Revista Pergunte e Responderemos Ano 46 No-514-Abril-De-2005

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Revista Pergunte e Responderemos Ano 46 No-514-Abril-De-2005

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  • Projeto

    PERGUNTEERESPONDEREMOS

    ON-LINE

    Apostolado Veritatis Splendorcom autorizago deDom Estvo Tavares Bettencourt, osb

    (in memoram)

  • APRESENTAQODA EDIQO ON-LINE

    Diz Sao Pedro que devemos estarpreparados para dar a razo da nossaesperanca a todo aquele que no-la pedir(1 Pedro 3,15).

    Esta necessidade de darmos contada nossa esperanga e da nossa f hoje mais premente do que outrora, visto quesomos bombardeados por numerosascorrentes filosficas e religiosas contrarias f catlica. Somos assim incitados a procurarconsolidar nossa crenca catlica medianteum aprofundamento do nosso estudo.

    Es o que neste site Pergunte eResponderemos prope aos seus leitores-.,- aborda questes da atualidade- T controvertidas, elucidando-as do ponto de

    vista cristo a fim de que as dvidas sedissipem e a vivencia catlica se fortaleca no- _ ._,__ ; Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar

    este trabalho assim como a equipe deVentatis Splendor que se encarrega dorespectivo site.

    Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.Pe. Estevo Bettencourt, OSB

    NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDORCelebramos convenio com d. Estevo Bettencourt eSXXT adadisP"ibfart^ta rea, o exce.ente e^mpr^atualconteudo da revista teolgico - filosfica "Peraunte pResponderemos", que conta com mais de 40 anos de puScaA dl Ettl0 Bettencourt agradecemos a confiaga depositada

  • "Amicus Plato, Magis rnica Veritas"Juros: Sim ou Nao?Tres desafios: Religiao ou Biologa?"Decodificando Da Vinci" por Amy Welborn

    Celibato: Sim ou Nao?Os Dzimos: Que sao?Documentrio AnencefaliaQuatro muiheres nomeadas pelo Papa

  • PERGUNTE E RESPONDEREMOSPublicago Mensal

    ABRIL 2005N514

    Diretor ResponsvelDom Estvao Bettencourt OSBAutor e Redator de toda a materiapublicada neste peridicoAdministrado e Distribuico:

    Edicoes Lumen ChristiRa Dom Gerardo, 40 - 5 andar - sala 501Tel.: (0XX21) 2291-7122 - Ramal 327

    Fax (0XX21) 2516-9343Endereco para Correspondencia:

    Ed. Lumen ChristiRa Dom Gerardo, 40 - sala 501Centro

    CEP 20090-030 - Rio de Janeiro - RJVisite o MOSTEIRO DE SAO BENTOe "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"na INTERNET: www.lumenchristi.com.bre-mail: [email protected]

    CNPJ: 33.439.092/0003-21

    SUMARIO"Amlcus Plato, Magis rnica Ventas".... 145Contradigo?Juros: Sim ou Nao? 146

    InfusSo da alma humana:Tres desafios: Religiio ou Biologa? ... 153

    Resposta oportuna:"Decodificando Da Vinel" por AmyWelborn 158Urna prtica antiga em novos termos:Os Dfzlmos: Que sao? 165Confronto:

    Celibato: Sim ou N3o? 176Documentarlo Anencefalia 180Para cargos importantes:Quatro mulheres nomeadas

    pelo Papa 188

    IMPRESSAO

    GRFICA MARQUES SARAIVACOMAPROVACO ECLESISTICA

    NO PRXIMO NMERO:O recenseamento de Le 2,1-5. -"Repensar a Ressurreico" por A. T. Gueiruga. - Cien-tista descobriu a Atlntida? - Clulas-tronco: verdadeiras e falsas esperanzas. -Traba-

    Ihadores da sexualidade. - Onde estava Deus? - Biblia: urna tradugo irreverente. - ODireito da primeira noite. - "Ouviram-se vozes no inferno". - Deus e a Ciencia.

    PARA RENOVAQOOU NOVAASSINATURA(12 NMEROS) R$ 45,00.NMEROAVULSO R$ 4,50.

    O pagamento poder ser sua escolha:1. Depsito em qualquer agenda do BANCO DO BRASIL, agencia 0435-9 na C/C 31.304-1

    do Mosteiro de S. Bento/RJ ou BANCO BRADESCO, agencia 2579-8 na C/C 4453-9das Edices Lumen Christi, enviando em seguida por carta ou fax comprovante dodepsito, para nosso controle.2. Cartao de Crdito: VISA e MASTERCARD (favor informar n, validade do cartao e cdigo de

    seguranza).3. Boleta Bancria (favor entrar em contato mencionando a opcSo).Obs.: Correspondencia para: Ediges Lumen Christi

    Ra Dom Gerardo, 40 - sala 501CentroCEP 20090-030 - Rio de Janeiro - RJ

  • "AMICUS PLATO, MAGIS AMICA VERITAS""Se Plato amigo, anda mais amiga a verdade". Eis urna frmulamuito sabia e corajosa do antigo pensamento latino. Que diz ela?

    Plato, no caso, representa nao apenas um homem, um homem brilhan-te, mas exprime de modo geral, os valores sensveis, reais ou aparentes, que

    muito podem seduzir a criatura humana. Sao visveis e sonoros em contrastecom a Verdade que parece abstrata e vaga; em vez de satisfazer, pode at dar

    prejuzos de ordem material. Com efeito; a verdade pode suscitar, em quem acontempla, duas atitudes:

    Medo. Sim; a verdade pode contribuir para me libertar de minhas pai-xes ou da escravido a que me reduzem os meus vicios. Serei entao

    desinstalado. Ora isto me deixa amedrantado;Vergonha. Professar a verdade num ambiente que Ihe hostil podeprovocar nao somente o medo, mas tambm a vergonha,... a vergonha de serdiferente. O chamado "respeito humano" leva nao raro a trair a verdade. A

    propsito seja recordado o caso de Sao Pedro em Mt 26,69-75: traiu a Verdade, mas resgatou-se, confessando tres vezes seu amor a Cristo, conforme Jo

    2i', 15-17.Ora o cristao chamado a lidar com Plato; cujos valores materiais elepode estimar. Nao o faga, porm, a ponto de esquecer a Verdade, que, emltima anlise, Cristo. Averdade, de inspida que no comeco da caminhada,vai-se tornando saborosa e atraente, pois preenche as mais profundas aspira-

    ges do ser humano. Este possui um intelecto que foi feto para a Verdade, demodo que a falsidade e o erro ferem frontalmente a inteligencia humana.

    Dir algum: o amor Verdade assm entendido exigente e penoso.- Nao h dvida; notorio, alias, que o primeiro passo que a Igreja d quando

    se trata de averiguar a santidade de algum consiste precisamente em verificarse foi heroico (na prtica das virtudes). O herosmo h de se tornar familiar aocrsto. Nao o herosmo que contemplado e aplaudido por todos, mas oherosmo de quem aposta urna corrida nao de salto (a qual seria compensada

    por vibrantes aclamagoes), mas urna corrida de flego, a qual, quanto mais seprolonga no silencio e na paciencia indomvel, tanto mais gloriosa aos olhosdo Criador e dos parmetros definitivos, embora as criaturas nao valorizem talcapacidade de herosmo. este o herosmo de quem d um passo, mais um

    passo, mais um passo..., sem saber quantos ainda poder dar, mas dente deque a vitria dos teimosos.

    Estas reflexes poderiam brotar, quase na ntegra, da mente de um sabio latino antigo. Com muito mas razo procedem da mente de um cristao,para quem a Verdade nao urna teora apenas, mas o prprio Cristo (Jo 14,6), no qual se encontram escondidos todos os tesouros da sabedoria e doconhecimento (Cl 2,3). de notar, alias, que o lestemunho" cristao em grego

    dito martyrion, palavra que implica "professar at o derramamento de san-gue".

    Possam estes dizeres do mes de abril fazer eco aos Aleluia da Pscoa,que cantam a vitria da Verdade e da Vida!

    E.B.145

  • PERGUNTE E RESPONDEREMOS'Ano XLVI - N 514

    Abril de 2005

    Contradigo?

    JUROS: SIM OU NAO?

    Em sntese: A Escritura do Antigo Testamento condena a prticados juros - o que repercutiu na Tradigao crista, infensa cobranga dejuros at o secuto XVIII. Atualmente a Moral catlica reconhece a liceidade

    dos juros razoveis, visto que se tornou mais ntido o fato de que o di-nheiro um bem mvel que deve proporcionar ao seu proprietrio umjusto lucro.

    * * *

    Va internet a Redaco de PR recebeu a seguinte mensagem:"Prezados amigos: Ontem tive urna aula de Direito Comercial, cujoresumo segu abaixo:

    'Na Idade Media emprestar dinheiro a juro era considerado pelaIgreja Catlica um pecado. Alias, acumular riqueza era pecado. Todostinham que entregar seus ganhos para a manutengo da Igreja.

    A partir das Cruzadas, surgiu urna legio de soldados que ficarammulto famosos e temidos por todos: os Cavaleiros Templarios. Eram as-sim conhecidos porque guardavam os templos e os locis onde estavamos objetos sagrados da Igreja Catlica, tal como o Santo Graal entre ou-tros. As pessoas enviavam seus filhos logo nascidos para essa legio, afim de que se transformassem em grandes guerreiros (tipo o Lancelot).

    Ora, ento as pessoas logo pensaram que nao haveria lugar me-Ihorpara guardarem suas riquezas do que nos prprios templos, protegidos pelos Cavaleiros Templarios, e assim fizeram.

    Ocorre que a Igreja Catlica precisou de dinheiro para as Cruzadas, e comegou a gastar aquele que as pessoas colocavam nos templos.

    146

  • JUROS: SIM OU NAO?

    Em troca, oferecia garantas escritas. E ENTO SURGIRAM OS PRI-MEIROS TTULOS DE CRDITO'.

    Algum dos amigos poderia tecer considerages sobre oensinamento?

    A mensagem ser, a seguir, comentada, com nfase na temticados juros.

    1. Os juros: histrico e avaliagoO emprstimo a juros pode ser definido como um contrato peloqual aquele que toma emprestado se compromete a pagar peridicamente ao credor urna porcentagem sobre o valor que Irte posto dispo-sigo. Usura pode significar a prtica extorsiva ou exagerada dos juros.

    Sero examinadas a Escritura e a Tradigo no tocante aos juros.1.1. EscrituraNo Antigo Testamento a legislado, com raras exceges, se voltacontra os juros. Assim

    S115,1-5: "Senhor, quem pode hospedarse em tua tenda? Quempode habitar em teu monte sagrado?... Aquele que nao empresta dinhei-

    ro com usura...

    Ez 22,12 censura a casa de Israel por ter praticado o emprstimoa juros:

    "No meio de ti ha quem tenha recebido presentes a fim de derramarsangue. Aceitaste juro e usura..."

    Os autores sagrados referem a que ponto de crueldade podia che-gar a cobranza de juros ou de garantas por parte dos credores em Israel:

    Ne 5, 15: "Levantou-se urna grande queixa entre os homens dopovo e suas mulheres contra teus irmos, osjudeus... 'Tivemos que to

    mar dinheiro emprestado penhorando nossos campos e vinhas para pa-garmos o tributo do re; ora temos a mesma carne que nossos irmos e

    nossos flhos sao como os deles; no entanto temos que entregar a escra-vido nossos flhos e flhas... Nada podemos fazer porque nossos campos e nossas vinhas j pertencem a outros'".

    Ver ainda Is 50,1; Am 2, 6; 8,6.Havia, urna clusula na Lei de Moiss que proibia ao judeu cobrarjuro de judeu.

    "Nao emprestes ao teu irmao com juros, querse trate de emprstimo de dinheiro, quer de vveres ou qualquer outra coisa sobre a qual

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  • "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005

    costume exigirjuro. Poders fazerum emprstimo comjuros a estrangei-ro; contudo emprestars sem juros ao teu irmao" (Dt 23, 20).

    "A teu irmao nao emprestars dinheiro a juro, nem Ihe dars alimento para receber usura" (Lv 25, 37).

    Em concluso: os autores do Antigo Testamento assumem duas posi-coes frente aos juros: ora sao proibidos peremptoriamente (SI 15, Ez 25),ora sao permitidos no relacionamento com nao israelitas (Lv 25, Dt 23).

    No Novo Testamento os hagigrafos referem-se aos juros favora-velmente quando narram a parbola dos talentos: o rei disse ao servidorocioso: "Devias ter depositado o meu dinheiro junto aos banqueiros e, aovoltar, eu receberia com juros o que meu" (Mt 25, 27; cf. Le 19,19-23).

    Nesta passagem (a nica que trata do assunto no Novo Testamento) os juros sao reconhecidos como legtimos ou at mesmo obrigatrios,

    pois aflora a conscincia de que o dinheiro um bem mvel.1.2. Os antigos escritores cristosAt o sculo III pouca coisa se encontra nos escritos dos antigos.Clemente de Alexandria (f 211/215) v as proibices do AntigoTestamento um incentivo caridade fraterna. Sao Cipriano (t 258), bispode Cartago, censura os que praticavam a usura oprimindo os pobres.

    A partir do sculo IV os Padres da Igreja registram mais freqentesabusos no tocante a emprstimos e juros. Assim Sao Basilio (t 373) dei-xou um tratado Contra a Usura (PG XXIX 163ss), no qual se l:

    "Que pode haver de mais desumano do que conseguir rendimen-tos s cusas das calamidades do pobre e juntar dinheiro as custas da-queles que a necessidade obliga a solicitar um emprstimo?"

    S. Ambrosio (t 397) cita as palavras de Cicero: "Emprestar dinheiro a juros matar".

    Enumera os maleficios da usura:"A usura espreita os herdeiros e os jovens ievando-os a loucasdespesas. Ela acende as paixes, leva os reos miseria e chega a explorar o prximo. E tudo isto acontece por causa de um dinheiro com o

    qual o proprietrio nada tinha que fazer" (De Tobia PL XIV 769s).Lactncio (t aps 317) afirmava:

    "Cobrar juros tirar vantagem dos males alheios" (EpitomeDivinarum Institutionum 64).

    Em suma, o gramtico Ausnio sentencia. "Velox inopes usuratrucidat. - A usura sem demora trucida os indigentes".

    148

  • JUROS: SIM OU NAO?Desenvolvendo estas idias, os escritores cristos, os doutores daIgreja e os concilios, em termos assaz claros e fortes, tomaram posigocontraria aos juros.

    Na Idade Media, S. Toms (t 1274) num estudo minucioso conde-nava os juros, baseando-se na tese de que pelos juros se vende duasvezes o mesmo objeto (cf. Suma Teol. ll/ll 78,1-4).

    Nao se poderia, porm, deixar de notar que essas condenagespressupunham ser a praxe dos juros extorsiva e acabrunhadora para os

    pobres. Nao visavam circunstancias especiis, que pudessem legitimara cobranga de moderada taxa suplementar.

    1.3. O Magisterio da IgrejaJ no sculo IV um Concilio regional do norte da frica censuravaos leigos que cobravam juros. Prtica esta dita "vergonhosa". Na verda-de, posteriormente a legislago oficial da Igreja proibia tal prtica to so-

    mente ao clero, mas o rigorismo prevaleceu de tal modo que na IdadeMedia era unnime a condenago da cobranga dos juros.

    O famoso jurista Graciano professava que qualquer taxa acrescen-tada ao capital emprestado usura e, por isto, devia ser severamente

    proibida.Os Decretis dos Papas Alexandre III (1159-1181 )e Urbano III (1185-1187) reprovaram a prtica dos juros, apelando para a Escritura e pres-crevendo a devoluco desse "lucro torpe".

    Acondenago foi tambm proferida pelos Concilios gerais de LatroIII (1179) e de Lio II (1274).

    Em 1322 o Concilio geral de Viena houve por bem condenar comoherege quem se obstinasse a cobrar juros.

    1.4. A Rplica ModernaAs primeiras vozes a se insurgir peremptoriamente contra o pontode vista negativo foram as de Calvino (t 1564) e Carlos du Moulin

    (t 1566), enquanto Lutero reprovava os juros. O primeiro, negando que odinheiro seja um bem improdutivo, comparava-o a um campo ou urna

    casa, bens frteis para o seu proprietrio; da deduzia que, assim comonao pecado alugar urna casa, tambm nao ser inquo emprestar dinheiro a juros; s se poderia falar de pecado em casos de taxas exageradas.

    Um sculo mais tarde, C. Saumaise (t 1653) reforgou a posigo deCalvino, afirmando dois principios: o uso do dinheiro pode ser vendido; o

    prego desse uso deve ser determinado pela vontade livre dos interessa-149

  • "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005dos. A nova tese foi angariando adeptos cada vez mais numerosos entrecatlicos e protestantes, que apelavam para novos costumes comerciise novas modalidades de contratos da era moderna. O Papa Inocencio XIem 1679 ainda condenou sentencas diretamente favorveis aos juros(cf. Denzinger, Ench. 1190s). Nos decenios seguintes foram-se suceden-do as opinioes antagnicas sobre o assunto, com vantagem, porm, paraa tese da liceidade, que se ia tornando cada vez mais comum. O estadode coisas provocou nova intervenco pontificia: a cidade de Verana fize-

    ra um emprstimo a juros de 4%; o fato foi referido em memorial ao PapaBento XIV por um de seus amigos; o Pontfice ento, que era grandejurista, resolveu empreender estudo aprofundado da questo e, aps

    madura deliberaco, escreveu a encclica "Vix pervenit" de 1o de novem-bro de 1745: acentuou mais urna vez as razes contrarias aos juros; re-conhecia, porm, que, caso algum sofresse conseqncias penosas doemprstimo de dinheiro, poderia a este ttulo exigir justa compensaco.Contudo a controversia nao cessou, e a praxe dos juros se foi alastrandocada vez mais, at que, a partir do sculo XIX, o problema tomou novaconfiguraco e conseqentemente mereceu nova soluco, a soluco vigente em nossos dias.

    Note-se ainda que no fim do sc. XVIII a Assemblia ConstituinteFrancesa introduziu na linguagem oficial dos juristas a distinco entrejuros (ntrts, Zins) e usura (usure, Wucher), distinco hoje comumente

    adotada; fala-se de juros quando se cobra taxa legal (reconhecida peloEstado), ao passo que a usura significa extorso.

    1.5. AvaliacoExaminemos agora os principios a ser aplicados na soluco doproblema.

    Observe-se, antes do mais, a distinco entre bens frteis e bensesteris. Os primeiros acarretam vantagens para quem os usa sem quepor isso se destruam; tais sao os campos, os animis de carga, as rvo-res frutferas, os instrumentos de trabalho, etc. Os bens esteris, ao contrario, sao os que s implicam emolumento para quem os emprega me

    diante destruico de si mesmos; consomem-se, quando utilizados- te-nnam-se em vista, por exemplo, os alimentos, o carvo, o leo para ailuminaco, etc.

    Feita essa distinco, note-se o seguinte: em se tratando de bensesteris, praticamente nao tem cabimento a distinco entre a substanciae o uso dos mesmos; o seu uso nao pode ser objeto de urna avaliaco oude um preco independente do prego da respectiva substancia; por con-segumte, quem recebe um bem estril emprestado, obrigado a devolver o equivalente em quantidade e qualidade. Quem exigisse mais do

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  • JUROS: SIM OU NAO?que sto, violara a justiga comutativa, porque praticamente vendera oobjeto duas vezes. - Pode acontecer, porm, que quem empresta um

    bem estril, venha com isso a sofrer algum prejuizo: ou deixa de auferirum lucro que Ihe tocaria caso nao emprestasse, ou padece real diminu-go do valor de seu capital ou corre serio risco de perder o objeto em

    prestado. Em tais casos, quem empresta tem o direto de exigir urna com-pensaco; esta, porm, Ihe ser dada nao por efeito do emprstimo comotal, mas por motivos extrnsecos ao mesmo.

    Quanto aos bens frteis, pode-se separar da sua substancia o usodos mesmos. Este, portanto, pode-se tornar objeto de estimago e contrato prprios, de sorte que quem os toma de emprstimo seja obrigado

    nao somente a restituir o objeto como tal, mas tambm a pagar urnaquantia correspondente utilizaco do objeto.

    Trata-se agora de saber em qual das duas categoras se coloca odinheiro.

    Os antigos e medievais o classficavam entre os bens esteris; poristo tnham por ilcita a exigencia de alguma taxa correspondente ao usodo dinheiro emprestado. No mximo, admitiriam a compensago espordica, motivada por elementos contingentes e extrnsecos ao objeto em

    prestado. A aplicaco dos principios fazia-se, pois, segundo rigorosa lgica.

    Nos tempos modernos, os principios conservam seu pleno vigor.Os moralistas, porm, sao obrigados a reconhecer que o andamento daeconoma vigente muito diverso do dos sculos passados, de sorteque, a partir do sc. XIX, j se pode dizer que o dnheiro se tornou um

    bem frtil, nao podendo mais ser considerado bem improdutvo como naIdade Media; quem tem dinheiro em mos, tem sempre, na vida moderna, a possiblidade de o fazer render; mltiplas empresas lucrativas se

    Ihe oferecem, onde o dinheiro pode ser vantajosamente colocado; quan-do mais nao seja, quem tem dinheiro em mos, tem crdito para desenvolver seus negocios. Ao passo que se na antigidade nao havia razo

    para dar valor econmico posse atual do dinheiro, hoje tal valor naopode ser denegado. Ademis a desvalorizago crescente do dinheiro naera moderna faz que a mesma quantia nao represente o mesmo valortempos aps o emprstmo; a justica, pois, exige que quem empresta

    receba um pouco mais do que emprestou, para nao ser lesado. Sao estes fatores que atualmente do fundamento ao direto a juros ou a urna

    compensago financeira correspondente ao fato mesmo de algum seprivar provisoriamente do uso do seu dinheiro. Atendendo a estas circunstancias novas, a Igreja, sem derrogar aos principios expostos, nao

    condena a praxe dos juros, mas, ao contrario, a tem por justa.151

  • "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005

    A partir do sculo passado, as Congregacoes do Santo Oficio e daS. Penitenciaria tm explcitamente reconhecido a legitimidade dos jurosmoderados.

    1.6. Reflexo finalAtravs das oscilacoes dos moralistas e juristas catlicos, pode-sedizer que a doutrina da Igreja ficou sendo sempre a mesma; as aplica-coes, porm, variaram porque variaram as circunstancias.

    O principio doutrinrio o seguinte: quem recebe emprestado con-trai a obrigaco de devolver o valor emprestado, e quem empresta tem odireito de exigir. Pode acontecer, porm, que o emprestante sofra prejuzopelo fato de emprestar, pois deixa de negociar com seu dinheiro e perdeocasies de lucrar; em tais circunstancias, tem o direito de cobrar umacompensaco ou juros mdicos, de mais a mais que quem pede emprestado muitas vezes pede para fundar um empreendimento lucrativo.

    Pode acontecer, porm, que o emprestante nao tenha a possibili-dade de lucrar algo com o dinheiro emprestado, como outrora se julgava;em tal caso a cobranca de juros seria injusta exploraco da necessidadealheia.

    2. Cruzadas e TemplariosJuntamente com os juros a mensagem transcrita p. 146 menciona as Cruzadas e os Templarios.

    As Cruzadas foram expedicSes militares destinadas a libertar oSanto Sepulcro de Cristo sujeito ao dominio muculmano, que maltratavaos cristos. Foram uma viva expresso da f dos cristos medievais quenao duvidavam do dever de conscincia que Ihes era sugerido pelo'bra-do: "Dios lo volt. - Deus o quer". A propsito ver PR 351/1991, pp 364-454/2000, pp. 122ss, como tambm o opsculo sobre as Cruzadas publi

    cado pela Escola "Mater Ecclesiae" cujo telefax 0XX21-2242-4552.Os Templarios constituram uma Ordem de cavaleiros fundada paradar assistncia aos peregrinos da Trra Santa e nao para guardar tem

    plos e santuarios em geral. O Santo Graal lendrio; nada tem a ver coma Ordem dos Templarios, cujo nome se deve ao fato de que foram alojados junto as ruinas do Templo de Jerusalm. Ver PR 510/2004, pp. 566-o/o.

    Como se v, a mensagem passada em sala de aula aos alunos deDireito Comercial est seriamente equivocada, como nao raro acontecequando os historiadores entram em temas especficos da historia da Igreja

    152

  • Infusao da alma humana:

    TRES DESAFOS: RELIGIO OU BIOLOGA?

    Em sntese: Aps as pesquisas do Prof. Jerme Lejeune, nao resta dvida de que a vida humana comega com a fecundago do vulo pelo

    espermatozoide. Todava contra essa tese levantam-se objeges derivadas de estados biolgicos relativos principalmente a formagao de gme-os. O artigo tenciona mostrar que tais objeges sao inconsistentes.

    * * *

    O Sr. Helio Schwartsman editoralista da FOLHA DE SAO PAULOe via nternet enva a seus correspondentes a mensagem, que vai abaixotranscrita a fim de poder ser comentada:

    1. O Problema" paradoxal que seja em nome da preservago da vida que catlicos e protestantes se oponham com tanta veemncia a investigagoesque buscam a cura para molestias degenerativas que tm o pssimo h

    bito de matar, como diabetes, alguns tipos de cancere at coronaropatias,as grandes genocidas dos das de hoje. claro que nem todos os religi

    osos ficaram loucos. Eles sao contrarios a essas pesquisas porque elasimplicam a destruigo do embrio, que, para eles, j urna vida to boa

    quanto a de um beb nascido ou a do papa. Para quem considera que avida comega na concepgo, que no instante em que o espermatozoidepenetra a parede do vulo que surge a alma definidora da condigo hu

    mana, o aborto de fato urna forma de assassinato.O problema desse ponto de vista que ele nao resiste nem a urnarpida anlise biolgica. A atividade cerebral humana, que o que maispeo chega da nogo de alma, emerge gradualmente ao longo das 40

    semanas de gestago e segu se desenvolvendo aps o nascimento.Mesmo o instante da concepgo nao exatamente um 'instante'. Entre a penetrago do espenvatozide no vulo e a fusao gentica dos gametasocorre um intervalo de 24 a 48 horas. Ser que a alma leva todo esse tempopara sersoprada no novo ser? Pior, se assumimos todas as conseqncias

    dessa nogao, mulheres que usam DIU ou tomam a plula do dia seguintedeveriam ser processadas como assassinas, pois esses mtodoscontraceptivos impedem que o concepto-j com alma - se implante no

    tero. (Sei que a Igreja Catlica de fato condena toda forma 'nao-natural' deprevengao da gravidez, mas a maiora dos protestantes nao vai tao longe).

    153

  • 10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005Tambm representa um desafo lgico o fenmeno da gemelaridade.Gmeos monozigticos (idnticos) se formam entre 1 e14 dias depois dafertilizago, quando o concepto sofre um desenvolvimento anormal dando lugar a dois ou mais individuos com o mesmo material gentico. Aalma, claro, j estava l. Ela tambm se divide, ou outras almas surgempara animaros demais irmaos? No segundo caso, de onde elas vm? E,

    se gmeos partilharem a mesma alma, como fca o livre-arbtrio? Se unirmao pecar, levar o outro - eventualmente bom - ao inferno, visto que a parte material que guarda o dom da vida eterna?

    Urna preocupago mais teolgica do que biolgica a que diz res-peito as almas dos 2/3 a 3/4 dos vulos fecundados que jamis se fxam

    no tero, resultando em abortos espontneos. Como a 'morte'vem apsa concepco, a almaj estava l. Para onde vai esse nmero to grandede espritos, superior mesmo ao de toda a populago queja pisou sobrea Trra ao longo da historia? Como a maioria das doutrinas cristas rejeitaa metempsicose, temos de produzirum limbo varias vezes maiordo queo inferno e o paraso. Sei que nao nos dado conhecer os planos deDeus, mas parece meio estranho sacrificara maioria das almas imortaisantes mesmo de elas nascerem.

    Decididamente, difcil, para nao dizer impossvel, conciliar a nocaode alma com o que sabemos de biologa. Pessoalmente, fco com a biologa,mas claro que cada um livre para acreditar no que bem entender".

    2. Em resposta1. Antes do mais, note-se que nao h problema no relacionamento"Biologa e Fe", como se ver abaixo. Trata-se apenas de esclarecer con-ceitos para poder perceber a concilaco.

    2. Precisamente os cristos sao contrarios clonagem humana -ainda que teraputica -, porque afirmam que o fim nao justifica os meios;com efeito, produzir um embrio artificialmente para explor-lo e, por fim!elimin-lo um crirne de homicidio. A Moral Catlica favorvel vida'

    nao sonriente do adulto, mas tambm do feto e do embrio; nao lcito aquem quer que seja, decretar que tal ou tal ser humano nocente nao mereceviver ou tem de se sacrificar para salvar a vida de adultos enfermos.

    Numa atitude de crtica doutrina catlica, Schwartsman levantatres objecoes, que passamos a analisar:

    3. "O instante da concepco nao exatamente um instante. Aocontrario, "entre a penetrago do espermatozoide no vulo e a fuso gentica dos gametas ocorre o intervalo de 24 a 48 horas".

    Observe-se que a resposta ser dada em nome da Filosofa ou darazo e nao em nome da f. A infuso da alma humana nao leva 24 ou 48

    154

  • TRES DESAFOS: RELIGlAO OU BIOLOGA? 11_

    horas, mas ocorre no fim desse processo paulatino quando a materia doembrio j est fecundada. A alma humana faz as vezes de principio vitalou de forma (no sentido aristotlico). Ela infundida na materia quando

    esta se acha preparada para receb-la. oportuno acrescentar: todo ser verdaderamente humano, sejaele do tamanho de urna cabeca de alfinete, tem alma humana intelectiva

    com todas as suas potencialidades ainda nao desabrochadas. A almahumana, sendo espiritual, nao cresce em estatura nem envelhece, mas se

    manifesta aos poucos porque depende do cerebro, que na enanca se vaidesenvolvendo paulatinamente. O embrio parece nao ter alma humana,

    porque o cerebro do qual ele depende, ainda est em desabrochamento.Passemos segunda objeco:4. "Representa um desafio lgico o fenmeno da gemelidade.Gmenos monozigticos se formam entre um e quatorze dias depois dafertilizacao".

    Em resposta observamos:Duas sao as vias pelas quais se podem originar os gmeos:a) dois ou mais vulos sao fecundados por dois ou maisespermatozoides; tm-se ento gmeos "fraternos, biovulares ou

    pluriovulares" (tambm ditos "bicoriais ou pluricoriais"; o crio vem a sera membrana que nos mamferos envolve o ovo fecundado). Em tal caso,a questo da infuso da alma humana pe-se nos mesmos termos dafecundaco simples, cada vulo fecundado recebe sua alma diretamente

    criada por Deus. O problema filosfico e religioso nao oferece modalidades novas.

    b) Mais estranho o caso em que de um s vulo se formam dois oumais (at o mximo de cinco, na especie humana) fetos (gmeos "idnticos, monovulares ou monocoriais"). o fenmeno da poliembrionia, que

    d rigem a prole toda pertencente ao mesmo sexo e dotada de notascomuns de fisiologa e psicologa (at de mpressoes digitais) que surpre-endem o observador. Esses gmeos se devem ao fato de que o ovo jfecundado se subdivide, por motivos ainda nao plenamente elucidados

    pelos bilogos, em dois ou mais embrioes; cada urna das clulas entoresultantes portadora de todo o potencial necessrio para produzir umindividuo humano; em conseqncia, cada urna das clulas que, se naofosse a diviso do ovo, tena contribuido com 50% ou 25% ou menos ainda

    para a obtengo de um nico vvente, contribui por si s (100%) para aformago de um ser humano completo. Isto se explica pelo fato de que o

    embriao as suas fases iniciis assaz simples, de modo que sua estrutu-ra especfica se salvaguarda em cada clula que ento dele se separe.

    155

  • "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005Que dizer agora sobre a questo filosfica da infuso da alma nosgmeos monocoriais?

    O espermatozoide e o vulo antes da fecundaco se comportamcomo instrumentos portadores da vida dos respectivos genitores; nao tmprincipio vital prprio, mas sao vivificados pelos dos genitores; caso seseparem do organismo destes, a vida continua a existir neles a ttulo deentidade transitoria (em todo instrumento as virtualidades da causa principal se encontram a ttulo transitorio). Somente depois que o esperma eo vulo se fundiram num embrio caracterizado por suas notas individu

    is que se pode admitir o surto de um principio vital novo (diferente dodos respectivos genitores). No caso, pois, dos gmeos monocoriais so-mente aps a ltima e definitiva subdiviso do ovo em embrides indepen-dentes que se pode falar da origem de principios vitis prprios. Antesdesta subdiviso o processo de fecundaco ainda est em via; por conse-guinte, o ovo vive da entidade fluente que anima os elementos do processo de via.

    Urna vez feita a partico definitiva do ovo em embrioes independen-tes, aplica-se a cada um dos novos fetos a tese da animaco mediata ou

    mediata anteriormente exposta; o problema ento recai nos termos doscasos simples.

    A ttulo de ilustraco, segue-se urna estatstica publicada na dcada de 1950 pelo mdico italiano Chiarugi, concernente freqncia donascimento de gmeos:

    os partos de dois gmeos ocorrem na proporcao de um caso para84,6 casos de partos simples (no Japo a porcentagem ainda mais exigua);

    os de tres gmeos, na proporcao de um caso para 6.731 partossimples;

    os de quatro gmeos, na proporcao de um caso para 963.612 partos simples;

    os de cinco gmeos, na proporco de um caso para 23.608.502partos simples (fenmeno que talvez nao se tenha verificado mais de 60vezes nos ltimos 500 anos; tenham-se em vista as qinqegmeas

    Dionne, U.S.A.).5. Vamos terceira objego. Diz respeito s almas dos 2/3 a 3/4dos vulos fecundados que jamis se fixaro no tero, resultando emabortos espontneos. Para onde vai esse nmero to grande de espri-tos?

    Respondemos que essas almas, embora nao tenham a graca queos primeiros pais tinham antes do pecado, nao tm por que ser condena-

    156

  • TRES DESAFOS: RELIGlAO OU BIOLOGA? 13das; devero gozar da viso de Deus face-a-face na bem-aventuranca

    celeste remidas pelo sangue de Cristo, que as dispensa do sacramentodo Batismo. O cu nao mais espa?o limitado, onde nao caberia mais do

    que certo nmero de habitantes, mas um estado de alma, que existedentro do individuo primeramente e pode expandir-se para fora.

    Como se v, nao existe o dilema "ou Biologa ou Filosofa e Reli-gio". O problema s existe quando sao mal formulados os conceitos

    que vm ao caso.

    (Continuaqo da p. 192)Primeira mulher com cargo executivo na Curia romana falade sua nomeaqo

    A Religiosa Salesiana italiana Enrica Rosanna a primeira mulhera ocupar estavelmente um cargo executivo em um dos organismos da

    Curia Romana.- Era algo esperado urna mulher em cargo Importante noVaticano?

    - Rosanna: Sem lugar a dvidas, nao. Adesignagao me pegou desurpresa. realmente certo que Deus nao deixa de surpreender-nos com

    atos de confianca que as vezes nao somos capazes de entender no momento.

    - O fato de que agora desempenha um cargo que sempre ha-vla sido ocupado por um homem significa que h urna mudarla de

    mentalidade as estruturas da Curia Vaticana?- Rosanna: Creio que os exemplos de colaboraco sao numerosos, ainda que obviamente sempre haja espaco para melhorar.

    No que me concerne, sempre me concederam confianza e eu mepus disposigo para aprender, colaborar e servir.

    Busquei dar o melhor de mim e estou contente pelo que fiz, mas,sobretudo, estou contente pelas experiencias vividas e pelo que aprend.

    Em meu trabalho, encontrei pessoas esplndidas, que enriquece-ram minha vida e que me ajudaram a apreciar o diferente, o indito e oque vale a pena.

    157

  • Resposta oportuna:

    "DECODIFICANDO DA VINCI"por Amy Welborn

    Em sntese: O romance "O Cdigo Da Vinci"tem suscitado dvi-das e perplexidade. Da os esclarecimentos prestados porAmy Welborncom relago s orgens do Cristianismo, ao catlogo bblico... Dan Brown assim apresentado como tendencioso e destruidor de grandes valorespertencentes ao patrimonio da humanidade.

    * * *

    Continua a despertar dvidas e questionamentos o romance deDan Brown. Tm sido publicadas respostas varias a tais questionamentos,mostrando a inconsistencia dos argumentos que atacam o Cristianismoe a Igreja. Vamos, a seguir, consideraros pontos mais importantes expla

    nados pela Prof. Amy Welborn, Mestra em Historia da Igreja pela Univer-sidade Vanderbilt, autora de muitas obras e artigos. Deter-nos-emos sobre o seu livro "Decodificando Da Vinci"1.0 romance j foi analisado emPR 508/2004, pp. 455 e 510/2004, pp. 566ss.

    1. A credibilidade de Dan BrownO romancista, que apresenta dados subversivos das origens doCristianismo, d a entender mais de urna vez e que as suas exposicesesto baseadas em documentos fidedignos - o que muito impressiona oleitor e pode abalar suas convicces religiosas. Sao palavras de DanBrown: "Todas as descrigoes de obras de artes, arquitetura, documentose rrtuais secretos neste romance correspondem rigorosamente realida-de (p. 9).

    Comenta a Prof3 Welborn: "Em O Cdigo Da Vinci, os pormenores ficticios e as afirmacoes falsas sao apresentadas como fatos e frutosde pesquisas histricas serias, o que eles simplesmente nao sao"(Decodificando p. 22).

    -"Brown apresenta... as obras que usou para escrever o romancetodas com um verniz histrico, anda que a maioria dlas nao correspondaa historia real" (ibd, p. 22)

    Sf?t R' Dr Mar' Vicente' 388- 04270-000 Sao Paulo (SP), 140 x 210158

    mm*

  • "DECODIFICANDO DA VINCI"

    "Como veremos, enquanto percorreremos este romance, h muitasalegaces bizarras, estranhas, cheias de falhas, das descriges sobre ageografa de Pars aquetas relacionadas com a vida de Leonardo da Vine,

    noh razao para encarar esse livro como urna fonte parcialmenteconfvel em qualquer campo de estudo, exceto talvez em cnptografia

    (ibd, p. 21).2. Origem do Cristianismo2.1. O Problema

    Segundo Dan Brown, a atual verso da origem do Cristianismo falsa- deve-se a outra ntervencao do Imperador Constantino no ambien

    te cristo. Com efeito, segundo Brown, Jess foi mero homem mortal;apaixonou-se por Madalena, com quem se casou e de quem teve urnafilha Jess ter constituido Madalena chefe do grupo de hornens que o

    seguiam provocando o cime de Pedro. A finalidade do "Cristianismomadalnlco- ter sido cultuar o "Sagrado feminino". Madalena emigroucom sua filha para a Franga dando origem dinasta regia dos merovingios.

    O sepulcro de Madalena o Santo Graal, que por conter tambem documentos importantes, altamente cobigado.

    Tal estado de coisas ter durado at o Imperador Constantino. Estenercebeu que o Cristianismo estava dividido por causa da identidade de

    Cristo- havia quem o quisesse endeusar, contra a opinio de outros. Jaaue a'diviso enfraquecia o Imperio, Constantino resolveu convocar os

    Bispos para Nicia em 325 e conseguiu que esta assemblia proclamas-s a Divindade de Jess. Foram ento queimados cerca de mil escritosque professavam ser Jess mero homem de orago e fez-se urna Biblia

    nova por obra do Imperador Constantino. Foi assim, que teve origem oCristianismo atual.

    2.2. Que dizer?Sero propostas tres ponderages.

    a) As fontes das quais Dan Brown tira sua teoria, so apcrifos deorigem gnstica e a imaginago.

    Com efeito, h duas categoras de apcrifos: os de origem crista eos de origem gnstica. Aqueles sao respeitosos no tocante a Jess. Apre-

    sentam-no como taumaturgo maravilhoso desde a infancia, no intuito deo engrandecer sempre mais. Quanto aos apcrifos de origem gnstica,

    sao tardos ou posteriores literatura cannica: Jess ai aparece oralascivo com Maria Madalena, ora misgino ou infenso ao sexo femin.no;ver PR 425/1997, pp. 451ss (Evangelho de Tom). Os apcrifos de on-

    aem gnstica tm sido detectados e explorados nos ltimos decenios,dando a impresso de que apresentam a verdadera imagem de Jess

    159

  • 16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005at nossos tempos ocultada pela Igreja. Ora esta suposco falsa- o

    novo Jess e figura ambigua e contraditria, projetada pelo sincretismognstico, que associa entre si elementos orientis dualistas, elementosjudaico-cnstaos e elementos gregos.

    A fantasa do romancista atribu a Constantino Imperador um papelque ele nao exerceu. De fato; Constantino nao o autor do Credo queprofessa Jess como "Deus de Deus... gerado, nao criado"; o Imperadorapenas se interessou por pacificar os nimos dos cristos agitados peloananismo, que professava ser Jess "um Deus criado ou feito"- para tan-n0^00^0 CHn?'0,9era'de Ncia (325)l no 0ual se fez ^presentarpelo bispo Osio de Crdoba. Em Nicia os Bispos agiram em continuida-de com a Tradigao anterior, sem Ihe mesclar algo de heterogneo.

    b) Quem afirma que Constantino mandou queimar mil escritos queprofessavam ser Jess mero homem, deve mostrar como era ao menosum desses escritos; se nao o pode, gratuita e destituida de forca persuasiva a sua alegaco. O canon do Novo Testamento foi-se formando in-dependentemente de preconcetos polticos; levavam-se em conta o con-teudo e a autora de cada livro, de modo que foram discutidos HebreusTiago Apocalipse, Judas, 2a Pedro, 2a/3a Joo; todava em 393 foi, peloConcilio de Hipona, definido o catlogo bblico tal como hoje.

    A p. 249 do romance Dan Brown afirma de modo geral queConstantino fundiu deliberadamente "smbolos, datas, rituais pagaos comtexo SrSf fmA8feT"- Ta' aflrma?0 9ratuita' Pis nenhumtexto a fundamenta. Alm do mais, deve-se notar que a religiosidade humana tem certas expresses naturais e espontneas que sao anterioresa qualquer Credo; assim as loces rituas, as refeicoes sagradas a mesegurando nos bragos seu filho, o ajoelhar-se, o prostrar-se, o levantaras maos ao ceu... Disto se segu que, se h semelhancas entre gestosreligiosos pagaos e cristos, nao h necessariamente plagio, mas a ex-pressao tpica do senso religioso de todo homem. Importa ao pesquisa-dor analisar a mentalidade (politesta ou monotesta) que inspira tais gestos, pois e a mentalidade que d sentido ao gesto.

    c) Morrer por urna mentira?Observa muito sabiamente a Prof8 Welborn:h* n "Pfsef^re isso- Se Jesus nao fosse nada alm do mestre gentilTxeZT!n9pe Wn> Pf-qUe Uma autOrade se daria ao trabal ^7ctcnmyUf Se danam atrabalh0 de crucifc-'o, sendo a cruel-fcagao o mtodo de execugao reservado aos criminosos mais perversosS DQtXOS

    mfln. sf elf f0.sse> na Mdade, apenas um mestre executado de umamanara tao ternvel, por que seus seguidores abandonaran! suas vidas160

  • "DECODIFICANDO DA VINCI" 17

    normis e seguras para disseminar seus ensinamentos, colocndosenuma posigo em que poderiam sofrer a mesma sorte?

    Movendo-se ao longo dos sculos, o que fca tremendamente claro que, medida que os crstaos eram presos, torturados e encarcerados,

    eles nao eram punidos por seguirem um filsofo. Eram punidos porque,como o Cristianismo era entendido, eles cultuavam um Deus, incorpora

    do em Jess de Nazar, e essa submisso a ele os impedia de honrar aCsar como senhorou deus. A visao deles de que Deus, por intermediode Jess, reinava como Senhor do universo era, muito francamente,

    ameacadora"(p. 134).3. O Priorado de SioDesempenha papel importante no romance o chamado "Prioradode Sio".

    A propsito escreve Dan Brown:"O Priorado de Sio - sociedade secreta europia fundada em 1099- existe de fato. Em 1975, a Biblioteca Nacional de Paris descobriu per-

    gaminhos conhecidos como Os Dossis Secretos, que identificavam nmeros membros do Priorado de Sio, inclusive Sir Isaac Newton, Botticelli,Vctor Hugo e Leonardo da Vinci" (Cdigo Da Vinci p. 9).

    A ProP Welborn replica:"Para comegar, importante compreender que, em oposico aoque Brown diz no inicio do seu livro, o Priorado de Sio nao era urnaorganizaco de verdade do modo como Brown descreve. Os documentos que ele cita, ao lado daquela lista famosa de grandes mestres, inclu-

    indo Vctor Hugo e, evidentemente, Leonardo, sao falsificares, colocadas na Biblioteca Nacional Francesa, provavelmente no final da dcada

    de 1950.Bem resumidamente, a historia a seguinte:

    Parece haver evidencias de um Priorado de Sio surgindo na Franca no final do sculo 19, um grupo da direita dedicado a lutar contra ogoverno representativo.

    O nome aparece de novo exatamente antes da Segunda GuerraMundial, nos feitos de um homem chamado Pierre Plantard, um antisemita que buscava 'purificar e renovar1 a Franca. Em meados da dcada de 1950, Plantard comecou a alegar que ele era o herdeiro do tronofrancs, da linha merovngia. Ele formou um grupo chamado 'Priorado de

    Sio', plantou falsos documentos atestando a antiguidade do grupo as.bibliotecas e nos arquivos franceses e difundiu o mito da 'linhagem dosangue real de Jess'.

    161

  • "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005Como Laura Miller conclu em um artigo no The New York Times("The Da Vinci Con", 22 de fevereiro de 2004):

    "Por fim, entretanto, a legitimidade da historia do Priorado de Siorepousa num escaninho de recortes e documentos pseudnimos que atmesmo os autores de Holy Blood, Holy Grail sugerem que foram plantados na Biblioteca Nacional por um homem chamado Pierre Plantard Jnos anos 1970, um dos confederados de Plantard admitiu t-lo ajudado afabricar os materiais, inclusive os quadros genealgicos que identifica-vam Plantard como descendente dos merovngios (e, presumivelmentede Jess Cristo) e a lista dos 'gro-mestres' do Priorado j falecidos.'Nesse catlogo idiota de celebridades intelectuais destacam-se BotticelliIsaac Newton, Jean Cocteau e, claro, Leonardo da Vinci - e a mesmalista que Dan Brown alardeia, juntamente com o alegado pedrigree dosculo 9 do Priorado, como materia introdutria de O Cdigo Da Vincisob o ttulo de 'Faro1. Plantard, finalmente desmascarado, era um patifeinveterado com ficha criminal por fraude e flaco, no perodo da guerraa grupos anti-semitas e de direita. O Priorado de Sio real era um grupo'frgil e inofensivo de amigos com a mesma linha de pensamento e quefoi formado em 1956.

    "O logro de Plantard foi desmascarado por urna serie de (ainda naotraduzidos) livros franceses e um documentrio da BBC de 1996, mas,embora bastante curioso, esse conjunto de revelacoes chocantes nao semostrou to popular quanto a fantasa de Holy Blood, Holy Grail, ou quantoa isso, como O Cdigo Da Vincf (pp. 115s).

    4. A ltima CeiaBrown julga que no quadro da ltima Ceia Leonardo exprimiu opretenso casamento de Jess e Maria Madalena, pois a figura ai entendida como Joo na verdade Madalena. Sim, alega Brown, a posco deJess e Maria forma um M. Aparece no contexto urna mo portadora deurna faca, que supostamente a mo de Pedro ciumento.

    Comenta a Prof3 Amy Welborn: Ser que a figura que todos imagi-nam ser de Joo na verdade de Maria Madalena? - Nao durante operodo do Renascimento Sao Joo foi representado invariavelmentecomo um esbelto rapaz. Pode parecer feminno ao observador modernomas naquela poca era reconhecido como homem sentado ao lado deJess (como sempre apareceu as representaces da ltima Ceia) Ver

    Decodificando pp. 110.E quem era o autor do quadro da ltima Ceia?

    5. Quem foi Leonardo da Vinci?Note-se logo que "Da Vinci" nao nome prprio, mas indica a cida-de da qual era originario Leonardo, as proximidades de Florenga.

    162

  • "DECODIFICANDO DA VINCI" 19

    Segundo Brown, Leonardo era um homossexual assumido,adorador da Natureza, em constante confuto com a Igreja, embora rece-

    besse numerosas encomendas do Vaticano. Ver "Cdigo" pp. 54s.A respeito observamos:

    "Homossexual". O nico fundamento desta afirmaco o fato deque Leonardo foi, com mais tres homens, acusado de sodoma com um

    conhecido prostituta de Florenca. Todava tal acusaco foi contestada;por isto algo de incerto.

    Quanto Religio, Leonardo viveu num perodo de renascenca dacultura greco-latina, que incutia mentalidade paganizante. Como filho dasua poca, Leonardo ter concebido a f em Deus reconhecido atravsda natureza (o movimento dos planetas, a articulac.o dos msculos e

    membros do corpo humano). Era devoto a seu modo.O nico perpetuo confuto com a Igreja que ele sustentou, deve-seao fato de tender a deixar inacabada a obra para a qual fora contratado.

    Em suma, verifica-se, mais urna vez, que Dan Brown, ao descrever operfil de Leonardo Da Vinci, foge da realidade histrica.

    Segundo a ProF Amy, muitas outras afirmaces falsas ou imprecisas se encontram no romance. "O Cdigo Da Vinci". Assim analisado, o

    livro perde a autoridade para criticar a Igreja. Os preconceitos obcecam amente e dificultam o dilogo.

    APNDICEA TRANSMISSO DO CREDO E DOS RITOSAtes de que Constantino criou novo Credo e novos ritos para oscristos s pode ser admitida por quem nao conheca a literatura crista

    dos primeiros sculos: a Didaqu, a Didascalia dos Apostlos, as Cons-tituices Apostlicas... Veja-se, porexemplo, como no sculo IV Sao Cirilo

    de Jerusalm se diriga aos catecmenos aos quais entregava o Credo:"Abraga, cuidadoso, nicamente a f que agora a Igreja te entregapara aprend-la e confess-la, protegida pelos muros de toda a Escritu

    ra. J que nem todos podem ler as Escrituras, uns por falta de preparo,outros por qualquer ocupago que os impede de conhec-la, para quenao peregam por ignorancia, encerramos nos poucos versculos do smbolo todo o dogma da f.

    Exorto-te a t-lo como vitico durante a vida inteira e nao admitirnenhum outro mais. Nem se nos prprios, tendo mudado, dissermos algo

    contrario ao que ensinamos agora, nem mesmo se um anjo adverso, transfigurado em um anjo de luz, te quiser arrastar ao erro. Pois ainda que nos

    163

  • 20 PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005ou um anjo do cu vos anuncie coisa diferente do que agora recebestes,

    vos seja anatema (Gl 1,8).Ouves neste momento apenas simples palavras, mas guarda namemoria o smbolo da f. Em tempo oportuno recebers a confirmacode cada versculo tirado das Sagradas Escrituras. Porque nao foi a bel-prazer dos homens que este resumo da f foi composto, mas, seleciona-dos dentre toda a Escritura, os tpicos mais importantes perfazem e abra-cam a nica doutrina da f. Da forma como a sement de mostarda numpequenino grao contm muitos ramos, assim este smbolo em poucaspalavras encerra como num seio materno o conhecimento de toda a reli-gio contida no Antigo e no Novo Testamento.

    Considerai, portanto, irmos, e mantende as tradicoes querecebestes agora e gravai-as ao fundo de vosso coraco.

    Jess, smbolo de Deus, por Roger Haight. Tradugao de JoasPereira dos Santos. - Ed. Paulinas, Sao Paulo 2005, 165 x 230 mm 576pp.

    O autor professor de Teologa Histrica e Sistemtica na WestemJesuit Schooi Of Theology (Cambridge; Massachussetts). Escreve sobreJess Cristo com muita erudigo, tendo em vista especialmente o dilogointer-religioso, ou seja, o contato com budistas, mugulmanos e outros religiosos. oque se exprime, porexemplo, nos seguintes dizeres: "Pdese e deve-se afirmar, a um s tempo, a normatividade de Jess, o cartersalvfico e verdadeiro de outras religioes e portanto a ndole positiva dopluralismo religioso" (pp. 483s). Os conceitos que, para os ocidentais,

    nao se conciliam entre si, como monotesmo cristao e pantesmo budista,sena/77 equivalentes para Deus.

    O livro foi censurado pela Congregagao para a Doutrina da F, quealias j se pronunciou sobre a temtica na Declarago "Dominus Jess"do ano de 2000. Na verdade, h um s Salvador e um s caminho desalvago: Jess Cristo inseparvel de sua Igreja confiada a Pedro e seussucessores. Ocorre, porm, que sem culpa muitos nao conhecem essecaminho de salvago e confessam candidamente outra crenga religiosa.A essas pessoas Deus nao pede contas da fidelidade ao Evangelho, mas

    sim asjulga de acord com a fidelidade a sua conscincia reta e sincera.Podero salvarse nao por efeito do erro que professaram, mas por efeitoda sinceridade ou da boa f com que vivenciaram o erro. E o que se l emLumen Gentium n 16; Gaudium et Spes n 22.

    164

  • Urna prtica antiga em novos termos:

    OS DZIMOS: QUE SAO?

    Em sntese: A instituigo dos dzimos baseia-se na conscincia deque os bens naturais pertencem ao Senhor e, por isto, o homem deveoferecer Divindade urna parcela dos mesmos. No Antigo Testamento,

    esta nogao era corroborada pelo fato mesmo de que o Senhor dera aIsrael a trra de Cana. Os dzimos, definidos com preciso pela Lei de

    Moiss, deixaram de ter vigor no inicio da era crista. Todava a partir dosculo VI alguns Concilios comegaram a estipular o pagamento de dzimos

    em vista do sustento do culto e das obras da Igreja. As autoridades civis,a partir de Carlos Magno, confirmavam as leis da Igreja. A instituigo

    fcou em vigrate o sculo XVIII, quando a Revolugao Francesa resolveuextinguir a praxe na Franga, sendo esta atitude imitada pelos demais

    Governos europeus durante o sculo XIX. No Brasil, a proclamagao daRepblica acarretou a aboligo das leis dizimistas.

    Em nosso pas os Bispos pensam em restaurar- e tm restaurado- o instituto dos dzimos, nao, porm, em termos de outrora. Os dizimos

    nao correspondero dcima parte dos rendimentos de algum, mas aurna quantia livremente estipulada pelo doador; nem estaro sujeitos aexcomunho ou alguma sangao os fiis que nao pagarem dzimos. Osdzimos assim concebidos substituem o sistema de esprtulas pagas porocasiao dos atos de culto; desempenham urna fungo formativa junto aos

    fiis catlicos pois incutem ou avivam nestes a conscincia de que saocorresponsveis pela sua comunidade paroquial ou diocesana. Nao ,pois, a perspectiva (ilusoria) de maiores rendimentos que leva a Igreja a

    promover hoje a instituigo dos dzimos, mas, sim, a intengo pastoral decriar nos fiis catlicos urna conscincia viva e lcida de que sao mem-bros ativos e participantes da Igreja.

    * * *

    Fala-se de dzimos na Igreja do Brasil, em substituido ao sistemade esprtulas do culto. Multas pessoas tm-se mostrado interessadas

    por conhecer o que venham a ser os dzimos, pois o assunto se presta aequvocos e conjeturas. Eis porque exporemos, a seguir, a doutrina bblica referente aos dzimos e algo do histrico desta instituigo; ao que

    seguiro algumas noticias e reflexes sobre a restauraco dos dzimoshoje no Brasil.

    165

  • 22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/20051. Os dzimos na Biblia1. A palavra "dzimo" vem do latim decimu(s). Na Biblia significa adcima parte dos produtos que os israelitas deviam consignar ao Temploe aos seus ministros (sacerdotes, levitas) em vista do sustento do culto,ao lado do qual existia o dzimo do rei (cf. 1Sm 8, 15-17). instituicoantiga em Israel, pois data dos tempos de Abrao (sc. XIX a.C); estepagou o dzimo a Melquisedeque, rei de Salm e sacerdote do DeusAltssimo (Gn 14, 17-20); Jaco, ao fugir para a Mesopotmia, prometeu

    ao Senhor pagar o dzimo de quanto Ele Ihe concedesse (Gn 28, 22).A prtica dos dzimos era freqente as religies antigs:

    No Egito as vultosas doagoes dos faras e dos maiorais aos templos haviam contribuido para que estes possussem um terco dos territorios egipcios. Entre os gregos, registraram-se costumes semelhantes,como tambm em Roma, onde Cicero escarneca os abusos verificadosa tal propsito ("De natura deorum" I, III).

    A concepco subjacente prtica do dzimo a de que a trrarnteira pertence a Deus ou Divindade; por conseguinte, o homem, aoperceber os frutos da trra, se sent impelido a oferecer o seu tributo aoSenhor. Em Israel tal concepco era reforcada pelo fato de que realmente o Senhor Deus doara ao povo a Trra Prometida, como se depreendedos testemunhos abaixo:

    "Quando entrares na trra que o Senhor teu Deus te h de dar emheranga e ali te fixares e estabeleceres, tomars as primicias de todos osfrutos que colheres na trra que te der o Senhor teu Deus; p-los-s numcesto e irs ao lugar que o Senhor teu Deus tiver escolhido para ai habitar o seu nome. Apresentar-te-s ao sacerdote de servigo nessa altura, edir-lhe-s: 'Reconhego hoje perante o Senhormeu Deus que me instaleina trra que o Senhor tinha jurado a nossos pais'. O sacerdote recebero cesto da tua mao e deposit-lo- diante do altar do Senhor teu Deus"(Dt26, 1-4).

    "Nenhuma trra ser vendida definitivamente, porque a trra Mepertence, e vos sois apenas estrangeiros e hospedes na minha casa"(Lv

    25, 23).

    A maneira de pagar os dzmos estipulada pelos diversos livrosdo Antigo Testamento e pela Tradico judaica.

    A Lei de Moiss considera os produtos do solo e o gado comosujeitos a dzimo. Se algum preferisse nao pagar com bens naturais,mas, sim, com dinheiro, era obrigado a acrescentar ao seu tributo umquinto do respectivo valor. assim, por exemplo, que termina o livro doLevtico:

    166

  • OS DZIMOS: QUE SAO? 23'Todo dzimo da trra relativo as sementes do solo ou aos frutos dasrvores pertence ao Senhor e Ihe consagrado. E, se algum quiserres-

    gatar urna parte do seu dizimo, ajuntar um quinto. Quanto ao dizimo, sejaele qual for, de gado mido ou grado, o dcimo de todos os animis quepassam debaixo do cajado do pastor, ser consagrado ao Senhor. Nao se

    examinar se o animal bom ou defeituoso, e nao se substituir; se, con-tudo algum animal for substituido, tanto ele como o seu substituto serao

    igualmente santos; nao poderao ser objetos de resgate" (Lv 27, 30-33).Os fariseus julgaram passveis de dzimos tambm as mnimas plantas que servissem de condimento:

    "Ai de vos, escribas e fariseus hipcritas, porque pagis o dzimoda hortel, do fncho e do cominho, e desprezais o mais importante daLei- ajustiga, a misericordia e a fidelidade. Deveis praticar estas coisas

    sem deixar aquetas" (Mt 23, 23; cf. Le 11, 42; 18, 12).Com a ruina do Templo em Jerusalm no ano de 70 d.C, entrouem desuso o instituto dos dzimos.

    Vejamos agora como o Cristianismo considerou tal costume doAntigo Testamento.

    2. O histrico dos dzimos no CristianismoNos escritos do Novo Testamento, nao h menco explcita da obri-gago de pagar dzimos. Apenas aparece o principio, proposto pelo pr-

    prio Senhor Jess, de que "o operario digno do seu salario" (Mt 10,10;Le 10,7). Sao Paulo o repete ao dizer que "aqueles que servem ao altar,

    particpam do altar" (1Cor 9, 13).Nos primeiros sculos do Cristianismo, as ofertas espontneas dosfiis tomavam suprflua qualquer regulamentaco do assunto. Todava,

    com o passar do tempo e a expanso da Igreja, evidenciou-se a necessi-dade de se estipularem certas normas relativas participaco dos fiis

    no sustento do culto sagrado e dos seus ministros. Nao se sabe exata-mente de quando datam as primeiras determinagoes cannicas a este

    respeito; mas certo que os Concilio regionais de Tours (567) e de Mcon(583) estabeleceram principios referentes aos dzimos.

    Os Concilios subseqentes renovaram tais injuncoes - o que mos-tra que encontravam dificuldades para serem aplicadas. Em breve as

    autoridades civis puseram-se a apoiar as leis da Igreja concernentes aosdzimos O Imperador Carlos Magno (800-814) repetiu o preceito eclesi

    stico em suas leis "capitulares", impondo penas a quem o infnngisse;chegou a sujeitar os prprios bens da coroa praxe dos dzimos. Os res

    Lus o Bonacho (814-840) e Carlos o Calvo (875-877) confirmaram asdeterminagoes de Carlos Magno.

    167

  • "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005Em breve, porm, comecaram a registrar-se abusos. No sculo XIperodo em que a Igreja lutava contra a investidura leiga (eram os prncipes que nomeavam os Bispos), verificava-se que muitos senhores feu-dais e nobres usurpavam os dzimos em seu proveito ou os retinhamdesviando-os das finalidades previstas pela Igreja. Por isto os reformadores ditos "gregorianos" (seguidores do Papa S. Gregorio Vil 1073-

    1085) lamentavam tal mal. No sculo seguinte, o Concilio geral do Latrom (1179) considerou a situaco e houve por bem estabelecer que osdzimos eram intransferveis, quaisquer que fossem os ttulos de reivindi-caco apresentados por prncipes e nobres.

    Ao mesmo tempo, porm, comecaram as isencoes de dzimosForam assim beneficiados os monges, que lavravam trras at entonao cultivadas, assim como as Ordens Militares dos Templarios e dosHospitaleros. Contudo no Concilio do Latro IV (1215) o Papa InocencioIII ordenou que os Religiosos pagassem dzimos das trras que ao se-rem adquiridas, j estivessem sujeitas ao tributo decimal, ainda que es-sas trras passassem a ser cultivadas pelos prprios Religiosos ou ascustas destes.

    No sculo XIV tem inicio a luta dos leigos contra a instituico dosd.z.mos. Wiclef (1320-1384) e Huss (1372-1415) no sculo XV, prenunciando a reforma protestante, tornaram-se arautos famosos dessa luta Emconseqncia, o Papa Martinho V, na sesso VIII do Concilio de Constanca(14/05/1415), condenou a proposico de Wiclef e Huss:

    "Os dzimos sao meras esmolas, e aos paroquianos lcito porcausa dos pecados dos seus prelados, desvi-los a seu avitre" (Denzinger-Schonmetzer, "Enquirfdio dos Smbolos e Defniges" 1168 [598]).

    Finalmente o Concilio de Trento (1545-1563), aos 3/12/1563 sob oPapa Po V, reafirmou o carter obrigatrio do pagamento dos dzimos epreviu a excomunho para aqueles que os desviassem, declarando quenao podenam ser absolvidos seno depois de os haverem devolvido (sess.XXV, c. 12).

    No sculo XVIII. o dzimo havia cado no franco desagrado dosfiis cnstaos. J quase nao preenchia as suas finalidades. Com efeito

    destinado a atender s parquias e ao seu clero, os dzimos em suamaior parte, lam beneficiar o alto clero e instituicoes estranhas ao servicoparoquial. Os grandes arrecadadores de dzimos eram prsperos (haviaBispos e prelados diversos comendatarios, ou seja, leigos que traziamttulos eclesisticos quase exclusivamente para se beneficiar dos rendi-mentos materiais respectivos), ao passo que vultoso nmero depresbteros recebiam urna "congrua" insuficiente. Em suma, as quantiasarrecadadas nao eram devidamente aplicadas aos flns estipulados pelalegislaco eclesistica e civil.

    168

  • OS DiZIMOS: QUE SAO? 25Por sua parte, os economistas do sculo XVIII eram hostis ao dzimo,porque nao era calculado sobre a produco lquida; Adam Smith o con-denou por nao corresponder ao seu conceito de imposto; este devena

    ser determinado e nao arbitrario; a quantia a ser paga e a poca do pagamento deveriam ser pr-estabelecidas.

    Voltaire e os filsofos pretendiam demonstrar que os dzimos naoeram de direito divino. Os magistrados, o baixo clero e os agricultores

    eram intensos a esse tipo de imposto.Em conseqncia, numerosos libelos foram enviados ao Parlamentofrancs, pedindo ou a reforma ou a supresso dos dzimos.

    AAssemblia Constituinte de Franga resolveu finalmente extinguiresse uso. Na noite de 4 de agosto de 1789, os deputados do clero renun-

    ciaram aos seus privilegios e, em particular, aos dzimos. Aos 21 de se-tembro de 1789, o rei Lus XVI promulgou o decreto que declarava extin

    ta a praxe dos dzimos.A nova legislaco francesa estendeu-se as demais naces euro-pias de sorte que at 1848 foi abolida, em todo o continente europeu, acobranca dos dzimos; ficou apenas urna pequea porco da Italia sujei-ta a esse regime at 1887.

    Amoco abolidora foi, em parte, inspirada pelo espirito anticlerical,mesmo antieclesial, que se implantou em numerosos pases dos sculosXVIII e XIX. Em parte, ela se deve tambm s mudancas radicis por que

    passou o sculo XIX, nos setores sociais e industriis.Levem-se em conta, igualmente, os abusos e as retorses porquepassou a prtica do dzimo, tornando-a muitas vezes antiptica ao povode Deus. Por ltimo, de notar a contribuico que o espirito capitalista

    deve ter dado ao descrdito e ao declnio do sistema de dzimos.No Brasil, durante o segundo Imperio, o Governo, ndependente-mente de qualquer entendimento com a Santa S, foi deixando de cobrarem muitas Provincias o dzimo que o Imperador devia arrecadar como

    Gro-Mestre da Ordem de Cristo; entrementes, o Estado contribua comdiminutas congruas para o sustento do clero e pagava parcamente o pro-fessorado de alguns Seminarios. Urna vez, porm, proclamada a Rep

    blica, desapareceram por completo a prtica dos dzimos assim como adas congruas.

    Em 1917 o Cdigo de Direito Cannico ento promulgado rezava:"No tocante ao pagamento de dzimos e primicias, observem-se osestatutos e os louvveis costumes vigentes em cada regio" (canon 1502).

    169

  • "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005 T Cdg' promu|9ado em 1983. J nao fala de dzimo, masrecorre a hnguagem genrica:

    "can. 222 - 1. Os fiis tm obrigaco de socorrer as necessida-des da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que necessrio para oculto divino, para as obras de apostolado e de caridade e para o honestosustento dos ministros.

    2. Tm tambm a obrgago de promover ajustiga social e lembra-dos do preceito do Senhor, socorreros pobres com as prpras rendas.Hoje em dia os Bispos pensam em substituir na Igreja o sistema deesportulas pelo dos dizimos (sendo que estes vm a ser entendidos de modoassaz diferente do que caracterizou os sculos passados). Examinemospois, o que pode significar em nossos dias o novo instituto dos dzimos.

    3. E os dzimos hoje?1. Antes do mais, de se notar que, ao se falar de dzimo em nos-sos tempos, ja nao se tem em vista a dcima parte dos rendimentos dealguem, mas simplesmente urna contribuigo ou taxa, estipulada a criterio de cada um, em favor do culto e das obras da Igreja. Mais- o naopagamento de tal taxa nao implica ou nao implicar excomunho ou san-cao de especie alguma.

    i, J f P6la qual as autoridades eclesisticas tm estudado a via-guinte-6 Introdu5fio da prtica dos dzimos assim entendida a se-O culto sagrado e as obras da Igreja {como tambm os sacerdotesem parte) necessitam do apoio financeiro dos fiis para que possam subsistir, a serv.co, alias, dos prprios fiis. Para atender a tal necessidadedesde pocas remotas sao praticadas as esportulas ou ofertas de bensnatura.s (a principio) ou de dinheiro (posteriormente) por ocasiao da ce-lebracao dos atos do culto; tais contribuicoes foram sendo regulamenta-das pelo Dire.to da Igreja e pelos bispos diocesanos, sendo hoje conhe-cidas pelo nome de "esprtulas" (a propsito j foram publicadas longasexplanacoes em PR 2/1958, pp. 73-76; 69/1963, pp. 388-396).antonHH> POrm> que sistema de esPortulas se presta a malentendidos e inconvenientes, pois associa a celebraco do culto sagradoe o dmhe.ro. Verdade que as esportulas nao sao preco dos atos dorT' ?l^a?aP^em Ser Vendidos (0 que seria slmona ou grave pecado; cf. At 8,18-24). Os atos do culto sao apenas a ocasiao para que osJeis possam contribuir financeiramente para o sustento da obra pastor^h.nlm- i 3 3 autoridades eclesisticas pensam em desfazer oS^SS?""***'provendo de outra

    170

  • OS DlZIMOS: QUE SAO? 272. Os passos at hoje dados no Brasil em vista da implantado dosdzimos sao os seguintes:

    1) Por ocasio da sua X Assemblia Geral (Sao Paulo, 1969), osBisos do Brasil, respondendo a insistente solicitado dos presbteros,classificaram como "pastoralmente inadequado o atual sistema de te-

    xas"- inadequado, por causa da estreita correlaco que, na mente denao poucas pessoas, pode surgir entre culto sagrado e dinheiro. Em con-seqncia os Bispos do Brasil estabeleceram, em votaco, que se fizes-

    se ''um estudo teolgico e cientfico sobre o dzimo a ser aplicado sistemticamente".

    2) AComisso Central da Conferencia Nacional dos Bispos, poucodepois confiou Coordenaco Nacional da Campanha da Fraternidade

    o encargo de proceder a levantamentos e apresentar sugestoes para aimplantaco do sistema de dzimos no Brasil. Como fruto desse trabalho,

    apareceu o folheto "Campanha Nacional do Dizimo" em maio de 1970.3) Durante a XI Assemblia Geral (Brasilia 1970), a Comisso Central nomeou urna Comisso Especial para continuar os estudos j inicia

    dos Ampio questionrio foi enviado s dioceses. Com base nos resultados'deste, a Comisso Especial elaborou um plano para a implantaco

    dos dzimos no territorio nacional.4) Tal plano foi aprovado pela XII Assemblia Geral do Episcopado(Belo Horizonte, fevereiro de 1971).

    5) De 1971 a 1974, varios setores regionais da Conferencia Nacional dos Bispos comecaram a se movimentar no sentido da adoco do

    novo sistema. Algumas dioceses chegaram a implant-lo em mbitodiocesano, enquanto parquias soladas o faziam, independentemente

    de diretrizes nacionais, em todas as partes do Brasil.6)As Assemblias Gerais XIII (Sao Paulo, 1973) e XIV (Itaici, 1974)da CNBB voltaram a tratar do assunto. De um lado, reafirmaram o seu

    deseio de ver implantado o sistema de dzimos no Brasil. De outro lado,porm verificaram a impossibilidade de introduzi-lo em todas as diocesesdo Brasil segundo as mesmas normas e etapas. Cada regiao ou mesmo

    cada diocese do nosso pas tem as suas caractersticas propnas, quedevem ser levadas em conta, de modo que nao se pode pretender impor

    um mesmo esquema de trabalho a todas.A XIV Assemblia concluiu seus estudos sobre a questo, firmando os seguintes principios:

    a) Todas as dioceses do Brasil devem ter como meta a implantaco do dzimo, como sistema de contribuyes peridicas que substitui-

    ro progressivamente o sistema de taxas e esprtulas.171

  • "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005b) Cada diocese proceda tarefa de conscientizar o povo e osagentes de pastoral a respeito dos dzimos. Procure organizar o novosistema tanto ao nivel diocesano quanto ao nivel paroquial.

    c) As dioceses, dentro de um mesmo Regional, devem prestar-seajuda mutua, promovendo intercambio de experiencias.

    d) Os setores regionais cuidem da elaboraco de subsidios escritos para a implantado dos dzimos a fim de atender as necessidades eaos pedidos de cada diocese.

    e) Os organismos nacionais prestem aos regionais a devida asses-sona.

    f) Cada diocese fixar a data a partir da qual comecar a vigorar osistema de dzimos em seu territorio.

    _ Como se v, a Conferencia dos Bispos, embora mantenha a aspi-racao a substituir as esprtulas pelos dzimos, mudou a sua ttica- aban-donou a idia de um plano nacional e optou por urna atitude mais flexvele diversificada, confiando a cada Regional e a cada diocese a tarefa deestudar como proceder implantaco dos dzimos dentro das suas circunstancias prprias. A ntenco da CNBB bem definida; todava a suaexecucao depende de fatores varios e h de ser concebida com realismo.

    O motivo pelo qual a CNBB insiste na mplantaco do sistema dedzimos, pastoral e nao financeiro. Em outras palavras: nao a perspectiva (ilusoria) de rendas e emolumentos maores que leva os Bispos aoptar pelos dzimos, mas simplesmente a conscincia de que este sistema e mais pedaggico e mais adaptado aos ditames de autntica cons-ciencia crista; nao somente dissipa os equvocos resultantes do sistemade esprtulas, mas aviva a noco de que todos sao membros respons-veis da mesma comunidade eclesial.

    4. As licoes da experienciaA tentativa de introduco do dzimo em determinada parquia exi-

    Se fa?a ant8S d ma'S 'ntenSa prepara?0 ou conscientizaco4.1. Conscientizaco

    Esta pode serefetuada primeiramente mediante distribuico de umquestionario que revele o modo de pensar e as condices de vida dacomun.dade local. Urna vez averiguados estes elementos, a campanhade conscientizacao pode proceder por meio de pregares, palestras, reu-n.oes folhetos, cartas... Essa campanha, que pode durar alguns mesesh de terminar com urna consulta aos fiis, a fim de se verificar se con-cordam ou nao com a implantaco dos dzimos; o consentimento dos

    172

  • OS DlZIMOS: QUE SAO? 29paroquianos indispensvel, pois eles devem sentir-se corresponsveis

    pela comunidade eclesistica local e participar ativamente de suas grandes iniciativas.

    Urna vez obtido o consentimento, passa-se implantagao.4.2. ImplantagoAcontribuigo dizimista h de ser livre por parte dos fiis. Quem aaceita, preenche urna ficha de inscrico. - A quantia a ser paga pode ser

    estipulada segundo um de tres criterios:a) cada dizimista estipula a quantia com a qual deseja contribuir;

    b) o dizimista paga urna percentagem de suas rendas (por exem-plo, 1%);

    c) h um mnimo estipulado para todos os contribuintes igualmente.Dessas tres modalidades, a primeira inegavelmente a mais reco-mendvel, pois a que apela para o senso de responsabilidade de cadafiel. Asegunda desagradvel a muitos. Aterceira nao leva em conta as

    desigualdades econmicas dos membros da parquia.A coleta dos dzimos pode serfeita ou as dependencias da igrejaou a domicilio.

    Perguntamo-nos agora:

    4.3. Quais as conseqncias do sistema?Urna vez implantado o dzimo, subsistem ainda os emolumentos eas coletas do culto?

    Sao tres as atitudes das parquias a respeito:a) Algumas suprimiram todas as esprtulas (taxas de Batismo, Matrimonio, enterras...) assim como as coletas no Ofertorio da Missa.

    b) Outras parquias suprimiram as esprtulas referentes ao culto(Batizados, casamentas, enterras...), mas conservaram as coletas noOfertorio da Missa, como meio de colaboraco oferecido aos que nao

    pagam o dzimo.c) Outras parquias suprimiram as esprtulas (Batizados, casamentas...) somente em favor dos dizimistas.

    Ora das tres atitudes a mais oportuna a primeira, porque maiscoerente Com efeito, a tendencia da CNBB a de chegar a suprimirtodos os emolumentos percebidos por ocasiao do culto. Todava nada

    impede que, nos casos de despesas extraordinarias (construcao de cpela, reforma da igreja, compra de rgos...), o proco ou o Bispo receba

    173

  • "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005doacoes espontneas, promova festas, quermesses e coisas semelhan-tes, ou proceda a uma coleta especial espordica destinada a atender atal especfica necessidade da comunidade.

    4.4. E quais os resultados?Os resultados da implantado dos dzimos as diversas parquiasforam sempre muito concretos. A experiencia apresenta aspectos positi

    vos, ao lado de outros (em menor nmero) negativos:4.4.1. Resultados positivosa) O sistema de dzimos extremamente educativo; desperta ecultiva nos fiis a conscincia de comunidade e corresponsabilidade ouainda, de Igreja.

    b) Aviva-se entre ricos e pobres da parquia o sentido de justica efratemidade. vc) O sentido de esmola desaparece para dar lugar ao de servico.d) Desenvolve-se o espirito de f e de participaco dos leigos.e) O sacerdote se beneficia de maior tranqilidade para poder de-dicar-se ao ministerio e planejar as suas atividades paroquiais.

    f) Quanto melhor a conscientizaco, tanto maior a participacodos fiis.

    Devem-se, porm, registrar4.4.2. Resultados negativosa) A maioria do povo, em certos lugares, nao contribu espontanea-mente.

    b) difcil penetrar nos meios mais pobres.c) Ocorre falta de pontualidade por parte dos dizimistas.d) Verificam-se desistencias e desnimos.Estes aspectos negativos podem ser contomados mediante umaconscientizaco mais eficiente e penetrante. Nao se pode esquecer quese trata de um processo educativo... processo que geralmente requercer-to tempo para que as pessoas o possam assumr com responsabilidade.

    Em sntese: o sistema de dzimos nao mais prtico ou funcionaldo que o de esprtulas ( mais fcil receber a esprtula por ocasio dosatos de culto). Mas o sistema de dzimos prefervel porque supoe edu-cacao da f e crescmento da conscncia "de Igreja" da parte dos fiiscatlicos. O sistema de dzimos supoe compromisso, o que nao cmodo, de modo que pode encontrar resistencia por parte de pessoas mal

    174

  • OS DlZIMOS: QUE SAO? 31

    formadas ou orientadas. A estas ser preciso oferecer subsidios paraque reflitam e formem melhor a sua conscincia. Enquanto nao h umaconscientizaco mais penetrante, talvez aconteca em varias parquiasque s um pequeo grupo de cristaos adultos opte pelos dzimos;entrementes a maioria preferir pagar esprtulas por ocasiao dos atosde culto, embora o faca de m vontade e reclame da instituico vigente.Todava estes obstculos nao sao decisivos. Ao contrario, vm a ser um

    estmulo a que os pastores e os fiis leigos procurem despertar os seusirmaos menos esclarecidos para a necessdade de assumirem com res-

    ponsabilidade o desempenho de seus deveres na Igreja.Ver a propsito o volume 8 da Colego "Estudos da CNBB", intitulado"Pastoral do D'tzimo".

    Merecem anda referenciaD. Osear de Oliveira, "Os dzimos eclesisticos do Brasil nos perodos da colonia e do Imperio". Belo Horizonte 1964.

    P. Palazzini e P. Fedele, "Decime", em "Enciclopedia Cattolica", t.IV. Citt del Vaticano, cois. 1269-1273.

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    (Continua na p. 179)

    175

  • Confronto:

    CELIBATO: SIM OU NAO?

    Em sntese: Num debate sobre o celibato entre um pastor protestante e um frade catlico deu-se o confronto entre o NAO e o SIM. Chamaa atengo, porm, o fato de que nenhum dos dois debatedores se referiua 1Cor 7, 25-35. Isto especialmente estranho se se considera que oprotestantismo pretende ser fiel Biblia.

    * * *

    A REVISTA DAS RELIGIES, agosto 2004, pp. 80s, apresenta duasopinioes a respeto do celibato: a do Pastor Ludgero Bonilha Moris,

    presbiteriano, que rejeita o celibato, e a de Frei Antonio Moser, franciscano,que o aceita. estranho que ambos silenciem o texto paulino de 1Cor 7,25-35, que o fundamento mais slido da prtica celibatria1. O Pr.Ludgero se detm apenas sobre os textos bblicos que recomendam omatrimonio numa leitura unilateral do texto sagrado, ao passo que FreiAntonio Moser argumenta nicamente a partir de premissas antropolgicas e psicolgicas.

    A seguir, ser analisado o trecho paulino de 1Cor 7, 25-35; aps oqu sero considerados certos versculos bblicos aduzidos pelo Pastorem restrico ao celibato.

    1.1 Cor 7, 25-35J em 56, ou seja, no terceiro decenio do Cristianismo, o Apostloescrevia aos fiis de Corinto enfatizando o valor da vida una ou indivisa:

    "Nao ests ligado a urna mulher? Nao procures mulher. Todava, sete casares, nao pecars; e, se a virgem se casar, nao pecar. Mas essaspessoas terao tribulaces na carne; eu vo-las desejara poupar".

    O Apostlo alude s tribulaces acarretadas pelo casamento... naoquelas que se originam na concupiscencia desregrada, mas aos encargos da vida conjugal (preocupaces com orcamento, salario, educacodos filhos...). - Sao Paulo explcita seu pensamento:

    1 freqente citarse tambm o texto de Mt 19, 12. em que Jess se refere aoseunucos que se fzeram tais poramordo reino dos cus. Este texto, porm, examinado luz dos antecedentes, alude aqueles crstos que tm vocago matrimonial,mas fracassaram no casamento e devem viver como eunucos ou como cetibatriospara nao tralr o Cristo ou por amor do reino dos cus.

    176

  • CELIBATO: SIM OU NAO? 33

    "Eis o que vos digo, irmos: o tempo se fez curto. - Resta, pois, queaqueles que tm esposa, sejam como se nao a tivessem; aqueles quechoram, como se nao chorassem; aqueles que se regozijam, como senao se regozijassem; aqueles que compram, como se nao possussem;aqueles que usam deste mundo, como se nao usassem plenamente. Poispassa a figura deste mundo.

    Eu quisera que estivsseis isentos de preocupagoes. Quem naotem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Se-nhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar esposa, e fica dividido. Da mesma forma, a mulher nao casada e a

    virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo ede espirito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo; procuracomo agradar ao marido".

    "O tempo se fez breve". Por qu? Porque nele entrou o Eterno eDefinitivo, para o qual o cristo se volta com todo o interesse, dispensndose, enquanto possvel, de todos os afazeres nao estritamente neces-srios; ele procura concentrar-se no servico do Eterno, cente de que otempo se tornou breve demais para quem tem conscincia da presencado Eterno a iniciar seu reino neste mundo. A conseqncia disto uma

    reviso dos valores deste mundo; sao vlidos, sim, mas ho de ser considerados luz da eternidade; nenhum deles capaz de saciar as aspi-

    races mais profundas do ser humano. Cada um deles, portante, umaceno a algo de ulterior que s se realizar plenamente no alm. Nao h

    por que se derreter em lgrimas como nao h por que dar gargalhadasto efusivas... Uma certa reserva permanece na conscincia do cristo

    que reconhece o carter ambiguo e relativo dos bens passageiros. Comefeito; escreve o Apostlo: "Passa a figura deste mundo". Tal frase compara a historia deste mundo a uma pega de teatro, cujo enredo pode serfascinante, suscitando aplausos, risos, lgrimas, dilogo,... mas enredo

    que o espectador sabe ser transitorio; a cortina caira sobre o palco, pondo fim ao fascinante enredo, de modo que o espectador nao pode estartotalmente envolvido no desenrolar do palco; Ele nao pode perder a con-vicgo de que tudo passa e s Deus fica. Ora tal convicco faz brotar na

    mente do cristo uma atitude virginal, atitude esta que se pode espelharno fsico do cristo, levando-o a abracar a vida una ou indivisa.

    , pois, neste texto de Sao Paulo que se fundamenta a vida celiba-tria, que, conforme o Apostlo, implica um carisma ainda mais elevadodo que o da vida conjugal: "Procede bem aquele que casa sua virgem;aquele que nao a casa, procede melhor ainda" (1Cor 7, 38).

    Em suma, verfica-se que a vida una ou indivisa a resposta espontnea que desde os primeiros decenios o cristo, sustentado pelagracade, Deus, possa darao anuncio do Evangelho. Avirgindade consa-

    177

  • 34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005

    grada e o celibato nao tinham valor nem para o judeu nem para o pago.Eles brotam da conscincia de que o Reino j chegou com Jess Cristo.

    O Pastor Ludgero Moris cita algumas passagens bblicas que pa-recem contradizer a essa estima da vida una.

    2.1Tm 4, 3O Apostlo censura os que probem o casamento: cf. 1Tm 4, 3.Aplicar-se-ia a censura Igreja? - Nao. S. Paulo tem em vista pre-gadores gnsticos dualistas, que repudiam a materia, considerada m

    por si mesma, em oposico ao espirito. Ora tal nao o modo de pensarda Igreja; ela sabe que a materia foi criada por Deus para dar gloria aoCriador. De resto a Igreja nao probe o casamento de modo geral; ela o

    probe a quem espontneamente abracou o celibato juntamente com osacerdocio ministerial. O matrimonio na Igreja abencoado por um sacramento prprio. Nem de crer que o Apostlo tenha cado em contra-dico consigo mesmo (ver 1Cor 7, 25-35).

    3. Os sacerdotes do Antigo TestamentoAlega o Pastor: "Os sacerdotes do Antigo Testamento s eram admitidos se fossem casados, bons maridos e bons pas".

    - Em resposta afirmamos que fora de propsito recorrer ao casodo Antigo Testamento. Este urna preparaco para o Novo; os Israelitasfaziam questo de se casar e ter filhos para preparar a vinda do Messias.

    Este objetivo j foi atingido no Novo Testamento de modo que agora ointeresse do fiel nao ter filhos, mas concentrar suas atividades em tornodo Reino do Messias. Quanto mais livre de vnculos familiares, tanto mais

    poder atender aos irmos.4. Esposo de urna s mulher (1Tm 3, 2)O epscopo ou presbtero deve ser esposo de urna s mulher (cf.1Tm 3, 2). Estara, por isto, o padre obrigado a casar-se?

    Nao. O Apostlo tem em vista urna comunidade situada em fesocujos membros se converteram em idade adulta. Pois bem; dentre esseso Apostlo deseja que sejam escolhidos para o sacerdocio homens casados (evitando os vivos recasados). de crer que nao houvesse ho

    mens solteiros na comunidade. Esta norma do Apostlo, em vez de favorecer o casamento dos clrigos, fala em favor da restrigo do casamento,pois rejeita a ordenaco de vivos recasados.

    5. Sacerdocio comum dos crentesDiz o Pastor:

    178

  • CELIBATO: SIM OU NAO? 35

    "A idia de que n urna divisao entre o clero e o leigo um equvoco que se baseia na imagem de urna casa de dois andares: no andar decima est o clero (ekklesa), Igreja, no andar de baixo est o leigo (laiks),o povo. A Reforma Protestante do sculo XVI derruba essa educago

    falsa e afirmou o sacerdocio universal de todos os crentes".Em resposta diremos: Jess confiou a todos os fiis a tarefamissionria ou o anuncio da Boa Nova a todos os homens, mas entregousomente aos Apostlos duas faculdades sacerdotis de importancia ca

    pital: a faculdade de consagrar o pao e o vinho concedida aos Doze apenas ("Fazei isto em memoria de mim") e a faculdade de perdoar os pecados, tambm reservada aos Doze: "Recebei o Espirito Santo. Aqueles a

    quem perdoardes os pecados, sero perdoados. Aqueles a quem osretiverdes, sero retidos".

    Os Apostlos e seus sucessores exerceram tais faculdades em vir-tude do dom de Cristo Sacerdote, que o sacramento da Ordem caracte

    rizado por um tipo de vida prprio dos sacerdotes.6. Motivacoes antropolgicas vlida a argumentaco aduzida por Antonio Moser. Bem mostracomo a vida una depende da capacidade ou da estrutura humana de cada

    individuo. Estranha-se, porm, o silencio do telogo franciscano a respeitodo embasamento teolgico do celibato; teria dado ainda maior consisten

    cia a sua posico. preciso nao haja medo de dizer toda a Verdade.(Continuago da p. 175)20.0 Protestantismo: Principis pontos dourinrios R$ 2,0021. Por que nao sou Mrmon? R$ 2,0022. Resposta a Leonardo Boff R$ 2,0023. Maria, a Mulher Bendita e Controvertida R$ 2,0024. Superstices R$ 2,0025. A Inquisico R$ 2,00

    26. As Cruzadas em Debate R$ 2,0027. A Idade Media: Trevas? ^^'r^ "N:' R$ 2'0028. A "Papisa" Joana S^&ti>&\ \ R$ 2'0029.0 Caso Galileu /^cVc cO^*5c\ 1 R 2-0030.0 Isla / ^sJ^c^t\2-'/ R$ 2,00

    31. Teologa da Prosperidade I ^gf^g,

  • 36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005

    DOCUMENTRIO ANENCEFALIA

    A polmica em torno da anencefalia deu ocasio a numerosas manifestares referentes ao aborto dos anencfalos. Ao lado de muitos tes-temunhos de desnimo e angustia, fizeram-se ouvir outros (menos divul

    gados) de coragem e solicitude. Eis por que, as pginas seguintes serapresentado o depoimento de mulheres que demonstraram grandeza de

    alma e solidariedade em situages de anencefalia.Associago NacionalMULHERES PELA VIDAVil Assemblia Geral Ordinaria

    Ra Humait, 172 - Humait22251-001 - Rio de Janeiro - RJ

    CNPJ 03 229 136/0001-66

    Excelentssimos SenhoresMinistros do Supremo Tribunal FederalPraga dos Tres Poderes70175-900- Brasilia - DF

    com grande angustia que nos, membros da Associago NacionalMulheres pela Vida, presenciamos a liminar expedida pelo Ministro Marco Aurelio Mello declarando "legal", com eficacia contra todos e efeitovinculante, o aborto de criangas anencfalas.

    Causa espanto a nos, mulheres, com vocago natural maternida-de, que com tanto simplismo um membro dessa Corte tenha decididoque um ser humano, por ter urna deficiencia grave e incurvel, nao merece proteco legal.

    Como mulheres, podemos compreender o quanto o amor da meaumenta proporco que aumenta a gravidade da doenca do filho. Podemos compreender tambm que a gravidez nao um estado que antecede maternidade, mas que a gestante j mae. Podemos compreender que um beb em nosso ventre nao algum que receber carinhosob a condigo suspensiva de nascer com vida, mas que j objeto deamor. Podemos entender que a expectativa de vida, curta ou longa, irrelevante para aferir o amor que um filho merece receber j no seiomaterno.

    180

  • DQCUMENTRIO ANENCEFALIA 37Se h alguma "tortura psicolgica" para a me de um anencfalo, a tortura causada por aqueles que dizem que seu filho um "monstro",

    que sua gravidez "intil". Sem dvida torturada horrivelmente a gestante que, diante do choque da noticia de um beb deficiente, v-se atodo o tempo compelida a abortar. E aps o aborto, a tortura de ter con

    sentido na antecipaco da morte do filho a acompanhar para sempre.Sem dvida, nao preciso ser mulher para compreender tudo isso.Mas nos, mulheres, sabemos disso por experiencia prpria, urna vez quea nos foi dado o dom de gerar a vida dentro de nos mesmas, algo impos-

    svel para os homens.Orgulhamo-nos com a atitude da Ministra Laurita Vaz, da QuintaTurma do Superior Tribunal de Justica, a qual, fazendo jus a sua condi-

    co de mae e mulher, concedeu a ordem de Habeas Corpus 32159 emfavor de urna menina anencfala de Terespolis, RJ.

    Lamentamos que haja quem queira utilizar a Suprema Corte com ofim de obter, por via oblqua. a legalizago do aborto eugnico, que at

    hoje o Poder Legislativo se recusou a aprovar.Pedimos que os Senhores Ministros, enquanto guardies da Cons-tituico Federal, demonstrem coragem para defender os mais indefesos

    dos seres humanos: os nascituros anencfalos.Subscrevem mulheres brasileiras que nao se envergonham da prpria vocaco maternidade.

    Rio de Janeiro, 05 de setembro de 2004.

    Maria das Dores Hiplito Pires Maria da Gloria Cresci CatoPresidente Vice-Presidente

    "Por que nao fiz um aborto"(Um relato de Milene Falco, mae de um flho anencfalo, publicado noJornal de Jales, SP. 01/08/2004, edigo n 2062, p. 1-10. Telefone: (17)

    3632-1330)Depois de duas gestacoes perfeitamente normis, fiquei grvidapela terceira vez. Um beb que nao foi planejado, mas sua vinda inespe

    rada foi mensamente comemorada. Porm, em novembro de 2003, en-to com 22 semanas de gestaco. vemos o diagnstico: nosso filho

    sofra de anencefalia. isto significava que ele nao sobrevivena aps onascimento. Aquela noticia caiu como urna bomba em nossas vidas. Mas

    181

  • 38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 514/2005ao invs de questionar aquela vida que cresci em meu tero, agarramosesta grande oportunidade que Deus estava nos dando e resolvemos continuar a gestaco.

    cima de tudo amvamos nosso filho. Mas por qu? Porque naose joga fora um presente que dado com menso amor. Um presente queveio embrulhado em urna linda caixa, porm imperfeito, mas apesar desuas imperfeigoes, foi escolhido com cuidado, com amor que s um Paique ama seus filhos pode dar. Eu aceitei essa bnco. Nosso filho foi eanda um presente. Um anjo enviado dos cus que apesarde sua breveestada nos deixou urna mensa lico. Foram sete meses e meio de ges-tacao. Durante esse tempo, que era praticamente o nico que teria ao

    lado dele, procurei viver de forma intensa. Lem