Revista Universitária de Psicologia Nº1 - 2012

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XIX ENEP "Mind the body" Estágios da OPP "Afirmar os Psicólogos" A Psicologia da Crise Setembro 2012 Publicação Semestral Investigar no Estrangeiro A Psicologia Positiva Unidades de Investigação em Portugal Formação sem Fronteiras EUROPLAT A Psicologia na Universidade do Minho Trabalhar no Estrangeiro Serão as pessoas felizes? Estudar e Ensinar no Estrangeiro Miséria & Desastre? Partilha & Qualidade? Trabalhar num ambiente extremamente internacional "Crise" a palavra da moda O 1º Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Psicologia das Organizações Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia O 26˚ Congresso da EFPSA € 2,50 (IVA Incluído) Portugal Continental RUP / NÚMERO 01 ISSN: 2182-4258

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Edição Nº1 da Revista Universitária de Psicologia. Agora podes ler e descarregar gratuitamente as tuas RUPs. Visita-nos em: facebook.com/rupanep

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XIX ENEP

"Mind the body"

Estágios da OPP

"Afirmar os Psicólogos"

A Psicologia da CriseSetembro 2012Publicação Semestral

Investigar no Estrangeiro

A Psicologia Positiva

Unidades de Investigação em Portugal

Formação sem Fronteiras

EUROPLAT

A Psicologia na Universidade doMinho

Trabalhar no Estrangeiro

Serão as pessoas felizes?

Estudar e Ensinar no Estrangeiro

Miséria & Desastre?Partilha & Qualidade?

Trabalhar num ambiente extremamente internacional

"Crise" a palavra da moda

O 1º Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Psicologia das Organizações

Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia

O 26˚ Congresso da EFPSA

€ 2,50 (IVA Incluído)Portugal Continental

RUP / NÚMERO 01 I S S N : 2 1 8 2 - 4 2 5 8

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02 RUP Nº1

ADMINISTrAçã[email protected]

COMISSãO [email protected]

COMISSãO DE rEVISTA CIENTí[email protected]

DEPArTAMENTO JuríDICO, FINANCEIrO E [email protected]

DEPArTAMENTO PublICIDADE E [email protected]

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CONTACTOS

João Carlos Arruda — Administrador965 118 710

Victor E.C. Ortuño — Cordenador do Departamento Jurídico, Financeiro e Tesouraria917 334 130

Page 4: Revista Universitária de Psicologia Nº1 - 2012

Nota Editorial

A palavra “crise” é provavelmente um dos vocábulos mais utilizados hoje em dia, nos meios de comunicação social, em conversas de café,

em encontros familiares, nas escolas, nos hospitais, nas empresas, enfim, um pouco por todo o lado. E, de facto, vivemos momentos de crise económica e, sobretudo, social. Momentos em que nos são colocados desafios mais ou menos inesperados e complexos. Como ciência social e humana que é, a Psicologia deve assumir, neste quadro, o seu papel imprescindível no sentido de apoiar as pessoas e as sociedades a fazer face às dificuldades e a encarar de frente e com optimismo todas as oportunidades, assim como todos os desafios. É por isso que o número 1 da Revista Universitária de Psicologia se apresenta com o tema “Oportunidades e Desafios”. Optámos por este tema porque temos a certeza que os estudantes de Psicologia em Portugal querem tomar consciência dos desafios existentes na sociedade que os rodeia, assim como no que diz respeito à prática, à formação e à investigação na nossa área. É com esta consciência que os estudantes podem pôr mãos à obra e investir os seus recursos pessoais e académicos na luta por uma maior qualidade de vida para todos e na transformação dos desafios em oportunidades de crescimento, aprendizagem, e actualização. Acreditamos, por isso, que cabe à Psicologia e aos seus estudantes, o papel de agentes de mudança positiva e fecunda, por um mundo mais harmonioso, mais próspero e mais respeitoso, onde todos possamos ter a oportunidade de explorar e desenvolver o nosso potencial enquanto seres humanos e seres sociais. Podemos, por exemplo, adoptar posturas de optimismo, encarar uma Psicologia Positiva, centrada nas forças, virtudes e capacidades de todos e de cada um. Há, também, que olhar para o que se faz de bom no estrangeiro, a nível de investigação, formação e prática

profissional, aprendendo com exemplos de sucesso e inspirando-nos em histórias fascinantes que há para contar por esse mundo fora. Não esqueçamos também, o claro dinamismo que caracteriza o nosso país e a Psicologia que por cá se desenvolve, a qual deve ser olhada com o devido e merecido orgulho. Nas páginas que se seguem encontram-se, então, histórias de estudantes e antigos estudantes, de profissionais, de professores, de investigadores e de instituições que procuram encarar cada desafio com optimismo e fazer do mundo em que vivemos um lugar melhor, com mais oportunidades para todos. Poder-se-ão, também, ler histórias de encontros de estudantes portugueses (ENEP) e de toda a Europa (Congresso EFPSA), assim como de Psicólogos Portugueses (Congresso Afirmar os Psicólogos), encontros esses muito distintos mas com um objectivo comum: fazer crescer a Psicologia e os seus contributos para as sociedades em que se insere. Assim, temos o prazer de apresentar agora um número da Revista Universitária de Psicologia que esperamos poder ser uma fonte de inspiração, que motive a paixão pela aprendizagem. Esperamos ter a oportunidade de fornecer aos leitores informação útil e profícua sobre os desafios que há a enfrentar e sobre formas de os enfrentar positivamente.

NOTA EDITOrIAl

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Cabe à Psicologia e aos seus estudantes, o papel de agentes de mudança positiva.

Alice Morgado, Editora ruP

ISSN: 2182-4258

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EDITOrAAlice Morgado

rEDACçãOAlice Morgado / Ana Carolina Pascoal / Ana rita Martins / Andreia Jesus / bárbara Costa / Daniela Valente / Mafalda Sobral / Maria gouveia / Mariana Ambrósio / Mariana guarino / Mariana Mendes / Patrícia van beveren / Patrícia Pereira

FOTOgrAFIAroberto botelho / Vanessa Mendes

lOgOTIPOAndré rocha

grAFISMOInês João / Tiago Perdigão

CAPATiago Perdigão

gráFICA

RUP / NÚMERO 01Setembro 2012Publicação Semestral

Oportunidades e DesafiosA Psicologia aqui e agora

///// ISSN: 2182-4258 //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Interdita a reprodução parcial

ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita

da Administração da ruP/ANEP /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Editora: Alice Mor-

gado ///// Administrador: João Carlos Arruda ///// Director da Comissão de revisão Cientifica: Pedro belo ///// Tiragem

2000 Exemplares ///// Periodicidade: Semestral ///// Produção: Organismo Autónomo revista universitária de Psicolo-

gia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psi-

cologia - ANEP //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Associação

Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da universidade /////

1649-013 lisboa ///// Portugal //////////////////////////////// revista universitária de Psicologia da Associação Nacional de

Estudantes de Psicologia - ruP/ANEP ///// 3000 Coimbra ///// Portugal //////////////////////////////////////////////////////////

Com o apoio da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da universidade de Coimbra

Os conteúdos desta revista não seguem as regras do novo acordo ortográfico.

FIChA TéCNICA

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Depois de “renascida” na última direção, onde quase tudo teve que ser repensado e refeito, a ANEP continua o seu processo de metamorfose, caminhando a passos largos para a sua própria (re)emancipação.

Depois de reestruturada e reerguida, a ANEP, através desta nova direção, tenta consolidar-se como um projecto que conquiste o espaço na

agenda dos alunos de Psicologia espalhados por todo o território português, mas acima de tudo, consolidar-se como um verdadeiro projecto nacional. Desta forma, esta direção apresenta como uma das suas maiores armas a rutura com o passado recente, reconquistando espaços que se encontravam pouco ativos e começando a criar ligações com estudantes de instituições que tradicionalmente nunca tiveram um elo de ligação forte com a ANEP. O exemplo mais crasso desta reconquista de espaços que estavam pouco ativos na ANEP é o caso do Minho, que depois de algum tempo de pouco envolvimento dos estudantes no que à direção da ANEP diz respeito, começou por reenvolver-se na direção anterior, sendo atualmente já um dos focos mais coesos e intensos de trabalho da ANEP. Isto é importante pela carga simbólica do corte com a hegemonia da ANEP nos principais centros urbanos (Porto e Lisboa) e daquela que é considerada a capital estudantil (Coimbra). Assim, a ANEP mostra-se uma associação e um projecto com força para se tornar cada vez mais “nacional” e ganhar visibilidade e credibilidade nos mais variados cantos do país. Para que o Minho (mais concretamente Braga) não seja um caso isolado neste nosso trajecto de “nacionalização” da ANEP, esta direção tem como grande preocupação criar igualmente uma teia de colaboradores cada vez maior, principalmente em instituições onde a ANEP nunca chegou. Este processo é lento, mas já começou a ser executado. Neste momento podemo-nos orgulhar de ter pessoas a colaborar connosco desde o Algarve até ao Minho, tendo sempre como principal intuito criar uma enorme base de contactos que nos

permita uma boa comunicação e rápida execução de tarefas, sempre que necessário. É impensável que a ANEP continue no marasmo de invisibilidade que foi sujeita ao longo deste passado recente, onde a desinformação era a nota predominante entre os estudantes. A ANEP é feita de estudantes e, por isso, não sobrevive sem eles. A direcção, os restantes órgãos sociais e membros de pleno direito são apenas uma pequena parte daquilo que é a Associação Nacional. Para prosseguirmos neste novo rumo de mudança e de progresso, é necessário o apoio de todos os estudantes de Psicologia espalhados por todo o país. São bastantes os planos idealizados a pensar em todos nós e a nossa motivação é enorme, mas nada disto chega se não tivermos o apoio estudantil. Este apoio passa pela colaboração nos nossos projetos e, acima de tudo, passa pela divulgação da ANEP. Queremos que Associação Nacional de Estudantes de Psicologia seja verdadeiramente “nacional” e realmente feita por e para estudantes. João Paulo Petiz, Vice-Presidente da direção da ANEP

/ lénia Alexandra leal Amaral, Vogal da direção da ANEP

ANEP: um projeto verdadeiramente nacional

ANEP: uM PrOJETO VErDADEIrAMENTE NACIONAl

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No passado mês de Abril decorreu na Dinamarca o 26º Congresso da EFPSA, cujo tema foi Mind the body. Este foi um congresso que reuniu mais de 300 pessoas dos mais variados países da Europa, com a especificidade de serem todos estudantes de psicologia.

Como é costume nestes congressos da EFPSA, o evento foi pautado por um forte cartaz científico conjugado com um programa social e cultural

muito interessantes. Todos os participantes tiveram oportunidade de interagir com culturas e pessoas de países diferentes, de enriquecer o seu percurso académico mas, sem dúvida, que o mais significativo que todos os participantes levaram consigo foi mesmo o EFPSA Spirit: algo complicado de descrever e que só quem participou perceberá. Contudo, arriscaríamos a descrever este espírito como uma onda de “vibrações” positivas de amizade e bem-estar, próprias de quem se encontra a estudar numa área que tem o ser humano e a empatia como pedras basilares. Para além disto, a EFPSA deu um gigante passo, decidindo implementar na sua estrutura alterações que prometem trazer novidades e mais dinamismo a esta federação: foi aprovado em assembleia a criação de um/a Vice-Member Representative, ou seja, um/a segundo/a representante nacional da EFPSA por cada país membro. Esta foi uma medida proposta pela direcção da EFPSA para que esta federação, e organismo máximo no que toca aos estudantes de Psicologia na Europa, pudesse ter uma representação mais significativa e mais abrangente em cada país, principalmente tendo em conta a dimensão e/ou importância/gente envolvida de países como a Alemanha, Polónia, Roménia ou Holanda. Desta forma, pretende-se que a EFPSA entrasse, de facto, na agenda de um número de estudantes de Psicologia europeus cada vez maior. No caso específico português, enquanto representantes nacionais da EFPSA, temos representada a Universidade de Coimbra (João Pedro Estanqueiro) e a Universidade do Minho (João Paulo Petiz). A nossa missão passa por trazer a EFPSA, os seus eventos e as inúmeras oportunidades que oferece aos estudantes para território nacional e, por outro lado, ser a voz que defende

os interesses dos estudantes portugueses de psicologia no panorama europeu. O facto de sermos estudantes de duas universidades diferentes representa um ponto muito importante de forma a podermos, de uma vez por todas, cortar com o passado recente de invisibilidade da EFPSA que tem vindo a ser sujeita nos últimos anos e poder mostrar a oportunidade que representa a EFPSA (e todas as suas vantagens inerentes) para todos os estudantes de Psicologia em Portugal. Por fim, devemos salientar que, ao longo do próximo mandado da ANEP, a EFPSA vai ser uma das nossas prioridades, estando na nossa agenda a realização de eventos promocionais e palestras de divulgação e esclarecimento da EFPSA. João Paulo Petiz,

Vice-Presidente da direção da ANEP / João Pedro Estanqueiro,

Portuguese Member representative of EFPSA (European Federation

of Psychology Students’ Association) (www.efpsa.org)

26˚ Congresso da EFPSA: O crescimento da EFPSA

26º CONgrESSO DA EFPSA: O CrESCIMENTO DA EFPSA

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26º CONgrESSO DA EFPSA: O CrESCIMENTO DA EFPSA

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O Pedro Monteiro e a Filipa rodrigues são duas pessoas muito diferentes, cada um com as suas próprias ideias e sonhos para o futuro. Em comum têm a formação em Psicologia, em particular, do mestrado WOP-P em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos recursos humanos*, e o facto de estarem a trabalhar no estrangeiro. Por isso, pedimos a estes antigos estudantes de Psicologia, para nos contarem um pouco do seu percurso formativo e profissional, ajudando-nos a compreender o que os levou a escolher trabalhar fora de Portugal e o que isso realmente significa. Texto Alice Morgado

A Psicologia da Crise, 12-17

A Psicologia Positiva: Um olhar positivo, optimista e preventivo,35-38

“A felicidade não é algo que acontece às pessoas, mas algo que elas fazem acontecer” Csikszentmihalyi (1999, p.824).

Conceitos básicos.Serão as Pessoas Felizes?Texto Carolina Pascoal

Rede Europeia para o Ensino e Aprendizagem da Psicologia (EUROPLAT), 39-43

Miséria & Desastre: uma miséria desastrosa ou um desastre miserável? Partilha & Qualidade: uma partilha de qualidade ou uma qualidade partilhada? Texto Ana rita Martins

Trabalhar no Estrangeiro, 18-25

Investigar no Estrangeiro, 26-29

“Quero investigar no estrangeiro! O que tenho de fazer para isso?” Texto Patrícia van beveren

Oportunidades e Desafios, 10-12

Formação sem fronteiras: Aprender e ensinar no estrangeiro, 30-34

Estudar (Erasmus) no Estrangeiro. Ensinar no Estrangeiro. Texto Mariana Mendes

Índice

íNDICE

São múltiplas e profundas as transformações que ocorrem na época actual em que vivemos, desafiando, a cada dia que passa, a capacidade de reacção do homem. Deste leque imenso de transformações, que ocorrem a ritmos vertiginosos, faz já parte o conceito de “crise”, cuja referência tem ecoado cada vez mais pelos media, pelas ruas e pelas várias famílias portuguesas. Este conceito pode já ser considerado como a palavra da “moda”, gerador de impasses e de um possível esgotamento do modo de vida, que abarca o campo da experiência psicológica dos indivíduos, constituindo uma crescente preocupação nos dias correntes. Texto Alice Morgado / Andreia Jesus / bárbara Costa / Mafalda Sobral / Mariana Ambrósio / Patrícia Pereira

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Texto Ana rita Martins / Andreia Jesus / Maria gouveia / Mariana guarino / Patrícia van beveren

“Afirmar os Psicólogos”: O Primeiro Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses, 54-59

Mais de 1800 psicólogos esgotaram o Centro Cultural de belém naquele que foi o encontro histórico na afirmação da Psicologia em Portugal, o Primeiro Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos. Texto Ana rita Martins / Andreia Jesus

A Psicologia na Universidade do Minho, 68-72

Já com uma estrutura bem definida a nível institucional, a Escola de Psicologia da universidade do Minho, ao longo do tempo tem vindo a adaptar-se às reais necessidades da área e do país, apostando fortemente numa formação direccionada para a investigação, proporcionando diversas experiências nesse sentido, nomeadamente, investindo em laboratórios diversos, actividades inovadoras, tudo em função de uma boa formação, que se possa colocar efectivamente em prática num futuro próximo.Texto Daniela Valente / Patrícia Pereira

Estágios da Ordem dos Psicólogos Portugueses, 77-81

Em 2010, para além da aprovação, em Portugal, da lei que permite o casamento homossexual, do terramoto no haiti, de 7.0 graus na escala de richter, que provocou a morte de 230 mil pessoas, da realização do primeiro transplante facial total, da visita do papa bento XVI a Portugal, e dos 33 mineiros que ficaram presos numa mina no Chile, foi publicado, a 20 de Outubro, na 2ª serie do Diário da república o Despacho Nº 15866/2010 – regulamento de Estágios da Ordem dos Psicólogos. Texto Mariana guarino

As Unidades de Investigação & Desenvolvimento em Psicologia em Portugal, 82-89

A investigação tem sempre vindo a acompanhar o desenvolvimento do conhecimento e de novas descobertas no meio científico. No âmbito das ciências psicológicas, tal não é excepção. é através da investigação que se reúnem conhecimentos, conceitos e conclusões fundamentados em estudos rigorosamente desenvolvidos, que constituem (ou pretendem constituir) a base de qualquer boa prática psicológica. Texto Maria João gouveia

A Psicologia das Organizações do Trabalho e dos Recursos Humanos, 73-76

O ser humano é uma coisa estranha que pensa e nessa perspectiva inventou a liberdade. Por vezes sabe quem é, mas tudo o que quer é não o ser e, por isso, passa a vida a combater e a lutar contra si mesmo. E vai trabalhando… Outras vezes o que mais quer é preencher um vazio existencial e, neste caso, passa a vida a procurar algo que nem sabe bem o que é. E muda de trabalho… Inacabado ao nascer. Ao evoluir, insatisfeito. O encontro do indivíduo com a autenticidade da sua existência e de um lugar na sociedade é um dos seus maiores desejos. E nessa (mesma) perspectiva inventou a escolha e a decisão de livre vontade. Texto Ana rita Martins

Próximos eventos em Psicologia, 90-92

XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia, 46-53

A Psicologia Aqui e Agora, 44-45

Texto Maria João gouveia

"Mind the body": O 26˚ Congresso daEFPSA, 60-67

íNDICE

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Oportunidadese Desafios

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Acho que a população está a ter uma atitude mais passiva do que activa, as pessoas estão a desacreditar.

São múltiplas e profundas as transformações que ocorrem na época actual em que vivemos, desafiando, a cada dia que passa, a capacidade de reacção do homem. Deste leque imenso de transformações, que ocorrem a ritmos vertiginosos, faz já parte o conceito de “crise”, cuja referência tem ecoado cada vez mais pelos media, pelas ruas e pelas várias famílias portuguesas.

Este conceito pode já ser con-siderado como a palavra da “moda”, gerador de impasses e

de um possível esgotamento do modo de vida, que abarca o campo da ex-periência psicológica dos indivíduos, constituindo uma crescente preocu-pação nos dias correntes. Todos os dias perpassa para a so-ciedade a valência negativa da crise, o que acaba por enfraquecê-la, deixan-do-se aluir pela maré negativa de notí-cias provenientes, essencialmente, dos órgãos de comunicação social. Segundo a Professora Doutora Maria Jorge Ferro, docente na FPCE-UC, com quem a RUP teve a oportuni-dade de conversar, o discurso político tende a referir-se à crise económica como sendo uma enorme preocu-pação e geradora de pânico.Em geral, todos dizem que o caminho que está a ser seguido não é o correcto mas que, ainda assim, pouco se faz para parar este percurso. Neste sentido, a docente acrescenta que para além de a crise se reportar à crise económica mundial, europeia e portuguesa, diz respeito também a uma crise absolu-ta do sentido da vida e daquilo que é ser-se humano. Na sua opinião, esta é a crise que realmente preocupa os

profissionais de Psicologia, afirman-do que “isto só vai mudar se as pes-soas todas assumirem que têm uma responsabilidade, alterando a sua acção, o que implica ter um sentido claro para a vida”. A crise económica actual tem origi-nado grandes consequências ao nível da saúde mental do ser humano, sendo vasto o conjunto de efeitos adversos, em particular do foro psi-cológico. O efeito principal e o mais abordado tem sido a depressão, segui-da pelo suicídio e pelo consumo des-controlado de drogas. Contudo, os efeitos psicológicos podem também ser menos evidentes ou enquadrar-se num quadro clínico de menor gravi-dade, como uma sucessão e evolução de pensamentos negativos, cujo im-pacto não se poderá, de modo algum menosprezar. As pessoas não só têm vindo a reformar as suas expectati-vas, como também os seus planos futuros, seus planos futuros, o que patenteia um elevado nível de inse-gurança. Começam por inibir alguns comportamentos, pensando no fu-turo de forma disfórica e acabam por viver o dia-a-dia com uma grande ansiedade. O facto de a maior par-te dos indivíduos desenvolver estilos

de vida que pouco visam o dia de amanhã ou a possibilidade de alguns privilégios cessarem leva, por vezes, a uma grande sensação de impotên-cia. Segundo a Professora Doutora Maria Jorge Ferro, a crise económi-ca leva as pessoas a terem medos, o que as faz silenciarem-se e compro-meterem-se, retraindo as suas for-mas de estar, agir, pensar, falar e até de reivindicar condições dignas de trabalho: “acho que a população está a ter uma atitude mais passiva do que activa, as pessoas estão a de-sacreditar” – menciona a docente.Será então pertinente questionarmos acerca das consequências psicológicas da crise económica no indivíduo? O que fazer? Como prevenir? Em que medida a crise põe em causa toda a actuação dos profissionais de Psico-logia junto dos seus pacientes? Estas, entre outras, são interrogações para as

A Psicologia da crise

A PSICOlOgIA DA CrISE

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Texto Alice Morgado / Andreia Jesus / bárbara Costa / Mafalda Sobral / Mariana Ambrósio / Patrícia Pereira Fotografia roberto botelho

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OPOrTuNIDADES E DESAFIOS

quais é necessário encontrar respostas claras, objectivas e informativas. Segundo a notícia lançada pela RTP, no dia 1 de Outubro de 2011, Portugal aparece como o país da Eu-ropa com a maior taxa de depressão, num estudo realizado pela Aliança Europeia. Será que o país está prepa-rado para responder de forma apro-priada face aos dados apresentados? Na tentativa de conhecer em que estado se defronta Portugal e que recursos tem à sua disposição na área da Psicologia, entrevistámos o Bastonário da Ordem dos Psicólo-gos Portugueses, Professor Doutor Telmo Baptista e o Psicólogo Clíni-co Dr. Luís Marques, membro sócio fundador e profissional da equipa Psikontacto – Núcleo de Formação e Intervenção Terapêutica com Cri-anças e Adolescentes (Coimbra). Face ao incremento do número de depressões e suicídios registados nos últimos anos como consequência da crise económica actual, o Professor Doutor Telmo Baptista defende a necessidade uma “intervenção psi-cológica de proximidade, focalizada e de amplo acesso”, sendo impor-tante a inclusão de psicólogos em es-truturas de proximidade, como Cen-tros de Saúde, uma vez que estes são “os primeiros pontos de referência para ajudar a despistar as situações que necessitam de uma intervenção psicológica”. No entanto, os cortes

na saúde, bem como na educação, poderão pôr em causa a respectiva inclusão e a prestação de serviços por parte dos psicólogos, o que poderá levar, não só a danos pessoais exten-sos, como também a danos económi-cos. O Bastonário da OPP descreve que “um relatório recente da OMS refere que o impacto da perturbação mental no PIB da Europa é de cer-ca de 3-4%, ou seja, um impacto económico muito considerável. Por isso importa “fazer as contas” e investir no que faz sentido a médio prazo, ou seja, numa intervenção psicológica que possa prevenir o agravamen-to de situações existentes e detecte atempadamente novas situações que merecem intervenção.” Tendo em conta a nova conjectura, as princi-pais medidas de prevenção a serem tomadas pelos psicólogos, segundo o Professor Doutor Telmo Baptista, devem ser a nível governamental e institucional, tendo os psicólogos um papel essencial no que diz res-peito ao fornecimento de estratégias pessoais para ajudar as pessoas a lidar com perturbações do stress, ansie-dade, depressão e suicídio resultantes da crise. Sendo que, cada vez mais, o número de indivíduos vulneráveis às consequências da crise é maior, ou seja, são mais aqueles que têm pou-cos recursos pessoais, sociais e famil-iares, o Bastonário deixa o alerta de que é “preciso reforçar a presença de

psicólogos nas estruturas de proxi-midade e acabar com o desperdício português de termos técnicos que não utilizamos”, reforçando que “um dos dramas de Portugal é não saber aproveitar bem as competências desen-volvidas pelos seus profissionais, que depois são utilizadas no estrangeiro e para benefício de outros”. Dado que trabalha em contexto privado, o Dr. Luís Marques obser-va, no que diz respeito à procura de ajuda psicológica como consequên-cia da actual crise económica, que “os clientes referem mais frequente-mente problemas associados à crise económica nas consultas.” Chega, ainda, a mencionar que a crise é “ao mesmo tempo um factor impor-tante na psicopatologia e um factor que restringe a procura de ajuda psicológica, sobretudo em contexto privado mas não só, por questões económicas”. No sentido de minorar os custos, já que o aconselhamento psicológico privado pode tornar-se dispendio-so, existem locais onde as pessoas se poderão dirigir para encontrar este tipo de ajuda, nos serviços pú-blicos. Como o Dr. Luís Marques nos referiu, é possível encontrar acon-selhamento e apoio psicológico “nos hospitais centrais e boa parte dos centros de saúde que, apesar do seu escasso número, compreendem equi-pas de proximidade que trabalham

Por isso importa “fazer as contas” e investir no que faz sentido a médio prazo, ou seja, numa intervenção

psicológica que possa prevenir o agravamento de situações existentes e detecte atempadamente novas

situações que merecem intervenção.

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(...) os cortes resultantes dos programas de austeri-dade poderão levar, não apenas a uma diminuição do número de Psicólogos nos hospitais e centros de saúde, mas também, ao decréscimo da procu-ra global dos serviços de saúde mental, (...)

A PSICOlOgIA DA CrISE

num contexto multidisciplinar e que fazem um trabalho importante de prevenção primária”.Em geral, os estudos apontam para o incremento da procura e utilização dos serviços de saúde mental em períodos de crise económica, bem como o aumento de hospitalização de doentes psiquiátricos. No entan-to, é relevante salientar-se que os cortes resultantes dos programas de austeridade poderão levar, não ape-nas a uma diminuição do número de Psicólogos nos hospitais e centros de saúde, mas também, ao decréscimo da procura global dos serviços de saúde mental, o que poderá resul-tar em consequências preocupantes. Segundo o Dr. Luís Marques, neste caso, as pessoas irão acabar por di-rigir-se aos serviços de psicologia e psiquiatria, apresentando situações clínicas mais graves, mais incapaci-tantes e de pior prognóstico.No que diz respeito às principais causas associadas à crise económica, expostas pelos pacientes, são referi-das, não só para as depressões mas também para os problemas de ansie-dade e dependências (com particular incidência no álcool): a eminên-cia do desemprego, a instabilidade laboral e a precariedade do futuro próximo. O Dr. Luís Marques refere que “a dificuldade em encontrar tra-balho, poder pensar numa carreira ou até, meramente, poder ter uma vida independente dos pais são as-pectos frequentemente referidos em consulta. O trabalho em áreas que são, em geral, pouco gratificantes, a pouca remuneração e a percepção das desigualdades socias têm sido aspectos que começam a estar tam-bém presentes, contribuindo para o desespero e para a sensação de im-potência que, por sua vez, colaboram decisivamente para a depressão”.

A dificuldade na organização e esta-belecimento de rotinas e projectos de vida, a sensação de incapacidade para transformar a situação decorrente de problemas relacionados com a crise económica actual, a redução de perspectivas de mudança para uma situação mais compensadora, a re-estruturação da vida pessoal em vir-tude das exigências financeiras que a crise coloca e o desespero são alguns dos sintomas psicológicos referidos com mais frequência. Particularmente preocupante é o facto de se verifi-carem também recaídas de situações psicopatológicas que já estavam con-troladas ou que já tinham cessado. A junção entre a vulnerabilidade psi-cológica e a vulnerabilidade social é, então, actualmente, a mistura bom-bástica para os sintomas de maior circunspecção que levam ao suicídio, violência e ao consumo de drogas, como o álcool, marijuana ou haxixe, refere o Dr. Luís Marques.Inerentes a estes efeitos psicológicos negativos estão os efeitos económi-cos, também eles de valência negativa, que estão bem patentes no aumen-to da taxa de desemprego. Segundo os dados do Eurostat, lançados a 2 de Abril de 2012, a taxa de desem-prego em Portugal atingiu os 15% no segundo mês do presente ano, fazendo com que se destaque na lista dos países-membros da UE como o terceiro país com a taxa de desem-prego mais elevada. Este acentuado aumento do desemprego faz-nos reflectir sobre a importância do tra-balho na vida do ser humano, na medida em que se trata de uma ac-tividade produtiva com valor para a sociedade. É uma experiência que integra actividades pelas quais os seres humanos recebem dinheiro, permitindo a sua sobrevivência, bem como actividades que cumprem di-versas funções, como a manutenção de rotinas diárias e de desenvolvi-mento de redes sociais, refere a do-cente da FPCE-UC, especialista em

”14 RUP Nº1

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“As pessoas tomaram consciência de que têm de mobilizar os seus recursos e estão a perceber que têm mais recursos do que achavam que tinham antes desta situação.

OPOrTuNIDADES E DESAFIOS

Aconselhamento da Carreira, Professora Doutora Paula Paixão. Segundo a mesma, a crise económica vigente pode ter um impacto positivo, uma vez que possibilita às pessoas considerarem diferentes maneiras de viver e de pensar sobre certas questões que nunca tinham sucedido até ao momento e “até eventualmente nalguns casos reorganizarem a sua vida através de formas alternativas”. A docente pensa que a população geral é, de alguma forma, pessimista mas também resiliente na medida em que as pessoas se esforçam por

superar numerosos obstáculos e vi-ver normalmente o quotidiano. “As pessoas tomaram consciência de que têm de mobilizar os seus recursos e estão a perceber que têm mais recur-sos do que achavam que tinham an-tes desta situação”. De facto, ao longo da vida adul-ta, as intervenções de carreira po-dem ser cruciais, já que têm um papel importante na facilitação da transferência das aprendizagens e dos conhecimentos e competências adquiridos em contextos desiguais de vida. Tendo em conta as palavras

da Professora Doutora Paula Paixão, os profissionais de aconselhamento de carreira podem actuar a três níveis: a um nível mais directo, seja individual ou grupal, a um nível de consultoria de carreira e a um nível de advocacia social. No nível de consulta, mais pro-priamente dito, os psicólogos podem ajudar os sujeitos a reconhecer os seus recursos, ajudar as pessoas a lidar com o impacto negativo das situações, a tor-nar dificuldades em oportunidades e fazer com que o sujeito tenha consciên-cia crítica daquilo que é da sua respons-abilidade e o que é da responsabilidade de outrem.E no que diz respeito às organizações, como poderão as empresas fazer uma gestão adequada dos recursos hu-manos? Dado o contexto actual do progressivo crescimento do desem-prego e da insuficiência na criação de postos de trabalho, a crise poderá definir-se como “um acontecimen-to extraordinário ou uma série de acontecimentos, que afecta de forma diversa a integridade do produto, a reputação ou a estabilidade financeira da organização” (Wilcox et al., 1999). A crise actual obriga o encerramento de várias empresas por toda a Euro-pa, tornando-se, consequentemente, também uma crise social, dado que os encerramentos consecutivos e, muitas vezes, inesperados deixam as pessoas receosas e inseguras, particularmente no controlo do seu futuro.O despedimento, utilizado em casos de insolvência ou mesmo na reestru-turação de muitas empresas, que se viram forçadas a reduzir o orçamen-

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“A crise actual obriga o encerramento de várias empresas por toda a Europa, tornando-se, consequentemente, também uma crise social, dado que os encerramentos consecutivos e, muitas vezes, inesperados deixam as pessoas receosas e inseguras, particularmente no controlo do seu futuro.

to para a manutenção de postos de trabalhos, origina um pico de stress, tanto na vida do trabalhador como também na empresa. Na realidade, o despedimento acarreta tanto con-sequências emocionais, cognitivas e motivacionais para o recente desem-pregado como também provoca uma quebra ao nível da imagem externa, uma diminuição da eficácia laboral e das relações de trabalho, sendo por último verificável a deterioração do ambiente de trabalho (Maia, & Nyaradi, 2005). Esta é uma ex-periência dolorosa, assustadora e, muitas vezes, devastadora para a pes-soa enquanto indivíduo, que perdeu não só o seu sustento mas também a sua função na sociedade (Maia, & Nyaradi, 2005). Devido à elevada competitividade do mercado de trabalho e ao facto de várias empresas comercializarem um mesmo produto, o valor das empre-sas não se irradia tanto dos seus bens físicos, mas sim dos seus activos in-tangíveis como é o caso da experiên-cia e motivação dos seus funcionári-os. Numa entrevista a Hugo Costa, licenciado em gestão de recursos humanos e responsável pelos recur-sos humanos nos cinemas UCI, este mostrou apoiar a ideia de que “por formação e ideologia acredito que o maior activo das empresas são os seus recursos humanos”. Actualmente, as empresas procuram investir numa gestão mais eficaz dos recursos humanos, evidentemente, devido à solidificação da percepção de que colaboradores bem treinados, motivados e fortemente envolvidos na dinâmica empresarial, são um trunfo no mercado cada vez mais problemático e delicado. Apoian-do estes mesmos conceitos, Hugo Costa assegura que “quando existe motivação nos trabalhadores, os mesmos sentem que o seu esforço é recompensado e que existe uma avaliação justa e objectiva, o que le-vará à tendência de elevar os níveis

de eficiência e, consequentemente, os de produtividade”. Nesta demanda, por uma maior produtividade empresarial, surge o conceito de “qualidade de vida no trabalho”, que se refere à satisfação de diferentes necessidades dos tra-balhadores no desempenho das suas tarefas, incluindo necessidades soci-ais, de aprovação, de utilização das suas capacidades, etc., envolvendo, portanto, o efeito do trabalho na satis-fação laboral, na satisfação com outras áreas da vida, na satisfação geral com a vida, na felicidade e no bem-estar subjectivo (Sirgy et al. 2001). Neste sentido, a empresa está interessada no combate a eventos stressantes, apesar de a acção da crise também se fazer sentir neste sector. Nas palavras de Hugo Costa, “é óbvio que com as re-strições que a crise criou é necessário mais imaginação e uma adaptação às novas realidades”. Nesta perspectiva, as empresas são as principais interes-sadas na caça de programas empresar-iais, para que estes eventos stressantes sejam minorados, tomando a per-spectiva de que o investimento em recursos humanos e lucro não são conceitos antagónicos. Neste mesmo sentido, Hugo Costa afirma que a gestão dos recursos humanos deveria passar por uma “política motivacion-al justa e o mais objectiva possível”. Os especialistas em recursos humanos terão, portanto, um papel fundamen-tal nesta readaptação do contexto lab-oral a uma situação de crise, tentando assim reduzir os episódios de stress e as consequências negativas cada vez mais associadas a esta.Um outro aspecto que interfere sig-nificativamente com a produtivi-dade e, portanto, com o interesse da empresa, é a condição de trabalho, dado que esta influencia a própria actividade laboral e o seu resultado. Com a instauração de um regime de crise, termos como “precariedade”, ganharam força no mercado de tra-balho, instalando uma atmosfera de

incerteza e temor no seio dos tra-balhadores. Como forma de melhorar as condições laborais, surgiu o siste-ma de prémios por mérito, os quais são um “bom exemplo de como o lucro e motivação podem andar de mãos dadas”, afirma Hugo Costa.Apesar da geral descrença na resolução dos problemas económicos e na melhoria do mercado de trabalho, várias são as empresas que deveriam ser felicitadas, uma vez que, mesmo em tempos de crise, foram capazes de planear e executar planos de reestruturação construtivos, eficazes e essenciais na delimitação da perda dos postos de trabalho. É fulcral, portanto, acreditar que as empresas, através de uma gestão optimal dos seus recursos humanos, são capazes de criar formas construtivas de combate à crise.No sentido de ultrapassar todas es-tas contrariedades, e perante a crise económica, é necessário que o in-divíduo tenha uma grande capacidade de resiliência e de serenidade, podendo promover a sua autorregulação. A ca-pacidade de identificar, precisamente, a causa dos problemas e das adversi-dades do meio, a tomada de decisão, que proporciona, muitas vezes, a força

A PSICOlOgIA DA CrISE

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De uma forma mais geral, será importante repensar e melhorar o acesso da população a uma educação mais inclusiva, de melhor qualidade, e a cuidados de saúde mental devidamente estruturados e capazes de dar

resposta às exigências das situações adversas com que a sociedade e o ser humano se vão deparando.

necessária para se poder enfrentar os contratempos e o optimismo baseado num investimento contínuo na crença de que tudo poderá melhorar, são três factores, também eles essenciais, para manter a integridade psicológica face à crise. Quando existe esta capacidade de resiliência nos indivíduos, isto é, ser-se capaz de superar os obstáculos, respondendo de forma saudável, pro-dutiva e proactiva, a gestão e trans-posição da crise constituirão uma adaptação positiva ao sistema. A saúde mental depende desta capaci-dade, devendo-se encarar o trabalho e a vida pessoal de uma forma construtiva. A crise cria sentimentos de impotência e impede-nos, muitas vezes, de pen-sar produtivamente, o que dificulta a nossa interpretação da realidade. Os indivíduos podem procurar encontrar algo de construtivo nas mudanças que estão a ocorrer mesmo que, numa pri-meira instância, seja complicado de-scobrir o lado positivo das situações, sobretudo quando estas são tão com-plicadas de entender e para as quais não parece haver “responsáveis”.É essencial salientar a importância de educar as novas gerações neste senti-do, de se tornarem sujeitos capazes de ultrapassar as suas dificuldades e com a capacidade de encontrarem formas eficazes de lidar com os problemas. Desta forma, com a finalidade de tentar prevenir que futuras gerações caiam num oceano de frustrações

fundo, será importante trabalhar a questão da gestão de expectativas de futuro. É igualmente essencial tentar não cair num exagero desmedido ao ponto de afirmar, como muitas vezes referenciado pelos nossos políticos que “os Portugueses vivem acima das possibilidades”. De uma forma mais geral, será im-portante repensar e melhorar o aces-so da população a uma educação mais inclusiva, de melhor qualidade, e a cuidados de saúde mental devi-damente estruturados e capazes de dar resposta às exigências das situ-ações adversas com que a sociedade e o ser humano se vão deparando. A psicologia deve, por isso, lutar para que o futuro não seja observado de forma temerosa e para que as expec-tativas não baixem drasticamente. Neste âmbito a resiliência é cada vez mais um recurso pessoal crucial que deve ser trabalhado e fomentado, no sentido de repensar um futuro mais promissor.

Referências:

▶ Maia, C. G. S., & Nyaradi, N. O. (2005). Outplacement: A arte de humanizar demissões. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 605-618. Retirado de http://www.aedb.br/seget/artigos05/275_OUTPLACEMENT-SEGET.pdf.

▶ Sirgy, M. J., Efraty, D., Siegel, P., & Lee, D. J. (2001). A new measure of quality of work life (QWL) based on need satisfaction and spillover theories. Social Indicators Research, 55, 241–302. doi:10.1023/A:1010986923468.

▶ Wilcox, D. L., Ault, P.H., Agee, W.K., & Cameron, G.T. (1999) Public relations: Strategies and tactics (6th ed). Boston: Allyn & Bacon

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TrAbAlhAr NO ESTrANgEIrO

O Pedro Monteiro e a Filipa rodrigues são duas pessoas muito diferentes, cada um com as suas próprias ideias e sonhos para o futuro.

Em comum têm a formação em Psicologia, em particular, do me-strado WOP-P em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos*, e o facto de estarem a trabalhar no

estrangeiro. Por isso, pedimos a estes antigos estudantes de Psicologia, para nos contarem um pouco do seu percurso formativo e profissional, ajudando-nos a compreender o que os levou a escolher trabalhar fora de Portugal e o que isso realmente significa. O Pedro Monteiro foi para Genebra (Suíça), onde se enquadrou numa equipa multidisciplinar dentro da área de formação e recur-sos humanos. Mas até chegar a este ponto do seu percurso, há uma interessante história que partilhou com a RUP. “Comecei o meu percurso na Universidade de Coimbra em 2005, quando entrei para a licenciatura em Psicologia. Sempre me interessei mais por uma abordagem aplicada da Psicologia. Foi muito importante ter tido cadeiras que davam uma visão de como os modelos psicológicos, os métodos de avaliação e intervenção podiam ser aplicados em contextos tão diferentes como o desporto, tribunais ou empresas. Penso que essa é uma mensagem que, muitas vezes, não passa para a sociedade: a Psicologia tem (já) aplicação real muito para lá dos consultórios e hospitais. As cadeiras que tive no meu terceiro ano mostraram isso e influenciaram, sem dúvida, a escolha da área de Psicologia das Organizações. Em 2008, concluída a licenciatura e já no novo quadro de Bolonha, candidatei-me e fui aceite no mestrado em Psicologia do Trabalho Organizações e Recursos Humanos Erasmus Mundus WOP-P. A minha escolha não foi difícil. Dentro da área de Psicologia das Organizações, o mestrado em Psicologia do Trabalho Organizações e Recursos Humanos Erasmus Mundus WOP-P é único no nosso país e, tanto quanto sei, ainda o é na Europa. É exigente e trabalhoso mas, ao mesmo tempo, marcado por experiências internacionais muito ricas e um ambiente de grande proximidade entre os alunos e professores – o sermos menos alunos ajuda muito, e o modelo aproxima-se muito de mestrados em países como a Holanda e Estados Unidos.

Trabalharno estrangeiro

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Texto Alice Morgado Fotografia Pedro Monteiro e Filipa rodrigues

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Ao mesmo tempo, é uma mais-val-ia para uma experiência de trabalho internacional e num ambiente glob-al – seja no conhecimento ecom-petências que te dá seja, também, na capacidade de networking, project management e team work que te dá. Foi uma experiência que me influ-enciou muito e de que me orgulho muito. O profissional que sou hoje e o percurso que vou construindo aos poucos devo-o às excelentes bas-es e experiências que este mestrado oferece.”

▶ A Filipa vive e trabalha em Ma-drid (Espanha), onde chegou e se tem mantido graças ao pro-grama Inov Contacto**. Trabalha numa empresa multinacional jovem, dinâmica e inovadora onde os desa-fios são constantes e, mais do que Psicóloga, vê-se como Profissional de Recursos Humanos.

A Filipa vive e trabalha em Madrid (Espanha), onde chegou e se tem mantido

graças ao programa Inov Contacto**.

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O seu percurso académico, e à se-melhança do Pedro, teve lugar na Faculdade de Psicologia e de Ciên-cias da Educação da Universidade de Coimbra, a sua primeira opção, que considera ter sido, não apenas uma base de preparação para a vida profissional, mas sobretudo uma es-colha muito importante para o seu crescimento pessoal: “foram 5 anos que recordo com muita saudade e que passaram muito rápido, foram tempos vividos com muita inten-sidade, por vezes com alguns mo-mentos difíceis, mas sempre repletos de aprendizagens a vários níveis e vividos ao lado de grandes amigos. É difícil de descrever, só posso dizer que me sinto orgulhosa por ter estudado e feito parte da FPCE da Universi-dade de Coimbra e acho que é uma experiência sem comparação, que deixa uma marca profunda no nos-so percurso pessoal e profissional”. Quando chegou a altura de escolher o mestrado, a Filipa optou por aquele

que também assegura ser o melhor mestrado em Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Hu-manos a nível europeu no que con-cerne à qualidade e exigência do pro-grama: “escolhi-o porque era o que tinha o melhor programa curricular e que conciliava o desenvolvimento de competências de investigação com competências profissionais. Por outro lado, este mestrado podia fazer toda a diferença no meu currículo e futuro profissional, pois ao tratar-se de um

mestrado europeu estou convenci-da de que mais tarde podia dar-me mais visibilidade no mercado de trabalho e abrir-me mais portas”.A vertente internacional do pograma e a possibilidade de estudar noutras universidades fora do país foram fac-tores decisivos na sua decisão em se candidatar, dado que “um currícu-lo internacional é muito valorizado no mercado de trabalho e tem mais visibilidade”. Deste modo, findos os cinco anos de formação em Psicolo-gia, a Filipa pode obter um duplo di-ploma da Universidade de Coimbra e da Universidade de Valencia, na qual estudou durante um semestre. De facto, a ex-estudante de Psico-logia reconhece que essa experiência de aprendizagem em Espanha, as-sim como o facto de ter aprendido a língua, foram decisivos para que agora esteja a trabalhar em Madrid. Sem dúvida, considera que uma das grandes mais valias do mestrado foi a interacção internacional, a promoção

(...) uma das grandes mais valias do mestrado foi a interacção internacional, a promoção da mobilidade e de intercâmbio de aprendizagens de alunos e de professores reconhecidos da área originários de diversos países (...)

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de diferentes países. Podemos estudar muito sobre o que é a gestão de diver-sidade, mas não é muito melhor apren-dermos no dia-a-dia a trabalhar com ela? Ao mesmo tempo, o mestrado oferece a possibilidade de um terceiro período de mobilidade (opcional). No meu caso, estudei nos Estados Unidos, na Universidade de Portland, e, ainda hoje, sinto que foi das experiências que mais me ajuda a trabalhar num contexto internacional”. Acrescenta ainda que, mesmo não tendo assu-mido a posição de psicólogo, a sua for-mação em Psicologia tem muito peso no modo como trabalha: “em jeito de caricatura, Maslow (e outros tantos) têm lugar nas empresas e nas conver-sas que tenho com colegas”.

O percurso profissional do Pedro começa com o estágio curricular na Capgemini, seguido de um segundo estágio em recrutamento e selecção na Michael Page. Depois disso, para o Pedro a mudança para a Suíça, “um dos países europeus onde encontro uma maior diversidade cultural e uma das economias mais dinâmicas, foi um passo natural”, já que, após a

da mobilidade e de intercâmbio de aprendizagens de alunos e de profes-sores reconhecidos da área originários de diversos países: “estas interacções preparam-nos para ambientes de tra-balho internacionais, como acontece com as empresas multinacionais. O mestrado ajudou-me a preparar-me para o trabalho com equipas virtuais, é muito mais difícil de trabalhar com equipas virtuais e de geri-las do que em equipas em que estamos a tra-balhar lado a lado com as pessoas”. Para além disso, destacou o desen-volvimento de competências pessoais e profissionais (como resiliência, trabalho em equipa, etc.), a possibi-lidade de aprender com professores reconhecidos internacionalmente da área da Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Hu-manos, a aquisição de conhecimentos teóricos a que hoje em dia recorre no seu local de trabalho, como grandes vantagens da formação que obteve.

▶ Relativamente às mais-valias desta formação, o Pedro também destacou a possibilidade de contactar e conhecer as diferentes práticas de Recursos Hu-manos nos vários países e conhecer as diferenças culturais entre eles: “sabermos trabalhar com elas, e po-tenciá-las, é o maior desafio que po-demos encontrar em empresas multi-nacionais hoje em dia. É algo que os meus colegas de trabalho sempre me dizem e que, no dia-a-dia, compro-vo. O mestrado deu-me essas bases através de várias experiências inter-nacionais - todas elas, muito estru-turadas. Por exemplo, no mestrado temos sempre dois períodos de estu-do e trabalho em duas universidades do consórcio e, desta forma, uma vez concluído o mestrado temos um di-ploma duplo que reconhece as nossas competências e formação. Mas mais importante é que, em ambas as uni-versidades, estudamos e conduzimos projectos de equipa com colegas de

conclusão do mestrado e das ex-periências que este lhe proporcio-nou, percebeu que o que mais o entusiasma e motiva é “ trabalhar num ambiente extremamente inter-nacional”. Sobre as diferenças entre o trabalho em Portugal e na Suíça, Pedro considera que “ao contrário de Portugal, a diferença é que a Psi-cologia, os seus modelos e métodos, nas organizações internacionais é as-sumida com grande naturalidade (da Psicologia e doutras áreas do conhe-cimento). Não há fronteiras rígidas.” No caso da Filipa, o percurso profissional em Portugal consistiu em dois estágios realizados ainda como estudante: “ambas as experiên-cias de estágio que tive foram curtas

(...) trabalhar num ambiente extremamente internacional”. Sobre as diferenças entre o trabalho em Portugal e a Suíça, Pedro considera que “ao contrário de Portugal, a diferença é que a Psicologia, os seus modelos e métodos, nas organizações internacionais é assumida com grande naturalidade (da Psicologia e doutras áreas do conhecimento). Não há fronteiras rígidas.

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e bastante especializadas numa ou duas áreas centrais, principalmente recrutamento e formação”. A ex-es-tudante acrescentou que, todavia, “nunca tinha trabalhado numa em-presa multinacional que era o que eu queria, uma empresa multinacional é muito mais dinâmica e aprende-se a um ritmo mais acelerado, há sem-pre novos projectos”. De facto, considera que a nível de empresas multinacionais, Portugal não tem tantas oportunidades de progressão de carreira como outros países: “por exemplo, numa empresa multinacional que tenha filiais em Portugal e em Espanha, normalmente há sempre mais empregados e mais cargos de maior responsabilidade em

Espanha, da mesma forma há funções desempenhadas em Espanha nessas mesmas multinacionais que não estão representadas em Portugal”. De facto, foi salientado o valor que uma experiência de trabalho noutro país pode ter para as empresas: “é quase um ritual de passagem para poder aceder a empresas multinacio-nais, o mercado de trabalho lá fora tem outro tipo de oportunidades que podem não surgir tão facilmente em Portugal”. A emigração foi sempre uma hipó-tese presente na sua mente e, talvez por já ter vivido dez anos na Ale-manha durante a infância, a Filipa não teve qualquer receio de o fazer. “Um dos principais factores pelos que

(...) a “aventura” de não saber a que país iria parar e de poder contactar e integrar-se noutra cultura foram fortes motivações para a candidatura.

”me candidatei ao programa de está-gios do INOV Contacto foi porque gostava de poder trabalhar numa empresa estrangeira, de preferên-cia multinacional”. Além disso, a “aventura” de não saber a que país iria parar e de poder contactar e in-tegrar-se noutra cultura foram fortes motivações para a candidatura. Foi precisamente por esse desejo de aventura que nos confessou que, quando soube que havia sido selecio-nada para Espanha, ficou um pouco desiludida, já que o desafio cultural não iria ser tão grande como noutros países, como a China ou Índia. Con-tudo, e após algum tempo a viver em Madrid, também reconheceu: “afinal vim parar ao país vizinho e estou a adorar, tanto que ainda continuo por aqui”. Do ponto de vista profissional, a Filipa contou-nos que, na multi-nacional onde trabalha, “há muita coisa ainda que tem de ser criada e consequentemente há muitas opor-tunidades de participar em projectos diferentes”, destacando, nesse mes-mo contexto, o contacto constante com colegas de outros países: “é uma oportunidade de aprender a tra-balhar com equipas multiculturais e de forma virtual o que constitui tam-bém um grande desafio”. Quanto ao futuro, o Pedro tem grande entusiasmo pela área de for-mação e desenvolvimento, sobretu-do de colaboradores e equipas in-ternacionais: “pensa, por exemplo, nos desafios que surgem agora nas empresas: como fazer melhor e mais formação com orçamentos menores e

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A emigração é um desafio considerável que deve ser equacionado e ponderado

como projecto de vida e ambição pessoal e nunca como uma necessidade

ou inevitabilidade.

colaboradores cada vez mais ocupa-dos? Como manter o conhecimen-to e competências nas organizações quando os colaboradores saem? Como adaptar a formação à manei-ra de aprender, trabalhar e viver de uma geração, como a minha, que tem como ponto de referência para comunicação as redes sociais? Se pensarmos bem, muito disto passa por questões como motivação, co-municação ou dinâmica de grupos – questões que, acho, são familiares para os estudantes de Psicologia des-de o primeiro ano”. Para a Filipa, no futuro, há a per-spectiva de crescer como profissional de recursos humanos, com um par-ticular interesse pelas áreas de Tal-ent Management e Compensações e Benefícios. No entanto, com uma visão bastante realista e madura, a ex-estudante partilhou o seu desejo de mais aprendizagem e formação no que concerne a cada uma das áreas da Psicologia do Trabalho das Organizações e dos Recursos Hu-manos: “a especialização numa área sempre se pode fazer mais tarde; o importante é continuar a investir em formação para o desenvolvimento contínuo na profissão”. Os antigos estudantes deixaram, ainda, alguns conselhos aos actuais estudantes de Psicologia sobre a pos-sibilidade de trabalhar no estrangeiro.

Ficou sobretudo a ideia que que tal escolha não deve nunca ser encara-da como solução de recurso. A emi-gração é um desafio considerável que deve ser equacionado e ponderado como projecto de vida e ambição pessoal e nunca como uma necessi-dade ou inevitabilidade. Para além disso, foi destacada a importância da obtenção prévia de muita infor-mação sobre o destino, assim como a criação de uma rede de apoio e con-tactos nesse mesmo destino. Pedro Monteiro: “Encorajo que o façam por vocação e não por ne-cessidade. É uma ideia simples mas importante: se fores por vocação e motivado, vês em cada obstáculo, e claro que os há, uma oportunidade; se fores desmotivado e por necessi-dade, a cada oportunidade vês um obstáculo. Este mestrado responde muito bem às dúvidas se queres, gostas e consegues trabalhar num ambiente multinacional. Só te resta fazer uma pergunta: queres saber a resposta?” Filipa Rodrigues: “Acho que pode ser muito importante ter uma experiên-cia de trabalho fora do país durante algum tempo. Para tomar essa de-cisão, é importante conhecermo-nos bem a nós próprios e reflectirmos um pouco sobre como lidamos perante determinadas dificuldades, princi-palmente quando estamos longe do

nosso grupo de apoio habitual, da família e de amigos. Não é fácil, principalmente quando se está a ini-ciar a carreira.”

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* O mestrado WOP-P em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos é o único mestrado em Psicologia apoiado pelo Programa “Erasmus Mundus”, conferindo um duplo diploma por duas das cinco Universidades europeias envolvidas no programa: Universi-dade de Valência (Espanha), Universidade de Barcelona (Espanha), Universidade René Descartes Paris 5 (França), Universidade Alma Mater Studiorum de Bolonha (Itália) e Universidade de Coimbra (Portugal). A orientação para a excelência académica e para uma perspectiva europeia caracteriza este mestrado, no qual o a mobilidade e internacionalização dos seus estudantes está bem patente não só através do desenvolvimento de estudos em diferentes Universidades (Universidades de Origem e de Acolhimento) mas também através da frequência de unidades curriculares intensivas (Winter School) com estudantes de todas as instituições parceiras.

** Iniciativa promovida pelo Ministério da Economia e do Emprego, apoiado pela União Europeia e gerido pela AICEP Portugal Global. Trata-se de um programa que visa apoiar a formação de jovens com qualificação superior em contexto internacional. O estágio no âmbito do programa INOV Contacto dura aproximadamente 6 meses e decorre em mercados de interesse estratégico para Portugal, em entidades de reconhecido interesse e mérito. As entidades acolhedoras dos estagiários podem ser empresas portuguesas com estruturas em Mercados Externos, Empresas Multinacionais e Organizações Internacionais. As empresas de destino distribuem-se por 73 países diferentes, sendo os principais países acolhe-dores Espanha (15%), Estados Unidos da América (14%), Brasil (10%), China (6%), e Reino Unido (6%).

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“Quero investigar no estrangeiro! O que tenho de fazer para isso?”

Para responder a esta questão, pedimos o testemunho de Fi-lomena Parada, a realizar in-

vestigação de pós-doutoramento no Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e So-cial da Universidade de Coimbra e no Department of Educational and Counselling Psychology and Special Education da University of British Columbia, Canadá; Vânia Gonçalves, investigadora de pós-doutoramento na área de Psicologia Clínica; Nuno Teixeira, também em pós-doutora-mento no Instituto de Psicologia – Grupo de Psicologia Experimental da Universidade Johannes Gutenberg em Mainz (Alemanha); Carla Crespo, doutoranda na área de Casal e Família da Universidade de Canterbury, No-va-Zelândia; Mariana Martins douto-randa nos Estados Unidos da Améri-ca; Carina Teixeira, doutoranda em Psicologia Clínica da FPCEUC e do Institute of Psychiatry do King’s Col-lege London. Os motivos que levaram estes in-vestigadores a “ganhar asas e aprender com peritos internacionais”, como nos disse Carla Crespo, são os mais variados: o prestígio das universi-dades e dos respectivos centros ou unidades de investigação, a pro-

jecção internacional dos seus tra-balhos, bem como as referências posi-tivas de testemunhos de colegas, são os principais motivos que fazem com que um estudante ou recém-formado de Psicologia pondere ir fazer inves-tigação no estrangeiro. Há também quem tenha tido experiências ante-riores de contacto directo com Insti-tuições de Psicologia no estrangeiro, que suscitaram interesse em trabalhar nelas, ou ainda quem vá por ter um interesse particular em ser orienta-do no mestrado, doutoramento ou pós-doutoramento por algum profes-sor ou investigador que se encontra a trabalhar no estrangeiro. O desejo de Filomena Parada em “expandir e aprofundar as minhas competências enquanto investiga-dora, ao mesmo tempo que, poten-cialmente, contribuiría para a minha afirmação e crescimento tanto a nível nacional como internacional” é tam-bém um motivo muito partilhado pelos demais investigadores. Assim, as aspirações são de melhorar o cur-riculo de investigação, aumentando, deste modo, a probabilidade de futu-ras contratações. Para alguns, investi-gar no estrangeiro é apenas uma pas-sagem construtiva e estratégica tendo em vista assegurar, posteriormente, a

carreira profissional na sua terra natal, para outros o seu destino é ir “onde o vento os levar”. Subjacente a este sentimento de alar-gar horizontes e de enriquecimento pessoal e profissional, está a curiosidade de conhecer outras culturas, outros es-tilos de vida e, mais concretamente, de viver noutro país. Praticamente todas as instituições de investigação têm formas de funcionar, pensar, formular teorias, analisar dados e intrepretar resultados diferentes das portugueses, assim como as teorias e concepções científicas priveligiadas pelas mesmas. Apesar do grande fascínio e curiosi-dade pelo estrangeiro, há quem tenha mais em conta as desvantagens de in-vestigar Psicologia em Portugal, para dar o “pulo para fora”. Foram referi-das, mais concretamente, questões relativas, não apenas ao modo como se faz investigação e se exerce em Psi-cologia, mas também relativas aos hábitos de trabalho do nosso povo. Qualquer um deste motivos e out-ros mais que possam existir são váli-dos e importa conhecê-los, de modo a orientar a pesquisa e as tomadas de decisão, da melhor maneira. É fun-damental que, antes de se lançar à aventura, se faça um levantamento

Investigar no estrangeiro

INeStIgaR No eStRaNgeIRo

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Texto Patrícia van beveren Fotografia gilberto Siva

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dos possíveis locais de investigação e nossa área de conhecimento. Uma forma de fazer essa pesquisa fácil e confortavelmente é através da in-ternet, nos sites das universidades e centros de investigação. Deste modo, podemos perceber quem são as pes-soas/equipas que trabalham em cada local, o seu modo de funcionamento, os recursos de que dispõe e os inter-esses e tópicos de investigação sobre os quais se debruçam. Podem, tam-bém, analisar-se indicadores como o número de publicações do grupo e o factor de impacto das revistas em que publicam e avaliar a posição (na-cional e internacional) da universi-dade onde as equipas trabalham. Há três maneiras de fazer investi-gação no estrangeiro: através de está-gios ou períodos de formação, com bolsas de mestrado/doutoramento/pós-doutoramento, ou por via de um contrato de trabalho. No pri-meiro caso, há que começar por se fazer uma pesquisa inicial, de modo a definir uma proposta com um tim-ing e tarefas definidas, e esclarecer o interesse pelos tópicos e/ou metodolo-gias de investigação daquela equipa/investigador, enviando essas infor-mações por e-mail, para o coorde-nador da equipa de investigação ou para um investigador individual. No caso das bolsas de mestrado/doutoramento/pós-doutoramento, contactam-se os professores/investi-gadores para saber a sua disponibili-dade como orientadores, no âmbito e condições de funcionamento das bolsas, para depois se enviar a candi-datura à bolsa. E finalmente, no caso das candidaturas a empregos, deve primeiramente conhecer-se qual o nível a que cada um se pode candidatar, o que depende da nossa experiência prévia e do que é pedido. Depois tere-mos de perceber se correspondemos ou não à descrição da oferta de emprego, segundo os critérios que são pedidos e, se sim, explicá-lo de modo convincto numa cover letter. Para qualquer um

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Um percurso de investigação inclui diversas fases nas quais os estudantes de Psicologia podem participar, por exemplo, em tarefas como a análise e manuseamento de dados e revisão de literatura. Desta forma não só ganham experiência, como têm a oportunidade de definir se o seu interesse é realmente a investigação.

destes três processos será uma mais valia falar com professores ou inves-tigadores da área em questão, pois, segundo Carla Crespo, “as dicas informais são uma fonte de infor-mação complementar e preciosa”. Um percurso de investigação inclui diversas fases nas quais os estudantes de Psicologia podem participar, por exemplo, em tarefas como a análise e manuseamento de dados e revisão de literatura. Desta forma não só ganham experiência, como têm a oportuni-dade de definir se o seu interesse é realmente a investigação. Apesar das fortes expectativas e motivos que levam alguém a tomar a decisão de sair do seu país para se aventurar no mundo da investi-gação, nem sempre tudo é um “mar de rosas”. Todos os entrevistados se depararam com algumas dificul-dades no processo de conseguir ga-rantir a sua ida e, posteriormente, na própria estadia no estrangeiro. Para começar levantam-se questões burocráticas relacionadas as bolsas, com a obtenção do visto e com o lo-cal de residência, que são processos complicados e por vezes arrastam-se durante algum tempo. A distância à terra-natal e à família, são por nor-ma os maiores obstáculos, não só na tomada de decisão de ir investigar para fora, mas também, na estadia no outro país. De qualquer modo, supera-se com facilidade, quando se tem boas redes de apoio familiar e dos amigos e graças às tecnologias de comunicação existentes (por ex-emplo, o Skype). Também a língua constitui um importante desafio: apesar de se falar maioritariamente inglês no ambiente interno dos cen-tros de Investigação, fora destes, “as mais pequenas rotinas (como ir a um café, um supermercado, um bar, a correspondência [incluíndo con-tas de electricidade e água]) podem apresentar os mais diversos desafios” refere Nuno Teixeira. E mesmo em países em que o povo domine bem o

inglês “há toda uma multiplicidade de interpretações que nos escapa e cuja sensação não se desvanece ao mesmo ritmo que se aprende a lín-gua”. No que diz respeito ao tra-balho em si, teremos de desenvolver a parte científica e técnica do nosso trabalho e adaptarmo-nos às dinâmi-cas e normas implícitas do contexto social e profissional. Cada centro de investigação tem um determinado modo de funcionar, que segue uma certa tradição de temas e privilegia algumas teorias em detrimento de outras, independentemente do par-adigma da Psicologia existente na altura. Compreender essa estrutura interna não é um processo automáti-co e aprender a agir em função dela requer algum tempo e constitui um grande desafio. Até porque, como explica Nuno Teixeira, “não é algo que possa ser verbalizado pelos co-legas – pelo contrário, é algo que se vai lendo na forma como este ou aquele artigo é lido, a relevância que lhe é atribuída, etc.”. Para isto será crucial a flexibilidade e a curiosidade de conhecer outras culturas e con-cretamente outras formas de pensar e de trabalhar, que numa primeira instância nos levaram a tomar a de-cisão de ir para fora. É igualmente importante não nos esquecermos das

nossas raízes e, deste modo, darmos o nosso contributo, da forma mais construtiva possível. Mariana Martins sublinha que “os meus períodos no estrangeiro foram indubitavelmente aqueles que me en-riqueceram mais”, sentimento este que é partilhado por todos os entrevistados. Apesar dos contratempos e das dificul-dades por que passaram, todos con-cordaram que é uma experiência de en-riquecimento, única e de grande valor. Este desafio permite, através de todas as pessoas com quem nos cruzamos, que esta experiência seja uma “constan-te fonte de oportunidades e aprendiza-gens.”, como diz Vânia Gonçalves, acrescentando que “foi uma experiên-cia fantástica quer a nível pessoal, quer a nível profissional [...] que marcou a minha vida e maneira de pensar e fazer Psicologia.” Porém, não retirando im-portância às pessoas com quem se con-tacta, há um aspecto pessoal que está na base do sucesso: a flexibilidade e a abertura a novos olhares. Alguns inves-tigadores queixaram-se da dificuldade

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Para isto será crucial a flexibilidade e a curiosidade de conhecer outras culturas e concretamente outras formas de pensar e de trabalhar, que numa primeira instância nos levaram a tomar a decisão de ir para fora. É igualmente importante não nos esquecermos das nossas raízes e, deste modo, darmos o nosso contributo, da forma mais construtiva possível.

de exporem os seus trabalhos e ideias à crítica de pessoas com formações e per-cursos tão distintos. Porém é essa mes-ma capacidade de enfrentar, aceitar e até integrar essas diferentes opiniões, que permite o desenvolvimento de com-petências profissionais e a consequente melhoria dos trabalhos realizados. Por outro lado, ao contactar com outras culturas e estilos de vida, esta experiência permite perceber que mui-tas coisas tão enraizadas no nosso país, acontecem de forma completamente diferente e, por vezes simplificada, noutro. Concretamente ao nível das instituições, Filomena Parada confes-sou que “coisas simples, relacionadas com o funcionamento quotidiano das instituições em Portugal, são muito complicadas”. Assim, alargam-se hori-zontes a diferentes realidades e modos de funcionar, realtivamente à satisfação das necessidades de quem trabalha e aos critérios de exigência expectáveis dos investigadores. Tendo em conta a multiplicidade de sítios para onde se pode ir fazer

investigação em Psicologia, é legitimo que se se questionem quais os mel-hores locais para o efeito. Neste sentido, há quem defenda que não há melhores ou piores locais para se fazer investigação em Psicologia e que o prestígio nada tem a ver com as próprias instituições, mas sim com o trabalho desenvolvido por um grupo restrito, ou que essa distinção é muito subjectiva e relativa, dependendo das pessoas com quem se contacta e que nos acolhem. Por outro lado e de um modo geral, segundo alguns investi-

gadores, a investigação em Psicolo-gia é fomentada incisivamente nos países anglo-saxónicos, em particular na América do Norte (Estados Uni-dos e Canadá), no Reino Unido e na Austrália. Também outros países têm tido grandes desenvolvimentos no domínio da Psicologia tais como a França, Suiça e orgulhosamente, também Portugal. Independentemente do local, dos motivos ou das expectativas, concluí-mos com o sábio conselho da Vânia Gonçalves: “a todos que queiram em-barcar nestas aventuras, não desistam nunca, mesmo quando ouvem não. Com persistência colhem-se sempre frutos!”.

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A abertura à multidiversidade é, na verdade, o que leva as pessoas a avançar. A sociedade actual é marcada por várias limitações e rompê-las é essencial para o desenvolvimento de cada um. Deste modo, entrevistámos duas pessoas que tiveram o privilégio de experienciar e conhecer outros horizontes, nomeadamente fora do país de origem, relatando-nos os pormenores desse desafio.

▶ Estudar (Erasmus) no Estrangeiro

Estudar fora, algo que muitos alunos anseiam e esperam poder realizar. Desta vez falámos com alguém que decidiu fazer as malas rumo a Itália e começar uma experiência nova re-pleta de desafios. Renata Campos, estudante do 3º ano de Psicologia, actualmente a es-tudar na Universidade de Bolonha (UNIBO), em Cesena, explica-nos porque decidiu candidatar-se ao programa de mobilidade Erasmus, acrescentando que sempre fora sua intenção fazê-lo no último ano de licenciatura. À medida que o tempo passava era confrontada com feed-backs muitos positivos daqueles que

já o tinham feito, o que acabou com as suas dúvidas e a incentivou a ir. No entanto esperava não ir sozinha, algo que acabou por ocorrer, e que agora garante que foi a melhor coisa que lhe poderia ter acontecido. Havia es-colhido estudar na Universidade de Bolonha, em Itália, a universidade mais antiga do mundo europeu, com uma lista de antigos alunos que inclui Nicolau Copérnico, Dante Alighieri ou Erasmo de Roterdão, e esperava ansiosa por começar essa experiência, ainda que, ao mesmo tempo hesitante, confessa. Ao en-contro de um berço de conhecimen-to ia, então, Renata Latães Campos que tentava não criar demasiadas expectativas sobre a experiência, de modo a não se decepcionar.

Chegada a Cesena, relata que a primeira impressão foi má e só pen-sava : “O que estou aqui a fazer?”. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a acolhê-la e defende nunca se ter sentido posta de par-te pelos italianos. De facto, expli-cou-nos que “a palavra charme que temos por hábito usar para descre-ver os italianos, eu substitui-la-ia por simpatia. Para além disto, pelo que me apercebi os jovens italianos são muito perfeccionistas, principal-mente a cozinhar. Preferem dedicar duas horas do seu tempo a cozinhar a ir à secção dos congelados ou da comida pré-cozinhada. Os almoços são sempre pasta, sempre!”. Con-fessando que o dia-a-dia de Cesena é muito diferente do de Coimbra,

Formação sem fronteiras: Aprender e ensinar no estrangeiro

FOrMAçãO SEM FrONTEIrAS: APrENDEr E ENSINAr NO ESTrANgEIrO

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Texto Mariana Mendes Fotografia Vanessa Alves

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sua Universidade de origem, explica a diferença que é acordar todos os dias rodeada de pessoas de várias partes do mundo em que, no seu caso, a única coisa que partilham é o conhecimento da língua italiana. Convicta da disparidade de men-talidades e costumes, remete para o facto de que “quando estamos num país diferente, em que se fala uma língua diferente as coisas são vistas duma perspectiva diversa”. Para além do modo de pensar, também os seus hábitos e costumes seriam substituí-dos por outros que, agora, parecem mais adequadas a certos contextos. Defende ainda que um país diferente, com pessoas novas e uma língua nun-ca antes falada pode ser um grande ar-ranque para uma enorme mudança, a todos os níveis. “Cesena é uma cidade pequena que encanta pela sua sim-patia” diz Renata ao perguntarmos como é esta cidade italiana da região de Emilia-Romagna, que contém cer-ca de 93.006 habitantes. Em relação ao estudo propriamente dito da Psicologia na Universidade de Bolonha, Renata admite que o ensino é bastante semelhante ao da Faculdade de Psicologia e de Ciên-cias da Educação da Universidade de Coimbra, especificando que o curso é muito alicerçado em teoria e que o papel do professor universitário é apenas leccionar, sem haver grande conectividade em termos de relações proximais com os alunos. No en-tanto, a Universidade de Bolonha disponibiliza várias ofertas aos seus alunos como workshops, conferên-cias, ofertas especiais de viagens para estudantes Erasmus e excelente serviço de apoio a estudantes. A aluna defende que as aulas são bastante se-melhantes às leccionadas na universi-dade de origem, excepto o facto de o terceiro ano ter apenas aulas teóricas, sendo que as aulas são todas dadas em italiano. As unidades curriculares também são muito similares, sendo muito direccionadas para a Psicologia

em si, contando com: Psicopatologia Differenziale, Teorie e Tecniche della Psicologia Clinica, Pschiatria, entre muitas outras. Apesar de inicialmente ter planeado um semestre de experiência noutra cidade, noutra universidade, noutro país, Renata decidiu ficar mais tem-po e a explicação que dá para esse pedido e decisão foi “porque estava a adorar Itália, as pessoas, a minha casa e senti que se voltasse para Por-tugal no segundo semestre estava a deixar esta experiência a meio”. No início desta viagem, a estudante de Coimbra não sabia expressar-se em italiano, vendo de modo difícil uma comunicação com alguém, ou mes-mo o estabelecimento de relações. O não conhecimento da língua pode ser um grande entrave, mas rapida-mente aprendeu a ultrapassar essa barreira e agora apenas a família e os amigos a fazem retornar a Portu-gal. Por conseguinte, deixa aqui um apelo de uma aluna que se aventurou sozinha pelas ruas de Itália e que não estava certa, no início, do que pode-ria vir a experienciar: “Se alguém está a pensar fazer Erasmus e não tem a certeza (porque eu também não tinha) aconselho, pelo menos, a tentar. Tenho a certeza que vão adorar.”. Por fim, pedimos ainda a Renata que nos enviasse uma fo-tografia que nos descrevesse a sua ex-periência de estudar no estrangeiro e foi esta que recebemos: “Hapiness is only real when shared”

Se alguém está a pensar fazer Erasmus e não tem a certeza (porque eu também não tinha) aconselho, pelo menos, a tentar. Tenho a certeza

 

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▶ Ensinar no Estrangeiro A formação no estrangeiro é uma temática sobre a qual os alunos, em geral, não têm muita informação e conhecimento. Para nos ajudar a es-clarecer esta questão, mostrando-nos a riqueza da intercomunicação pedi-mos ajuda ao Professor Doutor Edu-ardo Santos, Professor Associado com Agregação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Uni-versidade de Coimbra, Professor Ad-junto Convidado da State University of New York, Albany, NY, USA, e Professor Imérito na Universidade de Santa Cecília, em Santos, São Paulo, Brasil. Em entrevista, começa por es-clarecer o modo como lhe surgiu esta oportunidade de leccionar fora do país de origem, que ocorreu no âmbito da colaboração com colegas estrangeiros, em termos de investi-gação. Com a participação em con-gressos internacionais, foi tendo a oportunidade de estabelecer contac-tos com professores/investigadores de outras universidades. De facto, como nos referiu, ao interagir com os colegas vão-se partilhando in-teresses, tal como a educação e a docência. Apesar de já ter leccionado em Es-panha, França e Brasil, a sua maior experiência tem sido nos EUA onde conheceu, durante um congresso, Da-vid Blustein, colega, amigo e consultor do “Projecto de Inscrição sobre De-sempregados com mais de 40 Anos”. No ano seguinte, voltou à State Uni-versity of New York (SUNY), onde é Professor Adjunto Convidado. Como explicou, é habitual nas universidades americanas a integração do professor convidado noutras actividades como reuniões, investigações e projectos, apesar de o maior contributo continu-ar a ser o ensino, sobretudo ao nível de estudos pós-graduados/doutoramen-tos. Destaca que “o contexto educativo norte-americano é muito diferente do nosso”.

Apesar de actualmente não se en-contrar a participar em qualquer ac-tividade de ensino fora do país por falta de tempo, continua a colaborar com os alunos no acompanhamento de doutoramentos de equipas de in-vestigação, promovendo discussões, reflexões e formações nesses contex-tos mais específicos. Os contactos com a SUNY mantêm-se, visto que, a partir do departamento de “Coun-selling and Educational Psychology” vai ser organizado um congresso em Outubro, na cidade de Coimbra, onde se juntarão professores e alunos, norte-americanos e portugueses da área do Aconselhamento e da Psico-logia da Educação. Relativamente a este tipo de iniciativas (realizadas frequentemente), o Professor Doutor Eduardo Santos considera que tanto congressos como aulas abertas para alunos e docentes são oportunidades bastante importantes e educativas, destacando o facto de, nos países por onde esteve, ter presenciado sempre uma grande adesão a este tipo de ini-ciativas. Salientou ainda que, quando há uma pessoa de outro país a dar uma palestra ou aula aberta, não são apenas os alunos que compare-cem, mas também os próprios pro-fessores que participam de forma activa. Este facto reflecte uma cul-tura académica bastante diferente.

Em Portugal existe, segundo o Professor Doutor Eduardo Santos, uma separação entre professor/aluno ainda bastante marcada. Apesar de terem naturalmente estatutos difer-entes, no exterior há uma conectivi-dade muito maior entre professores e alunos, tanto nos EUA como no Brasil. Há mais abertura e proximi-dade. E isso nota-se quando são con-vidados professores estrangeiros para palestras em Portugal e os outros do-centes não aparecem, e muitas vezes poucos são os alunos que o fazem. Não sendo uma aula formal, há pou-ca adesão, fruto de “uma pedagogia formal que Bolonha não mudou. Houve um enquadramento legal e académico mas não pedagógico”. Quando questionado sobre outras diferenças relevantes entre o contex-to ensino-aprendizagem português e norte-americano, responde: “são cul-turas e contextos educativos diferentes, mas de facto pratica-se uma pedagogia muito mais crítica no estrangeiro”. Do seu ponto de vista, no es-trangeiro as pessoas têm maior experiência de liberdade de pens-amento, sendo que nós, portu-gueses, agimos e pensamos de um modo mais limitado. As univer-sidades portuguesas são conser-vadoras e tradicionais. Defende que Bolonha também não mudou a

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pedagogia do copy paste. Enquan-to cá os docentes lêem os artigos, levando-os para a aula e pedindo o reverso do processo aos alunos, lá fora um professor é efectivamente um investigador e é essa experiên-cia que partilha na sala de aula. “Não se pode pensar num professor norte-americano como não investi-gador”, sendo portanto as suas aulas direccionadas para a sua prática de investigação. Este facto conduz a uma pedagogia bastante mais críti-ca, pois coloca os alunos a pensar, a levantar problemas, a ler autores de referência, bem como trabalhos dos seus próprios professores. Mas aponta que “pensar livremente não é carregar num botão, temos de fazer uma aprendizagem que tem mui-to a ver com a própria história dos países e também com as situações estruturais”. Além disso, o nosso en-trevistado especificou que o estatu-to do docente português, a carga de trabalho, o número de horas de aula

e a responsabilização de orientações de teses acabam por não permitir um investimento total ao nível da inves-tigação e publicação. Também a situ-ação financeira não ajuda, pois apesar de nos outros países também haver cortes orçamentais, os cortes na edu-cação e na ciência não são tão grandes como em Portugal. Outra grande diferença ocorre ao nível da responsabilização do aluno. O aluno americano ou mesmo o brasile-iro responsabiliza-se mais no processo de construção do seu currículo e a sua formação possibilita o contacto com outras disciplinas diferentes das que se centram no seu curso académico. Para o Professor a interdisciplinaridade é bastante importante, mas o ensino português “afunila”, acabando por se centrar apenas no núcleo da área que o aluno escolheu, sendo necessária mais abertura e exploração. Esclarece ainda que apesar de haver, nos países supramencionados, uma maior responsabilização do aluno, não há uma

desresponsabilização do profes-sor. Relativamente ao processo de doutoramento, a título ilustrativo, o Professor Doutor Eduardo San-tos considera que o modo como os doutoramentos são defendidos na Universidade de Coimbra (na sala dos capelos com o ritual adju-vante), apesar de tornar bastante interessante o acto como momen-to final que preconiza, deveria ser adaptado à realidade de hoje. Em contrapartida, no estrangeiro um

(...) tendo experienciado a saída de alunos da sala de aula antes do término da mesma, atitude não experimentada fora do contexto nacional. De facto, é raro ver um aluno numa sala norte-americana sair antes de a aula acabar”.

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doutoramento tem uma parte cur-ricular, uma de investigação e ainda de campo. A tese é discutida de um modo muito mais informal, culmi-nando com a atribuição de uma nota final de acordo com todos os parâmet-ros acima descritos. Outro aspecto que difere bastante entre a realidade nacional e interna-cional é a pontualidade: “já tendo ex-perienciado a saída de alunos da sala de aula antes do término da mesma, atitude não experimentada fora do contexto nacional. De facto, é raro ver um aluno numa sala norte-ameri-cana sair antes de a aula acabar”. Por outro lado, há certos aspectos que são semelhantes em todos os lo-cais por onde passou e um deles é a formalidade no ensino universitário, considerada a necessária pelo Profes-sor. O carácter positivo da experiência de docência no estrangeiro fica bem claro pelo testemunho do professor. De lamentar, contudo, que não haja apoio financeiro suficiente, pois a mobilidade tem custos e as bolsas não cobrem tudo. A título de exemplo, referiu que, embora o incentivo para que os docentes publiquem fora país seja grande, o apoio que lhes é dado é pouco. Para além disso, quando os docentes se deslocam para actividades no exterior, têm de faltar às aulas e acabam por ser penalizados pela rigi-dez do sistema: quando regressam têm de repor as aulas, originando uma sobrecarga de trabalho, explica. O sistema português ainda está cen-trado na ideia de que “quando o pro-fessor não está numa sala de aula não está a ensinar, e nem sempre é assim, mas nós ainda entendemos a univer-sidade como uma casa com telhado e umas janelas e eu acho que há outras maneiras de interagir”. O Professor Doutor Eduardo Santos defende ain-da uma gestão mais flexível, não de um modo empresarial como tem sido feita, visto que a Universidade tem uma especificidade enquanto orga-

nização que deveria levar a modelos de gestão diferentes: “Fala-se muito em mobilidade e internalização mas depois os obstáculos são sempre difí-ceis”. Por exemplo, o tempo moroso da negociação e formalização de uma mobilidade muitas vezes leva as pes-soas a desistir da mesma. Há barreiras e estas acabam por limitar a mente. Mesmo sem estatísticas, aponta que “são poucos os docentes que acabam por decidir leccionar fora”, apesar de vários programas de mobilidade para docentes. Em suma, a ciência e a in-ovação são necessárias e, no ponto de vista do Professor, devia-se investir mais, embora actualmente assistamos a investimentos cada vez menores. Neste sentido, e com 31 anos de docência, o Professor Doutor Edu-ardo Santos defende que o grande desafio é a abertura à opinião críti-ca dos outros, trabalhar sem rede, sem defesas. Enquanto numa aula a pessoa está mais segura para falar com os alunos, num congresso não há muito tempo para a defesa, há um confronto de ideias, uma fase exploratória entre metodologias, pensamentos, culturas e “é daí que nascem parcerias, muitas vezes in-ternacionais, e isso é bastante impor-tante”. Acrescentou, ainda que “se

ficarmos sempre na torre de marfim não vamos a lado nenhum. Esta-belecer redes de cooperação é fonte de segurança e desenvolvimento”. Quando lhe é perguntado se seria o mesmo, caso não tivesse experiencia-do este tipo de actividades, responde redondamente que não, reforçando a sua inconformidade ao referir que parar os investimentos na ciência empobrecerá o país: “gastar dinheiro em ciência não é despesa, é investi-mento”. E em jeito de conclusão, há que referir a posição do Professor rela-tiva ao facto de a importância das relações internacionais não se aplicar apenas aos docentes, mas aos alunos também. Incentivando este tipo de experiências aos mais novos, refere que “o mundo é globalizado, pelo que não fiquem presos aos limites que vos são impostos, enriquecen-do assim as vossas vidas pessoais e formações”.

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“A felicidade não é algo que acontece às pessoas, mas algo que elas fazem acontecer” Csikszentmihalyi (1999, p.824). Que ideia tens relativamente ao que pensas ser a Psicologia? Qual tem vindo a ser, na tua opinião, a sua verdadeira função? Nos dias de hoje, quando pensamos em Psicologia, a primeira ideia que nos surge é a de que esta é uma ciência que se ocupa de estudar as patologias ou as doenças mentais do ser humano. um saber que se inteira dos aspectos negativos e deficitários da mente humana, marcada por uma vertente inegavelmente negativista. Mas será esta a única função da Psicologia? Será apenas o despiste e tratamento das patologias mentais? Não haverá igualmente uma vertente mais positiva nesta ciência?

A Psicologia positiva: Um olhar positivo, optimista e preventivo

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Texto Carolina Pascoal Fotografia Diogo Saldanha e Vanessa Alves

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De facto, e na situação actu-al de crise em que vivemos, é compreensível que os as-

pectos negativos se sobreponham, muitas vezes, às emoções positivas! Diariamente somos confrontados com desafios e responsabilidades so-cioeconómicas que nos afundam em estados depressivos e de stress que por vezes parecem praticamente crónicos, e quando procuramos acompanhamen-to psicológico esperamos uma solução milagrosa e instantânea para a angús-tia advinda. Esquecemos, no entanto, que “chorar sobre leite derramado” não é a melhor solução para problema algum. Se aprendermos desde cedo a desenvolver os meios necessários para promover o nosso próprio bem-estar e felicidade, poderemos enfrentar as situ-ações com outros olhos. Olhos, esses, optimistas, positivos e preventivos e que são o cerne da Psicologia Positiva. É neste contexto, e para dar resposta a estas questões, que surge a Psicologia Positiva. Um olhar, como o próprio nome indica, positivo, optimista e pre-ventivo, de contraste com as tendências que olham a Psicologia através de uma perspectiva centrada na doença, enca-rando a disciplina como “remédio para todos os males”. De facto, nas palavras de um dos “pais” da Psicologia Posi-tiva, Martin Seligman, “a Psicologia não trata apenas da cura para a doença mental, é também acerca da realização e identificação da excelência humana” (2002 in Froh, 2006). De forma breve, podemos afirmar que a Psicologia Positiva é uma sub-disciplina da Psicologia que tem vin-do a ganhar e despertar interesse nos últimos anos dentro das ciências soci-ais e em estudos na área do compor-tamento. Nos seus alicerces teóri-cos encontram-se conceitos como a felicidade, o bem-estar e outras emoções positivas, sendo abordados sobretudo os seus benefícios formas de os desenvolver. Quando se estuda a história desta correrente, diferentes períodos históri-

cos são mencionados. Compton (2005), por exemplo, ao mencionar a evolução do estudo do bem-estar no mundo ocidental, inicia a sua re-flexão em torno da cultura hebraica, passando por quase todos os perío-dos fulcrais da história ocidental (Grécia antiga, início do cristianis-mo, idade média, renascimento, ro-mantismo, século XIX e século XX). Gable e Haidt (2005), por sua vez, consideram que a Psicologia Positi-va remonta aos escritos de William James acerca de uma “mentalidade positiva”, referindo, igualmente, o interesse de Allport pelas característi-cas humanas positivas, a proposta de Maslow acerca do estudo de in-divíduos saudáveis em vez do estudo de indivíduos doentes, e a pesquisa de Cowan sobre a resiliência em cri-anças e adolescentes. No entanto, e de uma forma geral, há um consenso de que a Psicologia Positiva, surgida no séc. XX e com raízes de Psicologia Humanista, foi criada no intuito de romper um viés negativo em torno do desen-volvimento humano. Independente-mente do período histórico em que situemos o inicio informal desta dis-ciplina, é em 1998, que a Psicologia Positiva começa a estabelecer-se mais formalmente, pelas mãos de Martim Seligman, quando este presenteou a American Psychological Associa-tion com um discurso empreende-dor relativo à disciplina. Alertava e demonstrava através da investigação científica que é fundamental estudar e conhecer as forças e virtudes hu-manas, e o que contribui para que as pessoas se sintam felizes. Assim, o funcionamento saudável e adap-tativo do ser humano é apontado como principal objecto de estudo da Psicologia Positiva, que se interes-sa pelas experiências positivas, tais como o bem-estar, a resiliência, o optimismo, a esperança e a empatia. Isto sem, no entanto, ignorar uma vertente inegavelmente negativista

que marca a Psicologia tal como a conhecemos e a efectiva importância de estudar e compreender as per-turbações mentais e os factores de risco. “Como efeito secundário do estudo dos traços humanos positi-vos, a ciência aprenderá como lutar e prevenir perturbações mentais e físicas. Como consequência prin-cipal, os psicólogos irão aprender a construir as qualidades que auxiliam os indivíduos e as comunidades, não apenas a aguentar e sobreviver, mas também a florescer” (Seligman, & Csiksentmihaly, 2000, p. 13).

“(...) é em 1998, que a Psicologia Positiva começa a estabelecer-se mais formalmente, pelas mãos de Martim Seligman, quando este presenteou a American Psychological Association com um discurso empreendedor relativo à disciplina.

▶ Conceitos Básicos Um conceito central para a Psi-cologia Positiva é o bem-estar, construto que engloba dois conceitos: bem-estar psicológico e bem-estar subjectivo. Ao contrário do bem-es-tar psicológico, centrado nos actos do indivíduo, o bem-estar subjecti-vo contempla componentes de cariz cognitivo e afectivo. É não mais que uma reacção avaliativa levada a cabo pelas pessoas relativamente à sua própria vida em termos de satisfação com a mesma (avaliação cognitiva) e com os aspectos afectivos envolvidos (reacções emocionais e afectivas es-táveis). O bem-estar subjectivo é um conceito recente, que tem suscitado crescente interesse na Psicologia e que tem vindo igualmente a reforçar a sua identidade. Encontra-se, ainda, rela-cionado com dois outros importantes conceitos: a felicidade e a satisfação.

A PSICOlOgIA POSITIVA: uM OlhAr POSITIVO, OPTIMISTA E PrEVENTIVO

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Desde a Grécia Antiga que as re-flexões teóricas em torno da felici-dade e da satisfação têm progredido relativamente pouco. Durante muito tempo os psicólogos menosprezaram estes conceitos, provavelmente por se considerarem de aspectos pou-co apreensíveis empiricamente, e porque a terapia, mais do que a pro-filaxia, surgia no centro das atenções (o remediar e não o prevenir, por-tanto!). No entanto, a felicidade e a satisfação são questões positivas fun-damentais, bastante individualizadas e diferenciadas. Assim, o conceito de felicidade inclui estados de felicidade passados e futuros e que englobam prazeres e gratificações. Ser ou não ser feliz é algo fundamental na vida das pessoas, nas famílias, nos em-pregos e em qualquer outra manifes-tação sociocultural. Poderá, mesmo, dizer-se que a busca da felicidade constituiu o grande objectivo da ex-istência. Já no que concerne ao con-ceito de satisfação, este diz respeito a uma visão de julgamento global acerca de como o sujeito considera e aceita a sua vida. Há ainda que referir duas noções basilares da Psicologia Positiva, que foram propostas por Seligman: vir-tudes e forças. Na óptica do autor, vir-tudes representam “as características nucleares endossadas por quase todas as tradições religiosas e filosóficas, e, reunidas, elas apreendem a noção de bom carácter ” (Seligman, 2008, p. 172). Podem ser identificadas as seguintes seis virtudes: a sabedoria e conhecimento, coragem, amor e hu-manidades, justiça, temperança, e es-piritualidade e transcendência.

As forças, por sua vez, dizem respeito às forças do nosso carácter que nos permitem alcançar as virtudes. As-sim, para cada uma das virtudes, ex-iste um dado número de forças:

••SABEDORIA E CONhECIMENTO

▶ Curiosidade pelo mundo▶ Amor à aprendizagem▶ Julgamento crítico▶ Empenho e perspectiva▶ Inteligência social

CORAgEM

▶ Valor e bravura▶ Perseverança▶ Integridade

AMORE hUMANIDADE

▶ bondade▶ generosidade▶ Amar-se e deixar amar

jUSTIçA

▶ Cidadania▶ Equidade▶ liderança

TEMPERANçA

▶ Auto-controlo▶ Prudência▶ humildade

TRANSCENDêNCIA E ESPIRITUAlIDADE

▶ Apreciação da beleza e excelência▶ gratidão e esperança▶ Sentido de propósito▶ Perdão e misericórdia▶ bom humor e prazer/entusiasmo

Os resultados de diversas investi-gações têm sugerido que as forças de carácter, ao serem utilizadas, podem contribuir para um sentimento global de felicidade e bem-estar das pes-soas. De facto, as forças de carácter contribuem para a realização de uma vida que é percebida como boa para o próprio e para os outros. Nesta óptica, e porque as forças humanas desempenham um papel impor-tante no modo como a pessoa lida com situações adversas, a Psicologia Positiva interessa-se, sobretudo, pelo modo como as forças podem pro-mover a optimização de todo o po-tencial humano da pessoa.

OPOrTuNIDADES E DESAFIOS

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As pessoas felizes e infelizes lidam de maneiras diferentes com a escolha,

tomada de decisão e rejeição.

▶ Serão as pessoas felizes? Grande parte das investigações a este respeito aponta para que as maioria das pessoas afirma ser feliz. Hipóteses há, defendendo até que a felicidade pode ser genética! Podemos mesmo nascer providos de um nível base de felicidade que varia ao longo dos vários contextos e situações, mas que acaba por retornar ao seu estado inicial. Podemos também dizer que a felicidade não tem na sua razão de ser motivos demográficos e de rique-za, mas está sim associada a senti-mentos de auto-estima, sensação de controlo sobre a vida, optimismo, extroversão e saúde. Vários estudos mostram como as pessoas felizes diferem das infelizes em muitas maneiras. As pessoas fe-lizes e infelizes lidam de maneiras diferentes com a escolha, tomada de decisão e rejeição.

A Psicologia Positiva surge, então, como uma vertente relativamente recente da Psicologia que, a pouco e pouco, vai despertando crescente interesse na sociedade e conquistan-do o seu próprio terreno na inves-tigação. Esta temática abrange uma complexa filosofia que se interessa pela vertente positiva dos aconteci-mentos, dos traços, da qualidade de vida. A Psicologia dos últimos 50 anos tem-se focado no estudo das pa-tologias: transtornos foram desco-bertos, diagnosticados e tratados, laboratórios, instrumentos de me-didas e avaliação confiáveis foram

desenvolvidos e aprimorados. Esses estudos devem continuar a contribuir para o avanço científico da Psicologia. Todavia, é necessário reunir os mes-mos esforços para o estudo do outro lado do funcionamento humano - o positivo! A ciência precisa também de aprender a proteger e prevenir. Para esses fins, a Psicologia Positiva pretende trazer a compreensão das virtudes, forças pessoais, habilidades promovidas nos contextos de resiliên-cia. Trata-se de averiguar o papel das experiências positivas, e de delinear a função das relações positivas com os outros. “A Psicologia Positiva é sim-plesmente Psicologia” (Sheldon, & King, 2001, p. 216).

Referências:

▶ Compton, W. (2005). Introduction to positive psychology. Belmont: Thomson-Wadsworth.▶ Csikszentmihalyi, M. (1999). If we are so rich, why aren't we happy? American Psychology , 54 (10), 821-827.▶ Froh, J. (2006). Positive psychology in practice: book review. Newspaper of the National Association of School Psychologists , 32.▶ Gable, S., & Haidt, J. (2005). What (and why) is positive psychology? Review of General Psychology , 9 (2), 103-110.▶ Seligman, M. (1998). Positive social science. The APA Monitor Online , 29 (4).▶ Seligman, M. (2008). Felicidade autêntica: Os princípios da psicologia positiva. Cascais: Pergaminho.▶ Seligman, M., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: An introduction. American Psychologist , 55 (1), 5-14.▶ Sheldon, K., & King, L. (2001). Why positive psychology is necessary. American Psychologist , 56 (3), 216-217.

A PSICOlOgIA POSITIVA: uM OlhAr POSITIVO, OPTIMISTA E PrEVENTIVO

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E porque todos queremos fugir ou lutar contra a crise, este período surge assim revigorado de oportuni-dades e desafios urgentes. Começa-se a contestar a funcionalidade da luta individual e aposta-se na luta colectiva, impulsionadora de objec-tivos globais e de cooperação euro-peia e mundial mais estreita. Mais expansão. Maior crescimento. Uma Europa sem fronteiras. E são exactamente a partilha e a qualidade as apostas do Projecto Eu-ropeu para o Ensino e Aprendizagem da Psicologia (European Network for Psychology Learning and Teaching – EUROPLAT) que surge, em Out-ubro de 2009, ciente do/no contexto internacional e necessidades actuais. Para nos guiar na exploração deste projecto inovador e com relevo no contexto social actual, em geral, e na Psicologia, em especial, pedimos a colaboração do Professor Dou-tor Frederico Marques, professor catedrático na Faculdade de Psicolo-gia e de Ciências da Educação da Uni-versidade de Lisboa, representante da Universidade de Lisboa como membro efectivo da EUROPLAT;

Rede europeia para o ensino e aprendizagem da psicologia (EUROPLAT)

Miséria & Desastre: uma miséria desastrosa ou um desastre miserável? Partilha & Qualidade: uma partilha de qualidade ou uma qualidade partilhada?

A sociedade actual enfrenta um período de instabilidade marcada e de incerteza acen-

tuada, face à grave crise económica vigente. Escasso poder económi-co. Bem-estar pessoal e interpessoal diminuto. Competitividade individual desenfreada. Descrédito político. Di-ficuldades pessoais, familiares e or-ganizacionais variadas. Desesperança social. Qualidade de vida em risco. Crise. Crise. Crise. A palavra de teóri-cos. A realidade do povo. Felizmente esse povo é fruto de uma evolução inteligente, capaz de manter os seus mecanismos mais básicos de sobrevivência e adaptação, as suas ar-mas vitais. Foram audazes os nossos antepassados como foi resistente o nosso funcionamento cerebral. Fu-gir, lutar ou congelar? Respostas tão simples, mas ao mesmo tempo tão sofisticadas pela sua funcionalidade. Fugimos da crise. Lutamos contra ela. Voltamos a fugir. Não importa, o que interessa é que não paramos. E por isso mesmo, os desastres e crises são sempre momentos difíceis mas tam-bém activadores cognitiva, emocional e comportamentalmente.

e da Professora Doutora Ana Cris-tina Almeida, professora auxiliar na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Univer-sidade de Coimbra, representante da Universidade de Coimbra como membro associado da EUROPLAT; que, gentilmente, nos concederam entrevistas e material de pesquisa.

E são exactamente a partilha e a qualidade as apostas do Projecto Europeu para o Ensino e Aprendizagem da Psicologia (European Network for Psychology learning and Teaching – EUROPlAT) que surge, em Outubro de 2009, ciente do/no contexto internacional e necessidades actuais.

OPOrTuNIDADES E DESAFIOS

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Texto Ana rita Martins Fotografia Diogo Saldanha

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De viva voz, a RUP teve a opor-tunidade de ouvir factos, projectos, propostas, inquietações e desafios de quem denota um marcado in-teresse na reflexão, investigação e desenvolvimento de um ensino e aprendizagem de qualidade da Psi-cologia. Posto isto, o Programa de Apren-dizagem ao Longo da Vida da Comissão Europeia, em Outubro de 2009, financiou o projecto da rede EUROPLAT, constituindo-se, assim, o grupo inicial, coordenado pela Universidade de York, UK, rep-resentada pela Professora Doutora Annie Trapp, no qual Portugal fi-cou representado pela Universidade de Lisboa, ao cuidado do Professor Doutor Frederico Marques. O pro-jecto teve, portanto, início nesse ano e terminará em Setembro de 2012, sendo constituído por membros de todos os países da União Europeia, perfazendo um total de 32 membros efectivos de 31 países. Tal como definido no projecto “Start up/Action Plan” de Novembro de 2009, divulgado no site oficial da EUROPLAT (www.europlat.org), a estrutura de trabalho na rede en-contra-se dividida em seis subgrupos principais de trabalho, cada um da responsabilidade de um dos membros efectivos. São eles: “Project Manage-ment”, liderado pela Universidade de York, UK; “Quality Assurance”, da responsabilidade da Universidade de Aston, UK; “Valorisation and dis-semination”, da responsabilidade da Middle East Technical University, Turquia; “Development of regional hub and spoke”, da Universidade de Salzburg, Áustria; “Development of Analysis and Research”, da Universi-dade de Lisboa, Portugal; e, por úl-timo, “Explotation of Europlat”, lid-erada pela Universidade de Linnaeus, Suécia. Perante esta forma de trabalho es-truturado, cooperativo e dinâmico, produzem-se diversos “outputs” com

Ambos consideram que as questões de ensino e de aprendizagem em Psicologia não têm sido prioritárias no campo da investigação nem da intervenção, estando a Psicologia muito mais orientada para outros temas como a clínica, educação, trabalho, entre outros. É por este motivo que consideram essencial a existência de reuniões de reflexão e debate direccionadas também para a temática da formação em Psicologia.

pertinência para o ensino e apren-dizagem. Assim, ao nível de pro-dutos, a EUROPLAT foca-se em três tipos de actividades principais. Em primeiro lugar, centra-se em ac-tividades de pesquisa, apresentando três relatórios de projectos de inves-tigação sobre ensino e aprendiza-gem da Psicologia, nomeadamente no âmbito da inovação do ensino (finalizado em 2011 e publicado no site oficial da rede), empregabilidade de psicólogos graduados (no prelo) e iniciativas de qualidade da formação (a finalizar no presente ano). Em se-gundo lugar, e no sentido de promover a troca e comunicação de conheci-mento, organiza conferências anuais: a primeira teve lugar em Edimburgo, Reino Unido, em 2010; a segunda em Istambul, Turquia, em 2011; e a terceira será este ano em Vílnius, Lituânia. Um outro tipo de produtos são as newsletters publicadas no site oficial da rede. Deste modo, todos os anos os membros da rede comple-tam um projecto de investigação e participam num encontro anual para discussão do progresso do projecto.

O Professor Doutor Frederico Marques adverte para o facto de estas iniciativas não se cingirem aos mem-bros da rede, pois também outras pessoas, professores, profissionais e alunos, que não façam parte da EU-ROPLAT individualmente, mas que estejam interessadas nestas temáticas da formação de psicólogos e da for-mação de ensino superior, podem propor comunicações e objectos de estudo para as reuniões. Tal como preconiza a natureza e índole deste projecto, a EUROPLAT não existe isoladamente. Existe uma constante “articulação em rede”, patente também nas ligações exter-nas que mantém com a European Federation of Psychologists’ Associ-ations (EFPA), European Federation of Psychology Teachers’ Associations (EFPTA), European Federation of Psychology Students’ Associations (EFPSA), entre outras. Para o Pro-fessor Doutor da Universidade de Lisboa, esta articulação multidimen-sional é “fundamental para que este projecto se possa tornar eventualmente

rEDE EurOPEIA PArA O ENSINO E APrENDIzAgEM DA PSICOlOgIA (EurOPlAT)

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(...) a articulação recente com a EFPSA como uma tentativa de desenvolvimento de uma comunicação mais próxima com os estudantes para que, no futuro, seja possível que alguns membros da EUROPlAT possam participar, fazer apresentações ou workshops nos encontros da EFPSA, e, concomitantemente, que os alunos europeus de Psicologia, interessados no seu ensino e aprendizagem, também possam intervir nas reuniões da rede europeia.

uma associação”, à semelhança do que já existe, por exemplo, nos Estados Unidos com a National Institute on the Teaching of Psychology (NITOP), e que possa, desta forma, formalizar e possibilitar um futuro mais sólido a esta importante reflexão sobre for-mação em Psicologia. Destaca ainda a articulação recente com a EFPSA como uma tentativa de desenvolvimento de uma comunicação mais próxima com os estudantes para que, no futuro, seja possível que alguns membros da EU-ROPLAT possam participar, fazer apre-sentações ou workshops nos encontros da EFPSA, e, concomitantemente, que os alunos europeus de Psicologia, interessados no seu ensino e apren-dizagem, também possam intervir nas reuniões da rede europeia. Neste con-texto, e a título ilustrativo, destaca-se uma das iniciativas conjuntas patroci-nada pela EUROPLAT em associação com a EFPSA – um primeiro con-curso/competição para estudantes de Psicologia sobre o que é ser psicólogo e qual o seu contributo profissional, in-titulado “Why Employ Me?”.

E porque todo o projecto é dinâmico e fruto de uma construção activa e permanente, para além da Univer-sidade de Lisboa, que está integrada como primeiro representante na rede, já aderiram à EUROPLAT, segundo os dados apontados pelo Professor Doutor Frederico Marques, como membros associados portugueses, as Faculdades de Psicologia e de Ciên-cias da Educação das Universidades do Porto e de Coimbra e também a Escola de Psicologia da Universidade do Minho que, enquanto membros associados, podem também benefi-ciar de uma ligação mais directa aos produtos da rede, para que sejam utilizados na microreflexão ao nível de cada instituição. Revelador de uma crescente preocupação europeia relativa à formação em Psicologia é o facto de já se ter efectuado um novo pedido de financiamento EURO-PLAT II para o triénio 2012-2015, com um total de 92 membros de 35 países. Perante esta realidade que é a EU-ROPLAT, o Professor da Universidade

de Lisboa afirma que o desafio prin-cipal da rede europeia é o de manter uma continuidade para esta reflexão porque esta é uma preocupação rela-tivamente nova: “Já conseguimos en-volver muitas pessoas e associações, é verdade. Contudo, os docentes de Psicologia estão mais preocupa-dos em manter as suas investigações e não tanto com este tipo reflexão, nada menos importante”. Assim, esclarece que se pretende que as in-stituições “não só beneficiem dos re-cursos da EUROPLAT mas sirvam de cadeia de transmissão desses in-teresses e possam promover, no seio das diferentes instituições que con-stituem a rede, esta reflexão e debate sobre a qualidade da formação em Psicologia”. No mesmo sentido, a Professora Ana Cristina Almeida, vê o envolvimento mais activo da co-munidade, tanto estudantil como de docentes, no sentido de tornar a in-vestigação do ensino uma matéria de investimento mais presente, como um dos principais desafios da rede.

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Dirigindo-se aos alunos especificamente, incita-os a serem “mais participativos, mais activos, a estarem

atentos aos concursos, actividades e desafios lançados na EUROPlAT e nas várias associações e instituições, a criarem um espírito de equipa,

cooperação e troca de experiências e novidades”.

Enumera ainda outros desafios im-portantes da EUROPLAT, nomea-damente a reflexão sobre a prepa-ração de alunos habilitados para desempenhar funções profissionais e responder às questões da sociedade actual, tendo acolhimento nas insti-tuições empregadoras; a actualização da formação dos professores; e a mo-bilização de uma “responsabilidade formativa” entre aluno e professor. Em síntese, promover suporte a uma formação de qualidade a alunos e pro-fessores que lhes possibilite responder de forma mais efectiva às necessidades actuais, para que, como fim último, “a profissão tenha maior prestígio”. Relativamente ao futuro do pro-jecto, o Professor Doutor Frederico Marques menciona que “está criado um embrião, o seu desenvolvimen-to depende, não só dos aspectos de financiamentos, mas essencialmente do interesse das pessoas em manter esta discussão”. Acrescenta ainda que, pelo menos na Faculdade de Psicolo-gia da Universidade de Lisboa este é, de facto, um aspecto muito prezado e com fortes intenções de manutenção e desenvolvimento. Transpondo alguns conhecimen-tos adquiridos no seu envolvimento com a rede europeia para o contex-to português e tendo por base a sua perspectiva e experiência pessoal, a Professora representante da Univer-sidade de Coimbra, ao reflectir sobre

o futuro da formação de Psicologia especificamente no nosso país, desen-volve algumas pistas de desenvolvi-mento futuro: promover uma maior integração curricular, apostando na interdisciplinaridade; desenvolver uma metodologia de “projectos base-ados em problemas” ou um “trabalho de formação baseada em projectos”, principalmente ao nível do segundo ciclo, devendo ser este um percur-so preparado atempadamente e não só nos últimos semestres; promover mais parcerias entre as unidades cur-riculares e mais trabalho colaborativo; proceder a um melhor aproveitamen-to dos recursos de que dispomos, mesmo no campo das ferramentas tecnológicas e de ensino à distância; trabalhar com grupos mais pequenos de alunos para que se desenvolvam sistemas tutoriais de ensino e apren-dizagem. Dirigindo-se aos alunos es-pecificamente, incita-os a serem “mais participativos, mais activos, a estarem atentos aos concursos, actividades e desafios lançados na EUROPLAT e nas várias associações e instituições, a criarem um espírito de equipa, cooperação e troca de experiências e novidades”.

••

No seio de uma época de instabil-idade, desesperança e desespero, em que “nada vale a pena o esforço” e tudo parece perdido, a EUROPLAT na-sce e cresce como uma oportunidade de desenvolvimento, de progresso científico e de meta-cognição ao nível da formação em Psicologia. Um caminho de desafios em construção numa época em que o expectável era a destruição A época de formação de um psicólogo omnipotente não é clara-mente esta! A EUROPLAT mos-tra-nos, assim, a urgência e pertinên-cia de constituir redes de suporte de reflexão e investigação para que cada elemento/instituição/país ben-eficie dos saberes e competências do outro e juntos criem uma unidade mais coesa e melhor preparada. EU-ROPLAT: uma plataforma em edi-ficação dentro das oportunidades que os momentos de crise também regeneram. Uma tentativa de pro-mover uma partilha de qualidade e de criar uma qualidade partilhada.

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A Psicologia Aqui e Agora

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XIX ENCONTrO NACIONAl DE ESTuDANTES DE PSICOlOgIA

Foi nos dias 25, 26 e 27 de Novembro que decorreu o XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia (ENEP), um evento que regressou este ano lectivo, dois anos após a concretização do último encontro, tendo lugar no Concelho de Odemira, mais concretamente nas paisagens paradisíacas do complexo turístico Eco resort zmar na zambujeira do Mar.relativamente ao local escolhido para a realização deste evento, a crítica foi bastante positiva, alteando a devida preparação para instalar os 220 participantes em bungalows modernos e os grandes espaços com amplas salas bem equipadas de materiais necessários à realização das formações, workshops e mesas de conferência.

XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia

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Texto Ana rita Martins / Andreia Jesus / Maria gouveia / Mariana guarino / Patrícia van beveren Fotografia roberto botelho

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A PSICOlOgIA AQuI E AgOrA

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Dirigindo-se aos alunos especificamente, incita-os a serem “mais participativos, mais activos, a estarem atentos aos concursos, actividades e desafios lançados na EUROPlAT e nas várias associações e instituições, a criarem um espírito de equipa, cooperação e troca de experiências e novidades”.

”No que diz respeito ao pro-

grama científico, o mesmo foi considerado, pelos

respectivos participantes, bastante in-teressante e oportuno, mesmo após algumas desistências de última hora por parte de oradores. “Introdução ao Mindfulness”, “Psicologia positiva: para uma ciência útil e transformado-ra”, “Intervenção em Psicogeronto-logia”, “First responders em cenários de catástrofe e desastre” entre muitos outros, foram temas de workshops que decorreram no Encontro Nacio-nal de Estudantes de Psicologia. Para além dos mais variados workshops, este evento contou ainda com diversas formações relativas a áreas dinâmicas e inovadoras de Psicodrama, Psicologia Evolucionista, Psicologia do Tráfego e Psicologia do Desporto, assim como, com quatro mesas de conferência no âmbito de Psicologia Clínica e Saúde, Psicologia das Organizações e Recursos Humanos, Psicologia Forense e, por último, a quarta mesa correspondente à área das Neurociências e Cognição.

Para além de todo o programa científico, os participantes tiveram ainda acesso aos serviços disponibi-lizados pelo complexo como a pisci-na de ondas, piscina exterior, campo poli-desportivo, percurso pedestre de manutenção, entre muitos outros.Entre as conferências de entrada livre, workshops, formações, es-paços de lazer e troca de experiên-cias entre estudantes de Psicologia de norte a sul do país e psicólogos nacionais e internacionais, não haveria como ficar parado neste longo e, ao mesmo tempo, curto fim-de-semana. Foi no dia 26 de Novembro que se encetou por volta das 10:00h a sessão de abertura oficial do ENEP, na sala onde, de seguida, se viriam a realizar as mesas de conferência, com o objectivo de receber todos os participantes com palavras motivantes de boas-vindas e de incentivo à reflexão consciente, de-bate científico e partilha activa entre estudantes, professores, investigadores e profissionais na Psicologia.

Esta sessão de abertura teve como principais temáticas as saídas profissionais em Psicologia, os contextos de futuro em Psicologia e o ensino em Psicologia, contan-do com a participação de João An-drade (coordenador geral do XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia) como moderador. Foi João Andrade quem principi-ou a sessão de abertura oficial do ENEP, seguido pelo Presidente da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP), Luís Miguel Alvim Tojo e pelo Presidente da Câmara Municipal de Odemira, Dr. José Alberto Candeias Guerreiro. Por fim, as palavras do Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Professor Doutor Telmo Batista, a quem coube o término da sessão de abertura, foram de incen-tivo ao trabalho qualificado da Psi-cologia, alertando para a necessidade de reverter a visão e situação actual da sociedade relativamente à Psi-cologia, passando esta de uma área

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de “último recurso” para uma área fundamental na vida das pessoas. O Bastonário salientou a importância da OPP na promoção de uma nova visibilidade da área, sendo para tal fundamental a ligação da OPP aos estudantes. Descreveu, ainda, de forma sistemática e estruturada o percurso da formação em Psicologia, desde o 1º ano de curso até ao fim do estágio profissional, reforçando a necessidade de se desenvolverem projectos interventivos capazes de envolver os problemas que vigoram na sociedade actual. O seu discur-so incidiu, especialmente, na im-portância da intervenção psicológica de qualidade e de rigor científico, afirmando que esta é capaz de fazer toda a diferença pelo que não deve ser vista como um luxo. Nesta linha apelou, então, à reversibilidade de tal posição a fim de se permitir que as vantagens da intervenção sejam visíveis na sociedade, asseverando que “temos de ser capazes de gerar soluções para os outros”.

Nesta sessão de abertura oficial do ENEP, foi ainda realizada a apre-sentação da edição experimental da Revista Universitária de Psicologia (RUP) pelo seu administrador, João Carlos Arruda.Terminada a sessão de abertura, o Professor Doutor Telmo Baptista, numa conversa informal, quan-do questionado sobre o XIX En-contro Nacional de Estudantes de Psicologia e sobre outros eventos semelhantes, teceu vários elogios a iniciativas deste género, enumer-ando algumas das vantagens destes eventos tais como acabar com as “Psicologias do norte, do sul, das ilhas”, unir estudantes e profissionais da área, partilhar saberes, conhe-cimentos e experiências, entre mui-tos outros benefícios. Mencionou também que, para os organiza-dores destes eventos, a “bagagem” que se leva para o futuro é imensa, proporcionando-lhes uma grande capacidade de trabalho e de orga-nização de eventos a grande escala.

O Bastonário deixou bem claro que ex-periências que promovam o contacto entre os diversos estudantes de Psico-logia e que permitam a troca de ideias e opiniões são muito benéficas para to-dos e que só poderão trazer bons resul-tados no futuro. Por fim, congratulou a organização pelo trabalho desenvolvido e pelo evento levado a cabo, deixando o incentivo para mais iniciativas destas. Após o término da sessão de aber-tura e ao longo do dia decorreram quatro mesas de formações. A pri-meira, referente à área de Psicologia Clínica, contou com a participação da Professora Doutora Maria do Céu Salvador (Investigadora no CINE-ICC e Professora da FPCE-UC) e do Professor Doutor José Pinto Gouveia (Presidente do CINEICC e Professor Catedrático na FPCE-UC), ambos seguidores do Modelo Cognitivo-Comportamental aplica-do à psicoterapia. Num primeiro momento, a Pro-fessora Doutora Maria do Céu Sal-vador, focalizando a sua participação

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nas Terapias Cognitivo-Compor-tamentais de 2ª Geração – reestru-turação cognitiva –, explorou a evolução temporal e histórica da Terapia Cognitivo-Comportamen-tal, apresentou as principais carac-terísticas destas terapias e os factores determinantes da eficácia da inter-venção terapêutica, alertou para mi-tos e mal-entendidos subjacentes e, por último, apresentou um conjunto de aplicações da Terapia Cognitivo Comportamental em diferentes con-textos clínicos. A sua participação revelou-se uma sistematização dos aspectos fundamentais e discrimi-nativos do Modelo Cognitivo-Com-portamental na explicação do fun-cionamento humano e respectiva aplicabilidade clínica. De seguida, o Professor Doutor José Pinto Gou-veia encaminhou os estudantes para uma nova vaga de terapias que têm vindo a reter, cada vez mais, a atenção de clínicos e investigadores na área. Trata-se das Terapias de 3ª Geração, nas quais se incluem as ter-apias baseadas no Mindfulness, as terapias comportamentais dialécticas, as terapias metacognitivas, a terapia da auto-compaixão, entre outras. Questionando a certeza da razão, a verdade atribuída aos pensamentos e o controlo das experiências internas do ser humano, o Professor Doutor José Pinto Gouveia reforçou a im-portância da linguagem, a capaci-dade de aceitar a dor, em detrimento da procura incessante e angustiante de rejeição ou controlo da mesma, a necessidade de “deixar de sermos usados pela nossa cabeça e passarmos a usar a cabeça”, percebendo que “os pensamentos são puramente contex-tuais e não traduzem nada de defini-tivo sobre nós”. Neste tipo de tera-pias mais recentes, mais importante do que a reestruturação cognitiva, típica das Terapias de 2ª Geração, é a modificação da relação da pes-soa com a sua experiência interna/mente no sentido de, ao intervir no

seu contexto e função, torná-la mais funcional e adaptativa, processo este onde a linguagem desempenhará um papel fulcral. Esta terá sido, quan-to à plateia, a mensagem geral do contributo do professor na presente mesa. Por último, depois de lamentada, tanto pelos oradores como pelos estudantes a ausência do Professor Doutor Carlos Amaral Dias e do Professor Doutor António Branco Vasco na mesa, abriu-se um espaço de questões e comentários, permitin-do desta forma uma plataforma de diálogo, esclarecimentos e confronto de pontos de vista variados. Foi as-sim que terminou a mesa, com uma nítida sensação de que, e utilizando as palavras do Professor Doutor José Pinto Gouveia, “saltar dos automa-tismos da nossa mente para a nossa vida presente” é a melhor forma de “viver uma vida valorizada”. A segunda mesa, referente à área da Psicologia das Organizações e Re-cursos Humanos, como referido an-teriormente, contou com a presença do Professor Doutor Adelino Duarte Gomes (Coordenador do mestra-do em Psicologia das Organizações e do Trabalho da FPCE-UC) como moderador, que começou por fazer uma breve introdução sobre as três áreas fundamentais da Psicologia. Seguidamente, foi a Professora Dou-tora Leonor Cardoso (Professora e Investigadora da FPCE-UC) quem tomou a palavra, focando a sua abordagem essencialmente em duas questões: o que é a Psicologia das Organizações e quais foram as suas perspectivas dominantes. Esta mesa contou ainda com a par-ticipação do Professor Doutor (Pro-fessor e Investigador na Universidade de Évora), o qual patenteou o coach-ing executivo enquanto prática de desenvolvimento intencional nas or-ganizações, e com a presença da Pro-fessora Doutora Isabel Silva (Profes-sora Catedrática da FPCE-UP), cuja

reflexões e desafios da Psicologia das Organizações e do Trabalho, in-cidindo fundamentalmente no tra-balho nocturno e nos seus efeitos negativos na saúde, nos contextos ocupacionais, na vida familiar e na vida social. Ressalta-se a prevista participação e, portanto, a ausência da Professora Doutora Teresa d’Ol-iveira e da Professora Marlenne La-combez nesta mesa de conferência.Estava assim dada por concluída a primeira parte do primeiro dia do ENEP no que diz respeito ao pro-grama científico. A segunda parte do dia, depois de um almoço onde foi promovida a interacção entre todos os participantes deste evento, ini-ciou-se quando a Professora Doutora Maria da Luz Vale Dias (Professora na FPCE-UC) abriu a mesa alusiva à área da Psicologia Forense, onde de-sempenhou o papel de moderadora, iniciando o seu discurso congratu-lando a Associação Nacional de Es-tudantes de Psicologia (ANEP) pela “brilhante iniciativa”. Também a Professora Doutora Su-sana Monteiro (Professora no Insti-tuto Superior de Ciências da Saúde

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não quis iniciar a sua exposição sem, primeiramente, elogiar a ANEP pelo encontro em questão. Posteriormente, expôs a temática que iria aprofundar: “avaliação forense em caso de abuso sexual – o lúdico na recolha de teste-munho”. Neste âmbito, a oradora enu-merou alguns dos comportamentos bizarros que uma criança pode apre-sentar após uma violação, aprofundou as dificuldades na avaliação, isto é, na detecção e no diagnóstico do abuso sexual, e, mais à frente, desenvolveu a sua reflexão em torno da componente lúdica na recolha de testemunho, expli-cando quais os recursos a serem utiliza-dos e como estes se devem aplicar. Terminada esta temática seguiu-se a “Avaliação das Competências e Capaci-dades Parentais na Promoção e Pro-tecção da Infância” com a Professora Doutora Madalena Alarcão (Coorde-nadora da área de Psicologia Forense da FPCE-UC e Vice-Reitora da Uni-versidade de Coimbra). Neste âmbito, foram abordados diversos pontos que incidiram, sobretudo, no conceito de “crianças de risco” e na diferenciação entre competências e capacidades parentais.

Por último, mas não menos impor-tante, o Professor Doutor Pinto da Costa (Professor Catedrático no In-stituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto e Professor no ISCS-N) falou-nos acer-ca das “Repercussões do Abuso Sexual de Menores ao Longo da Vida”, abor-dando o conceito de “abuso sexual de crianças”, quais as justificações para tal suceder, os diferentes tipos de danos, os múltiplos comportamentos da cri-ança que podem levantar suspeitas sobre esta ter sido vítima de abuso, alguns indicadores psicológicos que conduzem a essa desconfiança e as consequências da verificação da veraci-dade da mesma. Dada por encerrada esta mesa, ini-ciou-se a quarta e última mesa de con-ferência: Neurociências e Cognição. Esta teve como moderadora a Profes-sora Doutora Alexandra Reis (Inves-tigadora e Professora da Universidade do Algarve) e como oradores o Profes-sor Doutor Karl Magnus Peterson da Universidade do Algarve, que falou so-bre os objectivos da neurociência cog-nitiva, e o Professor Doutor Armando Machado (Professor Catedrático da Universidade do Minho e Presidente da Associação Portuguesa de Psicologia

Experimental). Este último centrou a sua participação na Psicologia Animal, alientando que o ser huma-no não está tão longe dos animais como pensa e ressaltou a Psicologia da Aprendizagem como a área que mais contributo supriu à Psicologia ao longo de toda a história. Os dois dias seguintes do XIX ENEP foram dedicados exclusiva-mente à realização dos workshops e das formações, os quais foram alvo de críticas bastante positivas por par-te dos alunos de Psicologia do Insti-tuto Superior de Ciências da Saúde - Norte e do ISPA. As críticas res-peitantes aos horários dos workshops foram unânimes entre a maior parte dos participantes, que apontaram a existência de uma sobreposição excessiva destes com outras activi-dades, o que limitava a participação nas outras actividades desejadas. A ausência de exercícios de promoção de dinâmicas de grupo com os ob-jectivos de conhecer pessoas novas e de criar um espírito de grupo mais interactivo e coeso, assim como a fal-ta de divulgação de informação so-bre alguns workshops constituíram, também, algumas das principais críticas a este evento.

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Para uns a organização ainda um pouco incipiente do XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia teve algumas falhas, para outros foi boa, proporcionando a superação das expectativas relativas a estes três dias cheios de dinamismo.Por outro lado, na perspectiva de quem organizou este evento, nem o sono, o cansaço, as queixas de participantes ex-igentes ou menos contentes ou até os imprevistos abalaram a sua motivação e proveito. “Repetia, sem dúvida, a mes-ma experiência, independentemente dos horários, stress, pouca ou nenhu-ma disponibilidade para participar no programa social e científico. No final do evento, senti que todo o esforço e toda a dedicação foram retribuídos pela minha satisfação pessoal de ter estado a organizar”. São as palavras de Joana Diniz Costa, uma das organiza-doras deste evento, que demonstram o empenho com que os membros da ANEP prepararam o XIX ENEP, ten-do sido, de um modo geral, capazes de responder prontamente a todos os imprevistos que ocorreram e tendo-se mostrado disponíveis e interessados no feedback que lhes foi dado.

Depois de três dias alucinantes em que os estudantes aprenderam, con-viveram e desfrutaram do intercâmbio de experiências e conhecimentos, o balanço geral do que foi o XIX Encon-tro Nacional de Estudantes de Psico-logia foi bastante positivo. A satisfação dos participantes bem como da orga-nização foi demonstrada no desfecho deste encontro onde se reuniram to-dos, agradecendo-se mutuamente. Deixamos agora as boas memórias de um ENEP acontecido para projectar as nossas energias no desenvolvimento de um ENEP que ainda está para acon-tecer... O XX ENEP já se encontra em preparação, reunindo uma equi-pa composta tanto por elementos da organização passada, como por par-ticipantes do ENEP anterior e ainda alguns novatos. O principal objec-tivo será o de reunir a experiência de trabalho, o feedback dos partici-pantes e as ideias frescas de novatos para realizar um Encontro que po-tencie as qualidades do anterior, mas que se destaque por melhorar aquilo que de algum modo não correu tão bem. Podemos já adiantar que os participantes do XX ENEP irão con-

tar com um espaço diferente, preços mais acessíveis, nomes e um forma-to bastante diferentes no programa científico, assim como uma maior aposta no programa social! Para mais um cheirinho, recomendamos que fiquem atentos à página www.anep.pt e www.facebook.com/xxenep, que vão sendo actualizadas com todas a informações necessárias, de modo a aguçar a vossa curiosidade, mas mantendo alguma surpresa do que se espera que possa vir a ser o melhor ENEP alguma vez realizado!

XIX ENCONTrO NACIONAl DE ESTuDANTES DE PSICOlOgIA

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Mais de 1800 psicólogos esgotaram o Centro Cultural de belém naquele que foi o encontro histórico na afirmação da Psicologia em Portugal, o Primeiro Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos. Este decorreu em lisboa nos dias 18, 19, 20 e 21 de Abril e consistiu, especialmente, num espaço privilegiado que proporcionou a reflexão, partilha de práticas, intervenções e o estabelecimento de contactos, redes sociais e parcerias. Segundo o bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Professor Doutor Telmo baptista “os mais de 1800 psicólogos são a expressão da vitalidade da profissão e da vontade de contribuir e de nos colocarmos ao serviço da sociedade”.

O primeiro Congresso Na-cional da OPP contou com o alto patrocínio do

Presidente da República Portugue-sa, o que representa o reconheci-mento da actividade fundamental dos psicólogos e o contributo da Psicologia no país. Segundo o Pro-fessor Doutor Telmo Baptista, este patrocínio comprova nitidamente a atenção fornecida pelo Presidente da República aos assuntos referentes à Psicologia, bem como ao seu impacto na sociedade: “estou muito satisfeito com o patrocínio do Sr. Presidente da República ao evento que para nós assume uma importância vital na afirmação dos psicólogos, e que tem um carácter histórico, dado que é o primeiro congresso profissional de todos os psicólogos”, afirma, numa entrevista à revista oficial da Ordem dos Psicólogos Portugueses (PSIS 21). Este patrocínio reconhece, por-tanto, a importância que o primeiro

Congresso dos Psicólogos Portu-gueses arroga no panorama nacional. Durante quatro dias consecutivos, foram diversas as actividades realiza-das que permitiram a inclusão de variadíssimas áreas da Psicologia, des-de a importância da Psicologia Social e das Organizações para as questões laborais em tempos de crise, até aos maus tratos e negligência a crianças, ou a definição, contextualização e planeamento de estratégias de inter-venção. Foi logo no primeiro dia, 18 de Abril, que foram realizados vári-os wokshops pré-congresso, funda-mentais e basilares para a prática dos psicólogos portugueses e que procu-raram responder às necessidades for-mativas dos mesmos nas suas diver-sas áreas. Os participantes tiveram à sua disposição oportunidades de formação em formatos inovadores de intervenção que favoreceram o desenvolvimento e a compreensão de um vasto conjunto de temáticas

relacionadas com aquilo que é a Psico-logia actualmente. “Intervenção psi-cológica em crise e emergência: entre o risco e a oportunidade”, “Psicopatia e sucesso social: os psicopatas entre nós”, “O poder e a complexidade das intervenções em grupo”, “Introdução ao coaching”, entre muitos outros, são exemplos dos numerosos work-shops desenvolvidos neste dia bastante proveitoso para todos os participantes. Para além de wokshops, existiram, ainda, várias modalidades de apresen-tação, com o objectivo de tornar este congresso o mais abrangente possível, tais como, comunicações, projectos, vídeos & pecha-kucha e posters, que foram apresentados ao longo dos restantes dias. É fundamental salien-tar que, em pouco mais de dois meses, foram submetidas mais de 450 apre-sentações, examinadas pela Comissão Cientifica, que contaram com uma enorme diversidade e riqueza no que respeita ao conteúdo, contextos de

“Afirmar os Psicólogos”

“AFIrMAr OS PSICólOgOS”: O PrIMEIrO CONgrESSO NACIONAl DA OrDEM DOS PSICólOgOS POrTuguESES

O primeiro congresso nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses

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Texto Ana rita Martins e Andreia Jesus Fotografia Vanessa Alves

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“Afirmar os Psicólogos”

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prática, trabalhos de investigação e for-matos de apresentação. Segundo David Neto, presidente da comissão organiza-dora, esta adesão “foi a confirmação que, de alguma maneira, o congresso chegou a um nicho que não estava preenchido e respondeu a uma necessi-dade da Psicologia em Portugal”. O Primeiro Congresso Nacional da OPP contou, ainda, com mais de uma dezena de espaços organizados e ap-ropriados de discussão. Estes espaços tiveram como objectivo primordial agregar os psicólogos, permitindo que estes apresentassem as suas perspectivas sobre temáticas relevantes para a profis-são. Permitiram, ainda, o debate e a troca de ideias sobre as questões essen-ciais para a profissão, a criação de espe-cialistas, a formação, a autonomia e a afirmação profissional dos psicólogos. Esta vertente da estrutura dos espaços de debate contou com o contributo de nomes que constituem uma referên-cia na Psicologia, tais como António Branco Vasco, Eduardo Sá, Gillian

Hardy, Jorge Correia Jesuíno, José Maria Peiró, Margarida Gaspar de Matos, Mário Ceitil, entre muitos outros. A Comissão Organizadora do congresso trabalhou no sentido de alargar estes espaços de debate no congresso online, para que os psicólo-gos pudessem apresentar as suas ideias antes ou depois das sessões. É deveras importante salientar que, tal como os profissionais de Psicolo-gia, também os estudantes tiveram oportunidade de fruir de um espaço de discussão exclusivamente desti-nado a eles através da mesa “Ser-se estudante de Psicologia”. Esta foi constituída por quatro elementos da já anterior direcção da ANEP: Luís Miguel Tojo, João Pedro Estanqueiro, João Andrade – estudantes da Uni-versidade de Coimbra – e João Pau-lo Petiz – estudante da Universidade do Minho. Os oradores falaram das principais temáticas da actualidade respeitantes aos estudantes de Psi-cologia, abordando e discutindo os

seus principais desafios e respons-abilidades. Foi feito também um confronto entre a situação actual dos estudantes portugueses e a dos restantes colegas europeus, bem como uma reflexão sobre como ul-trapassar algumas das dificuldades que são vividas actualmente pela co-munidade estudantil de Psicologia. Segundo João Paulo Petiz, actual vice-presidente da Associação Na-cional de Estudantes de Psicologia (ANEP) e representante nacional da European Federation of Psycholo-gy Students’ Association (EFPSA), o congresso da OPP foi da maior importância pois “teve o mérito e o condão de juntar e unir a classe profissional, atendendo principal-mente ao momento delicado de grave crise económica e social em que estamos”. A seu ver, com a ex-istência de um espaço de debate so-bre a situação actual dos estudantes de Psicologia e Portugal “a Ordem dos Psicólogos Portugueses mostra

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sensibilidade para aqueles que irão ser potenciais psicólogos no futuro, vincando a importância da harmonia entre a classe profissional e a classe es-tudantil em Psicologia na afirmação continuada dos psicólogos”. Com a finalidade de saber quais as expectativas para este primeiro encontro histórico de psicólogos, a RUP foi ao encontro de vários par-ticipantes. As principais expectativas eram de perceber o que os outros psicólogos andam a fazer e quais as suas perspectivas de futuro; de tomar conhecimento acerca da condição actual nacional, quer ao nível da for-mação, quer ao nível da investigação, bem como tirar proveito do que está a ser realizado nas diversas áreas de Psi-cologia. Perceber que soluções há em termos de empregabilidade, promov-er a união dos psicólogos enquanto classe, rever temáticas antigas e apren-der novas e estabelecer contactos, incrementando sempre um carácter dinâmico, constituíram também ex-pectações por parte dos participantes. Foi justamente no segundo dia, 19 de Abril, após a conferência de Edu-ardo Sá (“A Psicologia e o Futuro”) e de Margarida Gaspar de Matos (“Re-gresso ao futuro: activação de recur-sos enquanto aposta do(a)s cidadãos e do(a)s psicólogo(a)s em tempo de crise”), onde foi evidenciada a importância dos recursos que o ser humano pode encontrar em si para fazer face à crise e quais as conquis-tas que o mundo contemporâneo vive desde há 200 anos, que ocor-reu a Sessão Oficial de Abertura do congresso. Foi o Bastonário da OPP quem principiou, testemunhando, desde logo, a sua enorme satisfação pela afluente adesão e pelo significa-do especial que, para si, instituiu o patrocínio do Presidente da Repúbli-ca. Tendo sido este um congresso que se realizou numa altura de crise, que afecta particularmente o nosso país, o Professor Doutor Telmo Baptista alertou para a necessidade de não

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nos deixarmos atraiçoar pelas notí-cias que desejamos ouvir, afirmando que “a crise só será uma verdadeira oportunidade se tivermos a atitude e os comportamentos necessários para transformar esta situação e se mobilizarmos os nossos recursos o mais rápido possível, antes que seja demasiado tarde”. A seu ver, a crise ameaça a coesão social, deteriorando o desenvolvimento e o crescimento económico, pelo que considera que “nunca o empreendorismo, as ati-tudes e os comportamentos foram tão mencionados como cruciais para o desenvolvimento económico e para o sucesso no trabalho e nas organizações”. No decorrer da sessão de abertura, o Bastonário reforçou o elevado grau de importância da ac-tividade precoce dos psicólogos jun-to dos jovens, a fim de os preparar melhor para os desafios do futuro, educar para o risco, para a aprendiza-gem com os erros e para as atitudes e comportamentos compatíveis com a flexibilidade cognitiva e com a incer-teza que o futuro já hoje nos reserva. Os psicólogos assumem, então, o es-tatuto de profissionais mais compe-tentes na preparação de cidadãos ap-tos para lidar com a incerteza e com as frustrações do fracasso e, acima de tudo, os mais competentes no for-necimento de esperança àqueles que estão mais desprotegidos e possuem menos competências para lidar com este novo contexto económico e so-cial. O Professor Doutor Telmo Bap-tista salientou, ainda, que “não nos podemos esquecer que o sofrimento é tolerável se encontrar um sentido. As pessoas são capazes de minorar o seu sofrimento se perceberem que o fazem em prol de algo ou de um futuro mais promissor. Não procu-rar dar sentido ao sofrimento é o caminho certo para o desespero; e o desespero nunca serviu as sociedades democráticas”. Foi com a referência a um grande psicólogo, um dos génios fundadores da Psicologia, que viveu

do séc. XIX e princípio do séc. XX, William James, que o Bastonário da OPP finalizou a sua intervenção. Tal como asseverou um dia Wil-liam James, que a grande descoberta da sua geração foi que os seres hu-manos podem alterar as suas vidas, alterando as suas atitudes, também o Bastonário assim o considera, de-fendendo que cada um de nós não tem de ser vítima da sua condição biológica e que o poder de transfor-mação individual ou colectivo reside nas escolhas que cada um faz: “quere-mos dizer aos portugueses que po-dem contar com os psicólogos para os ajudar na tarefa de escolher o seu próprio caminho”, certifica. Após as palavras do Professor Doutor Telmo Baptista, foi David Neto, presidente da comissão orga-nizadora do congresso, quem quis deixar as suas palavras de apreço e de alegria pela participação no con-gresso, após meses de preparação, afirmando que “é muito gratificante para nós comissão organizadora ter esta resposta por parte dos partici-pantes”. David Neto salientou que a ideia foi criar um congresso diferente dos outros, mais abrangente e mais centrado na profissão e nos assuntos relevantes para a prática da Psico-logia, em que as pessoas pudessem fazer as suas próprias apresentações. Salientou, igualmente, 3 objectivos principais que orientaram a organi-zação do encontro: o debate de ide-ias, promoção da aprendizagem e a reflexão sobre temas da Psicologia importantes; a reflexão e construção de significados sobre assuntos cen-trais da prática profissional em Psi-cologia; e a criação de um ponto de encontro para os psicólogos, per-mitindo criar novas oportunidades e trocar experiências. O presidente da comissão organizadora fez ainda menção ao logótipo que caracterizou o congresso, proferindo que este teve como objectivo transmitir o carácter generativo das aprendizagens efectua-

das, esperando que estas se reflictam na prática dos psicólogos. Também o secretário de estado ad-junto do Ministro da Saúde, Fernan-do Leal da Costa, interveio na sessão de abertura, realçando, primeira-mente, a sua satisfação em participar numa de mais futuras representações oficiais dos psicólogos e do exercício em Psicologia. Seguidamente salien-tou que o Ministério da Saúde está atento e sabe qual o potencial profis-sional dos psicólogos, considerando que estes são “uma peça importante da qual não devemos prescindir” e que o seu profissionalismo “é um dos principais e fulcrais elementos na qualidade em saúde”. Fernando Leal da Costa findou a sua interposição desejando que o Primeiro Congres-so da OPP fosse o primeiro de uma longuíssima série de congressos de-veras profícuos para a saúde dos por-tugueses. Apesar de este ter sido um congresso verdadeiramente nacional, com participantes provenientes de todos os pontos do país, o Conselho Federal

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de Psicologia do Brasil e o Conse-jo General de Colegios Oficiales de Psicólogos de Espanha estiveram representados no Primeiro Congres-so Nacional da OPP, assim como o Bastonário da Ordem dos Psicólo-gos de Angola, Professor Doutor Carlinhos Zassala, ilustrando a clara cooperação existente na Psicologia a nível internacional. Em conver-sa com a RUP, o Professor Doutor Carlinhos Zassala demonstrou a sua enorme satisfação no convite que lhe foi feito e elogiou a forma como se organizou o congresso, bem como os temas escolhidos e debatidos. À semelhança do encontro que se es-perou entre os psicólogos portugueses, este congresso foi também um encon-tro de psicólogos de vários países, em que a vinda destas delegações a Portu-gal revela o esforço e aproximação de associações congéneres.Para além da partilha de trabalhos, de perspectivas e da troca de im-pressões, o congresso permitiu, ain-da, a partilha de bons momentos de lazer e convívio. O jantar de gala e

o momento musical com Melech Mechaya são dois exemplos destes momentos.Numa pequena entrevista que a RUP teve oportunidade de realizar a Da-vid Neto, para tomar conhecimento da sua opinião final sobre o con-gresso, este demonstrou a enorme satisfação e vontade em pertencer de novo à Comissão de Organização do possível Segundo Congresso Nacio-nal da Ordem dos Psicólogos Portu-gueses e adiantou, ainda, que a Or-dem propôs as suas candidaturas à organização de dois congressos inter-nacionais em Portugal, tendo ambas sido aprovadas. Assim, a OPP terá a seu cargo a organização do Congres-so da International School Psycholo-gy Association (ISPA) em 2013 e do Congresso da Federação Iberoameri-cana de Psicologia (FIAP) em 2014. Estes dois congressos organizados em território nacional serão, sem dúvida, outra oportunidade para os psicólogos portugueses participarem e apesentarem os seus trabalhos jun-to de colegas de outros países. Chegado ao fim o congresso, e depois de quatro dias admiráveis e produtivos, o feedback geral sobre o Primeiro Congresso Nacional da Or-dem dos Psicólogos Portugueses, por parte dos participantes, revelou-se bastante positivo, tendo sido elogia-da a diversidade de temas, a possi-bilidade de contacto, partilha e de exposição, a qualidade e o carácter inovador das diversas apresentações, bem como a organização e o convívio proporcionado. As principais críticas referenciadas basearam-se no taman-ho reduzido das salas, uma vez que estas ficaram sobrelotadas, devido ao interesse e confluência de numero-sos participantes, e na importância diminuta atribuída à investigação nacional em comparação com práti-ca profissional. Todavia, frases como “este congresso foi um marco funda-mental e uma porta aberta para todos os profissionais”, “este congresso per-

mitiu um grande crescimento não só a nível profissional, como também ao nível pessoal”, “com este congresso foi possível sentirmos que pertence-mos a um corpo com um papel fun-damental na sociedade”, evidenciam distintamente o quão importante e marcante foi o Primeiro Congresso da OPP para aqueles que tiveram a oportunidade de nele participar. A clara satisfação não só foi eviden-ciada pelos participantes, como tam-bém por toda a comissão organizado-ra e pelo próprio Bastonário da OPP, Professor Doutor Telmo Baptista. Este último manifestou o seu enorme agra-do e satisfação na sessão oficial de en-cerramento, chamando ao palco toda a Comissão Organizadora do evento, desde a Comissão Científica até aos elementos da estrutura da OPP que também trabalharam na construção deste congresso, congratulando-os. Depois da lisonjeada oportunidade que a RUP teve em participar no congresso que maior contributo teve para a afirmação da Psicologia e dos psicólogos em Portugal, deixamos aqui a sugestão ao nosso caro leitor de visitar o site da Ordem dos Psicólogos Portugueses, para que possa aceder aos vídeos que os participantes sub-meteram e ao fórum online. Deixa-mos também a sugestão de uma pos-sível visita à nossa capital, Lisboa, onde em Belém poderá provar os melhores pastéis de nata, a nível na-cional (e internacional!), que fizeram as maravilhas dos vários participantes que estiveram presentes num con-gresso que fez história, o Primeiro Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses!

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Antes do tão aguardado congresso da EFPSA, que decorreu em Abril de 2012, a equipa da ruP teve a oportunidade de entrevistar pessoalmente o ex-presidente da EFPSA, Vedran lešić, que gentilmente nos clarificou alguns aspectos fundamentais acerca da federação.

O que é a EFPSA?A EFPSA (European Federation of Psychology Students’ Associations) é uma organização não-governamen-tal de associações de estudantes de Psicologia de vários países da Euro-pa, gerida numa base de voluntaria-do de e para estudantes. Foi estabe-lecida como organização em 1987, em Portugal, e é constituída actual-mente por 29 associações de estu-dantes de Psicologia de 29 países/regiões europeias como membros efectivos e 2 associações como mem-bros observadores. O seu objectivo principal é o de representar os aprox-imadamente 300.000 estudantes de Psicologia por toda a Europa, através das associações que fazem parte da EFPSA, procurando ir de encon-tro às suas necessidades e interesses. Apesar de se focar essencialmente nos estudantes, procura abranger também psicólogos, instituições e organizações profissionais de nível nacional e europeu. Como salien-ta Vedran Lešić, a EFPSA promove uma plataforma que permite reunir todos os estudantes de Psicologia,

de forma a desenvolver o diálogo científico e a troca de experiências multiculturais entre os estudantes dos diferentes países representados. Assim o trabalho de equipa e a troca intercultural de conhecimentos e de conceitos fundamentais em Psicolo-gia são realçados, fomentando a mo-bilidade e possivelmente o início de projectos interculturais.

Quais os principais eventos realizados pela EFPSA?▶ Contam-se essencialmente quatro actividades anuais promovidas pela EFPSA, cada qual sendo realizada num país diferente. O principal even-to, e o ponto alto do ano, é, sem dúvi-da, o congresso internacional realiza-do todos os anos num país diferente, e que junta cerca de 250 estudantes de diferentes países Europeus. O pri-meiro congresso teve lugar em Por-tugal em 1987. Este evento permite aos estudantes, não apenas aumentar o seu conhecimento sobre o tema geral, como partilhar as visões que diferentes estudantes de diferentes países têm do mesmo tópico, para

além de possibilitar a participação mais activa dos estudantes, através da apresentação de posters, de pal-estras ou de workshops. Para aqueles que se querem envolver activamente na EFPSA, durante os primeiros dois dias do congresso, os participantes podem submeter candidaturas para membros efectivos da organização. Outra actividade realizada anual-mente pela EFPSA é a European Summer School (ESS) que marca o início de um programa de investi-gação para os estudantes que desejam desenvolver uma pesquisa científica. A prioridade da ESS é proporcionar uma experiência de investigação que dificilmente os estudantes encon-trarão nas suas universidades. Neste evento participam cerca de 35 estu-dantes, que se dividem em 6 grupos de trabalho, cada um com um super-visor que irá orientar a pesquisa. Este programa de investigação com início na ESS prolonga-se por um ano, em que ocorre recolha de dados, per-mitindo a comparação multicultural dos dados recolhidos em diferentes países. A pesquisa culmina na apre-

“Mind the body”: O 26˚ Congresso da EFPSA

"MIND ThE bODy": O 26º CONgrESSO DA EFPSA

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Texto Maria João gouveia Fotografia Inês ribeiro / Maria João gouveia / Timo Säämänen

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sentação dos resultados da pesquisa numa conferência ou na publicação dos resultados numa revista. Este ano realizou-se em Portugal a 6ª ESS, em Vila Nova de Foz Côa, na semana de 15 a 22 de Julho, con-tando com um follow-up através de um programa em colaboração com a Universidade de Cambridge. Mais à frente será descrita com mais por-menor a 6ª edição da ESS. Uma terceira actividade é o Trainer the Trainers (TtT), que tem o ob-jectivo de promover conhecimento para os estudantes da área da Psi-cologia das Organizações, nomea-damente no treino especializado e avançado de competências de co-municação, de financiamento, de construção de equipas, de treino e de liderança. Durante este evento, que reúne cerca de 10 a 12 participantes, os estudantes têm a oportunidade de se propor para o cargo de trainer na EFPSA. Este ano a 3ª edição do TtT teve lugar na Roménia, entre os dias de 19 a 26 de Agosto. Finalmente, e tendo já sido realizado duas vezes, o EFPSA Day é um dia em que todas as universidades dos diferentes países europeus comemo-ram a EFPSA e as experiências, con-ceitos e valores partilhados.

Na sua opinião, qual a importância do Congresso Internacional da EFPSA?

▶ Para o ex-presidente da EFPSA, a importância do congresso internacio-nal resume-se ao facto de este juntar 250 estudantes com o mesmo interesse (Psicologia) num mesmo local. Este é o ponto de partida para se começar a desenvolver um trabalho em rede, possibilitando um futuro de troca de experiências culturais e profis-sionais muito propenso, bem como

aumentando a sensibilidade e a consciência para uma identidade europeia. Para além disso, este é um momento onde se atraem e se encontram pessoas interessadas em trabalhar na equipa da EFPSA. Para além de todas as vantagens profis-sionais (e de ser sem uma mais-val-ia para o currículo), é também uma experiência pessoal, única, onde se esbatem as fronteiras culturais e se conhecem novas pessoas e culturas, e onde nos conhecemos melhor a nós próprios.

(...) a EFPSA promove uma plataforma que permite reunir todos os estudantes de Psicologia, de forma a desenvolver o diálogo científico e a troca de experiências multiculturais entre os estudantes dos diferentes países representados.

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“Mind the Body” O Congresso da EFPSA

O 26º Congresso anual da EFPSA, teve, este ano, lugar na terra dos con-tos de fadas, a Dinamarca, de 22 a 29 de Abril de 2012. O local escol-hido para a realização do evento foi um parque de campismo, “Western Camp”, localizado no sudeste da Di-namarca, na ilha Lolland. Foi então, numa atmosfera rústica e num estilo country que se encontraram 250 es-tudantes de Psicologia de toda a Eu-ropa, dos quais 9 eram portugueses, para enveredar numa semana repleta de novos conhecimentos académicos e pessoais. “Mind the body” foi o tema escol-hido para o Congresso de 2012 por ser actualmente um “tópico quente” na Psicologia dinamarquesa, razão privilegiada pela equipa organiza-dora e que os motivou a realizar o congresso no seu país.Este é um tema antigo que remon-ta aos debates filosóficos mas que se mantém actual, tanto na Psicologia, como na sociedade europeia de ho-je-em-dia. É baseado no conceito da cognição corporal, tendo como objectivo a inclusão do corpo na forma como a Psicologia é ensinada, vista e praticada. Tal relação entre a mente e o corpo, pode ser aplicada nas diferentes áreas da Psicologia (Psicologia do Desporto, Psicologia Clínica, Mindfulness, Psicologia da Educação, entre outras). Tal aplicabi-lidade está, actualmente, nos debates de todas as escolas de Psicologia, daí o interesse crescente em conhecer e alargar o nosso conhecimento na relação entre a mente e o corpo. Desta forma, o programa científ-ico contou com a participação de profissionais de relevo nacional que, de diferentes formas, têm em consideração o corpo na sua

abordagem psicológica. Alguns dos tópicos abordados foram: a im-portância da imagem corporal nas perturbações alimentares, deficiência física, identidade de género, sexolo-gia clínica, psicologia no serviço mil-itar, hipnoterapia, manejo da dor, tratamento de trauma, meditação e mindfulness nas culturas orien-tal e ocidental, debates variados da relação entre a mente e o corpo, etc. De modo complementar às con-ferências dos profissionais, o pro-grama científico, como habitual nos congressos da EFPSA, contou também com o contributo dos es-tudantes em apresentações, post-ers e workshops. Alguns dos temas presentes foram: distúrbio de con-duta, psicodrama, expressões faci-ais e FACS (“Facial Action Coding System”), procrastinação académica, diferenças de género no tipo de infi-delidade e ciúme, percepção de risco durante o ciclo menstrual, Psicologia do movimento, aceitação, técnicas projectivas no aconselhamento de pares, entre outros.Uma vez que o evento reuniu 250

O que gostaria de dizer aos estudantes de Psicologia de Portugal?

▷ O congresso internacional da EF-PSA é uma óptima experiência para conhecer estudantes de Psicologia de outros países, é uma excelente ac-tividade extra-curricular, dado que a EFPSA oferece algo que não se pode encontrar na educação normal, oferece determinadas experiências que não se têm na vivência quo-tidiana das aulas. É também uma oportunidade para praticar a língua inglesa, conhecer pessoas de diferentes culturas, conhecer pessoas interes-sadas na mesma área da Psicologia, comparar diferentes sistemas de educação, decidir o país onde ir de Erasmus e criar contactos nesse país, e, quem sabe, entrar na equipa da EFPSA. Existe uma frase que costu-mamos dizer que é “não irás saber o que é o ‘espírito EFPSA’ até ao mo-mento em que participares num evento da EFPSA”, e que para nós representa um dos maiores desafios que podemos colocar aos estudantes de Psicologia. Em suma, existe um leque variadíssimo de experiências de vida que os estudantes poderão ter ao entrar no mundo da EFPSA.

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pessoas de toda a Europa, não podia ser deixado de parte todo o intercâm-bio social e cultural, que permitiu um conhecimento aprofundado princi-palmente da cultura dinamarquesa, mas também das culturas dos restan-tes países europeus representados. Tal foi então possível, através de um recheado programa social nocturno de descoberta da cultura dinamar-quesa, desde a ‘Danish evening’, a uma viagem pelo cinema dinamar-quês, ao ‘Fairytaile Ball’, como não podia deixar de ser. Contou-se, ain-da, com a participação dos estudantes dos diferentes países, através de uma apresentação do seu país com as mais variadas e criativas ideias, seguida pela ‘Cultural evening’, onde foi possível ver, cheirar e provar os produtos gas-tronómicos típicos de cada país par-ticipante. Finalmente, e como des-canso do programa científico, a meio da semana realizou-se uma excursão a Copenhaga, capital da Dinamarca, que incluiu uma visita guiada a difer-entes atracções turísticas da cidade, e terminou com uma animada festa na Universidade de Copenhaga.

À parte de todo o programa científico e social detalhadamente programado, o congresso da EFPSA funcionou também como o encon-tro anual de todos os seus membros efectivos. Desta forma, durante esta semana realizaram-se reuniões dos vários órgãos da EFPSA, nomea-damente dos 29 representantes na-cionais (Member Representatives) e do conselho científico (Executive Board).

“Uma vez que o evento reuniu 250 pessoas de toda a Europa, não podia ser deixado de parte todo o intercâmbio social e cultural, que permitiu um conhecimento aprofundado principalmente da cultura dinamarquesa, mas também das culturas dos restantes países europeus representados.

Foi também este o momento de renovação do mandato, e por isso aqueles que se quiseram envolver ac-tivamente na EFPSA puderam sub-meter as suas candidaturas para mem-bros efectivos da organização durante os dois primeiros dias do congresso. Assim, ao longo do congresso decor-reram duas Assembleias Gerais, onde todos puderam estar presentes para conhecer as actividades que o Con-selho Científico desenvolveu durante o último mandato, assim como ficar a par daquilo que está a decorrer no momento presente na EFPSA. A primeira Assembleia Geral ocorreu no primeiro dia do congresso, de-pois da cerimónia de abertura, e a segunda ocorreu no último dia, an-tes da cerimónia de encerramento.

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mentos gerais e conhecimentos es-pecíficos nas diferentes formas de estudar a Psicologia, ainda que por uma semana. Pessoalmente, queria agradecer do fundo do coração a to-dos aqueles que tornaram esta sem-ana ainda mais especial, e que forma-ram a maravilhosa ‘Portuguese crew’ que espalhou a magia e o encanto do povo português pelas terras di-namarquesas. Aos restantes, apenas posso aconselhar que experimentem por si próprios o espírito EFPSA, participando num dos vários eventos anuais. Fica então a dica: “Spice it up!” in Turkey, April 2013… Durante o congresso, tive a opor-tunidade de fazer uma entrevista à representante da Comissão Orga-nizadora deste congresso, Josephine Schultz, que, à semelhança de todo o povo dinamarquês se mostrou gen-tilmente disponível para partilhar as dificuldades e as escolhas de um ano e meio de preparação deste evento.

Não há forma de explicar como é enriquecedor viver num ambiente intercultural, trocar experiências de vida, conhecimentos gerais e conhecimentos específicos nas diferentes formas de estudar a Psicologia, ainda que por uma semana.

Esse é o momento onde as candidatu-ras e as propostas foram votadas pelos Representantes Nacionais e onde se apresentaram propostas para o próxi-mo ano (como o local de realização do congresso). Este ano os vossos colegas portugueses propuseram realizar em Portugal um novo evento da EFPSA, a Conferência! Mas, apesar de todos os esforços colocados nesta missão, infelizmente ganharam os nossos co-legas holandeses. É, por isso, de grande importân-cia não só para o futuro da EFPSA como para o conhecimento da or-ganização por parte dos seus par-ticipantes assistirem às Assembleias Gerais, principalmente aqueles que estão a participar no congresso da EFPSA pela primeira vez.Mas, como todas as experiências so-ciais, e, principalmente as experiên-cias internacionais, a melhor forma de as conhecer é vivendo-as. Não há forma de explicar como é enriquece-dor viver num ambiente intercultural, trocar experiências de vida, conheci-

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O número de participantes está de acordo com as suas expectativas? Acha que este ano houve mais estudantes interessados no congresso?

▶ O número de participantes foi es-tipulado para 250, no entanto, ten-ho a certeza de que, se houvesse mais vagas, havia muitas mais pessoas interessadas em participar no con-gresso. Não apenas pelo programa científico e pelo tema em questão, mas também pela experiência inter-cultural em si mesma, e pelo con-fronto com diferentes formas de es-tudar a Psicologia.

O que gostaria que fosse diferente no congresso?

▶ Seria muito interessante realizar, para além das conferências, posters e workshops, mesas de discussão que permitissem uma participação mais activa dos estudantes e um verdadeiro confronto de opiniões e culturas.

O que foi diferente neste congresso relativamente a congressos anteriores?

▶ Sem dúvida nenhuma que o tema. A nossa equipa focou-se muito e preocupou-se em trazer um tema ac-tual e específico do estado de arte do nosso país, para que as pessoas dos outros países da Europa pudessem de facto perceber qual o estado da Psicologia neste momento na Dina-marca. Outro aspecto diferente foi o rigor e o modo como estruturamos o horário, para ter a certeza que as pessoas apareciam a tempo das con-ferências e que tudo iria correr da melhor forma.

O que gostaria de dizer aos estudantes de Psicologia de Portugal?

▶ Foi um prazer enorme ter, pela primeira vez, 9 participantes por-tugueses no Congresso da EFPSA. Continuem a ser activos, a partici-

parem nos eventos da EFPSA, e a partilharem a vossa cultura com os outros países, principalmente com os países nórdicos. É muito interes-sante contrastar a cultura de países do sul da Europa, como Portugal, Espanha e Itália, com os países do norte, como a Dinamarca, o Reino Unido e a Polónia.

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“The Biased Brain” A Escola de Verão da EFPSA

▶ Vila Nova de Foz Côa foi o lo-cal escolhido para a realização da 6ª Edição da European Summer School (ESS) da EFPSA. Entre as verdes colinas e os vales cobertos de vinhas espelhadas pelo rio Douro, no espaço isolado da Pousada de Ju-ventude, criou-se a atmosfera ideal e inspiradora para a realização de uma semana que oscilou entre momentos de trabalho e de lazer. No total, en-tre participantes, supervisores, con-ferencistas e organizadores partici-param cerca de 60 pessoas. Ao contrário das edições anteri-ores, a comissão organizadora deste ano teve a difícil tarefa de selecio-nar os participantes de um conjun-to de mais de 120 candidaturas de um elevado nível académico, o que

resultou no aumento do número de participantes para 39. Assim, o even-to contou com a participação de 39 estudantes de 26 países, divididos por 6 grupos de investigação, dirigidos por supervisores de Portugal, Itália e Turquia. Cada grupo de investigação desenhou, ao longo desta semana, as bases do seu projecto de investi-gação, passando por diferentes etapas: revisão da literatura, discussão das questões ou hipóteses de investigação e decisão sobre quais os métodos que irão ser utilizados. Em conjunto, cada projecto será desenvolvido pela respec-tiva equipa ao longo de 12 meses. O tema escolhido para esta edição da ESS foi: The Biased Brain: Research in Decision-making (O cérebro enviesado: Pesquisa na tomada de decisão). A partir deste tema global, diferentes temas inde-pendentes foram escolhidos pelos supervisores para cada grupo de in-vestigação: “The Good, the Bad, and the Ugly: Fast Reasoning in Risky Decisions” (supervisora: Dra. Sarah

Furlan, da Universidade de Pádua, Itália); “Bought by Chance? Under-stand Why! How Materialism, He-donism and Need of cognition influ-ence impulse purchases” (supervisor: Doutorando Samuel Lins, Universi-dade do Porto, Portugal); “When is your face fit for the place?” (super-visora: Doutoranda Beatriz Lloret, ISCTE, Portugal); “My problem is schizophrenia – what about yours? – Fighting the stigma of schizophrenia among students” (supervisora: Dou-toranda Carina Teixeira, Institute of Psychiatry at King’s College London e Universidade de Coimbra); “Eye-witness Memories and the Role of Cultural Differences on Post-event Misinformation Effect” (superviso-ra: Doutoranda Serra Tekin, Uni-versidade de Istanbul, Turquia); “Do team sports players fully buy the in-formation given to them about oth-er players or decide during on-going interaction?” (supervisora: Prof.ª Doutora Vanda Correia, Universi-dade do Algarve, Portugal).

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No último dia, os estudantes apre-sentaram os seus projectos a todos os intervenientes na ESS, ficando imediatamente incluídos no Young Researcher Programme (YRP), um programa inovador da EFPSA, nascido este ano com o objectivo de qualificar o trabalho desenvolvido por estes es-tudantes. Pretende-se assim propor-cionar a cada grupo de investigação um acompanhamento personalizado e especializado ao longo do ano lecti-vo, culminando com a apresentação dos projectos na Universidade de Cambridge, em Agosto de 2012 para os participantes do grupo de 2011 e em Agosto de 2013 para os partici-pantes do grupo de 2012. Para além disso, os participantes do grupo de 2012 terão também a oportuni-dade de apresentar os projectos no congresso anual (a realizar no próximo ano na Turquia), de sub-meter os seus projectos para serem publicados em revistas internacio-nais e de participar como estagiári-os no programa de investigação na instituição de acolhimento. Esta oportunidade única de en-riquecimento curricular, foi ainda complementada pelo contributo de conferencistas de relevo internacio-nal na área da tomada de decisão. Assim, tivemos a participação de três oradores convidados, que nos pro-porcionaram conferências em áreas diferenciadas, todas elas relaciona-das com o tema principal da ESS. Dada a sua relevância excepcional na área da Psicologia Motivacional e da Personalidade, o Professor Brian R. Little, da Universidade de Cam-bridge, antigo Professor da Universi-dade de Oxford, McGill e Harvard, eleito "Professor Favorito" por três anos consecutivos pelas turmas li-cenciadas de Harvard e Director do Departamento de Pscicologia Social e do Desenvolvimento, apresentou a conferência acerca de “Projectos pessoais enquanto decisões na vida”, sua principal área de investigação no

momento actual. O Professor Dr. Miguel Oliveira, da Universidade de Coimbra, apresentou um resumo histórico e crítico do conceito de en-viesamento aplicado na Psicologia. Finalmente a Dra. Sanne de Wit, da Universidade de Amesterdão apre-sentou-nos o seu trabalho na área dos mecanismos neuronais do com-portamento compulsivo. De modo a complementar o in-tenso trabalho diário de todos os participantes, não faltaram mo-mentos de lazer e de convívio so-cial e cultural, como não podia deixar de ser num evento da EFP-SA. Assim, cada noite teve diferentes actividades, com o objectivo de pro-mover um melhor conhecimento da cultura portuguesa e da cultura dos restantes 26 países representados. Houve ainda uma interessante adap-tação de um conhecido programa de televisão, “Who wants to be a psy-chologist”. Para além disto, a meio da semana realizou-se uma excursão, em que se aliou o conhecimento da região vinhateira do Douro ao des-canso e descontração de todos os participantes, num agradável pas-seio no rio Douro. Finalmente, e de modo a terminar a semana da mel-hor forma, a cerimónia de Gala per-mitiu aos estudantes apresentarem os seus projectos após o qual foram presenteados com um memorável jantar no qual puderam assistir a um momento de Fado. A noite terminou com a entrega de certificados de par-ticipação e com os merecidos agra-decimentos. Foi, pois, uma semana de muito trabalho para todos, mas sem dúvida recompensado por todo o convívio e pelas experiências únicas trocadas entre participantes, supervisores, oradores, organizadores e todos os intervenientes na ESS dos diferentes países. Enquanto membro da organização local não queria deixar de elogiar a brilhante equipa que permitiu que a

6ª edição da ESS ficasse, sem dúvida, na memória de todos, e o irrecon-hecível mérito do seu representante, Luís Miguel Tojo, por ter permiti-do com que o evento acontecesse, elevando-o a uma qualidade nunca antes vista.

Foi, pois, uma semana de muito trabalho para todos, mas sem dúvida recompensado por todo o convívio e pelas experiências únicas trocadas entre participantes, supervisores, oradores, organizadores e todos os intervenientes na ESS dos diferentes países.

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A PSICOlOgIA NA uNIVErSIDADE DO MINhO

Já com uma estrutura bem definida a nível institucional, a Escola de Psicologia da universidade do Minho, ao longo do tempo tem vindo a adaptar-se às reais necessidades da área e do país, apostando fortemente numa formação direccionada para a investigação, proporcionando diversas experiências nesse sentido, nomeadamente, investindo em laboratórios diversos, actividades inovadoras, tudo em função de uma boa formação, que se possa colocar efectivamente em prática num futuro próximo. A escola conta com dois departamentos distintos: o de Psicologia básica e o de Psicologia Aplicada, ambos com responsabilidades bem diferenciadas, e dispõe de formação nas áreas de Psicologia Clínica e Saúde, Psicologia da Justiça e Comunitária, Psicologia das Organizações e Desporto e, Psicologia Escolar e Educação.

Segundo, o Professor Cat-edrático Armando Machado, docente da instituição, não é

possível formar psicólogos que quei-ram desenvolver boas carreiras, que queiram investigar uma variedade de áreas e que queiram ser com-petitivos, na ausência de formação quantitativa ou na presença de uma fraca formação, carente de qualidade e rigor científico. Neste sentido, afir-ma que as Universidades têm um pa-pel fundamental na formação de um bom ou mau psicólogo, profissional e/ou investigador, sendo o currículo a sua arma fundamental. Relativamente às especificidades da instituição na qual lecciona, o Professor Armando Macha-do considera que esta tem duas características distintivas: a ênfase na investigação e a qualidade do seu corpo docente nesta área de investigação, que é muito forte. As avaliações neste centro de inves-tigação têm sido muito positivas, in-tegrando actualmente várias pessoas

com projecção internacional, profes-sores que formam os alunos e que os encorajam a investir também numa carreira além fronteiras, procurando desenvolver estudos noutras Univer-sidades. Assim, o aluno da Escola de Psicologia da Universidade do Min-ho tem uma formação na qual se en-contra muito próximo de docentes dotados de um grande currículo internacional. O Professor acrescen-ta ainda que “alunos mais arroja-dos, com maior iniciativa, têm aqui condições que não têm em nenhuma outra Universidade de Psicologia do país, em termos de facilidade e de quantidade de laboratórios em que podem trabalhar e de equipas de in-vestigação que podem integrar.” Este novo currículo (Pós-Bolonha) percebe que a Psicologia hoje não é a Psicologia de há dez ou vinte anos atrás, abrindo portas para lidar com as novas e emergentes áreas, nomea-damente, áreas quantitativas, bi-ológicas, engenharias, interligando

os novos conhecimentos, inerentes à inovação, com as áreas mais gerais e já com alguma afirmação conceptu-al e empírica na Psicologia da saúde, desenvolvimento e educação. Desta forma, não se trata de “fechar portas” a áreas e aliados tradicionais da Psico-logia, mas sim de criar novos conhe-cimentos de qualidade e de integrar saberes variados. Da Escola de Psicologia da Uni-versidade do Minho fazem parte o centro de investigação e o serviço de consulta aberto à comunidade, tendo o último a função de responder, não só às necessidades de aconselhamento e intervenção psicológica para alunos, funcionários e docentes, mas também, da população em geral. Ao mesmo tempo, a vertente de investigação permite que alguns dos seus proces-sos sejam articulados com o serviço de consulta, o que denota a preocu-pação pela manutenção de um elo de permanente relação e parceria entre investigação e prática da Psicologia.

A Psicologia na Universidade do Minho

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Texto Daniela Valente e Patrícia Pereira Fotografia José Francisco Soares

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Para o Professor Armando Machado os maiores desafios com que a Escola de Psicologia se depara serão, num futuro próximo, a conquista do mer-cado, já saturado, tendo em conta as necessidades do país e a diferenciação da massa humana pela sua quali-dade. Tal leva a Universidade do Minho a reconhecer e abraçar a ne-cessidade de se continuar a impor e a manter o seu nível elevado para que se diferencie das demais. Aqui a aposta é e será: “qualidade, qualidade, quali-dade”. Salienta-se a vontade de au-mentar, por exemplo, o número de estudantes de Erasmus, os índices de internacionalização em geral, estan-do a instituição, afirma o Professor, “cada vez mais a receber pessoas do estrangeiro e pedidos para fazerem estágios nos nossos laboratórios. Portanto, a parceria com Espanha tem vindo a aumentar, assim como com outros velhos parceiros: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, não nos desviando do grande desafio que é na qualidade”. Acrescenta ainda que, olhando para o futuro, as perspecti-vas são de que a Escola cresça, uma

vez que “em termos de Psicologia nós temos infra-estrutura e capacidades para crescer.” Quando questionado sobre a for-mação em Psicologia a um nível ger-al no país, o Professor considera que apesar de ter vindo a melhorar, é ain-da “fraquinha”, pelo que, a Escola de Psicologia da Universidade do Minho tem apostado em áreas de maior fragil-idade a nível nacional, especificamente, na formação quantitativa, formação na investigação dos processos psicológicos de base e formação laboratorial.

Apesar de as perspectivas indicarem um crescimento futuro, a Escola não apresenta, para já, intenção de abraçar novos projectos num futuro próximo. A intenção será estabilizar, como afir-ma o Professor Armando Machado: “precisamos de alguma tranquilidade devido às alterações na última década, parar um pouco, deixar que este novo currículo se exprima. Queremos aval-iar o currículo à medida que ele se vai desenrolando, tendo em conta resulta-dos, feedback dos alunos, percepções e resultados objectivos”.

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(...) a Escola de Psicologia da Universidade do Minho é “arrojada, dinâmica, jovem, com formação e investigação de qualidade e voltada para o futuro, luta pela fundamentação científica do saber, sendo estas algumas das características que nos permitem manter um rigor científico cada vez maior.

Segundo o mesmo Professor, a Es-cola de Psicologia da Universidade do Minho é “arrojada, dinâmica, jovem, com formação e investigação de qualidade e voltada para o futu-ro, luta pela fundamentação cientí-fica do saber, sendo estas algumas das características que nos permitem manter um rigor científico cada vez maior.” Margarida Vasconcelos, aluna do 4º ano do Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde e Vice-presidente da Associação de Estudantes, corrobora esta caracterização, afirmando que pouco deveria ser alterado na insti-tuição. Especificamente, afirma que apenas acrescentaria componentes práticas, por exemplo, no contexto de consulta, pois considera que isso é algo que falta na sua formação. Nas suas palavras, “esta é a melhor insti-tuição de ensino para se estudar Psi-cologia, em comparação com colegas meus que estudam noutros lugares: pelos Professores, pela forma como o conhecimento é transmitido e pelo plano curricular – apesar de o plano actual já ser diferente daquele com

que eu entrei que, a meu ver, até é bastante melhor – muito voltado para a investigação.” No entanto, confessa imaginar-se a estudar no estrangeiro devido à possibilidade de contacto com diferentes métodos de ensino e aprendizagem, de in-vestigação e de crescimento a nível profissional e pessoal.

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Quanto à investigação na sua Esco-la, Margarida salienta o facto de os alunos se poderem inscrever como colaboradores de investigação, o que lhes permite participar em projectos que estejam a decorrer em colaboração com os docentes. Por outro lado, existe também um banco de experiências, para efeitos de recolha de dados, que necessi-ta sempre da colaboração de es-tudantes universitários e é uma forma de fazer com que os alunos participem nos projectos. Relativamente à Associação de Estu-dantes da Escola de Psicologia, Mar-garida aponta, como principal objecti-vo, proporcionar aos alunos actividades e formações extra-curriculares. Enquanto vice-presidente, pretende que as actividades programadas pela Associação de Estudantes sejam um complemento à formação e ao dia-a-dia que os alunos de Psicologia têm na Universidade. Para além disto, é desejável que se abarquem os restantes alunos da academia e, se possível, toda a comunidade extra-academia, “porque isso é bom, traz pessoas à escola, di-vulga as actividades, os propósitos e a própria Escola de Psicologia”.

Ser estudante nesta instituição de ensino é “muito bom, um orgulho e um prazer por tudo aquilo que a Universidade do Minho nos proporciona, é um nicho de oportunidades, de crescimento pessoal e profissional e, quer os órgãos da Universidade, quer os órgãos da Associação de Estudantes, estão muito empenhados no crescimento dos seus alunos e na criação de oportuni-dades. Estudar aqui não é um mero passo na vida, é uma oportunidade que muitos não têm”, conclui Margarida Vasconcelos.A Escola de Psicologia da Universidade do Minho tem-se vindo a apresentar, segundo os seus docentes e estudantes, como uma instituição com um balanço positivo a todos os seus níveis de funcionamento, dos quais se destacam a formação, a investigação e respectivas infra-estruturas. Assim, parecem estar aglomeradas condições para um desenvolvimento futuro mais adaptado às condições práticas do exercício da profissão, abarcando novas áreas que pos-sam vir a integrar-se na área da Psicologia.

Ser estudante nesta instituição de ensino é “muito bom, um orgulho e um prazer por tudo aquilo que a

Universidade do Minho nos proporciona, é um nicho de oportunidades, de crescimento pessoal e profissional e, quer os órgãos da Universidade, quer os órgãos da Associação de Estudantes, estão muito empenhados

no crescimento dos seus alunos e na criação de oportunidades. Estudar aqui não é um mero passo na

vida, é uma oportunidade que muitos não têm”

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O ser humano é uma coisa estranha que pensa e nessa perspectiva inventou a liberdade. Por vezes sabe quem é, mas tudo o que quer é não o ser e, por isso, passa a vida a combater e a lutar contra si mesmo. E vai trabalhando… Outras vezes o que mais quer é preencher um vazio existencial e, neste caso, passa a vida a procurar algo que nem sabe bem o que é. E muda de trabalho… Inacabado ao nascer. Ao evoluir, insatisfeito. O encontro do indivíduo com a autenticidade da sua existência e de um lugar na sociedade é um dos seus maiores desejos. E nessa (mesma) perspectiva inventou a escolha e a decisão de livre vontade.

Nós somos estudantes de Psicologia e, ao longo do nosso percurso académico,

somos confrontados com momentos de importantes tomadas de decisão que nos vão definindo como estu-dantes, profissionais e pessoas. Um desses momentos é o “e agora, qual a área de especialização que vou escol-her?”. De facto, a formação em Psi-cologia, ao longo do seu percurso histórico, foi evoluindo de uma li-cenciatura geral e abrangente para uma formação mais especializada, estruturada em diferentes ramos ou áreas de especialização. Assim, para responder a essa questão há que conhecer a gama de oportunidades, e especificidades de cada área que ex-iste. Uma dessas áreas é a Psicologia

das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos. Porque os factos históricos e noções teóricas ganham outra dimensão, mais rica e profunda, quando aliados aos significados que as pessoas que os presenciaram e, mais do que isso, os impulsionaram, lhes atribuem, pedimos a colaboração dos Profes-sores Duarte Gomes, Paulo Renato e Teresa Rebelo, docentes da área de especialização em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Re-cursos Humanos na Universidade de Coimbra, para nos contar como sur-giu, como é e como poderá ser esta área de formação. Em Portugal, a formação em Psico-logia surgiu relativamente tarde, com-parativamente ao contexto europeu e

americano. Só após a Revolução de Abril de 1974, período durante o qual existiram movimentos, inves-timentos, vontades individuais e colectivas no sentido de afirmar a Psicologia, é que se fundaram, em 1977, pelo Decreto-Lei nº 12/77 de 20 de Janeiro, os “Cursos Su-periores de Psicologia”, no Porto, em Coimbra e em Lisboa, onde se enunciam três áreas de especialidade com o objectivo de formar psicólo-gos especialistas: Psicologia Clínica, Psicologia da Educação e Psicologia das Organizações e do Trabalho. Como nos conta o Professor Doutor Duarte Gomes, “a Psicologia foi-se organizando e estruturando, bem como a área de formação em Psico-logia das Organizações que, após o

A Psicologia das organizações, do trabalho e dos recursos humanos

A PSICOlOgIA AQuI E AgOrA

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Texto Ana rita Martins Fotografia Diogo Saldanha

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impulso inicial de professores que foram aprender para o estrangeiro (como eu que fui para Louvain, na Bélgica, fazer o meu mestrado na área, retornando a Portugal para en-sinar o que conhecera e investigara) e após reestruturações graduais, se foi adaptando, afirmando, modern-izando, internacionalizando e for-mando varias gerações de psicólogos até à actualidade”. Sistematizando, o Professor impulsionador do ramo na Universidade de Coimbra, re-corda o percurso de desenvolvimen-to da formação em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos em Coimbra: “depois da licenciatura em Psicolo-gia, onde se começou por inserir o estágio específico em Psicologia das Organizações e do Trabalho, surge o primeiro Mestrado em Psicologia das Organizações e do Trabalho, de-pois o doutoramento na área. Isto antes da implementação do Processo de Bolonha. Com esse, segue-se o Mestrado Integrado, de seguida o Mestrado Europeu WOP-P* e o curso de doutoramento em Psicolo-gia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos inserido no Colégio Doutoral de Tordesilhas**”. Tendo em consideração o movimento gradual de expansão, reconhecimento e aceitação deste ramo da Psicologia, questioná-mo-nos sobre o que é, afinal, a Psico-logia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos? Segundo a Professora Doutora Teresa Rebelo e o Professor Doutor Paulo Renato o que distingue esta área é o foco/nível a que se dedica, o seu objecto de estudo não é o indivíduo apenas em si mesmo, mas o “indivíduo em contexto, o indivíduo na or-ganização, e, também, o grupo e a organização”. Esta área procura as-sim estudar os processos psicológicos nestes três níveis – indivíduos, gru-pos e organizações – cruzando-os (e conciliando-os) entre si. De facto, o

seu grande foco é procurar conciliar objectivos individuais com grupais e organizacionais. Como é que o nível organizacional tem influência nos indivíduos? Como é que os in-divíduos conseguem moldar o nível organizacional? – são algumas das principais questões levantadas pela professora para explicar a natureza da Psicologia das Organizações. Os docentes consideram, ainda, que pensar a Psicologia das Organizações como uma disciplina exclusivamente aplicada é redutor da sua complexi-dade e relevância, pois ela não se limita à aplicação de conhecimentos provenientes da Psicologia geral nem à mera resolução de problemas orga-nizacionais. É uma área que desen-volve investigação, modelos, teorias próprios, e na qual os problemas são analisados como “um sintoma de um funcionamento mais complexo” através de um olhar mais amplo e consciente daquilo que é a organi-zação, os seus fenómenos e o tra-balhador. A Psicologia das Orga-nizações pretende trabalhar com um público específico: “trata-se de adultos empregados, em idade acti-va, que estão a fazer coisas, que têm objectivos, tarefas e prazos a cumprir, que sabem que têm de ser eficazes e que efectivamente querem ser mais eficazes e produtivos, sendo essencial aqui a articulação entre o bem-estar e objectivos pessoais com as metas organizacionais”, refere o Profes-sor e coordenador Duarte Gomes. Acrescenta ainda que outra forma de caracterizar a sua especificidade é falar em termos de cliente e do serviço prestado. O seu cliente habit-ual não é um indivíduo ou uma pes-soa individualmente considerada; são empresas, são organizações. A quali-dade do serviço que presta é avaliada pela entidade colectiva a que chama-mos organização. Os três docentes da equipa de for-madores na área da Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos

Recursos Humanos da Universi-dade de Coimbra enaltecem a ne-cessidade de ligação constante entre a investigação, prática profissional e formação, referindo que centram estas dimensões em dois princípios orientadores: por um lado os “2 R’s”, Rigor (na produção de uma investi-gação e formação fiável e de quali-dade) e Relevância (na adequação da investigação e formação ao exercício profissionalizante). Por outro, o “The Scientist Practitioner Model” (uma orientação científica e profissional) que denota a importância desta ar-ticulação entre investigação e inter-venção, e respectiva confluência na promoção de uma formação cientí-fica e relevante dos estudantes. Des-ta forma, seguem, nos mestrados que promovem – Mestrado Integrado e Mestrado Europeu WOP-P – o modelo de referência europeu da “European Network of Organisation-al Psychologists” (ENOP)***. A nível nacional, esta área de espe-cialização existe em várias universi-dade públicas e privadas ainda que adoptando diferentes denominações.

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Falta-nos uma associação que, à semelhança da que existe a nível europeu, promova, defenda e conduza ao nosso reconhecimento,(...)

A propósito disto, o Professor Du-arte Gomes refere que nem sempre a designação, orientação e organi-zação dos cursos é convergente por razões de tradição, inserção insti-tucional, história de cada faculdade e curso, investigadores e docentes da área, entre outras. Contudo, a área de especialização encontra-se activa na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Uni-versidade de Coimbra; na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Ed-ucação da Universidade do Por-to; na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa; na Escola de Psicologia da Universidade do Minho; no Departamento de Psi-cologia da Universidade de Évora;

no Departamento de Psicologia e Educação da Universidade da Beira Interior; na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade do Al-garve; no Instituto Superior de Psi-cologia Aplicada (ISPA); no Institu-to Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universi-tário de Lisboa (ISCTE-IUL); na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Lusíada de Lisboa, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa, na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica do Porto e no Instituto Piaget. En-tre as várias universidades nacionais há também um conjunto de co-laborações e de pontes que se vão construindo sobretudo com base em actividades concretas ou áreas de interesse conjuntas porque basi-camente “somos muito poucos em Portugal, todos nos conhecemos”, explicam os docentes entrevistados. Extrapolando o contexto nacional, torna-se relevante acentuar a aposta da área de Psicologia das Organi-zações, do Trabalho e dos Recursos Humanos da Universidade de Co-imbra na internacionalização da sua formação ao nível do 2º e 3º ciclos com a implementação do Mestrado Europeu WOP-P e do Colégio Dou-toral de Tordesilhas, respectivamente, que, ainda que com características diferentes, são duas colaborações em termos internacionais bastante relevantes para alunos e professores, para as faculdades e para o progresso científico e afirmação da área. Deste modo, os docentes de Coimbra desta-cam a participação de professores das Universidades do Porto, Lisboa, Minho e Évora como parte colabora-tiva no desenvolvimento do Mestra-do WOP-P. É exactamente este um dos prin-cipais desafios apontados pelos pro-fessores entrevistados: a criação de mais parcerias, orientando a nossa cultura nacional para a cooperação,

partilha e “movimento associativo” na área. “Falta-nos uma associação que, à semelhança da que existe a nível europeu, promova, defenda e conduza ao nosso reconhecimento”, são as palavras do Professor Duarte Gomes. Outros desafios apontados pela equipa referem-se à melho-ria na investigação científica, nas publicações, na visibilidade inter-nacional, na formação e no desen-volvimento profissional, ou seja, e utilizando as palavras do Professor Paulo Renato, uma “melhoria con-tínua”. A Professora Teresa Rebe-lo destaca ainda a necessidade de a “Universidade incentivar e ensinar as pessoas a saber pensar”, melhorando a formação dos alunos no sentido de lhes conferir a excelência e a diferença em termos curriculares e atitudinais, tão necessária nos tempos de crise actual. Neste sentido, refere que uma das grandes recompensas que retira da sua experiência como docente na área é “ver os nossos meninos a voarem ainda mais alto que nós, e isso sim é fantástico, pois a nossa função é fazer com que a próxima geração vá mais longe e leve a Psi-cologia das Organizações mais alto”. Dirigindo-se aos estudantes, apon-tam traços gerais dos alunos da área: “é preciso que as pessoas tenham mui-to gosto, se sintam verdadeiramente apaixonadas por esta área e convictas de que é isto que querem; é preci-so que sejam pessoas trabalhadoras, proactivas, que tenham valores de colaboração, ética, responsabilidade e empreendorismo no topo”. Aos estudantes de Psicologia em geral incentivam a aposta em actividades extra-curriculares, participando em estágios de curta-duração, voluntari-ado, movimentos associativos, etc., para que desenvolvam competências transversais, alertando para o facto de este ser um aspecto muito valori-zado no mercado de trabalho.

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Que sentido é que as pessoas dão ao trabalho e ao período mais activo das suas vidas? Numa época em que a desesperança face ao futuro cresce e os valores de responsabilidade cívica decaem, torna-se urgente desenvolv-er estratégias que ajudem a pessoa a confrontar-se com as suas poten-cialidades, a articulá-las com os seus postos de trabalho e a desenrolar um processo mais autêntico e significa-tivo de recriação de si próprio no contexto organizacional e social em que vive com sentido. Porque essa coisa estranha que pensa inventou a liberdade; porque é possível hu-manizar a crise e ter organizações mais humanas e mais eficientes; e porque podemos encontrar-nos no nosso contexto de trabalho, por mais instável que ele pareça, “um pouco muito” de Psicologia das Organi-zações faz bem a qualquer pessoa activa, grupo, organização e a toda a sociedade. Em jeito de conclusão, é ain-da importante ressalvar que este pequeno artigo constitui-se como uma primeira aproximação de divul-gação muito genérica de uma área de especialidade cuja complexidade ul-trapassa a abordagem geral aqui efec-tuada, pelo que arriscamo-nos a não ser totalmente justos e a não citar todos os seus principais precursores. A história da Psicologia e das suas especialidades, em Portugal, está por

fazer. Este é um pequeno contribu-to para que no futuro tal venha a ser concretizado.

* Ver primeira nota de rodapé do artigo “Trabalhar no Estrangeiro” publicado na presente revista. Para mais informações consultar o site oficial www.uv.es/erasmuswop/.

** O Colégio Doutoral de Tordesilhas em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos é o único colégio aprovado que articula cursos de doutoramento de seis instituições do Ensino Superior de Portugal, Espanha e Brasil: Universidade de Coimbra, ISCTE-IUL, Universidade de Sevilha, Universidade de Valência, Universidade de Mackenzie e Universidade de S. Paulo. Com o objectivo de desenvolver equipas de investigação e parcerias de co-orientação multinacionais, promove a mobilidade e intercâmbio de conhecimento, a cooperação interuniversitária e a participação no movimento europeu de crescimento científico e qualitativo da área.

** A ENOP, “European Network of Organisational Psychologists”, fundada em 1981, é um conjunto de associações europeis que visa a reflexão, discussão e partilha dos problemas, desafios e oportunidades relativos à Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos e que funciona como modelo de referência europeu na estruturação e organização da formação e investigação na área. Para isso promove um conjunto de actividades que se encontram divulgadas no seu site oficial http://www.enop.ee.

A PSICOlOgIA NA uNIVErSIDADE DO MINhO

Que sentido é que as pessoas dão ao trabalho e ao período mais activo das suas vidas?

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Em 2010, para além da aprovação, em Portugal, da lei que permite o casamento homossexual, do terramoto no haiti, de 7.0 graus na escala de richter, que provocou a morte de 230 mil pessoas, da realização do primeiro transplante facial total, da visita do papa bento XVI a Portugal, e dos 33 mineiros que ficaram presos numa mina no Chile, foi publicado, a 20 de Outubro, na 2ª serie do Diário da república o Despacho Nº 15866/2010 – regulamento de Estágios da Ordem dos Psicólogos.

Este despacho visava, no anexo que lhe estava associado, estabelecer as “regras e os

princípios normativos referentes ao estágio, com adequada assimilação que dele constam”. O estágio profis-sional, corresponde, nas palavras do Professor Doutor Telmo Baptista, a “um período de aprendizagem tu-telado, em ambiente profissional e a tempo inteiro”, que vem dar “in-ício a uma verdadeira experiência de trabalho, com as responsabilidades inerentes, e onde se pode fazer uma aplicação diversificada das aprendiza-gens que foram adquiridas na facul-dade”. “Aspectos relacionados com a promoção da profissão, e com as di-mensões práticas de relacionamento com outras profissões” também são adquiridos, com esta experiência. Em entrevista à RUP, o Professor Doutor Telmo Baptista, Bastonário

da OPP, refere que “a introdução de um estágio profissional obrigatório é fundamental para a profissão, e coloca-nos em situação de igual-dade com os outros países euro-peus, cumprindo-se assim uma formação que corresponde ao Di-ploma Europeu em Psicologia, isto é , a um amplo consenso na Euro-pa sobre qual deve ser a formação dos psicólogos”. O Bastonário frisa ainda que “a Psicologia é uma das poucas profissões que conseguiu esta consensualização, pelo que o recon-hecimento da profissão nos diversos países se tornará muito mais fácil. Além disso, o estágio profissional era já realizado por muitas pessoas, o que a lei veio fazer foi alargar a apli-cação, tornando-o obrigatório”. No entanto, uma matéria tão sensível como a dos estágios profis-sionais gera mais questões do que o

o que se pode imaginar. De facto, após este despacho, “para que uma pessoa se possa denominar psicólogo precisa de se inscrever na Ordem - após dois ciclos de formação em Psicologia - o que no momento presente significa ter o mestrado em Psicologia, e re-alizar um estágio profissional”, como explica o Sr. Bastonário. “Os critérios seguidos para a criação dos estágios passaram essencialmente por dois eixos: 1) Garantir que o es-tágio tenha uma supervisão por um membro sénior e que decorra numa instituição cujos objectivos sejam compatíveis com o trabalho em Psi-cologia; 2) Providenciar através de um pequeno curso associado ao es-tágio um contacto com as questões éticas e deontológicas da profissão, com os conceitos de empreendedo-rismo e com formas de gestão de projectos”.

Estágios da Ordem dos Psicólogos Portugueses

A PSICOlOgIA AQuI E AgOrA

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Texto Mariana guarino Fotografia roberto botelho

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Concretamente este processo passa, então, por três fases:

▶ Inscrição na OPP;

▶ Submissão do projecto de estágio, realização do estágio e de um curso de formação - intitulado “Deontologia e ética”;

▶ Conclusão do estágio profissional e entrega do relatório do mesmo.

O procedimento inicia-se, então, com a inscrição na Ordem dos Psicólogos Portugueses e com o registo na plataforma de estágios profissionais, “suporte informático que sustenta todos os procedimentos relacionados com os estágios profissionais” (...)

ESTágIOS DA OrDEM DOS PSICólOgOS POrTuguESES

O procedimento inicia-se, en-tão, com a inscrição na Ordem dos Psicólogos Portugueses e com o registo na plataforma de estágios profissionais, “suporte informático que sustenta todos os procedimentos relaciona-dos com os estágios profissionais” e onde intervêm o psicólogo estagiário, o orientador e a Comissão de Es-tágios. Posteriormente, o psicólogo estagiário deve preencher uma ficha disponibilizada pela OPP para sub-meter o seu projecto de estágio. Nesta ficha devem constar os dados relati-vos à entidade receptora, informação referente ao orientador, uma declaração de compromisso do psicólogo estagiário na qual este se responsabiliza por respeitar os seus deveres e o projecto de estágio a sub-meter. Neste último ponto, o psicólo-go estagiário deve fazer referência a diversos aspectos, tais como a enti-dade que o acolherá, que já tem de ter um protocolo com a OPP; a du-ração do seu estágio; os objectivos que pretende atingir; a definição e prepa-ração da sua estratégia; o planeamen-to da intervenção e da avaliação; entre outras. O orientador de estágio, não só deve ser membro efectivo da OPP, como também tem de estar a exercer há, pelo menos, 5 anos.

As entidades e os orientadores de estágio profissional devem preencher os “requisitos de idoneidade estabe-lecidos” assim como vincularem-se “perante a Ordem a respeitar os de-veres – sobretudo de colaboração e diligência – constantes do Estatuto da Ordem dos Psicólogos Portugueses”. Os protocolos de estágio profissional e de contratos de orientação de es-tágio profissional são instrumentos que servem de garantia do cumpri-mento destes requisitos assim como a “vinculação ao cumprimento dos mencionados deveres”. Caso a enti-dade receptora ou o profissional ain-da não tenha este protocolo com a OPP, o estagiário deve anexar ao seu projecto a proposta para a celebração do mesmo, para que assim se garanta o cumprimento e a vinculação acima mencionados. Após ter preenchido o formulário de inscrição e ter recebido o e-mail de notificação da conclusão do mesmo, o orientador validará o projecto sub-metido pelo psicólogo estagiário. Se a apreciação do orientador for nega-tiva, o estagiário será contactado por e-mail e deverá proceder às alterações necessárias. Caso a apreciação seja positiva, as únicas alterações que se poderão fazer daí em diante serão as propostas pela Comissão de Estágios. À Comissão de Estágios compete, depois do projecto se encontrar

lacrado, verificar se este “respeita, na sua totalidade, as regras e princípios constantes do Regulamento de Es-tágios da OPP” e autorizar a “pros-secução do projecto de estágio”. Esta validação “deve ocorrer no máximo de 60 dias a contar da data em que o mesmo é lacrado”. A duração do estágio profissional depende do tempo de formação dos psicólogos, isto é o estágio de profis-sionais com formação de 4 anos sem estágio curricular incluído tem uma duração de 18 meses e os restantes de 12 meses, o que corresponde, respectivamente, a um mínimo de 2400 e 1600 horas de exercício em Psicologia. Dois terços deste total de horas devem ser realizados em regime presencial. Esta imposição de um limite mínimo de horas pren-de-se com a necessidade de diferen-ciar um “estágio profissional de doze meses com uma carga horária de sete horas diárias” de “um estágio profis-sional que, embora com os mesmos doze meses, foi realizado com uma carga horária média de três horas diárias”, uma vez que “a experiência adquirida e o grau de cumprimento dos objectivos do estágio profissional são, num e noutro caso, totalmente díspares”, como refere a Ordem. Para garantir o cumprimento deste núme-ro mínimo de horas, o estagiário deve preencher, semanalmente, uma Ficha de Assiduidade, que também se encontra disponível na Plataforma de Estágios Profissionais, sendo que, no final de cada mês, o orientador deve proceder à validação destas fi-chas, que serão subsequentemente sujeitas à validação da Comissão de Estágios. Após meio ano a realizar estágio profissional, o estagiário deve também preencher, na Plataforma de Estágios Profissionais, o campo que se refere ao Relatório de Progresso. O orientador apreciará este relatório e preencherá uma ficha de avaliação onde inscreve a classificação do “de-sempenho do psicólogo estagiário de

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acordo com critérios previamente definidos”. Para valorizar e reconhecer o trabalho desenvolvido pelos es-tagiários junto das instituições, fornecendo a estas benefícios com o exercício dos estágios nas mes-mas, a Ordem prevê, no artigo 17º, nº 6, do Regulamento de Estágios que, como regra geral, os estágios devem ser remunerados, não o sen-do apenas quando o estágio em re-gime de voluntariado se percepciona como a única possibilidade com que o estagiário se depara. Não obstan-te a esta obrigatoriedade muitos são ainda os estagiários a realizar estágios em regime de voluntariado, como nos revelou uma estudante à procura de estágio profissional: “ao contrário do que se previa, os estágios profis-sionais remunerados são a excepção à regra”. Esta estudante refere ainda que “cada vez é mais difícil encontrar entidades que tenham possibilidades de receber estagiários mediante um pagamento pelos serviços prestados, especialmente no que respeita a enti-dades públicas. Com certeza que es-tas dificuldades não se verificam tan-to ao nível de empresas e entidades particulares, e por isso, áreas como a Psicologia das organizações não são tão afectadas. Já o mesmo não acon-tece com a Psicologia clínica, pois os hospitais, maternidades, entre out-ros, não têm como sustentar estágios profissionais remunerados”. A OPP, na pessoa do seu Bastonário, ao que a este assunto diz respeito apenas refere que “a posição da Ordem tem sido a que foi aprovada na sua As-sembleia de Representantes, ou seja, a de que os estágios devem ser remu-nerados, e que a excepção deveria ser a sua não-remuneração. No entanto, a Ordem entende que, não deve ser um impedimento a realizar um está-gio profissional para se tornar mem-bro efectivo da Ordem”. O Professor Doutor Telmo Baptista acrescenta ainda que “esta situação já foi expos-

ta por várias vezes aos organismos governamentais responsáveis. Aguar-damos uma resposta que nos permita esclarecer de forma mais precisa to-dos os estagiários”. Além das horas mínimas obrigatórias, o estagiário tem ainda de realizar um curso de formação no qual deve obter classificação positiva. Tais cursos são disponibilizados pela OPP que entende que “estes formam a base para uma abordagem da profis-são consequente com os desafios que hoje se põem aos psicólogos”, visan-do focar alguns assuntos importantes no que se refere à formação profis-sional e deontológica dos estagiários. Nas palavras de Inês Martins, uma profissional que realizou este curso em regime pós-laboral (existe tam-bém a possibilidade de o executar em regime intensivo), “o curso, embora um pouco cansativo pela intensidade do mesmo, é, ao contrário do que eu esperava, bastante interessante e uma ferramenta muito útil para o nosso futuro”. Quando questionada sobre a aplicabilidade do mesmo na vida profissional, Inês não hesita em responder que “no estado em que o país se encontra é fundamental o espírito de iniciativa que eles nos incutem, as formas de pensar que eles nos ajudam a desenvolver. Este curso além de tudo fomenta o nos-so espírito crítico e a nossa capaci-dade de desenvolver projectos a par-tir do zero”. Inês faz alusão à forma dinamizadora como o curso está or-ganizado: os grupos pequenos (15 pessoas) facilitam a participação de todos os elementos (aspecto mui-to valorizado na avaliação do cur-so) e as dinâmicas, os problemas e a exigência de soluções para os mesmos promove a capacidade de empreendedorismo. Como aspecto muito positivo do curso, Inês salien-ta a “disponibilidade e prontidão com que os professores se disponibi-lizam para nos ajudar e facultar o material necessário”.

A opinião de Inês é partilhada pela grande maioria dos estudantes que já teve a possibilidade de frequentar este como salienta o Bastonário da OPP, “ depois do curso ter sido fre-quentado por mais de mil pessoas, a avaliação que as pessoas fazem é mui-to positiva, e sentem que o curso os ajuda a perspectivar a sua vida profis-sional”.A frequência destes cursos torna-se, então, mais do que apenas um de-ver, um direito dos psicólogos no seu período de estágio, como está descri-to no comunicado da OPP acerca da temática dos estágios profissionais.Concluído o número mínimo de horas e obtida a avaliação positiva no curso de formação de estágio profis-sional, o estagiário deve realizar, en-tão, o seu relatório final, preenchen-do, na Plataforma de Estágios Profissionais, o formulário respecti-vo. Este relatório deve conter toda a informação referente às actividades desenvolvidas ao longo do tempo assim como a opinião e parecer do orientador de estágio. Esta avaliação é tida muito em conta pela OPP, uma vez que estagiário e orientador desen-volvem, durante o período de estágio, um trabalho muito próximo, tendo este último acesso a todo o método de trabalho do seu “aprendiz” e poden-do, por isso, fazer uma análise mais pormenorizada e fidedigna do mes-mo. Após a submissão do relatório final, a Comissão de Estágios procede à avaliação do mesmo, atribuindo classificação positiva ou negativa.

(...) o curso, embora um pouco cansativo pela intensidade do mesmo, é, ao contrário do que eu esperava, bastante interessante e uma ferramenta muito útil para o nosso futuro.

A PSICOlOgIA AQuI E AgOrA

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Os estudantes à procura de estágio, e os que já se encontram a realizá-lo, manifestam o seu desagrado relativamente ao funcionamento da

plataforma, alegando respostas tardias aos seus pedidos e submissões de projectos, o que dificulta

o desenvolvimento de todo o processo.

Caso se verifique a primeira situação, então o psicólogo estagiário pode solicitar em qualquer delegação da OPP a sua inscrição na OPP como membro efectivo. Na segunda situ-ação, a inscrição do psicólogo es-tagiário caduca.O estágio profissional é entendido como uma mais-valia, tanto para os profissionais, uma vez que lhes fornece “a possibilidade de prati-car a profissão sobre a tutela de um profissional experiente” como para os utilizadores que têm, assim, “uma garantia importante de que o profis-sional fez um percurso académico e profissional, e que beneficiou da su-pervisão, podendo por isso fornecer serviços de elevada qualidade”.Ainda assim, os estudantes à procura de estágio, e os que já se encontram a realizá-lo, manifestam o seu desagra-do relativamente ao funcionamento da plataforma, alegando respostas tardias aos seus pedidos e submissões de projectos, o que dificulta o desen-volvimento de todo o processo. Em resposta a este “obstáculo” o Profes-sor Doutor Telmo Baptista refere que “a criação de uma plataforma de estágios foi a única forma de con-seguir responder às necessidades de articular um número tão elevado de estágios em tão pouco tempo”, dado número de pessoas que actualmente saem dos 32 cursos de Psicologia deste país. A plataforma foi assim

criada para “reduzir a necessidade de contacto directo com a Ordem, a produção de documentos em papel, e para criar uma uniformidade no processo de submissão”. Embora o Bastonário confesse que “a primeira vez que se utiliza a plataforma esta possa parecer algo difícil”, garante também que a OPP está atenta e simplificou “todos os processos de modo a que não restem dúvidas sub-stantivas sobre o que se pretende”. No entanto, é de referir que “a espe-ra não está propriamente relacionada com a plataforma (…) uma atitude pró-activa diminuirá os tempos de obtenção destes documentos, e facil-itará muito o processo”. De qualquer modo, ficou a garantia de que a OPP se encontra muito atenta ao feed-back e vai introduzindo as modifi-cações que entendem que facilitam a utilização da plataforma.Em jeito de conclusão e, mais uma vez, recorrendo às palavras do Pro-fessor Doutor Telmo Baptista, “os es-tágios profissionais estão a realizar-se dentro da normalidade, dado o número de pessoas que todos os anos terminam os seus estudos”. Por sua vez, “a Ordem já assinou mais de 500 protocolos com instituições que se prontificam a fornecer está-gios profissionais, e tem no terreno pessoas que se dedicam a contactar instituições para aumentar o número de locais disponíveis para os futuros

estagiários”. Segundo Sr. Bastonário, uma procura activa de um local de estágio e de um supervisor, por parte de quem termina os estudos, é fun-damental, de forma a garantir uma maior continuidade entre o térmi-no do curso e o início dos estágios profissionais.

ESTágIOS DA OrDEM DOS PSICólOgOS POrTuguESES

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Excepto indicação em contrário, as expressões citadas foram retiradas do Manual de Estágios Profissionais e do Comunicado dos Estágios Profissionais disponibilizados no site da Ordem dos Psicólogos Portugueses e do Diário da República, 2ª série – Nº 204 – 20 de Outubro de 2010

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uNIDADES DE INVESTIgAçãO & DESENVOlVIMENTO EM PSICOlOgIA EM POrTugAl

Unidades de investigação & desenvolvimento em psicologia em PortugalA investigação tem sempre vindo a acompanhar o desenvolvimento do conhecimento e de novas descobertas no meio científico. No âmbito das ciências psicológicas, tal não é excepção. É através da investigação que se reúnem conhecimentos, conceitos e conclusões fundamentados em estudos rigorosamente desenvolvidos, que constituem (ou pretendem constituir) a base de qualquer boa prática psicológica. O estudo da Psicologia é, então, acompanhado por uma grande equipa de psicólogos que se dedicam a diferentes funções: há quem se dedique à atualização das suas bases teóricas, enquanto outros as põem em prática.

O estudo da Psicologia é, então, acompanhado por uma grande equipa de

psicólogos que se dedicam a diferentes funções: há quem se dedique à ac-tualização das suas bases teóricas, en-quanto outros as põem em prática. Em Portugal, existem diferentes apoios para aqueles que se querem dedicar inteiramente à investigação. Grande parte da investigação cientí-fica portuguesa é realizada em Uni-dades de Investigação & Desenvolvi-mento (I&D), designação oficial das unidades de investigação financiadas e avaliadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Des-ta forma, iremo-nos focar no apoio fornecido pela FCT às Unidades de I&D na área da Psicologia.

Em 2007 foi realizada a última avaliação internacional de Unidades de I&D, na sequência do processo de avaliação regular do sistema científico iniciado em 1996-1997, tendo como objectivo último “estimular o desen-volvimento do sistema científico e tecnológico nacional no quadro da sua crescente relevância internacio-nal”. Como resultado da avaliação, as instituições científicas são classifi-cadas em 5 categorias de qualidade (Excelente, Muito Bom, Bom, Regu-lar ou Fraco), sendo essa classificação usada para efeitos do financiamento de base a atribuir pela FCT a cada Unidade nos próximos anos. As instituições com classificações inferi-ores a Bom deixam de ser reconhe-cidas ou financiadas pela Fundação

para a Ciência e a Tecnologia. De acordo com a última avaliação existiam 15 Unidades de I&D em Psicologia em Portugal, no entanto, no presente momento existem ape-nas 9, que se encontram distribuídas por quatro localizações: Lisboa, Co-imbra, Porto e Minho.

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Texto Maria João gouveia Fotografia Diogo Saldanha

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Centro de Investigação e Intervenção Social do Instituto Universitário de Lisboa ISCTE (Cis-IUL)

▶ Coord. Francisco Esteves

▶ Psicologia Social e Organizacional— referência nacional nas relações de género, na Psicologia Organizacional, e na Psicologia da Comunidade— referência internacional na percepção de risco, emoções, relações intergrupais, cognição social e justiça social.

▶ Dois grupos de investigação:— grupos, cognição social e relações intergrupais (gCrI)— Qualidade da vida social: Saúde, ambiente e comunidade (SAC)

▶ Interdisciplinaridade— sociologia, economia, gestão, medicina, ecologia social, engenharia ambiental, ecologia, biologia, arquitectura e urbanismo

▶ Colaboração/cooperação com colegas de várias universidades, hospitais e Instituições, a nível nacional e internacional

Em Lisboa existem cinco unidades de I&D:

▶ Centro de Estudos de Psicologia Cognitiva e da Aprendizagem da universidade lusófona (CEPCA-ulh)

▶ Centro de Investigação e Intervenção Social do Instituto universitário de lisboa/ISCTE (Cis-Iul)

▶ Centro de Investigação em Psicologia da universidade de lisboa (CIPul)

▶ unidade de Investigação em Psicologia Cognitiva do Desenvolvimento e da Educação (uIPCDE-ISPA)

▶ unidade de Investigação em Psicologia e Saúde (uIPES – ISPA/Iu)

Centro de Estudos de Psicologia Cognitiva e da Aprendizagem da Universidade Lusófona

▶ Coord. Sara Ibérico Nogueira

▶ laboratório de Psicologia Experimental

▶ Três grupos de investigação: EducaTE — Psicologia da Aprendizagem e Desenvolvimento; criatividade. PsicoTIC — Psicologia Clínica e Psicoterapia; realidade Virtual; Eye Tracking.SocialOrC — Psicologia Social; Psicologia das Organizações; Psicologia Cultural.

▶ Objectivos:— estimular o interesse científico entre jovens investigadores— publicar pesquisa científica de todos os membros e colaboradores— promover um intercâmbio regular de informação dos resultados científicos na comunidade geral— ir de encontro aos interesses académicos da comunidade— Actualmente, o CEPCA está a preparar a III Conferência de Eye Tracking, Visual Cognition and Emotion

uNIDADES DE INVESTIgAçãO & DESENVOlVIMENTO EM PSICOlOgIA EM POrTugAl

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Centro de Investigação em Psicologia da Universidade de Lisboa (CIPUL)

▶ Coord. leonel garcia Marques

▶ Seis grupos de investigação:— Psicologia da Saúde e do Desenvolvimento— Processos de mudança em contextos clínicos e naturais— Orientação da Carreira e Desenvolvimento de recursos humanos— Processos Cognitivos e Cognição Social— Avaliação Psicológica: teorias, metodologias e aplicações— Auto-regulação: procedimentos de avaliação e intervenção.

▶ Objectivos:— melhorar a prestação de serviços à comunidade nos domínios da saúde, orientação da carreira e psicoterapia— aumentar a divulgação do conhecimento científico através da participação em conferências nacionais e internacionais, da publicação em revistas com revisores parceiros, em livros para profissionais e público em geral, e da organização de encontros científicos e seminários de formação avançada

Unidade de Investigação em Psicologia Cognitiva do Desenvolvimento e da Educação (UIPCDE-ISPA)

▶ Coord. Margarida Alves Martins

▶ Quatro linhas de investigação:— Psicologia do Desenvolvimento— Práticas de literacia e Aquisição da linguagem Escrita— Cognição e Contexto— Contextos de Vida e de Aprendizagem: Processos Afectivos e de Identidade

▶ Questões:— como é que a experiencia social afecta o desenvolvimento das competências fundamentais e limita a qualidade de vinculação da criança?— como é que as amizades com os pares afectam o desenvolvimento cognitivo e afectivo?— qual o efeito das práticas de literacia dos pais e dos professores no processo de aprendizagem da linguagem escrita das crianças nos primeiros anos escolares?

Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde (UIPES – ISPA/IU)

▶ Coord. Isabel Pereira leal

▶ Estudo dos processos de promoção/protecção de saúde, e a prevenção/tratamento de doenças, tanto a nível individual como comunitário

▶ áreas de investigação:— Psicologia Comunitária,— Saúde, Doença e Qualidade de Vida— Psicologia Sexual, género e Parentalidade

▶ Objectivos— Atingir o reconhecimento e a excelência internacionais, através da investigação e formação avançada nas áreas de interface entre a Psicologia e a Saúde, a nível internacional, sem esquecer o estado de arte português e dos países de língua portuguesa.

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Page 87: Revista Universitária de Psicologia Nº1 - 2012

Em Coimbra, existem actualmente duas Unidades de I&D financiadas pela FCT:

▶ CINEICC-uC (Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental)

▶ IPCDVS-uC (Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e Social), ambas sediadas na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da universidade de Coimbra (FPCEuC)

Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC-UC)

▶ Coord. José Pinto gouveia

▶ Comissão Externa Permanente de Aconselhamento Científico (CEPAC) constituída por professores de universidades internacionais de reconhecido mérito científico que acompanham, colaboram e avaliam a actividade desenvolvida pelas diferentes linhas de investigação— Paul gilbert da universidade de Derby (Inglaterra)

▶ Quatro linhas de investigação:— Modelos Cognitivo-Comportamentais, Teoria de ranking Social, Psicopatologia e Saúde— Sexologia Clínica (na universidade de Aveiro)— Avaliação Neuropsicológica e Cognitiva— Psicologia Sócio-cultural, Cognição Social e Saúde (que funciona no Instituto Superior da Maia)

▶ Objectivos:— apoiar os docentes e investigadores universitários que realizam investigação clínica— promover intercâmbios entre investigadores e unidades de investigação nacionais e internacionais— Jornadas Internacionais “Novos olhares sobre a mente”, de dois em dois anos, onde são apresentados os trabalhos desenvolvidos pelas diferentes linhas de investigação, em conferências, simpósios e workshops

Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e Social (IPCDVS-UC)

▶ Coord. Eduardo Santos

▶ Para além dos investigadores nacionais, a colaboração de investigadores estrangeiros é muito valorizada

▶ linhas de investigação (cada uma conta com um investigador internacional externo ao Instituto, responsável por fazer a avaliação e por guiar os trabalhos desenvolvidos):— Cognitiva e Social Aplicadas— Comportamento e Desenvolvimento Vocacional e Académico— Transições Psicossociais no Contexto de Sistemas de Desenvolvimento e Multiculturais: A Pesquisa pela Qualidade— relações, Desenvolvimento & Saúde

▶ Este ano irá realizar dois eventos de grande peso:— 1st International Conference on Time Perspective – Covering Paths in Psychology Time Theory and research— life Transitions: Contexts and Processes (com a colaboração de parceiros das universidade de Albany-New york e Wisconsin)

uNIDADES DE INVESTIgAçãO & DESENVOlVIMENTO EM PSICOlOgIA EM POrTugAl

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Page 88: Revista Universitária de Psicologia Nº1 - 2012

No Porto actualmente existe apenas:

▶ Centro de Psicologia da universidade do Porto (CPuP) enquanto unidade de I&D, que tem como instituição de acolhimento a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da universidade do Porto (FPCEuP).

Na Universidade do Minho existe uma Unidade de I&D de referência nacional:

▶ Centro de Investigação em Psicologia (CIPsi-uM)

Centro de Investigação em Psicologia (CIPsi-UM)

▶ Coord. Pedro Albuquerque

▶ Promover o estudo científico do comportamento em vários domínios, desde os mais básicos aos mais aplicados

▶ Dois domínios de investigação que englobam seis áreas de investigaçãoBásica — laboratório de Cognição humana; laboratório de Aprendizagem e Comportamento animal; laboratório de NeuropsicofisiologiaPsicologia Aplicada — Psicoterapia e Psicopatologia; Justiça e Violência; Aprendizagem e realização

Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP)

▶ Coord. Marianne lacomblez

▶ grupos de investigação (inseridos em redes internacionais):— Contextos relacionais de desenvolvimento— Desenvolvimento da carreira e aprendizagem ao longo da vida— grupo de Investigação em linguagem— grupo de Investigação em Psicologia Social— grupo de Investigação em Psicologia do Trabalho— Investigação desenvolvimental, educacional e clínica em crianças e adolescentes— Motivação e projectos de vida: influências da família e da escola— Organizações: gestão, processos e mudança— grupo de Saúde e reabilitação

▶ Objectivos:— investigar o comportamento humano nas diversas situações em que ocorre, a concepção de meios diagnósticos e o desenvolvimento de estratégias interventoras exigia uma diferenciação das tarefas atinentes— contribuir para o bem-estar do ser humano e para uma sociedade renovada, tendo em conta a especificidade da realidade portuguesa e a sua inserção num mundo global

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Page 89: Revista Universitária de Psicologia Nº1 - 2012

No sentido de procurar aproxi-mar as Unidades de Investigação & Desenvolvimento e os interesses dos próprios estudantes de Psicologia do nosso país, pedimos a estas uni-dades que respondessem a algumas questões.

Que facilidade têm os estudantes de Psicologia em contactar directamente com o trabalho desenvolvido pelas Unidades de Investigação & Desenvolvimento?

▶ A maioria das unidades de I&D encontra-se aberta à participação dos estudantes nas investigações em desenvolvimento, mesmo ainda durante a licenciatura, colaborando voluntariamente com investigadores membros das unidades. Os estu-dantes podem também conhecer o trabalho realizado no seio das uni-dades, através das actividades como conferências e colóquios que cada unidade vai realizando.Na UIPES, os estudantes podem co-laborar com os trabalhos da unidade através de estágios de investigação a que se podem candidatar ainda du-rante a licenciatura. O CIS é apre-sentado aos alunos no início do ano, sendo a informação sobre a investi-gação transmitida de forma natural nas aulas. Desta forma, os alunos do 1º e 2º ciclos podem candidatar-se como estagiários: “temos cerca de 30 por ano em projectos financia-dos (pagos pelos projectos) ou sem financiamento próprio (pagos pelo orçamento global do CIS)”. No IP-CDVS e no CINEICC, apesar de ser difícil abrir bolsas de investigação a estudantes dos 1º e 2º ciclo, todos aqueles que quiserem entrar em con-tacto com as investigações em desen-volvimento são bem-vindos, medi-ante um programa de voluntariado obviamente certificado. No IPCD-VS, no caso dos recém-formados, estes podem-se candidatar a bolsas

de 6 meses, 1 ano ou, no máximo, 5 anos. No CINEICC tanto os es-tudantes de Mestrado como os de Doutoramento podem facilmente desenvolver ou participar em investi-gações que estejam a decorrer numa das linhas de investigação da uni-dade. Entre 2008 e 2010 o CPUP acolheu na sua equipa 24 estudantes do 1º ciclo de estudos do ensino su-perior (Bolseiros de Integração na Investigação). No CIPsi, segundo o Professor Pedro Albuquerque, há três formas de os alunos, ao longo do seu percurso académico, participarem na investigação: uma delas é como colaboradores de investigação, colo-cando os alunos em contacto directo com a investigação (no ano de 2011 abriram 49 vagas); os alunos interes-sados em determinada área têm tam-bém a oportunidade de ajudar um investigador e participarem na sua investigação, podendo ser integrados na própria unidade; a outra forma é enquanto sujeitos participantes nas experiências que se realizam, medi-ante um sistema de creditação.

Que possibilidades isso dá aos estudantes de Psicologia e o que podem ganhar com isso?

▶ De um modo geral, são vários os ganhos dos estudantes apontados pelas unidades: a própria apren-dizagem inerente a essa experiên-cia, competências específicas de investigação, a possibilidade de se poderem envolver e contactar diretamente com novos projetos, de poderem sugerir e assumir al-guma liderança em novos projetos de investigação, de poderem seguir uma carreira de investigação, de participar com comunicações em congressos nacionais e internacio-nais ou ser co-autores de artigos científicos, havendo sempre um ganho curricular. De acordo com o CPUP, o contato directo com as actividades de inves-

tigação e a integração em equipas de investigação é um estímulo para os estudantes e permite o desen-volvimento do seu sentido crítico, autonomia e criatividade. Segundo o Professor Eduardo Santos, direc-tor do IPCDVS, quando entramos numa unidade de investigação entra-mos no Mundo da investigação, “to-das as competências adquiridas dão aos estudantes uma aprendizagem que lhes permite lidar com a ciência de modo mais amigável, facultan-do uma experiência que não se tem ao longo do percurso académico, e que é complementar a esse. É como ir aos bastidores da ciência e ver o making of da ciência”. Na opinião do Professor Pedro Albuquerque, do CIPsi, fazer investigação implica adquirir um conjunto de competên-cias aplicáveis não só a nível da in-vestigação, como em qualquer outro trabalho.

Que importância pode ter a participação dos estudantes de Psicologia no trabalho desenvolvido pelas Unidade de Investigação & Desenvolvimento?

▶ A participação dos estudantes é essencial em muitos aspectos: permite diversificar e enriquecer a investigação feita na unidade, trazer sentido crítico, inovação e criatividade. De acordo com o Pro-fessor Francisco Esteves, diretor do CIS-IUL, os alunos adquirem uma atitude científica perante a Psicolo-gia e a vida em geral. Na opinião do Professor Eduardo Santos do IPCD-VS, com os estudantes, as unidades de investigação ganham um grau de realismo acerca das necessidades dos próprios estudantes, e um conheci-mento acerca daquilo que deve ser adaptado em termos do processo de ensino-aprendizagem, para além do entusiasmo e sugestões que trazem. Para além disso, a participação dos

uNIDADES DE INVESTIgAçãO & DESENVOlVIMENTO EM PSICOlOgIA EM POrTugAl

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estudantes em atividades de recolha de dados, é essencial para o desen-volvimento da investigação, para além de permitir alargar o número de participantes em algumas inves-tigações. São também uma impor-tante ajuda em termos logísticos, por exemplo, na realização e organização de congressos, como estão de acordo o IPCDVS e o CINEICC. O CPUP acrescenta ainda que os estudantes constituem uma forma de dissem-inar os resultados das investigações científicas, contribuindo para a di-vulgação do trabalho desenvolvido pelo centro. De um modo sucinto e, na opinião do Professor Pedro Albu-querque do CIPsi, a investigação vive da participação dos alunos enquanto participantes nas experiências e en-quanto assistentes (colaboradores) de investigação.

O que acha da investigação em Psicologia desenvolvida em Portugal?

▶ Unanimemente, todas as uni-dades reconhecem um desenvolvi-mento exponencial nos últimos 20 anos da investigação em Psicolo-gia em Portugal, aproximando-se gradualmente da investigação que é feita a nível internacional. Segun-do o UIPCDE e o CIS, o resultado desta evolução demonstra-se através dos vários centros de investigação existentes em várias instituições de Psicologia, que têm desenvolvido um trabalho notável, ao nível do que mel-hor se faz na Europa. Na opinião do Professor Francisco Esteves, também as universidades começaram a recon-hecer e a valorizar a componente de investigação (e não só a docência). É um processo a médio/longo prazo que começa agora a dar frutos.O panorama da investigação em Psicologia em Portugal, na opinião do Professor Eduardo Santos, do IPCDVS, é bom, dada a existência de bons centros de investigação e de

bons investigadores, mas neste mo-mento está mal, devido, essencial-mente, à situação de crise que o país atravessa. Temos potencialidades e reconhecimento internacional, mas sem as condições de trabalho dos nos-sos colegas estrangeiros. A directora do CEPCA, Dr.ª Sara Ibérico acrescenta que muitas áreas ainda estão por desbravar e que são precisos jovens investigadores que as-sumam a sua cota parte de respons-abilidade, que liderem e estimulem novos trilhos. Na área da Psicologia experimen-tal, o Professor Pedro Albuquerque do CIPsi, reconhece que há cada vez mais pessoas novas com mais quali-dade na investigação experimental, e cada vez mais vão para fora realizar investigação. A grande dificuldade é a publicação em inglês, o que aumenta em grande escala o esforço de cada publicação, impedindo, muitas vezes, que sejam atingidos níveis semelhan-tes aos de países estrangeiros.

O que acha que podia mudar/melhorar?

▶ De um modo geral, todas as uni-dades referem a falta de suporte para a continuidade e publicação dos seus trabalhos, nomeadamente o apoio financeiro, sobretudo aos jovens in-vestigadores. É também partilhada a insatisfação relativa à sobrecarga de trabalho dos investigadores dev-ido à acumulação, em grande parte dos casos, de funções docentes e de prestação de serviços à comunidade, quando não de funções de gestão. Neste momento, como refere o Pro-fessor Eduardo Santos do IPCDVS, a internacionalização é muito impor-tante, pois não só nós aprendemos com os colegas estrangeiros, como também eles aprendem connosco. Tanto o IP-CDVS como o UIPCDE referem que a investigação desenvolvida na área da Psicologia em Portugal carece ainda de algumas redes internas de suporte.

Por um lado, deveria ser promovido o desenvolvimento de projectos de investigação entre os vários centros de Psicologia, promovendo sinergias entre os investigadores das várias unidades. A criação destas parcerias permitiria um desenvolvimento de investigação cada vez mais aprofun-dada e, por outro lado, a criação de um Laboratório Associado em Psico-logia, de momento inexistente. Por outro lado, a investigação nacional em Psicologia carece ainda de divul-gação internacional. O CPUP aponta mais alguns as-pectos a melhorar: problemas nos processos de avaliação dos Centros de Investigação em Psicologia e das candidaturas de projectos de investi-gação em Psicologia; os Bolseiros de Investigação encontram-se em situ-ação precária; tem-se desvalorizado a produção científica em língua portu-guesa; não existe um reconhecimen-to do papel cultural fundamental exercido pelos investigadores na co-municação da ciência à comunidade em geral. Nas palavras do Professor Eduardo Santos, do IPCDVS, é necessária a mediatização da ciência e a transferência do conhecimento para a sociedade.

A PSICOlOgIA AQuI E AgOrA

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▶ Os eventos referidos neste artigo poderão ser consultados com mais detalhe no final desta revista em “Próximos Eventos em Psi-cologia”.

Fontes online:http://www.fct.pt/apoios/unidades/avali-acoes/2007http://www.cis.com.pt/index.php?ref=1http://www.fpce.up.pt/cpup/

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PróXIMOS EVENTOS EM PSICOlOgIA

Próximos eventos em Psicologia

Com o objectivo de promover o envolvimento e a participação do leitor na área da Psicologia, bem como fomentar o seu gosto por tal, a ruP elaborou uma lista dos

eventos que decorrerão num futuro próximo. Participa!

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PróXIMOS EVENTOS EM PSICOlOgIA

RUP Nº1 91

▶ a avaliação Psicológica e a Intervenção em Psicologia Clínica Psicanalítica: 15 de Outubro de 2012 a 1 de Julho de 2013; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ avaliação Psicológica de Condutores: Início a 16 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ avaliação e Intervenção na Dislexia: Início a 16 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Marketing na Saúde: Uma ferramenta para todos os profissionais de saúde: Início a 20 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Psicofarmacologia para Psicólogos: Início a 24 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Sistemas organizacionais de gestão de talento: Início a 30 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

/ PoRto

▶ Intervenção nas toxicodependências: 13 de Outubro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

▶ Intervenção no tabagismo: 24 de Novembro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

Formações

/ LISBoa

▶ Curso avançado de Psicogerontologia: 24 de Setembro de 2012 a Janeiro de 2013; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Curso Prático em Balística Forense: 29 de Setembro a 6 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ a Clínica Infantil – o Desenho e o Brincar: 6 de Outubro a 24 de Novembro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Introdução a PNL - Programação Neuro Linguística: Início a 8 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ avaliação Psicológica de Crianças com Dificuldades de aprendizagem: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Desenvolvimento transpessoal - Consciência e espiritualidade: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Intervenção na Crise em Diferentes Contextos: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Autismo, Hoje: Início a 13 de Outubro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

/ PoRto

▶ 3rd Joint Meeting of the european and the United Kingdom Chapters of the Society for Psychotherapy Research: de 11 a 13 de Outubro; ordemdospsicologos.pt

/ SaNto tIRSo

▶ V Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia da Justiça: 9 e 10 de Novembro; Local não divulgado (sede da associação: Santo tirso) spppj.com (Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia da Justiça)

▶ I Congresso Internacional de Neuropsicologia e Neurociências - Novos e Velhos Paradigmas: 16 e 17 de Novembro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

EncontrosCientíficos

Page 93: Revista Universitária de Psicologia Nº1 - 2012

PróXIMOS EVENTOS EM PSICOlOgIA

/ LISBoa

▶ Avaliação e Intervenção Psicológica com Crianças e Adolescentes: de 12 Outubro de 2012 a 9 de Junho de 2013; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

/ PoRto

▶ Ciências Forenses, Investigação Criminal e Comportamento Desviante: Início a 6 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Avaliação e Intervenção com Crianças e Adolescentes: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Psicomotricidade: Início a 13 de Outubro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

▶ Terapia Familiar e Intervenção Sistémica: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Intervenção Clínica em Psicogerontologia: Início a 20 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Neuroeducação: Início a 27 de Outubro; Portal dos Psicólogos)

▶ reinserção Social e gestão de Projectos de Intervenção: Início a 17 de Novembro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

▶ Psicoterapias Cognitivo Comportamentais de terceira geração – Mindfulness e outras abordagens: Início a 24 de Novembro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

/ CoIMBRa

▶ Prática Clínica em Saúde Mental: de Outubro a Dezembro de 2012; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Avaliação e reabilitação na Neuropsicologia Clínica: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Intervenção Cognitivo Comportamental – III edição: Início a 27 de Outubro; associacaocentraldepsicologia.pt

▶ Psicopatologia da Infância à Idade adulta - Diagnóstico e Intervenção: Início a 10 de Novembro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Sexologia Clínica – Diagnóstico e Intervenção: Início a 24 de Novembro; associacaocentraldepsicologia.pt

▶ Psicologia Forense: Início a 24 de Novembro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

/ ÉVoRa

▶ Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: Início a 20 de Outubro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

Workshops

/ LISBoa

▶ a Influência da Linguagem Corporal: Comunicação Não-Verbal: 17 e 18 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ técnicas para apoio a grupos de ajuda Mútua: 13 e 20 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

▶ Psicoterapia Bonding: treino de consultas em psicoterapia emocional e bonding e desenvolvimento pessoal: 27 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

/ SaNto tIRSo

▶ Profiling: 8 de Novembro; local não divulgado (sede da associação: Santo Tirso)spppj.com (Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia da Justiça)

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Pós-Graduações / e-LeaRNINg

▶ Ciências Forenses e Medicina Legal: Início imediato; Internet (E-learning) Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

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