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DESEMBAR UE O REVISTA N.º 18 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · JUNHO 2014 4 trilogia poética séculos fuzileiros

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Publicação Periódica daAssociação de Fuzileiros

Revista n.º 18 • Junho 2014

PropriedadeAssociação de Fuzileiros

Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.2830-356 Barreiro

Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461email: [email protected]

www.associacaofuzileiros.pt

Edição e RedacçãoDirecção da Associação de Fuzileiros

DirectorJosé Ruivo

Directores AdjuntosMarques Pinto, Leão Seabra e

Benjamim Correia

Editor PrincipalMarques Pinto

ColaboraçõesDelegações da AFZ,

LP, MP, CM, Ribeiro Ramos,Miranda Neto, CMP, CCFZ, EFZ, BFZ,Paulo Gomes da Silva e José Horta

Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro Gonçalves, Mário Manso e Lema Santos

Fotografia de Capa: Mário MansoArranjo: Manuel Lema Santos

Coordenação gráficae paginação electrónica

Manuel Lema [email protected]

Impressão e acabamentoGMT – A. Gráficos, Lda.

Rua Sebastião e SIlva, n.º 79, Piso OMassamá – 2745-838 Queluz

Tel.: 214 382 960 Email: [email protected]

Tiragem2.000 exemplares

Depósito legal n.º 376343/14ISSN 2183-2889

Não reconhecemos qualquer nova forma de ortografia da língua portuguesa mas, no respeito por diferente opção, manteremos os textos de terceiros aqui publicados que

configurem outra forma de escrita.

índice ficha técnica

O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Editorial

Um Novo Mandato 3

Cultura & Memória

O DFE 12 volta ao Senegal – A perfeição do golpe de mão em Sanou 4

Cartas à Direccão

Carta de Francisco Pereira 5

Poemas de Augusto Beja e de Rogério dos Santos 5

Carta de José de Campos Luís 6

Eleições

Assembleia-Geral Ordinária e Eleitoral – 29 de Março de 2014 8

Entrevista

Almirante José Carlos Torrado Saldanha Lopes 11

António Marreiros – “Marujinho”( Sócio n.º 2314 14

Contos & Narrativas

Estórias por Contar – A propósito de uma evacuação 18

Guarda Avançada em Terras de Niassa 20

Castufo com sabor a leite de rosa 21

Opinião Contribuir para a Paz 24

Um Patrono para os Fuzileiros? 25

Trilogia Poética

“4 Séculos de História” – Lançamento de DVD 26

Almoço de Natal

O Almoço/Convívio de Natal – 14 de Dezembro de 2013 28

Cadetes do Mar

Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros 31

Corpo de Fuzileiros

Escola de Fuzileiros – Formação 37

Fuzileiros na Somália 41

Convívios

Companhia de Fuzileiros N.º 3 – Angola 1972/74 43

23.º CFORN volta à “Casa Mãe” – 40.º Aniversário 43

Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12 – Guiné 1967/69 45

40.º Aniversário do 24.º CFORN 46

Delegações

Delegação de Vila Nova de Gaia 47

Eventos Associação dos Veteranos e Combatentes do Oeste (AVECO)

Comemoração dos 40 anos do 25 de Abril (Lourinhã) 49

Obituário 51

Diversos 51

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editorial

3O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

No passado dia 29 de Março de 2014 foram eleitos novos corpos sociais, em Assembleia Geral, para o biénio 2014/2015, numa bem participada Assembleia Geral e Eleitoral.

Quero aproveitar este primeiro editorial para levar ao conhecimento de todos, em especial dos que não puderam estar presentes, as

linhas principais do programa de acção da nova Direcção.

Na primeira linha de acção, refere-se a preservação dos valores de referência da Associação de Fuzileiros, no cumprimento dos seus

fins estatutários. Neste âmbito, a Direcção compromete-se a promover a salvaguarda, a conservação e o desenvolvimento de valores

como a camaradagem, a lealdade, a coragem, assim como a solidariedade entre os Fuzileiros.

De seguida surge o compromisso de consolidar e dar continuidade às previligiadas relações da Associação com a Marinha, em particu-

lar com o Corpo de Fuzileiros, assim como com o Município do Barreiro e respectivas Autarquias. No cumprimento deste desiderato, a

Direcção cumpriu já um programa de apresentação de cumprimentos ao CEMA, Almirante Macieira Fragoso, ao Presidente da Câmara

do Barreiro, Sr. Carlos Humberto Carvalho, ao Comandante do Corpo de Fuzileiros, CALM Cortes Picciochi e ao Director Geral da DGAM

(Direcção Geral da Autoridade Marítima), VALM Cunha Lopes. Ainda neste âmbito foram convidados, pela nova Direcção, para um al-

moço no restaurante da nossa Associação o Presidente da Câmara do Barreiro e os Presidentes das respectivas Juntas de Freguesia.

Uma das linhas de acção que considero mais importantes é a defesa dos interesses dos associados, uma vez que é a principal razão

da existência da Associação de Fuzileiros, procurando apoiar os sócios que se encontrem em maiores dificuldades quer no âmbito

social, económico ou da saúde, e promovendo e reforçando os laços de união entre todos aqueles que pertencem à grande família dos

fuzileiros.

Igualmente importante considera-se a preservação da memória dos fuzileiros, pelo que a Direcção irá desenvolver um projecto nesse

sentido, para que, quem quiser, possa relatar as suas estórias de modo a que estas memórias não se percam, uma vez que a passagem

do tempo é inexorável. Logo que possível, pretende-se que estas conversas sejam passadas a escrito e venham a constituir, mais tarde,

um livro de memórias.

Verificamos assim que a Direcção se propõe orientar os seus esforços segundo duas vertentes: uma componente de projecção externa,

promovendo o prestígio da Associação, visando prestar um serviço a Portugal, à Marinha e aos seus Fuzileiros, e outra componente de

projecção interna, mais voltada para a defesa dos interesses e elevação dos valores cívicos dos sócios e a promoção dos laços que a

todos devem unir, privilegiando aspectos como a solidariedade e a entreajuda.

Como objectivos prioritários salientam-se: a organização próxima (dia 5 de Julho) do “Dia do Fuzileiro” 2014, em parceria com o Corpo

de Fuzileiros, subordinado ao tema “O Fuzileiro do Futuro”; a realização de reuniões de trabalho com as diversas Delegações, com a

finalidade de as dinamizar e fortalecer a ligação entre si e com a Direcção Nacional; fomentar e apoiar a criação de novas Delegações

ou núcleos, de modo a que tenhamos uma cobertura nacional, trazendo mais fuzileiros ao nosso convívio.

“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre”

José Ruivo

Presidente da Direcção

Um Novo Mandato

José Ruivo

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cultura&memória

4 O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

O DFE 12 volta ao SenegalA perfeição do golpe de mão em Sanou

No número 17 da revista, dei à estampa, a pp. 37-39, um ar-tigo versando dois assaltos consecutivos do DFE 12 à Base de Cumbamory, no Senegal. Foram as operações «Catanada»

e «Cocha». O artigo, comprimindo ao máximo os acontecimentos num esforço de síntese muito apertada, resultou de uma investiga-ção que há muito me propusera e em cujo âmbito acedi a elemen-tos documentais. Apenas mencionei um ou outro. A seu tempo, que será o tempo da desclassificação das fontes, a historiografia militar de topo, de nível universitário, trará a lume tudo quanto a propósito existe. Deste modo, tranquilizo alguns leitores benévolos, camara-das muito amigos, que me disseram que as operações abordadas não interessariam a História Militar por inexistirem os respectivos relatórios. Pois muito bem: a história faz-se de factos, não se faz de relatórios e, ademais, pelo menos que se saiba, ninguém elaborou o relatório da Batalha de Aljubarrota e, no entanto, ela aconteceu e conhecemo-la quase pormenorizadamente. A crónica de Fernão Lopes, guarda-mor da Torre do Tombo, não é nenhum relatório militar, sabendo-se que, nalguns pontos, é fantasiosa, como no--lo demonstrou a historiografia militar mais recente e autorizada. Insisto, portanto, em que, com relatório ou sem relatório, ninguém duvida de que a Batalha de Aljubarrota ocorreu e dela decorreu a selagem da independência nacional portuguesa. E porque ocorreu é justamente o facto de haver ocorrido que mais importa. O mes-mo – exactamente o mesmo – se diga das operações «Catanada» e «Cocha», cujas provas primeiras, simultaneamente intuitivas e tangíveis, radicam justamente no reconhecimento das suas de-signações. Posta esta sumária prestação de contas, continuemos, até mais ver, a saga do DFE 12. Como se sabe, o golpe de mão é uma operação ofensiva realizada de surpresa contra uma força ou instalação inimiga e consiste na deslocação e progressão em segredo até às proximidades do objectivo e no ataque fulminante para aniquilar forças lá instaladas, destruir as instalações, quartéis, paióis de armas e acampamentos ou colher informações através de prisioneiros, documentos e equipamentos. Na Guerra do Ultra-mar, como se sabe também, as maiores probabilidades de sucesso

do golpe de mão obtinham-se projectando forças especiais, por via anfíbia ou por via heli--transportada, para muito junto do alvo. Tratava-se, pois, de uma operação militar perigo-síssima, sobretudo num Teatro de Operações (TO) como o da Guiné ou, pior ainda, quando realizada no interior do Sene-gal. Não se projectavam forças na rectaguarda do IN. As forças eram projectadas no próprio cerne do IN, quantas vezes sem apoio de fogos próximo, sem preparação aéreo-naval prévia e sem forças de reforço dos

grupos de assalto. E tanto mais perigosa ainda quanto é certo que entre a força atacante e o objectivo mediavam problemas de cál-culo relacionados com a baixa-mar e a preia-mar, a habitual proxi-midade de tarrafo e de lodo e, depois, a transposição de bolanhas planas, abertas e desabrigadas, exactamente como nos mostra a indústria cinematográfica norte-americana acerca do Vietname. Só não podemos tomar por bons exageros tais como exibir fuzileiros estadunidenses perseguindo vietcongues na noite cerrada da sel-va vietnamita em desenfreada correria e sem dispositivos de visão nocturna. Isso não é possível. Ora, em Setembro de 1970, na se-quência de intensíssima actividade em terra, o DFE 12 concebeu um golpe de mão a uma outra grande Base do PAIGC no Senegal, recentemente constituída na localidade de Sanou, situada a dois quilómetros da fronteira Norte da Guiné, entre os marcos 131 e 132. Era a partir dessa Base que o IN atacava Barro com intensida-de constante e infiltrava homens e armas em território guineense. O DFE 12 penetrou no perímetro da Base por Bucaur, progredindo através de uma selva densa e de uma bolanha alagadíssima. Sur-giam timidamente os primeiros alvores do dia quando a cabeça do Destacamento topou com uma sentinela adormecida com tanta tranquilidade que havia descalçado as botas. Sentindo os fuzileiros do DFE 12 mesmo em cima de si, de armas aperradas, a sentinela acordou estremunhada, desatou numa correria de pavor, esque-cendo as botas e disparando uns tiros instintivos e sem direcção, instigados pelo medo natural. Os fuzileiros da secção dianteira fo-ram no seu encalce, a fim de evitarem que a sentinela alertasse os camaradas que ainda dormiam. Na correria, a secção descolou do resto da unidade e chegou ao centro da Base, momento em que eclodiu imediata, nutrida e feroz troca de fogo. Os soldados do PAIGC resistiram tenazmente durante uma hora, erguendo uma barragem de fogo elevada, concentrando disparos de bazuca. O que defenderia o IN com tanto denodo? O facto é que o confronto, dada a proximidade que se estabeleceu entre os combatentes de ambos os lados, evoluiu quase corpo a corpo. Ao cabo de uma hora, o IN silenciou as armas e debandou, deixando no local três mor-tos, uniformizados, e muito sangue espalhado, que não conseguiu disfarçar, como habitualmente fazia. Abandonou também o maior depósito de fardamento que o DFE 12 viu em toda a campanha da Guiné, suficiente para equipar uma companhia, muitas granadas e documentos. Eram visíveis as marcas das rodas de armas pesadas que o IN, na fuga, conseguiu deslocar. O DFE 12, que não registou mortos nem feridos, destruiu todo o material que não conseguiria transportar, zarpou rumo a Bigene e daí para Ganturé. Este golpe de mão, cumprindo os requisitos da surpresa, da rapidez e da efi-cácia absolutamente destrutiva, teve, como efeito imediato, o facto de o PAIGC haver deixado de atacar Barro durante meses. No mês de Outubro seguinte, o DFE 12 sofreu a sua única morte durante toda a campanha: o Marinheiro Ulisses Pereira Correia, de alcunha Max Mine, a quem se presta a devida homenagem.

Gomes da SilvaSóc. Orig. n.º 2243

Paulo Gomes da Silva

Marinheiro Max Mine

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cartas à direcção

5O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Excelentíssimos Senhores,

Comte Lhano Preto, Doutor Marques Pinto, SMOR Gonçalves,

Digníssima Direção da Associação Nacional de Fuzileiros:

Sendo sócio desde 1996 - N.º 443 é a primeira vez que me dirijo desta forma à Associação.

Permitam-me referir estes três nomes que fazem parte desta Direção, prestes a concluir o seu brilhante mandato... entre muitos outros (camaradas e amigos de longa data: Leal e Couto, camarada e recente amigo Sr. Soares… que privilégio!).

O Comte Preto, pela brilhante condução deste mandato que rapidamente se aproxima do seu termo; o Doutor Marques Pinto, pelo contributo no bem-fazer da “Revista Desembarque” e o salto qualitativo que deu espelhando o trabalho desenvolvido por todos os elementos que fazem parte dos corpos gerentes da Associação, assim como nos tem trazido os eventos dos seus associados, e o SMOR Gonçalves, pela forma calma e serena que transmite no tratamento dos assuntos relativos aos sócios.

Serve o atrás exposto para agradecer a forma hospitaleira, como sempre recebem – apanágio da Marinha – e a forma carinhosa com que receberam o meu convidado Senhor “marujinho” Marreiros já que, desde que o conheci (Julho 2013) anseio ver dado à estampa, na nossa Revista, historiado o seu passado na Briosa.

Obrigado a todos (os corpos gerentes) por tudo o que têm feito nesta alteração radical que é hoje a AFZ, relativamente a um passado não muito distante.

Deixo a mesma questão que há dois dias coloquei ao Sr. Presidente: – Não dá mesmo para continuarem mais um mandato?

Cordialmente,

Muito obrigado

Francisco Pereira

Eu Fuzo de 1961 Augusto BejaTomei a iniciativa de lembrarMomentos dos velhos temposAntes dos meus olhos fechar

Em 1961, como muitos outrosEu podia optar pela emigraçãoMas eu queria ser marinheiroQueria servir a minha nação

Jurei bandeira em 14/07 de 1961Em Outubro de 61 nasci fuzileiroTriste recordação de V.F. de XiraPor ter perdido um companheiro

Em 1961 cheguei à minha aldeiaCom a linda farda da marinhaFizeram-me uma linda festaE lá encontrei uma madrinha

Em 1963 fui ao Vale de ZebroTirar o curso de fuzo especialDura prova de sobrevivênciaFui preso no sul de Portugal

Foi preciso muita coragemPara esse curso terminarDevida às muitas exigênciasCom a guerra no Ultramar

De seguida fui para AngolaFoi duro aquele último beijoAntes de entrar no navioAtracado no rio Tejo

Desejo-vos muita coragemA todos os novos fuzileirosPara mim eu muito aprecioVos sentir nossos herdeiros

1/03/2013

Aonde moras ó fonte dos amoresDa vida do sonho e da arteQuisera esquecer ódios e rancoresPara tranquilo a teu lado namorar-te

Tu que te esquivas para te não veremCom fintas maliciosas de estontearMesmo não sendo a pessoa que desejasSou a cobiça que no desejo faz despertar

Sei que não mereço o teu apreçoSei que perdi a tua amizadeSei que não sou o que pareçoDa paixão dentro de mim sei que é verdade

Quero enxugar a fronte do teu rostoPara que o brilho cubra de novo o teu olharNa graciosa fonte de que tanto gostoFazendo jorrar uma vida para amar

Quando por ti me enamoreiLouca paixão sentiCom carinho e beijos te prendeiCom a primavera a florir

Se tu fosses um fruto silvestreCriado entre outeiros vales e riachosSerias a guloseima campestreQue bago a bago saboreava como amoras em cacho

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cartas à direcção

6 O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Para:

Todos Vós, Filhos da Escola:

Com um grande e saudoso abraço.

A todos vos saúdo, qualquer que seja a patente, cor, ou religião, pois ao falar de Deus, eticamente devo respeitar a intenção do próximo.

Então: Quis Deus, que no dia de hoje, desta forma, eu pudesse falar convosco, e mais nada um filho à casa mãe “Marinha e Associação de Fuzileiros” voltasse.

Há anos que o desejava fazer, só que, eu tal como o faço agora, escrever pelo meu punho, durante largo tempo não o pude fazer, pois o maldito Câncer tomou-me conta dos ossos, mas com o saber dos clínicos, enfermeiros, auxiliares, e Deus e Seus Santos, por de trás de tudo isto, eis-me hoje e desta forma a falar com todos vós, para a partilha e a solidariedade com os irmãos que sofrem, e felicitando os que têm muita e boa saúde e que ela seja sempre fiel companheira para vós.

Agora e também caso me seja permitido e aproveitando a boleia, sem desprimor para cada um de vós, faço questão e de forma res-peitosa e carinhosa, abraçar todos os filhos da Escola que comigo estiveram no meu curso de FZE – Março a Setembro de 1967, sejam Praças, Sargentos ou Oficias.

Saúdo Também e veementemente, os meus queridos e prezados comandantes, e Sargentos “melhor”: Oficiais, Sargentos e Praças, que comigo estiveram cá nas unidades, Ultramar e principalmente no meu querido DFE Nº4, em Moçambique – 1967 a 1969 debaixo de ordens desse grande “Caudilho – Lusitano” de nome soletrado “Egas” que de seu nome próprio se chama hoje e Deus queira que por muitos anos, José Cardoso Moniz.

O que tudo atrás referi, e igualmente extensivo e admirável, à pessoa querida do Sr. Comandante Heitor Patrício que para mim, e pelos feitos em navegação marítima, que meus olhos viram, e “in-loco” senti, “Açores 70/71” navio – “Porto-Santo”, foi para mim e continua a ser, o melhor comandante em saber levar o navio a bom porto e sua tripulação sempre, sã e Salva.

Meus queridos amigos e filhos da escola, bem hajam por tudo, pela camaradagem, partilha, amizade e sobre tudo, por me terem atu-rado, desde comandantes, oficiais sargentos e praças.

Que Deus a todos vós abençoe, extensivo a vossas queridas famílias e com muita saúde e alegria para os bons convívios na casa da nossa Família Naval.

Começa a mão a ficar cansada e eu a escrever à galinha.

Meus prezados amigos, o que quer que me aconteça, nunca haverá doença que me mate. Morro sim, porque Deus é que me chamou.

É com muita alegria e satisfação que de todos vós me despeço, e com um viva daqui e vós ai “Viva a nossa mãe Marinha” e que Deus a todos abençoe assim a nossa querida Associação.

Um até sempre queridos filhos da Escola!José de Campos LuísSóc. Orig. n.º 2340

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cartas à direcção

7O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

PROTOCOLOS SUBSCRITOS PELA AFZ(Com vantagens para os Sócios)

KéroCuidados Presta Serviços a idosos e Famílias

Open Smile Clínica Médica – Presta Serviços Médicos, inclui Méd. Dentista

Associação Recreativa e Desportiva Bons Amigos(ARDBA)

Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas

Grupo Desportivo e Recreativo Unidos da Recosta(GDRUR)

Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas

Editora Náutica Nacional, Lda.(ENN)

Editora de Capitais privados – Edita a Revista de Marinha e também livros

Manuel J. Monteiro & Cª, Lda(MJM)

Especializada na Comercialização de Electrodomésticos, representa as Marcas: Junex, Vaillant, Gorenje, Dito Sama, Gisowatt e Stiebel Eltron

Funerária Central Vila Chã 30% desconto em todos os serviços

Associação Nacional de Agentes de Segurança PrivadaANASP

Formação e Credenciação

Ariston Thermo GroupARISTON

Painéis solares e Bombas de calor, Termoacumuladores eléctricos, a gás e Esquentadores, Caldeiras a gás

Casa de Repouso São João de Deus Acolhimento em regime interno, possui dois estabelecimentos: Lagoa da Palha, Pinhal Novo e Cabeço Verde, Barreiro

Casa de Repouso Quinta da Relva Acolhimento de idosos, lar e cuidados continuados

MH Wellness Club Motricidade Humana

Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Santo André, Barreiro

Kangaroo Health Clube Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Quimiparque, Barreiro

GAMMA Grupo de Amigos do Museu de Marinha

Universidade LusófonaCOFAC – Cooperativa de Formação e Animação Cultural – Lisboa e Porto 10% desconto nas propinas

Universidade Lusófona ISES – Instituto Superior de Segurança - Conferências

Funerária São Marçal 20% – Canha Montijo

SITAVA Parque Campismo – Brejo da Zimbreira, Vila Nova Mil Fontes

Notas da Redacção:

1. – Optámos por não “arranjar” o texto desta carta, para não lhe retirar a força que consideramos ter.

2. – Pedimos autorização ao autor para publicar a carta que dirigiu à AFZ, tendo obtido a seguinte resposta:

«… é um prazer muito grande partilhar a carta com a minha família, a família fuzileiro, fico muito feliz».

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eleições

8 O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Assembleia-Geral Ordinária e Eleitoral29 de Março de 2014

No dia 29 de Março de 2014 reuniu-se, na sede da Associação de Fuzileiros (AFZ) na Rua Miguel Paes n.º 25,

no Barreiro, a Assembleia Geral Ordinária e Eleitoral da AFZ, sob a presidência do Contra-Almirante José Luís Ferreira Leiria Pinto, com a seguinte Ordem de trabalhos:

Apresentação e eventual aprovação do Re-latório de Actividades e Contas do exercício de 2013 e do Orçamento de 2014;

– Apresentação e eventual aprovação, ao abrigo do Estatuto (Art.º 5.º) de pro-postas para Sócios Honorários, a título póstumo, dos seguintes Sócios Origi-nários: n.º 40, José Lopes; n.º 30, José Armando Pacheco Ribeiro.

– Eleição dos titulares dos Órgãos So-ciais – Assembleia-Geral, Direcção Na-cional, Conselho Fiscal e Conselho de Veteranos.

Após usar da palavra o Presidente da Di-recção, Lhano Preto, foram aprovados – com parecer favorável do Conselho Fis-cal, por unanimidade e com voto de lou-vor à Direcção cessante – o Relatório de Actividades e as Contas do ano de 2013, apresentado pelo Vice-Presidente Marques Pinto, aqui se transcrevendo extratos da respectiva introdução:

«Eu advogo o poder da palavra, contra a palavra do poder» (Prof. Doutor Adriano Moreira Dixit

em entrevista a estação de televisão)

«Foi com pensamentos e palavras deste Mestre insigne, de várias gerações e de muitos quantos de nós o ouviram nas Uni-versidades ou no extinto Instituto Superior Naval de Guerra, cabeça superior de mais de noventa anos, que abrimos os relatórios de 2010 e de 2011.

O de 2012 evocou Miguel Torga, nas suas “Palavras Soltas”.

Hoje voltamos ao Professor, fazendo votos de que, sempre, no País e mesmo também

nas Associações como a nossa, o poder da palavra se sobreponha às pequenas palavras dos poderes que por acção ou misteriosas omissões, tantas vezes tentam impor-se.

Miguel Torga une-nos do alto das suas du-nas olhando o Mar e a Terra e Adriano Mo-reira deveria unir-nos no Poder da Palavra a todos quantos, nas pistas de lodo do Rio Coina, as tratam por tu, ou olhando o mar, os das gerações de 1986, das dunas de Pinheiro da Cruz beneficiam do velho mas único Protocolo que, com mais de 20 anos, ainda permite às actuais gerações de fuzi-leiros e da nossa “Armada Anfíbia”, disfru-tarem do privilégio de – embora em zona da Justiça e não da Defesa – terem 1.600 hectares de terra e quatro quilómetros de mar, para efectuar os seus exercícios.

Porque, por vezes, a memória dos homens é curta evoco aqui uma grande figura dos fuzileiros, que já não está entre nós, a do Comandante do Corpo, Francisco Oli-veira Monteiro que, na década de oitenta do século passado – como o Tempo nos tritura o nosso tempo (!) – se confrontou com as dificuldades de encontrar espaço para os seus “Fuzos” fazerem grandes exercícios e o conseguiu com as ajudas que habilmente solicitou. A maioria dos titulares desta Direcção cumpriram o últi-mo ano dos seus dois mandatos e o novo executivo poderá beneficiar de uma Asso-ciação organizada na base do seu “novo”

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eleições

9O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

ordenamento normativo (Estatuto, Regu-lamento Geral Interno e Regulamento das Estruturas e Serviços Centrais e Regio-nais) que necessitando já, porventura, de algumas actualizações (porque os corpos institucionais são dinâmicos e hoje como nunca a alucinante velocidade tecnológica e do Mundo exigem permanente acompa-nhamento) e de também uma sede social renovada, de Delegações vivas e repre-sentativas e de uma situação financeira confortável. Alguns de nós, quiçá uns com algum sacrifício fazem a ponte, para que a evolução se faça sem soluções de des-continuidade que apenas prejudicariam a instituição que somos.

Cabe aqui referenciar os que no dia 29 de Março de 2014 serão eleitos como titula-res dos novos corpos sociais e, obviamente desejar-lhes ainda maior sucesso do que aquele que, pensamos, nós tivemos. Res-ta-nos apresentar contas à Assembleia--Geral e propor que sejam distinguidos, a título póstumo, dois dos nossos melhores, única forma que temos de, de algum modo retribuir o muito que deram à Sua Asso-ciação e fazer votos de que muitos mais emprestem a sua colaboração para que se consiga guindar sempre mais alto o nome e a imagem do Fuzileiro e da sua Associa-ção Nacional.»

Foram aprovadas, por unanimidade e acla-mação as propostas da Direcção de eleva-ção a Sócios Honorários, a título póstumo, dos Sócios, José Armando Pacheco Ribeiro (n.º 30) e José Lopes (n.º 40).

Foram eleitos em lista única apresenta-da pelos Mandatários, ao Presidente da Assembleia-Geral, em 2 de Dezembro de 2014, que teve como primeiros subscri-tores os Sócios Originários: n.º 836, José António Ruivo (candidato a Presidente da Direcção), n.º 221, Carlos Alberto Marques Pinto Pereira (candidato a Vice-Presidente) e n.º 2279, Manuel Leão de Seabra (can-didato a Vice-Presidente).

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eleições

10 O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Organograma Figurativo Órgãos e Respectivos Titulares da Associação de Fuzileiros Biénio 2014/2015

Mandatários

Mesa da Assembleia Geral

Direcção

Conselho Fiscal

Conselho de Veteranos – Titulares Eleitos (Números 3 e 4 do Artº 14º do Estatuto)

ALM

V. Matias

CMDT

A. Calvão

Presidente CALM L. Pinto

V/Presidente R. Abreu

3º Secretário L. Rodrigues

2º Secretário M. Santos Conceição

1º Secretário P. Carmona

Presidente J. Ruivo 2V/Presidente

M. Seabra

5º Vogal J. Ferro

6º Vogal E. Carmona

3º Vogal Supl. A. Pelado

A. Lourenço

J. Carvalho

E. Soares

Tes. Nacional J. Gonçalves

4º Vogal M. Conceição

V/Presidente J. Coisinhas

ário M. Conceição

Presidente J. Moniz

J. Cardetas

alhadas

C. Silva H. Videira C. Brazão C. Ferreira J. Talhadas

V/Presidente M. Pinto

3º Vogal A. Couto

1º Vogal A. Cipriano

4º Vogal Supl. E. Jesus

2º Vogal Supl. A. Lourenço

1º Vogal Supl. J. Pinto

Sec. Nacional B. Correia

2º Vogal P. Oliveira

3º Vogal F. Santos

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entrevista

11O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

O Almirante José Carlos Torrado Saldanha Lopes concedeu-nos esta entrevista no final do seu mandato, na qualidade de Chefe do Estado-Maior da Armada, a qual, por vicissitudes várias, não pôde ser ainda publicada.

De qualquer forma, a Direcção de “O Desembarque” decidiu insistir em dá-la à estampa, por várias razões.

Para além de se tratar de um Sócio Honorário da AFZ, esta figura da Armada constitui uma das referências vivas da Marinha de Guerra de Portugal.

Os serviços que prestou, desde 1973, no exercício de múltiplas funções – designada-mente, no Comando Naval, no Comando-Chefe das Forças Armadas nos Açores, no Es-tado-Maior da Armada, na Força Naval Permanente do Atlântico, na Missão Militar Portu-guesa em Bruxelas, e no âmbito do treino operacional das fragatas da classe “Vasco da Gama” de que foi o primeiro-oficial de ligação português ao “Flag Officer Sea Training”, no Reino Unido, em 1991 – e, por último, no mais alto cargo da Marinha, o de seu Chefe do Estado-Maior, configuram-no com um dos Chefes Militares que só não marcou mais positivamente a Armada porque a comandou em época particularmente crítica, no cená-rio político-económico do País e em tempos de soberania limitada.

Saldanha Lopes foi promovido a Capitão-de-Fragata, em Fevereiro de 1992, sendo o 1.º Comandante da Esquadrilha de Helicópteros da Marinha, na Base Aérea do Montijo.

Tendo assumido o comando da Fragata “Corte Real”, em 14 de Novembro de 1996, par-ticipou na operação real de evacuação de civis e no restabelecimento da paz na Guiné--Bissau, em 1998 e também na operação “Allied Force”, no Kosovo, em 1999, integrado na Força Naval Permanente do Atlântico.

Promovido a Oficial-General em 2006, assumiu os cargos de Sub-chefe do Estado-Maior da Armada, de Comandante Naval e, cumulativamente, as funções de Comandante da “European Maritime Force” e, em 2010, o de Chefe do Estado-Maior da Armada.

Foi agraciado com vários louvores e condecorações ao longo da sua carreira, de que se destacam cinco medalhas militares de “Ser-viços Distintos”, o grau de “Cavaleiro Ordem Militar de Avis”, duas medalhas militares de “Mérito Militar”, a medalha de “Mérito Aeronáutico” e medalhas comemorativas das Campanhas de África.

“O Desembarque” (O Desemb.): O que levou o Sr. Almirante a optar pela Marinha de Guerra? Foi tradição familiar, vocação? Qual foi o seu percurso de vida até ingressar na Escola Naval?

Alm. Saldanha Lopes (ASL): A minha vinda para a Marinha não aconteceu devido a tradição familiar mas sim por influência de amigos no liceu D. João de Castro, que vieram visitar a Marinha. Nessa altura houve vários alunos do Colégio que em sucessivos anos entraram na Marinha e foi um pouco atrás dessa ligação que vim visitar a Escola Naval. Pareceu-me um desafio e esse desafio fez-me seguir a atual carreira.

A minha vida até então era a vida normal de quem andou na escola, no liceu D. João de Castro, e com uma vida repartida entre Lisboa, Belém, Mafra, onde estão parte das raízes paternas, e Castelo Branco, onde estão as raízes maternas.

O Desemb.: Depois de promovido a Guarda-Marinha que cargos e/ou funções gostou mais de desempenhar?

ASL: A minha carreira foi uma carreira muito diversificada e muito completa e não consigo destacar cargos ou funções que mais tenha gostado de desempenhar porque todos eles tiveram os seus próprios desafios e gostei de todos.

No entanto, todos os cargos de comando de navios no mar, obviamente, foram os mais significativos para mim. Recordo-me particu-larmente do conhecimento adquirido das operações quando estive embarcado em Moçambique, ainda no tempo da guerra colonial, e também uma comissão que realizei em Cabo Verde que foram marcantes em início da carreira.

Mais recentemente o cargo que mais gostei de desempenhar talvez tenha sido o cargo de Comandante Naval, por ser o cargo mais completo naquilo que é toda a vida operacional e as missões da Marinha, que estão na dependência do Comando Naval.

AlmiranteJosé Carlos Torrado Saldanha Lopes

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entrevista

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O Desemb.: Sabendo-se que foi Adjunto para as Operações, no Comando Chefe das Forças Armadas dos Açores, o que tem a dizer-nos daquele arquipélago e da sua enorme zona marítima?

ASL: Nos Açores desempenhei o cargo de adjunto para as operações no Comando Chefe, em 1986 e 1987. Dessa comissão recordo com especial entusiasmo a ótima ligação com todos os ramos das Forças Armadas, a Marinha, o Exército e a Força Aérea. Era um pequeno comando conjunto mas que me deixou grandes memórias.

Gostei imenso dos Açores, das ilhas, fiquei ligado sobretudo a S. Miguel onde estava sediado o Comando Chefe, que era em Ponta Delgada.

O Desemb.: Acerca da sua Missão em Bruxelas, o que tem a dizer?

ASL: A missão em Bruxelas foi uma missão muito interessante, que me permitiu o contacto, que já tinha tido ao longo da minha carreira mas no mar, com a NATO, com a União Europeia, com as Marinhas de outros países, que fazem parte dessas organizações, e sobretudo com a parte diplomática. Foi em Bruxelas que acompanhei e vivi toda a experiência e os acontecimentos do 11 de setembro de 2001, as ligações diplomáticas e militares que se desenrolaram. Foi muito enriquecedor participar e assistir à relação entre a área militar e a diplomacia, que é fundamental. Foi uma experiência marcante no aspeto pessoal e que se viria a demonstrar muito importante nas funções desempenhadas não só na altura mas também nos cargos seguintes que desempenhei.

O Desemb.: Relativamente ao treino operacional das fragatas da classe “Vasco da Gama” de que foi o primeiro-oficial de ligação por-tuguês ao “Flag Officer Sea Training”, no Reino Unido, em 1991, como foi a experiência?

ASL: Em Novembro de 1961 iniciei, na prática, a minha vida profissional embarcando no navio patrulha “S. Nicolau”.

Como referi anteriormente, têm sido vários os desafios que tenho tido e a experiência do treino operacional surgiu na sequência do desempenho, durante um ano, das funções de oficial de operações da esquadra da NATO, ainda no tempo da Guerra Fria, que me deu ligações a diversas Marinhas sobretudo a britânica, a alemã e a holandesa, que na época eram o expoente das Marinhas que operavam no Atlântico. E de fato com a vinda das fragatas da classe “Vasco da Gama” foi um desafio muito grande ter iniciado este treino e sobretudo ter estendido esse mesmo treino operacional mais tarde a todos os navios da Marinha.

O Desemb.: O Sr. Almirante foi também o 1.º Comandante da Esquadrilha de Helicópteros da Marinha, na Base Aérea do Montijo. Diga--nos alguma coisa dessa singular função?

ASL: Foi também um novo desafio, que surgiu na sequência da experiência adquirida na NATO, quando estive embarcado com navios ingleses e alemães, que tinham helicópteros. Durante esse período adquiri uma experiência muito grande na operação daqueles apa-relhos a bordo de navios.

Relativamente à Esquadrilha de Helicópteros no Montijo gostaria sobretudo de realçar a importante e sempre muito forte relação que foi feita com a Força Aérea Portuguesa, o grande apoio que foi dado à edificação desta capacidade na Marinha e o superar de todas as dificuldades que normalmente existiram na operação e na inserção dos destacamentos de helicópteros nos nossos navios.

O Desemb.: Sabemos que comandou uma Fragata que participou na operação de evacuação de civis e no restabelecimento da paz na Guiné-Bissau, em 1998. De que forma é que essa experiência o marcou?

ASL: O comando da fragata “Corte-Real” foi bastante diversificado em termos de missões o que nos permitiu navegar bastante, nave-gámos mais de dois anos. Normalmente numa comissão de três anos a taxa de navegação é 50%, no máximo, e eu tive a oportunidade de navegar bastante mais que isso.

Uma das operações em que estivemos envolvidos foi a da Guiné-Bissau. Foi uma missão complexa e variada pois a principal operação já tinha decorrido durante um mês com quatro navios, a “Corte-Real” acabou por render esses navios na restante operação, quando já havia menos civis a ser evacuados, a maioria já tinha sido retirada.

O nosso papel nessa fase consistiu sobretudo no apoio à embaixada e às conversações de paz que se realizaram a bordo do navio português. Esta foi igualmente uma experiência muito gratificante por envolver as ligações com a CPLP, por nos permitir ajudar e participar nas conversações, que foram cerca de quatro, que ao longo de dois meses se realizaram a bordo da fragata “Corte-Real”, sempre algures no Rio Geba. E essa experiência foi algo de diferente que teve uma influência muito grande não só para o comandante mas acredito também para toda a guarnição do navio.

O Desemb.: Tendo-se mostrado disponível para falar para um órgão de comunicação da Associação Nacional de Fuzileiros, como vê o Corpo de Fuzileiros da Marinha de Guerra Portuguesa e o que prevê para esta força especial de elite?

ASL: O Corpo de Fuzileiros e os Fuzileiros têm uma longa história na Marinha. O Corpo de Fuzileiros foi desenvolvido numa determinada vertente, as circunstâncias estão em permanente mudança e nós temos de encarar que estamos sempre em evolução, não podemos ser estáticos no tempo porque tudo se vai modificando. Somos nós e as nossas circunstâncias.

O Corpo de Fuzileiros teve uma dimensão que era uma dimensão adequada para o nível de ambição de existência de um LPD na Mari-nha, que tarda em vir e que nos próximos anos não haverá, certamente, capacidade de existir.

Atualmente temos de nos centrar no que é necessário para as missões dos Fuzileiros, como parte da Marinha. E nesse sentido todos nós e também o Corpo de Fuzileiros temos que nos adaptar à evolução natural que o País teve, condicionado por várias questões de-signadamente as de ordem económica, que são as que mais nos afetam hoje em dia.

Mas há que reforçar e salientar que as missões do Corpo de Fuzileiros continuam a ser extraordinariamente importantes e sobretudo a ligação dos Fuzileiros às unidades navais são fulcrais no desenvolvimento de uma Marinha moderna e em permanente evolução.

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entrevista

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O Desemb.: Estamos a terminar esta entrevista mas ainda pretendemos tocar no seu hobby. Sabemos que é um amante das artes de Santo Huberto. Porque lhe dá prazer este desporto?

ASL: Eu tenho de fato o hobby da caça. Comecei por influência familiar, o meu Pai caçava e eu comecei muito cedo a caçar, aos 15 anos, e a desenvolver este hobby. Gosto particularmente do ar puro, tal como quando se está no mar, das caminhadas, do contacto com a natureza pois caçar não significa só matar, caçar significa uma coisa muito especial que é de fato poder contactar com a natureza, ver os animais selvagens no seu habitat e poder desfrutar destes momentos também com a família e amigos.

O Desemb.: Tendo assumido praticamente todos os cargos e funções de topo na Marinha, irá terminar a sua brilhante carreira como Chefe do Estado-Maior da Armada. Como vê o País enquanto Chefe do Estado-Maior? E o que augura para o futuro da Marinha e de Portugal?

ALS: O Chefe do Estado-Maior da Armada hoje em dia tem dificuldades que certa-mente muito dificilmente se encontrarão nas últimas décadas no nosso País, fruto das dificuldades que Portugal atravessa. Tem sido um desafio nestes três anos pelas dificuldades que surgem e que nos devem levar a pensar não isolados, como Marinha, mas sobretudo a ter uma visão global como Forças Armadas. O que real-ço nesta fase é o conjunto das Forças Ar-madas, o conjunto dos Chefes das Forças Armadas e a forma como estes têm que se portar e responsabilizar pelo seu pessoal. Os aspetos da área do pessoal são os que mais nos afetam, muito mais que os aspe-tos materiais. O material está relacionado exclusivamente com o cumprimento da missão, o pessoal também, mas este último desencadeia problemas que são muito externos à vida das Forças Armadas porque são questões que envolvem as pessoas, as famílias e por isso são preocupações constantes.

O futuro da Marinha será o futuro de Portugal. Temos de ter uma visão positiva para o futuro do nosso País, o desenvolvimento tem de existir e vai ter de existir. E se houver desenvolvimento em Portugal haverá desenvolvimento nas Forças Armadas. A Marinha tem uma área de responsabilidade enorme, que é muito superior à área terrestre, cuja evolução temos de acompanhar pois temos responsabili-dades e temos também recursos que poderão ser explorados mais tarde.

O Desemb.: A Assembleia-Geral, da Associação Nacional de Fuzileiros, de 23 de Março de 2013, decidiu distingui-lo como Sócio Ho-norário. Para quem é detentor de tantos títulos e condecorações poderá parecer de somenos importância mais esta “honraria”. Porém, as mais das vezes, as coisas simples da vida são aquelas que emocionalmente mais nos tocam. Sente-se, de certa forma honrado por ser Sócio Honorário da “sua” Associação de Fuzileiros, instituição que já conta com mais de 2.200 associados?

ALS: Dou especial importância a esta pergunta, o meu primeiro contacto com os Fuzileiros foi em Moçambique quando estava embar-cado na Corveta “João Coutinho” em 1973 e fiz algumas operações no Norte de Moçambique com os Fuzileiros.

Nas ações em que pude participar recordo a especial ligação entre os Destacamentos de Fuzileiros e a corveta “João Coutinho”. Nessa altura estava em Porto Amélia, hoje Pemba, e essa experiência deu-me uma dimensão, logo em início de carreira, muito grande e uma ligação muito forte aos Fuzileiros, que se foi desenvolvendo ao longo de toda a minha carreira através da amizade com muitos camara-das. Fui testemunha de ações de combate, acompanhei de perto resultados de ações de combate e experienciei também esta vivência e é esta vivência que leva a sentir-me bem com os Fuzileiros, leva-me a ter um enorme orgulho em ter muitos amigos nos Fuzileiros e obviamente honra-me e emociona-me fazer parte da Associação Nacional de Fuzileiros.

O Desemb.: A nossa revista “O Desembarque” tem sofrido algumas alterações, pensamos que para melhor. Permita-nos o seu olhar crítico.

ALS: Acompanho a revista “O Desembarque” com muito interesse, é uma boa revista e à qual desejo que continue o trabalho que tem realizado até aqui no sentido de continuar a aproximar as pessoas, unindo as gerações de atuais e antigos fuzileiros, perpetuando a boina azul ferrete.

O Desemb.: Muito obrigados Sr. Almirante.

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entrevista

O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

António Francisco Albino Marreiros nasceu em 15 de Junho de 1924, numa propriedade da freguesia de Marmelete, nos contrafortes da Serra de Monchique. Sabemos que este ilustre Sócio Efectivo, um jovem de 90 anos, brilhante na palavra e no pensamento, para além de marinheiro foi – ao longo da sua preenchida vida, cheia de

pequenas grandes estórias que fazem a história de uma personalidade em que o humanismo e a graça são pedras de toque – “oficial de muitos ofícios”.

Encerrando em si uma biblioteca que vem enformando a sua “Universidade da Vida”, como seria bom desafiá-lo para contar, em pe-quenas palestras, as peripécias do seu Caminho, ensinando-nos muito do que ainda, todos temos para aprender.

Desde Enfermeiro da Armada – tendo prestado serviço, também, na Escola de Fuzileiros – até odontologista, piloto aviador, enfim, de tudo fez um pouco na vida.

O que se pode dizer é que teve sucesso sobre sucesso, a que se seguirão – para que todos vejamos e os ainda mais jovens com ele possam aprender – os segredos da sua sabedoria.

“O Desembarque” (O Desemb.): Diga-nos, Caro Consócio, onde nasceu e quando, no ceio de que família e como decorreu a sua infância. Considera que teve uma infância feliz ou com algumas dificuldades?

António Marreiros (AM): Nasci, há longos anos (1924) numa propriedade de meus Avós, da Freguesia da Marmelete do concelho de Monchique. O meu Pai era praça da GNR e minha Mãe doméstica. Não tínhamos meios de riqueza mas eramos modestamente re-mediados. Os meus Pais tiveram três filhos: dois rapazes e uma menina. Naqueles mon-tes onde nasci e nos arredores era o meu Pai a única pessoa que embora sem grande escolaridade sabia ler e escrever. Aprendeu no Hospital da Estrela, onde, em 1911,veio fazer a tropa ficando como auxiliar de um médico, o Sr. Dr. Sá Teixeira. Este médico teve entre os seus filhos uma menina que o meu Pai dizia ter andado com ela ao colo. Esta

menina viria a ser a primeira aviadora portuguesa (vidé museu do ar). Foi a esta família que devemos muito daquilo que fomos: o meu irmão foi ajudante e proprietário de uma farmácia, apenas com o 3.º ano do Liceu; eu fiz a Escola Industrial; e a minha irmã licenciou-se em filosofia. Esta amizade com o casal Sá Teixeira durou para as nossas vidas.

As minhas memórias reportam-se a 1927. Aos três anos, na Vila do Bispo, no largo da Igreja lembro-me de ter visto a Camioneta da Carreira: tinha cobertura de lona, a entrada era pelas traseiras, com estribo desdobrável, bancos frente a frente no sentido longitudinal, faróis alimentados a acetileno (carbureto) e a buzina era constituída por uma pera de borracha. Mais tarde lembro-me de ter ido a Faro, ao Cabo de São Vicente e de ver o mar. De Vila do Bispo fomos Ourique, daí para Portimão e depois para Lagos.

O Desemb.: E a fase da sua adolescência?

(AM): Em Lagos, fiz além da Escola Primaria a Escola Industrial, onde eramos obrigados a, uma vez por semana, fazer uma instrução paramilitar para a Mocidade Portuguesa, no Regimento de Infantaria n.º 4. Com uma adolescência feliz, nunca fui muito acomodatício, porventura, relativamente irreverente, embora educado. Caberá aqui, entre parêntesis, uma pequena história dessa minha irreverência. Em determinada altura, maçado com a tal instrução paramilitar resolvi dizer ao Cabo que a ministrava: “eu hoje não faço”. Informado o Tenente perante quem tomei a mesma posição foi-me pedida a minha identificação e a do meu Pai. Não tendo havido consequências significativas (estávamos nos anos de 1936/1937) só em 1970, o meu Pai, então com oitenta anos, se referiu a esta história que fora solucionada, na altura, a contento das duas partes. Embora, nessa época em Lagos se vivessem muitas limitações (só existiam cinco automóveis particulares, embora existissem muitas fábricas de conservas de peixe) na cidade só havia um frigorífico particular que trabalhava a gás já que a electricidade estava ligada entre o por do sol e a meia-noite!

De qualquer forma, a proximidade do mar concedeu-me alguns privilégios sobretudo podendo disfrutar de praia.

O meu espírito empreendedor permitiu-me também aprender, por mim próprio, a andar de patins e de bicicleta e construir, com algu-mas ajudas, um rádio a que se chamava “galena” que não necessitava de corrente eléctrica. Houve tempo em que fui trabalhar para uma oficina de cromagem de um amigo do meu Pai, não deixando de estudar já que me matriculei em aulas noturnas.

O Desemb.: Sabemos que ingressou na Marinha de Guerra Portuguesa muito novo. Quais foram as suas motivações para fazer essa opcção?

AM: Como já tive ocasião de dizer, fui morar para Lagos (é cidade desde o reinado de D. Sebastião) e fui morar para perto da Igreja de S. Sebastião onde fiz as habituais convivências. (Nesta igreja fui baptizado, fiz a primeira comunhão e ajudei à Missa).

António Marreiros“Marujinho”(*) Sócio n.º 2314

Enquanto 1.º Sargento

Nota da Redacção: Entrevista conduzida por Marques Pinto, Vice-Presidente da Direcção da AFZ

(*) Designação dada pelo nosso Sócio Originário n.º 443, Francisco Pereira, autor de uma das “cartas à redacção”, camarada que nos apresentou esta notável figura que terá conhecido numas férias, em Porto Santo.

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entrevista

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Guardo a lembrança de que, certo dia, depois de a subir à Torre da Igreja, (por volta do ano de 1934) veio à baía de Lagos uma esquadra inglesa composta por cerca de cem (100) navios, de entre eles, os três maiores do mundo, na época: o HOOWD, o NELSON e o RODNEI. Creio que esta visão me marcou para avida.

Posteriormente continuei a ver na baía, navios portugueses (os avisos de 1.ª classe Afonso de Albuquerque e Bartolomeu Dias, cada um com o seu hidroavião, e os contratorpedeiros (destroyers) Lima, Tejo, Vouga, Sado e Douro. Também apareciam, por vezes, algumas canhoneiras. Tive ocasião de visitar alguns. Antes da 2.ª Guerra Mundial, também lá apareciam navios de guerra alemães. A 2.ª Grande Guerra Mundial começaria no fim do mês de Setembro de 1939. Creio que foi por esta data e razões que terá começado o meu “ciclo da ARMADA”.

Nos fins do ano de 1940, apareceu uma publicação a anunciar a abertura para inscrição e para provas de admissão de alunos Mari-nheiros (3.º Alistamento). Tinha então 16 anos de idade. Pedi ao meu Pai autorização para me inscrever e ir fazer provas e inspecções. Imediatamente, não pareceu ter reagido muito bem. Contudo depois aceitou, dizendo-me: “então vai, não quero que um dia digas que estás mal por minha causa”.

Quando fui chamado para prestar provas em Vila Franca de Xira, Escola de Alunos Marinheiros, Quinta das Torres, (Fevereiro de 1941) parti de camioneta para Lisboa, levando comigo 100 escudos que o meu Pai me entregou, depois de ter pago o bilhete de ida e volta. E o dinheiro chegava, tendo eu resolvido ficar hospedado numa pensão na rua 1.º de Dezembro. Acabadas as provas, regressei a casa.

No dia 2 de Maio do mesmo ano, recebi uma carta informando-me que me devia apresentar na Escola de Alunos Marinheiros, às 08H00 do dia 5 de Maio de 1941. No dia 3 de Maio do mesmo ano, às 19H40 saí de Lagos num comboio (a carvão) e cheguei ao Barreiro às 08H00 da manhã! Fui para a mesma pensão. No dia 5/5/1941, lá me apresentei. Foi-me atribuído o n.º 316, de aluno. O grupo de alunos deste alistamento foi de 100. Fui aluno marinheiro cerca de dois anos. E, até hoje, não mais deixei de pertencer à Armada.

O Desemb.: : Como se desenvolveu a sua carreira na Armada? Diga-nos por onde andou e que mundos percorreu.

AM: Ao cabo de cerca de dois anos de aluno, mais propriamente 22 meses, em Março de 1943, acabei o curso de máquinas, que na época era denominado de fogueiro, com o posto de primeiro grumete. Fui para esta especialidade porque sempre gostei de máquinas. Porém, como carreira era limitada pois apenas dava acesso ao posto de Cabo. Mais tarde resolvi concorrer ao curso de enfermagem.

Como grumete e depois como 2.º marinheiro, andei vários anos no contratorpedeiro Tejo. Tudo isto se ia passando enquanto decorria a 2.ª Guerra Mundial. Mas, para melhor falar por onde andei, voltemos ao tempo de aluno marinheiro: A 30 de Setembro os cerca de 90 alunos (de 16/17anos) que eramos, embarcámos no comboio para Lisboa, desembarcámos no apeadeiro do Areeiro e daí, de arma ao ombro, fomos pelas ruas e avenidas da cidade de Lisboa rumo ao Arsenal da Marinha, para embarcar no Navio-Escola Sagres. Quando chegámos a bordo, perguntaram aos alunos se algum tocava algum instrumento musical. Respondi “eu, o 316”. O 252, também tocava.

No dia 1/10/1941, pouco antes da partida do navio discursou Sua Ex.ª o Ministro da Marinha, Ortins Bettencourt que no final da sua alocução disse o seguinte: “se pensam que vêm para cá para enriquecer, vão-se embora e montem uma mercearia”.

Largámos às 18H15 horas, rumo a Cabo Verde, S. Vicente e levámos oito dias até St.ª Cruz de Tenerife e outros oito dias até S. Vicente. Em S. Vicente, no porto da cidade do Mindelo, fazíamos remo e aprendíamos marinharia e sinais, para além dos ensaios na charanga. Aos domingos tocávamos no coreto, na praça principal da cidade. Eram noites muito movimentadas e muito divertidas.

Certo dia, numa Segunda-Feira de tarde, enquanto decorriam os trabalhos habituais, e a charanga ensaiava, como de costume, no con-vés do navio, perto do mastro “o grande”, ouviu-se um alarido que vinha da proa. Toda a guarnição acorreu, para ver o que se passava (a charanga também parou de tocar e fomos ver). Aqui fica a história: Um sargento condutor de máquinas fez um grande anzol onde enfiou cabeças de galinha e outros restos da refeição da véspera. O anzol pelos vistos tinha sido lançado e nele caiu um tubarão. O bicho foi içado. Um oficial com uma espingarda deu-lhe um tiro. A bordo, foi aberto. Tinha no interior dois pequenos cães, cabeças de galinhas e um rolo de arame! O tubarão foi medido e tinha 3,67 metros. A pele parecia lixa da mais grossa, e os dentes uma autêntica serra.

No dia 14/10/1941, saímos rumo ao Rio de Janeiro. Lembro-me que era sábado. O comandante, Capitão Tenente Marcos Viera Garin, não quis sair na véspera por ser sexta-feira e dia 13! O imediato era o Capitão Tenente Santiago Ponces.

O percurso foi com vento, sem vento, com mais ou menos vagas, com chuva, enfim com todos os ingredientes do nosso Mar. Ao passarmos pelo Equador, foram feitas as tradicionais festas em honra de Sua Majestade, o Rei dos Mares. Chegámos ao Rio de Janeiro, 28 dias após a saída do Mindelo. Entrámos na Baía de Guanabara e fomos acostar ao cais, pertencente ao Tou-ring Clube do Brasil, mesmo perto da pra-ça Mauá e da Avenida Rio Branco.Fizemos passeios, fomos a bailes, percorremos Co-pacabana, fui ao futebol no Maracanã, etc. Todos os dias ao içar da nossa bandeira, tocávamos o nosso hino nacional e em se-guida o brasileiro e por fim uma marcha.

Falando para “O Desembarque”

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entrevista

O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Saímos do Rio para Cabo Verde creio que no dia 30/12/1941. A viagem e a estadia, de novo no nosso arquipélago, decorreram com toda a normalidade. No regresso a Lisboa, mais ou menos a meio do percurso, apanhámos uma tempestade forte, que ocasionou ter-se partido o mastaréu do mastro o “grande”, onde estava amarrada uma das extre-midades da antena do rádio. Houve muito trabalho do pessoal já experiente para reparar a avaria.

Chegámos a Lisboa no dia 28/2/1942. Distribuídos por vários navios, eu fui para o aviso Bartolomeu Dias. Este navio também tinha charanga, à qual aderi de imediato. Neste navio fui ao Funchal e de novo a Cabo Verde (S. Vicente, Santo Antão e Praia). Regressado a Lisboa passei para o Contratorpedeiro Lima, que tinha como comandante o Capitão Te-nente Sarmento Rodrigues. Saímos para os Açores, a 7/7/1942, de tarde. No dia seguin-te, cerca das 22 horas foram avistadas umas luzes, fracas e o navio aproximou-se. Eram três embarcações com cento e onze náufragos (só havia uma mulher). Este grupo era originário de três navios que tinham sido afundados pelos alemães. O último pertencia à companhia Ávila Star. Quando estávamos a salvar os náufragos, foi visto na escuridão da noite, o periscópio e parte da torre de um submarino. O comandante foi informado. Man-dou carregar a peça “N~”. Era uma das peças de 120 mm. Estes náufragos andavam no mar há três dias mas fomos informados de que havia mais náufragos. Procurámos

durante 24 horas e não os encontrámos. Rumámos, então, a Ponta Delgada onde entregámos os náufragos. Algum tempo depois, soubemos que os outros tinham sido encontrados, mas em muito mau estado, pois foram salvos já com 21 dias de naufrágio. Mas por coincidência foram também salvos por um navio nosso: o Aviso de 2.ª classe Pedro Nunes. De Ponta Delgada, fomos para o Faial.

O Desemb.: Sabemos que, quando esteve na Escola de Fuzileiros viveu uma pequena estória à volta de uma barraca à entrada da Mata da Machada. Podemos ouvi-la?

AM: De facto participei numa pequena história na tal pobre barraca, na Mata da Machada que me chocou e muito senti pela miséria que fui encontrar a que se juntava uma total falta de higiene. A história pode contar-se assim: Dos quatro enfermeiros de dia que faziam parte do serviço de saúde na Escola de Fuzileiros só ficava à noite um. Certa dia, junto à tardinha, estava de serviço e fui chamado pelo Oficial de Serviço que me disse ter recebido, através do pessoal que fazia sentinela junto da estrada, a notícia de um casal com um problema de saúde pedindo-me para ir ver o que se passava. Assegurando-se que eu tinha carta de condução disse-me: “então leve aquele Jeep”. Assim fiz. Quando lá cheguei apareceu-me um pobre homem à porta duma barraca de madeira, apresentando-me a mulher que se queixava com dor de garganta e falava e respirava com dificuldade e quase total afónica. Pedi-lhes uma colher, baixei-lhe a língua e vi umas enormes amígdalas, que mal a deixavam respirar. Vim para a rua e com o homem, perguntei-lhe se conhecia ali algum médico, ao que me disse que sim. Disse-lhe então: “vá já chamá-lo, depressa e diga-lhe que fico aqui à espera dele. Dias depois soube que a mulher tinha sido internada e salva de uma angina diftérica.

A pequena história serve para demonstrar a miséria que nessa época ainda se via, à volta de Vale do Zebro.

O Desemb.: Sabemos, também, que lá por voltas de 1924 teve a oportunidade e o privilégio de assistir a uma caçada às baleias, pre-sumimos, que lá para as bandas dos Açores. Como foi essa aventura?

AM: Como anteriormente já referi, estive embarcado no Contratorpedeiro Lima sendo que, de Ponta Delgada rumámos para o Faial. Quando íamos a chegar, à entrada do porto vinham a sair três potentes barcos a motor, rebocando cada um deles, algumas elegantís-simas baleeiras.

O Comandante Sarmento Rodrigues apercebendo-se de que iam à caça da baleia seguiu as embarcações. Pouco tempo depois come-çámos a ver à distância, os jactos de água e de ar provenientes da respiração das baleias. Os mestres dos barcos a motor, com um gesto, pediram ao comandante que não se aproximasse muito. O pedido foi aceite. Os barcos a motor, a alguma distância das baleias, largaram as baleeiras, que passaram a navegar à vela, até perto das baleias. Aí passaram a remos com o trancador já na proa (o trancador é o homem que atira o arpão). Quando chegaram muito próximo de uma baleia, este arpoou o animal que se afundou e com grande velocidade.

É este o momento mais perigoso da caçada: ao sentir-se arpoada, a baleia (cachalote) afunda-se e aumenta a velocidade: se o cabo do arpão está mal enrolado ou apanha as pernas do trancador, lá vai o homem e se o cabo se prende a alguma parte da embarcação, esta vai também. Aquele cabo tem de estar sempre com um enrolamento muito cuidado. Logo que a baleia deixa, vão recolhendo o cabo até lhe poderem espetar uma lança, para a sangrar. Depois de caçarem o que for possível, as baleeiras vão-se embora à vela e os barcos a motor rebocam as baleias para a fábrica onde lhes é extraído o óleo.

O Desemb.: Porque abandonou a Marinha?

AM: Boa pergunta Sr. Doutor mas de resposta não muito fácil. Como em tudo na vida há momentos em que temos de tomar decisões. E foi o que fiz, mesmo sabendo que ainda não tinha feito o embarque de “promoção” a 1.º Sargento que sabia estar para breve. Eu e minha mulher não tivemos filhos e, ponderando, preferi sair. Por vezes, na vida, temos de fazer sacrifícios e este certamente, foi um dos maiores. Assumo, porém, a responsabilidade considerando que não fiquei a dever muito à Pátria: trabalhei 44 anos no meu consultório de odontologista e dei 31 anos à Armada, dois anos dos quais a fazer consulta de estomatologia e na Escola de Mecânicos, na Quinta das Torres.

Aos 19 anos (Set.º 1943), em Lagos, com os pais

Enquanto 2.º Sargento

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entrevista

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O Desemb.: Tudo isto tem a ver com a sua actividade de odontologista? Qual foi a sua formação e como e onde a desenvolveu?

AM: Certo dia, quando tive de embarcar para a promoção a 2.º Sargento, estava o navio em plano inclinado resolvi ir ao Centro de Saúde falar com o Tenente Elói e com a Capitão-Tenente Jesué, ambos enfermeiros e odontologistas que exerciam funções no Alfeite, revelando-lhes o meu interesse pela odontologia. Acharam muito bem mas havia que colher o consentimento do Médico-Chefe de estomatologia, o Doutor Paiva e Costa, com quem falaram e que de imediato concordou e autorizou. Comecei a utilizar uns livros que eles próprios me emprestaram que estudei com muita vontade. Anos depois abriu um Curso a nível nacional e – como já tinha aconte-cido com os meus antecessores – fui fazer exames teóricos à Reitoria da Universidade de Lisboa e as práticas no Hospital de S. João, no Porto. E foi assim que me tornei enfermeiro odontologista e, posteriormente montei um consultório em Campo de Ourique, onde trabalhei 44 anos!

O Desemb.: Conte-nos, por favor, algumas estórias da sua preciosa vida. Estórias a esmo (e devem ser tantas!) como lhe forem ocor-rendo, ao correr da palavra ou da pena, como se costuma dizer.

AM: Um dia, na Índia quando fomos pela primeira vez a Bombaim apanhámos um ciclone durante quase 24 horas e pela primeira vez enjoei completamente. Mas que me recorde foi a única.

Em Bissau, na Guiné, um belo dia, o Chefe da Artilharia perguntou-me se eu queria fazer carreira de tiro, uma vez que fazia parte do pelotão de desembarque. Disse-me porém o Oficial: “Olhe que os terroristas não sabem que você é o Enfermeiro… Disse-lhe que não percebia nada de tiros mas, lá fui. Fiz tiro de espingarda com razoáveis resultados e por último de FBP. Os alvos eram constituídos por tábuas verticais e outras, em cima, na horizontal e, sobre estas, umas garrafas e latas de cerveja. Lá fui doseando os tiros de forma a disparar apenas um ou dois de cada vez e não em rajada, como a maior parte dos camaradas faziam. Quando regressávamos ao navio o Tenente disse-me: “então era este o homem que não percebia nada de armas”!

Sempre gostei de aviação. Em Lagos fui aprender a pilotar os Asa Deltas motorizados tendo adquirido um em sociedade com mais dois colegas, para termos aulas e fazermos os exames. Depois de efectuados os exames teóricos, comecei as aulas práticas fazendo “o primeiro solo”, a 10 de Junho de 1996. Fiz exame de pilotagem em 14 de Junho, na véspera dos meus 72 anos de idade. Mais tarde

comprei um “asa” só para mim e pouco depois um avião “bilu-gar” marca “Jabiru” tendo feito, a seguir, a respectiva adaptação.

Nas minhas viagens, em serviço ou em turismo corri, quase diria, “meio mundo”. Vejamos por onde andei, para além dos locais já citados ao longo desta conversa:

Irlanda do Norte: Landondery; Londres; Weimoss; Playmoss; Ro-terdão (mar do norte, em manobras internacionais); Vigo; Gibral-tar; Tanger; Ceuta; Port Saíd; Canal do Suez; Aden; Goa: Mápuçá, Londa, Quartalim, Agassaim, Pondá, Mormugão, Vasco da Gama, Velha Goa, Ribandar e Mapoçá; Damão; Diu; Bombaím; Ceilão; Madrid; Roma; Andorra; Veneza; Suíça: Chafausen, Quedas do Reno, Montanhas de Stamam Rain e Iunfrau.

O Desemb.: Sr. Marreiros, estamos a chegar ao fim da nossa con-versa mas diga-me: porque tivemos a honra de contar consigo como Sócio da AFZ?

AM: No Verão passado (2013) escolhi para passar uns dias de férias a Ilha de Porto Santo, onde tinha estado, pela primeira vez, em 1953, em serviço do navio. Tinha estado no Funchal em Abril de 1942 e posteriormente, voltei lá várias vezes mesmo de férias com a minha Mulher. O ano passado cheguei a Porto Santo, só, e sem conhecer ninguém. Depressa me senti acompanhado por gente da nos-sa Armada: O Comt. Júlio Marinho e Esposa; o Comt. Rodrigues e Esposa e o Sargento-Mor Fuzileiro, Francisco Pereira, Esposa e Filha. O grupo, que naturalmente se constituiu foi de excepção. Já em Lisboa, todos tiveram a amabilidade de me convidar para o seu convívio mas o Casal Pereira não ficou pelo simples convívio pessoal: fez com que eu voltasse aos tempos navais, proporcionando-me alargar o convívio à Associação dos Fuzileiros (instituição a que, imediatamente, me associei) e ao seu Vice-Presidente, Dr. Marques Pinto que me desafiou para esta conversa..

O Desemb.: A nossa revista “O Desembarque” que se vem fazendo com muito idealis-mo, cremos que tem um nível e uma qualidade que não são vulgares em publicações de instituições congéneres. Permita-nos o seu olhar crítico.

AM: “O Desembarque” desenvolve temas muito abrangentes e de natureza variada não se quedando pelos assuntos militares mas alargando-se por temáticas de caracter inte-lectual, histórico, social, cultural e académico, o que pode certamente servir de exemplo a muitas publicações.

O Desemb.: Agradecemos a sua disponibilidade.

AM: Agradecido sinto-me eu… Sinceramente. Eu é que me sinto honrado e agradecido pela forma distinta e cordial, sincera e amiga, como sou convidado e recebido no seio de tão nobre ramo da nossa Armada – os fuzileiros – através desta prestigiada Associação e das sua revista “O Desembarque”.

Com a Esposa, no seu asa-delta

Em Goa

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contos&narrativas

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Na senda da minha crónica anterior, publicada na “O Desem-barque” nº 17, de Novembro de 2013, venho, mais uma vez, dar testemunho, em mais uma narrativa, dos tempos da ve-

lha Guiné. Não quero ser fastidioso. Provavelmente, para muitos dos que me lêem, esses tempos pouco ou nada lhes acrescenta, sendo certo que o tempo e os factos, vividos por cada um, apenas aos que por tal passaram (o próprio e seus contemporâneos) lhes desperta o interesse e o encanto, que a saudade cataliza. Contudo e apesar de tudo, as novas gerações que me perdoem mas, o traço que “velhos” e novos têm em comum é que todos somos fuzileiros. Tal basta-me! O que se procura trazer aqui são histó-rias de fuzileiros, trechos vividos em tempos gloriosos, tal como gloriosos são os tempos vividos e protagonizados, pelos fuzos, em qualquer tempo e em qualquer lugar.

Ser Fuzileiro é, para mim, uma coisa intemporal! Não se é Fuzi-leiro uma vez, é-se sempre Fuzileiro, desde que se tenha alma de Fuzileiro!!!

Desta vez sou a descrever-vos as peripécias vividas pelo autor e outros companheiros, aquando de uma evacuação, “forçada”, no rio Cumbijã, de um militar do Exército.

Passados, quase, quarenta anos, os pormenores do ocorrido há muito se volatilizaram da nossa exaurida memória. Tal não cons-titui para mim, no entanto, motivo para não vos relatar momentos em que a nossa (simples) condição de homens de fuzil, falam mais alto que os meandros do tempo.

O Fuzileiro, na minha perspectiva, não é só aquele duro “granelei-ro” que tudo abraça, que vai à luta e que encara o inimigo fixan-do-o nos olhos (Fuzz’lero pá, manga di fogo báxo…dizia de nós o próprio inimigo*). O Fuzileiro é um combatente generoso, tanto

no mato ou na bolanha, no rio ou no mangal, como também na sua unidade ou fora dela, capaz de dar a roupa e o pêlo, a própria provisão de comida, na hora exata em que um seu semelhante dela esteja necessitado. É espontâneo e verdadeiro, é leal, soli-dário e nobre de carácter, sobretudo no trato com os mais fracos.O Fuzileiro despreza a arrogância e não desdenha dos menos aptos. É isso que vinca a sua superior virtude e os define pela coragem e forma de estar e combater! São infantes do mar, dos rios próximos e distantes. É deles que emergem… e é nas suas margens, na praia deserta que, natural e inevitavelmente reali-zam o seu ideal bélico, o seu sonho de combate e a conquista de merecidos louros. O Fuzileiro de tudo é capaz, saindo de si próprio e da sua capacidade de combatente voluntarioso e destemido.

Foi assim que a meio duma radiosa manhã, num longínquo sába-do de Março, do ano da graça de 1974, recebo ordem para fazer escolta a um “comboio”, que sairia de Cobumba, às 13 horas e desceria o rio Cumbijã, até ao cais de Cufar.

Na véspera, um ataque noturno e traiçoeiro, tinha feito alguns estragos na guarnição militar de Cobumba. Não durou muito tempo, mas fez mossa, em homens e material.

Por essa altura, mais de um grupo de assalto, do nosso destacamento (DFE 5) reforçava a desfalcada companhia que guarnecia Bedanda, na outra margem do rio, em posição frontal, num local sobrelevado, mas cujo acesso só a maré alta o permitia, dado que era o único meio de lhe aceder, a partir da margem. Bedanda tinha sido atacada, dias antes, tendo estado sob fogo intenso, durante mais de 10 horas, por elevado dispositivo de combate inimigo, que incluiu viaturas blindadas, num período de tempo fora do comum…

Estórias por ContarA propósito de uma evacuação

José Horta

Largada de Vila Cacheu

(*) Relato dos próprios elementos do PAIGC, proferidos na presença do autor, em duas ocasiões no pós 25 de Abril (Cafine e messe da Marinha, em Bissau).

Cafine. Eu e um pequeno saval

Ao ”leme” de um Z.III, numa patrulha do rio Cumbijã

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Chegámos ao cais de Cobumba, se bem me lembro, mais de 20 minutos antes da hora prevista. Estava presente o patrulha da Marinha cujo nome se volatilizou nos sopros da minha memória distante, da mesma forma que já não recordo o nome do seu co-mandante, facto que lamento. Estava também a ‘Nhominga’ (em-barcação indígena, com considerável capacidade de carga, muito utilizada no transporte de géneros de vária ordem, na via fluvial e marítima) e diversas outras embarcações de menor registo. Em terra e no momento de aportar ao cais, dois ou três magalecas de tanga (calção), bota de lona e quico... Um deles interpela uma das nossas praças, da seguinte maneira:

– “Então só agora é que aparecem?”

O (nosso) rapaz ouviu e sem responder, estupefacto e após breves instantes, encolhe os ombros e faz um gesto na minha direção, que tinha sido o último a desembarcar. O soldado olha para mim e repete o que tinha perguntado. Eu, também meio surpreendido, olho para ele e solto-lhe um sonoro – “O quê?”.

Já num tom mais ameno volta a perguntar-me porque é que só agora vínhamos evacuar o ferido (…). Respondo-lhe que estava ali para fazer uma escolta, não para evacuar feridos… Indaguei, também, se o ferido era o mesmo do ataque da véspera (tive-mos informação desse facto, logo após o referido ataque…) o que estava em situação mais grave. Respondeu-me que sim e eu afirmo-lhe que mais nada podia fazer e que eles teriam que providenciar outro meio de evacuação. Mais, que ninguém nos tinha solicitado nada e que estava convencido que o Exército já teria resolvido o assunto, pois nada nos tinha sido comunicado, nem pedido.

Ao ver que nada conseguia, pela nossa parte, o soldado faz um gesto largo e desabafa, alto e num tom de desespero – “É pá, o rapaz ainda morre…”

Não gostei de ouvir aquilo, confesso que me tocou fundo. Olho para o relógio e ainda faltava um pouco mais de um quarto de hora…

Fixo o rapaz nos olhos e digo-lhe com convicção! – “Vais, rapida-mente, buscar o ferido e avisem, sem falta, para Cufar que vamos lá deixá-lo. Que tenham uma viatura no cais, pois não posso per-der tempo, tenho uma escolta para fazer!”

Em Cufar, sede do CAOP, além de outros meios de socorro, ti-nham aeródromo, facto que permitia uma evacuação rápida para Bissau, se necessário fosse. De seguida, vou a meio do rio, onde estava fundeado a navio patrulha, falar com o Comandante de todos os meios envolvidos. Era o que deviam ter feito em primeiro lugar mas, não descortino porque não foi assim. Explico a situa-ção ao Comandante e afirmo-lhe a minha determinação em fazer a evacuação. Ainda tinha algum tempo, pedi-lhe para retardar um pouco a largada do comboio… Iria a Cufar e, breve, regressaria para fazer a escolta. Não foi boa a cara deste e impercetível a sua resposta, mas penso que compreendeu, não tendo levantado qualquer problema na altura e, sobretudo, depois…

Manhã do dia 21/10/1974. Entrada no Tejo

LDG - a retirada

Posto isto, regresso à margem. Estava a chegar uma maca com um ferido… Vinha a soro. Mando os dois companheiros do bote distribuírem-se por outros e encaixámos a maca, com o ferido, no fundo do meu bote, que conduzia. Largo imediatamente com a recomendação, uma vez mais, do aviso para Cufar!...

Desço esse troço de rio a toda a velocidade e com uma imprecisa noção da distância. Era longíssimo… e o percurso demorava uma eternidade (achei eu!). Na minha ânsia de chegar pedia a Deus e aos Santos todos, veementemente, que a viatura de Cufar não se tivesse “esquecido” de nós. Era larga e extensa, a curva do rio donde se vislumbrava o cais “prometido”. Lembro que, à medida que a margem se abria, ao avistar (ao longe) o cais de Cufar e a silhueta da viatura, nele postada, as lágrimas saltaram-me dos olhos em, impertinente, catadupa. O que vale é que seguia só com o ferido e, mais ninguém reparou na minha súbita e momen-tânea fraqueza.

Ao chegarmos, de pronto nos “desembaraçámos” do ferido, re-pus, quase em simultâneo, os companheiros no meu bote e, les-tos, empreendemos a viagem de retorno. Atrasados, mas com uma sensação indescritível no peito, com a alma lavada e em paz com o mundo, lá cumprimos, mais uma vez, a nossa missão de paz e solidariedade, mesmo num tempo de guerra.

Ainda hoje lamento não recordar o nome do navio e, sobretudo isso, o nome do seu Comandante, a quem sempre fiquei reco-nhecido.

José HortaSóc. Orig. n.º 485

2TEN FZE/RN

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Guarda Avançadaem Terras de Niassa

Almirante Reboredo e outras entidades militares, de visita ao DFE1 no Cobué, (1966)

Ramires da Palma Bonito

Era já noite aquando tudo aconteceu. Íamos nós, uma secção de fuzileiros especiais por mim comandada (sendo

eu então 2.º Sarg FZE) montar uma guarda avançada no cimo dos morros a Sul da casa do Administrador, no Cobué.

No dia 15 de Fevereiro de 1966 eramos 16 elementos, a minha Secção, (a sec-ção Delta do DFE1) reforçada com uma esquadra da metralhadora MG-42 e com um cão de guerra. Eu seguia em 2.º lugar no grupo, logo atrás do marinheiro fuzilei-ro especial Luís que conduzia, à frente, o nosso cão de guerra pela trela.

Quando caminhávamos por entre espi-nheiros áridos e capim, na encosta, já perto do local destinado a montar a em-boscada eis que, de súbdito me foi dado observar o cão de guerra que, por mais uma vez esticando a trela com força, ar-rastava o marinheiro Luís consigo como que querendo correr atrás de algo que não fiquei a saber o que era. Admitimos porém que pudesse ser o inimigo ou então algum animal selvagem que, pressentindo-nos, se punha em fuga.

Nesta situação de alarme, passado muito pouco tempo, fizeram-se ouvir primeiro uns “tiritos” e, de seguida umas rajadas de armas automáticas.

Logo constatei ter sido o pessoal que seguia à retaguarda, quem por sua iniciativa abriu fogo (o “Setúbal”, o “Bifes” e o “Olhão”).

Quase em simultâneo, irromperam na noi-te, gemidos de dor. Imediatamente, inda-guei e soube tratar-se do nosso Camarada FZE “Olhão” que aflito gritava: - “ai que já não posso jogar à bola”.

Fui o primeiro a chegar junto do ferido e logo lhe fiz um garrote improvisado com a minha rede mosquiteira, digamos que às apalpadelas, atando-a na perna, por cima do joelho, cujo gémeo se encontrava praticamente despedaçado. Sensivelmen-te de 15 em 15 minutos ia-lhe aliviando o garrote.

Entretanto, via rádio, com o meu PRC 216 entrei em contacto com o Comandante do DFE 1, o então 1.º Tenente Costa Campos, informando-o de que tínhamos um ferido grave tendo-me ele ordenado

que regressasse imediatamente com o ferido ao Cobué. Em face da distância a percorrer e o estado grave do “Olhão”, o Comandante enviou ao meu encontro o Enfermeiro Marcolino que, escoltado por uma equipa de fuzileiros especiais, trouxe uma maca do quartel e veio prestar socorro ao ferido em pleno mato.

Não foi “pera doce” o nosso encontro.

O Comandante, via rádio, foi-me dando instruções, designadamente, quanto ao azimute que eu deveria seguir até à es-trada (picada) de terra batida, que dava acesso ao quartel, picada essa, por onde o Enfermeiro veio ao nosso encontro.

E lá fomos nós, mato fora, transportando o “Olhão” o melhor que podíamos e sa-bíamos.

Começámos por tentar improvisar uma espécie de maca com casacos camuflados, atados pelas mangas e apoiados em duas G-3. Mas isso não deu bom resultado.

Depois, com os casacos atados a dois paus arrancados dos arbustos, já correu um pouco melhor, permitindo transpotar o “Olhão” até à picada, em cima daquela engenhoca.

Quando encontramos o Enfermeiro, ele substituiu o garrote improvisado por outro de borracha, adequado, para evitar mais perdas de sangue. E o enfermeiro não foi de cerimónias, dando-me o “chá” chamou-me à atenção pelo facto de não ter injectado morfina no ferido, ao que respondi: “éh pá, ò “Marcóles”, na refrega nem me lembrei da morfina que levava comigo a tiracolo, no quite individual de primeiros socorros”.

Após socorrido, pelo enfermeiro, o ferido foi evacuado de lancha, do Cobué para Metangula, na madrugada do dia seguinte; e daí para Vila Cabral, de coluna militar, onde o cirurgião do exército o esperava. Posteriormente foi transferido para o Hospital da Marinha na Metrópole.

Dos rumores, acerca da sorte que o “Olhão” teve em escapar, contava a “maralha” que, o cirurgião em Vila Cabral terá querido saber, quem fora o médico que laqueou a perna do ferido; ao que os fuzos presentes informaram que não tinha sido nenhum médico, mas sim um enfermeiro da Marinha. Então o cirurgião, em termos elogiosos, terá afirmado: “no mato sem condições, salvou-lhe a vida”.

Ramires da Palma BonitoSóc. Orig. n.º 91

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Corria o mês de Maio do Ano da Graça de 1971. Ganturé. Base de Fuzilei-ros situada a 2/3 do caminho, mais

palmo menos palmo, entre Vila Cacheu e Farim, para quem subisse o rio que tão gratas recordações deixara ao Marinhei-ro E, que o sulcou em diversas escoltas a comboios, a bordo das saudosas LDM’s.

Por esta altura, no período de serviço ex-terno, o Marinheiro E cumpria, com o seu pelotão, tarefas de reforço à segurança do aquartelamento. Era assim na alternân-cia cometida às Companhias de Fuzilei-ros destacadas no TO da Guiné: escoltas simples, comboios de batelões, apoio em Ganturé, no Período de Serviço Externo, e segurança às INAB no Período de Serviço Interno.

Ganturé. Duas cercas de arame farpado a guardar, a partir do centro do períme-tro. No ponto mais elevado, os edifícios das secretarias das Unidades destacadas, as Messes de Oficiais e de Sargentos, os Postos de Sentinela, os Bunkers, a que carinhosamente chamávamos Abrigos, o Posto Médico, o Grande Barracão, o Par-que de Combustíveis, a Horta, a Vacaria, e já fora, junto ao rio, o Cais a que atraca-vam as embarcações que se aventuravam pelas suas águas: batelões, LDM’s, LFP’s, LFG’s e até LDG´s.

Por esta época, a vida, em Ganturé, era a coisa mais pacata do mundo, feita das rotinas que enchiam o dia-a-dia de cada um: levantar, formatura com distribuição de trabalhos, orientados para as limpezas num navio de terra seca feito, sem descu-rar a preparação das valas para o esco-amento das chuvas que não tardariam a chegar, o almoço, o jogo de futebol de sa-lão para o qual havia sempre voluntários, a meia tarde, o jantar e lá pelas 23 horas o recolhimento à dupla protecção do Abrigo, por um lado, contra eventuais incursões do IN, e por outro, do Mosquiteiro, que nos punha a coberto dos ataques de melgas ferozes e sedentas de sangue.

Digamos que a vida, a boa vida, já se tinha instalado de novo e em força, diluídos os últimos resquícios da noite do nosso de-sassossego, 22 para 23 de Abril, ainda tão próxima e ao mesmo tempo tão distante, perdida na bruma inexorável do tempo. Nessa noite, pelas 23 horas, em apenas

15 minutos, e sem que nada o fizesse esperar, Ganturé estremeceu de uma ponta à outra: primeiro o intenso bombar-deamento a Guidage, que fez correr toda a gente para os Abrigos e à tomada das necessárias medidas de segurança, cada um no seu posto, depois as flagelações mais ligeiras sobre Barro e sobre Bijene, e, pelas 23.15, o ronco surdo, assustador, dos foguetes lançados sobre a Base, que, felizmente para nós, foram deflagrar todos em pesadas explosões, na bolanha do ou-tro lado do Cacheu.

Dos oficiais apinhados junto à porta que dava para leste, quando o primeiro foguete se anunciou, um deles, não se sabe quem, inquiriu:

– Que barulho é este?

Uma pausa, os ouvidos e os olhos todos no ar, o coração a acelerar, e o comandante:

– Mísseis, todos para dentro!

Todos? Bem, quase todos, que houve 2 que se escaparam do grupo, o Marinheiro E e o Imediato, que contornaram a austera e poderosa construção a correr na direc-ção da porta virada a norte. Porta precária feita de um caixilho de madeira a suportar um rectângulo de rede mosquiteira com cujo trinco, um prego dobrado em L, o Marinheiro E, com as pernas tremebun-das, nunca mais atinava, o que terá levado o Imediato a gritar:

– Vá depressa, caraças, antes que entre-mos os 3!...

Lá dentro, com as coisas a entrar na ordem, passado o sobressalto, o Marinheiro E, que se tinha apercebido apenas de um camarada atrás dele, atirou:

– Olha lá, Imediato, quem é que vinha atrás de ti?

E o Imediato:

– O foguetão, c’um caneco!...

Fosse como fosse todos os sentimentos, os medos desatados pelos acontecimen-tos dessa noite eram coisa do passado e já só, de vez em quando, e normalmente às refeições – o efeito de grupo – se brincava com a tremedeira das canetas do Mari-nheiro E. Provavelmente para esconder as próprias…

Normalmente ao almoço, hora a que o Imediato, um rapaz alto, seco de carnes, de barba loira, cerrada, com laivos ar-ruivados, ainda tinha ânimo para animar a malta com as estórias imaginárias que congeminava nas tardes em que um es-tranho torpor o tomava e o isolava me-ditabundo. Deixávamo-lo entregue a si próprio e pronto. Acreditávamos, sim, que era nessas estranhas meditações que as estórias eram digeridas. Estórias que metiam, sempre, quase sempre, gajas, como aquela da actriz italiana, a filmar

Castufo com sabor a leite de rosa

Elísio Carmona

Ganturé - messe de oficiais (edifício quadrado) e secretarias (comboio)

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contos&narrativas

22 O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

em Lisboa, uma brasa loiraça de derreter o aço mais temperado, que num afamado restaurante da Baixa alfacinha, o galou, rendida ao brilho da farda, talvez, mas seguramente ao garbo do senhor cadete da Marinha de Guerra Portuguesa e lhe mandou recado “às tantas no hotel X…”.

Pormenores do repasto? Não conto. Não que não os tivéssemos escutado mil ve-zes, os tivéssemos esquecido, também não por não acreditarmos neles, nos pormenores, mas por respeito à própria estória. Já a sabíamos de cor. Mas era o que faltava! Bem bastava já… sei lá,… Só acrescento que à boca pequena, sorrindo concupiscentes, aventávamos entre um encolher de ombros: “é um TS!…

Iam as coisas neste ritmo, todas encarrila-das, quando numa dessas tardes, passado o período das agonias, o Imediato se diri-giu ao Marinheiro E:

– Marinheiro E, pá, está-me a apetecer um caldo verde…

– Caldo verde? A estas horas? E onde está ele?

– Passei pela arrecadação e dei com um fogareiro a petróleo, da marca Hipólito. Há batatas e cebolas na cozinha, da cantina trouxe um chouriço e na horta há couves que são um espanto. O que dizes?

– Digo que “rebente quem se negue!”…

E atiraram-se aos quefazeres para confec-cionar o dito caldo.

Aceso o fogareiro, com o auxílio de álcool desnaturado, para aquecer previamente o barulhento espalhador, lembram-se (?) panela com água ao lume, ingredientes lá para dentro - migar as couves e fazer o puré é que foi o cabo dos trabalhos, sem as modernices de agora, pela falta de jei-to e de prática - e 1 hora depois sorviam, sentados e no meio de poucas falas e com muito vagar, a saborosa sopa de to-dos os apetites. As palmadinhas sonoras nas barrigas compostas e as risadinhas a acompanhar - o “tens jeito, pá, o melhor é mudares de profissão e ires para cozi-nheiro qu’isto de espingardas…” - diziam isso mesmo, que estavam consolados e, provavelmente, nesse instante, mesmo Ganturé estaria a léguas de distância, completamente esquecida.

Foi o Imediato o primeiro a regressar à Base:

– Marinheiro E, toca a caminho de Bijene. Vamos tomar um “castufo” ao Bar da Magala.

Como ordem de superior é ordem de su-perior, e como primeiro cumpre-se e de-pois é que se tosse, antes que aparecesse algum impedimento já o Marinheiro E se estava a instalar no assento do pendura daquela carcaça a que, por simpatia, toda a gente chamava jipe.

Deixada para trás a Tabanca Nova, aldeamento de controlo da população,

mais ou menos a meio caminho, iam longe de imaginar a surpresa que os esperava à entrada da vilória: 3 Alferes, fardadinhos dos pés à cabeça como se se dirigissem para um desfile no qual comparecesse SEXA o Senhor Governador, com a mão, luva branca vestida, fizeram “ALTO!”, e questionaram:

– Onde vão vocês?

E o Imediato:

– Vamos tomar um “whiske” ao vosso bar.

– O quê?! Pá!, não façam isso…

– Porquê? Já não se pode? Acabou-se? Ripostou o Imediato, com o Marinheiro E sossegadinho no seu canto.

– É que… é que… nós nem sabemos quem vocês são…

– Ess’agora, atirou o Imediato, surpreso.

– Olhem bem para nós, disse um dos “Al-ferozes”, e olhem para vocês. Para poder-mos sair do quartel para uma volta pelas ruas de Bijene tivemos de nos fardar como podem ver, botas engraxadas, camisa, gravata, dólmen, com este clima, sim, e vocês, sim, vocês… vocês são grumetes, sargentos, oficiais?...

Olhámos. Realmente o nosso traje tinha ficado todo lá em baixo, que não se podia chamar às botas de lona a esconder as meias, ao calção azul da ordem, à boina do Imediato e ao quico do Marinheiro E farda do quer que fosse. Ainda assim o Imediato atreveu-se a falar da nossa aventura, e com tanta ênfase o fez, “é só um café e um castufozinho, já que estamos aqui…”, que lá conseguiu a anuência dos camaradas do exército, mas com uma condição:

– Bem, se forem interpelados por alguém - imaginámos nós por algum superior - a vocês nem o nosso faro vos passou pelas narinas, certo! E não se demorem…

Cumprida a vontade do Imediato, bebido o café com o respectivo acompanhamento,

Ganturé - posto de sentinelaGanturé - o abrigo

Ganturé - a horta

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contos&narrativas

23O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

depressa se deu corda aos sapatos, ou às botas, como soe dizer-se. E “refizeram--se” à estrada. Tranquilamente. Era isso que o Marinheiro E sentia e pensava até à entrada da Tabanca Nova onde o jipe estacou.

– O que é agora, Imediato?

– Vem além a Rosa…

A Rosa era uma das nossas lavadeiras. Aproximava-se de regresso a casa, bacia de zinco à cabeça, filho escanchado nas costas. Vinha carregada com a roupa la-vada. Estrada fora veio-se aproximando, aproximando, e quando a uns 10 metros já guinava para a entrada da aldeia o Ime-diato, braço esquerdo apoiado na guarda da porta do jipe, chamou:

– Rosa, anda cá…

A Rosa, rapariga jeitosa e bem roliça, mu-dou a direcção e aproximou-se da nossa viatura, mão esquerda no bordo da bacia para melhor se equilibrar, agachou-se para escutar melhor.

– O que é, sinhor Tinente?

O Imediato, com ela bem fisgada, deixou descair o braço ao longo da porta e com a mão esquerda deu um valente apalpão na “nalga” direita da boa da Rosa. Que res-pondeu de imediato e antes que o Imedia-to pudesse acrescentar o que fosse, jogou a mão livre, a direita, à mama e despejou uma tremenda esguichadela de leite fres-quinho na barba loira, cerrada, de laivos arruivados do Imediato.

O Marinheiro E não teve tempo nem para se segurar, que o jipe, conduzido pelo Imediato, a escorrer leite da Rosa da sua barba loira, cerrada e de laivos arruivados, venceu a distância de uma aceleradela só, estacou de supetão, e antes que pudesse, sei lá, rir, sorrir apenas, já o Imediato de-sarvorava para parte incerta.

Apareceu para o jantar, certo de que iria ser o bombo da festa, que o Marinheiro E tinha adubado bem o caldo verde com todos os condimentos conhecidos e desconhecidos a que deitou mão.

A orquestra estava afinada e não foi surpre-sa nenhuma a primeira das bocas.

– Com que então, ó Imediato, “castufo com sabor a leite, hein”?! – disse um.

– Com sabor a leite, sim, mas leite da Rosa, acrescentou outro.

– E sabe a quê o “castufo” aleitado?

– E a barba, olhem a barba dele, tão bran-quinha que até parece que lhe nevou em cima…

O Imediato, silencioso, sorria para dentro - percebia-se pelo leve esgar dos lábios finos que se adivinhava por baixo da barba cer-rada.

Comeu de um trago só, e desandou. Que isso de sabores de “castufos” com sabor a leite da Rosa só ele é que tinha ficado a saber e não estava disposto a dividir com mais ninguém.

A conversa foi esmorecendo ao sabor da lentidão das horas. O reino da metempsi-cose percebeu, o Marinheiro E, pela von-tade indómita de bocejar, gritava instante por ele. Meteu-se a caminho do abrigo e do seu mosquiteiro. No curto percurso parou por uns segundos, alertado pelos clarões que do lado do mar anunciavam no seu fragor a chegada breve da Esta-ção das Chuvas, com data no calendário, como toda a gente sabe.

Recolhido nos seus aposentos, permita-se o arroubo, arrumados os acontecimentos do dia, inquiriu uma última vez “a que saberá, afinal, um “castufo” com leite da Rosa?”. Com a dúvida pertinente por des-fazer, fechou os olhos e adormeceu.

Outono de 2013

Marinheiro E*

*O Marinheiro “E” é o Socio Originário N.º 1542, Oficial FZ RN que integrou os efectivos da CF 11 que cumpriu uma comissão na Guiné nos anos 1971/1972.

Ganturé - o jeep

A VOSSA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS VIVE DAS VOSSAS QUOTASPrezados Camaradas:

Pela estima que temos por todos os Sócios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa participação.

Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que nos propusemos é determinante podermos contar com a quotização de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação se vai juntando.

Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas podem ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais evidentemente ponderosas. Porém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusemos a resolver o problema.

Esperamos pela vontade e disponibilidade desta família de Fuzileiros no sentido de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da Associação e dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.

Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento. Para obstar a isto aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou de 12 em 12 meses.

Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de quatro cafés por mês?

Por razões de custos – e desta vez será em definitivo – vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro à Associação, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.

Solicitamos a todos os Sócios que preencham o impresso para autorização de pagamentos das quotas por débito bancário, sistema que é muito mais cómodo e evita o pagamento de quotas acumuladas. Informem-se junto do Secretariado Nacional (tel.: 212 060 079, telem.: 927 979 461, email: [email protected])

Consideramos ser este um acto de justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não pagam.

Cordiais e amigas saudações associativas.A Direcção Nacional

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opinião

24 O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Há dias cruzei na estrada nacional com uma pequena colu-na de Fuzileiros equipados para combate. Gostei de os ver! Seguros e hirtos, deixando transparecer convicção pela ga-

lhardia da atitude. Não pude conter uma calorosa euforia interior que me fez sentir naturalmente próximo, ainda que no silêncio e na discrição do anonimato. Aquela imagem instalou-se na minha memória visual por algum tempo, o suficiente porém para me levar a mais uma demorada e já repetida reflexão, que se prende com a necessidade de Portugal dispor de Forças Armadas equilibradas e suficientes, à medida dos requisitos da actualidade. De uma ma-neira que parece clara, para um número demasiado alargado de portugueses, o facto de o país não se encontrar em situação de guerra declarada, pode alimentar a ideia de que os nossos meios militares poderiam ser substancialmente reduzidos por razões de natureza económica ou mesmo outra, até ao ponto de apenas restarem as capacidades necessárias ao “policiamento” do nosso espaço territorial, aéreo e marítimo. Esta é todavia uma teoria fala-ciosa porque parte de pressupostos estão basicamente desenqua-drados da realidade, já que não levam sequer em conta a natureza dos riscos e por vezes das ameaças que é necessário controlar ou conter em favor da Paz e da segurança do país! Se não, vejamos:

As tecnologias modernas tornaram o mundo muito mais pequeno. O que outrora se considerava risco apenas em caso de proximida-de com a fronteira geográfica, pode configurar-se nos dias de hoje a distâncias apreciáveis evoluindo facilmente logo a partir daí para ameaças de facto que podem concretizar-se contra nós, se os pa-íses eventualmente visados não reforçarem as suas alianças e não participarem no esforço comum de contenção desses riscos até à distância que se tornar necessária, ou seja, até à sua “fronteira longínqua”. Repare-se por exemplo que nos dias de hoje na força naval da NATO que, inicialmente permanente para o Atlântico, é agora designada por “Standing Nato Maritime Group 1” (SNMG1) e já não está confinada apenas ao Atlântico. A tranquilidade e a se-gurança de que apesar de tudo se beneficia, que está muito longe de ser um privilégio de todas as regiões do mundo, pode depender, e depende largamente, desta capacidade que elimina uma grande parte da nossa vulnerabilidade, mas que só é atingível com a par-ticipação de todos os países aliados e amigos, sendo necessário portanto que também Portugal possa dispor dos meios adequados para que assuma a sua parte possível neste esforço conjunto. Até porque, por outro lado, a credibilidade internacional de Portugal ficaria irremediavelmente comprometida se o país usufruísse de benefícios para os quais em nada contribuísse.

Acresce ainda, que a história nos ensina que quando a capacidade de reacção militar de um país, ainda que à sua dimensão, é pos-ta em causa, o aproveitamento por parte de eventuais opositores não se faz esperar, e até mesmo países supostamente amigos e até aliados, nem sempre intercedem favoravelmente. Serve como exemplo referir, levando embora em conta a mentalidade domi-nante na época, que entre Novembro de 1884 e Fevereiro de 1885 teve lugar a chamada conferência de Berlim que estipulava, entre outras resoluções, que as ocupações dos territórios africanos para serem consideradas efectivas, obrigavam ao conhecimento ade-quado e ao domínio de facto sobre esses mesmos territórios, não dependendo o direito à sua posse apenas de se ter tido a primazia sobre eles.

Consciente das nossas limitações a nível militar, para além disto e em sequência, a Inglaterra lançou-nos um “ultimatum” segundo o qual Portugal deveria entregar de imediato os territórios que deti-vesse no Malawi e no Zimbabwe, o que foi feito, embora mediante uma negociação bem-sucedida para Portugal, que nos conferia a posse de territórios alternativos. Mesmo assim, havendo razões para se temer que o entusiasmo dos ingleses não terminasse aqui, e de facto não terminou, sentiu-se a necessidade de reforçar quanto antes a Armada até à medida do possível, tendo-se con-seguido por subscrição publica, o que foi a todos os títulos notável e exemplar, a aquisição do cruzador “Adamastor” construído para Portugal em Livorno, na Itália em 1887, e que era para a época uma unidade naval com um elevado valor militar que se manteve por mais de duas décadas, embora ainda assim insuficiente para suprir completamente as necessidades da Armada e do país.

Reduzidos na actualidade ao Continente, Açores e Madeira (onde se incluem as Selvagens) apesar da vastidão da nossa ZZE, não se pense que as preocupações com a defesa têm hoje menor impor-tância do tiveram passado. Inesperadamente, o país pode ter que se confrontar no mínimo com situações de “tomada de pulso” até, como aconteceu com a Espanha no dia 18 de Julho de 2002 quan-do um pequeno grupo de militares de Marrocos ocupou o ilhéu de Perejil, localizado a NW de Ceuta, e ali hasteou a bandeira do seu país. A resposta espanhola não se fez esperar desencadeando a operação “Romeo-Sierra” tendo a Armada assegurado o domínio do mar, com a inclusão imediata da sua componente submarina nas forças navais mobilizadas, possibilitando o desembarque de tropas especiais no ilhéu, que ali restauraram o domínio espanhol. Os Estados Unidos mediaram com êxito este conflito, que terminou sem efusão de sangue, mas que teria provavelmente posto em causa as possessões espanholas no norte de África, se a Espanha não tivesse demonstrado na altura, capacidade militar suficiente.

Além disto em situações de acidente grave, de catástrofe, ou sim-plesmente de apoio às populações, as Forças Armadas são sem-pre um recurso precioso e imprescindível. Tomei conhecimento preliminar da tragédia ocorrida na praia do Meco em Dezembro passado, que envolveu um grupo de estudantes universitários, quando me apercebi que tinha descolado da Base Aérea do Mon-tijo (BA6), um dos nossos helicópteros “Merlin EH101”, que voava em direcção ao oceano, bastante cedo, numa manhã cinzenta e fria de final de Outono, e a um Domingo.

As capacidades das Forças Armadas, mesmo quando estas não se encontram aparentemente envolvidas em nenhuma situação particularmente crítica, garantem a persistência de um factor dis-suasivo que podendo embora não ser sempre visível aos olhos de todos, é constatável na prática pelo contributo de forma muito si-gnificativa para a Paz, de que depende a prosperidade social, e para a continuidade da Pátria. Além disso, há que levar em conta que nada é para sempre. As realidades e as relações internacio-nais podem alterar-se. O correr dos tempos traz naturalmente mu-tações. Mas as capacidades mantêm-se quando existem de facto. E é sempre com elas que se conta quando os novos tempos trazem consigo novas realidades.

António Ribeiro RamosSóc. Efect. n.º 1053

(Comt. MM)

Contribuir para a PazAntónio Ribeiro Ramos

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opinião

25O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Na Instituição Militar, o patrono é, por norma, uma figura tutelar associada à história e às tradições – quando

existem – de um determinado comando, órgão ou unidade, na maior parte das vezes uma espécie de “pai fundador” e quase sempre um modelo de virtudes e fonte de inspiração para os membros da entidade que o elegeu (não confundir com a figura do padroeiro, de caráter mais reli-gioso e espiritual1).

No caso da Marinha, temos no Infante D. Henrique o patrono de toda a Corpo-ração, embora a Escola Naval também o reclame como seu patrono particular. Ainda na Escola Naval, existe, desde há muito, a tradição de atribuir um patrono a cada novo curso incorporado. Depois há os patronos dos navios de guerra – critério atualmente aplicável apenas aos escoltas oceânicos e aos navios ocenográficos – que são, por definição, as personalidades históricas com cujos nomes são batiza-dos. Neste enquadramento, afigura-se um pouco estranho que os Fuzileiros, como corpo especial da Armada, com o seu ri-quíssimo, antigo e mui nobre historial, não tenha ainda patrono atribuído.

Partindo, então, do princípio de que vamos colmatar essa lacuna, põe-se, em seguida, o problema da escolha. Se fosse feito um inquérito aos antigos e atuais membros do Corpo, é quase certo que a esmaga-dora maioria apontaria como “figura de proa” o Vice-Almirante Roboredo e Silva (1903-1987), conhecido como “o pai dos Fuzileiros” e o grande responsável pela

criação (ou antes “recriação”) desta força anfíbia há mais de cinquenta anos – mais concretamente em 1960 –, para que a Marinha pudesse dar a devida resposta às grandes perturbações que, na altura, co-meçavam a agitar os territórios ultramari-nos portugueses.

Se tivermos, porém, em conta que o ve-nerando Almirante Roboredo é uma per-sonalidade relativamente recente e que a história dos Fuzileiros recua, pelo menos, até 1621, ano em que foi criada a primeira unidade permanente de infantaria de Ma-rinha, o Terço da Armada Real, a figura do fundador deste corpo militar, D. António de Ataíde (1567-1647), 5.º Conde da Cas-tanheira, emerge naturalmente como um dos mais fortes “candidatos” ao simbólico pedestal. Naturalmente, alguns poderão argumentar que o Terço não tinha ainda um caráter puramente naval, ao contrário da Brigada Real de Marinha, que lhe suce-deu, após algumas evoluções intermédias, em 1797. Nesse caso, poderemos juntar ao leque de possíveis escolhas os nomes do Ministro da Marinha que presidiu à criação desta força, D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812), e do seu primei-ro Inspetor, D. Domingos Xavier de Lima (1765-1802), 7.º Marquês de Nisa, sob cujas ordens a Brigada teve o seu batismo de fogo, durante as campanhas do Medi-terrâneo de 1798 a 1800.

Mas se a existência de um corpo militar regular não for critério obrigatório nesta escolha, nada nos impede de recuar às grandes operações anfíbias da Expansão

Portuguesa, nas quais sobressai, com grande destaque, o vulto do grande Afon-so de Albuquerque (1453-1515), conquis-tador de Goa e Malaca, terror do Índico, Mar Vermelho e Golfo Pérsico e uma das maiores personagens da nossa História.

Para complicar ainda mais, podemos, por fim, debruçar-nos sobre o período dos ba-talhões expedicionários de Marinha, em que os marinheiros, tornados infantes na ausência de uma força especificamente dedicada2, ajudaram a pacificar alguns dos nossos territórios ultramarinos, so-bretudo nos conturbados anos da I Guerra Mundial, naquilo que foi um prelúdio, com meio século de antecedência, à ação dos Fuzileiros no Ultramar português. Neste período particular, a figura mais emble-mática será, provavelmente, a do herói-co e lendário almirante Afonso Cerqueira (1872-1957), que a 20 de agosto de 1915 comandou a carga do Batalhão de Mari-nha no celebrado combate de Mongua (Angola).

Aqui ficam, pois, algumas humildes e bem intencionadas sugestões, para o caso de, um dia, os Fuzileiros decidirem escolher um patrono que simbolize as virtudes que os caracterizam e distinguem dos demais, uma escolha que não será, decerto, nada fácil.

... Ainda bem que não tenho de ser eu a fazê-la.

Jorge M. Moreira SilvaSóc. Efect. n.º 1053

(Comt. MM)

Um Patrono para os Fuzileiros?

Jorge M. Moreira Silva

1 Estas definições, puramente empíricas, são da exclusiva responsabilidade do autor.2 A Brigada Real de Marinha fora extinta em 1832 e o Batalhão Naval, que lhe sucedera, em 1851.

Vice-Almirante Roboredo e Silva (1903-1987)

D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812)

Almirante Marquês de Nisa (1765-1802)

Afonso de Albuquerque(1453-1515)

Vice-Almirante Afonso Cerqueira (1872-1957)

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trilogia poética

26 O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Lançamento do DVD“Fuzileiros Quatro Séculos de História (1621/2012)”

e Trilogia Poética

Com a presença de representantes do CEMGFA, do CEMA, do CEME e do CEMFA teve lugar, no passado dia 19 de Outubro, o evento mais significativo e, seguramente, de maior nível,

do último ano de mandato da anterior Direcção da Associação de Fuzileiros.

Por iniciativa deste executivo realizou-se um filme sobre a his-tória dos Fuzileiros e lançou-se o respectivo DVD, com cerca de 100 minutos de duração, intitulado «Fuzileiros – 1621/2012 – Quatro Séculos de História». O filme, da autoria do jornalista Carlos Santos, (que teve a colaboração da RTP) assessorado pelo antigo Presidente da AFZ, Comt. António Mateus obteve, em relatos repor-tados às respectivas épocas, relacionados com a Guerra de África nas diversas frentes (Angola, Guiné e Moçambique) a colaboração de vários sócios importantes da nossa Associação que não será despiciendo citar, por ordem das suas intervenções: Pascoal Ro-drigues, Ludgero Santos Silva - o “Piçarra”, António Mateus, Pires Dias, Carreiro e Silva, Lhano Preto, José Pinto, Vasco Brazão, Max-fredo Campos. Para que isto fosse possível, connosco colaboraram, também, o Comt. Martins de Brito, o Almirante Nuno Vieira Matias (que foi combatente na Guiné, DFE 13, e Chefe do Estado Maior da Armada) o Comt. Mário Tavares e, a fechar, o actual Comt. do Corpo de Fuzileiros Contra-Almirante Cortes Picciochi.

Presentes nas cerimónias – que incluiu um agradável pôr-do-Sol – muitos oficiais, sargentos e praças, fuzileiros e antigos fuzileiros e suas famílias, na sua grande maioria Sócios da nossa Associação,

sendo que o Salão Polivalente da AFZ foi pequeno para acolher cer-ca de 120 convidados que foram, para além das entidades, sobre-tudo, os sócios e seus familiares.

Reproduzidos extratos do filme que foram relatados pelo autor, Carlos Santos e por António Mateus, proferiu pequena alocução o Presidente da AFZ, Lhano Preto.

O evento fechou com um espectáculo de grande nível intelectual e artístico, da autoria da nossa associada e Adjunta do Chefe da Divisão Cultural e da Memória, Dr.ª Laurinda Rodrigues.

Esta Senhora, Mulher, com “M” grande, dos sete ofícios (advogada, psicóloga, grupanalista, poeta, compositora e, não sabemos que mais…) tem três obras de poesia publicadas (“Vertigens do Ser – do nada ao ser Esperança”, 2008; “Compassado”, 2012 e “As Palavras do Tempo”, 2013). Ela própria, com a ajuda de músicos decidiu musicar, em jeito de fado, alguns dos seus próprios poemas que vem colocando na voz de várias fadistas/cantoras.

A AFZ teve o privilégio de assistir a um espectáculo inédito a que autora chamou “Trilogia Poética”, cujo programa não resistimos à tentação de transcrever, não lhe retirando demasiado o cunho que a própria autora lhe imprimiu na respectiva formatação. A apresen-tação da autora foi feita pelo escriba destas linhas.

Marques PintoVice-Presidente da Direcção

Foto

s de

Már

io M

anso

Autora dos Livros da “Trilogia Poética” (“Vertigens do Ser”, “Compassado”e “As Palavras do Tempo”) e voz de dizer poemas: Laurinda Rodrigues

Voz de poemas cantados: Vânia CondeGuitarra: Ricardo Parreira

Viola: Marco Oliveira

ProgramaPoema dito: “Auto-Retrato” do livro “COMPASSADO” (página 9)

Poemas cantados: – “É no Teu Rosto, Portugal” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 64)

– “Português Marinheiro” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 63)

Poema dito: “Quando um Homem Decide” do livro “VERTIGENS DO SER” (página - 77)

Poemas cantados: – “Não Tenhas Medo da Morte” do livro “COMPASSADO” (página 79)

– “Deixa o Tempo” do livro “COMPASSADO” (página 41)

Poema dito: “À Volta de Uma Palavra” do livro “COMPASSADO” (página 67)

Poemas cantados: – “Deixa” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 42)

– “Nós” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 41)

– “Eu Quero Ser Cachoeira” do livro “AS PALAVRAS DO TEMPO” (página - 20)

Poema dito: “Entrega” do livro “AS PALAVRAS DO TEMPO” (página 10)

Poemas cantados: – “Voltou a Chuva” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 28) – “CANSEI” do livro “VERTIGENS DO SER” (páginas 10 e11)

(Convite ao público para dizer/declamar POEMAS de qualquer dos livros, à sua escolha)

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trilogia poética

27O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Foto

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Már

io M

anso

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almoço de natal

28 O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

O Almoço/Convívio de Natal14 de Dezembro de 2013

No passado dia 14 de Dezembro realizou-se o já tradicional almoço/convívio de Natal da Associação Nacional de Fuzileiros.

Mais uma vez se registou uma grande adesão a este evento que juntou cerca de trezentos sócios, familiares e amigos da grande família dos fuzileiros.

O local já habitual, a Quinta da Alegria em Penalva, é cada vez mais pequeno para reunir tanta gente que “teima” em aumentar todos os anos.

Com a boa vontade de todos – os fuzileiros são sempre pesso-as de boa vontade – conseguiu-se albergar toda a nossa gente, numa refeição primorosamente servida que teve, sobretudo, de encontro e de amizade.

Foto

s de

Már

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Foto de Manuel Lema Santos

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almoço de natal

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O calor humano que os fuzileiros tão bem sabem transmitir foi o toque importante nesta emotiva manifestação de solidariedade.

Na mesa de convidados estiveram presentes os Presidentes da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia do Barreiro, antigos e actuais Comandantes do Corpo, da Escola e da Base de Fuzi-leiros, outras personalidades de relevo para a nossa instituição e Esposas, acompanhados pelos Presidentes e Vice-Presidentes da Assembleia Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal da AFZ e por titulares do nosso Conselho de Veteranos e Esposas.

A mesa das Delegações esteve, como sempre, muito bem repre-sentada, com os nossos Camaradas e Dirigentes do Algarve, Gaia e Juromenha/Elvas.

No decurso das horas de convívio mataram-se saudades e nostalgias, e brindou-se até som vivo de uma banda musical.

E não faltou, também, a alegria das Senhoras e das Crianças que transmitiram ao ambiente beleza ternura e dignidade. Disseram breves palavras de boas-vindas os Vice-Presidentes da Direcção; o Comandante do Corpo de Fuzileiros, com quem estamos sempre de braço dado e costas com costas, dirigiu-se a todos os presentes e também aos ausentes desejando um Bom Natal e um bom ano de 2014.Fechou a série de pequenos discursos o Presidente da Direcção da AFZ que formulou, também, votos de Boas-Festas e agradeceu à equipa directiva e aos Sócios o seu voluntarismo, tudo quanto deram à AFZ e a forma como desinteressadamente o fizeram.De facto, só equipas de particular valia constituídas por verda-deiros voluntários puderam conferir à Associação o prestígio, o nível de cortesia e o calor humano tão presentes nesta verdadeira instituição que, como tal se prolongará para além dos homens.

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cadetes do mar

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Conforme calendário de actividades programadas para o dia 16 Novembro, o encontro com os Cadetes realizou-se como sempre, na Estação Fluvial do Barreiro. Quando chegamos

com a viatura, já lá estavam eles, trajando de uniforme azul com o símbolo da Associação de Fuzileiros.

Depois dos cumprimentos habituais, seguimos em direcção à E.F. À nossa espera encontrava-se o Senhor Oficial de Dia, que deu as boas vindas em nome do Comando da Escola. De seguida, foi transmitido ao cadete mais antigo quais as instalações que estavam destinadas para a Unidade, com a seguinte recomendação: que no final da instrução, as deixassem limpas como as encontraram.

A Instrução iniciou-se com a Disciplina de Aptidão Física, “treino em circuito”, ministrada pelo formador de Educação Física da Es-cola de Fuzileiros, e dirigida pelo oficial coordenador das Activida-des dos Cadetes do Mar, Senhor 1.º Tenente Pedro Dias.

A 2.ª aula da manhã: “Disciplina de Cerimonial Naval”, onde fo-ram abordados vários temas de regulamentação militar. Segui-damente, os alunos assistiram a uma palestra apresentada pelo Senhor Sargento FZ na Reforma, José Manuel Parreira, sobre o

tema relacionado com a Guerra do Ultramar, com o título “Uma história de vida“, relatando a sua experiência através do seu tes-temunho. Ao longo do seu discurso deu a conhecer a sua dramá-tica luta pela sobrevivência, depois de ter sido ferido com cinco tiros, e ter lutado durante 14 horas pela vida, até ser encontrado. Uma história de resistência, em que uma vez mais ficou demons-trado, que nunca se deve desistir, mesmos nos momentos mais adversos da vida.Depois de almoço, os alunos dirigiram-se para a Unidade de Meios Desembarque, onde os cadetes do 1.º ano aprenderam a montar um bote Zebro III. Seguidamente, auxiliados pelos camaradas do 2.º ano, transpor-taram os botes para o rio. Como marinheiros de antanho, traça-ram rotas, sulcando as águas do velho rio Coina, com disciplina e denodo, em sintonia, com remada forte, enfrentando a corrente contrária que se fazia sentir para montante. O patrão do bote, aluno do 2.º ano ia marcando a cadência, como um marinheiro experimentado, (Hipo, hopi, Hipo, hopi) assim, conseguindo man-ter o ritmo dos remadores, como nas “galeras gregas”, e o velho zebro III lá ia sulcando as águas do rio, até que chegou ao cais da Escola de Fuzileiros.

A Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros, apoiada financeiramente pela nossa Associação e com pessoal voluntário, da AFZ, vem desenvolvendo importantes actividadades no ano lectivo de 2013/2014 que os respectivos Comandante e Mestre da Unidade nos têm sistematicamente relatado. Para informação mais clara e pormenorizada transcreve-se a seguir o essencial dos textos

que nos têm chegado, subscritos por José Talhadas Comandante da Unidade e sócio originário n.º 95 da AFZ e Afonso Brandão, Mestre da Unidade e sócio originário n.º 1833 dando-se à estampa alguns dos correspondentes registos fotográficos.

O jovens são habitualmente transportados para e da Escola de Fuzileiros na viatura da nossa Associação.

Cabe qui uma referência ao Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA), com o qual subscrevemos protocolo, instituição que teve a iniciativa da constituição dos Cadetes do Mar, e ao Corpo e Escola de Fuzileiros, sem a colaboração empenhada dos quais não seria possível dar execução ao projecto.

A 1.ª e 2.ª actividades dos nossos Cadetes do Mar Fuzileiros foram descritas na edição 17.ª da nossa revista “ O Desembarque”.

Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros

3.ª Actividade 16/11/2013

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cadetes do mar

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Conforme calendário de actividades programadas para o dia 7 de Dezembro, efectuou-se o encontro às 13:30 horas, com os Cadetes no Museu da Marinha.

A formação foi baseada no estudo de dois temas diferentes: para os alunos da 1.ª Esquadra, (1.º Ano) foi escolhido o tema sobre os “Heróis Marinheiros da 1.ª Guerra Mundial”, e para os alunos da 2.ª Esquadra, (2.º Ano) foi sobre os Fuzileiros na Guerra do Ultramar 1961/1974.

Os alunos foram acompanhados pelos respectivos Formadores dos Cadetes do Mar, nos temas de estudo que o acervo histórico do Museu de Marinha nos proporciona.

O estudo foi baseado nos Heróis Marinheiros distinguidos pelos ac-tos de bravura, decisão, coragem e espirito de sacrifício praticados em combate, na defesa das Províncias Ultramarinas de Angola e Moçambique, contra as Forças alemãs, até ao final da guerra.

Os Cadetes tomaram conhecimento, sobre as causas, efeitos e consequências nessa época com a entrada de Portugal na 1.ª Guerra Mundial, e o poderio militar distribuído pelos Países que fizeram parte deste conflito.

Foi escolhido por cada aluno o seu Herói Marinheiro. Deste modo, foi possível adquirir mais informações sobre cada personagem: como o ingresso na Escola Naval, início da carreira militar, funções exercidas de comando, condecorações, cargos diplomáticos em

representação de Portugal, actividade cultural e a data do seu falecimento.

Os alunos da 2.ª Esquadra, acompanhados pelo seu formador, dirigiram-se a outra secção do Museu, com a finalidade de es-tudar uma das guerras mais longas no decurso da História Por-tugal. A Guerra do Ultramar, conhecida hoje como Colonial, que decorreu entre 1961 a 1974, nas Províncias Ultramarinas de An-gola, Guiné e Moçambique.

A formação baseou-se nos seguintes temas: as causas da guerra, Renascer dos Fuzileiros, os acontecimentos em Angola, 1.º curso de Fuzileiros, instrução, constituição dos Destacamentos Fuzileiros Especiais e das Companhias e Pelotões de Fuzileiros Navais, equipamento e armamento utilizados e meios navais que os apoiavam.

No final da visita de formação ao Museu, as duas Esquadras reuniram-se com os seus formadores na sala de estudos. Foi realizado um resumo sobre cada um dos temas abordados, e foram esclarecidas algumas dúvidas apresentadas pelos alunos.

No final foram trocados cumprimentos de despedida e votos de Boas Festas entre Formadores e os Cadetes.

4.ª Actividade 7/12/2013

Depois, seguiu-se o prazer supremo, quando os jovens cadetes experimentaram a velocidade de um motor fora de borda de 50 cavalos, primeiramente agarrados a tudo que lhe parecia uma “pega” do bote com receio de serem jogados pela borda fora. Depois, já mais confiantes, saboreando o prazer sublime da velocidade e finalmente, a sensação suprema de conduzirem um bote Zebro III.

Pareciam velhos Fuzileiros a sulcar as águas do rio Cacheu, Zaire, ou do Lago Niassa.

No final, aprenderam a desmontar e a arrumar os botes nos seus hangares.

Uma tarde inesquecível, que proporcionou mais conhecimentos na sua formação de Cadete do Mar e que faz jus ao seu lema – “Valor, Lealdade e Mérito”.

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No sábado, 18 de Janeiro de 2014, às 14.00 horas, os Cadetes iniciaram as actividades programadas, na Fragata “D. Fernando II e Glória”, no Núcleo Museológico Naval de

Cacilhas.

A sua 5.ª actividade iniciou-se com a abordagem de dois temas já programados: para os cadetes da 1.ª Esquadra (1.º Ano) tema sobre os “Heróis Marinheiros da 1.ª Guerra Mundial”, e para os Cadetes da 2.ª Esquadra (2.º Ano) foi dada a conhecer a Nomen-clatura do Navio e demonstrados exercícios da Arte do Marinheiro.

Sobre os Heróis Marinheiros da 1.ª Guerra Mundial, os cadetes apresentaram os seus trabalhos referentes aos heróis escolhidos e que se notabilizaram neste conflito, tais como: Azevedo Coutinho, Afonso Cerqueira, Carvalho de Araújo e Oliveira e Carmo.

A Marinha, nesta guerra, distribui-se entre missões de escolta a navios mercantes, transporte de tropas para a França, e Ultramar Português e fiscalização das águas portuguesas em zonas tem-pestuosas e infestadas de submarinos alemães, destacando-se o combate travado pelo NRP “Augusto Castilho” contra o submarino Alemão U139.

A nossa Marinha, também participou no esforço de guerra com um Batalhão de Marinha, em Angola e Moçambique contra as tropas Alemãs, em que muitos marinheiros sacrificaram as suas vidas em defesa da Pátria. Pelos feitos destes bravos marinheiros

e dos seus actos heroicos em combate, o Estandarte da Escola de Tecnologias Navais (ETNA), sucessora do Corpo de Marinheiros da Armada, ostenta 2 condecorações da Ordem Militar da Torre de Espada e 2 Medalhas de Cruz de Guerra.

Os Cadetes do 2.º ano tiveram a oportunidade de se familiarizar com a estrutura de um navio, aprendendo deste modo a conhecer, que a parte mais importante do mesmo é o casco. É dentro do casco que estão instalados a máquina, os alojamentos do pessoal e todas as outras componentes do navio, assim como o seu esqueleto interior chamado ossada, onde se encontram as peças mais importantes: quilha, roda de proa, cadaste, baliza, longarinas, vaus e pés de carneiro.

Seguidamente foi feita uma demostração de variadíssimos nós e voltas para os mais diversos fins, sendo os mais vulgares, nó direito, nó de escota, lais de guia, assim como a volta de fiel e voltas falidas.

Por último, contámos com a presença de dois alunos da Escola Na-val que foram convidados para testemunhar as suas experiências enquanto alunos desta Instituição tão importante da nossa Marinha.

Foi uma oportunidade dos Cadetes Mar Fuzileiros, poderem ouvir jovens quase de a sua idade, descrever as suas experiencias, fei-tas de dedicação e sacrifício e, principalmente, de força de von-tade para alcançar os objectivos a que se propuseram – terminar o curso e saírem Oficias da Armada. Foi certamente uma lição que os Cadetes do Mar Fuzileiros não irão esquecer já que, por vezes é mais fácil passar a mensagem quando ela é transmitida de jovem para jovem.

Os alunos da Escola Naval conseguiram com seu discurso de in-centivo, deixar um conhecimento mais profundo sobre a Escola Naval fazendo jus ao lema “TALENT DE BIEN FAIRE”.

5.ª Actividade18/1/2014

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6.ª Actividade (15/2/2014)

Conforme calendário do dia 15 de Fevereiro, os alunos apre-sentaram-se na Estação Fluvial do Barreiro e foram trans-portados pela viatura da Associação para a Escola de Fu-

zileiros.

À chegada, foram recebidos pelo Senhor Oficial de Dia da Unidade, que lhe deu as boas vindas, seguindo de imediato com os seus Formadores para as instalações que lhe estavam destinadas.

Os alunos devidamente uniformizados, dirigiram-se para a Parada da Unidade, onde se realizou a primeira formação, sendo ministrado o exercício prático de Cerimonial Naval, onde executaram individualmente várias funções de comando, ao nível de secção e pelotão, sempre supervisionado pelo formador dos Cadetes do Mar.

Seguidamente, os alunos receberam formação sobre Cartografia da responsabilidade do formador da Escola de Fuzileiros. Iniciou--se esta disciplina, com a leitura e interpretação de cartas To-pográficas, aprendendo o Sistema de coordenadas geográficas, topográficas, militares, e UTM (Universal Transverse Mercator).

A partir do conhecimento de Quadrícula, da escala e dos sinais convencionais duma carta, aprenderam a identificar e localizar acidentes naturais no terreno.

Também, estudaram a configuração do terreno; relevo, cota, altitude, curva de nível, declive, linhas de água e outros sinais convencionais que uma carta apresenta.

Aprenderam a distinguir a direcção de origem, direcção do zero ou de referência normalmente utilizada, direcção norte, e deste modo, a conhecer o norte geográfico, magnético e car-tográfico.

Seguiu-se a apresentação da Bússola magnética, a sua constituição, a introdução da declinação magnética, assim como as preocupações na sua utilização.Depois do almoço, os alunos dirigiram-se para o exterior da Es-cola (Mata da Machada), onde reiniciaram as aulas práticas sobre cartografia, colocando em execução os conhecimentos teóricos adquiridos anteriormente.

Aprenderam a localizarem-se no terreno, a orientar a carta, e seguir direcção de azimutes. Seguidamente, os formadores elaboraram um percurso e juntamente com os alunos, percorreram um itinerário, ajudando-os no esclarecimento das dúvidas que por vezes surgiram.

Por último, realizou-se a formação na área de apoio escolar (História), sobre o tema “O Dever da Memória” em homenagem aos heróis que defenderam Portugal.

As actividades de Formação terminaram às 17.00 horas, apresentando os cadetes, cumprimento de despedida aos Formadores da Escola de Fuzileiros.

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No sábado dia 1 de Março de 2014, realizou-se a 7.ª activida-de na Escola de Fuzileiros. Os alunos tinham em calendário para esta data, formação na área de Ciências Militares na

disciplina de Liderança. Matéria sempre aguardada com muito interesse por parte dos alunos e dos seus formadores.

Depois de uma breve palestra do formador da unidade sobre a importância desta disciplina, a qual será útil para o futuro dos alunos no desempenho de cargos civis ou militares. Acrescentan-do também que, a área de liderança fortalece os conhecimentos básicos na realização de tarefas do cotidiano da vida. Aprendendo técnicas que certamente lhes servirão para ultrapassar diferentes formas de actuar em situações difíceis e na aprendizagem de li-derar um grupo.

Esta aula de Liderança (teórica) ministrada pelo formador SAJ FZ Carlos Beja, efectuada nas instalações do DFCO da Escola de Fuzileiros, foi abordada as diversas formas de a exercer: “autori-tária, democrática e a inócua”.

Suportada através de pequenos filmes, ajudando a compreender cada uma de essas formas. Foi igualmente dado a conhecer as Características e o Perfil de Competências, que um líder deve reu-nir para executar determinadas tarefas: comunicação oral, saber ouvir, capacidade de planear e organizar, capacidade de dirigir, capacidade de adaptação, auto confiança, auto domínio, espirito de colaboração, iniciativa e dinamismo. Foi igualmente exempli-ficado pelo formador, a importância de obter estas caractisticas para determinação de um líder

Foi aberto um espaço de tempo para questões e esclarecimentos dos temas apresentados durante a sessão teórica de abordagem à liderança.

Depois de almoço, os alunos reiniciaram área de Liderança (pratica) na execução de tarefas em zonas e locais apropriados e de responsabilidade do DFCO, nesta Escola.

Foram realizadas diversas tarefas de Liderança, onde foram colocados em prática os conhecimentos adquiridos pelos alunos durante a aula anterior. Observou-se o Perfil de Competência no desempenho da realização da tarefa atribuída a cada aluno. Briefing – Como transmitir a informação de uma forma lógica e fluente, comunicar de forma clara e assertiva, definir a tarefa, a informação de recursos e as limitações existentes.Planeamento e Organização – Definição de funções, a atribuição de recursos e avaliação da compreensão de cada elemento das suas funções no grupo.Execução – a coordenação, motivação e dinamismo do apoio ao grupo, o cumprimento do planeamento, a gestão do tempo e as limitações de segurança.

De briefing – análise dos pontos negativos e positivos, os resultados obtidos pelo grupo e igualmente a sua própria autocritica na execução das tarefas efectuadas.

No passado sábado dia 5 de Abril de 2014, realizou-se a 8.ª e última Actividade da Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros, no âmbito do Calendário anual de Formação, na Escola de

Fuzileiros.

A actividade iniciou-se com a Disciplina da Aptidão Física. Os Cadetes mais antigos já tinham experimentado a dificuldade da travessia da Pista de Lodo, de se movimentarem nela, no espírito de sacrifício que tinham de estar imbuídos para ultrapassar as di-ficuldades, como por exemplo; transportar um objecto volumoso, auxiliarem um camarada em dificuldades físicas, incentivar na transposição de obstáculos inopinados, tudo aquilo que os mais novos ainda não conheciam.

Mas desta vez, eles iriam experimentar todas essas sensações sentidas pelos seus camaradas mais antigos, acompanhados por eles e pelo seu Formador da Escola de Fuzileiro.

Depois do aquecimento físico de preparação muscular/articular e psicológico que sempre se realiza antes do início de esta prova, os cadetes iriam pela 1.ª vez sentir a dificuldade em ultrapassar alguns obstáculos da pista. De início, os mais novos sentiram-se receosos, mas, depois da demonstração e das palavras de incen-tivo do seu formador que os acompanhava, souberam ultrapassar os obstáculos com segurança, terminando com o sentimento do dever cumprido e com a confiança redobrada de poderem enfren-tar outras dificuldades.

7.ª Actividade1/3/2014

8.ª Actividade5/4/2014

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Seguidamente, os cadetes tiveram uma reunião com os seus Formadores, para apresentarem dúvidas e esclarecimentos sobres as várias matérias aprendidas durante este ano de Formação prestes a findar e, na preparação de um programa tentativa e datas para as próximas actividades do ano 2014-2015.

Depois do almoço, realizou-se a entrega ao Serviço de Abastecimento, do uniforme n.º 9 (verde), que foi utilizado pelos cadetes durante ano de Formação na Escola de Fuzileiros.

Seguiu-se a realização na Parada da EF, do ensaio para o Dia do Cadete do Mar, inserida na cerimónia de homenagem aos que

combateram por Portugal, a realizar no dia 10 Maio, onde esteve presente o Director de Instrução do Corpo de Cadetes do Mar.

Na sala de aulas do Batalhão de Instrução da EF, os cadetes apresentaram os seus contributos históricos para a exposição a efectuar no Dia dos Cadetes do Mar, com temas alusivos a esta cerimónia. Foram feitas algumas correções e sugestões para a melhorias dos trabalhos já efectuados.

Depois de terem terminado as actividades, os cadetes apresen-taram os seus agradecimentos e despedidas ao representante do Comando da EF, o Senhor 1.º Tenente Pedro Dias.

Transcrevem-se as palavras do Presidente da Direcção da AFZ, José Ruivo, que recolhemos de uma mensagem electrónica que nos enviou dia 11 de Maio:

«Estive ontem na Escola de Fuzileiros na cerimónia do Encontro Nacional dos Cadetes do Mar.

Estiveram presentes o Presidente da Liga dos Combatentes, o Director do Museu Militar, o Presidente do GAMA, o presidente da Comissão Cultural da Marinha e os comandantes do Corpo e Escola de Fuzileiros, entre outros. A cerimónia contou também com os familiares dos cadetes.

A primeira parte foi a cerimónia própriamente dita, na parada, junto ao monumento, em que foram homenageados os nossos heróis – o Corpo de Cadetes, era comandado pelo CMG RES Franco Facada, da Comissão Cultural de Marinha.

A segunda parte foi uma visita à exposição que os diversos grupos realizaram e na qual apresentaram os seus projectos.

Penso que é um trabalho muito meritório aquele que está a ser feito com aqueles jovens, alguns filhos de camaradas nossos. Com o fim do serviço militar obrigatório, considero que estas iniciativas são um pequeno/grande contributo para a educação dos nossos jovens nos valores de cidadania - o seu Lema é VALOR, LEALDADE E MÉRITO.

O Talhadas e o Afonso, em particular, estão de parabéns pelo excelente trabalho realizado».

INFORMAÇÕES/PEDIDOS/RECOMENDAÇÕES DA DIRECÇÃOEndereços Electrónicos

A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que possuam endereços electrónicos (email) o favor de os remeterem ao Secretariado Nacional ([email protected]) para facilitar as comunicações/informações que se pretende assumam a natureza de constantes e permanentes.

Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase real, de todas as regalias de que poderão usufruir, bem como das datas e locais dos convívios e eventos, da iniciativa da Associação ou dos Associados.

Documentos de despesa com saúdeA Associação de Fuzileiros, através do seu Secretariado Nacional, disponibiliza aos seus associados o serviço de recepção e encaminhamento, para os serviços competentes, dos documentos de despesas com saúde.

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corpo de fuzileiros

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“A Escola de Fuzileiros (Fig. 1) é uma unidade em terra da Marinha, que tem por mis-são principal a formação profissional do pessoal da Marinha para o desempenho de funções próprias da classe de Fuzileiros” competindo-lhe por esta via assegurar a

formação militar-naval, sociocultural e científico-tecnológica, dos níveis 2 e 3 de certificação de qualificação profissional, adequada ao desempenho das funções próprias das categorias de sargentos e praças, da classe de fuzileiros e, no aplicável, da classe de manobra e serviço, a formação militar-naval, sociocultural e científico-tecnológica dos oficiais dos Regimes de Contrato e de Voluntariado da classe de fuzileiros, colaborando ainda na formação dos oficiais da classe de fuzileiros, no domínio da sua formação inicial e contínua. Para além disso a Escola de Fuzileiros assegura a formação militar-naval básica das praças da Marinha (recruta) e toda a formação em transportes terrestres da Marinha.

A estrutura operativa da formação da EF compreende o Diretor Técnico-Pedagógico, que exerce também o cargo Comandante do Bata-lhão de Instrução (Fig. 2), um Centro de Recursos e os Departamentos de Formação Geral (DFG), Operações, Armas e Sensores (DFOAS), Comportamento Organizacional (DFCO) e Transportes Terrestres (DFTT).

Ano Letivo 2012/2013

Segundo o Plano de Atividades de Formação da Marinha existem nesta Escola, cursos de PAFM I – Formação Básica e Carreira – Especialização e cursos de PAFM II – Aperfeiço-amento.

Relativamente à formação de sargentos, o ano letivo 2012/2013 iniciou-se na ETNA – Escola de Tecnologias Navais a 15 de outubro de 2012, com os Cursos de Formação de Sargentos – CFS – de todas as classes de Marinha cabendo à Escola de Fuzileiros dar a continuidade numa segunda e última fase, aos cursos das classes de Fuzileiros (FZ), de Condutores (V) e de Manobra e Serviços (MS). Assim, concluída que foi a 1.ª fase do CFS, apresentaram-se nesta Escola, a 10 de abril de 2013, os alunos dos CFS FZ, CFS V e CFS MS, para dar continuidade e concluírem os respetivos cursos.

No que à formação de praças diz respeito, e após dois anos de interregno, iniciou-se nesta Escola em 10 de janeiro, a 1.ª Edição 2013 do CFBP – Curso de Formação Básica de Praças (recruta) de toda a Marinha, que após Juramento de Bandeira em 21 de feve-reiro, aqui continuaram no CFP – Curso de Formação de Praças, os militares destinados às classes de Fuzileiros e de Manobras e Serviços. A 8 de abril de 2013 iniciaram-se as 2.ª e 3.ª Edições do CFBP que concluíram a sua formação, com a cerimónia de Juramento de Bandeira a 17 de maio.

Também no que diz respeito à formação de oficiais a 8 de abril de 2013 iniciou-se a 1.ª Edição do CFBO FZ – Curso de Formação Básica de Oficiais Fuzileiros que foi concluído, com a cerimónia de Juramento de Bandeira a 17 de maio.

Após três dias de descanso, como na 1.ª Edição do CFP, os Cursos de Formação de Oficiais (CFO FZ), CFP FZ e CFP MS, iniciaram os seus cursos.

No que concerne a todos os cursos FZ ministrados nesta Escola e como habitualmente, têm sido plenos de desafios e realizações dos formandos, com particular destaque para a Recruta, com a introdução aos Regulamentos, os primeiros passos na Ordem Uni-da (Infantaria – Fig. 3) e com os primeiros disparos no módulo de Tiro, nas aulas de Armamento.

Com a passagem para o CFP – Curso de Formação de Praças (Curso de Fuzileiro), a continuação das inevitáveis aulas de Edu-cação Física, algumas já com o “aconchego” da G3 (Fig. 4), na convidativa Mata Nacional da Machada ou não menos Pista de Lodo e ainda as eternamente agradáveis primeiras remadas no Rio Coina. Tudo isto complementado com módulos como Infan-taria de Combate, Operações Terrestres e Anfíbias, Explosivos, Minas e Armadilhas, Comunicações,...

Escola de FuzileirosFormação

Fig. 3 – CFO - Aulas de IF com espada

Fig. 1 - Brasão da Escola de Fuzileiros

Fig. 2 - Brasão do Batalhão de Instrução

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corpo de fuzileiros

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Depoimento de um Grumete:

“Durante a semana realizámos o crosse de 6 Km com arma, na Mata da Machada. A prestação da Turma foi muito boa. Realizámos também o teste prático de explosivos, onde tivemos que identificar vários materiais de explosivos e minas.

Efetuámos na carreira de tiro o percurso tático de Pistola Walther, onde a turma teve um bom desempenho. Realizámos também um crosse de 9 Km com arma, que incluiu a travessia da pista de lodo.

Nas aulas de Comunicações tivemos o primeiro contato com os equipamentos de comunicações militares, mais concretamente com o rádio PRC 525.”

Logo nas primeiras semanas, os exercícios práticos realizados no exterior aparecem, complementando a vertente teórica ministrada na Escola. Os exercícios “Com Raça”, “Alfange”, também conhecido por “Largada” e a “Noite Escura” foram os primeiros realizados pelos CFO e CFP. Neste último os formandos tiveram já contato com os equipamentos de Vigilância do Campo de Batalha utilizados pelo Pelotão de Reconhecimento (Fig. 5), da Companhia de Apoio de Fogos.

Depoimento de um Cadete, após uma das primeiras noites passadas no “Mato”:

“Nesta semana, das diversas atividades realizadas, a mais interessante foi a palestra dada pelo Pelotão de Reconhecimento, na qual podemos contatar com uma nova realidade de equipamentos, aprofundando os nossos conhecimentos na área dos equipamentos utilizados no Corpo de Fuzileiros.”

Outro ponto alto dos Cursos de fuzileiros é o primeiro contato com o Rio e os botes tipo Zebro III (Fuzos) aprendendo a montar e a desmontar os botes, assim como a remar. Estas aprendizagens irão ser marcantes e essenciais para desafios futuros, como são a participação na Prova de Remo em Botes do Corpo de Fuzileiros e a sempre ansiada, atribulada e temível descida do Rio Sado.

O CFO, CFS e o CFP com o decorrer dos módulos vão aprimorando novos conhecimentos teóricos e práticos exercitando técnicas, táticas e procedimentos, como manobras de contato com fogo real (diurnas e noturnas), entrada tática em posição de armas de apoio – MG3 e Carl Gustaf, estabelecimento de postos de observação, transposição de campos minados, lançamento de granadas de mão, reabastecimentos táticos, técnicas de sobrevivência e combates em áreas edificadas.

Isolados ou em simultâneo, os cursos vão ultrapassando e dando sequência a módulos cada vez mais exigentes, com as surpresas a surgir enriquecendo o espírito de grupo e de sacrifício, tão invejados por quem nos conhece e aqui não passa. São os exemplos de exercícios “Socinco Tridente” e “Finalmente” realizados pelos três cursos.

Como vem acontecendo desde o ano de 1978(1) as áreas de Grândola, Melides, Pinheiro da Cruz e Península de Troia têm sido palco da maioria dos exercícios práticos de todos os cursos de fuzileiro.

“Bujarrona 1201” e “Finalmente 1201” (Fig. 6), no âmbito do programa de formação da Escola, a quem se associou o estágio de cadetes fuzileiros da Escola Naval são mais alguns exemplos. O primeiro exercício visou avaliar os formandos na matéria ministrada no módulo de Operações Terrestres – Patrulhas de Combate. Durante dois dias os alunos planearam e conduziram vários golpes de

Fig. 4 – Prova de 9Kms com lodo

Fig. 6 – Exercício Finalmente

Fig. 5 – Patrulhas de reconhecimento

(1) Os exercícios decorriam anteriormente, nas proximidades de Aveiro: S. Jacinto e Rio Vouga

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mão e emboscadas, demonstrando a capacidade que os fuzileiros possuem de aplicar a sua iniciativa e ação ofensiva, de um modo controlado, no momento e local apropriado.

Terminado o exercício “Bujarrona 1201” e quando todos ansiavam pelo regresso a casa, os formandos foram capturados e feitos prisioneiros. Chegava desta forma o exercício “Finalmente 1201”, o mais temido de todos. Aqui sentiram as dificuldades pelas quais passam os prisioneiros de guerra. Após 48 horas de interrogatório contínuo e de um tratamento físico e mental muito exigente, foi-lhes facilitada uma fuga assistida e a res-petiva evasão para linhas amigas, mas não sem antes necessitarem de aguardar numa área segura, ao longo de cinco dias, onde, devido à falta de recursos necessitaram de colocar em prática as técnicas de sobrevivência que aprenderam.

Os alunos fizeram fogueira de forma improvisada, para se aquecerem, cozinharem e purificarem a água utilizada. Construíram os seus abrigos, caçaram e pescaram os seus alimentos, sobreviveram mantendo-se aptos e aguardando pelo dia em que poderiam tentar terminar a evasão e a consequente chegada à segurança da sua unidade.

Este exercício possibilitou aos alunos ganharem autoconfiança, autoestima e segurança nas suas capacidades básicas de sobrevivência, ganhar o endurance, espírito de grupo e de sacrifício fundamentais para um fuzileiro, só possíveis de alcançar, com uma sã camaradagem!

“Milhafre”, “Contra-Ponto”, “Torpedo”, “Bujarrona”, “Antares” e “Escorpião” são ain-da outros exercícios dos diversos cursos, cujos nomes provêm de operações militares realizadas pelos fuzileiros em África e que agora são adaptados nesta Escola, como exemplos.

Testemunho de um Grumete:

“No decorrer desta semana tivemos aulas teóricas e práticas como habitual e ainda o exercício ESCORPIÃO onde podemos pôr em prática a teoria dada em CAE (Combate em Áreas Edificadas – Fig. 7) ganhando um certo automatismo e destreza, em todas as ações que tomávamos e executávamos.

Não paramos quando estamos cansados, paramos apenas quando está feito!”

O CFS e CFG das classes de fuzileiro terminaram com o exercício “Mar Verde” (Fig. 8) abraçando a Península de Troia. Iniciaram com a prova psicofísica da decida do Rio Sado em botes a remos iniciada em Alcácer-do-Sal. Continuaram com exercícios práticos executados até à Lagoa de Melides através de patrulhas de reconhecimento e de combate, prática de orientação, manobras de contato, com a prática de com fogo real. Posteriormente embarcaram numa vaga de botes simulando o movimento navio-terra desenvolvendo uma incursão anfíbia com uma ação, com fogo real, sobre uma determinada posição. O exercício “Mar Verde” terminou com outra prova mítica: a marcha dos 50 Km!

De enaltecer ainda o excelente trabalho que, a exemplo de todos os capelães que têm passado pela Escola de Fuzileiros, tem sido realizado pelo Capelão Licínio.

Consegue aliar às suas aulas (Fig. 9), momentos de descontração para os formandos, e ainda o apoio da sua sempre útil presença e acompanhamento cívico dos formandos, em diversos exercícios, sobretudo nos que acarretam maior dificuldade física e anímica, elevando-lhes assim a moral.

As experiências adquiridas em novas missões, como na Bósnia--e-Herzegovina, em Timor-Leste e ultimamente no Afeganistão têm trazido novas realidades.

Mas também a participação nas operações de combate à pira-taria no Corno de África, as diversas missões de Evacuação de Não-combatentes (NEO) realizadas pelos Fuzileiros e os apoios à Proteção Civil, seja no patrulhamento em apoio do combate ao flagelo dos fogos florestais, seja no apoio à população da Ilha da Madeira aquando do aluvião aí ocorrido em 2010 e a que decor-reu do apoio à população de Moçambique aquando das cheias no Rio Save em 2000. Como consequência, os planos de curso têm incorporado as boas práticas trazidas por estas experiências.

Quando todos estes homens e mulheres, insignificantes na entrada da Escola de Fuzileiros, aquando da frequências dos cursos, dela saírem para as unidades operacionais, cedo se habituarão a fazer coisas com muito significado, para a Marinha e para o País.

Não se pense contudo que a formação na Escola de Fuzileiros, se destina apenas ao CFBP e aos cursos de fuzileiros. Como atrás referido e relativo ao PAFM I são ministrados ainda os CFS V, CFS MS e CFP MS. Mas, no entanto e como curiosidade, referir que os anos letivos não se resumem ao PAFM I. No último ano letivo 2012/2013 efetuaram-se também 48 cursos relativos ao PAFM II – Aper-feiçoamento, destacando-se 33 ministrados pelo DFCO, 19 pelo DFTT e oito pelo DFOAS, através do Gabinete de Armamento e Tiro.

Fig. 7 – Combate em áreas edificadas

Fig. 8 – Exercício na Lagoa de Melides Mar Verde

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Operação “Mar Verde”,Guiné - novembro de 1970

Missão: Afundar as embarcações que o PAIGC tinha na cidade de Conakry, na República da Guiné, libertar os militares portugueses detidos nas prisões de Conakry e substituir o Governo daquele país apoiando o Golpe de Estado a ser executado por elementos da oposição.

“O grumete FZE Abu Camará eliminou silenciosamente a sentine-la, o que permitiu a entrada a bordo das três vedetas P6. Abertas as portas das cobertas foram lançadas granadas de mão ofen-sivas para o interior das mesmas, neutralizando as guarnições. A equipa de assalto atravessou velozmente a ponte e invadiu os restantes navios...

...O grupo entrou de rompante pelo recinto, colocando-se em po-sição de enfiar a saída das casernas, enquanto alguns homens corriam para a armaria. Apanhados de surpresa, os guardas--republicanos tentaram sair das casernas mas foram abatidos na maioria, perdendo-se os outros na escuridão da noite. Ocupado o campo, abriram-se as portas da prisão onde foram encontrados cerca de 400 presos políticos que retomaram a liberdade no meio de grandes manifestações de alegria.

...A equipa Índia (10 homens) dirigiu-se para a central, eliminou duas sentinelas, prendeu o encarregado da Central e obrigou-o a cortar a luz da cidade.

...A guarda do Palácio Presidencial, ao ver chegar os dez homens da equipa Alfa, debandou em grande velocidade...

...A equipa Zulu dividiu-se em três elementos: O primeiro comandado pelo 1º. Tenente Cunha e Silva dirigiu-se imediatamente à prisão “La Montaigne”, onde, depois de violenta escaramuça, eliminou a respetiva guarda e libertou os 26 prisioneiros portugueses que lá se encontravam.

CTEN Alpoim Calvão “De Conakry ao MDLP”

Como atrás foi referido, a seguir se descreve o exemplo de uma das inúmeras operações militares efetuadas pelos fuzileiros em África, que há muito vêm dando nome, aos exercícios dos cursos da Escola de Fuzileiros:

Fig. 9 – Aula de Formação Cívica

Colaboração da Escola de Fuzileiros

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As equipas de Fuzileiros do Pelotão de Abordagem têm estado empenhadas no combate à pirataria marítima no

mar da Somália e no Golfo de Aden desde 2009. Têm integrado as guarnições dos navios da Marinha Portuguesa que atuam sobre a égide da NATO e da União Euro-peia.

Para a Operação Atalanta 2013 – missão da European Union Naval Force (EUNA-VFOR 13) – foi indigitado o NRP “Álvares Cabral”, um destacamento de Helicóptero Lynx e duas equipas do Pelotão de abor-dagem, constituída por 2 sargentos e 8 praças do Batalhão de Fuzileiros Nº1.

O aprontamento das equipas iniciou-se em fevereiro de 2012, com o Plano de Treino

Básico (PTB) do NRP “Álvares Cabral”, onde se começou a treinar as Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTP) de combate à pirataria. Em setembro de 2012, o navio realizou um intenso treino de 6 semanas no Portuguese Operacional Sea Training (POST), em Inglaterra. Durante o aprontamento conjunto também se realizaram treinos em terra: protecção de navio, acções de abordagem com inserção por meio combinados (por superfície através de semi rígida e por helicóptero utilizando a técnica de fast rope) e detenção e processamento de indivíduos suspeitos.

Para além do aprontamento em conjunto os militares da equipa de abordagem

Treino de tiro de manutenção dos padrões de prontidão operacionais com pistola metralhadora MP5

Elemento da equipa de abordagem a distribuir chocolates durante a assistência médica a uma jelbut dhow Iraniana

Equipa de abordagem na fase final de aproximação a uma jelbut dhow Iraniana

Fuzileiros na Somália

frequentaram o Curso de Sobrevivência, Evasão, Resistência e Extracção (SERE), (no Centro de Treino de Sobrevivência da Força Aérea); o Curso Complementar de Socorrismo e o Curso de Emergência em Combate (no Centro de Simulação Médica da Marinha – na ETNA) e o Curso de Abandono de Aeronaves em Imersão (na Esquadrilha de Helicópteros da Marinha).

No aprontamento interno foram treina-das múltiplas TTP das quais se destaca: inserção, controlo e revista de embar-cações suspeitas; combate em espaços confinados; tiro de longa distância com armas de precisão; inactivação de explo-sivos; natação de sobrevivência; técnicas de luta corpo a corpo; proteção de navio a navegar/atracado; recolha de prova e planeamento.

Durante o trânsito do navio e em alto mar, os fuzileiros insistiram no treino físico, nas TTP de tiro, de inserção por meio aéreo e de revista a compartimentos, de forma a manter os padrões de prontidão operacional.

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Já no mar da Somália, as equipas dos Fuzileiros efectuaram 8 acções de abor-dagem a embarcações suspeitas, onde colocaram em prática toda a formação e treino que precedeu o embarque.

De destacar a abordagem que ocorreu no dia 25 de abril, no Corredor Recomendado de Tráfego Internacional (IRTC), ao largo da Somália.

Surgiu de repente no radar uma embar-cação suspeita e num instante ouviu--se o aviso “equipa de fuzileiros prepara para abordar”. Em menos de 5 minutos os fuzileiros aprontaram-se e formaram para a projeção. Enquanto isso, o navio tentava intensamente comunicar com a embarcação com o intuito de estabelecer comunicações. Enquanto isso receberam o briefing do comandante com as suas in-tenções para a abordagem. Durante o em-barque nas semi-rígidas, o chefe de equi-pa efetua uma última verificação à equipa, que se manteve calma, pois estes são ele-mentos que possuem muita experiência neste tipo de operações; e alertou “aten-ção à segurança e cuidado na inserção na embarcação!”. Rapidamente seguiram em direção à embarcação suspeita. Já próxi-mo repararam não haver um local seguro para fixar a escada. Assim, com dificulda-de, conseguiram colocar as escadas (tipo poste de abordagem). Subiram a bordo e ao chegar ao convés avistaram um aglo-merado de pessoas, incluindo mulheres e crianças sentadas no chão, em cima de sacos de batatas e cebolas, à mercê de condições meteorológicas agressivas, aparentemente desidratados, com fome e em condições sanitárias precárias.

O chefe de equipa abordou o mestre da referida embarcação, questionando o que faziam ali aquelas pessoas e se estava tudo bem, ao que ele respondeu que eram passageiros que vinham do Iémen para a Somália. Havia no entanto um elemento da sua tripulação que estava muito doente, já sem capacidade para se levantar, e

que dificilmente iria resistir até chegar a terra. Perante este cenário foi informado de imediato o Comando e ordenado aos fuzileiros que fornecessem alguma da sua ração de emergência às crianças que tinham sinais de maior carência. O chefe de equipa recebe, ainda, a informação que seria enviada ajuda médica e alimentar logo que possível.

Esta foi uma das abordagens que mais marcou a equipa de fuzileiros, onde o compromisso, o dever e a arte de bem fa-zer fomentaram o sentimento de que vale a pena o sacrifício de estar longe do país e da família.

Outra tarefa atribuída às equipas foi a de segurança ao navio (tanto a navegar como atracado). Em especial nas áreas mais pe-rigosas como: o canal do Suez, ao largo de Mogadíscio (durante a reunião de altas Entidades Internacionais e Somalis que se efetuou no NRP “Álvares Cabral”), nos portos do Djibuti, de Mombaça, e de Pem-ba (durante a visita do Ministro da Defesa de Portugal a Moçambique).

Os fuzileiros portugueses tiveram, ainda, oportunidade de trocar conhecimentos com as equipas de abordagem da Suécia, Finlândia, da África do Sul, da China e com os Fuzileiros Moçambicanos.

Com estes efectuou-se um exercício conjunto de abordagem que serviu de demonstração para os Ministros da Defesa de Portugal e de Moçambique.

A missão Atalanta 2013 trouxe um im-portante incremento em conhecimento e experiência operacional através das mis-sões reais e, ainda, dos intercâmbios com forças internacionais.

As equipas do Pelotão de Abordagem exe-cutaram todas as suas tarefas e missões de uma forma exemplar, fruto da experi-ência e dedicação de todos os militares que a esta unidade pertencem. Para o sucesso do nosso engrandecimento con-tamos com o lema “Sempre Prontos”.

João Pinheiro1SAR FZ

(Chefe de Equipa de Abordagem)

Demonstração de uma infiltração da equipa de abordagem à comitiva chinesa

Militares de uma força de abordagem combinada (PELBOARD e Fuzileiros Moçambicanos) após uma demonstração de capacidades aos MDN de Portugal e Moçambique

Dois elementos da equipa de abordagem de segurança à tripulação durante a fase de revista a uma “boum cargo dhow” Indiana

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Companhia de Fuzileiros N.º 3Angola 1972/746 de Julho de 2013

23.º CFORN volta à “Casa Mãe”e comemora o seu 40.º Aniversário

19 de Outubro de 2013

A CFZ n.º 3 – Vila Nova da Armada -– Angola 1972/1974, unidade mista, integrando fuzileiros especiais, devido à sua imensa área de acção, em zona 100% operacional, levou

a efeito mais um momento de confraternização com um almoço convívio em Fátima, no dia 6 de Julho de 2013.

Iniciaram-se os abraços saudosos em frente à Capelinha das Apa-rições, local magistralmente escolhido para acolher esta grande família, que são os Fuzileiros, e neste caso específico, a da CFZ 3, e pedir à Virgem pelos que já partiram mas que, todavia, estarão sempre connosco enquanto viveram os que cá estão.

Após os abraços, as apresentações às famílias (filhos e netos) porque os cabelos já são poucos e brancos, dirigimo-nos a um restaurante na zona onde pudemos dar largas à confraternização e saciar o apetite com dois pratos “Bacalhau à mó“ e “Bife com Champignons”, bem regados com um bom tinto da região.

Restaria a parte sempre mais difícil e sofrida: a despedida. Ficou no entanto a promessa de que para o ano haverá outro convívio na Guarda e, por isso, as despedidas, embora sempre sentidas, tornaram-se mais suaves.

Estiveram presentes neste almoço, convívio, 47 militares e 50 fami-liares, totalizando uma “Família FZ” de 97 pessoas, que se espera aumentada para 2014.Fuzileiro uma vez fuzileiro para sempre

J. Silva BatistaSóc. Orig. n.º 2138

O dia 19 de Outubro de 2013 foi a data escolhida pelos ele-mentos do vigésimo terceiro curso de oficiais da Reserva Naval (23.º CFORN FZ) para as comemorações dos 40 anos

da sua entrada na Marinha. A data foi consensual uma vez que, dentro das disponibilidades apresentadas pela Escola de Fuzilei-ros, era a que mais se aproximava da data de início do Curso de Fuzileiros, em 15 de Outubro de 1973.

As comemorações decorreram de forma condigna, como era devido, na “Casa Mãe” dos Fuzileiros que recebeu de braços abertos os mancebos que há quarenta anos ali “bateram com os costados”.

Para que conste, estes mancebos, depois cadetes, ingressaram na Marinha a 30 de Agosto de 1973 e, terminada a formação na área militar-naval na Escola Naval marcharam, então, para Vale

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de Zebro a fim de iniciarem a sua formação como Fuzileiros a que já acima se aludiu.

Quarenta anos volvidos regressámos, quase todos, à casa mãe para um reencontro inolvidável onde todos foram lembrados: os que infelizmente já não estão entre nós, como é o caso dos ca-maradas Henrique Anjos e o João Cortez Pinto, e aqueles que, por muito fortes razões pessoais, não puderam estar presentes.

Num lampejo, os abraços do reencontro esbateram os 40 anos decorridos! Quase meio século!

Sentíamos que estávamos ali, que éramos dali, daquele espaço, daquela gente……

As marcas do tempo não apagaram o carácter de cada um, a sua maneira de ser, o seu sorriso, as suas expressões…. tudo como dantes.

Estavam ali, de facto, os cadetes de há quarenta anos. Percursos, vidas e até sortes diferentes mas estavam ali inteiros. Um pouco mais moderados, talvez, mas a irreverência e a boa disposição ali estava e reinava.

Foi com grande emoção que, lembrando e homenageando todos os fuzileiros já falecidos, se depôs uma coroa de flores no mo-numento ao Fuzileiro e homenageados os que já nos deixaram, visitados os locais mais marcantes pelo esforço e sacrifício, exor-cizados os mitos e temores, foi deixada, assinalando a efeméri-de, uma placa gravada no memorial da Escola de Fuzileiros para memória futura.

O almoço “convivido” no mesmo local de tantas outras refeições em comum foi, também, um excelente momento de con-fraternização que propiciou, a alguns dos participantes, a demonstração dos seus excelentes dotes de oratória.

No final lá voltámos todos ao nosso quo-tidiano deixando para trás promessas de futuros reencontros que certamente irão ocorrer.

De assinalar a presença amiga de dois dos três oficiais de outras classes de Marinha que connosco fizeram o Curso de Fuzileiro e que fizeram questão de partilhar estes momentos de reencontro.

Uma palavra de agradecimento ao Comando do Corpo de Fu-zileiros por ter autorizado este evento, ao Senhor Comandante da Escola de Fuzileiros por se ter dignado a estar presente e ter acompanhado os actos mais significativos com grande sensibi-lidade, ao Capelão Licínio pelas palavras sábias e atentas que proferiu durante a missa comemorativa, á Secção de Protocolo e ao Serviço de Abastecimento da EF pela colaboração prestada sempre com grande disponibilidade e profissionalismo.

Obrigado a todos.Benjamim CorreiaSóc. Orig. n.º 1351

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Realizou no passado dia 2 de Novem-bro de 2013 mais um almoço/con-vívio do DFE – Guiné 1967/1969.

Celebrámos o 46.º aniversário da sua fundação e, simultaneamente, o 36.º al-moço/convívio que se realiza sempre no primeiro sábado de Novembro.

Na Escola de Fuzileiros homenageámos os que já partiram e os mortos em com-bate. Depois fizemos uma visita guiada à Sala Museu do Fuzileiro.

Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12Guiné 1967/69

2 de Novembro de 2013

Seguidamente rumámos com as Famí-lias à Quinta da Alegria onde se realizou o nosso almoço/convívio.

E assim se passou mais um dia em com-pleta harmonia e camaradagem durante o qual se mataram as saudades e se contaram histórias de outros tempos.

Agradeço, em meu nome e do DFE 12, a publicação deste evento na nossa revista “O Desembarque”.

Manuel Ramos

Sóc. Orig. n.º 90

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40.º Aniversário do 24.º CFORN22 de Fevereiro de 2014

No passado dia 22 de Fevereiro de 2014 comemorou-se o 40.º Aniver-sário da entrada na Armada do 24.º

Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval (CFORN).

O curso tinha 31 elementos e todos con-cluíram o curso.

Iniciou-se na Escola Naval em 21 de Feve-reiro de 1974 e passámos em 16 de Abril de 1974 à Escola de Fuzileiros, terminan-do no dia 6 de Setembro de 1974.

Jurámos bandeira dia 28 de Setembro de 1974.

Este curso gerou 10 oficiais FZE´s.

Este curso gerou 7 oficiais que entraram para o quadro e seguiram carreira nos fu-zileiros: António Raposo, João Serra, Rui Trigoso, Jorge Monteiro, Camilo Mendon-ça, António Martins e João Hermenegildo.

Eu, António Raposo, cadete 17/74 era o chefe de turma.

O cadete 18/74 Carlos Cunha foi o primeiro classificado do curso com 15,96 valores.

No passado dia 22 de Fevereiro de 2014, reunimo-nos na EF com o seguinte pro-grama:

– Deposição de coroa de flores em ho-menagem aos fuzileiros mortos, no-meadamente 4 do nosso curso;

– Descerramento de placa alusiva ao curso no mural da EF;

– Visita ao Museu do Fuzileiro;

– Visita à “tabanca” e às pistas de com-bate e de lodo;

– Almoço convívio na sede da Associa-ção de Fuzileiros.

António RaposoSóc. Orig. n.º 2140

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Delegação de Vila Nova de Gaia3.º Aniversário e Almoço de Natal

À imagem dos anos anteriores, realizou-se no dia 7 de De-zembro de 2013, o Almoço-convívio de Natal e 3.º Aniver-sário da Delegação de Fuzileiros de Gaia (DFZG), organizado

pelos elementos da sua Direcção, comparecendo no evento 126 pessoas, sendo de destacar que 82 eram Fuzileiros.

A concentração da “Força-Tarefa” decorreu junto da sede da DFZG, seguido de um breve convívio e recepção dos convidados com um Porto de Honra.

Por volta das 11:00 procedeu-se à visita guiada ao Museu Militar do Porto que, entre o seu espólio, cativou particular interesse aos Fuzi-leiros, a espada de D. Afonso Henriques “O Conquistador”, 1.º Rei de Portugal, a colecção de miniaturas, armas e uniformes e, a réplica das trincheiras da 1.ª Guerra Mundial, fazendo as delícias de miúdos e graúdos, aliado à história do soldado Milhões e a sua “menina” - uma metralhadora Lewis.

No parque exterior do edifício do Museu apreciou-se diversas pe-ças de artilharia, inclusivo uma peça simples Bofors de 40 mm (equivalente às das antigas Lanchas de Fiscalização Grande e de Desembarque Grande) que, a par das armas ligeiras do es-paço dedicado a Guerra Colonial no “Pavilhão de Armas”, trans-portaram os Fuzileiros veteranos deste conflito para a memória

de tempos passados e recordar os sons de guerra, finda a visita procedeu-se à tradicional “foto de família”, sob a protecção da estátua de D. Afonso Henriques.

Pelas 13:00, a comitiva deslocou-se para o Restaurante Salguei-rinhos, em Grijó - Gaia, para a realização do Almoço-convívio de Natal e 3.º Aniversário da DFZ’s Gaia, iniciando-se com um agradável aperitivo ao ar livre, seguido de almoço. A DFZ’s Gaia na pessoa do seu Presidente - FZ Henrique Mendes saudou os convidados com as boas-vindas, fez-se um minuto de silêncio em memória dos camaradas já falecidos, com o imediato «grito de guerra dos Fuzileiros» principiado pelo Sarg. FZE Manuel Parreira e correspondido pelos Fuzileiros presentes.

Após o almoço, café e digestivos, a “Força-Tarefa” reuniu-se e cantou-se o Hino da Associação Nacional de Fuzileiros e os pa-rabéns à DFZG, provou-se o bolo e decorreu a distribuição de lembranças aos convidados, não faltou a já habitual boa disposi-ção do humor do Sarg. FZE Manuel Parreira e seus compadres no canto popular alentejano.

Como também já é habitual, também não faltaram os Fuzileiros “fotógrafo de serviço”, SAJ FZ Rogério Pinho Silva e FZE Mário Manso que, prontamente facultaram os seus registos fotográficos no Facebook. Este ano a DFZ’s GAIA convidou um grupo musical, os “R.B.A.” para animar o evento durante o almoço.

Parte dos convidados presentes na mesa de tribuna discursaram pela seguinte ordem:– FZ Henrique Mendes, Presidente da Delegação de Fuzileiros

de Gaia;– Comandante Lhano Preto, Presidente da Associação Nacional

de Fuzileiros;– Comandante Martins dos Santos, Comandante da Zona Marí-

tima do Norte e dos Portos de Douro e Leixões;– Eng. Vieira Azevedo, Vice-Presidente da Câmara Municipal de

Gaia;– Almirante Cortes Picciochi, Comandante do Corpo de Fuzilei-

ros.Rodrigues MoraisSóc. Aderente n.º 2082

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Transcreve-se, com pequenas alterações, o discurso do Presidente da Delegação de Vila Nova de Gaia, Henrique Mendes:

«Minhas Senhoras e meus Senhores

Uma palavra de agradecimento e apreço ao Comandante Zona Marítima do Norte, CMG, Martins dos Santos, por todo o seu empenho e cooperação com a nossa Delegação. Muito obrigado por tudo.

Um agradecimento especial, também, à Presidente de Junta de Freguesia do Canidelo, Dr.ª Maria José Gamboa, pela sua presença, que muito nos honra.

Agradecimentos ainda pelas presenças do 2.º Comandante Regional Norte da Policia Marítima, Jorge Gonçalves e do 2.º Comandante Local da Policia Marítima de Leixões, Sarg. Chefe Malveiro.

Camaradas:

Uma palavra de agradecimento á nossa Associação que este ano contribuiu com metade do valor do transporte no Dia do Fuzileiro, beneficiando assim os nossos sócios.

Mais uma vez houve uma participação positiva como vem sendo apanágio da nossa Delegação. Fizemo-lo com um enorme profissionalismo rigor e disciplina, coisa que deve preocupar sempre quem ostenta a boina azul ferrete.

Da nossa parte, sempre estaremos disponíveis podendo a nossa Associação contar com uma pronta resposta de espírito e corpo, quando e onde necessário. O lema é: “Onde quer que nos chamem estaremos”.

Este ano, com a ajuda da nossa Associação e do comandante Zona Marítima do Norte CMG, Martins dos Santos estivemos prestes a mudar de instalações, já que nos disseram que poderíamos ocupar um espaço na Associação de Canoagem, na margem do rio Douro, instalações com melhores condições para vos receber com a dignidade de Fuzileiros que somos e merecemos, pois como sabem as instalações onde nos encontramos são muito limitadas. O Presidente da Associação de Canoagem terá dito que sim e depois nunca mais nos recebeu faltando assim grosseiramente á palavra, sem dar mais explicações.

No ano passado a Câmara de Gaia disponibilizou-nos umas instalações em Crestuma, as quais agradecemos. No entanto o local não tinha as condições pretendidas por ser tratar do rés-do-chão de um prédio de habitação social.

Contudo a nossa luta na procura de umas instalações dignas continua. Não iremos desistir e contamos com o apoio da nossa Associação, do comandante Zona Marítima do Norte, que tem sido incansável, da Câmara de Gaia e da Presidente de Junta de Freguesia do Canidelo, Dr.ª Maria José Gamboa.

Estou certo que iremos conseguir um espaço digno para recebermos os nossos sócios e dar-lhes o conforto que eles merecem. Contamos com a vossa preciosa ajuda.

Em tempos de crise, um ombro amigo e um abraço com amizade faz falta, acima de tudo de amizade sincera. A nossa Delegação é isso mesmo. Teremos sempre um ombro amigo para todos vós e estaremos como sempre disponíveis para o que estiver ao nosso alcance.

Ultimamente temos estado ao lado do nosso camarada e amigo Teixeira numa hora menos boa, pois a sua irmã está bastante doente. Contribuímos com uma pequena ajuda para os seus tratamentos na Alemanha, mas acima de tudo com um abraço de amizade e

um ombro amigo, desejando as rápidas melhoras a uma grande lutadora, Jose-fina Rufo.

Um abraço de amizade, também, aos nossos combatentes por tudo aquilo que fizeram ao serviço de Portugal, lembrando com saudade aqueles que partiram dando a vida ao serviço da Pátria.

A Vós sócios, afectos à nossa Delega-ção, aos vossos familiares e amigos aos membros da Direcção da AFZ endereço também, um abraço de amizade, dese-jando-vos um Feliz e Santo Natal e um próspero Ano, repleto de sucessos e mui-ta saúde.

Vivam os Fuzileiros, viva PORTUGAL.»Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz de Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt

Um mundo de soluções para o seu lar...

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eventos

49O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Convidado pela AVECO tive o privilégio de partilhar, na qualidade de fuzilei-ro e de Sócio da AFZ, das cerimó-

nias organizadas por esta Associação de Combatentes, que promoveu uma série de eventos, no sentido de enquadrar actos da vida quotidiana da população, nas come-morações do quadragésimo aniversário do 25 de Abril.

Porque a nossa AFZ tem participado em vários eventos a convite da AVECO, para os quais somos quase sistematicamente convidados valerá a pena um relato sucin-to dos actos a que estive presente.

Logo pela manhã fez-se uma romagem ao cemitério, para recordar os nossos entes queridos fazendo preces a Deus, para que descansem em paz.

De seguida assistimos à celebração de uma Missa, na Igreja Nossa Senhora da Anunciação (Missa de Acção de Graças) em memória dos mortos nas guerras d´África.

No final da Missa reuniu-se junto ao Mo-numento do Combatente, onde se junta-ram a todos os convidados e a população em geral, e prestou-se homenagem aos Capitães de Abril, ali representados pelo Tenente-General Jorge Silvério.

António Basto, Vice-Presidente da AVECO, deu início à cerimónia, fazendo uma breve reconstituição histórica da Revolução do 25 de Abril de 1974, recordando a canção, “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carva-lho, que serviu de primeira senha à acção militar e a canção ”Grândola Vila Morena” (segunda senha) de Zeca Afonso.

Terminou o seu discurso, com a leitura de uma Mensagem General Ramalho Eanes,

enviada ao General Jorge Silvério, asso-ciando-se deste modo à homenagem que a AVECO promoveu.

Seguiram-se mais dois discursos de circunstância, proferidos por Fernando Afonso Pereira de Castro, Presidente da AVECO e pelo Eng.º João Duarte Anastácio de Carvalho, Presidente da Autarquia, tendo os dois oradores feito algumas considerações acerca da Revolução, convergindo para um ponto de vista em comum: ”Os Capitães de Abril, ao derrubarem uma ditadura de 40 anos, restituíram a liberdade ao povo e, puseram termo às guerras d´África, que duravam há 13 anos.”

O Presidente da AVECO concluiu o seu discurso, dizendo: “As armas que fizeram a guerra também nos trouxeram a paz e a liberdade”. O Presidente da Autarquia, deixou uma frase para reflexão: “Os sol-dados e marinheiros que fizeram “O 25 de Abril”, não devem ser esquecidos”.

Em seguida, com as devidas honras foi depositada uma coroa de flores junto ao Monumento do Combatente.

Associação dos Veteranos eCombatentes do Oeste (AVECO)

Comemoração dos 40 anos do 25 de Abril (Lourinhã)

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eventos

50 O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

O culminar das cerimónias, aconteceu com um discurso do Tenente-General Jor-ge Manuel Silvério, que depois de agrade-cer a presença de todos os convidados de honra, nos quais me incluíram, e de todas as pessoas que ali estavam, prestando a sua homenagem aos Capitães de Abril, a determinada altura do seu discurso disse: “Quem fez o 25 de Abril foi o povo. Mas os soldados sempre estiveram presentes na linha da frente nas batalhas da Inde-pendência de Portugal, nomeadamente na batalha de São Mamede e na batalha de Aljubarrota, entre outras”. E, apontando para o Monumento do Combatente, com alguma emoção, concluiu: “Os verdadei-ros heróis são os mortos, que estão sem-pre presentes”.

O General Jorge Silvério foi aplaudido com uma calorosa salva de palmas e, a encerrar as cerimónias, ao som de música, todos os presentes entoaram o Hino Nacional.

Num Restaurante da região foi servido um agradável almoço, onde tive a oportunida-de conhecer e conversar com alguns dos, também, convidados de honra, designa-damente, com o Presidente da Autarquia e com o General Jorge Silvério recordan-do, com este último, algumas das nossas passagens durante a Guerra, por terras do Norte de Angola e de Moçambique.Do que me foi dado constatar, o Tenente--General Jorge Silvério, é pessoa simples, de relacionamento fácil e de trato social afável e, como me referiu “o General Ra-malho Eanes, ex-Presidente da República foi um combatente notável, colaborador dedicado e amigo leal, cuja competência e dinamismo incansáveis colocou sempre ao serviço do País.” Parabéns à AVECO e os meus agradecimentos pessoais e tam-bém em nome da AFZ, por nos ter reser-vado lugar de honra.

José Lopes HenriquesSóc. Orig. n.º 938

CFR (R)

INFORMAÇÃOSnack-Bar/Salão Polivalente

e de refeiçõesInformamos os nossos Associados que o Snack- -Bar da AFZ da nossa Sede Social está em pleno funcionamento após obras de conservação/ma-nutenção.

Daqui exortamos todos os Sócios a que frequen-tem a nossa/Vossa Sede, o Bar e o Salão Poli-valente e de refeições e a que, os Camaradas organizadores dos habituais Almoços/Convívios, consultem sempre a AFZ e/ou o respectivo Con-cessionário do Snack-Bar, porque encontrarão, por certo, condições de relação qualidade/pre-ço muito favoráveis, para além de um ambiente agradável e de muito nível, propício à realização de eventos de qualquer natureza, em que as nostálgicas saudades, as alegrias, a amizade, a solidariedade, as nossas histórias e o espíri-to do fuzileiro se podem revelar em toda a sua plenitude.

Sugerimos que as marcações de pequenos even-tos ou os almoços/convívios sejam, em princípio, marcados com a intervenção do Secretariado Na-cional da AFZ (email: [email protected], tel.: 212 060 079; telem.: 927 979 461) por razões que têm a ver com a programação dos eventos da iniciativa da Direcção.

O Concessionário, cujo contacto telefónico é o 210 853 030, tem instruções para dar conheci-mento à Direcção de todos os eventos e/ou conví-vios que venham a ocorrer na Sede Nacional, antes de se comprometer na sua realização.

Saudações a todos os Sócios e suas Famílias.

A Direcção Nacional da AFZ

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obituário

51O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt

Aqui se presta homenagem aos que nos deixaram

A Associação Nacional de Fuzileiros e a nossa Revista “O Desembarque” apre-sentam sentidas condolências às Suas Famílias, publicando-se as respectivas fotografias que correspondem às que en-contrámos, com menor ou razoável quali-dade, nos nossos ficheiros.

Estes nossos Camaradas e amigos conservar-se-ão sempre entre nós neste Planeta e quando nos encontrarmos noutros Mundos.

Ricardo Pedro Simões MateusSócio n.º 2142

13/01/1974 a 11/11/2013

Nuno Maria de Brito ViegasSócio n.º 996

18/09/1946 a 29/11/2013

Vasco Luís S. Quevedo Pessanha

Sócio n.º 2035 21/10/1942 a 28/11/2013

Guilherme George Conceição Silva

Sócio n.º 164323/01/1930 a 12/2013

António Lopes PereiraSócio n.º 596

26/09/1940 a 28/12/2013

António da Silva FernandesSócio n.º 601

20/03/1948 a 15/05/2014

Fernando Gaspar TimóteoSócio n.º 1223

18/08/1938 a 10/05/2014

António Manuel AlvesSócio n.º 450

31/03/1953 a (?)

diversos

Novos SóciosNome do sócio N.º

Joaquim Francisco Lopes Martins 2296

João Francisco Imaginário César 2297

Ana Maria Filipe Teixeira Costa 2298

Carlos Manuel de Jesus Silva 2299

Diamantino Espirito Santo Correia 2300

José Manuel Glória Viana 2301

José Ramos Veiga Gil 2302

Manuel Jorge Ferreira 2303

Amadú Baldé 2304

Fernando Borges Pereira 2305

José Carlos Baptista da Costa 2306

Joaquim Manuel Marques Sá Ferreira 2307

Paulo Jorge Teixeira Vaz 2308

Rodrigo Pinto dos Santos 2309

Celso Manuel de Oliveira e Silva 2310

Fernando Jorge Gomes da Silva 2311

António José de Sousa e Silva 2312

Alberto Manuel Amaral Neves 2313

António Francisco Albino Marreiros 2314

Ludgero Jacinto Varela 2315

Arménio Manuel Neves oliveira 2316

Novos SóciosNome do sócio N.º

Luís Miguel C. Pereira da Silva Paulo 2317

João António Horta Gato 2318

Luís Filipe Pastor Liberato 2319

Luís Pereira Coutinho Sanches de Baêna 2320

José António de Sousa Diogo 2321

Daniel Fernando Silva Caetano 2322

Manuel Marcelino Viegas Catarino 2323

Manuel Domingos Ventura Pinho 2324

José Manuel Santos Silva 2325

António Faustino 2326

Domingos Manuel David da Costa 2327

José Mendes Gomes 2328

Henrique Matos de Carvalho 2329

José Carlos Morais da Silva 2330

Valter Santos Rosário 2331

Manuel Fernando Carreira 2332

Manuel Francisco Ventura 2333

Miguel Filipe Cabrelo Morgado 2334

João Francisco Cachopo Laranjo 2335

Jorge Manuel Agostinho Robalo 2336

Manuel José Pimentel Moreira 2337

Donativos à AFNome do sócio N,º Donativo

José Manuel de Carvalho 34 40,00 €António Esperança 479 20,00 €João Pedro da Luz 1308 10,00 €Cmdt. Mendes Fernandes 546 80,00 €José Rodrigues 1778 10,00 €António Manuel Pacheco 816 10,00 €José R. Filipe 65 10,00 €Emanuel Sales 1926 10,00 €Hélder Pacheco 2149 10,00 €Manuel Vinagre dos Santos 336 20,00 €

Assinatura Anualda Revista

Nome do sócio N.º 2014

Vitor Porto 1706 10,00 €Martinho Alves 1837 15,00€€Diamantino Rodrigues 1887 10,00 €João Santana 545 10,00 €Manuel Teixeira 218 10,00 €Mário Manso 161 10,00 €

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