Revista Tem Que Pensar

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P Q T em ue ensar Bazinga! Eureka! Shazam! Amém! Guerra de Ilustrações em Londrina Um pioneiro da imprensa londrinense Históri de perso do “Our nagens o Verde” as Pimba! A hora mágica do cinema Um bosque em perigo

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Revista online desenvolvida pelos estudantes do 3º ano - Jornalismo Matutino 2011 para a disciplina “Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística III”, ministrada pelo Prof. Lauriano Atílio Benazzi. Edição nº 3.

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Page 1: Revista Tem Que Pensar

PQTem ue ensarBazinga!

Eureka!

Shazam!Amém!

Guerra de Ilustrações em Londrina

Um pioneiro da imprensa

londrinense

Históri de persodo “Our

nagenso Verde”

as

Pimba!A hora mágicado cinema

Um bosque em perigo

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ExpedienteTextos e ediçãoJuliana BenettiJuliana Mastelini MoysesLucas MartinsMarielli BarattoMayara Sonchini

DiagramaçãoJuliana BenettiJuliana Mastelini MoysesLucas MartinsMarielli Baratto

DisciplinaTécnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística III

ProfessorLauriano Benazzi

Revista produzida pelo 3° ano do curso de Jornalismo matutino da UEL

“Tem que Pensar.” Sim, é um nome, digamos... sugestivo. Esta revista é o resultado da última atividade das aulas de Técnicas de Reportagem, En-trevista e Pesquisa Jornalística III, que nós, alunos do terceiro ano matutino de Jornalismo da UEL, frequentamos desde o começo do ano.

Se você acha que já viu esse nome por aí é porque chegou a frequentar nosso blog — também chamado Tem que Pensar—, lançado no início das atividades da disciplina de Técnicas de Reportagem. Aqui, escolhemos os melhores artigos e crônicas do site, pro-duzimos muito material novo, e o resultado é o que você vê agora: a evolução do blog, uma revista inteiramente pro-duzida por nós, da primeira à última linha. Enquanto selecio-návamos o material, tivemos muito cuidado para escolher textos de todas as naturezas e pontos de vista, com o obje-tivo de dar pluralismo à revis-ta e agradar — na medida do possível — gregos e troianos.

O material que você está prestes a ler reflete o estilo li-terário e interesses que cada aspirante a jornalista adquiriu ao longo desses três anos nas salas e corredores do CECA. E não apenas os textos: cada cor e cada detalhe da diagrama-ção — enfim, absolutamente tudo — é resultado do que andamos aprendendo nas au-las e no cotidiano.

O carro-chefe da revista são as cinco grande reportagens que produzimos durante os últimos meses de 2011. Trata--se de textos maiores, de fô-lego, mais complexos e refle-xivos, que abordam ângulos de Londrina até então pouco ou nada explorados, lados da cidade que podem surpreen-der até os londrinenses mais antigos. O objetivo das maté-rias não é apenas surpreender o leitor, mas fazer pensar. Se formos bem sucedidos, então teremos feito jus ao nome da revista.

Sente-se em um lugar con-fortável, prepare os neurônios para funcionar, e boa leitura.

Editorial

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O terno

Seu Antônio sempre teve uma vida tranquila e simples. Quando nasceu, era mais um de oito ir-mãos. Foi alfabetizado em uma escola católica, mas nunca termi-nou os estudos porque seu pai sempre lhe disse que homem de verdade não deve estudar, e sim aprender um ofício. Seu Antônio então decidiu virar alfaiate, e aos vinte anos se casou com Dona Margarida, uma mulher simples e de bom coração. Juntos tive-ram quatro filhos e levavam a vida de forma humilde, além de ir todos os domingos à igreja.

Era uma tarde de sábado como qualquer outra e Seu An-tônio pensava sobre a vida en-quanto trabalhava em um terno vermelho que um cliente en-comendou. “Nunca vi ninguém usando terno dessa cor”, pensou Antônio enquanto o cliente de-senrolava o tecido em cima do balcão da loja. Não fez nenhum comentário, apenas pegou os al-finetes, tirou as medidas do es-tranho rapaz e disse que entre-garia o terno em uma semana.

No mesmo dia, contou à sua esposa sobre a visita, que se li-mitou a comentar enquanto co-zinhava o macarrão e o molho vermelho para o jantar “Deve ser moda hoje em dia, você sabe como são essas coisas”. Seu An-tônio reparou que Dona Marga-rida usava um anel de esmeralda

e desconfiou, pois nunca havia visto a esposa se enfeitar, muito menos sabia do tal do anel, que nunca teve dinheiro o bastante para comprar.

Na data combinada o cliente apareceu, pagou o alfaiate e le-vou o terno embora sem ao me-nos provar. Seu Antônio entrou em sua casa, que ficava atrás de seu atelier, e encontrou Margari-da arrumando algumas sacolas com roupas, muitas roupas. Ela ficou nervosa ao ver o marido e disse “Vou lavar as roupas na vizinha, a torneira aqui de casa está cheia de problema e lá tem mais espaço para limpar tudo...”. Seu Antônio reparou que a espo-sa usava, além do anel, um colar de pérolas. Perguntou o que era aquilo, ela disse que era herança da mãe. Antônio não se impor-tou, afinal, nesses trinta anos de casamento, Margarida sempre foi muito boa com todo mun-do, só não entendia por que ela andava se enfeitando tanto para ficar em casa. “Deve ser alguma fase, essas coisas batem quando chega certa idade...” pensou, pe-gou uma xícara de café e voltou ao trabalho.

zNo dia seguinte, Seu Antônio

acordou sozinho. Sem entender

direito o que estava acontecen-do, encontrou um bilhete na cô-moda ao lado da cama dizendo “Antônio, arranjei outro homem, alguém que pode me dar o que você nunca me deu. Não me en-tenda mal, eu sempre vou te amar, mas minha vida tomou outros rumos. Sempre sua, Margarida”. Antônio ficou desolado. Achou que conhecia a companheira, mas acabou abandonado. Tentou se recompor, pois tinha que traba-lhar. Abriu a alfaiataria, enxugou as lágrimas e ligou o rádio, que transmitia uma nota sobre um assassinato que havia acontecido de madrugada, não muito longe dali “...foi encontrado o corpo de uma mulher atrás da igreja matriz da cidade. Ainda não identificada, ela usava um vestido florido, um anel de esmeralda e um colar de pérolas. Testemunhas dizem que ela foi morta a tiros por um ra-paz de terno vermelho, que fugiu com um fusca amarelo. Qualquer informação sobre o caso, ligue para...”.

Juliana Benetti

vermelhoSUMÁRIO

pág. 42

pág. 46

O terno vermelho - pág. 5

Será que é justo? - pág. 6

Sentidos à flor da pele - pág. 20

Tempo, φορά... - pág. 27

Um monstro de quatro rodas - pág. 37

Baby, você é tão boa sendo ruim - pág. 38

CrônicasA farda como

sinônimo de herói pág. 8

O que falta ainda fazer pág. 18

Trânsito Caótico pág.26

O mito de Truman Capotepág. 48

Paixão Nacional pág. 47

Artigos

Colunas

ReportagensFuneral das árvores

pág. 9

Uma Batalha Imagética pág. 21

No Coração do Ouro Verde pág. 29

Breves Lembranças de Quem Audou a Construir o

Jornalismo em Londrina pág - 40

Cineclube: A Hora Mágica pág. 44

Sabores

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Será que é justo?por Juliana Mastelini Moyses

A co-m e m o -ração do

Ano Novo fora como as

dos anos anteriores: os velhos mortos de sono, as crianças em festa pelo reencontro dos primos, e a bebe-deira de uns muitos, enquanto Téo pas-sava longe até da Coca-Cola. Os proble-mas de coração, diabetes e pressão alta de anos atrás lhe fizeram abandonar, ao menos em parte, os abusos de chur-rascos e cervejadas tão comuns antes. Nem Coca-Cola ele podia, ficava então no suquinho de maracujá sem açúcar. Mas ele nem ligava, sabia que era o pre-ço a ser pago em troca da própria vida.

O chato é que enquanto os outros achavam tudo engraçadíssimo, em-briagados pelas porcentagens de álco-ol da champanhe e das cervejas, Téo, assim como as crianças, não estava anestesiado e tinha os sentidos muito bem apurados para perceber o mun-do sem mediações ou coisas assim.

Mas se a champanhe embriagava os adultos, as estrelinhas artificiais brilhan-do no céu embriagavam as crianças, al-gumas delas presenciando a cena pela primeira vez, ou, se já haviam visto, a memória arquivava a cena pela primeira vez. A mágica das luzes que começara

no natal, com as ár-vores, os presentes,

as comidas. Os brinquedos que irradiavam sons e luzes eram os mais dispu-tados, eles tra-

ziam um pedacinho do céu todo enfeitado para a noite que dava as boas vindas para o ano.

Foi pela lucidez de Téo que seu carro foi o único a deixar a casa naquela noi-te. Noite gostosa de tempo agradável, até um pouco fresco, mesmo porque já eram altas horas da madrugada e o novo ano precisava respirar fundo para ativar os pulmões. As luzes ainda pisca-vam no céu em estrelas que se multipli-cavam em milhares de pontos fazendo cócegas no céu para alcançar as verda-deiras luzes da noite. Ao contrário do chão, onde tudo era escuro e perigoso para os que se aventuram destemidos pela madrugada do primeiro dia do ano.

E foi num lugar assim, de pouca luz, pouca iluminação e uma curva proposital que os moços de uniformes de um bege quase marrom estavam vigiando os mo-toristas que passavam. A menor alegria à flor da pele era motivo de desconfiança e a tentativa de atingir a cota da blitz inicia-da na semana anterior com a comemo-ração do nascimento do menino Jesus.

Um carro sim, um carro não, essa era a lógica dos fardados, des-de que não houvesse uma figura da qual a suspeita estava às caras. Foi o que pensaram de Téo quan-do avistaram o modelo prata sedan 2001: a família inteira, pai, mãe e fi-lhos, o cara não ia deixar de beber uma taça que fosse de champa-nhe, nem que fosse só para come-morar com a família todo reunida.

Ao se debruçar sobre o carro, percebeu a alegria dos passageiros e também a apreensão pelo poli-cial ali os interrogando. Pontos a mais para a suspeita. Os procedi-mentos de sempre: os equipamen-tos de segurança, os documentos, o funcionamento do carro. Por fim a pergunta inesperada, de cuja res-posta dependia o desfecho daque-la noite: “o senhor bebeu?” O poli-cial aguardava a única palavra que os livraria da blitz, um simples não era necessário para que ele liberas-se a família com a qual simpatizara.

Cansado da monotonia da noi-te até então, resolveu dar uma de engraçado e brincar com o guar-da com cara de poucos amigos: “Eu estava lá com a minha família, bebemos três grades de cerveja”.

“O quê?” Foi logo tirando o bafôme-tro da bolsa fixada em sua cintura e pe-diu para que o rapaz assoprasse de uma vez. Sem pensar duas vezes e sem peso na consciência, Téo quase depositou os pulmões no apare-lho do policial, que olhou para o amarelo da reação química e man-dou o rapaz soprar de novo, des-confiando do funcionamento do aparelho, afinal se o próprio inte-ressado afirmara ter ingerido bebi-da alcoólica, era sinal de verdade.

Mas nem sempre onde há fu-maça há fogo e o bafômetro não conseguiu identificar 1 ml sequer de álcool no organismo de Téo. Mas, 0 ml de álcool no organis-mo do motorista não foi tão bom assim. O policial ficou irritado e enquadrou Téo no artigo 331 do Código Penal por desacato a au-toridade. Como era feriado, todas as delegacias estavam fechadas e o policial não pôde levá-lo para o xadrez. Porém sua saída da cidade ficou expressamente proibida e ele não pôde voltar para casa que fica-va pertinho, na cidade ali do lado. E mais um dia, teve Téo que aguen-tar os cunhados bêbados. Longe de casa, sem bebida e sem o bom--humor testado com o policial.

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Artigo

A farda sinônimo

Pensar que a sociedade estará tão mais segura quanto mais militarizada parece ser uma ideia estúpida se

olharmos para a essência humana. A corrupção está em toda parte, inclusive equipada com distintivos

Por Lucas Martins

Em 2 de outubro de 1992, um dos pavilhões de um dos maiores complexos presidiários do país

foi surpreendido com uma rebelião de presos, após uma briga entre eles. A Polí-cia Militar, liderada pelo capitão Ubiratan Guimarães, reagiu. A sua resposta cau-sou a morte de 111 penitenciários, se-gundo dados divulgados pelos próprios “milicos”, algo que ainda é passível de desconfiança. Desde o acontecimento do massacre do Caran-diru, apenas um dos policiais presentes na ação foi julgado, mas já pode ser visto andando livremente pelas ruas.

Neste mês, um dos envolvidos na carnificina do Caran-diru vestiu a farda de chefe da Rota, a milí-cia de elite do estado de São Paulo (para parafrasear os termos que são “pop”). A promoção do tenente-coronel Salva-dor Modesto Madia, 48, veio da gestão do então governador, Geraldo Alckmin (PSDB). Para Madia, a morte de mais de cem presidiários foi apenas um “resulta-do do confronto entre detentos e poli-ciais”. Uma declaração, sob o meu ponto de vista, carregada de intolerância e sem uma gota de humanidade.

O episódio só veio confirmar as quei-xas de algumas pessoas que não se sen-tem seguras por ver um policial na sua

rua. Algo que não é nada fora do comum, se formos pensar a questão na sociedade contemporânea. Mesmo que mal articu-lado, o protesto dos estudantes da Uni-versidade de São Paulo, no mês passa-do, se voltou contra esse sentimento de acreditar que a militarização é o melhor caminho para a “ordem”, estampada na bandeira nacional.

A importância e a confiança dadas aos policiais fortalecem aqueles corruptos que vestem o colete, o coldre, e princi-palmente o revólver. Acreditar que quan-to mais repressivas forem essas forças, mais teremos um lu-gar melhor para viver é uma ideia bem pe-rigosa. Em palavras mais esclarecidas, es-taríamos dando, para um grupo restrito, o poder de comandar

a nossa sociedade. E sejamos francos com essa nossa raça humana: ela não é, na sua totalidade, adepta à bondade al-truísta. Conhecemos sua história.

A questão é que não precisamos de mais armas. Necessitamos, sim, da edu-cação e de garantir condições humanas para aqueles que não possuem nenhuma perspectiva de vida. Pois, para um ho-mem sem nada a perder, a criminalidade se torna um dos caminhos mais fáceis a serem percorridos. E isso é tão óbvio quanto dois mais dois são quatro. Entre-

tanto, essa realidade passa despercebida pelos olhos daqueles que creem na mili-tarização da sociedade.

É imprescindível perceber que poli-ciais não diferem dos outros seres huma-nos por vestir uma farda. Pelo contrário, com votos de poder, conseguem aniquilar vidas sem nenhum critério, assim como bandidos que são condenados pelos de-dos da sociedade. A violência e a corrup-ção são mais complexas do que os olhos dos intolerantes conseguem enxergar.

A questão é que não precisamos de mais armas.

Necessitamos, sim, da educação e de garantir

condições humanas para aqueles que não possuem nenhuma perspectiva de

vida. Pois, para um homem sem nada a perder, a

criminalidade se torna um dos caminhos mais fáceis a

serem percorridos

A reforma do Bosque Marechal Cândido Rondon, quase um patrimônio históri-co da cidade de Londrina, tem o futuro incerto e divide a população.

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Foto do bosque do Google Street View visto das Av. Rio de Janeiro (esq.) e São Paulo (dir.)

“o município não pode se auto-licenciar”, sendo assim necessária a aprovação do órgão ambiental estadual.

Contrariada, a Prefeitura ques-tionou a validade da decisão do IAP ao Ministério Público. Em resposta à decisão, uma nota foi publicada pela assessoria no site da Prefeitura afirmando que o projeto traçado para a revitaliza-ção do Bosque retoma um outro projeto, realizado em 1950, mas não diz exatamente o porquê. Além disso, é dito que a reforma faz parte de um “Plano Macro do município que prevê a revitaliza-ção de ruas e bosques do centro histórico de Londrina”, citando a reforma da Alameda Miguel Blasi e do Calçadão, colocando como motivos a melhoria do saneamen-to - pois assim, supostamente, menos pombas habitariam o lo-cal - e a diminuição da violência. Na mesma nota, o plano de revi-talização é finalmente divulgado, sendo que até então ele não era acessível para a imprensa e as obras haviam sido iniciadas na semana anterior.

Solange Vincentin, Promotora de Defesa do Meio Ambiente, validou a decisão do IAP e as obras permanecerão paralisadas até que seja firmado um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), que

estabelecerá se as obras continu-arão e a Rua Piauí será alargada ou se o Bosque será revitalizado como local de lazer, analisando as duas propostas por meio de estu-dos e pesquisas.

Ocupa Londrina

Naquele mesmo onze de no-vembro, uma sexta-feira, o jor-nalista Guto Rocha passava por perto do Bosque para ir a uma entrevista coletiva quando ouviu o som de uma motosserra. “Na hora eu sabia o que estava acon-tecendo, porque eu já tinha lido notícias de que isso iria acontecer nos jornais, já tinha postado es-sas notícias no Facebook e al-gumas pessoas se manifestaram também contrárias às mudanças. Mas daí morreu ali, ninguém fez mais nada, eu não fiz mais nada. E nesse dia que eu passei aqui e ouvi o barulho da motosserra eu pensei ‘Pronto, a tragédia an-unciada se concretizou!’”, conta Guto, que rapidamente tirou fo-tos, foi até a coletiva e avisou a todos os colegas jornalistas e pu-blicou as imagens nas redes soci-ais. Muitas pessoas comentaram e compartilharam as fotos, per-plexos com o que viram.

Surgia então, de forma quase espontânea, o movimento Ocupa

Londrina. A cantora Gisele Al-meida criou um grupo virtual no Facebook e convocou os indigna-dos para discutir e protestar, e já no dia seguinte foi marcado um encontro no Bosque, onde apa-receram quase 50 pessoas. Foi nessa reunião que ficou definido o nome do movimento – que ini-cialmente iria se chamar Ocupa Bosque, porque os manifestantes teriam que ocupar o local para impedir a continuidade das ob-ras. Logo o nome mudou para Ocupa Londrina, pois a ideia é que outros problemas do mu-nicípio entrem em pauta para discussão. Foram também defini-das as atividades dos próximos dias, um domingo seguido de dois dias de feriado: no primeiro dia, um funeral simbólico para as árvores derrubadas; no segundo, atividades de recreação para ocu-par o local; e no terceiro, limpeza e plantio de mudas.

O movimento ganhou reper-cussão na internet – o grupo Ocu-pa Londrina no Facebook já passa dos 900 membros, número que aumenta todos os dias – e tam-bém na imprensa local. Depois do feriado, alguns manifestantes continuaram se encontrando to-dos os dias no Bosque, para re-alizar manifestações artísticas e discussões. É possível encontrar

Juliana Benetti

Era mais um dia de manifesta-ção no Bosque do centro de Lon-drina quando uma senhora se aproximou para apoiar as pes-soas que ali estavam. Neste dia em particular, havia poucos man-ifestantes, mas eram os mesmos que estavam dispostos a com-parecer no local todos os dias para trocar informações, ideias e opiniões. Arquitetos, estudantes, jornalistas, professores, artistas, contribuindo cada um a sua ma-neira. Gente de todos os tipos, com algo em comum: a indigna-ção pela destruição infundada e a vontade de revitalizar o lugar, que é considerado por muitos um dos maiores patrimônios históricos da cidade, o Bosque Marechal Cândido Rondon.

Neste ponto, Dona Olga não era diferente. Tão logo chegou, ela já se misturou ao grupo e fez seu discurso de protesto. Disse ainda ter encomendado faixas com frases de apoio para serem colocadas no local no dia se-guinte. Moradora de um prédio ao lado do Bosque, Dona Olga insistiu para que alguém subisse até seu apartamento para tirar fo-tos de cima, pois ali era possível ter uma visão completa das ob-ras feitas na semana anterior pela Prefeitura da cidade, que demoliu o antigo “Zerinho”, onde havia ár-vores nativas e espaço para lazer

e prática de exercícios.Dona Olga abriu as portas de

sua casa e dividiu um pouco de sua história como moradora de Londrina na tentativa de denun-ciar o que ela mesma chamou de falta de respeito. “Quando eu era criança, eu estudava no (colégio) Mãe de Deus. Não tinham ár-vores destruídas, mas sim árvores nativas. Muita peroba... maravil-hoso, era lindo.” Dona Olga cres-ceu, ingressou na faculdade, e nessa época, quando ia passear pelo bosque, os ônibus já faziam suas paradas ali. “Não sei quem foi essa pessoa que não teve o pingo de respeito com a natureza e colocou esse Terminal de Ôni-bus no Bosque. Totalmente er-rado, começou errado. Mas não é só porque começou errado que nós vamos continuar errando”, diz com a voz repleta de indig-nação. Ela se refere à construção do Terminal de Ônibus Urbano, que em 1971 alargou a Rua Piauí pelo Bosque e o dividiu em duas partes (ver “Uma breve reseumo da história do Bosque” no final da matéria).

Quando o assunto é o que fazer com a parte demolida do Bosque, Dona Olga tem quase um plano completo. “Vamos plan-tar novamente, vamos por flores, pinturas nos muros, calçadas de-centes para os pedestres, tirar es-sas lajotas do meio do bosque – o que está horrível, ali não é lugar

de lajotas e sim de árvores. Deixa trilhas pro pessoal passar e apre-ciar, respirar o ar mais puro.”

A Reforma – Progresso ou Retrocesso?

Tudo começou no dia onze de novembro, quando a Prefeitura decidiu seguir com um projeto de revitalização, demolindo o antigo Zerinho para alargar a Rua Piauí. No final de outubro, as mesas foram retiradas da área central do Bosque e recolocadas em out-ros espaços. Naquele momento, a presidente do Instituto de Pes-quisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul), Regina Nabhan, já havia anunciado a possibi-lidade da realização de obras no local para ‘desafogar’ o trânsito e aumentar o fluxo de carros na Rua Piauí entre as Avenidas Rio de Janeiro e São Paulo, porém até então nada estava definido.

No dia 16 de novembro, cinco dias após a demolição, a obra foi embargada e o município foi mul-tado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). A assessoria de im-prensa do instituto declarou que aplicou “dois autos de infração (multa) no município. Um de R$ 4800 por cortar 17 árvores nati-vas sem licenciamento ambiental e outro de R$ 5 mil por não solici-tar licenciamento ambiental” e ai-nda ressaltou que o instituto não é contra obras na cidade, porém

Fotos: Juliana Benetti

Zerinho demolido. À dir.,, grupo Ocupa Londrina faz

uma ciranda de cantos

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ali pessoas engajadas, que desde o primeiro dia estão pes-quisando e correndo atrás de in-formações e recursos para tentar evitar que o local seja destruído. No mesmo dia em que as ob-ras foram embargadas, tratores da Prefeitura ainda estavam no Bosque para retirar o resto das ár-vores. Dentro do espaço do Zeri-nho, uma árvore e dois pedaços de troncos restaram ainda plan-tados. Quando um dos tratores tentou retirar um dos troncos, Guto Rocha o abraçou e quase foi levado junto com o pedaço da

árvore, pois o homem que mane-java o trator demorou a notar sua presença. A foto da situação em questão é surpreendente.

Sobre as obras de revitaliza-

“A tragédia an-unciada se con-

cretizou!”

ção, Guto é contundente. “Eu pen-so que eles estão equivocados, eles não apresentaram um plano, que foi apresentado hoje (16/11), só depois da obra ter sido inter-ditada, depois que o IAP multou e autuou, depois que a Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público determinou que a obra fosse suspensa até que as coisas fossem esclarecidas, ai eles vem e apresentam um projeto”. Guto critica a qualidade do projeto apresentado, que, segundo ele, foi muito mal elaborado. “A pre-feitura divulgou hoje informações inconsistentes, escritas às pressas, falando até que as árvores fazem parte da fauna, sendo que elas fa-zem parte da flora. São cuidados básicos que devem ser tomados para informar de forma correta, e nem isso eles estão cuidando”.

Além do movimento, a ONG Meio Ambiente Equilibrado (MAE) protocolou uma Ação Civil Pública contra os danos causados

pela falta de planejamento das obras de reabertura da Rua Piauí, exigindo que os danos ambien-tais sejam reparados, e o local, reconstruído. Segundo a asses-soria da ONG, o principal motivo é a falta do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), relatório que deveria ter sido feito pelo Con-selho Municipal, obrigatório para obras desse porte, que analisa qual o impacto da construção na população e nos arredores.

A opinião do povo

Enquanto o futuro do Bosque continua incerto, a população se divide entre apoiar a preservação do local como espaço de lazer e caminhada ou apoiar a abertura das ruas da cidade. Uma senhora observava a ação do grupo Ocu-pa Londrina sentada em uma das poucas mesas que restaram no local. Quando questionada sobre

Com cadeiras improvisadas, frequentadores do Bosque voltam ao local após a demolição. Acima, à esq., tronco salvo por Guto Rocha. Á dir., manisfestação do Ocupa Londrina Visão do Bosque do apartamento de Dona Olga. No centro, manifestantes se reunem,

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as ações no Bosque, ela de-clara ser indiferente sobre as ob-ras ali. “Ninguém caminha aqui mesmo por causa das pombas, do mau-cheiro. Eu vejo, moro logo aqui na esquina. Tem pes-soas aí protestando agora, não sei por que, não vejo ninguém fazendo caminhada aqui. Quem caminhava por aqui passou a ir andar na Catedral por conta do mau-cheiro. Então, quem vai sen-tir mesmo com as obras é o pes-soal que joga baralho aqui”.

Além disso, ela se mostra indig-nada com os protestos de quem está ali. “Eu acho uma verdadeira palhaçada o que estão fazendo aqui. Já falaram na rádio hoje de manhã, essas pessoas que es-tão protestando nem sabem por que estão aí. Acho que eles nem conheciam o Bosque. Eu nunca vi essas pessoas, elas vieram agora pra protestar. Daqui das redonde-

zas, que mora aqui mesmo, só es-tou vendo uma pessoa participar.

Fica até mais bonito abrir a rua” dispara a senhora, que não quis se identificar.

Ao mesmo tempo, muita gente caminhava por ali, e a maioria mostrava indignação quando se deparava com os pedaços dos troncos das árvores, concreto e toda terra revirada. Nesse dia, um dos manifestan-tes se fantasiou de Morte e ficou

perambulando pelos restos do que um dia foi o Zerinho. Algu-mas crianças brincavam com o personagem e com as cruzes que foram usadas no primeiro dia de protesto, no funeral das árvores. Uma ciranda foi organizada pelos integrantes do Ocupa Londrina, que cantavam enquanto tocavam tamborese, dançavam e andavam em volta da pista de caminhada. Vandeci, que passeava com a mãe e empurrava o carrinho de bebê, parou para observar o resultado da demolição e conversar sobre isso com um conhecido que ali passava. Ela diz que o Bosque deveria ser revitalizado como es-paço de lazer, com mais parques e academias, mais aparelhos e brinquedos iguais aos que es-tão localizados no Bosque na parte da Rua Rio de Janeiro, pois aqueles não são suficientes para o número de pessoas que fre-

quentam o local.Mas Vandeci concorda que re-

formas deveriam ser feitas ali há muito tempo. “Isto aqui estava abandonado, há duas semanas eu até vi um menino sendo as-saltado. Porque tem o pessoal da Guarda Municipal aqui, mas eles não ficam olhando, eles ficam lá dentro. Como eu moro aqui, nos-sa é preocupação é com assalto. Se eles fizessem um parquinho e academia, igual fizeram do outro lado eu acharia justo”.

Independentemente dos posi-cionamentos tomados em relação às obras, algo certo nessa situa-ção é que a Administração Pública abusou do poder, desrespeitando a memória de Londrina e a opin-ião de quem mora aqui. A história se repete no Centro Histórico da cidade há alguns anos. O coreto do centro foi demolido por abri-

gar marginais, os quiosques do Calçadão foram também demoli-dos por estarem em “situação ir-regular” — a Prefeitura na época declarou que iria abrir licitações para novos quiosques, mas de-pois de tudo derrubado a decisão foi anulada, pois supostamente não haveria espaço para os qui-osques no novo plano de reforma do Calçadão. Esse mesmo plano que até hoje está sendo executa-do da forma mais lenta possível substituiu o antigo piso de petit pavet em preto e branco – marca registrada da cidade – pelo paver, que é mais seguro, mas acabou com a identidade visual do es-paço. Uma pequena fonte, ban-cos de concreto e bebedores ao ar livre foram instalados em pon-tos diferentes do novo calçadão, além de um piso tátil mal instala-do para portadores de deficiência

visual — é isso que dita o cenário da nova Londrina.

A cidade é abalada por es-cândalos políticos e atualmente passa por uma crise na área da Saúde. Enquanto isso, a adminis-tração se preocupa mais em fazer reformas sem planejamento do que discutir problemas mais ur-gentes e de maior gravidade. Por isso, foi de extrema importância a união de pessoas que mostras-sem que a população não está apática diante das mudanças im-postas. É essencial mostrar que isso vai além da irresponsabili-dade apresentada na reforma do Bosque – que por si só já é um crime contra Londrina. Mais do que isso, as reuniões também servem para mostrar que o Poder Público, por mais que queira, não poderá agir em serviço próprio e sair livremente.

“...essas pessoas que estão

protestando nem sabem por que

estão aí. ”

Crianças brincam no que restou do ZerinhoVisão do Bosque da sacada do apartamento de Dona Olga.

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Um breve resumo da história do BosqueJuliana Benetti

A área onde se localiza o Bosque Marechal Candido Ron-don foi doada pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CNTP), empresa colonizadora da cidade e subsidiária da Paraná Plantations LTDA, na década de 30. Na épo-ca, o local foi palco de protestos de disputas políticas para definir quem seria o prefeito da cidade, além de ser espaço de passeio e confraternização da população.

Em 1950, a cidade se desen-volvia rapidamente por conta da cultura cafeeira. O aumento pop-ulacional foi muito maior do que o esperado e o plano urbanístico previamente traçado foi logo su-perado. A cidade crescia sem muito planejamento, excedendo o perímetro urbano antes traça-do. A região central do município começou a ser considerado lugar de residências de luxo, comér-cio e negócios. Surgia então uma discrepância entre as novas estru-turas mal planejadas e sem infra-estrutura básica (água, esgoto, luz) nas periferias, espaço ocupado pela classe baixa, e a renovação e valorização da área central, onde vivia a elite.

A Prefeitura contratou arquite-tos na tentativa de organizar o crescimento urbano. Um novo plano urbanístico foi elaborado e edifícios modernos foram con-struídos, como a antiga rodoviária (atual Museu de Artes) e a casa da criança (atual Secretaria de Cultura). Nessa época, o Bosque também passou por renovações. Em 1953, foram instaladas uma quadra de esportes, um viveiro de animais, um parque infantil e sani-tários públicos. Também foi nessa

década, em 1958, que o bosque recebeu o nome de Marechal Cân-dido Rondon.

Na década de 1960, a cidade já não cresce com a mesma in-tensidade devido as Grandes Geadas do final dos anos 1950, que acabaram prejudicando o cul-tivo do café, atividade que já não era tão lucrativa. Esse fato aliado ao início da mecanização da agri-cultura culminou na migração dos trabalhadores rurais para a cidade. Mais uma vez a cidade cresce de forma acelerada e sem planeja-mento.

A década de 1970 começa com o contraste entre o planejamen-to urbano e o alto crescimento populacional. Em 1971, o Bosque Marechal Cândido Rondon foi re-formado e transformado no pri-meiro Terminal de Ônibus Urbano da cidade de Londrina. O local foi escolhido pela sua localização cen-tral e por ser um espaço popular. A Rua Piauí foi alargada e o Bosque

dividido em duas partes, como é até hoje.

O Bosque até então era um espaço de lazer, passeio e des-canso dos londrinenses. Por ter esse caráter de agregação, muitas vezes foi palco de debates políti-cos e ainda abrigava atividades econômicas, dando espaço para artesãos e fotógrafos lambe-lam-be. Com a reforma de 1971, o lo-cal se transformou apenas em um lugar de passagem. Além disso, a violência aumentou devido ao ex-cessivo número de pessoas que ali passavam, e o espaço não era ideal para a passagem de ônibus, o que contribui para a rápida de-gradação do local. Nesta época, a Folha de Londrina publicou di-versas reportagens denunciando a depredação do Bosque: falta de iluminação, bancos quebrados, lixo nas calçadas, além dos espa-ços antes reservados para o lazer (quadra, praça, aviário) totalmente abandonados.

Somente em 1988 o Terminal de Ônibus Urbano ganhou um novo es-paço na Avenida Leste-Oeste e deixa o Bosque Marechal Cândido Rondon, que então estava deteriorado. Foram realizadas uma série de discussões e concursos para elaborar um plano de revitalização do espaço. Um projeto foi selecionado, propondo agredir o míni-mo de área verde possível, e previa a instalação de um estacionamento sub-terrâneo e a construção de um palco para apresentações artísticas onde era o Terminal. O projeto ganhou populari-dade, mas foi engavetado por motivos econômicos. Devido à localização cen-tral e estratégica do bosque, sua ocu-pação foi alvo de disputas de grupos de interesses distintos.

Em 1989, o então prefeito Antonio Carlos Belinati cedeu o espaço para a Associação dos Corretores de Au-tomóveis de Londrina, chamada Pedra.

O local foi ocupado por corretores e au-tomóveis até 1991, quando a Pedra gan-hou novo espaço. Em outubro de 1990 foi criada a Associação de Amigos do Bosque, com cerca de mil e quinhentas pessoas filiadas e com o objetivo de pressionar a Prefeitura para tornar o Bosque nova-mente um lugar de lazer. O poder público cedeu aos pedidos e foi então construído o Zerinho, com uma pista de caminhada em volta de aparelhos para exercícios físicos, mesas de jogos, revitalização da quadra poliesportiva e banheiros. As ár-vores nativas foram replantadas. É impor-tante ressaltar que nunca foram tomadas providencias para a preservação da flora local. Muitas espécies de plantas nativas do Brasil foram plantadas, e ainda restam algumas árvores representantes da veg-etação primária do norte do Paraná.

Fotos: Juliana Benetti

Em 2009, equipe de handebol treina na pista de caminhada Em 2009, pessoas se reunem no local

Em 2009, duas das galinhas que habitavam o local na época

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gritantes de incidência de doenças sexualmente transmissíveis. No que diz respeito ao controle de natalidade o anticoncepcional, surgido

na década de 1950 e popularizado na de 60 é hoje a principal forma das mulheres controlarem sua vida sexual sem depender de ninguém e

convenhamos em 50 anos, já poderíamos ter evoluído mais, não? Mesmo as variações que excluem o problema do esquecimento

como os injetáveis ainda não garantem a total certeza de que a mulher não vai engravidar assim como os preservativos

não dão essa segurança. Mais que enaltecer o discurso do controle de natalidade geralmente gasto nas propagan-

das de camisinha, o aborto e a infertilização garantem o poder á mulher de realmente controlar sua vida.

E falando em controle, no dia oito de março to-das as floriculturas prontificam-se a embalar uni-dades de rosas, restaurantes as distribuem como homenagem, maridos carinhosos as levam para suas esposas, mulheres ganham descontos em produtos de beleza e talvez até naquela lingerie para “apimentar as coisas” e assim lentamente vão se esquecendo do real in-tuito da data, que não é para ser come-morada mas sim utilizada para os novos ou mesmo velhos desafios das mulheres como não só combater a atual legislação do aborto como garantir seus direitos perante á saúde pública e ser capaz de realmente controlar sua própria vida. Sendo assim cobrar a legalização e a li-

berdade dessas medidas não é só uma melhoria na saúde pública

mas sim um passo á frente na verdadeira luta feminina, e “verdadeira” não quer dizer “como na propaganda do sabão em pó”.

O que ainda

falta fazerA chamada luta feminina está estampada por toda a mídia,

em todos os cantos do país propagandas de anticoncepcionais á sabão em pó gastam o termo “feminista” para convencer a também gasta “nova geração de mulheres” de que elas precisam de tal produto. No entanto se em pleno ano de 2010 um assun-to que deveria já ter se tornado corriqueiro ameaçou a candi-datura da futura primeira presidente da república como é que podemos falar em revolução? O aborto, juntamente com outras medidas de saúde pública como as cirurgias de infertilização e DIU continuam um tabu tanto para as autoridades como para a população.

Essas medidas se escondem atrás da culpa católica de um país cujo Estado é laico e de preconceitos ainda enraizados no imaginário popular. O aborto permanece sob uma legislação baseada em princípios deterministas de faculdades de direito enquanto as cirurgias se escondem atrás de fatores limitadores como ter que ter mais de dois filhos para a primeira e mais de um para a segunda, e ainda assim mulheres que dependem do Sistema Único de Saúde podem chegar até seu quinto ou sexto filho sem se caracterizar para as cirurgias. Outra desculpa co-mumente dada para essas limitações é que o uso de preserva-tivos diminuiria e que, portanto o número de doenças venéreas aumentaria. Não cabe aqui discutir as preferências sexuais de cada um, mas é sempre bom citar um exemplo como o de um paisinho esquecido da América Latina chamado Guiana Francesa onde não só o aborto é legalizado como não existem índices

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por Mayara Sonchini

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Gravura em Metal - Água forte76,5 x 60,5 cm

Bernardo Faria, Edson Vieira, Rodrigo Yan Haur, Pablo Blanco e Rafael HatadaniUma peça de metal, entalhada com uma gravura de uma guerra estava ao lado da mesa. Bernardo, notando que eu estava observando, diz: “Essa foi a nossa primeira ilustração. Fizemos um desenho na chapa de metal, e depois imprimos a ilustração num papel.

Uma BatalhaImagéticaÉ quando vale tudo:

desenho, vetores, ilustrações,

fotografias, gravuras em metal, xilogravuras e litogravuras. Só não vale deixar a criatividade e imaginação presas dentro da “cachola”Por Lucas Martins

Capítulo I:Preparar!

Era um escritório de design co-mum. Havia suas bizarrices,

seus designers, ilustradores e toda a bagunça que poderia haver em um espaço que agrega esse tipo de coisa e gente. A criatividade explodia con-

tra as paredes, mas não conseguia sair muito de lá. Ficava presa aos trabalhos e produtos desenvolvidos por seus criadores. Era março de 2009, quando os amigos Bernardo Faria, Pablo Blan-co, Rodrigo Yann Haur e Rafael Hata-dani decidiram embater suas ideias e criatividade.

“Vamos fazer uma batalha de ilus-tradores?” A resposta veio positiva-mente. Decidiram o tema e começa-ram a preparar suas armas e infantaria. Cada um faria aquilo em que é melhor: a ilustração. E, no final, escolheriam o melhor dentre todos eles, o vencedor

Reportagem

Sentidos à flor da pele

Quem passa pelo calçadão em dias de chu-va, toma contato ao fundo com o significado da palavra sinestesia. É uma confusão de sen-tidos que se encontram com aqueles que passam, param, ficam, em meio a pedras de cimento, areia e terra.

Ao invés do cheiro poético de terra molhada, a chuva traz o aroma do bos-que, sem antes passá-lo por um amplifi-cador, que lhe confere ressonância e lhe propaga por todo centro da cidade. A sujeira no chão também sofre um con-siderável aperfeiçoamento e o cuidado se concentra então em se equilibrar como homo sapiens.

Para complementar o aroma do bosque numa única harmonia, tem alguém que assovia a fumaça do ta-baco tragada do fundo dos pulmões no espectador que anda em busca de um caminho que faça chegar mais de-pressa. A cada passo uma combinação nova de acordes, ritmos e pausas ol-fativas.

A sensação refrescante dos pingos da chuva, quando abruptamente ini-ciada, não dura muito tempo. Sempre aparece uma careca com o vento ofere-cendo proteção contra os pingos quase mortíferos caídos do céu. É baratinho! A sinfonia vem então dos cordéis de impro-viso que se lançam até o receptor.

Os holofotes baixam a luz e o cenário as-sume o clima de suspense das peças intimistas que aproximam as pessoas. A cor do vento que vem com a chuva também favorece a aproxima-

ção. Ele pega

de surpresa os desavisados

com roupas de ve-rão e sandálias nos

pés. O sentido se torna mais sensível com os ca-

lafrios que começam no contato direto da sola com a frieza do chão.

De repente, os sinos anunciam o final do expe-diente, quando as pesadas portas de aço se abaixam e o ruído das multidões se inten-sifica na competição por um caminho livre que leve ao con-forto do lar. As luzes aos pou-cos se apagam, os sons cedem lugar ao silêncio e o frio fica só do outro lado da vidraça.

por Juliana Mastelini Moyses

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da Guerra, aquele que conquista-ria o território, o título e tudo o que estaria em jogo naquela batalha. Os lápis foram apontados, os pincéis, as ferramentas de ilustração e toda a pa-rafernália que poderia fazer com que algum deles se tornasse vitorioso fo-ram usados durante a batalha.

E, todo mês, havia aquele embate interno da BR Tipo – estúdio de design, onde, hoje, você encontra alguma das parafernálias de ilustração e umas bi-zarrices como uma mão magrela e assustadora, com alguns dedos do-brados sobre uma estante. Entretanto, nada do que era mostrado ali passava pelas paredes do escritório. Londrina ainda continuava sem ser atingida pe-los projéteis que eram disparados nes-se tipo de guerra.

Na BR Tipo, agora uma sala locali-zada num dos prédios mais acinzenta-dos e acromáticos (uma contradição) de Londrina, o ilustrador Bernardo Fa-ria me conta sobre o desdobramentos dessa guerra:

“A gente pensou que poderia ex-pandir essa batalha”, ele diz ao rabiscar alguns desenhos e dados em um pa-pel. Acredito que seja assim que traba-lha a mente de um ilustrador, ao mes-mo tempo que diz, a sua criatividade vai projetando imagens que precisam rapidamente ser expressas no papel. Mas, ele continua. “Precisávamos criar algo que juntasse todos os ilustrado-res da cidade. Não imagina a quanti-dade de profissionais daqui que criam e desenham para trabalhos de outras cidades!” A indignação de Bernardo é compreensível.

E foi pensando assim que a Guerra tomou proporções desejadas. O big-

“Ele levanta, apresenta seu trabalho, explica o que foi usado, conta a sua ideia e relaciona-a ao tema. E, logo após, chama o próximo adversário que fará o mesmo. A batalha apenas termina quando todos tiverem mostrado o que tinham preparado para o evento”. Bernardo Faria mostra o seu trabalho na 16ª Guerra, com o tema Bigode.

1. Café - Nanquim - Lapís de Cor - Corretivo Líquido 66 x 22,5 cmAndré Unica, Bernardo Faria e Pablo Blanco2. Colagem apresentada na 15ª edição do Guerra de Ilustrações

-bang criativo saiu das quatro paredes do estúdio e resolveu envolver toda a cida-de. As cores e ilustrações viriam, agora, de todos os cantos de Londrina. Atingin-do um número maior de pessoas, ferindo mais e tornando a causa da batalha, uma questão que deveria ser pensada por to-dos. Preparem as armas e os canhões.

Capítulo II:Apontar!

Era outubro de 2009, seis meses após aquela ideia de combate de

desenhos ter começado dentro de um dos escritórios de design de Londrina. O anúncio fora lançado. A Guerra agora, de fato, começaria e envolveria todos os ci-dadãos londrinenses que tivessem uma imaginação bem fértil e que poderia ser expressa por meio de traços em um pa-pel.

“Chamamos todos os amigos que conhecíamos”, conta Bernardo, ainda ra-biscando o papel que já não é mais tão branco como no começo da conversa “Queríamos que todos estivessem envol-vidos na batalha e que todos pudessem mostrar seus trabalhos”. Ele não tinha muita ideia do que poderia se tornar aquele projeto. E, antes de virar um tra-balho ambicioso, a diversão falava mais alto.

“Era tudo uma brincadeira”. Mas, brin-cadeira entre ilustradores sempre é algo que pode ser levado a sério. Decidiram o primeiro tema: Piratas. Agora, estava ar-mada a batalha. Lápis e pincéis a mãos. As regras eram as mesmas que valiam para as criações da protobatalha, aquela que deu origem ao Guerra de Ilustrações. “Valia de tudo”, reforça Bernardo, “Mas

tudo que fosse ilustração, bidimensio-nal”.

E, apesar de valer quase tudo, al-guns trabalhos já saí-ram do regulamento do projeto. Em uma das ilustrações da 3ª Guerra, com o tema “Inferno”, notei que havia uma que confi-gurava um pouco fora do plano bidimen-sional exigido pelas regras da batalha. Na imagem, viam-se pe-ças pretas e brancas, como num xadrez, um verdadeiro apo-calipse, um combate entre anjos e demô-nios. Os criadores das esculturas em massa de modelar – Bruno Nantes, Diego Ge-ronymo e Gabriel Macohin - haviam le-vado o tabuleiro para batalhar com os outros trabalhos expostos. Entretanto, eles precisaram fotografá-lo para que ele pudesse ser enquadrado às regras do projeto. Assim, a obra 3D perdeu um de seus “d” s e foi lançada para o ataque.

“Não basta só levar o trabalho”, Ber-nardo ainda conta sobre as regras da Guerra de Ilustrações. Agora, ele dá uma pausa no que estava desenhando sobre o papel, “Você precisa, primei-ro, dizer que quer participar e a gente precisa fazer uma listagem, uma relação com todos os nomes dos participantes, antes de começar o embate”. Mas, ape-sar dessas regras, a batalha tem lá as suas liberdades. Qualquer mortal que

queira mostrar seu trabalho e que tenha a vontade de usar a sua criatividade e imaginação está apto para guerrear.

É algo que se asse-melha com as ideias anárquicas e niilistas. “Depois de algumas batalhas, também percebemos que não haveria como julgar quem seria o 'vence-dor'”. Bernardo me ex-plica o outro lado da moeda, “São desenhos. Não há como você di-zer que o que alguém fez está 'certo' ou 'erra-do'”. A minha simpatia pela criação aumenta.

Os locais onde a guerra ocorre são di-

versos. Geralmente, o ambiente tem um ar amistoso, apesar do nome exigir um “conflito”. São bares, restaurantes e qualquer outro estabele-

cimento que permita que suas paredes sirvam de cenário para um embate de imagens e ilustrações. A guerra se ini-cia. Na mesa, os participantes quase não precisam fazer nenhum esforço para que as armas sejam disparadas. Empunham os seus desenhos e ilustrações, todos impressos. E é escolhido o primeiro para desafiar todo o resto dos desenhistas.

Ele levanta, apresenta seu trabalho, explica o que foi usado, conta a sua ideia e relaciona-a ao tema. E, logo após, cha-ma o próximo adversário que fará o mes-mo. A batalha apenas termina quando todos tiverem mostrado o que tinham preparado para o evento. Depois de toda essa guerra, é impossível sair ileso. Não se é atingido por uma bola de ca-nhão, ou algo do tipo, mas a imaginação, o modo de perceber o mundo e de criar e desenhar já não são mais os mesmos.

“É legal perceber que em uma Guer-ra, você pode achar que seu trabalho ficou muito bom. E se orgulhar disso”, explica Bernardo, que parece ter largado

“Depois de algumas batalhas, também percebemos que

não haveria como julgar quem seria o

‘vencedor’”. Bernardo me explica o outro

lado da moeda, “São desenhos. Não há como

você dizer que o que alguém fez está ‘certo’

ou ‘errado’”.

1. Grafite - Nanquim - Digital 29,5 x 42 cmHeloisa Pintarelli2. Caneta e Lápis de Cor 29,5 x 42 cmBernardo Faria e Pablo BlancoIlustrações apresentadas durante a 5ª edição da Guerrra, Luta Livre

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Page 13: Revista Tem Que Pensar

Capítulo III:Fogo!

“Então, surgiu essa parceria com o Museu de Arte de Lon-

drina”, diz Bernardo. Entre os dias 13 e 31 de agos-to de 2010, o espaço do Museu - que outrora era um terminal rodo-viário – ficou ocupado pela arte criada durante oito edições da Guerra de Ilustrações. Próximos às paredes do prédio, encontravam-se desenhos de todo o tipo e tamanho. Eram mais de 100 trabalhos, entre piratas, demônios, “lu-chadores” e vikings por todos os lados.

“A exposição no Museu de Arte foi como uma nova etapa para a GI”, con-ta Bernardo, ainda sem nenhuma outra ideia que poderia ser colocada no bloco de notas a sua frente, “O nosso público aumentou, tivemos visitas até de crian-ças. O museu recebeu, durante a exposi-ção, mais de mil pessoas. Foi bom tanto para eles quanto para a gente”.

Já não era apenas uma brincadei-ra entre ilustradores, a batalha estava se tornando um business. No decorrer da exposição do Museu de Arte, foram vendidos artigos como canecas, botons

e catálogos com as ilustrações dos com-batentes. A emer-gência de todo esse negócio veio para sustentar a ideia de divulgar a arte lon-drinense sem ser dispendioso para os

seus criadores. Algo necessário para continuar em frente.

A GI se tornou, agora, uma criatura que necessitaria de mais “carinho” de seus criadores. “Resolvemos criar o site

“A GI se tornou, agora, uma criatura que necessitaria de

mais “carinho” de seus criadores.

O deck do Shopping Catuaí, no sábado D, estava um pouco mais mo-vimentado do que de costume. Pessoas de todos os estilos, idades e convicções esperavam pela montagem de um mo-nitor e de aparelhos de som que anun-ciariam o começo de mais uma batalha. O confronto, que estava marcado para começar a partir das 17h, teve um pouco de atraso. Sabe como é, não é fácil mobi-lizar as tropas para combaterem entre si.

Aos poucos, cada um chegava car-regando a sua ilustração. Uns portavam quadros e pastas enormes, verdadeiras telas. Outros, algo simples, como uma folha A4. Converso com uma ilustradora que estava ao meu lado sobre as técni-cas e o que é mais comum ver nas Guer-ras. “Praticamente quase todo mundo usa mais as ferramentas digitais. Mas, como eu não sei usar esses programas, eu desenho, utilizando outras técnicas”, ela me diz. Para essa edição, tinha pre-parado uma colagem, algo meio car-toonizado. “Quem usa papel e lápis é sempre os mais velhos”, conta uma ou-tra, que estava ao nosso lado e que tinha ouvido a nossa conversa, “Na guerra de hoje, trouxe um desenho que fiz usando apenas nanquim e acrílico.”

As instalações ficam prontas, os ilus-tradores que estavam na lista já estão todos no local, comecemos a Guerra. Percebo que elas têm razão. Muitos ali ainda utilizaram técnicas de computador para dar cor, finalizar e ajustar as suas ilustrações. Entretanto, ainda há os que resistem e abusam de bons e velhos lápis e tintas. O homenageado com um vídeo desta edição, por exemplo, tinha pintado uma verdadeira tela com apenas acrílico e nanquim.

E, aos poucos, alienígenas, robôs, má-quinas do tempo, pin-ups de ficção cien-tífica vão aparecendo entre os desenhos dos combatentes. Nesta última edição do ano, mais um recorde foi alcançado: 42 ilustradores se inscreveram para partici-par da batalha. Um bom balanço de final de ano. “Bem, e essa foi mais uma edi-ção da Guerra de Ilustrações”, Bernardo encerra o embate, “Terminamos o ano batendo mais um recorde e espero que isso ainda não seja o fim.”

A batalha no Catuaí

o papel de vez, “Mas, tem o outro lado também, 'né'? Você pode achar que o que fez ficou...” “Um lixo!,” comple-to para ele, que concorda com o termo que utilizei. E continua: “Mas, sempre você sofre influências. E, assim, sempre melhora o seu desenho que passa por evoluções”.

A melhora e a progressão dos tra-balhos de alguns ilustradores são bem visíveis. Antes, aquele que fazia um desenho comum, que poderia ser feito numa folha sulfite por qualquer criança que tenha alguns lápis de cor em suas mãos, transforma suas obras em ex-pressivas ilustrações. Outros que fazem seus traços se tornarem uma bagunça, apenas um ruído, conseguem organizar suas ideias e sobrepô-las em um papel após algumas batalhas. Constroem, aos poucos, sua forma de ver o mundo. Um paradoxo com o significado de uma “guerra”: a invenção humana que prima apenas pela destruição.

Não foram somente os desenhos e os ilustradores que sofreram mudan-ças após o decorrer de todas as edições desta batalha atípica. A própria Guerra também não é mais a mesma do que aquela que contava com a participação de quatro amigos. Os resultados das batalhas, agora, não ilustram apenas mesas de bares e restaurantes. Eles to-mam as paredes de outros lugares. As consequências daquela brincadeira se tornaram maiores.

1. Ilustração exposta na 11ª edição do Guerra de Ilustração, feita por Eduardo Berbel

2. Ilustração de Dilan Gama exposta na 15ª Guerra, com o tema Reflexo

da Guerra também”, explica Bernardo, um dos pais dela, “E para que não ficasse nada de forma amadora, decidimos cha-mar uma empresa especializada para mantê-lo. Só fizemos uma intervenção no layout e design do portal. E, além dis-so, também contratamos uma empresa responsável por editar os vídeos feitos durante os encontros e batalhas”.

No site, os combatentes se comu-nicam entre si e com o público. Nos ví-deos, postados nas páginas do portal, os ilustradores, agora, mostram a sua cara, história e influências, além de seus desenhos. Lá, também são divulgadas as datas e os locais onde será a próxi-ma Guerra, as imagens dos encontros, os desenhos criados para cada edição e são escolhidos os próximos assuntos para os futuros embates. Uma forma eficaz de conseguir administrar a brin-cadeira, que já não é mais amadora.

A internet é uma ferramenta pode-rosa, todos sabem. Com a invenção do site, os projéteis da Guerra viajam mais longe. Houve até pedidos de participa-ção de outros lugares. “Um ‘cara’ de Por-to Alegre pediu para mandar trabalhos para a batalha. Mas, não deu certo”, Ber-nardo me explica um dos alicerces de todo o projeto: a guerra é pé-vermelho, “A nossa intenção é divulgar a arte de Londrina. Então, não caberia a presença de ilustradores de outras cidades. Por isso que uma das regras do GI é que a pessoa esteja presente durante a bata-

lha.”Neste mês, a batalha avança mais um

território. Os trabalhos agora serão expos-tos para os frequentadores do Shopping Catuaí. “A nossa próxima edição da bata-lha será lá no Catuaí” Bernardo me conta, orgulhoso por seu filho ter caminhado mais longe, “Imagina o quanto de expec-tadores e o número de pessoas que verão nossas ilustrações?”.

A empolgação de Bernardo é expli-cável. Qualquer londrinense ou ser que habita essa cidade a que chamamos de Londrina tem notícia da movimentação do shopping durante os finais de semana. Com essa exposição, a Guerra de Ilustra-ções certamente conseguirá sua indepen-dência do mundo “underground”. E mais: atingirá um patamar maior de divulgação, algo que poderá ser bem utilizado pelos seus criadores no futuro. É o que Bernardo espera.

Ao alto da sua 18ª edição e com a par-ticipação de 120 ilustradores, a Guerra de Ilustrações está longe do seu “cessar fogo”. Pois, Londrina tem muito ainda por ser desenhada. É a única coisa que me vem à cabeça, quando encerro a minha conver-sa com Bernardo numa das salas do pré-dio mais acinzentado de Londrina.

Ilustrações e imagens:Guerra de Ilustrações

Para acessar:www.guerradeilustracoes.com

1. Café - Nanquim - Lapís de Cor - Corretivo Líquido 66 x 22,5 cmAndré Unica, Bernardo Faria e Pablo Blanco2. Colagem apresentada na 15ª edição do Guerra de Ilustrações

Depois de toda essa guerra, é impossível sair ileso. Não se é atingido por uma bola de canhão, ou algo do tipo, mas a imaginação, o modo de percepção e de criar já não são mais os mesmos

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Page 14: Revista Tem Que Pensar

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Trânsito caótico

Juliana Benetti

Notícias sobre acidentes de trânsito são cada vez mais recor-rentes nos informativos de Londri-na. Na realidade, o trânsito caótico é um problema do estado do Para-ná, que já figura como o segundo do Brasil com mais mortes de mo-tociclistas. Segundo dados do Ins-tituto Sangari no estudo “Mapa da Violência 2011: Os jovens do Bra-sil”, o número de mortes pulou de 1.047, em 1998, a 8.939 em 2008, perdendo apenas para o estado de São Paulo. O estudo ainda mostra que Londrina supera Curitiba na violência no trânsito, apresentando um número maior de mortes por habitantes em acidentes do que a capital do estado.

O problema já começa com a situação das ruas, que em vários pontos estão cheias de buracos e praticamente sem sinalização. Tão logo os buracos são encobertos começam as chuvas e eles reapa-recem, muitas vezes ainda maiores. Outro ponto a ser levado em con-sideração é que o trafego aumen-tou devido ao aumento da frota de carros por habitantes, o que impli-ca na necessidade de aumentar o número de sinaleiros em diversos cruzamentos, principalmente na região central.

Esse quadro é resultado da pés-sima administração pública, porém a situação vai além do descaso dos governantes. A educação no trânsi-to é quase inexistente. Motoristas,

motociclistas e pedestres vivem em constante guerra para conse-guir trilhar seu próprio caminho. É comum ver motoristas trafegando como se fossem donos das ruas, em alta velocidade e sem respeitar os demais, motos cortando o trânsito e realizando manobras perigosas, além de pedestres que se arriscam pela falta de atenção, atravessando fora da faixa ou em momentos ina-dequados. Isso sem contar os con-dutores que se arriscam dirigindo embriagados, irresponsabilidade que tira a vida de muitas pessoas. Porém, esse comportamento pare-ce já estar arraigado no comporta-mento dos londrinenses.

Recentemente foi criada a cam-panha Pé na Faixa, pela Companhia Municipal de Trânsito e Urbaniza-ção (CMTU), na tentativa de ame-nizar a situação. Foram pintadas faixas de pedestres em alguns pon-tos da cidade e feita a divulgação do “novo conceito” de atravessar a rua. Agentes de trânsito fisca-lizavam duramente, multando os condutores que não esperassem os pedestres. A campanha funcionou, entretanto somente nos locais ex-plorados pela CMTU, que não deu continuidade ao “Pé na Faixa” em outras regiões. Ao menos, ela ser-ve para mostrar que iniciativas dos órgãos públicos aliadas ao bom senso dos condutores e pedestres podem funcionar, basta ter boa vontade.

Avenida JK: muito movimento,mesmo nos finais de semana

Foto

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na B

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Acho que os meus dias estão passando rápido demais. E não é impressão minha. Talvez seja que, pelo fato de estar cada vez mais assumindo responsabilidades de uma pessoa adulta, não esteja mais so-brando aquele tempo para não pensar em nada, ou só pensar bobeiras com os ami-gos. Meu pai sempre frizou que, quando somos crianças, o tempo voa. Será? Daqui um ano e meio es-tou formada, Jornalista, vivendo uma guinada em minha vida, já que a minha escolha foi pela Comunicação. E todo mundo sabe que esse início de vida profissional não é fácil...

Há poucos dias atrás era o primeiro dia de aula, com 19 pessoas desconheci-das, começando a viver uma nova vida do zero. Não sei por que estou reclamando. Minha vida é assim desde os cinco anos de idade. Já deveria ter acostumado. Mas, não. Não acostumei ainda, acreditem. E,

pelo que me conheço, sempre vai ser difí-cil lidar com cada partida, cada cidade que vai ficar para trás, cada amigo com quem não vou conviver mais todos os dias, cada apartamento, cada vínculo que crio, pois acho que o tempo para se viver essas coi-sas boas que entram em nossas vidas é curto demais. Ou está curto demais.

Uma prova de que o tempo voa é quando você olha para trás e percebe quanta coisa está no seu passado e, talvez pela vida que tenho desde criança,

não pude aproveitar o tempo em que vivi com os meus primos, que almoçava na vó todo domingo, que ia na casa das tias no sábado à noite. Para quem nunca viveu em função do tempo, e digo isso pelo fato de “medir” uma vida em 9 meses, 1 ano em cada cidade. Entendem quando eu falo que a minha perspectiva de tempo pode ser bem diferente da sua? Era triste saber

que em uma semana seu pai seria trans-ferido para uma cidade a 500 km de onde você está morando atualmente e você só tinha 9 anos e via sua mãe chorando por causa dessa notícia. E aí? A saída para isso? Arrumar toda mudança e ir junto com o pai. Ué, fazer o quê?!

Mas muitas mudanças em função da futura profissão vêm aí, não se preocu-pem. Vou ter que aprender a lidar com isso e saber, também, a aproveitar melhor o tempo em cada lugar que passo... Lon-drina, daqui um pouco, vai ficar para trás no meu dia-a-dia, como sete cidades do Paraná já ficaram. Quero ficar aqui, con-fesso! Hoje, a úncia saída que encontro para todo esse relativismo que foi, em par-tes, a minha vida, é saber aproveitar esse tempo tão bom que vivo aqui, mas, que está passando muito rápido. Corre, apro-veite, torne- inesquecível. O seu também está passando. E está passando rápido?

Tempo, φορά...Por Marielli Baratto

“O tempo não para...”

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No coração do Ouro Verde

Personagens que acompanham o

mudar do teatro a cada dia

Juliana Mastelini Moyses

Tem Que Pensar | 29

Page 16: Revista Tem Que Pensar

Ao chegar no Ouro Verde você é recebido por um sorriso cativante e um pessoal pronto para resolver alguns possíveis problemas no seu espetáculo. Eles estão lá, dão lugar para um, luz para outro. São eles que abrem as cortinas para o show começar e dão a luz na medida cer-ta que o maestro quer. Eles abrem os caminhos para que o público sente nas poltronas impecáveis e também guardam sua blusa se de repente você, na emoção do en-saio, esquecê-la na platéia.

As pesadas portas de ferro e vidro que dão para o calçadão são guardadas por uns rapazes de uni-formes verdes, cor do nome, cor da UEL. Aqueles vidros escondem

o que acontece no interior. Pas-sando pelo calçadão com os vidros fechados, não se pode ver nada lá dentro. Mas de dentro eles revelam o mundo lá fora. Os hippies com suas mercadorias, os amigos que passam, as mesmas pessoas várias vezes por dia.

A iluminação natural do cal-çadão dá visibilidade e cor viva a tudo que se mova. Os objetos, ao serem tocados pelos raios de sol exalam um tom que compõe um quadro nos vidros das portas de ferros. Mas é quadro em movimen-to, a cada segundo uma nova pai-sagem, uma nova figura, um novo personagem.

O Maurílio

É, tem o Jamelão, que às vezes abandona o teatro um pouquinho com a missão de levar a boa mú-sica da Orquestra Sinfônica da UEL a outros lugares que não o chão acolhedor de Londrina. Há muito o que fazer para que a música ecoe longe: são dezenas de pesados instrumentos para carregar, tabla-dos para que o maestro seja visto por todos, rebatedores para que o som se dirija à platéia e não se per-ca atrás do palco. Esse serviço é o Jamelão que faz, ele é zelador do Ouro Verde.

O nome não é Jamelão, é Mau-rílio, mas se falar Maurílio ninguém conhece. O apelido vem da épo-ca em que entrou no Ouro Verde,

Carolina Fraga S

pisla

foi o chefe quem primeiro o chamou assim por causa da semelhança com o artista Ja-melão. E o apelido colou. O “Jamelão do Ouro Verde” é conhecido pelos ouvintes dos programas sertanejos das rá-dios da cidade. Às vezes chega alguém querendo conhecer o Jamelão do Ouro Verde.

Para quem entrar, são es-ses olhos brilhantes que o re-cebem no teatro. E os olhos vêm com um sorriso, com uma piada e com a oferta de um café com ovo, fresquinho, acabado de passar. Ovo, aqui? Nisso que eu estou bebendo? Calma, é só uma brincadeiri-nha para descontrair. Café que por sinal é bom mesmo, quem quiser conferir fique à vonta-de!

Por mais natural que pare-ça, essa identidade com o te-atro e com as artes expressas nele não é tão natural assim, ela veio de alguns anos para cá. Antes disso, para Jamelão, teatros e cinemas eram coisas banais e de gente que não tinha o que fazer, uma perda

de tempo. A promessa de es-tabilidade do concurso da UEL e a possibilidade de largar a perigosa vida nas estradas encheram os olhos do Jame-lão e agradaram a família. Os primeiros meses de trabalho como funcionário efetivo da UEL foram no Hospital Univer-sitário (HU), era só uma ajuda temporária porque estavam precisando, até hoje ligam perguntando se ele não quer trocar de lugar, mas seu posto já está ocupado: é no Cine--Teatro Ouro Verde.

E lá se vão peças, musicais, apresentações, performances, concertos, cerimoniais, e aqui-lo que era totalmente inútil foi ganhando alguma utilida-de na vida de Jamelão. Afinal, nada melhor para se começar a apreciar algo do que se co-nhecê-lo.

Seu OsvaldoJá o seu Osvaldo não tinha

esse preconceito com o mun-do das artes. Mesmo assim foi trabalhar no Ouro Verde por acaso. Desempregado, decidiu

fazer o concurso da UEL. Que-ria um trabalho no almoxarifa-do, mas seus olhos brilharam com as 13 vagas para auxiliar. Não pensou duas vezes, foi nessa vaga mesmo que se ins-creveu. Assim seria mais fácil passar. Mas o mais fácil não foi tão fácil assim. “Fiquei lá para as ‘trocentas’ posições”. Isso por falta de atenção em uma das questões da prova, numa conta simples, ele fez algo errado e perdeu meio ponto. Assim, das 100 pessoas que passaram no concurso, ele ficou em 45° para um cargo que só tinha 13 vagas.

Mas quem é mais velho e tem tempo de serviço público ganha uns pontos a mais no concurso. Assim, depois de oito meses estava ele lá tra-balhando no Cine Teatro Ouro Verde. O que pretendia mes-mo era trabalhar no campus, mais na mão, perto de casa. Mas mandaram-no

O nome não é Jamelão, é Maurílio, mas se falar

Maurílio ninguém conhece. O apelido

vem da época em que entrou no Ouro

Verde, foi o chefe quem primeiro o chamou assim por causa da semelhança

com o artista Jamelão. Na imagem, o cantor

Jamelão.

“Entrada do Ouro Verde” - 3º lugar I Maratona Fotográfica UEL Multivisões - Carolina Fraga Spisla

Tem Que Pensar | 3130 | Tem Que Pensar

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para o Ouro Verde, que é bem mais tranqüilo, sem a correria, agitação e a bagunça dos estudan-tes. Está bom também, afinal o que queria era o emprego, se perdesse aquela vaga, não trabalharia em mais nenhum outro lugar.

O trabalho no teatro foi talvez a realização de um sonho de menino que Osvaldo nem sabia que tinha. Coisa de pivete, quando ainda criança, vislumbrava a construção tão moderna e ao mes-mo tempo tão distante, tão intocável, inacessível. Quem diria algumas décadas depois, estar tão perto, tão junto, no lugar dos olhos que expres-sam a emoção de fa-zer parte do Ouro Verde. “Esse teatro aqui eu conhe-ço ele desde que estava fa-zendo. Quando foi inaugurado em 1962, eu estava com cinco anos de idade, morava aqui perto. Ficamos muito tempo aqui, depois fomos embo-ra e acabei voltando para cá e trabalhando no Ouro Verde. Foi um privilégio para mim.”

Quando criança, ele passava em frente ao Ouro Verde e via os cartazes dos filmes, era a coisa mais linda. Não teve a possibili-dade de assistir nenhum. A construção era muito bonita, tudo ainda era novinho, era uma beleza. Só entrava gente elegante no teatro, os homens com seus ternos e grava-tas bem alinhados. O calçadão ainda não existia, passava em frente ao Cine Ouro Verde a Avenida Paraná.

Hoje muita coisa mudou, só não se pode deixar o teatro às mínguas como antes da reforma. Reforma esta, de 2002, que na verdade foi apenas uma maquia-gem, e não restaurou nem a entrada do teatro. Com a reforma muita coisa piorou, até o piso novo do teatro dá a impres-são de que o lugar não foi limpo. Mas

não, ele foi limpo sim, isso é só o cheiro da madeira mesmo.

Seu Osvaldo, com a fala baixa sempre balançan-do a cadeira giratória diz não ter história interessan-te. Mas seus olhos já viram o teatro desde seu nas-cimento até a sua maturidade de Teatro. O próprio girar da cadeira tem coisa para contar.

Esse balançar já rendeu aos amigos muitas risa-das. Um dia seu Osvaldo querendo fazer uma brin-cadeira com o vigia do teatro, passou-lhe a perna.

Sem tempo de pensar, Osval-do escorregou da cadeira e foi quem acabou caindo um tombo, ali na frente, no sa-guão do teatro. “Dançou.”

Dançar, isso ele gosta. De vez em quando abraça a vas-

soura e sai dançando pelos espa-ços do Ouro Verde. Tem sempre uma

diversão no meio do trabalho do dia-a-dia. O orgulho de trabalhar com o pessoal no teatro, brincando e passando o resto da vida, é maior

que qualquer sacrifício.Das peças e dos filmes ele

sempre gostou, mas p a r a falar a verdade nunca assistiu ne-

nhum. Não por não gostar, mas porque não

Das peças e dos filmes ele sempre gostou, mas para falar a verdade nunca

assistiu nenhum.

dá ânimo trabalhar o dia inteiro no teatro e ain-da ficar à noite, os espetáculos sempre começam depois das 19h ou 20 horas e seu Osvaldo mora longe.

A Madalena, moça da bilheteria A Madalena todo mundo já conhece, talvez

não tenha prestado atenção, mas é com ela que os ingressos são comprados. Se ela não vender, nin-guém entra no teatro. A cara e jeito de brava são só aparência, não se pode dar mole senão as pessoas abusam. Afinal, o número de ingressos tem que ser muito bem controlado. Em janeiro, ela está no Cine Com-Tour, vai cobrir as férias da moça que trabalha lá na bilheteria. O cinema é bem calmo, os espetá-culos é que são mais corridos.

Era ela que vendia os ingressos para os filmes na época de Cine Ouro Verde. Os ingressos eram tirados de uma máquina: uma batida era meio in-gresso e saía um papel pequeno, duas batidas o ingresso inteiro. “Rapsódia em Agosto”, “Priscila, a rainha do deserto” e “Farinelli, Il castrato” foram seus filmes preferidos em cartaz no Cine Ouro Ver-de.

Os vinte anos trabalhando ali lhe renderam mui-tas amizades, e com gente de todo tipo. Antes dis-so, suas horas de trabalho eram passadas

“Rapsódia em Agosto”, “Priscila, a rainha do

deserto” e “Farinelli, Il castrato” foram seus filmes preferidos em cartaz no Cine Ouro

Verde.

Tem Que Pensar | 3332 | Tem Que Pensar

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nos corredores do HU, por cinco anos trabalhou lá, e gostava bastante. Foi uma mudança tremenda sair de um hospital e ir para um teatro. Seus planos futuros, pós-aposentadoria, são de fazer trabalho voluntário em hospital, ajudando a cuidar dos doentes. E quem sabe, as brincadeiras aprendidas no teatro serão postas em prática.

A CidaA Cida é a moça de óculos, quietinha. Está na zela-

doria do Ouro Verde há 10 anos. Não escolheu o lugar de trabalho não. Desempregada, esperou longos dois anos para ser chamada depois de fazer o concurso. Pri-meiro foi para a Casa de Cultura da UEL, depois passou para o Ouro Verde substituindo uma senhora que se aposentara. E lá está até hoje.

No teatro, sempre se aprende bastante. Muitos passam, deixam um pouco de si e também levam um pouquinho de Londrina com o que aprendem no Ouro Verde. E como existem pessoas legais, também existem pessoas chatas. E assim se vai levando a vida. Gente de outros países, outras línguas, culturas. Até das lín-guas, alguma coisinha Cida acaba pegando: francês, espanhol, inglês. Isso sem falar das criançadinhas que vêm com as escolas com suas apresentações, sempre contentes e trazendo coisas boas.

Os Gêmeos projetoresDos gêmeos Antônio Carlos e Carlos Roberto, só o

Toninho ainda trabalha no Ouro Verde, mas foi o Ro-berto quem começou primeiro no Cine Ouro Verde, em 1975, e abriu as portas para que o irmão trabalhas-se ali em 1983. No começo ele não queria muito não, trabalhar sábado, domingo e feriado passando filme? Era muito serviço. Depois voltou atrás, e quando surgiu outra vaga, logo a ocupou e está lá até hoje. Na época e m que o Ouro Verde era Cine, os

dois cuidavam da projeção dos filmes.

Quando Carlinhos, o Carlos Roberto, come-çou a trabalhar no Ouro Verde, o teatro ainda

não pertencia à Uni-versidade Estadu-al de Londrina, era propriedade da fa-

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À cima: Cida,

Madalena, Osvaldo e Maurílio. À direita: Antônio

Carlos

Gente de outros países, outras línguas,

culturas. Até das línguas, alguma

coisinha Cida acaba pegando: francês,

espanhol, inglês.

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universidade comprou o teatro, a certeza da perda do emprego. Mas pelo contrário, ele trabalhou ali até se apo-sentar por problemas de saú-de. Senão, estava lá até hoje no serviço. E mesmo assim, está direto visitando o teatro e os amigos.

E quem pensa que vida de quem trabalha no cinema é fácil, se enganou. O que esse pessoal trabalhou... Era sábado, domingo, feriado. Em alguns dias, eles passa-vam cinco sessões. Era o dia inteiro assistindo o mesmo filme. Isso quando não pega-vam um longa metragem de 4 horas. Aí não tinha revista nem jornal que vencessem a duração do filme.

No meio de uma sessão, na cabine em cima do públi-co onde ficavam, era só ver um casal trocando carinhos que de repente o filme era in-terrompido e a luz acesa. Aí, só se via gente pulando de vergonha.

Ao contrário do irmão Toninho, Carlinhos gostava muito do cinema. Em 1991, foi ele quem estreou a proje-ção do Cine Catuaí. Eram três salas para ele cuidar, tinha que ficar correndo de um lu-gar para outro.

Toninho e Carlinhos já en-ganaram muita gente! A voz deles é idêntica. Os colegas contam que Carlinhos não gostava pouco de enganar os outros, gostava muito. Na reforma do teatro em 2002, o pessoal que trabalhava ali se via louco com eles. Via um no teatro, daí descia a mes-ma pessoa no saguão. Até que depois de muita confu-são descobriram que eram irmãos gêmeos.

36 | Tem Que Pensar

Muitas pessoasE assim, de pouco em

pouco, esses e outros fun-cionários ajudam a cons-truir a história do Cine Te-atro Ouro Verde. Cada um com sua contribuição, com sua vida, com seu trabalho, sustentam o palco de tan-tos shows, apresentações, concertos e festivais que é o Ouro Verde, patrimônio His-tórico do Paraná. Eles pre-senciaram aquilo que quem só assiste não vê.

São pessoas que não

aparecem, estão por trás dos bastidores. Mas, de repente, não ser visto por todos traz o privilégio de ser visto por poucos. Poucos que deixam a lista enorme. Ney Latorra-ca, Selton Mello, Leonardo, Fafá de Belém, Diogo Vilela, Antônio Fagundes, Raul Cor-tês, Jô Soares, Ari Toledo. E, como eles mesmos falam, para a festa começar, muita coisa acontece antes. Um limpa, um vende, um faz o acerto, outro faz a portaria e tudo vai se ajeitando.

Era sábado, domingo, feriado. Em alguns dias, eles passavam cinco sessões. Era o dia

inteiro assistindo o mesmo filme.

Yutaka Yasunaka

Crônica

Umm strode q rorodas

Ao frequentar os ônibus para usufruir da sua liberade de ir e vir, dá para acompanhar um pouco da novela

urbana que se passa no interior desses veículos. São seres humanos partilhando o que mais odeiam dividir: o espaço

Por Lucas MartinsO certo é que todo mundo é

livre para ir e vir para e de qualquer lugar. Entretanto, o que não é certo são as con-

dições para que a maioria dessas pessoas se locomova. Desde que me considero um morador dessa cidade, conheço a triste história de viver em um centro urbano de consideradas proporções. E, o maior vilão de todo esse enredo são os ônibus.

Não é que eu sou tão egocêntrico a pon-to de odiar ter que andar pela cidade a bordo de um monstro amarelo de seis rodas. Porém, não considero dignamente humano conviver num pequeno espaço - que compor-te, no máximo, umas setenta pessoas – ao lado de mais de cem indivíduos. Digo “indivíduos” porque não são apenas seres humanos que costumam usufruir de tal meio de transporte, mas ca-chorros, insetos e outros seres também.

Além disso, tem toda aquela novela que ocorre no interior desse meio. Exis-tem todos os tipos de personagem: a começar pelo motorista que te olha com a cara de “odeio o meu serviço” e que, para descontar todo o rancor da vida, tentará fazer com que você se desequilibre e saia rolando pela janela mais próxima, pois a corrida de Fórmula 1 em que ele está par-ticipando não pode parar. Às vezes, seu objetivo é frustrado, pois a mas-sa de indivíduos que se encontra no ônibus é tão concisa que seria impossível de alguém se desgrudar mesmo se o veículo estivesse capo-tando.

Tem, também, o cúmplice do an-tagonista que também é conhecido como “cobrador”. Ele, na sua con-dição confortável de ficar em cima

de uma poltrona, apenas olha - com cara muitas vezes de prazer – para toda aquela massa humana e ainda acredita ser possí-vel que caiba mais ingrediente. Entendo

que tudo isso faz parte de seus ser-viços e também sei que todas essas ati-tudes descritas são parte do sistema. Mas, algo poderia ser diferente.

Outro compo-nente para a trama onibulesca são as crianças que acredi-tam serem as únicas

responsáveis pela sonorização do ambien-te. Não são apenas seus berros e gritos que dão trilha para todo o enredo, mas seus celulares - de última geração e com capa-cidade de emitir o som mais alto que qual-quer sonda espacial - também contribuem

para que a novela tenha a sua sonoplastia. Seus maiores inimigos são os idosos que pedem, gentilmente e sob os seus direitos, para que dêem licença e deixem-nos sen-tar.

Tento ficar alheio a toda essa narrati-va. Olho para a janela para tentar me sentir como parte do ambiente externo. Porém, muitas vezes, toda tentativa é em vão. Não dá para ficar imune a toda confusão e todo desprezo causados pelos governantes e empresários responsáveis por toda essa situação caótica que acontece inúmeras vezes por dia.

Sei que toda essa minha aversão aos ônibus faz parte da minha criação bucó-lica de cidade minusculamente pequena. Talvez, para muitos que são nascidos em metrópoles, a cultura de fazer parte dessa novela já é extremamente normal. E, en-quanto existir esse hábito totalmente cos-mopolita, muitas histórias vão acontecer no interior dos monstros de seis rodas.

Tento ficar alheio a toda essa narrativa. Olho para a janela para tentar

me sentir como parte do ambiente externo.

Porém, muitas vezes, toda tentativa é em vão

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Baby, você é tão boa

sendo ruimUm, dois, três, não é só você e

eu que de vez em quando lá pe-las três da manhã, perdidos em alguma casa noturna, levemente alterados pelo álcool, sem saber como chegamos lá e como vamos embora de repente nos damos conta de que estamos dançando, sem pudor algum, ao som de Bri-tney Spears.

Ao nosso redor, nossos amigos mais próximos, que sabem que nós vivemos por aí repudiando a música pop, nos julgam por suas mentes adjetivos como hipócri-ta e falsa dançam quase que ao mesmo ritmo de nossos quadris, mais adiante pessoas desconhe-cidas nos observam e nos acom-panham até que toda a pista de dança – que nem era uma pista de dança – fica contagiada pela loira que faz sucesso há mais de uma década.

Às vezes entre uma música e outra nós olhamos para as ou-tras pessoas, paramos de dançar ou tentamos prender o cabelo enrolando as pontas no topo da cabeça sem sucesso, tudo para disfarçar a verdade: nós estamos dançando ao som das divas do

pop e estamos gostando! O mes-mo poderia ter acontecido em um carnaval de rua de alguma cida-de onde se enfileiram carros com sons potentes e antes que perce-bamos estamos mandando ver no axé ou no funk, “sensualizando” com aquelas músicas que na se-gunda-feira nós vamos chamar de ofensivas e pervertidas.

O ponto chave é que em cer-tas ocasiões, geralmente regadas à algum tipo de bebida inofensiva misturada com “alguma coisa que um amigo trouxe” nós, pessoas normais, que nos orgulhamos de ter lido Machado de Assis no co-legial, que acompanhamos as co-tações das bolsas e que escolhe-mos nossas músicas com cautela, nos permitimos abster das regras impostas por nós mesmos e a simplesmente curtir o momento.

Artistas como a Britney, que saiu de lá do clube do Mickey para beijar a Madonna no palco da MTV, são perfeitos para de-sencadear o lado desapegado dos pequeno-burgueses pseudo--intelectuais, há algo no ritmo ou na vozinha fina que simplesmente faz os quadris da classe média se

remexerem de um lado para o ou-tro. E talvez seja essa, acima dos milhões que esses artistas ven-dem por ano, a função social da música comumente chamada de ruim.

De qualquer forma, uma vez que nós nos deixamos levar pelo som da Britney na madrugada afora, a noite fica muito melhor. Agora é aquela hora em que você dança tentando captar os melho-res momentos da música com a sua cintura, os seus braços pas-sando pelo seu corpo e se levan-tando no ar, erguendo seus cabe-los porque você está obviamente com calor.

A partir de agora é aquele mo-mento em que você finge que está sendo sexy sem perceber, é a hora perfeita para aproveitar as oportunidades que a noite te trouxe. É o momento em que você resolve assim como a Britney fazer da pista de dança o picadeiro do seu circo. E no melhor estilo exi-bicionista, com aquela luz piscan-do e bebidas geladas escorrendo pelo seu queixo você incorpora a artista e resolve viver no pecado, que dá mais audiência.

Por Mayara Sonchini

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Breves lembranças de quem ajudou a construir

o jornalismo em Londrina

Walmor Macarini, sobrinho de João Milanez, é um dos pioneiros da cidade

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fiança dos aventureiros que chegavam na (à) região para tentar uma vida me-lhor, porque se não houvesse essa re-ciprocidade, o grandioso projeto dos “súditos da Rainha” iria, simplesmente, por água abaixo.

Londrina cresceu na confian-ça depositada pelos ingleses nessa terra. E também com a confiança dos colonos que acreditavam na palavra desses colonizadores. João Milanez, tio de Walmor e dono da Folha, en-tendeu o raciocínio que fora implanta-do na “Pequena Londres” e percebeu que a chave do sucesso seria exaltar os empreendedores que aqui esta-vam. Então, a Folha aprendeu essa linguagem e o jornalismo produzido era adequado ao que a cidade preci-sava: confiança para crescer de forma expressiva e se tornar um centro de investimentos, sobretudo na cultura cafeeira. Uma relação estreita se es-tabeleceu entra o periódico e os seus leitores, já que estes enxergavam que o jornal diário crescia junto com a ci-dade e ambos compartilhariam, futu-ramente, do mesmo sucesso.

Um momento que marcou a vida profissional de Walmor Maca-rini, em Londrina, foi o Golpe Militar de 1964, ou a “Revolução”, como o próprio se refere à tomada de poder dos militares brasileiros que, na época, tinham o intuito de “apertar os para-fusos frouxos que os compatriotas ti-nham na cabeça”. Walmor é enfático ao afirmar várias vezes que foi quase preso, ameaçado e, certa vez, perse-guido pelos militares, quando voltava para casa, à noite, na rua Paranaguá.

Imprensa cerceada, medo, pânico, estado de alerta. Esse era o cenário da imprensa no Brasil e em Londrina, também. Mas o que mais assustou Walmor é que a ditadura brasileira ti-nha face de democracia. Isso fazia que o mundo, pelo menos no começo da “Revolução”, não enxergasse, de fato, o que os militares estavam fazendo. O cerceamento à imprensa começou com força no ano de 1968. “O jorna-lismo era puro medo”, como define Walmor. Além de ser necessário tomar cuidado nas ruas, quem era jornalista,

deveria ter um cuidado redobrado, pois o perigo estava dentro da reda-ção: os censores. A curiosidade é que os censores, segundo Walmor, eram pessoas com curso universitário e muito bem esclarecidas acerca do as-sunto. Mas como o regime tinha o po-der de mandar em quer que fossem, essas pessoas, esclarecidas, acabaram virando um instrumento de controle sobre a imprensa e o pior: eram res-ponsáveis, também, em informar tudo o que acontecia dentro da redação em que trabalhavam. Depois de quase 20 anos de convivência com os censores, o jornalista até se tornou colegas de alguns. Na madrugada, alguns partici-pavam da vida boêmia junto com os repórteres da Folha de Londrina.

Na época da “Revolução”, Walmor já era o diretor de redação da Folha. Por ocupar um cargo de desta-que, constantemente era ameaçado pelos militares. A pressão psicológica que os revolucionários exerciam era absurda. Quando era chamado na Po-lícia Federal para prestar declarações, ação que virou praticamente rotina na vida profissional de Walmor, sempre era questionado sobre as publicações de notas, falas e matérias que, para os militares, poderiam representar um risco grande para o bem da sociedade.

“A censura, por si só, para eles, não

era suficiente. Era necessário que você também se censurasse. Muitas vezes eu publiquei vazios, porque eles arran-cavam a notícia. Aí eles falavam para colocar outra notícia no lugar e eu simplesmente dizia que não tínhamos. Então ficava aquele quadrado do título e do texto em branco. E o leitor enten-dia o que isso significava. Os censores não gostavam disso. Por isso, também, sempre era chamado na Polícia Fede-ral para explicar o porquê eu não colo-quei um texto no lugar. Respondia que não havia como colocar outro material no lugar, seja por causa do horário do fechamento do jornal, seja por qual-quer motivo. Eles engoliam, mas não gostavam”, segundo Walmor.

O posicionamento dos repórteres da Folha de Londrina, bem como o do jornal, era o mesmo. Sempre pru-

dentes em relação à truculência do regime, que não perdoava nada, nem ninguém. “As ordens vinham expressas por telegrama, diretamente do Minis-tério da Justiça, com ‘diretrizes’ do que não poderia ser falado no jornal. Eles (censores e agentes da Polícia Fede-ral) implicavam até com o horóscopo, acredita? Certa vez ouvi de um agente da Polícia Federal que aquele determi-nado dia não poderia ser triste, pois era aniversário de tal General. Então, deduza como era o fanatismo deles”, conta Walmor. De acordo com o clima da época, não tinha como bater de frente com os militares. Era questão de vida ou morte.

Disseminar o pavor era a “especia-lidade da casa”. Uma prática comum dos militares de Londrina era exigir que a Folha de Londrina publicasse cartas forjadas que, supostamente, fo-ram escritas por presos políticos que estavam detidos em Curitiba, que era o quartel general da ditadura militar, no Paraná. Walmor até tentava dizer para os censores que aquele material era falso. Muitos deles sabiam que aquelas cartas foram escritas por ter-ceiros para, justamente, amedrontar a população londrinense.

Walmor avalia os vinte anos de di-tadura militar no Brasil como um pe-ríodo em que você deveria fazer uma ginástica diária para sobreviver. Toda população vivia apavorada, em silên-cio, ou seja, do jeito que os militares queriam.

Já com o processo de rede-mocratização em curso, na década de 80, Walmor afirma que ninguém mais aguentava a situação pela qual o país passava. Tanto a população civil como os setores do empresariado estavam se insurgindo contra o regime. A co-municação teve um papel importante, pois ela se juntou aos que queriam mudança. Walmor permaneceu por mais alguns anos à frente da Folha de Londrina. Hoje, não atua mais diaria-mente no jornal, que foi o seu ambien-te de trabalho por vinte e sete anos. Atualmente, a ligação com o jornal que seu tio criou é pequena, escreve um artigo semanal apenas como cola-borador.

Catarinense de Meleiro, no sul do estado, Walmor Macarini decidiu ten-tar a sorte na cidade que se destacava pelas perspectivas de crescimento e oportunidades. Essa cidade era Lon-drina, o Eldorado do Paraná. Sobrinho de João Milanez, um dos pioneiros da cidade e criador da Folha de Lon-drina, Walmor veio de Santa Catarina em 1955 acompanhado de irmãos e primos. Ao ver o tio empenhado em erguer um veículo de comunicação, o recém chegado Walmor decidiu se aventurar no jornalismo. Na época, não havia curso universitário na área. Mas não desistiu da opção que fizera. O início no jornal não foi fácil, pois co-meçou como setorista policial da Fo-lha de Londrina. Aprendendo no dia a dia, Walmor sentiu muitas dificuldades com os desafios da carreira porque demorou alcançar a linguagem jorna-lística e também por não ter muito co-nhecimento de leis e ornamento jurí-dico. Contando com a ajuda dos mais experientes na profissão com corre-ções de texto, Walmor foi descobrindo o caminho das pedras no jornalismo.

Depois de ter trabalhado na área policial, Walmor passou pelo esporte, coluna social e economia.

“Naquela época, os jornalistas eram “clínicos gerais” nas redações, dife-rentemente de hoje, pois o jornalista que é setorista, geralmente, não tem o hábito de mudar de editoria com fre-quência. E se mudar, parece que de-saprende a escrever!”, afirma Walmor. Diretor de redação por 27 anos, o so-brinho de João Milanez acredita que foi válido ter passado por várias edito-rias do jornal, pois se sentia apto para entender o funcionamento e a produ-ção das matérias de todas as seções do jornal.

Pode-se dizer que Walmor Macarini é um dos grandes entusias-tas da Folha de Londrina em uma épo-ca em que enfrentaram muitas dificul-dades para estabelecer um veículo de comunicação com credibilidade na re-gião. Segundo ele, Londrina criou uma linguagem peculiar logo quando foi criada, que era a do trabalho, da ho-nestidade, por causa da influência da colonização inglesa, que pregava tais preceitos. Além de os ingleses criarem esse costume, também implantaram uma colonização e formação agrá-ria construídas em bons negócios e honestidade. Walmor afirma que os ingleses precisavam conquistar a con-

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Som naPELÍCULA

Finalmente as férias chegaram, e nada melhor para curtir o tem-po livre em casa do que assistir fil-mes. Essa é uma boa oportunida-de para conhecer alguns longas que têm a ver com o rock’n’roll e colocar em dia todos os longas que você não assistiu por estar muito ocupado. Ai vão opções de filmes com propostas diferentes, mas que tem a ver com o rock.

Tenacious DA divertida comédia/musical

começa com a cena memorável do personagem JB (Jack Black) ainda criança, contando sua história de filho-problema reprimido pelos pais. Depois de levar uma surra do pai (Meat Loaf) por cantar obsce-nidades na mesa do jantar, JB se-gue o conselho de ninguém mais, ninguém menos do que Dio, que toma vida em um pôster na pare-de para dizer ao garoto que fuja de casa e tente ser uma estrela do rock. JB vai então para Venice Be-ach, na Califórnia. Enquanto toca canções na rua por uns trocados conhece KG (Kyle Grass) e logo a dupla forma a banda Tenacious D. A fim de conseguir sucesso, os dois embarcam em uma aventura atrás de uma palheta mágica que havia sido usada por bandas The Who, ACDC, Van Halen. O filme também conta com a participa-ção de Dave Grohl interpretando

o Diabo, Amy Poehler como uma garçonete e Ben Stiller como um misterioso vendedor de guitarras. O riso é garantido.

The WallÉ fato que The Wall é uma

obra-prima. Mas isso não signi-fica que seja fácil de assistir. Se você curte muito Pink Floyd já é meio caminho andado, e antes de tudo, você deve ter em mente que se trata de um filme-arte, um musical totalmente não conven-cional. Não me entenda mal: não se trata de um filme chato, muito pelo contrário. O longa é a tra-dução cinematográfica do álbum The Wall, que conta a história do rock star Pink, imerso no mun-do da fama e das drogas. Pink se tranca em um quarto de hotel em Los Angeles, se isola do mun-do enquanto assiste a um filme de guerra e mergulha em suas memórias e angústias, que são os “tijolos” que vão formando o muro em que Pink se protege. Tempo e espaço perdem o sen-tido, e a mescla de lembranças e alucinações de Pink dita a ordem dos acontecimentos. O resultado é um filme psicodélico que mexe com os sentidos, com cenas de beleza incomparável.

Detroit Rock CityO clássico da Tela de Sucessos

do SBT marcou a adolescencia

de muita gente. No filme, quatro adolescentes fanáticos pelo Kiss querem ir ao show da banda. A história se passa em 1978, e co-meça com a religiosa e conserva-dora mãe de Jam (um dos quatro garotos) se ajeitando para apre-ciar uma boa leitura acompanha-da de um disco do The Carpen-ters. Quando a vitrola começa a tocar, ela é surpreendida com “I Stole your Love” do Kiss, o que ela chama carinhosamente de “música do capeta”. Em seguida, ela começa a repreender o filho e seus amigos e faz de tudo para evitar que eles tenham contato com aquele tipo de música “de-

moníaca”.As atitudes dessa senhora são

uma alusão ao Parents Music Re-source Center. O grupo

formado por esposas de depu-tados americanos acreditava que o rock influenciava negativamen-te os adolescentes, fazendo apo-logia ao uso de drogas, violência, sexo, suicídio e satanismo. Muitas bandas sofreram acusações sobre conteúdo inadequado – algumas até receberam processos judiciais – e o selo Parental Advisory foi criado para notificar quais discos continham esse tipo de música.

Voltando ao filme, os garotos acabam encontrando outras difi-culdades além das tentativas de censura, mas a paixão pelo Kiss é tamanha que eles passam por cima de tudo. O filme é uma ho-menagem ao rock e deixa qual-quer um com vontade de pegar sua guitarra imaginária enquanto curte um bom som.

ControlControl é um filme-biografia

dos últimos anos de vida de Ian Curtis, vocalista da Joy Division. Ian, interpretado com maestria por Sam Riley, sempre foi interes-sado em música. Depois de assis-tir a um show dos Sex Pistols em 76, decidiu que queria estar nos

palcos. Respondeu a um anúncio, se juntou a uma banda e em 77 nasceu o Joy Division. Ele era um excelente letrista, suas composi-ções eram sempre melancólicas. Isso somado ao timbre baixo-ba-rítono de sua voz configuravam um tom único à banda, sombrio e depressivo. Ian também se desta-cava pelas suas performances em palco: como sofria de epilepsia, imitava seus ataques. Dizem que o vocalista chegou a ter ataques epiléticos de verdade nos sho-ws, e chegou a precisar de aten-dimento médico. O filme é todo em preto e branco, e transmite a angústia e a depressão sentida por Ian, que acaba se suicidando enforcado em 80.

Juliana Benetti

Sam Riley interpretanto Ian Curtis: a semelhança é notável

Na foto, uma das alucinações de Pink. Abaixo, JB e KG encontram o caminho até a palheta mágica do destino

Todo esforço é válido quando se quer assistir um show do Kiss

Foto

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Cineclube A Hora Mágica: quando o cinema se torna uma necessidade

Mayara Sonchini

Os espectadores estão sentados espalhados pelas mesas de um café em um dia frio de dezembro, sem saber de fato o que os aguarda. De repente começa a projeção. Vislum-brar os milhares de homenzinhos saindo da fábrica como que na dire-ção das mesas foi tamanha surpresa que alguns presentes no Grand Cafe em Paris quase entraram em pânico.

Mais de um século depois, não em Paris, mas em Londrina, em uma vila cultural, decorada com chita e temas do folclore brasileiro, há um espaço onde a invenção dos irmãos Lumière está mais do que presente: ela rege vidas. O cineclube “A Hora Mágica” partilha o espaço da Vila Cultural Roda Viva e a parceria dos dois rendeu um projeto escolhido pelo Programa Municipal de Incen-tivo a Cultura (Promic).

Luis Henrique Mioto, o principal idealizador do cineclube tem uma visão muito particular do que é cine-ma. Para ele o cinema é uma dança, um encontro. Partindo desse princí-pio, o cinema acontece quando uma percepção que sai de dentro da tela se encontra com a percepção de cada espectador que se está na sala. Ou seja, o cinema também é feito por aqueles que o veem.

Parecendo ter sido criados aos moldes dos cinéfilos da Paris dos anos 60, Luis e os parceiros Rodri-go Prado Evangelista e Maria Tereza Pintar conseguiram juntar o oficio e a paixão em um projeto ambicioso que pretende culminar na realização de um filme sobre os personagens singulares de Londrina.

O projeto constitui-se em duas

partes. A primeira, sendo mais teóri-ca, perpassando pelos conceitos do cinema, apresentações, discussões e o conceito do que é singularidade nesse contexto e foi realizada na pri-meira metade de 2011. A segunda parte, que está acontecendo agora, no segundo semestre, é mais prática e consiste em filmar os personagens singulares escolhidos.

O clima dos encontros do grupo é o de uma grande discussão que não necessariamente resulta em um consenso. Espalhados por um tapete que um dia pode ter sido persa, mas que hoje é bem brasileiro, os parti-cipantes assistem as filmagens que já foram produzidas e conversam sobre os próximos passos.

Entretanto, o início de tudo isso,

ocorreu na verdade há sete anos, quando Luis ainda era só um garoto que queria arrumar uma namorada. Buscando se expor, tal qual um pa-vão para as fêmeas da universidade, ele começou a se envolver com o Centro Acadêmico e a exibir filmes e ministrar conversas sobre os filmes exibidos. Funcionou. Não só o cine-ma lhe arrumou muitas namoradas, como ele próprio diz sorrindo, como se transformou em uma vocação.

Uma vocação que não se prende a regras. Os criadores do cineclube não gostam de centralizar suas pro-duções e seus feitos, preferem abrir as possibilidades de diálogo, em uma constante renovação de inter-locuções. O foco do cineclube não é que as pessoas consumam o cinema e deixem a sala e sim que elas parti-lhem a mesma (ou não) sensibiliza-ção e conversem sobre isso.

Aqui, acredita-se que a produ-ção para o cinema é horizontal, um trabalho em equipe. Aqui todos se mantêm humildes e pensam que a figura do diretor não deve se so-bressair como um líder totalitarista e sim manter-se junto ao processo de criação. O projeto é de cada um e todos fazem tudo como também não fazem nada.

A produção desse novo filme/projeto, assim como todas as outras

têm se mostrado uma dança difícil. Como a temática já é por si só um desafio fica complicado entender o que o filme pede enquanto forma estética. Para Luis, a câmera tem que tirar a poesia do inesperado e ele ensina ao grupo que muitas vezes o que eles queriam pode não acon-tecer mas o que não queriam pode funcionar ainda melhor no cinema.

Assim, de maneira calma e or-ganizada à medida do possível o grupo de cinema, o cineclube e os idealizadores dos dois projetos ca-minham juntos e evoluem a cada encontro. Refletindo as experiências de quem acredita que o “tesão” de fazer cinema é poder interligar tudo, dançar com a câmera, se encontrar com o público, de quem acredita que o cinema é um “descoadouro de sonhos”.

Nesse espaço, com o colorido das chitas, com os upgrades da in-venção dos irmãos Lumière, é que podemos observar a verdadeira ma-gia do cinema acontecendo. Segun-do o próprio Luis, o cinema se dá bem porque se abre para as pessoas perdidas e nele elas se encontram e é exatamente o que se observa aqui, um encontro acontecendo, uma paixão crescendo no peito daque-les para quem o cinema já se tornou uma necessidade.

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PAIXÃO NACIONAL!Pode-se dizer que, uma das grandes paixões dos

brasileiros, é o futebol. E, quem é fanático por algum clube, aposto que sofre muito na última e fatídica ro-dada do Campeonato Brasileiro. /o sistema de pon-tos corridos, adotado pela Confederação Brasisleira de Futebol, em 2002 gerou e gera, até hoje, muitas discussões acerca do assunto. Vários fatos marcaram a história do futebol brasileiro em 9 anos, como a máfia do apito, em 2005, problemas com o ex-árbitro Carlos Eugênio Simon, em 2009 e, o mais recente, a famosa “entegra de jogos” na última rodada do Brasileirão de 2010. /se há tanta rivalidade entre vários times em to-dos os estados do Brasil, por que vou ajudá-lo, se eu posso atrapalhar?

Tentando evitar o que aconteceu no ano passado, a CBF já divulgou a tabela do Campeonato Brasileiro de 2011 da Série A. Muitos clássicos regionais do se-gundo turno ficaram para o dia 03/12, na última roda-da do Campeonato. O argumento usado pela CBF foi que os clássicos fossem estrategicamente agendados em datas decisivas diminuiria a possibilidade de ha-ver uma possível entrega de jogos. Vale lembrar que a última rodada do Brasileirão de 2010 gerou muita polêmica por conta de muitos times terem entrado com muitos reservas em campo para o último jogo do ano. O parâmetro dos principais jogos era que o

Fluminense dependia só da sua vitória para se cam-peão. Já o Corinthians dependia de uma derrota do Fluminense e Cruzeiro para levantar o caneco. Já o Cruzeiro precisava que o Tricolor das Laranjeiras e o Timão do Parque São Jorge perdessem seus respecti-vos jogos para o título ir para a Toca da Raposa. Evi-dentemente, só o primeiro resultado se concretizou. A crítica caiu sobre os times que, supostamente, fizeram corpo mole entre eles, o Palmeiras. O Verdão perdeu para o Cruzeiro e o time de Minas ficou com uma das vagas à pré-Libertadores, já que o Corinthians apenas empatou com o já rebaixado Goiás, no Serra Dourada.

Colocar clássicos tão importantes na última roda-da não é a solução. O problema está no sistema da competição. Nenhum time iria entregar um jogo em uma semi-final, por exemplo. Nesse caso, o time está pensando só em si, só em seu trunfo e depende só dele para conquistá-lo. Em um país em que a rivali-dade entre os times trasncende as quatro linhas do campo, é claro que se um time puder atrapalhar o seu arquirrival, é claro que isso vai acontecer. Uma com-petição de pontos corridos é, na teoria, muito justo, pois em um campeonato de regularidade, quem for o time que conseguir ser o mais regular possível, será o campeão. Mas, na prática, sabemos que é um pouco diferente da teoria...

Por Marielli Baratto

SaboresSabores

A coluna desta edição é um tributo ao par mais entrosado do planeta. Aquele casal que não têm frescuras e está sempre de bem. Aqueles que não sonham com o par ideal ou não procuram al-guém só pra lhes esquentar no frio. Muito menos usam uma roupa nova pra impressionar o outro. São aqueles que não correm o risco de brigar e de repente se separam. Isso porque eles não ligam em, de vez em quando, serem pegos com outro acompanhante.

De terno alinhadoA pele morena dele é muito chamativa e com-

bina perfeitamente com a neutralidade alvíssima dela. Ele, sempre elegante e forte, está sempre de terno bem alinhado, bem costurado com listras em tom mais escuro que dão o destaque. Ela, muito delicada, gosta de roupa branca, muito fina, muito leve, muito romântica.

Nem tão alinhado assimTemos que admitir que apesar da roupa dela

estar sempre impecável, a dele à vezes está meio enrugada, principalmente quando do contato re-cente com a água. Mas, como é “no andar da car-ruagem que as abóboras se ajeitam”, é no andar dele que seu terno também vai se ajeitando.

EleDiz o boato que ele é latino-americano, é

viajado. Já passou por Peru, Colômbia, Argenti-na, Panamá, Guatemala, conheceu muito bem os Andes. Ficou famoso na América do Norte. Já se

instalou em quase todos os continentes: Europa, Ásia, África. Além disso, devido à sua força, foi um apoio e tanto aos soldados em guerra.

ElaO sangue latino dele foi se encaixar certinho

com o traçado oriental da fisionomia dela. Natu-ral da China, ela é viajada, assim como ele. Foi pra Índia, pro Japão, pras Filipinas até chegar à Eu-ropa. Primeiro conheceu Itália e Espanha, depois dominou a Europa. Na juventude, esteve muito ligada aos rituais religiosos orientais. Vindo pro Ocidente, se desligou da religião, dos costumes, tradições.

Ele sem ela, ela sem ele IApesar da aparência e da elegância, ele é mais

caipira, combina com outras mais simples. Ela fre-qüenta as mais altas salas da high society, e com-bina com outros bem mais refinados, sofistica-dos, mais intelectuais. Mas apesar das andanças e desencontros, é impossível imaginar um sem o outro. Às vezes ele não está no mercado, às vezes ela. Mas na maioria estão lá: os dois juntos.

Ele sem ela, ela sem ele IIE aí, já descobriu quem é esse par tão imbatí-

vel? Como um casal moderno, eles até topam se separar no final de semana, quem sabe um fute-bol ou um passeio com os amigos. Mas a saudade não sobrevive à segunda-feira e lá estão os dois juntinhos na sua mesa novamente: os digníssimos arroz e feijão.

A dupla perfeitaJuliana Mastelini Moyses

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O TrumanMito de

Capote

Crítica

Um jornalista, que cansado de sua futilidade, decide investigar um crime que chocou a realidade do interior norte-americano. Este é o mote para duas obras cinematográficas que revelam o nascimento do jornalismo literário

Por Lucas Martins

Ele era baixo, tinha uma voz peculiar, parecida com um guincho, os

óculos e o corte de cabelo lhe davam a notoriedade que a sua figura pública pedia para ter. Frequentava casas de celebri-dades, conhecia-as muito bem, retratava-as em seus livros. Gos-tava de contar histórias, ver-dadeiras ou não. Era Truman Capote, um dos jornalistas que revolucionou o modo de enxer-gar e fazer jornalismo.

Inspirado pelos ambientes que frequentava, escreveu Bre-akfast at Tiffany's. Tinha talento para descobrir os anseios e tra-çar o perfil psicológico de cada uma das suas fontes, sejam elas celebridades ou anônimas. Re-cordava de quase todas as in-formações que colhia em con-versas. “Consigo lembrar 94% daquilo que conversei com as minhas fontes”, gostava de falar.

Toda essa boa memória e percepção também o ajudaram a escrever a sua obra-prima A sangue frio. Após ler uma nota

no The New York Times sobre o assas-sinato de uma família em uma paca-ta cidade do Kansas, o escritor decide investigar mais a fundo as causas e escrever um artigo para a revista New Yorker. E foi essa investigação que serviu de mote para a criação de dois filmes: Confidencial (2006) e Capote (2009).

tar a confiança de quase todos os habitantes da cidade de Holcomb, inclusive dos dois assassinos, Dick Hickock e Perry Smith.

O relacionamento de Truman com suas fontes é bem focado em ambas as obras cinematográficas. Capote traz um personagem mais comedido, com um pouco mais de sensatez. Confidencial o explicita mais e, de certa forma, transforma o jornalista em uma caricatura, com roupas espalhafatosas e um jeito mais afetado. Nesta segunda obra, o amor entre Perry Smith e o es-critor fica bem mais evidente, com cenas que se tornam um pouco ape-lativas.

Confidencial, talvez, tenha sido produzido com o objetivo de chocar mais. O beijo homossexual, os gestos de Truman Capote, a futilidade das celebridades e um “quase estupro” transformaram o longa em uma fic-ção policial que abusa das genera-lizações e caricatu-rismos. Além disso, pode-se dizer que não se encontram tomadas ou cenas que necessitam de um pouco mais de criatividade para fazê-las.

Nesta, a reflexão sobre como a investigação e a aproximação das fontes influenciam a vida do jornalista não são abordadas. As questões exis-tenciais e a ética do trabalho jornalís-

tico, tampouco, são reveladas durante toda a ficção. O enfoque é mais na rela-ção amorosa entre Capote e Smith. Tan-to, que se fosse cômico, a obra se carac-terizaria como uma comédia romântica.

Capote, apesar de sofrer de acu-sações de plágio dos idealizadores de Confidencial, pode ser considerada

uma obra mais bem elaborada. As toma-das, cenas, a foto-grafia e o roteiro são melhor feitos. Agora, o jornalista não é resumido a um es-critor homossexual que se apaixonou pela sua fonte. A re-

lação amorosa com Perry Smith é, sim, explicitada. Entretanto, a produção é mais focada em como o caso e o livro influenciaram a vida de Truman Capote.

Ao longo do filme, podemos notar um perfil psicológico do jornalista mais

denso, traçado pelos roteiristas. No iní-cio, antes de submergir ao mundo do assassinato, Capote era uma pessoa feliz, que vivia em um mundo lúdico, rodeado de figuras que não tinham muito do que reclamar. Durante a sua investigação e conversas com os crimi-nosos, que duraram anos, ele se torna depressivo. A sua história demonstra como o jornalista deve tratar as suas fontes.

Verdadeiro, ou não, a obra mais re-cente é um convite para aqueles que buscam entender melhor o mundo do jornalismo investigativo e como a figura de Capote conseguiu alterar toda a estrutura do que era conside-rada correta na época. A sua revolução e o que ele significou ao escrever A sangue frio estão mais presentes em Capote. Mas, ambas são um convite para adentrar no incrível mundo do gênero que mistura estruturas lite-rárias com fatos reais.

Ao adentrar-se nos Estados Uni-dos, o jornalista conhece, então, alguns dos tipos do interior norte--americano, com os quais já havia convivido em sua infância no Alaba-ma. Passa pela curiosidade e estra-nhamento daqueles que se assusta-vam com o seu jeito peculiar de ser. E, a muito custo, consegue conquis-

Truman Capote investigou um crime que chocou o interior norte-ameri-cano no final da década de 1950. Na foto, ele e Perry Smith (esquerda) e cena do filme Capote (direita)

Em ambas obras cinematográficas, o

relacionamento de Truman Capote com suas fontes é

bem focado

Truman Capote vivido por Philip Seymour Jr., vencedor do Oscar de melhor ator pelo papel, em Capote (2009) (acima); Truman Capote na década de 1970 (direita) e Toby Jones em Confidencial (2007)

A Sangue FrioTruman CapoteAno: 2003Preço: R$ 59,50Editora: Companhiadas Letras

ConfidencialDiretor: Doug MacGrthAno: 2007Preço: R$ 19,90Duração: 145 min,

CapoteDiretor: Bennett MillerAno: 2009Preço: R$ 19,90Duração: 137 min

Para ver

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