Revista Mosaico - Primeira Edição

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Primeira edição da revista experimental de educação e ciência Mosaico.

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guia

3 aos leitores

4 cartas

5 inglês para crianças o crescimento de escolas de idiomas no Recife

9 era uma vez... veja a importância da literatura na formação das crianças

12 aspas

13 escola para todo mundo saiba como é feito o trabalho de ensino a crianças com deficiências

16 opinião lei de cotas: inclusão ou exclusão?

17 novos cidadãos pernambucanos para o mundo cem por cento dos ex-participantes do programa Ganhe o Mundo aprovam e recomendam o intercâmbio

20 entrevista

23 grupos de personalidade descubra a importância desse tipo de estudo

expediente

Editor Chefe - Pedro SouzaDiagramador - Jéssica de Lima

Réporteres - Raíssa Castro Flavia Torres

Júlia Teles

facebook.com/mosaico.mosa@revistamosaico@revistamosaicorevistamosaico2013.blogspot.com.brrevistamoisaico2013.1@gmail.com

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aos leitoresNunca é demais dar enfoque a temas como educação e ciência.

Preocupados com esses assuntos em nosso país, os criadores da Revista Mosaico têm a honra de iniciar sua primeira edição com subtemas

bastante importantes. Educação especial, Literatura infantil e Grupos de personalidade são algumas das abordagens que serão debatidas e

abrangidas nesta nossa estreia. Estudantes do quarto período do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, os repórteres Flávia

Torres, Jéssica de Lima, Júlia Teles, Pedro Souza e Raíssa Castro foram orientados pelo professor Dário Brito durante pouco mais de um mês para

chegar ao produto final desta revista digital.

A revista educacional Mosaico foi delicadamente pensada e estudada pela equipe que a produziu. Cada texto, vídeo, áudio foram estrategicamente colocados para comunicar da melhor forma possível os nossos leitores.

Esperamos que todos sejam multimidiamente bem informados e desfrutem do nosso trabalho. Sugestões e críticas podem ser enviadas para nosso

e-mail: [email protected]. Boa interação! É isso que nós desejamos que vocês tenham com nossa revista.

Pedro SouzaEditor chefe

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cartas

“Acredito que a Revista Mosaico trará um conceito novo de informação e interatividade. Achei incrível a proposta de cada matéria e, especialmente, os temas que cada uma abordará. Confesso que as que vão falar sobre a educação infantil ganharão mais minha atenção, tenho filhos pequenos e os conteúdos lá presentes serão de grande valia.”

Luciana Lira Contadora

“Espero encontrar na revista eletrônica informações importantes também nos vídeos e áudios. Geralmente, ando vendo conteúdo muito vago nessas mídias, enquanto o texto vem com informação exacerbada. Achei o tema muito bom e admito que estou curioso para analisar como cada tema vai ser tratado pelos repórteres.”

Roberto FerrãoPublicitário

“Gosto de analisar trabalhos experimentais. Ao saber do tipo de revista que será a Mosaico, fiquei ansioso para apreciar o material. Educação e ciência são assuntos que devem ser constantemente debatidos, principalmente nos dias de hoje. Muito legal o fato dos estudantes terem escolhido esses temas para tratar na revista.”

Caio MenezesSociólogo

“Quando soube da proposta que a revista traria fiquei bastante instigado a conhecer o trabalho. Tomei conhecimento que haverá uma matéria abordando a educação especial nas escolas do Recife e, de cara, fiquei interessadíssimo. No meu dia-a-dia lido muito com crianças especiais, sem sombra de dúvidas contribuirá para o meu trabalho.”

Felipe ValoisPsicólogo

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BILINGUISMO VEM DE BERÇO

Turmas compostas por crianças são cada vez mais frequentes nas escolas de idiomas do recife. O trabalho cresce e o número tende a aumentar a cada diaPedro Souza

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Não é novidade o fato de que, atualmente, as crianças estão se desenvolvendo cada vez mais rápido. Claro, cada uma tem seu tempo de crescimento psicológico e físico, mas, no geral, elas estão entrando no mundo globalizado em que vivemos muito antes, tendo como comparação as crianças de décadas passadas – nós. Jogos digitais, televisão e computador são fatores que influenciam essa velocidade no desenvolvimento infantil, entretanto, não são os únicos reposáveis. Os familiares, principalmente os pais, também estão buscando a evolução acelerada de seus pequenos. Felizmente, não só existe motivação para o conhecimento eletrônico, o incentivo à leitura de histórias também é bastante acentuado, e é mais ou menos aí que queremos chegar. Não é de hoje que, além da leitura de histórias em português, os responsáveis procuram expor às suas crianças elementos da língua inglesa, sejam histórias, sejam desenhos animados. A contínua preocupação com o futuro das kids está fazendo com que os pais procurem, cada vez mais cedo, cursos especializados em aula de inglês para crianças – eu diria até para bebês também, já que a partir dos 18 meses de vida, o pequeno já pode ser matriculado. A grande procura por esse trabalho fez o mercado de cursos de inglês infantil crescer no Recife. Atualmente, podemos

encontrar vários na cidade, como o Cultura Young, o The Kids Club e o Learn and Fun. A maioria deles – como os dois últimos citados – trabalha em um esquema de terceirização, as escolas contratam-os e, a partir daí, o curso realiza o trabalho dentro delas. Além desse tipo de serviço oferecido, é crescente o número de escolas bilíngues no Recife, nessas escolas o trabalho é mais “pesado”. Dentro de instituições bilíngues, as crianças estão submetidas a

aprender todas as matérias na língua inglesa. Com o crescimento do mercado na área, é normal que os profissionais também estejam em alta, esse é o caso da professora Cecília Diniz. Dar aula sempre foi a “praia” de Cecília e, atualmente, ela trabalha ensinando inglês para pequenos a partir dos dois anos em uma escola particular localizada no bairro de Boa Viagem. De acordo com a professora, o trabalho é feito

de forma muito simples, mas os resultados que aparecem, são positivos. “As atividades são lúdicas e recreativas, para que o trabalho seja de aquisição, não de aprendizagem. Muitas brincadeiras, muitas músicas e, principalmente, muitas imagens para fazer a associação dos nomes”, conta. Há autores que acreditam na maior facilidade da criança em relação ao adulto em adquirir o conhecimento. Cecília concorda com esse tipo de pensamento e baseia todo seu trabalho em uma construção. A falta de obrigações no dia a dia da criança, assim como, a sobra de imaginação, faz com que esse aprendizado fique, de fato, mais fácil. A professora afirma que os alunos costumam dar sinais de que estão entendendo o que é passado. “Geralmente esses sinais surgem pela reprodução. Quando fazemos alusão, seja por imagens ou gestos, do que estamos querendo como resposta. Depois, pelo condicionamento que proporcionamos”, explica A professora Luzinete Ferreira dá aula em uma escola bilíngue, também em de Boa Viagem. A profissional é responsável por turmas de alunos entre dois e quatro anos. Embora o trabalho executado já não seja mais algo estranho entre os pais, ainda há muitos que não acreditam no planejamento e ficam receosos em matricular seus

“No começo, a figura de uma

maçã não chega à mente deles

logo como apple, ela passa

primeiro por maçã

pra depois virar apple”

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filhos, porém, Luzinete, assim como Cecília, também diz que as crianças absorvem bem o que é ensinado. “Os primeiros sinais são através de respostas físicas: quando as crianças demonstram compreender e reconhecer o que é mostrado, elas expressam fisicamente, seja por uma resposta a algum comando, uma ação referente ao vocabulário e, principalmente, pela expressão facial”, assegura. O trabalho com atividades lúdicas é a principal ferramenta dos profissionais que executam

esse tipo de aula. Até a criança se acostumar que ela está aprendendo outra linguagem, que não é a sua de origem, leva certo tempo. Segundo Luzinete, no começo eles costumam fazer sempre ligações entre o português e o inglês. “No começo, a figura de uma maçã não chega à mentedeles logo como apple, ela passa primeiro por maçã, pra depois ser apple. Com o tempo é que a maçã,

automaticamente, vira apple”, conta. De fato, é um trabalho que precisa ter paciência para notar efeitos, muito embora algumas crianças já mostrem conhecimento em curto prazo. Os professores envolvidos na área acreditam que quanto mais cedo o ensino da língua estrangeira tiver início, melhor. Embora muitos pais acreditem que aprender uma segunda língua na fase de alfabetização pode prejudicar o desenvolvimento do português, estudos

comprovam que essa crença é errada. Uma das pontuações da psicologia Vygotskiana defende que o contato com uma língua estrangeira na fase de alfabetização contribui para o aprendizado da língua materna.

A insegurança ainda atrapalha no investimento para os filhos

Planejar o futuro dos filhos é uma tarefa que está cotidianamente presente na vida dos pais. A intensa

preocupação em investir na educação dos herdeiros começa desde os primeiros anos de vida das crianças. Atualmente, na realidade mais contemporânea em que vivemos, várias incertezas já foram quebradas, desde as mais simples, até as mais rudes. Talvez, aulas de inglês para bebês não seja um incerteza, mas certamente foi algo que demorou um tempo considerável pra ganhar a aceitação e confiança dos pais – se é que já ganhou totalmente. A contadora, Simone Cavalcanti, é mãe de dois filhos, João, 12, e Marília, 5, durante a infância do garoto, ela confessa que tinha desconfiança em relação aos cursos de línguas que a escola oferecia. “João tinha só três ou quatro anos e a diretora me dizia que ele já podia fazer inglês. nas aulas, nunca confiei em colocar meu filho”, diz. Hoje em dia, com sua filha matriculada em um curso de inglês oferecido pela escola que estuda, localizada no bairro de Casa Forte, Simone diz que se arrepende de não ter matriculado João mais cedo. “É notável o quanto a criança desenvolve o idioma mais rápido quando é mais nova. O fato de Marília não ter medo de errar ajuda bastante. João não é mais assim”, conta. De acordo com a contadora seu filho mais velho já passou da fase de não ter medo e/ou vergonha de errar e isso se torna uma dificuldade na aprendizagem

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“Recomendo a qualquer pai colocar

seu filho pra fazer um curso de línguas quando pequeno”

“É notável o quanto a criança desenvolve o idioma mais rápido

quando é mais nova. O fato de Marília não ter

medo de errar ajuda bastante”

A suposição de Simone não está equivocada. gpsicólogos afirmam que até os oito anos, geralmente, as crianças são destemidas em relação ao erro e isso contribui consideravelmente na aquisição de qualquer conteúdo, inclusive de línguas estrangeiras. Ciente do erro que cometeu com João, Simone não quis perder tempo com sua caçula e, desde os três anos, Marília estuda inglês na escola. A coordenadora da escola dos filhos de Simone, Andréa Sales, assegura que a maioria das mães que pensa em matricular seus filhos no curso tem a mesma insegurança que Simone tinha há alguns anos atrás. “Elas sempre querem saber como são as aulas, os resultados que elas têm e, principalmente, se não é muito cedo para fazer um investimento que, de certa forma, é caro”, relata.

Escolas de idiomas para crianças no Recife

The Kids Club Rua Amélia, 598, Graças - Recife - PEFones: 3071-1257 / 3244-0256

ABA Maple BearAv. Rosa e Silva, 1510Aflitos - Recife - PEFone: (81) 3427-8800

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ERA UMA VEZ...Muitas pessoas não sabem, mas as histórias infantis podem ser muito mais importantes do que se possa imaginar. Es-pecialistasexplicamcomoaliteraturainfluencianodesen-volvimento das crianças.Jéssica de Lima

Contar histórias na infância, além de ser uma forma de distrair os pequenos,

pode ajudar de diversas maneiras no desen-volvimento comportamental e cognitivo. A literatura deve ser inserida no cotidiano da criança desde muito cedo. Assim, ela adquire o hábito de ler, além de desenvolver e apri-morar habilidades cognitivas. A psicóloga Alexandra Von Kostrich, formada pela Universidade Federal de Pernambuco, acredita que a literatura infantil pode ser usada como estratégia pedagógica, mas de forma sutil. “Podemos Mostrar as relações do conto com a vida real, perguntar o que a criança acha, se teria a mesma atitude de algum personagem, explica. É preciso que haja uma identificação pessoal com as personagens, com algum aspecto ou acontecimento da história. Alexandra afirma que é indicado começar a conversar com o bebê desde o período de gestação e após o nascimento sempre contar historinhas, mesmo que eles não compreendam o que está sendo dito. Quando são expostas à literatura desde cedo, a probabilidade de são agradáveis e divertidos. Socorro Miranda é autora

de livros infanto-juvenis e até hoje tem 17 obras publicadas, inclusive, uma delas disponível em braile. Ela explica que as fases de compreensão da criança devem ser respeitadas: “Para os bebês até três anos, podemos usar marionetes, fantoches e livros que eles possam amassar, morder, molhar, que sejam bem resistentes e a versão da história deve ser bem curta. Até os cinco anos as histórias podem ser acumulativas, com personagens que interajam com os pequenos e também com versões curtas também. Depois, já na fase alfabética, podemos já

deixar a história na íntegra, desde que não seja muito grande. Os livro de imagens também são muito bons para provocar a criatividade da criança.” Além de ajudar no desenvolvimento do hábito de ler, as histórias podem aprimorar habilidades que a criança possui e

também o raciocínio lógico, a comunicação através da linguagem e o raciocínio abstrato. É importante lembrar que mesmo depois da alfabetização, quando a criança já consegue ler sozinha, deve-se continuar lendo e dramatizando as histórias. Socorro explica que que a mesmo depois de alfabetizadas, elas ainda sentem um grande prazer em escutar histórias, pois além de

a criança desenvolver o hábito da leitura é grande. A partir dos dois anos, a criança deve ter contato manual com livros, mesmo sem saber ler. Alguns que são indicados para essa faixa etária possuem texturas e sons e brincando com eles as crianças per-cebem que os livros

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verem que seus familiares dedicam parte de seu tempo para ficar com elas, desenvolvem e exercitam a capacidade de imaginação. Segundo Socorro, a relação de afeto no momento da leitura é muito importante. Educadores e pais devem estar atentos a um fator importante nas histórias: os vilões. Hoje em dia podemos encontra versões de contos e cantigas politicamente corretos, mas esta prática é condenada por profissionais da área. As crianças devem saber que existem os bonzinhos e os malvados, e também o final que cada um deles tem. É importante mostrar a relação das histórias com a vida real, alertando que não há apenas pessoas boas no mundo. “Elas não devem ser poupadas dos personagens do mal, mas temos que usar o bom senso para perceber os limites da criança”, afirma. Pedro Mafra tem oito anos e conta que tem contato com histórias desde pequeno. Ele diz que sempre gostou muito de escutar as histórias contadas por seus familiares e pelas professoras na escola. Pedro afirma que gosta muito de ler e seu livro preferido é Caçadas de Pedrinho.

A importância das fabulas O ato de narrar histórias é uma prática milenar, que vem sendo passada de geração para geração. Diferentes sociedades elaboram por meio da linguagem oral narrações que transmitem algum ensinamento moral para

compreender suas origens e sua história. Exemplo disso são as fábulas, narrativas figuradas, de caráter meramente imaginativo onde animais, objetos ou fenômenos da natureza possuem características e costumes semelhantes aos dos humanos e trazem em seu final alguma abordagem moral e construtiva. A ideia

é que através dos diálogos e situações que envolvem as personagens, a história transmita valores e exemplos que devem ser seguidos pelos homens. As fábulas são usadas de forma educativa por atraírem a atenção das crianças, de forma divertidas e envolverem personagens

lúdicos. Além disso, são histórias de curta duração e assim as crianças conseguem prestar atenção do começo ao fim, sem se dispersarem nem ficarem cansadas. Dificilmente as fábulas vêm com mais de dois personagens e isso torna ainda melhor para que a criança absorva o que é contado. Para crianças ainda não alfabetizadas as fábulas são contadas de forma despretensiosa, apenas com a intenção de distrair e mostrar bons exemplos. Em crianças um pouco mais velhas, já é possível agregar algumas outras atividades com abrir uma discussão, para estimular o senso crítico ou pedir que a ela escreva o que entendeu da história, desenvolvendo a escrita. Ana Luisa Lacombe é contadora de histórias há 10 anos e atriz há 30. Ela diz que na infância deve-se dar uma atenção especial às fabulas por conta dos ensinamentos morais e exemplos de caráter construtivos. Segundo ela, essa é a maneira mais fácil de mostrar a criança, desde cedo, como se comportar em

“Temos que usar o bom senso para perceber os limites da criança”

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certas situações e desta forma, ajudá-las construir, de forma inconsciente, a personalidade e o caráter Ana adverte que sempre que se for contar uma fábula, deve- se ter um ensinamento em mente, para que ele não passe despercebido pela criança e a narraiva perca sua característica principal. Para ela a dramatização, além da leitura das histórias,

é muito importante, pois ajuda desenvolver a imaginação e prende ainda mais a atenção dos pequenos. Luisa diz ainda que fábulas além de darem ensinamentos morais e entreterem as crianças, permitem que diversos tipos de comportamentos sejam abordados de maneiras diferentes. É possível cruzar lições de fábulas diferentes

e colocá-las em uma só. A linguagem e as características da forma como é transmitida podem, e devem, mudar de acordo com a região, costumes e época em que são contadas, mas é preciso cuidado para que a essência da narrativa permaneça na história.

Uma Raposa, morta de fome, viu, ao passar di-ante de um pomar, penduradas nas ramas de uma

viçosa videira, alguns cachos de exuberantes uvas ne-gras, e o mais importante, maduras.Não pensou duas vezes, e depois de certificar-se que o caminho estava livre de intrusos, resolveu colher seu alimento.Ela então usou de todos os seus dotes, conhecimentos e artifícios para pegá-las, mas como estavam fora do seu alcance, acabou se cansando em vão, e nada conseguiu.Desolada, cansada, faminta, frustrada com o insucesso de sua empreitada, suspirando, deu de ombros, e se deu por vencida.Por fim deu meia volta e foi embora. Saiu consolando a si mesma, desapontada, dizendo:“Na verdade, olhando com mais atenção, percebo agora que as Uvas estão todas estragadas, e não maduras como eu imaginei a princípio...”

A raposa e as uvas - Esopo

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aspas“A geração Y é muito inconstante, muda de ideia com rapidez.”Guilherme Cavalcante, diretor de intercâmbio da

AIESEC

“O programa Ciência sem Fronteiras pretende ampliar a quantidade de parcerias com instituições de outros países”Maria Eleonor Maia, diretora do departamento de cooperação internacional da UFPE

“As atividades nas aulas de inglês são lúdicas e recreativas, para que o trabalho seja de aquisição, não de aprendizagem.”Cecília Diniz, professora de um curso de línguas

“Geralmente os sinais de aprendizado surgem pela reprodução, quando fazemos alusão, seja por imagens ou gestos, do que estamos querendo como resposta. Depois, pelo condicionamento que proporcionamos”Luzinete Ferreira, professora de escola bilíngue

“Elas sempre querem saber como são as aulas, os resultados que elas têm e, principalmente, se não é muito cedo para fazer um investimento que, de certa forma, é caro”Andréa Sales, coordenadora de escola particular

“A conversa com a criança, desde a gestação, é fundamental.”Alexandra Von Kostrish, psicóloga

“A literatura, na verdade, não tem idade nem rótulo”Socorro Miranda, autora de livros infantis

“Contar histórias é ter o privilégio de proporcionar às pessoas uma viagem, um encantamento, uma emoção”Ana Luisa Lacombe, atriz e contadora de histórias

“A escola é a minha outra casa. Gosto muito daqui” Luana Silva, aluna especial de uma escola pública do Recife

“O que a gente procura trabal-har mais para o desenvolvi-mento dos alu-nos especiais é a prática.”Maria Auxiliadora Borges, pedagoga e coordenadora de turmas especiais

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ESCOLA PARA TODO

As escolas de educação especial começaram a se desenvolver no Brasil no final do século XIX, com a criação do Institudo dos Meninos Cegos em 1854 e o Instituto dos Surdos-Mudos em 1857. A instalação e desenvolviento

de escolas de ensinos especiais era con-siderada um ato inusitado pra a época. As leis de inclusão já existem na legislação brasileira desde 1988, que garante indistintivamente a todos o direito à escola, em qualquer nível de

Conduzir uma turma de alunos especiais não é uma tarefa fácil. Sãodesafiosdiáriosqueoseducadores enfrentam, mas que sempre são recompensadosJúlia Teles

MUNDO

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ensno e preveem, além disso, o atendimento especializado a crianças com necessidades educacionais especiais. O atendimento deve ser oferecido, de preferência, no ensino regular e é o que nós chamamos de Educação Especial, muitas vezes confundida com escolarização especial. Antes, a educação de pessoas portadoras de deficiência ficava ao encargo de instituições especializadas. Hoje, com a nova política de educação inclusiva, a educação especial deve fazer parte de todos os níveis do sistema regular de ensino. Os números da Educação Especial ainda não são ideais, mesmo sendo obrigação de toda escola receber alunos com dificuldades especiais. “Faltam profissionais e preparação”, diz a professora e pedagoga Socorro Freitas. A turma especial da escola estadual Senador Novaes Filho já existe há mais de 15 anos. Socorro Freitas, que leciona e coordena a turma é formada em pedagogia começou com um curso de especialização em educação especial, oferecido pelo Estado. “Havia muita dificuldade para encontrar professores. Eu não tinha nenhuma especialização, mas como eu tinha o curso de padagogia comecei a fazer esse trabalho com eles sob orientação de uma coordenadora. Dois anos depois, eu fiz uma especialização que era um convênio do Governo do Estado com a Universidade

Federal de Pernambuco”, comenta a pedagoga. As aulas acontecem em uma sala de aula comum. Quadro, carteiras, uma mesa e prateleiras com alguns livros e materiais compoem o ambiente, que parece agradar os estudantes. “A gente lê, brinca, joga bola, faz tarefa e conversa muito”, revela a estudante Alexandra Adeodato. Ditados, brincadeiras pedagógicas e atividades em grupo fazem parte da rotina da turma. “A gente utiliza uma metodologia construtivista. Procuramos sempre uma construção junto com eles, mesmo que eles esqueçam no outro dia, estamos sempre buscando isso. Então, eu saio mesclando atividades”, completa Socorro. Porém, segundo a professora, algumas atividades precisam ser mais exploradas que outras. “Entre as atividades em sala, a que mais trabalhamos envolve coordenação motora, pois muitos deles tem dificuldades motora”, revela. A integração social é outro ponto valorizado pela pedagoga. Na escola, todos os alunos convivem uns com os outros, sem segregação. Participam de uma feira anual de ciências e apresentam seus projetos desenvolvidos em sala. “A escola também é um local de lazer para eles, eles socializam tanto em sala como com a escola, em conjunto. Existe uma inclusão, o pessoal da escola respeita, eles participam de todo o contexto social dentro

da escola”, diz Socorro. Segundo a professora, o ambiente escolar tem o poder de acalmar os alunos e, em alguns casos, até reduzir as doses dos medicamentos.Contou também que drante o período de aulas, os alunos conseguem exercitar a atenção e a concentração, mas logo no período de retorno das férias, eles voltam mais agitados e menos atentos e o trabalho tem que ser realizado novamente, como um ciclo. Apesar de oferecer turmas especiais, os alunos da escola Senador Novaes Filho, como muitos outros estudantes da rede pública, têm que lidar com a falta de estrutura e material para a realização de algumas atividades necessárias. Segundo a pedagoga, os materiais fornecidos pelo Estado não são suficientes. “Falta bastante coisa. Já ouve, inclusive, uma ideia do Governo Federal de acabar com as salas especiais. A maioria dos alunos não tem condições, não tem outro lugar para ir. Se eles saírem daqui, vão ficar em casa e muitos podem até ficar internados”, explica Socorro.

“Procuramos sempre uma construção junto com

eles”14

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Educação especial na rede privada

Quando o assunto é educação inclusiva, as escolas particulares possuem as mesmas obrigações impostas à rede pública. Aqui no Recife, algumas escolas, geralmente, as de linha construtivista, oferecem turmas especiais. Essas escolas contam com professores especializados, além de trabalho de inclusão social. Uma dessas escolas é o Centro Educacional Lubienska, na Zona Oeste do Recife, que além da inclusão de alunos com necessidades educacionais em salas comuns, oferece também as salas integradas e as classes especiais de 5ª a 8ª série e ensino médio. Segundo a coordenadora das classes especiais Maria Auxiliadora Borges, conhecida por “Dodora”, as Salas Integradas têm o objetivo de favorecer o desenvolvimento do processo de alfabetização e a construção de conhecimentos dos alunos através de atividades curriculares adaptadas aos níveis de 1º ano a 4ª séries do Ensino Fundamental. Atividades para estimular a formação da cidadania, socialização, autonomia, respeito às normas coletivas, são realizades dentro e fora de sala, sempre de acordo com as limitações e potencialidades de cada aluno. “O que mais me entusiasmou sobre as classes especiais é essa ênfase que o Lubienska dá a essas turmas”, comentou a coordenadora, que é formada em pedagogia. Segundo Maria Auxiliadora, o trabalho pedagógico da escola se dá a partir de adaptações curriculares, num processo contínuo de construção

do conhecimento, sempre estimulando a criatividade, a problematização / discussão sobre o cotidiano e favorecendo a participação do aluno como agente do processo educativo. Além de oferecer aulas de artes, dança, filosofia, informática e atividades de pesquisa, a escola opta por um número reduzido de alunos por sala, o que possibilita uma atenção individualizada.Apesar das inúmeras atividades, o conteúdo exigido pelo MEC não é descartado.“A maioria dos professores tem alguma especialização. “É dada aula de português, matemática, geografia. O currículo é normal, como em todas as outras salas. Porém, nos fazemos adaptações de acordo com as dificuldades de cada um”, revela a pedagoga. Segundo a coordenadora, a relação das aulas praticas às disciplinas comuns, fazem os alunos avançarem, chegando até a cursarem o ensino médio e, alguns deles a universidade. “Os alunos são fora de faixa e cada um tem um tempo diferente. A gente precisa sentir a evolução deles para saber o momento no qual ele estará pronto para avançar de série, cursar uma universidade e encarar o mercado de trabalho”, completa. A educação especial, apesar de ser considerada pelos profissionais um processo que exige muita dedicação, paciência e responsabiliade é, claramente, um trabalho gratificante. O sentimento de realização pôde ser visto nos olhos de quem colabora para uma educação inclusiva cada vez mais eficaz.

Escolas para crinças com necessidades especiais

Escola Encontro - Rua Gervásio Fioravante, 123, Graças, Recife, PE - Fone: 3222-1506

Escola Ethos - Rua Oliveira Góes, s/n, Casa Forte Recife, PE - Fone: 3269-6969

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Em outubro do ano passado a presidenta Dilma assinou o decreto que regulamenta a lei nº 12.711/2012, a Lei de Cotas. Ela regulamente a reserva de 50% das vagas disponíveis em universidades públicas e institutos técnicos federais, para estudantes da rede pública com renda bruta familiar de até um salário mínimo e meio por pessoa e estudantes da rede pública com renda maior que um salário mínimo e meio. Nesses dois casos deverá ser levado em conta o percentual mínimo correspondente à soma de negros, pardos e índios da região, segundo o Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística (IBGE). As instituições têm até 2016 para se adequarem à regulamentação e o único critério de seleção para as cotas raciais são apenas a auto-declaração étnico-racial do candidato. A Lei de Cotas é uma das políticas públicas que visa abrir oportunidades a minorias discriminadas e diminuir as desigualdades e problemas sociais, acelerando o processo

de inclusão social de grupos que vivem à margem da sociedade. Sendo assim, a lei de cotas diminuiria as diferenças socioeconômicas entre estudantes da rede pública e privada, aumentando as chances de pessoas menos favorecidas concorrerem no mercado de trabalho de forma igualitária a classes superiores. Em contrapartida às boas intenções da Lei de Cotas, podemos encontrar diversas contradições, que em vez de incluir às minorias, apenas denuncia o preconceito que existe, mesmo de forma inconsciente, nos brasileiros. Existem falhas nesse sistema. Uma delas é o critério de seleção, que ao invés de ser o coeficiente de rendimento do estudante, é apenas a autodeclaração étnico-racial do mesmo. Qualquer pessoa pode se auto intitular negro, pardo ou índio para concorrer às vagas reservadas, seja ela de alguma dessas raças ou não, e ninguém poderá questionar isso. O sistema de cotas além de falho é injusto,

pois prejudica pessoas que estudam e se esforçam e são desclassificadas por alguém com a nota bem inferior à sua, mas que se encaixa no perfil dos cotistas. Além disso, dar privilégio a grupos específicos identifica-os como incapazes, e por esse motivo precisam de tratamento

diferenciado. O problema socioeconômico que a lei tenta amenizar só poderá ser resolvido no dia que tivermos um sistema de educação pública de qualidade. Enquanto isso não acontece, o Brasil segue jogando a poeira para debaixo do tapete e fingindo que está tudo na mais perfeita ordem.

opinião

Lei de Cotas: inclusão ou exclusão?As falhas e injustiças que rodeiam lei que tem como objetivo promover a inclusão social e diminuir as diferenças ecônomicas Jéssica de Lima

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NOVOS CIDADÃOS PERNAMBUCANOS PARA O MUNDO

“À Cesar o que é de Cesar”, são estas as palavras de Aurélio Molina, coordenador do programa de intercâmbio Ganhe o Mundo, quando perguntado a respeito de quem teria sido o idealizador do programa. Logo em seguida ele repete: “À Cesar o que é de Cesar, foi ele, o próprio governador do estado, Eduardo Campos”. Há pouco mais de um ano, em outubro de 2011, o programa Ganhe o Mundo foi implantado pela Seeduc - secretaria de educação de Pernambuco e virou realidade na vida de muitos alunos da rede pública estadual de ensino. O projeto oferece aos estudantes um ano de bolsa de estudos (um semestre letivo aqui, outro fora do país) incluindo algumas despesas do intercâmbio: Hospedagem, transporte, uma bolsa mensal de U$ 300, além do curso intensivo de

idiomas em inglês e espanhol. Através disso, estes alunos poderão viajar com destino a países como Espanha, Estados Unidos, Chile, Argentina, Austrália, Canadá. Além do curso intensivo no idioma, existem outros pré-requisitos para a inscrição no programa, são eles: Ter no mínimo 14 anos até a data do embarque e no máximo 17; Não ter reprovado o último ano cursado; Ter frequência mínima de 80% no ultimo ano cursado; Atingir média mínima de 7,0 em Português e Matemática no ano anterior; Obter média mínima de 7,0 no curso intensivo de língua estrangeira.Molina resalta que Pernambuco está num momento especial de desenvolvimento, para a sustentabilidade deste momento, precisa-se oferecer recursos humanos de

Cem por cento dos Ex-participantes do programa Ganhe o Mundo aprovam e recomendam o intercâmbio Flávia Torres

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qualidade, que tenha domínio de uma língua estrangeira pelo menos. Acrescenta ainda que o programa é positivo em vários aspectos, pois: “estimula o desenvolvimento escolar, os meninos estão estudando mais, os professores se sentem valorizados, há um resgate das famílias dos alunos, que além de ajudá-los sentem orgulho por ter um filho estudioso. Ao final, os meninos voltam ‘Cidadãos do Mundo’ muito mais maduros.” Aurélio Molina considera a política educacional inclusiva de Pernambuco pioneira, não somente no país, mas também no mundo. O Governo do Estado também está negociando com o British Council (conselho Britânico no brasil) juntamente com o banco HSBC a extensão do benefício aos professores. Serão concedidas aproximadamente 30 bolsas de estudos, os docentes passaram um mês aperfeiçoando o idioma na Inglaterra, isso será equivalente a uma especialização. O orçamento total do projeto esta em torno de 100 mil libras, ou seja, R$ 325 mil. O edital com mais detalhes sobre esta iniciativa está previsto para agosto

deste ano. Números do Ganhe o Mundo796 escolas oferecem o curso preparatório de língua estrangeira por todo o Estado. No ano passado 24 mil estudantes foram matriculados no curso intensivo de idiomas e 552 estudantes embarcaram para o Canadá e Estados Unidos. Uma pesquisa feita pela própria Seeduc, no fim de março, divulgou que 100% dos estudantes que participam da experiência aprovam e recomendam o ntercâmbio Além disso, 70% acreditam ter voltado com boa fluência na língua estrangeira, enquanto 68,8% considera a família que o hospedou como excelente e 86,3% responderam não ter sofrido com o choque cultural. Neste ano o número de matriculados subiu para 29 mil, deste montante, 538 já embarcaram para Espanha Chile, Argentina, Austrália e Nova Zelândia. Para o segundo semestre de 2013 estão previstos mais 1.034 embarques, outros 200 para janeiro de 2014, totalizando 1.234 intercambistas.

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“A geração Y é muito

inconstante, muda de ideia com rapidez!”

Um panorama de intrcâmbio universitário no RecifeOs jovens têm muitas opções na hora de fazer um intercâmbio, esta quantidade de ofertas pode gerar confusão e o adiamento da viagem. Pode-se trabalhar, ser voluntários, estudar, complementar a graduação, pesquisar ou apenas viajar para entrar em contato com outra cultura. Assim, é que muitos jovens viajam pela primeira vez para fora do país e, além disso, aprendem um novo idioma. O intercâmbio estudantil é um comportamento que está se popularizando no mundo inteiro. Contudo, no Brasil o grande desafio dos facilitadores do

processo é preencher a lacuna temporal que existe entre a candidatura a um programa de intercâmbio até o momento do embarque. “A geração Y é muito inconstante, muda de ideia com rapidez!” diz Guilherme Cavalcante, diretor de intercâmbio da Aiesec. Para ele, fidelizar um público de nível superior é encaixar se nas suas necessidades. No fim, uma jornada como esta transforma um currículo e o jovem num ser consciente do mundo.

UFPE O departamento de cooperação internacional da UFPE tem convênio com mais de 200 universidades, algumas delas tradicionais no campo da engenharia como a TU Berlin, na Alemanha e a Compiègne, na França. Desde 1996, atende o corpo discente na etapa de tramite entre o estudante e a universidade estrangeira. Segundo a diretora do departamento, Maria Eleonor Maia o programa Ciência sem Fronteiras pretende

ampliar esta quantidade de parcerias com instituições de outros paises. Assim como o Ciências sem Fronteiras, o Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) disponibiliza bolsa de estudos para todos os cursos através do programa Novos Talentos. Também existem outros programas além destes, fora do campo da pesquisa chamados institucionais, que são publicados em editais pelo menos três vezes ao ano, todos com duração máxima de um ano e meio. Em geral, o perfil dos alunos viaja é aquele que tem vontade de complementar a graduação no exterior, fala uma língua estrangeira e tem boas notas.

Aiesec A Aiesec é uma organização de jovens sem fins lucrativos, que está presente em 115 países. O foco do trabalho desta ONG é proporcionar através dos intercâmbios experiências sociais e profissionais. Existem quatro programas, dois voltados para o público universitário: Cidadão Global, um tipo de voluntariado, de duração de seis a 12 semanas; E o Talentos Globais, uma espécie de estágio, para se candidatar a este programa é necessário ter fluência no idioma, dispor de 3 meses a 1 ano e meio para viajar, ter experiência prévia e estar no fim do curso universitário. O escritório da Aiesec

em Recife fica localizado no prédio do centro de filosofia e ciências humanas (CFCH) na Universidade Federal de Pernambuco, o espaço

foi cedido através de uma parceria com a Coordenação Internacional, a partir de uma iniciativa do professor coordenador do curso de administração Antônio Cesar Britto.

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entrevista

O dia a dia de um educadorUma professora fala sobre osdesafiosdelecionarnuma escola pública

Flávia Torres O que será que vem ocorrendo há exatos 20 anos com o sistema de educação pública do Brasil? Paralelamente, o mercado da educação privada aquece transformando empresários do setor em milionários. Neste mesmo período, Patrícia Oliveira (42) entrou no mercado de trabalho e já passou por seis escolas diferentes. “Eu sempre ensinei em escolas públicas, e posso até dizer que gosto de ensinar nelas, o meu desgosto são as dificuldades que o professor passa”, revela. Atualmente, ela é mais uma professora entre os 5 mil profissionais da educação componentes do quadro da rede municipal do Recife. A sua rotina de trabalho reflete a de muitos outros docentes espalhados pelo país. A seguir você confere o cotidiano de Patrícia Oliveira e como ela lida com problemas como: a acumulação de cargos, insatisfação salarial, o stress e a violência na escola.

Revista Mosaico: Fale sobre a sua rotina de trabalho? Patrícia Oliveira: Pois é, eu trabalho se segunda a sexta. Os três turnos do dia. Sabe como é, que é, né? Aquele professor que quiserem ganhar uma graninha extra tem que correr atrás, porque com o salário de uma

escola só não dá, não. Então, pela manhã trabalho numa escola em Jaboatão de ensino fundamental, estou há um ano e meio nesta escola. De tarde em Recife no Projeto Acelera Brasil, do instituto Ayrton Sena, este projeto é voltado para crianças fora de faixa etária, estou há dez anos nesta escola. Durante a noite, dou aula numa escola de ensino profissionalizante em Recife, onde leciono turismo, nesta escola eu trabalho há dois anos e meio.

RM: Você se lembra do que achava da sua profissão quando estava na faculdade? PO: Achava que era maravilhoso! Perceber que alguém pode ir ampliando seus conhecimentos, sua visão de mundo, mudar seu comportamento em prol do bem comum. Tudo isso através da contribuição do professor em sala de aula. Passar conhecimento e verificar a aprendizagem significativa não tem preço.

RM: Sempre quis ser professora? Gosta de ser professora? PO: Não, não era minha vontade. Minha mãe era professora e por isso eu já conhecia as dificuldades da profissão. Mas se destino existe, este era o meu... Mas eu

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gosto do que faço! Se não gostasse, com tantas dificuldades, certamente já teria abandonado. Como disse na questão anterior, não tem preço saber que pode contribuir com o sucesso de alguém.

RM: A realidade que você encontrou nas escolas é muito diferente daquilo que você sonhou? PO: Sim. Mesmo sabendo das dificuldades, da realidade das escolas, o dia a dia com as crianças é bem mais difícil.

RM: Para você, política e educação andam juntos? PO: Claro! O homem é um ser político! É impossível não passar por nenhum processo político durante a vida. Somos políticos a todo instante e a escola não pode ficar fora desse processo. É função social da escola, formar cidadãos criativos, autônomos e responsáveis pelos seus atos que saibam pensar e tomar decisões.

RM: Você acompanhou a última campanha salarial do sindicato de professores? PO: Sempre acompanho participando das assembleias e dos atos públicos. No município de Recife ainda estamos em plena campanha salarial. Inclusive com indicativo de greve.

RM: O piso salarial é cumprido na sua escola?PO: Existe um duelo neste ponto. O governo diz que paga o valor do piso; mas na íntegra, não cumprem o que diz a lei. Fazem cálculos “proporcionais”, fazendo uma interpretação que, segundo os sindicatos, é equivocada. Lógico, reduzindo o valor a ser pago.

RM: Na sua opinião, até que ponto políticas afirmativas como: o aluno nos trinques, bolsa escola, o programa ganhe o mundo ou cotas para universidades são funcionais? PO: Não é o ideal. Bom seria se realmente fizéssemos valer a constituição e na prática,

os direitos fossem iguais para todos. Neste caso, não precisaríamos das políticas afirmativas. Estas surgiram para contribuir com a correção das desigualdades sociais. É o que realmente acontece em alguns casos. Mas infelizmente, esbarramos na falta de fiscalização, na corrupção, na desvalorização dos próprios beneficiários que muitas vezes só “querem se dar bem”. O que distancia os programas de seus objetivos.

RM: Estas políticas estariam ajudando a melhorar a educação do estado? PO: Não sei se estariam ajudando a melhorar a educação do estado de um modo geral. O que percebo é que o Bolsa Família, por exemplo, mudou a vida de algumas famílias para melhor. Conheço casos onde seria impraticável o aluno estar na escola sem a ajuda do programa. Certamente teria que trabalhar para ajudar a aumentar a renda famíliar. Por outro lado, existe a acomodação de outras famílias em não procurar melhorar de vida porque já existe a garantia de um salário ao final do mês.

RM: Conversando com outros professores, quais são os principais desafios da prática profissional de vocês? PO: Num consenso, temos em primeiro lugar a falta de compromisso e acompanhamento familiar, a indisciplina dos alunos e por fim nossos baixos salários, que nos leva a uma jornada dupla de trabalho, às vezes até tripla e também nos finais de semana, não se tem tempo de estudar, ou fazer uma especialização. Em alguns casos, a estrutura física das escolas é mais um desafio.

RM: Então, a falta de professores é algo mais comum do que se imagina? PO: Sim! É muito comum encontrarmos professores contratados nas escolas assumindo disciplinas para as quais não têm formação, o que leva ao acumulo de funções.

RM: Recentemente, circularam na internet dois vídeos que chocaram o Brasil. O primeiro mostra um aluno

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sendo agredido pelo professor em uma escola pública do Rio de Janeiro, no outro uma professora sendo espancada por um aluno numa escola particular em São Paulo. O que achou dos vídeos? PO: Soube dos casos, vi as imagens através dos noticiários. Eu me identifiquei né! Certa vez, quando um aluno soube que não seria aprovado, porque não tinha nenhuma nota durante todo o ano, ele me falou que iria pegar um revolver em casa, este ficou só na ameaça. Mas, já fui agredida fisicamente, tive o pescoço apertado por um aluno, ao final do ano, quando soube que seria reprovado. Verbalmente, com palavrões, com grosserias, infelizmente esta é uma situação muito frequente

RM: Através desse vídeo é possível concluir, que tanto a escola publica quanto a particular estão no mesmo patamar, quando se trata da desvalorização do professor pelos alunos em sala e aula? PO: Eu acredito que sim! E vou além, o professor é desvalorizado pela sociedade em geral.

RM: Conhece alguém que já passou por

uma situação limite em sala de aula?PO: Infelizmente sim! RM: Conhece algum colega que já passou pela síndrome de burnout ou exaustão? PO: Com diagnóstico, não! Mas tenho vários colegas que apresentam em algum momento depressão, problemas na voz, esgotamento...entre

outros.

RM: Fale sobre a situação atual da sua escola, problematizando e apontando soluções? PO: Não posso reclamar do espaço físico das escolas onde trabalho. Em relação a maioria das escolas da rede, são maravilhosas. Mas um tratamento especial na acústica das salas seria interessante.

RM: Apesar disso, você observou alguma evolução na escola pública de 1993 para cá?PO: De fato, mudou para melhor, mas ainda falta muito mais para atingir uma excelência. Acredito que a base dessa mudança é a formação de professores. Hoje, o professor dialoga, leva o aluno a pensar, a raciocinar, a ser crítico e ser criativo. Acredito que algumas soluções possíveis são: a valorização dos profissionais da educação, a melhoria das escolas e ampliação do número de vagas para professores através da construção de novas escolas, cursos de qualificação para professores e políticas públicas que aumentem a participação dos pais na comunidade escolar, assumindo a parte deles sob a responsabilidade da educação de filhos.

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GRUPOS DE PERSONALIDADEEntenda o este tipo de estudo Raissa Castro

João Fernandez é um designer e empreendedor que desenvolve um estudo inovador ao qual ele deu o nome de “Grupos de Personalidade”. A ideia de promover esse estudo veio de um curso sobre os “Grupos de Inteligência”, ministrado por José Fernando Araújo, que empreende esses estudos nas empresas. José Fernando baseia todo seu trabalho na Filosofia Sufi e no Eneagrama. João Fernandez utiliza a mesma, mas acrescenta a Educação TAE (Metodologia de ensino baseado no uso adequado das 3 inteligências: Teórica, Ativa e Emocional), o que dá o toque de originalidade ao seu trabalho. O referido designer trabalha com a ideia de que cada pessoa tem seu próprio caráter e própria personalidade, mas ao mesmo tempo, faz parte de grupos com características coletivas, semelhantes.

Por exemplo, é possível encontrar grupos exigentes, pacifistas, destemidos, criativos, legalistas, racionalistas, personalistas, multifaces e prestativos. Cristiano Vieira, designer, interessado no assunto, participa do grupo de estudo e faz questão de lembrar: “Estudamos apenas grupos, não personalidades individuais”. O estudo dos Grupos de Personalidades, realizado por João Fernandez, trabalha com nove personalidades centrais, os Prestativos, Multifaces, Personalistas, Racionalistas, Legalistas, Criativos, Destemidos, Pacifistas e Exigentes e suas respectivas personalidades. Os Multifaces buscam a admiração pelo sucesso de suas realizações. Sua principal área de interesse na vida é o desenvolvimento de atividades na vida profissional. O grupo dos Personalistas é evidenciado pela atitude de evitar o comum. Eles nunca estão

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satisfeitos com sua realidade. Pessoas do grupo Racionalistas esquecem suas necessidades e protegem sua privacidade, seu “espaço”. Têm muita capacidade de abstração e preferem uma vida intelectual. Os Legalistas são leais aos seus amigos e no que acreditam, são agrupadores sociais e, têm como base de suas decisões o conservadorismo, o tradicionalismo e o medo do novo. Os Criativos são pessoas muito espontâneas e versáteis, tem como foco uma vida bem feliz e prazerosa. Pessoas Destemidas são preocupadas com a justiça e o poder. Combatem sempre em defesa de seus ideais e de seus amigos. Os Pacifistas são amáveis e agradáveis, deixam um pouco suas necessidades para depois, não gostam que os pressionem ou quebrem a sua tranquilidade. Os Exigentes buscam a perfeição. São muito cuidadosos e perfeccionista e sempre fazem o correto, acreditando que existe uma forma ideal de agir no mundo. Para ensinar esse conhecimento João Fernandez usa a Educação TAE. De acordo com ele, trata-se de “uma metodologia inovadora, diferente de todas as demais. Não adianta comparar com nada que você já tenha visto. Nada de testes ‘viajados’ de psicologia, nem dinâmicas bobas, muito menos teoria chata. Aqui a gente trabalha firme com as 3 inteligências visando uma real (e definitiva) mudança de comportamento”. São propostas na Metodologia TAE as três ferramentas de desenvolvimento pessoal, com técnicas de aprendizado de alto nível, com fundamento cientifico, para a própria pessoa criar seu estilo, pensando com sua mente, sentindo o coração e agindo com seus próprios critérios, sem ser influenciada por modismos

passageiros.

O Eneagrama no mundo corporativo O autoconhecimento tem muitos simbolos, um deles é o Eneagrama, desenvolvido na Antiguidade é utilizado até hoje. As noves personalidades principais são representadas e seus respectivos padrões de comportamento. É representado por um símbolo geométrico parecido com uma estrela de nove pontas.Com origem no Oriente Médio, o estudo representado pelo Eneagrama tem o objetivo de ajudar na interação com nossos amigos, colegas de trabalho. Com a intenção de melhorar a comunicação e o relacionamento entre as pessoas. O Eneagrama apresenta diferentes formas de pensar, agir e sentir entre os tipos de personalidades. “O Eneagrama está sendo no mundo todo, é uma ferramenta que aponta as maneiras básicas de cada uma delas”, contou Anderson Oliveira professor de filosofia da Universidade Federal de Pernambuco.No mundo das grandes empresas o Eneagrama começa a ser utilizado positivamente de maneira inovadora para uma melhor relação entre chefes, clientes e funcionários. Empresas multinacionais aproveitam o modelo sugerido pelo Eneagrama com suas equipes. Como por exemplo: Motorola, Disney, Du Pont, Sony, 3M, IBM, Boeing etc. No Brasil algumas empresas já o utilizam podemos citar: Perdigão, Philips, Schincariol, Danone, OI, Bradesco, Votorantin, Unilever, entre outras.Em consultoria no treinamento de suas equipes, grupos brasileiros já fizeram uso do Eneagrama. Alguns exemplos são: Editora Abril, Unibanco, Itaú, Banco Nossa Caixa. O professor de filosofia Tadeu Batista da Faculdade Católica de Pernambuco (Unicap) explica que “ No Brasil Universidades de negócios referências no país como Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Universidade de São Paulo (USP), ensinam o Eneagrama como parte do programa de Mestrado em Administração de Empresas (MBA) ”comenta.

“Estudamos apenas

grupos, não personalidades

individuais”

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