Revista - Outubro2007 (2) · e viajam pelo mundo. A microbiologia ... Você está participando...

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Proposta de consenso: o papel da sociedade brasileira de microbiologia no suporte à consolidação da rede brasileira de coleções de culturas de microrganismos Proposta de consenso: o papel da sociedade brasileira de microbiologia no suporte à consolidação da rede brasileira de coleções de culturas de microrganismos Microrganismos pegam carona em água de lastro e viajam pelo mundo. Microrganismos pegam carona em água de lastro e viajam pelo mundo. A microbiologia revelada pelo Google. A microbiologia revelada pelo Google. 02 outubro/novembro/dezembro - 2007 informativo sbm • ano 1 • www.sbmicrobiologia.org.br A revista do Microbiologista. Consensos Ciência in Foco

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Proposta de consenso:o papel da sociedade

brasileira de microbiologia no suporte à consolidação

da rede brasileira de coleções de culturas

de microrganismos

Proposta de consenso:o papel da sociedade

brasileira de microbiologia no suporte à consolidação

da rede brasileira de coleções de culturas

de microrganismos

Microrganismos pegam carona

em água de lastro e viajam pelo

mundo.

Microrganismos pegam carona

em água de lastro e viajam pelo

mundo.

A microbiologia revelada pelo Google.A microbiologia revelada pelo Google.

02outubro/novembro/dezembro - 2007

informativo sbm • ano 1 • www.sbmicrobiologia.org.br

A revista doMicrobiologista.

Consensos

Ciência in Foco

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PrezadoMicrobiologista,

Editorial

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Índice

Expediente

Você está participando conosco, do segundo número da Revista Microbio-logia in foco, iniciativa da Sociedade Brasileira de Microbiologia. A exemplo do primeiro número, este também foi elaborado com sugestões de colegas próxi-mos e os artigos incluídos são dos convidados que se dispuseram pronta-mente a colaborar e aceitaram nosso convite.

Como vocês podem perceber, a revista tem a finalidade de divulgar a Microbiologia e nesse sentido deverá abranger todas as áreas em que bactéri-as, fungos e vírus têm participação. Nesse volume, incluímos a Seção de Ensi-no, com um artigo muito interessante e atual - a microbiologia revelada pelo Google - onde os autores fazem importantes reflexões, sobre o papel desses novos mecanismos de busca científica, de maneira clara e objetiva. Da mesma maneira, os outros assuntos escolhidos, biofilmes microbianos, microrganismos em água de lastro de navios, biossegurança em laboratórios, infecções nosocomiais fúngicas, coleções de culturas e a microbiologia e infecções hospitalares, estão expostos por autores com longa experiência, e apesar de serem discutidos há várias décadas, são dinâmicos e sempre atua-is. Os editores agradecem a esses autores, a pronta colaboração e desprendi-mento no sentido de contribuir para atingirmos os objetivos comuns de divul-gação da microbiologia.

Para que a Revista Microbiologia in foco tenha a possibilidade de ser apri-morada e continuar no seu objetivo de atingir os mais variados setores, neces-sitamos muito de sua colaboração, mandando notícias, sugerindo temas, pes-quisadores, enfim qulaquer assunto que envolva a microbiologia e que achar interessante para publicação e divulgação.

A política editorial da revista será democrática e os editores têm, com o apoio da diretoria da SBM, o compromisso de atender a comunidade e os leito-res.

Escrevam para [email protected] ou [email protected].

Marina B. MartinezPresidente

Walderez GambaleCarlos P. Taborda

Editores

Ciência in Foco

Consensos

Agenda in Foco

Emprego in Foco

Notícias in Foco

BIOFILMES MICROBIANOS . . . . . . . . . . . 4

BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . 13

INFECÇÃO FÚNGICA NOSOCOMIAL: UM PROBLEMA CRESCENTE EM SAÚDE PÚBLICA.Experiência em Hospitais Públicos de São Paulo . . . . . . . . . . . . . . . 20

O ORÁCULO DE DELFOS DO SÉCULO XXI:a MICROBIOLOGIA revelada pelo Google. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

OS MICRORGANISMOS PEGAM CARONA NA ÁGUA DE LASTRO DE NAVIOS E PODEM VIAJAR PELO MUNDO INTEIRO . . . . . . . . . . . . . 31

MICROBIOLOGIA APLICADA AO CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES . . . . . . . . 36

O PAPEL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MICROBIOLOGIA NO SUPORTE À CONSOLIDAÇÃO DA REDE BRASILEIRA DE COLEÇÕES DE CULTURAS DE MICRORGANISMOS . . . . . . . . . . . . . 40

RECOMENDAÇÕES PARA OPERAÇÃO E GERENCIAMENTO DE COLEÇÕES DE CULTURAS DE MICRORGANISMOS . . . . . . . . . . . . . 49

. . . . . . . . . . . . 56

. . . . . . . . . . 57

. . . . . . . . . . . 57

Editores: Tiragem:Carlos Taborda e Walderez Gambale 2000 exemplares

Circulação Nacional - Distribuição GratuitaMarketing e Publicidade:Prix Eventos: Silvia Neglia - Diretora Responsabilidade editorial:Fone/fax: 51.32496164 Todos os artigos assinados são de [email protected] responsabilidade dos respectivos autores.

Editoração e Impressão: Foto da capa: Dolika Afa Artes Gráfica: (51) 3343.5533 Análise ultraestructural de biofilme de S. Diagramação: André Saboia Maltophilia (Garcia. et al., 2001)

SBM in FocoRevista da Sociedade Brasileira deMicrobiologia

Vol.1, nº 2 (Outubro, Novembro, Dezembro)São Paulo: SBM, 2007

Periodicidade Trimestral

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1. O que são Biofilmes Microbianos?A definição exata das estruturas mi-

crobianas que constituem biofilmes não é uma tarefa simples. A própria palavra bio-filme sugere tratar-se de películas ou ca-madas finas de bactérias, que pela pró-pria definição do termo, deveriam estar aderidas a uma superfície. A continuidade do “filme” não se dá pelo alinhamento pa-ralelo ou contínuo de células microbianas em contato direto entre sí. O que garante a coesão estrutural do biofilme microbia-no é a matriz constituída de exopolímeros (EPS, de extracellular polymers) produzi-dos pelas células formadoras de biofilme. Esta definição clássica de biofilme (Cha-racklis & Marshall, 1990, Hall-Stoodley et al., 2004) não inclui, porém, todas as for-mas de vida microbiana com característi-cas de biofilme. Por exemplo, flocos sus-pensos de microrganismos são essencia-is para o funcionamento de sistemas de tratamento de águas residuárias como, por exemplo, reatores de lodos ativados (aeróbios) e reatores anaeróbios de man-ta de lodo (Clauss et al., 1998; Ganc-zarczyk, 1994). As comunidades microbi-anas destes flocos (sinônimos: grânulos de lodo, agregados de microrganismos) são estabilizadas mecanicamente por uma matriz de exopolímeros excretada pelos organismos formadores dos flocos em um processo análogo ao que ocorre nas comunidades clássicas de biofilmes associadas a superfícies. Estes flocos, portanto, também são biofilmes, só que suspensos na coluna de água. Nos dois casos apresentados acima, os organis-

BIOFILMESMICROBIANOS

Ciência in Foco

René P. Schneider Laboratório de Microbiologia Ambiental,

Departamento de Microbiologia ICBUSP, Universidade de São Paulo.

mos do biofilme ficam envoltos pela ma-triz de EPS produzidos por eles mesmos. Esta definição, porém, também não abrange todas as situações onde micror-ganismos podem produzir biofilmes. A produção de EPS ocorre somente em am-bientes com disponibilidade adequada de compostos orgânicos. Em ambientes, on-de a disponibilidade de área de superfície para adesão de microrganismos é muito grande (subsolo (Teske, 2005), tubula-ções de distribuição de água destilada, su-perfícies de folhas de plantas (Lambais et al., 2006)) e a disponibilidade de carbono para a produção de EPS é muito reduzida (ambientes oligotróficos), a maior parte da biomassa microbiana vive aderida nas superfícies, onde predominam células in-dividuais envoltas por uma matriz muito delgada ou até indetectável na análise por microscopia eletrônica. Esta condi-ção também é observada nos momentos iniciais de colonização de superfícies no-vas por bactérias em ambientes com am-pla disponibilidade de carbono para a pro-dução de EPS.

Uma definição mais apropriada de bio-filmes microbianos, que permitiria dife-renciá-los claramente de bactérias planc-tônicas, e que inclui todas as formas de vi-da microbiana com características de bio-filme é a seguinte: biofilmes são comuni-dades de microrganismos, aderidas a su-perfícies ou suspensas em solução, cujas células podem ou não estar envoltas por uma matriz de exopolímeros, onde a posi-ção espacial relativa dos organismos indi-viduais é fixa durante uma geração e rela-

tivamente fixa também nas gerações se-guintes (Schneider, submetido). A posi-ção relativa de organismos no interior de biofilmes ou na superfície de substratos se altera muito lentamente em função da divisão celular e do deslocamento das cé-lulas por processos de formação de exo-polímeros ou do deslocamento das célu-las aderidas na superfície, sem que ocor-ra desprendimento da célula. É importan-te ressaltar que biofilmes microbianos são produzidos por culturas puras de bac-térias e por consórcios de microrganis-mos, que podem incluir fungos, protozoá-rios e algas. Células individuais ou planc-tônicas suspensas na água ou em ambi-entes gasosos não atendem ao critério da fixação da posição espacial relativa, pois o movimento Browniano, a difusão e a tur-bulência do meio contribuem para o des-locamento aleatório contínuo destas célu-las. Os diferentes tipos de biofilmes mi-crobianos estão esquematizados na Figu-ra 1 e exemplos de biofilmes estão indica-dos na Figura 2.

Biofilmes formados em ambientes oli-gotróficos são constituídos essencial-mente por células individuais aderidas nas superfícies, que podem estar disper-sas ou formar agregados, onde cada célu-la permanece em contato direto com o substrato (Figura 3). Em ambientes hete-rotróficos, a formação do biofilme será ini-ciada pela adesão dos organismos colo-nizadores iniciais ao substrato (Figura 3). O substrato é a superfície sólida ou semi-

2. Formação e Estrutura de biofilmes

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substrato

matriz

Biofilme Aderido Biofilme Suspenso

substrato

matriz

Biofilme Aderido Biofilme Suspenso

Biofilme de Subsolo

Figura 1: Representação esquemática dos diferentes tipos de biofilmes microbianos.

sólida (hidrogel, agar, por exemplo) que serve de suporte para o biofilme. Na reali-dade, em ambientes aquáticos, as bacté-rias não aderem a superfícies limpas, mas a superfícies cobertas com um filme de componentes orgânicos e inorgânicos adsorvidos da solução, o filme condicio-nante. Este filme, que se forma imediata-mente após o contato entre o substrato e o líquido, altera as propriedades físico-químicas originais da superfície (Schnei-der, 1996) e influencia a adesão de mi-crorganismos (Schneider & Marshall, 1994). A subpopulação dos organismos aderidos capaz de produzir biomassa a partir dos nutrientes disponíveis inicia a formação do biofilme através da prolifera-ção das células e da produção e excreção dos componentes da matriz de exopolí-meros. Inicialmente são formadas micro-colônias por reprodução clonal das célu-las, que posteriormente poderão se fundir para formar um biofilme microbiano que cobrirá por completo a superfície do subs-trato. O interior do biofilme é cortado por uma malha de canais interconectados de diâmetro e curvatura variável, que permi-te a penetração de água do meio ambien-te no interior do biofilme. O transporte de material particulado ou de células micro-bianas com diâmetros de poucos mm pa-ra o interior do biofilme ocorre através des-tes canais (Okabe et al., 1996). Biofilmes suspensos de sistemas de tratamento de águas residuárias possuem uma estrutu-ra semelhante à de biofilmes formados em superfícies sólidas expostas a ambi-entes ricos em carbono (Ganczarczyk, 1994).

As cerca de 400 espécies de bactéri-as, que habitam os nichos ecológicos dis-poníveis nas superfícies orgânicas (célu-las epiteliais) ou inorgânicas (hidroxiapa-tita dos dentes) da cavidade bucal, de-senvolveram estratégias especiais para assegurar a colonização rápida destas su-perfícies cobertas com um filme condicio-nante de saliva, que são submetidas a um processo de lavagem intermitente pelo flu-xo de saliva ou de líquidos consumidos pe-lo hospedeiro (Rickard et al., 2003). A sali-va contém uma grande variedade de molé-culas (proteínas, exopolissacarídeos, etc.), mas algumas poucas moléculas ocorrem individualmente em grande con-centração e predominam nos filmes con-

dicionantes. As partes destas moléculas expostas na superfície do filme condicio-nante funcionam como receptores para a adesão específica de bactérias coloniza-doras iniciais (Figura 3). Estas bactérias, por sua vez, possuem receptores para a adesão de bactérias colonizadoras se-cundárias. Este mecanismo de formação de biofilme por coagregação se asseme-lha a um quebra-cabeça, mas com uma di-ferença importante: existe uma flexibili-dade muito grande para o encaixe das “pe-ças” (os organismos), pois há uma diver-sidade muito grande de parceiros dispo-níveis para interação com os receptores de cada organismo incorporado ao biofil-me e cada novo integrante do biofilme po-derá se proliferar por divisão celular (Ric-kard et al., 2003).

Biofilmes são sistemas dinâmicos, que aumentam sua massa pela conver-são de substratos solúveis em células mi-crobianas e EPS ou pela incorporação de material particulado ou dissolvido orgâni-co ou inorgânico do meio circundante, e que liberam continuamente fragmentos de biofilme para o meio ambiente. Pro-cessos de erosão, a liberação de organis-mos ou de pequenos fragmentos de biofil-me, são contínuos enquanto que o des-prendimento (sloughing) de grandes frag-

3. Formas de dispersão de biofilmes

mentos de biofilme, é intermitente e alea-tório (Telgmann et al., 2004, Figura 4). Os fragmentos e as células descartados pelo biofilme podem ser liberados diretamente para a solução ou se deslocar sobre a su-perfície do substrato sem a perda de con-tato físico a velocidades de até 1mm/h, com os fragmentos de biofilme rolando li-teralmente sobre a superfície de substra-tos (Hall-Stoodley & Stoodley, 2005). Foi também observado o arraste do biofilme inteiro sem perda de contato com a super-fície (Hall-Stoodley & Stoodley, 2005). A adesão dos agregados liberados pelo bio-filme a superfícies representa um meca-nismo eficaz de colonização de novos am-bientes por organismos de biofilmes.

Em biofilmes de culturas puras de Pse-udomonas aeruginosa não mucóides, ocorre uma diferenciação dos organis-mos do biofilme após a formação inicial das estruturas de “cogumelos” (Klausen et al., 2003). Após a maturação do biofil-me, a lise de células localizadas no interi-or destas estruturas gera espaços vazios, onde algumas células das paredes do bio-filme com fenótipo de biofilme, ou seja, cé-lulas não-mótéis que produzem grandes quantidades de exopolímeros, se diferen-ciam em fenótipos de vida livre caracteri-zados pela presença de flagelos e motili-dade celular. Estes organismos motéis permanecem inicialmente confinados no

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interior dos espaços gerados pela lise de células no interior do biofilme, mas even-tualmente escapam para o meio através de brechas nas paredes da estrutura.

A composição de biofilmes varia muito em função da disponibilidade de matéria orgânica biodegradável para síntese de biomassa e de exopolímeros; da incorpo-ração no biofilme de matéria orgânica ou inorgânica particulada, como, por exem-plo, substâncias húmicas; da incorpora-ção de compostos orgânicos ou inorgâni-cos solúveis na estrutura do biofilme atra-vés da atividade microbiana ou de pro-cessos de precipitação química. No caso de biofilmes de rede de esgotos, 35% do carbono estava associado a matéria orgâ-nica não identificada, 25% a proteínas ex-tracelulares, 16% a substâncias húmicas, 15% a microrganismos, 7% a polissacarí-deos e 1% a DNA e ácidos urônicos (Jahn & Nielsen, 1998). Cerca de 80% a 90% do carbono orgânico destes biofilmes era ex-tracelular. A matriz de biofilmes em ambi-entes saturados com sais como, por exemplo, membranas de osmose rever-sa, pode incorporar uma quantidade sig-nificativa de cristais de sais precipitados (Figura 2e). O teor de compostos inorgâ-nicos na matriz de biofilmes de corrosão ultrapassa 75%, primordialmente minera-is à base de óxidos de ferro produzidos pe-la ação das próprias bactérias do biofilme (Figura 2g e h). Quantidade semelhante de óxidos de ferro pode ser incorporada na matriz de biofilmes expostos a ambi-entes microaerofílicos com elevada dis-ponibilidade de ferro solúvel.

O principal elemento estrutural da ma-triz são os polímeros extracelulares pro-duzidos pelos organismos do biofilme (Branda et al., 2005), que garantem a inte-gridade mecânica da estrutura. Pouco se conhece sobre a constituição e estrutura destes polímeros. Os componentes da matriz mais bem estudados são os polis-sacarídeos, cuja produção é induzida rapi-damente após a adesão de microrganis-mos a superfícies (Davies & Geesey, 1995). A estabilização estrutural dos exo-polissacarídeos de biofilmes ocorre atra-vés da formação de pontes iônicas de íons de cálcio e de magnésio e também pelo enovelamento de cadeias vizinhas

4. A Matriz de Biofilmes

Figura 2: Micrografias de microscopia eletrônica de varredura de biofilmes: A: início da formação de biofilme em espaçador de permeado de elemento de osmose

reversa; detalhe: indícios de início de formação de EPS (material excretado pelas células); B: proliferação inicial de bactérias formadoras de biofilme na superfície de membranas

de microfiltração. Note a grande quantidade de exopolímero excretada pelos organismos; C: Crescimento de biofilme na superfície de membrana de osmose reversa;D: o mesmo biofilme de C em estágio mais avançado de desenvolvimento; E: biofilme de membrana de osmose reversa com depósito de cristais de sulfato de bário; F: biofilme de

diatomáceas sobre suporte de membrana de osmose reversa, com biofilme secundário de bactérias sobre as diatomáceas; G: biofilme de tubérculos de biocorrosão; H: detalhe

de biofilme de tubérculos de biocorrsão. Note os espessos depósitos de óxidos de ferro biogênicos na superfície das bactérias com morfologia helical.

A

C

E

G

B

D

F

H

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Cultura Pura de Pseudomonas aeruginosa

Fenótipo de célula planctônica Fenótipo de célula de biofilme

canais

Consórcio

A B

Formação de Biofilme por coagregação

Hidroxiapatita

Filme condicionante de saliva

Colonisador primário

Colonisador secundário

Colonisador secundário

Cultura Pura de Pseudomonas aeruginosa

Fenótipo de célula planctônica Fenótipo de célula de biofilme

canais

Consórcio

canais

Consórcio

A B

Formação de Biofilme por coagregação

Hidroxiapatita

Filme condicionante de saliva

Colonisador primário

Colonisador secundário

Colonisador secundário

A B

Formação de Biofilme por coagregação

Hidroxiapatita

Filme condicionante de saliva

Colonisador primário

Colonisador secundário

Colonisador secundário

Figura 3: Sequência de eventos na formação de biofilmes microbianos em superfícies sólidas ou semi-sólidas: biofilmes de cultura pura de Pseudomonas aeruginosa, de consórcios e biofilmes formados por caogregação (A: logo após colonização da superfície, B: após proliferação dos organismos no biofilme).

de polissacarídeos (Wingender et al., 1999). A origem do DNA extracelular é um tema intensamente estudado atualmen-te. No passado acreditava-se que os áci-dos nucléicos extracelulares na matriz de biofilmes representavam restos de célu-las lisadas. Observações recentes em bio-filmes de cultura pura de Pseudomonas aeruginosa e de consórcios naturais de or-ganismos em biofilmes ambientais reve-laram, porém, que sob condições ainda desconhecidas, os organismos do interi-or do biofilme podem excretar ativamente DNA genômico (Liang et al., 2007).

Biofilmes são hidrogéis. Cerca de 85% a 95% da massa de biofilmes com composição predominantemente orgâni-ca é constituída de água. Os componen-tes da matriz, especialmente os polissa-carídeos, são estruturas altamente hi-groscópicas, o que torna os biofilmes vis-coelásticos (Rupp et al., 2005). Um mate-rial viscoelástico aumenta a sua viscosi-dade em proporção direta à intensidade da força mecânica aplicada. Esta viscoe-lasticidade permite a biofilmes absorver condições transientes de aumento de for-ças de cisalhamento através da deforma-ção elástica, o que evita a ruptura do bio-filme. Caso estas condições perdurarem por mais tempo, o biofilme responde de forma dinâmica através de seu desloca-mento por arraste na superfície sem per-da de contato com a mesma.

As células do interior do biofilme têm à sua disposição quatro fontes potenciais de carbono: o filme condicionante, com-ponentes do próprio biofilme, a matéria or-gânica dissolvida e, em alguns casos, o substrato, quando se tratar de superfície biodegradável, um alimento ou resíduo or-gânico sólido, por exemplo. Há poucas in-formações sobre as taxas de consumo dos componentes extracelulares produzi-dos pelos organismos dos biofilmes. Mui-tos autores acreditam que a adesão a su-perfícies representa uma estratégia de acesso a nutrientes contidos em filmes condicionantes (Marshall, 1996). Análi-ses mais detalhadas indicam, porém, que filmes condicionantes não representam uma fonte importante de carbono para or-ganismos de biofilmes. A matéria orgâni-

5. Fisiologia de Organismos do Interior

de Biofilmes

AB

C

AB

C

Figura 4: Mecanismos de dispersão de biofilmes. Desprendimento de pedaços de biofilme (A) ou de células individuais para o meio (B) e desprendimento de pedaços de biofilme que permanecem associados à superície (D).

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2ca de uma área de contato de 1 mm (mui-to superior à área de contato real entre cé-lulas e substratos) de um filme condicio-nante de 1 nm de espessura composto de dissacarídeos seria metabolizada em 10 segundos se a célula aderida tivesse ta-xas de metabolismo comparáveis com as taxas medidas em solução (Mozes & Rouxhet, 1992). As moléculas orgânicas do meio ou do próprio substrato no caso de biofilmes formados sobre compostos orgânicos (resíduos ou substratos da fer-mentação de estado sólido) são a princi-pal fonte de carbono para microrganis-mos de biofilmes. A formação de biofilmes suspensos (flocos) ocorre somente em meios líquidos com elevada disponibili-dade de carbono, como esgoto domésti-co ou efluente de indústrias. Florações de bactérias heterotróficas podem ocorrer ocasionalmente também em ambientes normalmente oligotróficos, como repre-sas ou oceanos (Alldredge & Silver, 1988). Neste caso, a fonte de carbono é produzida in loco pela intensa atividade de organismos autotróficos, principal-mente algas e cianobactérias. Bactérias autotróficas também podem formar biofil-mes em superfícies sólidas, utilizando co-mo fonte de carbono o bicarbonato dissol-

vido na água. A atividade fisiológica de organismos

no interior do biofilme é determinada pe-las propriedades da matriz e pela intensi-dade do metabolismo microbiano. A ma-triz atua como peneira molecular. Os po-ros excluem moléculas ou partículas com diâmetro maior do biofilme, que só pene-tram este microcosmo através dos canais que permanecem livres de EPS. A matriz também atua como barreira de difusão pa-ra moléculas de substratos, de metabóli-tos ou de aceptores finais de elétrons no interior do biofilme, pois impõe um cami-nho tortuoso para o deslocamento destas moléculas. Além disso, a matriz pode atu-ar como adsorvente e retardar ainda mais a taxa de difusão de compostos. O coefi-ciente de difusão de moléculas de oxigê-nio, nitrato e amônia no interior de biofil-mes é cerca de 60 a 80% do coeficiente de difusão destas moléculas na água, um valor reduzido para aproximadamente 20% para compostos como fenol, glicose ou mesmo substâncias de peso molecu-lar muito mais elevado, como a dextrana (10.000D, Stewart, 2003; Bryers & Drum-mond, 1998).

O interior de biofilmes é caracterizado por gradientes de substratos e metabóli-

tos formados pela ação conjunta da atua-ção da matriz como barreira de difusão e pela atividade metabólica dos organis-mos. O consumo de substratos ou acep-tores finais de elétrons a uma taxa superi-or à taxa de reposição pela difusão os tor-na indisponíveis em parte do biofilme. Co-mo a matriz impede o deslocamento de cé-lulas no interior do biofilme, a atividade metabólica dos organismos poderá ficar inibida devido à limitação de fatores de crescimento. Células de biofilmes são or-ganismos de tamanho muito inferior ao de células em crescimento exponencial (Jahn & Nielsen, 1998), fisiológicamente semelhantes a organismos da fase esta-cionária de culturas de células planctôni-cas (Spoering & Lewis, 2001).

Biofilmes são as únicas estruturas mi-crobianas que permitem a coexistência de organismos aeróbios e anaeróbios es-tritos a distâncias de poucas centenas de micrômetros um do outro (Figura 5). Em ambientes aeróbios, a atividade metabó-lica dos organismos aeróbios localizados no topo do biofilme, na interface com o me-io, aliada à restrição de difusão do oxigê-nio na matriz, resulta na remoção comple-ta do oxigênio nos primeiros 100µm a 200µm do biofilme (Kühl & Jorgensen, 1992). As camadas inferiores do biofilme serão colonizadas por organismos anae-róbios, sendo que na zona de transição com a parte aeróbia predominarão bacté-rias facultativas tolerantes a oxigênio, co-mo as fermentadoras e as denitrificantes, que serão substituídas nas partes mais profundas e com potencial redox mais bai-xo por bactérias estritamente anaeróbias, como as sulfato-redutoras e metanogêni-cas (Figura 5, Kühl & Jorgensen, 1992; Damgaard et al., 2001). O sulfeto de hi-drogênio ou o metano produzidos na zona anaeróbia do biofilme podem não ser de-tectados na zona aeróbia, pois ambos os compostos podem ser oxidados no interi-or do biofilme por bactérias aeróbias ou denitrificantes (Kühl & Jorgensen, 1992). Organismos aeróbios e anaeróbios tam-bém coexistem no interior de biofilmes suspensos (Schramm et al., 1999). Os me-canismos responsáveis pela criação de microambientes anaeróbios em biofilmes compactos de superfície também atuam, em escala espacial muito maior, no sub-solo, onde a atividade das células aderi-

Aeróbio (100 a 200mm)

Denitrificante

Sulfato-redutor

Metanogênico

Substrato Concentração

O2 NO3-

H2S

CH4

Centenas de mma mm

Aeróbia Sulfato-redutora

Dezenas a centenas de metros

Zona saturada

Zona vadosa

Superfície do solo

Denitrificante Metanogênica

Pluma de poluentes

A

B

Aeróbio (100 a 200mm)

Denitrificante

Sulfato-redutor

Metanogênico

Substrato Concentração

O2 NO3-

H2S

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Centenas de mma mm

Aeróbio (100 a 200mm)

Denitrificante

Sulfato-redutor

Metanogênico

Substrato Concentração

O2 NO3-

H2S

CH4

Centenas de mma mm

Aeróbia Sulfato-redutora

Dezenas a centenas de metros

Zona saturada

Zona vadosa

Superfície do solo

Denitrificante Metanogênica

Pluma de poluentes

Aeróbia Sulfato-redutora

Dezenas a centenas de metros

Zona saturada

Zona vadosa

Superfície do solo

Denitrificante Metanogênica

Pluma de poluentes

A

B

Figura 5: Representação esquemática da estrutura trófica de biofilmes suspensos ou aderidos (A) e de subsolo (B).

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das nas partículas de solo cria uma se-qüência de ambientes com potencial re-dox diferenciado na direção de fluxo do aqüífero (Figura 5).

A questão da existência ou não de um fenótipo típico e exclusivo de biofilmes mi-crobianos ainda é controversa. Alguns au-tores afirmam que células de biofilmes ex-pressam um fenótipo característico desta estrutura (Hall-Stoodley et al., 2004) en-quanto que outros autores indicam que os genes expressados no interior de biofil-mes também podem ser ativados em célu-las planctônicas em condições análogas de cultura (Ghigo, 2003). Um tema de grande interesse na pesquisa sobre biofil-mes é a importância de sistemas de quo-rum sensing na formação destas estrutu-ras. Davies et al. (1998) demonstraram que a expressão dos genes de quorum sensing é essencial para a formação da estrutura cogumelar de biofilmes de Pseu-domonas aeruginosa, mas não para a for-mação de biofilme pelo microrganismo. Mutantes incapazes de produzir as molé-culas de quorum sensing produziram bio-filmes muito mais compactos. Este resul-tado foi confirmado para muitos outros or-ganismos formadores de biofilmes e é co-erente com o perfil dos genes regulados pelos sistemas de quorum sensing, que controlam, principalmente, a expressão de genes de proteínas relacionados com a produção de materiais excretados por células de microrganismos (fatores de vi-rulência, enzimas de síntese de exopolí-meros, etc., Cámara et al., 2002).

Biofilmes colonizam virtualmente to-dos os ambientes habitáveis por micror-ganismos e estão entre as estruturas bio-lógicas mais antigas da terra. Fósseis de biofilmes foram identificados em rochas sul-africanas com idade entre 3,4 a 3,5 bi-lhões de anos (Westall et al., 2001) e em rochas australianas com idade de cerca de 3,2 bilhões de anos (Rasmussen, 2000). Estruturas fósseis de biofilmes de cianobactérias semelhantes aos estro-matólitos existentes atualmente foram provavelmente as primeiras estruturas bi-ológicas macroscópicas formadas na ter-ra e dominaram os mares e as lagoas ra-sas durante todo o período precambriano (Dupraz & Visscher, 2005). Os estromató-

7. Biofilmes Microbianos na Natureza

1998). Um caso interessante de associa-ção simbiótica entre um biofilme microbi-ano e um inseto é a associação de estrep-tomicetos com saúvas (Currie et al., 1999). Partes da cutícula de saúvas são cobertas com densos biofilmes de Strep-tomyces sp., um microrganismo filamen-toso que produz um potente antibiótico contra um fungo parasítico do gênero Escovopsis. Este fungo parasita os fun-gos da família Lepiotacea cultivados pe-las formigas nos vegetais cortados acu-mulados no interior do ninho e que serve de alimento para os insetos. Além de pro-duzir um potente antibiótico contra o fun-go parasítico, as células de Streptomyces sp. também produzem compostos que es-timulam o crescimento dos fungos benéfi-cos para as formigas.

Os maiores sistemas de cultivo de or-ganismos na atualidade são os reatores biológicos de tratamento de águas resi-duárias. Todos estes sistemas dependem da atividade de biofilmes suspensos ou fi-xos em suportes (Ganczarczyk, 1994; Ni-colella et al., 2000). Os biofilmes suspen-sos de sistemas de lodo ativado são flo-cos de baixa densidade e relativamente pouco compactos de diâmetro relativa-mente pequeno (até 1mm) e uma taxa de sedimentação baixa (5m/h, Nicolella et al., 2000). Grânulos são biofilmes sus-pensos mais densos, de tamanho maior (diâmetros entre 1,5 a 3mm) e de sedi-mentação mais rápida do que flocos (40m/h, Nicolella et al., 2000) utilizados em reatores anaeróbios de fluxo ascen-dente (grânulo puramente biológico), em reatores de leitos fluidizados (geralmente os grânulos de biofilme são formados so-bre bases de grãos de areia ou de carvão ativado) ou em reatores de lodo ativado granular (Zima et al., 2007). Os biofilmes de reatores de filmes fixos (biodiscos, rea-tores de leito fluidizado, trickling filters, bi-ofiltros, reatores com enchimentos móve-is, etc.) têm densidade e estrutura seme-lhante à de biofilmes de grânulos, porém são cultivados em suportes macroscópi-cos. Falhas na formação dos biofilmes ca-usadas principalmente pelo crescimento descontrolado de bactérias filamentosas são problemas operacionais importantes

8. Emprego de biofilmes em processos

industriais

litos modernos são comunidades comple-xas de microrganismos que incluem cia-nobactérias e organismos heterotróficos e oxidadores de sulfetos nas partes aeró-bias do biofilme e organismos fermenta-dores e bactérias sulfato-redutoras na zo-na anaeróbia (Dupraz & Visscher, 2005).

Praticamente todas as superfícies ex-postas em ambientes aquáticos são colo-nizadas rapidamente por biofilmes micro-bianos (Armstrong et al., 2001). Microrga-nismos de biofilmes associados a superfí-cies vivas ou a substratos inanimados são responsáveis pela maior parte da ati-vidade metabólica microbiana em águas naturais (Haglund et al., 2002). Biofilmes microbianos estabelecidos em superfíci-es naturais ou artificiais nas margens de rios ou lagos são importantes agentes nos ciclos biogeoquímicos destes corpos aquáticos (Magalhães et al., 2003). Man-tas microbianas, ecosistemas complexos formados por organismos autotróficos e heterotróficos aeróbios e anaeróbios em ambientes aquáticos podem atingir es-pessuras de algumas dezenas de centí-metros (Dupraz & Visscher, 2005). Os or-ganismos no interior das mantas estão su-jeitos a ciclos diários de alterações drásti-cas das condições ambientais, que inclu-em transições de aerobiose intensa diur-na devido à produção de oxigênio no inte-rior do biofilme por organismos fotossin-tetizantes e anaerobiose total noturna, as-sociados a variações de pH entre 7 e 10 (Revsbech & Ward, 1984).

A maioria dos organismos que habi-tam solos e subsolos vive aderida às su-perfícies minerais (Griebler et al., 2002). Biofilmes microbianos colonizam superfí-cies de animais e plantas (Fett & Cooke, 2005, Lambais et al., 2006). A coloniza-ção de superfícies de raízes por biofilmes microbianos ou fúngicos é essencial para a nutrição de plantas (Ramey et al., 2004). A associação de biofilmes microbi-anos com muitos animais e plantas mari-nhas é uma associação simbiótica, que confere vantagens para os hospedeiros, como, por exemplo, a redução da intensi-dade da colonização das superfícies de al-gas por biofilmes deletérios (Armstrong et al., 2001). Biofilmes microbianos estabe-lecidos em cascos de navios produzem substâncias atrativas para larvas de mo-luscos e cracas (Wieczorek & Todd,

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de reatores de tratamento de águas resi-duárias (Martins et al., 2004). Uma se-gunda grande área de tratamento de resí-duos onde ocorre o emprego de biofilmes é a estabilização de resíduos sólidos em sistemas aeróbios (compostagem) ou anaeróbios (Sharma et al., 1997). A mi-crobiota e as etapas bioquímicas dos pro-cessos anaeróbios de estabilização de re-síduos sólidos (biodigestores, aterros sa-nitários controlados, etc.) são semelhan-tes aos de reatores de tratamento de esgo-to anaeróbios e geram como produto fi-nal, metano e dióxido de carbono (Guna-seelan, 1997).

O emprego de biofilmes na produção de produtos biotecnológicos é mais raro devido às dificuldades de controle preci-so da cinética de reação e devido às ele-vadas concentrações de carbono orgâni-co dos meios de cultura, que dão uma van-tagem competitiva para o crescimento de bactérias planctônicas. Uma exceção são processos de fermentação de estado sóli-do, onde o substrato é utilizado como fon-te de carbono para o cultivo de fungos e

de bactérias filamentosas (Pandey et al., 2000). Estes processos são a base de mu-itas fermentações asiáticas para a produ-ção de alimentos baseadas na fermenta-ção de bolores, como por exemplo a pro-dução de tempeh (Nout & Kiers, 2005). Outros exemplos de alimentos produzido por biofilmes são o quefir, uma bebida lác-tea produzida pela fermentação de leite com grânulos (biofilmes) formados por culturas mistas de bactérias lácticas e de leveduras (Witthuhn et al., 2005) e o vina-gre, produzido em reatores de filme fixo (Liu et al., 2004). Na biohidrometalurgia, biofilmes de bactérias oxidadoras de sul-fetos cultivados sobre os minérios catali-zam indiretamente a liberação de metais nobres (cobre, ouro, etc.) para a solução aquosa (Olson et al., 2003).

Biofilmes são responsáveis pela mai-or parte das interferências causadas por microrganismos em processos tecnológi-cos. O termo genérico para definir cama-

9. Danos Causados por Biofilmes e seu

Controle

das biológicas indesejáveis que se for-mam em superfícies é biofouling, enquan-to que fouling é o termo que designa todo o tipo de camada indesejável, indepen-dente de conter ou não organismos vivos. Um depósito químico sem microrganis-mos é uma camada de fouling, por exem-plo. Efeitos de biofouling em processos in-dustriais incluem: aumento da resistência à troca de calor (Casanueva et al., 2003), aumento do coeficiente de fricção, entupi-mento de membranas e filtros (Schneider et al., 2005), a mobilização de metais e de acidez através da ação de biofilmes mi-crobianos sobre resíduos de mineração (drenagem ácida, Ledin & Pedersen, 1996) e a contaminação microbiana de ali-mentos (Kumar & Anand, 1998). Biofilmes

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Os impactos econômicos causados por biofilmes são estimados em 1% do PIB em países industrializados

são importantes agentes de biodeteriora-ção (Warscheid & Braams (2000); Sand, 1997) e de biocorrosão (Beech & Sunner, 2004). Os impactos econômicos causa-dos por biofilmes são estimados em 1% do PIB em países industrializados e po-dem ser classificados nas seguintes cate-gorias: superdimensionamento de pro-cessos ou estruturas para compensar efei-tos deletérios de biofilmes, custos de me-didas de controle de biofilmes (sistemas de limpeza química ou mecânica, bioci-das, etc.), custos de interrupção da pro-dução ou de redução da eficiência de pro-cessos, aumento da incidência de doen-ças (inclusão de patógenos em biofilmes de sistemas de distribuição de água ou de torres de resfriamento).

Medidas de controle ou manejo de bio-filmes visam manter a formação de biofil-mes abaixo de patamares que causem perdas significativas de materiais ou de eficiência de processos (Flemming et al., 1996). Para cada tipo de material ou pro-cesso podem ser estipulados limites de impacto de biofilmes acima dos quais os gastos de medidas de controle são eco-nomicamente justificados. A intensidade de manejo de biofilmes depende do tipo de dano causado e da tendência de for-mação de biofilmes da água de processo. As medidas de manejo de biofilmes visam a redução de um dos dois principais fato-res responsáveis pela sua formação: re-dução da carga de células (inóculo) e/ou da quantidade de matéria orgânica biode-gradável (alimento dos organismos do bio-filme). Medidas de controle de biofilmes in-cluem: redução do aporte de células (pré-tratamento convencional da água por coa-gulação/decantação/filtração de areia ou multimídia ou pré-tratamento avançado com membranas filtrantes, em alguns poucos casos é viável esterilizar a água); redução do aporte de nutrientes através do tratamento da água em biorreatores projetados para remoção dos componen-tes que permitem o crescimento de biofil-mes (Meesters et al., 2003); desenvolvi-mento de superfícies não-adesivas (a fal-ta de conhecimento sobre a composição química dos pontos de contato entre os polímeros adesivos de microrganismos e biofilmes, a provável grande biodiversi-dade destes polímeros e a formação de fil-mes condicionantes podem inviabilizar o desenvolvimento destas superfícies); re-moção periódica de biofilmes por meios mecânicos ou químicos; redução do nú-mero de organismos viáveis em biofilmes através da adição de biocidas (uma das principais estratégias de manejo de biofil-mes adotadas na prática, mas de impacto ambiental considerável, pois as águas contaminadas com biocidas geralmente não são tratadas antes do descarte no me-io-ambiente.)

Biofilmes microbianos são estruturas procarióticas extremamente resistentes a biocidas devido a fatores estruturais e fisi-ológicos (Mah & OToole, 2001). A matriz do biofilme é o mais importante fator de re-sistência estrutural. Ao penetrar no interi-or do biofilme, biocidas oxidantes como o

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cloro, por exemplo, entram em contato pri-meiro com a matriz onde são oxidados e inativados. Esta classe de biocidas geral-mente não penetra além da camada su-perficial de 100 a 200µm do biofilme (de Beer et al., 1994). Biocidas não-oxidan-tes podem ser imobilizados na matriz por adsorção química (Nickel et al., 1985), tor-nando-os inócuos para as bactérias. Fato-res fisiológicos de resistência de organis-mos do interior do biofilme incluem a re-sistência devido ao crescimento lento em condições de limitação de nutrientes, a re-cuperação de organismos injuriados, o acúmulo de subprodutos finais de fer-mentação na zona anaeróbia do biofilme, que difundem através da estrutura e rea-gem preferencialmente com biocidas oxi-dantes, a biodegradação de biocidas pa-ra os quais existem enzimas biodegrada-doras e a formação de células persisten-tes no interior do biofilme. Células persis-tentes a biocidas são um fenômeno ob-servado somente em biofilmes. Estas cé-lulas são organismos que resistem aos bi-ocidas mesmo após exposição a doses muito elevadas dos compostos aplicados por tempos longos, que inativam mais de 99% das células do biofilme. A persistên-cia destas células não está baseada em mutações genéticas, mas em processos fisiológicos ainda pouco conhecidos (Ke-ren et al., 2004).

Infecções com indícios claros de en-volvimento de biofilmes microbianos são as endocardites microbianas e fúngicas, a otite média, a prostatite crônica bacteri-ana, a fibrose cística, a periodontite e a cá-rie (Donlan & Costerton, 2002). As infec-ções de implantes artificiais permanentes (válvulas cardíacas, próteses de fêmur e de joelhos, etc.) ou temporários (catete-res, dispositivos intrauterinos, lentes de contato, etc.) representam um segundo grupo de infecções onde o papel de biofil-mes microbianos na infecção é notório (Costerton et al., 1999). Além do envolvi-mento direto em infecções, biofilmes mi-crobianos são reservatórios de organis-mo patogênicos em sistemas de distribui-ção de água ou em sistemas de condicio-namento de ar (Parsek & Singh, 2003). A comprovação pelo postulado de Koch de que biofilmes microbianos são agentes

Biofilmes no Setor de Saúde

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etiológicos na infecção de tecidos do hos-pedeiro é dificultada pelo fato de pratica-mente todos os organismos implicados na formação de biofilmes infecciosos em humanos ou animais serem organismos patogênicos no estado planctônico, com fatores de virulência cuja ação independe da formação do biofilme (Donlan & Cos-terton, 2002).

Possíveis fatores de virulência espe-cíficos de biofilmes incluem a ação do bio-filme como reservatório de células dos pa-tógenos para inoculação da circulação sangüínea, a liberação de quantidade ex-cessiva de endotoxinas pelas células do biofilme, danos a tecidos causados pela reação excessiva de componentes do sis-tema imunológico ao biofilme e a disponi-bilização pelo biofilme de um nicho ecoló-gico para a evolução de organismos re-sistentes a antibióticos (Donlan & Coster-ton, 2002). A liberação de endotoxinas por biofilmes de Pseudomonas aerugino-sa estabelecidos na face externa de len-tes de contato é um caso documentado onde o biofilme causa uma inflamação sem o estabelecimento de contato direto entre o tecido do hospedeiro e o microrga-nismo patogênico. Neste caso, a superfí-cie artificial da lente de contato permite o estabelecimento de uma população da Pseudomonas aeruginosa causadora da inflamação no olho do paciente, que na au-sência da lente de contato não teria con-dições de colonizar este ambiente (Co-well et al., 1998). A persistência ao trata-mento de antibióticos pode ser outra ca-racterística específica de infecções cau-sadas por biofilmes. Os antibióticos mi-nistrados ao paciente podem ser eficazes para a eliminação das células planctôni-cas emitidas pelo biofilme, mas em mui-tos casos não atingem as células do inte-rior do biofilme protegidas pela matriz, preservando a fonte de re-infecção do or-ganismo. A matriz também protege as cé-lulas do interior do biofilme contra a ação dos anticorpos produzidos pelo sistema imune e contra os radicais livres e outros compostos reativos produzidos na explo-são respiratória de fagócitos recrutados para combate do biofilme (Costerton et al., 1999). A persistência do biofilme re-sulta em atração de mais fagócitos cuja atividade conjunta pode resultar em da-nos colaterais aos tecidos do hospedeiro,

enquanto que as células dos organismos patogênicos no interior do biofilme per-manecem viáveis. O reconhecimento de que a infecção dos pulmões de pacientes com fibrose cística é causada por bactéri-as formadoras de biofilmes microbianos tem revelado novas estratégias de com-bate a infecções causadas por biofilmes microbianos. Hentzer et al. (2003) de-monstraram que um antagonista de homo-serinlactonas isolado de algas marinhas tinha a capacidade de, em conjunto com o antibiótico tobramicina, contra o qual es-tes biofilmes são resistentes, eliminar a Pseudomonas aeruginosa de pulmões de modelos animais de fibrose cística. Estes resultados derivados da pesquisa sobre biofilmes podem representar uma nova e promissora área para a pesquisa e de-senvolvimento de novos produtos antimi-crobianos para o controle de infecções (Rasmussen & Givskov, 2006).

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1 2

Ciência in Foco

IntroduçãoA biossegurança é um tema multidisci-

plinar, com limites amplos e em constante construção. Etimologicamente, bio, raiz grega, significa vida e segurança se refere à qualidade de ser seguro, livre de dano. Existem diferentes definições para a pala-vra biossegurança, porém todas elas pos-suem o mesmo princípio. Assim sendo, po-demos defini-la como “o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às ativi-dades de pesquisa, produção, ensino, de-senvolvimento tecnológico e prestação de serviços, as quais possam comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos de-senvolvidos” (15).

A preocupação mundial quanto à segu-rança biológica se acentuou devido às no-vas tecnologias derivadas de manipula-ções genéticas, a partir da década de 60, quando cientistas americanos iniciaram uma série de discussões sobre os riscos bi-ológicos e os impactos ambientais sobre a

saúde humana da tecnologia do DNA re-combinante. Em 1975, uma reunião deno-minada Conferência de Asilomar, tornou-se um marco na história da ética aplicada à pesquisa, pois discutiu os aspectos relaci-onados à proteção dos profissionais da área de engenharia genética. O consenso obtido nessa reunião foi que deveriam ser elaboradas diretrizes para o estabeleci-mento de barreiras de segurança físicas e biológicas visando à proteção dos pesqui-sadores e do meio ambiente.

A origem da biossegurança, entretan-to, está relacionada diretamente às ques-tões da proteção social e ocupacional dos trabalhadores (24). O avanço científico, em todas as áreas do conhecimento huma-no, também contribuiu para um novo olhar sobre a saúde ocupacional dos trabalha-dores (11).

As primeiras regulamentações labora-toriais, porém ainda focadas na segurança ocupacional, são do National Institutes of Health - EUA (NIH) e datam de 1974. Já na década de 80, os primeiros manuais da

Organização Mundial de Saúde, sobre es-te tema, usavam o termo biossegurança in-corporando a ela não somente os riscos bi-ológicos (agentes patogênicos), mas tam-bém os agentes químicos, físicos, radioati-vos e ergonômicos. A partir de 1990, ou-tros temas na definição de biossegurança foram incluídos, tais como ética em pes-quisa, meio ambiente e trabalhos com ani-mais, além é claro dos processos envol-vendo tecnologia do DNA recombinante.

Ao final da década de 80, sob influên-cia da experiência e iniciativas internacio-nais, começou a ser discutida no Brasil, a questão da regulamentação da Biossegu-rança, resultando na Lei nº 8.974/1995 que estabeleceu normas para o uso das técnicas de engenharia genética e libera-ção no meio ambiente de organismos ge-neticamente modificados e a criação da Comissão Técnica Nacional de Biossegu-rança (CTNBio). Atualmente, a Lei de Bios-segurança nº 11.105/2005 (1), que trata de questões envolvendo a manipulação de DNA e pesquisas com células-tronco em-

BIOSSEGURANÇANO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA

13

1. Cintia M. Borba

2. Geraldo R.G. Armôa

Pesquisadora do Laboratório de Taxonomia, Bioquímica e Bioprospecção de Fungos e Membro da Comissão Interna de Biossegurança do IOC, Instituto Oswaldo Cruz; Fundação Oswaldo Cruz,

Rio de Janeiro, Brasil. [email protected]

Tecnologista Sênior do Laboratório de Tecnologia Recombinante e Membro da Comissão Interna de Biossegurança de BioManguinhos, Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos;

Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. [email protected]

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brionárias, revogou a Lei nº 8.974/95. Costa (11) contextualiza a biossegu-

rança no Brasil como detentora de duas

vertentes: a legal e a praticada. A legal es-tá regulamentada pela Lei nº 11.105/2005 acima citada. A praticada é aquela desen-volvida, principalmente nas instituições de saúde, e que envolve os riscos por agen-tes químicos, físicos, biológicos, ergonô-micos e psicossociais, apoiada em diver-sas legislações que, infelizmente, nem sempre são respeitadas.

O símbolo da biossegurança, atual-mente utilizado em muitos laboratórios, na realidade é o símbolo do risco biológico (Fi-gura 1). Ele foi desenvolvido pelo enge-nheiro Charles Baldwin em 1966 a pedido do Center for Disease Control - CDC vi-sando a uma padronização na identifica-ção de agentes biológicos. É considerado, internacionalmente, como símbolo padrão para agente biológico de risco (25).

Risco significa probabilidade de peri-go, geralmente com ameaça física para o homem e/ou para o meio ambiente. Se-gundo a sua natureza pode ser físico, quí-mico, biológico, ergonômico e de aciden-tes.

Os riscos biológicos em laboratórios de microbiologia estão relacionados direta-mente com os microrganismos, e sua clas-sificação vai depender dos seguintes crité-rios: gravidade da infecção, capacidade de disseminação no meio ambiente, estabili-dade do agente, modos de transmissão, disponibilidade de medidas profiláticas e tratamentos eficazes e endemicidade.

Os profissionais que trabalham com agentes biológicos, patogênicos ou não, devem conhecer o agente em questão e os riscos envolvidos no seu manuseio. Tei-xeira & Valle (34) consideram essencial à criação de um programa de biosseguran-ça onde estejam descritas as principais téc-nicas de prevenção, a adoção das boas práticas de laboratório, o controle da quali-dade e a criação de um sistema que faça a monitoração da saúde dos trabalhadores e dos impactos ambientais. A estrutura des-se sistema, segundo os autores, deve fun-cionar de forma articulada e integrada.

A exposição aos agentes biológicos é o

Símbolo da Biossegurança

Risco Biológico

risco ocupacional mais comum a que o pro-fissional da área de saúde está sujeito (22). Ela pode ocorrer pela inalação de par-tículas quando aerossóis são gerados du-rante diversos procedimentos laboratoria-is; pela inoculação direta como resultado de acidentes com agulhas, corte ou perfu-ração durante a quebra de vidraria ou por instrumentos perfurocortantes contamina-dos; pela ingestão devido à pipetagem com a boca ou pela prática de fumar, beber ou fazer refeições no laboratório; e até mesmo pela contaminação da mucosa conjuntival devido a lançamentos de gotí-culas ou aerossóis de material infectante nos olhos (8, 33).

De forma a minimizar a exposição aos riscos de acidentes torna-se fundamental a implementação de um trabalho de análi-se de riscos com adoção de mecanismos de contenção que incluem: arquitetura la-boratorial (design do laboratório), equipa-mentos de proteção individual e coletivo (EPIs e EPCs) e boas práticas de laborató-rio (BPLs).

O Ministério da Saúde através da Co-ordenação Nacional de DST e Aids publi-caram uma série de documentos referen-tes aos cursos TELELAB (35) cujo conte-

údo aborda a definição de BPLs em Bios-segurança. O documento explicita que as BPLs em biossegurança englobam medi-das a serem adotadas desde a recepção de pacientes ou de amostras até a emis-são do laudo final, com o objetivo de redu-zir ou eliminar os riscos tanto para os téc-nicos quanto para a comunidade e o meio ambiente. Essas medidas incluem: a orga-nização do ambiente laboratorial, a utili-zação correta de equipamentos de prote-ção individual e coletiva e procedimentos seguros na manipulação de material bio-lógico e substâncias químicas, a utiliza-ção de processos seguros de desconta-minação, o acondicionamento e envio pa-ra descarte final do lixo descontaminado, o armazenamento e descarte de substân-cias químicas e o estabelecimento de roti-nas a serem seguidas em caso de aciden-te. E por fim, cada uma dessas medidas deve estar detalhada em um POP - Proce-dimento Operacional Padrão. Os POPs são protocolos que descrevem detalha-damente cada atividade realizada no labo-ratório no sentido de padronizar todas as ações. Esses POPs devem estar disponí-veis a todos os usuários do laboratório e ser atualizados quando necessários.

Figura 1: Símbolo de risco biológico utilizado como símbolo da biossegurança.

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Segundo o INMETRO (18) as BPLs são definidas como um sistema da quali-dade que abrange o processo organizaci-onal e as condições em que estudos são planejados, gerenciados, desenvolvidos, monitorados, registrados, arquivados e re-latados. Essas práticas têm como inten-ção promover a qualidade e validação dos resultados de pesquisa e os seus princípi-os são aplicáveis em estudos que dizem respeito ao uso seguro de produtos relaci-onados à saúde humana, animal, vegetal e ao meio ambiente. No Brasil as BPLs apli-cam-se de forma compulsória aos labora-tórios atuando em áreas de toxicologia, eco-toxicologia e ecossistemas no contex-to da legislação ambiental do IBAMA. É ca-da vez maior a sua aplicação em laborató-rios de pesquisas, principalmente àqueles que são centros de referência em doenças no país (15).

Data do final do século XIX os regis-tros das infecções adquiridas em labora-tório. A maioria dos levantamentos sobre acidentes ocorreu em países como a Ale-manha (casos de febre tifóide), Estados Unidos (casos de brucelose) e Grã Breta-nha (casos de hepatite) (29). Mas foi a par-tir de 1950 que esforços foram feitos para definir a extensão do problema com enfo-que nas fontes de infecção e nas medidas de proteção para o trabalhador do labora-tório. No Brasil, pouco ou nada é conheci-do sobre a incidência das infecções ad-quiridas no laboratório.

Nos Estados Unidos, em 1903, rela-tou-se o primeiro caso de infecção asso-ciada ao trabalho. Um médico feriu-se com uma agulha durante uma necropsia de um paciente com blastomicose, ocasi-onando para o profissional a amputação do dedo indicador esquerdo (14).

Um dos mais conhecidos levantamen-tos sobre infecções associadas ao labo-ratório foi iniciado por Sulkin & Pike em 1950, com o envio de um questionário pa-ra cerca de 5000 laboratórios nos Esta-dos Unidos requisitando informações de acidentes ocorridos durante os 20 anos prévios, consulta à literatura e comunica-

Breve histórico das infecções associa-

das aos laboratórios

ção pessoal. Das 4079 infecções estuda-das, 1704 foram causadas por bactérias, 1179 por vírus, 598 por rickétsias, 354 por fungos, 128 por clamídias e 116 por parasitas, descritas de 1930 a 1978. Pike (29) analisou-as e demonstrou que a mai-oria das infecções foi causada por bacté-rias e que os acidentes, em maior percen-tual, envolveram agulha e seringa segui-dos por exposição a aerossóis.

Outro grande levantamento, agora en-volvendo apenas micoses adquiridas co-mo conseqüência de acidentes no labora-tório, foi publicado por Hanel & Kruse (16). A análise do tipo de trabalho desen-volvido demonstra que as infecções re-sultaram da exposição do trabalhador a aerossóis gerados acidentalmente. O ma-is recente registro desse tipo de contami-nação por células fúngicas, durante o tra-balho ocorreu em 1992 (21). Nesse episó-dio um médico veterinário após a realiza-ção de uma necropsia em um cavalo com coccidioidomicose disseminada, apre-sentou febre, perda de peso e rash cutâ-neo, evoluindo para uma meningite cocci-dioidal. Os autores postulam que a infec-ção foi adquirida pela inalação de endos-poros em aerossóis gerados durante a dis-secção de regiões do cavalo contendo ab-cessos, uma vez que não houve relato de qualquer ferimento ocorrido durante a ne-cropsia. Novamente, é demonstrado o ele-vado risco de exposição dos trabalhado-res aos agentes infecciosos pelos aeros-sóis gerados durante os experimentos la-boratoriais.

Os agentes biológicos patogênicos pa-ra o homem e animais são distribuídos em quatro classes de risco em função dos cri-térios, já mencionados acima, e aqui deta-lhados.

A patogenicidade dos microrganismos, incluindo a incidência e a gravidade da in-fecção, é um fator preponderante na clas-sificação do mesmo. Quanto mais grave a infecção por ele causada, maior o risco. Não menos importante é a capacidade de disseminação do agente, sendo a via aé-rea a de maior risco para o trabalhador, po-

Classificação de risco dos microrga-

nismos*

is os aerossóis formados durante os pro-cedimentos laboratoriais constituem-se na forma mais comum de contaminação. En-tretanto, outras formas de transmissão, co-mo a parenteral e a ingestão, também são consideradas na classificação de risco. Além desses, existe o fator da estabilidade do microrganismo, que envolve a capaci-dade de sobreviver no ambiente, mesmo em condições desfavoráveis; a concentra-ção do número de microrganismos infecci-osos por unidade de volume manipulado pode elevar o risco do microrganismo e da atividade a ser desempenhada; a peculia-ridade do microrganismo a uma determi-nada região e a disponibilidade de medi-das profiláticas, como por exemplo, a imu-nização, e tratamento eficazes são fatores considerados na classificação de risco. Alguns outros fatores também são ponde-rados, como as perdas econômicas que possam gerar, a existência ou não do agen-te no país e sua capacidade de implanta-ção em uma nova área.

As classes de risco biológico são defi-nidas segundo o Ministério da Saúde (2):

• Classe de risco 1 (baixo risco indi-vidual e para a coletividade): inclui os agentes conhecidos por não cau-sarem doenças em humanos ou ani-mais.

?• Classe de risco 2 (moderado risco individual e limitado risco para a co-munidade): inclui os agentes que provocam infecções no homem ou nos animais, cujo potencial de pro-pagação na comunidade e de disse-minação no meio ambiente é limita-do, e para os quais existem medidas terapêuticas e profiláticas eficazes.

?• Classe de risco 3 (alto risco indivi-dual e moderado risco para a comu-nidade): inclui os agentes que pos-suem capacidade de transmissão por via respiratória e que causam patologias humanas ou animais, po-tencialmente letais, para as quais existem usualmente medidas de tra-tamento e/ou de prevenção. Repre-sentam risco se disseminados na comunidade e no meio ambiente, podendo se propagar de pessoa a pessoa.

?

* Para conhecer a listagem de microrganismos de acordo com a sua classificação de risco consulte o manual técnico do Ministério da Saúde (2), assim como a Norma Regulamentadora 32 (4).

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radioisótopos, capela química, chuveiro de emergência, lava olhos, extintor de in-cêndio, microincinerador de alça metálica, contenção para homogeneizador, agita-dor, ultra-som, entre outros.

As barreiras secundárias incluem o de-senho e a estrutura física dos laboratórios. Um conceito recentemente adotado por Pessoa (26) é o de bioinstalações que se refere a um projeto arquitetônico de insta-lações que propicie uma infra-estrutura adequada e segura para o trabalho em la-boratório, levando-se em consideração a classe de risco do agente biológico, o fluxo das atividades desenvolvidas e a proteção ambiental, entre outros. Portanto, o autor recomenda que antes de se fazer o proje-to, devem ser conhecidos os parâmetros específicos para a construção das depen-dências voltadas para as pesquisas bio-tecnológicas, de modo a se garantir o con-trole dos riscos.

No processo de planejamento das edi-ficações para fins laboratoriais a arquitetu-ra laboratorial tem como premissa que o espaço físico é um importante aspecto pa-ra a confiabilidade dos experimentos co-mo para a proteção da saúde humana e do meio ambiente. Dessa forma, através da elaboração de um programa arquitetônico que levará em conta a localização da edifi-cação, dimensionamento dos espaços in-ternos e critérios de organização espacial e funcional, se estabelece as relações en-tre espaço e atividades que se realizarão em um laboratório (32). Lembre-se sem-pre que as barreiras, sejam primárias ou secundárias, só conferirão proteção ao tra-balhador se a elas unirem-se as boas prá-ticas de laboratório.

Teixeira & Valle (33) consideram a sina-lização um dos itens principais de um pro-

?• Classe de risco 4 (alto risco indivi-dual e para a comunidade): inclui os agentes com grande poder de transmissibilidade por via respira-tória ou de transmissão desconhe-cida. Até o momento não há nenhu-ma medida profilática ou terapêuti-ca eficaz contra esses agentes que causam doenças humanas e ani-mais de alta gravidade, com alta ca-pacidade de disseminação na co-munidade e no meio ambiente. Esta classe inclui principalmente os vírus.

As barreiras de contenção em um labo-ratório são os equipamentos destinados a minimizar o risco causado pelos agentes biológicos, físicos, químicos e radioativos. São divididas em barreiras primárias e se-cundárias. As barreiras primárias compre-endem os equipamentos de proteção indi-vidual (EPI) e proteção coletiva (EPC). Os EPIs são empregados para proteger o tra-balhador do contato com os agentes aci-ma citados. São eles, luvas, jaleco, óculos de proteção, protetor facial, máscara, sa-patilha descartável, macacões impermeá-veis, dispositivos de pipetagem, dosímetro para radiação ionizante, entre outros. Os EPCs são equipamentos que possibilitam a proteção do trabalhador, além do meio ambiente e do produto de pesquisa em de-senvolvimento. Um dos EPCs utilizados como principal meio de contenção é a cabi-ne de segurança biológica (CSB). Há três tipos de CSB: classe I, classe II (A, B1, B2, B3) e classe III (31). Outros equipamentos de proteção coletiva são as cabines para

Barreiras de contenção

Figura 2: Placa sinalizadora de risco biológico contendo informações sobre o agente etiológico, classe de risco, responsável pelo laboratório.

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sos, sejam eles vírus, bactérias, fungos, parasitas, requer uma avaliação prévia dos riscos e a aquisição de informações so-bre condutas seguras de procedimentos que possam reduzir, significativamente, o risco de doenças associadas ao trabalho laboratorial. Os riscos laboratoriais e as precauções recomendadas, incluindo as práticas adotadas, os equipamentos de contenção e o nível de biossegurança labo-ratorial, durante a manipulação dos agen-tes infecciosos, até agora conhecidos, es-tão descritos em diversos guidelines (7, 15, 17, 36) e foram relacionados a partir de informações obtidas de pesquisas labora-toriais, vigilância da doença e estudos epi-demiológicos. Não haveria espaço neste artigo para relacionar os diversos agentes e as recomendações para o trabalho labo-ratorial. Por isso, sugerimos consulta aos manuais citados acima, antes de qualquer atividade com os mesmos. Cabe ressaltar aqui, que na falta de informações que per-mitam identificar a infectividade do agente deverá ser conduzida uma avaliação base-ada nas propriedades potenciais desses agentes e de outros representantes do mesmo gênero ou família.

No que se refere aos animais de expe-rimentação, basicamente, o seu manejo oferece risco de infecção e o de agressão. Em relação ao risco de infecção podemos ressaltar as zoonoses transmissíveis ao homem e a manipulação do material con-taminado. Os animais de laboratório po-dem excretar patógenos através dos seus fluidos biológicos ou dispersá-los no ar, in-troduzindo perigos biológicos nas instala-ções laboratoriais. Além disso, existe a possibilidade de inoculação de agentes in-fecciosos no pessoal de laboratório por mordeduras e arranhões, assim como a da transmissão direta, por contato com o ani-mal, seu sangue ou tecidos coletados du-rante necropsias e indireta por inalação de partículas infecciosas liberadas no ar origi-nadas das gaiolas e camas dos animais.

Segundo Cardoso et al. (5) as unida-des envolvidas na experimentação animal são uma extensão do laboratório, embora apresentando particularidades diversas das encontradas na rotina laboratorial. Dessa forma, os critérios que norteiam a classificação do nível de biossegurança não diferem, significativamente, daqueles para as áreas laboratoriais comuns. As ins-

talações para o manuseio e a manutenção dos animais podem ser classificadas em NB 1, 2, 3 e 4, de acordo, principalmente, com a classe de risco do microrganismo a ser inoculado no animal. Detalhes dos pro-cedimentos e desenho do laboratório es-tão descritos em Cardoso (6).

No caso de um acidente envolvendo agentes infecciosos, as seguintes normas gerais de segurança deverão ser cumpri-das: prenda a respiração e deixe a sala imediatamente, fechando a porta; avise a todas as pessoas do laboratório e não per-mita a entrada na área contaminada; des-contamine o local do acidente (23).

Segundo o Manual de Procedimentos da Fiocruz (15) é obrigatório conter o mate-rial contaminado; evite que líquidos se es-palhem cobrindo com material absorvente seco para em seguida colocar o desinfe-tante adequado; evite também que materi-ais sejam carreados nas solas de sapato ou roupas. Deve-se atender o indivíduo ex-posto aos riscos durante o acidente. Em ca-so de contato do material contaminado com as roupas (jaleco) do trabalhador de-ve-se molhá-las em hipoclorito de sódio na concentração de 1%. A Tabela 1 apresen-ta, resumidamente, as concentrações e as propriedades antimicrobianas gerais dos agentes químicos desinfetantes comu-mente utilizados. É bom lembrar que a mai-oria dos desinfetantes causa efeitos ad-versos sobre a pele, olhos e aparelho res-piratório.

Nas feridas, quando ocorrer, o reco-mendado será utilizar material absorvente embebido em povidine a 10%, além, quan-do for o caso, da retirada do material con-taminante da pele, mucosa ou ferida. Se houver contaminação ocular, lavar exaus-tivamente em lava-olhos. Em todos os ca-sos, procurar atendimento médico.

A Resolução nº 5/1993 (9) estabelece a necessidade de um plano de gerencia-mento de resíduos sólidos de serviços de saúde para todos os estabelecimentos ge-radores, contemplando os passos de gera-ção, segregação, acondicionamento, cole-ta, armazenamento, transporte, tratamen-

Acidentes envolvendo agentes infecci-

osos

Gerenciamento de resíduos biológicos

e químicos

to e descarte. A resolução ainda classifica

os resíduos sólidos em: grupo A, resíduos com risco potencial à saúde e ao meio am-biente, devido à presença de agentes bio-

lógicos; grupo B, resíduos com caracte-

rísticas químicas; grupo C, rejeitos radio-

ativos; grupo D, resíduos comuns e todos os demais que não se enquadram nos gru-pos anteriores.

Os resíduos biológicos gerados em um laboratório de microbiologia devem ser se-gregados no local de geração, acondicio-nados em sacos plásticos de polietileno-poliamida, de cor branca-leitosa, excluin-do-se os perfurocortantes, que deverão ser descartados em recipiente rígido, com sistema de fechamento. Os resíduos acon-dicionados deverão ser identificados com o símbolo de risco biológico e tratados por autoclavação (121º C/60 min). Os sacos contendo os resíduos biológicos autocla-vados serão transportados para local ade-quado de armazenamento e descarte que envolve o seu envio para aterros sanitári-os, seguindo as exigências técnicas e lega-is.

Atenção deve ser dada ao resíduo ge-rado em laboratório que pode conter uma mistura de diferentes classes de rejeitos: biológico, químico e radioativo, requeren-do assim considerações especiais quanto aos métodos de tratamento. Pedrozo & Philippi (28) explicitam que com relação à mistura de resíduos químicos e infectan-tes, genericamente recomenda-se inativar por calor o resíduo infectante para depois tratar ou dispor adequadamente do resí-duo químico. No entanto, a inativação do resíduo biológico por esterilização térmica deve ser monitorada com relação às emis-sões, pois se houver liberação de concen-trações significativas do resíduo químico a desinfecção química deverá ser utilizada.

Em relação aos resíduos químicos, em-bora não exista legislação específica so-bre o tratamento final dos resíduos quími-cos provenientes de atividades de pesqui-sa e ensino, adota-se a legislação existen-te para as indústrias (10). A implementa-ção de um Programa de Gerenciamento de Resíduos Químicos (PGRQ) é a solu-ção para que a instituição geradora assu-ma um compromisso moral com a socie-dade. Sendo assim, a operacionalização de um PGRQ envolve o compromisso da unidade geradora em manter o programa,

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identificar, qualitativa e quantitativamente, os resíduos químicos já estocados na uni-dade geradora (inventário do passivo ambi-ental) e identificar todo resíduo gerado na rotina de trabalho da unidade geradora (in-ventário do ativo). A partir desses pontos básicos será possível minimizar a propor-ção de resíduos perigosos gerados, se-gregar e concentrar as correntes de resí-duos, promover o reuso interno ou exter-namente, reciclar o componente material energético do resíduo, manter todo o resí-duo produzido na sua forma mais passível de tratamento e descartar o resíduo de ma-neira segura (19, 20).

O manuseio de OGMs ou AnGMs, em condições de contenção, requer o estabe-lecimento de normas básicas de biossegu-rança, uma vez que pouco se conhece so-bre o seu impacto na saúde do homem, dos animais e no meio ambiente.

A CTNBio é a instância responsável no país pelo estabelecimento e controle das práticas ligadas à engenharia genética e para a normatização das medidas de bios-segurança a serem adotadas no país. To-da instituição que pretenda utilizar técni-cas de engenharia genética para pesqui-sa, ensino ou produção utilizando OGMs e/ou AnGMs deverá criar uma Comissão Interna de Biossegurança (CIBio). As com-petências da CIBio no âmbito de sua insti-

Manipulação de organismos genetica-

mente modificados (OGMs) e animais

geneticamente modificados (AnGMs)

tuição estão descritas na Lei nº 11.105/ 2005 (1).

Uma vez constituída a CIBio de uma instituição, esta deverá requerer junto à CTNBio a emissão do Certificado de Qua-lidade em Biossegurança (CQB) que cons-titui-se no credenciamento que a CTNBio concede às instituições para desenvolver projetos e atividades com OGMs e seus de-rivados e/ou AnGMs (12). O pesquisador responsável pelo projeto envolvendo OGMs e/ou AnGMs deverá estar ciente da classificação de riscos desses organismos e os níveis de biossegurança a serem apli-cados nas atividades laboratoriais (13). To-do pessoal que trabalhar no projeto deverá ser previamente treinado e o laboratório deverá dispor de um plano de emergência para o caso de acidentes. A ocorrência de acidente ou liberação acidental de OGMs e/ou AnGMs deverá ser imediatamente co-municada a CIBio e por esta a CTNBio e aos órgãos e entidades de registro e fisca-lização pertinentes, anexando-se relatório das ações corretivas.

O presente artigo não pretendeu esgo-tar o assunto biossegurança, mas sim apresentar os principais tópicos sobre o te-ma oferecendo aos leitores, sempre que possível referências virtuais e, portanto, de fácil acesso pela Internet. Adicional-mente, procurou-se alertar para a impor-tância do conhecimento da legislação bra-sileira, e suas normas, que trazem referên-

Considerações finais

cias importantes para a redução dos riscos envolvidos e para a implantação de um tra-balho com qualidade no ambiente labora-torial. Com a leitura e incorporação dessas informações e referências espera-se que os profissionais da área da saúde, em qual-quer nível, assumam uma postura diferen-ciada e pró-ativa com relação à prática de procedimentos que garantam não só a se-gurança individual como a segurança cole-tiva em todas as suas atividades e em se-us ambientes de trabalho. Cabe aos res-ponsáveis, em nível institucional, o apoio concreto à implementação dos programas internos de biossegurança, mas deve ser lembrado que o sucesso desses progra-mas depende de medidas educativas que devem ser aplicadas e reforçadas continu-amente. Isso inclui, em primeiro lugar, o tre-inamento dos responsáveis pelo gerencia-mento de projetos e áreas físicas e, em se-gundo, de todos os profissionais expostos aos riscos inclusive o pessoal da manuten-ção, limpeza, e até administrativo, quando necessário. Adicionalmente, o conjunto de ações institucionais deve ainda incluir a adequação da infra-estrutura laboratorial, a organização de procedimentos padroni-zados para as práticas laboratoriais inse-rindo limpeza, descontaminação e descar-te de resíduos, a elaboração e disponibili-zação de manuais de biossegurança e, por fim, a estruturação e realização contí-nua de cursos de treinamento e atualiza-ção em biossegurança.

1- Brasil. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Re-gulamenta os incisos II, IV e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segu-rança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modifica-dos - OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacio-nal de Biossegurança - CNBS, reestrutura a Comis-são Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança PNB, revoga a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória nº 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5º, 6º, 7º, 8º, 9º, 10 e 16 da Lei nº 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras pro-vidências.

http://www.ctnbio.gov.br/index.php/content/view/2249.html (acesso em julho de 2007).

2- Brasil. Ministério da Saúde. Classificação de risco dos agentes biológicos.

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3- Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes gerais para

Referências Bibliográficas

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Vl

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B

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C/tempo de contato

70%/30 min

4%/30 min

2%/30 min

10.000 ppm/10 min

cf. fabricante

cf. fabricante

0,75% ação rápida

Agentes químicos para desinfecção

Etanol

Formaldeído

Glutaraldeído

Compostos liberadores de cloro

Fenóis

Compostos quaternários de amônio

Iodóforos

TABELA 1*: PROPRIEDADES ANTIMICROBIANAS GERAIS E CONCENTRAÇÃO UTILIZADA DE ALGUNS AGENTES QUÍMICOS DESINFETANTES

*Adaptação da tabela publicada por Romão (30).

C = concentraçãoB = bactériasVl = vírus lipofílicosVh = vírus hidrofílicosF = fungoscf = conferir

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o trabalho em contenção com agentes biológicos. 2ª edição. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasí-lia, DF, 2006b.

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12- CTNBio. Resolução Normativa nº 1, de 20 de ju-nho de 2006. Dispõe sobre a instalação e o funciona-mento das Comissões Internas de Biossegurança (CIBios) e sobre os critérios e procedimentos para re-querimento, emissão, revisão, extensão, suspen-são e cancelamento do Certificado de Qualidade em Biossegurança (CQB).

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13- CTNBio. Resolução Normativa nº 2, de 27 de no-vembro de 2006. Dispõe sobre a classificação de ris-cos de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e os níveis de biossegurança a serem aplica-dos nas atividades e projetos com OGM e seus deri-vados em contenção.

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1. Considerações GeraisO aumento das infecções fúngicas é fa-

to demonstrado no mundo inteiro e tem sur-gido como importante problema de saúde pública.

Dentre os fatores que contribuíram pa-ra este aumento podemos mencionar: epi-demia da aids nos anos 80; aumento no consumo de antibacterianos de amplo es-pectro; transplante de órgãos; uso de téc-nicas cirúrgicas e terapêuticas mais inva-sivas e aumento da população de pacien-tes imunocomprometidos.

Também, por sua vez, nas últimas dé-cadas, a incidência de infecções fúngicas nosocomiais tem aumentado drastica-mente, com alto índice de morbidade e mortalidade.

As freqüências relativas com as quais os tipos de fungos causam infecções hos-pitalares estão relacionadas com o grau

da imunossupressão do paciente. Por exemplo, um pequeno grau de imunossu-pressão é requerido para predispor um pa-ciente à infecção invasiva por Candida e espécies de Candida são de grande rele-vância e são os agentes mais comuns em infecções hospitalares. Aspergillus é o se-gundo fungo mais freqüente em infecções nosocomiais e o paciente, geralmente, apresenta um grau de imunossupressão in-termediário ou severo. Fungos da ordem Mucorales, Fusarium e outros, como Sce-dosporium, Acremonium, Paecilomyces e Cladosporium são menos comuns e são encontrados em pacientes com imunossu-pressão severa.

Nos EUA um recente estudo sobre a epidemiologia da septicemia por fungos re-velou que o número anual de casos au-mentou em 207% entre 1979 e 2000. Dos pacientes que ingressam nos hospitais 8%

podem adquirir uma infecção fúngica hos-pitalar. Como já mencionamos, tanto a mor-bidade e mortalidade são altas e o trata-mento é muito oneroso. Nas UTIs neona-tais as infecções podem variar de 2 a 10%, com mortalidade de até 60%, dependendo do agente etiológico e do estado geral do paciente.

A infecção fúngica hospitalar pode ter origem endógena, isto é, os microrganis-mos são provenientes da própria biota, com proliferação ou mudança do sítio da le-vedura, induzidas por algum fator predis-ponente do hospedeiro ou do fungo. A in-fecção também pode ter origem exógena na qual os fungos chegam ao paciente a partir de fontes externas, tais como mãos de profissionais da saúde, cateteres, son-das e sistemas de climatização do hospi-tal. Os fungos denominados “emergentes” como Trichosporon asahii, Debaryomyces

Experiência em Hospitais Públicos de São Paulo

INFECÇÃO FÚNGICA NOSOCOMIAL:UM PROBLEMA CRESCENTE EM SAÚDE PÚBLICA.

Ciência in Foco

Claudete Rodrigues PaulaLuciana da Silva Ruiz

Georgea Carla Matuura de BatistaPaula C. Viani

Laboratório de Leveduras Patogênicas, Depto. Microbiologia/ICB/USPe-mail: [email protected]

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hansenii e Pichia anomala, cada vez mais são citados pela literatura como agentes de infecção da corrente sanguínea. Cryptococcus neoformans também é men-cionado como agente de infecção hospita-lar, contaminando os pacientes a partir de aerossóis proveniente de fezes de pom-bos e a partir de sistemas de climatização contaminados.

As leveduras do gênero Candida são patógenos de destaque nestas infecções nosocomiais, principalmente em pacien-tes imunocomprometidos, incluindo aque-les que são submetidos à terapia imunos-supressora para tratamento de câncer, transplante de órgãos, pacientes com aids e aqueles que sofreram o tratamento pro-longado com antibacterianos ou interven-ções médicas invasivas, como o uso de ca-teteres intravasculares.

Candida albicans é a principal espécie capaz de provocar infecção nosocomial, mas outras espécies não albicans também estão implicadas como agentes causado-res. Entre as espécies não albicans mais comumente encontradas destacam-se: C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei e C.glabrata.

Nos anos 80 Candida albicans era o 7º patógeno mais freqüente em infecções no-socomiais da corrente sanguínea. Nos anos 90 em diante as leveduras tornaram-se a 3ª causa principal de infecção hospi-talar. No Brasil, a epidemiologia da candi-demia ainda não é muito estudada e a inci-dência nos hospitais varia de 1,49 a 3,18% (número de casos por 1000 admissões).

Muitos estudos tem definido os princi-

pais fatores de risco que predispõe o paci-ente a estas infecções, especialmente pa-ra as candidemias. No quadro acima pode-mos sumarizar estes fatores.

Um outro fator de destaque é que mui-tas vezes é difícil o estabelecimento do di-agnóstico nas infecções fúngicas nosoco-miais. Por isso, uma terapia precoce e impi-rica é administrada ao paciente que tem suspeita clínica de infecção fúngica ou mesmo uma terapia profilática é adminis-trada aos pacientes de alto risco.

Em contraste, com o pouco progresso no diagnóstico dessas infecções, observa-mos um avanço na terapia médica com a introdução no mercado da anfotericina li-possomal, novos agentes triazólicos e a nova classe de antifúngicos, as echino-candinas (caspofungina).

De modo irônico, a avaliação deste ar-senal terapêutico tem criado um novo enig-ma clínico, incluindo como priorizar uma droga antifúngica para cada tipo de infec-ção e, de modo mais controverso ainda, qual o papel da combinação de antifúngi-cos na terapia destes pacientes.

A epidemiologia das infecções fúngi-cas nosocomiais estão sendo estudadas de modo intenso nos EUA e na Europa, po-rém, na América Latina ainda poucos estu-dos foram conduzidos.

O laboratório de leveduras patogêni-cas do ICB/USP, há mais de dez anos, tem ligação direta com Hospitais da Rede Pú-

2. Laboratório de Leveduras Patogêni-

cas Departamento de Microbioloiga -

ICB / USP

Fig. 1: Freqüência das espécies de leveduras isoladas de sangue de crianças hospitalizadas (0-7 anos).

Fig. 2: Freqüência das espécies de leveduras isoladas de casos de candidúria (0-7 anos).

Fig. 3: Freqüência de leveduras isoladas de casos de candidemia e candidúria (0-7 anos).

Fig. 04: Perfil de amostras de Candida parapsilosis isoladas de um mesmo paciente. Linha 1: padrão; linha 2: amostra isolada de sangue; linha 3: amostra isolada de cateter (técnica de RAPD).

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IMUNOSSUPRESSÃO

Neutropenia

Corticosteróides

HIV

Diabetes mellitus

Câncer

IATROGÊNICOS/CONDIÇÕES NOSOCOMIAIS

Colonização

Antibacteriano de amplo espectro

Cateter venoso central

Nutrição parenteral

Cirurgia cardiaca ou gastrintestinal

Permanência hospitalar prolongada

Queimaduras

Neonatos prematuros

PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA A CANDIDIASE INVASIVA

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blica do Estado de São Paulo, realizando identificação rápida da cultura do fungo por métodos tradicionais e identificação fúngica por meio de técnicas moleculares; testes de sensibilidade aos antifúngicos (testes comerciais); no caso de “suspeita de surto”, utilização de marcadores epide-miológicos fenotípicos e moleculares.

Para a identificação das leveduras são empregadas rotineiramente:

- Análise Micromorfológica Clássica (imprescindível) microcultivo em lâ-mina;

- Pesquisa de Tubo Germinativo (efe-ito de Reynolds-Braude);

- Testes Bioquímicos para as espéci-es não albicans (métodos clássicos e sistemas comerciais).

Como marcadores fenotípicos a produ-ção de fosfolipase e proteinase (enzimas relacionadas a virulência), biótipos “killer”, morfotipagem e resistotipagem são utiliza-dos no laboratório. As técnicas molecula-res mais empregadas são PCR, a carioti-pagem e RAPD. Para a identificação da amostra do fungo empregamos as técni-cas de PCR com “primers” específicos e microsatélites.

É extremamente importante realizar controle de qualidade do próprio laborató-rio, por meio de intercâmbio com centros de referência e empregar cepas padrões em todos os ensaios laboratoriais.

Meios de cultivo diferenciais devem ser utilizados para a pureza e separação de di-ferentes espécies, de um mesmo material clínico, porém nunca para uma identifica-ção definitiva.

Uma correta identificação das levedu-ras é uma das etapas mais importantes tan-to na epidemiologia como na possível indi-cação do antifúngico, pois sabemos que te-mos espécies de Candida com resistência intrínseca como C. krusei e C. glabrata .

O grupo desta linha de pesquisa - “Infecção fúngica hospitalar” - consta de docentes e alunos de pós-graduação: Wal-derez Gambale (ICB/USP); Augusto Cé-sar Montelli (Faculdade de Medici-na/UNESP/Botucatu); Vera Lúcia Krebs (Faculdade de Medicina/USP); Elza Hele-na da Silva (ICB/USP); Flávia Emi Matsu-moto (ICB/USP); Mariana Volpearnoni (Hospital Infantil; Vanessa Gontijo (Hospi-tal Municipal) e Sonia Khouri (Univap/São José dos Campos).

3. Experiência em Hospitais Públicos

de São PauloA nossa experiênica relatada neste arti-

go esta pautada em cinco hospitais da re-de pública do Estado de São Paulo; terciá-rios; de médio e grande porte, com siste-ma automatizado para cultura de sangue; três localizados na Capital e dois no interi-or do Estado. Pacientes com aids ou porta-dores de HIV não fizeram parte deste tra-balho. As pesquisas foram iniciadas como serviço “voluntário” e agora projetos FAPESP e CNPq mantém as mesmas.

- Hospital A Infantil Intervalo de estudo = 2003-2006Grupo de estudo = 0-7 anosNeste Hospital estudamos 200 casos

de candidemia e 100 casos de candiduria (Figuras 01 a 03).

Pelo acompanhamento do estudo des-te hospital pudemos observar que nos últi-mos anos houve um aumento significativo de espécies não albicans (C. tropicalis e C. parapsilosis); em casos de candidúria, C. albicans teve alta freqüência (58,33%) en-quanto que espécies não albicans predo-minaram em casos de candidemia (69,17%) = p < 0,05 (diferença significati-va).

Por meio da técnica de RAPD pudemos confirmar, muitas vezes, a transmissão di-reta da levedura do cateter para o sangue do paciente, ou seja, ambas as leveduras isoladas de cateter e sangue possuíam o mesmo perfil genotípico (Figura 04).

Pelas técnicas moleculares emprega-das como marcadores epidemiológicos, os perfis de RAPD foram os mais discrimi-natórios e, em alguns casos, houve infec-ção por cepas diferentes no mesmo paci-ente (mesma espécie e perfil genético di-verso).

Ainda, neste hospital foram detectados três casos de aspergilose invasiva, em cri-anças com leucemia (duas) e linfoma (uma), confirmados por biópsia e cultura, cujo agente etiológico foi Aspergillus fumi-gatus. Dois pacientes evoluíram para a cu-ra e um para óbito. No mesmo hospital tam-bém foi detectado um caso de fusariose in-vasiva confirmado através da biópsia das lesões cutâneas, cuja cultura revelou o crescimento de Fusarium solani. O paci-ente evoluiu para óbito.

22

Fig. 5: Distribuição de 55 amostras de leveduras isoladas de 23 neonatos internados na Unidade de Terapia Intensiva, no período de 9 meses de estudo.

Fig. 6: Frequência de leveduras isoladas do cateter, sangue, urina e cavidade oral de neonatos internados no Hospital B, no período de 9 meses de estudo.

Fig. 7: Associação entre a colonização por leveduras, sepse fúngica e colonização sem sepse nos neonatos (Hospital B).

Fig. 8: Distribuição do número de sepse e óbitos dentre os 23 neonatos estudados, baseando-se no seu peso de nascimento (Hospital B).

Fig. 8: Perfil genotípico de C. albicans isolada da cavidade oral e hemocultura por meio da técnica de cariotipagem (linha 1= padrão de peso molecular; linhas de 2 a 5=cavidade oral; linhas de 6 a 8=hemocultura).

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- Hospital B InfantilIntervalo de estudo = 2006 a 2007Grupo de estudo = Neonatos de Alto

RiscoOs neonatos examinados neste perío-

do de estudo foram em número de 128. Destes, 18% tiveram colonização ou in-fecção fúngica (Figuras 05 08).

A mortalidade dos neonatos neste hos-pital foi de 42% e a incidência de 2,3%. Nestas crianças verificamos que a coloni-zação oral teve ligação direta com os ca-sos de sepse (Figura 09). Também, neste período de estudo foram constatados do-is casos de fungemias fatais por Pichia anomala (C. pellicullosa) (Figura 10).

- Hospital C Crianças e Adultos Intervalo de estudo = 2003 a 2006Grupo de estudo = adultos e crianças

Estudamos neste hospital 80 casos de candidemia (Figuras 11-13).

Neste período de estudo deste hospi-tal pudemos observar um surto hospitalar (12 casos em três meses) por cepas de C. parapsilosis, oriundo de fonte exógena ( mesma espécie e mesmo perfil molecu-lar)

A incidência de infecção hospitalar fún-gica variou de 3,9 a 5,0%. C. albicans e C. parapsilosis foram as espécies mais co-muns nos casos de candidemia e o setor com maior freqüência foi a UTI neonatal (32% dos casos). Neste período, 58% dos pacientes com candidemia evoluíram para óbito.

- Hospital D Crianças e Adultos Intervalo do estudo = 2002 a 2006Grupo de estudo = Adultos e Crianças

Neste hospital constatamos 25 casos de infecção hospitalar fúngica e 80 casos de colonização (Figuras 14-15). A mortali-dade foi de 40% (dos 25 casos) e a incidê-nica de 2,5%.

Destaca-se que as leveduras do gêne-ro Candida foram o segundo agente mais freqüente das infecções hospitalares em geral.

- Hospital E Adultos e Crianças Intervalo de tempo = 2006Grupo de estudo = adultos e crianças

Neste hospital os estudos continuam e neste intervalo de tempo as infecções do trato urinário foram as prevalentes (68%) (Figuras 16-18).

Por fim, nesta nossa experiência, com cinco hospitais da rede pública de São Pau-lo, verificamos:

1. Os principais fatores de risco, nos grupos de pacientes estudados fo-ram:

- Em crianças: prematuridade, baixo peso, uso de cateter veno-so central, doenças respiratóri-as, uso prolongado de antibac-terianos, longo tempo de inter-nação e câncer;

- Em adultos: terapia imunossu-pressora, imunodeficiências, longa permanência hospitalar, procedimentos invasivos, cate-ter, nutrição parenteral, uso de antibacterianos e uso profilático de azóis.

2. Entre as espécies de leveduras ma-is freqüentes (em casos de candi-demia e candidúria) encontramos: C. albicans, C. parapsilosis e C. tro-picalis.

3. Observamos ainda casos invasivos fatais de aspergilose e fusariose provocados por Aspergillus fumiga-tus e Fusarium solani.

4. Das leveduras emergentes, Pichia anomala (Candida pelliculosa) foi isolada em vários casos de septice-mia.

5. A incidência de infecção hospitalar fúngica variou de 2,3-5,0% (média 3,6%), por mil admissões.

6. A mortalidade foi alta especialmen-te em casos de candidemia em neo-natos de baixo peso (42%) e tam-bém em outros grupos de pacien-tes (58%), incluindo neonatos.

7. Os setores hospitalares aonde ocor-reram o maior número de infecções foram as UTIs, especialmente as neonatais.

Portanto, pela nossa experiência, exis-te uma necessidade urgente de progra-mas de Vigilância Sanitária para monitorar possíveis mudanças na distribuição das espécies de leveduras, bem como conhe-

4. Conclusões

23

Fig. 09: Perfil dos cariótipos de C. parapsilosis isolada da cavidade oral, hemocultura e cateter do mesmo recém-nascido. Linha 1: padrão; linha 2: amostra cavidade oral; linha 3: amostra hemocultura; linha 4: amostra cateter.

Fig. 10: Padrão de RAPD obtido por amostras de Pichia anomala isoladas de 2 neonatos, indicando que a infecção foi causada pela mesma cepa. P: padrão; linha 1: controle negativo; linha 2 e 3: isolados de Pichia anomala.

Fig. 12: Idade dos pacientes com fungemia e hospitalizados no Hospital C, São Paulo.

Fig. 11: Freqüência das espécies de leveduras isoladas de sangue de pacientes internados no Hospital C, São Paulo.

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cer o perfil de sensibilidade aos antifúngi-cos; fato que poderá auxiliar em estratégi-as terapêuticas. Evidentemente, um maior número de estudos nos hospitais brasilei-ros com relação a estas infecções, e com preciso e rápido diagnóstico, devem ser re-alizados.

Ressaltamos, mais uma vez, que as in-fecções fúngicas invasivas tem aumenta-do de modo significante e afetam pacien-tes com os mecanismos de defesa com-prometidos, resultando em alta morbidade e mortalidade, apesar da terapia antifúngi-ca. Mesmo antes do início da terapia é crí-tico atenuar os fatores de riscos para a di-minuição da mortalidade, levando-se em conta a suspeita clínica.

As autoridades devem ser sensibiliza-das em relação a este importante proble-ma de Saúde Pública e profissionais das mais variadas áreas, médicos, enfermei-ros, farmacêuticos, biólogos, biomédicos, laboratoristas em geral, devem se aliar com a finalidade de reunir e trocar informa-ções para uma melhor elucidação destes casos.

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24

Fig. 13: Distribuição, segundo o serviço médico, das 80 amostras de leveduras isoladas no Hospital C, São Paulo.

Fig. 14: Hospital D, distribuição das leveduras do gênero Candida em relação aos 10 microrganismos mais encontrados em casos de infecção hospitalar.

Fig. 15: Freqüência das leveduras do gênero Candida isoladas de diversos materiais clínicos, Hospital D.

Fig. 16: Distribuição dos microrganismos causadores de infecção hospitalar do Hospital Municipal de São Paulo.

Fig. 17: Distribuição das espécies de Candida isoladas de diversos materiais clínicos de pacientes internados no Hospital E.

Fig. 18: Distribuição, segundo o serviço médico, de amostras de leveduras isoladas no Hospital E (UTIs adulto, neonatal, pediátrica e queimados).

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1 2 3 4

Imagine a seguinte história: um aluno de medicina apresenta um caso clínico diante da sala e, no fi-nal da exposição, o professor lhe pergunta como ele chegou a tal di-agnóstico. Ele responde simples-mente que digitou os sinais clíni-cos no Google e o diagnóstico “pu-lou” na sua frente.

Será que além de estar substi-tuindo os livros, o Google vai subs-

1tituir os médicos? .O caso acima relatado é verídi-

co e foi discutido no editorial do Bri-tish Medical Journal (BMJ) há pou-co mais de um ano e meio. É mais um sinal das mudanças radicais que a Internet vem trazendo para o mundo científico nos últimos anos. Não só ao mundo científico. Qual-

A Microbiologia revelada pelo Google*.

O ORÁCULO DE DELFOS DO SÉCULO XXI:

Ciência in Foco

25

* Este título foi inspirado na crônica de Ricardo Anderáos publicada no caderno LINK do Estado de São Paulo de 27 de junho de 2005.1. Este artigo já estava finalizado quando a revista Época fez desse assunto sua matéria de capa de 20 de agosto de 2007 (“Doutor Google”), ilustrando o impacto, a extensão e a velocidade com que essas mudanças estão acontecendo

1. Alexandre Lourenço

2. Selene Dall' Acqua Coutinho

3. Vania Maria de Carvalho

4. Rui Cosme Serafim

Universidade Paulista (UNIP) / Universidade de Santo Amaro (UNISA) / Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)[email protected]

Laboratório de biologia molecular e celular da Universidade Paulista (UNIP)

Laboratório de biologia molecular e celular da Universidade Paulista (UNIP)

Clínica e Centro de Pesquisa em Reprodução Humana Roger Abdelmassih, CCPRHRA / Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)

Aquilo que é cômico hoje pode ser a normalidade de amanhã.

quer pessoa leiga com um terminal de acesso à Rede pode vasculhar o seu conteúdo de forma anônima. Mas para localizar qualquer infor-mação específica é necessário que “alguém” diga onde está essa informação, e aí entram em cena os mecanismos de busca, sejam os populares como o Google, Ya-hoo e MSN ou os especializados como PubMed, Scirus e Google Schoolar.

Mas se a rede mundial é uma re-volução, o Google tem sido a revo-lução dentro da revolução. Recen-temente os editores do BMJ lista-ram quais são os mecanismos de busca que conduzem os visitantes à página da revista. O resultado foi surpreendente (Tabela 1).

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26

Se focarmos nos direcionamentos do Google como um todo (incluindo o Google Scholar), teremos a incrível cifra de 83%! Os resultados ligados aos tradicionais por-tais de busca científica totalizam somente 6%. Isso significa que os critérios de classi-ficação do Google estão, de fato, balizando a busca por conhecimento científico. Mes-mo o Yahoo, terceiro colocado, possui mais direcionamentos que os três portais científi-cos listados juntos (PubMed, Scirus e High-Wire). Provavelmente fenômeno seme-lhante deve estar ocorrendo com outros por-tais do mundo científico. É razoável supor que a difusão do conhecimento e o grau de acurácia do esclarecimento das pessoas

estão, de fato, sendo influenciados pe-

los critérios de classificação usados por

esses mecanismos de busca. Mas, se-gundo alguns autores, a qualidade da infor-mação ligada à área da saúde não parece

seguir necessariamente a classificação des-ses portais. Mesmo o Google Scholar, de-senvolvido exclusivamente para atender es-tudantes e profissionais ligados à área cien-tífica, parece ter alguns problemas relativos à sua atualização e à sua abrangência.

A percepção de hegemonia do Google (Figura 2) já existia quando resolvemos, há dois anos atrás, realizar uma pesquisa so-bre a penetração da Internet e do Google entre estudantes da área da saúde.

Avaliamos os alunos de 7 turmas distin-tas dos cursos de Medicina Veterinária e Bi-omedicina de 3 instituições diferentes so-bre a maneira como eles buscavam infor-mações na Internet. Isso foi feito através de um questionário preenchido de forma anô-nima por 379 estudantes. Os resultados consolidaram impressões subjetivas que compartilhávamos entre nós já há algum tempo.

Figura 3 - Alunos que utilizam a Internet para a realização de pesquisas, trabalhos ou

consultas.

1%

99%

Utilizam a Internet

Não utilizam a Internet

A quase totalidade dos pesquisados (99%) utilizava a Internet necessariamen-te (Figura 3); entretanto, apesar da facili-dade que ela oferece, mais de 90% decla-raram que usam a rede e mais uma fonte (li-vros ou periódicos), demonstrando que as fontes tradicionais continuam presentes (Figura 4). Porém, cerca de dois terços ti-

nham o ciberespaço como primeira esco-

lha (Figura 5). E o Google obteve mais de 80% da preferência dos alunos como “por-ta” para acessar as informações técnicas contidas na Rede (Figura 6), demonstran-do a sua primazia entre os mecanismos de busca.

Esse gigantismo não pára por aí. O uso do Google não se restringe a uma “máqui-na de diagnóstico” por profissionais da área médica e nem só como fonte de mate-rial para estudantes da área da saúde. Vi-vemos numa época em que usuários pas-sivos leigos estão se transformando em

2usuários “empoderados” , acessando e in-teragindo com o conteúdo científico ou pre-tensamente científico em dezenas de mi-lhares de páginas da Rede. Vários artigos relatam que de 2 a 50% dos pacientes le-vam ao seu médico informações pertinen-tes ao seu quadro clínico, algumas vezes antecipando o diagnóstico (o impacto dis-so é tão grande que já foi até transformado em um documentário pelo Discovery He-alth). Provavelmente fenômeno seme-lhante deve estar ocorrendo com veteriná-rios, dentistas e outros profissionais. A Internet pode estar se configurando como a chave central na alteração de equilíbrio entre o poder dos profissionais da área da saúde e o público leigo.

2. Termo derivado do inglês “empowerment”, adaptado por alguns tradutores como “empoderar”, inclusive já incluído por alguns dicionaristas brasileiros. Significa “(...) passar direitos e responsabilidades aos colaboradores, dando-lhes voz ativa em seu trabalho (...)”, Ansiedade de informação 2, Richard Saul Wurman, Editora de Cultura, 2005.

NÚMERO DE DIRECIONAMENTOS

345.756

105.185

57.967

14.522

9.616

8.616

2.336

FONTE

Google

Google Scholar

Yahoo

PubMed (Medline)

PubMed Central

HighWire portal

MSN

TABELA 1 - MECANISMOS DE BUSCA QUE CONDUZEM OS INTERNAUTASÀ PÁGINA DO BRITISH MEDICAL JOURNAL

Figura 2: O mecanismo de busca Google se tornou hegemônico em poucos anos.

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27

Figura 4 - A Internet como fonte de conteúdo.

10%

90%

Usa a Internet e pelomenos mais uma fonte

Usa apenas a Internetou apenas outra fonte

Figura 5 - Primazia da Internet em relação às outras fontes de conteúdo.

61%

39%Internet comoprimeira escolha aser consultada

Outras fontes comoprimeira escolha

Figura 6 - Primeira escolha dos estudantes

como mecanismo de busca na Internet.

5%

1%

1%1% 3%

9%

80%

Google

Yahoo

Outros

PubMed

Radar UOL

MSN

Terra

Essa força magnética do Google susci-ta muita dúvida quanto ao tipo de informa-ção que está servindo para compor o re-pertório de leigos e profissionais. O critério classificatório do Google é válido? Ainda que seja, sua base de dados é atualizada de forma satisfatória? É salutar que um úni-co mecanismo estabeleça de forma pre-ponderante a navegação que traça os ru-mos ao conhecimento científico? Embora a quantidade de informação obtida seja ge-ralmente adequada, será que o mesmo su-cede com a qualidade das informações? Não é mais concebível ignorar essas ques-tões, mas não é possível intervir nos crité-rios de busca e na base de dados do Goo-gle, que não são disponibilizados de forma clara; além disso, qualquer proposta de controle sobre a Internet choca-se com o aspecto essencial que a define, i.e., a pos-sibilidade de se postar qualquer conteúdo,

tornando a rede mundial um sistema incri-3velmente democrático . Isso tudo desem-

boca numa necessidade essencial sinteti-zada na pergunta feita pela pesquisadora Ilza Lopes: “Como determinar a qualidade dessa informação descentralizada e flutu-ante?”

Essa questão nos incitou a buscar da-dos concretos que pudessem servir de ponto de partida para reflexões e ações na área de ensino.

Com essa pergunta em mente, realiza-mos uma busca simples em língua portu-guesa com a palavra “MICROBIOLOGIA”, compilando os 30 primeiros resultados for-

QUE TIPO DE PORTA DE ENTRADA

É O GOOGLE PARA O

CONHECIMENTO NA ÁREA DE

MICROBIOLOGIA?

necidos (Tabela 2), uma vez que na pesqui-sa com os alunos verificou-se que ¾ dos es-tudantes pesquisam apenas nos 30 primei-ros resultados (Figura 7).

Os dados foram avaliados com base em uma série de critérios recentemente de-batidos na literatura científica (Tabela 3).

Das páginas obtidas, 27% estavam ino-perantes (fora do ar em três ocasiões de acesso diferentes Figura 8). Das páginas operantes, 23% não possuíam título infor-mativo (Figura 9); 23% não forneciam cla-ramente os seus autores (Figura 10), 59% não traziam qualquer referência bibliográfi-ca (Figura 11), 68% não informavam sobre as atualizações da página (Figura 12) e 86% não possuíam contadores de acesso (Figura 13). Além disso, 47% das páginas não tinham conteúdo relacionado à micro-biologia que pudesse ser considerado sufi-cientemente introdutório e panorâmico (Fi-gura 14). É um quadro pouco animador se estamos buscando qualidade.

A maneira mais objetiva de se abordar o problema da informação publicada na Re-de envolve duas estratégias fundamentais: CERTIFICAÇÃO e EDUCAÇÃO CIENTÍ-FICA.

A certificação se baseia num dos pila-res da nossa sociedade moderna. Não po-demos pessoalmente verificar que o ho-mem esteve na Lua, mas pelo conjunto de relatos e descrições confiáveis que formam uma cadeia entre si, aceitamos isso como verdade. Porém, se um ilustre desconheci-do nos parar no meio da rua e afirmar cate-goricamente que esteve em Marte no últi-mo fim de semana, imediatamente somos obrigados a duvidar, embora, da mesma forma, não tenhamos como verificar isso

3. Embora tal democracia esbarre em vários problemas, como aqueles denunciados por alguns jornais em relação à Wikipedia. Aqui nos referimos especificamente ao caso de um falso professor que se passou por especialista por muito tempo, fornecendo informações incorretas para um verbete da Wikipedia.

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Microbiologia na Internet www.microbiologia.com.sapo.ptMicrobiologia www.microbiologia.vet.brIndex of caio.salvino.8m.comSBM Home www.sbmicrobiologia.org.brIndex www.saudetotal.com/microbiologia/Prof. Enio Sarti Mural Virtual go.to/eniosartiInstituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes www.microbiologia.ufrj.brSociedade Portuguesa de Microbiologia www.spmicrobiologia.ptMenu Principal icb.usp.br/~bmm/Nova Página 1 www.microbiologia.sites.uol.com.brRev. Microbiol. Available issues www.scielo.br/scielo.php?pid=0001-3714&script=sci_issuesRevista de Microbiologia Home page www.scielo.br/scielo.php/script_sci_serial/Ing_pt/pid_0001-

3714/nrm_isoMicrobiologia www.geocities.com/CapeCanaveral/Lab/6969/microbio.htmlDepartamento de Microbiologia www.icb.ufmg.br/mic/Grupo de pesquisa gpesq2000.cnpq.br:12012/dwdiretorio/owa/pr_detalhe_bt_

grupos?strPNroldGrupo=0067402CJCJR1G&strPQuery=...Yahoo! Brasil Diretório > Biologia > Microbiologia br.dir.yahoo.com/Ciencia/Biologia/Microbiologia/MICROBIOLOGIA CLÍNICA www.ufpb.br/microbiologia/Guia da Semana CRIANÇAS guiadasemana.com.br/detail.asp?ID=12&cd_place=13364LEMC Laboratório Especial de Microbiologia Clínica www.unifesp.br/dmed/dipa/lemcMIA/CCT Microbiologia Industrial e Ambiental www.cct.org.br/mia.htmlMicrobiologia geocities.yahoo.com.br/mi_david2001/microbiologia.htmlEmbrapa Livraria Virtual www.sct.embrapa.br/Liv/PesquisaLinha.asp?CodigoLinha=5&

NomeLinha=Solos+Microbiologia+e+Clima&Resenha=Lab. de Microbiologia - Ciências da Saúde: Unisinos www.saude.unisinos.br/laboratorios/microbiologia/Educação em Microbiologia icb.usp.br/~mlracz/edu.htmPós-graduação em Microbiologia www.icb.ufmg.br/~pgmicro/www.henriquemaciel.hpg.com.br www.henriquemaciel.hpg.com.brCategoria: Microbiologia Wikipédia pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:MicrobiologiaDepartamento de Microbiologia www.uel.br/ccb/microbiologia/Yahoo! Brasil Diretório > Microbiologia > br.dir.yahoo.com/Ciencia/Biologia/Microbiologia/Institutos, Faculdades e... Institutos_Faculdades_e_Programas/Microbiologia Biólogo.com.br www.biologo.com.br/micro.htm

1º2º3º4º5º6º7º8º9º10º11º12º

13º14º15º

16º17º18º19º20º21º22º

23º24º25º26º27º28º29º

30º

28

científica e garantia de credibilidade (ainda que possa falhar eventualmente, sua eficá-cia não é medida por um resultado isolado, mas pelo funcionamento geral). É isso que possibilita diferenciar uma evidência cientí-fica de uma opinião pessoal. Mas na Inter-net abundam páginas individuais veiculan-do conteúdo que não foi verificado senão pelo próprio autor, que muitas vezes não possui formação técnica ou profissional li-

4gada ao tema . Isso abarrotou a Rede de opiniões pessoais, várias delas totalmente sem fundamento, coerência ou inteligibili-dade. Defensores acríticos do mundo virtu-al alegam que todo lugar tem seu lixo e a Internet não é exceção. Esse tipo de argu-mento falacioso nos leva a refletir sobre o significado de um velho ditado que diz que “um fio de cabelo na cabeça é pouco, mas

pessoalmente. Por que acreditamos no pri-meiro caso e não no segundo? Porque o ti-po de certificação no caso da viagem à Lua carrega um número muito maior de ele-mentos de credibilidade: diferentes jornais veiculando a mesma informação, cientistas de diversos países atestando a veracidade do fato, pouca ou nenhuma contestação fundamentada, etc.. Já no segundo caso, é apenas a palavra de um indivíduo desco-nhecido e sem provas, contrariando todo um arcabouço de conhecimento construí-do por inúmeras pessoas ao longo de déca-das.

Lembremos que o processo de publica-ção científica antes da era da Internet in-corporava a consagrada “revisão pelos pa-res”, que ainda hoje continua sendo o prin-cipal mecanismo de avaliação técnico-

na sopa, é muito”. Ou seja, contextos com-pletamente diferentes e proporções muito diversas não autorizam uma comparação superficial. A falta de filtragem valoriza a de-mocracia, sem sombra de dúvida, mas em compensação transforma a paisagem da Rede num mundo incerto com relação à ve-racidade e precisão da informação encon-trada. A certificação é uma das poucas for-mas de orientar os internautas de que o ter-reno em que eles estão pisando é terra fir-me e não areia movediça.

As estatísticas da Internet são monu-mentais e monumental é o desafio para via-bilizar uma certificação: estima-se que um contingente de 500 milhões de pessoas acessem o conteúdo do ciberespaço, que gira em torno de 3 bilhões de páginas. Apro-ximadamente 2% dessas páginas são liga-

4. A explosão dos blogs ilustra isso. Ver referência da Folha de São Paulo sobre Andrew Keen, que escreveu o livro Amateurs, onde ele discorre sobre a disseminação de blogs que comentam sem conhecimento de causa sobre os mais diversos assuntos.

CLASSIFICAÇÃONO GOOGLE

NOME DA PÁGINA ENDEREÇO

TABELA 2 – TRINTA PRIMEIROS RESULTADOS FORNECIDOS PELO GOOGLE APÓS BUSCA EM PORTUGUÊS FAZENDO-SE USO DA PALAVRA “MICROBIOLOGIA” NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005.

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29

Figura 7 - Proporção dos que buscam apenas

nos 30 primeiros e os que procuram em mais de

30 resultados.

25%

75%

Procuram até o 30ºresultado

Procuram em mais de30 resultados

Figura 8 - Porcentagem de páginas inoperantes

em três ocasiões diferentes de acesso.

27%

73%

Operantes

Inoperantes

Figura 9 - Presença de título informativo

empregado na página.

23%

77%

Título informativo

Título não informativo

Figura 10 - Especificação clara de quem são os

autores da página.

23%

77%

Autores claramentecitados

Autores ausentes ouobscuros

das à área da saúde, o que significa que 60 milhões de páginas estão potencialmente ligadas ao campo da MICROBIOLOGIA, visto que as doenças infecciosas sempre foram e continuam sendo o tópico mais rele-vante para a saúde pública humana, ani-mal e vegetal. Se cada página da Rede con-tiver um conteúdo que possa ser lido em 1 minuto (uma avaliação claramente subesti-mada) e avaliado criticamente em 30 se-gundos (idem), levaríamos 171 anos ININTERRUPTOS para ler e avaliar todo esse material! Tal qual o paradoxo de Aqui-

5les e a tartaruga , assim que tivéssemos en-cerrado essa tarefa titânica, haveria mais al-guns BILHÕES de páginas que teriam sido criadas nesse espaço de tempo e deman-dariam um novo ciclo de leitura / avaliação. Embora isso possa parecer uma especula-ção fútil de grandes números, é exatamen-te esse fenômeno que acontece todos os di-as ao tentarmos nos atualizar sobre o que se passa na Internet em nossos campos de atuação. Essa vastidão de dados tem, in-clusive, desafiado matemáticos a propo-rem modelos para se fazer uma amostra-gem aleatória adequada de seu conteúdo. É claro que também o volume de informa-ção de livros e periódicos é colossal, mas

sua velocidade de crescimento, seu volu-me e sua facilidade de acesso não se com-param com os do mundo virtual. Tentar es-tabelecer algum tipo de certificação nesse novo universo tem sido riscar com a unha o casco de um navio, mas é um início neces-

sário. Páginas certificadas seriam confiá-veis; páginas não certificadas, talvez. Ain-da assim, persistem muitas dúvidas: quem fará essa certificação? Ela é viável de ser feita com esse volume assombroso de da-dos? Conseguirá angariar respeito e credi-

TABELA 3 - ALGUNS DOS CRITÉRIOS DISCUTIDOS COMO INDICADORES DE QUALIDADE DE PÁGINAS DA INTERNET NOS ÚLTIMOS ANOS

Condições que influenciam a credibilidade da página analisadaSe a página está atualizada e informa isso claramente

Se a página veicula publicidadeSe os autores são claramente identificados

Se existe indicação de CopyrightSe existe disponibilidade de um canal de contato com o autor

Se a página apresenta erros de ortografia e gramáticaSe existe bibliografia “peer-review” citada

Se o número de links é excessivoSe há conflitos de interesse

Se os autores pertencem à área abordadaSe há links “quebrados”

Se a URL é muito extensa e complexaSe há animações desnecessárias

Se o tempo de download é muito grandeSe existem páginas órfãs (abandonadas)

Se a página possui domínio comercial, de organização ou educacionalSe existem contadores de acesso

5. Paradoxo de Zenão de Eléia segundo o qual se Aquiles, o maior corredor grego, permitisse a uma tartaruga uma vantagem de 20 metros em uma corrida entre ambos, ele jamais a alcançaria.

Page 30: Revista - Outubro2007 (2) · e viajam pelo mundo. A microbiologia ... Você está participando conosco, ... ção das células e da produção e excreção

Figura 14 - Qualidade do conteúdo com relação

à didática e abrangência.

47%

53%

Presença de coteúdodidático e abrangente

Ausência de conteúdodidático e agrangente

Figura 13 - Páginas que apresentavam

contadores de acesso.

86%

14%

Presença decontadores de acesso

Ausência decontadores de acesso

Figura 11 - Presença de referências

bibliográficas "peer-review".

41%

59%

Presença debibliografia "peer-review"

Ausência debibliografia "peer-review"

Figura 12 - Porcentagem dos que mostravam

claramente as atualizações da página.

32%

68%

Informa claramenteatualização

Não informaclaramente aatualização

bilidade suficientes para se disseminar e, assim, garantir a própria sobrevivência?

Com relação à educação em ciência, espera-se que promova um aperfeiçoa-mento do senso crítico de cada usuário fi-nal para que ele, diante de uma classifica-ção de mecanismo de busca, possa olhar analiticamente e buscar os resultados mais apropriados. É uma abordagem sedutora, mas esse é um processo laborioso, com-plexo e de longo prazo, cujos resultados nem sempre são previsíveis. Apesar de to-da a dificuldade, ele é essencial. Mas o quanto o Brasil está caminhando nesse sentido? Indicadores como o Sistema Naci-onal de Avaliação Básica (justamente a que constrói os alicerces para a formação dos cidadãos) mostraram em fevereiro de 2007 que os estudantes têm desempenho

pior do que há dez anos atrás. Não é nada promissor constatar que alunos da 4ª série não sabem ler as horas em relógios de pon-teiros e têm dificuldades de fazer contas de somar e subtrair.

Alguns analistas da Rede Mundial ten-dem a se tornar seus entusiastas incondici-onais, esquecendo-se que a avaliação crí-tica constante é requisito cuja importância dispensa comentários. Se quisermos que a MICROBIOLOGIA seja beneficiada de ma-

neira consistente, não podemos assistir sentados e inertes a explosão de conheci-mento microbiológico da Rede. Apesar de muitos terem se contagiado com o deslum-bramento pela Internet, há vozes que come-çam a despontar e avaliar que talvez a cria-tura esteja começando a devorar o criador. Isso é bom e indica que a sociedade está amadurecendo e saindo desse estado de deslumbramento ingênuo. Inicia-se uma nova fase em relação ao mundo virtual.

Numa analogia bem humorada, é im-portante lembrar que um bom churrasco não se faz graças à altura das labaredas, mas à persistência das brasas.

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A água de lastro refere-se à água capta-da em rios, baías, estuários e oceano e que é armazenada e distribuída em diversos tan-ques situados nos cascos dos navios. O in-tuito é garantir a estabilidade e as condi-ções de flutuação dos navios, e promove o aumento do calado, ou seja, a profundida-de do navio na água, auxiliando na propul-são e manobras. Além disso, a água de las-tro também é utilizada para equilibrar o pe-so do navio devido ao consumo de com-bustível e água, e as atividades de carga e descarga, mantendo os níveis de estresse na estrutura em patamares aceitáveis (Co-mittee on Ship Ballast Operation, 1996). Assim, à medida que o navio é descarrega-do, a água da área portuária é captada para os tanques do navio e quando ele é carre-gado, a água é lançada na área portuária.

OS MICRORGANISMOS PEGAM CARONA NA ÁGUA DE LASTRO DE NAVIOS E PODEM VIAJAR PELO MUNDO INTEIRO

1. Irma N. G. Rivera2. Keili M. C. Souza

Departamento de Microbiologia, Instituto de Ciências Biomédicas,

Universidade de São Paulo

Ciência in Foco

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No passado, os navios carregavam las-tro sólido, ou seja, pedras, areia ou metais, o que causava instabilidade aos navios (Carlton et al., 1993), sendo a água utiliza-da como lastro somente a partir de 1880, com a melhoria da estrutura dos navios.

Atualmente, cerca de 80% do comércio internacional é transportado via marítima, colaborando para a transferência de cerca de 10 bilhões de toneladas de água de las-tro por ano em todo o mundo. Apenas na costa brasileira foi estimada a movimenta-ção de aproximadamente 40 milhões de to-neladas de água de lastro por ano (Silva et al., 2004). A água de lastro pode represen-tar até 50% do total da carga de uma em-barcação, variando desde centenas de li-tros até mais de 100 mil toneladas confor-me o tamanho e tipo de embarcação e a car-ga transportada (granéis, contêineres, com-bustíveis, etc.). Contudo, o advento do uso da água como lastro, associado ao cresci-mento do tráfego marítimo mundial, tem possibilitado o crescimento de problemas relacionados à introdução de espécies da flora e fauna aquáticas em áreas onde não são nativas (espécies exóticas) (Nehring, 1998; Williams et al., 1998; Souza et al., 2001) e também a possibilidade de trans-missão de doenças (Ruiz et al., 2000).

A introdução de espécies exóticas pro-voca desequilíbrios ecológicos e causa pre-juízos à economia e à saúde ambiental. Na água de lastro já foram encontrados ovos de invertebrados com 20 a 100 µm de tama-nho, cistos de algas com 5 a 25 µm, fungos variando de 1 a 100 µm, protozoários com 1 a 80 µm e bactérias e vírus menores que 1 ìm (Reeves, 1996). Um exemplo bem co-nhecido de organismo introduzido através da água de lastro, na América do Norte, é o mexilhão-zebra europeu Dreissena poly-morpha que infestou 40% das vias navegá-veis e já foram gastos entre US$ 750 mi-lhões e 1 bilhão com medidas de controle, entre 1989 e 2000.

No Brasil, a invasão mais conhecida re-fere-se ao mexilhão dourado, Limnoperna fortunei, um molusco bivalve originário dos rios asiáticos, geralmente encontrado fixa-do a substratos duros, naturais ou artificiais. Esse organismo de água doce foi introduzi-do no Rio da Prata, na Argentina, em 1991(Pastorino et al., 1993), avançou pelos rios Paraná e Paraguai (Darrigran, 1997) e atualmente se encontra no Pantanal brasi-

leiro (Silva et al., 2002), causando um im-pacto sócio-econômico significativo, uma vez que eles entopem os filtros das compa-nhias de abastecimento de água, impedem o funcionamento normal das turbinas da Usina de Itaipu, com prejuízo de quase US$ 1 milhão a cada dia de paralisação desne-cessária do sistema, forçam mudanças nas práticas de pesca das populações e preju-dicam o sistema de refrigeração de peque-nas embarcações, fundindo motores (Ju-ras, 2003).

Do ponto de vista de saúde pública, a água de lastro, se contaminada com agen-tes patogênicos, pode possibilitar o surgi-mento de surtos de doenças de transmis-são hídrica em diversos locais, em especi-al, a cólera (Rivera et al., 2003; Silva et al., 2004; Vicente et al., 2006). A água de lastro foi apontada como possível responsável pe-lo surgimento da epidemia da cólera na América Latina, que se iniciou no Peru em 1991 (Mccarty & Khambaty, 1994), e no sur-to de Paranaguá, no Paraná, em 1999 (Pas-sos, 1999). O transporte de microrganis-mos patogênicos pela água de lastro pode ocorrer, principalmente quando existe des-pejo de esgotos sem tratamento próximo a zona portuária ou costeira, onde a água é captada (Rivera & Martins, 1996).

Algumas medidas têm sido tomadas em todo o mundo no sentido de minimizar os problemas relacionados à água de lastro. A Organização Marítima Internacional (IMO - International Maritime Organization), a par-tir da Conferência das Nações Unidas so-bre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992 no Rio de Janeiro, deu início a uma abordagem sistemática da questão de água de lastro. A Assembléia da IMO em 1997 adotou por meio da Resolu-ção A.868(20), as diretrizes para o controle e gerenciamento da água de lastro dos navi-os, para minimizar a transferência de orga-nismos aquáticos nocivos e agentes pato-gênicos. Além disso, anualmente, ocorre uma Convenção internacional para a pre-venção da poluição por navios, onde são discutidas propostas dos paises com as-suntos relacionados ao controle e gestão de água de lastro (Comitê de Proteção ao Meio Ambiente Marinho-MEPC). O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a ade-rir à Convenção, sendo suas propostas apresentadas após discussão com mem-bros da Marinha do Brasil e Ministérios da

Saúde, Transportes e Meio Ambiente. Em 1999, mediante uma ação conjunta do Fun-do para o Meio Ambiente Mundial (GEF) e o Programa das Nações Unidas para o De-senvolvimento (PNUD) foi aprovado o “Pro-grama Global de Gerenciamento de Água de LastroGloBallast”, que objetivou apoiar paises em desenvolvimento a implementar as medidas de caráter voluntário previstas na Resolução A.868(20)/IMO. Seis países membros, representando as principais re-giões em desenvolvimento do mundo, fo-ram selecionados para o Programa: África do Sul, Brasil, China, Índia, Irã e Ucrânia (Ju-ras, 2003; Silva et al, 2004).

No Brasil, a Agência Nacional de Vigi-lância Sanitária (ANVISA), através da Ge-rência de Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos Alfandegados (GGPAF) (Daniel L. Menucci, Cátia P. Ferreira e Maristela H. Schneider) em 2001, promoveu um estudo pioneiro em toda América Latina abordando a qualidade microbiológica da água de las-tro, em parceria com o Laboratório de Mi-crobiologia Ambiental do Instituto de Ciên-cias Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Instituto Oceanográfico/USP (Rubens M. Lopes) e o Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (Flávio da Costa Fernandes), com o auxílio financeiro do PNUD/UNESCO. No estudo, denomina-do “Estudo exploratório para identificação e caracterização de espécies patogênicas em águas de lastro em portos selecionados no Brasil” foram analisadas 105 amostras de água de lastro coletadas em 15 portos em nove Estados ao longo da costa brasile-ira. Assim, fizeram parte do estudo os se-guintes portos: 1. Belém-Pará, 2. Fortaleza-Ceará, 3. Recife e Suape-Pernambuco, 4. Aratu e Salvador-Bahia, 5. Ponta Ubu, Pra-ia Mole, Tubarão e Vitória-Espírito Santo, 6. Itaguaí e Rio de Janeiro-Rio de Janeiro, 7. Santos-São Paulo, 8. Paranaguá-Paraná, 9. Rio Grande-Rio Grande do Sul.

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Coleta de água de lastro

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A GGPAF/ANVISA realizou um treina-mento dos servidores de cada porto, atra-vés de um curso teórico-prático, para que fossem habilitados para a realização das co-letas da água de lastro, que ocorreram de outubro de 2001 a março de 2002.

Os resultados mostraram o transporte de até 5,4 milhões de bactérias por litro de amostra de água de lastro e onze conti-nham V. cholerae O1, o agente da cólera. O maior risco esteve relacionado a quatro des-tas onze amostras, pois elas continham ce-pas que apresentaram o gene relacionado à produção da toxina colérica (ctxA). É im-portante ressaltar que todas essas amos-tras apresentaram baixa concentração dos indicadores de contaminação fecal (Souza, 2007). A falta de correlação entre esses indi-cadores e a presença de patógenos em amostras de água de lastro também foi rela-tada (McCarthy & Khambathy, 1994).

Uma medida recomendada pela IMO para evitar a introdução de organismos exó-ticos e patogênicos em uma área portuária é a troca oceânica, onde a água contida nos tanques que foi captada em área portuária é substituída pela água de alto-mar, diminu-indo a possibilidade de transferência des-ses organismos de uma área portuária para outra. O que se verificou, no nosso estudo, foi que 62% das embarcações cujos co-mandantes declararam ter efetuado a troca oceânica, provavelmente não o fizeram ou fizeram de forma parcial, pois a água conti-da no tanque de amostragem possuía sali-nidade inferior a 35‰.

O laboratorio de Microbiologia Ambien-

tal/USP também participou de outro projeto da ANVISA/Petrobras com o objetivo de avaliar a eficiência da troca oceânica, com relação à qualidade microbiológica a água, utilizando três métodos aprovados pela IMO: diluição, seqüencial e transborda-mento. As análises foram realizadas a bor-do do navio petroleiro NT Itaituba, da Petro-brás, que partiu do Porto de Itaqui, em São Luís no Estado do Maranhão, fez a troca em alto mar e seguiu para o Porto de Maca-pá, no Estado do Amazonas. Os resultados demonstraram que a troca oceânica foi efi-ciente, pois houve uma redução de quase 100% na carga microbiana das amostras coletadas após a troca.

Os dados do estudo em água de lastro, realizado ao longo da costa brasileira, for-neceram subsídios a ANVISA para a regu-lamentação nacional do tema, sua partici-pação na Revisão do Regulamento Sanitá-rio Internacional da Organização Mundial da Saúde, como também, na elaboração da Convenção Internacional para o Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimentos de Navios da IMO, que visa à criação de nor-mas internacionais para o gerenciamento da água de lastro. A elaboração dessa Con-venção Internacional foi efetivada em 13 de fevereiro de 2004, em uma Conferência Di-plomática em Londres, a qual a participa-ção da ANVISA foi de extrema importância, pois os indicadores microbiológicos pro-postos através da análise realizada no pri-meiro estudo, após várias análises e dis-cussões, foram inseridos na Convenção. Assim, os indicadores microbiológicos ado-

tados na Convenção para controle da quali-dade da água de lastro foram:

(i) V. cholerae O1 ou O139 toxigênico <1 UFC/100mL ou <1 UFC/grama (peso úmido em amostras de zoo-plâncton);

(ii) E. coli <250 UFC/100mL; (iii) Enterococos fecais <100 UFC/

100mL. Para entrar em vigor, a Convenção de-

verá ser ratificada por pelo menos 30 paí-ses, que representem 35% da tonelagem da frota mundial (Silva et al., 2004).

No nosso estudo, realizado ao longo da costa brasileira, quatro amostras de água de lastro continham V. cholerae O1 toxigê-nico e uma continha mais de 100 UFC de Enterococos fecais por 100 mL de água. Portanto, conforme a Convenção Internaci-onal, cinco navios não poderiam despejar essas águas em área portuária brasileira.

Os portos que se destacaram em rela-ção a um maior risco referente ao deslastro de águas de lastro com presença de V. cho-lerae toxigênico O1 e não-O1 (ctxA+), fo-ram os portos de Belém-PA (03/09 amos-tras), Itaguaí-RJ (01/03 amostras), Ponta Ubu-ES (02/08 amostras), Recife-PE (01/07 amostras) e Santos- SP (01/24 amostras).

Além desse estudo, outros quatro foram realizados até o momento em todo o mun-do a respeito da qualidade microbiológica da água de lastro (McCarthy & Khambaty, 1994; Ruiz et al., 2000; Joachimsthal et al., 2003; Joachimsthal et al., 2004), tendo sido comprovado o transporte de V. cholerae O1 através da água de lastro de navios que atracaram no porto de Baltimore nos Esta-dos Unidos (McCarthy & Khambaty, 1994; Ruiz et al., 2000). Os resultados desses tra-balhos, juntamente com aquele realizado na costa brasileira, sugerem que o V. chole-rae seja um modelo útil para avaliar o trans-porte de microrganismos patogênicos pela água de lastro.

O impacto de uma epidemia de cólera já foi experimentado no Brasil e em outros pai-ses da América Latina na década de 90, quando o número de casos ultrapassou 1,2 milhões de casos e 12 mil mortes (OPAS, 2007a). Desde então, algumas regiões do país seguem programas de vigilância ambi-ental e epidemiológica no intuito de preve-nir futuras epidemias. O sucesso de tais pro-gramas se reflete na queda drástica do nú-

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Laboratório instalado na sala de enfermagem do navio

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mero de casos no país, tendo ocorrido ape-nas dois surtos, um em 2004 e um outro em 2005, na cidade de São Bento do Una no Estado de Pernambuco, com 21 e cinco ca-sos, respectivamente, e outros sete casos em 2001, também na região Nordeste (Mi-nistério da Saúde, comunicação pessoal). O controle da cólera na América Latina tam-bém tem sido eficiente, visto que a Organi-zação Pan Americana de Saúde declarou a

América Central como área livre de cóleraem dezembro de 2003 (OPAS, 2007b). Por-tanto, para manter afastada a possibilidade de novos surtos é necessário que se esta-beleçam programas de monitoramento vol-tados para a qualidade da água de áreas portuárias, que recebem grandes descar-gas de água de lastro contaminadas não so-mente com matéria fecal, como também, pela bactéria patogênica causadora da cóle-ra. Tais programas devem levar em conta que muitos portos se situam em meio a área urbana e que a população que vive nas imediações faz uso dessa água para fins recreacionais, além de realizarem a pesca e a extração de bivalves para consu-mo. É preciso estabelecer quais são as áre-as de influência do porto, uma vez que cor-rentes marítimas podem levar a contamina-ção para áreas distantes, delimitando-se um perímetro de segurança.

A ANVISA, nos anos de 2002 e 2003, promoveu um outro estudo com o objetivo de realizar o diagnóstico microbiológico da qualidade da água de regiões portuárias brasileiras e foram selecionados sete por-

tos: Belém, Fortaleza, Itaguaí, Paranaguá, Recife, Rio Grande e Santos. A água do por-to de Belém apresentou elevada contami-nação fecal, além da presença de Salmo-nella spp. e as áreas portuárias de Parana-guá, Recife e Santos continham cepas de Salmonella spp. e V. cholerae contendo o gene da toxina colérica. Um resultado de ex-trema importância, foi a confirmação da pre-sença de V. cholerae contendo a toxina colé-rica e Salmonella em amostras de bivalves coletados na área dos portos contaminados (exceto por Belém e Paranaguá). Por se-rem organismos filtradores, os bivalves ser-vem como indicadores da qualidade da água onde vivem. Esses organismos quan-do obtidos de áreas contaminadas e consu-midos in natura podem levar a quadros gra-ves de doenças e até a morte. Com base nesses resultados, demonstrou-se que a água de áreas portuárias brasileiras está contaminadas por microrganismos patogê-nicos, não devendo ser utilizadas no lastre-amento de navios e muito menos pela popu-lação. Essa contaminação pode ser advin-da da poluição local por despejo de esgotos sem tratamento prévio ou devido ao próprio deslastro de navios vindos de áreas alta-mente contaminadas.

Para designar a origem dos isolados de V. cholerae obtidos em amostras de água de lastro e das áreas portuárias brasileiras, se autóctones ou oriundos de outros paí-ses, esses isolados foram comparados a outros isolados de fonte clínica e ambiental do Brasil. Através da análise pelas técnicas de ERIC e BOX-PCR (Seqüências intergê-nicas repetitivas unânimes em enterobac-térias e sequências modulares, respectiva-mente), demonstrou-se que os isolados de

água de lastro, assim como aqueles de áre-as portuárias brasileiras apresentaram bai-xo grau de similaridade genética com os iso-lados provenientes de casos clínicos de có-lera ou de áreas contaminadas no país du-rante o período epidêmico de cólera. Quan-do comparados com isolados de outros paí-ses latinoamericanos, como Argentina e Pe-ru, os isolados de água de lastro e de áreas portuárias também tiveram índice de simila-ridade baixo, demonstrando que eles pro-vém de outros continentes e estão contami-nando amplas áreas do ambiente aquático da costa brasileira.

Portanto, a transferência de cepas de microrganismos patogênicos ao redor do mundo através da água de lastro faz surgir um grande problema de saúde pública mun-dial. Estudos em análise de riscos devem ser realizados em cada área para estimar a probabilidade de ocorrência de surtos de có-lera ocasionados pela contaminação do am-biente aquático com a água de lastro.

A ocorrência dos surtos de cólera em to-do o mundo parece estar ligada à influência ambiental. Em regiões endêmicas, a cólera apresenta um padrão sazonal fortemente relacionado à ecologia do V. cholerae, onde o aumento da espécie no ambiente ocorre durante as épocas de incremento da tem-peratura da água, pois ocorre o aumento da concentração de nutrientes e, posterior-mente, do fito e zooplâncton, o qual a espé-cie permanece aderida. Este processo leva ao aumento da taxa e da distribuição de V. cholerae no ambiente, aumentando poten-cialmente a exposição e o risco de infecção (Lipp et al., 2002; Gil et al., 2004). Em Ban-gladesh, o aumento na freqüência de casos de cólera é comprovadamente relacionado ao aumento na temperatura da água e da população de zooplâncton (Pascual et al., 2000). Na América Latina, o fenômeno cli-mático El Niño que ocorreu em 1991 e 1998 e que aumenta a temperatura de superfície da água do mar, está relacionado com o res-surgimento da cólera neste continente em 1991, após um século desaparecida, e com a elevação no número de casos em 1998 (Colwell & Huq, 1999; Speelmon et al, 2000; Gil et al., 2004). Baseado nesse pa-drão sazonal da cólera, Lipp et al. (2002) propuseram que a cólera seja modelo de do-ença infecciosa relacionada ao clima glo-bal. Portanto, conclui-se que a presença de cepas de V. cholerae com potencial patogê-

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Coleta de amostras de água e de bivalves no Porto de Paranaguá

Page 35: Revista - Outubro2007 (2) · e viajam pelo mundo. A microbiologia ... Você está participando conosco, ... ção das células e da produção e excreção

nico no ambiente aquático é um risco à saú-de pública, ficando na dependência de eventos climáticos e/ou outros fatores, que favoreçam a ocorrência de epidemias. Entre esses fatores, existe a possibilidade de aumento da população toxigênica de V. cholerae através da transdução com um fa-go (CTX) que possui o gene da toxina colé-rica (ctxA) (Waldor & Mekalanos, 1996; Fa-ruque et al., 2003). Outro fator também im-portante para a disseminação de surtos de cólera é a falta de disponibilidade de água tratada e de sistemas de esgotamento sani-tário (Gerolomo & Penna, 2000).

Assim, além do monitoramento que de-ve ser realizado em toda a área portuária brasileira, visando verificar a qualidade da água a ser descarregada e os estudos de análises de riscos para determinar em que ocasiões um surto de cólera pode ocorrer, também é necessário investir em sanea-mento básico e educação sanitária da popu-lação. Algumas questões permanecem em aberto, como por exemplo, como determi-nar a qualidade da água, uma vez que tes-tes microbiológicos demandam tempo e os navios não podem permanecer ancorados a espera de um laudo. No Brasil, a Marinha do Brasil verifica a salinidade da água, co-mo um teste de triagem para determinar se o navio realizou a troca da água contida nos tanques de lastro por água oceânica, o que diminui a possibilidade de transferência de organismos exóticos e patogênicos. Pode ser que as medidas tomadas até o momen-to não sejam suficientes para a prevenção de surtos de cólera e esse tema precisa ser retomado pelas autoridades competentes, pois enquanto isso, o agente da cólera con-tinua pegando carona em navios e viajando pelo mundo.

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Grupo de trabalho de água de lastro

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Ciência in Foco

MICROBIOLOGIA APLICADA AO CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES

Antonio Carlos PignatariDepto de Medicina

Disciplina de InfectologiaUniversidade Federal de São Paulo

As infecções denominadas como hospi-talares, atualmente melhor definidas como “infecções relacionadas à assistência à saú-de (IRAS)”, tem grande impacto na morbida-de e mortalidade de pacientes hospitaliza-dos, particularmente de pacientes críticos e imunocomprometidos, além de contribuir de maneira significativa para o alto custo da as-sistência médica. A Legislação Brasileira através da portaria 2.616/98 (www.anvisa.-gov.br) regulamenta a constituição obrigató-ria das CCIHs (Comissões de Controle de Infecções Hospitalares) em hospitais inclu-indo entre os seus membros um profissional do laboratório clínico responsável pelos exa-mes microbiológicos.

A participação do Laboratório de Microbi-ologia Clínica no controle dessas infecções é essencial, através do diagnóstico etiológi-co, detecção de mecanismos de resistência a antimicrobianos, orientação terapêutica e diversas ações de vigilância epidemiológica.

Descrevo a seguir alguns exemplos da importância da microbiologia clínica no con-trole dessas infecções que tive a oportuni-dade de acompanhar em nosso meio nos últi-mos 20 anos.

No final da década de 1980 fomos sur-preendidos com uma freqüência elevada de infecções hospitalares de corrente sanguí-nea causadas por MRSA (Staphylococcus

I) Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA), estávamos desprepa-rados.

aureus resistente à meticilina ou à oxacilina) em pacientes internados em unidade de tera-pia intensiva no Hospital São Paulo, hospital universitário da então Escola Paulista de Me-dicina, hoje UNIFESP (1). Além da resistên-cia à oxacilina, observamos a surgimento de resistência à ciprofloxacina, antimicrobiano da classe das quinolonas, então recente-mente incluído no arsenal terapêutico do hospital. Ao aplicarmos técnicas, então re-centes, de análise de perfil plasmidial e de hi-bridização de DNA cromossômico digerido com enzimas de restrição observamos a pre-sença do que denominamos de clone (2). Tal observação foi confirmada por Hélio Sader (3), agora com uma técnica mais refinada de eletroforese em campo alternado (PFGE) e surpreendentemente, pelo menos em nosso meio, o mesmo perfil se repetia em amostras de oito hospitais do Estado de São Paulo, mostrado na Figura 1. Estávamos diante do que posteriormente foi caracterizado como um dos principais clones de MRSA de disse-minação internacional, o clone Brasileiro des-crito por Lúcia Teixeira da UFRJ (4). A carac-terística desse clone era a sua multiresistên-cia a antimicrobianos e a dificuldade de con-trolá-lo uma vez introduzido em pacientes no ambiente hospitalar. Como conseqüência, a detecção acurada e rápida da resistência à oxacilina por métodos fenotípicos no labora-tório clínico passou a ser fundamental tanto para a orientação terapêutica como para a detecção precoce de surtos e instituição de medidas de controle (5). Entretanto, já no iní-

cio da década de 90 as taxas de infecções por MRSA eram alarmantes nos principais hospitais de grande porte de todo o país (6). Chamávamos a atenção para a importância da detecção precoce e implantação de medi-das de controle de infecção, como lavagem adequada das mãos dos profissionais de sa-úde, identificação de pacientes e profissio-nais portadores de S. aureus, principalmen-te em mucosa nasal, mesmo nos hospitais de pequeno e médio porte nos quais a disse-minação desse clone ainda não ocorrera. Infelizmente, nesses hospitais, as rotinas de microbiologia clínica dos laboratórios eram inadequadas ou mesmo inexistentes. Como conseqüência ocorreu um aumento da utili-zação, muitas vezes de maneira empírica e indiscriminada, dos antibióticos glicopeptí-deos, particularmente a vancomicina, acar-retando maior custo e efeitos colaterais (7). Por outro lado, nos hospitais nos quais ocor-ria uma boa parceria entre os laboratório de microbiologia e as CCIHs excelentes resul-tados puderam ser obtidos no controle de in-fecções por MRSA (8). Até então conhecía-mos a disseminação do clone brasileiro de MRSA e a preocupação dos pesquisadores era a sua possível disseminação para a co-munidade (9).

Outro aspecto relevante foi a descrição de cepas de S. aureus com resistência inter-mediária à glicopeptídeos (GISA) ou à van-comicina (VISA) com importante repercus-são clínica. Em nosso meio algumas cepas foram descritas em poucos centros médicos

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Figura 1: PFGE de amostras de MRSA pertencentes ao clone Brasileiro(canaletas da esquerda) e amostras de MRSA com outros perfis (canaletas da direita)Fonte: Sader, HS Tese de Doutorado (3)

(10), destacando-se os trabalhos de Elsa Ma-mizuka na Faculdade de Farmácia e Bioquí-mica da USP, com a descrição de um surto de VISA em unidade de queimados da cida-de de São Paulo (11). Felizmente esse fenó-tipo de resistência, ainda sem caracteriza-ção do seu mecanismo genético de resistên-cia, com relevância clínica para a terapêuti-ca de um determinado paciente, parece não se disseminar com a mesma facilidade ob-servada nas cepas MRSA (12).

No início do século XXI novos aspectos moleculares da resistência de MRSA passa-ram a ser estudados, com grande repercus-são, particularmente em amostras de isola-das de infecções comunitárias, nos Estados Unidos (13 ). Tais cepas carreiam frequen-temente uma potente exotoxina denomina-da PVL (Panton-Valentine leukocidin), uma toxina capaz de provocar choque e necrose de pele, tecido celular subcutâneo e pulmo-nar (14). A caracterização dos elementos ge-néticos denominados de SCCmec (staph-ylococcal cassette chromosomal mec) tipos I a VI (I e III relacionados a clones isolados em infecções hospitalares) associada a tipa-gem molecular por PFGE e mais recente-mente por MLST (multilocus sequencing typing) tem possibilitado uma análise mais acurada da disseminação global desses mi-crorganismos que carream o gene mecA tan-to a nível comunitário quanto hospitalar (15). Os trabalhos de Agnes Figueiredo na UFRJ

possibilitaram a detecção em nosso meio dos primeiros casos de amostras carreando o SSCmec tipo IV com toxina PVL em Porto Alegre ( 16). No Hospital das Clínicas da FMUSP, Ana Sara Levin observou a presen-ça significativa, e preocupante, de amostras do tipo IV sem toxina PVL em ambiente hos-pitalar (17).

Fica evidente a relevância da determina-ção correta e com acurácia da resistência à oxacilina em laboratório clínico, incluído amostras comunitárias, seja por métodos fe-notípicos quanto por métodos moleculares. Diversos pesquisadores nacionais estudam, no momento, a prevalência dessas infec-ções comunitárias por MRSA contendo es-ses determinantes genéticos. Tais dados são essenciais para uma orientação tera-pêutica mais adequada seja em ambiente hospitalar ou comunitário.

Na segunda metade da década passa-da, procurávamos exaustivamente, através de estudos de vigilância com culturas de swabs retais, os enterococos VRE nos gran-des centros hospitalares do país. Surpreen-dentemente, não encontrávamos esses en-terococos já descritos nos Estados Unidos e Europa desde o final da década de 80 carre-ando determinantes genéticos que configu-ram resistência a glicopeptídeos, principal-

II) Enterococos resistentes à glicopeptí-deos (VRE), estávamos preparados ?

mente o vanA. Nos congressos nacionais, os pesquisadores dividiam-se entre os que acreditavam no surgimento e disseminação através de fontes animais, pelo uso excessi-vo do glicopeptídeo avoparcina como pro-biótico, principalmente em aves, mecanis-mo descrito na Europa, e nos que acredita-vam na introdução através de pacientes colo-nizados a partir de outros países. Em estudo realizado pela pesquisadora Ivani Leme da UNIFESP em colaboração com Antonio Pi-antino Ferreira do Departamento de Ornito-microbiologia da Faculdade de Medicina Ve-terinária da USP não foi observada a pre-sença de VRE em frangos, mas um aumento da prevalência de Enterococcus faecium em relação aos Enterococcus faecalis nas aves que utilizaram avoparcina em relação aos controles (18 ).

Na mesma ocasião Libera Dalla Costa, em Curitiba, descreve o primeiro VRE, mas carreando um determinante genético distin-to do vanA, denominado vanD (19). Em 1997, em hospital geral da cidade de São Pa-ulo, Rosimeire Zanella descreve o primeiro caso de VRE carreando o gene vanA, atra-vés de uma parceria de vigilância de infec-ções hospitalares entre o laboratório de mi-crobiologia do hospital e o Instituto Adolfo Lutz de São Paulo (20). Nesse mesmo hos-pital foi descrito o primeiro surto de VRE em nosso meio (21), mostrado na Figura 2. A partir de então as CCIHs dos hospitais pas-saram a realizar com maior frequência as cul-turas de vigilância para VRE através de swabs retais. Mesmo com esse alerta ocor-reu a disseminação desse determinante ge-nético e de clones de enterococos VRE, em hospitais da cidade de São Paulo, particular-mente nos grandes hospitais públicos. As pesquisas de Ana Lúcia Darini na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP-Ribeirão Preto caracterizando molecular-mente os elementos genéticos vanA em nos-so meio tem contribuído para o melhor en-tendimento da sua disseminação (22 ). Aprendemos com a disseminação dos MRSA e apesar de observarmos surtos de VRE, as medidas de controle tem sido apli-cadas mais precocemente e com melhores resultados. A vigilância de pacientes trans-feridos entre instituições hospitalares que possam carrear VRE no trato digestivo deve ser rigorosa, possibilitando a implementa-ção das precauções necessárias e com efe-tiva relação custo/ benefício em termos eco-nômicos para a instituição e de morbida-de/mortalidade para os pacientes (23). No-vos métodos podem ser utilizados no labora-tório clínico para a detecção de VRE nos pro-tocolos de vigilância, detacando-se os testes fenotípicos descritos por Marines Dalla Mar-tino e Igor Mimica da Faculdade de Ciências

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Figura 2: PFGE de amostras de Enterococcus faecium resistentes à vancomicina (VRE) - Fonte: Zanella, R. Tese de Doutorado (21).

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Cipro

Figura 3: Susceptibilidade a antimicrobianos de amostras de P. aeruginosa isoladas no período de 1992 a 2006. Fonte: CCIH-Hospital 9 de JulhoImipe=imipenem Mero=Meropenem Cefta=Ceftazidima Cipro=Ciprofloxacina

Médicas da Santa Casa de São Paulo (24)) e métodos moleculares descritos por Pedro D'Azevedo da Faculdade Federal de Ciênci-as Médicas de Porto Alegre e Ricardo Titze de Almeida da Universidade de Brasília (25).

No final da década de 80, novos antimi-crobianos B-lactâmicos traziam boas notíci-as para o tratamento de infecções por P. ae-ruginosa, um microrganismo oportunista, ca-usador de infecções graves em pacientes ci-rúrgicos com comorbidades, portadores de neoplasias, submetidos a transplantes de ór-gãos, e admitidos a unidades de terapia in-tensiva com procedimentos invasivos atra-vés de cateteres vasculares e assistência ventilatória. A ceftazidima, cefalosporina de terceira geração, denominada na ocasião ce-falosporina anti-pseudomonas, trazia novas perspectivas no tratamento dessas infec-ções, já que os b-lactâmicos disponíveis, in-cluindo as demais cefalosporinas de terceira geração, não apresentavam boa atividade contra esse microganismo, e os aminoglico-sídeos, ainda efetivos, apresentavam alto grau de toxicidade nesses pacientes críti-cos. No mesmo período surgiu a ciprofloxa-cina, uma fluorquinolona bastante ativa con-tra bacilos Gram-negativos, incluindo a P. ae-ruginosa, podendo ser utilizada por via pa-renteral ou oral. O arsenal terapêutico foi in-crementado com a utilização do carbapenê-mico imipenem no final da década de 80. Se-ria motivo de euforia, tantas opções com bai-xa toxicidade; entretanto, por impudência ou falta de conhecimento científico dos meca-nismos genéticos de desenvolvimento de re-sistência nesse microrganismo, e em outros

III) Pseudomonas aeruginosa, a resistên-cia a antimicrobianos é inexorável ?

do grupo dos bacilos Gram negativos não fer-mentadores da glicose, como o Acinetobac-ter baumannii, a resistência a esses novos antimicrobianos aflorou e se disseminou rapi-damente nas unidades de terapia intensiva dos grandes centros médicos nacionais. Destaca-se o uso, provavelmente inadequa-do, do carbapenêmico imipenem no trata-mento de infecções intra-abdominais com-plicadas, muitas comunitárias, devido a sua atividade contra enterobactérias e bactérias anaeróbias, já que dispúnhamos de outros antimicrobianos efetivos contra esses mi-crorganismos, particularmente anaeróbios, como o metronidazol e a clindamicina.

Na Figura 3 evidenciamos o ocorrido em uma unidade de terapia intensiva de hospital

geral privado da cidade de São Paulo entre 1991 e 2006. Observamos que desde 1991 algumas amostras já demonstravam resis-tência a imipenem, as quais foram caracteri-zadas por PFGE, revelando disseminação clonal ( 26). Na ocasião o provável mecanis-mo de resistência aventado foi o de altera-ções das porinas da parede celular, associa-das ou não a bombas de efluxo. Se obser-varmos a curva de resistência aos carbape-nêmicos, agora também com a introdução do meropenem a partir de 1997, verificamos uma queda brusca da sensibilidade. Na oca-sião não conhecíamos a provável presença de outro mecanismo de resistência a carba-penêmicos, de alto nível, a presença de ge-nes que codificam pelas metalo-â-lactamases, capazes de hidrolizar os anti-bióticos carbapenêmicos. Essas enzimas e seus determinantes genéticos passaram a ser descritas no final do século passado, ini-cialmente a IMP (imipenem â-lactamase) no Japão e a VIM (Verona â-lactamase) na Eu-ropa. Esses determinantes estão incluídos num elemento genético móvel denominado de integron e recentemente foram descritos no Brasil (27). Surpreendentemente, foi de-tectada uma nova metalo-enzima em uma amostra de P. aeruginosa isolada de um paci-ente internado em hospital do complexo hos-pitalar da UNIFESP, denominada SPM (São Paulo metalo â-lactamase) (28). Tal enzima foi encontrada em hospitais de outros esta-dos do país e até o momento está restrita ao território nacional (29). O seu achado em plasmídeos pode ter grande importância epi-demiológica já que a sua disseminação po-de ser mais eficiente através desse elemen-to genético móvel do que através de inte-grons.

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Deve-se ressaltar que os primeiros rela-tos de resistência a carbapenêmicos em nos-so meio foram em amostras de Acinetobac-ter baumannii, destacando-se os trabalhos de Ana Sara Levin e Caio Figueiredo Men-des no Hospital das Clínicas da USP (30).

As repercussões clínicas da resistência a carbapenêmicos de P. aeruginosa e Acine-tobacter baumannii são enormes (31). Uma das conseqüências é a utilização dos antimi-crobianos da classe da polimixinas, introdu-zidas na década de 50 do século passado e agora largamente utilizadas a partir da se-gunda metade da década passada em São Paulo (32). Um grande esforço tem sido apli-cado na tentativa de padronização dos tes-tes de susceptibilidade a polimixinas com de-finição de “break-points” confiáveis (33). Infe-lizmente cepas de P.aeruginosa resistentes a polimixinas tem sido descritas (34), e por-tanto, uma vigilância rigorosa da detecção precoce desse fenótipo pelos laboratórios clí-nicos é necessária.

Atualmente temos CCIHs mais efetivas e com normatizações bem definidas para a sua atuação. Três pesquisadores devem ser citados pela contribuição excepcional à microbiologia clínica aplicada ao controle de infecções hospitalares: Hélio Sader, pela in-serção dos dados de vigilância de resistên-cia bacteriana nacionais a nível internacio-anl através do programa SENTRY (lemc-.com.br), Flávia Rossi da Faculdade de Medi-cina da USP pela dedicação à padroniza-çaão e divulgação de normas internacionais em nosso meio (35) e Igor Mímica pela dedi-cação ao ensino e confiança no desenvolvi-mento tecnológico nacional. Também, um grande esforço tem sido desenvolvido pelas sociedades de microbiologia e de medicina laboratorial e mais recentemente pela ANVISA através da capacitação de laborató-rios de microbiologia clínicos sentinelas e da rede nacional de monitorização de resistên-cia bacteriana ([email protected]). Com certeza estamos melhor preparados para o controle das in-fecções relacionadas a assistência a saúde graças ao trabalho de pesquisadores e pro-fissionais, muitos aqui não citados, os quais saúdo e convido-os a continuarem dedican-do-se à microbiologia com vigor.

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Conclusão

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Consensos

1. IntroduçãoColeções de culturas de microrganis-

mos têm um papel de destaque no estudo e conservação ex situ de recursos genéti-cos microbianos. Os diferentes tipos de co-leções, incluindo as coleções de trabalho, coleções de referência e coleções volta-das à prestação de serviços à comunidade em geral têm um papel fundamental na

O PAPEL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MICROBIOLOGIA NO SUPORTE À CONSOLIDAÇÃO DA REDE BRASILEIRA DE COLEÇÕES DE CULTURAS DE MICRORGANISMOS

aquisição, caracterização taxonômica e tecnológica, manutenção e distribuição de microrganismos e células autenticadas. Cada vez mais, as coleções de serviços que atuam como centros de conservação e distribuição de material biológico autenti-cado necessitam de infra-estrutura ade-quada e equipes capacitadas para a pres-tação de serviços especializados com qua-

lidade assegurada. O material biológico preservado nestas coleções é matéria-prima para a obtenção dos mais variados produtos biotecnológicos, incluindo fárma-cos, alimentos, bebidas alcoólicas e áci-dos orgânicos. Este material é também uti-lizado no saneamento ambiental, como por exemplo, em práticas avançadas de bi-orremediação de resíduos tóxicos. Na agri-

1 2 3 4 5

1. Vanderlei Perez Canhos

2. Lara D. Sette

3. Elisa Cupolillo

4. Myrian S. Tigano

5. Rosana Filomena Vazoller

Diretor do Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA)

Curadora da Coleção Brasileira de Microrganismos de Ambiente e Indústria (CPQBA/UNICAMP)Coordenação da Área de Coleções de Culturas da Sociedade Brasileira de Microbiologia

Curadora da Coleção de Leishmania (IOC/FIOCRUZ)

Curadora da Coleção de Fungos Entomopatogênicos (CENARGEN/EMBRAPA Recursos Genéticos e Biotecnologia)

Docente pesquisador do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.Coordenação da Área de Coleções de Culturas da Sociedade Brasileira de Microbiologia

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cultura os microrganismos são importan-tes na fixação biológica do nitrogênio e no controle biológico de pragas. Culturas pu-ras e atenticadas, obtidas de coleções de referência são utilizadas em atividades de ensino, pesquisa, monitoramento de pató-genos e em testes de controle de qualida-de de produtos e materiais. Portanto, o ma-terial biológico preservado por métodos adequados em coleções de culturas tem uma ampla gama de aplicações nas áreas de saúde, agropecuária, indústria e meio ambiente.

O material biológico certificado é um re-curso de alto valor agregado presente em inúmeros produtos dos mais diversos seto-res da economia. O acesso de insumos e produtos ao mercado internacional estará sujeito de forma crescente a uma comple-xa legislação, constituindo-se potencial-mente em barreiras sanitárias e comercia-is. A superação dessas barreiras depende-rá da criação de uma estrutura de serviços tecnológicos que responda aos procedi-mentos de avaliação da conformidade e que seja capaz de fornecer, mediante cer-tificação e formas correlatas, a evidência de que os produtos atendem a requisitos técnicos especificados em normas e regu-lamentos. As exigências relativas à quali-dade dos materiais biológicos para quais-quer fins representam um grande salto na agregação de valor aos produtos decor-rentes de aplicações industriais, agrícolas, de saúde e ambientais. De outro lado, tais exigências demandam um significativo in-vestimento na organização da base técni-ca laboratorial, na formação de quadros técnicos e intermediários e no estabeleci-mento de logística que garanta a presta-ção de serviços num ambiente de alta con-fiabilidade quanto aos quesitos de biosse-gurança, rastreabilidade, sigilo e proteção patentária.

É necessário destacar que o cenário in-ternacional representa um conjunto de ameaças concretas ao trânsito de material biológico, bem como sinaliza claramente para a aplicação de quesitos técnicos no acesso a mercados de produtos em cuja composição ou processamento há a pre-sença de material biológico. Entretanto, es-sa ameaça é contrabalançada pelo fato de que essas regras, normas e regulamentos ainda estão em fase de concepção e for-mulação, o que traz a oportunidade do Pa-

ís participar na definição das estratégias e políticas globais para o setor.

O estabelecimento da rede de cole-ções de serviços integradas por um siste-ma de informação e a sua melhoria visan-do a consolidação de uma Rede Brasileira de Centros de Recursos Biológicos, com-posta de centros acreditados de acordo com critérios internacionalmente aceitos, dependerá de diretrizes e políticas de Esta-do que assegurem o apoio de longo prazo com a avaliação periódica de desempe-nho.

Programas desta envergadura neces-sitam de ações coordenadas envolvendo os setores público e privado. Neste aspec-to, a Sociedade Brasileira de Microbiolo-gia (SBM) tem um papel importante a de-sempenhar, contribuindo na definição de politicas e estratégias para o setor. Na oportunidade de construir um consenso em torno do tema Coleções de Culturas de Microrganismos, por ocasião dos 50 anos da SBM, os microbiologistas que atuam junto à Área de Coleções de Culturas da SBM reuniram-se com o fim precípuo de apresentar aos seus associados e à socie-dade brasileira, documentos que supor-tem e consolidem a construção da Rede Brasileira de Coleções de Culturas.

Após o estabelecimento da Coleção Kral em Praga em 1890, outras coleções de serviços foram estruturadas na Europa, Estados Unidos e Japão, com a finalidade básica de conservar e fornecer material de referência para estudos taxonômicos e mo-nitoramento epidemiológico. Essas cole-ções passaram por um contínuo processo de desenvolvimento e reorganização vi-sando atender a novas demandas especi-alizadas da área médica e do setor indus-trial. A demanda por culturas autenticadas e serviços especializados aumentou de for-ma significativa a partir da década de 1980, em função dos grandes avanços em biotecnologia, engenharia genética e genô-mica. Existem hoje cerca de 500 coleções de culturas de microrganismos e células re-gistradas no Centro Internacional de Da-dos da Federação Mundial de Coleções de Culturas. Destas, cerca de 20 coleções se destacam por possuírem acervos abran-

2. A Rede Global de Centros de Recur-

sos Biológicos como infra-estrutura de

suporte à bioeconomia no século 21

gentes e pela prestação de serviços espe-cializados. Via de regra, estas coleções contam com financiamento público de lon-go termo e possuem curadorias profissio-nalizadas. Contam também sistemas de in-formação que permitem monitorar e ras-trear as condições de processamento das amostras, assegurando a conformidade do material biológico distribuído. As dema-is coleções são coleções especializadas de trabalho (acervos resultantes de ativi-dades de pesquisa) ou coleções institucio-nais de referência (como coleções de de-partamento que atendem a vários pesqui-sadores da instituição ou usuários exter-nos). Em geral, estas coleções não con-tam com curadoria profissionalizada, não adotam práticas adequadas de documen-tação e gerenciamento do acervo e não possuem quadros técnicos qualificados pa-ra a prestação de serviços especializados. Por esta razão, estas coleções embora se-jam valiosas, são coleções com alto risco de descontinuidade.

A tendência de consolidação das prin-cipais coleções de serviços em países in-dustrializados na última década do século 20 não foi replicada em países em desen-volvimento devido à inexistência de políti-cas adequadas para o setor. A ausência de investimentos na expansão e profissionali-zação das coleções existentes, associada à pequena demanda de material autenti-cado e serviços especializados pelo setor privado foram fatores impeditivos para o desenvolvimento das coleções de servi-ços em países em desenvolvimento.

Na final da década de 1990, mudanças de cunho político, regulatório e tecnológi-co afetaram profundamente a operação de coleções de serviços, criando novos desa-fios e oportunidades. Os avanços em bio-logia molecular e tecnologia de informa-ção troxeram novas oportunidades com a incorporação de novos procedimentos de rotina de caracterização molecular de li-nhagens e viabilizaram a incorporação de novos procedimentos de documentação e rastreabilidade do material no acervo. Den-tre os desafios, destacam-se as novas de-mandas associadas à mudanças do mar-co legal incluindo novas abordagens no to-cante ao acesso a recursos genéticos a re-partição de benefícios, de acordo com as regras estabelecidas na Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Questões as-

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sociadas à bioética, biossegurança e bios-seguridade afetaram de forma radical o modus operandi das coleções de serviços internacionais. O temor do uso de material patogênico na produção de armas biológi-cas e o potencial emprego em atos de bio-terrorismo resultaram na imposição de me-didas muito restritivas relacionadas à dis-tribuição e o transporte de material biológi-co patogênico. Essas restrições incluem o acesso a material de referência, mesmo os classificados como sendo de patogeni-cidade moderada (risco biológico 2), fun-damental para o controle epidemiológico de doenças infecciosas, controle de pra-gas agrícolas e testes de qualidade de pro-dutos industrializados.

Considerando a importância destaca-da das coleções de serviços como infra-estrutura de suporte ao desenvolvimento da bioeconomia, a Organização para Coo-peração e Desenvolvimento Econômico (OCDE) organizou em 1999 um evento pa-ra discutir os desafios e as oportunidades associadas ao estabelecimento de uma re-de global de centros de recursos biológi-cos. Após o evento foi constituído um gru-po de trabalho para discutir as questões as-sociadas ao tema. Este esforço resultou na publicação do documento “Biological Resource Centers: underpinning the futu-re of life sciences and biotechnology”. Esta publicação recomenda o estabelecimento de uma Rede Global de Centros de Recur-sos Biológicos, a ser construída a partir das competências existentes. A definição da estratégia de implementação desta re-de foi objeto de estudo de um grupo de tra-balho estabelecido no âmbito do Progra-ma de Biotecnologia da OCDE em 2001. Nesta segunda fase os esforços foram fo-cados na discussão e definição de critérios para a acreditação de centros de recursos biológicos de acordo com normas interna-cionalmente aceitas. Este esforço resultou na produção de uma série de documentos sobre critérios de qualidade, padrões de operação dos centros e harmonização do marco legal

Na reunião de ministros de ciência e tecnologia de países membros da OCDE, realizada em janeiro de 2004, destacou-se que o desenvolvimento da biotecnologia será um elemento crítico no crescimento econômico sustentável neste século. Na ocasião foi enfatizada a importância da im-

plementação da rede global de centros de recursos biológicos como componente chave da infra-estrutura necessária para o desenvolvimento da bioeconomia no sécu-lo 21. Nesta reunião foi recomendado o apoio ao desenvolvimento de instrumen-tos necessários para a implementação da rede global, incluindo a harmonização de padrões operacionais dos centros de re-cursos biológicos, a adoção de padrões e protocolos que permitam a interoperabili-dade de sistemas de informação, e a ado-ção de medidas que viabilizem uma nova arquitetura institucional.

Em particular, foram propostas as se-guintes ações:?- estabelecer um mecanismo facilita-

dor que catalise o desenvolvimento da rede global, através de ativida-des de capacitação das coleções candidatas à obtenção do status de centros credenciados;

?- avançar na adoção de medidas apropriadas de segurança, que ini-bam o uso não autorizado ou o acesso indevido ao material sensí-vel existente nos centros credenci-ados;

?- desenvolver estratégias que apoi-em a sustentabilidade dos centros credenciados;

?- realizar um estudo piloto de imple-mentação da rede, envolvendo os principais atores e organismos naci-onais e internacionais apropriados, tendo como meta a operacionaliza-ção de ações requeridas para a im-plementação da rede global de cen-tros credenciados.

?Em 2006 a OCDE coordenou uma am-pla consulta pública, tendo como meta co-letar subsídios e comentários sobre os pa-drões operacionais sugeridos para a im-plementação da rede global de centros de recursos biológicos. No início de setembro de 2006, foi realizado um workshop na Co-leção Alemã de Microrganismos (DSMZ) para discutir a metodologia a ser emprega-da no estudo piloto a ser realizado em 2007-2008, com o objetivo de testar os do-cumentos referenciais propostos para a re-de de centros de recursos biológicos. A reu-nião contou com a participação de repre-sentantes de coleções de serviços candi-datas ao credenciamento junto à rede glo-bal e representantes de agências/orga-

nizações de certificação/acreditação inte-ressadas em participar no estudo piloto. Vi-sando avaliar as sugestões de aprimora-mento dos documentos e da metodologia do estudo piloto, será realizada uma reu-nião na sede da Rede Belga de Coleções de Culturas de Microrganismos em Bruxe-las em meados de Novembro de 2006. As recomendações da metodologia a ser em-pregada no estudo piloto e os ajustes fina-is dos documentos referenciais a serem testados serão discutidos na reunião de grupo de trabalho da OCDE, que será rea-lizada em Paris no início de Dezembro de 2006.?

No Brasil, a proposta de criação de uma rede de coleções de culturas de mi-crorganismos foi tema da Segunda Confe-rência Internacional sobre Coleções de Culturas (São Paulo, 1973), organizada pe-la World Federation for Culture Collections (WFCC) e pela Sociedade Brasileira de Mi-crobiologia (SBM). A partir desse evento, o tema passou a constar em programações de congressos e atividades científicas. Nos anos de 1976 e 1977, especialistas brasileiros revisaram o tema propondo a implantação de uma rede nacional de cole-ções de culturas de referência como infra-estrutura de apoio para o Programa Nacio-nal de Biotecnologia. Em 1982, a Funda-ção Tropical de Pesquisas e Tecnologia André Tosello iniciou o levantamento dos acervos das coleções de culturas no País, publicando em 1984 o primeiro Catálogo de Coleções de Culturas de Microrganis-mos. Os dados do catálogo nacional foram disponibilizados on-line em 1985 através do serviço Cirandão da Embratel, que re-presentou um fato pioneiro em nível inter-nacional. Neste mesmo ano, a Financia-dora de Estudos e Projetos (Finep) promo-veu uma reunião de especialistas para defi-nir as diretrizes para a implantação do Sis-tema Nacional de Coleções de Culturas. Ainda no ano de 1984, a SBM procurando reforçar a importância das Coleções de Culturas para a Biotecnologia, promoveu no âmbito do Simpósio Nacional de Fer-mentações em Fortaleza-CE, o primeiro curso direcionado à formação de acadêmi-

3. Ações e programas de governo e o pa-

pel histórico da SBM no apoio ao de-

senvolvimento das coleções de cultu-

ras de microrganismos no Brasil

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cos e tecnólogos com abordagem na ma-nutenção e preservação de culturas micro-bianas com o fim de constituir coleções de culturas. Como desbobramento deste evento foi estabelecida a Área de Cole-ções de Culturas de Microrganismos na SBM visando apoiar o desenvolvimento de um programa de treinamento e capacita-ção para o setor, com enfase em metodo-logias voltadas à operação e gerencia-mento de coleções de culturas de micror-ganismos.

Em 1986, com o apoio da WFCC, reali-zou-se um diagnóstico da situação das co-leções de culturas no Brasil, com enfoque no papel das coleções no Programa Naci-onal de Biotecnologia. Assim, recomen-dou-se o estabelecimento de uma rede na-cional de coleções de culturas, apoiando as atividades da microbiologia em geral e da biotecnologia em particular. Conside-rando as dimensões territoriais do País, su-geriu-se a implantação de um sistema naci-onal com centros regionais, escolhidos de acordo com as competências estabeleci-das e as lacunas identificadas. A coorde-nação da rede caberia a um colegiado com-posto por especialistas e usuários dos se-tores público e privado, que teria a atribui-ção de estabelecer diretrizes visando asse-gurar o apoio em longo prazo para a rede de coleções de serviços e centros de refe-rência, além da implantação de um siste-ma de informação associado. Nesse pe-ríodo, a Finep financiou o refinamento do diagnóstico das coleções nacionais. Fo-ram identificadas 80 coleções em 43 insti-tuições, sendo que a grande maioria foi en-quadrada na categoria de “coleções de pesquisa”. Constatou-se que, apesar do material biológico estocado representar o resultado de um esforço científico impor-tante, a maioria das coleções não utilizava métodos de preservação adequados e não contava com curadoria profissionali-zada.

Em reunião promovida pela Finep em 1987, recomendou-se o estabelecimento do Programa Setorial de Coleções de Cul-turas (PSCC). Nesse esforço, foram apoi-adas 12 coleções com um investimento de 1,5 milhão de dólares. Em razão das refor-mas econômicas ocorridas ao longo dos dois anos de implementação do PSCC (1988-1989) e das perdas inflacionárias

do período, o valor efetivamente aplicado no Programa foi de 530 mil dólares. Entre 1989 e 1990, foram publicados os três vo-lumes revisados do Catálogo Nacional de Linhagens (bactérias; leveduras e fungos filamentosos; células e tecidos celulares), e os dados dos acervos foram disponibili-zados on-line. Apesar da limitação dos re-cursos financeiros e dos entraves buro-cráticos para a utilização destes, os resul-tados obtidos foram considerados bastan-te satisfatórios. Em 1991, foi realizada uma avaliação do PSCC, recomendando-se a continuidade e a ampliação das ativi-dades do programa. Entretanto, por causa de problemas de repasse de verba da União à Finep, o programa não teve conti-nuidade.

Um fator fundamental para a evolução das coleções brasileiras foi o programa de treinamento desenvolvido com o apoio da Finep, do Conselho Britânico e do Progra-ma de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (Rhae). No perío-do de 1986 a 2000, foram realizados cerca de cinqüenta eventos de especialização e aperfeiçoamento, com a participação de

especialistas internacionais e com foco nos avanços em sistemática microbiana, gerenciamento de coleções de culturas e bioinformática. Mesmo após a interrupção do PSCC, algumas coleções mantiveram as suas atividades com o apoio das insti-tuições mantenedoras e de agências de fo-mento nacionais e internacionais. O Pro-grama de Apoio ao Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (PADCT) incluiu em seu edital duas chamadas competitivas para projetos de coleções de serviços, apoiando a Coleção de Culturas Tropical (CCT) e o Banco de Células do Rio de Ja-neiro (BCRJ). Em 2001, o fortalecimento de coleções de serviços institucionais foi retomado no escopo do Programa de Bio-

tecnologia e Recursos Genéticos do Mi-nistério de Ciência e Tecnologia (MCT), vi-sando à consolidação de uma rede de cen-tros de serviços com coleções abrangen-tes nas áreas de saúde, agricultura, meio ambiente e indústria. Esta rede deveria ser ampliada com a integração de centros de referência e autoridades depositárias de material biológico para fins patentários, mas o Programa foi interrompido em fun-ção de mudanças nas ações de fomento conduzidas pelo Governo Federal.

Ainda em 2001, no escopo do Progra-ma de Tecnologia Industrial Básica, o MCT constituiu um grupo de trabalho cujo produto foi a publicação em 2002 do docu-mento Sistema de Avaliação da Conformi-dade de Material Biológico. O documento traz uma análise do estado da arte no se-tor e recomenda uma política de fomento para a construção da base técnica de um sistema de avaliação da conformidade de material biológico de forma a ampliar a oferta de material biológico certificado, es-timulando o seu uso em pesquisas científi-cas e a inovação tecnológica.

- A proposta do MCT para a implanta-

ção deste sistema teve as seguintes motivações básicas:

- Possibilitar ao Brasil a estruturação de um modelo fundamentado no conjunto de funções compreendi-das pela Tecnologia Industrial Bási-ca - TIB (metrologia, normalização e avaliação da conformidade) e assim favorecer um mecanismo de certifi-cação com base em normas e regu-lamentos técnicos, em consonância com as normas guias, recomenda-ções e orientações emanados dos foros internacionais e aderentes ao Acordo de Barreiras Técnicas da Organização Mundial do Comércio;

- Prevenir-se contra o surgimento de

Estabelecida a área de Coleções de Culturas de Microrganismos na SBM visando

apoiar o desenvolvimento de um programa de treinamento e capacitação para o setor.

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Figura 1: Ação articulada envolvendo a Rede de Coleções de Serviços, o Centro Depositário de Material Patentário, e o Sistema de Avaliação

da Conformidade de Material Biológico

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modelos de certificação com base em normas de associações técni-cas, sem que as instituições brasi-leiras tenham condições de influir di-reta e abertamente nesse proces-so;

- Favorecer a complementação do marco regulatório nessa área, com-preensivelmente disperso e com la-cunas, dado o caráter de novidade que ainda cerca o tema.

Essas três motivações, na verdade, são condições requeridas para a estrutu-ração de uma base técnica de interesse das diversas autoridades, notadamente no que tange à segurança biológica, saú-de, agricultura, meio ambiente e indústria. Os principais elementos que motivaram o MCT a tratar da certificação de material bio-lógico decorrem dos resultados alcança-dos nos programas de Biotecnologia e Re-cursos Genéticos, e Tecnologia Industrial Básica - TIB, no âmbito do qual o MCT vem fomentando as atividades de metrologia, normalização e avaliação da conformida-de no Brasil. Ambos os programas e seus desdobramentos apontaram para a ne-cessidade de um sistema de certificação (avaliação da conformidade) de material bi-ológico organizado em bases técnicas con-sistentes.

Com objetivo de catalogar e integrar os dados dos acervos existentes em cole-ções nacionais, e de organizar o processo de implantação da rede brasileira de cole-ções de serviços, o MCT apoiou o desen-volvimento e a implementação do Sistema de Informação de Coleções de Interesse Biotecnológico (Sicol). Lançado em 2002, o sistema permite o acesso on-line a infor-mações de catálogos de linhagens de bac-térias, leveduras e fungos filamentosos, depositadas em coleções nacionais. Estas informações podem ser integradas de for-ma dinâmica e transparente a dados de di-retórios taxonômicos (Catálogo de Vida do Species 2000), literatura científica (Scielo e PubMed) e bancos de dados genômicos (GenBank), agregando desta forma, valor ao material biológico depositado nas cole-ções brasileiras.

No âmbito do Programa TIB, por inter-médio da FINEP, foi contratado no início de 2005 com recursos do Fundo Verde Amarelo (FVA), um projeto piloto visando

ampliar o escopo do SICol. Este projeto vi-sa subsidiar a implantação da gestão da qualidade em coleções de culturas de mi-crorganismos selecionadas. A equipe do Instituto de Tecnologia do Paraná-TECPAR está realizando visitas a labora-tórios selecionados com o objetivo de as-sessorar a implantação de um Sistema de Gestão de Qualidade baseado na Norma NBR ISO/IEC 17025/2005. Ainda no esco-po deste projeto estão estudados e desen-volvidos novos módulos do sistema de in-formação visando permitir a documenta-ção e rastreabilidade de processos opera-cionais e a documentação da qualidade dos produtos das coleções de serviços da rede. Estes desenvolvimentos estão sen-do complementados por um processo de avaliação da documentação e dos proto-colos utilizados pelas coleções, visando coletar subsídios para a implantação do programa de acreditação de coleções de serviços, em conformidade com critérios in-ternacionalmente aceitos.

Em 2005 a SBM teve um papel impor-tante na implementação do projeto “Dire-trizes e estratégias para modernização de coleções biológicas brasileiras e a consoli-dação de sistemas integrados de informa-ção sobre biodiversidade”. O objetivo cen-tral deste projeto financiado pelo MCT e co-ordenado pelo CRIA e pelo Centro de Ges-tão e Estudos Estratégicos-CGEE foi de re-comendar diretrizes e estratégias para a

modernização e consolidação de uma re-de integrada de coleções biológicas, asso-ciada a uma infra-estrutura compartilhada de dados e informações sobre biodiversi-dade. Para acompanhar e avaliar a evolu-ção dos trabalhos, foi estabelecido um gru-po de coordenação composto por repre-sentantes do MCT, do CGEE, do Cria, das Sociedades de Botânica, Microbiologia e Zoologia. Visando subsidiar o processo de discussões temáticas nas áreas de botâni-ca, zoologia, microbiologia e tecnologia de informação e de comunicação, foram pro-duzidos 29 documentos e notas técnicas que envolveram diretamente 67 especia-listas de diferentes instituiçoes e regiões brasileiras. Estes documentos foram apre-sentados e discutidos no evento realizado realizado em julho de 2005 no CGEE. Cer-ca de 80 participantes, incluindo especia-listas do exterior, contribuiram para a defi-nição de diretrizes e estratégias para o se-tor.

No segundo semestre de 2005, novas condições de contorno ensejaram um pro-cesso de articulação entre o MCT, o Minis-tério de Desenvolvimento, Indústria e Co-mércio Exterior (MIDIC), o Instituto Nacio-nal da Propriedade Industrial (INPI) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normali-zação e Qualidade Industrial (INMETRO). Esta articulação envolveu também algu-mas coleções de cultura com acervos abrangentes e com potencial para presta-

INMETRO

Metrologia aplicada

à Biotecnologia

INMETRO

Metrologia aplicada

à Biotecnologia

Sistema de Informação e

Rede de Coleções de

Serviços

Sistema de Informação e

Rede de Coleções de

Serviços

Rede de Centros Acreditados

Material Biológico Certificado

Rede de Centros Acreditados

Material Biológico Certificado

INPI INMETRO

Centro Depositário

de Material Patentário

INPI INMETRO

Centro Depositário

de Material Patentário

MDICMDIC MCTMCT

MCT

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ção de serviços especializados. Desses entendimentos resultou a definição de um elenco de atividades resumidas a seguir:

- Designação, pelo INPI, de um Cen-tro Depositário de Material Biológi-co para fins patentários, em cum-primento à Lei de Propriedade Industrial. Em função função de re-querimentos legais e de aspectos técnicos e de segurança, o INPI op-tou pela utilização das instalações especiais do Inmetro, em Xerém;

- Apoio à capacitação do INMETRO em Metrologia aplicada à Biotecno-logia a ser proporcionado pelo INPI/MDIC, em contrapartida à ces-são das instalações em Xerém, de forma articulada com as atividades de capacitação das coleções de ser-viços;

- Consolidação do Sistema de Infor-mação (SICol) e da Rede de Cole-ções de Serviços, bem como sua capacitação para atuar como Cen-tros de Recursos Biológicos, aten-dendo a critérios internacionalmen-te aceitos.

As atividades de implantação do Cen-tro Depositário de Material Patentário e as atividades de capacitação do INMETRO em Metrologia aplicada à Biotecnologia se-rão desenvolvidas com o apoio do INPI. O apoio à Rede de Coleções de Serviços e Sistema de Informação está sendo pro-posto como Ação Transversal junto aos Fundos Setoriais, em especial os Fundos Verde-Amarelo, de Biotecnologia, da Saú-de e do Agronegócio. As coleções benefi-ciárias apoiarão tecnicamente o INPI e o INMETRO na condução das atividades re-queridas para a consolidação do centro de-positário de material patentário, e nas ati-vidades de capacitação em metrologia apli-cada à Biotecnologia. Simultaneamente, será estabelecido com o INMETRO um programa de acreditação das coleções de serviços, em consulta com os demais agentes envolvidos, visando apoiar estas coleções na obtenção do status de Cen-tros de Recursos Biológicos. O propósito desse esforço é o de permitir que a rede de centros acreditados ofereça material bio-lógico certificado, tanto para fins de pes-quisa científica, quanto para uso industrial.

Os avanços da ação coordenada en-

volvendo ministérios e agências do gover-no federal resultaram no processo de arti-culação representado na Figura 1.

Estes avanços de articulação intera-gências e as atividades propostas foram apresentados e discutidos no Mini-Simpósio “Coleções de Culturas de Mi-crorganismos, Centros de Recursos Bioló-gicos e a Conformidade do Material Bioló-gico”. Este evento organizado pela Socie-dade Brasileira de Microbiologia (SBM) em colaboração com o Centro de Referên-cia em Informação Ambiental (CRIA), foi re-alizado durante o 23º Congresso da SBM em Novembro de 2005. O evento contou com a presença de curadores de coleções microbiológicas, representantes de agên-cias governamentais e especialistas do pa-ís e do exterior.

No processo de implementação da re-de de coleções de serviços, será trabalha-da a questão da incorporação de novas práticas de gestão de coleções de servi-ços e a questão da cultura de certificação e conformidade do material biológico, atra-vés da incorporação de mecanismos que permitam a rastreabilidade de processos e produtos nas atividades de rotina das cole-ções associadas à rede.

A política de fomento para a implanta-ção e consolidação do sistema de informa-ção e das coleções de serviços, e a sua me-lhoria para atingir o status internacional de Centros de Recursos Biológicos, deverá apoiar a construção da base técnica para a avaliação da conformidade do material bio-lógico, através das seguintes ações:

- Estabelecimento de critérios que de-finam o acesso à rede de centros credenciados

- Desenvolvimento de um sistema de acreditação dos centros, com base em critérios internacionalmente acei-tos

- Identificação e seleção de entidades capazes de exercer a função de Centros de Recursos Biológicos

- Fortalecimento seletivo e capacita-ção dos centros selecionados visan-do a melhoria do atendimento da crescente demanda por material bio-lógico certificado e serviços especi-alizados nas áreas de saúde, agri-cultura, meio ambiente e indústria

- Capacitação dos centros selecio-

nados visando a obtenção do sta-tus de Centros de Recursos Bioló-gicos e a sua melhoria visando atin-gir o status requerido para a acredi-tação internacional, na segunda fa-se de implementação do programa

- Capacitação de quadros técnicos para atuar tanto nas diferentes fun-ções dos centros credenciados (cu-radoria profissionalizada, gestão da informação, prestação de servi-ços especializados e atividades de extensão) bem como nas ativida-des de acreditação destes centros (consultoria e auditoria)

?- Harmonização dos procedimentos laboratoriais (implantação de ativi-dades de comparação interlabora-torial)

?- Desenvolvimento e implantação de um sistema de informação que pos-sibilite a rastreabilidade dos pro-cessos e produtos da rede, e permi-ta a integração dinâmica de dados associados aos materiais biológi-cos existentes nos centros creden-ciados

Dada a complexidade da matéria, a im-plantação do Sistema de Avaliação de Con-formidade de Material Biológico, requer o encaminhamento de uma série de ações de cunho político e estratégico, combina-das com ações de cunho técnico. Estas ações deverão envolver a articulação do MCT, do MDIC além de outros ministérios e agências do governo federal.

Dentre as ações de cunho político e es-tratégico, destacam-se as seguintes:?- Criação de um Grupo Interministe-

rial para discutir as interfaces do programa com as atividades em cur-so nas diferentes agências e minis-térios afetos à matéria, e definir ações conjuntas, incluindo a ques-tão de co-financiamento

?- Detalhamento de implantação do sistema, criando uma lógica que permita a sua implementação por partes

?- Implantação do piloto do sistema em áreas previamente seleciona-das.

Dentre as ações de cunho técnico, ne-cessárias para viabilizar a implantação e consolidação do sistema, destacam-se as

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seguintes:?- Estruturar na Associação Brasileira

de Normas Técnicas (ABNT) uma Comissão de Estudo Especial Tem-porária, para propor um conjunto de normas técnicas relacionadas à ma-nipulação , ensaios e certificação de material biológico

?- Estudar o contexto da metrologia aplicável à área junto com o INMETRO. Esta ação é importante na medida em que não há ainda uma atividade organizada nesse campo, o que será coberto em uma fase inicial com o apoio do INPI

?- Debater com o INMETRO e com ou-tros agentes regulamentadores da área, o modelo de certificação e os instrumentos de apoio aplicáveis, se-ja para a acreditação dos laboratóri-os, dos organismos de certificação e dos Centros de Recursos Biológi-cos, seja para a implantação de pro-gramas de certificação e seus res-pectivos procedimentos de avalia-ção da conformidade.

A SBM sempre esteve associada aos esforços voltados à consolidação das cole-ções de culturas microbianas no Brasil, e mais recentemente vem protagonizando ações voltadas a construção de políticas pú-blicas para o setor. Visando criar um meca-nismo eficaz de acompanhamento das ações em curso no âmbito do governo fede-

ral, a SBM reativou Área de Coleções de Culturas no 23º Congresso Brasileiro de Mi-crobiologia (CBM 23) realizado em Santos-SP em Novembro de 2005. Desde então, a SBM vem participando na condição de membro oficial dos seguintes dos seguintes comitês:

- Comitê de Assessoramento Técni-co do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (CAT-Sisbio Diário Oficial da União

- Portaria número 10 /IBAMA de 07 de Fevereiro de 2006), que possui a função de auxiliar o IBAMA na toma-da de decisões em Biodiversidade. O CAT-Sisbio é composto por repre-sentantes de sociedades científi-cas, alem de representantes do CNPq, MCT, MMA e MAPA. Nos últi-mos meses, o comitê discutiu e revi-sou os textos da instrução normati-va que regulamenta a coleta e o transporte de material biológico e a instrução normativa que institui o Ca-dastro Nacional de Coleções ex si-tu.

- Câmara Técnica Temporária de Co-leções Científicas Biológicas da Co-missão Nacional de Biodiversidade (CONABIO Ministério do Meio Ambiente Portaria de 12 de Maio de 2005), cuja função principal é de apoiar a implementação de uma apolítica nacional para o setor. A pri-meira reunião da Câmara Técnica Temporária de Coleções Científicas Biológicas ocorreu em Brasília em agosto de 2006. Esta Câmara é inte-grada por representantes de minis-térios e agências do governo federal e representates de sociedades cien-tíficas. Como resultado desta prime-ira reunião, foi definida a constitui-ção de grupos de trabalho com o ob-jetivo de identificar os problemas as-

sociados à importação e exporta-ção de material biológico no país e a definição de uma política de curado-ria de coleções biológicas.

Ainda com referência às recentes ações do governo federal, merece destaque o Fo-rum de Competitividade Industrial coorde-nado pelo MIDIC e Secretaria de Desenvol-vimento da Produção. Esta iniciativa volta-da à definição de diretrizes, ações estratégi-cas e custos estimados para o desenvolvi-

mento de uma política nacional para as in-dústria com base biotecnológica resultou na proposta da Política de Desenvolvimento da Bioindústria a ser implementada no âmbi-to da Estratégia Nacional de Biotecnologia (Julho de 2006). Na implementação desta política, as coleções de serviços terão um papel crítico como infra-estrutura de supor-te ao desenvolvimento da bioindústria no Brasil. As ações do governo federal terâo du-as vertentes. A primeira deverá envolver ações do INPI e o INMETRO, com foco na consolidação do Centro Depositário de Ma-terial Patentário e no desenvolvimento da Metrologia aplicada à Biotecnologia. A se-gunda vertente envolvendo o MCT, FINEP, CRIA e coleções de serviços institucionais, será focada na estruturação e consolidação da Rede de Centros de Recursos Biológi-cos, visando oferecer ao mercado (Saúde, Agricultura, Meio Ambiente e Indústria) ma-terial biológico certificado, contemplando ainda o Sistema de Informação de Cole-ções de interesse biotecnológico (SICol) e um futuro processo de acreditação destes centros.

Esta proposta de consenso tem como objetivo orientar as ações da SBM visando apoiar a consolidação da Rede Brasileira de Coleções de Culturas de Microrganis-mos, como infra-estrutura crítica o desen-volvimento das ciências da vida e da biotec-nologia. O programa deverá ser implemen-tado através do fomento das seguintes ações:

- Consolidação da Rede Brasileira de Coleções de Culturas de Microrga-nismos

?- Capacitação em taxonomia microbi-ana e bioprospecção

?- Realização de estudos e eventos vi-sando subsídiar a avaliação e con-dução do programa

A implementação das ações da SBM de-verão ser conduzidas de forma articulada com a as ações do governo federal voltadas à implantação do Sistema Brasileiro de Ava-liação da Conformidade de Material Biológi-co.

Consolidação da Rede Brasileira de

4. Proposta de Consenso: ações da SBM

visando apoiar a consolidação da Rede

Brasileira de Coleções de Culturas de Mi-

crorganismos

Consolidação da Rede Brasileira de Coleções de Culturas de Microrganismos

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Coleções de Culturas de Microrganis-

mosA meta é implantar e consolidar uma re-

de de coleções de culturas de microrganis-mos integradas por um sistema de informa-ção. A rede será constituída por coleções de serviços com acervos abrangentes, um centro depositário de material patentário e coleções de referência com acervos espe-cializados.

Com a finalidade de auxiliar na definição de diretrizes, estratégias e ações de fomen-to específicas para a implantação e consoli-dação da Rede Brasileira de Coleções de Culturas de Microrganismos de forma arti-culada com o estabelecimento da Rede Glo-bal de Centros de Recursos Biológicos, é fundamental definir a abrangência e escopo do material a ser armazenado nestes cole-ções. Define-se “material biológico” como to-do material que contenha informação gené-tica e que seja capaz de auto-reprodução, e/ou seja capaz de ser reproduzido em um sistema biológico (definição da IN Coleções Científicas IBAMA, incluindo:?- Bactérias, fungos, algas e protozoá-

rios?- Células humanas, animais e vege-

tais, e suas partes replicáveis?- Bibliotecas genômicas, plasmídeos,

vírus e fragmentos de ADN clonado?- Informações associadas a micror-

ganismos ainda não cultivadosAs coleções associadas à rede serão in-

tegradas através de um sistema de infor-mação, que será um instrumento funda-mental para o acompanhamento de avalia-ção de desempenho das coleções inte-grantes da rede. Na segunda fase de imple-mentação do programa coleções selecio-nadas deverão atingir o status de Centros de Recursos Biológicos, de acordo com cri-térios internacionalmente aceitos..

Considerando o aspecto de suporte à inovação tecnológica da rede de coleções de serviços, esta atividade deverá ser pro-posta como ação transversal junto aos Fun-dos Setoriais do MCT, em especial os fun-dos Verde-Amarelo, de Biotecnologia e do Agro-negócio. Estas coleções deverão apoi-ar tecnicamente o INMETRO e o INPI na condução de atividades requeridas para a consolidação do centro depositário de mate-rial patentário e do programa de metrologia em biologia.

Coleções de serviços com acervos

abrangentesDeverão ser implantadas e consolida-

das coleções de serviços com acervos abrangentes, nas áreas de saúde, agrope-cuária, indústria e meio ambiente. Estas co-leções deverão contar com o suporte técni-co adequado em termos de metrologia, nor-malização e avaliação da conformidade. Estas coleções deverão ter um nítido perfil e mecanismos adequados para a presta-ção de serviços especializados incluindo o fornecimento de material biológico certifica-do. Estas coleções serão consolidadas de forma articulada com o estabelecimento do Centro Depositário de Material Patentário e do Sistema de Avaliação da Conformidade de Material Biológico, financiados com re-cursos complementares do MIDIC e INPI.

Recomenda-se uma ação induzida de apoio que inclua a avaliação e negociação institucional, caso a caso, onde a aprova-ção do apoio dependerá da apresentação de um projeto bem estruturado com com-promisso institucional firmado. As ações previstas para a negociação do apoio inclu-em a solicitação de propostas a instituições estratégicas, a definição de critérios de ava-liação e desempenho, e o acompanhamen-to dos trabalhos e avaliação dos resultados.

As propostas deverão atender os se-guintes elementos de análise?- compromisso institucional;?- plano estratégico para a implanta-

ção e consolidação da coleção de serviço institucional;

?- compromisso de disponibilização dos dados não sensíveis na Inter-net, de forma livre e aberta por tem-po indeterminado;

?- plano operacional da coleção, inclu-indo processos de caracterização e documentação do acervo, com pro-cedimentos que permitam o rastrea-mento do processamento das amos-tras e da informação associada;

?- definição das etapas e metas de digi-talização e validação dos dados, com a apresentação de indicadores;

?- definição dos recursos necessários; e o

?- detalhamento da contrapartida insti-tucional.

Dentre as atividades a serem apoiadas

destacam-se as seguintes:?- Melhoria da infra-estrutura física (re-

forma, construção, aquisição de equipamentos, material permanen-te e material de consumo);

?- Contratação de recursos humanos: curadoria e técnicos especializados;

?- Implementação de novas tecnologi-as em sistemática: aquisição de equipamentos, material permanen-te, material de consumo e treina-mento técnico;

?- Apoio ao aperfeiçoamento e especi-alização da equipe e participação em eventos nacionais e internacio-nais.;

?- Apoio às atividades de normaliza-ção, inclusive com a participação de especialistas brasileiros nos foros técnicos internacionais;

?- Desenvolvimento de uma sistemáti-ca para acreditação de centros e pa-ra a certificação de material biológi-co, incluindo a implantação de siste-mas da qualidade laboratorial;

?- Estabelecimento de atividades de cooperação técnica com centros congêneres no País e no exterior, in-cluindo programas de comparação inter-laboratorial das metodologias utilizadas

?

Centro Depositário de Material Pa-

tentário e Sistema de Metrologia Aplica-

da à BiotecnologiaCaberá à SBM divulgar e apoiar as

ações com fóco na implantação e consoli-dação do centro depositário de material bio-lógico para fins patentários, designado pelo INPI e financiado pelo INPI e INMETRO. Este centro deverá utilizar as instalações es-peciais do INMETRO em Xerém, RJ. O pro-cesso deverá também envolver o apoio à capacitação do INMETRO em metrologia aplicada à biotecnologia, que será proporci-onado pelo INPI/MDIC.

Coleções de referência com acervos

especializadosDe forma complementar ao apoio visan-

do a consolidação de coleções de serviços abrangentes, a SBM deverá apoiar a con-solidação coleções de referência com acer-vos especializados de alta relevância para a vigilância sanitária, estudos taxonômicos e programas de bioprospeção. O fomento

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da consolidação destas coleções poderá ser feito através de processo induzido ou via editais. Dentre as atividades a serem apoiadas, destacam-se as seguintes:?- ampliação e melhoria das ativida-

des de preservação, estoque e ma-nutenção, controle de qualidade e distribuição de culturas

?- ampliação do acervo?- ampliação e melhoria dos serviços

especializados prestados a tercei-ros

?- documentação e informatização das atividades de rotina

?- elaboração de um plano estratégico?- adoção de boas práticas laboratori-

aisOs critérios para a seleção das cole-

ções de referência, destacam-se os seguin-tes:?- compromisso institucional?- tamanho, composição e relevância

taxonômica e/ou geográfica do acer-vo

?- nível de preservação e organização do acervo

?- grau de utilização do acervo em pes-quisas científicas, educação e pres-tação de serviços especializados

?- natureza dos serviços prestados pe-la coleção

?- taxa de crescimento do acervo ?- grau de documentação e informati-

zação do acervo?- equipe e produção acadêmica

Fortalecimento e ampliação da capa-

citação em taxonomia microbiana e bio-

prospecçãoA riqueza e qualidade dos acervos de

coleções microbiológicas de trabalho, de re-ferência e de serviços é resultante de ativi-dades e projetos de excelência em microbi-ologia básica e aplicada. Portanto, fica evi-dente que o fortalecimento da base científi-ca com foco em taxonomia microbiana e projetos de bioprospeção é fundamental pa-ra a consolidação das coleções microbioló-gicas no país. Neste contexto recomenda-se a ampliação de ações de fomento com o foco na ampliação da capacidade institucio-nal (recursos humanos e infra-estrutura) de-dicada a projetos com foco na coleta e ca-racterização taxonômica e tecnológica de microrganismos. As seguintes medidas são

propostas:?- Estimulo ao ensino formal de siste-

mática e taxonomia microbiana em cursos de graduação e pós-graduação de biologia. É importante destacar que a análise realizada pe-la CAPES nos anos de 2001 a 2003 revelou que em sete programas de pós-graduação em Microbiologia e/ou Microbiologia e Imunologia, o tema Taxonomia Microbiana não constava do elenco de disciplinas re-gularmente oferecidas em cursos de pós-graduação, ou era tratado no âmbito de outras áreas, notadamen-te na área de Micologia. A inexistên-cia de disciplinas específicas direci-onadas capacitação em sistemática e taxonomia de microrganismos em programas de pós-graduação em Mi-crobiologia é preocupante tendo em vista a importância funcional da di-versidade microbiana em ciclos bio-geoquímicos e funcionamento de ecossistemas, ou a importância do conhecimento taxonômico para o de-senvolvimento de novas estratégias de seleção e triagem de linhagens de interesse econômico;

?- Ampliação a oferta de cursos de es-pecialização e aperfeiçoamento com foco no emprego de técnicas avançadas de taxonomia microbia-na e bioinformática;

?- Fomento de projetos de pesquisa en-volvendo a bioprospecção, caracte-rização taxonômica e exploração tecnológica de microrganismos.

Realização de estudos e eventos vi-

sando subsidiar a avaliação e condução

do programaDada a complexidade da matéria, a im-

plementação da Rede de Brasileira de Cen-tros de Recursos Biológicos de forma arti-culada com a implantação do Sistema Bra-sileiro de Conformidade, dependerá do de-senvolvimento de parcerias e mecanismos de articulação. Portanto a SBM deve apoiar estudos e eventos que subsidiem a avalia-ção e condução do progama. Dentre as ações e tópicos a serem abordados, desta-cam-se os seguintes:?- Estudo técnico econômico sobre o

desenho, organização e demandas

para o sistema integrado composto da rede centros de recursos biológi-cos e das entidades associadas ao sistema de avaliação conformidade de material biológico, incluindo os seus custos e benefícios

?- Plano de negócios para a implanta-ção do sistema integrado

?- Articulação dos atores envolvidos com a utilização de metodologias adequadas para a documentação e consolidação de compromissos

?- Realização de reuniões de trabalho e eventos visando aprimorar a con-dução do programa

??

Ministério de Ciência e Tecnologia. Brasília, Diretri-zes e estratégias para modernização de coleções biológi-cas brasileiras e a consolidação de sistemas integrados de informação sobre biodiversidade, Brasília, 2006. CDU 574:32:5/6(81) (documentos disponíveis em http://www.cria.org.br/cgee/col/)

Ministério de Ciência e Tecnologia. Brasília, SEPCT/CGBI. (2001). Programa Tecnologia Industrial Bá-sica e Serviços Tecnológicos para a Inovação e a Com-petitividade. Brasília, MCT/SEPTE/CGPT, 2001.

Ministério de Ciência e Tecnologia. Brasília, Progra-ma de Biotecnologia e Recursos Genéticos: Definição de Metas. Brasília, 2002.

Ministério de Ciência e Tecnologia. Brasília, Sistema de Avaliação de Conformidade de Material Biológico. Bra-sília, Senai/DN, 2002 (disponível em www.mct.gov.br/Te-mas/Desenv/MaterialBiologico.pdf).

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér-cio Exterior e Secretaria do Desenvolvimento da Produ-ção.. Fórum de Competitividade de Biotecnologia. Estra-tégia Nacional de Biotecnologia. Política de Desenvolvi-mento da Bioindústria. Brasilia , Julho de 2006 (disponível em http://www.inovacao.unicamp.br/report/inte-estrategia060710.pdf)

Mini-Simpósio: Coleções de Culturas de Microrga-nismos, Centros de Recursos Biológicos e a Conformida-de do Material Biológico (disponível em http://www.cria. org.br/eventos/minisimposio/)

Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Biological Resource Centers: underpinning the future of life sciences and biotechnology. Paris, 2001 (disponível em http://www.sourceoecd.org).

Sistema de Informação de Coleções de Interesse Bi-otecnológico (Sicol) (disponível em http://sicol.cria. org.br).

Workshop: Diretrizes e estratégias para moderniza-ção de coleções biológicas brasileiras e a consolidação de sistemas integrados de informação sobre biodiversi-dade (programa e apresentações disponíveis em http://www.cria.org.br/cgee/col/julho/)

World Federation for Culture Collections - WFCC (disponível em http://www.wfcc.info).

World Trade Organization - WTO, Technical Barriers to Trade (disponível em http://www.wto.org/en-glish/tratop_e/tbt_e/tbt_e.htm)

?5. Referências e websites

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RECOMENDAÇÕES PARA OPERAÇÃO E GERENCIAMENTO DE COLEÇÕES DE CULTURAS DE MICRORGANISMOS

Lara D. Sette

Colaboradores:Elisa Cupolillo

Myrian S. Tigano

Rosana F. Vazoller

Vanderlei P. Canhos

Curadora da Coleção Brasileira de Microrganismos de Ambiente e Indústria (CPQBA/UNICAMP)Coordenação da Área de Coleções de Culturas da Sociedade Brasileira de Microbiologia

Curadora da Coleção de Leishmania (IOC/FIOCRUZ)

Curadora da Coleção de Fungos Entomopatogênicos (CENARGEM/EMBRAPA)

Coordenadora da área de Coleções de Culturas da SBM

Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA)

Consensos

Prefácio

Introdução

Este guia tem como objetivo fornecer normas para as boas práticas de operação e gerenciamento de Coleções de Culturas de Microrganismos e laboratórios que man-tenham material biológico microbiano re-plicável.

Os organismos vivos, suas células ou partes replicáveis (e.g. genomas, plasmi-deos, vírus, cDNAs) são os elementos bá-sicos das ciências da vida e biotecnologia. Eles são amplamente utilizados como ma-terial de referência para ensaios industria-is, identificação, produção de compostos, combustíveis e alimentos, e representam

importantes ferramentas para a geração de conhecimento e conservação da biodi-versidade. Eles são cultivados, mantidos e utilizados em todo o mundo e são elemen-tos chave para muitos programas de pes-quisa, processos industriais e cursos de treinamento. Neste contexto, os recursos biológicos devem ser mantidos sem alte-rações para assegurar a reprodutibilidade e sustentabilidade.

As coleções de materiais biológicos re-presentam desde pequenos centros priva-dos a grandes centros de serviços, e pos-suem diferentes objetivos, políticas e acer-vos. Essas coleções estão freqüentemen-te associadas às atividades de uma orga-nização parental, como por exemplo, insti-tuições acadêmicas ou de pesquisa cientí-

fica, e mantêm organismos que podem ser utilizados de formas distintas.

Coleções microbiológicas ex-situ po-dem ser classificadas como coleções de trabalho, coleções institucionais ou cole-ções de serviço. Como infra-estrutura fun-damental na conservação e distribuição de recursos genéticos, com a finalidade de pesquisa e desenvolvimento, as coleções de serviço merecem atenção especial. O principal objetivo de uma Coleção de Ser-viço é o fornecimento de produtos e servi-ços com padrão de qualidade elevado e, para tanto, técnicas e procedimentos apro-priados que estejam de acordo com a le-gislação, regulamentos e políticas nacio-nais devem estar em operação.

Assim, para que as coleções microbio-

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lógicas possam alcançar boas práticas com relação à gestão, aquisição, manu-tenção e fornecimento de material biológi-co as orientações definidas neste docu-mento devem ser implementadas.

1.1. O objetivo deste manual é forne-cer orientação para as Coleções de Mi-crorganismos, incluindo as coleções de serviço, coleções de referência e/ou cole-ções de pesquisa.

1.2. Este guia foi elaborado com base nos guidelines internacionais: World Fe-deration for Culture Collections Guideli-nes da WFCC (Federação Mundial de Co-leções de Culturas) e Guidance For The Operation of Biological Research Cen-tres (BRCs) da OCDE (Organização pa-ra Cooperação e Desenvolvimento Eco-nômico).

Sociedade Brasileira de Microbiologia

Guia para Operação de Coleções de Cul-

turas: Domínio Microrganismos

1. Escopo

2. Definições2.1. Microrganismos: são organis-

mos que requerem um sistema de mi-croscopia para serem avaliados, porém limitados a microalgas, bactérias (inclu-indo cianobactérias), arqueas, fungos fi-lamentosos, leveduras, fagos, vírus, pro-tozoários e suas partes replicáveis (e.g. genomas, plasmideos, cDNAs). Podem ser incluídos nesta categoria os organis-mos viáveis, mas ainda não cultiváveis.

2.2. Material Biológico: o termo “ma-terial biológico” utilizado ao longo deste documento se refere aos representantes vivos dos microrganismos (definido no item acima).

3. Requerimentos Institucionais

4. Fomento

3.1. A instituição que abriga uma cole-ção deve estar ciente de que aceita as responsabilidades inerentes à manuten-ção de um serviço público com padrões apropriados. O compromisso com a ma-nutenção da coleção e de seus serviços deve ser incluído no planejamento ou nos objetivos estratégicos da instituição. No caso das coleções onde esta respon-sabilidade não está explícita, este as-pecto deve ser esclarecido com o Diretor do Instituto, Conselho Científico, Reitor da Universidade, representantes do Go-verno ou com outras autoridades compe-tentes.

3.2. Se o futuro da Coleção estiver ameaçado, a mesma deve possuir pla-nos para assegurar que o acervo perma-neça disponível.

4.1. As negociações de financiamento para as coleções requerem um comprome-timento institucional de longo prazo. As fon-

As negociações de financiamento para as coleções requerem um comprometimento institucional de longo prazo

tes de financiamento podem ser de origem governamental, a partir da geração de ren-da pelos serviços prestados ou apoio da ini-ciativa privada. O suporte financeiro basea-do em contratos de curto prazo é impróprio para as coleções de serviço, que prestam serviços a longo prazo, como parte da infra-estrutura de apoio às ciências biológicas.

4.2. A coleção precisa considerar o fi-nanciamento presente e futuro de maneira que ela possa planejar o leque de serviços a ser oferecido incluindo o padrão de quali-dade esperado pelo cliente. Se os recursos financeiros forem limitados é preferível que a coleção restrinja os objetivos preliminares dando preferência àqueles para os quais

há forte probabilidade de financiamento em longo prazo.

5.1. As coleções devem possuir um su-mário de seus objetivos em longo prazo, re-lacionados ao escopo do acervo e aos ser-viços oferecidos.

5.2. Uma coleção deve ter a definição de seus objetivos específicos em curto pra-zo (1, 3 e 5 anos), incluindo os números e os grupos de linhagens que se espera ad-quirir neste intervalo de tempo e as progra-mações para implementação de novas ins-talações e equipamentos.

6.1. A coleção deve estabelecer os gru-pos de microrganismos a serem mantidos, bem como os números a serem preserva-dos a longo prazo. É necessário, também, que a coleção possua uma política de aces-so claramente definida, na qual a aceitação de novas linhagens oferecidas à coleção de-ve estar baseada. Se isto não for estabele-cido, e muitas linhagens não solicitadas fo-rem aceitas sem levar em consideração os objetivos da coleção, a capacidade de ar-mazenamento e os recursos humanos e fi-nanceiros podem se tornar escassos.

6.2. Se as linhagens mantidas na cole-ção forem potencialmente patogênicas ao homem, animais ou plantas, ou forem pro-dutoras de compostos tóxicos ou alucinó-genos, o acervo deve estar claramente iden-tificado e mantido em condições de segu-rança. Nestes casos, os regulamentos naci-onais de segurança e controle devem ser seguidos.

6.3. Com relação ao tipo de linhagens a serem mantidas, é economicamente pru-dente que uma coleção considere para in-corporação em seu acervo linhagens com-plementares e não aquelas já disponíveis em outras coleções.

7.1. Qualificação e Treinamento: a equi-pe deve possuir qualificação, treinamento e competência para a realização de suas atividades e nenhum membro deve ser alo-

5. Objetivos

6. Acervo

7. Equipe de Funcionários

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cado para a realização de qualquer tipo de trabalho sem ter sido treinado por um espe-cialista. Cada membro da equipe deve pos-suir os objetivos documentados com as ta-refas específicas delegadas e as respon-sabilidades definidas. A equipe de funcio-nários deve receber o treinamento quando novas tecnologias ou procedimentos fo-rem introduzidos. É de responsabilidade de toda a equipe de funcionários familiari-zar-se com os protocolos documentados e trabalhar de acordo com as políticas e os procedimentos operacionais padrões ado-tados pela coleção.

7.2. Saúde e Segurança: toda a equipe de funcionários deve seguir os procedi-mentos apropriados para o nível de risco bi-ológico (ver item 18.2.2) do microrganismo a ser manipulado, como definido pela Organização Mundial de Saúde (World He-alth Organization WHO, 2006) e como in-terpretado pela legislação, regulamentos e políticas nacionais. Este procedimento vi-sa evitar a contaminação de amostras, o risco de infecção e a dispersão no meio am-biente.

7.3. O nível dos funcionários da equipe deve ser suficiente não apenas para a rea-lização da incorporação, manutenção e for-necimento das cepas, mas também para atender aos outros serviços oferecidos pe-la coleção. A alta rotatividade de funcioná-rios da equipe prejudica a manutenção dos padrões de qualidade e a eficácia dos serviços oferecidos.

7.4. As coleções de serviço devem ser gerenciadas por um profissional qualifica-do (curador) com experiência e conheci-mento sobre os microrganismos, seus re-querimentos de crescimento e preserva-ção e suas propriedades e aplicações po-tenciais. O curador deve também conhe-cer os procedimentos operacionais, as téc-nicas e os serviços oferecidos pela cole-ção.

7.5. Nem sempre é possível indicar na equipe de funcionários especialistas em determinadas tarefas, como por exemplo, a identificação e a autenticação de todos os grupos taxonômicos mantidos na cole-ção, no entanto, algumas habilidades taxo-nômicas básicas são essenciais para a efe-

tiva realização do controle de qualidade (veja item 9.1). Se houver a necessidade de suporte adicional de um profissional es-pecializado em taxonomia, em especial nos serviços de identificação, programas de colaboração podem ser instituídos e for-malizados dentro e/ou fora da instituição que abriga a coleção.

8.1. Os microrganismos requerem fre-qüentemente métodos específicos de pre-servação a fim de que sejam assegurados viabilidade, armazenamento, pureza e es-tabilidade genética. Por medidas de segu-rança e para minimizar a possibilidade de perda de linhagens, cada cultura deve ser mantida por pelo menos dois métodos dis-tintos. É recomendável que pelo menos um dos métodos utilizados seja a criopre-servação (ultracongelamento) ou a liofili-zação, pois para muitas linhagens esses métodos apresentam menos riscos de alte-rações genéticas, além de garantir a pre-servação por longo período de tempo.

8.2. As coleções de culturas podem rea-lizar um papel importante na preservação dos produtos derivados de projetos envol-vendo genomas de microrganismos. O de-senvolimento de conhecimento em genô-mica e metagenômica e sistemas de arma-zenamento em larga escala são fatores im-portantes a serem considerados pela cole-ção.

8.3. É recomendável que a coleção possua um back-up do acervo principal em local distinto e separado, evitando os ris-cos de perda de importantes recursos ge-néticos por motivos de incêndio, enchen-tes, terremotos, guerras, dentre outras ca-tástrofes ou intempéries da natureza.

9.1. A procura por material biológico em coleções reconhecidas se deve princi-palmente ao fato de que estas coleções possuem como procedimentos de rotina a realização de testes de controle de quali-dade e autenticação do material do acer-vo. O fornecimento de material biológico não conforme (por exemplo: culturas com

8. Preservação

9. Procedimentos de depósito e autenti-

cação de culturas

identificação incorreta, microrganismos contaminados) por uma coleção pode acarretar sérios problemas, com conse-qüências irreparáveis para seus clientes.

A utilização de organismos errados em investigações científicas pode gerar alto consumo de tempo, os custos podem ser altos e conduzir à publicação de resulta-dos inválidos. Além disso, sem uma auten-ticação apropriada organismos nocivos po-deriam ser inadvertidamente fornecidos.

Portanto, é de inteira responsabilidade de uma coleção a garantia da qualidade de seu acervo. As coleções microbiológi-cas devem operar com base em padrões apropriados para que o material biológico microbiano possa ser certificado, garan-tindo ao cliente padrão de qualidade e au-tenticidade.

9.2. As solicitações de depósito devem ser submetidas a uma análise prévia para verificação de enquadramento no escopo do acervo e nos níveis de biossegurança da coleção. Como parte dos procedimen-tos de depósito, as coleções devem forne-cer um formulário que deve ser preenchi-do por todos os depositantes. As informa-ções requeridas nestes formulários vari-am entre as coleções.

Entretanto, dados mínimos para a do-cumentação e registro de linhagens de-vem ser exigidos, tais como: nome do orga-nismo; número da linhagem; número em outras coleções; histórico; tipo de organis-mos; restrições; condições de crescimen-to; dados de isolamento (data, nome e lo-calidade); dados taxonômicos (caracterís-ticas morfológicas, fisiológicas); referênci-as bibliográficas; nome, endereço e assi-natura do depositante.

9.3. Quando culturas identificadas são recebidas, o nome da pessoa que realizou a identificação original deve ser registra-do. A coleção deve confirmar a identifica-ção e se certificar de que as descrições da espécie estão de acordo com as publica-das. Alternativamente, a coleção deve con-firmar que a cultura foi autenticada por um especialista competente.

9.4. Todo o material que chega à cole-ção precisa ser tratado como potencial-mente perigoso, até que sua identificação ou autenticação seja confirmada. Os pro-

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cedimentos devem assegurar que o mate-rial não autenticado não esteja sendo tra-tado ocasionalmente e que todas as exi-gências de segurança estão sendo segui-das. É recomendável que o material não autenticado seja manipulado de acordo com as especificações para o nível de ris-co biológico 2 (ver item 18.2.2).

9.5. No caso de recebimento de cultu-ras não identificadas, a coleção deve ser cautelosa na identificação do material que pertença a grupos taxonômicos para os quais não existem especialistas na equipe. É recomendável que o material seja analisado por um especialista antes da incorporação do mesmo no acervo da coleção.

10.1. As coleções que disponibilizam material biológico para o acesso público, devem realizar a distribuição apenas para instituições públicas e privadas, sejam de pesquisa, serviços, governamentais, ensi-no ou indústrias. Por razões de seguran-ça e saúde pública, linhagens não devem ser enviadas para endereços particula-res. Todos os pedidos devem ser formali-zados e documentados, com uma expla-nação breve da utilização pretendida pa-ra o material, e devem ser assinados por um profissional qualificado e autorizado a manipular a linhagem requerida. Em ca-sos específicos de linhagens de micror-ganismos patogênicos ou potencialmen-te patogênicos para animais, humanos e/ou plantas, a solicitação deverá incluir uma declaração assinada do solicitante assumindo os riscos e as responsabilida-des associados ao recebimento, manipu-lação, armazenamento e uso dos micror-ganismos/material em questão.

10.2. As coleções que fornecem cultu-ras devem ser capazes de realizar a en-trega do material contido em seu catálo-go. Se as culturas não puderem ser entre-gues dentro do prazo estipulado por ra-zões técnicas ou científicas (por exem-plo, se a taxa de crescimento for muito len-ta), estas devem estar indicadas nos catá-logos, nas listas ou nas bases de dados. Os valores relacionados ao serviço de dis-tribuição de culturas irão variar de acordo

10. Distribuição de Culturas

com a política financeira de cada coleção.

10.4. As culturas que por alguma ra-zão não estejam disponíveis para o aces-so público não devem estar listadas no ca-tálogo da coleção. As culturas com distri-buição restrita devem estar claramente identificadas.

10.5. As coleções devem manter os re-gistros dos clientes que receberam cultu-ras, incluindo a identificação do material biológico enviado (números da linhagem e do lote), método e data do envio, e nome e endereço da pessoa a quem o material foi enviado. Assim, caso haja algum tipo de problema ou necessidade de forneci-mento de informações adicionais, os re-ceptores do material podem ser facilmen-te localizados e notificados.

10.6. Quanto ao envio de culturas pela coleção, os regulamentos de postagem, incluindo embalagem e rotulagem, de-vem ser atendidos.

11.1. As coleções necessitam assegu-rar uma ampla visibilidade sobre o acervo e os serviços oferecidos. Isto pode ser rea-lizado através da preparação de folders, participação em workshop e conferênci-as, publicação de artigos e colaboração com outras instituições.

11.2. A visibilidade também pode ser ampliada pelo desenvolvimento de web si-tes na Internet. Os sites podem fornecer informações sobre os catálogos, dados das linhagens, serviços, contato e publi-cações. Ainda, a manutenção de hyper-links em locais estratégicos (como por exemplo, as sociedades científicas, ba-ses de dados, boletins de notícias, site da WFCC) pode agregar valor ao plano pu-blicitário da coleção.

12.1. As coleções podem oferecer uma variedade de serviços especializa-dos visando atender a demanda da comu-nidade científica e industrial de uma re-gião ou do país. Se tais serviços forem ofe-recidos pela coleção, eles precisam ser

11. Publicidade

12. Outros Serviços

cuidadosamente planejados, pois na mai-oria das vezes, eles requerem instala-ções específicas e recursos humanos es-pecializados.

12.2. Se os serviços de identificação taxonômica forem oferecidos, a disponi-bilidade de recursos humanos (seja da co-leção ou de uma instituição associada) apropriadamente treinados para a execu-ção desta tarefa deve ser levada em con-sideração.

12.3. Se os serviços de depósito para fins de registro de patentes forem ofereci-dos, eles devem ser operados de acordo com os procedimentos estabelecidos no tratado de Budapeste (Regulamento, 1977; Guia de depósito de microrganis-mos sob o Tratado de Budapeste, 1988, - ambos publicados pela Organização Mun-dial de Propriedade Intelectual, Gene-bra).

12.4. Se os serviços de consultoria fo-rem oferecidos, deve ser dada atenção es-pecial à provisão de infra-estrutura apro-priada e pessoal especificamente treina-do (veja item 9.1).

13.1. Devem ser mantidos registros pa-ra cada linhagem do acervo e estes devem incluir as seguintes categorias de informa-ção: localização geográfica, substrato ou hospedeiro, data de isolamento, nome da pessoa que isolou a linhagem, depositante (ou outra fonte da linhagem, tal como uma outra coleção), o nome da pessoa que identificou a linhagem, os procedimentos de preservação utilizados, meios e tempe-raturas ótimas de crescimento, dados de características bioquímicas, entre outros, e se for o caso, as condições de regula-mentação (por exemplo: quarentena, nível de risco biológico, status de patente).

13.2. Os registros devem ser preferen-cialmente computadorizados e no caso de possibilidade de distribuição das informa-ções via Internet os formatos devem ser compatíveis com a World Wide Web. Em al-gumas regiões, existem bases de dados re-gionais em desenvolvimento e as cole-ções devem considerar a colaboração com tais iniciativas.

13. Documentação e Informatização

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13.3. Por questões de segurança, é re-comendável que os registros computadori-zados sejam duplicados ou cópias destes registros sejam mantidas em locais separa-dos. (veja item 8.3).

13.4. Se os registros de dados forem efetuados em sistemas informatizados (computadores), a equipe de funcionários da coleção deve estar familiarizada com a operação do sistema.

14.1. Catálogos impressos e/ou eletrô-nicos contendo o material microbiológico disponível para distribuição devem ser pro-duzidos e atualizados regularmente. A peri-odicidade da publicação será ditada pela quantidade de depósitos realizados.

14.2. Os catálogos computadorizados podem ser distribuídos através da Internet ou em CD-ROM, e podem ser freqüente-mente atualizados.

15.1. Os programas de pesquisa devem fazer parte da coleção ou das atividades dos laboratórios que a abrigam, pois man-tém a equipe de profissionais atualizados com os novos desenvolvimentos, aumen-tando assim o status da qualidade da cole-ção. Em adição, contribuições importantes podem ser incorporadas ao grupo de orga-nismos mantidos, incluindo a ampliação do conhecimento da morfologia, taxonomia, fi-siologia, bioquímica e genética.

15.2. As coleções são os locais apropri-ados para o desenvolvimento de estratégi-as e procedimentos para o isolamento e identificação de organismos ou de produtos particulares, testes de controle de qualida-de, protocolos de preservação para linha-gens sensíveis que são difíceis de preser-var por procedimentos rotineiros, como tam-bém para o desenvolvimento de meios de cultivo e condições ótimas de crescimento.

16.1. Os membros da equipe de funcio-nários devem receber treinamento específi-co para as atividades que irão desenvolver.

14. Catálogos

15. Pesquisa

16. Treinamento

Durante um treinamento, é importante que se tenha estrutura e supervisão

adequada, bem como é necessário que seja verificado se os requerimentos de biossegurança estão sendo aplicados.

Nenhum funcionário deve ser alocado para a realização de qualquer tipo de trabalho sem ter sido treinado por um especialista. Os funcionários da equipe da coleção devi-damente treinados podem ser designados para ministrar treinamento para outros so-bre as técnicas relacionadas a preserva-ção, crescimento, e identificação de micror-ganismos.

16.2. Durante um treinamento, é impor-tante que se tenha estrutura e supervisão adequada, bem como é necessário que se-ja verificado se os requerimentos de bios-segurança estão sendo aplicados.

17.1. Os aspectos de segurança refe-rente a todas as operações realizadas na coleção precisam ser cuidadosamente con-trolados principalmente no que diz respeito aos regulamentos nacionais de segurança e saúde, e também com relação às boas práticas de laboratório.

17.2. Atenção especial deve ser dada às linhagens potencialmente prejudiciais ao homem, animais e plantas.

17.3. O recebimento e estocagem de material nas coleções microbiológicas de-vem ser documentados e realizados com base em procedimentos seguros, e de pre-ferência em áreas apropriadas para estas finalidades. Os diferentes tipos de material biológico microbiano, principalmente os desconhecidos ou de potencial risco bioló-gico, devem ser abertos e manipulados em câmaras especiais (e.g., fluxos laminares) localizadas em laboratórios capacitados e autorizados que garantam a segurança du-rante a abertura e o processamento (veja item 9.4).

17. Padrões de segurança e de qualida-

de

17.4. As coleções devem considerar a possibilidade de operação dentro de reco-nhec idos pad rões de ce r t i f i ca-ção/acreditação (por exemplo: ISO), os qua-is indicam operacionalidade com qualidade assegurada.

18.1. Os microrganismos são isolados, cultivados, caracterizados, preservados, armazenados e transportados entre labo-ratórios. São enviados por vários meios (correio aéreo ou terrestre), de um labora-tório a outro dentro dos países, e freqüen-temente atravessam fronteiras continenta-is. Os microrganismos podem ser envia-dos para fins de identificação, referência, pesquisa ou para produção de substânci-as ou compostos comerciais. Entretanto, todas estas ações devem ser realizadas com segurança e em conformidade com as diversas legislações e regulamentos que controlam estes materiais. Neste con-texto, as coleções devem assegurar que to-das as leis e regulamentos sejam aplica-dos em seus procedimentos.

18.2. Uma coleção de culturas deve es-tar em conformidade com:

Requerimentos de saúde e seguran-

ça18.2.1. A coleção deve por em prática os

procedimentos que garantem a saúde e a segurança de qualquer pessoa que possa estar exposta durante a realização das ativi-dades da coleção. Isto requer que sejam re-alizadas avaliações apropriadas e que se-jam revisadas e documentadas regular-mente. A distribuição de microrganismos pa-ra locais fora do ambiente da coleção re-quer a extensão destas obrigações para que os clientes também estejam protegidos.

18. Conformidade com as leis naciona-

is e internacionais

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Classificação dos microrganismos

de acordo com o risco biológico18.2.2. A Organização Mundial de Saú-

de classifica os microrganismos em qua-tro grupos de acordo com o risco biológi-co:

Grupo de Risco 1: (nenhum ou baixo risco para os indivíduos e comunidade). Microrganismos com pouca ou nenhuma probabilidade de causar doença em ani-mais e seres humanos.

Grupo de risco 2: (risco moderado para os indivíduos, baixo risco para a co-munidade). Patógeno que pode causar doença em seres humanos e animais mas com pouca probabilidade de perigo para os trabalhadores do laboratório, co-munidade, animais ou meio ambiente. A exposição pode causar infecção, mas existem tratamentos eficazes e medidas preventivas disponíveis, assim como o risco de propagação da infecção é bas-tante limitado.

Grupo de risco 3: (alto risco para os indivíduos, baixo risco para a comunida-de). Patógeno que geralmente causa sé-rios danos para a saúde humana e ani-mal, mas que não pode se espalhar co-

É recomendável que as coleções possuam registro no Centro de Dados Mundial de Microrganismos (World Data Center on Microorganisms, WDCM) da WFCC

mumente de um indivíduo infectado para o outro. Existem tratamentos efetivos e medidas preventivas disponíveis.

Grupo de risco 4: (alto risco para os indivíduos e comunidade). Patógeno que frequentemente causa sérios danos para a saúde humana e animal e que pode rapi-damente ser transmitido de um indivíduo para o outro, diretamente ou indiretamen-te. Os tratamentos efetivos e as medidas preventivas geralmente não estão dispo-níveis.

18.2.3. Os organismos geneticamen-te modificados (OGMs) são classificados em Grupo I e Grupo II de acordo com a Co-missão Técnica Nacional de Biossegu-rança (CTNBio):

Grupo I: OGM que se enquadrar no critério de não patogenicidade, resultan-do de organismo receptor ou parental não patogênico (classificado como grupo de risco 1)

Grupo II: OGM qualquer organismo que, dentro do critério de patogenicidade, for resultante de organismo receptor ou parental classificado como patogênico (classificados como classe de risco

2, 3, ou 4) para o homem e animais.

Regulamentos de quarentena18.2.4. Os clientes que desejam obter

culturas de patógenos de plantas devem primeiramente obter uma licença das auto-ridades competentes para importar, mani-pular e armazenar este tipo de material. A coleção deve requerer uma cópia da licen-ça antes do fornecimento da linhagem.

18.2.5. Patógenos de plantas manipu-lados por coleções de culturas que são ob-

jetos dos regulamentos de quarentena de-vem ser registrados por um órgão gover-namental apropriado. A importação e transferência de tais patógenos dentro do país devem ser realizadas com a permis-são do órgão governamental.

Direitos de Propriedade Intelectual

(DPI)18.2.6. A coleção deve assegurar que

as informações sobre a posse dos Direitos de Propriedade Intelectual sejam transferi-das à terceira parte (receptora do material

biológico) por meio de um termo de trans-ferência de material (TTM).

Convenção sobre Diversidade Bio-

lógica (CDB)18.2.7. A coleção deve requerer que

os coletores de recursos genéticos pos-suam consentimento prévio do país no qual eles desejam realizar coleta de orga-nismos. Assim, os benefícios resultantes da utilização destes organismos preci-sam estar acordados. O compartilha-mento de benefícios pode incluir ele-mentos monetários, informação, trans-ferência de tecnologia e treinamento.

18.2.8. A coleção deve assegurar a transparência, mantendo a ligação entre o país de origem e todos os receptores de material biológico. O material biológi-co deve ser recebido e fornecido dentro do espírito da CBD e o TTM deve ser as-segurado.

Regulamentos de transporte de

culturas18.2.9. Os regulamentos específicos

para embalagem e transporte de materi-al biológico devem ser implementados na rotina da coleção. No caso de trans-porte aéreo os regulamentos da Associa-ção Internacional de Transportes Aéreos (International Air Transport Association - IATA) precisam ser seguidos.

Controle de distribuição de materi-

al biológico18.2.10. Existe uma considerável pre-

ocupação com relação à transferência de determinados agentes infecciosos, capazes de causar danos para a saúde humana. Tais organismos não devem ser enviados para solicitantes não pre-parados para manuseá-los ou para pes-soas que possam fazer uso ilegal deste material. Alguns países possuem estrito controle com relação à movimentação de tal material biológico fora de seu terri-tório

18.2.11. A coleção deve aplicar os pro-cedimentos exigidos pela legislação na-cional, checar a competência dos clien-tes que desejam receber organismos pe-rigosos, e na dúvida negar as solicita-ções de aquisição do material.

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19. Colaboração Nacional e Internaci-

onal

19.1. As coleções, bem como a equi-

pe de funcionários sênior associados a

elas devem ser incentivados a atuar em

federações e associações sobre o tema.

Muitos países possuem associações ou

federações de coleções, que fornecem

excelentes oportunidades para a troca

de informações e discussões de proble-

mas em comum.

19.2. A Federação Mundial de Cole-

ções de Culturas (WFCC) possui comi-

tês relacionados com as áreas de educa-

ção, patentes, regulamentos de posta-

gem, quarentena e segurança, biodiver-

sidade e publicidade. Estas informações

podem ser úteis no estabelecimento de

novas coleções.

19.3. É recomendável que as cole-

ções possuam registro no Centro de Da-

dos Mundial de Microrganismos (World Data Center on Microorganisms,

WDCM) da WFCC. Esta base de dados

internacional é publicada como um dire-

tório impresso e está também disponível

online no web site da WFCC.

19.4. As colaborações fornecem visi-

bilidade para as coleções. Colaborações

com relevantes redes são recomenda-

das, pois podem facilitar a comunicação

e a troca de dados em nível internacio-

nal.

20. Bibliografia

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A Sociedade Americana de Microbiologia (ASM), uma das ma- var a integração entre os microbiologistas do mundo inteiro. Na is expressivas sociedades científicas das ciências da vida, con- qualidade de Embaixadora (“ASM Ambassador”) do Comitê Inter-grega mais de 42.000 membros dos quais 30% residem fora dos nacional da ASM gostaríamos de divulgar três programas princi-EUA. Nesse sentido, a ASM vem executando ações para incenti- pais na nossa comunidade:

Agenda in Foco

Notícias - ASM

Maiores informações:http://www.asm.org/International/index.asp?bid=399

Para aplicações de bolsa estudante ou Professor, e-mail: [email protected] Irma N. G. Rivera - Embaixadora Brasil

E-mail: [email protected]

1. Programa Bolsa ASM Internacional para a América Latina e o Caribe: são oferecidas bolsas de US$ 4.000,00 para jovens cientistas membros da ASM que visitam uma universidade/entidade anfitriã nos EUA ou Canadá, pelo pe-ríodo de 6 semanas até 6 meses.

2. Programa Bolsa ASM Internacional, para Pesquisador norte americano membro da ASM, para ministrar um curso de PG na América Latina e o Caribe com ajuda de custo de US$ 4.000,00.Data limite para aplicação: 15 de abril para o período de julho-dezembro e 15 de outubro para o período de janei-ro-junho.

3. Programa “International Mentoring Program”, para assistência e procura de centros anfitriões nos EUA.

Você pode se associar a ASM pagando anualmente: US$ cionados, obterem descontos em eventos promovidos pela 17,00 (estudantes), US$ 57,00 (membros plenos) ou US$ ASM e em assinatura de revistas e compra de livros, entre ou-37,00 (Pos Doc) e poderá participar dos programas acima men- tros benefícios.

05 CONGRESSO BRASILEIRO DE MICOLOGIAEntre 12 e 16 de novembro de 2007 será realizado em Recife, sob os auspí- tação oral de trabalho. Haverá espaço para discussões sobre o ensino, a pes-

cios da Sociedade Brasileira de Micologia (SBMy) o 5º Congresso Brasileiro de quisa e a extensão na área da micologia, renovando conhecimentos, trocas de Micologia (SBMy). O Congresso será presidido pela Profa. Dra Leonor Costa experiências e posicionamentos sobre os novos desafios que se apresentam, vi-Maia da Universidade Federal de Pernambuco e terá como tema central "A Mi- sando a conservação e a utilização inteligente da micota brasileira. Serão valori-cologia no Brasil: o começo, onde estamos e o que almejamos", com o objetivo zados os conhecimentos de atuais pesquisadores, futuros membros da comu-de estimular o estudo e o interesse pela micologia em todos os seus aspectos, nidade científica e formuladores de políticas públicas, para o direcionamento de além de aproximar os estudiosos e incentivadores desta área do conhecimento. ações nas áreas de saúde, biotecnologia, conservação da diversidade e do am-A programação científica constará de conferências, palestras, mesas- biente.redondas, simpósios e mini-cursos, além de apresentações orais e de painéis, Espera-se que, além de participarem ativamente do Congresso, os partici-envolvendo temas gerais e específicos da micologia. pantes desfrutem das belezas naturais do Recife, uma das cidades com maio-

Os estudantes poderão concorrer ao Prêmio Chaves Batista, de acordo res opções de turismo histórico, cultural e gastronômico, aproveitando os en-com sua categoria (graduando ou pós-graduando), participando com apresen- cantos e a hospitalidade pernambucana.

CONGRESSO DE VIBRIOSVeja detalhes no site:

http://www.pasteur.fr/infosci/conf/sb/vibrio2007/

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Emprego in Foco

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Genética da Uni- gas: 20 vagas. Provas para seleção serão realizadas no período de 10 a versidade Federal de Minas Gerais FAZ SABER que estarão abertas as 13 de dezembro de 2007, no horário de 08:00 às 12:00 e de 14:00 às inscrições para seleção ao Curso de Pós-Graduação em nível de Mes- 18:00 horas no Bloco H3 sala 309. O edital completo encontra-se à dis-trado. As inscrições serão recebidas na Secretaria do Curso, Departa- posição no endereço http://www.icb.ufmg.br/genetica ou na secretaria mento de Biologia Geral, ICB-UFMG, Av. Antônio Carlos, 6627 - Pampu- do Programa de Pós-Graduação em Genética, Departamento de Biolo-lha, Belo Horizonte, MG, no período de 13 de agosto a 26 de novembro gia Geral, ICB/UFMG. Tel/Fax.: 31-34992570. Belo Horizonte, 16 de ju-de 2007, de 2a. a 6a. feira, das 10:00 às 12:00 horas e das 14:00 às lho de 2007. Prof.Vasco Ariston de Carvalho Azevedo - Coordenador do 16:30 horas, ou pelo Correio, com data da postagem até 26/11/2007. Va- Programa de Pós-Graduação em Genética.

The American Society for Microbiology is seeking highly qualified individuals to work as consultants for capacity building of international HIV/AIDS cli-nical microbiology laboratories in resource-poor settings, especially in sub-Saharan Africa. Consultants experienced in providing technical guidance for Mycobacterium tuberculosis (TB) laboratory design and renovation are needed.

Qualifications - International experience, experience in resource-poor countries preferred

?

?- Diagnostic experience with TB, multi-drug resistant (MDR) TB, and/or other opportunistic infections ?- Understanding of physical laboratory infrastructure requirements (i.e. power supply, water supply, etc) ?- Knowledge of air ventilation requirements for bio-containment purposes (i.e. using biosafety cabinets to create negative pressure, extractor fans,

etc) ?- Understanding of TB laboratory equipment requirements and installation ?- Familiarity with tendering and contracting requirements and in working with local public authorities with respect to renovations ?- Valid passport ?

Please include the maximum amount of time you can be away from your permanent job or residence, lead time required before accepting

an assignment, and details on any diagnostic or international experience as well as any foreign language skills. If you are interested in participating in these activities, please submit a cover letter and a detailed CV by email to Jennifer Sanwogou, International La-

boratory Capacity Building Program Coordinator, [email protected]. To learn more about ASM’s International Laboratory Capacity Building Program activities, please visit

Steven Specter, Ph.D. Chair, International Laboratory Capacity Building Committee, ASM If you do not want to receive these emails in the future, send a message to [email protected] requesting to unsubscribe. Include your name and

ASM member number. ASM will honor all ‘remove’ requests received within 30 days of the date of this mailing. Our mailing address is: American Soci-ety for Microbiology, 1752 N Street, NW, Washington, DC 20036.

- Knowledge of international laboratory standards

http://www.asm.org/International/index.asp?bid=40306

TB Laboratory Design and Renovation Consultants Needed

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISPÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA (MESTRADO)

Notícias in Foco

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Procedimento:

Valores:

Formas de pagamento:

O interessado deverá preencher a ficha de adesão, especificando a categoria (Estudante de graduação, Estudande de Pós-Graduação ou Profissional).

Estudantes: R$ 90,00 (Anual)Profissionais: R$ 175,00 (Anual)

1. Depósito bancário identificado em nome da SOCIEDADE BRASILEIRA DE MICROBIOLOGIA (CNPJ 43.323.484/0001-12) e envio de uma cópia do comprovante via FAX (11) 3813-9647:Banco do Brasil: 001 - Agência: 3559-9 - c/c: 16509-3

2. Enviar a ficha de adesão por E-mail ([email protected]), solicitando o boleto bancário.

COMO ASSOCIAR-SECOMO ASSOCIAR-SE

FICHA DE ADESÃOFICHA DE ADESÃO

DATA:___________________________________________________________ ANO DE REFERÊNCIA:___________________________

Categoria: ( ) Estudante de Graduação ( ) Estudante de Pós-Graduação ( ) Profissional

Nome completo:__________________________________________________________________________________________________

RG:______________________________________________________ CPF:________________________________________________

Endereço Res:____________________________________________________________________________________________________

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Cidade:__________________________________________________________ UF:___________ CEP:__________________________

TEL.:____________________________________________________ FAX:________________________________________________

E-MAIL:_________________________________________________________________________________________________________

Instituição:_______________________________________________________________________________________________________

Departamento:___________________________________________________________________________________________________

Cargo que exerce:_________________________________________________________________________________________________

Titulação:________________________________________________________________________________________________________

Endereço:_______________________________________________________________________________________________________

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Cidade:__________________________________________________________ UF:___________ CEP:__________________________

TEL.:____________________________________________________ FAX:________________________________________________

E-MAIL:_________________________________________________________________________________________________________

Microbiologia Especializada em:

1.Alimentos (MAL); 2.Ambiental (MAM); 3.Básica (BAS); 4. Biotecnologia (BIO); 5.Clínica (MC); 6.Industrial (MIN); 7.Micologia (MI);

8.Micotoxinas (MX); 9.Oral (MO); 10.Solo (MS); 11.Veterinária (MV); 12.Virologia (VI); 13.Outros (especificar):

Endereço para correspondência: Residencial ( ) Comercial ( )

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Presidente

Vice-presidente

1º Secretário

2ª Secretaria

1º Tesoureira

2º Tesoureiro:

Conselho Fiscal:

Profa. Dra. Marina Baquerizo [email protected]

Profa. Dra. Marisa Landgraf

Prof. Dr. Jorge Luís de Melo Sampaio

Profa. Dra. Loreny Gimenez Giugliano

Profa. Dra. Marcia Alves Pinto Mayer

Prof. Dr. Alexandre Soares Rosado

Membro: Bernadette Franco (FCF-USP)Membro: Antonio Fernando Pestana de Castro (ICB- USP)

Membro: Carlos Pelleschi Taborda (ICB-USP)

Microbiologia Médica Microbiologia de Solos VirologiaBeatriz Guth, UNIFESP, SP Alexandre Rosado, UFRJ, RJ Maria Lucia Racz, USP, SPAgnes Sá Figueiredo, UFRJ, RJ Mariangela Hungria, EMBRAPA, PR Divina das Dores de Paula Cardoso, [email protected] [email protected] UFG, GO

[email protected]ção Hospitalar Microbiologia de AlimentosCarlos Emilio Levy, CINHE Boldrini, SP Mario Killner, SFDK, SP Coleções de CulturaKatia Regina Netto dos Santos, UFRJ, RJ Ricardo Souza Dias, FUNED, MG Rosana Filomena Vazoller, USP, [email protected] [email protected] Lara Durães Sette, UNICAMP, SP

[email protected] Microbiologia Clínica Microbiologia IndustrialLauro Santos Filho, UFPb, PB Adalberto Pessoa Jr, USP, SP Ensino de MicrobiologiaPedro Alves D´Azevedo, FFFCMPA, RS Glaucia Pastore, UNICAMP, SP Maria Ligia Carvalhal, [email protected] [email protected] Márcia Zorello Laporta

[email protected]ção Parasita-Hospedeiro Microbiologia VeterináriaCarlos Pelleschi Taborda, USP,SP Walter Lilenbaum, UFF, RJ Sociedade Brasileira deMarcelo Torres Bozza, UFRJ, RJ Silvio Arruda Vasconcellos, USP, SP [email protected] [email protected] Av. Professor Lineu Prestes, 2415

ICB III - Cidade UniversitáriaMicrobiologia Ambiental Micologia 05508-900 - São Paulo/SPLeda C. S. Mendonça Hagler, UFRJ, RJ Maria José Mendes Giannini, UNESP, SP Telefax: 55.11.38139647Irma Nelly Gutierrez Rivera, USP, SP Rosane Christine Hahn, UFMT, MT [email protected] [email protected] [email protected]

DiretoriaDiretoriaBiênio 2006-2007

Representantes de ÁreaRepresentantes de ÁreaSBM 2006-2007

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