Revista U 2

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www.auniao.com A REVISTA SEMANAL D´A UNIÃO SOCIALIZAR A DOENÇA MENTAL SÓ NOSSA…. A DOENÇA NÃO É OU COMO edição 34.707 · 26 de março de 2012 · preço capa 1,00 (iva incluído) FOTO / Rui Soares

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Revista semanal jornal A União edição n.2

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Page 1: Revista U 2

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A REVISTA SEMANAL D´A UNIÃO

Socializar A DOENÇA

MENTAL

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Área Clínica Médicos

Análises Clinicas Laboratório Dr. Adelino Noronha

Cardiologia Dr. Vergílio Schneider

Cirurgia Geral Dr. Rui Bettencourt

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Dr. Fernando Oliveira

Dr.ª Catarina Fragoso

Cirurgia Plástica Dr. António Nunes

Clínica Geral Dr. Domingos Cunha

Medicina DentáriaDr.ª Ana FanhaDr.ª Joana RibeiroDr.ª Rita Carvalho

Dermatologia Dr. Rui Soares

Endocrinologia Dr.ª Lurdes MatosDr.ª Isabel Sousa

Gastroenterologia Dr. José Renato PereiraDr.ª Paula Neves

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Medicina Interna Dr. Miguel Santos

Medicina do Trabalho Dr.ª Cristiane Couto

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Neurologia Dr. Rui Mota

Neuropediatria Dr. Fernando Fagundes

Nutricionismo Dr.ª Andreia Aguiar

Otorrinolaringologia Dr. João MartinsDr. Rocha Lourenço

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Clínica Geral (Doenças de Crianças)

Dr.ª Paula Gonçalves

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PsicologiaDr.ª Susana AlvesDr.ª Teresa VazDr.ª Dora Dias

Psiquiatria Dr.ª Fernanda Rosa

Oftalmologia Dr. Francisco Dinis

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Neuroradiologia (TAC/Ressonância Magnética) Dr.ª Rosa Cruz

Reumatologia Dr. Luis Mauricio

Terapia da Fala Dr.ª Ana NunesDr.ª Ivania Pires

Urologia Dr. Fragoso Rebimbas

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EDITORIAL / SUMÁRIO

26 Março 2012 / 03

Nota de suicídioTEXTO / Marco de Bettencourt Gomes | [email protected]

Quero que me digas que não vou morrer. Mesmo que me mintas. Mesmo que eu te desiluda. Mesmo se eu gostasse muito de morrer. Quero ler todos os poemas que falam e calar-me sozinho contigo. Quero esperar-te mesmo que não venhas. Esta vida está a matar-me. Já não sei morrer. Até ago-ra toda a gente tinha na família alguém que morria de cancro. Daqui a dias todos terão é alguém que se ma-tou. Nem eu levo a sério quem escreve a carta a dizer que se vai matar, mas isso só é um mito. Eu já morri! Es-crevo a dizer que sou morto. É que não contam comigo, não contas comigo, não conto comigo.Por aqui toda a gente se suicida pelo menos uma vez por semana. A conta gotas, com ansiolíticos ou anti-depressivos sub-repticiamente subtraídos das prate-leiras. Com anestésicos socialmente branqueados. E arrastam-se com elegância maquilhada para os psi-quiatras de esquina.A Igreja até há pouco recusava exéquias aos que aco-metiam contra a própria vida com um intuito dissuasor. O facto é que ninguém muda de vida por ser ameaçado com as penas do inferno. Já basta de inferno. A Igreja emendou a mão. Mas os coveiros continuam a reservar nos cemitérios um canteiro à parte, pelo sim pelo não.Diz o catecismo cristão do primeiro século que não morre quem nasceu mas quem nasceu tenha cuidado para não morrer.Sigo por um caminho macio que me foi proposto por Portugal. De um momento para o outro deparo-me com um muro intransponível. Olho à volta. Não há volta a dar. Não posso voltar para trás. Que fazer? Não me consigo acomodar, não consigo adequar-me. Não te-nho resposta e a única resposta é deixar de ser visto.É que todos, a médio prazo, estaremos mortos. Será que vale mesmo a pena não morrer já?

suMÁRio

NA cAPA... RUI SOARES | pág. 16

Fritz Pampus, psicoterapeuta alemão de 62 anos, com mais de quatro décadas de experiência, esteve no Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo para falar do tratamento de doenças mentais, especial-mente da terapia sistémica que defende a abertura do tratamento às pessoas mais próximas do pacien-te, sejam familiares amigos ou colegas de trabalho.Além disso, pelo meio da intervenção não se esque-ceu de dizer que o papel educativo dos pais é pra-ticamente nulo.

empresas buscamsalvação 04

editorial 03

ferramentas 07

doença silenciosa 08

a “mamã” do isaías 11palavras 13teodoro medeiros 15

comer de formasaudável 14

fotógrafo 23josé júlio rocha 25ócios 28

rua dos açores, porto 26

cultura 30agenda 31

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REVISÃO

26 Março 2012 / 04

EMPRESAS BUSCAM SALVAÇÃO

A Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) lançou, na semana finda, um novo programa para apoiar as empresas que estão a passar por maiores dificuldades no panorama ac-tual. O Programa de Recuperação de Em-presas Açorianas será ministrado por consultores especializados em dife-rentes áreas de actividade e tem duas vertentes: reestruturar as empresas que ainda têm viabilidade económica, e/ou apoiar aquelas que não têm via-bilidade, para que sejam reduzidos os impactos da sua insolvência. “Muitas empresas não estavam prepa-radas, de forma alguma, para um cená-rio económico desta natureza. Nesse sentido, a CCAH não poderia deixar de actuar neste nível, contratando es-pecialistas para actuarem nessas situ-ações de grande dificuldade”, disse o presidente da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo em conferência de imprensa.“Estamos a falar, por exemplo, de mi-croempresas familiares, cujos impac-tos da crise afectam toda uma família e que têm pouca capacidade de gestão e de resolução de alguns constrangi-mentos, necessitando de ajuda para resolverem algumas situações da for-ma mais adequada”, salientou Sandro Paim.

“Muitas empresas não estavam preparadas, de forma alguma, para um cenário económico desta na-tureza.”

CONSULTORIA DE GESTÃO, JURÍDICA E FINANCEIRA O programa actua nas vertentes de con-sultoria de gestão, jurídica e financeira, e vai decorrer em três fases. Sandro Paim especifica “A primeira é uma abordagem e avaliação com os objectivos de conhe-cer a realidade da empresa e principais dificuldades, avaliar a situação e efectu-ar um primeiro diagnóstico”. O diagnóstico é apresentado ao empre-sário e este pode avançar para uma se-gunda fase, se assim o entender. Caso pretenda continuar, será conso-lidada a fase de diagnóstico, definidas orientações estratégicas face à reestru-turação empresarial e aplicar as medi-das correctivas. “Estamos a falar de micro, pequenas ou médias empresas. Serão sugeridas uma quantidade de acções, que têm a ver

PRoGRaMa PaRa SaLVaR eMPReSaS

CoNSULtoRIa de GeStÃo

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26 Março 2012 / 05

REVISÃO

“teM qUe haVeR CoRReSPoNSabILI-zaçÃo do eMPRe-SáRIo PaRa CUM-PRIR CoM aqUeLaS MedIdaS, PaRa qUe No fIM do PeRíodo de IMPLeMeNtaçÃo do PLaNo, a eM-PReSa PoSSa eStaR CoMPetItIVa PaRa eNfReNtaR o MeR-Cado”

iNoVAR É MEsMoPRECISO

TEXTO / João Rocha / [email protected]

Com um cenário de crise acentuada, as empresas locais passam por manifes-tas dificuldades. Um novo programa de recuperação, lançado pela Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo, pode constituir a derradeira hipótese de sal-vação para 150 empresas das ilhas Ter-ceira, São Jorge e Graciosa.O busílis da questão consiste em saber quantas empresas estão de facto em condições de garantir a sobrevivência depois de ajudadas.Por exemplo, olhando para a actividade comercial no burgo angrense, facilmen-te se chegará à conclusão de que há ne-gócios do mesmo ramo em demasia. Provavelmente, surgirá a necessidade de inovar, em apostar em produtos pró-prios que possam fazer a diferença ao nível da oferta.Não parece fazer sentido que um snack-bar aposte na modalidade do prato do dia competindo directamente com os restaurantes, dispensando o enorme campo de possibilidades que a comida ligeira oferece em termos de inovação.A culpa não será sempre das grandes superfícies e dos chineses…

surgirá A NEcEssi-dAdE dE iNovAr, EM AposTAr EM produ-

Tos próprios

com a gestão do estabelecimento, com o aproveitamento das medidas que exis-tem no mercado e com o fornecimento de um cronograma ao empresário para cumprir com acções muito especificas para poder recuperar a empresa”, re-força o líder da CCAH. A terceira fase consiste em acompanhar o plano de acção e avaliar o sucesso das medidas implementadas e acerca da necessidade de ajustamentos direc-tamente com o dono e contabilista das empresas. “Tem que haver coresponsabilização do empresário para cumprir com aque-las medidas, para que no fim do período de implementação do plano, a empresa possa estar competitiva para enfrentar o mercado”, salienta.

APOIO NO ENCERRAMENTO E INSOLVÊNCIAExistem também empresas que no dia-gnóstico não terão viabilidade e essas terão também um “tratamento espe-cial”. Ou seja, em qualquer uma das fases a empresa pode ser encaminhada para um processo de insolvência encerramento. Segundo o presidente da CCAH, “há, ainda, uma grande dificuldade do em-presário para passar para um processo de insolvência, que pode dar origem ao encerramento da empresa”. A esse ní-vel, “ também considerámos importante haver um acompanhamento, nomea-damente nos processos de negociação com finanças, segurança social. Se não houver viabilidade, teremos consultoria no encerramento”, adianta.

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REVISÃO / OPINIÃO

26 Março 2012 / 06

A uRGÊN-ciA doFAZErTEXTO / Sandra Costa Saldanha

Num tempo em que a optimiza-ção dos recursos se exige, em que a emergência do fazer se impõe, o número de feriados e os dias de descanso têm motiva-do a discussão sobre a produti-vidade das instituições.Mas produzir e ser fecundo passa também por ultrapassar factores internos de contrapro-dutividade, como a burocracia e outros hábitos instalados, que pouco se têm debatido.Num contexto organizacional ex-cessivamente submerso em pro formas e ofícios estéreis, a que o país não se pode dar ao luxo, a ausência do preceito fere ainda susceptibilidades demais. creio ser necessário olhar para o tema

de forma mais séria e conse-quente, como, aliás, o têm feito diversos outros países.o que pode parecer organizado, o mais adequado ou profissional, tantas vezes confundido com efi-ciência, asfixia a acção e a ino-vação produtiva. A burocracia e o excesso de deferência servem para muito pouco, senão mes-mo para inibir a criatividade e a motivação de quem visiona e sabe concretizar. Mas que nem sempre pode, obstruído que fica numa espécie de brando com-passo, na delonga dos procedi-mentos, na ausência de agilida-de.os novos meios de comunicação e as ferramentas digitais, quan-tas vezes subaproveitados, não resolvem tudo. Mas simplificar procedimentos, repensar circui-tos decisórios, delegar compe-tências em quem depende de si próprio para consumar as ac-ções em muito beneficiaria este desígnio.idealizar não chega, saber sem consequências também não. Agir e concretizar são palavras de ordem, mas há que incentivar o desfecho, canalizar energias, delegar competências, fomentar a inovação, promover estruturas flexíveis e, sobretudo, funcionais.

dePUtadoSPodeM sER MAisO número de deputados da Assembleia Legislativa dos Açores pode aumentar nas eleições regionais de Outubro dos actuais 57 para 62, devido ao crescimento do número de eleitores inscritos no arqui-pélago.A questão coloca-se porque, de acordo com o mapa publicado pela Direcção Geral da Administração Interna no Diário da República de 1 de Março, o número de eleitores inscritos nos Açores é actualmente de 223.804, mais cerca de 31 mil do que nas eleições regionais de 2008, quando havia 192.943 eleitores.Este aumento do número de eleitores pode representar um au-mento de cinco deputados no parlamento açoriano, uma vez que o número de deputados depende do número de eleitores.A Lei Eleitoral da Assembleia Regional dos Açores determina, no artigo 13, sobre distribuição de deputados, que cada círculo eleito-ral elege dois deputados e mais um por cada 6.000 eleitores ou fracção superior a 1.000.Se esta regra for aplicada a cada círculo eleitoral dos Açores, tendo por base o número actualizado de eleitores inscritos, o futuro parla-mento regional terá mais cinco deputados, acrescentou a fonte.Os novos deputados seriam eleitos por S. Miguel (2), Terceira (1), Faial (1) e Pico (1), ou seja, as ilhas que têm maior número de habi-tantes na região.Este aumento do número de deputados no arquipélago está, no entanto, dependente da publicação pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) do mapa de distribuição de mandatos, com base nos números mais recentes dos cadernos eleitorais.A confirmar-se este cenário, o custo de funcionamento da Assem-bleia Legislativa dos Açores também aumentará, apesar do tempo de crise financeira.

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Normalmente quando se fala de um equipamento, fala-se do que ele é ca-paz de fazer. Hoje vou começar por dizer o que este não faz. Esta câmara fotográfica (sim é uma câmara, não uma arma de arremesso) não foca! E mais é de propósito. Podia ter sido um pequeno esquecimento mas os seus fabricantes quiseram deixar este por-menor para depois sim! Primeiro tira-se a foto e depois preocupamo-nos em focar! Esquisito não?Isso acontece graças ao seu sensor que retém 11 milhões de raios de luz provenientes da zona fotografada, ou seja, em vez de captar uma imagem e torná-la plana, capta sim o campo de luz, o que dá margem de manobra suficiente para que com um software

próprio ou depois na própria máquina, com um simples toque, escolher o que fica desfocado ou não! Este mimo tem zoom óptico de 8X e uma lente com aberturas de f/2 e capacidade de ar-mazenamento que vai até aos 16 Gb. O seu design aliado à novidade do equi-pamento irá fazer muito furor àqueles a quem a fotografia é algo muito com-plicado.Já se imaginou nas próximas férias fo-tografar sem preocupação do foco? “show di bola né?”E indo agora à parte menos boa da coi-sa, o preço. Está disponível em 3 cores e capacidades dos 8 aos 16Gb que va-riam entre os 350€ e os 450€ euros.Caso pra dizer: – Vai dar ao Lytro e bons cliques focados! … ou não!

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CIÊNCIA / OPINIÃO

26 Março 2012 / 08

DoENÇaSILENCIOSA TEXTO / Luís Maurício *

A Osteoporose é uma doença caracte-rizada pela diminuição da massa óssea e alteração da microarquitectura do osso, com o consequente aumento da fragilidade óssea e maior risco de frac-tura. Um em cada oito homens e duas em cada cinco mulheres, depois dos cinquenta anos, virão a sofrer de Oste-oporose. Doença silenciosa – evolui sem quais-quer sintomas – as fracturas osteopo-róticas, consequência mais severa da Osteoporose, são as que ocorrem na sequência de um traumatismo mínimo e em que a incidência aumenta pro-gressivamente com a idade, sendo par-ticularmente frequentes nas mulheres após a menopausa e nos idosos.As localizações mais frequentes das fracturas osteoporóticas são a Coluna Dorsal e Lombar, as fracturas da ex-tremidade distal do rádio e as do Fé-mur proximal. Um terço dos doentes com fractura do Colo do Fémur, ficam parcial ou no todo dependentes de terceiros, relativamente ao exercício das suas actividades de vida diária e ao fim de um ano a mortalidade associada pode atingir os 20%.O objectivo primordial a atingir na pre-venção e tratamento de uma Osteo-porose, será o de evitar uma primeira fractura, uma vez que a sua ocorrên-cia aumenta a probabilidade de novas fracturas em quatro vezes.

No sentido de se evitar uma Osteopo-rose dever-se-ão adoptar estilos de vida saudáveis, como a prática de exer-cício físico regular, o aporte adequado de Cálcio e Vitamina D na dieta, evitar o consumo excessivo de cafeína, álcool e tabaco. O diagnóstico desta doença faz-se através da realização de uma Densito-metria Óssea, exame este que permite determinar o grau de perda de massa óssea e, em função dos valores obtidos, conjugados com os factores de risco identificados, determinar a melhor estratégia terapêutica. São indicações para realização de Densitometria, a to-das as mulheres depois dos 65 anos e todos os homens depois dos 70 anos, que nunca a tenham efectuado pre-viamente; mulheres pósmenopausicas com idade inferior a 65 anos e homens com idade superior a 50 anos, se forem portadores de factores de risco major para Osteoporose, como fractura ver-tebral prévia, fractura de fragilidade prévia, fractura da anca de algum dos progenitores, menopausa precoce, uti-lização de corticosteróides por período superior a três meses.Prevenir ou identificar precocemente uma Osteoporose tenderá a diminuir o número de fracturas e a diminuir a in-capacidade associada a esta Doença.

* Médico Reumatologia

PREVENÇÃO DA OSTEOPOROSE

DIMINUI INCAPACIDADE

Desde há quatro anos que a socieda-de mudou. Se olharmos à nossa volta, verificamos que está menos precon-ceituosa quanto a determinados as-suntos. Modificámos o nosso pensamento e a forma de olhar o Mundo. Estamos a adaptar-nos à realidade e à diferença. Assim se constrói a sociedade onde nós vivemos, lutamos e aprendemos as leis da vida e que a própria vida nos ensina.A sociedade está mais livre dentro dos limites da própria liberdade. Res-

A EVoLuÇÃo DA SOCIEDADE

TEXTO / Nuno Pereira

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26 Março 2012 / 09

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peitamos e convivemos bem com a felicidade dos outros embora não te-nhamos hoje o mesmo pensamento que tinham na Grécia Antiga. O Mun-do mudou, deu passos atrás para dar mais quatro ou cinco para a frente. O que ontem era anormal hoje é normal e aceitamos.Difícil vai ser a sociedade aceitar a adopção por casais homossexuais. Não sabemos o quanto influencia a formação da criança. A integração da mesma numa escola será, certamen-te, difícil pelos comportamentos que outras crianças possam ter. Mas está em primeiro lugar a felicidade que terá com casais homossexuais ou he-

terossexuais. É preferível termos uma criança feliz, numa família que lhe proporcione uma vida digna, que sabe que alguém a ama e tem por ela um instinto paternal/maternal. Não des-valorizo o papel dos orfanatos ou da família com pai e mãe! Mas uma crian-ça que não viveu 18 anos num orfanato tem outras perspectivas de futuro. Sendo o nosso Estado laico, não deve-mos deixar de discutir assuntos como este que podem fazer a diferença na vida de algumas pessoas. Será que algum dia vamos compreen-der que uma boa sociedade constrói-se com a felicidade de todos e dentro dos limites da liberdade?

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CIÊNCIA

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TRIPARTI-

ÇÃO NOS

aÇorESTEXTO / Cristina Viveiros

A tripartição administra-tiva nos Açores é uma herança oitocentista, reflexo de uma rela-ção centro-periferia e periferia-periferia que pretendia afastar-se da tentativa centralizadora encetada pela Capitania-Geral (1766). Uma nova forma de interação entre o centro (Reino) e as ilhas que elevaria os Açores ao estatuto de província do Reino, mas também uma nova forma de interação entre as próprias ilhas que se deixava influen-ciar pelos interesses das elites locais. Até 1895 as ilhas açoria-nas foram distritos ou províncias administra-tivas do Reino. A partir dessa data, e até 1940, viveriam a situação de distritos administrativos autónomos (excetuando a Horta que não reque-reu esse estatuto), uma separação administrati-va que nem sempre con-tribuiu para a unificação dos interesses gerais da periferia face ao centro. O Estado Novo criaria os Distritos Autónomos de Ilhas Adjacentes (1940), encabeçados pelas Jun-tas Gerais, onde obriga-toriamente foi incluído o da Horta. Novamente essa autonomia admi-nistrativa dos distritos traria sedimentação de interesses locais/parti-culares, dificultando o estabelecimento de in-

teresses em comum para as nove ilhas. Os distritos autónomos desapare-cem com a Constituição de 1976 e os Estatutos das Regiões Autónomas, porém, a estrutura exe-cutiva do novo governo autonómico açoriano, apesar de baseada em novos pressupostos de união interinsular, voltou a contemplar, na sua re-partição horizontal, as sedes dos ex-distritos.A tripolaridade ou tripar-tição é, pois, um enrai-zamento administrativo com fundamentação histórica concreta. Estig-ma ou não, a tripartição administrativa moldou os últimos 200 anos de re-lações entre as ilhas e o restante território nacio-nal, mas também a nos-sa estrutura mental en-quanto cidadãos ilhéus, organizando a nossa forma de percecionar e integrar a realidade, do geral para o particular (cidadãos da Europa, de Portugal, dos Açores, da ilha, da cidade e da fre-guesia) e vice-versa.

A TRIPARTI-ÇÃO ADMI-NISTRATIVA MOLDOU OS ÚLTIMOS 200 ANOS DE RE-LAÇÕES EN-TRE AS ILHAS E O RESTAN-TE TERRITÓ-RIO NACIO-NAL.

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26 Março 2012 / 11

MESA

A“mAmã”doIsAíAs

TEXTO / Joaquim NevesBem, eu tam-bém tenho dias… e a mamã lá do restauran-te de certeza estava num da-queles dias, e não há dias sem dias.

Casas de Pasto… lembram-me que estou com saudades de casa. Lembram-me minha vida de estudante há vinte anos, entre alguns empregos, livros e pen-samentos da ruína económica em que nós, mundo, haveríamos de cair, depois de dias seguidos de bifanas, tremoços e cerveja ou vinho barato, pastéis de nata e cafés, cantinas, riscar de dias até ir a casa materna, que aquando jantarada, geral-mente estudantil, geralmente mais tran-quila, geralmente mais acompanhada, impulsiona querer abraçar a cozinheira, beijinhos e chamar-lhe mamã, grato pela refeição caseira.Fui ao “Isaías” por ser uma casa de pasto. Pressupõe o termo e o conceito, deriva-do de “repas” francês e do latim pastus, servir almoços e jantares num ambiente misto entre taberna, restaurante e petis-cos com carácter caseiro e pressuposta cozinheira para fazer lembrar a comida de nossas mães. Funciona em todo o lado. Exemplos: mamãs do norte de Por-tugal com cozido, costeletas com arroz e feijão, bacalhau ou peixe frito, em frança blanquette´s, cassoulet´s ou ratatoille´s, Inglaterra não sei bem quê porque não há cozinha inglesa há séculos, na Alema-eMeNta de dIaS

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MESA

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nha o sauerkraut e “wurst l” da Baviera, eintopf ou braten; pizza, minestrone e massas na Itália, por tudo isto casas de pasto têm mamãs na cozinha. Importante: as casas de pasto, mesmo sendo almoço, têm o tempo no jantar, luz de jantar e a calma do jantar. Caseiro, confortável, tranquilo.Da sorte dada, fui jantar à hora de jan-tar. Subi da “baixa” de Angra ao Corpo Santo, pela rua estreitinha do Faleiro. No percurso senti que Angra realmen-te inspirou a reconstrução de Lisboa, recordando um comentário afirmativo, orgulhoso, douto do meu Professor de Cultura Portuguesa. Inspirou no Brasil e além-mar, índias. Que todas as especia-rias e alimentos que mudaram o mundo haviam passado por aqui. E “cad´elas”? Angra teria a obrigação histórica de ser capital mundial gastronómica. Descul-pem, devaneios pessoais. Bem… o Isaías levou o termo caseiro mui-to a sério. Comi costeletas que foram requentadas do almoço, além do acom-panhamento, o arroz oferecer um “tra-vozinho” de fundo de tacho queimado, quanto às batatas fritas… em Angra ainda não comi nenhumas que merecessem o nome. Mas boa salada variada a acom-panhar. Meu compincha engoliu mão de vaca oferecida na ementa da véspera. Faz-me lembrar a afirmação do Diácono Remédios das Hermanias: – Não havia “necececessidade”. Mesmo que a cozi-nheira cozinhe com toque de mamã e co-midinha caseira, o conceito não estragar comida foi levado demasiado a sério.Mas, o ambiente é bom, simples, diverti-do, preço estudantil, serviço caseiro. So-bremesas boas, que haviam-me surpre-endido da primeira vez, por oferecerem um bom cheesecake sem aquela base, gordurenta nojenta amanteigada crua que experimentara noutros lugares, pas-telarias e cafés. (Sugestão: cheesecake New York Style? Alguém?).Bem eu também tenho dias… e a mamã lá do restaurante de certeza estava num daqueles dias, e não há dias sem dias.Vou voltar, porque talvez vá jantar ao al-moço.

MeSa, SÓ Se foR PoRtUGUeSa

Receita

BATATAs FriTAs

Se as batatas fritas vêm da Bél-gica, como afirma ter evidências suspeito historiador Belga Jo Ge-rard em 1680, Espanha ou França da Madame Fritz de Liége, com a primeira casa de batatas fritas da-tada de 1890, as francesas “Pont Neuf” provenientes do bairro jun-to à ponte com o mesmo nome em Paris, são as melhores. Fazem-se com casca de preferência de ba-tata que tiver mais amido, per-gunte onde comprar. Cortadas em palitos entre os fatídicos 9mm no Larousse Culinária a 15mm estilo inglês. Mas o importante é colocá-las depois de lavadas, secas para não juntar água ao óleo, no óleo frio e quando borbulhar já em fri-tura deixe somente 5 minutos, mal a pele começar a pelar, retire, re-serve até resfriar. Depois em óleo entre 180 e 200 graus mediante a grossura dos palitos, volte a fritar até ficarem douradas, escorra em papel apropriado. Ou mais simples descascadas, cortadas, secas, pol-vilhe com fermento Royal e frite a 160 graus 5 minutos, retire, deixe resfriar e volte a fritar a 200 graus até ficarem douradinhas, etc. Para “gourmet’s”, mesmo processo la-var cortar, secar, colocar em água a borbulhar, desligue, deixe cinco minutos, retire, seque muito bem, num tabuleiro, lado a lado, sem se tocarem congele pelo menos 3 horas. Pode conservá-las desta forma. Só retire do congelador quando for fritar e o óleo já estiver a 200 graus e frite, etc. Tempere com sal, de preferência e pela sua saúde que não seja re-finado. Afogue como os alemães em maionese, ketchup como os americanos, vinagre como os an-glófonos, ou sais com especiarias (alecrim em pó, pimenta cayenne, cebola em pó, salsa em pó).Bom apetite!

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PALAVRAS

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VINiLTEXTO / André Narval

A agulha infiltra-se no discocomo o meu corpo no teuE enquanto ele girar, há somQue o desejo sempre prometeuE mais uma faixa…

E mais uma faixa, sem abrandaro ritmo esquecido de tempos passadosQue volta nas voltas do deu corpoE cofres outrora encerradosAgora abertos.

E abertos esses tesourosrevelados como uma cançãoQue roda no disco e agulha como um sósão para mim tudo, sem ilusãode mais momentos.

E sem mais momentosA agulha sai quando o disco chega ao fimdespede-se num acto banal e sublimeé êxtase, e nos teus lábios carmimHá o beijo que volta.

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CONSUMO

26 Março 2012 / 14

A alimentação das crianças deve ser sau-dável, visto que é uma fase essencial para os princípios dos seus há-bitos nutricionais. Para isso, o papel da família, escola e jardim-de-in-fância é inquestionável, de modo a que o desen-

volvi-m e n -to e cres-c i -m e n -to da crian-ç a sejam eficazes, bem como a protecção de diversas do-enças.Os nutrientes são vitais, sendo que permite a formação dos ossos, dentes, tecidos e músculos, mantendo-os saudáveis. É necessário “saber co-mer”, isto é, saber seleccionar os alimentos de for-ma e em quantidades adequadas às necessidades diárias. Os alimentos adequados estão divididos em cinco grupos, sendo o último “ocasional”, nomeadamente: 1) Hidratos de Carbono: pão, massas, arroz, cereais e batatas. Devem ser servidos em todas as refei-ções; 2) Frutas e legumes: Devem ser consumidos com frequência, cerca de 4 ou 5 vezes ao dia. Opte pe-los frescos.3) O leite e seus derivados: São fontes essenciais de cálcio. Entre 500-600 ml por dia é a dose reco-mendada para as crianças.4) Carne, peixe e ovos: Devem ser consumidos duas vezes por dia. Evitar fritos. 5) Gorduras e óleos: Estes alimentos não devem ser dados em demasia à criança. Caso a alimentação das crianças se apoie nestes grupos de alimentos, obtém todos os nutrientes essenciais para as manter saudáveis.

hoRtofRUtíCoLaSTEXTO / ACRA / Angra

HORTOFRUTíCOLAS

COMA 400G/DIA DE

A ingestão apropriada de frutos, hortaliças e legu-mes é vital para a saúde, visto que previne o apa-recimento de diversas doenças, nomeadamente o cancro, diabetes, doenças cardiovasculares, obesi-dade, carência de vitaminas, entre outras.Grande parte dos legumes, frutos e hortaliças tem logicamente um valor calórico baixo, pouca quan-tidade de gordura, elevada quantidade de água e vários tipos de fibras alimentares, assim sendo, é fundamental o seu consumo, de modo a manter um peso saudável.

CONSUMO DE HORTOFRUTÍCOLAS: Começar almoço e jantar com sopa rica em hortali-ças e legumes; ingerir salada e hortícolas no prato, como acompanhamento; incluir a fruta fresca nos intervalos entre todas as refeições, pelo menos uma das peças deve ser rica em vitamina C; acrescentar alguma salada na realização de sanduíches; incluir alimentos nas suas entradas, nomeadamente fru-tos secos, pequenos pedaços de fruta, azeitonas, entre outros; consumir hortícolas com cores vivas, visto que são muito ricas em vitaminas, minerais, entre outros; ingerir sumos de fruta naturais.Segundo os resultados de uma investigação bri-tânica, as frutas ricas em vitamina C e magnésio podem afastar as doenças pulmonares. A Organi-zação Mundial da Saúde recomenda um consumo mínimo de 400g de frutos, legumes e hortaliças por dia.

CO-MER DEFORMASAU-DÁVELTEXTO / ACRA / Angra

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OPINIÃO

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TEXTO / pe. Teodoro Medeiros

É importante pensar livremente e avaliar sem preconceitos ou imposi-ções. É isso que pretendo fazer em relação a “Sangue do meu Sangue”, o filme português que tem causado furor em tudo o que é festival de ci-nema. Também eu caí nessa espécie de engodo e coloquei-o na minha lis-ta de prioridades cinéfilas há alguns meses.O filme foi uma má surpresa e uma deceção quando o vi... por quê vol-tar a ele agora? Pela simples razão de que continua a ganhar prémios e passou até, em formato série, no Ca-nal 1, na semana passada. Até o site de cinema Internet Movie Database (ou IMDB) lhe dá 8 em 10 valores (também dão 8 a Magnolia, outro fil-me sobrevalorizado).Mas o que deveria ser um excelente filme e um desempenho inesquecí-vel de Rita Blanco mostra-se afinal uma obra que começa bem mas perde-se a partir de meio. Sim, re-conhecem-se alguns jogos de planos e um retrato de problemas sociais e de uma família pobre. Essa até en-gulo, a ideia de que há aqui uma mãe sofredora e que faz tudo pelos fi-lhos. Também admito que haja uma realidade criminosa em Lisboa que se escapa ao passeio de Domingo à tarde na Baixa.Pode ver-se na figura maternal que carrega às costas o peso do mundo a imagem redentora de um Cristo mo-derno: ela aniquila-se a si própria, como dizia S. Paulo, para se oferecer redenção e vida aos outros. Ela não vale nada e nada reclama para si: existe somente para os outros. Ela é a pietá de hoje que chora antes dos filhos morrerem porque os sinais que eles ostentam são de morte.Concordo e acho bem que se empur-re para cima um retrato, sem palia-

tivos, dos dramas portugueses. Por-que não? Só que Irreversible não foi um filme mainstream e não passa em série na televisão (Irreversible é um filme horrível, chocante para além do descritível e também já foi dvd brinde de uma revista portuguesa: vai ver é coerência de critérios!). O filme de João Canijo é brutal, é para maiores de 16, é um filme choque que, defendo eu, apresenta uma evi-dente dose excessiva de mau gosto.E é por isso que se pode falar de uma traição àquela mãe: ela mere-cia mais, mais da vida, dos filhos e sobretudo merecia um filme muito melhor. Não me refiro aos palavrões constantes e à brutalidade de muitos dos personagens (por aí até se podia dizer que este filme fala sobretudo de Deus, de tal forma se sente a sua falta). A partir de certo ponto tentei mesmo descobrir se estes persona-gens reais nunca O invocariam, em tantas aflições. Não.É por isso que o filme nos engana: a partir de certo ponto as persona-gens não apresentam nada de novo, a não ser degradação. Premissa sim-ples esta: “– acham que não os po-demos degradar mais? Vejam esta cena agora!” E nós podemos dizer que não gostamos de telenovelas venezuelanas, mesmo que não este-jam dobradas em brasileiro.Até porque quem viu “Mamma Roma” (só 7,8 no IMDB, palmas!) tem uma ideia de como é que isto se faz: a figura redentora pode re-voltar-se e ter dúvidas mas nunca pode tornar-se um boneco nas mãos de um argumento que depende de coincidências rebuscadas. É que este filme começa vasto mas acaba estreito como um funil e é pena.Sangue venoso porque a vida se es-vaiu por completo.

sANGuEdo sANGuEvENoso

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SOCiA-LizARA DOEnçAMEntAL

DESTAQUE

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SOCiA-LizARA DOEnçAMEntAL

Fritz Pampus, terapeuta comportamental ale-mão, esteve recentemente em Angra do Hero-ísmo para uma palestra onde defendeu a im-portância da integração dos familiares, amigos e colegas de trabalho no processo terapêutico em casos de doenças mentais como a depres-são ou psicoses.Na sua intervenção, o especialista defendeu que este tipo de patologias são produto das re-lações sociais e que, portanto, o seu tratamento não se deve cingir à relação paciente-terapeuta mas abrir-se àqueles que, na maioria das vezes, são os factores principais para despoletaram o problema.Congratulando-se com o facto da sociedade actual estar a dar sinais de uma melhor com-preensão e aceitação da doença mental, Fritz Pampus não deixou de por em causa a me-todologia usada pela comunidade médica a quem acusa de abordar estas questões numa base demasiado estatística e “quase cientifica” quando defende que as perturbações mentais são subjectivas e fruto de acordos e normas so-ciais de diagnóstico que vão evoluindo ao longo dos tempos.Exemplo dado pelo próprio é a homossexuali-dade que durante séculos foi considerada uma doença do foro mental para a qual foram tenta-das uma séries de terapias, todas sem sucesso, até que nos anos 80 do século XX foi retirada do diagnóstico das doenças mentais, o que logo ai “curou milhões de pessoas que deixaram de ser consideradas doentes”, realçou.O terapeuta alemão debruçou-se ainda sobre os modelos de educação que diz terem muito pou-co impacto na formação da personalidade, ad-vogando que as crianças irão sempre imitar ou ir contra os comportamentos que vem naqueles que lhes estão mais próximos e que vêem a sua educação está fora do controlo dos pais.

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DESTAQUE

TEXTO / Renato Gonç[email protected] / José Costa

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Os problemas mentais nascem das re-lações sociais que o ser humano esta-belece ao longo da sua vida e como tal, para o seu tratamento, é fundamental a participação daqueles que fazem parte da nossa teia relacional.Esta foi a principal mensagem da pales-tra proferida por Fritz Pampus, psico-terapeuta alemão que esteve recente-

PaLeStRa No SeMINáRIo de aNGRa

mente no Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo para uma conferência.O especialista, com 40 anos de expe-riência no ramo, trabalha num hospital psiquiátrico da cidade de Agatharied, no sul da Alemanha, que lida maiorita-riamente com depressões, compulsivos e pacientes com sindroma “borderline”.Utilizando uma metodologia conhecida por terapia sistémica, o terapeuta de-fende que é fundamental “ter em con-ta o meio em que os pacientes vivem e perceber as relações que estabelecem, cada um de nós vive a vida de forma subjectiva, os pacientes não são casos estanques”.Fritz Pampus advoga que todo o ser humano tem determinados temas que não fala com os outros e que ao fazê-lo cria situações de difícil gestão. Como terapeuta o seu papel é descobrir que assuntos são esses e ajudá-las a falar, afirmando que “se o conseguíssemos fazer resolveríamos a maior parte dos nossos problemas sem a ajuda de um médico”.O psiquiatra refere igualmente que a doença mental “só existe” porque vive-mos em sociedade.Explicando, Fritz Pampus diz que a con-dição mental não nasce na pessoa mas da sua relação com os outros, é necessá-rio que o outro aponte em nós um com-portamento considerado fora da norma e que depois o sistema de diagnóstico clínico entre em funcionamento.Sobre este sistema, o especialista ale-mão define-o de forma crua como “algo que se baseia na troca de impressões entre a comunidade médica e onde, se os sintomas forem A e B o diagnóstico terá que ser C”.“Mais não é que uma realidade concor-dacional, uma série de indivíduos que concorda com o mesmo diagnóstico perante sintomas que não se conse-guem ver, ao abrirmos uma pessoa, se olharmos para o seu interior não vemos

a depressão, por exemplo”. Fritz Pampus vai mais longe ao afirmar que a doença mental existe “porque al-guém nos diz que existe, especialmente se essa pessoa for alguém creditado para o efeito.”Acrescentando que a sociedade está “lentamente” a caminhar no sentido de aceitar as doenças mentais como são

encarados os problemas físicos, o tera-peuta é um acérrimo defensor de que os doentes mentais “não deverão ter medo que o seu problema seja um han-dicap na sua interacção social” e que a participação dos outros é fundamental na sua recuperação.

O SUBJECTIVO DA REALIDADEO médico alemão afirmou perante a sua plateia que embora a psicologia e a psiquiatria tendam a caminhar para um modelo científico de diagnóstico, as doenças mentais “nada têm” de cien-tífico, dando como exemplo o facto de os médicos pedirem muitas vezes aos terapeutas “para lhes fazerem testes e depois tratam os resultados do QI ou da escala de depressão como se fosse algo que vem de um laboratório”. Fritz Pampus defende que os testes psi-cológicos “nunca poderão ser melhores que a ideia de quem o faz, da ideia que essa pessoas tem, por exemplo, do que é a inteligência”, definindo-os como uma cascata de conceitos abstractos.Tudo isto é fruto, segundo o especia-lista, da realidade em que vivemos ser construída dentro de nós mesmos mas nós não termos controle sobre a criação e, especialmente, não termos controlo

PaCIeNteS NÃo SÃo NÚMeRoS

DESTAQUE

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sobre a percepção que os outros têm de nós.Fritz Pampus refere ainda que “passa-mos muito tempo agarrados a experi-ências do passado que nos permitiram chegar ao que entendemos ser a nossa realidade presente pois essa é a única referência que temos para tomar uma decisão na base do momento e formar expectativas sobre o que vai acontecer no futuro”.

O EXEMPLO DA DEPRESSÃOFritz Pampus dá o exemplo da depres-são, doença que tem tido um aumento significativo no mundo ocidental nas úl-timas décadas.O especialista diz que a maioria dos pa-cientes que recebe com esse problema consegue identificar com muita preci-são qual é o problema na vida que deu origem a esse estado e esse problema é sempre com outras pessoas. O psicoterapeuta suporta a teoria que, na base desta perturbação, estão acon-tecimentos subjectivos que acontecem na vida do paciente, fruto da repressão de sentimentos, especialmente raiva e agressividade que vamos fazendo ao longo que caminhamos para a idade adulta.“Quando mostramos raiva ou agressi-vidade temos um castigo, ou dor ou a mesma reposta da outra parte e apren-demos a suprimir esse sentimentos para não sofrermos as consequências”.Esse acumular de sensações ao longo dos anos “transforma-se” contra nós próprios, tornando-nos perfeccionistas e muito autocríticos.O especialista alemão diz que a maioria de casos que recebe são de pessoas que não se permitem divertir e tem muitos problemas em dizer que não por receio da reacção do outro.Este tipo de sintoma origina um facto curioso, em que os depressivos são ha-bitualmente pacientes “fáceis” quando são admitidos no hospital mas quando começam a sua recuperação “tornam-se muito difíceis, não estão satisfeitos e por estranho que pareça, é sinal de ver-dadeiro progresso”.

EDUCAR “É DESNECESSáRIO”Outra questão abordada pelo psicote-rapeuta na sua palestra tem a ver com a educação que considera “completa-mente desnecessária” pois as crianças vão sempre imitar o que vêem dos pais ou das pessoas que lhes são mais pró-ximas.Fritz Pampus entende que os modelos educacionais tem muito pouco impacto e que os jovens tendem invariavelmente a copiar ou a tentar fazer o oposto dos comportamentos que vem nos seus pais, acrescentando que “não há uma justificação psicológica para o castigo, tirando o caso da auto-defesa.”O terapeuta diz que o contágio de emo-ções nas crianças até aos seis anos é muito importante na formação da sua personalidade, mas essa transmissão acontece de forma natural, “as crianças apercebem-se dos nossos comporta-mentos, as coisas verdadeiramente im-portantes na educação não estão sob o controlo dos pais”.

fRItz PaMPUS, PSIqUIatRa

aLeMÃo tRata

PSICÓtICoS e dePReSSIVoS

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LeGeNda \\\

01// a zona de desconforto

02// dvd: johnny english

03// capa de cortiça por-

tuguesa para ipad

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04// consola de videojogos

wii - nintendo

05// álbum de angel-o

06// nova canon 600d

07// espumante vintage

bruto

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LOJAS

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Revista U

Rua da Rosa, 199700-144 Angra do Heroísmo

tel. 295 216 222fax. 295 214 030

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DirectorMarco Bettencourt Gomes

EditorJoão Rocha

RedacçãoSónia Bettencourt, Humberta

Augusto, Renato Gonçalves

Design gráficoFrederica Lourenço

PaginaçãoElvino Lourenço, Ildeberto Brito

Colaboradores desta ediçãoAdriana ávila, André Narval, Cláudia Ferreira,Cristina Viveiros, Frederica Lourenço, Joaquim Neves, José Costa, José Júlio Rocha, Luís Maurício,Mike Maciel, Nuno Pereira, Paulo Homem,Paulo Brasil Pereira, Rui Soares,Sandra Costa Saldanha, Teodoro Medeiros,Teresa Silva Ribeiro

contribuintenº 512 066 981nº registo 100438

assinatura mensal: 9,00€preço avulso: 1€ (IVA incluído)

Tiragem desta edição 1600 exemplaresmédia referente ao mês anterior: 1600 exemplares

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ENSAIO

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TrabalhoECRIATIvIDADE

Trabalho e criatividade é o tema da mais recente revista “Communio”, publicação que chegou a Portugal em 1984 e que tem como objectivo «esti-mular o diálogo entre a fé e a cultura» e no seu mais recente volume enqua-dra «a dimensão criativa da activida-de laboral» e sintetiza o conteúdo dos artigos.Se atendermos à etimologia latina da palavra trabalho verificamos que na sua origem está o termo “tripalium”, um instrumento de tortura. O carác-ter pejorativo que durante séculos se associou ao trabalho prende-se com a ideia de punição e de constrangimen-to, uma associação reforçada pela narrativa do paraíso terrestre no livro do Génesis. Se na antiguidade o trabalho é um es-tigma, opondo um pequeno número de cidadãos livres a uma maioria de escravos, pobres, mulheres e crian-ças, com o aparecimento da sociedade burguesa ele torna-se factor de valori-zação e de criatividade, afirmando-se como valor moral e como instrumento de realização.Perspectivando este tema na actuali-dade, verificamos que a partir de 1980 até aos dias de hoje o desemprego é cinco vezes maior do que nos vinte anos do pós-guerra – actualmente contam-se 205 milhões de desempre-gados e cerca de metade dos que têm emprego são mais ou menos vulnerá-veis ou precários. Consequentemen-te, o trabalho surge como um bem relativamente escasso e, sem dúvida, precioso, sobretudo para os jovens ou, mais grave ainda, para os denomina-dos NEETS – sem emprego, nem ensi-no, nem formação profissional – que, por exemplo, na OCDE atingem 12,5% na faixa dos quinze aos vinte e quatro anos. É uma situação agravada pela crise financeira e económica em que estamos mergulhados. Mas a verda-de é que já antes dela se desenhava essa tendência, por força tanto da globalização como das inovações tec-nológicas que alteraram radicalmente a economia mundial e o próprio traba-

lho. Este, em breves traços, analisa-se hoje em três grandes tipos: o «trans-formacional», com recurso à força física – é o caso da construção civil; o «transacional», envolvendo opera-ções de rotina e que por isso pode ser automatizado (bancos e call-centres) e o «interaccional», ligado ao conhe-cimento, à perícia e à colaboração com outras pessoas, como por exem-plo a consultoria de gestão e a banca de investimento.A abrir este número da Revista temos o texto de Rudolf Hoppe, “Se alguém não quer trabalhar também não coma (2Ts 3,10b)”. Aqui a noção de trabalho é enquadrada no Novo Testamento. Informando-nos sobre a geografia só-cio-económica da Galileia e relevando

PRodUzIR PaISaGeNS

TEXTO / M. Luísa Ribeiro

Ferreira, Teresa Monteiro Fer-

nandes, José Patrício

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ENSAIO

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o trabalho exercido por S. Paulo, o texto inspira-se em parábolas como a dos trabalhadores da vinha (Mt 20,1-15), dos talentos (Mt 25,14-30/Lc 19,12-27) ou do cultivador de cereais (Lc 12,16-21) que ilustram o sentido da pregação de Jesus.No artigo “Parábola dos vinhateiros – que justiça?”, Joaquim Carreira das Neves analisa a questão do salário jus-to, tal como aparece a uma primeira leitura na conhecida parábola, exclu-siva do evangelho de Mateus. Realçando uma perspectiva cristã do trabalho, temos os textos de Ivica Ra-guz e Manuela Silva. Raguz centra-se na noção de “ócio” em contraponto com a de “tempo livre”, analisando os que se inserem no mundo do tra-balho, muitos deles vítimas do delírio workaholic que conduz à privação da relação com os outros e consigo mes-mos. Manuela Silva lembra-nos que numa perspectiva cristã o trabalho não é, nem deve ser, encarado como mero factor de produção, salientando as consequências negativas decorrentes do actual modelo de «capitalismo fi-nanceirizado».No artigo cujo título «O trabalho, cha-ve da questão social» reproduz a epí-grafe de um dos capítulos da “Labo-rem exercens”, Simona Beretta coloca em paralelo a evolução do pensamen-to económico e a da doutrina social da Igreja.Em “O trabalho e a lei”, temos a pers-pectiva de um jurisconsulto, António Monteiro Fernandes. Pela análise em-preendida percebemos a degradação de que tem sido objecto o trabalho no direito legislado e na respectiva exe-cução, mormente quando se «flexibi-lizam» quer o acesso quer a cessação (despedimento) do vínculo de empre-go. Olivier Boulnois analisa a criatividade na arte, algo que pensávamos indiscu-tível mas que na realidade diz respeito a um período histórico situado entre os séculos XV e XX.

eSCRIto eM PedRa

woRkahoLIC

Thomas Prügl em «Ora e labora. Uma teologia do trabalho no monaquismo antigo e medieval?» reflecte sobre o monaquismo pré-moderno.Em «No prato certo da balança» co-menta Luísa Falcão o desafio feito pelo poeta Seamus Heaney a trinta autores (irlandeses) por ocasião do 60º ani-versário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008.Ao comentar o filme “24 City” do re-alizador chinês Jia Zhang-Ke, Vasco Batista Marques chama a atenção para o papel central que o tema do trabalho desempenha na filmografia deste cineasta. A obra em causa é sig-nificativa das alterações decorrentes da passagem do maoísmo para o ca-pitalismo, mostrando-nos uma China contemporânea que procura situar-se entre dois universos aparentemente incompatíveis.

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FOTÓGRAFO

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SaGRadoRdo MísTico

Do espírito do mundo ao es-pírito de Deus. Da vida breve à vida eterna.A memória dos homens é feita de imagens: momentos, instantâneos irrepetíveis que se perpetuam num olhar fixado pela objectiva que imor-taliza o tempo.O olhar debruça-se sobre o sagrado convidando ao místico contemplati-vo. O sagrado nota-se nas cores e nos motivos presentes no místico reve-lado. Não basta captar, é sobretudo necessário que a captação seja coer-ente, uma espécie de simbiose entre

quem vê e quem transmite a emoção. Não há imagem sem emoção. A inten-sidade e o momento dão o privilégio de um momento único no cosmos que se fixa intemporalmente. Conhecer os tempos, conhecendo o tempo é tarefa da técnica que não é nada sem o homem. A objectiva do fotógrafo faz isso mesmo: transmuta o tempo e o espa-ço em imagem que, como um e outro, se transfigura em realidade. Aqui é captada a tendência do mo-vimento místico: a forma de abóbada e o brilho multicolor convidam ao transcendente. Há uma luminosidade que ultrapassa o real – sendo real re-inventado –, ultrapassando o caos do tempo e a necessidade do momento. A inclinação da foto ao côncavo, so-bretudo as naves, aponta ao infinito: uma porta que se abre na imaginação do homem; um convite de caminhada com um ponto de partida e um des-tino bem definido. Do real ao transcendental. Do espíri-to do mundo ao espírito de Deus. Da vida breve à vida eterna. É este o eterno que se funde: o eter-no imaginado e o eterno criado.

TEXTO / Paulo Homem

FOTO / Mike Maciel

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Terça a Sexta 9h | 18h Segunda e Sábado 9h | 16h

Exposição

Centro de Ciência de Angra do Heroísmo Estrada Gaspar Corte-Real

Antiga Casa do Peixe SÓ ATÉ JUNHO | 2012

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OPINIÃO

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TEXTO / Pe. José Júlio Rocha

UM MUNDoMELHor

Disse o eminente filósofo José Gil, numa conferência, que – e cito – «Por-tugal é um país entrópico por excelência». Percebi que ele queria diz-er que o nosso era um país que tende inexoravelmente (e esta palavra está fatalmente ligada à entropia) para um lento, apático aniquilamento. Perda de energia económica, financeira, competitiva, cultural que seja. Aprendi em ciências que a inexorável lei da entropia, universal e todo-poderosa é o lento apagamento dos corpos que tende –, como na hu-mana lei do menos esforço, - à perda constante de energia, assim como um braseiro que vai arrefecendo até se transformar em cin-zas. O Universo sofre magnanimamente esse processo transforma-ção de energia para matéria, de movimento para inércia, de luz para trevas, de calor para frio, até chegar àquilo que é conhecido como o zero absoluto, algures perto de 270 graus celsius negativos. Brrrrr. José Gil foi voluntariamente provocador e pessimista. Por mais que eu queira, não vejo Portugal reduzido a nada, sem mar que seja, um bu-raco negro no extremo da velha Europa; nem a nossa terra dada em pasto a animais selvagens, e, abominação da desolação, os nossos es-tádios destruídos, o que resta do povo deportado, como Israel para a Babilónia, aonde, nos salgueiros marginais, havemos de depositar as guitarras e as violas da terra; nem os portugueses obrigados a orga-nizarem bandos e gangs que se matam e se comem, como algures em Hollywood alguém imagina um mundo pós-apocalíptico. Nada disso. Mas vejo um Portugal triste, desimportado, cabisbaixo. 1989 foi a primeira vez que arribei a Lisboa. Vi pela primeira vez uma estação de caminhos-de-ferro, Santa Apolónia, com aquelas chegadas e partidas de comboios, com o peso e a solenidade que só uma estação terminal se permite ter. Impressionou-me a sujidade e o desleixo. Garrafas de plástico inundavam o fundo da estação onde corriam os trilhos. Garrafas de cerveja e papéis, sacos de plástico e sujidades.Daí para cá, Lisboa só tem melhorado. Em quase todos os aspectos, desde a limpeza até ao trânsito, à reabilitação urbana, ao crescimento, à lumi-nosidade, à alegria das pessoas. Uma cidade europeia como deve ser.Mas ultimamente voltaram algumas garrafas de plástico e papéis de jornal a invadir, inexoravelmente, os fundos das estações. O trânsito parece-me mais desesperado e os edifícios estão mais escuros outra vez. Pararam construções a meio e as pessoas parece que vão, lentamente, baixando os ombros, as costas e a vida. Os fazedores de opinião babam-se por col-orir o drama português com as cores da tragédia.Quando toda a gente diz que está tudo mal, o que é que se pode pensar? Acho que a tristeza que grassa por todas as latitudes do nosso Portugal é muito pior do que a crise ou, se quisermos, é o mais perturbante ângulo da crise. Pairam nuvens escuras quando o futuro é uma incógnita sem o sabor agridoce da aventura, mas com o amargo travor do medo.Crises, já as tivemos aos magotes nestes quase 900 anos. Saímos de to-das elas de muitos modos. A inexorável lei da entropia que volte para o espaço, que nos havemos de safar. Começando por não pensar que Por-tugal é sempre a mesma desgraça e é sempre pior que os outros... acho que isto é genético.

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PARTIDAS

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RUA DOS AçO-RES, PORtO

TEXTO / Teresa Silva Ribeiro

A Rua dos Açores, no Porto, fica a 800 metros do meu apartamento, mas nas minhas saídas rotineiras nada me obri-ga a passar por ela. Fi-lo, porém, há dias, leva-da por um crescente nó na garganta, um aflitivo aperto no estômago, um angustiante peso no peito. Por aquilo a que só os falantes do portu-guês chamam saudade.Atrás de um sonho, parti de Angra, a minha cida-de património pessoal, e troquei-a por outra que amei desde logo, pela beleza do tal “ca-sario que se estende até ao mar”, mas também pela costela portuen-se legada por meu pai. Nos quase 17 anos que entretanto passaram a voar, voei eu também diversas vezes de volta à ilha.E agora que alcancei o

tal sonho e até dei ao Porto, saído das minhas entranhas, mais um ci-dadão, sinto cada vez mais a dor dessa par-tida. Falta-me a família chegada, os amigos ín-timos e a própria terra, o verde e o azul, a meu ver únicos e que, a cada chegada, me enchem os olhos da alma e me sussurram: “Estás em casa.”E há dias percorri os tais 800 metros até à Rua dos Açores, na es-perança de me deparar com Sta. Luzia, Rua da Sé, Fanal, S. Mateus, Biscoitos, Praia da Vitó-ria, ali, todos juntinhos nos 170 metros de rua estreita. Ou por achar que haveria um talho com a linguiça que só na Terceira me sabe bem e que alguma confeitaria vendesse Donas Amé-lias, Queijadas da Gra-ciosa e Espécies de São Jorge. Mas não. Uma rua, como muitas outras. Percor-rida em dois minutos. Uma estação de serviço numa das pontas, uma dezena de prédios ra-sos ou de dois andares, no máximo, num dos lados. No outro, nem tanto. Um muro alto, que esconde algo (mas palpita-me que não os Açores), umas quantas árvores (nenhuma en-démica do arquipélago) e algumas casas.Só na outra extremi-dade tive a certeza de me encontrar, de facto, onde desejava. Lá esta-va a placa toponímica. A da outra ponta desapa-

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PARTIDAS

açoReS NaS RUaS do PoRto

recera. Pensei, roman-ticamente, que fora le-vada por igual açoriana saudosa, que agora a expunha na parede da sala, rodeada de hor-tênsias artificiais.Mas lá estava a placa. Verde e com céu azul como pano de fundo. Mas até isso me desi-ludiu. O verde e o azul que ali, todos os dias, recordam os Açores, fi-cam muito aquém dos originais. Por isso, par-tirei novamente e, em vez de 800 metros per-correrei mais de 1600 quilómetros para matar, aos poucos e mais uma vez, a saudade, na es-perança de que um dia a mate definitivamente. Há partidas muito boas.

ATRÁS DE UM SONHO, PARTI DE ANGRA, A MINHA CIDADE PATRIMÓNIO PESSOAL, E TROQUEI-A POR OUTRA QUE AMEI DESDE LOGO, PELA BELEzA DO TAL “CASARIO QUE SE ESTENDE ATé AO MAR”.

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pensam que é uma modalidade acessível a todos: para além de ter de ser capaz de subir uma rua como a do Galo sem desistir a meio, os requisitos mínimos para fazer parte do grupo é ter imenso estilo e dinheiro na carteira. No entanto, garantem, a modalidade tem como alvo quem pedala a vida sem pressas, e gosta de o fazer com saltos altos de marca.Há-as para os mais diversos gostos: as icónicas bicicletas dinamarquesas Velorbis www.velorbis.com, bicicletas de luxo e estupidamente giras, marcam o topo da lista, seguidas pelas irresistíveis “shopping bicycles” londrinas Wren http://

wrenbicycles.co.uk/, revisitadas num design contemporâneo. E, como seria de esperar, os chineses não quiseram ficar atrás, e viram também aqui uma possibilidade de negócio: as Flying Pigeon www.theflyingpigeon.

com andam já em alta velocidade pelas ruas de cidades como Porto, Barcelona ou Nova Iorque. Tudo isto “quitado” com os acessórios fantásticos da sueca Bookman http://

bookman.se, à venda em tudo o que são museus de arte espalhados por este mundo fora.Por cá resta-nos esperar, mudarmo-nos para uma cidade muitíssimo cool ou, para os mais impacientes, procurar as lojas online das marcas.

ÓCIOS / OPINIÃO

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LETS ridE!TEXTO / Frederica Lourenço

IlUSTRAçãO / Mike Lowery para Tatty.com

Já não as encontramos apenas em Amesterdão ou Bruxelas. Ao jeito de tudo o que vira moda, estão agora em toda a parte, numa espécie de demonstração de consciência ambiental + “cool living” e transformaram-se no último acessório de moda a ter.O objectivo destes “pedaladores” urbanos é simples: ir e vir para o trabalho sem estar tolhido por chapa, trânsito e stresse.Mas desenganem-se aqueles que

“A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento.”

Florbela Espanca

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O SPOR-TING DE BRA-GA SERÁ CAMPEÃO NACIO-NAL?

QuEsTioNário

CARTOON

Diz Carlos CésarGOVERNO DA MADEIRA “NÃO PRESTA”

Diz Sandra Fernandes “PORTUGALPRECISA DE SANGUE NOVO” NA POESIA

SIM

NÃo

F.S.

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CULTURA

26 Março 2012 / 29

É HoRA DE .“Na Hora de Ir Para A Cama” é uma comédia de ori-gem irlandesa, onde se narra os apuros em que se meteu John Jo Mulligan, rapaz solteiro e respeitável,

pEdrAMóque acidentalmente passa a noite com uma divertida “moça” cha-mada Ângela, situação que, apesar de aparen-temente não lhe de-sagradar, vem chocar

31 MARÇo, ANGRA

com as condicionantes impostas pela sociedade, por isso, quando se apercebeu da alhada em que se meteu, tenta salvar-se, evitando o conhecimen-to desta indiscrição pelo seu amigo Daniel, da se-nhoria Miss Mossie, do patrão e do pároco.Dia 31 de Março no Teatro Angrense, a cargo do Pedra Mó Grupo de Teatro.

AGENDAR, a cultura

“Agenda cultural independente, inovadora e gratuita da Ilha de São Miguel”, assim sem falsas modéstias se apresenta a Yuzin, projecto da Silêncio Sonoro As-sociação Cultural, criada há dois anos com base num projecto surgido em Espanha.Esta agenda mensal promove todo o tipo de activida-des, eventos e projectos relacionados com a cultura desde as artes plásticas e cénicas, música, dança, lite-ratura, cinema, fotografia mas também informações sobre bares, restaurantes e espaços de animação noc-turna.Com uma imagem que se pretende “jovem, forte e de fácil compreensão” a Yuzin está organizada como um calendário tendo em cada dia informações sobre o que vai acontecer, onde, a que horas e por que preço. Os responsáveis do projecto pretendem incentivar o hábito de participar em eventos culturais e ao mes-mo tempo ser “um ponto de encontro” das diferen-tes entidades que trabalham e promovem a cultura.

o bolamente/bala-mente/belamente conforme as dife-rentes pronúncias de cada ilha do arquipélago é um jogo original e tra-dicional dos açores, que hoje em dia praticamente se perdeu.o jogo começava na quaresma e ter-minava na Páscoa e as regras eram muito simples, po-dendo ser jogado por apenas duas pessoas.Para tal, tinham que combinar previa-mente, geralmente duas a três sema-nas antes da Pás-coa, dizerem “bala-mento” logo que se vissem. o primeiro que dissesse a pa-lavra ganhava um ponto, sendo que, normalmente, só se podia dizer duas vezes durante o dia: de manhã e ao final da tarde.o segredo do jogo passava por apa-nhar o outro des-prevenido e assim conseguir ser o primeiro a dar o “balamento”, tudo servindo como es-conderijo enquanto se esperava pelo alvo. Chegando à Pás-coa, contavam-se os pontos e quem tivesse dito um maior número de vezes “balamente” recebia o prémio, que era sempre um saco de amêndoas dado pelo perde-dor.

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CULTURA

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M83/ HuRRy uPTEXTO / Adriana Ávila

Com um nome inspirado numa galáxia espiral bar-rada, os M83 são um coletivo de música eletrónica nascida nos Antibes , França. Nicholas Fromageau e Anthony Gonzalez formaram os M83 em 2001 com o seu primeiro álbum homónimo, apesar de mais tarde Nicholas Fromageau se ter afastado da ban-da. No ano transato lançaram o «Hurry Up, We’re Dreaming.» pela editora independente Naïve, es-tiveram em terras lusas nos passados dias 11 e 12 de Março, no Porto e em Lisboa respetivamente, com o propósito de apresentar o seu mais recente tra-balho.

M83 No PRiMAVERA souNdEM BARcELoNA E No PoRTo

De regresso à península, o projeto francês fará par-te dos cartazes dos festivais San Miguel Primavera Sound em Barcelona e Optimus Primavera Sound no Verão de 2012.

Novo vAN gogHVincent Van Gogh “tem” um novo quadro, depois de dez anos de investigações terem chegado à con-clusão que “Com flores e rosas” foi mesmo pintado pelo mestre holandês.O quadro inédito está agora exposto no museu Kroller-Muller, na cidade de Arnhem.

RUbEN EM coiMBRARuben Bettencourt inaugurará a semana cultural de Coimbra, no dia 28 de Março de 2012, pelas 21h30, com um concerto na prestigiada Biblioteca Joanina. Em parceria com a Associação António Fragoso e a Universidade de Coimbra, este concerto marca a segunda vez que o artista angrense actua neste local depois de já ter actuado no Festival de Músi-ca de Coimbra, em Outubro de 2010, sendo o mais jovem de sempre em 16 edições efectuadas.

a VIaGeM de AbelSonata para um Viajante é o primeiro livro de Dimas Si-mas Lopes.A obra conta o percurso de Abel, personagem principal e narrador da história, na sua viagem pelo mundo dos homens do mar e da terra, dos artistas das imagens e das palavras e dos sons, que ouve baleeiros na casa dos botes, ouve música nas salas de concertos e teatros de ópera, abre os olhos nas salas de exposições, conhece a desgraça, a morte, infernos e restos de paraísos.

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OPINIÃO / AGENDA

26 Março 2012 / 31

A BRisAdAs

PAlA-VRAS

TEXTO / Cláudia Ferreira

Num mundo estranho, ganancioso e por vezes sombrio, escondem-se as melhores histórias com um enorme leque de personagens distintas. Es-crever, é modificar o mundo a cada linha, pintá-lo consoante a cria-tividade. Ser jovem significa não ter medo de voar, viver com ousadia, projetar caminhos e criar um mundo encantado.Morar numa pequena ilha, no meio do oceano Atlântico, contém uma essên-cia mágica. Sentir o sabor das ondas e ser envolvida no abraço do vento. Se as folhas caem quando chega a sua altura, se as flores despertam no seu repetivo ciclo, morar numa ilha é viver envolta no encanto do seu mis-tério, é poder tirar proveito de todos os segredos que se escondem na na-turezaNa minha história, dou o protago-nismo àqueles que sofrem, mas su-peram a dor e aos que sonham e bus-

cam. Assim, no processo de criação, seguro numa caneta de tinta verde e começo a reinventar o meu próprio mundo. Porém, percebo que perdi a minha caneta, e no meio da sua bus-ca, passeio pelas cidades inventadas por mim e observo os meus persona-gens.Ao longe, uma criança acenou, e di-rigindo-me ao seu encontro, observo a minha caneta nas suas mãos sujas.- Aqui tens a tua esperança – falou, continuando em seguida. – Não basta sonhar, mas sim viver.

SIZA EM ANGRA Angra do Heroísmo será a sede oficial das comemora-ções do Dia Nacional dos Centros Históricos, ocasião marcada pela visita do arquitecto álvaro Siza Vieira.

diA 28, 11H00

Naquela que será a sua primeira visita aos Aço-res, Siza Viera irá parti-cipar numa conferência intitulada “Arquitectura e a Cidade”, pelas 11h00 da manhã, no Salão No-bre dos Paços do Con-celho.

PAssos do coNcELHoSiza Vieira irá ainda receber o 1.º Prémio Nacional “Me-mória e Identidade”, atribuído em resultado de parce-ria entre a Associação Portuguesa de Municípios com Centro Histórico e a Câmara de Angra do Heroísmo. No âmbito deste evento, Angra do Heroísmo rece-berá representantes dos 108 municípios com Cen-tro Histórico.

a Câmara do Co-mércio de an-gra do heroís-mo promove um workshop de apreciação de Vinhos para res-tauração e apre-ciadores em ge-ral, nos próximos dias 10, 11 e 12 de abril.o orador será o jornalista profis-sional da impren-sa vinícola, João Paulo Martins. o primeiro dia do workshop de ini-ciação à prova de vinhos trata sobretudo de vi-nhos brancos. o segundo dia será dedicado aos vi-nhos tintos e o terceiro trata, sobretudo, de es-pumantes e ge-nerosos.

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