo de palavrão. Nesse senti-do, eis que os filhos são mantidos nas escolas por nove dias seguidos, com apenas um dia de folga, logo, não ficam mais do que três dias por mês na casa dos pais, e quando assim o são à frente dos telões. O livro também é visto como uma ameaça ao governo que incentiva a igno-rância: “Um livro é uma arma carregada na ca-sa vizinha. Queime-o. Descarregue a arma. Fa-çamos uma brecha no espírito do homem. Quem sabe quem poderia ser alvo do homem lido? Eu? Eu não tenho estômago para eles, nem por um minuto” (op. cit., p. 89).

Afora esses aspectos, Fahrenheit 451, como toda boa obra de ficção científica, não deixa de especular a respeito de inventos tec-nológicos, como quando demonstra a existên-cia de bancos 24 horas, cujos caixas são ro-bôs, uma antecipação dos atuais caixas de atendimento automático. Vê-se ainda a existên-cia de helicópteros de polícia que podem se transformar em viaturas ou vice-versa; além de cães mecânicos farejadores. Bacharéis e cien-tistas, em face da proibição de livros, desenvol-vem ainda um método que consegue trazer a lume tudo aquilo que já leram, bem como uma bebida que modifica a composição química do corpo a fim de alterar o feromônio, despistando assim os sabujos, os cães mecânicos.

Sem escritório e espaço em casa para produzir, Bradbury escreveu Fahrenheit 451 nos porões da Universidade da Califórnia em Los Angeles, entre livros velhos e máquinas de datilografar alugadas a dez centavos a meia

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hora. Segundo afirmou, o livro acabado lhe custou nove dólares e oitenta centavos.

Das passagens mais emblemáticas e libertas que, a meu ver, Bradbury deixou aos coleci-onadores de preciosidades, resume-se em um trecho de denúncia a toda e qualquer forma de opressão que tenta podar o espírito livre e imaginativo do homem: “[...] este é um mundo louco e ficará mais louco, se permitirmos que as minorias – sejam elas de anões ou gigantes, orango-tangos ou golfinhos, adeptos de ogivas nucleares ou de conversações aquáticas, pró-computadorologistas ou neo-ludditas, débeis mentais ou sábios – interfiram na estética. O mun-do real é o terreno em que todo e qualquer grupo formula ou revoga leis como num grande jogo. Mas a ponta do nariz do meu livro ou dos meus contos ou poemas é onde seus direitos termi-nam e meus imperativos territoriais começam, mandam e comandam”.

ORGIA

Por Mário Rezende

Que mulher é essa?

Que magia é essa que ela tem,

de me atrair assim,

como uma presa fácil,

indefesa, sem forças

e vontade de fugir?

Quem é essa mulher

que me deixa assim

com os neurônios em orgia,

ouvindo cantos e tambores

ecoando batuques ritmados?

Por que será que essa mulher

controla assim a minha mente

e provoca uma vontade louca

de me deixar levar, ficar ausente?

Todo esse poder é teu, minha mulher.

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UM BILHETE ANÓNIMO

Por Lénia Aguiar

Quando o final do ano lectivo aconteceu, Magda, que até agora tinha ocultado os seus senti-mentos pelo professor de educação física, Guilherme, por temer a rejeição e parecer ousada, finalmente teve coragem para se declarar escrevendo um bilhete. Descobriu qual o seu cacifo e colocou um bilhete. Guilherme ficou surpreso com tal papelinho, assim como com o seu conteú-do:

Quando terminou de ler sorriu. Arrumou o bilhete e tirou tudo o que tinha no cacifo arru-mando na mochila. Saiu da sala em direcção a casa. Foi a pé, morava relativamente perto.

Enquanto caminhava pensava:

«-Quem será? Porquê tão tarde o encontro? Deveria ser já, estou ansioso para saber quem é. Se não gostar disfarço, dou meia volta e vou para o bar da praia.»

Ao chegar a casa tomou um banho e vestiu t-shirt e calças de treinar. Nem o pai nem a mãe desconfiavam que ele teria um encontro. Jantou e fez-lhes companhia durante algum tem-po enquanto a tv transmitia o noticiário. Ao passar cinco minutos das vinte horas, levantou-se e disse-lhes que ia encontrar-se com amigos.

Quando chegou ao cais avistou algumas pessoas ao redor, a maioria acompanhadas. Mas havia uma mulher mais afastada e voltada para o mar, era elegante e de cabelo ondulado escu-ro. Só poderia ser aquela a M! Até suspeitou que pudesse ser a sua ex-aluna, porém, não que-ria estar muito empolgado, pois era cedo e a tal mulher poderia ainda não ter chegado ou nem aparecer. Aproximou-se lentamente e disse sorridente:

--Está um bonito fim de tarde! - Porém, ao aperceber-se de quem se tratava acrescentou – Mag-da!?

--Sim. Estou à espera do homem que sempre esteve apaixonado por mim e só agora admitiu.

-Estou sem palavras... Algumas vezes suspeitei do teu interesse, mas conclui ser loucura mi-nha.

--Também apercebi-me muitas vezes que me olhava com ar de macho... Farei dezoito anos amanhã.

--Não te importas mesmo que namoremos? Eu fui teu professor até hoje.

--Poderemos mentir, ninguém precisa saber que eras meu professor, Guilherme.

Ele enlaçou-a e beijou-a confessando:

--Só o nosso amor interessa.

Há muito que lhe quero dizer que é bonito.

Conheço-o há algum tempo e você a mim também.

Se quer saber quem sou vá até ao cais às 20h30min.

M

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A essência da poesia

Por Alma Lusitana

Recentemente abandonado pela comunidade, vive na rua sem rumo e numa selvagem crueldade.

Desce a calçada com os pés doridos pela ausência de resguardo,

sendo vencido por um cansaço aliado à urgência de alimento.

Numa noite chuvosa, sucumbe sobre os gélidos paralelos de uma calçada deserta e sombria.

Ao despertar dolorosamente da sua malfeita sorte,

encontra a seu lado, lambendo-lhe afectuosamente a face, um pequeno cachorro também desgastado pelas atrocidades

da nossa preconceituosa sociedade.

Fixados num olhar penetrante, o sem-abrigo, retira do bolso meio pão enlameado repartindo-o poeticamente com o único

ser que no auge do seu desespero e imune a qualquer presunção, o acompanha nesta sua dolorosa enfermidade.

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O violino Por Danilo Augusto de Athayde Fraga

(As três graças) Apaga A luz e dança A casa vazia a noite jovem A lua e você Toca um quarteto De Ravel de cordas A corda não Quer parar de adormecer Eu e você e mais A lua e a noite eu sou Entre rosa orquídea e adelfa A quarta e quinta corda O violinista adormecido O poeta que desperta para enfim Fechar os olhos como quem goza Uma breve nota de Satie As três graças de Canova

Eu sou o arco que desliza sobre cordas Tensas e também é corda O verso e o seio como taça O vinho e o sonho O amor ou algo parecido

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A ARTE INCONDICIONAL DE AMAR

Por Dhiogo José Caetano

O amor é a maior força que existe no mundo. Aqui falo de amor no sentido lato e não só do sen-timento que pode existir entre dois seres. O amor total é uma forte de energia que não utilizamos o suficiente.

O amor é uma plenitude que no envolve até nos momentos de raiva, pois a raiva ou ódio é a an-títese do amor, ou seja, o amor que está doente.

Portanto, aja sempre com amor e terá sucesso na sua existência. O amor está na base de todas as grandes descobertas e grandes invenções que tiveram lugar, têm lugar e terão lugar na histó-ria da humanidade.

Sem amor, não podemos construir nada de grande. O amor é simplesmente a essência que nos mantém vivos.

Se os homens projetaram enormes templos, igrejas, mosteiros, sinagogas, mesquitas, foi por amor ao ser supremo: o seu salvador aquele conhecido com regente de todas as coisas que existe no universo.

Se os homens fizeram descobertas em todos os domínios, foi para melhorar a vida dos seus amados irmãos.

Seja no domínio da medicina, da tecnologia, do dia a dia ou da melhoria das condições de vida, no fundo, os investigadores, os cientistas, os médicos e os grandes exploradores agiram sempre para o bem da humanidade.

O amor vence tudo, a sua supremacia sobrepõe todas as coisas.

Aqueles que tentaram, tentam ou tentarão praticar o mal serão sempre vencidos, porque a força do amor é maior do que a força do ódio. Esta pode causar muitos estragos, mas será sempre vencida no fim!

Meus amados irmãos, convindo vocês para praticar a arte do amor no dia a dia. Não só irá atin-gir mais depressa os seus objetivos, mas também praticará o bem à sua volta. Obterá sempre uma recompensa moral ou material.

Será um ministro que prega o amor e que é sempre amado.

Em suma, cultive a atitude de amar incondicionalmente e não por interesse ou esperando rece-ber uma recompensa. Coloque um amor incondicional nas suas palavras, pensamentos e atos, assim a sua vida plenamente será rega com muito sucesso, clarividência e paz.

Amar nunca é demais!

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VOCÊ SABIA?

A revista VARAL DO BRASIL circula no Brasil do

Amazonas ao Rio Grande do Sul... Também leva

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Se você deseja ajudar os animais que

todos os dias são abandonados, atrope-

lados, maltratados e não sabe como,

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aos animais, um refúgio, uma organiza-

ção ou mesmo uma pessoa responsá-

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borações podem ser feitas através de

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dando aqueles que não sabem como

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Rocambole de Batata

Marilice Bernabei

http://www.receitas.com/

Ingredientes Massa

• 1/2 kg de batata • 1 xícara de leite • 3 ovos • 4 colheres de farinha de trigo 1 colher de manteiga

Recheio

O de sua preferência: frango, palmito, carne moída, presunto e queijo, camarão ou verduras refogadas.

modo de preparo Massa

1º - Descasque as batatas e depois de cozinhar em água e sal, esmague-as e passe-as pe-la peneira.

2º - Junte a manteiga, o leite morno, a farinha aos pouquinhos e misturando bem.

3º - Depois, acrescente os ovos. Bata muito bem até conseguir uma massa lisa e uniforme.

Montagem

1º - Despeje numa assadeira untada com manteiga e polvilhada com farinha de trigo.

2º - Alise, polvilhe com um pouquinho de farinha de rosca e leve ao forno por cerca de 15 minutos.

3º - Deixe esfriar um pouco e, quando ainda quente, vire a massa sobre um guardanapo polvilhado com farinha de rosca.

4º - Espalhe o recheio e enrole com cuidado, aperte com o guardanapo e depois de alguns minutos desembrulhe.

5º - Salpique com pedacinhos de manteiga e passe outra vez pelo forno por cerca de 5 mi-nutos.

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A Tartaruga Fifi

Por Helena Akiko Kuno

(Helena tem 8 anos e escreve pela primeira vez para a revista)

Em um belo dia ensolarado, Suzi andava pela rua quando viu um novo Pet shop e decidiu co-nhecê-lo.

Chegando lá, ela viu diversos animais: cachor-ros, gatos, peixes, hamsters e tartarugas.

Mas uma tartaruga bem pequena no fundo de uma gaiola lhe chamou a atenção, ela parecia fraquinha e magrela.

Suzi com dó da tartaruga foi correndo para ca-sa conversar com a mãe:

- Mãe tem uma tartaruguinha no novo petShop, você compra para mim?

- Não sei filha, estou com pouco dinheiro este mês.

- Por favor, mãe.

- Está bem, mas lembre-se que a responsabili-dade é sua.

Chegando ao pet shop, Suzi pegou a tartaru-guinha na mão e disse:

- É essa tartaruga que eu quero mãe.

- Mas ela parece tão frágil, não acha?

- Não mãe, eu não acho!

- Está bem querida, então vai ser essa.

Então a tartaruga começou a ficar saudável e

forte graças à nova família.

Infelizmente, depois de tanto carinho e amor, Suzi não quis mais Fifi e sua família inconse-quentemente colocou-a na rua, à sua própria sorte.

Para a alegria de Fifi, uma menina chamada Sofia apareceu e a resgatou, livrando-a daque-la movimentação enorme das ruas.

Em casa, Sofia perguntou a tartaruga:

-Você está perdida?

A tartaruga balançou a cabeça mostrando que sim.

Então Sofia adotou Fifi e ficou muito feliz, pois ganhara uma amiga para brincar.

O tempo passou, Fifi adoeceu e não havia vete-rinário que cuidasse de tartarugas na cidade.

Um dia Fifi começou a fechar os seus olhinhos.

Sofia inconformada chorou muito, mas não ha-via mais tempo, Fifi tinha morrido.

Sofia ficou tão triste e até hoje ela ainda lembra-se de Fifi.

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O segredo

Por Domingos A. R. Nuvolari

Florinda casou-se a alguns instantes e já estava eufórica para a sua viagem de lua de mel, que faria daqui a algumas horas. Ediberto seu noivo, se divertia regado a cerveja e seu pagode pre-ferido, que saia da caixa de som.

Entre fotos e abraços sujava cada vez mais a cauda de seu vestido longo e branco, perdido nas rendas, que um dia sonhara para este dia tão especial. Com o nó já frouxo de sua gravata, o noivo ria das piadas contadas pelos amigos, na rodada que seguia noite adentro e não parecia que Ediberto estivesse sonhando com a viagem ao nordeste baiano, terra de sua gente.

Os convidados, que não foram à cerimônia, não terminavam de chegar ao salão de festas, inclu-sive Maria Antônia, uma confidente de Florinda que no meio da festa adentrou ao salão, seu olhar não se cansou de procurar a noiva, até que a avistou e correu ao seu encontro.

O noivo era preparado pelos amigos para o momento esperado, o tradicional corte da gravata. Soma tão esperada que ajudaria no custeio dos dias que passariam, na pequena cidade natal do baiano, que ali continuava a se divertir como sempre se divertia, na sua pacata vida de vigia de um supermercado.

Durante seus dois anos de namoro e noivado, Florinda não se deixou levar pela fraqueza da carne, sempre seguiu rigidamente a tradição da família, que sonha em levar a noiva para o altar e casar de véu e grinalda, corretamente.

Maria Antônia, agora de frente para a noiva, nem mal cumprimentou Florinda, pelo seu casa-mento, foi logo cochichando no ouvido da noiva, com um ar de fofoca, segredo guardado há tempos, a espera do momento certo para soltar a bomba. Florinda num gesto de surpresa, colo-cou as duas mãos na boca aberta, afirmando ainda mais a inesperada bomba que a amiga con-fidente fuxicou em seu ouvido.

Nesta altura da festa, Ediberto já garantia um bom trocado para a tão sonhada lua de mel, que esperou, embora não demonstrasse estar com pressa. Ele conhecera Florinda no cemitério da cidade quando levava ela ao tumulo ali esquecido, meses antes do início do namoro.

Quando Ediberto olhou para Florinda, naquela cena olhando para ele, ele sentiu em seu gesto de desespero e podia imaginar que não era um simples gesto, ele parecia saber do que se trata-va pois ficou paralisado como se um segredo havia acabado de ser descoberto.

Florinda voltou-se para o local onde Ediberto estava e saiu ao seu encontro, já em meio ao cho-ro, ao nervosismo e ao desespero. Ediberto repentinamente acorda de seu pesadelo, na véspe-ra de seu casamento, suando frio, assustado mas com a certeza e a garantido que seu segredo ainda ficaria guardado, por mais algum tempo, com ele e com Maria Antônia, falecida pouco an-tes do início de seu namoro.

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Adoção é uma permuta de amor.

O homem ama o cão e o cão ama o homem.

Os dois tornam-se amigos.

Por Elise Schiffer

Amigos: Costelinha (4 anos) e Rosemberg (12 anos)

Era uma vez um menino que vivia sozinho,

Sua família havia mudado de residência.

O menino ainda não tinha amigos no novo Bairro.

No dia de Natal o menino pediu a sua mãe.

Mãe, eu quero um cachorro de presente.

Era uma vez um cachorro chateado,

Que havia sido abandonado ainda filhote.

O cachorrinho estava sozinho, não tinha nenhum amigo.

As pernas tremiam de tanto medo que sentia por estar sozinho.

O filhote latiu e latiu pedindo aos céus um dono para amar.

No dia de Natal a mãe do menino o levou a um abrigo de animais.

Lá o menino viu muitos filhotes pulando e latindo.

O coração do menino bateu forte pelo filhote mais sujo e magro.

Era o filhote mais feio no berçário do abrigo.

Hoje o filhote é um belo cão, o menino esta feliz e os dois são grandes amigos.

Na foto, Costelinha

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PSICOSE LITERÁRIA

Por Eliseu Ramos dos Santos

Uma folha em branco era a visão mais recorrente em sua vida desde então. Fitava-a insistentemente, mas não conseguia mais es-crever depois que havia feito. Agora estava so-zinho. Aliás, estivera sozinho há muito tempo, contudo, desta vez se encontrava fisicamente só, por pouco mais de um mês não vira algum mísero rosto diferente, nem o seu próprio. Que-brou todos os espelhos da casa, pois não su-portava a expressão de fracasso e desolação tatuada em sua face. Por vezes conseguia se enxergar furtivamente no reflexo da água em suas mãos antes de lançá-la contra o rosto, ou senão era possível se reconhecer de um modo deformado na garrafa de uísque recém-esvaziado, esta sim, era a imagem que mais lhe agradara nos últimos tempos: seu semblan-te totalmente distorcido, o que representava para ele, a desfiguração de seu pobre espírito. Diante do estado de solidão, há muito tempo não pronunciara uma só palavra. Não carecia, ele não era do tipo que jogava palavras ao ven-to, o máximo que produziu sonoramente duran-te esse período fora alguns gritos dispersos de desespero e angústia motivados pelas lem-branças vinculadas ao que fizera, surgiam em sua mente com tanta força e violência que não conseguia conter-se em silêncio: gritar emude-cia sua mente e o deixava um pouco menos morto.

Falando nisso, não cogitou em nenhum momento a ideia de suicídio, para ele, viver o maior tempo que dispusesse com aquele senti-mento tão corrosivo quanto ácido era o único modo de diminuir em alguns per centos sua parcela de responsabilidade sobre seu ato. As-sim, já realizara o próprio julgamento pessoal, pois os meios jurídicos já não importavam mais, tampouco a punição divina, até porque não era religioso. No entanto fez de seu lar um inferninho particular para ser simultaneamente, demônio e pecador, onde ele mesmo prepara a via-crúcis e a percorre sem auto refutações.

A casa era grande, entretanto ele passou maior parte do tempo num quarto dos fundos, sem móveis, onde havia apenas um belo tapete persa e sua máquina de datilografia com uma folha posicionada ansiando a primeira frase ser escrita. Ele achou que conseguiria escrever e

secretamente ainda tinha esperança de fazê-lo, mas não podia dormir por pouco mais de qua-tro horas por dia, os pesadelos eram constan-tes e verossímeis e o cheiro dos corpos já im-pregnava toda a casa. O cheiro era mesmo o pior de tudo, aquilo que o deixava mais angusti-ado. Cansava-o. Espalhado por todas as par-tes da casa, exceto no tapete persa. Por isso ele passava horas a fio de bruços, com os bra-ços abertos e o nariz estacionado nas cerdas do tapete. Podia cultivar o terrível sentimento até o fim contanto que não precisasse suportar o aroma da morte. Sabia que lhe restava pouco tempo até que o cheiro se ousasse a romper os limites da casa e chamar a atenção do mundo que há depois da porta da frente.

Pois então, se quisesse que valesse a pe-na tudo que havia feito, deveria começar a es-crever logo. Seria sua obra-prima. Um estan-darte da literatura moderna, recuperaria enfim, o reconhecimento de todos, mesmo com um débito tão alto a pagar, o sacrifício não seria em vão. Não o sacrifício próprio, mas o de seus entes: sua bela e amável esposa e seus filhos, carinhosos e educados. “Morreram para entrar na história”, pensava ele, em momentos de in-tensa insanidade, “serão eternos personagens do meu legado como escritor, estarão vivos por séculos no imaginário de toda a humanidade! Ora, como não? Se estivessem aqui prestariam inúmeros agradecimentos a mim por serem es-colhidos para tal.” Sua mente agora doentia costumava variar do estado de plena culpa e desolação para uma incontinente e repentina megalomania. Um desgraçado dégradé de emoções que o deixava cada vez mais demen-te. Não era à toa que se encontrasse nessas condições, afinal praticara um dos atos mais lastimáveis conferidos ao ser humano: o assas-sínio da própria família.

“Mas foi por uma causa nobre! E ademais,

eles me jogaram no poço da decadência, preci-sava ter feito algo, sim, tudo faz sentido!” Essa ideia repugnante brotou-lhe em sua cabeça paulatinamente, tendo como origem um sincero diálogo com seu agente, “antes de seu casa-mento cara, você era louco, bebia como nin-guém e tinha várias mulheres, quantas quises-se, havia histórias pra contar e não eram pou-cas, sua mente borbulhava em criatividade e isso se traduzia em grandes escritos seus, por isso tinha se tornado um grande escritor, hoje você não é mais nada.

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Você é do tipo que precisa viver pra es-crever, toda sua obra até hoje foi baseada em sua vida, por isso mesmo agora você é um cara decadente e sua familiazinha o deixou assim, sua vida é decadente e seus escritos também seguem o mesmo ritmo, tudo chatice. Volta a viver cara, viva para ter uma história pra contar, estão todos esperando você tornar a ser quem era, quem nunca deveria ter deixado de ser...”, nesses termos, a coisa que ele mais prezava no mundo, sua carreira, se transformara num fiasco, precisava reverter isso, custasse o que custar.

“Viva cara, para ter uma história”, depois dessa conversa com seu agente e conselheiro essa ideia foi-se germinando tão intensamente que não conseguia pensar em outra coisa, “viver uma história, viver uma história, fazer uma história, fazer história”, os pensamentos dele iam sendo gradualmente atingidos por uma gangrena de obscuridade, pensava final-mente que para voltar a escrever como antes precisava se livrar de sua família, a esquizofre-nia rondava suas ações e emoções. A partir daí cada vez que observava seus filhos brincando e sorrindo, e sua mulher realizando as tarefas domésticas com todo o carinho e dedicação, pensava como eles estavam sugando seu ta-lento e transformando num escritor inconstante. Aquilo não era vida. O ódio crescia vertiginosa-mente e a rotina tediosa potencializava ideias psicóticas e compulsivas. A essa altura formu-lava diversas maneiras de abstraí-los de sua vida, e só a morte lhe parecia a opção plausível e necessária. Então começa a surgir em sua mente doentia a possibilidade de destruir sua família e renascer enquanto escritor. A premis-sa de que, sem seus entes sua carreira iria re-nascer como uma fênix levantando voo já lhe soava como uma verdade absoluta. A solidão realçava sua aptidão para a escrita. Mal via a hora de voltar a escrever majestosamente co-mo antes e se envaidecer diante dos elogios que outrora havia se habituado. Durante meses fora crescendo em seu ser a vontade de ver seu lar definhar às suas vistas. Tornara-se frio com todos. Isolou-se em sua redoma psicótica, todos eram inimigos, pois o condenariam caso seus pensamentos viessem à tona. Não podia mais confiar em ninguém. Estado paranoico. Olhava para todos os lados a todo o momento. A única coisa que o fazia esboçar um leve sorri-so era reler seus antigos escritos e fomentar a esperança de que tudo voltaria a ser como an-tes. A nostalgia era obrigatória e morbidamente

seguida pelo desejo de aniquilar seus inimigos do lar. “Dei minha vida por eles, e o que eles fazem? Acabam com minha criatividade, des-troem minha carreira, me deixam decadente. Mas isso não ficará assim, não mesmo.”

Só lhe faltava a coragem da prática, pois a bravura de admitir a si mesmo seus intentos sórdidos ele já havia alcançado. Imaginava co-mo seria glorioso seu retorno as livrarias, mata-ria sua família e faria deste ato o enredo para o novo livro. Sim! Estava tudo certo, todos ficari-am estupefatos e secretamente maravilhados com todos os detalhes descritivos que constari-am no texto, quebraria todos os paradigmas vigentes. Seria ali inaugurado um novo momen-to da literatura mundial. No primeiro instante, as pessoas o bombardeariam impiedosamente pe-lo que havia praticado, mas os insultos costu-meiros estariam criptograficamente carregados de admiração pela bela e pormenorizada des-crição de seu ato. Seria a redenção de sua car-reira e o declínio de um homem na sociedade. O escritor do submundo. Um maravilhoso para-doxo que mexeria com a cabeça de todos os leitores e marcariam suas vidas. Só isso o inte-ressava agora. Marcar. Chocar. Faria com que as pessoas sentissem desejos absurdos e obs-curos ao lerem sua obra. No fundo tinha a cer-teza de que toda a humanidade tem intrinseca-mente o instinto psicótico de contemplar a vio-lência e a barbárie.

Sabia que esta podia ser sua ultima obra, mas estava tão obcecado com a ideia que nada mais importaria, nada precisaria ser escrito após o ponto final. Só lhe faltava mesmo a co-ragem do ato. Nunca tentou contra a vida de alguém, tampouco agredira sua esposa, ultima vez que havia brigado ainda cursava o colegial. Por mais que seu estado fosse de plena psico-se, ainda esbarrava em preceitos cultivados durante toda uma vida e era cabível que mes-mo anestesiado por pensamentos tenebrosos, seu corpo poderia não responder a seus co-mandos quando necessário. Pensava em fazê-lo ébrio, mas isso prejudicaria a etnografia do ato, pois poderia perder alguns detalhes ou mesmo não lembrar devido à embriaguez.

Como seria concebível realizar, ou mes-mo cogitar tal feito egoísta e desumano? Nesse momento, ele era o pior homem da face da Ter-ra, ou talvez aquele que melhor representasse o que realmente somos. Provavelmente sentia-se assim, como se desfrutasse ali o sabor amargo da essência de nossa espécie. Somos também animais, na verdade, somos primeiro

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primeiro animais, depois pensamos em humani-dade. E assim estava ele, se vendo como um animal com desejos incrivelmente humanos.

Então o fez. De um modo surpreendente e impiedoso. Não estava alcoolizado, nem ao me-nos havia planejado, por mais que ele tivesse a convicção que o momento estava próximo não tinha certeza de quando seria. Já não tinha me-do, tampouco pensava em remorso, sua mente trabalhava por uma via de mão única, sem pen-samentos duais. As palavras de seu agente re-almente o afetaram intensamente, mas prova-velmente já tivesse uma inclinação à loucura, ninguém que esteja em pleno domínio de suas faculdades mentais hortaria pensamentos tão execráveis. Assim, num ataque fulminante de cólera provocada por uma discussão banal com sua esposa, ele inicia sua ininteligível vingança contra sua família. As crianças brincavam ino-centemente no jardim. Ele a golpeou de súbito interrompendo bruscamente o que ela dizia, ba-nhada em sangue e perplexidade, caiu entre a mesa e o fogão solenemente branco, ainda não havia sucumbido, pois a faca não afetara um ponto vital. Lá estava ela, ensanguentada, exa-lando porquês pelos poros. Trêmula. Fitando horrorizada o amado algoz de pé, à sua frente ainda com a arma em mãos, suando bicas.

Apesar dos pedidos desesperados e ago-nizantes de sua esposa, ele não parou, não te-ria como, estava possesso e só pensava em calar aquela maldita voz de súplica. Desferiu mais quatorze golpes com surpreendente perí-cia. A partir da quinta ou sexta facada a pobre senhorita já não reagia de nenhum modo, mes-mo assim, envolto pelo ódio infundado e cada vez mais fértil, ele continuou até deixá-la em frangalhos. Quando finalmente cessou, parte do sangue já havia coagulado e ela esboçava uma expressão quase sacra em seu rosto hipnoti-zante de tão belo. Uma linda mulher. Certa-mente dedicou seus últimos instantes de vida a preocupar-se com seus filhos. A preocupação tinha fundamento. O escritor psicótico levantou-se esbanjando uma profunda respiração, limpou as mãos ensanguentadas e se dirigiu ao jardim; as crianças prontamente o convidaram para brincar, como sempre faziam. Ele foi até os me-ninos e passou-lhes as mãos carinhosamente sobre seus cabelos. Chamou-os para dentro. Os dois meninos caminharam em direção a morte sem pestanejar, eram bastante obedien-tes. Não passaram pela cozinha, mas pergunta-ram pela mãe. “Foi fazer umas compras, meus filhos”. O pai então levou os garotos diretamen-

te ao quarto deles. Lá se sentaram delicada-mente em suas respectivas camas a pedido de-le. Ele sentou-se num pequeno banquinho pró-ximo a porta para que pudessem vê-lo sob o mesmo ângulo. Os rostos rosados e os olhos atentos dos pequenos não o fizeram esmorecer e repensar no que estava prestes a fazer. Co-meçou então a comentar as razões que esta-vam motivando seus atos, obviamente as crian-ças nada entenderam, na verdade não era co-mo se ele estivesse explicando a ninguém, o fazia somente para reforçar sua própria deci-são: escolhera sua carreira em detrimento da própria família, pois àquela altura achava que eram duas coisas que não podiam coexistir.

Ao terminar de comentar suas confidên-cias, as crianças permaneciam rigorosamente no mesmo lugar e posição, aí então ele foi em direção ao mais novo, o pegou pelos braços gordinhos, o suspendeu à altura dos seus om-bros e sorriu. Os dois sorriram. A criança tinha apenas quatro anos, de nada tinha noção ain-da, e nunca teria. Ele a deitou na cama e com o felpudo travesseiro começou a pressionar so-bre o rosto do garoto, cada vez mais forte. O outro menino assistia a tudo e sorria inocente-mente considerando tudo aquilo uma grande brincadeira. Depois de algum tempo de sufoca-mento o pequeno sofredor começou a debater-se freneticamente como se estivesse se afo-gando no mar da infância pouco vivida. Seu ir-mão começou a chorar, e percebendo que ha-via algo de errado pedia insistentemente para seu pai parar. Aquela cena poderia certamente comover qualquer indivíduo, mas Ele estava implacável. Inabalável. Era como se uma força maligna guiasse suas ações sem nenhum re-ceio. A criança dera seu ultimo suspiro, “ele es-tá dormindo, está só dormindo”, disse ele para tranquilizar sua próxima vítima. Está dormindo. Um eterno sono. Uma pequena vida esgotada pelo extremo e doentio egoísmo desperto e ali-mentado elefantemente em tão pouco tempo.

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O outro garoto, após ouvir seu pai, sentiu um inexplicável frio na espinha provocado por aquela voz gélida e assustadora. O medo atin-giu dorsalmente o espírito da pobre criança que correu desesperadamente gritando pela mãe. Ao descer as escadas como se não houvesse degraus, o garoto se deparou na cozinha com o corpo incrivelmente perfurado de sua querida mãe, sua agilidade de segundos atrás se fora o deixando num estado de paralisia, simplesmen-te não conseguia se mover diante daquela ima-gem estarrecedora. O assassino rapidamente o acompanhou. Confuso e desolado o menino abraçou fortemente o pai apontado para sua mãe como se uma dolorosa interrogação fosse emitida pelo seu pequeno dedo indicador. Mal sabia o garoto que estava agarrado ao homem que causara toda aquela terrível situação. O decadente escritor respirou fundo mais uma vez e afastando os bracinhos do filho o segurou pelo pescoço com a maior força que dispunha e com o mínimo de piedade que se pode ter. O menino não se cabia em agonia e não parava de se contorcer. As lágrimas torrenciais não cessavam, seu nariz escorria e sua respiração se mostrava cada vez mais espaçada, e foi-se esvaindo até o momento que não pôde mais adiar seu encontro com a morte, desfaleceu. Talvez ainda estivesse com um vestígio de vida no momento que foi lançado ao chão, mas logo cederia e morreria, possuía um corpo muito frá-gil. Estava feito. Terminado. Não havia mais família. Na realidade não havia mais nada, tam-bém ele estava morto, de algum modo. Mas era preciso escrever o livro, esse imperativo era o que mais martelava em sua mente fria. Já se imaginava descrevendo onde, quando, isso e aquilo. Em sua cabeça todo o livro já estava esboçado, só restava passar tudo isso para o papel.

“Ó céus, porque a vida teria me destinado tal dose de ironia?” Curiosamente não conse-guia mais escrever. Não do jeito que tanto de-sejava, não podia se satisfazer com qualquer frase, era sua obra-prima e precisava de uma inspiração inconcebível, daquelas que não sur-gem a um individuo qualquer, aquelas que só os grandes sábios conseguem aproveitar. Ha-via feito e desfeito um sem-número de inícios para seu livro, mas nenhum estava digno, nun-ca estaria, pois depositou tamanha soberba e expectativa em sua genialidade esquizofrênica que a ultima coisa que teria competência pra fazer era uma boa história. O Livro se tornara maior que ele. Sua incapacidade de escrever

algo aceitável o deixou num estado ainda mais deplorável. Suas esperanças foram postas nu-ma história tão primorosa que ficou impossível descrevê-la em simples palavras.

“É só uma questão de tempo! Logo estarei vendo tudo com mais clareza e aí sim começa-rei a escrever tudo como tem de ser escrito, de um modo impecável.” Não aconteceu. Alguns dias se passaram, o telefone e a campainha já haviam tocado infinitas vezes, como se o mun-do perscrutasse alguma informação sobre a família que a muito não dava sinal de vida. Ele já não sabia mais o que fazer. Colocou a culpa de sua surpreendente inércia literária no idio-ma, era demasiado limitado para expressar tão grande emoção que transmitiria em seus escri-tos. Duas semanas se passaram. Emagrecera alguns quilos; a barba já escurecera grande parte seu rosto, tinha profundas olheiras causa-das pela insônia crônica. Sua aparência se transformara de tal modo como se buscasse uma representação estética para se asseme-lhar ao que fizera com seus entes. Brutalidade. Selvageria. Passou dois dias inteiros deitado, olhando para o teto de braços abertos no tape-te persa. Sem beber nem uma gota d’água, sem comer sequer uma migalha de pão. Zumbi.

Pouco tempo depois de completar um mês após o acontecido, ele começou realmente a se dar conta do que havia feito, como se um choque de realidade o atingisse vertiginosa-mente. Ficou horrorizado. As lágrimas secaram. Não parava de tremer, nem mesmo quando ga-nhava alguns minutos de cochilo. Mas em ne-nhum momento pensou em suicídio. Os flashes daquele dia fatídico surgiam em sua mente de modo tal que o deixava com a sensação de es-tar enjaulado junto a crocodilos famintos. Mes-mo assim ainda pensava em seu livro. Sua má-quina de datilografia continuava lá de pronti-dão, esperando o primeiro lampejo do escritor. Ele a fitava por várias horas ao dia, mas a folha em branco posicionada no aparelho era o que melhor representava sua inspiração para escre-ver.

Passaram-se mais alguns dias, seu corpo estava num estado miserável, seus poucos passos eram cada vez mais frágeis. E Aquele cheiro insuportável. Alguns vizinhos que imagi-naram por alto que a família teria viajado come-çaram a dar fé do odor. Na vizinhança mal co-nheciam uns aos outros, contudo perceberam que alguma coisa estava errada. Chamaram a polícia.

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Chegaram rápido e sem titubear toca-ram insistentemente a campainha. O escritor a essa altura já imaginava quem estava à sua porta e porque chegaram até ela. Não impor-tava. Levantou-se do tapete persa se sacole-jando desajeitado e um súbito desejo veio-lhe à cabeça: queria ver sua família pela ultima vez, por pior que estivessem, afinal, desde aquele dia evitou passar o olhar sobre suas vítimas, não os observara nem por um segun-do. Então, foi lentamente ao quarto dos filhos onde o mais novo sucumbira de modo cruel e agonizante. Lá estava o pequeno que, mes-mo rodeado por moscas, ainda parecia man-ter um tênue aspecto angelical. O escritor o fitou por alguns segundos, depois começou a tossir ininterruptamente em razão do fedor. Ansiava vomitar, mas certamente nada sairia daquele corpo a não ser resquícios de sua bile. Desceu as escadas acompanhado do toque cada vez mais decidido da campainha, sabia que em um ou dois minutos tudo esta-ria acabado. Tudo, exceto seu livro.

Ao descer, dirigiu-se de um modo deca-dente até a cozinha, apoiou-se na parede com a palma da mão e ergueu a cabeça em direção aos corpos. Nesse exato momento, um dos policiais virilmente arromba a porta com um forte chute, o frágil escritor não se deu ao trabalho de olhá-lo, era como se já tivesse vivido esse momento mil vezes, nada que acontecesse ali seria imprevisível para ele. Os policiais tentam chamar a atenção do moribundo entoando gritos firmes de ordem, assim, com as pálpebras semiabertas ele cai de joelhos, escorando as nádegas sobre seus calcanhares encardi-dos, neste momento, qualquer um que pre-senciasse tal cena seria capaz de medir até que ponto um ser humano pode alcan-çar na escala da de-gradação. Após isto, os policiais se entreolharam como se estives-sem em dúvida da abordagem a ser executa-da, e não era à toa: o assassino aparentava ser tão vítima quanto os cadáveres encontra-dos na casa momentos mais tarde. E dessa forma, ele ficou conhecido por todo o país so-mente como o escritor assassino, não tinha mais nome, não tinha mais nada, restou-lhe apenas a perspectiva de escrever seu livro no tempo perpétuo do cárcere.

AS FLORES DO CAMINHO

Por Estrela Radiante

Encontrei pelo caminho muitas flores, Muitas delas com espinhos que causam dores, Mas também tão belas com muitas cores, E assim vamos vivendo entre amores. Encontrei pelo caminho muitas rosas, Muitas delas, tão bonitas, tão charmosas, Exalando uma fragrância, perfumosas, Enfeitando as pessoas, calorosas. Encontrei pelo caminho os botões, Espalhando a beleza, aos borbotões, Entre as pedras e as areias dos sertões, Consolando, quando em dores, os corações. Encontrei bonitas flores, no jardim, Entre rosas, amarelas e carmim, Colorindo todo o verde, bem assim, Enviei-lhe um buque, com fita de cetim.

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E O VARAL ANTOLÓGICO 2 SE ESTENDEU NA LINDA CIDADE DE BRUMADINHO!

Com a coordenação de Norália de Mello Castro e o empenho conjunto de muitos cidadãos, o Varal estendeu-se na cidade de Brumadinho, Minas Gerais no dia primeiro de junho.

A Casa da Cultura Carmita Passos, totalmente decorada para o evento com varais que dan-çavam pelas paredes e janelas, recebeu os coautores do livro Varal Antológico 2.

Foi um momento inesquecível, onde tivemos apresentação de coral, jovens e talentosos can-tores e discursos emocionantes e emocionados.

Os escritores presentes distribuíram livros, trocaram ideias e levaram até Brumadinho a nova literatura que vem surgindo com muita força!

Estiveram presentes os coautores: André Victtor, Flavia Menegaz, Vóf Fia, Norália de Mello Castro, Valdeck Almeida de Jesus, Yara Darin, Clara Machado, Carla Renata Jorge Neves, Cláudio de Almeida Hermínio, Irineu Baroni e a organizadora Jacqueline Aisenman.

Abaixo, as palavras de Claudio de Almeida Hermínio, coautor no livro Varal Antológico 2.

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA EM NOSSA VIDA

A Literatura tem o poder de levar-nos a refletir sobre a nossa condição existencial e so-bre a situação sociocultural em que vivemos, ajudando-nos na formação da personalidade,

preservando o pensamento livre.

A Literatura se faz presente em todas as classes sociais: nos morros, sobre as palafitas, nos palácios. Alguns tentam ignorá-la mas ela resiste e ressurge no dia a dia. Às vezes atra-vés das pessoas mais simples, um porteiro ou uma dona de casa. As histórias são contadas de uma forma tão profunda que alçam voo e nas mãos de grandes escritores, elas são capa-zes de atravessar o oceano e aqueles que as contaram se tornam contadores de existência.

QUE SEJAMOS CONTADORES DE EXISTÊNCIA!

Foto de Valdeck Almeida de

Jesus

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Fotos de Valdeck Almeida de Jesus, Yara Abreu, Carla Jorge Neves, Madhu Maretiore, entre outros.

De mensagem recebida de Norália de Mello Castro:

Com a passagem do Varal do Brasil em Brumadinho duas coisas maravilhosas estão acontecendo na cidade!

No dia 1o. de junho foi iniciada a BIBLIOTECA da Casa de Cultura, que será aberta para toda a comunidade!

Os poetas participantes sugeriram que fosse criado um dia oficial para a POESIA. O pedido foi acolhido com muita satisfação e estão estudando a criação desse dia, através de uma lei.

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Por Fabiane Ribeiro

Conto 4 – A rosa da noite escura

“...Eu andei por entre serpentes e espinhos naquele noi-te, como nas anteriores. Meu pé cortou-se em sangue.

Seria um vermelho vivo a colorir de forma assustadora o solo negro, mas a escuridão impedia-me de ver o sangue jorrar; apenas podia senti-lo. Olhos fitavam-me como es-trelas na noite escura. Guizos eriçavam-me os pelos. E

os espinhos... esses, dilaceravam-me”.

***

— Você está bem? Consegue nos ouvir? – alguém dizia ao longe.

Tudo girava sem, contudo, sair do lugar.

— O que aconteceu? – ele perguntava. Mas não havia resposta.

O mundo parecia em silêncio ao seu redor. Entretanto, ele podia sentir o tumulto que se formara.

Mas os olhos... Os pares de olhos de serpentes o perse-guiam... E ele não era capaz de fugir. Cruzava túneis incontáveis. Descia e subia degraus invisíveis de esca-das sem fim.

A escuridão imperava. Ele podia enxergar. De forma inu-sitada, estava de olhos abertos, e justo agora, tudo que o envolvia era escuridão.

— O que significa tudo isso? Que lugar é esse? – ele dizia entre sussurros desesperados.

Fechou novamente os olhos, estava na sala de reuniões dos deficientes visuais, caído ao chão. As pessoas fala-vam com ele; ele respondia. Mas ninguém o escutava...

Abriu os olhos e viu-se novamente preso dentro daquele pesadelo sem fim.

Andou sob o peso da escuridão por horas incontáveis. O solo pedregoso e forrado de espinhos e serpentes acom-panhou-o por boa parte da jornada. Até que ele parou para tomar fôlego e viu que, ao longe, as pedras transfor-mavam-se em areia... Era um deserto que agora se pro-jetava frente a seus olhos.

Ele correu. Reuniu forças que não sabia possuir, e che-gou arrastando-se ao deserto. A suavidade daquele solo fez seus pés, feridos, estremecerem de satisfação. Revi-gorado, ele continuou a jornada e, após muito caminhar, contemplando apenas areia, um oásis surgiu em sua vis-ta. Junto de um belo raio de sol.

Tudo se fez claridade.

A luz revestiu seu corpo e fez doer seus olhos que, dife-rentemente de quando ele estava acordado, contempla-vam tudo pela mágica da visão.

Olhou para o lado e viu que não estava sozinho. Alguém caminhava junto dele.

Ele soube, então, o que tudo aquilo significava.

Aquela pessoa estivera com ele desde o início de sua jornada pela noite escura. Estivera ao seu lado por entre as cobras e os espinhos, compartilhando sua dor. Foi a presença, antes oculta pela escuridão, daquela pessoa, que lhe deu forças para continuar; para dar cada novo passo.

Ele havia alcançado o sol. E sua luz dera-lhe o privilégio de contemplar aquela moça... que estivera como um anjo a levá-lo adiante pelo caminho.

As mãos, que estiveram lado a lado na escuridão, entre-laçaram-se sob a luz do sol. Eles marcharam juntos em direção ao oásis. Mas, ao aproximarem-se, puderam per-ceber que não se tratava exatamente de um oásis. Eles puderam ver que era apenas uma rosa, sozinha, impe-rando sob os raios do sol.

Ele fechou os olhos, deixou de enxergar. Ouviu os mur-múrios de seus colegas na reunião cada vez mais altos.

— Que susto – alguém falou – você estava descrevendo um pesadelo e, de repente, desmaiou.

— Eu não desmaiei – ele falou, reerguendo-se – eu ape-nas fui sugado com toda força para o pesadelo recorren-te que tenho. Entretanto, pela primeira vez eu vi seu fim e pude compreendê-lo. O pesadelo tornou-se o sonho mais lindo... Nós nunca estamos sozinhos. Mãos invisí-veis conduzem-nos por entre as serpentes e os espi-nhos.

Uma rosa havia surgido na noite escura e se fortalecido em meio as areias do deserto; podendo ser vista apenas sob a luz do sol, mas podendo ser sentida a cada novo pulsar de qualquer existência que estivera à sua procura.

Ele soube que, na verdade, a ausência de luz em sua visão não o tornava só. Ele sempre tivera alguém ao seu lado, mesmo que teimasse em não perceber.

No fundo, aquela rosa trouxera consigo uma lição: não há escuridão ou medo suficiente para afastar dois cora-ções que batem como um só. Aquela rosa parecia anun-ciar ao vento do deserto, sob a luz do sol ou sob a escu-ridão da noite fria, que qualquer jardim regado a dois é mais florido.

Após acalmar todos os membros do grupo de deficientes visuais, a coordenadora Maria Isabel prosseguiu com a reunião...

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Simetrias e Reflexos

Por Felipe Cattapan

Na simetria convexa de um jardim zen

crianças brilham bolinhas de gude.

Opaco,

um velho sem palavras

só entrevê uma falta de decoro.

Mas longe dali,

na solidão côncava de uma eternidade incolor,

Buda sorri

e em silêncio reflete

que enquanto houver luz e aurora

todas as cores serão consentidas

aos seres iluminados.

Sem dissolver o transe policromático

as crianças se perpetuam

na infinitude da brincadeira caleidoscópica...

experimentando

na cor do fluxo de cada movimento

que estar

é o brilho invisível de ser.

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Algumas coisas que você precisa

saber sobre New York

Por Fernanda de Figueiredo Ferraz

Você precisa saber que a temperatura muda de repente. Você precisa saber que a ar-quitetura é magnífica. Você precisa saber que encontrará qualquer coisa que procurar, porém, você precisa saber que não é para visitar o “ponto zero” entre 8:00 am ou 10:00 am, pois correrá risco de atropelamento por “pés”.

NY é uma das cidades mais populosas do mundo. - Também não pode parar para atender o telefone no meio da Av. Lexington entre a 42th e 44th street, pois correrá o mes-mo risco. Se sair da Grand Central nos horários de pico, somente ande para onde a multidão esteja andando, não importa, você pára para averiguar o mapa e a direção assim que avistar uma porta de qualquer lojinha, não pare nem para ver que tipo de loja, entre! Pode ser de brinquedos, café, perfumes, bebidas, revistas, já disse que não importa, salve-se e veja onde está.

Há uns meses fui a uma entrevista em downtown as 8:00 am da manhã, imaginem aquela delícia de metrô! Para o metrô eu esta-va preparada, não estava preparada era para a enxurrada de gente saindo debaixo da terra, eu de um lado, e mais outros 5 a 10 corredores emergindo do subterrâneo para a superfície e se afunilando nas ruas. Você anda e anda rápi-do.

O meu sapato era novo, como todo o visual para a promissora entrevista, só que o sapatinho resolveu dar um show de “atacação”, era de frente, de lado, atrás e eu andando, eu sentia as bolhas nascerem e estourarem, tudo isso sem saber muito se eu estava na direção certa, mas Manhattan neste horário só tem uma mão, a mão downtown. A vontade de parar pa-ra arrumar o “dito cujo” era imensa, mas ao es-piar de rabo de olho aquela gente, gente mes-mo, multidão atrás de mim, quase cheirando o meu cangote, um pânico me vinha e eu anda-va. Eu tentava enxergar uma árvore, um poste, uma coluna, uma parede para encostar, e era só parede de gente. Andei algumas boas mi-lhas até conseguir cruzar da esquerda para a

direita e entrar num café. É nessas horas eu quero socar as placas de push, porque eu sem-pre puxo! Claro que eu puxando a porta do café e todas as pessoas que saíram dos 5 a 10 es-cadas do metrô se entrelaçando nas ruas e an-dando freneticamente eu fui empurrada e atro-pelada umas 20 vezes, quase perdi minha bol-sa, mas não caí.

Neste ponto não conseguia andar mais um quarteirão inteiro com aquele sapato, meus pés estavam em carne viva, e eram os dois, me impossibilitando de mancar se quer. Fui para a entrevista, porque nessas horas o corpo solta um “Q” de adrenalina que não te deixa tirar do foco maior – A entrevista – Fui arrastando os pés como se fossem patins. Não deu, parei na primeira loja de sapatos que avis-tei e achei um único par disponível do meu ta-manho: uma sapatilha dourada com glitter dou-rado!!! Torci o nariz, abaixei a cabeça e falei com vergonha: Eu vou levar.

Além da barra da calça ficar arrastan-do no chão, arrasando o figurino preestabeleci-do, a sapatilha chamava mais atenção que EU, a entrevistada, não adiantava nem dar camba-lhotas, a “brilhosa” me ofuscava.

Voltei para casa descalça, sem empre-go, na contramão, mas fora do horário de pico. Agora, você deve saber que em cada quartei-rão da ilha você achará 2 Starbucks, as vezes do mesmo lado da rua, as vezes no lado con-trário e para cada 1 “Starbucks” você achará 4 “Dry Cleanears”, 3 “Nail Salon” e 2 casas de massagens. Por fim entendi porque existem tantos serviços de massagem de pé! Foi lá que afoguei minha mágoa do dia, relaxei e deixei uma tip enorme para a massagista que sorria sem parar

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Covardia

Por Fernando Ferreira

Queria ter a vocação para a galhofa

e tornar-me poeta satírico, trocista

mas coragem me falta.

Bebo o mundo da superfície,

embora acalente a latente utopia

de profundos mergulhos,

mas sou covarde.

Não cultivei em meu espírito

a bravura do tigre, antes finjo de morto

contraído em inseto, fixo, uma planta carnívora

contentando com eventuais moscas incautas

destarte cobice um banquete de javalis;

mas me falta coragem.

Se não me perguntam, também nada digo

e assim, não me contagio.

Não sei se lhes disse, mas sou covarde.

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VARAL ANTOLÓGICO 3

Abrem-se dia 10 de agosto as inscrições para a seleção para o livro VARAL ANTOLÓGICO 3 a ser lançado em 2013.

Os interessados deverão enviar textos (no mínimo um, no máximo 5) num total de cinco páginas A5, letra Times New Roman 12, espaço 1.5.

Todos os textos serão examinados por uma Comissão Examinadora composta de escritores e críticos que acompanham e/ou participam do Varal do Brasil.

Os textos selecionados serão comunicados por e-mail a cada autor até o dia 10 de outubro de 2012 e farão parte do livro Varal Antológico 3 mediante participação cooperativa.

O regulamento para a participação da seleção estará disponível no site e blog do Varal do Brasil, assim como através do e-mail [email protected] a partir de 10 de agosto de 2012.

O tema será livre e os textos podem ser: contos, crônicas ou poemas (todos os três em todas as suas variações).

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ROCAMBOLE DE CARNE http://www.ligadanasdicas.com/

Ingredientes

Um quilo de carne moída;

- Um pacote de sopa de cebola;

- E duas colheres (sopa) de maionese.

Para o recheio sugerimos:

- Fatias de bacon;

- Ovos cozidos;

- Azeitonas sem caroço e cortadas em fatias;

- Rodelas de tomate;

- E rodelas de cebola.

Modo de preparo

Misture todos os ingredientes nas quantias certas e coloque em um recipiente em que vo-

cê possa abrir completamente essa massa de carne para colocar o recheio.

No recheio, coloque todos os ingredientes à vontade misturando todos eles sobre a carne aberta. Após rechear, enrole em forma de rocambole e leve ao forno quente. Após alguns minutos, o seu rocambole de carne estará pronto para servir.

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O ESCRITOR E O LEITOR Por Jacqueline Aisenman Há uma relação muito importante e delicada chamada escritor e leitor. Por não entendê-la, há escritores que se entristecem e leitores que se fecham. Quem escreve tem em suas aspirações um gênero preferido (há os que se devotam à poesia, os que preferem contos, romances, crônicas, etc..) ou que escrevem um pouco de tudo. Quem lê tem também seus gêneros preferidos (ou gênero!) ou também gosta talvez de um pouco de tudo. Citando a poesia, por exemplo, há os que gostam de escrever todos os tipos de poemas, al-guns gostam apenas de sonetos, outros de haicais, ou outros tipos ainda; alguns gostam das rimas, outros detestam. Assim também são os leitores, que têm certamente suas preferên-cias. Todo escritor tem certeza de que será lido e reconhecido. Todo leitor tem sua opinião sobre o que leu e sabe da importância da mesma. Nem todo escritor será lido e/ou reconhecido. Nem todo leitor terá sua opinião reconhecida. Entre estilos e gêneros, leitor e escritor se encontram nas páginas de um livro. Há os que gostam de um estilo e detestam outros. Há os que apreciam a diversidade de esti-los. Há os que escrevem inspirados em algum estilo. Há os que criam o seu próprio estilo. Há os que escrevem muito; assim também os que escrevem só de vez em quando. Dentre os escritores, há os nomes que todo leitor conhece e que são por muitos divulgados. Há também os nomes que o leitor descobre. Há aqueles que permanecerão em gavetas e que o leitor não conhecerá. Há os que se tornarão conhecidos como suas inspirações. Há escritores que vendem muito porque os leitores já conhecem o que escreve e há escrito-res que vendem pouco porque ainda não são conhecidos dos leitores. Há tantos gêneros e estilos quando há leitores e escritores (alguns gostam de ser chamados apenas de poetas, outros de contistas ou cronistas ou romancistas...). Alguns leitores tornam-se críticos. Mas só uma coisa pode mesmo unir leitor e escritor: o amor pelas letras. Se o escritor tiver amor e paciência, deixará que o leitor faça seu caminho e chegue a ele. Também compreen-derá que há leitores que não virão porque... porque é assim! Se o leitor tiver vontade, abrirá seus horizontes e buscará no novas alternativas e continuação para aquilo que já aprecia. Por isto se compreende aqui nesta dinâmica, mais do que em outras, quando se fala que “há gosto para tudo”. Enfim... como já diziam os antigos: “o que seria do amarelo se todo mundo gostasse apenas do verde?”! Esta é uma frase que explica bem! Mas escrever e ler, leitura e escrita, isto funciona como a vida: não existe caminho apenas de ida, não há apenas uma cor, não há somente um tom. Há espaço para todos! Que os leitores sempre encontrem novos autores e os escritores sempre encontrem novos leitores! Que a literatura se renove sempre e nunca deixe de prestigiar os que são e sempre serão as nossas fontes de inspiração!

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A elegância dos destituídos Por Giordana Bonifácio

O brasileiro age com muita elegância. Não se revolta, não grita, matem-se calmo e aceita as mais terríveis atribulações com um sorriso estampado na cara. Se isso não for o máximo que se pode exigir de um gentleman, então não sei do que se trata elegância. Nós ficamos mudos enquanto desviam o dinheiro de nossos impostos. E reclamamos pouco do des-caso do governo com saúde, educação e segu-rança. Somos extremamente educados, no sentido da polidez que se exige em situações como esta. Quase apresentamos o nosso bolso para os corruptos saquearem com mais facili-dade o fruto do nosso trabalho: “aqui senhor, ainda restam dois reais.” Mas eles como sinal de delicadeza nos deixam ficar com esta miga-lha para que possamos pagar o transporte pú-blico caríssimo e de condições deploráveis que os nossos governantes nos oferecem. Não existem creches, hospitais com leitos suficien-tes ou saneamento básico, mas em breve aqui se dará a Copa do mundo e prometemos rece-ber os turistas com toda nossa hospitalidade. Viu, o brasileiro é um poço de cavalheirismo. As escolas estão ruindo? Os professores são desprezados e mal-pagos? Não há problema, eis que a Olimpíada, vai trazer divisas para o Brasil, nem que seja por curtos dois meses. E depois disso, a gente bem que poderia desper-tar desse torpor. “Cruz-credo, parece macum-ba. Será que nos lançaram um encosto?” A gente não sente, as agulhas encravadas no nosso corpo. É IPI, IPVA, IPTU, IR e outro tanto de impostos que são encravados na nossa pe-le. E nem adianta enganar a Receita. O país não tem um bom mecanismo para localizar cri-minosos, mas para “mal-pagadores”, nossa, encontram você até na mais remota tribo indí-gena do Acre! E o brasileiro já parece até bone-co vodu.

Sem querer nos envolver, sem querer nos misturar, sem querer e querendo a gente aceita muita coisa. Rios de dinheiro são desvia-dos e muitas vezes com nosso consentimento. Porque aquele político, sabe aquele, de paletó e gravata e discurso mole? Sim, ele pode ser corrupto, mas, algumas coisinhas pequenas, ele faz. Algo como inaugurar obras que demo-raram décadas para ficarem “meio-prontas”. Porque têm de ficarem inacabadas, senão, co-

mo aquele homem bem apessoado e carismáti-co que elegemos saquearia os recursos da na-ção? E a gente corre atrás do “trio-elétrico” pa-ra acompanhar o showmício desse e daquele candidato que na campanha abraçam-nos e tratam-nos como iguais. Porém, só basta serem eleitos que nos lançam na mais abjeta sarjeta. Nem se recordam de qualquer promessa que tenham feito e que empenharam o fio do bigode para provar sua honestidade. E nós como gado manso, somos massa de manobra. Sem função alguma, a não ser a de dizer sim a tudo. Quem vai se revoltar? Quem vai protestar e importu-nar os donos do poder? Nós? Não, somos mui-to corteses para atos tão selvagens. A crítica ácida deixamos para nossos irmãos Argentinos que gostam de fazer paneladas. “Gente mais mal-educada!” Gostamos mesmo é de sorrir das situações, como se a piada apagasse o desgosto e amenizasse a vergonha. Uma guer-ra política ocupa as páginas dos jornais e pou-cos sabem algo mais profundo sobre a cachoei-ra de escândalos que entopem a mídia. Está todo mundo envolvido? Esquerda e Direita? Si-gamos pelo centro então, que brasileiro não ad-mite, mas adora ficar em cima do muro, sem opinar em nada. Quem se importa se há uma inflação mascarada e nossos salários estão se depreciando? Besteira, ainda dá para comprar um carro popular à milhões de prestações, por-que o IPI está reduzido. Reduzida também está a qualidade de nossas estradas. Buracos que se reabrem todo período de chuvas e são tam-pados toscamente, porque, o dinheiro para es-se serviço também foi parar numa conta de la-ranjas num paraíso fiscal.

Mas a gente sabe tudo sobre laranja, não foi para ela que perdemos na última Copa? A Holanda, a laranja mecânica que nos atrope-lou? E fomos muito gentis com nossos oponen-tes. Reconhecemos sua superioridade. Mas nós, nativos desse país de poucos, não falta-mos com a delicadeza. Conferimos sempre uma segunda chance para aqueles que nos en-ganaram. Alguma coisa como “ofereça a outra face”. E aqueles que sumiram com um milhão agem com mais destreza e evadem do país com cem milhões. “São espertos, se fosse eu, faria o mesmo!” Assumem alguns que não têm sequer a possibilidade, nessa terra excludente, de ocupar a cadeira do rei. “Somos brasileiros e não desistimos nunca”, grita o slogan. E fica-mos certos que não desistimos é de sobreviver em meio a tantas dificuldades. É tanta greve, tanto descaso e impunidade que ficamos até

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calejados. A gente tem “casca grossa”. E co-memos o feijão com arroz que pesa cada vez mais na cesta básica do povo. Silenciosamen-te, sentimo-nos representados quando ouvimos o hino nacional, mesmo que muitos não saibam sequer entoá-lo por completo. “O judiciário não representa o povo.” Tenta alertar a imprensa com manchetes em destaque. A gente lê e dei-xa passar, pois, o que se pode fazer? A gente desaprendeu a levantar a voz. Com muito custo a gente se rebela e fala mal do ár-bitro da partida de futebol. A condição dos está-dios era deplorável? Aí vem uma Copa do mun-do, afinal, esse problema será resolvido. Não podemos receber os visitantes com a casa “mal-arrumada”. Sabemos que os engarrafamentos serão colossais, mas vamos brincar com as nossas mazelas. Se muitos ficarão presos no trânsito, que tal fazermos uma piada sobre o brasileiro que foi assistir ao jogo e chegou aos quarenta e cinco do segundo tempo, bem na hora de ver a nossa querida seleção ser elimi-nada da Copa? Difundir-se-á como água na in-ternet. É bom ressaltar, nossos provedores de internet cobram os preços mais caros de todo mundo para nos fornecer um serviço contra o qual chovem reclamações. Mas seremos socor-ridos em tempo por nossa emissora favorita de televisão que amenizará as dores de nossas feridas com novelas cuja função primordial é abafar nossa indignação.

E depois disso tudo, seremos ainda mais cordiais, deixando nossos gênios venderem-se para as grandes nações porque, nesse país, o

saber é desprezado. Permitamos que nossas maiores invenções sejam patenteadas por em-presas estrangeiras. Afinal, nós somos solidá-rios. Doamos nossas riquezas a troco de nada. E ficamos felizes quando é alardeado que so-mos a sexta economia do mundo. E se não permitíssemos que nos roubassem de todas as maneiras escusas nessa crônica demonstra-das? Se houvesse um investimento verdadeiro em nossa educação tão sucateada? Se nossas indústrias fossem motivadas a produzir com mais qualidade a um menor preço? E se a se-gurança permitisse que andássemos tranquilos em nosso próprio país? E se o serviço de saú-de fosse condizente com nosso tão propagado poderio econômico? O que seríamos se não aceitássemos com tanta passividade a condi-ção degradante a que nos submetem? Sería-mos o país que tanto esperamos? A gente tem de reaprender a gritar, porque a nossa, até agora, elogiada boa-educação está nos cau-sando muitos problemas. Vamos tirar esses óculos que não nos permitem enxergar a reali-dade. Se continuarmos a recitar a ladainha dos políticos, sim, aquela do “Brasil, país do futuro”, (ou de todos, como o governo não cansa de lembrar), não nos daremos conta que o futuro já chegou e não estamos nele. E que estamos num Estado de poucos para poucos que exclui a grande maioria que engole tudo em troca de quase nada. Nosso povo aceita nossa desi-gualdade em função da política assistencialista, que oferece bolsas miseráveis aos pobres para ter seu apoio incondicional. Insurja-se nação tupiniquim, que o seu brado heroico retumbante ressoará pelos cinco continentes! Por isso, creio que nossa gentileza está nos fazendo mansos. Melhor que sejamos ouvidos, mesmo que para tanto tenhamos de nos rebelar e aca-bar com o mito da nossa hospitalidade. Porque já dizia minha mãe, “quem muito se abaixa, o rabo lhe aparece”.

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A Pagina em branco e as ideias Por Francy Wagner As ideias ficam borbulhando na cabeça e o pa-vor de uma pagina em branco as escondem nos cantos escuros do coração. É muito interessante quando se tenta fazer um texto, trabalhado para publicação. É muito mais fácil quando simplesmente se escreve aquilo, o que se pensa, e as ideias vão se encadeando tal e qual uma corrente logica ou sem logica. Escrever se torna então um vicio, uma necessi-dade de se por para fora aquelas ideias que ficam ali, nos perseguindo os pensamentos co-mo sombras, fantasmas de nossa mente, se enrolando e enroscando nos neurônios, cortan-do ligações de pensamentos lógicos, e tornan-do nossa vida um passar de horas angustian-tes, pois a necessidade é faminta. Fome de expor aquilo que nos incomoda. Apenas uma ideia... apenas um tema... contu-do, se esse tema não é desenvolvido com o auxilio dos signos, vai crescendo sem forma e se torna um monstro voraz que engole a paci-ência, a logica e a vontade. O desenvolvimento do tema, escrever aquilo que se passa dentro da alma, tornou-se para mim a maior e melhor terapia para minha de-pressão, para esclarecimento de duvidas, para busca de soluções. A folha em branco agora é minha melhor amiga; a caneta companheira inseparável e o computador, esse, o amante parceiro de todas as horas e situações. Meu vicio não tem hora. Minha necessidade se apresenta nos momentos mais inusitados, im-previsível como uma mulher. Os temas são tão variados quanto os objetos oferecidos nas pequenas lojas de “quase tudo”; dos necessários aos supérfluos, dos mais sim-ples aos mais complexos, tecnologia de ultima geração. Meu sonho: ver meus textos lidos, comentados. Os leitores são meu publico. Os comentários os aplausos. Infelizmente tenho poucos leitores e não co-nheço os métodos de propaganda. Todo artista precisa de alguém que lhe expo-nha os trabalhos. O artista produz mas não sa-be vender. Um artista não sabe nem dar valor aquilo que produz, pois dentro de sua alma ain-da há muito o que produzir e o tempo é pouco. Aqueles que vendem o material que o artista

produz, ditam as regras de mercado. São co-merciantes. Comerciante que precisa ser espe-cial. A mercadoria que ele está oferecendo, va-lorizando, vendendo, é algo imaterial: é um pe-dacinho da alma de alguém. A alma do artista produz frutos que exporta pa-ra as outras almas. Este alimento é essencial para a sobrevivência da emoção. Sem o alimento da alma, as pessoas vão se tornando secas, amargas, morrendo por dentro: tornam-se zumbis que vagam pelas ruas em busca de algo que as satisfaça, comprando tu-do aquilo que o dinheiro ganho com seu esfor-ço é capaz de oferecer. Amontoam-se roupas, sapatos, bolsas, utensí-lios domésticos, elétricos, eletrônicos, jogos de videogame, imóveis, moveis, enfim toda a sorte de matéria que é linda aos olhos na loja e logo depois perde o brilho. Lembrei dos terços de contas transparentes das feiras do interior do nordeste, de onde venho. Quando saem do fo-co das luzes amarelas penduradas nos ferros de sustentação das barracas, perdem o brilho... deixam de ser brilhantes para serem exatamen-te aquilo que são: contas de vidro ou plástico duro, com um furinho por onde passa aquele fio e as transformam num terço católico. Então, para se tornarem brilhantes novamente aos olhos de quem as comprou, precisam de uma luz, precisam ser banhadas novamente com algo imaterial: a fé! O alimento da alma esta ali, brilhante novamen-te aos olhos. A produção do artista é isso: o alimento vivo da alma, sem meios termos. Puro, que envolve, que da a vida, que reanima, que ressuscita! Todos os dias eu ressuscito dos mortos quando acordo pela manha e decido se vai ser um dia se ser zumbi, ou um dia de vida, de alegria; um dia que meu sol vai brilhar, mesmo que esteja chovendo la fora, mesmo que esteja nevando. Meu sol pode brilhar de noite, de madrugada... qualquer momento, pois ele esta dentro de mim. No peito, habitado pela Alma, pelos senti-mentos. Sinto a dor da saudade na alma, sinto a raiva na alma, sinto o amor na alma... o corpo sua vestimenta: uma maquina perfeita, funcional, equilibrada, governada pelo maior e mais pode-roso computador do universo: o cérebro. Se eu acordar e deixar meu cérebro guiar mi-nha vida naquele dia, viro um zumbi, faço tudo logicamente perfeito, livre de emoções que possam me atrapalhar o raciocino.

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Se eu acordar e decidir que minha alma vai guiar minha vida naquele dia, viro um louco alucinado, sem logica, sem regras, sem fronteiras. Terei um dia de produção artística: um dia onde tudo brilha, meu sol brilha e minha alma produz. A busca deste século é juntar alma e cérebro, tra-balhando juntos, no mesmo corpo! Vou deixar esse assunto para seus pesquisado-res exotéricos. Este segredo é hermético! Desta forma a folha em branco não é mais tão pa-vorosa. O texto esta pronto, pronto para ser revisado pelo cérebro. Pronto para se tornar alimento, gostoso ou não, vai depender do apetite do leitor. A única garantia do escritor, é que o prato foi pre-parado com carinho. Estará servido através de um Servidor na Internet, pois não tenho avaliador de preço, intermediário, comerciante para meus textos... ainda não foram suficientemente sabore-ados nem levados ao mercado. Ainda é uma pe-quena produção caseira, para aqueles convida-dos especiais. Bom apetite!

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Impulso Por Guacira Maciel Saltou na Estação Rodoviária... que lugar é este? O inferno? A cabeça, zonza, deu-lhe uma sacudidela. Estava tonto por tantas horas sem o sono gostoso, que começava com as galinhas empoleirando-se no pé de caju, cuja raiz já nascera se arrastando feito cobra ao sol do sertão. Também acordava junto com elas; era bom ouvir o galo cantar de ma-drugadinha, aquilo tinha um gosto de café quentinho e de lida. Passou a mão sobre os olhos macerados para espantar a pasmaceira. Só então se deu conta da dor que lhe mar-telava o corpo em algum lugar. Não; ela estava por todo o corpo, mas era pior no ponto sobre o qual passou a mão calosa de trabalhador. É...é aqui que dói mais; deve ser fome, e pensou que não comia feito gente desde o início da viagem. Sentiu saudade e veio-lhe à boca o gosto do feijãozinho com carne seca feito por Dona Sebastiana. Bom, aquele gos-to... gosto de mãe, gosto de terra do roçadinho que botava o pão na mesa da família. E gosto da feira do sábado, quando todos os vizinhos levavam seus produtos quase que pa-ra serem trocados por outros, como um escambo. A feira era colorida, parecia sempre o dia da festa da Padroeira. As meninas vestidas com suas “roupas de sair” passeavam gru-dadinhas com as mãos dadas feito corda de licuri, olhando como quem não quer nada, para os meninos que ajudavam os pais no trabalho pesado, fingindo não vê-las. Outra pontada o lembrou que precisava comer. Que dia é hoje? Perguntou pensando alto sem perceber; ainda assim olhou para os lados esperando uma resposta que não veio. Vixe! Aqui as pessoas não ouvem, não enxergam, nem falam? Só olham, olham para nós com estranheza, como se a gente fosse de outro planeta. A dor da fome deu-lhe outra fisgada e sentiu vertigem, vixe maria! E agora? Preciso comer, lembrou outra vez. Era fome, can-saço e saudade, tudo misturado. A coisa tá piorando...Sentou-se em um banco, uma mé-dia de café com leite num copo de plástico tão vagabundo que lhe queimava a mão, ocu-pava uma delas, mas isso lhe deu certo conforto; ainda estava vivo; na outra um pão com margarina; isso lá é manteiga!... Ficou olhando sem ver o vai e vem ensurdecedor. Em algum momento pensou...parecem formigas...as lágrimas quentes nublaram a vista ardi-da, cansada...o seu lugar não era ali...engoliu o pão com dificuldade, jogou o copo sujo no lixo e levantou já procurando o papelzinho com o endereço do primo Natanael.

Imagem: h$p://detemposemcoisas.blogspot.ch/

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Um bom assunto

Por Gladys Giménez

Costumo escrever poesias, pequenos textos, testículos enfim, mas aventurar-me nos intrínsecos caminhos da crônica, para mim, é algo inusitado, pois muitas vezes pareço-me a uma folha em branco, meu cérebro escarafun-cha até os recônditos e na maioria das vezes não encontra nada. Síndrome da página em branco? Talvez, pois há quem diga que na mi-nha idade muita informação atrapalha, começo a acreditar nisso. Mas, voltemos ao assunto principal deste texto. De uns tempos para cá me deparei a prestar mais atenção nos movi-mentos das pessoas que habitam meu planeta. Particularmente meu planeta é Vênus, minha Musa inspiradora gosta de silêncio, de quietu-de, taurinas são esquivas, mas como ia dizen-do, comecei a interessar-me por histórias con-tadas ao léu, comecei a olhar com atenção as cenas corriqueiras que aconteciam do outro la-do da minha vida. Sem querer comecei a cole-cionar histórias. Depois de um breve tempo ali-mentando-me desse novo ruído, ruminando so-bre meu novo hobby , dei um salto e perguntei-me: para quê? Que utilidade eu daria a essa caixa de pandora? Ideia remota parece que eu até tinha, mas na realidade ainda não passava de um grande ponto de interrogação em mim.

Iniciei a escrevinhar. Parto difícil este. Estou gostando da experiência, algo no-vo, desafiador, mas terei que ter persistência, tesão pela arte, de outra feita já faz muito que brinco com as letras, elas nunca me decepcio-nam, são maleáveis, curvam-se aos meus ca-prichos.

Gosto de rabiscar perigosamente nas linhas rígidas do meu caderno, embora minhas escritas sejam tortas, vivo em eterno estágio letárgico perdida entre minhas garatu-jas, procuro como uma equilibrista, manter-me sempre nessa corda bamba. As letras são meu suporte.

O professor Jaime Cimenti, em certa feita disse: “...o cronista que é um vampiro de assuntos, tem como vício aproximar-se das pessoas para roubar histórias.” Senti-me assim, uma vampira tentando sugar histórias para a próxima história. Já não me sinto culpada em fazer de conta que estou lendo, ou apenas apreciando a paisagem e fingidamente captar as nuances, infiltrar-me nas entrelinhas, envol-ver-me qual radar em conversas que rondam meus ouvidos. Tomo ciência que meu maior romance é certamente, a criação de um ato libi-dinoso entre o papel qual noiva de branco à es-pera da cilíndrica tinta, ambas seduzidas pelas mãos que as afagam e rompe com sua pureza para depois jogá-las ao mundo e serem devo-radas pela curiosidade humana.

Assim como o morcego que suga dos pomares alheios a fruta e depois dispersa suas sementes favorecendo o ecossistema, ajo en-tão como a dinâmica desses bichos alados, dis-persando, contribuindo para a cultura, se assim for possível. Sugar do mundo e jogá-lo ao mundo. Está aí, creio eu, uma boa perspectiva para os meus apanhados secretos.

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...CAPITÃES DA AREIA, DE JORGE

AMADO?

Com o centenário de Jorge Amado esse ano, seus livros que já eram famosos, ficaram ainda mais na moda. O livro, que foi publicado em 1937, conta a história de meninos abandonados em Salvador, tema que até hoje é atual. Essa obra foi perseguida e queimada em praça pública em Salva-dor , em 1937. A obra é dividida em três parte, o que considero interessante e faz dela ainda mais prazerosa de ler, pois pode-se reler alguma parte individual (tenho mania de reler livros que já li, várias ve-zes). O jeito único de escrever de Jorge, faz o leitor se emocionar e se envolver com os personagens, cujos nomes são uma diversão a parte: Volta seca, Gato, Boa-vida, Sem-pernas, Pirulito, entre outros. Um livro atemporal, que com certeza será apreciado por mais cem anos.

Sarah Venturim Lasso

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FOGUEIRA DE IDEIAS

Por Wilson Caritta

Quando penso em me queimar

Vem na mente tanta coisa

Que até se mente à coisa feita

Não faz falta

Há quem faz farta

Alguma mesa

Onde falta

Até a falta

Mas se na mente

Não se mente o tempo todo

Fica na gente

Um gosto e tanto

De um tempo morto e enterrado

Na queimação que assim me invade

Meio assim desconjugada

Na perdição da mente arde

Uma pergunta:

Se queimado todo o amor,

Que cheiro terá espalhado?

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CHEGADA E PARTIDA

Por Viviane Schiller Balau

Que linda chegada filho! Deus concedeu-me

Para abrilhantar minha vida Junto com você e,

Hoje sinto que nunca poderia... Dizer adeus pela sua partida Quero que saiba meu amado

Anjo que me deixou inesperadamente Pelas mãos de uns desalmados que vinham

Fazendo racha e atropelaram você; e o mataram... Meu amado que partiu para morar com

Senhor deixando muita saudade, Lembrança de tudo o que ficou na vida.

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A LÍNGUA DO MAR

Por Ivane Laurete Perotti

Foram-se os rostos cansados

Era uma partida sem dor.

A ponte levantara tropeços

na entrada do cais.

Nenhum navio aportara

na baía destroçada.

Partiram velhos e jovens,

quem estava tentou ficar,

mas a língua do mar era grande

e um a um conseguiu alcançar.

A dor apareceu salgada,

quebrada,

estilhaçada.

Levou o passado

e deixou o futuro

onde haveria de estar.

Deixou o nada no agora

da hora que se fez,

dolorida

encarquilhada.

Entre aqueles que ficaram

ergueram-se muros de lágrimas

e o mar recuou,

a língua manchada de sangue

insaciável a língua do mar.

Mulheres espiavam

tentando olhar para além...

Fugiam do lugar onde estavam

queriam aguardar alguém.

O mar não devolve o que leva

nem leva para devolver

enterra em suas entranhas geladas

todo aquele que vai ou vem.

Mulheres cansadas choravam

Um canto sem lágrimas

um canto sem cor.

Sereias sem manto

juntavam-se para ouvir o clamor.

Das ondas que levaram a esperança

subia um mastro de horror

era a paga que ainda faziam

aqueles que esperavam

esperavam...

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O VARAL ANTOLÓGICO SE ESTENDE EM SALVADOR ENTRE MÚSICA E POESIA!

Com organização de Valdeck Almeida de Jesus e Renata Rimet, aconteceu dia 25 de maio o lançamento do livro Varal Antológico 2 em Salvador.

A noite, alegre e cheia de surpresas encantadoras, aconteceu num local mais do que especial: o barzinho cult Beco da Rosália.

Poetas declamaram, músicos tocaram e cantaram entre muitas conversas animadas que trouxe-ram a nova literatura brasileira como assunto principal.

Os coautores do livro, entre eles Raimundo Candido Teixeira Filho, Maria Perpétua Freire Brasi-leiro e Valdeck Almeida de Jesus, estiveram presentes.

Entre os eventos marcantes da noite, a música do cantor Dé Barrense e as declamações infla-madas e musicadas do poeta Gibran.

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Fotos de Renata Rimet e Valdeck Almeida de Jesus

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O VOO DA COTOVIA

Por Marcos Torres

Ter asas para voar como uma cotovia,

como seria delicioso, viajar pelo mundo sobre os penhascos,

montanhas além das colinas,

nada de catraca ou bilheteria;

essas coisas são transtornos,

demasiado aborrecimento.

Embora saiba: quando se quer ver algo novo

não há jeito, é preciso pagar alguma moeda

para saborear outras paisagens.

Ah, como eu queria ser uma cotovia.

Ah, como eu queria poder voar, deslizar no céu,

ir além dos ventos uivantes onde somente a cotovia alcança.

Cortar todo o atlântico, e lá do alto

ver os pássaros cuidando do ninho na copa das árvores.

Atravessar os mares gelados,

sobrevoar por entre as montanhas além das colinas,

seguindo em direção ao Polo Norte.

Mas essa ausência de asas

me deixa demasiadamente...

Limitado

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MULHERES EM BUSCA DE

SEUS DIREITOS

Por Hilda Agnes Hübner Flores

Reconhecida como única geratriz da vida, na aurora da humanidade, a mulher era respeitada chefe de clã. Quando o homem, fisicamente mais forte, se impôs como caçador e defensor, a mulher passou a depender dele. E logo viu-se reduzida a uma dantesca e duradoura estreite-za existência, que se arrastou por milênios, co-mo mostram os escritos de pensadores e deli-neadores do comportamento das gentes. São conceitos a estabelecer parâmetros entre o possível e o inatingível, o permitido e o excluí-do no agir cotidiano da mulher.

Vejamos alguns exemplos. O Código do Hamu-rabi dá ao marido o direito de rejeitar a “mulher de conduta desordenada e descumpridora das obrigações do lar”, podendo reduzi-la à escravi-dão, até mesmo para pagar dívida dele, na ca-sa do credor. (Babilônia, séc. XVII a.C.).

Nove séculos mais tarde, leis imperativas do filósofo Zaratustra, da Pérsia, mandam “adorar o homem como um deus”, ajoelhando-se a mu-lher toda a manhã aos pés do marido para per-guntar: “Senhor, que desejais que eu fa-ça?” (séc. VI a.C.).

Tentáculos dessa legislação alcançaram a Ín-dia e somaram-se às “Leis de Manu” que so-brevivem até os dias atuais, quando regulam castas oficialmente extintas e impõem à mulher reverenciar o marido como a um deus, em hi-pótese alguma podendo governar a si própria.

Aristóteles, o grande pensador da culta Atenas, em sua escola peripatética pregou uma filosofia de total reprimenda à mulher, que não passa de “um homem inferior”, só criada quando “a natureza não pode fazer homens.” (séc. IV a.C.).

O Alcorão, codificado por Maomé, mantém a dominação sobre a mulher. A autoridade, con-cedida ao homem por Alá, dá-lhe direito ao do-bro do que se dá à mulher, ente irracional que constitui a “maior calamidade” do homem. (séc. VI d.C.).

O cristianismo trouxe alguma valorização da mulher. Todavia, o apóstolo Paulo proibiu-lhe de falar dentro da igreja. Se não entendesse alguma coisa e quisesse se instruir, deveria pe-dir esclarecimentos ao marido, em casa. (ano 67 d.C.).

O monge Martinho Lutero fundou o protestan-tismo como forma de combater excessos do cristianismo, que abjurou. Para a mulher, reco-menda uma vida austera, sem luxúria nem vai-dade, sendo pecado maior a pretensão de ela querer ser sábia. Nasceu assim um poço imen-surável no caminho da realização intelectual feminina. (séc. XVI).

Os séculos finais da Idade Média registram ver-dadeiro genocídio, principalmente de mulheres conhecedoras do segredo das ervas medici-nais. Atribuindo-se-lhes artimanhas do diabo, acusadas de bruxaria, centenas de anônimas antecessoras de Joana D´Arc foram assim con-denadas à fogueira.

Nem o Renascimento, período das “grandes conquistas”, trouxe algum avanço em direção aos direitos da mulher. O todo-poderoso Henri-que VIII da Inglaterra repudiou cinco esposas, escapando Catarina Parr, porque o rei morreu antes dela, consumido por sequelas de orgias sexuais. (séc. XVII).

As grandes navegações conduziram ao desco-brimento do Brasil. Portugal lhe estruturou a economia a serviço da Metrópole e a religião a serviço de Deus; a sociedade configurou-se com acréscimo de duas culturas estranhas à Metrópole: a indígena e a africana, diferencia-das pela ausência da noção de pecado e sem o cultivo do mito da virgindade a que era subme-tida a mulher branca, a única “livre” na imensa Colônia.

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Pregadores moralistas dimensionaram o relaci-onamento entre os casais e o espaço social destinado à mulher. Pe. Antonio Vieira, ímpar literato do barroco, quando na contramão da política portuguesa teve de trocar o real con-fessionário lisboeta pela catequese no exílio do Brasil, viu a mulher como uma criatura vulnerá-vel, movida pela paixão e pelos sentimentos que a predispunham a ceder às tentações do Demo. Para que tal não acontecesse, para pre-servar o nome honrado do marido mantenedor, recomenda a proteção do lar, longe de olhos concupiscentes e ocupada em constante ativi-dade física e mental, como dedilhar as contas do rosário e envolver os lábios na repetição exaustiva da reza. Esse empenho, desejado para preservação da virgindade, requer cultivo perene, porque

Os pecados contra a castidade são igualmente graves perante Deus, para homens e mulhe-res, mas nas mulheres, ainda que veniais, ti-ram a honra e nos homens não, ainda que mortais (Cartas de Vieira, v. 9, p. 12-200).

Está aí o cerne de engenhosa maquinação ju-dicial que até meado do século XX absolveu muito uxoricida sob pretexto da “legítima defe-sa da honra”, sedimentado que estava o autori-tarismo masculino, hegemônico no Brasil Colô-nia e Império.

Ausentes a imprensa e a cultura, consolidada estava a condição de total dependência femini-na. Vir a público, editar livro, nem pensar. A primeira brasileira a fazê-lo foi a paulista Tere-sa Orta, que em criança acompanhou para Lis-boa os pais enriquecidos no Brasil. Estudou e, na contramão da determinação paterna, casou com o professor, acabando deserdada. Viúva, 12 filhos e uma batalha judicial com o único irmão, em 1752 ousou editar um romance de nome quilométrico e fundo contestador/reivindicador, audácia que gerou retaliações para além de sua vida terrena, fazendo com

que a 3ª edição, em 1570, tivesse autoria atri-buída a Alexandre de Gusmão, intelectual bra-sileiro falecido em Lisboa, 37 anos antes. Deve-se à Professora Conceição Flores o oportuno resgate dessa obra pioneira de nossas letras, em sua tese de Doutorado: As aventuras de Teresa Margarida da Silva e Orta em terras do Brasil e Portugal.

Em 1820 o viajante Saint-Hilaire foi surpreendi-do na cidade portuária de Rio Grande, RS, pe-la presença da sobrinha do vigário, Maria Cle-mência da Silveira Sampaio, moça de 20 pri-maveras que dominava o francês, e que dois anos mais tarde teve poema seu publicado no Rio de Janeiro, recebendo inclusão entre os “Poetas da Independência”. À aridez literária, sobrepõe-se notável visão econômica de futura sesmeira, que relaciona nossas riquezas natu-rais e pede ao Imperador pontes e barcas que as façam circular, para progresso da Província.

As duas guerras mundiais do século XX mos-traram que hecatombes geram, na contramão, situações para a mulher se lançar a pioneiris-mos ausentes em tempos de paz.

Tal fato já ocorrera na guerra civil dos Farra-pos, cenário, por dez anos (1835-45), de abrangente destruição e muita fome, o que in-duziu um punhado de mulheres a, literalmente, “pegar na pena” para denunciar essas atroci-dades. A poeta cega Delfina Benigna da Cu-nha, em glosa critica o líder Bento Gonçalves: Maldições te sejam dadas / Bento infeliz, des-vairado, / No Brasil e em toda a parte / Seja teu nome odiado. A jornalista Maria Josefa Barreto Pereira Pinto atirou “farpas aos farroupilhas” em seu jornal Belona irada contra os sectários de Momo. Já Nísia Floresta, nordestina residin-do em Porto Alegre, documentou a fartura das chácaras circundantes, onde imperava “paz, abundância e a doce influência de um clima sadio” – riqueza que virou ruína e desolação descrita pela amiga Ana de Barandas ao la-mentar o ocaso de seu sítio natal Belmonte, próspera propriedade rural na periferia de Por-to Alegre.

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São denúncias de escritoras com coragem para documentar em livros que viraram pioneiros de nossa literatura. E aqui cabe um detalhe: essas quatro escritoras publicaram sem a então obri-gatória autorização do marido. Isto porque ne-nhuma delas o possuía: Delfina era solteira, o marido da jornalista sumira; Nísia Floresta en-viuvara e Ana de Barandas estava divorciada oficiosamente, passando a “cabeça de casal”.

Nísia foi a única que teve aprovação do marido na 1ª edição de sua tradução reinterpretada da feminista inglesa Mary Wollstonecraft – Direitos das mulheres e injustiças dos homens – obra de capital importância para entender a escala-da do feminismo, incômoda aos olhos do con-servador autoritarismo masculino da Porto Ale-gre, naquele advento farroupilha. Nísia contes-ta a perene condição de dependência feminina, refuta a “tese” da superioridade masculina a partir de seu crânio maior, e reivindica dois di-reitos basilares da mulher: acesso ao estudo e direito ao trabalho remunerado. Estudo, a famí-lia de Nísia lhe proporcionou, e a precoce viu-vez a fez “cabeça de casal” e mantenedora dos filhos, tarefa que exerceu com sua intelectuali-dade, ao abrir escola de primeiras letras.

A Escola Normal surgiu no Rio Grande do Sul em 1869. Nela Luciana de Abreu, enjeitada na Roda dos Expostos, aprimorou seus talentos e se fez professora habilidosa na condução de sua aula repleta de alunos. Uma delas, Andra-dina de Oliveira, deixou testemunho da meto-dologia usada: competição via estímulo e atri-buição de novas tarefas aos mais capazes! E da tribuna da Sociedade Partenon Literário, que reuniu uma centena de intelectuais brasilei-ros, Luciana de Abreu, cinco décadas após Ní-sia Floresta, dá testemunho acerca da questio-nada (in)capacidade feminina. Afirma: “Meninos e meninas aprendem por igual; inteligência e aprendizado são uma questão de oportunidade, não de sexo.”

O francesismo cultural ponteou ao longo do Im-pério, acolhendo a língua francesa no cotidiano da corte. O Positivismo comtiano imperou nos

inícios da República, motivando o templo positi-vista do Rio de Janeiro e o do Rio Grande do Sul, Estado que Júlio de Castilhos pretendeu industrializar. Tarefa para homem. A mulher, guindada à “rainha do lar”, devia zelar pelo ma-rido, educar os filhos para o espaço externo e as meninas para as prendas domésticas. Mas o índice de 74% de analfabetismo, incompatível com a meta de industrialização, conclamou a mulher para o magistério, de remuneração aquém das necessidades do mantenedor. Grandes educadoras surgiram: Ana Aurora do Amaral Lisboa, Stela e Aracy Gusmão (mãe e filha), Honorina Figueiroa, Marinha Noronha, Antonieta Lisboa, Natércia Cunha Velloso, to-das sul-rio-grandenses. Quantos nomes ilustres a apor, em termos de território nacional?

Cabe aqui rever o papel da Princesa Isabel, apresentada como beata desligada da realida-de. Quando casou, libertou escravos seus; mais tarde, aderiu à camélia branca, símbolo abolicionista, acobertando escravos na Quinta da Boa Vista e no palácio Imperial de Petrópo-lis; em 1888, assinou a Lei Áurea que lhe valeu condecoração papal da Rosa de Ouro. Pouco conhecido é o documento de 11.8.1889, projeto que a herdeira do trono apresentaria por ocasi-ão da abertura do ano legislativo, a 20.11.1889: indenizar os ex-escravos com terras financia-das pelo Banco Mauá e, o que interessa neste trabalho, instituir o sufrágio feminino como for-ma de “libertar as mulheres dos grilhões do ca-tiveiro doméstico”. Argumentava: “Se a mulher pode reinar, também pode votar!” Mas, cinco dias antes da fala no Legislativo, os militares deram golpe, proclamando a República! (Rev. Nossa História, p. 68-74).

Exilada a Princesa, o voto feminino amargou décadas até que a advogada e ativista Bertha Lutz abraçasse a causa. Feminista contunden-te, em 1919 criou a Liga de Emancipação Inte-lectual da Mulher, embrião da Federação Brasi-leira pelo Progresso Feminino, de 1922, ambas cooptando feministas de vários Estados na luta pela conscientização da causa sufragista. Dez anos mais tarde, a 24.2.1932, Getúlio Vargas decretou o voto feminino, exercido por poucas

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poucas eleitoras em 1933 e postergado pela ditadura do Estado Novo. Eleição pra valer, só em 1946 – ressalvada a pioneira exceção do Rio Grande do Norte, onde o governador Juve-nal Lamartine decretou o voto feminino em 1927, ressaltando-se o nome de Alzira Teixeira Soriano, batalhadora pela causa e futura verea-dora eleita.

Ao separar Igreja de Estado, a República abriu caminhos a favor dos direitos da mulher. A ca-da dois ou três anos algum deputado apresen-tava no Congresso novo projeto divorcista co-mo solução para casamentos insustentáveis. Até então, só a Igreja podia conceder divórcio, o que fazia com muita parcimônia e sem desfa-zer o vínculo conjugal.

Em 1912, há um século por-tanto, houve a inserção de uma mulher, Andradina de Andrade e Oliveira, a brilhan-te ex-aluna de Luciana de Abreu – lembra o leitor? No-tável intelectual e jornalista porto-alegrense, no ensaio Divórcio?, seu 11º livro, ad-voga o divórcio “pleno”, aquele com direito a novo casamento. Nos 27 capítulos do livro, desnuda as mazelas da sociedade ain-da órfã de leis trabalhistas, saúde precária, ins-trução incipiente e ausência de preparo profis-sional, e a mulher prisioneira de uma intrincada rede de ignorância, crendices e preconceitos que a amordaçavam dentro de um conformis-mo de religiosa subserviência e resignação. Di-vórcio?, reeditado em 2007 pela Academia Lite-rária Feminina do Rio Grande do Sul, é leitura proveitosa para quem deseja submergir nos meandros sócio moralistas da primeira Repúbli-ca.

A audácia da autora comprometeu sua liberda-de. Cerceada por tríplice e radical oposição (Igreja, Positivismo e Maçonaria) reforçada por férreos preconceitos da sociedade conservado-

ra, só lhe restou o exílio. Em companhia da fi-lha, a poeta Lola de Oliveira, encetou uma tou-rnée cultural de cinco anos, peregrinando por Montevidéu, Buenos Aires, Paraguai e Mato Grosso, para então se fixar em S. Paulo, terra dos ancestrais Andradas. Aí faleceu sem o uso da razão, e sem ver sinuosas marchas e con-tramarchas como o concubinato, o desquite, a criticada alternativa de “casamento no Uruguai” e outras nuances legais, que retardaram o di-vórcio até 1978.

Estavam, pois, lançados os quatro pilares bási-cos do feminismo: direito ao estudo, ao traba-lho remunerado, ao voto e ao divórcio, cabe um olhar retroativo sobre o papel da mulher na so-

ciedade colonial: a branca, cerceada por severos preceitos religiosos; a indígena e afro, sem as amarras et-no-moralistas e integrantes, como escravas, da construção econômica do país. Imperaram por séculos, plantando valioso legado: no cotidia-no familiar, na culinária, na vesti-menta, em suaves canções de ninar, na medicina popular, em preceitos religiosos traduzidos em populares crenças e crendices, base da axiolo-gia brasileira...

A transmigração real, em 1808, des-locou para o Brasil o centro administrativo, de-correndo a abertura dos portos, medidas de sa-neamento e de urbanização, a criação de cen-tros de ciência como a Faculdade de Medicina, vetada à mulher...

A presença de imigrantes (1818 no Rio e 1824 no Sul) trouxe a economia mini fundiária, exito-sa porque movida por mão de obra livre. A imi-grante alemã, além das tarefas de casa, traba-lhou na lavoura, no artesanato, no comércio, na navegação. Alfabetização e aprendizado profis-sional, a comunidade assumiu, criando associ-ações religiosas, recreativas e profissionais. A imprensa passou a informar, também, em lín-gua alemã.

“Meninos e me-ninas aprendem por igual; inteli-gência e apren-dizado são uma questão de oportunidade, não de sexo.”

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Na década de 1870, imigrantes italianos labuta-ram nos cafezais paulistas e progrediram nos minifúndios do sul. Polacos foram centrados em minifúndios do Paraná. Inserida na pers-pectiva de crescimento econômico, a mulher trabalhava de sol a sol. Josefine Wiersch mais tarde documentou sobre o exaustivo trabalho na nova pátria, a garantir prosperidade.

Ao correr das décadas, as diferentes etnias fundem valores. De capital importância na bus-ca dos direitos femininos, foi a gradativa esca-lada no estudo e no preparo profissional. Esco-las de primeiras letras proliferaram pelas colô-nias de imigrantes. Escolas Normais, urbanas, prepararam mestres desde o Império, em esca-la insuficiente. A indústria em implantação abre espaço para operárias. As guerras mundiais, a par da destruição, induziram mulheres para inu-sitados afazeres, escancarando a necessidade de novos preparos profissionais.

Muitos nomes femininos se inseriram em cam-panhas e laboriosas buscas de aperfeiçoamen-to dos direitos da mulher. Delminda Silveira e seu ruidoso grupo de S. Catarina, faziam-se presentes em manifestações pro abolição; a feminista de Camaquã, no RS, Ana Cesar Ro-drigues, acompanhou os deslocamentos do marido militar. No Norte, trabalhou em Rádios; em Recife fundou e dirigiu a Legião da Mulher Brasileira, com cursos profissionais para meni-nas.

A partir da década de 1940 multiplicam-se Fa-culdades buscadas pelo sexo feminino: Serviço Social, Letras, Pedagogia, História, Psicolo-gia... Aos poucos a mulher se aventura em Fa-culdades de administração, técnicas e mesmo eletrônicas. No cotidiano, se desdobra: atende o lar, exerce a profissão e conjuga com ativida-de paralela. A ginecologista Noemy Valle Ro-cha aproveitou viagens profissionais para cole-ta de valioso folclore do peão dos Pampas, en-quanto, na atualidade, Sylvia Helena Tocantins levanta no Pará o folclore do caboclo amazôni-co. A pílula, na década de 1960, descortinou liberdade sexual e limitação da prole. Creches

e jardins de infância permitem à mãe cursar Fa-culdade e se inserir no mercado de trabalho, condicionante de sua realização pessoal. Mani-festações ostensivas como desfiles com dísti-cos direcionados e pouco sonoros panelaços de contestação, apelos de “sutiã fora” e a im-prensa reivindicativa, incitam para o feminismo engajado.

Na década de 70, os Mestrados aprofundaram conhecimentos e ampliaram preparo profissio-nal, desamordaçando seculares anseios de frustrada realização intelectual. Doutorados brotaram dentro e fora do país. 1975-1985, a “Década da Mulher”, monitorou reivindicação de “igual salário para igual tarefa”, decorrendo mudanças radicais em seculares privilégios do homem face às novas conquistas da mulher.

No início de 70, Hellê Vellozo traz do México a Associação de Jornalistas e Escritoras do Bra-sil – iniciativa paralela de valorização feminina, como vinha sendo, desde 1943, a Academia Literária Feminina RS, idealizada pela ativista Lydia Moschetti e seguida de outras Academi-as: em Natal (1958), Goiás, idealizada por Ro-sarita Fleury (1969), Jundiaí, S. Paulo (1971) e, na década de 80, em Belo Horizonte, Santos e Paraná.

Pós-Doutorados, hoje em profusão, alargam horizontes. Pesquisas nos diferentes ramos profissionais oportunizam descobertas e impul-sionam para novos empreendimentos.

A política legislativa é buscada, ainda, com cer-ta resistência, mas decorre em meio a laborio-sos méritos. Concursos públicos acessam para novos cargos, exercidos com competência e mérito, independente de idade, sexo e cor.

Desde as décadas finais do século XX, literatas e pesquisadoras de gênero aprofundam temáti-cas. Zahidé Muzart em 1996 criou a Editora Mulheres, reabilitando a memória de centenas de vozes femininas que o tempo apagou. Cons-tância Lima Duarte se doutorou sobre a obra de Nísia Floresta e reeditou a maioria dos livros dessa nordestina pioneira, precursora do femi-nismo.

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Raquel de Queiroz, Nélida Piñon, Ligia Fagun-des Telles e Ana Maria Machado deram o to-que feminino na Academia Brasileira de Letras; Maria Dinorah, Lya Luft, Patrícia Bins e Jane Tutikian, patronas da Feira do Livro há 57 anos evento internacional em Porto Alegre. Tantos nomes, a projetar as letras: Cecília Meireles, Lúcia Miguel Pereira, Olga Savary... Me per-doem todas as não citadas aqui. Na medida do possível, imortalizo-as em meu Dicionário de Mulheres.

Fontes consultadas

Arquivo da Cúria Metropolitana de Porto Alegre, Li-vros de Batismo, Casamento e Óbito

BARMAN, Roderick. Princesa Isabel. S. Paulo: Unesp, 2001

FLORES, Hilda Agnes Hübner. Dicionário de Mu-lheres. Florianópolis: Ed. Mulheres, 2011 (2ª ed.).

_____. Sociedade: preconceitos e conquistas. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1989

_____. Alemães na Guerra dos Farrapos. Porto Ale-gre, EdiPucrs, 2008

MUZART, Zahidé L. Escritoras brasileiras do séc. XIX. Florianópolis, v. I 1999, v. II 2004, v. III 2009

Revista Nossa História, ano 3, nº 31, maio/2006, p. 68-74

Hilda Hübner Flores, professora da PUCRS apo-sentada, é historiadora. Dentre seus 18 livros, publi-cou: Sociedade: preconceitos e conquistas (mulheres na Guerra dos Farrapos), Mulheres na Guerra do Paraguai/2010 (ensaio); Dicionário de Mulheres, 2ª ed. 2011 (3.000 verbetes de autoras brasileiras). Reeditou, com estudo biográfico: O Ra-malhete de Ana de Barandas, Divórcio? de Andradi-na de Oliveira e Autobiografia de Lydia Moschetti. Tema imigratório: Canção dos imigrantes, Alemães na Guerra dos Farrapos, Aspectos da Revolução de 1893 e História da imigração alemã no Rio Grande do Sul - todos ensaios. Traduziu: Memórias de um imigrante boêmio, Memórias de Brummer, O Doutor Maragato, S. Clara na Revolução Federalista.

Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiâ-nia e de S. Luiz Gonzaga, da AJEB/RS, por três ve-zes presidiu a Academia Literária Feminina RS e está na 5ª presidência do Círculo de Pesquisas Lite-rárias RS – todas instituições com publicação de antologia anual.

E-mail: [email protected]

Muitos nomes femini-nos se inseriram em campanhas e laborio-sas buscas de aperfei-çoamento dos direitos da mulher.

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Contra Mundum

Por Helena Barbagelata

A aurora insiste em romper a aldraba

negra do horizonte, enquanto a paisagem vem

de leve cantar inútil aos corpos; chuvas de oiro

pousadas a braços de ninguém, a luz que passa

rasteira e censurada na fleuma das horas; arrastam-se

os ódios enfarpelados de cansaço, em cortejo solene por

entre o dia, sobre-humanos na barbárie do intelecto;

desaprendem-se as emoções à sombra da terra, coroa-se

a tirania algébrica das imitações, e a palavra é uma arma

animal; há uma clausura em que se ouve chamar de amor à

lascívia, onde a vaidade em cada boca enroupou as virtudes

de agravos, e o sentir se fez proibido; há uma concupiscência

que vem estéril ladear-me a alma como um grifo, mas aqui o

sentimento nasce ainda branco e livre na ilesa parecença

das pombas; a alma aqui ainda cala silente o bulício sibilino e

vão de desejos, e no que resta de mim expira o mundo,

mendigado em ânsias indefessas de silêncio; bem-amada

solidão, há em ti um jardim onde se aprende a sapiência

poética das coisas, e em último espanto se inspira o perfume

íntimo e dolente das rosas; a alma ali ainda canta às estrelas,

e não há manhã que caminhe indiferente nos seus pés de prata.

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CICLOS

Por Isabel C S Vargas

Foi no ano de 1986 que um pequeno pi-nheiro foi comprado e plantado em um peque-no jardim em uma casa de praia.

A princípio não havia exigência nenhuma, pois era muito novinho. Não tinha que fazer na-da. Nem dar sombra nem abrigar pássaros, outros animais nem pessoas.

Como o funcionamento de todo ser em desenvolvimento, a princípio, parece ser o mes-mo, só tinha que crescer descobrir o mundo, deixar-se descobrir pelos outros, experimentar possibilidades, encantar com as descobertas que abrem inúmeras possibilidades a serem vivenciadas, mas que ao serem escolhidas, de imediato, excluem outras. Não deveria ser as-sim, pois o sol não exclui a lua nem as estrelas, o dia não exclui a noite e ambos aceitam a chu-va e os ventos, fugindo da rotina e aceitando as mudanças que com eles advêm. Generosa-mente dividem espaços, olhares, encantamen-tos daqueles que tem olhos de ver, coração à flor da pele e alma cigana que é capaz de estar em todo lugar, que não tem território próprio porque todo território é seu.

Foi possível crescer em várias direções; para o alto buscando o céu, para o lado espa-lhando galhos que são braços, que protegem e abraçam de maneira carinhosa e acolhedora, para baixo fincando fortes raízes que se firmam dando suporte a todo aquilo que está acima da terra e abaixo do céu (ou além dele), à vista dos olhos, ao alcance do olfato apurado capaz de distinguir cheiro de chuva molhada, de fruto maduro, de flor desabrochando, de ouvir o can-to do sabiá, do bem-te-vi e do beija-flor que pla-na no ar, leve como os pensamentos inocentes e puros das crianças.

Toda a existência cresceu dentro daquilo que era esperado, proporcionando segurança, proteção, aconchego, alegria, sombra sob a qual repousaram corpos cansados e mentes sonhadoras que ali, a seus pés arquitetaram idéias, sonhos que ganharam o mundo em ca-da tentativa desafiadora ou conquista obtida.

Os espinhos cutucaram (é para isto que

servem, para desinquietarem, despertarem) cumprindo seu papel, mas também foram anjos que abençoaram, braços e abraços repletos de ternura e de alegria com os balanços das crian-ças que sustentou fortemente em todos os ve-rões quando alegres brincavam ao redor, pen-duravam cadeiras ou simples cordas para se balançarem ou, ainda, quando com suas per-nas frágeis tentavam nos braços subirem para ver o mundo mais além.

Estes mesmos braços carregaram pacotes e luzes que alegraram e iluminaram muitos Natais.

Apesar de não ser mais criança, de ter assumido proporções de um gigante, a dúvi-da, o questionamento (que é a mola propulsora de quem não se conforma com as frases feitas, os cenários estanques, os sentimentos enqua-drados em moldes pré-determinados e com o futuro sendo resultado de uma imutável opera-ção matemática) começaram a assaltar, pois o fato de crescer demais começou a inquietar, a perturbar e a gerar desconforto.

É necessário ter o olhar bem mais além da linha do horizonte, querendo sempre transpor barreiras, desafiando o já dito e questi-onando o costume, a norma, o construído, o sentido (nas entrelinhas, no visível e no não di-to, em outros dizeres que permeiam o caminho e que podem se constituir em novos saberes) criando novos desafios e novos espaços de ex-perimentação. Este percurso pode mostrar o medo, instalar a dúvida do caminho a ser trilha-do, desejando retornar a territórios conhecidos, identificados que apresentam características de normalidade, de estabilidade, de segurança, numa total contradição entre a segurança do conhecido e as inúmeras perspectivas do inex-plorado.

A experimentação, o desafio do novo significa a janela que mostra novos horizontes e o caminho para experimentar novos modos de vida, que poderão até não se constituírem naquilo que é esperado, ou no vislumbrado, mas que servirão para isto mesmo, mostrar o que vale a pena.

Nesta etapa do percurso surgem as dúvidas, as incertezas, face à internalização dos conceitos que constituíram o sujeito e a vontade de arriscar-se para descobrir novos ensinamentos, novas finalidades, não ignoran-do durante a trajetória a presença constante de um superego controlador ou a culpa por

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abandonar velhos paradigmas que representam ensinamentos aprendidos como dogmas, mas que nos dias de hoje já não possuem o mesmo significado. Afinal crianças crescem, adultos envelhecem a vida muda, pessoas e os espaços são modificados. Todos morrem só que em momentos diferentes, cada um a seu tempo, quando seu ciclo termina

Em virtude disto nesta trajetória espaço-tempo- de ser e não ser, de subir e chegar às nuvens ao mesmo tempo em que aprofunda raízes, de crescer e se deixar podar, de viver e de morrer, de ser árvore frondosa ou rio que corre e não deita raízes, nos tornamos capazes de (mesmo com o coração partido, a seiva a sangrar) deixar-se cortar para em cada labareda da chama da vida ou do fogo ardente e gélido da morte que acompanha o homem por toda a eternidade , esquentar os corações, virar fumaça que sobe para voltar em gotas de chuva que regam as sementes que tornarão a brotar num ciclo interminável de vida, doação, morte e re-nascimento.

Enquanto isto, outro tipo de raiz, não aquela plantada no solo, mas a que planta-mos no coração daqueles que servimos permanece viva, nutrindo o espírito que se eleva por entre as nuvens, as quais agora vemos de outra dimensão.

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O e-mail na comunicação Por Joana Rolim Escutando, numa FM, uma música, ela e eu nos tornamos um. Era uma voz, distante, e eu, inteira. "Quando te perdi, eu me perdi..." Foram os versos que me ficaram. É revirar uma vida. Agora, escrevendo, ainda a tenho. Não sei o cantor nem qual a música. Mas ele ainda can-ta em minha emoção as palavras que fizeram a integração de um passado com aquele instante. Os e-mails também são ricos de emoção em comunicação. Recebi um de um amigo ('expert' em música especiais) uma que me fez reviver momentos meus. Linda e verdadeira a música. Acho que já estamos nesta. Vamos andar devagar porque ......já tivemos pressa . Vamos aproveitar a calma da vida.....que nós merecemos. Tocando em frente ANDO DEVAGAR PORQUE JÁ TIVE PRES-SA.... 'Conta-se que, num dia qualquer, Almir Sater estava em São Paulo para uma temporada e desceu do seu apartamento para tomar um ca-fezinho num mercado ali perto. Chegando ao destino, encontrou Renato Teixeira que o convi-dou para experimentar uma viola nova, que acabara de comprar. Enquanto tomavam café, Almir dedilhou a viola e soltou... "Ando deva-gar"...ao que Renato emendou ..."porque já tive pressa". Dizem que essa maravilha ficou pronta em 10 minutos. Um dia alguém perguntou ao Almir como essa música fora feita e ele respondeu: ─ Ela já estava pronta...Deus apenas esperou que eu e o Renato nos encontrássemos para mostrá-la pra gente.' Recebi, curti e enviei. Uma resposta muito sen-sível, mais um momento de comunicação na sua essência e de poesia na minha emoção me inundou de energia e alegria. 'Muito obrigado pela belíssima e significativa música...por acaso adoro e quase respiro esta música! Ela nos transporta para um momento de serenidade e saudável reflexão. Não se con-ta ou se mede a vida por horas, dias, me-ses...enfim, mede-se pela intensidade das oca-siões... A pressa atordoa a lucidez e abafa a

intensidade daquilo que prazerosamente pode-ríamos ter vivido!' 'Em suas mensagens ou palavras que poucas vezes trocamos, encontro um exemplo de em-polgação e vivacidade...Abraço! G.E 'Liberdade, lindo!!! Neste dia de meu aniversá-rio, o que eu mais aprecio e que mais valorizo! Vc adivinhou,?!?! Sei que queremos ser aprisio-nados pela sedução daquele que não escravi-za, demonstrando sua insegurança em nos ter. Mas, sim, aprisionadamente seduzidos pela ca-pacidade do outro emanar aromas de verdadei-ro amor, que combinam com toda a "decoração": atitudes, discursos, gestos, fala-res, pensares e silêncios...' (I.F.) Eu, você e liberdade: 'É tempo de novo mitos, novos arquétipos. Nós já somos feito da história de 3.000 anos, quanta carga pra carregarmos, não é? A liberdade en-tra aí...' (C.) Esta página foi comunicação na liberdade - mis-térios que somos para nós mesmos. É a vida na emoção. É coração que fala, coração que responde. Corpo que se manifesta. Comunicação é vida. Comunicação, íntegra, revelada no momento em que se dá. Somente. Mas revivida quando lembrada. Compartilho. Eu, você e liberdade:

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Jesus Cristo

Por José Cambinda Dala

Suportou o deserto

Venceu o diabo

Mostrando coerência no comportamento

Satanás desistiu Dele

Foi recebido como um verdadeiro rei

Apesar de ter negado o poder

Traído foi crucificado

Morreu como Grande Herói

Sepultado como um qualquer

Ressuscitou e subiu ao céu

Sentado junto com o Pai

Esperam receber quem de nós se comportar bem.

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Creio Por José Carlos de Paiva Bruno Creio num Homem projeto, muito além de objeto... Em vida, repleto: em morte, discreto... Bilhete secreto! Creio atômica avaliação múltipla, astúcia de muitos pontos... Lusos do começo, novos baianos em apreço... Sou tamanho e momento, alegria e lamento; movimento... Cepo sem acento, acepipe d’alquimia convento... Simples convenção; forma da fórmica, sofisticação... Creio em plantas e cores, diversidades amores! Creio em delicados licores, pétalas em flores... Amálgama em geração, fusório embriagada explosão... Creio firula efeito folhetim, tintim por tintim... Aventura pandora sim, assim leque de Berlim! Assanhadas palavras, saracoteando estradas, jornadas... Jornais de um tempo inteiro, sagas gorjetas do feiticeiro... Creio druida truques de vida, versus araques do fim... Assim arautos de um novo Jardim, coloridas maçãs de mim! Creio no improviso, mímica emergência do aviso... Clemência da amazona, fogo de lua, química nua... Creio num ir e voltar, quase criança engatinhar... Passada que mostra pegada, marca de caminhar! Sendo sempre começo, sou o fim que mereço... Creio na estação do preço: se subo ou se desço... Aroma de um lado belo, lençol apito que revelo... Com ela me atrelo, creio não no fim, trem de jasmim! Imanentes versos da imaginação, linhas da liberdade, Beijo você beldade, curvas loucuras de paixão e amizade... Existência do que simplesmente creio: começo, fim e meio... Devaneio...

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Olhando as estrelas

Por José Hilton Rosa

Saio lá fora

vejo as estrelas

a noite é calma

vem o frio da noite

a casinha fica distante

o caminho tem poeira

quando tem pressa

vai a galope

Lá dentro ainda há o amor

é simples e sem luxo

mas, amor há

o alimento está no fogão

No jardim ainda há flor

no inverno acende fogueira

a segunda-feira tem trabalho

com a enxada levo a marmita

O almoço é na sombra da árvore

água na cabaça

café é na garrafa

o cigarro é de palha.

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COSMOPOLITA

Por Juan Barreto

Aquela música me pegou pelos cabelos como os homens das cavernas faziam com suas mulheres e me arrastou por dias, por anos atrás. A vida dá muitos sinais. Tilintares marcam o compasso. Sou seu ao passo que acho sua pessoa. Acho que a gente pode tudo, pode ser tudo, só não pode ser podre, porque é isso que nos difere dos mortos, é isso que nos difere do lixo, da merda. Entende? O ser humano é 70 - 75% composto de água e nem assim ele consegue ser transparente. Eu faço parte desse inferno que reclamo. Vai fumar pedra, papel ou tesoura? Vai cheirar e vai chorar! Quer apostar? Apostar não. É ilegal! Dedos são os chifres das mãos! Só importa aquilo que de alguma forma dá forma e te entorta por dentro, mas antes de se apaixonar verifique se o mesmo encontra-se nesse andar. PARtir é ímpar. Sempre que eu penso em possibilidades aparece alguma coisa que parecia impossível. A verdade é que a vida é um eterno 'colar colou' Não ganha o mais forte, ganha quem chegar primeiro. Minhas impressões sobre as coisas deixo onde puder Minhas impressões digitais eu deixo em quem deixar principalmente nas pessoas 'nhac'. Tsc,tsc,tsc e outras onomatopeias. Patrocine um raciocínio. Tira sarro porque o outro usa boneca inflável, e você que namora à distância? Quem está mais longe da realidade desejada? Essas frustrações brandas... Por isso os bares. E mais... Por isso as bebidas. “-Garçom! -Pra beber, alguma coisa, Sr.? -Um 'sorry'sal efervescente."

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Reluzente

Por Sandra Nascimento

Cansado e triste o meu coração pausou Duas luzes diferentes despontaram então:

uma para a vida outra para a morte Agora nada mais revelava a solidão

Nem seus olhos refletiam as paisagens do mundo Só as palavras invadiam os meus sentidos

E o mundo girou a mim e em torno da outra luz constante e sonsa

Sem desculpa o dia não anoiteceu, percebi Apenas se manteve eterno

para os que não precisam piscar os olhos diante de luzes radiantes

Mas esse não era o meu caso Sem saída, sosseguei meu pensamento assustado

E recostado na sombra de tudo o que acreditou

ele dormiu e sonhou Sonhou reluzente

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FOLIA Por Regina Costa Joguei pro alto em sete tempos, pensamento, Tudo muda, tudo volta, sentimento A gente canta Vira o tempo, muda o mês Te encontrei mais uma vez Em sete tempos, pensamento, Estou de bem com o meu amor, Qu’est-ce qu’il dit bem-te-vi? Estou te amando à beira-mar Patati patatiti O sol já vai raiar Em sete tempos, pensamento Sopra um tema, portamento, Anuncia o realejo que amanhã tem mais calor Qu’est-ce qu’il dit bem-te-vi? A gente canta pra encontrar Vem pra cá chega bem mais A gente quer é mais que mais Cirandar nesta cantiga Volta e meia vamos dar Te encontrei mais uma vez Meu bem, te vi sonhar Nosso abraço é na medida Nosso amor é sem rotina Patati patatiti Nosso papo é noite e dia Na folia das palavras que se soltam afinadas Chove esfria brilha o sol Pelo ar... Sempre és meu par Qu’est-ce qu’il dit bem-te-vi? Sete tempos, pensamento Na folia das palavras Te encontrei de toda vez Patati patatiti Estamos superafinados Chove esfria brilha o sol Pelo ar... Sempre és meu par

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Minha Flor

Por Karine Alves Ribeiro

Flor, divina flor de canteiro. Tão simples, tão suave,

de beleza congênita e ricas hastes.

Na sua intermitência juvenil, envereda para o lado do sol, sem medo, nem mácula...

Amanhece sempre assim:

Luminosa.

De encantos bravios, é torrente e mimosa, é grande e delicada, admirável e tênue,

viçosa e clara... Flor que instiga meus viços,

meus mimos, meus clarins.

Ficaria tão linda num vaso de jade, sobre uma mesa em meu quarto...

Mas é absolutamente bela, somente no jardim!

Livre e togada, Vênus, adorada

por anjinhos de pedra num chafariz...

A última purga,

o último sol, a última nota de Mozart, a última gota no atol...

O beijo que ela não me deu,

me abriga, na primavera que nunca acaba,

no abraço que não deslaça, das suas pétalas a me despir.

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A fila

Por Lariel Frota

Diante do senhor justiceiro, a fila aguardava . Eram tempos de prestação de con-tas e todos ali acreditavam conhecer o nível de sua exigência.

Primeiro em silêncio absoluto ele sem-pre anotava os feitos positivos de cada um, depois iniciava a análise dos erros. Era o mo-mento em que a maioria se apavorava.

Cada um sabia da própria responsabili-dade, com olhos grudados ao chão pensavam silenciosamente na fala de defesa preparada que era acima de tudo, uma tentativa de esca-par do castigo que não conheciam, mas temi-am.

Concluíam em suas limitações: “Se o grande senhor era benévolo ao extremo nas suas ações, deveria ser proporcionalmente ri-goroso no castigo aplicado aos infratores”.

Naquele dia o clima estava mais tenso, a fila era formada pelas pessoas mais inteligen-tes do lugar. Tão astutos que haviam progra-mado uma resposta coletiva, caso sentissem que o castigo seria duro demais. A exceção era o rapaz no último lugar, um gorducho, usando óculos de hastes escuras de lentes muito grossas, meias verdes e pés com os sa-patos trocados, que lhe acentuavam o ar abo-balhado.

Não era dotado de recursos intelectuais, por isso ninguém entendia sua presença equivocada, aquela não era a fila dos limitados, mas se nada nele os ameaçava, deixaram-no ali, atado a sua precariedade intelectual.

Diante da pergunta incisiva, o primeiro da fila, como ficara combinado, diz em voz al-ta tentando dar as palavras, ares de credibilida-de:

-Desculpe senhor, definitivamente a cul-pa não foi minha.

-Então aponte o causador do seu erro.

Conforme fora acertado previamente, se vira para o sujeito atrás de si e lhe dá um tapa na cara, deixando a marca dos dedos estampa-da em vermelho dolorido.

Assim de um em um a mesma resposta

se repetia com um detalhe, o número de tapas ia aumentando. Como cada um cometera seu próprio erro, ao creditar ao próximo sua falha, as bofetadas aumentavam. A cada cobrança uma desculpa e uma, duas, três bofetadas no rosto do companheiro da fila. Achavam que quando chegasse a vez do rapaz abobalhado, teriam se livrado do castigo, pois o senhor jus-ticeiro jamais retornava ao início do julgamen-to.

(…)

-Então você confirma que é culpado pe-los erros de todos a sua frente?

-Não senhor.

-Como não, se não tem ninguém atrás de você a quem responsabilizar como fizeram os seus companheiros?

-Desculpe senhor!

Dizendo isso se esbofeteou fortemente, provocando o riso de todos.

-Não entendi, porque você se deu essa bofetada?

-Pelo erro que cometi. As outras bofeta-das estão ardendo, mas tenho certeza de que só sou culpado pelo meu erro.

(…)

Depois de anos de andanças o senhor justiceiro sorriu. Tirou o manto que usava e co-locou sobre os ombros daquele jovem de rosto inchado.

Saíram caminhando como velhos ami-gos. Atônitos nenhum dos espertos conseguia entender o que havia acontecido. Um jato de luz resgatou aqueles dois vultos lá adiante na estrada. Dizem que a partir daquele dia, ele vive em festa num reino distante, onde a felici-dade e a justiça reinam com plenitude.

Saíram caminhando como velhos ami-gos. Atônitos ninguém da fila de esper-tos entendeu o que havia acontecido. Um jato de luz resgatou os dois vultos lá adiante na estrada. Dizem que a partir daquele dia, o jo-vem de ar abobalhado, vive em festa num rei-no distante, onde a felicidade, a justiça e a paz, reinam em plenitude, enquanto por aqui, milhares de pessoas espertas continuam se esbofeteando sem entender nada!

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PARTICIPAÇÃO NO VARAL

• Em setembro tema Nossa Infância – receberemos textos até 10 de agosto (se atingirmos um número ideal de pá-ginas o texto pode ser reservado para uma próxima edição);

• E em novembro, aniversário do Varal! A revista Varal do Brasil completará 3 anos e conta com você para festejar! O tema será livre e você pode se inscre-ver até 10 de outubro (as inscrições po-dem ser encerradas antes, dependendo do número de participantes).

Você pode escrever na forma que desejar: verso ou prosa! Haicai? Trova? Poema? Crô-nica? Conto? Miniconto? Soneto? Que ou-tras mais você faz? Mostre pra gente!

Traga sua poesia, sua visão da vida, seus sonhos, para o VARAL!

Venha conosco!

Varal do Brasil: Literário, sem frescuras!

FAÇA SUA ESTA CAUSA!

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AOS ANIMAIS DO ABC

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CONVERSANDO COM

CLARA MACHADO

Vou iniciar esse texto falando um pouco das

carências do ser humano, pois se somos seres

sociais e dependemos do outro quando nasce-

mos para nossa sobrevivência.

O homem é um ser que depende totalmente de

outra pessoa quando ele nasce para a sua so-

brevivência, isso automaticamente já fica intro-

jetado no inconsciente.: a necessidade de ter

quem lhe dê tudo para que possa sobreviver no

mundo. Dentro dele ele sabe: preciso de ajuda

para me alimentar, preciso que me deem cari-

nho, atenção, afeto, etc.

Agora você imagine se, quando bebê automati-

camente já se tem esse registro, imagine o que

vai acontecendo quando vai se desenvolvendo,

criança, adolescente, adulto e idoso,

A criança vai para escola para socializar, fazer

amigos e aprende que precisa ser boazinha, e

falar sim para os coleguinhas para ter amigos,

senão ela fica só .

O adolescente, vive a época dos grupos e onde

sente a necessidade de falar sim para tudo o

que o líder do grupo determina para não ser

excluído, pois para o adolescente o mais impor-

tante é ter uma "galera" que ele se identifique e

que o aceite.

Depois esse ser humano se torna adulto, quer

se relacionar, namorar. O sector feminino é ain-

da mais fragilizado pela necessidade do sim,

pois a moça aprende que precisa dizer sempre

sim para tudo o que o namorado determina pa-

ra ele não terminar com ela. Mas o homem

também sente a pressão, pois acaba achando,

pelo que vê ao redor de si, que precisa ser o

provedor e o que direciona a relação e que ela

deve ser submetida a ele e a seus desejos. E

hoje , mesmo com a atitude mais moderna de

homens e mulheres, existindo um reverso des-

ta situação relacional, a pressão acaba sendo

para ambos muito grande e a obrigatoriedade

do sim como resposta acaba aparecendo. Por-

que ao falar a pequena palavra “não”, algo se

perderá nesta história.

Depois esse (a) jovem se casa, e novamente

sente quenão se pode dizer não, porque agora

esta casado (a), os acordos de obediência, de-

veres, fidelidades são muito fortes e muitas ve-

zes, mesmo quando se percebe que o casa-

mento foi um erro, que casou com a pessoa

errada, que a pessoa se transformou depois do

casamento, pensa não se pode dizer não, não

quero mais, foi um equivoco! As pessoas fi-

cam , se suportam, se maltratam, adoecem

mas não conseguem dizer não.

E depois vem os filhos ai a questão fica mais

complicada: como vou dizer não, agora tenho

filhos e tudo fica mais pesado com o peso da

responsabilidade.

Não posso isso, não posso aquilo, não posso,

não posso, não posso. e mais uma vez as pes-

soas dizem " Eu não sei dizer Não" e vão so-

frendo, e os filhos vão sofrendo e vão se

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multiplicando as tragédias no mundo, por falta de consciência e coragem de aprender a dizer

NÃO.

E veja só uma palavra tão pequena e tão simples e tão difícil de se dizer. NÃO. é muito mais

fácil para as pessoas darem uma desculpa ai elas dizem:" Mais eu não sei dizer Não ninguém

me ensinou eu nunca aprendi por isso eu sofro tanto hoje".

E vamos caminhando mais um pouco na nossa evolução e chegamos ao idoso,. Que dificulda-

de de falar não, pois eles dizem" se eu falar não eu vou ser abandonado em um abrigo para

idoso, vou ficar só, meus filhos vão me abandonar, por isso eu não posso dizer não."

E passa um pouco mais de tempo essa pessoa morre, e ai se percebe que ela veio ao mundo,

passou por aqui e foi embora carregada de tantos medos de estar só e com tantas carências

afetivas que a impediram de viver a vida de uma forma diferente se ela tivesse aprendido des-

de cedo a dizer Não.

E agora de uma forma solitária ela é enterrada, pois tem um ditado popular que diz assim,

"Nascemos sós e morremos sós", então porque o Ser Humano tem tanta dificuldade em dizer

não?

Penso que esta na hora de darmos um salto quântico em nossa evolução e aprender a dizer

não para tudo o que nos desagrada, nos humilha, nos maltrata. e dizer sim a tudo o que te dá o

poder de Paz, de Liberdade e de Amor por você, mesmo, pois quanto mais você se amar, mais

fortalecido você vai ficar, sua carência e sua solidão vão desaparecer, você perceberá que você

pode ser uma ótima companhia para você mesmo e ai sim, você ira se transformar em um Ho-

lofote de Luz e as pessoas vão querer estar naturalmente mais perto de você e você aprendeu

a dar o seu grande passo na vida que é: EU APRENDI A DIZER NÃO.

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Embaraço...

Por Maria Socorro de Sousa

Colapso calado em uma página branca Eu calo suprimindo a fala

As letras embaraçadas calam Esperança caótica cativa em laços

Silêncio… Marcas em fúrias cafonas Colírio cabível aos cegos

Em branco cântaro prefiro ficar Surdo mudo ao rabiscar

Conúbio crucial quase cadente Sórdido a uma sociedade vil

Sem chance… Imutáveis robôs Cal calma ilusão sem calor Suspira cândido cansaço

Papel branco… Que embaraço!

Hachuras no coracão

Por Varenka de Fátima Araújo

Numa folha branca, linhas

entrecruzadas sobrepostas

bem devagar em riscos

traços da mesma cor

Falo apressada, rouca

tão pouco agrada

não te fiz cativeiro

cem mil vezes te amei

Numa folha branca

Hachuras em meu coração

De sangria sem vibração

Silencio, dor sem fim.

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H I D R O M A S S A G E M

Por Nina de Lima

Tépido vapor envolve o Box, displicente dispo as roupas

suadas e empoeiradas e as atiro no cesto.

Com elas também me dispo do cansaço e dos problemas.

É tão suave o aroma que se eleva da água

aromada pelos óleos e pelos sais perfumados

que não resisto ao convite e mergulho com prazer.

A espuma forma bolhas diáfanas e coloridas

que eu sopro levemente.

E sorrio qual criança, a criança que já fui, que ainda em mim reside e às vezes, por vergonha, impeço de aflorar.

Lentamente minhas mãos mornas e ensaboadas

vão percorrendo meu corpo

e os fortes jatos de água me transmitem energia.

Sinto-me então renovada, sem medos e sem incertezas.

Somente a cabeça emerge da espuma relaxante.

Leve, eu semiadormeço e os pensamentos libertos,

não encontrando barreiras, voejam qual borboletas,

livres e sem limites.

Perdida a noção de tempo e a temperatura da água,

um leve tremor no corpo indica o fim do relax.

Aqui estou eu, sozinha. Eu e somente eu.

Bendigo estes instantes de solidão benfazeja,

de reencontro comigo.

morno encontro da água com as marcas de meu corpo,

sinais do tempo passado e muitos anos vividos,

eu com ninguém divido.

Estes momentos são meus. Meus, e de mais ninguém.

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do meu tédio

Por Rafiki Zen

a vida é negra e as nuvens carregadas de trovoada não me deixam provas do contrário. não falei da coruja-marrom construindo um ninho em cima da casa, só pra desmanchar todo o rancor do meu poema.

AÇAÍ TRANSCENDENTAL Por Sandra Berg

Açaí é uma cor que absorve A consistência de uma paixão Dá o tônus à fé de uma gente Que labuta contente e não chora em vão Uma gente que faz de sua lida Solidez, conciliação, Bebendo de tua cor o fervor cujo sabor Dá a vida roxa entonação É uma luz que norteia e seduz De o nosso cantar, inspiração, Eterna estação, açaí, tradição, Ressurgirá ao povir, criação. Somos um povo passageiro de uma dor Gemendo essa poesia Que transforma em dia a esperança Que nunca nos abandonou Não se perde em dar do que se tem Em abundância Porque é amor Natureza que dá a cultura substância

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Por Sheila Ferreira Kuno

Maria Rita – Analista de Mainframe Maria Rita é uma mulher com mais de 40 anos, pequena, loira, sorridente e introvertida. Não era feia, mas desprovida de vaidade, sua bele-za ficava escondida atrás dos óculos grandes, de armação grossa e escura. Seu cabelo sem-pre preso em um rabo mal feito completava seu visual. Maria Rita trabalhava com computadores de grande porte, os famosos mainframes, atual-mente em desuso, mas mantidos por grandes empresas, principalmente Bancos. Ela foi contratada por uma empresa de consul-toria para atender um grande e conceituado Banco, onde passaria a maior parte do tempo. Em sua primeira semana de trabalho, foi-lhe apresentado detalhes do sistema com o qual ela iria trabalhar. Durante este tempo, ela sem-pre foi atenciosa e simpática. Maria Rita passou vários meses trabalhando no Banco, tendo pouco contato com a empresa que a contratara. Ela gostou tanto do ambiente de trabalho e de suas tarefas, que já se consi-derava funcionária do Banco. Foi ai que come-çaram os problemas. Certo dia, o responsável pelos trabalhos do Banco ligou para o Julio, que era o gerente na empresa de consultoria, dizendo que não preci-sava mais dos serviços de Maria Rita. Diante desta decisão, Julio ligou para ela. - Boa tarde Maria Rita. - Boa tarde. –Ela respondeu. - Preciso que amanhã cedo você venha até a empresa para conversarmos. - Desculpe-me, mas não posso, tenho muito trabalho para fazer. Calmamente Julio lhe explicou. - Eu sei Maria Rita, mas já conversei com o chefe do departamento ao qual você está pres-tando consultoria e ele te liberou, pois o que eu tenho para lhe falar é importante e urgente. - Não vou, tenho que terminar um trabalho. – respondeu Maria Rita indignada. Neste momento, Julio percebeu que teria pro-

blemas. - Maria Rita, em primeiro lugar você é funcioná-ria desta empresa e não do Banco, portanto se estou lhe pedindo que venha até aqui, você precisa vir. - Já disse que não vou. E desligou o telefone. Como já se aproximava o fim do expediente, Julio optou por resolver este assunto no dia se-guinte. Logo pela manhã, Julio recebeu uma ligação de uma pessoa do Banco, relatando que Maria Rita estava nas dependências do Banco e que eles não precisavam mais dos serviços dela, conforme já haviam posicionado à empresa, e que ela deveria se retirar. Novamente Julio iniciou uma conversa com Ma-ria Rita, que continuou irredutível e o acusou de estar atrapalhando o seu trabalho. Sem alternativas, Julio foi até o Banco, conver-sar pessoalmente com Maria Rita e explicar-lhe a situação. Depois de muita conversa, Maria Rita entendeu que deveria se retirar, mas primeiro se despe-diu do departamento inteiro, sentou-se e lenta-mente arrumou suas coisas, comeu seu lanche pensativamente, enquanto Julio a esperava. Quando ela levantou-se e decidiu ir embora, Julio acreditou que o assunto estava resolvido. Caminharam em direção à saída do Banco. O prédio era rodeado por um lindo e grande jar-dim, cheio de árvores, lagos, trilhas para cami-nhada, um lugar realmente lindo. Maria Rita não se dirigiu à portaria, pelo contrá-rio, começou a caminhar pelos jardins em silên-cio, enquanto Julio a chamava em vão. Mais uma vez, sem opção, ele resolveu acompanhá-la durante a caminhada que durou quase uma hora e só depois, Julio conseguiu encaminhá-la à empresa a qual ela era funcionária. Ninguém nunca entendeu o motivo de tal com-portamento e Maria Rita também nunca comen-tou sobre o ocorrido e assim a vida seguiu seu curso.

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MUSEU PARANOICO

(mar, alma, lugar, reinar)

Por Roberto Armorizzi

Por aqui não se vê mais o mar,

de querer, de molhar, aos meus pés,

veio a mim um museu secular,

como tumba do velho Ramsés,

nesta hora eu não sinto areia,

que outrora coçava meus dedos,

num instante minh’alma falseia,

como pólvora de mudos torpedos,

que lugar infernal, silencio,

onde quadros e almas se velam,

não sou mais, e sem mar, sentencio,

entre pós e as sanções que escalpelam,

quero ao mundo salino, voltar,

como areia, espalhar meu destino,

ser o dia brilhante, reinar,

com razão, sem castelo, nem sino.

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INFORMAÇÕES SOBRE OS LIVROS DE JACQUELINE AISENMAN:

[email protected]

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RUTE MIRANDA

Sou uma eterna apaixonada por Artes, e venho dedicando-me ao

assunto desde 1993 quando iniciei minhas primeiras pinturas.

Em 2008, decidi aperfeiçoar no assunto, concluindo o curso em Ar-

tes Plásticas pela Escola Pan-americana de Artes em São Paulo.

COMO UM ALQUIMISTA, PERSEGUINDO O EQUILÍBRIO, TENTA TRANSFORMAR ELEMENTOS INCRUSTADOS, PERDIDOS, SOTERRADOS, EM ALG O PRECIOSO. TENTATIVAS DEVERAS ME PERMITEM ATRAVESSAR A BARREIR A DO INATINGÍ-VEL. DESPERTA O OCIOSO, DESAGREGA COMPOSIÇÕES, CAPT A E ISOLA ENERGI-AS, PROVOCA EXPLOSÕES. A ARTE SE REVELA... .

GUARDIÃ: DIMENSAO: 45x36cm - TÉCNICA: ACRÍLICO SOBRE TELA

JUVENTUDE: DIMENSÃO: 34X23 cm - TÉCNICA: ÓLEO SOBRE PAPEL

SALA DE ARTE: DIMENSÃO: 34X23 cm - TÉCNICA: ÓLEO SOBRE PAPEL

MOVIMENTOS I—

DIMENSÃO: 23X30 cm - TÉCNICA: TEXTURA A LAPIS SOBRE PAPEL E COLAGEM

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F4

Por Willian Lando Czeikoski

Cada lágrima da mãe terra é tempestade

Cheia de descaso e ódio do humano umbroso,

Que em sua viagem ao sonho material doloroso

Acaba com o sonho do amor de sua posteridade.

Cada suspiro que evidencia sua fragilidade

É um furacão hediondo de meu ato dispendioso

Ou de nossa fome pelo capitalismo pomposo

Que me tira o puro ar da antiga civilidade.

Somos parasitas dividindo a mesma morte,

Fazendo do verde, cinza incandescente,

Expondo a biodiversidade a própria triste sorte.

Somos uma massa manipulada e descontente,

Pois vejo que o ser humano é tão forte,

Que consegue frente à natureza fazer-se demente.

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É tudo que tenho

Por Rozelene Furtado de Lima

Vivo ao pé da montanha.

Desperto com o cantar do galo

e a passarinhada saudando, bom dia!

O café perfumado me abraça gostoso.

Ao som do riacho medito com os peixes.

O barro me molda, eu moldo o barro.

Então, agradeço mais uma manhã.

Cato flores para enfeitar a casa,

cheiro de refogado põe a mesa.

A vida me perfuma e eu aspiro vida.

Doce paladar das frutas recém colhidas.

Sesta na rede embala o livre descansar.

A tarde na companhia de livros.

A forma me busca e eu busco a forma.

Aventura, romance e muita poesia.

No crepúsculo ir devagarzinho

espiar o sol deitando na serra,

ouvir o bater de asas de anjos,

grilos e sapos em serenata.

Os sinos soam e eu caminho,

passeio na via láctea

de mãos dadas com estrelas.

Dentro da imagem da lua

minha alma presa à tua.

O vinho aquece o sangue e a vida.

Do sorriso às risadas aliadas,

O prazer esquenta a cama para o amor

Fim noite, madrugada de chuva

Orvalhada amanhece a luz.

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O ÚLTIMO BEIJO

Por Antonio Fidelis

Contenção de alegrias, tristezas nítidas, Dores da perda, holocausto d’alma, clausura de sentimentos, Um último e único beijo Um adeus súbito. Medo, pavor, tristezas e a dor... Como será difícil nunca mais te ver Dormir e acordar e saber que, nunca mais vou ter você Posso procurar em todos os lugares do universo E não te acharei Ter que conjugar-te só no passado Que meu presente passou. E só me restou lembranças. E muita saudade Às vezes, falei pouco eu te amo, Dei pouco carinho, a mínima atenção, Dei-te pouquíssimo de mim Só eu não percebi. Quanto eu perdi. Suspiros entalados ao ver-te assim Na horizontal. O calor do seu corpo cessou. Gélido esta seu rosto como esta o aperto do meu coração. Tocar-te e sentir sua pele dura Suas mãos sobrepostas unidas ao um terço. Nem mais um sopro de ar ficou, Acabou! O fim de uma historia. Um ponto final. E o seu existir apenas em minhas memórias. O beijo mais dolorido da minha existência É semelhante a um peito dilacerado. O beijo do adeus.

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Particularidade, Universalidade e Singularidade: definindo conceitos

fundamentais para a Metodologia da Pesquisa em Ciências Sociais

André Valério Sales

1. Introdução:

Este ensaio foi escrito no âmbito de meus estudos acerca da Cultura Urbana na sociedade capi-talista contemporânea, área das ciências sociais à qual venho dedicando-me há alguns anos. Com ele busco contribuir para o debate atual acerca de uni-versalismo e particularismos, intentando esclarecer as definições do que vem a ser: particularidade, uni-versalidade e singularidade, no sentido de ajudar na reflexão sobre as respostas possíveis que são coloca-das pelas interrogações presentes no debate dobre tais definições e seus usos na análise de fatos con-temporâneos, a base do texto é o tema da metodolo-gia de pesquisa em Ciências Sociais.

É de interesse tanto da Sociologia quanto da História, na atualidade, a questão dos conflitos e contradições entre atitudes e movimentos sociais de caráter particularistas ou universalistas. Principal-mente no plano político-social do Brasil de hoje (2012), quando um representante da “classe” traba-lhadora, e do Partido dos Trabalhadores, ascendeu recentemente ao poder, enquanto Presidente do país, Luís Inácio Lula da Silva, conseguindo também re-passar o maior cargo do Brasil para outra petista, a atual Presidenta, Dilma Rousseff. Neste contexto, retomam-se com mais intensidade os debates sobre particularismos e universalismos; como já observou

o célebre historiador francês Jacques Le Goff, a uni-versalidade é um valor “cuja ressonância política é clara” (1990: 193). E nós, os críticos sociais do pre-sente, não devemos nos ausentar destas polêmicas e nem mesmo inserirmo-nos nelas sem um claro en-tendimento destes conceitos e de suas interligações com a realidade social.

Tomando então o exemplo dos dois Presi-dentes da República citados, utilizo aqui seus papéis sociais, delegados pela maioria da população que os elegeu, como pretexto para iniciar a discussão, e ini-cio perguntando: até onde poderiam ir os desejos e interesses pessoais (singulares), de Luís Inácio, quando ocupou tal cargo, assim como até onde po-dem ir as vontades singulares da pessoa de Dilma Rousseff quando ocupa agora a Presidência da Re-pública?

Até que ponto se diferenciam e entram em conflito os interesses particulares de “uma classe” social (no caso, a classe trabalhadora, representada pelo Partido dos Trabalhadores) com os de outros segmentos sociais, como as classes médias e altas (as elites)? E em quais momentos é preciso que uma classe social, que esteja no poder, abandone seus interesses particularistas de classe, em favor das ne-cessidades universais do conjunto da sociedade bra-sileira?

Minha intenção aqui não é a de responder a estas perguntas, mas, ajudar ao leitor a refletir sobre as respostas possíveis a elas; e o modo melhor que

vislumbro, de contribuir para essas reflexões tão fundamentais hoje, é buscando tornar mais inteligí-veis os principais conceitos aí envolvidos, ou seja, definindo: particularidade, singularidade e universa-lidade.

Ao se consultar os dicionários mais co-muns, os mais socializados no país, nota-se que são bastante sintéticos: por exemplo, o célebre Aurélio (de bolso) conceitua o universal como se referindo ao universo, ao que é mundial, àquilo que é comum a todos os homens; ou ainda, “a um grupo dado”; o

singular, por sua vez, é o que pertence a um, ao nú-mero que indica uma só coisa ou pessoa; singulari-

zar é “tornar singular, particular ou específico”; e o

conceito de particular , é o relativo a apenas certos seres vivos ou a certa(s) pessoa(s) ou coisa(s), é o relativo a “uma pessoa qualquer” (ver Mini-Aurélio, Ferreira, 2001). Já o Dicionário Houaiss, considerado por mui-tos como “o melhor” do Brasil, conceitua o univer-sal enquanto algo que é “comum, relativo ou perten-cente ao universo inteiro”, algo “comum a todos os componentes de determinada classe ou gru-po” (2009: 1907); o singular refere-se àquilo que “se aplica a um único sujeito”, e também coloca “particularizar” como sinônimo de singularizar (id.: 1750); e particular é “próprio ou de uso exclusivo de alguém; privativo, privado”, sendo sinônimo, in-

clusive, de “um indivíduo qualquer” (id.: 1439).

_________________________________________

1. Tem graduação (UECE, 1991) e mestrado (UFPB, 1996) em Serviço Social. Cursa, desde 2000, enquanto aluno especial, disciplinas do doutoramento em Socio-logia (PPGS/UFPB).

2. Ver, por exemplo: Gabriel Cohn, “Introdução”, In: COHN, G. (Org.), Weber – Sociologia (2002); e Leo-

poldo Waizbort, As aventuras de Georg Simmel (2000).

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A princípio, o leitor pode confundir-se in-teiramente e até mesmo desistir de entender os esses três conceitos, pois segundo um dos Dicionários mais usados no Brasil (Aurélio), assim como de acordo com aquele geralmente considerado “o me-lhor” do país (Houaiss): o particular diz respeito a certas pessoas (grupos, portanto), certas coisas, no plural, mas também poderia ser relacionado a uma pessoa qualquer (no singular), um indivíduo. Já o singular, é o que pertence a um só, a um único sujei-to, mas, ao mesmo tempo, singularizar é definido como o mesmo que “tornar particular”, particulari-zar. Já o universal seria o que é comum “a todos os homens”, e ao mesmo tempo, pode ser tido como o que é comum a todos que pertencem a uma classe ou “um grupo”.

Na verdade, se sairmos dos Dicionários comuns e adentrarmos às disquisições filosóficas ou sociológicas mais aprofundadas, encontraremos jus-tamente essa mesma mistura, essas mesmas contra-dições, porém, entenderemos também que há, por fim, uma relação de complementaridade entre o sin-gular e o particular, entre particular e universal, as-sim como podem ser complementares entre si a sin-gularidade e a universalidade, como veremos a se-guir.

2. As três definições segundo as Ciências Sociais:

No âmbito das Ciências Sociais contemporâneas, o pensador múltiplo Georg Lukács, de origem húnga-ra, escreveu em 1957 um livro dedicado inteiramen-te à elucidação da categoria da particularidade : In-trodução a uma estética marxista: Sobre a categoria da particularidade, e é a partir deste autor que busco um esclarecimento melhor acerca da definição dos três conceitos em questão. Lukács (1885-1971) foi amigo dos sociólogos Georg Simmel, Max Weber, Karl Mannheim, Tönnies, dentre outros (Frederico, 1998: 9); também participou dos cursos de Georg

Simmel na Universidade de Berlim, na Alemanha, entre 1909-1910, chegando a ser “o aluno favorito de Simmel e assíduo frequentador da sua ca-sa” (Netto, 1981: 11, grifo meu). Todos estes inte-lectuais, na maioria sociólogos e filósofos a um só e mesmo tempo, participavam de grupos de estudo (Schiur – seminário particular), aos domingos, vari-ando suas presenças nas casas de uns e de outros. Isto significa que o contato de Georg Lukács com a Sociologia, de modo algum, era superficial.

Em seu livro sobre a categoria da particula-ridade, o escritor húngaro expõe vários exemplos de situações que demonstram o que vem a ser o singu-lar, o particular e o universal. No capítulo central de seu trabalho, no qual ele define detalhadamente a

categoria da particularidade e, em consequência, seus complementos obrigatórios, o singular e o uni-versal, Lukács (1978: 76) inicia definindo que o sin-gular é o que é próprio ao indivíduo, ao especifica-mente pessoal; já o particular refere-se aos “interesses de classe”; e o universal, aos “interesses de toda a sociedade”.

Já de outra forma, o autor em questão exemplifica as relações entre as três categorias teóri-cas, ligando-as então ao conceito de Trabalho. Se-gundo ele: considerando-se o trabalho em si mesmo, pode-se designar a “divisão da produção social em seus grandes gêneros, agricultura, indústria, etc., co-mo divisão do trabalho em geral”; enquanto divisão

do trabalho em particular, a divisão destas classes de produção pode ser feita “em espécies e subespécies”;

e, finalmente, de maneira singular, pode-se pensar a “divisão do trabalho dentro de uma oficina como divisão do trabalho em detalhe” (id.: 96, grifado no original).

Continuando seus exemplos, para melhor explicitar os três conceitos em análise, e ainda refe-rindo-se às relações de trabalho sob o capitalismo, Lukács observa que entre o capitalista e o operário há uma terceira coisa (como pode ser o caso da Con-corrência), uma coisa particular, portanto, que faz o intermédio entre dois seres singulares. Ou ainda: es-ta não é, portanto, uma relação de simples indiví-duos, puramente pessoal, mas mediatizada por um terceiro, que é fruto das relações sociais (id.: 119).

Sendo assim, o que se apreende até aqui, a partir dos exemplos citados pelo autor, é que as rela-ções dialéticas (contraditórias, mas também comple-mentares) entre singularidade, particularidade e uni-versalidade, expressam-se na realidade da vida coti-diana de cada ser social, no dia a dia das nossas rela-ções sociais, o que lhes retira a possibilidade de se-rem considerados como definições apenas abstratas, pertencentes unicamente aos debates intelectuais de economistas, filósofos, sociólogos, etc.

Acrescenta ainda o pensador húngaro que apesar do idealismo hegeliano, há que se admitir que foi “Hegel quem primeiro colocou o problema do __________________________________________

3. Apesar de indelevelmente presentes neste texto, não me interessa discutir aqui nem a perspectiva de classe e nem o método lukacsianos, mas apenas demonstrar a sua contribuição para o debate acerca das três definições em análise. Este é um texto sobre Metodologia de Pes-quisa e Análise, e não sobre as concepções marxistas, ainda que cite Marx, Lukács, o conceito de “classe social”, etc. Mesmo assim, volto a citar Jacques Le Goff (1990: 192) quando, concordando com o sociólogo-filósofo francês Raymond Aron (1905-1983), afirma que “Marx deu, do dinamismo permanente, constitutivo da economia capitalista, uma interpretação que ainda hoje conti-nua válida”.

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particular de maneira correta e multilate-ral ” (Lukács, 1978: 73, grifado por mim), e para fu-gir àquele modo idealista de conceber tais defini-ções, é preciso ressaltar, de antemão, que as três “categorias lógicas” aqui em questão dizem respeito à “situações objetivas” na sociedade, e não no pensa-mento. Elas são fruto “da realidade que lhes corres-ponde” (id.: 75), são categorias históricas portanto, completamente opostas às categorias reflexivas idea-listas e puramente subjetivas. As definições de sin-gular, particular e universal somente se tornam histó-ricas porque o intelecto humano consegue “elevar a conceito o movimento concreto” do real (id.: 88). Somente desta forma, então, é que tais categorias podem servir de instrumento para se compreender “o desenvolvimento vital da realidade em seu movi-mento, em sua complexidade” (id.: 87): se elas fo-rem representações concretas do próprio mundo ob-jetivo (id.: 75).

Postos esses aspectos diferenciados que podem assumir as relações entre a tríade em discus-são, voltemos agora ao exemplo concreto da particu-laridade da classe trabalhadora no Brasil, como no caso citado inicialmente, ao se tratar das vontades pessoais e dos interesses de classe do ex-Presidente da República, da atual Presidenta e de seu partido político (o PT), relacionando-os com as necessidades universalistas de toda a sociedade brasileira: sobre este assunto, o ponto de vista lukacsiano é o de que “Somente em nome dos direitos universais da socie-dade pode uma classe particular reivindicar para si mesma o domínio universal” (Lukács, 1978: 77, gri-fos meus).

A partir dessa afirmação, lanço outra per-gunta para ser refletida: em se considerando a pers-pectiva de sociedade (socialista?) do Partido dos Trabalhadores, será que a “classe particular” que se encontra no poder – já há uma década – vem conse-guindo pôr de lado os seus interesses particularistas, e exercer um “domínio” verdadeiramente em nome dos “direitos universais” e dos interesses universalis-tas do conjunto da sociedade brasileira?

Há que se esclarecer que Lukács usa, neste ponto de seus escritos, exemplos ligados a política, ao trabalho e às classes sociais, no entanto, toda a discussão a seguir tem a ver com seu método de es-tudo e análise, cujos propósitos são universais e refe-rem-se, portanto, às categorias teóricas de singular-particular-universal como instrumentos lógicos de análise que podem ser utilizados por qualquer pes-quisador social, sejam eles ligados à Sociologia, Fi-losofia, História, etc.

Passo agora à discussão específica acerca de cada uma das três definições aqui explicitadas, que são, como já citado, categorias teóricas, porém

lógicas e concretas a um mesmo tempo, que somente por estarem presentes na realidade cotidiana das re-lações sociais é que podem ser elevadas ao raciocí-nio lógico humano, ao nosso pensamento e à nossa reflexão.

3. A Universalidade:

Entendeu-se, até aqui, que há uma mistura – dialética – entre as noções de singularidade, parti-cularidade e universalidade, que as relações entre elas são contraditórias ao mesmo tempo em que são também complementares. Especificamente sobre a definição de universalidade, é preciso afirmar que há perigo à vista quando se faz dela um mero conceito vazio. O universalismo é necessário, seguindo nosso exemplo, à classe que esteja no poder, seja ela de procedência elitista ou operária; a universalidade

deixa de existir, observa Georg Lukács (1978: 88), quando é uma característica “pensada apenas em uma forma particular”. Como antes citado, esse pro-blema, apesar de parecer “exclusivamente lógico”, depois de Hegel passa a ser distinguido enquanto “um problema da estrutura e do desenvolvimento da sociedade” (id.: 82).

Sendo assim, as relações entre universali-

dade e particularidade “têm uma função de grande monta”, pois o particular representa “a expressão lógica das categorias de mediação entre os homens singulares e a sociedade” (id.: 93). E nessa proble-mática da relação dialética entre universal e particu-lar, lembrando de nosso exemplo sobre a tríade Pre-sidente da República-Partido Político-Conjunto da Sociedade, é necessário, nas palavras de Lukács, sempre “esclarecer a forma concreta de sua relação [universal-particular], caso por caso, em uma deter-minada situação social, com respeito a uma determi-nada relação da estrutura econômica”, e mais ainda: é decisivo que se busque “descobrir em que medida e em que direção as transformações históricas modi-ficam esta dialética”. Também é necessário “estudar e descrever, de um modo historicamente concreto (...) e com exatidão, estas relações e suas transforma-ções”. Somente se cumprindo esta “tarefa importan-te”, é que se finda descobrindo “que as contradições concretas assim percebidas devem ser compreendi-das, do ponto de vista lógico-metodológico, como casos concretos e expressões de uma dialética de universal e particular” (id.: 91-92, grifos meus). E esta dialética concreta de universal e particular é, desse modo, uma “arma metodológica”, é um “instrumento para esclarecer as conexões reais” entre os fenômenos sociais em análise (id.: 95).

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Para Lukács, a linha fundamental do movi-mento de pensamento dialético dá-se em um movi-mento irresistível, em “uma aproximação progressi-va que conduz do puramente singular ao universal através do particular”, o que significa que “todos os conceitos e processos mentais, têm o seu ponto de partida na realidade objetiva [social e histórica] in-dependente da consciência” (id.: 102-103).

Ensina o pensador húngaro que a universa-lidade está sempre “em uma contínua tensão com a singularidade”, além de estar também em uma “contínua conversão em particularidade”. Da mes-ma maneira, e de modo inverso, a particularidade está sempre em contínua tensão com o universal e em contínua conversão em singularidade. Ou seja, as relações entre essa tríade são sempre múltiplas e contraditórias, e quanto mais autêntica e profunda-mente os nexos da realidade, suas conexões e contra-dições, “forem concebidos sob a forma da universa-lidade”, de forma mais exata e mais concreta “poderá ser compreendido também o singular” (id.: 104).

Vamos discorrer agora especialmente sobre a definição filosófica/sociológica de singularidade.

4. A Singularidade:

Ainda a partir do trabalho de Lukács, aprendemos que o conhecimento e a compreensão da singularidade “não pode ocorrer separadamente das suas múltiplas relações com a particularidade e com a universalidade”; estas relações múltiplas já estão

contidas na imediaticidade do singular, “no imedia-tamente sensível de cada singular”, e tanto a realida-de como a essência da singularidade “só pode ser exatamente compreendida quando estas mediações (as relativas particularidades e universalidades) ocul-tas na imediaticidade são postas à luz”, o que signifi-ca, também, que “esta aproximação ao singular en-quanto tal pressupõe o conhecimento mais desenvol-vido possível das relativas universalidades e particu-laridades”. O singular, portanto, “precisamente co-mo singular, é conhecido tão mais seguramente e de um modo tão mais conforme à verdade (...) quanto mais rica e profundamente forem iluminadas as suas mediações para com o universal e o particu-lar” (1978: 106-107).

O que se apreende então, até esse ponto, especificamente acerca das relações entre singulari-dade e universalidade, é que suas ligações na reali-dade são inseparáveis, apesar de opostas entre si. Tais categorias lógicas estão presentes no real em unidade dialética, mas, ao mesmo tempo, há uma conexão contraditória entre elas, não havendo, desse

modo, espaço para identidade entre uma e outra, por serem opostas; contudo, o singular não existe senão

em sua relação com o universal. Segundo Lukács, o “movimento dialético da realidade, tal como ele se reflete no pensamento humano, é assim um incontro-lável impulso do singular para o universal e deste, novamente, para aquele”. Sendo assim, a particulari-dade, a singularidade e a universalidade não são idênticas, ao contrário, há entre elas uma “nítida e precisa distinção”, mas isto não exclui que possa haver “passagens e conversões” dialéticas tanto en-tre universalidade e particularidade, como entre sin-gularidade e particularidade. Mas nosso pensador húngaro adverte que essas distinções, ainda que pre-sentes na realidade cotidiana de todo ser humano, são pouco desenvolvidas “no modo de pensar da vi-da cotidiana” (id.: 110).

No próximo item, passamos à explicitação do significado da categoria teórico-metodológica da particularidade, a mais discutida por Lukács em seu livro Introdução a uma estética marxista: Sobre a categoria da particularidade (de 1957), além do auxí-lio na compreensão do conceito de mediações.

5. A Particularidade – Um Campo de mediações:

Como bem esclarece Lukács, na vida coti-diana, no conjunto das relações sociais, a particulari-dade “se confunde, em sua determinação e delimita-ção, ora com o universal ora com o singular”, e é por isso que “na construção científica e filosófica, os extremos são desenvolvidos antes do que os meio mediadores [as particularidades]” (1978: 110, grifos meus), assim definida, a particularidade é “um mem-bro intermediário com características bastante espe-cíficas” (id.: 112).

Por tudo isso, continua o filósofo húngaro, é que somente pode existir “uma autêntica e verda-deira aproximação à compreensão adequada da reali-dade”, uma relação verdadeiramente dialética entre teoria e prática, se houver clareza: dessa “tensão dos pólos, constantemente em ato”; se houver o entendi-

mento da “constante conversão dialética recíproca das determinações e dos membros intermediários que têm função mediadora”; e se for compreendido

que há esta “união entre os pólos”, ainda que seja uma união tensa e contraditória. Portanto, a tarefa do intelectual é, tal como assinala Lukács, não julgar a realidade em análise, e nem descrevê-la ou explicá-la da forma que o intelectual queria que fosse, ou da forma que o real deveria ser, mas tentar elevar à consciência a “exata relação dos homens para com a realidade objetiva” (id.: 111).

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Ou ainda, o pesquisador deve observar, na realidade concreta/cotidiana, como as relações soci-ais se processam, sem que os seus valores pessoais, seus desejos e interesses influenciem nos tratamento dos dados observados/coletados por ele. Por exem-plo, refletindo sobre a cultura popular, Augusto Arantes (1987:57) propõe-se a que, neste seu livro “se projete o foco de atenção sobre o que as culturas efetivamente são, ou melhor, sobre como elas são produzidas, sobre os processos através dos quais elas se constituem e o que elas expressam, e não sobre o que elas foram, seriam ou deveriam ser” (grifado em negrito por mim).

Deste modo, Lukács enfatiza que o movi-mento do singular ao universal, assim como seu con-trário: do universal ao singular, “é sempre mediatiza-do pelo particular”. A particularidade é então “um membro intermediário real, tanto na realidade obje-tiva quanto no pensamento que a reflete” (id.: 112).

Não é por acaso, acrescenta o autor, que a tríade singular-particular-universal se tenha tornado formalmente dominante, este fato “não é casual, já que início, meio e conclusão descrevem a estrutura formal necessária de qualquer operação mental”. Também, é preciso lembrar que “a relação de forma e conteúdo é uma relação mais próxima e mais con-vergente no início e na conclusão do que no meio”, e este meio, por sua vez, é “uma expressão complexi-va e sintética de todo o conjunto de determinações que mediatizam o início e a conclusão” (id.: 113).

Lukács ressalta que nenhum dos movimen-tos aludidos acima são “pontos firmes”. Do mesmo modo que a particularidade – que é na verdade um “inteiro campo de mediações” –, também “início e conclusão (universalidade e singularidade) de modo algum são pontos firmes no sentido estrito da pala-vra”, pois “o desenvolvimento do pensamento e dos conhecimentos têm precisamente a tendência a trans-feri-los cada vez mais”. Todavia, se se leva em con-sideração corretamente o movimento dialético do particular ao universal, assim como da universalida-de à particularidade, observa-se que “o meio media-dor (a particularidade ) pode menos ser um ponto firme, um membro determinado, e tampouco dois pontos ou dois membros intermediários (...) mas sim em certa medida, um campo inteiro de media-ções” (id.: 113, grifos meus).

A cada passo que a construção do conheci-mento vai sendo aperfeiçoado pelo pesquisador, po-de-se “alargar este campo [de mediações], inserindo na conexão momentos dos quais precedentemente se ignorava que funções tinham na relação entre uma determinada singularidade e uma determinada uni-versalidade”. Assim como também se pode diminuir

esse campo de mediações, composto pelas particula-ridades, “na medida em que uma série de determina-ções mediadoras – que até um dado momento eram concebidas como sendo independentes uma da outra e autônomas – são agora subordináveis a uma única determinação” (Lukács, 1978: 113).

Torna-se claro, desta maneira, que o parti-cular “não é simplesmente o membro pontual da me-diação em uma tríade, mas sim uma espécie de cam-po de mediação para o universal (e, em certos casos particulares, para o singular)” (id.: 116, grifo meu).

A partir de uma série de pesquisas, cada uma voltada para o esclarecimento de um novo as-pecto particular do problema, em suas características específicas, pode surgir (graças ao aprofundamento destes novos aspectos particulares) outra concepção diferente, que venha a alargar e aprofundar mais ain-da o seu conceito, elevando-o a um nível superior de universalidade; de tal modo que “A cuidadosa análi-

se do particular é apenas um meio para alcançar este grau superior de universalidade”, buscando-se esta ampliação da universalidade do conceito (id.: 114-115). Isto significa que, através de mediações, em se conhecendo momentos particulares novos, a univer-salidade dos conceitos envolvidos no problema é ampliada e tornada superior ao que antes se conhe-cia.

Seria enganoso, afirma Lukács (1978: 116), após todas essas considerações, concluir-se que “o particular é uma amorfa e inarticulada faixa de liga-ção entre o universal e o singular (...) as coisas não são assim”. O campo de mediações tratado aqui é naturalmente articulado, e cada etapa que o conheci-mento leva a compreender em tal campo pode, ape-nas por aproximação, “ser claramente determinada e fixada, do mesmo modo que podem ser fixadas a universalidade e a singularidade”. Também o fato de que, em muitos casos, “deva-se fixar uma inteira ca-deia de membros particulares da mediação, a fim de ligar corretamente entre si a universalidade e a sin-gularidade”, demonstra que, de modo algum, a parti-cularidade tenha um caráter amorfo.

A partir do prisma da linguagem, continua o pensador húngaro, são bastante precisos os signifi-cados de singular e universal, já a expressão particu-laridade pode querer dizer muitas coisas: “ela desig-na tanto o que impressiona, o que salta à vista, o que se destaca (em sentido positivo ou negativo), como o que é específico; ela é usada, notadamente em filoso-

fia, como sinônimo de ‘determinado’, etc.” Contudo, esta oscilação que pode existir no significado do par-ticular “não é casual, mas tampouco ele indica um amorfismo fugidio; ele diz respeito apenas ao caráter

sobretudo posicional da particularidade”. A particu-laridade que aqui se busca esclarecer representa,

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com relação ao singular, “uma universalidade relati-va, e, com relação ao universal, uma singularidade relativa”, e esta relatividade posicional “não deve ser concebida como algo estático, mas sim como um processo. A própria conversão, por nós assinalada deste ‘termo médio’ em um dos extremos já implica este caráter processual” (id.: 117).

A particularidade, desse modo, é um prin-cípio do movimento do conhecimento, e enquanto “momentos particularidades mediadores”, ela tem, na sociedade, “uma existência relativamente bem delimitada, uma figura própria” (id.: 118). Decidin-do-se o pesquisador por eliminar a particularidade, e operar apenas com os extremos (singular e univer-sal), enfatiza Lukács, é “deformante”, assim como o fizeram, por exemplo, os pré-socráticos, Aristóteles, a filosofia burguesa, etc. Estes, buscaram “afastar idealmente da vida dos homens, justamente com o particular, as determinações sociais”, passando por cima, como no caso da filosofia burguesa, do caráter de classe da sociedade capitalista; e esta tendência

afirmava que “o homem deve sempre ser compreen-dido como singular, excluindo-se todas as mediações da socialidade de sua existência, afastando-se qual-quer particularidade mediadora” (id.: 119-120).

Em se tratando das relações dialéticas e das mediações existentes entre singularidade-particularidade-universalidade, a eliminação da particularidade é, por fim, uma luta contra a objeti-vidade, constata Lukács, desconsiderá-la é lutar con-tra a concreticidade e contra a apreensão correta da dialeticidade das relações sociais (1978: 120).

6. Conclusão:

Acredito que o objetivo deste ensaio – o de contribuir para o esclarecimento das categorias teóri-cas de singular, particular e universal – foi atingido. Como foi visto acima, o nosso conhecimento comum acerca de tais conceitos, assim como dos significa-dos postos pelos Dicionários mais utilizados no país, não são suficientes para um entendimento mais apro-fundado acerca das relações existentes entre particu-laridade, universalidade e singularidade.

Demonstrou-se também, como é rica a de-finição de particularidade , tão usada pela maioria das pessoas com o sentido banal de “individualidade”, o que faz com ela perca quase que totalmente a sua significância teórico-ontológica;

enquanto que, na verdade, o particular abrange um campo inteiro de mediações, que se encontram a meio caminho (mas não em uma posição fixa) entre o singular e o universal. Deve o pesquisador obser-var que estas mediações por vezes se aproximam mais da universalidade e, às vezes, tornam-se mais próximas ao singular.

O que importa afinal, é que ao se debater hoje as definições de particularismos e universalis-mos, se tenha um pouco mais de segurança sobre o que significam tais categorias lógicas.

E, principalmente, aprendemos aqui que os interesses particularistas, em sendo interesses de apenas uma “classe social” que se encontre no poder (como no exemplo citado, do Governo do ex-Presidente Lula e da atual Presidenta Dilma, ambos filiados ao Partido dos Trabalhadores), poderiam e deveriam ser convertidos em interesses universalis-tas, voltados para o bem-estar da maioria da popula-ção brasileira. Assim como também, fomos levados a compreender que, às vezes, um discurso que a princípio seja universalista pode esconder interesses eminentemente particularistas, noutras palavras: pode ocorrer que aquilo que se apresenta como uni-versalismo hoje, venha a converter-se, amanhã, em interesses particulares de apenas uma classe, um gru-po ou segmento social!

7. Referências:

ARANTES, Antonio Augusto. O Que é Cultura Popu-lar. 12ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

COHN, Gabriel. “Introdução”. In: COHN, G. (Org.). Weber – Sociologia. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2002.

FERREIRA, Aurélio B. H. Mini-Aurélio Século XXI: Escolar. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

FREDERICO, Celso. Lukács: Um clássico do século XX. São Paulo: Moderna, 1998. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva/Instituto Antô-nio Houaiss, 2009.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: EdUnicamp, 1990. (trad. Bernardo Leitão et. al.).

LUKÁCS, Georg. Introdução a uma estética marxis-ta: Sobre a categoria da particularidade. Rio de Ja-neiro: Civilização Brasileira, 1978. (trad. Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder).

PAULO NETTO, José (Org.). Lukács. São Paulo: Ática, 1981.

WAIZBORT, Leopoldo. As aventuras de Georg Sim-mel. São Paulo: USP/PPGS/Ed. 34, 2000.

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presentante do hospital no horário comercial.

TORNE-SE UM ASSOCIADO

Para tornar-se um associado do hospital, basta pree ncher o formulário

que se encontra no site e encaminhá-lo à direção do hospital. O valor

da mensalidade e de apenas R$ 10,00.

Todo associado poderá usufruir das vantagens do car tão de benefícios

sem pagamento adicional.

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Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus Passos

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CEP: 88790-000, Laguna SC

Fones: Central telefônica: (0xx)48 3646-0522 / DPVAT: (0xx)48 3646-1237 / Fax: (0xx)48 3644-0728

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Revista Varal do Brasil

A revista Varal do Brasil é uma revista bi-mensal independente, realizada por Jacque-line Aisenman.

Todos os textos publicados no Varal do Bra-sil receberam a aprovação dos autores, aos quais agradecemos a participação.

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Consulado-Geral do Brasil em Genebra

O Consulado é parte integrante da rede consular do Minis-tério das Relações Exteriores. Sua função principal é a de prestar serviços aos cidadãos brasileiros e estrangeiros resi-dentes na sua jurisdição consular, dentro dos limites estabe-lecidos pela legislação brasileira, pela legislação suíça e pe-los tratados internacionais pertinentes.

O Consulado-Geral do Brasil encontra-se localizado no nú-mero 54, Rue de Lausanne, 1202 Genebra.

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