Revista Raiz 4 - Quase-Manifesto de tt catallão

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(MAIS OU MENOS MANIFESTO) POR TT CATALÃO OS FIOS DA TEIA EIS UM BREVE testemunho-testamento caótico, quase manifesto, nervoso e sujo pela poeira dos terreiros, em colagem de ouvidos, pára-choques de caminhantes, grafitagens, fragmentos de ruídos, recolhidos em diversos pontos de cultura de todas regiões do brasil, frases desconexas em busca da argamassa rede, fios ain- da em construção da grande teia, grávidos para devolver o caos sensível da nos- sa mucosa identidade nunca resolvida e eterna, do tanto que somos belicosamen- te em processo mutante, assim tudo foi escrito num só jorro, esquizo porém con- creto, desse conflito em confronto estilhaçado da arte sem enfarte, fora do mer- cado, porém viva, no ano da graça de 2006 por este simples peregrino de acasos RAIZ-4 Manifesto TT 09.03.06 18:02 Page 71

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Primeira TEIA (Encontro Nacional de Pontos de Cultura), SP, Parque do Ibirapuera - as rampas da Bienal viram ladeiras do Pelô

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(MAIS OU MENOS MANIFESTO)POR TT CATALÃO

OS FIOS DA TEIA

EIS UM BREVE testemunho-testamento caótico, quase manifesto, nervoso e sujopela poeira dos terreiros, em colagem de ouvidos, pára-choques de caminhantes,grafitagens, fragmentos de ruídos, recolhidos em diversos pontos de cultura detodas regiões do brasil, frases desconexas em busca da argamassa rede, fios ain-da em construção da grande teia, grávidos para devolver o caos sensível da nos-sa mucosa identidade nunca resolvida e eterna, do tanto que somos belicosamen-te em processo mutante, assim tudo foi escrito num só jorro, esquizo porém con-creto, desse conflito em confronto estilhaçado da arte sem enfarte, fora do mer-cado, porém viva, no ano da graça de 2006 por este simples peregrino de acasos

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– QUEIRAM OU NÃO entramos em trabalho de parto – os reben-tos ainda não se pronunciaram em fetos novos – mídia só perce-be o espetáculo quando ele vira produto, não alcança o processo– é difícil ver as tramas da rede – mas que las hay, hay – nós de-satamos os nós – compartilhamos a tentativa nova: somos os ver-dadeiros autores das autoridades – existir é resistir – estamos emgestação progressiva – vamos do jeito que vamos porque viemossempre assim: aos trancos, aos arrancos, entre o barroco, barra-cos e barrancos – a vida sempre revida – em colapso de exclusãoresponder, abusados: acontecer pela arte quando nos querem àparte – acontecer na presença quando nos querem invisíveis –acontecer teias de trocas – aí é que dizemos sim – esta é a novaameaça: ao não aceitar a canga, escangalhar – dobrar os joelhossó se for para saltar mais alto – estamos íntegros e integrais – aplenitude é a soma das nossas imperfeições – bem diz um grafitede rua lá no recife: “expresso com o que tenho”, expresso com oque tenho – quando digo sim, eu posso, digo sei, eu faço, aí eusou – viro o perigo na boca da meta, se encostar é pênalti, se avan-

– SÃO PAULO NÃO PODE PARAR por absoluta falta de estacionamento, então gira, gira, bate, combate e acaba dando creme nes-se leite coalhado – a vaca não vai mais pro brejo porque há uma churrascaria no meio do caminho – mas o brejo pode virar a roçanova nem que seja country minado – ou campo – ou é tudo ao mesmo tempo agora, de novo – é preciso parar com essa de “res-gatar a cultura popular” – quem precisa de resgate são os perdidos na fúria das novidades para consumo – o povo é o ovo do povo– criação permanente, em movimento, se não decifram são devorados – daí essa generosa avidez por carne nova no pedaço – osertão já virou marketing – glauber ao encontrar guimarães rosa em 1965 projeta seu riverão “prometeu domesticou o abutre quebicava seus fígado para dar o fogo ao humano” – lina bo bardi saiu da linha para revelar o que tava na cara de todo mundo e nin-guém via: “poesia é isca”, disse a bruxa do desenho brasileiro – via antes de enxergar – lina fundou o ardil da elegância bruta – sa-cou na medula – até hoje as academias anêmicasainda correm atrás do prejuízo – ranço da pança tó-xica: fast-food intelectual na farsa da informaçãofarta – poesia é isca: rime como quem comete cri-me – quem samba ginga quem não samba dá ofora – miami ou deixe-nos – ouvido no vidigal: “mor-to eu já tô só falta quem faça o serviço” – reacendera lampadarina de aloísio magalhães: fifó da generaleletric quando o bulbo queimado da indústria rea-cende com pavio e querosene jacaré – lágrimas demi cocodrilo verde – aloísio magalhães, morre em1982, veneza, quando defendia na unesco olindapatrimônio – desenhava dinheiro e morreu sem –latinidades obsoletas – arriba pancho vila isabelque botou bolívar no sambódromo – che nunca viupasseata tão gostosa – o carnaval é a greve geralmais eufórica do mundo – os caminhos do centronacional de referência cultural de aloísio foram di-cas contra o novo jeito malandro do colonizador:escapar do tal multiculturalismo europeu – reco-nhece, até respeita, mas não admite a santa pro-miscuidade dos mestiços – mantenham distância –não entrem na sala nem venham vomitar o nossocarpete – viciados em ácaros os burocratas do po-der têm horror ao suor – e o povo sua, e o povo soa,

çamos é gol – viemos paramisturar as fontes – direto naboca do gargalo – coca-colatambém é família mas andanas bocas de todo mundo –sem intermediários – a petentope o esgoto – perigosos pela doçura da mestiçagem – engolir para melhor assimilar e arrebentar por den-tro até que só reste traços e vestígios da pegada colonial – “se forem em política o que são em estética, esta-mos mortos”, ainda vibra aquele caetano de 68 – curto cicuta – o poeta desfolha a bandeira ainda trina gil etorquato – a geléia geral desidratada, pó em conserva – os jorros parecem interrompidos – saques ficarammensalão – das sacadas não mais carolinas e bandas só passam se tiver megaconcerto – nunca tanto “aovivo” nasceu morto – se o brasil acabasse assim vai ficar difícil selecionar os melhores momentos – porém osubterrâneo insiste – o que salva o oficial é o paralelo sem paralelo – as referências transmutam – a tradiçãosó vale enquanto extradição, porém ao entrar na roda e gira – magnífico como o povo brasileiro decidiu nãoser exterminado por tanta explicação – em constante movimento – já tivemos o pixinguinha jazz dos oito ba-tutas – hoje, xote soa reggae – pulse trance trota feito o cavalo marinho de mestre grimaldi, lá da zona da matapernambucana – do repente ao rap, eis que de repente não mais que de repente tua cultura atua, ata, ataca,atraca, atua por ser tua – cada nódulo da teia se encadeia e desfia os elos da corrente eletrizante – acupun-cultura – aquele velho do-in antropofágico – nó sem ser o câncer do overdrive – talvez por isso língua não te-nha osso – para gozar melhor entre as frestas – por isso estamos vivos – cidade feito cilada de armadas ilhas:

armadilhas nas ruínascontemporâneas – valemais a citação varonil doterno de sopros do mara-catu aliança ao encaixar atrilha de popeye em plenoberço da pureza de terrei-ro – povo que tem talo nãoquer tutela nem travela –utopias abortadas fiquempara o porre cerebral – oerudito pelo não dito –chororô das tramas fra-

– CELEBRAR A DIVERSIDADE, já fi-zemos – considerar a mestiçagem, jáprovocamos – proclamar a pluralida-de, já shoppingcentramos – então oquekié o “muderno” nesse salve-sequem subir? – qualé o pagode da artequando a cultura vira processo vivo eo artista deixa de ser bibelô da máqui-na para cair de boca na vida? – o po-pular continua mimético no imaginá-rio da culpa da casa-grande que avil-ta a carne e depois quer o regalo datrepada barata pela estética – o povoainda é fetiche para quem almoça ejanta e não perde uma balada digesti-va: o filho do patrão finge ser da tribopara evitar o choque – não foi de bo-beira que os operários franceses, nomitológico rebuceteio do maio de1968, alertaram aos estudantes exci-tados: “zona aqui na fábrica, não –aqui é nosso ganha-pão e vocês umdia voltam diplomados como novos

opressores” – deu no que deu – a apropriação do popular alimenta a diluição ou mapeia nossos abismos para retomarmos o elo perdido des-ta pindorama estuprada por um pau brasil de dimensões continentais? – o que muita gente detesta saber é que o povo está em movimento– aquela do gil: “o povo sabe o que quer, mas também quer o que não sabe” – no recife, em pleno seminário toques e trocas do afonso oli-veira, surgiu essa: “antes era o bravo mcp (movimento de cultura popular) ligado nas ligas camponesas enquanto um cpc (centro popularde cultura), mais paulista e carioca, rolava entre o morro e o asfalto. Agora o papo é outro, vivemos tempos da própria cultura popular no co-mando da ação: tempo da cpm, a cultura popular em movimento – será que a elite não satisfeita em tomar o corpo do povo, sua carne, a sei-va de vida, agora quer a alma, a energia desse povo manifesta na arte? – luiz, respeita januário! – respeito é bom e dá gosto – dor não é de-leite para elite – como bem disse o ferréz: “carentes são vocês que não param de querer e querem controlar e tomar tudo” – exercer o com-partilhar para tirar a última laranja da pilha: o resto despenca – o que é ruim vai cair por si, mas cada um pode acelerar o processo – cadaum com seu cada um não chegaremos a lugar nenhum, daí a urgência das redes – tua cultura é tua, tua cultura atua – fita do bonfim mag-nética em breve nessa nanocracia de pigmeus – melhor dribla quem desenquadra os quadris: eis o mistério do rock para os anglo-saxões,rebolar – precisavam remexer para alterar a rigidez das vértebras e deixar fluir esse kundalini – pélvis elvis não veio de graça – mas somos

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– O QUE É QUE VOCÊ QUER SER quando crescer? – o queé que você deixou de ser quando cresceu? – por que tantagente não quer que você cresça? – a novidade agora, alémda diversidade, da pluralidade, é que quem faz está na pon-ta de lança, recebe os equipamentos, processa a sua visãoda coisa, emite não se omite, não apenas recebe e repete,atua, tua cultura atua – de mala e cuia entre e-mail e caos –cacos são pontos que unidos desenham linhas pra fazer mo-saicos – sair da platéia e ativar – sair da fila do gargarejo eagitar – levanta e manda – essa é a diferença – o estado compolítica pública para entregar as armas aos cidadãos – umaconvocação marselhesa de arte e prazer – agora é a co-ins-piração já que as conspirações se esgotaram no corriqueiro– cordialidade das raízes do brasil, no sentido do córdio –mais coração que cordato –

– RODRIGO DE MELLO FRANCO continuamais raiz que a mandioca do xinguano arita-na – os yawalapíti contra a tribo dos “carape-cus”: uma gente que não entra no rio e sólava a cara, o pé e o que falta para ser lavado– o xingu sabe que está cercado mas vai usara teia para romper o cerco – na emergênciada memória – também imaterial – ressignifi-car o que ficou para continuar sendo – peloúltimo grão que resta semear outra floresta –eles venceram, mas enquanto sobrar um dosderrotados eles terão que engolir ou cuspir – a inocência desestabiliza – nos organizar para desorganizar – a pureza é a soma de tudoe mais um pouco ainda – se lúcio e oscar fizeram o primeiro poema concreto das contradições brasileiras – é possível ressignificaras muitas brasílias resistentes na brasília mais de casca – as aparências esganam – uma catedral cocar ou coroa de abacaxi – en-tre os vãos e vens da pampulha – os vaivéns dos pulhas – o trançado da teia entrelaça não para prender mas para fortalecer o umcom mais um – enquanto duas torres gemem no congresso – enquanto a esplanada dos ministérios é uma placa mãe de slots à es-pera dos nossos inputs – brasília pode ser a utopia abortada, mas que feto! – quanto mais interior mais exterior: litoral recebia e gi-rava no seu umbigo capital – agora o sertão processa e devolve por cima: as ondas estão no ar – navegar é o mesmo verbo pro ar e

o mar – em brasília tem o mamulengo prese-pada com os mambembrincantes de rua: es-quina é onde a gente funda – tatuagem decarne no asfalto – se a gente diz: a cidade énossa, a gente toma – a primeira lei do guer-rilheiro é não cair no despertar – e aí vai semcair na tarde, e menos ainda na noite – até aoutra manhã – e aí novo despertar, sem cair,vai e vai e vai – artimanhas de sobreviver semos tubos – qualidade de vida vale mais – enão se trata de folclorizar a precariedade –mas superar a sucata – o digital vai além dosdedos e muito mais além dos dados – o dnado dono é o controle – quando mais e maisgente decide sair do cerco o circo pode pe-

– SUELY CARVALHO é ponta de lança emolinda – mãe matriz de todas as parteiras:cais do parto, seu ponto motriz – ela ensinaos homens a parirem – beth de oxum temum coco para 20 vozes infantis – é a umbi-gadinha que ilumina os becos periféricoscom o ardor da verdade libertária – nãochoram pelos cantos: cantam – gueto eunão te agüento – esse brasil faz e aconteceenquanto tece a teia – lula gonzaga faz ani-mação com xilo em igarassu pernambucoe diz: volpi contar – no vidigal subiu umasala de edição entre o mar e a favela – visãoda beleza e do caos, literalmente magnífica– assim mergulhamos nas contradiçõespara sairmos do impasse – se mazzaropi dáhip hop, matarazzo tira o atraso? – da lamaao caos só sairemos dessa se entrarmosmais fundo nessa – da science do chicoainda o suingue – a cabeça do outro, chico,o buarque, os panfletos elegantes – na fa-vela da maré, de complexo mesmo só o dasuperioridade: a superação – não deixo elesme botarem pra baixo: se me pisarem vãoescorregar – sou esguio por não ter guias –capa de revista – afroreggae e favela rising– entro nas brechas ocupo as frestas –aprendi com a água que acha saídas equando se junta sabe ser fúria incontrolável – do moleton ao molotov – ceilândia, no df, põe hippies e ripas no hop – a cidade se dá aquem se doa – cidadania só é boa quando conquista – não são as asas que permitem o vôo, mas as atitudes – no baculejo do ganzá –um fole de bandoneon no sul, uma rancheira resfolega no centro-oeste, em cima, funga no cangote os oito baixos nordestinos – con-certos sanfônicos – bumba meu boy – entre o mar de lama e o de lamê – o murro nas lamentações – se perderam o boeing da históriapeçam carona ao reisado guerreiro de mestre benon das alagoas, ele disse: “a terra é que move o movimento” – toadas onde mora ocálix bento e a hostess, ambos consagrados – darcy ribeirinho ainda corre – a casinha de villas bôas é preciosa e precisa, já, urgente,virar o memorial do xingu lá no posto leonardo do prefeito caboti – nos terreiros informatizados santo não baixa mais: tem download –ogum com seus ferros e berros recorre a justiça infinita de xangô pelos veios profundos de nanan aos batismos das águas de oxum istosem cair o sinal – e se os “bolinhos de jesus” vencerem o acarajé? – batmacumbayêyê, batman – mais falam em “coisa do demo” mais

– ONDE VOCÊ ESCONDE o seu racismo?– isso incomoda, ruge – racismo range,racismo finge na pior das máscaras, asmais caras: “você não me incomoda por-que você sabe qual é o seu lugar” – a mí-dia come o pastel de vento da opiniãoproduzida – massas falidas – recortagensredundantes do guarani ao guaraná –não ponham corda no meu bloco, quantomais no meu pescoço – tv eletrodomésti-co – tambores digitais – surubas digitais – abaixo a igrejauniversal do reino do chip – viva o portal libertário – mousesem mickey – farinha pouca nossa piração primeiro – a tro-picália ainda vive em conceito embora tenha dançado comoproduto – e vocês, sabem com quem estão falindo? – a cons-piração da mediocridade é forte, mas não vai nos desdentar– “deus, quando tirou meus dentes, reforçou a gengiva” dizmestre quadrado no aruê-pã da ilha de itaparica – afffuuuuáé a respiração do boto na ilha de marajó – virou cidade: afuá– que não tem carro e trafega bike mais que amsterdã po-rém seus moinhos giram sob as palafitas: “menino sai debaixo da rua e entra”, gritam as mães em suas casas de ma-deira, cada uma com uma fachada – e há muitos brasisacontecendo sem que a mídia dê conta de contar – é girodemais para uma pomba gira só – mestre sabá vive lá nomacapá e é zumbi em tempo integral no quilombo do curi-aú – são os quadris revolutos que desestruturam qualqueresquadria da velha revolução –se a cidadania virou moda toma-ra vire modelo e exploda a medu-la do sistema – responsabilidadesocial tem apelo, então socialize-mos os irresponsáveis –

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– MALANDRO QUE É MALANDRO não cai: trepicae sarta de banda – malandro que abre o bico perdeo gás – fala xangai: quequitutemcanário? – fala elo-mar, suassuna, o barro do manoel: pantanal é chãoque mexe de tanto rio por baixo – e os rosas do rosa– ainda e sempre nossa língua afiada feito punhalde lampião – zapeia pra faltar audiência – blogueiapra inventar a teia – fanzina pra desmontar o best-seller do apocalypse – todo poder poda – assuma omando, desmande o comando – a fim de querer, a fim de fazer – perder o focogeral é como ver futebol na tv: só mostram a jogada com bola e nunca a visãodo jogo – daí nossa pátria de chuteiras tender ao estripamento das idéias – va-mos por partes, fragmentamos como o frango assado da cultura caderno 2 do-

beleza, segurança, festa e escola – temos é de tiraras crianças de dentro de casa: lan house dessedoce lar com fritas e obesidade precoce – sob o ris-co de um país em lerdos rebanhos espumantes noódio passivo dos que repetem “isso não é comigo,isso não é comigo” e “eles que se virem, eles quese danem” – diz o poeta turiba “ou a gente se rao-ni, ou a gente se sting” – em algum momento dodia quem está no volante vira pedestre e aí... –

– NÃO ACEITEM O BRASIL POR TABE-LA – o brasil traduzido – o brasil vai pe-gar no tranco se a gente pegar na veia –há um brasil acontecendo à revelia –não tem nada nada nada que traduzaessa enorme maravilha caótica em per-manente processo de ebulição trans-mutação rebelião e desestabilização –não espere que alguém venha lhe mos-trar o que é para ser visto – abra seusolhos por conta e risco – lugar quente éna cama ou então no bola preta, poisquem não chora: miami – se você achaque a realidade está no que ouve lê ouvê pela mídia, escape dessa necrofilia –a mídia ela se arrasta atrás do fato, de-pois de acontecido – com formol lhe dáformato editado filtrado para adotarcara de notícia – como lembrou caymmipara evitar trio elétrico “eu não sou ca-chorro bobo pra correr atrás de cami-nhão” – direitos humanos, ótimo – tam-bém direitos mundanos – arte aliada damudança – direitos mundanos aplica-dos na correria da hora: o poder do co-mum – pessoa sim, peça não – quemtem de ser especial é você e não o seucheque – veja como tem medalhão ba-bando pela perda da teta no balcão dosnegócios consagrados – cala que as coi-sas falam – o outro pode ser eu peloavesso – se eu converso, eu convexo – ooutro sou eu quando verso – versão doque ainda não me tornei – aversão doque ainda poderei ser – se é pra ficarsentado, na espera, então pra quê estar

– EM CIMA DAQUELE MORRO temum pé de jk, quando os hômi atiramforte só se ouve ark – eu só quero é serfeliz andar tranqüilamente no lugarque escolhi – claudinho e buchecharesumiram o projeto do século – mi-nha terra tem motosserra onde antes,sabiá – quem sabe sobra – um inglêsassina protesto pela amazônia em finamesa de mogno – quem cyber cyber,domina bem: informação é poder, de-formação é domínio, manipulação écontrole – luzinete, marinete, ivonete,rosenete, irmãs cajazeiras do sertãosem acesso à internet: a farsa da infor-mação farta – sem contexto, consciên-cia e sentido – cabocolinhos – aguilaré jedai, ou desce – suas espadas deluz para cortar a midiocridade que nosimprime – lampião caolho, camões se-miótico – há servos demais – a culturatem a ver com roça: você roça, roça seenrosca até que dessa fricção científi-ca sai alguma coisa – bertazzo vive oteatro de revista em revista – consciên-cia – “por que uns e não outros?”, foi atese de doutorado na puc de jailsonsouza e o início do ceasm centro deestudos e ações solidárias das 16 co-munidades da maré 1997 – difícil nãoé morar onde eu moro a dificuldade é

não permitir que eu acesse outras moradias e lugares – “patrulha tropa de choque traficante tiroteio e acidade te pergunta: tá com medo, por que veio?” diz bráulio tavares no folia guanabara, que significa“seio d'água tão grande quanto o mar” – na maré a praça do 18 é dos fortes – ainda bertazzo: “tenho sem-pre a impressão de que a construção de um espetáculo representa, em mínima escala, um possível sis-tema de organização: urbana, civil e democrática” – enquanto boal abóia, amir rima e o teatrão fica lou-co para virar alvo de pombo nas estátuas da glória – saravá sarah vaughan – consonâncias da mesmaressonância: como as inserções em circuitos ideológicos de cildo meirelles ao colar adesivos em garra-

minical – sem o conjunto do geral otodo e tédio – tamanduá fuxica atéachar, queria oswald contra a anta bo-quirrota e lerda dos tapuias – tabu e to-tem – totaliza tanta contradição numpaís só – tomar todas – com licença,posso vomitar no seu carpete? – a vidapulsa lá fora – no chã de camará, per-nambuco, um caboclo está na pontade lança para virar são jorge e o avesso– em terra de maracatu, maracutaia étroça – feio é morrer de toca, melhortombar na tocaia – só o mané manera– chega de reconstrução – a onda é re-virar a novidade – cilada de vacilão ésempre achar que já sabe tudo – quemtá pronto tá acabado – cagada de phdtem explicação brilhante – o meio am-biente começa no meio da gente – es-capamos da cadeia alimentar das fe-ras – caímos no código de barras –marmita de gravata é fast-food – spray:mato tua sede parede – grafita de fato– imprensa cultural virou roteiro de en-

– ZÉ LIMEIRA embala nise da silveira que embola arthur bispo e desvenda nossa lucidez domesticada – pânico do des-controle – veja lá se esse povo aí vai ultrapassar os limites? – é a pizza neoliberal do manjericão chupando manga –dandy ou dendê no maracatu de aliança: como a tradição está morta? é um mestre de nove anos, o gabriel, anjo doboi estrela: e tem uns que dizem pra tirar as crianças das ruas – as ruas é que devem ser devolvidas às crianças com

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