Texto 2 - Revista Educação - Arbitrário Cultural - Sobre Bourdieu
Revista Fusão Cultural
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Transcript of Revista Fusão Cultural
1AGO/SET 2010
2 AGO/SET 2010
Fractal
ISSN 2177-7225
www.fusaocultural.com.br
Diretora executiva e jornalista responsável:Rafaela Silva – MTb: 48.363/SPDiretor comercial e financeiro: Gilberto Pessato Jr. Projeto Gráfico e Redação: Bennu Editora Ltda MEDiagramação: Valdir Felipe Garcia de BritoRevisão: Priscila SalvaiaColaboraram nesta edição: Cyro del Nero, Nilo Lima, Priscila Salvaia, Karine Silva Faleiros, Nicolle Carvalho Pinto Vieira e Raul RozadosImpressão: Gráfica Mundo
A Fusão Cultural é uma publicação bimestral e gratuita da Bennu Editora Ltda ME (CNPJ: 11.476.103/0001-49), Telefone: (19) 3375-1512E-mail: [email protected]: www.fusaocultural.com.br
Os textos e imagens publicados na Fusão Cultural só poderão ser reproduzidos com a devida autorização da direção.
editorial
www.bennueditora.com.br
Mudanças necessárias“Sem cultura não existimos, apenas ocu-pamos espaço.” (Luiza Gosuen)
Mudanças fazem parte de todo ciclo. Apesar do pouco tempo de existên-
cia, a Fusão Cultural mudou. O seu tamanho reduziu, mas a qualidade das informações continua a mesma, e a publicação passou a ser bimestral, contudo ela continua gratuita. A Fusão Cultural nasceu do sonho de ver a cultura valorizada e reco-nhecida como importante ferramen-ta de transformação social. Enquanto essa esperança existir, e houver pes-soas e empresas acreditando nisso, a Fusão Cultural existirá. Nesta edição, a matéria de capa trás poesias de Pedro Morato Krähenbühl, poeta piracicabano que completaria 88 anos no dia 22 de agosto, mês de aniversário de Piracicaba. Cyro del Nero, autor da matéria de capa desta edição, apresenta-nos um pouco da história de Krähenbühl e de sua obra não publicada em livro, sua Bagagem Avoenga (herança de avós).
Rafaela Silvadiretora executiva
Sugestões, críticas, elogios, opi-niões e colaborações podem ser enviadas para: e-mail: [email protected] telefone: (19) 3375-1512
Parabéns a toda equipe da revista Fusão Cultural pela qualidade do trabalho! Estou adorando receber a revista. Os assuntos são interessan-tes e, o mais importante, os textos expostos em uma linguagem bem simples, fácil de entender. Fico aguardando a próxima edição.
Ana Paula de JesusPiracicaba – SP
Meus queridos. É sempre um mo-mento de êxtase receber a revista em minha casa. Conteúdo diver-sificado e com muita qualidade, que enriquecem minha vida e tem me ajudado em meu trabalho, a missão de educar. Mais uma vez e sempre, parabéns por concretiza-rem o excepcional. Grande abraço da amiga e fã!
Sunamita OliveiraGravatá – PE
Para receber os exemplares da Fusão Cultural cadastre-se no nos-so site: www.fusaocultural.com.br, ou pelo telefone: (19) 3375-1512. Por ser gratuita, a distribuição, por en-quanto, é restrita a Piracicaba (SP), e a algumas pessoas e empresas/instituições com cadastro aprovado. Todos os exemplares disponíveis no site.
Parabenizo-lhes pela iniciativa de fazer com que a cidade tenha cultura. Só não entendo porque Piracicaba, com um espaço interessantíssimo como o Engenho Central, ainda não possua nenhum festival de música clássica ou mesmo um festival de cinema.
Paulo Rogério Neubern Zanetta Piracicaba – SP
Eu quero!
Fusão Cultural na InternetSite: www.fusaocultural.com.brBlog: www.fusaocultural.com.br/blogOrkut: Revista Fusão CulturalFacebook: Revista Fusão CulturalTwitter: @fusaoculturalMSN: [email protected]
sumário AGO/SET | edição 05 | ano 01
06 fique ligado...
07 ph0da
08 rapidinhas
09 cultura piracicabana
10 up
22simplesmente danceCorpo que dança 24
12 capaBagagem avoengaObra não publicada de Pedro Morato Krähenbühl
cena teatralObjtividade e subjetividade em cena
32
38 Body modification
40 Nilo Lima
30 José Saramago: um intelectual de múltiplas facetas
36 Folclore: algumas considerações conceituais
34 O reencontro entre a cultura e a educação
23 Só agora ser repentista é profissão?
cine fusãoA oitava arte
39 Pintura por computador
35 Pintando as unhas
10 De pai para filho
39 Papel reciclado artesanal:arte consiente
6 AGO/SET 2010
...no 37º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, que ocorrerá em Piraci-caba (SP) entre os dias 28 de agosto e 17 de outubro. Há muitas novidades neste ano. Você pode conferir mais informações no site www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br/humor ou pelo telefone (19) 3403-2604.
...no livro Histórias e Memórias de Fo-lias de Reis, de Daniel Costa. O autor é bacharel e licenciado em Dança, in-tegra a Cia. Bonita e atua como intér-prete/criador, preparador corporal e pesquisador na área da dança e cultu-ra popular. No livro, Costa trás a fala de mestre e foliões. Segundo Rosana Baptistella, no prefácio do livro, essa escolha “trás para perto do leitor o cotidiano do folião e da comunidade, assim como a vida do indivíduo que é parte dessa coletividade”. O autor cedeu três livros para darmos aos leitores da Fusão Cultural. Um deles foi para Edna Josesnira Perez (Piracicaba/SP), o outro para Alisson Felipe Granadier (Piracicaba/SP) e o terceiro para Roberto Luiz da Silva (Piracicaba/SP).
...no livro A Menina do Bairro Fria – So-nhos e Desabrochar, de Luzia Stoco. De acordo com o prefácio, escrito por Camilo Irineu Quartarollo, “a narradora aborda fatos pitorescos da sua infância no Bairro Fria, na região de Piracicaba (SP), e sobre o desabrochar como mulher com o êxodo da família à cidade, cuja atividade era o corte de cana. O romance tem o condão de ligar as fases de uma mulher e sua re-lação com a sociedade, com as vivências dela e dos circundantes, na matriz caipira que se originou, em diálogos (a autora é atriz e professora de teatro) a palavra es-crita segue como pronunciado pelo dia-leto vigente na região”. Luzia cedeu um livro para a Fusão Cultural para ser sor-teado. Quem ganhou o livro foi Tatiane Velozo (Piracicaba/SP).
...nos próximos filmes que estarão em cartaz no BrasilComo Cães e Gatos 2 3D -Gênero: Comédia-Diretor: Brad Peyton
Karate Kid -Gênero: Ação - Diretor: Harald Zwart
Nanny McPhee e as Lições Mágicas Gênero: Aventura -Diretor: Susanna White
Nosso Lar -Gênero: Drama -Diretor: Wagner de Assis
O Aprendiz de Feiticeiro -Gênero: Ação / Aventura Diretor: Jon Turteltaub
O Último Mestre do Ar 3D -Gênero: Fantasia - Diretor: M. Night Shyamalan
Os Mercenários -Gênero: Ação - Diretor: Sylvester Stallone
Wall Street - O dinheiro nunca dorme -Gênero: drama Diretor: Oliver Stone
Salt -Gênero: Ação / Suspense-Diretor: Phillip Noyce
7AGO/SET 2010
Há muitas coisas irritantes nesta vida, algumas mais amenas, outras irritan-
tes ao extremo. Algumas irritam no momento que ocorrem, outras não precisam ocorrer em um mo-mento específico para irritar. Dois exemplos enviados por leitores ilus-tram bem essas situações. Para Paulo Rogério Zanetta, a impunidade com políticos corruptos lhe irrita muito. Uma grande quantidade de pessoas concorda com a opinião de Zanetta. Outro exemplo também pH0da é o que passou Karina Cristine de Lima. Segundo Karina, ela partici-pou de um circuito de palestras, no qual eram distribuídos na entrada folhetos informativos, bloco para anotações e canetas. “Como de-morou um pouco para começar, as pessoas ficavam apertando a caneta e fazendo aquele barulhinho super irritante. Imagine uma sala com quase cem pessoas fazendo tic tic com as canetas? Super pHOda!”, escreveu-nos Karina.
Já Eric Luis Poppi acredita que o pH0da é amar e não ser corres-pondido. Realmente essa situação é muito chata, mas não há muito que fazer, a não ser amar-se acima de tudo e procurar uma pessoa que corresponda os seus sentimentos. Três exemplos bem diferentes, mas todos pH0da. E dependendo do estado de espírito da pessoa no momento em que passa por deter-minada situação, o problema ou incidente parece maior ou menor. E para você, o que lhe irrita?
por Rafaela Silva
O que é pH0da? Envie sua opinião para [email protected] sobre o que é pH0da (irritante). Sua sugestão pode ser abordada na próxima edição da Fusão Cultural.
8 AGO/SET 2010
Marilyn Manson expõe obras de arteCantor famoso e polêmico, Marilyn Manson assume seu lado artista plástico. No dia 25 de junho, foi aberta no museu de Viena, na Áustria, a mostra assinada pelo cantor, intitulada Genea-logies of pain. As obras, realizadas com a técnica de aquarela, apresentam a mesma característica soturna do trabalho musical do artista. Segundo informações divulgadas pelo museu, “o interes-se de Marilyn Manson se foca na análise do cor-po humano e suas extremidades e cavidades, em especial, as regiões vulneráveis ao medo, como bocas, dedos, olhos e órgãos genitais”.
Morre o músico Paulo Moura
Morreu no dia 12 de julho o clarinetista e
saxofonista Paulo Moura. O músico estava
internado desde o dia 04 daquele mês, por con-
ta de um câncer. Nascido em São José do Rio Preto,
em uma família de instrumentistas, entrou para
o conjunto do pai aos 14 anos. Moura chegou a
integrar a orquestra do Theatro Municipal do Rio de
Janeiro, e tocou com grandes nomes da MPB, como
Elis Regina e Milton Nascimento. Um dos mais
requisitados na sua categoria, tanto no Brasil como no
exterior, Paulo Moura ganhou o reconhecimento em
2000, quando ganhou o Grammy – o maior prêmio da
música mundial – com o trabalho “Pixinguinha: Paulo
Moura e os Batutas”.
9AGO/SET 2010
Festa do Divino“Assim como os três reis magos Que seguiram a estrela-guia A Bandeira segue em frente Atrás de melhores dias, ai, ai...” (“Bandeira do Divino”, Ivan Lins)
A Festa do Divino Espírito Santo é realizada em muitos cantos do Brasil, parecendo ser mais
relevante no Centro-Oeste. São poucas as informações sobre sua origem, mas é certo que o evento surgiu em Portugal e foi trazi-da ao Brasil pelos missionários jesuítas. Essa festa ocorre no Domingo de Pente-costes, cinquenta dias depois da Páscoa, em uma comemoração da vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus. Em Piracicaba (SP), a Festa do Divino Espírito Santo faz parte do calendário da cidade, sendo muito prestigiada. A festa teve início na cidade em 1826, completando 184 anos em 2010. O Rio Piracicaba é um cenário perfeito para o evento, prestigiado tanto pela parte santa quanto pela profana.
1
Carla Ceres é 2ª colocada em concurso do Abletras
Carla Ceres Oliveira Capeleti, de Piracicaba, conseguiu a segunda colocação no primeiro Concurso de
Microcontos do Abletras, com o microconto: “Joguei. Perdi outra vez! Joguei e perdi por meses, mas posso apostar: os dados é que estavam viciados. Somente eles, não eu”. O objetivo do concurso, lançado em março deste ano, foi aproximar a tradição acadêmica da sociedade. Poderiam ser inscritos microcontos com tema livre e até 140 caracteres. No total, 2.293 microcontos foram enviados, inclusive de outros países, como Argentina, Espanha, Japão, México e Portugal. Segue o microcontos vencedor:
“Toda terça ia ao dentista e voltava ensolarada. Contaram ao marido sem a menor anestesia. Foi achada numa quarta, sumariamente anoitecida”.de Bibiana Silveira Da Pieve do Rio de Janeiro (RJ).
foto de Gilberto Pessato jr.
S eguem os filmes em destaque no You Tube em três categorias no
mês de julho: viagens e eventos, humor; guias e estilo.
Where the Hell is Matt? (2008)
Guias e estilo
Deadpool’s Comic Con Song (Parody)!
David Blaine’s Card Tricks Revealed
Humor
Link: http://migre.me/10lsc
Link: http://migre.me/10lqe
Link: http://migre.me/10lhX
Parabéns a todos os pais, pelos ensinamentos,
apoio e compreensão. Equipe Fusão Cultural.
Filho, eu estou
decepcionado com você.
Conversei com a sua professora e ela me
disse que, dos 20 alunos da classe, você é o pior.
Ué, a turma poderia ter 40 alunos...
Ora pai, poderia ser bem pior.
Como assim, garoto?
O pai chama o filho para uma conversa:
por valdir
Viagens e eventos
11AGO/SET 2010
12 AGO/SET 2010 13AGO/SET 2010
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22 AGO/SET 2010
A 8ªarte
No princípio eram os praxinoscópios – brinquedo feito com latinha e tira
de papel, que refletia em fitas transparentes desenhos de bichos e pessoas movimentando-se. Vieram os jogos de espelhos para projetar as imagens. Mais adiante, o Teatro Óptico, então, estava inventado o desenho animado. Encantando crianças e adultos, o filme de animação, conhecido como a oitava arte, surgiu, supostamente, com as sombras chinesas entre os séculos XVII e XVIII, evoluiu e cada vez mais ganha espaço nas salas de cinema. Sua primeira evolução foi com o avanço da fotografia e, mais atualmente, com a agilização do processo de produção, devido ao desenvolvimento da animação digital. A grande característica do cinema de animação é o fato de a trama não ser realizada por atores, mas desenhos, fotos ou bonecos. Assim ele compreende a animação de marionetes, cinema de recortes
(no qual são usados cartões de papel colorido), cinema abstrato (funde música, pintura e cinema), cinema animado e a animação computadorizada. O primeiro desenho animado a contar uma história e não mostrar a mão do artista criando os traços foi a animação Fantasmagorie, feita pelo parisiense Emile Cohl e exibido em 1908. Já a primeira animação em longa metragem diverge entre Sinking of the Lusitânia, do novaiorquino Winson McCay, e El Apostol, do argentino Frederico Valle. O desenho animado tem uma trajetória de grandes sucessos: Gato Félix, Pica-Pau, Mickey Mouse. Nas últimas décadas, o número ampliou consideravelmente; Irmão Urso, Era do Gelo. Duas grandes produções que recentemente tiveram suas continuações no cinema foram Shrek, em Shrek para sempre, e Toy Story 3. A oitava arte evoluiu e ainda há espaço para crescer, desde que haja criadores criativos para fazer novas histórias e inventar novas técnicas. Você se arrisca?
23AGO/SET 2010
Só agora ser repentista
é profissão?
A voz ecoa. Versos rimados são ditos. Embate entre cantores, no qual um tema improvi-
sado é o pano de fundo do repente. A profissão de músico repentista não é nova. No entanto, só agora é re-conhecida por lei. A lei nº 12.198, de janeiro de 2010, dispõe sobre o exercício da profissão de repentista. A lei não muda a profissão, mas sim a forma como ela é encarada por muitas pessoas e casas de show. De acordo com a disposição, repen-tistas são considerados cantadores e
violeiros improvisadores, além de em-boladores e cantores de coco, poetas repentistas e os contadores e declama-dores de causos da cultura popular, e escritores da literatura de cordel. “Lei nº 12.198, de 14 de janeiro de 2010. Art. 1o Fica reconhecida a atividade de Repentista como profissão artística. Art. 2o Repentista é o profissional que utiliza o improviso rimado como meio de expressão artística cantada, falada ou escrita, compondo de imediato ou reco-lhendo composições de origem anônima ou da tradição popular.”
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lho
Pint
o Vi
eira
Nico
lle C
arva
lho P
into
Viei
ra
é ba
ilari
na e
psi
cólo
ga
form
ada
pela
Po
ntifí
cia
Uni
vers
idad
e Ca
tólic
a de
Min
as G
erai
s. At
ualm
ente
é m
estr
anda
nos
cur
sos
de D
ança
e e
m F
iloso
fia
pela
Uni
vers
idad
e Par
is 8.
Pen
sar
com
o o
suje
ito
se c
oloc
a n
o m
un
do
atra
vés
de
seu
cor
po
rem
ete
a Fe
nom
enol
ogia
de
M
erle
au-P
onty
qu
e ab
orda
em
su
a te
oria
a
prob
lem
átic
a da
co
rpor
eida
de
hum
ana
inte
gran
do
a vi
são
de c
orpo
e m
ovim
ento
na
tota
lidad
e do
ser
e e
star
no
mun
do.
A
mov
imen
taçã
o do
ba
ilari
no
se
reve
la c
omo
inte
ncio
nalid
ade
do s
er
atra
vés
do te
mpo
e d
o es
paço
. Se
gund
o M
erle
au-P
onty
(1
999)
a
mov
imen
taçã
o es
pont
ânea
do
corp
o do
ba
ilari
no
naqu
ele
mom
ento
qu
e en
volv
e a
com
posi
ção
e a
atua
ção
sim
ultâ
nea.
Ao
não
sere
m
dete
rmin
ados
os
mov
imen
tos
abre
-se
esp
aço
para
nov
as p
ossi
bilid
ades
e
desc
ober
tas.
A
im
prov
isaç
ão
surg
e ne
sse
cont
exto
com
o um
mei
o de
ap
roxi
maç
ão
do
baila
rino
co
m
o se
u se
nsór
io
e su
a pe
rcep
ção,
po
tenc
ializ
ando
su
a se
nsib
ilida
de
atra
vés
da e
xplo
raçã
o de
seu
cor
po.
D
esta
for
ma,
o p
rese
nte
text
o
sens
açõe
s. O
suj
eito
qua
ndo
danç
a m
anife
sta
sua
mem
ória
co
rpor
al-
afet
iva
aces
sand
o a
sua
hist
ória
, o
que
lhe
perm
ite u
m m
aior
con
tato
co
m s
uas
emoç
ões.
Dan
çar
envo
lve
tan
to
o m
ovim
ento
qu
anto
a
com
unic
ação
, e
tam
bém
a e
moç
ão
de f
orm
a qu
e, d
ança
ndo
é po
ssív
el
“com
por
a fo
rma
do m
ovim
ento
com
o ex
pres
são
de u
m s
igni
ficad
o in
tern
o”
(Gar
audy
, p. 4
9, 1
980)
.
Impr
ovis
ar
para
La
ban,
ci
tado
po
r La
unay
(p
. 76
, 20
00),
“é
de
25
AG
O/
SET
2010
Feno
men
olog
ia é
a t
enta
tiva
de u
ma
desc
riçã
o di
reta
de
noss
a ex
peri
ênci
a ta
l co
mo
ela
é.
Essa
de
scri
ção
com
pree
nde
o se
r hu
man
o em
sua
to
talid
ade
corp
o-m
ente
at
ravé
s do
de
senv
olvi
men
to d
e pe
rcep
ções
do
suje
ito s
obre
o m
undo
que
o c
erca
, tr
ansf
orm
ando
sua
s no
ções
de
ser
e es
tar n
o m
undo
.
Esse
“est
ar-n
o-m
undo
” im
plic
a rel
ação
co
m
o m
eio
exte
rno,
co
rpor
eida
de,
poss
ibili
dade
de
ser,
tem
pora
lidad
e,
espa
cial
idad
e,
afet
ivid
ade;
o
que
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amad
o po
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erle
au
Pont
y de
es
paci
alid
ade
de
situ
ação
. O
u se
ja,
com
o o
corp
o é c
oloc
ado
dian
te d
e sua
s ta
refa
s. Es
ses
fato
res
são
obse
rváv
eis
na d
ança
, pr
inci
palm
ente
qua
ndo
a at
ivid
ade
exer
cida
é a
impr
ovis
ação
.
Ente
ndem
os p
or im
prov
isaçã
o na d
ança
a
situa
ção
em q
ue n
ão h
á m
ovim
ento
s de
term
inad
os.
Impr
ovis
ação
é a
prop
õe in
vest
igar
a im
prov
isaç
ão n
a da
nça
com
o po
ssib
ilida
de d
e re
flexã
o so
bre
o “e
star
-no-
mun
do”.
Par
a qu
e se
ja p
ossí
vel
essa
inv
estig
ação
faz
-se
nec
essá
rio
cons
ider
ar a
mar
ca d
a hi
stór
ia p
esso
al n
o co
rpo,
ou
seja
, vi
vênc
ias,
des
ejos
, fru
stra
ções
e t
udo
o m
ais q
ue o
est
ar-n
o-m
undo
pro
põe,
co
loca
ndo
com
o pr
oble
ma
a qu
estã
o:
É po
ssív
el
prom
over
a
refle
xão
acer
ca d
o “e
star
-no-
mun
do”,
ou
seja
, co
mo
os b
aila
rino
s se
col
ocam
nes
se
mun
do d
e po
ssib
ilida
des
a pa
rtir
da
impr
ovis
ação
na
danç
a?
Lo
bo (
2003
) di
z qu
e o
corp
o es
tá
impr
egna
do
pela
hi
stór
ia
pess
oal,
de le
mbr
ança
s, m
ante
ndo
em s
i um
a m
emór
ia-c
orpo
ral-a
fetiv
a.
Port
anto
, é
atra
vés
dos
mov
imen
tos
que
se
acio
na
esta
m
emór
ia
corp
oral
de
fo
rma
a m
anife
star
o
imag
inár
io,
pens
amen
tos,
id
eias
, em
oçõe
s e
um
mes
mo
mov
imen
to,
busc
ar
e en
cont
rar,
de
com
por
e un
ific
ar,
esqu
ecer
e re
mem
orar
, sob
retu
do, n
ão se
lem
brar
”. N
este
sen
tid
o, e
nten
de-
se
por
im
prov
isaç
ão
na
danç
a a
poss
ibili
dade
de
se
nsib
iliza
ção,
de
or
dena
ção
das
idéi
as
a pa
rtir
de
ex
peri
men
taçõ
es e
sens
açõe
s seg
uida
s de
refl
exõe
s so
bre
os m
ovim
ento
s re
aliz
ados
. D
uran
te a
im
prov
isaç
ão
o su
jeito
viv
enci
a no
pre
sent
e su
as
expe
riên
cias
pas
sada
s at
ravé
s do
que
fo
i ins
crito
, mar
cado
em
seu
cor
po. A
m
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enta
ção
extr
apol
a os
lim
ites
de
tem
po
e es
paço
es
tabe
lece
ndo
rela
ção
entr
e as
exp
eriê
ncia
s vi
vida
s e
o m
ovim
ento
, com
pree
nde
a bu
sca
pela
s pos
sibi
lidad
es d
e m
ovim
enta
ção
e ex
pres
são
atra
vés d
os m
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ento
s.
Ass
im,
men
te e
cor
po,
que
para
M
erle
au-P
onty
são
inte
rdep
ende
ntes
, se
rela
cion
am e e
stab
elec
em u
ma l
igaç
ão
pelo
s m
ovim
ento
s,
man
ifes
taçõ
es
psíq
uica
s no
esp
aço-
tem
po d
entr
o do
qu
al e
ste
corp
o es
tá in
seri
do.
“Um
úni
co m
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ento
, ou
uma s
eqüê
ncia
de
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imen
tos,
deve
rev
elar,
ao m
esm
o te
mpo
, o
cará
ter
de q
uem
o r
ealiz
a, o
s ob
stác
ulos
ex
terio
res
e os
co
nflito
s in
terio
res
que
nasc
em
dest
e es
forç
o.”
(Gar
audy
, p. 1
13, 1
980)
Mov
imen
tar-
se é
man
ter-
se v
ivo,
é
resg
atar
a
iden
tidad
e co
rpor
al,
torn
ando
con
scie
nte
o se
u m
undo
in
teri
or e
reag
indo
ao
mun
do ex
teri
or.
E as
sim
apr
eend
er o
s fe
nôm
enos
do
univ
erso
na
busc
a da
com
pree
nsão
do
que
ocor
re a
o se
u re
dor,
desp
erta
ndo
o de
sejo
de
ex
pres
são.
D
ança
r e
exis
tir t
orna
m-s
e um
a só
coi
sa.
É a
inte
ncio
nalid
ade
do s
er,
dian
te d
e su
as t
aref
as,
de s
eu d
evir
, pr
opos
ta
por M
erle
au-P
onty
(199
9), q
ue d
iz d
a ab
ertu
ra d
o se
r ao
mun
do e
xter
no.
Se
gund
o Sa
ntos
(20
03),
o ho
mem
iden
tidad
e e
de to
do o
seu
ser
.
Esta
é a
pro
post
a de
Mer
leau
-Pon
ty
(199
9)
quan
do
diz
da
cons
ciên
cia
glob
al d
a pr
ópri
a po
stur
a no
mun
do
inte
rsen
sori
al. A
im
prov
isaç
ão s
urge
em
mei
o à
soci
edad
e m
oder
na c
omo
poss
ibili
dade
de
vive
r in
tens
amen
te
as an
gúst
ias e
as re
aliz
açõe
s no
tem
po.
Surg
e ta
mbé
m
com
o po
ssib
ilida
de
de
inve
nção
de
no
vos
sign
os
de
expr
essã
o ca
paz
de
expr
imir
os
se
ntim
ento
s m
unda
nos.
E
atra
vés
das
sens
açõe
s do
dan
çar
pode
mos
re
form
ular
a
repr
esen
taçã
o de
sse
corp
o no
mun
do.
N
osso
cor
po t
em s
eu l
ugar
no
mun
do,
ele
ocup
a um
es
paço
e
por
isso
pod
e-se
diz
er q
ue e
stá
no
mun
do,
porq
ue
atua
co
mo
fato
r es
paço
-tem
pora
l, o
que
perm
ite
cons
titui
r a
essê
ncia
do
se
r.
Sua
espa
cial
idad
e é
seu
desd
obra
men
to,
é su
a po
ssib
ilida
de m
arca
da p
ela
estím
ulos
e ne
cess
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es a
o m
esm
o te
mpo
qu
e nã
o se
pre
nde
a ne
nhum
a re
ceita
ou
fór
mul
a pr
eest
abele
cida
, or
ienta
ndo-
se p
elas
mai
s di
feren
tes
emoç
ões
e pe
la
perc
epçã
o co
nsci
ente
des
sas
sens
açõe
s.”
(Via
nna,
p.1
26, 1
990)
Poré
m,
para
tr
abal
har
o co
rpo
é pr
ecis
o ac
ordá
-lo,
tirá-
lo
dess
a m
ecan
izaç
ão e
repe
tição
do
dia-
a-di
a.
É pr
ecis
o de
sest
rutu
rá-lo
, ret
irá-
lo d
o pa
radi
gma
em q
ue s
e en
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ra.
Só
com
o c
orpo
des
pert
o, e
abe
rto,
par
a no
vas
expe
riên
cias
é p
ossí
vel m
udar
. A
s aç
ões
depe
ndem
da
rela
ção
de
cada
um
con
sigo
mes
mo,
o t
raba
lho
a se
r fe
ito é
a r
etir
ada
das
barr
eira
s pa
ra
a m
ovim
enta
ção,
co
nseg
uir
flexi
biliz
ar
as
fron
teir
as
entr
e as
27
AG
O/
SET
2010
cara
cter
iza-
se
por
rela
cion
ar-s
e at
ravé
s de
seu
cor
po. A
ssim
, a d
ança
su
rge
para
vi
ver
corp
orea
men
te
esse
s co
nflito
s,
serv
indo
co
mo
um
inst
rum
ento
de
el
abor
ação
. D
ança
r, em
sua
ess
ênci
a, n
ão é
só
a m
ovim
enta
ção
em s
i, co
mo
um fi
m
em s
i m
esm
o, d
ança
r é
tam
bém
se
rela
cion
ar
com
o
mun
do
a no
ssa
volta
. Ou
seja
, “o
trab
alho
cor
pora
l tem
um
a di
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são
tera
pêut
ica,
na
med
ida
em
que
torn
a o
corp
o um
a re
ferên
cia
dire
ta
de
noss
a ex
istên
cia
mai
s pr
ofun
da.”
(V
iann
a, p
.70,
199
0).
É po
ssib
ilida
de
de
sens
ibili
zaçã
o,
de o
rden
ação
das
idé
ias
a pa
rtir
de
expe
rim
enta
ções
e se
nsaç
ões s
egui
das
de r
eflex
ões
sobr
e os
mov
imen
tos
real
izad
os.
Atr
avés
do
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imen
tar
é po
ssív
el
inco
rpor
ar
e tr
ansm
itir
valo
res e
atit
udes
que
pro
pici
arão
um
m
eio
de a
prop
riaç
ão d
o co
rpo,
de
sua
tem
pora
lidad
e.
Toda
in
tenç
ão
é re
spon
dida
com
rea
ções
cor
pora
is,
noss
o co
rpo
exer
ce a
trel
adas
tare
fas,
ou
sej
a, n
osso
cor
po o
rgan
iza
as
dive
rsas
ativ
idad
es n
eces
sári
as p
ara
que
poss
a m
over
-se
em
dire
ção
do
obje
tivo.
El
e co
nsta
ntem
ente
se
mov
e em
dir
eção
a a
lgo
que
é ex
tern
o a
ele,
em
dir
eção
da
inte
nção
qu
e pr
oduz
iu o
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imen
to.
O
fa
tor
impo
rtan
te
da
impr
o-
visa
ção
perm
ite q
ue e
sse
corp
o se
m
ova
em
funç
ão
de
seu
mun
do
inte
rno.
Nes
sa f
unçã
o, o
out
ro s
urge
co
mo
fato
r de
term
inan
te,
já
que
poss
ibili
ta n
ovas
exp
eriê
ncia
s e n
ovos
qu
estio
nam
ento
s, “
... u
ma
refle
xão
no
outr
o, u
m p
oder
de
pens
ar s
egun
do o
ou
tro
que e
nriq
uece
nos
sos p
ensa
men
tos
próp
rios
.” (M
erlea
u-Po
nty,
p. 24
3, 19
99).
“(...
) um
corp
o int
elige
nte é
um
corp
o que
co
nseg
ue a
dapt
ar-s
e ao
s m
ais
dive
rsos
açõe
s. S
e o
espa
ço n
o qu
al s
e vi
ve
torn
a-se
igua
l em
todo
s os
mom
ento
s é
porq
ue s
e pe
rdeu
a c
apac
idad
e de
se
nti-l
o, s
e pe
rdeu
a c
apac
idad
e de
tr
ansf
orm
ação
e a
ssim
o m
undo
ao
redo
r nã
o é
mai
s pe
rceb
ido.
Par
a co
nseg
uir
o eq
uilíb
rio,
é n
eces
sári
o an
tes
reco
nqui
star
o e
spaç
o.
En
fim, a
dan
ça u
tiliz
a o
corp
o qu
e se
exp
ress
a at
ravé
s do
s m
ovim
ento
s ca
rreg
ados
de
afet
ivid
ade.
Dan
çand
o po
dem
os in
terv
ir d
e for
ma a
pro
mov
er
prof
unda
s tr
ansf
orm
açõe
s no
s se
res
hum
anos
pa
ra
que
suas
re
laçõ
es
seja
m m
odifi
cada
s em
dir
eção
a u
ma
evol
ução
. Atr
avés
do
danç
ar p
odem
os
tran
sfor
mar
e m
elho
rar
aqui
lo q
ue
som
os,
desc
obri
ndo
noss
o pr
ópri
o co
rpo,
sua
s ca
paci
dade
s e
limita
ções
. É
por
mei
o de
no
ssos
co
rpos
, da
nçan
do,
que
os
sent
imen
tos
cogn
itivo
s se
inte
gram
aos
pro
cess
os
men
tais
e q
ue p
odem
os c
ompr
eend
er
o m
undo
de
fo
rma
dife
renc
iada
, ou
se
ja,
artís
tica
e es
tetic
amen
te.
(Mar
ques
, p.2
5, 2
005)
Po
rtan
to, e
ste
text
o te
m co
mo
obje
tivo
prop
or a
impr
ovis
ação
com
o re
curs
o a
ser
utili
zado
par
a pr
omov
er n
ovas
pe
rcep
ções
atr
avés
da
mov
imen
taçã
o es
pont
ânea
bus
cand
o no
vas
form
as
de s
igni
ficaç
ão.
N
esse
co
ntex
to
a im
prov
isaç
ão
surg
e co
m u
ma
poss
ibili
dade
par
a qu
e os
ba
ilari
nos
poss
am
se
ver
na f
orm
a co
mo
se p
osic
iona
m n
o m
undo
. N
esta
pes
quis
a, a
s fo
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30 AGO/SET 2010
Abordar a obra e a vida de José Saramago é antes de tudo perder-se nos caminhos apontados por um autor cuja personalidade era multiface-tada. Por vezes nos deparamos com o literato, com seus romances, peças
de teatro, poesias. Em outros momentos nos deparamos com o ativista político, “comunista hormonal”, crítico severo da sociedade capitalista moderna. E como deixar de destacar o Saramago ateu, cético, descrente de qualquer tipo de pa-raíso “extraterreno”. Contudo, todas estas facetas estão presentes na prosa, nos versos e na atuação de Saramago. A escrita “caótica” do autor é uma de suas principais características, os longos períodos, a pontuação não convencional, a ausência de travessões, tornam o texto mais próximo da oralidade, em muitos momentos o leitor não sabe se lê as falas ou os pensamentos das personagens. Trata-se de um fluxo contínuo que expõe os inconscientes fictícios, a fim de que o leitor se envolva e em muitos momentos se identifique. Como seria possível não nos reconhecermos no Ensaio sobre a cegueira (1995)? Como não admitir que somos “cegos” subjetivamente, humanamente e politicamente? Na epígrafe do romance o autor destaca a seguinte frase: “Se podes olhar, vê, se podes ver, repara”. O “olhar” significa a percepção visual, consequência do sentido da visão, porém “ver” teria um sentido mais amplo, de observar atentamente, compreender aquilo que nos aparece à vista. E neste sentido somos todos cegos, que olhando, não vemos. Somos alienados de nossos sentimentos, de nossa humanidade, de nossos desejos. Ao perder a consciência de si, o homem se degrada, perde a sensibilidade de coexistir com seu semelhante e desta forma se “barbariza”, como as personagens cegas entregues à violência e ao esquecimento. Mas a vasta obra do “tardio autor” aborda ainda outras várias temáticas. O seu país de origem, Portugal, também seria cenário e tema constante de seus romances. A terra do pecado (1947); A jangada de pedra (1986); História do cerco de Lisboa (1989); são romances que transitam entre o tênue limite da His-tória e da narrativa histórica ficcional. Saramago busca evidenciar a formação
por Priscila Salvaia
José Saramagoum intelectual de múltiplas facetas.
31AGO/SET 2010
José Saramago Priscila Salvaia é licenciada em História
pela Universidade Estadual de Campinas,
e revisora da Fusão Cultural.
e a invenção das identidades nacionais de um país ibérico que se encontra na margem e à margem do continente europeu. Temas político-sociais também seriam constantes em sua obra. Sarama-go abordou de forma bastante crítica os conflitos inerentes à estrutura do capitalismo moderno, como os embates causados pela exploração do homem, a desigualdade social, a globalização massificadora, etc. Em Levantado do chão (1980); A Caverna (2000); Ensaio sobre a lucidez (2004), entre outros; o autor aborda criticamente as desventuras do sistema capitalista. A lúcida postura crítica de Saramago não se restringiu somente à sua obra, mas em manifestos, entrevistas e discursos, o autor apontava as contradi-ções e imposições do capital e da “democracia representativa” cerceadora do exercício da cidadania. Há ainda os famosos e polêmicos romances com temáticas religiosas. Em livros como O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991); Caim (2009); depara-mos-nos com o Saramago ateu, questionador e provocador dos paradigmas e dos dogmas da Igreja Católica. O autor retrata a religião e a criação do pecado como instrumentos de controle e dominação social, as personagens bíblicas são humanizadas de forma perturbadora aos olhos do leitor, Jesus seria sim-plesmente o filho primogênito de José e Maria, e não o filho de um messias salvador chamado deus (com letra minúscula). Saramago foi uma das mentes mais dissonantes da literatura portuguesa, capaz de expor as mazelas humanas, questionar as estruturas de poder, afrontar as crenças de um país predominantemente católico. Mas, além disso, Saramago foi uma intelectual atuante até os últimos momentos de sua vida, um provocador de consciências estagnadas em vivências me-díocres. O Nobel da Literatura foi um homem capaz de cultivar idéias. É impossível não repetir o clichê que Fernando Meirelles utilizou no dia do falecimento do autor: com a morte de Saramago “o mundo ficou ainda mais burro e ainda mais cego.”
32 AGO/SET 2010
Objetividade e Subjetividade em Cena
linck), teatro expressionista (Wedekind), moderno (com as técnicas de Artaud, Meyerhold, Grotowski, etc.). Além do objetivo e do subjetivo há também o ambíguo: teatro religioso medieval, teatro de Shakespeare, peças de Buech-ner, peças de Strindberg, entre outras. O teatro tal como o conhecido no ocidente, advém da Grécia, do século VI a.C.. Evidentemente, podemos buscar origens muito mais remotas, chegando aos rituais dos antigos xamãs e aos primórdios da humanidade. Porém, não é aqui o caso. Aristóteles, (384-322 a.C.), em sua famosa obra “Poética”, (provavelmente escrita em 335 a.C.), descreve que “A Tragédia é a imitação de uma ação séria e completa, dotada de extensão, em lin-guagem condimentada para cada uma das partes; ação apresentada, não com a ajuda de uma narrativa, mas por ato-res...”; obedecendo a uma estrutura. A “Poética” aristotélica (apesar de nos chegar incompleta) exerceu uma profunda influência sobre todo o ocidente. Tanto que, mais de vinte
C onceituar de maneira “objetiva” termos como objetividade e subjetividade não é fácil, pois
esses conceitos podem ser aplicados em várias situações e em diversos campos do conhecimento. Nesse ponto uma visita ao velho e bom “Aurélio” pode ser ilustrativa. Na cena teatral, o espetáculo objetivo pode ser considerado aquele com “começo, meio e fim”, ou mais do que isso, representa um encadeamento lógico em que cada cena acontece em função da outra. Subjetivo, seria então, o espetáculo que não contêm esse encadeamento lógico, pelo menos não de maneira evidente, apresentando fragmentação de linguagem, em que cada cena funciona para si. São exemplos de objetividade: teatro grego, romano, renascentista, clássico francês, teatro do século 18, parte do teatro romântico (Dumas) e teatro realista. Em relação à subjetividade, podem ser citados: teatro do movimento Sturm und Drang, outro lado do teatro romântico (Byron), teatro simbolista (Maeter-
33AGO/SET 2010
Raul Rozados é licenciado em Filosofia pela Universi-dade Metodista de Piracica-ba (SP), ator formado pelo Conservatório Carlos Gomes de Campinas (SP), e fotó-grafo pela Escola Paulista de Fotografia.
séculos depois, Bertolt Brecht (1898-1956) apresenta o seu Teatro Épico como a primeira proposta formal rigorosamente não aristotélica. Para Brecht praticamente todo o teatro escrito antes do Teatro Épico estava influenciado pela “Poética” de Aristó-teles. Essa afirmação é contestada por diversos estudiosos do tema, para os quais essa generalização deve-se a uma interpretação limitada dos conceitos expressos por Aristóteles. Fato é que vamos observar um estridente “estilhaçar” das formas de fazer artístico no século XX. Gosto de uma definição de arte do falecido ator Raul Cortez (1932 – 2006): “Arte é a transformação estética de uma realidade”. Para mim, essa definição é suficiente porque engloba o sujeito, o objeto, e estabelece uma relação entre eles. Pensando dessa maneira, me parece descomplicado imaginar que as transformações ocorridas em decorrência da Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX e que desembocaram no século XX (mudan-do radicalmente a maneira de viver de toda a humanidade), teriam que obrigatoriamente repercutir nas formas do fazer artístico. No século XX, houve duas grandes guerras, as teorias de Freud sobre o inconsciente (subjetividade), a expansão do capi-tal com todas as tensões e reações
geradas pela mesma, a explosão tecnológica em todos os campos do saber, a dilapidação da natureza, etc.. Movimentos provocam movimentos. No mesmo século, o Dadaísmo (Zurique, 1916) pretendeu a des-truição completa de todas as formas convencionais de expressão artística e foi o precursor do Surrealismo, do Expressionismo e outros movimen-tos. “Happening”, “Performance” e outras manifestações, a união do teatro, dança, artes visuais e a par-ticipação ativa e mesmo física do espectador se apresentam como for-mas de preenchimento artístico do espaço aberto pelo “estilhaçar” de todo um modo de vida. Como com-plicador, há também a “Cultura de Massa”; a transformação de tudo em mercadoria, imposta pelo capital. O que virá a seguir?
34 AGO/SET 2010
Para abordarmos a comple-xa relação entre Cultura e Educação, iniciaremos com uma reflexão sobre
a necessidade de integração entre os diferentes campos do saber. Integrar saberes que na realidade nunca estiveram separados é uma tarefa de reforma do pensamento que histori-camente divide e põe em caixinhas o conhecimento. Nos encontramos em um momento no qual é urgente dar movimento à transformação do pen-samento e unir saberes inseparáveis. Com o disse Edgar Morin no seu necessário livro entitulado Os Sete Saberes Necessários à Educação do Fu-turo: “O todo tem qualidades ou pro-priedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, certas qualidades ou proprie-dades das partes podem ser inibidas.” Então, partindo desta reflexão, nos sentimos motivados a considerar que a Educação e a Cultura são parceiras inseparáveis, se inter-relacionam in-tensamente, se retroalimentam e se embelezam mutuamente.
Mas, a questão chave deste breve texto, não é reverenciar a integração entre Educação e Cultura e sim evidenciar a necessidade de seu reencontro criativo. No decorrer da história da sociedade esta ínti-ma relação vem se dissociando por forças e conflitos entre o saber e o poder, e com isso, atualmente, nos deparamos com uma educação que dá ênfase à alfabetização, à tecno-logia e à formação de especialistas, os quais vêm se mostrando, de forma geral, indiferentes a complexa teia da vida. Ou seja, a cultura é en-fraquecida como dinamizadora e transformadora da sociedade. Aqui, evidencia-se a necessidade de trazer a cultura para a renovação da edu-cação, uma educação integrada com o movimento da vida e não isolada em compartimentos. Porém, ao mesmo tempo em que verificamos o empobrecimen-to cultural da educação, verificamos também a oportunidade de estabelecer de forma concreta uma nova cultura. Uma cultura conciliatória, de conví-
por Karine Silva Faleiros
Karine é engenheira florestal, educadora e integrante do Educomunicamos! Ponto de Cultura de Piracicaba (SP)
35AGO/SET 2010
Primavera, tempo de amores, de flores, de cores. Nas unhas, o colorido continua como tendência. No entan-
to, novos tons devem prevalecer. Ok, a primavera iniciará apenas no dia 23 de setembro, mas a antecipação é a premissa das tendências. Em relação aos esmaltes, as tonalidades em voga são as lançadas por marcas famosas. Algumas, inclusive, surgiram a partir dos acessórios, como as bolsas apre-sentadas durante as semanas da moda do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os tons que devem ter lugar cati-vo na primavera são os pastéis. E as grandes apostas estão no salmão e no laranja. Apesar de as cores mais cla-ras prevalecerem, há espaço também para tons mais escuros, como o roxo e o esverdeado. As cores neon, por outro lado, deve perder o destaque. Textos, flores e formatos varia-dos também estarão nas unhas das mulheres. Mais do que simples partes do corpo, as unhas transmi-tem magia e sedução, ainda mais na primavera.
Pintando as unhas Tendências de esmaltes
para a primavera
vio entre as diferenças e mais impor-tante, uma cultura de participação na mudança do presente e do futuro da sociedade. E aqui ficam duas perguntas para nos motivar a enfrentar a tarefa da integração real de diferentes cam-pos do saber: Como construir esta nova cultura sem a educação e como construir uma nova educação sem a cultura? Soluções importantes estão no planejamento de políticas públicas que integrem de forma ampla estas duas áreas, mas deve ir muito além disso, educação não acontece só na escola e sim em qualquer espaço de convívio, assim como a cultura que se realiza no encontro, dessa forma somos co-responsáveis pelo reen-contro entre Educação e Cultura. Exemplos de reencontro criativo entre a Cultura e a Educação, atuais e conectados com o contexto acima explorado, são os Pontos de Cultura distribuídos por todo o país. Em Piracicaba temos agora dois Pontos de Cultura, o Garapa e o Educomu-nicamos Ponto de Cultura.
Faço parte do Educomunicamos Ponto de Cultura e se você se interessa por essa movimentação contate-nos, acesse www.educomunicamos.blogspot.com e participe!
por Karine Silva Faleiros
36 AGO/SET 2010
por Rafaela Silva
Conceito popular e amplamente estudado, o folclore é tido como um conjunto de mitos e lendas passados de geração para geração. Os mitos são
narrativas de apelo simbólico, criadas para explicar fenômenos, transmitir conhecimentos e alertar sobre perigos, defeitos e qualidades do ser humano. Já as lendas são histórias transmitidas oralmente, e mis-turam fatos reais e fantasiosos. Segundo Roberto Benjamin no texto O conceito de folclore, a palavra folclore tem raízes saxônicas, e foi formada pela junção dos termos folk (povo) e lore (saber). A conceituação de folclore entre os estudiosos, contudo, não se resume em “saber do povo”. No esforço em conceituar adequadamente o termo, foi realizado no Brasil em 1951 o I Congresso Brasi-leiro de Folclore, no qual foi estabelecida a Carta do Folclore Brasileiro, uma tentativa de conceitu-ar melhor o termo. Apesar de adotada por muitos anos, a Carta ainda tinha muitas imprecisões e ambigüidades. Sua atualização foi realizada em 1995, durante o VIII Congresso Brasileiro de Fol-clore. De acordo com a re-conceituação, “folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunida-de, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da ma-nifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionali-dade, dinamicidade, funcionalidade.”
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Muitas características do folclore foram atualizadas, relativizadas ou desaparece-ram. A característica anonimato (o fato folclórico não ter autor conhecido), por exemplo, tem sido progressivamente rela-tivizada, por deixava de fora o artesanato e a poesia dos repentistas. A característica aceitação coletiva tem sido usada na rein-terpretação do anonimato, visto que para alguns folcloristas, a criação de um autor conhecido passa a ser folclórica quando o coletivo a aceita. Outra característica amplamente discutida é a transmissão oral, pois sua absolutização exclui manifestações escritas, como a literatura de cordel, do conceito folclore. Estudiosos do tema, como Renato Almeida, acreditam que a transmissão oral deva ter um sentido simbólico, para não deixar de lado outras formas de aprendizado. Quanto à antiguidade, provavelmente uma das características mais polêmicas, folcloristas mais tradicionalistas a colo-cam como primordial para um fato ser considerado folclore. Contudo, uma forte corrente acredita no “folclore nascente”, que reconhece novos fatos folclóricos, permi-tindo ao criador popular a possibilidade de criação. Pois não há como negar o surgimento do novo, nem proibir sua exis-tência em uma cultura popular.
por Rafaela Silva
38 AGO/SET 2010
Body ModificationUma releitura das tradições tribais
Para muitos povos modificar o corpo não é nada de bizarro ou anormal, mas sim elemento tradicional
de sua cultura, ligado às questões estéticas. Na África muitas tribos realizam essa prática. A tribo Mursi, da Etiópia, utiliza uma placa no lábio inferior e também no lóbulo da orelha. As mulheres da tribo Ndebele, em Lesedi, usam pesadas argolas de metal no pescoço, pernas e braços depois que se casam para não olharem para outros homens. Mesmo hábito das “mulheres girafas” da tribo Padaung, de Burma – Ásia. Os Padaung acreditam que o pescoço é o centro da alma. Em tribos africanas são comuns as escarificações (marcas feitas por cortes na pele), que começam a ser realizadas quando a garota tem apenas cinco anos. Em busca da beleza, mulheres chinesas tiveram os pés deformados. Para ser belo, o pé deveria assemelhar-se a uma pequena flor de lótus, e para atingir esse resultado, a menina ao completar três anos tinha ataduras colocadas em seus pés. Essa prática durou do século 10 até 1949.
A body modification realizada atualmente pelas tribos urbanas assemelham-se à de tribos tradicionais e tem os mesmos motivos, estéticos, culturais ou espirituais, sendo considerada uma arte. No entanto, as questões culturais que envolvem as formas de modificação divergem. Cabe a cada um que optar por essa arte avaliar os prós e os contras e não entregar-se a modismos, pois mesmo as culturas mudam. E x e m p l o s c o m u n s d e b o d y modification são: Bifurcação da língua (divisão da língua em duas partes), Branding (cicatriz na pele de uma queimadura feita de ferro quente), Escarificação (cicatrizes cortes feitos por bisturi), Implantes subcutâneos (implante de objeto sob a pele), Implante transdermal (implante de aço cirúrgico, no qual metade do objeto fica exposto e a outra metade fica dentro da pele), Pocket (assemelha-se ao piercing, no entanto a haste fica para fora da pele e as pontas, para dentro) e Surface (implante de objeto semelhante a uma trave ao contrário, no qual as pontas ficam para fora da pele e a haste fica dentro).
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As galerias virtuais estão se multiplicando para dar con-ta do grande número de
artistas plásticos que utilizam o com-putador não apenas para acessar in-formações, mas para criar suas obras, com o uso de equipamentos, como o mouse-pincel ou o tablet. A impressão é realizada em plotado-ras digitais, também conhecidas como giclée. Essa nova forma de fazer arte amplia o acesso às obras. Além de apreciar os quadros nas galerias virtuais, há a possibilida-de de comprar a obra impressa. Todas as técnicas de pintura podem ser reproduzidas pelos programas de computador. Para muitos teóricos, esse tema ainda rende muito estudo, por conta da reprodução em massa das obras de arte. Ela deixaria de única e passaria a ser um produto feito em série. Segundo falas do jornalista, escritor e art-designer Bezerra Neto, as obras fei-tas a partir do computador são a arte do futuro e talvez faça muitos artistas aposentarem os pincéis.
P apéis de carta, cartões, mar-cadores de livro, envelopes, porto-lápis e outros objetos
tem em comum o material utilizado para confecção, o papel reciclado artesanal. En-tre os papéis recicláveis estão as folhas de caderno, envelopes, fotocópias, papel de fax, cartazes, folhetos, jornais e revistas. Os não recicláveis são papéis sujos, parafina-dos, plastificados, metalizados, etiqueta, fita crepe, papel carbono e fotografias. A preparação do papel reciclado artesanal é fácil e os materiais também são fáceis de en-contrar. Primeiro é feita a polpa, com o papel picado e água. Os papéis também podem ser decorados, misturando à polpa outros ingre-dientes como linha, fios de lã, cascas ou pe-daços de frutas e vegetais, pétalas de flores, entre outros. Para dar cor ao papel reciclado basta adicionar papel crepom junto à água ou guache e anilina junto à polpa. Depois é feito o papel com uso de moldura e porte-riormente o papel é prensado. Com o papel reciclado artesanal pronto, é só usar a imaginação e criar.
Papel Reciclado ArtesanalArte Consciente
por Rafaela Silva
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