Revista Supernova nº5

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Revista Passe Livre nas ruas Movimento em defesa dos cobradores ganha adeptos Hard Money: 20 anos de rock’n roll londrinense Enciclopédias se tornam cada vez mais raras pg 10 pg 19 MÚSICA COMUNICAÇÃO

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Quinta edição da Revista laboratório Supernova desenvolvida pelos alunos do 3º ano de Comunicação Social hab. Jornalismo, turma 2009, período noturno, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). 3 de novembro de 2011.

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Page 1: Revista Supernova nº5

Revista

Passe Livre nas ruasMovimento em defesa dos cobradores ganha adeptos

Hard Money: 20 anos de rock’n roll

londrinense

Enciclopédias se tornam cada vez

mais raraspg 10pg 19

Música coMunicação

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03 3 de novembro de 2011

O problema da poluição sonora em Londrina não está restrito a determinados bairros ou regi-ões. O alto volume de som em automóveis, no

comércio ou residências é generalizado, abrange pra-ticamente toda a cidade e se concentra principalmente aos finais de semana e feriados, ultrapassando absur-damente os limites legais permitidos de 70 decibéis durante o dia e 60 decibéis à noite. A responsabilidade de resolver conflitos quanto à emissão de sons e ru-ídos e de garantir o sossego público é da Secretaria Municipal do Ambiente (Sema), integrada à Força Ver-de e ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP).

Mas ao que parece, este trabalho está longe de ser eficaz. Uma rápida passada aos sábados, após as dez horas da noite, pelas avenidas Higienópolis, Madre Leônia Milito e Saul Elkind, ou em bares e postos de combustíveis nos principais pontos da ci-dade, e até mesmo durante o dia nas lojas do centro, demonstra que os abusos ocorrem com frequência e as apreensões e autuações que deveriam coibir o ato ilícito e punir os infratores não estão funcio-

nando. Vale lembrar que a poluição sonora, além de ser considerada crime ambiental, é um problema de saúde pública, pois índices de decibéis acima dos le-galmente estabelecidos podem causar males ao or-ganismo como insônia, stress, irritabilidade, surdez e até impotência sexual.

Entendo que é preciso uma fiscalização intensifi-cada por parte dos órgãos responsáveis, com parti-cipação ativa da sociedade denunciando quem prati-ca e os locais onde estão ocorrendo os crimes. Em contrapartida, o poder público deve autuar os infra-tores e apreender os equipamentos com mais rigor. Também a proibição da venda de bebidas alcoólicas em postos de combustíveis e critérios mais rígidos quando da liberação de locais para boates, festas ou até mesmo para igrejas e templos religiosos, aliados à conscientização e à educação da população, irão melhorar em muito a eficácia do cumprimento da lei para uma considerável diminuição, ou até mesmo para a solução do problema.

Plínio Venditto

O Calçadão de Londrina faz parte da minha traje-tória diária. Não sou a única londrinense a deixar meus passos entre as pedras de petit-pavet e de

pavers. Andar por ali já não significa apenas andar. Em cada andar, certamente não tenho sob meus pés as pe-dras que formam a base do calçadão de Londrina.

As pedras poderiam apenas cumprir o seu papel de servir como estrutura, como calçamento para garantir um bom caminhar, uma certeza de conseguir ir e vir.

Mas as pedras não estão apenas ali para receber as solas dos meus calçados.

Existem pedras, que muitas vezes soltas, me fazem tropeçar.

E há ainda pedras que falam. Essas, as falantes, que interrompem o meu caminhar com perguntas “Pode res-ponder uma pergunta rapidinho para uma pesquisa?”, ou “Você é católica?”, ou “Você já tem o nosso cartão, senhora?”, é o tipo de pedra que também compõe o Cal-çadão diariamente.

Pedras que falam são difíceis de serem tropeçadas, só restam a elas o meu desvio e o indiscreto mau hu-mor.

As pedras, além de se comunicarem, ainda podem cair do céu. As amargosinhas - as pombas que frequen-temente são alvo de críticas da nossa sociedade - quan-

do estão com a vida amargurada, são capazes de atingir qualquer transeunte com suas necessidades. Sei que elas, como qualquer outro ser vivo, também têm suas prioridades, mas não mereço ser alvo de tais. E eis outra pedra de que devo desviar - ou apenas torcer para não ser atingida -, as pedras voadoras.

Mas, acreditem, há ainda as pedras que andam. O trecho entre a Rua Professor João Cândido e a Avenida São Paulo começou a ser reformado em maio deste ano e tem a previsão para ser concluído em outubro e, nesse período em que as pedras estão soltas, o espaço para cumprir o meu direito de ir e vir, ficou reduzido ao sufi-ciente para que eu possa completar o meu trajeto. Nessa estreiteza, me esforço para não tropeçar nas pedras que andam, pois desviar delas é praticamente impossível. Al-gumas emperram no meio do caminho para contemplar a vitrine de alguma loja. Outras têm alguma limitação para se locomover mesmo. E ainda existem as pedras no meio do caminho que insistem em não caminhar e, assim, não facilitar o caminho de quem anda por ali.

Pois é, caminhar já não é apenas o ato de ir e vir, quando se trata do Calçadão. É um verdadeiro ato de heroísmo atravessar o seu trecho sem que haja pedras no caminho.

Hellen Pereira

Opinião: Poluição Sonora

Crônica: O caminho das pedras

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Mercado de Trabalho

pg.A onda dos maridos de aluguel 04

Meio aMbienTe

pg.Sedes do Ibama fecham as portas 06

coMunicação

pg.Internet: a enciclopédia de hoje 07

capa

pg.Passe Livre na luta pelos cobradores 10

saúde

pg.Uma casa a serviço do paciente 14

culTura

pg.A lição de vida de Tião Balalão 16

Música

pg.Uma volta no tempo com a Hard Money 19

pg.

pg.

A recente decisão da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) sobre a retirada dos cobra-dores do transporte coletivo de Londrina é mais uma

das medidas inconsequentes da administração municipal. Hoje há 498 cobradores em atividade, e a CMTU promete realocação de trabalho para todos. Só que a Companhia não explica em detalhes como será esse remanejamento. Dessa forma, é difícil precisar o futuro desses trabalhado-res, muitos há mais de 15 anos na profissão.

Há de se levar também em conta o acúmulo de funções do motorista. Além de enfrentar o já caótico trânsito lon-drinense e ter de cumprir com suas responsabilidades ao volante, ele deverá receber dinheiro, ter atenção ao troco, conferir entrada e saída de passageiros e auxiliar portado-res de necessidades especiais. A demora e os transtornos aos usuários são previsíveis.

Esta é uma medida que em nada beneficiará a popula-ção e tampouco os profissionais do transporte coletivo. Não se sabe então o porquê dessa decisão. O que se sabe de fato é que a CMTU é uma empresa de capital misto, ou seja, um órgão que não é totalmente de âmbito municipal, tendo uma parcela de capital privado. Ora, empresas privadas vi-sam única e exclusivamente o lucro. Sendo assim, é preciso que o poder público intervenha nessa decisão e investigue as reais relações da CMTU com as empresas detentoras da concessão de explorar o serviço de transporte coletivo.

Londrina, que já sofreu com o caso AMA/Comurb na gestão de Antonio Belinatti, e recentemente com o escân-dalo na saúde (caso CIAP), não pode mais suportar in-competência e irresponsabilidade daqueles que adminis-tram os recursos públicos. A população merece respeito.

Expediente

Editorial: O direito de trabalhar

Docente responsável: Rosane BorgesProdução: Estudantes do 3º ano de Comunicação Social hab. Jornalismo da UEL

Edição:Beatriz BevilaquaEnrickson VarsoriPlínio VendittoVanessa Freixo

Diagramação:Carol MoureCinthia MilanezLuciana OliveiraYuri Bobeck

Reportagem: Amanda FrançaDanylo AlvaresFagner SouzaHellen PereiraLucas GodoyLuciana de CastroMarcy Saraiva

SUMárIO

Revista laboratório

3 de novembro de 2011Edição 5 - Ano 1

Diagramador-chefe:Willian Casagrande

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Aluga-se um MaridoCom trabalho retratado em novela,

especialistas em tarefas comuns são alternativa quando o tema é conserto doméstico

Mercado de Trabalho

No ar há quase um mês no horário nobre da Rede Glo-bo, Fina Estampa, folhetim

de Aguinaldo Silva, tem como per-sonagem central a sofrida Griselda. Interpretada por Lília Cabral em seu primeiro papel como protagonista de uma novela das nove, a perso-nagem é o modelo perfeito da “mãe coragem”. Às custas do abandono que sofreu pelo marido, que um dia saiu para pescar e nunca mais vol-tou, ela criou os três filhos sozinha.

Danylo alvaRes Até aí, nada de incomum quando o assunto é teledramaturgia, a não ser pelo fato de Griselda também ser co-nhecida como “Pereirão, o marido de aluguel”.

De macacão surrado e maleta de ferramentas nas mãos, ela faz o que poucas donas de casa e mui-tos homens não dão conta: conserta aparelhos danificados, repara en-canamentos, substitui instalações elétricas e até troca pneu. Diferen-te em alguns aspectos de como é mostrada na trama global, longe da televisão a ocupação de marido de

aluguel também está em evidência e tem ganhado status de profissão. Introduzidos no mercado nacional há cerca de dez anos, em São Paulo, maridos de aluguel já se organizam em empresas especializadas e co-piam a fórmula de sucesso que ge-rou até uma franquia nos Estados Unidos, a “Rent a Husband”.

Em Londrina, quem prefere não correr o risco de levar um choque ao trocar a resistência do chuveiro ou deseja não sujar as mãos para fixar prateleiras, por exemplo, pode con-tar com a boa vontade e a disponibili-

Lília Cabral vive Griselda, também conhecida como Pereirão, o marido de aluguel de Fina Estampa.

Div

ulga

ção

Page 5: Revista Supernova nº5

dade de pelo menos dez maridos de aluguel. Luiz Gustavo Barduzzi, de 33 anos, é um deles. No caso de Bar-duzzi, os oito anos fora do país, com passagens pelo setor de construção civil americano e o acompanhamen-to passo a passo da edificação de uma residência na Nova Zelândia, dispensam qualquer vestimenta que caracterize seu ofício. De All Star nos pés, jeans, camiseta e mochila nas costas, poucos supõem que ele traz consigo pregos, fita isolante e uma série de instrumentos.

A falta de uniforme, no entanto, em nada atrapalha a publicidade de seu trabalho, que ganhou em Fina Estampa um aliado a mais. “Desde o início da novela, observei um aumen-to de 30% no número de acessos em meu blog. Para mim tem sido ótimo”, admite o marido de aluguel, que tam-bém utiliza as redes sociais para di-vulgar o que faz. Além de viabilizar contato rápido e fácil com o cliente, as contas de Barduzzi no Twitter, no Facebook, e no blog alimentado por ele, servem como mural interativo cujo conteúdo vai de dicas domésti-cas até tira-dúvidas.

Barduzzi vive como marido de alu-guel há apenas um ano e metade de seus clientes já são fixos. Apesar da clientela fidelizada e da rentabilidade financeira de sua ocupação, o “faz tudo” londrinense preocupa-se por não trabalhar formalmente. “Já que não tenho carteira assinada, pago previdência privada para garantir estabilidade no futuro. É claro que a formalização é um ponto bastante relevante, mas mesmo assim, dados os ganhos, a liberdade que tenho e o bom momento vivido pelo mercado imobiliário na cidade, não penso em abandonar meu trabalho tão cedo”, confessa.

A próxima aquisição a ser utiliza-da por Barduzzi como material de trabalho não se trata de mais uma ferramenta, mas sim de um aparelho celular. Um iPhone 4, para ser mais exato. A povoar a mente de consu-midores aficionados por tecnologia, o telefone da Apple, entre uma infini-

dade de funções, comporta um apli-cativo que viabiliza pagamentos mó-veis com cartões de crédito e débito de diversas bandeiras. “Isso trará mais praticidade, segurança e como-didade ao meu trabalho. Vai facilitar a vida de muitos autônomos e profis-sionais liberais”, diz entusiasmado.

O consultor de vendas Wilson da Silva Caetano, 51 anos, assume que relutou um pouco quando a esposa, ao perceber que a montagem do guarda-roupa no apartamento recém alugado seria malsucedida, sugeriu o auxílio de um marido de aluguel. “Ela propôs que chamássemos, mas, no fundo, aquilo me constrangeu um pouco. Sempre efetuei pequenos re-paros em minha casa, não precisava da ajuda de outro homem”. Caetano conta que, após três tentativas frus-tradas de armar o guarda-roupa do casal, concordou em “alugar um ma-

rido”. “No fim das contas, foi a me-lhor coisa que fizemos. Ele chegou em casa e resolveu tudo em uma hora, com a maior facilidade”, admite o consultor.

Luiz Gustavo Barduzzi diz en-frentar pouca resistência masculina a seus serviços. “Hoje em dia, eles [os homens] não têm tempo para re-solver problemas domésticos. Uns até têm, mas escolhem evitar dor de cabeça com consertos”. Sobre o as-sédio feminino, Barduzzi prefere não entrar em detalhes, mas afirma já ter estado em “apuros”. Quanto ao se-xismo ainda observado em algumas esferas da sociedade e posto em xeque por meio da personagem Gri-selda, Barduzzi garante: “se homem pode ser bom na cozinha, com cer-teza mulheres também podem dar ótimos maridos de aluguel”.

053 de novembro de 2011

Marido de aluguel na vida real, Luiz Gustavo Barduzzi dispensa

macacão ou jaleco. Uso de roupas do dia a dia faz parte de sua

proposta de trabalho.

Arq

uivo

Pes

soal

Page 6: Revista Supernova nº5

Meio aMbienTe

luciana De castRo

06 3 de novembro de 2011

De portas quase fechadasSedes do Ibama são fechadas em todo o país, mas escritório

londrinense continua em funcionamento mesmo após a decisão

Diversos órgãos federais, principal-mente as instituições do meio am-biente, devem “ganhar” novos profis-

sionais nos próximos meses. A contratação não vai acontecer por meio de concursos públicos ou análises curriculares, mas, sim, pela vinda dos funcionários das unidades regionais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) a outros órgãos. A realocação desses trabalhadores não é um processo voluntário, mas sim, decorrente do fecha-mento de dezenas das “bases avançadas” – nome dado aos escritórios de porte médio do Ibama, como o de Londrina, por exem-plo – em muitas cidades por todo o país. O presidente da Instituição, o advogado Curt Trennepohl, ainda não sabe ao certo quantas unidades serão fechadas, mas as regiões Sul e Sudeste devem ser as mais afetadas.

Afirmando que “é hora de diminuir em tamanho físico para crescer em ações”, Curt Trennepohl emitiu em maio desse ano a or-dem de fechamento de algumas unidades do estado do Paraná, incluindo a de Lon-drina. O processo de desocupação ainda não foi concluído na cidade devido à grande demanda que o escritório atende - os cinco funcionários do Ibama Londrina trabalham cobrindo 199 cidades do norte do estado. Um membro da Instituição que preferiu não se identificar, explica que o fechamento da unidade de Londrina ainda não foi concluído devido à pressão dos funcionários.

Seguindo a legislação federal, o profis-sional de um órgão público não pode ser demitido quando o órgão para qual presta serviços é fechado, unido a outro, ou algum motivo similar. Sendo assim, precisa ser

realocado em outra instituição federal

ou estadual, e não precisa necessariamen-te continuar trabalhando na área em que já atuava. “De forma bem sucinta”, explica o funcionário, “todos foram orientados a pro-curar outro órgão público para trabalhar em Brasília, São Paulo ou em Londrina”. Revoltados, os funcionários prorrogaram o prazo para escolher outro trabalho, que era de duas semanas a partir de 17 de maio, e continuam até hoje mantendo o Ibama Lon-drina em funcionamento. “Você trabalha a vida inteira num lugar, se especializa para fazer isso, estuda por mais de 20 anos para ser um bom profissional. Não é em duas se-manas que você vai conseguir apontar para outro órgão e dizer ̀ é aqui que eu vou traba-lhar agora’”, desabafa o fiscal.

Consequências“A população londrinense vai perder

seu principal representante do meio am-biente”, afirma Eduardo Panachão, biólogo, ambientalista e membro do Conselho do Meio Ambiente de Londrina (Consemma). Ele explica que um dos impactos imedia-tos do fechamento da base avançada de Londrina será a dificuldade na fiscaliza-ção. As denúncias de crimes ambientais, por exemplo, não poderão mais ser feitas em âmbito local. Depois do fechamento do Ibama Londrina, toda e qualquer denúncia, das simples às mais graves, terá que ser protocolada em Curitiba. “E isso acarreta numa elitização do sistema. Só vai poder ligar, e principalmente ir até Curitiba, quem tem dinheiro para tanto. Pessoas que ti-nham denúncias ou dúvidas simples vão acabar desistindo”, alerta Panachão.

A burocratização na relação de Londrina e norte do Paraná com Curitiba também tira o imediatismo das ações do Ibama e acaba

com a possibilidade de autuações em fla-grante. “É um serviço lento e à distância que apenas facilita o trabalho dos infratores. Os autores de crimes ambientais terão tempo de sobra para esconder evidências, fugir e avi-sar mais criminosos sobre a fiscalização que está chegando”, ironiza o ambientalista.

MobilizaçãoEm maio desse ano, o Consemma emi-

tiu uma nota oficial de repúdio à decisão de Curt Trennepohl, condenando o desca-so com a fauna e a flora da região de Lon-drina e demonstrando preocupação com a fiscalização e o possível “inchaço” em ou-tros órgãos, como o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). No documento, o engenheiro Fernando Barros, presidente do Conse-lho, afirmou que o grupo não manifestará apoio à medida federal e deve entrar com recursos judiciais para bloquear a decisão da presidência do Ibama. A saída, segundo Barros, seria transformar a base londrinen-se em “escritório regional” – denominação das sedes de grande porte. Como Trenne-pohl só planeja fechar bases avançadas, a desocupação do Ibama Londrina seria anulada.

O técnico ambiental Alexandre Colonie-zi, também membro do Consemma, diz que os funcionários do Ibama vão continuar tra-balhando. Segundo ele, o Consemma tem autonomia para reivindicar as decisões to-madas sobre os órgãos de proteção ambien-tal: “nós acreditamos que a unidade não vai chegar a fechar, mesmo que, legalmente, já devesse estar desocupada. A decisão passa pelas mãos do Consemma e nós vamos ten-tar bloqueá-la até o final desse ano”, explica. “Esperamos que esse absurdo não seja real-mente concluído”, finaliza Coloniezi.

Ron

ilson

Paz

Page 7: Revista Supernova nº5

No rumo das enciclopédias

Cada vez mais raras, as versões impressas de enciclopédias ainda resistem ao avanço digital

coMunicação

hellen peReiRaCréditos: Hellen Pereira

073 de novembro de 2011

E m algum dia a maioria da população precisou consultar algum volume

de alguma enciclopédia para construir seu trabalho escolar ou acadêmico. Mas com tanta modernidade tecnológica que nos cercam diariamente, é cada vez maior o número de sites de busca disponíveis na internet para pesquisarmos, com a faci l idade de um cl ique, uma inf inidade de assuntos. Com esse novo hábito de um mundo cada vez mais urbanis-ta para real izar seus trabalhos em pesquisas, por onde an-dam as antigas coleções de enciclopédias impressas?

Nas prateleiras das princi-pais l ivrarias de Londrina já não é possível encontrá-las. Ao entrar nessas lojas e fazer a pergunta “Vocês têm enci-clopédias como a Barsa?”, a resposta também será idên-t ica para cada uma delas: “ Não. Não trabalhamos mais com esse t ipo de material.”

Não é de se surpreender. Recentemente, uma pesquisa realizada pela ComStore (em-

presa especializada em pesqui-sas sobre a web) divulgou que o Google alcançou, em maio deste ano, a marca de 1 bilhão de visitantes únicos, superando sites da Microsoft, Facebook e Yahoo. O Google indexa trilhões de páginas web, de modo que os usuários podem pesquisar as in-formações que quiser, por meio do uso de palavras-chave.

Já a especialista no ramo de artigos, Wikipedia “A enciclopé-dia livre”, também segue com

números elevados. Disponível em mais de 270 línguas, com mais de 17 milhões de artigos (número em constante atualiza-ção) e mais de 100 mil colabo-radores voluntários em todo o mundo, a Wikipédia é o quinto site mais acessado do planeta, com mais de 410 milhões de visi-tantes por mês segundo pesqui-sa realizada pela ComScore em novembro de 2010. Os números expressivos marcam seus dez anos de experiência comemora-

Buscadores de internet cumprem o

papel das antigas enciclopédias no

meio digital

Page 8: Revista Supernova nº5

dos em 15 de janeiro deste ano. Toda essa representação mostra a importância da Wikipédia, não apenas como uma referência en-ciclopédica, mas também como um recurso de notícias atuali-zado com frequência por cau-sa da rapidez com que artigos sobre acontecimentos recen-tes aparecem.

Embora as políticas da Wi-kipédia defendam fortemente a verificabilidade e um ponto de vista neutro, os críticos da Wi-kipédia acusam-na de viés sis-têmico e inconsistências (in-cluindo o peso excessivo dado à cultura popular e alegam que ela favorece o consenso sobre credenciais em seus processos editoriais. Sua confiabilidade e

Diogo Crotti: “A procura é quase zero.”

Baixa na demanda obriga os sebos a pedirem

menos nas obras

obra nos sebos, que são as livrarias de usados, porém terá de andar um pouco até encontrar a coleção deseja-da.

Por exemplo, em um deles localizado entre o Calçadão

precisão também são alvo de críticas.

Tem enciclopédia?Se o consumidor for um

colecionador de raridades, poderá encontrar alguma

08 3 de novembro de 2011

Page 9: Revista Supernova nº5

2 de novembro de 2011 09Márcia Ono: “Quase todos os dias as

enciclopédias são utilizadas aqui”

R$30 chegando até a casa dos R$120. Vendedor há quase dois anos nessa loja, Diogo Crott i , lembra que a últ ima coleção foi vendida há pouco mais de cinco me-ses. Foi uma Enciclopédia Britânica, edição com capa em couro nos vinte volumes e, para levá-la para casa o cl iente desembolsou R$500. “O cl iente disse que queria essa coleção apenas para enfeitar a estante”, revelou o vendedor.

Mesmo sendo a maior livra-ria especializada em usados, ainda é muito baixa a procura por enciclopédias. “A procura é quase zero.”, afirmou Crotti.

Ao contrário dos sebos de Londrina, a Biblioteca Munici-

pal oferece um número maior de enciclopédias. A procura, inclusive, ainda é considerada boa, possível de ser equipara-da ao mesmo número de pes-quisas realizadas pelo telecen-tro, comparou a bibliotecária Márcia Ono. São quase trinta coleções de enciclopédias que preenchem as primeiras prate-leiras do acervo. Só de Barsa são 6 ao todo, o restante divi-dido entre Delta, Grande Enci-clopédia Brasileira, Enciclopé-dia Larrousse Cultural e muitas outras. Ono destaca que essas coleções não ficam apenas nas prateleiras: “Sim, todos os dias elas ainda são utilizadas por aqui. Muitas escolas ex igem t rabalhos manuscr i tos dos a lunos e e les sempre vêem fazer suas pesquisas” .

e a Catedral de Londrina, na região central, a vende-dora revela que tem dispo-nível apenas duas coleções e incompletas. A funcionária Paula Mendes da Silva con-ta que a loja já não compra mais esse tipo de coleção justamente porque não há procura por esses exempla-res. “Tem ainda a questão do espaço. Uma enciclopé-dia completa ocupa muito espaço, mesmo guardadas de forma horizontal e às ve-zes ficam até empilhadas”, completou a vendedora

Já no maior sebo de Lon-drina, é possível encon-trar cerca de vinte e cinco enciclopédias completas, com valores que vão de

Page 10: Revista Supernova nº5

10 3 de novembro de 2011

Passe Livre para os cobradores

capa

Pelo ‘Grito dos Excluídos’, o Comitê Passe livre se manifestou dia sete de

setembro, dia da independência brasileira. Em continuidade com o ‘ato contra a demissão dos co-

bradores’. Nas quartas-feiras, 24 e 31 de agosto, e no desfile de independência o comitê foi à luta contra a demissão dos co-bradores da TCGL(Transportes Coletivos Grande Londrina).

O movimento vem ganhando cada vez mais força e adeptos e, participou pela primeira vez do Grito dos Excluídos, movimen-to realizado durante o desfile de sete de Setembro, organizado

fagneR bRuno

Page 11: Revista Supernova nº5

113 de novembro de 2011

O Comitê Passe Livre quer suprir o frágil apoio do sindicato aos cobradores e se mobiliza a

favor da categoria por pastorais sociais da Igreja Católica.

Os atosNa tarde do dia 24 de agosto,

cerca 50 estudantes e trabalha-

dores fizeram barulho na porta do terminal londrinense. Foi o primeiro ‘ato contra a demissão dos cobradores’. Com faixas, megafone e um amplificador de som, pediram a permanên-

cia dos trabalhadores. Everton Yukita, estudante universitário e integrante do comitê, regulava o som do amplificador enquanto falava sobre o ato. “A essência

Page 12: Revista Supernova nº5

12 3 de novembro de 2011

do ato é a luta pelo benefício de todos no transporte público, vai desde a permanência da fun-ção de cobrador até o passe li-vre estudantil”, conta.

O ato não impediu o tráfego no local. Ordeiramente, os ma-nifestantes ficaram sobre a fai-xa de pedestre e, obedecendo a sinalização de trânsito, abriam a passagem para o fluxo dos cir-culares.

Uma semana depois, dia 31, no mesmo horário, lá estavam novamente. Desta vez, o mo-vimento trazia um maior con-tingente. Cerca 100 pessoas estavam gritando a favor da per-manência dos cobradores. Esta segunda mobilização pesou mais. Viaturas da Guarda Muni-cipal e da Polícia Militar se fize-ram presentes no Terminal, mas apenas para supervisar o ato.

A terceira mobilização foi du-rante o desfile de sete de se-tembro, pela 17º edição do Grito dos Excluídos, na avenida Leste Oeste. Acompanhado pelo MST,

pastorais da Igreja Católica, Sin-dicato dos Bancários e os ín-dios da reserva Apucaraninha, o Passe Livre esteve presente pela primeira vez.

Comitê Pelo Passe LivreDesde 2005 o Comitê Passe

Livre luta pela melhora do trans-porte coletivo em Londrina. A estrutura do grupo é diferencia-da, não há cargos. As funções são discutidas durante as reu-niões semanais. Há integrantes mais ativos que comparecem com mais freqüência, mas todos

O comitê conta com apoio de estudantes universitários, secundaristas e trabalhadores

O comitê conta com apoio de estudantes universitários, secundaristas e trabalhadores

in tegrantes estão em pé de igualdade nas funções.

Com a possibilidade da demissão dos cobrado-res o comitê se posicionou mais atuan-te. “O Passe Livre tem por

iniciativa dar aos cobradores o apoio que o sindicato não está dando”, explica Soraia de Oli-veira, jornalista, professora e integrante do comitê. Segundo ela, o sindicato da categoria não está dando o apoio necessário, assim a categoria perde forças no embate contra os patrões.

Na visão do comitê, a quali-dade do transporte coletivo cai com a demissão dos cobrado-res. O motorista ficará sobre-carregado com as diversas fun-ções que terá que exercer se os cobradores forem extintos.

Funcionários da TCGL que não quiseram se identificar,apóiam o ato e confirmam que sem os cobradores a qualidade do transporte reduzirá bastante. Um dos funcionários entrevista-dos, motorista da empresa, diz que dirigir em horários de pico é muito difícil. “Temos que di-rigir, cuidar das portas, ajudar deficientes físicos, cobrar pas-sagem e ainda nos manter no horário. Não podemos atrasar, pois têm fiscais cobrando nosso horário o tempo todo. Às vezes cobramos a tarifa com o ôni-bus em movimento para ganhar tempo”, revela.

Os manifestantes foram até a avenida São Paulo com

a rua Benjamin Constant apoiar para protesto

Yuri

Mar

tinez

Yuri

Mar

tinez

Page 13: Revista Supernova nº5

1331 de março de 2011

Demissão dos cobradores A concessão dada pela pre-

feitura de Londrina à empresa TCGL – no dia 4 de agosto, per-mitiu a circulação de todas suas linhas de ônibus sem cobrado-res. Porém, haveria a necessi-dade de um estudo que seria realizado pela Companhia Muni-cipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), que estabeleceria em quais horários os ônibus pode-riam rodar sem os cobradores.

O Metrolon, sindicato das em-presas de transporte coletivo, disse que o corte de cobradores na TCGL seria gradual e que os funcionários seriam remaneja-dos para outras funções. O Sint-trol, Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário, em assembléia votou que se algum cobrador fosse demitido a cate-

goria iria realizar greve. Mas na sexta feira (19) de agosto, dois dias após a assembléia, qua-tro cobradores foram demitidos da TCGL. O Sinttrol não tomou qualquer iniciativa.

Um dos funcionários demiti-dos, Jarbas Aparecido de Jesus, publicou em um blog na internet, que foi demitido sem justificativa e que os outros três ex-funcio-nários também teriam sido man-dados embora da mesma forma. O diretor da Grande Londrina, Gidalmo Mendonça, justificou as demissões dizendo que essa situação é normal na empresa, toda semana são demitidos fun-cionários, e serão contratados outros funcionários para preen-cher as vagas dos demitidos.

Jarbas disse que antes de ser demitido foi passado um for-

mulário questionando se havia interesse aos funcionários em se tornarem motoristas. Jarbas haveria dito que não tinha inte-resse.

Dia cinco de setembro, se-gunda, em uma reunião entre o Sinttrol e o Ministério Público do Trabalho, foi sugerida a ideia de criar um fórum de discussão para debate de alternativas. Po-rém, é necessária a aceitação da CMTU. O fórum propõe discutir alternativas até 31 de dezembro deste ano, a CMTU, no entanto, quer resolver o impasse no pra-zo de 30 dias.

O Sinttrol moverá ação na Justiça contra a demissão dos cobradores. O sindicato alega ser ‘humanamente impossível’ o motorista trabalhar na função de motorista e cobrador.

1ª participação do Passe Livre pelo grito dos excluídos no desfile sete de setembro

Divulgação

Page 14: Revista Supernova nº5

14 3 de novembro de 2011

Casa ajuda pacientes durante tratamento

contra o câncerUnidade de apoio Lucilla Ballalai, anexa ao

Hospital do Câncer de Londrina, recebe pacientes de diversas cidades

saúde

“CCom certeza ia ser difícil alugarmos uma casa. Ou íamos

ter que ir e vir todo dia”, comenta Salvelino Hasquel, de 64 anos, sobre a importância do auxí-lio que a Casa de Apoio Lucilla Ballalai oferece aos pacientes que fazem tratamento oncológi-co e vêm de outras cidades. Ele mora em Ivaiporã e acompanha a esposa Tereza, também de 64 anos, que está em tratamento para câncer de mama.

A casa foi criada devido à ne-cessidade de atender os vários pacientes que vinham de regi-ões distantes para fazer trata-mentos (quimioterapia e radiote-rapia), mas não precisavam ficar internados. Em 31 de outubro de 1983 foi entregue para uso uma unidade de apoio. Porém, a casa, com a estrutura que tem

hoje, foi construída no ano de 2006 com o apoio de uma ope-radora de telefonia da cidade.

“O objetivo é atender pacien-tes que vêm de fora. A radiote-rapia dura no mínimo trinta dias” diz Celestina D’Epiro Souza Campos, uma das assistentes sociais do Hospital do Câncer de Londrina. “Eles ficam de se-gunda a sexta-feira. No sábado e domingo a casa fecha”, com-plementa Alexsandra Nunes, também assistente social do hospital.

PraticidadeA distância é um dos fatores

mais difíceis para os pacientes. Alguns teriam que viajar durante horas todos os dias se não exis-tisse a casa. “Sou de Ivaiporã. Aqui por Faxinal dá 160 Km. A gente gasta 3h30 de viagem. É cansativo. Ir todo dia e voltar é difícil”, relata Salvelino sobre como seria a rotina dele e da es-posa ao ter que voltar todos os

dias para a cidade em que mo-ram.

A casa oferece vinte vagas para pacientes e acompanhan-tes (um por paciente) e indepen-dente de pernoitar ou não, está à disposição dos usuários, des-de que exista vaga. “É de acor-do com a necessidade da pes-soa. É uma hospedaria gratuita. Se houver vagas ela pode ficar. O hospital tem um cadastro pra controle, até mesmo para saber quem está hospedado” diz Ce-lestina. Mas Alexsandra com-plementa “a preferência é para quem não tem poder aquisitivo”.

Alguns têm sorte. É o caso de Tereza Candioto, esposa do Sr. Salvelino. “Nós chegamos e já viemos pra cá. Eles mesmos ajeitaram pra gente. Pegamos as últimas vagas. Fomos o número vinte”, diz Tereza. E ela, em uma das poucas vezes que toma a palavra, comenta: “nós entra-mos dia 1º de agosto. Fez um ano em agosto, que eu descobri

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que tinha câncer, em dezembro fiz cirurgia, aí passei pra quimio. Fiz oito [sessões] de quimio e agora mais 30 de cobalto”.

Silvia Regina de Souza de 45 anos, governanta, zeladora e atendente da casa revela: “no começo da semana estávamos com doze pessoas, agora tem oito. A gente está com dois pa-cientes que não têm acompa-nhante.”

Um deles é Carlos Pereira Leite de 61 anos que diz: “estou aqui faz três semanas. Sou de Nova Fátima”.

ManutençãoUma equipe ajuda a manter,

tanto o hospital como o alber-gue. “São funcionários e volun-tários. O voluntariado é por meio

do Serviço Social. Vem para o projeto de voluntariado do Hos-pital do Câncer”, diz Celestina que completa: “quem ajuda o hospital, ajuda a casa de apoio. Quem mantém a casa é a comu-nidade”. Há duas formas de vo-luntariado: junto ao paciente que é ligado ao Serviço Social e tam-bém para organização de even-tos e captação de recursos que é ligado ao setor de eventos, de acordo com o site da instituição.

Sem a casaSendo parte do hospital e ofe-

recendo moradia e alimentação durante todo o tratamento, para Salvelino é difícil imaginar como seria se não tivesse esse apoio. “Aqui a gente economiza bas-tante. A gente vem com o trans-

porte da prefeitura [de Ivaiporã], e só assina o nome na lista. Vem na segunda e volta na sexta.”

Na opinião de Celestina, sem uma casa de apoio a situação para os pacientes seria mais complicada. “Não posso dizer que o número de atendimento diminuiria. Talvez os pacientes sofressem mais”.

A unidade de apoio não pede ajuda por meio de motoqueiros ou telefonemas. Quem quiser ajudar ou obter mais informa-ções sobre os benefícios aos pacientes pode entrar em con-tato e se informar no próprio hospital que fica na rua: Lucilla Ballalai, 212 – jd. Petrópolis, tel.: (43) 3379-2600.

Anexa ao Hospital, casa abriga pacientes e acompanhantes durante a semana

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Tião Balalão Cabeça de Melão gosta de levar a sério essa história de contar histórias

que saem da cabeça da gente. Au-tor e contador de histórias, Sebas-tião Narciso enxerga além do que os próprios olhos são capazes de ver. Depois de dezenas de livros infantis, que mesclam fantasia, ritmo e supe-ração, Tião lançou recentemente um CD de histórias infantis “Entre Bru-xas e Sacis, etc”, com sete divertidas histórias infantis, que mostram que ser diferente é normal.

Sebastião José Narciso tem 53 anos, é sociólogo e ficou cego há 21 anos por causa de um acidente, mas ter perdido um sentido não o fez per-der o sentido da vida. Quando conhe-ceu voluntários que gravavam livros para os deficientes visuais, descobriu a vontade dele próprio contar histó-

Além do que os olhos podem verDeficiente visual há 21 anos, Sebastião Narciso prova que quem é diferente também é normal, e leva para crianças, histórias imaginadas, mas cheias de realidade... e superação

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rias. Participou de um grupo de teatro, que em 2002 fez apresen-tações em escolas e empresas. Em 2003, o mesmo grupo fez uma adaptação da peça de Ítalo Calvino “A Cidade e os Olhos”, se especializando em expressão cor-poral. As apresentações acontece-ram em algumas cidades do Brasil, como Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte e, segundo Narciso, foi um sucesso.

Para se tornar um autor, foi um pulo. Entre suas obras, destaca-se “Por detrás dos olhos”, que conta em 30 historinhas infantis e filosófi-cas, a tênue relação entre cegos e espelhos. “Ao todo são mais de 80 títulos. Meu dia-a-dia é escrever e contar histórias”, conta o autor.

Tião Balalão contou que tem o maior apreço pelo contato com as

crianças e, por isso, nos últimos anos, tem se dedicado mais a elas. “Tudo começou com a minha pri-meira coleção infanto-juvenil, que levei às escolas municipais. A par-tir daí, percebi a atração que tenho em lidar com as crianças, princi-palmente no contexto da inclusão”, comentou.

Tião utiliza suas histórias como ferramenta inclusiva. Para ele, o que já foi problema, hoje serve de motivação, inspiração para a cria-ção de seus personagens, que sem-pre têm de superar alguma perda, assim como ele teve de superar a perda sensorial. “Utilizo a arte como profissão e manutenção de vida em

todos os aspectos.”Vale ressaltar que além de contar

suas histórias, Tião Balalão também abre espaço para questionamentos das próprias crianças, pois acredita que só assim elas são capazes de entender que a pessoa com defici-ência é capaz de fazer muitas coi-sas, respeitando suas dificuldades.

Sobre preconceito, Tião conta emocionado que entre as crianças, conhece histórias de algumas que viram nele, motivação para estudar e para viver. “Ainda existe, mas pouco a pouco as pessoas perce-bem que mesmo semi-autônomo dou minha contribuição, sou um produtor cultural.”

Tião Balalão autografa livro “Por

detrás dos olhos”

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18 3 de novembro de 2011

Entre Bruxas e Sacis etc.Tião contou ainda que o CD é

uma forma ainda mais completa de inclusão, porque contempla as necessidades de todos os públicos. “Ele é universal. Tanto uma criança que ainda não saiba ler, quanto aquela que tem pre-guiça de ler, ou aquela que não pode, por alguma deficiência, to-dos podem ouvir e se encantar com as histórias”, explicou.

O audiolivro é um projeto que visa despertar nas crianças e adultos as diferenças e as po-tencialidades das pessoas, em especial, abordando as deficiên-cias e as dificuldades que exis-

tem, mas que somos capazes de superar e nos integrar.

As histórias de Tião Balalão abordam diferenças e potencia-lidades. O formato de áudio é recomendado, por sua caracte-rística acessível às pessoas em geral e em especial para as que têm deficiência visual. A obra traz os ingredientes preferidos da criançada: ritmo de história para ser contada, surpresas e lições importantes para superar problemas, entender diferenças e, principalmente, ver além das aparência.

Segundo o diretor da Bibliote-ca Pública, local onde ocorreu o

lançamento do CD,Tião agrada a todos os públicos. “Ele já este-ve este ano na biblioteca e todos nós ficamos muito empolgados. Afinal, o trabalho dele valoriza a leitura, principalmente entre as crianças”, contou.

Silva também destacou que as obras do autor trazem um grande diferencial: a inclusão. “Estamos atentos a essa neces-sidade e estudamos uma am-pliação do acervo inclusivo da biblioteca. Afinal, ela tem que contemplar todas as pessoas, com ou sem necessidades es-peciais. E o Tião foi pioneiro nis-to”, concluiu.

“Precisei ficar cego para realmente

enxergar”

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Documentário “Hard Money - Do it yourself” narra uma época que entrou para a história do rock londrinense

20 anos de amizade, informação,festa e rock´n roll

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Após produzir esta matéria algo ficou em minha cabeça: “eu nasci no ano e lugar errado”. E foram muitas coi-

sas que me fizeram pensar isso. O show da banda Hard Money em 2009, o lançamento do documentário “Do it yourself” em 2011, fa-zer amizades, ver as pessoas se divertindo e a empolgação nos relatos que ouvi sobre a década de 90 em Londrina. Mas como não posso voltar no tempo, convido vocês a co-nhecer ou lembrar um pouco desse período.

Surge o Punk em Londrina Foi no final da década de 80 que come-

çaram a chegar as primeiras informações sobre o movimento Punk na cidade. Apare-ceram também as primeiras fitas cassete de bandas como Garotos Podres e Ramones. O sociólogo, baterista das bandas Hard Mo-ney e Surface, e produtor do documentário, Luis Eduardo, o “Cientista”, como ficou co-nhecido, lembra que, embora em 1982 já ha-via pessoas com um visual mais rock, “mais sujo”, foi só por volta de 1985 que começou a ter contato com o som pesado do punk. “No início soou esquisito”, confessa. Só ao escutar mais bandas e ler fanzines que ele entendeu e se interessou de fato pelo movi-mento que deslancharia na cidade a partir de 1987. A letra, que se tornou clássica da ban-da Garotos Podres lançada em 1985 no LP “Mais do que nunca”, traduz bem o espírito punk da época: “Não devemos temer os que detêm o poder... Os explorados precisam de se unir para o sistema destruir”. Conforme relata Cientista para estudantes da UEL em 1988: “visual, atitude e ideologia. Tem que ter tudo”.

A era dos fanzines Nesta época, alguns garotos começaram

a fazer pixações e a produzir fanzines com mais frequência. Estes zines eram pequenas publicações produzidas principalmente com

desenhos feitos à mão, com recortes e textos onde tenta-vam expor sua visão sobre temas diversos como religião, política, sociedade e música. Era uma opinião alternativa àquela recebida por seus pais, no colégio, na igreja ou na televisão. Na ausência da internet, os fanzineiros também trocavam seus materiais reproduzidos em fotocopiadoras por correio com pessoas de outras cidades. Assim, mais informações sobre bandas, o movimento Punk, campanhas de boicote ao consumo de produtos de origem animal e àl-cool, por exemplo, chegavam em Londrina.

Faça você mesmo Um componente importante na cultura punk é o “faça

você mesmo”. Ou seja, se você está insatisfeito com algo,

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deve ter “atitude”, criar alternati-vas e aprender na prática, com os erros. No início do Punk, décadas de 70 e 80, isso foi uma quebra de paradigma. A vontade de fazer, de contestar e tornar real seus so-nhos deixava a preocupação com a técnica em segundo plano, o importante era se expressar e se divertir. Influenciados por bandas como Stooges e MC5, uma forma musical simples, barulhenta, com poucas notas e vocais gritados se encaixou perfeitamente a essa proposta. Assim surgiram muitas outras bandas.

E aqui não foi diferente. Para se ter ideia dessa efervescência, após uma semana da criação da banda londrinense “Desordem e regresso”, ela foi convidada para tocar em Curitiba. Lá, os novos punks encontraram uma cena muito maior e se animaram ainda mais para consolidar o movimento em Londrina: “Meninas cur-tindo punk rock, eu fiquei mara-vilhado: nossa mulher gosta!”, diz Luis Eduar-do “Cientista”. Uma dica para quem quiser conhecer mais sobre o punk curitibano na década de 80 é o documentário “Punks na cidade”, lançado em 2003.

Violência Na cultura punk, a violência,

embora estigmatizada, nunca foi o tema central. O filme “Selvagens

Exposição de cartazes e fotos históricas durante o lançamento do documentário

da noite” (The Warriors) de 1979, por exemplo, fez grande sucesso

no Brasil e inf luenciou muitos jo-vens após ser exibido na televi-são aberta por volta de 1983 e mos-tra brigas de gangues do começo ao

fim com uma leve alusão ao que seria o visual punk. Além disso, a famosa reportagem de 15 minutos do “Fantástico” exibida no início deste mesmo ano também contri-buiu para criar essa imagem vio-lenta e degenerada do punk. Na ocasião, antes de gravar, a repór-

ter chegou a pagar bebida aos ga-rotos para deixá-los em situação o mais desconfortável possível perante as câmeras.

Mas foi aqui mesmo em Lon-drina, na década de 90, que essa imagem negativa ficou de lado. No cenário do rock “underground” composto de poucas pessoas mais ativas, todos se uniam e se divertiam. Os skatistas, os meta-leiros e os punks frequentavam os mesmos espaços, e na maioria das vezes mantinham boas rela-ções. Para o tatuador Celso Batis-ta, “em londrina não tinha divisão punk, metal, rivalidade, a gente era só amigo”. Nesse contexto de amizades e fanzines, também se formou o coletivo anarquista “Gra-lha negra” que, aos domingos na sede do DCE da UEL localizada

“não devemos temer os que detêm o poder... os explorados precisam de

se unir para o sistema destruir”

Garotos Podres, LP Mais do que Nunca – 1985

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1988 – Show da banda “Desordem e regresso”, cancelado no colégio Maxi após a direção se deparar com essas pessoas “estranhas” para a época. O show teve que ser realizado no local apertado do ensaio

Punks em Londrina na década de 80 e integrantes da banda “Desordem e regresso”

3 de novembro de 201122

“meninas curtindo punk rock, eu fiquei maravilhado: nossa

mulher gosta!”Luis Eduardo “Cientista”

na esquina das ruas Piauí com Hugo Cabral, promovia encontros libertários e discussões sobre os mais diversos temas.

A Hard MoneyCom experiências

anteriores e uma von-tade imensa de agitar e tocar Ramones, em uma época em que pouca gente conhe-cia essa banda na ci-dade, e também criar músicas próprias, em 1991, os amigos “Cientista” e Herber Hatada, que então tinham uma banda chamada “Merda” e cujas canções chamavam-se “Merda um”, “Merda dois” e assim por diante, convidaram Rei para in-tegrar o grupo. A primeira forma-ção da Hard Money se consolidou com a entrada de Jean Ruzycki, então com 15 anos, no baixo.

O primeiro show foi um exem-plo da determinação que tinham em agitar a cidade. Após muitos

nãos, conseguiram dois patrocí-nios e a ajuda financeira de um amigo. Espalharem cerca de mil cartazes pela cidade e consegui-ram lotar o DCE da UEL. De lá para cá, quem participou dos sho-

ws da Hard Money re-lata uma energia in-crível.

Para o músico e p r o d u t o r de eventos (como o fes-tival Rock

Nova Cena), Marcelo Sapão, os “shows eram alucinantes de ver-dade, de você chegar e: meu, o que está acontecendo?”. Quem viveu a época relata tudo de ma-neira nostálgica. No meu caso, pude apenas acompanhar o show de comemoração dos 18 anos da banda em 2009, no já extinto bar Strettos. O que posso dizer? Pri-meiro, foi surpreendente consta-tar que a maioria do público tinha

mais idade do que eu. Além disso, foi uma energia incrível. Lembro do Cientista dizendo “Um, dois, três, quatro”, e por mais de uma hora o público agitou muito ao som dos “Hardmoneys”. Ao final, a tradicional participação como vocalista da lenda londrinense do BMX e atual diretor do Departa-mento de Bicicross da Confedera-ção Brasileira de Ciclismo, Fábio Polici (o “Hardcore”), foi apenas mais uma lembrança de quanta gente bacana passou por Londri-na nos anos 90. Enfim, com certe-za, um dos shows mais divertidos que eu já vi.

Embora hoje muitos pensem que a Hard Money foi apenas uma banda cover do Ramones, ela gra-vou 4 demos com músicas pró-prias e fortaleceu a cena do rock em Londrina. Além de fazer mui-tos shows fora, este fortalecimen-to permitiu que bandas de outras cidades viessem para cá. Dessa forma, difundiam aqui as ideias e o som que se fazia de forma in-dependente em outros cantos do

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Demo lançada em 1993: uma das primeiras capas coloridas entre as bandas independentes brasileiras

1994 – Terceira formação: Robson (guitarra), Rei (baixo e vocal), Bianca Pozzi (guitarra) e Cientista (bateria)

233 de novembro de 2011

Fanzine Cancro Cítrico, publicado entre 1988 e 1994

em Londrina

país. Muitas pessoas se dizem in-fluenciadas diretamente por este período. É o caso do baterista da banda Búfalos D´água, Lucas Ri-cardo, que acompanhou a Hard Money desde seu primeiro show em 1991: “a influência foi grande né, do Hard Money, desde o começo”. E o fanzineiro Ricardo “Punk” lembra que “não é apenas uma banda cover, era uma banda que tinha atitude e tocava a ci-dade pra frente”.

O lançamento Na tarde de domingo, 11 de

setembro, me encontrei com Luis Eduardo “Cientista” para saber mais sobre o punk rock em Lon-drina e também sobre como foi produzir o documentário Hard Money. A conversa foi informal e se estendeu a tarde toda. Para se ter ideia, foram cerca de três anos para recuperar e selecionar víde-os, fotografias, gravações e fan-

zines da época. Depois, mais um ano e meio de edição e produção. O resultado foram 200 DVD´s do documentário que estão a venda por um preço simbólico de R$ 5 e uma festa de lançamento que começou neste mesmo domingo

as 19h na Kinoarte e só acabou por volta da meia noite com a exibição do vídeo, a l g u m a s c e r v e j a s , histórias e

muitas risadas.Vale lembrar também que as

quase duas horas do documentá-rio contam com participações es-peciais de figuras como Rédson (banda Cólera) e Rodrigo Lima (baterista do Dead Fish), além de Marcelo Dominues, Paulão Rock´n Roll, entre outras figuras conhecidas e queridas na esfera do rock londrinense.

“em londrina não tinha divisão punk, metal, rivalidade, a

gente era só amigo” Celso Batista – tatuador

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