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Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão ISSN: 1645-4464 [email protected] ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa Portugal Lustosa da Costa, Frederico; Marinno, Elza fome de bola. O futebol no Brasil e os desafios da gestão esportiva Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, vol. 4, núm. 1, enero-marzo, 2005, pp. 42-55 ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa Lisboa, Portugal Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=388541363005 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Revista Portuguesa e Brasileira de

Gestão

ISSN: 1645-4464

[email protected]

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa

Portugal

Lustosa da Costa, Frederico; Marinno, Elza

fome de bola. O futebol no Brasil e os desafios da gestão esportiva

Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, vol. 4, núm. 1, enero-marzo, 2005, pp. 42-55

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa

Lisboa, Portugal

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=388541363005

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Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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f me de bolf i:e~oi no Brasil eos desafios da gesUío esportiua

por Frederico Lustosa da Costa e Elza Marinno

REsumo: otrab~lllo se u~le do conceito de gestllo esporliu~ edos fund~mentos d~ sociologi~ do esporte IJür~ dis­cutir ~ gestaodo futebolno Brasil, ~ p~rtir de um tr~b~lllo de consultori~ re~lizado pel~ fund~~ao Getulio U~rg~s

junto ~ Confedera~ao Br~sileirtJ de futebol [CBf).Palavras-chave: Fulebol Brosileiro, Gestao Esporlivo, Sociologia Esportivo, Esparte como um Jogo, Espectáculo e Negócio

TillE: Cllallenges of sports m~nagement ~nd footb~1I in BrazilABSTRACT: lile present worlluses tlle concept of sports m~n~gement ~nd tlle fundament~ls of slJOrts sociology todiscuss footb~lIl11~n~gement in Br~zil, talting ~s adep~rting IJoint ~ consulting luorll produced jointly by tlle GetulioU~rg~s found~tion ~ml tlle Brazili~n footb~1I feder~tion [CBf).Key words: Brozilion Football (Soccer), Sporls Monogement, Sparls Sociology, Sporls as Game, Play, Sho\'{ ond Business

«As regras impost~s aos jogos de espirito sao pmntes próxil11~s d~quelas impost~s aos jogos de esMdio.»Paul Ualéry

nos últimos 15 anos, muilo se lem discutido sobre aemergencia de novas domínios no campo do gestao

aplicada. Cagita-se da exislencia de uma gestao

ambiental, de uma gestoo social, de uma gestoo cultural ou

oinda de umo gestoo esportiva. Supoe-se que haia em cada

um destes campos especificidades que requeiram umo formo

particular de ploneiar, controlar e organizar a 0,00 de indi­víduos e grupos em favor do meio-ambienle, do bem-eslor

social, da preserva,oo e explora,oo do patrimonio cultural e

das próticas e negócios esportivos.

De falo, nesse mesmo período, estes seteres tornarom·segrandes geradores de oportunidades de emprego e renda

no mundo contemporéineo. Com o aumento do consciencia

ecológica, a amplio,oo dos espa,os de solidariedade e

coopera<;ao e a necessidode de preserva<;ao dos bens sim­

bólicos, os problemas suscitados pelo gestoa de políticos enovos negócios setoriais se apresentam como oportunidades

de aprendizagem e exercício de competencias gerenciois

insuspeitadas. O crescimento da indúslria do esparte e do

entrelenimento, e.g., deu a problemática da gesloo esporti­

va umo dimensoo dos mais expressivos.

Mas, afinal, ern que consiste o geslao esportiva? Quais

sao suas especificidades? O que a distingue do gesloo ambi­

ental, social ou cultural?No Brasil, opesor do ovan,o da mercantiliza,oo dos

espartes, com o aporte de grande volume de capilais de

investidores, só muito recentemente os clubes, associw;;óes e

federas6es possarom a trotar os seus negócios de formaempresarial. Se o esparte é profissional, a gestoo esportivo

nao pode ser amadora.

no Brasil, apes~r do auan~o da mercantiliza~ao

dos esportes, com oaporte de grande uolumede capitais de inuestidores, só muito recentemente

os clubes, associa~iles efedera~iles passaram atrataros seus negócios de forma el11pres~rial.

Se oesporte éprofissional, ~ gestao esportiuanao pode ser amadora.

42 1nEUlsm POnTUGUESn EonnSILEmn OE GESTño

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ESTUDOS

a~ÓOi

• modos singulares de dividir o trabalho e dislribuir autoridade

e responsabilidades entre instituic;óes, pessoos e grupos;

• lógicas próprias de 010co<;60 de recursos;

• mecanismos únicos de tomadas de decis60 em ambientede rede e clima de ¡ncerteza;

instrumentos especiais de integro~óo de esfor~os e de

o,óes (Covolconli, 1994);métodos específicos de ovolia,oo de resullodos e controle

social da gesloo.

,,\~~

1Considerando essas especificidades

do gesloo esporliva, a CBF resolveu

investir no modernizac;óa do gesta~

interna e do sefar como um todo,

transformando estruluras, reexami·

nando bases de financiamenfo,

revendo calendórios e proponda

mudan,os no legislo,oo pertinenle.

Como parte dessa eslrolégio, con·

tralau a Funda,oo Gelulio Vargas

paro fozer um diagnóstico do

modelo vigenle, propor um plano de desenvolvimenlo e con·

ceber um programa de moderniza,oo da gestoa do fulebolbrasileiro. Umo primeiro etapa desse trobalho foi realizada

no ano 2000. Levanlamenlos de campo, colela de docu­

mentos, opljca~óo de ques¡ionórios, entrevistos em profundi.

dade e urna série de semin6rios permitiram formular urna

descri,oo densa da realidade alual do fulebol brasileiro epropar alternativos pora sua modernizac;áo, sobretudo no

plano da gesloo.

O presente estudo resume, assim, algumos das conclusáese proposlos de um Irabalho que mobilizau uma grande

equipe interdisciplinar e consumiu mais de seis meses de

elabora,oo. Antes de apresentar os dados colhidos no

relalório do projelo de assislencio técnico da FGV, esle lexto

propóe uma curto reflexoo sobre o sociologio do esparte esua aplica<;óo agestao esportivo. Em seguida, faz uma breve

Este trabalho se propóe a contribuir para ainvestiga~óo da nolurezo e das característi·

cas da gestao esporlivo, a partir do exall1e

da experiencia da Confedera,óa Bra­

sileira de Fulebal (CBFI. Trola-se deidenlificar na 6mbito do com­

plexo corporativo, os óbices que

se inlerpóem ó gesloo eficiente,

eficaz e efeliva da esporle e for­mular alternativos de arranjos ¡nstitu-

cionais e empresariais capazes de vencer a tendencia afrag­

menla,óo da político e da gestóa espartiva.Para os propósitos deste Irabalho, o conceilo de geslóo

esporlivo, ou melhor, sua def¡n¡~óo operacional! contempla

a anólise de:• formas particulares de canceber a polifico de espartes,

organizar insljtuj~6es, clubes e empresas e plonejar sua

FredericQ luslosCI dCI [email protected] em Administrm,oo Público EBAPE-FGV) e ern Comuni(o~óo Polílico (Universilé de Poris 1). Professor do Escolo Brosileiro de Administro~ao Público e deEmpresos (EBAPE) do Fundo~ao Gelulio Vargas (FGV), Rio de Joneiro, Brasil. Director no Brasil do Revisto Porluguesa e Brasi/eiro de Ges/ao.Moster o( Public Adminis/rolion (EBAPE-FGV) ond Po/ilie Communicolion (Universi/é de Poris /). Pro(essor o( fIJe Brozi/ion Sehool o( Publie Administro/ion ondBusiness o( Ihe Gelulio Vargas Foundation, Rio de Joneiro, Brazi/. Direclor in Brozil o{ Revis1a Portugueso e Brosileiro de Gestao.

Elza [email protected] em Hist6rio Sociol (IFCHS-UFRJ). Pesquisodoro e Professoro Substituto do Deporlomenro de Filosofio e Ciéncias $ociais do Universidode do Rio deJoneiro (UNIRlO), no quolidode de Bolsisto do FAPERJp, Rio de Joneiro, Brosil.fIJD in Sociol Hislory (Federol University o( Rio de Jone;ro). leclure, 01 lile Rio de Joneiro University (UNIRlO), os fellol'l of Ihe Foundo/ion of ReseorciJ Supporto{ Rio de Joneiro (FAPERJ), Rio de Joneiro, BroziJ.

NoloEste es1udo foi originolmente escrito como um posilion poper do FGV Projeetos - Unidode de Consultorio do Fundo~óo Ge1ulio Vargas, a partir de um relotóriodo Projeeto de Assistencio Técnico paro a Confedero«;óo Brosileiro de Futebol (CBf), reolizado no ono 2000. Os outores ogrodecem 00 Prof. Bionor Covoleonl¡pelo proposi«;óo do temo e pelo estímulo o reoljlO~óo do lrobolho, e oos coordenodores do projeeto, os consultores César Cunho Compos e José AntónioBorros Alves, pelos subsidios do moleriol de base e seus depoimentos.

Recebido em Oulubro de 2004 e oceite em 10neiro de 2005.Received in Oclober 2004 ond oceepled in JO/luory 2005.

Jnn,"10112005 43

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recuperac;aa do história do futebal brasileira, procurando

compreender o esparte a partir dessa perspectiva sociológi­

co. Aterceira porte tece um panorama do realidade atual da

rulebal brasileiro. A elapa seguinle resume o diagnósticaapresentado pela FGV Projetos sobre os principois entroves

00 bom desempenho do esparte no Brasil. A última porte é

dedicado ó exposic;ao dos príncipois propostos do plano. As

considera~óes finois resumem os principais achados do fra­

bolho.

futebol esociedadeMotriz de socioJjza~óo e lransmissóo de valores, formo de

sociobilidode moderno, instrumento de educac;ao e fonte de

soúde, o esparte desempenho um importante papel no lar·mac;ao do homem e do vida em sociedode. No caso

brasileiro, o lulebol é parte fundamental do culturo do País,

lomado cama represento,ao do identidade nocional - o'Pátrja de Chuteiros', na preciosa express60 de Nelsan

Rodrigues. É, segundo diferentes lormos de representac;ao,

esparte, ¡ogo e espetóculo ritual. E no mundo contemporo­

neo, o lutebol é tombém um grande negócio que movimen·

ta bilhaes e bilhaes de dólares. Constitui, portanto, fenó·meno social observóvel no vida cotidiana.

Compreender o esparle e, em particular, o futebol

brasileiro, o partir dessas diferentes perspectivas, requer

exominó·lo nao só como objeto de urna Sociologio especial

- o Sociologia do Esparte -, mas também como prótica

social e economico capaz de objetivar-se na a~óo racionali­zodora dos processos de Geslao.

A Socialagio do Esparte, assim como outros Sociologios

especiais, examino os fenomenos sociois, no caso, os jogos

competitivos, a partir do análise de dais processos ¡nerenles

ó modernidode que Ihe serviu de ensejo e objeto: o secu/ori·za~áo e a rociono/izoc;óo.

A secu/arizoc;ao diz respeita 00 desencantamento do

mundo, vale dilOr, ó substitui,ao das explicac;óes de carótermágico ou religioso para os mais diversos fenómenos por

aquelas de naturezo racional, técnico e científico. Éprocesso

característico da mudan~a social que constituiu os econo­

mias de mercado e as democracias de massa, onde as nor­

mas sociois se baseiam mais em cálculos ulilifários e regrasescritos do que em mitos e tradi,aes.

no caso brasileiro, ofutehol éparte fundamentalda cultura do Pars, tomado como representa~llo

da identidade nacional - a'Pátria de Chuteiras',na preciosa expressllo de nelson Rodrigues.

É, segundo diferentes formas de representa~llo,esporte, jogo eespetáculo ritual.

Ora, o esparte nasceu cama jogo, no duplo sentido deplay (brincadeira) e game (jogo), consistindo ern urna ativi·

dade essencialrnente lúdica, de caróter ritual. E os jogos

eram parte de celebra~6es religiosas, destinadas a reveren­

ciar os deuses e engrandecer suas festos. Pelos exigenciasfísicas, celebravom também o carpo, o juventude, a belezo e

o for~a. Eram - e seo - consubstonciais a cultura.

Mesmo o esparte moderno, noscido desvinculado de ele·

mentos religiosos, sempre foi cercado de manifesta~óes rilu­

ais e crendices. Apesor do crescente profissionaliza~áo, osuniformes - a comisa da equipe, antes de estamparem pu­

blicidades, eram venerados pelos torcedores, quase cama

obieto de adora,ao. Dai surgiu o expressao 'fanólico porrulebol'.

Até recentemenle, quando o futebol no Brasil oinda nao

tinha seguido tao de perta o padrao internacional que dó

enfase 00 aspecto comercial, urna certo áureo de sagrado

cercovo o comporlomenlo da torcido e dos jogodores. Aindohoje, nas grandes decisóes, os torcedores recorrem as suas

cren~as tradicionais quando se veem na irninencia de perder

urna partida ou, em quolquer situa~áo, para garantir avitória de seus times.

Corno parle do processo de racianolizoc;ao, o espartemoderno perdeu o seu caráter religioso, mas conservou o

culto 00 corpo e um certo conteúdo lúdico. Entretanto, a

brincodeira esportivo é um negócio muito sério que, há

muito, deixou de ser urna atividade desinteressoda e gratui­ta. Passou·se do jogo 00 esparte nao· lúdico, urna atividade

utilitária regulada por normas estritas. A própria imprevisi­

bilidade do iogo foi senda atenuada pelo lógico racionali·

zodora das competi~óes, seus regulamentos e cálculos, paraolém dos diferen,as e particularismos.

No quadro atual, acredita-se que "fica cada vez mais difí­cil para esfe torcedor fanático prestar reverencia o um obje­

to que, hoje, esteja servindo como veículo de camercializo-

441 REUlsm PORTUGUESn EBRnSILElRn DE GESTñO

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ESTUDOS

~ao» (Helol, 1990, p. 43). A seculariza~ao do esparte mo­derno se traduz, porlanto, no profissionaliza~óo, na mercon·

tiliza~aa do joga e dos atletas e no perdo do óureo sagrado

do espelóculo, pora usar a express60 consagrada por Waller

8enjomin. A mídia, 00 espetacularizar oindo mais o jogo, o

sacraliza. Aa expor e potencializar o caráter mercantil do

esparte, dessacraliza·o. Trata-se de um comércio sem

Mercúrio, o mensageiro dos Deuses.

A racionolizar;óo trata do uso do rozao instrumentol no

a~áo humana. Significo tomar atitudes e decisóes descartan·

do os elementos de nalureza pessoal, afefiva e emocional. A

eficiencia torna-se um valor normativo prioritário para o

esparte moderno e o quontifico~ao dos feitos atléticos uma

exigencia fundamental das máquinas competitivas. Trato-se

do tendencia de transformar quolquer atividade esportivoem algo que possa ser medido e quonlificodo. As eslolíslicos

tornam-se loo importantes quonto os eventos. O fulebol

tombém segue essas mesmQS regreso

A quonlifico~ao geralmente se foz ocomponhar de outro

fenomena rnvito freqüente no mundo esportivo que é a

especioliza~60, quando se busco vme defini~óo precisa dospopéis o serem execulodos pelos oiletas (ce desenvolvem-se

estrotégios e fálicas de jogos cado vez mais formais, rígidas

e calculistas, que visarn, em última instancia, a um melhor

desempenho dos atletas e dos equipes nos competi~6es"

(ibid., pp. 46-47).

No coso do fulebol, o jogodor de hoie é Ireinodo poro

desempenhor fun~6es cada vez mais específicas, 00 invés de

exercitor suos habilidades e ocupar diversos posi~6es emcompo. A voloriza~ao do atleta especializado coloco em

segundo plano o versotilidade habitual do jogador

brosileiro, capaz de se posicionar na zaga ou no campoadversário, movendo-se (om facilidade enlre seus con­

lendores, com o gingo de carpo dos famosos dribles e pos­

ses do chamada futebol arte. Aa invés do hobilidode, o léc­

nica; 00 invés do oportunismo, a velocidade; 00 invés do

craque polivalente, a máquina de músculos.

A intradu~ao do uso de oporelhos tecnológicos conferemais rocionalidade e precisaD matemática 005 processos de

especiolizoc;óo, que odquirem, assim, uma novo legitimi­

dode, emboro os resultados esperados, do ponlo de visto do

olrolividode do espelóculo, oinda nao sejom loo oni-

Jllnlnmn 2005

modores. Segundo os principais comentaristas, os perspecti­

vas sao de que a crescente especializa~ao técnica e meccmi·

ca acabe por ofoslor codo vez mois o fulebol do esfera dolúdico/ que tinha como principois característicos o criativi·

dade, o inventividade, o improvisa~áo e o espontaneidade

(ibid., p. 48). É o imposi~ao do lógico do futebol eurapeu

sobre o reslo do mundo/ cam a potencio financeiro de seus

clubes e o 'domeslico~ao' de ollelos lolino-omericonos e

africanos.

Para além do seculariza~ao e da rocionaliza~óo, a con·

sogro~ao do esparte como prótico social legítimo e reconhe­cido também pode ser visto como porte do modernizo~ao do

mundo ocidenfal, de seu processo civilizatório, no senfido

que Ihe olribui Nobert Elios. Segundo esso perspectivo, aquiexposto de formo muito simples e esquemótico, o predis­

pos¡~ao humana de agir segundo seus instintos e poixóes

para sotisfazer suas necessidodes gera tensóes e ameo~as avida social. Na sociedade ocidental, a sobrevivencia e o

desenvolvimento sao garantidos pelo crescenfe confrole

exercido sobre esses apetiles - primeiro, pelo poder coerciti­

vo do Estado; em seguido, pelo inlerioriza~ao dos normas de

condulo social. Éa inibi~ao dos instintos primários o que se

referia Freud, vale dizer, o ouloconlrole individual de Elios,

que vai domar os impulsos libidinois, ofetivos e emocionois

e conter a violencia que Ihes sao inerentes. Porém, por mois

que se civilizem os costumes, os gestos, as expressoes cor­

porais e as moneiras amesa, resta uma tensao individual e

coleliva que produz o mol-eslor do civiliza~ao.

Éoi que o esparte vem fozer o seu iogo. Ele opero como

umo espécie de vólvulo de escape, ande os homens conlidos

pela repressao exterior e interior/ podem exercitor o violen·

cio legitimo, dentre de um espa~o físico e social delimitado,sem ir olé o limile doqueles impulsos deslrulivos próprios do

suo luto pelo solisfo~ao dos necessidodes mois primarios.

Para Elios/ «((ette 'sportificationl des passe-temps - si je puis

me permettre cefle expression pour traduire leur transformo­

tion en sport dons lo sociélé ongloise - et le développement

de certains dlentre eux aune échelle quasi mondiale sont un

autre exemple d'accélérotion du processus de civilisoliollll

(Elios e Dunning, 1986, pp. 28-29).

De fatol a maior parte das sociedades humanas esta·

beIeee mecanismos para se proteger contra os lensoas que

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Por mais que se ciuilizem os costumes, os gestos,as expressoes corporais eas maneiras ~ mesa, resta

urna tensaD indiuidual ecoletiua que produzomal-estar da ciulliza~ao. Éar que oesporte uem

fazer oseu jogo. Ele opera como urna espéciede uilluula de escape. Osport permite um nfuel

de excita~ao legitimada.

elas mesmas criam. Aquelas que jó otingiram UIll nível rela­

tivamente ovanc;odo de civilizor;óo, no sentido do recalca·

mento das pulsóes violentos, em virlude de um maior grau

de sublimoc;óo, realizam uma grande voriedade de otivi­

dades de lazer, sobretudo esportivas, que cumprem a lun,oo

de reloxar as tensoes e o stresse gerados pelo recalque da

ogressividade. O sport permite um nível de excita,oo legiti.

moda (ibid., p. 53).Afun,oo catórtica do esporte jó havia sido antecipada por

Thorstein Veblen, que o vio (como um meio de desrecalque

comparóvel ó guerron, só que de maneira negativa, namedida em que denunciova o temperamento atlético como

((umo constituic;ao espiritual arcaico - o posse de instintos

competitivos e predatórios num grou de poder relativamente

elevada» (1917, apud, Magnane, 1969, pp. 134-138). E

Roger Caillois talllbélll reconheceu seu papel de freio óimpulsividade natural da crianc;o e o coróler decisivo de seu

poder regulador (ibid., p. 112).

Finalmentel o esporte tombém tem sua fun~áo no

reprodu,oo social e na Illanuten,oo da lógica do dOllli·

na,oo. Nesse sentido, a sociologio de Pierre Bourdieu(1979) assullle mois uma vez o 10m de denúncia. O

campo esportivo tarnbém constitui uma arena de lutos,

ande se contropóem forlios e interesses consolidadoslonde opera m os mecanismos que dislinguem dominantese dominados. Sem deixar de reconhecer que o esporte

pode ler suas próprios regras, Bourdieu lembra que ele

«oindo traz consigo suos morcas de origem: além da ide­

ologia aristacrótica do esporte como otividade desintereso

soda e gratuita, (... ) que confribui para mascarar a ver­dade de uma parte crescente das práticas esportivas, a

prática de espartes como o tenis, equito~áo, o iatismol o

galfe, clevel sem dúvido, uma porte de seu 'jnteresse l,

tonto nos dios de hoje quanto em sua origem, oos lucros

de distin,oo que ela proporciona» (Bourdieu, 1983, p.

143).A ossimilo~ao e o consumo de certos espartes constituem,

assiml um fenómeno do imitac;áo e de adapto~áo de urnaprático de elite, como urna lentativo, inscrito no inconsciente

coletivol de ofirmac;ao de dassel urna expressáo simbólica

de identifica,oo COIll os que estoo no topo da piramidesocial. A assertiva procede, mas nao é pouco útil, pora

explicar o fenómeno de massas no qual se transformou o

futebol brasileiro.A compreensáo dos processos de seculorizo~áo, raciono·

lizor;áo, civilizor;óo e dislinr;áo pode contribuir para o anali­

sor os problemas que afetam o futebol e sua inser,oo social

no Brasil e no Mundo. A lógico da secu/ariza,oo revela os

excessos do merchandisingl que se lraduz no desenconlo dotorcedor 00 ver profanados 'objetos sagrados' como o

camisa da equipe, símbolo por excelencia da paixoa pelo

clube, trazendo conseqüencias nem sempre benéficas poro o

própria comercializa,oo dos espa,os publicitórios do uni·

forme.Por sua vez, os efeitas da racionalizar;ao e suos derivolioes

acabom por impor 00 futebol brasileira métodos e técnicas

peculiares 00 fulebol europeu e seu contexto cultural, domi·

nodos pelo especializo~áo funcional l o rocionaliza~ao dosprocedimentos e a conten,oo dos gestos, onde a velocidade

e a técnica substituem o fu tebol arte caracterizado pela

improvisa,oo e a f1exibilidade corporal.

Acompreensao do processa civilizotório chamo a atenc;áopora o relativa paz que reino nos estádios brasileiros, situa­

dos muitas vezes em bairros com elevados índices de crimi­

nalidadel mas onde os incidenfes violentos sao em número

muito inferior 00 das prar;as esportivos européias. A cons·tata,oo dessa singularidade poe em cheque a própria tearia

de Norbert Elias, 00 denunciar um certo viés etnocEmtrico e

o indiferen~a oos mecanismos de violencia simbólica.

No contramao desso perspectiva, o mapeomenlo do

campo esportivo permite compreender o funciono mento doengrenagem que promove e dó visibilidode a urna modali­

dade ou a uma equipe pelo controle dos mecanismos de

posi,oo, e a lógica de dislin,oo dos esportes de elite, que

instigo os comportomentas de imito~óo e o consumo dosprodutos a eles associados. Mas nao dó canta dos sutilezas

46 IIIEUlsm PORTUGUESn EBRnSILElRn BE GESTñO

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ESTUDOS

de UIl1 esparte de masso, como o futebol no Brasil, elemesillo promotor de mobilidade social, assimila~áo dos /10U­

veoux venus e reconfigurolióo de habilus.

HistOrico do futehol no Brasilo futebol é umo prótica esportivo importada dos ingleses

há pouco mais de 100 anos, que olravessou diversos fases

até se tornar o esparte da preferencia nacional na Brasil. No

come,o, par volta do final da Séc. XIX, passau pelos peladas

improvisados nas ruos. Ern seguida, surgiram os primeiros

times nascidos como forma de recreo~óo e sociabilidode dosoperórios de fóbricas instalados nos subúrbios das grandes

cidodes do Brasil, que, finalmente, impulsionorom o surgi­

mento de grandes times brasileiros nos inicios do Séc. XX,

até os nossas dios, quando o fulebol assume características

mois profissionois, aliando aspeclos de urna importante

manifesta,óo cultural e de um grande negócio.

A atual con juntura da futebal brasileira é moldada pelasparticularidades de ume história inscrita na cultura brosileira,

nas cren~as cOll1uns que determinam os próticas coletivas, e

pelo evolu,ao do esparte e da ecanornio mundial.

ofutebol, trilzido ilO Brilsil por Chilrles miller,pilulistilno mho de imigrilntes ingleses, nildil tinhilde populilr. Eril um esporle ilmildor ede ricos, illéporque omilteriill eril imporlildo ecusliluiI cilro.

Os «nliltchs» de fulellol, como os jogildores chilmiluamilS pilrtidilS, erilm disputildos por muilos estrangeiros

euns poucos brilsileiros.

Em sua origem, o futebol, trazida 00 Brasil por Charles

Miller, poulislona filho de imigrontes ingleses, nodo tinha depopular. Ero um esparte amador e de ricos, até porque o

material era importado e cuslovo caro. Os matchs de fute­

bol, como os jogadores chamavam as partidas, eram dis­

putados por muitos estrangeiros e uns poucos brasileiros. O

primeira jogo acanteceu em Abril de 1894, no bairro doBrós em Sao Poulo, entre os equipes do Sao Paulo Railwoy,

time de Charles Miller, e do Gas Compony. Samente tres

anos depois de suo chegoda em Sóo Poulo, o futebal foi

introduzido no Rio de Janeiro, por iniciativo de outro descen­dente ingles, Oscar Cox. Nesses primeiros tempos, nCio exis-

tiam estádios como os de hoje e muito menos divulga~ao

pela imprensa.

A populoriza,óo do esparte, que possou o ser cansidera­

do urna aptidóo inoto do pavo brasileiro, instiga a curiosi­dode científico de conceituodos estudiosos, empenhados em

investigar o papel do futebol cama elemento sintetizador da

culturo brosileiro. Precisar o momento do tronsformo~ao do

esparte de elite em um esporte de massas nao é tarefa fácil.

A liga~ao entre o esporte e os primeiras indústriasbrasileiras contribuiu para sua democratiza~ao. Os times

nascidos no chao de fábrica faziom seus jogos foro do cir­

cuito habitual dos bairras dos ricas. O primeiro e maisfamoso c1ube do genero foi o Bangu, fundado como TheAthletic Club pelos mestres tecelóes ingleses cantratados

pelo Componhio Progresso Industrial do Brasil.

As pelados nos campos de várzea, construfdos nas mar­gens dos rios, forom os primeiros indícios da dissemina~ao

do esparle nos carnadas mais pobres da papula,ao.

Dispensando o uso de chuteiros e do campo gramodo, subs­tiluindo os bolas importados por bolas de meia e impro­

visando os balizas, os ¡agodores driblovom o falto de

condi~óes maleriais.

Essa papularizo~ao antecedeu 00 surgimento dosprimeiros clubes nocionais - Fluminense, 80tofogo, América,

Flomengo, Sao Cristóvao, Corinthions e Gremio, quando

tombém nosce o Liga Metropolitano para Sports Athlelics

(LMSA), para organizar competi,aes e campeonatos do novo

esparte que corlle~ova a atrair cada vez mais adeptos(Gordon Junior, 1995, p. 79).

Nesso mesmo época, os campas de futebol se obrern as

camadas mais pobres da popula,óo e o esparte come,o a

se consolidar no cen6rio brasileiro. A descri~ao de umo par­

tido do terceiro campeonato sul-omericono, em 1919, quon­do o Brasil obteve seu primeiro título internacional, ilustro

bem o despertar dos poixóes coletivas, princípio maior do

papel do esparte cama simbolo da cultura nacional. O cer­

tome foi realizado no campo do Fluminense, com capaci­dade poro 15 mil pessoas, construido especialmente para

esse evento.

«Depois de derrotarmos o Chile e a Argentina, empata­

mos com o Uruguai e o campeonato terminou com as duas

sele,óes cam igual número de pontos. Adecisao fai morca-

Jllll/nlllll 2005147

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da para odia 29 de Maio e a torcida compareceu em massapara prestigiar o evento. Foi urn ¡ogo emocionante que ter­

minou empatado em OxO na tempo regulamentar. Na prorA

roga~OOI o placar permaneceu inalterado e somente nasegunda prarraga,aa Friedenrich, um mulata de alhas

verdes, filho de pai olemoo e moe brosileiro, obriu o mar­

cador. O pública camemarau a resultada jaganda chapéus

poro o or e a vitória ganhou até choro de Pixinguinha, o 1 aO. Após o jogo, as chuteiras do artilheiro ficoram expastas

na cosa de Oscar Machado, elegante joalheria no rua do

ouvidor» (Araújo Maura, 1998, p. 18).

Apesar da rópida dissemina,ao do esparte, nesse períodoocorria um fenómeno curioso que retrata bem o caráter se­

gregacionista dos elites e os preconceitos sociais que envolvi­

am o prótica do futebol. Observova-se um distanciamenfo

enfre determinados clubes - aqueles instalados nos bairros

nobres nao tinham tanta aproxima~ao com os que estavomsituados nos subúrbios mais pobres. «As distancias sociais l

com todas as suas graduo~óes, deveriarn ser mantidas reli·

gioSOlYlente dentro e foro do esporte» (Gordon Juniorl op.

cit., p. 80).

Os preconceitos racial e social ainda dorninavam a práti­

ca do futebal no Brasil. Até 1918, a Federa,óo Brasileiro de

Sports, órgao que regulamentava o futebol em todo o ter­ritório brosjleiro, proibia a inscri~ao de negros nos times

profissjonais. Companha encetada pela Imprensa, que

come~ava a dar grande importancia 00 esparte, fez coir por

terro essa proibi~ao.

O futebol no Brasil come,a realmente a se profissío­

nalilOr e a se internacionalizar a partir dos anos 30.

Nossos times agora excursionovam pelo exterior. Data

desse período l a realiza~ao das primeiras Copas domundo que contribuirao enormemente para o desenvolvi­

mento do fufebol profissional.

A profissionalizo~ao provocará mudan~as significativas no

futebol. José Sérgio Leife Lopes atribuí 00 aparecimento da

fulebal como profissao o poder de romper com os padróeselitistas dos clubes amadores e com o paternolismo dos

clubes semi·amadores l contribuindo também para a expan­

saa das formas de recrutamento e a inven~ao de urn estilo

nacional l representado pelo ingresso maci~o de jogadores

de classes populares e negros. Leite Lopes (1999) acha que

oaparecimento do futebol como profisstlo,eopoder de romper com os padriles elitistas

dos clubes amadores ecom opaternalismo dos clubessemi-amadores, contribuiu também para aexpansilodas formas de recrutamento ea inuen~tlo de um estilo

nacional, representado pelo ingresso maci~o

de jogadores de classes populares enegros.

o profissionalísmo de hoje dífere daquele da possadoporque nao diz respeito só aos jogadores, mas se silua num

níveJ mais abrangente l do enquadramento de urna atividade

esporliva que se lornou um espefóculo televisivo (180- 181).

O período que vai de 1933 a 1950 é considerado pormuitos autores cama a fase de transi,ao do futebol elitista 00

futebol popular. É neste período que surgem os prólicas de

compra de posses e o oparecimenlo dos mitos brosileiros

como Leónidas, o diamante negro, fenómeno que se repro­duzirá até nossos dios. Os anos 50 ossistiram o nascimento

de craques como Pelé, considerado o moior jogador de

todas os fempos, Garrincho, Didi e Vavó. Asele,aa de 1970,Iricampea da Mundo, teve ídolos do porte de Rivelino, Tostao

e Jairzinho. Na década de 801 surgiram croques como Zico l

Sócrates, e, mais recentemente l iogadores como Romário,

Rivaldo e Ronaldinho sao reverenciados dentro e foro docampo.

A boa imagem da fulebal brasileiro serve de propagando

para o País e para o seu pavo. O esparte é motivo de orgu­

Iho l grande paixao nacional l capaz de mobililOr simpatias e

ódias, la,as de solidariedade e olas violentos. A Na,aopassa o ser representada pelo futebol, que se torna um

veículo catalisadar da brasilidade. Esse sentimento de iden­

tifica~ao fica mais evidente a cada quotro anos, por ocosiao

da Capa da Mundo, quando a 'Pótria de Chuleiras' se enchede ufanismo e euforia.

"A for,a do futebol no Brasil pode ser avaliada, funda­

mentalmente, nestes momentos quando a sele~ao brosileira

representa l ern todos os sentidos, os brasileiros. As vitórias e

derrotas contaminam e sao contaminados pelas represen­ta~óes sobre o Brasil e os brasjleiros, gerondo incontáveis

avalia~óes sobre sua for~a e froquelO l vigor e mozelas,

riqueza e pobreza» (Guedes, op. cit., p. 43).

No entonto, até a década de 501 poucos acreditavam na

48 1REUISTn PORTUGUESn EBnnSILElRn BE üESTí10

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ESTUDOS

sele~áo brosileiro. Torcio-se muito, mas os críticas supera­

vam os elogios. A maior viléria do esparte, porém, eslova

fora de campo, pois se criou vmo mobiliza~óo nocional

nunca visla em nenhuma autra madalidade. Alentas 00

rádio, brasileiros de diferentes origens e condi~óes sociois

encontraram um motivo para se unir, fosse na tristezo, como

na derrota na Capa de 1950, fasse na alegria, cam a

primeira título mundial em 1958.

Alé a Capa de 1982, a jagadar brasileira encantava amundo pela chamada futebal arte, caracterizada pelas

jagadas individuais e pela incrível f1exíbilidade corporal das

atlelas manifesta nas dribles quase mógicos. Explica,oes

para esse eslila toa peculiar 00 ¡agadar brasileira davamconta de que a famosa 19inga' é própria de urna cultura que

nóa lem a conlen,oa de geslas das pavas dilas civilizadas.

Ela é frula da dura lida da vida, da calidiana safrida da

brosileiro e da nasso heran~a africana, expresso, sobretudo,

nas dan,as praticadas nas lempos sambrios da senzala.Uma explica,oo para o sucesso do futebol no Brasil é a

persistencia de Uol coniunto de regros simples e fáceis de

enlender. Futebol é bola na rede. Par isso lransformou-senum esparte loo popular.

A populariza,óo do esparte carreou também a inter­

ven,oo do Estado nos negócios do futebol. Gelulio Vargas,

por exemplo, deu lodo apoio 00 escrete nocional no 111 Copo

do Mundo de Fulebol. Em 1941, ele criou o ConselhoNocional de Desporlos (CND), iniciativa que revelavo a

importancia atribuído pelo Estado Novo as prólicos esporti­

vas. «A por do orgoniza,oo de oulros aspectos do sociedode

brasileiro, como o frabalho e o educa~óo, os espartes tom­

bém mereciom um organismo nacional que os unificasse e

os odministrasse» (Aroújo Mauro, op. cil., p. 24). Essas ini­

ciativas se apoiavam na idéia de que o futebol é a diversao

do pavo, escola de democracia e fonte de soúde poro osmassas.

É o porlir doi que surge o febre dos constru,oes de

grandes esládios nocionois. A prólico do /ulebol necessilova

de bases físicas grandiosos, a aituro do espetóculo que seoferecio as massas. A oportunidade de sediar o IV Copo do

Mundo ocelerou o processo de edifico,oo e melhorios dos

estádios. O maior evento esportivo do mundo carrearia

prestrgio, além de constituir urna boa ocasiaa poro o Brasil

IllógiciI do mercildo nao poupou i1S i1tiuidildesesportiuils. Ofutebol i1rte dos tillentos indiuiduilisdeu lugilr i10 futebot técniciI dil prepilril~ao ffsiciIedo profissionillismo. Ojogo éum espetilculo

teleuisiuo eojogildor umil mercildoriil. EiI bolilgilnhou um compilnheiro insepilráuel - omilrketing.

foi um cilsilmento Que deu certo erende muitos lucros.

se desvencilhar de aprecia~óes negativas como a desorgani­

za~ao e pouca capacidade de iniciativo. Serio uma ótima

propaganda para o País. Ero o Governo Federal pegandocorono no popularidade do futebol.

Pilnoramil atualA tronsforma,oo do futebol implicou numo verdodeira revo­

lu~ao no suo orgoniza~áo institucional. Foram introduzidos

novas segmentos, novas atividades profissionois e novas formas

de financiamento. Profissionois, dirigentes, torcedores¡ institui·

~6es administrativos, empresas, patrocinadores, investidores e

mídio sao os atores conslitutivos do indústrio do futebol.

A gamo de profissionois envolvidos no esporle é hoiemuilo diversificoda. Além dos jogodores, lécnicos e

preparadores físicos, fisioterapeutas¡ árbitros e assistentes, o

futebol passou a exigir os servj~os, afé entóo inusitados, de

advogados¡ médicos, psicólogos, nulricionistas, supervi·

sores, gerentes e agenciodores ou empresários.

A figuro dos lorcedores - principal molar do espelóculo -,

tombém sofreu muitos mudan,os. Eles possarom a se asso­

ciar formalmente em torcidas organizadas que constituem

um importante segmento, pois interferem de formo mais

direto nos decísoes mais importantes de seus clubes.A complexidode desso eslruluro pode ser traduzido em

números. Dados do Confedera,oo Brosileira de Futebol doo

conto de que atuolmente existem mois de 800 clubes otuon­

do em lodo o Pois. Os times amadores que parlicipom de¡ogos organizados ultropassom o morca dos 13 000. Sao

cerco de 11 000 jogodores federados e mois de 2 000 atle­

tas brasíleiros do fulebol oluondo foro do Pois. 308 estódiosoferecem mois de 5 milhoes de lugares.

O fuleboltrons/ormou-se em um grande negócio. O mer­

cado fulebolístico brosileiro movimenlava 16 bilhoes de reois

ou quase 5 bilhoes de euros. Nao é muilo, se comparado

Jnnllllnn 2005 149

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omercado futeboHstico brasileiro movimentava 16bilhiles de reais ou quase 5bilhiles de euros.

Os ganhos obtidos com os direitos de Televisao,s6 no ano de 1999 foram da ordem de USS1 06 milhiles.

Ocampeonato brasileiro foi de longe oeventoesportivo mais lucrativo, sendo responsável

por 56% do total pago,

aas 250 bilhóes de reais - mais au menos 71,5 bilhóes de

euros - gerodas pelo fulebal internacional. Mas, o consider­

ar o bom desempenho dos atividades produlivas ligados 00

futebol, os perspectivos de crescimento sao animadoras. No

Brasil, fabrico-se anualmente 3,3 milhóes de chuteiras poro

o fulebol de campo e 5,6 milhóes poro fulsal e sociely e 6

milhóes de bolos de cauro. Sóo comercializodas mais de 32milhóes de camisetas, sem contar as que soo destinadas DOS

jogadores prafissionais (FGV, 2000).

As rnudanc;os no panorama económico mundial ofetorom

também os modalidades de arrecado~óo ¡inoneeiro dospróprios times. Na Europa¡ as receilas provenientes da

vendo de ingressos e de alimenla~óa nos eslódios ainda tem

um peso significativo no tolalidade dos rendas dos times. No

Inglaterra e na Itólio, e.g., el05 representom respectivamente

43% e 38% de lodo o arrecada~óo dos clubes. No Brosil,esto realidade lem se invertido. A arrecada~óo com ingreso

sos nao é mais o principal fonte de receila dos times.

Atualmenfe, a moior parte do dinheiro fem outres origens

como potrocínios, vendo de produlos e contratos de frens·rnissaa em TV. Certamente, os bilheterias oindo constiluem

imporlante fonte de renda poro os times médios e pequenos.

Mas a maior porte da receita das grandes agremia~óes é

obtida através da concessao dos direitos de retransmissóodos porlidas pelo Televisóo.

As principais fontes de renda dos times, por ordem de

c1assifica~60, sao as seguintes:

• direitos de N¡

• receila de bilheteria;

• comercializo~óo dos ¡ogadores;

• patrocínios;

• parcerias¡• vendo de produlos licenciados;

• apoio das entidades administrativas.

50

Os ganhos ablidos com os direitos de Televisóo, só no ano

de 1999 forom do ordem de US$l 06 milhóes. O compeo·

nalo brasileiro foi de longe o evento esportivo mats lucrati·va, senda responsóvel por 56% do total pago. O compeo·

noto paulista e o Copa do Brasil contribuírom com umo

arrecClda~óo de 15% coda um. Em terceiro lugar, vem a

Copo Rio de Janeiro - Sao Paulo, com 10% do total abtido.O campeonato cariaco ficou em último lugar cam 4% dos

direilos pagos pelo lelevisao (Relalório... , 2000).

A expectaliva é de que o interdependencia enlre futebol eTelevisao se intensifjque codo vez mais. O crescimento da

abrangencia do Televisao pago, o aumenlo do quantidade

de canais e o advento do sistema pay per vis\'{ alimenlam

essa dependencia. O esporle, sobreludo o fulebal, lem seafirmado como um dos principais conteúdas televisivos. Essa

parceria entre mídio e esporte também permite que um

maior número de pessoas acompanhe os campeonatos e a

própria vida dos atletas, transformados em superstars. Comseu poder peculiar¡ a Televisao influencia o aumento da

profissionalizo~ao do indústria do esporle, estimulo o aper·

fei~oamel1to do markeling esportivo e o globalizo~óo de ído·

los como Michael Jordan, Michael Schumacher, DavidBeckham, Luís Figo e Ranaldinho. Por outro lodo, o vincu·

la~óo ó Televisao também apresenlo desvanlagens, espe·

cialmente quando a reatiza~ao dos campeonatos e iogos

nacionais passam a ser ajustados a conveniencia da pro·

grama~ao felevisiva.

A inlermedia~aa no comercializo~óo de jogadores consli·lui outra carocteríslica do moderno futebol mundial. Se anles

o jogador cuidova pessoalmente de sua carreira, hoie¡

for~osamente ele tem que contar cal11 o colabora~óo de umempresório. No mundo do fulebol espetóculo, os jogadores

se Iransformam em celebridades, tornando a comerciaJizo­

~óo de seus passes uma importante fonte de receita para

lodos os clubes de fulebal.O agente esportivo é o profissional que negocia os con­

trolas do atlelo com os limes, controlando o cota~ao dos

passes e os possibilidades de tronsferencia. Ele se ocupo

também do elaboro~óo do plano de markeling e represenlo

o jogador, junto as empresas, interessados no exploro~ao de

sua imagem.Corno os cuslas de uma equipe de alto nível sao baslante

nEUlsrn POnTUGUESn EUnnSILEllln UE GESTño

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ESTUDOS

Desenuoluem-se ilssociil~íies por temllo limitildo entreempresils inuestidorils eclubes. Estil práticiI

já écorrente no Brilsil. lis empreSilS fornecem dinheiropilril iI milnuten~¡¡o do time epilril iI contriltil~¡¡o

de jogildores. Em contrilpilrtido, elils obtem odireitode usor iI cilmisil pilril eXllOr iI suo milrcil. As uezes,amilrciI nil cilmisil é mais uisfuel do que osfmbolo

do time.

elevados, os tin'les de fu tebol procuram eslobelecer parceriosporo dividir as despesas e gerar mois rendas pora o esporle.

Sao osso(ia~óes por lempo limitado entre empresas invesli­

doras e clubes. Eslo prótico jó é corrente no Brasil. As empre·

sos fornecem dinheiro pora a manulen~óo do time e para o

controto,oo de jogodores. Em controporlido, elos obtem odireilo de usar o camisa poro expor (1 sua morca. As vezes,

(l marca na (omiso é mais visível do que o símbolo do time.

Estas parcerias já estóo em pleno deserwolvimento no Brasil

e tendem a se expandir, entretanto elas se limilam aos

grondes clubes pelo seu potencial mercodológico.

A venda de produlos licenciados é outro importante fonte

de orrecodo,oo de renda do esporle e, sobretudo, do fute·

bol. No mundo todo, em 1998, o mercodo de licenciomen·lo de produtos esporlivos movimentou cerco de USS 16,9 bi·

lhóes. Até meados dos anos 90, o licenciamenlo de marcas

esportivas era muito incipienle no Brasil. Nos últimos anos, a

situa~oo se inverteu e este mercado ¡á apresenta boas opor·

tunidades de gera~ao de receitas suplementares paro osclubes, os profissionais, os fabricantes e para os canais de

distribui,oo. No enlonto, o conslonle folsifico,oo dos produ·

tos conslitui um obstáculo 00 pleno deserwolvimento dessemercado que sofre sérios prejuízos com a a~óo dos Ipiratas l

Contexto institucionol efinonceiroAntes de propor solu~6es de nalurezo orgonizacional poro

o futebol no Brasil, o FGV Projetos fez um diagnóstico do

selor, idenlificondo e detolhondo os seus principois proble.

mas.O primeiro aspecto que chamo a oten~60 no áreo de

espartes é o desconhecil11ento, entre a maior porte dos

otores, de no~6es e princípios básicos de planejamento e

gestao, o que vem a ser causo de urna série de desequi-

Iíbrios. lsso diz respeito, tanto a organiza~ao e funciono­mento do setor, quonto a rocionolidode interno de clubes e

federo,6es, produzindo efeilos perversos sobre os jogos e

cClmpeonatos.Do ponto de vista do quadro jurídico-institucional, consta­

tou-se que as leis que regulamentam o esparte se revela m

precárias e uJtrapassodas, permitindo diversidade de inler·

preta~ao e julgomento, rnuitas vezes em confronto com a

lógico do espelóculo. Do lodo do justi,o desportivo, éinegóvel o suo falto de ogilidode e de tronsporencio, o que

fazio com que alguns clubes recorressem a Jusli~a comum,

deslegitimando as instancias judiciárias do setor.

Na organiza~ao dos calendários, nao existem vínculosnem hierarquias entre os competi~6es, o que contribui para

desvalorizar o espetáculo, pelo reduzido número de Iclássi·

cos l, e esvaziar os estádios. A forle influencia do política, do

TV, dos patrocinadores e dos inveslidores tombém trozemprejuízos 00 cumprimento do colendário. Todos querem

agendar os jogos de moneiro o soljsfozer seus práprios inte­

resses.A pesquiso locolizou tombém sérios problemas no 0,00

das entidades corporativas, que pecam pela ausencia de

profissionalislllo, fazendo com que as federa~óes caiam em

descrédito e deem lugar a novas associa~óes. Nao hó cloro

defini,oo dos popéis do CBF, dos federo,oes e dos novas

enlidodes, o que dificulto o integro,oo e o coopero,oo. ACBF centra seus inleresses nos sele~6es nacionais e nos seus

patrocinadores e negligencia os clubes e campeonatos

nacionais, regionois e estaduais. Por outro lado, o Clube dos

Treze, ossocio,oo que reúne os grandes clubes de futebolbrosileiro, nCio é representativo de lodo o fu lebol nocional,

mas, em associo~60 com o TV, tem grande peso na organi­

za~ao das competi~6es. Para agravar a situo~ao, ainda

nesse domínio, constalou-se ullla jndefini~ao nos popéis da

CBF, dos Federo,oes e do Clube dos 13.As rela~6es entre o futebol e os mídio constituelll urna

questoo bastante complexo. O futebol nao sobreviverio sem

os Illeios de comunica~60 de l11asso, mas a forte influenciado TY, e.g., termino por provocar umo certo desordem e

indefini,oo no progromo,oo dos ¡ogos. O esporle fico o

merce do Televisao, que impóe seus horórios, olém de prio­

rizar a lransmiss60 de partidas no eixo Rio·Sao Paulo,

JnllIIIIIl1l200S ~ 51

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enlroquecendo oindo mois o inlegrm;óo do fulebol em todolerrilório nocional.

Quanlo 00 finonciamenlo¡ delectou-se que a precária gestao

dos recursos, olérn dos prejuizos que provoca internamente,

tombém inibe a negocia~áo corn possíveis irwestidores. A inefi­

ciencia fombém se reflete na ausencia de knDw·!low para

explorar o potencial dos morcas. Isso ocorrelo diliculdodes

de sobrevivencio paro os clubes médios e pequenos que

lídom com problemas de boixa freqüencia nos estádios e,

conseqüentemente, reduzido arrecada~ao.

No dominio dos recursos humanos, o falto de quolifico,óo

dos dirigentes, dos órbilros e dos equipes lécnicos dificulto

bostonle o formo,óo e o renovo,óo dos quodros do futebol.

Aindo hó, em muitos clubes, forte resistencia 00 freinamen­

lo intensivo, sobretudo sem bola e auliliza~óo de novas tec­

nologías. Também é notório o desnível de solórios, que sao

boslonte elevados poro uns poucos e boixos poro o grande11l00ona.

Quanlo as inslolo,óes físicos do fulebol, o moior porle dos

esládios é desprovido de inlra-eslruluro odequada e de

servi~os de apeia eficientes. Sé recentemente, os governos

estaduais e Illunicipais, e alguns poucos grandes clubes, tem

investido no moderniza~ao dos estádios.

No sentido de ovalior os perspeclivos de melhorio dos

condi,óes do fulebol brosileiro, o equipe do FGV Proietos

elaborou urna lista das circunstancias favoráveis e desfa­

voráveis 6s mudan~as.

Entre os pontos forles e oportunidades de crescimento,

destacam-se os seguintes pontos:

• a forte paixao nocional pelo futebol sobrevive e é o mofar

do esporte no nosso País;

• o fidelidode dos lorcedores oos seus clubes é lambém umfator positivo poro o esparte;

• o fu lebol brasileiro oindo é bostonle presligiodo no mundo

pelo átimo quolidode de seus jogodores e técnicos;

• o Sele~óo brasileira é, quose sempre, o primeiro colocado

no ranking do FIFA;

• há umo grande quontidode de equipes fortes e competili­

vos que podem olrair um maior número de torcedores oos

eslódios e, ossim, melhorar o qualidode do espetáculo;

• o fulebol tem grande copocidode de gero,óo de empre­gas, podendo ulilizor lodo seu potencial poro ouferir mois

lucros olrovés do merchandising e de outros negócios, por

ocosiao dos lorneios nacionois e no exterior;

• o fulebol oinda lem espo~o poro expandir seu campo de

o~óo, pela exploro~óo dos mercados regionois, através da

volorizo,óo de ¡ogos loro do eixo Rio-Sóo Poulo.

Por oulra lado, dificuldades advindos em grande parte da

condi~60 de economio periférica, com sérios problemas de

distribui,ao de renda, ofetam desfovorovelmente o desen­

volvimento do nosso fulebol. O boixo nível de renda do

torcedor brasileiro constitui um sério entrove paro amplio~60

da presen~a nos estádios e paro o consumo dos produtos do

merchandising. Isso é particularmente significativo porque os

classes D e e, mais desprovidas de recursos finonceiros, s60

comprovodomente os que mais apreciam o espeláculo do

fulebol.A lisio de fotores oponlados como negolivos poro os

próprios dirigentes é extensa, mas cumpre sublinhar:

• noo existe urna engenharia fjnanceira capaz de dar sus­

lenlobilidode oos clubes, sobretudo os médios e

pequenos;

• lollom fonles de finonciomenlo e eslruturos de opoio a lor­

ma~óo de novas alletasi

• os deficiencias administrativos dos agremia~óes impedem

um melhor oproveilomenlo de lodo o polencial dos

¡ogüdores e técnicos;

• o excesso de iogos e campeonatos empobrece o nível dos

disputas;

• a legislo,óo desportivo é desconhecido e, conseqüente­mente, descumprida;

• nóo há cloro especifico,óo dos áreas de oluo,óo do CBF,dos Federa,óes e dos Ligas.

Plancjillllcnto cstratéglco do futcho! no BrasilO Plano Eslrolégico do Futebol Brasileira se opáio em trés

pilares fundomenlois:

• o oprimoramento do gestóo do setor;

• a inlensifico~óo do olralividade do esparte; e

• o modernizo,óo do fulebol brosileiro.

A melhorio dos processos de gestóo do fulebol requer,

onles de quolquer coiso, o reformulo,óo de porte doorcobou,o jurídico, sobretudo noqueles ospecios relaciona­

dos com a 'Lei do Posse', com os modalidades de invesli-

52 1 nEUISTnI'ORTUGUESn ERllnSILElHn IJE GESTñO

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ESTUDOS

menlo nos clubes e (om a arbilragem e (1 justiCia desportivo.

No queslao da 'Lei do Passe', verificou-se que os mullos de

rescisáo de contrato trozelll vantagens e desvantagens. Os

jogadores (om remuneraCioo oboixo de dez salários mínimos

mensais (l 000 dólares) adquiriram maiar mabilidade, de­

vida 00 pequena valar das penalidades rescisórias. Aqueles

(om remunero~áo ccimo deste teto, liveram sua transferen­

cia dificultada porque sobre eles pesolll elevadas mullos no

caso de rescisóo do conlrolo. Assim, os clubes que pogorn os

melhores solários monlérn rnois facilmente seus quodros do

que as pequenas agremia,óes. O relatória final da FGV

Projetos recomendo o eslabelecirnenlo de mullos escalono­

dos na sentido de equilibrar os critérios diferenciados.

Pelo atual legisla,óo, os investimentos destinados aos

clubes só podem ser feitos em umo única agremioCioo. O

objetivo do legislador era garantir a ética e a lisura das como

peti~óes. Esto medida, no en10nto, termino por reduzir sen­

sivelrnente os possibilidodes de investimento. Neste caso, o

busca do equilíbrio entre o ética e as necessidodes de inves­

timento passo pela cria<;ao de restri~6es mois brandos que

proibissem UIl1 controle ocionário efetivo, conforme

recomenda,oo do própria FIFA.

Implanta~(jo de um Programa de Apoioil moderniza~(jo dos Clubes de futebol, para oferecer

assistencia técnica no planejamento estratégico,na organiza~(jo interna, nas estratégias de marlletingena racionaliza~(jo dos sistemas administratiuo ­

contábil, financeiro, patrimonial ede folhade pagamento.

A arbitragem é fundamental para o qualidode do

espetóculo esportivo. Como ¡á foi explicitado anteriormente,

sao inúmeros as falhas e deficiéncias no sistema de arbi·

tragem do futebol. As soluc;óes poro o problema passam

pela necessidade de manutenc;óo da Comissóo de

Arbitragem presidida pelo CBE Seria de muita utilidade a cri­

a,óo do Conselho Nocional dos Árbitros e dos Conselhos

Estaduais de Árbitros, como órg60s executivos, autónomos e

independentes. Para incentivar a melhoria do quadra de

árbitros, se urge o crio~óo de um plano de carreiros e de

cargos e salários.

JIlIlIIllIlR 2005

Paro superar a falto de imp<lreialidade do Justi,a

Desportiva, o plano prop6e:

• dotar o Justi~a Desportivo de autonomio financeiro¡

• introduzir a admissao do juízes dos Tribunais de Justi~o

Desportiva (TJD), atrovés de prov<l de conhecimento e titu­

las;

• compor o qU<ldro de magistrados da Supremo Tribunal de

Jusli~a Desporliva com profissionais egressos dos TJD;

• criar um quadro fixo e um Plano de Carreiros de

Auditores; e

• rever o Código Brasileira Disciplinar da Fulebal.

Contemplando o segundo pilar de prapostas, que diz

respeito a modernizo,oo do sislema CBF, o Plano de

Moderniza~oo prop6e as seguintes rnud(lIl~as:

• adequa~ao das eslruturas organizacionais, dos modelos

de gestao e dos processos administrativos e operacionais

do Sistema CBF, levando em canta suo complexidade e

dimensoo política, as necessidades do mercado em que

opera e as modernas práticas de gesloo esportiva;

• implanta,óo de um Programa de Apoia ó Mademizoc;óo

dos Clubes de Futebol, para oferecer ossistencia técnico

no planeiamenlo estratégico, na organiza~ao interno, nas

estratégias de marketing e na racionaliz(l(~óo dos sistemas

administrativo - contóbil, financeiro, patrimonial e de

folha de pagamento;

• elobora,óo de monuois de orientac;óo (cartilhas) poro os

clubes, focodos em questoes estratégicas como obten,óo

de potrocínios, estabelecimento de parcerios e otimiZCl~60

da venda de ingressos;

• cria~60 de urna linha de financia mento, no ombito do

Banco Nacional de Desenvalvimento Económico e Social

(BNDES) poro a modernizo,óa dos clubes;

• identifica,óo das necessidades de capacit<l,oo profissional

na CBF e elobora,óo do Plano de Desenvolvimento dos

Recursos Humanos do Futebol Brasileiro;

• cr¡a~áo de um sistema informatizado de Registro Nocional

de Profissionois;

• recupera~óo e monuten~60 do Memória do Futebol, com

a realiZCl~60 de pesquisas, cria~¿¡o de museus e arquivos

de documentos, imagens e audiovisuois.

O terceira pilar estratégico, que trato do questoo da otra­

lividade do espetóculo de futebol, oferece uma série de

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recomenda~6es no sentido de evitar acrescente perdo de

interesse pelo esporteo

Em primeiro lugar, lembra que nao há espetáculo sem

croques e celebridades. Assim, foz-se necessário o imple­

menla,aa de um plana para eslimular a relen,aa dascraques na Brasil. ACBF pode se articular cam outras países

membras da FIFA para eslabelecer uma norma que abrigue

que a primeira regislra da allela de fulebal seja leila na seu

país de origem, evitando a exporta~ao sem controle de cri­

an~os e jovens talentosos.

Em segunda lugar, a CBF deve elabaror e implementar um

plano de incentivo 6 ido 005 estádios, oferecendo espetácu­

los competitivos, seguran~o, conforto e servi~os aos apreci­

adores do esparte, com ingressos a pre~os atraentes. O

plano tombém recomendo que se valorize o figuro do torce­

dor, abrindo·lhe espa,os nos clubes e molivondo sua porti­

cipa,ao.Em terceiro lugm, o CBF deve propor e implementar o

reformulo~áo dos calendórios, promovendo o integra~áo

dos certames nacionais, com os partidos da sele~ao e o ca­

lendório da FIFA. O calendório nacional deve guordar inler­

dependencia cam os calendórios dos eventos esladuais e

reglonols.

Por último, o estabelecimento de um ranking nocional seró

Ufll importante inslrumento de acesso a colegorias superi­

ores e de rebaixamento dos participantes nas diversas com­

peli,aes.

Consldefil~¡¡es finaisA preserva,ao do fulebol coma esparte da preferencia

nacional e elemento idenlilória da Na,ao brasileira requer a

montagem de umo complexa equa~ao que relaciono as for­

mas peculiares que este esparte adquiriu no Brasil, o odo~ao

dos novas procedimenlas imposlas pelo fulebal mundial e a

valoriza\ao do negócio esparlivo. Trola-se de proceder a

uma assimila~áo crítica das regras importodas, de sorte a

melhorar os padrees de eficiencia e manter o ospecio lúdico

do espelóculo paro afirmar a singularidade brasileira.

Por isso, a moderniza,ao da fulebol lambém se insere no

contexto da discussao sobre a necessidade de conciliar a va­

loriza,ao posiliva da diversidade cultural cam o fenomeno

do homogeneiza\ao das modelos de exislencia dilados pelo

mundialiw\aa ou por aquilo que Anthany Giddens denomi·

na de universaliza\ao da modernidade (Hermel, 2002, p.

92).Norbert Elias, mesmo dando enfase 00 que ele chama de

processo civilizotório, contribui poro refor~ar o idéio de que

cada esparte adquire suas especificidades de acordo cam a

sociedade que o oc/oto - «(, .. on ne peut étudier le sport sans

éludier la sociélé. Le sporl ou la sociélé semblenl

aujourd'hui des Ihemes parleurs d'une idenlilé qui leur esl

propre» (Elias e Dunning, ap. cit., p. 34).

Écerto que a sociedode moderno lende ó seculoriza~áo e

ó rocionaliza~óo de todos os processos sociois, mas o pro·

blema filosófica de nasso lempo consisle em delimilar os

setores onde subsiste, ou deve subsistir, o a~óo ofetivo e o

o~óo racional com rela~ao o volores.

Isso nao quer dizer que o fulebol brasileiro eslejo amea,a·

do pela globaliza,ao e que precise de prote,ao estalal.

Assim como outros tro~os culturais, o futebol estó em per­

manente intero~60 com o patrimonio simbólico de outres

no~ees. É, pois, no vigor de suo idenlidade que se devem

buscar os meios poro aumentar suo competitividode, atro­

lividade e capacidade de gera\ao de renda e emprego.

Afinol, vencendo todos os desofios e previsóes sombrios, o

fulebal brasileira se manlém como o melhor do mundo.

O Plano de Moderniza,ao do Fulebol elaborado pela FGV

detalha minuciosamente todas as proposi~óes expostas no

capítulo anterior. Constituiu o marco de referencia poro o

início de a~óes estratégicos que tenío impacto profundo na

vida da CBF e do fulebol brasileiro. Sao decisaes que forom

lomadas, eslao senda lomadas, e podemser lomadas agora

pora produzirem conseqüencias no futuro.

Evidentemente, muitos dos decis6es sugeridos tem reper­

cussees polílicas e nao podem ser implementados sem o

orlicula,aa dos diferenles grupos inleressados em busca,

senao de consensos, pelo /llenos de delibero~6es amplo­

mente mojoritários.

Por outro lado, esse primeiro programa de assislencio téc­

nico da FGV Projelos represenla apenas urna elapa do

esfor,o de maderniza\ao do fulebol brosileiro. Somenle cam

a implemenla,ao de muilas das medidas propaslas, sobre­

tudo nas esferos orgonizacional e operacional, o cenário

pode ser significotivamenle allerado. É verdade que, do

54 1nEUlsrn POnTUGUESn EOnnSILElIln UE GESTAO

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ESTUDOS

ponto de visto gerencial! os serrllnOrlOS realizados e o

esfor,o de planejomenlo deles decorrenles, que resullarom

nos piones aqui mencionados, representam UIll ganho

expressivo em termos de ocumula~óo de competencias pes­

soais e instilucionois para os quodros do futebal e poro o

própria CBE

Além disso, o inaugura,áo dessa modalidade de coope·

ro,áo lécnica entre o órgóo principal do fulebol brasileira e

inslilui,áes de caráler técnico· educacional do porle da FGY,

obre grandes oportunidades de oprendizagem mútuo no

campo do gesláo esporliva, A CBF pode aprimoror seu Ola·

delo gerencial, identificar novas formas de financia mento e

desenvolvimento e formar seus quadras, A FGV ganha um

rico laborotório para o desenvolvimento de novos teenolo­

gios de geslao em institui~óes sem fins lucrativos, (om

gronde polencial de gera,áo de receilas, resullados e bene·

fíeios sociais de largo alcance, 11

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