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ponto, revista João Pessoa, agosto de 2009, número 1, R$ 2,00

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Revista ponto #1, agosto de 2009.

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João Pessoa, agosto de 2009, número 1, R$ 2,00

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cada conto é um alçapão. É uma armadilha manu-faturada, pronta para uso. O legal é que a possível vítima aceita desde já o pacto. É cair e se refestelar. Por isso falam que o bom conto deve ter pegada. Outros usam a imagem do nocaute. É um gênero

que tem as mais variadas formas de socar o leitorMais um número sai do forno em pequenas proporções, mas

com um entusiasmo garantido. Isto é um bom sinal. A revista Pon-to, reflete muito o espírito do Clube do Conto. O ato de escrever é solitário; o de contar histórias, nômade. Não há melhor forma de justificar o suor com essa sede de expansão.

Para este número, mais um autor é contemplado: Antonio Ma-riano. Poeta, contista, agitador cultural e um dos fundadores do gru-po, já se vão alguns anos desde sua estréia como poeta com o livro O Gozo Insólito. Escritor de muitas miradas, inclusive no conto, diz muito com o pouco – e esta mínima alavanca de sua escrita tem muito o que contar. Este número publica um conto de sua autoria.

Em tempo: a literatura de bolso aqui contida é o resultado de um trabalho de convivência rara e persistente. Restaurantes, bares, praças e bibliotecas também funcionam para as ondas migratórias para que a fo-gueira das histórias nunca se apague, antes, ilumine a jornada. Boa leitura.

índiceCorda André Ricardo Aguiar .................................................................... 4

RessacaLaudelino ......................................................................................... 5

Picado Conto coletivo .................................................................................. 7

Coisificação Ricardo Fabião .................................................................................. 8

O Jardim da Cordas Alfredo Albuquerque .................................................................. 12

Uma e cinquenta e três Bonifacio Segundo ....................................................................... 17

Saideira Laudelino ..................................................................................... 22

Mercadóides André Ricardo Dias ..................................................................... 24

Embriaguez e desordem Antônio Mariano ........................................................................ 27

Façamos nós a nossa história IIDôra Limeira .................................................................................. 30

Folha corrida Antônio Mariano ........................................................................... 32

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Organização Clube do Conto da Paraíba

Colaboraram Alfredo [email protected]

André Ricardo [email protected]

André Ricardo [email protected]

Antônio [email protected]

Bonifacio [email protected]

Dôra [email protected]

[email protected]

Ricardo Fabiã[email protected]

EdiçãoAndré [email protected]

Design Alfredo [email protected]

Tiragem: 100

O Clube do Conto se reúne todos os sábados, a partir das 17h, no restaurante Coelhos, no Bancários. Os encontros são abertos e gratuitos.

www.clubedoconto.blogspot.com

CordaAndré Ricardo Aguiar

Depois de diversas tentativas, ele, um turista ocasional numa praia não muito conhecida, ciente de que o tanto que nadara lhe causou dolorosas cãimbras, arrastou-se devagarinho para o seco, para a areia protetora, para as corcovas estranhas das dunas que ali ondulavam. Ainda escorria de sua boca filete de sangue, mistu-rado com algas e oxigênio. Estava tonto, mas consciente. Quer di-zer, segundo seus parâmetros de nadador fatigado, estava com a sensação de um estranho numa terra estranha. O corpo coçava, as juntas doíam, e um incômodo sino soava. Não saberia dizer se era imaginação ou uma aldeia distante. Deitou de costas e ia adorme-cer quando a primeira corda descreveu um arco, indo do seu flanco direito até o esquerdo, parábola tão eficiente quando o disparo de uma flecha. Em intervalos cada vez mais curtos, outras cordas iam lhe pregando na areia que se mostrava mais firme do que imagi-nava. Decerto já não era praia, mas planície relvada. Aqui e ali um ponto do seu corpo aderia com mais firmeza ao chão. E cada puxão dava-lhe a sensação de um movimento anulado. Estava quase acre-ditando que as centenas de cordas poderia realmente imobilizá-lo que esperou, pacientemente, a cessão da brincadeira para de um só movimento, arrancar-se para o alto, para a verticalidade das coisas exatas e naturais quando lembrou de dez do acidente na praia, do corte profundo nas cortas e da sala branca, onde um sisudo cirur-gião pouco a pouco costurava-lhe pacientemente o couro, atando-o à vida.

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RessacaLaudelino

Os olhos estavam mareados, a fumaça lhe turvava a visão, ta-teou um pouco e percebeu que as paredes eram rochosas. Depois de um tempo, conseguiu distinguir o que se passava na sua frente, estava numa espécia de gruta. Caminhou um pouco e vislumbrou-se quando viu dois animais chegando de mansinho, dois cães raivo-sos, literalmente raivosos, pois da boca deles só saia espuma, baba, saliva. Não havia para onde correr, seria o seu fim, mas, por pura sorte, eis que um pouco de terra caiu na sua cabeça e, em seguida, surgiu uma luz. Olhou para cima, tamanha era a claridade que teve de proteger os olhos com um dos braços. Uma corda apareceu e uma voz lhe dizia “vamos, pegue a corda, suba”. A corda salvadora, a corda que iria lhe tirar daquele ambiente escuro e desagradável, a corda que iria lhe mostrar a fuga daqueles dois cães raivosos. A corda... E acordou. Estava num descampado, sua irmã lhe cutucava e dizia “acorda, vamos acorda, acorda, Lucas, acorda...”.

“Ah, tá bom, já acordei.”“Bom dia.” Falou sua irmã, com um sorriso estampado no seu

rosto de ressaca e bafo de cachaça.“Bom dia pra você também.” Respondeu Lucas a contragosto,

coçando os olhos.Era de manhã logo cedo. O descampado era, na verdade, um

campo de futebol, mas não havia grama, só barro, algumas bandei-rolas de São João estavam espalhadas pelo chão e as cinzas de uma fogueira crepitavam mais adiante.

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“A festa foi boa, hein?! Anda, levanta, vamos pra casa.” Falou sua irmã.

Lucas ainda estava um pouco tonto e teve de receber ajuda de sua irmã para se levantar. “Anda,” disse enraivecido se livrando das mãos da irmã “não precisa me segurar, posso caminhar sozinho”. E lá foram os dois caminhando, quando, de repente, o inusitado acon-teceu. Uma espécie de areia-movediça sugou Lucas. Por um mo-mento ainda pôde escutar sua irmã lhe chamando, mas já era tarde, caiu em um ambiente que estava um tanto quanto escuro e havia um pouco de fumaça no ar. Tateando, percebeu que estava numa espécie de caverna.

“Que estranho.”Caminhou mais um pouco e assustou-se quando distinguiu

dois animais se aproximando de mansinho.

Lor

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Picado*. . . Laudelino Roberto Menezes Eli André Aguiar Alfredo …

Ontem comi um picado na casa de um amigo chato que insistiu que eu comesse. O nojento prato que eu fui saborear na cozinha velha estava estragado. Posteriormente, tive uma grande decepção amorosa, minha namorada começou a me cheirar desconfiada. Tudo ficou complicado naquele feriado infiel. Minha namorada vomitou besteiras na frente de um figurão chamado Pablo. A infeliz ainda teve coragem de jogar o problema na internet, comprometendo todo o meu currículo de articulador mental das mulheres vítimas de estupradores vesgos como amoras. Pablo trouxe um quilo pi-cado de galinha, mas reclamou urgência da comprovação daquele sequestro meticulosamente vomitado. Amanhecendo abaixo do Equador, Maria acordou puta da vida, porque no banheiro Pablo mijou sobre o dinheiro surrupiado do resgate. O traidor era desca-radamente excêntrico. João era meu pai criminal envenenado que trouxe o azar materializado no desgraçado do picado.

* Esse foi um conto feito coletivamente. Cada autor disse uma palavra, seguindo a sequência acima.

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CoisificaçãoRicardo Fabião

Em certas ocasiões ter poucas conexões com o mundo pode ser algo satisfatório; primeiro não há quem direcione os passos, ou ainda quem ponha cercas ou censuras aos ímpetos e estalos do su-jeito. Viver desancorado deve render alguns imprevistos; em qual-quer lugar o fulano baixa, quando se quer vai, quando se desiste não se dá satisfação. Segundo, goza-se de liberdade para fixar preços, para negociar a própria alma da maneira mais compensatória e ir até o fim com isso. Era o que calculava Sidney, tentando justificar a escuridão na qual se metera. Logo estaria encarcerado, dividindo os dias com gente de pouca esperança, enfim, pegou a rua reserva-da para seu destino. De fato, a vida oferecera-lhe um emaranhado de relações complicadas desde o nascimento: pai e bebida, mãe e adultério, irmãos e abandono, daí não demorou até que o determi-nismo o nocauteasse; quando se levantou recolheu para o resto de vida apenas o que lhe parecia identidade.

Com esse olhar de menos, Sidney aprendeu o mundo: evitando o lado mais ao sol das coisas; preferia meter-se desconfiança aden-tro e calcular os cifrões que poderia extrair das pessoas e das situa-ções. A quantia almejada, no entanto, não chegava. Não era falta de prática, já que desde a adolescência andava de planejar seus passos, de contabilizar apertos de mão, talvez procurasse em lugares inde-vidos, falta de sorte, destino. Havia dispensado a possibilidade de amigos e emoções, o que valiam? Sua meta era algo seco, buscar no futuro o que faltara no passado, por isso equacionou pessoas,

atitudes e até uma educação básica, que concluiu graças aos sofisti-cados métodos de cola e algumas doses de ‘persuasão física’.

A partir disso, pensou, algo acenderia no caminho, mas como desconstruir sua relação com a escuridão? Foi calculando um pouco de luz que concorreu a uma vaga de auxiliar de necrópsia do Institu-to Médico Legal. Para isso optou por um certo gabarito negociado, valor pago boa parte com alguns instantes de corpo - o vendedor das provas propôs, gostava de homens infelizes, que sorriem pouco e que não recuam diante do combinado - Sidney aceitou, cumpriu o trato e passou no concurso. Deu entrada naquilo que julgava ser destino diferente: dinheiro obtido com trabalho. E apostou noites e madrugadas nisso.

Entretanto, luz é força que evita encontros demorados com Sid-ney. Depois de quatro meses de relação intermitente era natural di-minuir a intensidade, às vezes apagada, noutras acesa, até escurecer de vez. Era madrugada. Ele fumava escorado na distração de uma pilastra quando um corpo foi levado para a sala de autópsia. Rapaz, finalmente uma celebridade baixou aqui, venha ver, Sidney. Deixa o presunto em cima da mesa, neste momento ele vale tanto quanto um rato de esgoto. Não vou jogar metade do cigarro fora por um defunto, nem que seja famoso. Aproximou-se do corpo. Vamos ver de quem se trata. Sidney abriu o saco plástico, ora, quanta honra, é brilho demais para um fim de noite.

A surpresa era Cyro Power, estrela internacional do boxe, cinco milhões por luta, esquerda mais ágil da temporada, músculos de fer-ro, tudo agora deixado sobre a frieza do alumínio, indefeso, posando alheiamente para as últimas fotografias, de tristeza e inchaço confe-

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ridos, anotados no caderninho do auxiliar de necrópsia, você nem imagina como a direita do legista é rápida, campeão. Terminamos as fotos e as anotações, agora o banho.

Instantes depois, sozinho, diante do corpo do famoso pugilis-ta, a duas horas da chegada do doutor, Sidney liberava seus pen-samentos: quanto vale uma esquerda de boxeador famoso? Como fica minha vida se eu partir para coisa diferente? Poderia vender o homem inteiro, há colecionador para tudo, conheço um atraves-sador para repasse dos produtos, é sujeito que desconhece com-paixão. Poderia fazer dinheiro com o pênis, com os pés, até com a direita acanhada do lutador. E o resto? O que faria com o resto? Ele é muito pesado, não poderia carregá-lo nas costas, não tenho carro, fugiria como? Chegaria até a rodoviária? Tive uma ideia, que ideia, rapaz? O médico chegou mais cedo, vamos trabalhar? Estava admirando o boxeador? Era dos melhores, não? Sim. Então bisturi aqui, agulha ali, linha, torneira, água, porém, num desvio de olhar do legista, ele puxou algo e jogou embaixo da mesa de autópsia, eu costuro, doutor, tudo bem, vou tomar água, já volto, Sidney conferiu o que havia jogado, meninges? Mas sendo de gente famosa elas devem ser valiosas, pronto, tudo limpo, você trabalhou bem, suas mãos são muito ágeis, daria um bom legista, obrigado, doutor, até mais, agora a gaveta gelada, adeus, Cyro.

Fora do instituto, ele ligou para o atravessador, tenho algo do boxeador famoso. Do Cyro Power? Venha agora, vamos fazer negó-cio, chego já. No caminho, ele relembrava a cena na sala de autóp-sia. Será que o doutor viu quando peguei as meninges? Pode ter disfarçado para evitar um confronto comigo; faria a denúncia de-

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pois. Creio que não, até me elogiou pelo trabalho, o doutor é muito amável, se tivesse visto teria me chamado e dito algo, agora é tarde, após a curva chegarei à casa do negociante. Pronto, agora eu bato. Entre, mostre-me. Membranas? Ninguém vai querer pagar por esse troço, pensei que traria a esquerda do campeão. Não faça isso comi-go, arrisquei meu emprego por isto. Nada feito, rapaz, porém estou curioso, como conseguiu driblar as câmeras da sala? Câmeras? Não sabia que havia câmeras na sala. Não sabia? Você é de que mundo? Claro que há, agora saia e leve essas membranas com você; com sorte, conseguirá no caminho um cachorro que dê um jeito nelas, outra coisa, você tem sangue até nas sobrancelhas, mude ao menos a blusa para evitar suspeitas. Tem muito que aprender, não passa de um amador. Sou mesmo, mas pode ficar com isto, eu termino aqui.

O negociante pegou as membranas deixadas no chão, cheirou-as, examinou-as detalhadamente, meninges de Cyro Power devem valer uns duzentos. Foi o que conseguiu telefonando, enquanto Sidney era um resto de vida esquecida no ponto de ônibus. O ce-lular tocou. O médico. Decidiu enfrentar. Sim, eu mesmo, como? As meninges do boxeador? Quem faria isso? E as câmeras registraram algo? Desligadas há dois meses? Sidney suspirou aliviado, que sorte, pela primeira vez. Enfim, a vida começou a pagar o que me deve. Isso mesmo, rapaz, minha preocupação é porque elas estavam mui-to infectadas, Cyro contraiu uma meningite rara e letal, de alto con-tágio, não devem ser tocadas, liguei para isso, fique tranquilo, sei que não foi você, obrigado, doutor.

Depois disso, a manhã prosseguiu com três sorrisos: o de Sid-ney, o do médico e o do atravessador.

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O Jardim das CordasAlfredo Albuquerque

Antes de abrir os olhos Leon tentou se mover, mas não con-seguiu. Estava preso entre cordas esticadas que iam do chão até algum ponto no vazio de um céu branco e limpo. Conseguiu girar a cabeça e viu que elas estavam por todos os lados, como uma teia infinita de fios paralelos. Olhou para baixo e pareceu-lhe que o chão estava muito distante e era branco e limpo, como um reflexo do céu. Mexeu os pés e o movimento se repetiu no chão. Confirmou que se tratava de um espelho.

Concluindo que não poderia ficar ali para sempre, Leon torceu o corpo tentando se desvencilhar. Mal conseguiu se mover. Come-çou então a se debater, agitando as cordas com força, em todas as direções, até se cansar. Não havia como se soltar. Pendurado no vazio como um fantoche, fechou os olhos, imaginando que, só assim, con-seguiria se transportar para outro lugar. Foi quando sentiu uma vibra-ção nas cordas que o prendiam. Abriu os olhos, procurando pela ori-gem dos distúrbios e viu um ponto que se movia ao longe, como um equilibrista disforme, se aproximando lentamente por passos que o projetavam para cima e para baixo (ou seria para a direita e para a es-querda?). Acompanhou o ponto até ele se tornar algo reconhecível, e surpreendeu-se ao constatar que era um elefante. Quando passou ao seu lado, parou e disse.

- Posso descansar um pouco aqui?Com dificuldade, Leon acenou que sim com a cabeça. Sua boca

estava atravessada por uma corda.

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- É muito cansativo percorrer uma linha que não tem fim.Leon tentou se mexer.- Você deveria tomar mais cuidado quando se movimenta.

Quando, por exemplo, você tentou se soltar, provocou um terremo-to no Chile que matou a metade de uma cidade. E também um golpe de Estado no Suriname que depôs Pepita Lindéia III, a rainha ardilosa. Aqui os movimentos devem ser cuidadosos, tudo está co-nectado. Na extremidade de cada corda sempre tem alguma coisa. Cada movimento é transmitido como ondas de choque e, como é impossível caminhar por aqui sem tocar essas cordas, há que se ter muito cuidado para evitar tragédias.

- Hmmmm...- Quer que eu solte sua boca?- Hmmmm...- Assim está bom?- Ah... Obrigado. É desesperador não poder se comunicar.- Bem, como eu estava dizendo, os movimentos afetam o que

está nas extremidades, sem que tenhamos controle das consequên-cias. Portanto, caminhe com cuidado.

- Mas eu não consigo sair do lugar. Eu estou preso, como um inseto numa teia.

- É que você está pensando da maneira errada. Você está pen-sando como um garoto e deveria pensar como uma aranha, seguir a lógica delas. Como eu disse, andar com cuidado e respeitar a teia.

- Essa teia é infinita? Quer dizer, como é que eu saio daqui?- Bem, eu não sei. Cada pessoa, ou bicho, ou planta, ou pedra, tem

seu próprio Jardim das Cordas, e só ele sabe como entrar ou sair. Por-

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tando só você sabe o que fazer. Talvez eu também venha a saber, já que faço parte do seu sonho. Mas você ainda não me contou como.

- E o nome disso aqui é Jardim das Cordas?- Sim. É o nome disso aqui. Mas como eu estava dizendo, cada

um tem o seu próprio Jardim das Cordas. E esse jardim não é infinito, porque ninguém é infinito. Por outro lado, durante toda a sua vida, você vai caminhar por esse jardim infinito onde cada movimento que você fizer irá afetar alguma coisa do outro lado.

- Sei... Então isso aqui é inifinito e não é, eu vou passar o resto da minha vida preso aqui, e tudo o que eu fizer vai afetar alguma coisa do outro lado da corda que nasce num espelho e sobe até o vazio.

- Exatamente. Você entendeu.- Eu não entendi coisa nenhuma! E não faço a menor idéia do

que você está falando.- Eu só estou dizendo, basicamente, que tudo está interligado.

Que se você se debater novamente irá afetar as coisas numa intensi-dade proporcional à força, ou raiva, ou delicadeza que você usar.

- O que tem debaixo do espelho?- Você quer dizer, no chão?- É. O chão é um espelho, não é?- Sim. Ou talvez o espelho seja o céu. Isso nunca ficou bem claro

para mim. Mas o que tem embaixo é tudo o que tem em cima. Tudo é o reflexo de tudo. Isso quer dizer que qualquer movimento que você fizer vai afetar o que está sendo refletido, inclusive você.

- Já entendi. Não é a primeira vez que você diz isso. Já que estamos nos entendendo tão bem, será que você poderia ajudar a me soltar?

- Já estou ajudando.

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- Pois eu continuo preso.- É que você ainda está pensando como um garoto. Tente pen-

sar como uma aranha. Ou um elefante. Ou um equilibrista de circo. Lembre-se, demonstre respeito.

Leon torceu o corpo para um lado, para o outro, dobrou uma perna, contraiu um braço, encolheu a barriga e permaneceu prati-camente no mesmo lugar.

- Não está dando certo.- Não se esqueça que você não é mais você, que o seu ponto

de vista é outro.- Certo.Leon fechou os olhos e imaginou ser um equilibrista. Entrou no

picadeiro, agradeceu as palmas do público, subiu cuidadosamente as escadas de uma coluna de metal e chegou numa pequena base onde estava amarrada uma corda que se esticava até outra base em outra coluna. Com medo, botou um dos pés à frente, respirou fundo e projetou o corpo. Equilibrou-se. Deu um passo, dois, três e, quando se deu conta, já estava do outro lado.

Exultante de alegria, abriu os olhos para dizer ao elefante que ha-via conseguido mas, quando a luz invadiu seus olhos, ela já não era a mesma de antes. O céu estava agora azul e salpicado com nuvens que pareciam fantasmas brincando de transmutação, o elefante sorria ao seu lado e ambos estavam soltos no espaço, flutuando sem gravidade.

- E aí? Foi muito difícil?- Não. Deu muito medo no começo mas, uma vez que eu subi

na corda e me soltei, foi ficando cada vez mais fácil. Foi só uma ques-tão de fazer os movimentos certos.

- É... o segredo é mais ou menos esse. E agora? Vai para onde?- Bem, já que eu estou livre, eu acho que gostaria de ir para casa.- Pense em uma corda grossa que ela aparecerá. E não se esque-

ça de pisar com cuidado, pois ela será a corda do retorno.- Você está indo para o mesmo lado?- Infelizmente não. A gente poderia conversar mais um pouco,

tomar um suco de uva, ou um sorvete de tamarino, mas estou indo para o circo. Tenho uma apresentação às oito e vinte e seis e ainda preciso ensaiar uns passos.

- Tudo bem. Prazer por tê-lo conhecido e até uma próxima oca-sião. A propósito, você tem um nome?

- O pessoal me conhece por Vareta.

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Alfredo

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Uma e cinquenta e trêsBonifacio Segundo

Segunda, 22 de junho de 2009A adaga da mão esquerda perfura o espaço entre a quinta e a

sexta costela, a da mão direita, acerta o pomo de Adão do alvo, que num derradeiro esforço, tenta virar e ver a face de seu algoz. A força com que o carrasco puxa as sanguinolentas armas faz com que a vítima veja o mundo girar pela última vez e caia no chão findando o seu balé medonho.

A única pessoa de pé na sala se dirige ao relógio, remove suas pilhas e acerta a hora.

***

Era manhã cedo quando Monise deixou a porta da frente escan-carada e entrou correndo à procura de alguém.

- Nadia, Nadia!- ...- Mulher! Mataram Val!Monise ainda se recuperava da corrida quando Nadia agarrou

sua mão e saiu em disparada para a rua. Val, apesar da vida que levava, era seu irmão. E o mistério de Beatriz ainda não havia sido solucionado; muito menos a dor havia passado. A irmã mais velha, encontrada morta na própria cama, nua, sem marcas, apenas com um relógio de pulso preso ao corpo: uma cena muito intrigante. Chegando à casa do defunto, Nadia e Monise foram impedidas de

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entrar pela polícia. As coisas pareciam não ser tão simples como da outra vez. Do lado de fora encontraram Diogo, seu outro irmão.

***

Na cena do crime, os três peritos procuravam do que suspeitar. O tal do Valério não parecia ser um homem de posses. A sala onde morreu tinha apenas uma poltrona e uma pequena estante ocupa-da por uma TV de 14 polegadas e por um despertador com a hora errada.

O líder da investigação já estava de saco cheio de estar naquele lugar, procurando o que não encontraria, enquanto deveria estar dormindo em casa. Levantou-se e disse:

- Recolham o corpo. Eu já sei o que fazer.Roni, que era o mais novo ali e tinha mania de hora certa, re-

colocou na estante o relógio que acabara de acertar e foi cumprir a ordem.

***

Segunda, 29 de junho de 2009Diogo, que há duas semanas não conseguia dormir direito, se

remexia em sua cadeira de balanço. Nem mais prestava atenção ao filme. Ele se concentrava em resistir à tentação de ir buscar outra dose. Os balanços da cadeira se intensificando de acordo com a in-quietude do homem. Quando já estava a ponto de cair, levantou-se e pensou: “Quer saber?...”.

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Na cozinha, tomou duas generosas doses e se encaminhou, cambaleante, de volta à sala. Mas antes de deixar o ambiente, sen-tiu um empurrão súbito e intenso em suas costas. Desequilibrado e sem reflexos, caiu de barriga, batendo o queixo no chão. Começou a sentir aquela agonia que só uma pancada forte no queixo pode causar. Sua atenção só mudou de foco quando sentiu o peso de alguém que sentava em suas costas e duas mãos que pousavam em suas cavidades orbitais empurrando seus olhos pra dentro e pu-xando sua cabeça para trás. Um puxão! Dois puxões! Três! Mais dois desses e a cabeça se separaria do corpo, mas não era preciso, logo logo o homem pararia de respirar.

Depois que os roncos sufocados do homem cessaram, o único barulho audível era o tic-tac do relógio de parede, que foi reajustado e teve as suas pilhas removidas.

***

A polícia tentava manter a calma do pessoal que fazia roda em volta da porta de Diogo. Os curiosos comentavam que nenhum dos especialistas havia chegado. Na casa ao lado, Nadia tentava consolar a pobre Monise, que era a mais jovem, mais delicada e não conse-guia falar de tanto soluçar. A dor que ela sentia era realmente maior que das outras vezes. Todos sabiam: Diogo sempre foi o favorito de Monise. E agora essa...

Enquanto isso, o investigador gorducho entrava na casa de Diogo acompanhado por Roni e mais outro rapaz. Ao ver o ho-mem no chão, o líder do grupo quase parou de andar, mas disfar-

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çou o choque passando a mão pelo pescoço e pedindo aos céus pra não terminar igual ao homem deitado à sua frente. Roni se abaixou para melhor examinar, mas ao se aproximar, notou que ali havia algo mais incômodo, mais perturbador que as marcas no pescoço e nos olhos do cadáver. Havia um relógio com a hora er-rada. Conteve o impulso de acertá-lo imediatamente e Michel, o terceiro homem na cozinha, observou a curiosa mudança de com-portamento de Roni.

O principal investigador viu o que tinha que ver, levantou-se e saiu. Roni aproveitou o momento pra se entregar à sua mania. Tirou o relógio da parede, inconscientemente pronunciou a hora que ele marcava: “Uma e cinquenta e três”, ajustou a hora e se re-tirou aliviado.

Michel, que era mais experiente e mais observador, assistiu toda a cena, abaixou a cabeça e começou a devanear. Já conseguia en-contrar padrões: pessoas da mesma família, mortes na madrugada de segunda... Tinha certeza: tratava-se de um serial killer. E como qualquer serial killer, ele queria ser pego e deveria estar deixando pistas que ajudariam em sua captura. Restava saber quais.

De volta ao mundo real, ao levantar a cabeça, Michel teve uma visão reveladora. Diante dele, um relógio de parede enorme. E, infe-lizmente, estava com a hora certa. “Quando eu cheguei não estava assim não. Quem mexeu? Que horas marcava?” Estava convicto de que tinha encontrado a grande pista. Rememorou todas as cenas dos crimes e em todas elas Roni estava ajustando um relógio.

***

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Segunda, 6 de julho de 2009Michel resolvera agir por si só. Sem que ninguém soubesse,

ficaria escondido na casa onde Nadia e Monise passariam a noite, esperando apenas a hora de agir.

Já era madrugada, ele estava entrando furtivamente por uma janela quando ouviu ruídos como os de um engasgo seguidos de um baque estrondoso no chão. Apressou-se e finalmente dentro da casa, ouviu alguns bipes, depois passos apressados. Ao chegar na sala, ainda viu o vulto se retirando, mas desistiu de persegui-lo ao ver que o corpo no chão ainda tinha vida. Tentou ajudar. Ao mesmo tempo fazia várias perguntas. Quando perguntou “Quem?” sentiu a pressão de uma mão apertando o seu pulso. Era a mulher tentando chamar a atenção para uma última coisa. Ela prendeu a respiração, usou toda a força que restava e ergueu a outra mão. Michel seguiu a direção que o indicador apontava e viu. O display de um video-cassete exibia num verde pálido, contra toda a escuridão da casa, a mensagem:

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SaideiraLaudelino

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MercadóidesAndré Ricardo Dias

Sentia cãibra nas bochechas, era algo como alegria de besta ao levar carga de arrieiro. Subia e descia por conta de umas duas voltas ao mundo, num ano de trabalho, uma escada metálica apertadinha de corrimão preto do grude das mãos. - Colaborador X! Dirija-se ao... Já imaginava o quê e mantinha os dentes à mostra para o pois não senhora nós é que agradecemos. O quê. Quem? Meias, calças, blusas. Vestidos, infantil, adulto, calça, lenço. Cueca. Quentinha. Meia hora de garfo seguido por um arroto etéreo no espaço refrigerado. A cura da sinusite crônica deu-se após seis meses de labuta naquele lugar gelaaaado e pesados miligramas diários de antibióticos. Narcotizou-se em pílulas de doze horas contadas num ponto eletrônico.

As batatas bem torneadas davam a impressão de volume hal-terófilo sob as calças. E era mesmo só massa. Quilos de roupas e tecidos de gôndola em gôndola. - Colaborador X! Dirija-se. Colabo-rador... Contribuía. ? Os departamentos espelhados reproduziam mercadorias e outros seres mecanicamente animados. Entre estes, colaborações mútuas de afazia. Pi Pi Pi. Valor na tela, maquininha, no caixa aberto entra, sai o troco. Pi Pi Pi. A fila não cessa, quando um sai outro entra, dando a continuidade do movimento. Do outro lado volumes de mercadoria eram empilhados sobre uma bancada. E, quando se joga milho no galinheiro... Mulheres e crianças apertan-do-se, vorazes, como esfomeados ao ver comida, davam braçadas no ar em direção às peças da promoção, entre apertos e empurrões. Após muita luta, o sorriso do satisfeito na dentadura da comadre

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abraçada ao objeto de conquista. Num reflexo napoleônico, outra dava uma coçadinha nos peitos suados enfiando os dedos por en-tre os botões da blusa. Não era tarefa fácil, afinal. Todos em fila! Pi Pi Pi....

Colaborador subindo e descendo. Dessas descidas vinham bra-çadas de mercadoria e a mais dissimulada cara de alegria nuns den-tes cerrados, numa boca aberta sem saber por quê. Mais porradas e peitos suados. Na ala infantil, uma criança havia regurgitado a fritura do lanche de pouco antes. Era lilás o número que ofereciam, mas só Pink o que queria. Escândalo. Umas bofetadinhas da mamãe e por fim, emporcalhava-se o chão da ala dos vestidinhos. - Colaborador X! Dirija-se... Agora descia as escadas de balde e esfregão.

Aquilo era como uma saída na tarde de domingo. Pela primeira vez em quase um ano de trabalho, pegava naquele material. Os de-graus não eram mais os mesmos.

Por um instante, parou. Deu-se de frente com uma coluna es-pelhada. - Colaborador X! - A voz era magrela, fanha, de corise es-correndo pelo nããriz -. Olhou e o que viu no reflexo ao fundo foram roupas, pessoas informes num vai e vem atordoante e em primeiro plano, uma farda, balde, esfregão... E um cabide. No topo da farda, um cabide. Na lógica do organizador de mercadoria, ali, cabide era no mostruário. Porém o caso era mais complexo. Um público for-mara-se para ver aquele auto reconhecimento. Três pancadinhas e nada de encaixar-se o cabide no mostruário. Mais umas cabeçadas e o sangue escorria pela testa melando a camisa que agora já não era por completo padronizada. Dois outros lá, meio autômatos, sur-giram de repente. Aproximaram-se, um de cada lado e o levaram

segurando-o pelos braços até depois das últimas seções no fundo da loja. O mau cheiro nauseante do vômito imundo já incomodava quem se aproximava da ala. O que não durou muito, só até outro sujeito de farda surgisse para fazer o serviço, utilizando os mesmos instrumentos deixados pelo “cara-da-cabeça-de-cabide”. Fora assim apelidado pelo pessoal da loja, e até os médicos dessa forma tam-bém o chamavam na ala onde ficava, geralmente atado por tiras de tecidos e untado do vômito que transbordava da sua boca a cada dose de que remédio vai saber. Lá na fila o movimento continuava, um saindo e outro entrando, e mais mercadorias saindo. Pi pi pi.

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Embriaguez e desordemAntônio Mariano

Souza, trancafia o elemento, Bezerra, lavra a ocorrência por em-briaguez e desordem, uma voz firme, sons de fala, imagem de nin-guém, mãos grosseiras me conduzindo e dois cilindros metálicos me cortando os pulsos, e a voz que manda, pela manhã, quando ele estiver bom, entrega sabão e creolina para faxina na cela, depois libera, ok?, cuidado para o desgraçado não dormir de bruços e se afogar no próprio vômito, agora vou sair que a negra Lu me espera, se minha mulher ligar, fala que saí em diligência, e nada de folga, entendido?, qualquer coisa, sabem onde me encontrar, sai da fren-te, Oliveira, porra, quantas vezes já repeti para não colocar a merda dessa cadeira trancando a saída?, tontos acontecimentos titubean-do na cabeça, um cara com gestos dirigidos a minha namorada e ela sorrindo para ele o tempo todo, um barzinho para nos divertir depois de uma semana de trabalho, idéia dela, idéia dela, caralho, e eu servindo de bobo em seguida, a cadela dando bola pro babaca, mas que nada, otário sou eu, ele não, muito mala, muito esperto, tem certeza que se deu bem, malandro é malandro, mané é mané, já diz a canção, e só agora eu me ocorre que isso um dia se aplicaria a mim, Deus meu, a voz que manda antes de ir embora, desconsi-derem o que falei, libera uma pinóia, aguarda eu voltar, o dono do boteco ficou de trazer a conta dos estragos que ele promoveu, se pagar sai, se não, tá ferrado o neném, desce para a penitenciária e espera lá mesmo correr o processo e o dia do julgamento, os estra-gos que eu não fiz, o espertalhão que me empurrou quando fui falar

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com ele, eu que tive que engolir cinco rabos de galo, gira mundo, minha cabeça quer rachar, essa mistura de cachaça com cinzano não é brincadeira não, mais duas cervejas para lavar e criar coragem de tomar satisfação, caí derrubando três mesas, garrafas, o sistema de som, o músico, um banquinho e um violão que quebrou em três partes, o povo correndo, os homens chegando, mané é mané, o cara que flertava com minha namorada se antecipa, tudo culpa

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desse folgado, cabo Clemente, ele me perturbou com minha mina, não foi, fofura?, e não é que ela assentiu com a cabeça?, malditos três vezes, má sorte a dela, tiro da poupança o dinheiro dos danos materiais, ela quem perdeu, não terá o implante dos dentes nem a prótese de silicone, ela que fique rindo pra quem quiser com a den-tadura rachada e aqueles peitos moles, quaquaquá, diz o patinho na lagoa, então veremos quem ri melhor.

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M esmo ainda sem nome formal, em junho de 2004 já se vislumbram sinais de crescimento. Como denominar aquele grupo de criaturas,

concentradas em volta de uma fogueira imaginária a contar histórias todo sábado? Precisa-se de uma identidade. Na-quele mesmo junho, alguém tem uma proposta de nome: Clube de Contistas? Não. Clube do Contista? Também não. Seria personalizar muito. Que tal Clube do Conto? Sim, é um nome genérico e universal. Além do mais, o conto é mais significativo do que o contista. Há um debate ligeiro e a una-nimidade decide. Está batizado o grupo: Clube do Conto da Paraíba. O conto é o denominador comum a aproximar os participantes.

Há registros de que, em junho de 2004 desenham-se traços mais nítidos e característicos do grupo. Pensa-se, pela primeira vez, em proposituras de temas que possam servir de pontos de partida para elaboração de histórias a cada semana. Geraldo Maciel, o Barreto, é o mentor da idéia. Co-locada em prática essa invenção, o tema pioneiro é “teia”, por sugestão de uma contista integrante do grupo que se declara presa nas “teias” de seu próprio casamento e que por isso deverá deixar de comparecer a algumas reuniões. O tema “teia” rende vários bons contos, histórias diversificadas,

E o formigueiro cresce à luz de temasfa

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2por Dôra Limeira

teias de toda qualidade, de todo tamanho e espessura. Essa práti-ca de temas se revela como desafio à capacidade de inventar, há um incitamento à imaginação. O resultado é a explosão de contos, perfazendo hoje um total de oitocentos contos, aproximadamente. Histórias sobre velórios, traições, pecados veniais e mortais, histórias escatológicas, fantasiosas, fantásticas, tudo será motivo para brincar, razão de criar.

Nos intervalos das leituras, as conversas se desenvolvem infor-mais, versando sobre assuntos vários. Um assunto sempre presente é a vida virtual de cada participante. Nesse item, trocam-se experiên-cias, fala-se das listas de internet, conflitos de opiniões, oficinas li-terárias on line e comunidades de orkut. Fala-se até sobre amantes libidinosos na internet.

O próximo capítulo, isto é, o terceiro capítulo, versará sobre os registros das reuniões, as famosas atas que mais desatam do que atam.

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aAntônio Mariano

R esumir Antonio Mariano não é ta-refa fácil. Nascido em João Pessoa, formado em Artes Cênicas, com

experiências como radialista, ator, apresen-tador, agitador cultural, Mariano é por defi-nição um irrequieto.

Começou publicando O Gozo Insólito, livro de poe-mas, pela Scortecci Editora (1991). Depois, seguiram Te Odeio com Doçura (1995), Guarda-chuvas esquecidos (2005) e Imensa Asa sobre o Dia, contos (2005).

Também participou de eventos, como os Encon-tros da Interrogação. Ou, muito lúcido, contribuiu com os fenômenos culturais da nossa terra, criando o Tome Poesia, hoje renovado para Tome Poesia, Tome Prosa. Publicou, através das Edições Trema, autores locais em edições de bolso.

É um dos idealizadores do Clube do Conto da Paraíba. Mariano tem uma obra em vigência, com plena

consciência de linguagem, senso crítico, irreverência e urgência. Seus poemas traduzem os pequenos labirin-tos do cotidiano com um alcance universal.

Atualmente, edita o Correio das Artes, suplemento literário de grande importância para todas as gerações de escritores e leitores.

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