Revista Fusão Cultural

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1 AGO/SET 2010

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Edição ago/set 2010

Transcript of Revista Fusão Cultural

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ISSN 2177-7225

www.fusaocultural.com.br

Diretora executiva e jornalista responsável:Rafaela Silva – MTb: 48.363/SPDiretor comercial e financeiro: Gilberto Pessato Jr. Projeto Gráfico e Redação: Bennu Editora Ltda MEDiagramação: Valdir Felipe Garcia de BritoRevisão: Priscila SalvaiaColaboraram nesta edição: Cyro del Nero, Nilo Lima, Priscila Salvaia, Karine Silva Faleiros, Nicolle Carvalho Pinto Vieira e Raul RozadosImpressão: Gráfica Mundo

A Fusão Cultural é uma publicação bimestral e gratuita da Bennu Editora Ltda ME (CNPJ: 11.476.103/0001-49), Telefone: (19) 3375-1512E-mail: [email protected]: www.fusaocultural.com.br

Os textos e imagens publicados na Fusão Cultural só poderão ser reproduzidos com a devida autorização da direção.

editorial

www.bennueditora.com.br

Mudanças necessárias“Sem cultura não existimos, apenas ocu-pamos espaço.” (Luiza Gosuen)

Mudanças fazem parte de todo ciclo. Apesar do pouco tempo de existên-

cia, a Fusão Cultural mudou. O seu tamanho reduziu, mas a qualidade das informações continua a mesma, e a publicação passou a ser bimestral, contudo ela continua gratuita.  A Fusão Cultural nasceu do sonho de ver a cultura valorizada e reco-nhecida como importante ferramen-ta de transformação social. Enquanto essa esperança existir, e houver pes-soas e empresas acreditando nisso, a Fusão Cultural existirá.  Nesta edição, a matéria de capa trás poesias de Pedro Morato Krähenbühl, poeta piracicabano que completaria 88 anos no dia 22 de agosto, mês de aniversário de Piracicaba. Cyro del Nero, autor da matéria de capa desta edição, apresenta-nos um pouco da história de Krähenbühl e de sua obra não publicada em livro, sua Bagagem Avoenga (herança de avós).

Rafaela Silvadiretora executiva

Page 4: Revista Fusão Cultural

Sugestões, críticas, elogios, opi-niões e colaborações podem ser enviadas para: e-mail: [email protected] telefone: (19) 3375-1512

Parabéns a toda equipe da revista Fusão Cultural pela qualidade do trabalho! Estou adorando receber a revista. Os assuntos são interessan-tes e, o mais importante, os textos expostos em uma linguagem bem simples, fácil de entender. Fico aguardando a próxima edição.

Ana Paula de JesusPiracicaba – SP

Meus queridos. É sempre um mo-mento de êxtase receber a revista em minha casa. Conteúdo diver-sificado e com muita qualidade, que enriquecem minha vida e tem me ajudado em meu trabalho, a missão de educar. Mais uma vez e sempre, parabéns por concretiza-rem o excepcional. Grande abraço da amiga e fã!

Sunamita OliveiraGravatá – PE

Para receber os exemplares da Fusão Cultural cadastre-se no nos-so site: www.fusaocultural.com.br, ou pelo telefone: (19) 3375-1512. Por ser gratuita, a distribuição, por en-quanto, é restrita a Piracicaba (SP), e a algumas pessoas e empresas/instituições com cadastro aprovado. Todos os exemplares disponíveis no site.

Parabenizo-lhes pela iniciativa de fazer com que a cidade tenha cultura. Só não entendo porque Piracicaba, com um espaço interessantíssimo como o Engenho Central, ainda não possua nenhum festival de música clássica ou mesmo um festival de cinema.

Paulo Rogério Neubern Zanetta Piracicaba – SP

Eu quero!

Fusão Cultural na InternetSite: www.fusaocultural.com.brBlog: www.fusaocultural.com.br/blogOrkut: Revista Fusão CulturalFacebook: Revista Fusão CulturalTwitter: @fusaoculturalMSN: [email protected]

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sumário AGO/SET | edição 05 | ano 01

06 fique ligado...

07 ph0da

08 rapidinhas

09 cultura piracicabana

10 up

22simplesmente danceCorpo que dança 24

12 capaBagagem avoengaObra não publicada de Pedro Morato Krähenbühl

cena teatralObjtividade e subjetividade em cena

32

38 Body modification

40 Nilo Lima

30 José Saramago: um intelectual de múltiplas facetas

36 Folclore: algumas considerações conceituais

34 O reencontro entre a cultura e a educação

23 Só agora ser repentista é profissão?

cine fusãoA oitava arte

39 Pintura por computador

35 Pintando as unhas

10 De pai para filho

39 Papel reciclado artesanal:arte consiente

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6 AGO/SET 2010

...no 37º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, que ocorrerá em Piraci-caba (SP) entre os dias 28 de agosto e 17 de outubro. Há muitas novidades neste ano. Você pode conferir mais informações no site www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br/humor ou pelo telefone (19) 3403-2604.

...no livro Histórias e Memórias de Fo-lias de Reis, de Daniel Costa. O autor é bacharel e licenciado em Dança, in-tegra a Cia. Bonita e atua como intér-prete/criador, preparador corporal e pesquisador na área da dança e cultu-ra popular. No livro, Costa trás a fala de mestre e foliões. Segundo Rosana Baptistella, no prefácio do livro, essa escolha “trás para perto do leitor o cotidiano do folião e da comunidade, assim como a vida do indivíduo que é parte dessa coletividade”. O autor cedeu três livros para darmos aos leitores da Fusão Cultural. Um deles foi para Edna Josesnira Perez (Piracicaba/SP), o outro para Alisson Felipe Granadier (Piracicaba/SP) e o terceiro para Roberto Luiz da Silva (Piracicaba/SP).

...no livro A Menina do Bairro Fria – So-nhos e Desabrochar, de Luzia Stoco. De acordo com o prefácio, escrito por Camilo Irineu Quartarollo, “a narradora aborda fatos pitorescos da sua infância no Bairro Fria, na região de Piracicaba (SP), e sobre o desabrochar como mulher com o êxodo da família à cidade, cuja atividade era o corte de cana. O romance tem o condão de ligar as fases de uma mulher e sua re-lação com a sociedade, com as vivências dela e dos circundantes, na matriz caipira que se originou, em diálogos (a autora é atriz e professora de teatro) a palavra es-crita segue como pronunciado pelo dia-leto vigente na região”. Luzia cedeu um livro para a Fusão Cultural para ser sor-teado. Quem ganhou o livro foi Tatiane Velozo (Piracicaba/SP).

...nos próximos filmes que estarão em cartaz no BrasilComo Cães e Gatos 2 3D -Gênero: Comédia-Diretor: Brad Peyton

Karate Kid -Gênero: Ação - Diretor: Harald Zwart

Nanny McPhee e as Lições Mágicas Gênero: Aventura -Diretor: Susanna White

Nosso Lar -Gênero: Drama -Diretor: Wagner de Assis

O Aprendiz de Feiticeiro -Gênero: Ação / Aventura Diretor: Jon Turteltaub

O Último Mestre do Ar 3D -Gênero: Fantasia - Diretor: M. Night Shyamalan

Os Mercenários -Gênero: Ação - Diretor: Sylvester Stallone

Wall Street - O dinheiro nunca dorme -Gênero: drama Diretor: Oliver Stone

Salt -Gênero: Ação / Suspense-Diretor: Phillip Noyce

Page 7: Revista Fusão Cultural

7AGO/SET 2010

Há muitas coisas irritantes nesta vida, algumas mais amenas, outras irritan-

tes ao extremo. Algumas irritam no momento que ocorrem, outras não precisam ocorrer em um mo-mento específico para irritar. Dois exemplos enviados por leitores ilus-tram bem essas situações. Para Paulo Rogério Zanetta, a impunidade com políticos corruptos lhe irrita muito. Uma grande quantidade de pessoas concorda com a opinião de Zanetta.  Outro exemplo também pH0da é o que passou Karina Cristine de Lima. Segundo Karina, ela partici-pou de um circuito de palestras, no qual eram distribuídos na entrada folhetos informativos, bloco para anotações e canetas. “Como de-morou um pouco para começar, as pessoas ficavam apertando a caneta e fazendo aquele barulhinho super irritante. Imagine uma sala com quase cem pessoas fazendo tic tic com as canetas? Super pHOda!”, escreveu-nos Karina.

 Já Eric Luis Poppi acredita que o pH0da é amar e não ser corres-pondido. Realmente essa situação é muito chata, mas não há muito que fazer, a não ser amar-se acima de tudo e procurar uma pessoa que corresponda os seus sentimentos. Três exemplos bem diferentes, mas todos pH0da. E dependendo do estado de espírito da pessoa no momento em que passa por deter-minada situação, o problema ou incidente parece maior ou menor. E para você, o que lhe irrita?

por Rafaela Silva

O que é pH0da? Envie sua opinião para [email protected] sobre o que é pH0da (irritante). Sua sugestão pode ser abordada na próxima edição da Fusão Cultural.

Page 8: Revista Fusão Cultural

8 AGO/SET 2010

Marilyn Manson expõe obras de arteCantor famoso e polêmico, Marilyn Manson assume seu lado artista plástico. No dia 25 de junho, foi aberta no museu de Viena, na Áustria, a mostra assinada pelo cantor, intitulada Genea-logies of pain. As obras, realizadas com a técnica de aquarela, apresentam a mesma característica soturna do trabalho musical do artista. Segundo informações divulgadas pelo museu, “o interes-se de Marilyn Manson se foca na análise do cor-po humano e suas extremidades e cavidades, em especial, as regiões vulneráveis ao medo, como bocas, dedos, olhos e órgãos genitais”.

Morre o músico Paulo Moura

Morreu no dia 12 de julho o clarinetista e

saxofonista Paulo Moura. O músico estava

internado desde o dia 04 daquele mês, por con-

ta de um câncer. Nascido em São José do Rio Preto,

em uma família de instrumentistas, entrou para

o conjunto do pai aos 14 anos. Moura chegou a

integrar a orquestra do Theatro Municipal do Rio de

Janeiro, e tocou com grandes nomes da MPB, como

Elis Regina e Milton Nascimento. Um dos mais

requisitados na sua categoria, tanto no Brasil como no

exterior, Paulo Moura ganhou o reconhecimento em

2000, quando ganhou o Grammy – o maior prêmio da

música mundial – com o trabalho “Pixinguinha: Paulo

Moura e os Batutas”.

Page 9: Revista Fusão Cultural

9AGO/SET 2010

Festa do Divino“Assim como os três reis magos Que seguiram a estrela-guia A Bandeira segue em frente Atrás de melhores dias, ai, ai...” (“Bandeira do Divino”, Ivan Lins)

A Festa do Divino Espírito Santo é realizada em muitos cantos do Brasil, parecendo ser mais

relevante no Centro-Oeste. São poucas as informações sobre sua origem, mas é certo que o evento surgiu em Portugal e foi trazi-da ao Brasil pelos missionários jesuítas. Essa festa ocorre no Domingo de Pente-costes, cinquenta dias depois da Páscoa, em uma comemoração da vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus.  Em Piracicaba (SP), a Festa do Divino Espírito Santo faz parte do calendário da cidade, sendo muito prestigiada. A festa teve início na cidade em 1826, completando 184 anos em 2010. O Rio Piracicaba é um cenário perfeito para o evento, prestigiado tanto pela parte santa quanto pela profana.

1

Carla Ceres é 2ª colocada em concurso do Abletras

Carla Ceres Oliveira Capeleti, de Piracicaba, conseguiu a segunda colocação no primeiro Concurso de

Microcontos do Abletras, com o microconto:   “Joguei. Perdi outra vez! Joguei e perdi por meses, mas posso apostar: os dados é que estavam viciados. Somente eles, não eu”.  O objetivo do concurso, lançado em março deste ano, foi aproximar a tradição acadêmica da sociedade. Poderiam ser inscritos microcontos com tema livre e até 140 caracteres. No total, 2.293 microcontos foram enviados, inclusive de outros países, como Argentina, Espanha, Japão, México e Portugal.  Segue o microcontos vencedor:

 “Toda terça ia ao dentista e voltava ensolarada. Contaram ao marido sem a menor anestesia. Foi achada numa quarta, sumariamente anoitecida”.de Bibiana Silveira Da Pieve do Rio de Janeiro (RJ).

foto de Gilberto Pessato jr.

Page 10: Revista Fusão Cultural

S eguem os filmes em destaque no You Tube em três categorias no

mês de julho: viagens e eventos, humor; guias e estilo.

Where the Hell is Matt? (2008)

Guias e estilo

Deadpool’s Comic Con Song (Parody)!

David Blaine’s Card Tricks Revealed

Humor

Link: http://migre.me/10lsc

Link: http://migre.me/10lqe

Link: http://migre.me/10lhX

Parabéns a todos os pais, pelos ensinamentos,

apoio e compreensão. Equipe Fusão Cultural.

Filho, eu estou

decepcionado com você.

Conversei com a sua professora e ela me

disse que, dos 20 alunos da classe, você é o pior.

Ué, a turma poderia ter 40 alunos...

Ora pai, poderia ser bem pior.

Como assim, garoto?

O pai chama o filho para uma conversa:

por valdir

Viagens e eventos

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aco

nche

go d

e cor

açõe

s sol

utos

na im

emor

ial t

raça

do

ocea

no.

Band

eira

s arf

ante

s em

vag

as a

duna

das,

teu

pequ

eno

sulc

o, m

anso

e p

ertin

az,

há d

e im

por,

por u

m b

raço

aqu

i dis

tant

e,ilh

ado

em d

este

mor

,so

bre

um ro

teir

o de

terr

as ir

man

as,

colig

idas

em

sin

uoso

col

óqui

o,a

pedr

a, a

roca

,a

esqu

ina

do m

undo

des

fech

ando

sua

lu

z.

15

AG

O/

SET

2010

Page 16: Revista Fusão Cultural

16 AGO/SET 2010 17AGO/SET 2010  Pe

dro

Mor

ato

deix

ou p

oem

as d

edic

ados

aos

am

igos

que

enc

ontr

ava

dia-

riam

ente

na

Bibl

iote

ca M

unic

ipal

Már

io d

e A

ndra

de, n

a R

ua C

onso

laçã

o a

pouc

os p

asso

s do

Ipas

e on

de tr

abal

hava

. Ali

havi

a um

a pe

quen

a co

ngre

-ga

ção

de jo

vens

dev

otos

da

poes

ia e

das

art

es q

ue u

sufr

uíam

da

com

pa-

nhia

de

Pedr

o e

de s

eus

poem

as. T

ais

jove

ns g

anha

m u

m n

ovo

voca

bulá

rio

para

a g

enra

ção

advi

ndo

das

obra

s de

poé

tas

com

o C

arlo

s D

rum

mon

d de

A

ndra

de, M

anue

l Ban

deir

a e

o pr

ópri

o Pr

edro

, que

lhes

ens

inav

a co

m o

ex

empl

o de

seu

s po

emas

. Pe

dro

Mor

ato

era

cari

nhos

amen

te r

espe

itado

po

r se

us a

mig

os d

evid

o à

sua

post

ura

gent

il e

nobr

e.

 O

poe

ma

segu

inte

me

foi d

edic

ado

por

ele

e ne

le h

á um

a re

ferê

ncia

ao

meu

com

pass

o di

ário

aco

mpa

nhan

do-o

por

bar

es e

pel

o si

lênc

io q

ue fa

zí-

amos

enq

uant

o co

mpa

rtilh

ávam

os a

con

tem

plaç

ão d

as g

ente

s da

cid

ade.

 H

á ou

tras

ref

erên

cias

no

poem

a: o

des

enho

, ret

rato

que

fiz

de P

edro

e

que

ao v

ê-lo

ele

teve

um

a su

rpre

sa, u

ma

reve

laçã

o da

leitu

ra q

ue fi

z de

le.

Ref

erên

cia

aind

a ao

seu

pas

so c

laud

ican

te: P

edro

cla

udic

ava

(man

cava

) em

ra

zão

de u

m p

robl

ema

ao q

ual n

unca

se

refe

riu.

“Não

che

gou

nunc

a a

per-

mit

ir

a su

a pu

blic

ação

,

pois

tinh

a se

mpr

e re

paro

s

e re

tific

açõe

s a

faze

r.”D

omin

gos

Carv

alho

Silv

aPo

eta

Page 17: Revista Fusão Cultural

16 AGO/SET 2010 17AGO/SET 2010

Po

ema

Rib

an

ceir

o

esc

rit

o e

m 0

5 d

e fe

ver

eir

o d

e 19

55

And

ei u

m i

nsta

nte

sepa

rado

de

mi-

nha

alm

a

e ao

cor

po q

ue ja

zia

sem

ímpe

to

a ág

ua m

urm

urav

a:

Sê li

nfa

de u

m a

rdor

mai

s pu

ro;

ao g

esto

que

era

bra

ndo

e su

ave

com

o

amor

,di

zia:

“Esc

olhe

out

ra li

ngua

gem

de

exíli

o”.

Hav

ia o

rum

or d

as c

atar

atas

for

a de

mim

e o

eter

no a

conc

hego

de

meu

abr

aço

era

relv

a ap

enas

, par

a a

mad

ruga

da.

Tão

sile

ncio

so e

gra

ve o

cor

ação

me

cond

uzia

em s

eu e

squi

vo tr

opeç

o pe

la s

ombr

a,

por

lum

e, s

ó o

parc

o br

ilho

das

pe-

dras

e o

dese

jo v

azio

com

o a

noite

.

Essa

s la

jes

que

forr

am a

min

ha v

oz

Com

o pe

sam

ago

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os m

eus

cílio

s.

Flui

pel

os n

ervo

s um

a di

men

são

eter

-

na,

vai l

enta

, vag

a, c

alm

a co

mo

o ca

nsaç

o

aos

rem

anso

s tím

idos

da

auro

ra.

As

água

s bó

iam

, alé

m d

a co

rred

eira

,

e de

sliz

o no

dia

com

o um

bar

co

Page 18: Revista Fusão Cultural

18 AGO/SET 2010 19AGO/SET 2010

Cris

tóvã

oes

crit

o P

ar

a c

yr

o d

el n

ero

em

13

de

fev

erei

ro

de

1955

Eu n

ão s

abia

pas

sar e

tu m

e le

vast

ea

vade

ar o

man

anci

al q

ue n

os a

tae

ora

esco

rre

em te

rna

e co

mpa

ssiv

a pa

rtilh

a.Le

ve m

e fa

ço p

ara

teus

om

bros

imen

sos

e o

pouc

o de

des

afio

ceifa

do n

a m

emór

iasu

sten

to c

omo

lum

e. V

ou e

sboç

ar o

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endá

rio

de u

ma

vida

,pa

ra e

m p

orçõ

es in

cess

ante

ses

palh

ar o

idíli

o qu

e m

e co

nced

este

. A

mão

mut

ilada

,o

auda

cios

o de

senh

oco

mpo

ndo

inex

oráv

el e

stilo

,O

s ol

hos

sem

órb

itas,

e ou

tras

mín

imas

evo

caçõ

es d

e um

a fa

rta

cons

tânc

ia,

vão

amar

fanh

adas

nes

ta p

ágin

a,on

de a

s no

ções

mai

s cl

aras

não

sub

sist

emao

retr

ato

em g

rafia

de

apôd

o

e ap

elo,

com

que

te fu

i des

pert

ar p

ara

sorv

eres

min

ha d

or.

noss

o es

tand

arte

bem

fora

o ri

so p

ueri

le

galh

ardo

o le

vast

e,ao

s es

com

bros

pro

jeta

dos

onde

fund

amos

idên

tica

espe

ranç

a. N

ão o

uso

o es

forç

o da

sed

iça

pala

vra,

Am

igo,

mas

um

sus

surr

o de

sgov

erna

-me

os lá

bios

,e

abri

ga,

inde

clin

ável

,te

u so

corr

o ao

meu

pas

so c

laud

ican

te.

Todo

des

acor

do a

nter

ior a

os m

itos,

atro

z, p

ois

inum

ano,

desf

aleç

a nu

m a

braç

oe

ingr

eso

nos

dê a

um

cor

ação

mai

s va

sto.

Page 19: Revista Fusão Cultural

18 AGO/SET 2010 19AGO/SET 2010

e ap

elo,

com

que

te fu

i des

pert

ar p

ara

sorv

eres

min

ha d

or.

noss

o es

tand

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bem

fora

o ri

so p

ueri

le

galh

ardo

o le

vast

e,ao

s es

com

bros

pro

jeta

dos

onde

fund

amos

idên

tica

espe

ranç

a. N

ão o

uso

o es

forç

o da

sed

iça

pala

vra,

Am

igo,

mas

um

sus

surr

o de

sgov

erna

-me

os lá

bios

,e

abri

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inde

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ável

,te

u so

corr

o ao

meu

pas

so c

laud

ican

te.

Todo

des

acor

do a

nter

ior a

os m

itos,

atro

z, p

ois

inum

ano,

desf

aleç

a nu

m a

braç

oe

ingr

eso

nos

dê a

um

cor

ação

mai

s va

sto.

 O

utro

s po

emas

at

esta

m

sua

qual

idad

e po

étic

a e

sua

pe

sada

car

ga e

xist

enci

al.

Pedr

o M

orat

o se

refe

re s

em-

pre

à su

a ba

gage

m a

voen

ga,

(her

ança

de

avós

) com

o um

fe

l que

fora

obr

igad

o a

bebe

r.

Au

rio

9 d

e m

ar

ço d

e 19

57

Agu

ardo

o p

ânic

o ab

rir su

as v

eias

de i

nsan

idad

e.A

guar

do o

bra

do d

a lo

ucur

a a

perc

urtir

-me

o co

raçã

o.Es

pero

os

dedo

s ág

eis

da m

orte

para

dec

ifrar

-me

as c

ontr

adiç

ões.

Vou

cri

vand

o m

eu c

orpo

de

diss

onân

cias

,de

mal

ogro

s. So

b a

clau

sura

de

um ro

sto

fingi

dor,

o pó

de

meu

s os

sos

escr

eve

o de

rrad

eiro

mot

e da

vid

a: D

eses

pero

u de

can

sar-

se.

Tor

nei

ose

m d

at

a

A m

orte

por

des

cren

ça,

à de

sven

tura

do

tédi

o,es

te ri

so q

ue a

von

tade

abo

min

asu

bjug

a e

mos

tra

o pe

nsam

ento

. U

m d

iade

spoj

ado

do c

ansa

ço,

baga

gem

avo

enga

que

me

frus

tra

as jo

rnad

as id

eais

,te

rei q

ue ro

mpe

r o ri

ctus

leta

l,e,

sob

repo

ndo

o el

mo

da e

sper

ança

a im

agem

env

ileci

da d

o sa

rcas

mo,

pode

rei r

irse

m a

bala

r a e

stru

tura

do

sonh

o.

19

AG

O/

SET

2010

Page 20: Revista Fusão Cultural

20 AGO/SET 2010 21AGO/SET 2010

Po

ema

2se

m d

at

a

Oh!

nós

que

roç

amos

a f

ímbr

ia d

as

cois

ase

não

venc

emos

jam

ais

o se

u fá

tuo

li-m

iteEm

nos

sos

olho

s o

refle

xo d

e um

lu

me,

arde

sua

esp

era

extr

ema,

arde

m o

s ca

rvõe

s, a

os o

lhos

da

trev

a.Q

uand

o na

da m

ais

relu

zir

e so

mbr

a so

bre

som

bra,

vont

ade

min

ada

e su

jeita

ao c

repú

scul

o,no

s ro

ce a

pena

s o

eco

de u

ma

pobr

e pa

lavr

a,in

dist

inta

e s

util,

lápi

de d

e si

lênc

io,

tere

mos

dito

além

do

alar

me

do s

onho

,a

pala

vra

rapa

ce,

vind

ime

inst

rum

ento

,ve

rbo

ocul

to,

de o

utra

con

vers

ão.

mig

ra

ção

sem

da

ta

Via

gem

, riq

ueza

, mág

oado

que

dei

xou

de a

barc

arna

s su

as m

ãos

gast

as d

e ca

l,tu

do s

e co

mpõ

eem

arq

uite

tura

s de

som

bras

na h

erál

dica

von

tade

de e

rgue

r, ou

tra

vez,

vela

s da

ave

ntur

aa

desc

obri

rno

tem

po e

xaus

too

cora

ção

inta

cto.

Po

ema

Ocu

lto

 Se

m d

ata

Vê q

ue te

u ve

rso

não

ande

ace

soon

de a

nde

a no

ite.

Não

lhes

dis

pens

e no

turn

idad

e. Põ

e na

s vi

gília

s em

que

dem

oras

as n

ebul

osas

do

pens

amen

to.

Fals

o ep

isód

io.

Seja

teu

sorr

iso

man

cha

tênu

e,m

as p

erce

ptív

el d

a fa

ce d

as c

oisa

s. G

uard

a-te

,ar

mei

ro p

rópr

io,

forja

ndo

pala

vras

que

te li

vrem

quan

do o

son

ho v

ier d

ispu

tar,

a tu

a vo

ntad

e, tu

as m

ãos.

Page 21: Revista Fusão Cultural

20 AGO/SET 2010 21AGO/SET 2010

Po

ema

2se

m d

at

a

Oh!

nós

que

roç

amos

a f

ímbr

ia d

as

cois

ase

não

venc

emos

jam

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o se

u fá

tuo

li-m

iteEm

nos

sos

olho

s o

refle

xo d

e um

lu

me,

arde

sua

esp

era

extr

ema,

arde

m o

s ca

rvõe

s, a

os o

lhos

da

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a.Q

uand

o na

da m

ais

relu

zir

e so

mbr

a so

bre

som

bra,

vont

ade

min

ada

e su

jeita

ao c

repú

scul

o,no

s ro

ce a

pena

s o

eco

de u

ma

pobr

e pa

lavr

a,in

dist

inta

e s

util,

lápi

de d

e si

lênc

io,

tere

mos

dito

além

do

alar

me

do s

onho

,a

pala

vra

rapa

ce,

vind

ime

inst

rum

ento

,ve

rbo

ocul

to,

de o

utra

con

vers

ão.

Imit

açã

o d

e So

lon

Escr

ito

em

6 d

e ju

lho

d

e 19

58

Dev

eras

nun

ca s

oube

ser

pru

dent

e,ac

eita

ndo

a fo

rtun

a of

erec

ida.

Dos

ben

s co

lhid

os e

m m

inha

rede

um n

ão ti

ve q

ue e

scap

asse

às

mal

has

larg

as.

Ou

foss

e o

cora

ção

ou fo

sse

o pe

nsam

ento

em c

inza

s o

desm

anch

ei, e

, por

terr

as n

atai

ses

palh

ei s

eu re

sídu

o a

vent

os d

esig

uais

. D

uro

era

meu

ser

, ave

sso

aos

torn

eios

,e

a pa

lavr

as a

máv

eis

não

suje

ito,

que

via

todo

dom

em

cól

era

desf

eito

. N

ão te

ndo

meu

qui

nhão

em

bom

pro

veito

,ne

guei

todo

o b

em e

a m

im s

er b

om.

Cyr

o de

l Ner

o é p

rofes

sor t

itula

r da p

ós-g

radu

ação

em

Cen

ogra

fia e

Ind

umen

tári

a Te

atra

l da

Esco

la

de C

omun

icaç

ões e

Art

es d

a U

nive

rsid

ade d

e São

Pa

ulo

(USP

), re

spon

sáve

l pel

a ár

ea d

e H

istór

ia

da A

rte

na A

ntig

uida

de p

ara

as i

nter

unid

ades

da

USP

, pro

fesso

r da

pós-

grad

uaçã

o de

Hist

ória

da

Mod

a da

Uni

vali

de S

anta

Cat

arin

a, e

pro

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sor

conv

idad

o da

Esc

ola

São

Paul

o. P

rêm

io

Melh

or C

enóg

rafo

Nac

iona

l na

VI B

ienal

de

Art

es P

lást

icas

de S

ão P

aulo

, fun

dado

r com

o ce

nógr

afo

e di

reto

r de

art

e da

TV

Exce

lsior

em

196

0, ce

nógr

afo d

o Tea

tro B

rasil

eiro d

e Com

édia

(São

Pau

lo)

dura

nte d

ez a

nos,

Cyr

o de

l Ner

o cr

iou

ceno

graf

ia em

Ate

nas,

Ber

lim, L

yon,

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o M

useu

do

Louv

re, P

aris

, e ta

mbé

m p

ara

o Pa

vilh

ão B

rasi

leir

o na

Fe

ira

de O

saka

. Sua

erud

ição

abr

ange

o co

nhec

imen

to e

o en

sino

da

His

tóri

a da

Cen

ogra

fia e

da

Indu

men

tári

a Te

atra

l, H

istó

ria

do T

eatr

o, H

istó

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da

Mod

a e d

a C

ultu

ra H

elên

ica.

Aut

or d

e obr

as so

bre a

Gré

cia

Clá

ssic

a, C

eno-

graf

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His

tóri

a da

Mod

a. P

ara

mai

s in

form

açõe

s, c

onsu

ltar

o si

te d

o au

tor:

http

://w

ww

.cyr

odnc

enog

rafia

.com

.br/

21

AG

O/

SET

2010

*

Page 22: Revista Fusão Cultural

22 AGO/SET 2010

A 8ªarte

No princípio eram os praxinoscópios – brinquedo feito com latinha e tira

de papel, que refletia em fitas transparentes desenhos de bichos e pessoas movimentando-se. Vieram os jogos de espelhos para projetar as imagens. Mais adiante, o Teatro Óptico, então, estava inventado o desenho animado.  Encantando crianças e adultos, o filme de animação, conhecido como a oitava arte, surgiu, supostamente, com as sombras chinesas entre os séculos XVII e XVIII, evoluiu e cada vez mais ganha espaço nas salas de cinema. Sua primeira evolução foi com o avanço da fotografia e, mais atualmente, com a agilização do processo de produção, devido ao desenvolvimento da animação digital.  A grande característica do cinema de animação é o fato de a trama não ser realizada por atores, mas desenhos, fotos ou bonecos. Assim ele compreende a animação de marionetes, cinema de recortes

(no qual são usados cartões de papel colorido), cinema abstrato (funde música, pintura e cinema), cinema animado e a animação computadorizada.  O primeiro desenho animado a contar uma história e não mostrar a mão do artista criando os traços foi a animação Fantasmagorie, feita pelo parisiense Emile Cohl e exibido em 1908. Já a primeira animação em longa metragem diverge entre Sinking of the Lusitânia, do novaiorquino Winson McCay, e El Apostol, do argentino Frederico Valle.  O desenho animado tem uma trajetória de grandes sucessos: Gato Félix, Pica-Pau, Mickey Mouse. Nas últimas décadas, o número ampliou consideravelmente; Irmão Urso, Era do Gelo. Duas grandes produções que recentemente tiveram suas continuações no cinema foram Shrek, em Shrek para sempre, e Toy Story 3. A oitava arte evoluiu e ainda há espaço para crescer, desde que haja criadores criativos para fazer novas histórias e inventar novas técnicas. Você se arrisca?

Page 23: Revista Fusão Cultural

23AGO/SET 2010

Só agora ser repentista

é profissão?

A voz ecoa. Versos rimados são ditos. Embate entre cantores, no qual um tema improvi-

sado é o pano de fundo do repente. A profissão de músico repentista não é nova. No entanto, só agora é re-conhecida por lei. A lei nº 12.198, de janeiro de 2010, dispõe sobre o exercício da profissão de repentista. A lei não muda a profissão, mas sim a forma como ela é encarada por muitas pessoas e casas de show.  De acordo com a disposição, repen-tistas são considerados cantadores e

violeiros improvisadores, além de em-boladores e cantores de coco, poetas repentistas e os contadores e declama-dores de causos da cultura popular, e escritores da literatura de cordel. “Lei nº 12.198, de 14 de janeiro de 2010. Art. 1o Fica reconhecida a atividade de Repentista como profissão artística. Art. 2o Repentista é o profissional que utiliza o improviso rimado como meio de expressão artística cantada, falada ou escrita, compondo de imediato ou reco-lhendo composições de origem anônima ou da tradição popular.”

Page 24: Revista Fusão Cultural

24

Corp

o q

ue d

ança

Um

olh

ar fe

nom

enol

ógic

o so

bre

a im

prov

isaç

ão n

a da

nça

Atra

vés

da d

ança

não

se

diz,

mas

se

é. (T

ed S

haw

)

por N

icol

le C

arva

lho

Pint

o Vi

eira

Nico

lle C

arva

lho P

into

Viei

ra

é ba

ilari

na e

psi

cólo

ga

form

ada

pela

Po

ntifí

cia

Uni

vers

idad

e Ca

tólic

a de

Min

as G

erai

s. At

ualm

ente

é m

estr

anda

nos

cur

sos

de D

ança

e e

m F

iloso

fia

pela

Uni

vers

idad

e Par

is 8.

Pen

sar

com

o o

suje

ito

se c

oloc

a n

o m

un

do

atra

vés

de

seu

cor

po

rem

ete

a Fe

nom

enol

ogia

de

M

erle

au-P

onty

qu

e ab

orda

em

su

a te

oria

a

prob

lem

átic

a da

co

rpor

eida

de

hum

ana

inte

gran

do

a vi

são

de c

orpo

e m

ovim

ento

na

tota

lidad

e do

ser

e e

star

no

mun

do.

A

mov

imen

taçã

o do

ba

ilari

no

se

reve

la c

omo

inte

ncio

nalid

ade

do s

er

atra

vés

do te

mpo

e d

o es

paço

. Se

gund

o M

erle

au-P

onty

(1

999)

a

mov

imen

taçã

o es

pont

ânea

do

corp

o do

ba

ilari

no

naqu

ele

mom

ento

qu

e en

volv

e a

com

posi

ção

e a

atua

ção

sim

ultâ

nea.

Ao

não

sere

m

dete

rmin

ados

os

mov

imen

tos

abre

-se

esp

aço

para

nov

as p

ossi

bilid

ades

e

desc

ober

tas.

A

im

prov

isaç

ão

surg

e ne

sse

cont

exto

com

o um

mei

o de

ap

roxi

maç

ão

do

baila

rino

co

m

o se

u se

nsór

io

e su

a pe

rcep

ção,

po

tenc

ializ

ando

su

a se

nsib

ilida

de

atra

vés

da e

xplo

raçã

o de

seu

cor

po.

 D

esta

for

ma,

o p

rese

nte

text

o

sens

açõe

s. O

suj

eito

qua

ndo

danç

a m

anife

sta

sua

mem

ória

co

rpor

al-

afet

iva

aces

sand

o a

sua

hist

ória

, o

que

lhe

perm

ite u

m m

aior

con

tato

co

m s

uas

emoç

ões.

Dan

çar

envo

lve

tan

to

o m

ovim

ento

qu

anto

a

com

unic

ação

, e

tam

bém

a e

moç

ão

de f

orm

a qu

e, d

ança

ndo

é po

ssív

el

“com

por

a fo

rma

do m

ovim

ento

com

o ex

pres

são

de u

m s

igni

ficad

o in

tern

o”

(Gar

audy

, p. 4

9, 1

980)

.  

Impr

ovis

ar

para

La

ban,

ci

tado

po

r La

unay

(p

. 76

, 20

00),

“é

de

Page 25: Revista Fusão Cultural

25

AG

O/

SET

2010

Feno

men

olog

ia é

a t

enta

tiva

de u

ma

desc

riçã

o di

reta

de

noss

a ex

peri

ênci

a ta

l co

mo

ela

é.

Essa

de

scri

ção

com

pree

nde

o se

r hu

man

o em

sua

to

talid

ade

corp

o-m

ente

at

ravé

s do

de

senv

olvi

men

to d

e pe

rcep

ções

do

suje

ito s

obre

o m

undo

que

o c

erca

, tr

ansf

orm

ando

sua

s no

ções

de

ser

e es

tar n

o m

undo

.  

Esse

“est

ar-n

o-m

undo

” im

plic

a rel

ação

co

m

o m

eio

exte

rno,

co

rpor

eida

de,

poss

ibili

dade

de

ser,

tem

pora

lidad

e,

espa

cial

idad

e,

afet

ivid

ade;

o

que

é ch

amad

o po

r M

erle

au

Pont

y de

es

paci

alid

ade

de

situ

ação

. O

u se

ja,

com

o o

corp

o é c

oloc

ado

dian

te d

e sua

s ta

refa

s. Es

ses

fato

res

são

obse

rváv

eis

na d

ança

, pr

inci

palm

ente

qua

ndo

a at

ivid

ade

exer

cida

é a

impr

ovis

ação

.  

Ente

ndem

os p

or im

prov

isaçã

o na d

ança

a

situa

ção

em q

ue n

ão h

á m

ovim

ento

s de

term

inad

os.

Impr

ovis

ação

é a

prop

õe in

vest

igar

a im

prov

isaç

ão n

a da

nça

com

o po

ssib

ilida

de d

e re

flexã

o so

bre

o “e

star

-no-

mun

do”.

Par

a qu

e se

ja p

ossí

vel

essa

inv

estig

ação

faz

-se

nec

essá

rio

cons

ider

ar a

mar

ca d

a hi

stór

ia p

esso

al n

o co

rpo,

ou

seja

, vi

vênc

ias,

des

ejos

, fru

stra

ções

e t

udo

o m

ais q

ue o

est

ar-n

o-m

undo

pro

põe,

co

loca

ndo

com

o pr

oble

ma

a qu

estã

o:

É po

ssív

el

prom

over

a

refle

xão

acer

ca d

o “e

star

-no-

mun

do”,

ou

seja

, co

mo

os b

aila

rino

s se

col

ocam

nes

se

mun

do d

e po

ssib

ilida

des

a pa

rtir

da

impr

ovis

ação

na

danç

a?

 Lo

bo (

2003

) di

z qu

e o

corp

o es

impr

egna

do

pela

hi

stór

ia

pess

oal,

de le

mbr

ança

s, m

ante

ndo

em s

i um

a m

emór

ia-c

orpo

ral-a

fetiv

a.

Port

anto

, é

atra

vés

dos

mov

imen

tos

que

se

acio

na

esta

m

emór

ia

corp

oral

de

fo

rma

a m

anife

star

o

imag

inár

io,

pens

amen

tos,

id

eias

, em

oçõe

s e

um

mes

mo

mov

imen

to,

busc

ar

e en

cont

rar,

de

com

por

e un

ific

ar,

esqu

ecer

e re

mem

orar

, sob

retu

do, n

ão se

lem

brar

”. N

este

sen

tid

o, e

nten

de-

se

por

im

prov

isaç

ão

na

danç

a a

poss

ibili

dade

de

se

nsib

iliza

ção,

de

or

dena

ção

das

idéi

as

a pa

rtir

de

ex

peri

men

taçõ

es e

sens

açõe

s seg

uida

s de

refl

exõe

s so

bre

os m

ovim

ento

s re

aliz

ados

. D

uran

te a

im

prov

isaç

ão

o su

jeito

viv

enci

a no

pre

sent

e su

as

expe

riên

cias

pas

sada

s at

ravé

s do

que

fo

i ins

crito

, mar

cado

em

seu

cor

po. A

m

ovim

enta

ção

extr

apol

a os

lim

ites

de

tem

po

e es

paço

es

tabe

lece

ndo

rela

ção

entr

e as

exp

eriê

ncia

s vi

vida

s e

o m

ovim

ento

, com

pree

nde

a bu

sca

pela

s pos

sibi

lidad

es d

e m

ovim

enta

ção

e ex

pres

são

atra

vés d

os m

ovim

ento

s.  

Ass

im,

men

te e

cor

po,

que

para

M

erle

au-P

onty

são

inte

rdep

ende

ntes

, se

rela

cion

am e e

stab

elec

em u

ma l

igaç

ão

Page 26: Revista Fusão Cultural

pelo

s m

ovim

ento

s,

man

ifes

taçõ

es

psíq

uica

s no

esp

aço-

tem

po d

entr

o do

qu

al e

ste

corp

o es

tá in

seri

do.

“Um

úni

co m

ovim

ento

, ou

uma s

eqüê

ncia

de

mov

imen

tos,

deve

rev

elar,

ao m

esm

o te

mpo

, o

cará

ter

de q

uem

o r

ealiz

a, o

s ob

stác

ulos

ex

terio

res

e os

co

nflito

s in

terio

res

que

nasc

em

dest

e es

forç

o.”

(Gar

audy

, p. 1

13, 1

980)

Mov

imen

tar-

se é

man

ter-

se v

ivo,

é

resg

atar

a

iden

tidad

e co

rpor

al,

torn

ando

con

scie

nte

o se

u m

undo

in

teri

or e

reag

indo

ao

mun

do ex

teri

or.

E as

sim

apr

eend

er o

s fe

nôm

enos

do

univ

erso

na

busc

a da

com

pree

nsão

do

que

ocor

re a

o se

u re

dor,

desp

erta

ndo

o de

sejo

de

ex

pres

são.

D

ança

r e

exis

tir t

orna

m-s

e um

a só

coi

sa.

É a

inte

ncio

nalid

ade

do s

er,

dian

te d

e su

as t

aref

as,

de s

eu d

evir

, pr

opos

ta

por M

erle

au-P

onty

(199

9), q

ue d

iz d

a ab

ertu

ra d

o se

r ao

mun

do e

xter

no.

 Se

gund

o Sa

ntos

(20

03),

o ho

mem

iden

tidad

e e

de to

do o

seu

ser

.  

Esta

é a

pro

post

a de

Mer

leau

-Pon

ty

(199

9)

quan

do

diz

da

cons

ciên

cia

glob

al d

a pr

ópri

a po

stur

a no

mun

do

inte

rsen

sori

al. A

im

prov

isaç

ão s

urge

em

mei

o à

soci

edad

e m

oder

na c

omo

poss

ibili

dade

de

vive

r in

tens

amen

te

as an

gúst

ias e

as re

aliz

açõe

s no

tem

po.

Surg

e ta

mbé

m

com

o po

ssib

ilida

de

de

inve

nção

de

no

vos

sign

os

de

expr

essã

o ca

paz

de

expr

imir

os

se

ntim

ento

s m

unda

nos.

E

atra

vés

das

sens

açõe

s do

dan

çar

pode

mos

re

form

ular

a

repr

esen

taçã

o de

sse

corp

o no

mun

do.

 N

osso

cor

po t

em s

eu l

ugar

no

mun

do,

ele

ocup

a um

es

paço

e

por

isso

pod

e-se

diz

er q

ue e

stá

no

mun

do,

porq

ue

atua

co

mo

fato

r es

paço

-tem

pora

l, o

que

perm

ite

cons

titui

r a

essê

ncia

do

se

r.

Sua

espa

cial

idad

e é

seu

desd

obra

men

to,

é su

a po

ssib

ilida

de m

arca

da p

ela

estím

ulos

e ne

cess

idad

es a

o m

esm

o te

mpo

qu

e nã

o se

pre

nde

a ne

nhum

a re

ceita

ou

fór

mul

a pr

eest

abele

cida

, or

ienta

ndo-

se p

elas

mai

s di

feren

tes

emoç

ões

e pe

la

perc

epçã

o co

nsci

ente

des

sas

sens

açõe

s.”

(Via

nna,

p.1

26, 1

990)

Poré

m,

para

tr

abal

har

o co

rpo

é pr

ecis

o ac

ordá

-lo,

tirá-

lo

dess

a m

ecan

izaç

ão e

repe

tição

do

dia-

a-di

a.

É pr

ecis

o de

sest

rutu

rá-lo

, ret

irá-

lo d

o pa

radi

gma

em q

ue s

e en

cont

ra.

com

o c

orpo

des

pert

o, e

abe

rto,

par

a no

vas

expe

riên

cias

é p

ossí

vel m

udar

. A

s aç

ões

depe

ndem

da

rela

ção

de

cada

um

con

sigo

mes

mo,

o t

raba

lho

a se

r fe

ito é

a r

etir

ada

das

barr

eira

s pa

ra

a m

ovim

enta

ção,

co

nseg

uir

flexi

biliz

ar

as

fron

teir

as

entr

e as

Page 27: Revista Fusão Cultural

27

AG

O/

SET

2010

cara

cter

iza-

se

por

rela

cion

ar-s

e at

ravé

s de

seu

cor

po. A

ssim

, a d

ança

su

rge

para

vi

ver

corp

orea

men

te

esse

s co

nflito

s,

serv

indo

co

mo

um

inst

rum

ento

de

el

abor

ação

. D

ança

r, em

sua

ess

ênci

a, n

ão é

a m

ovim

enta

ção

em s

i, co

mo

um fi

m

em s

i m

esm

o, d

ança

r é

tam

bém

se

rela

cion

ar

com

o

mun

do

a no

ssa

volta

. Ou

seja

, “o

trab

alho

cor

pora

l tem

um

a di

men

são

tera

pêut

ica,

na

med

ida

em

que

torn

a o

corp

o um

a re

ferên

cia

dire

ta

de

noss

a ex

istên

cia

mai

s pr

ofun

da.”

(V

iann

a, p

.70,

199

0).

É po

ssib

ilida

de

de

sens

ibili

zaçã

o,

de o

rden

ação

das

idé

ias

a pa

rtir

de

expe

rim

enta

ções

e se

nsaç

ões s

egui

das

de r

eflex

ões

sobr

e os

mov

imen

tos

real

izad

os.

Atr

avés

do

mov

imen

tar

é po

ssív

el

inco

rpor

ar

e tr

ansm

itir

valo

res e

atit

udes

que

pro

pici

arão

um

m

eio

de a

prop

riaç

ão d

o co

rpo,

de

sua

tem

pora

lidad

e.

Toda

in

tenç

ão

é re

spon

dida

com

rea

ções

cor

pora

is,

noss

o co

rpo

exer

ce a

trel

adas

tare

fas,

ou

sej

a, n

osso

cor

po o

rgan

iza

as

dive

rsas

ativ

idad

es n

eces

sári

as p

ara

que

poss

a m

over

-se

em

dire

ção

do

obje

tivo.

El

e co

nsta

ntem

ente

se

mov

e em

dir

eção

a a

lgo

que

é ex

tern

o a

ele,

em

dir

eção

da

inte

nção

qu

e pr

oduz

iu o

mov

imen

to.

 O

fa

tor

impo

rtan

te

da

impr

o-

visa

ção

perm

ite q

ue e

sse

corp

o se

m

ova

em

funç

ão

de

seu

mun

do

inte

rno.

Nes

sa f

unçã

o, o

out

ro s

urge

co

mo

fato

r de

term

inan

te,

que

poss

ibili

ta n

ovas

exp

eriê

ncia

s e n

ovos

qu

estio

nam

ento

s, “

... u

ma

refle

xão

no

outr

o, u

m p

oder

de

pens

ar s

egun

do o

ou

tro

que e

nriq

uece

nos

sos p

ensa

men

tos

próp

rios

.” (M

erlea

u-Po

nty,

p. 24

3, 19

99).

“(...

) um

corp

o int

elige

nte é

um

corp

o que

co

nseg

ue a

dapt

ar-s

e ao

s m

ais

dive

rsos

Page 28: Revista Fusão Cultural

açõe

s. S

e o

espa

ço n

o qu

al s

e vi

ve

torn

a-se

igua

l em

todo

s os

mom

ento

s é

porq

ue s

e pe

rdeu

a c

apac

idad

e de

se

nti-l

o, s

e pe

rdeu

a c

apac

idad

e de

tr

ansf

orm

ação

e a

ssim

o m

undo

ao

redo

r nã

o é

mai

s pe

rceb

ido.

Par

a co

nseg

uir

o eq

uilíb

rio,

é n

eces

sári

o an

tes

reco

nqui

star

o e

spaç

o.

 En

fim, a

dan

ça u

tiliz

a o

corp

o qu

e se

exp

ress

a at

ravé

s do

s m

ovim

ento

s ca

rreg

ados

de

afet

ivid

ade.

Dan

çand

o po

dem

os in

terv

ir d

e for

ma a

pro

mov

er

prof

unda

s tr

ansf

orm

açõe

s no

s se

res

hum

anos

pa

ra

que

suas

re

laçõ

es

seja

m m

odifi

cada

s em

dir

eção

a u

ma

evol

ução

. Atr

avés

do

danç

ar p

odem

os

tran

sfor

mar

e m

elho

rar

aqui

lo q

ue

som

os,

desc

obri

ndo

noss

o pr

ópri

o co

rpo,

sua

s ca

paci

dade

s e

limita

ções

. É

por

mei

o de

no

ssos

co

rpos

, da

nçan

do,

que

os

sent

imen

tos

cogn

itivo

s se

inte

gram

aos

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Page 29: Revista Fusão Cultural

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Page 30: Revista Fusão Cultural

30 AGO/SET 2010

Abordar a obra e a vida de José Saramago é antes de tudo perder-se nos caminhos apontados por um autor cuja personalidade era multiface-tada. Por vezes nos deparamos com o literato, com seus romances, peças

de teatro, poesias. Em outros momentos nos deparamos com o ativista político, “comunista hormonal”, crítico severo da sociedade capitalista moderna. E como deixar de destacar o Saramago ateu, cético, descrente de qualquer tipo de pa-raíso “extraterreno”. Contudo, todas estas facetas estão presentes na prosa, nos versos e na atuação de Saramago. A escrita “caótica” do autor é uma de suas principais características, os longos períodos, a pontuação não convencional, a ausência de travessões, tornam o texto mais próximo da oralidade, em muitos momentos o leitor não sabe se lê as falas ou os pensamentos das personagens. Trata-se de um fluxo contínuo que expõe os inconscientes fictícios, a fim de que o leitor se envolva e em muitos momentos se identifique.  Como seria possível não nos reconhecermos no Ensaio sobre a cegueira (1995)? Como não admitir que somos “cegos” subjetivamente, humanamente e politicamente? Na epígrafe do romance o autor destaca a seguinte frase: “Se podes olhar, vê, se podes ver, repara”. O “olhar” significa a percepção visual, consequência do sentido da visão, porém “ver” teria um sentido mais amplo, de observar atentamente, compreender aquilo que nos aparece à vista. E neste sentido somos todos cegos, que olhando, não vemos. Somos alienados de nossos sentimentos, de nossa humanidade, de nossos desejos. Ao perder a consciência de si, o homem se degrada, perde a sensibilidade de coexistir com seu semelhante e desta forma se “barbariza”, como as personagens cegas entregues à violência e ao esquecimento. Mas a vasta obra do “tardio autor” aborda ainda outras várias temáticas. O seu país de origem, Portugal, também seria cenário e tema constante de seus romances. A terra do pecado (1947); A jangada de pedra (1986); História do cerco de Lisboa (1989); são romances que transitam entre o tênue limite da His-tória e da narrativa histórica ficcional. Saramago busca evidenciar a formação

por Priscila Salvaia

José Saramagoum intelectual de múltiplas facetas.

Page 31: Revista Fusão Cultural

31AGO/SET 2010

José Saramago Priscila Salvaia é licenciada em História

pela Universidade Estadual de Campinas,

e revisora da Fusão Cultural.

e a invenção das identidades nacionais de um país ibérico que se encontra na margem e à margem do continente europeu. Temas político-sociais também seriam constantes em sua obra. Sarama-go abordou de forma bastante crítica os conflitos inerentes à estrutura do capitalismo moderno, como os embates causados pela exploração do homem, a desigualdade social, a globalização massificadora, etc. Em Levantado do chão (1980); A Caverna (2000); Ensaio sobre a lucidez (2004), entre outros; o autor aborda criticamente as desventuras do sistema capitalista. A lúcida postura crítica de Saramago não se restringiu somente à sua obra, mas em manifestos, entrevistas e discursos, o autor apontava as contradi-ções e imposições do capital e da “democracia representativa” cerceadora do exercício da cidadania. Há ainda os famosos e polêmicos romances com temáticas religiosas. Em livros como O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991); Caim (2009); depara-mos-nos com o Saramago ateu, questionador e provocador dos paradigmas e dos dogmas da Igreja Católica. O autor retrata a religião e a criação do pecado como instrumentos de controle e dominação social, as personagens bíblicas são humanizadas de forma perturbadora aos olhos do leitor, Jesus seria sim-plesmente o filho primogênito de José e Maria, e não o filho de um messias salvador chamado deus (com letra minúscula). Saramago foi uma das mentes mais dissonantes da literatura portuguesa, capaz de expor as mazelas humanas, questionar as estruturas de poder, afrontar as crenças de um país predominantemente católico. Mas, além disso, Saramago foi uma intelectual atuante até os últimos momentos de sua vida, um provocador de consciências estagnadas em vivências me-díocres. O Nobel da Literatura foi um homem capaz de cultivar idéias. É impossível não repetir o clichê que Fernando Meirelles utilizou no dia do falecimento do autor: com a morte de Saramago “o mundo ficou ainda mais burro e ainda mais cego.”

Page 32: Revista Fusão Cultural

32 AGO/SET 2010

Objetividade e Subjetividade em Cena

linck), teatro expressionista (Wedekind), moderno (com as técnicas de Artaud, Meyerhold, Grotowski, etc.). Além do objetivo e do subjetivo há também o ambíguo: teatro religioso medieval, teatro de Shakespeare, peças de Buech-ner, peças de Strindberg, entre outras.  O teatro tal como o conhecido no ocidente, advém da Grécia, do século VI a.C.. Evidentemente, podemos buscar origens muito mais remotas, chegando aos rituais dos antigos xamãs e aos primórdios da humanidade. Porém, não é aqui o caso. Aristóteles, (384-322 a.C.), em sua famosa obra “Poética”, (provavelmente escrita em 335 a.C.), descreve que “A Tragédia é a imitação de uma ação séria e completa, dotada de extensão, em lin-guagem condimentada para cada uma das partes; ação apresentada, não com a ajuda de uma narrativa, mas por ato-res...”; obedecendo a uma estrutura.  A “Poética” aristotélica (apesar de nos chegar incompleta) exerceu uma profunda influência sobre todo o ocidente. Tanto que, mais de vinte

C onceituar de maneira “objetiva” termos como objetividade e subjetividade não é fácil, pois

esses conceitos podem ser aplicados em várias situações e em diversos campos do conhecimento. Nesse ponto uma visita ao velho e bom “Aurélio” pode ser ilustrativa. Na cena teatral, o espetáculo objetivo pode ser considerado aquele com “começo, meio e fim”, ou mais do que isso, representa um encadeamento lógico em que cada cena acontece em função da outra. Subjetivo, seria então, o espetáculo que não contêm esse encadeamento lógico, pelo menos não de maneira evidente, apresentando fragmentação de linguagem, em que cada cena funciona para si. São exemplos de objetividade: teatro grego, romano, renascentista, clássico francês, teatro do século 18, parte do teatro romântico (Dumas) e teatro realista. Em relação à subjetividade, podem ser citados: teatro do movimento Sturm und Drang, outro lado do teatro romântico (Byron), teatro simbolista (Maeter-

Page 33: Revista Fusão Cultural

33AGO/SET 2010

Raul Rozados é licenciado em Filosofia pela Universi-dade Metodista de Piracica-ba (SP), ator formado pelo Conservatório Carlos Gomes de Campinas (SP), e fotó-grafo pela Escola Paulista de Fotografia.

séculos depois, Bertolt Brecht (1898-1956) apresenta o seu Teatro Épico como a primeira proposta formal rigorosamente não aristotélica. Para Brecht praticamente todo o teatro escrito antes do Teatro Épico estava influenciado pela “Poética” de Aristó-teles. Essa afirmação é contestada por diversos estudiosos do tema, para os quais essa generalização deve-se a uma interpretação limitada dos conceitos expressos por Aristóteles. Fato é que vamos observar um estridente “estilhaçar” das formas de fazer artístico no século XX. Gosto de uma definição de arte do falecido ator Raul Cortez (1932 – 2006): “Arte é a transformação estética de uma realidade”. Para mim, essa definição é suficiente porque engloba o sujeito, o objeto, e estabelece uma relação entre eles. Pensando dessa maneira, me parece descomplicado imaginar que as transformações ocorridas em decorrência da Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX e que desembocaram no século XX (mudan-do radicalmente a maneira de viver de toda a humanidade), teriam que obrigatoriamente repercutir nas formas do fazer artístico. No século XX, houve duas grandes guerras, as teorias de Freud sobre o inconsciente (subjetividade), a expansão do capi-tal com todas as tensões e reações

geradas pela mesma, a explosão tecnológica em todos os campos do saber, a dilapidação da natureza, etc.. Movimentos provocam movimentos.  No mesmo século, o Dadaísmo (Zurique, 1916) pretendeu a des-truição completa de todas as formas convencionais de expressão artística e foi o precursor do Surrealismo, do Expressionismo e outros movimen-tos. “Happening”, “Performance” e outras manifestações, a união do teatro, dança, artes visuais e a par-ticipação ativa e mesmo física do espectador se apresentam como for-mas de preenchimento artístico do espaço aberto pelo “estilhaçar” de todo um modo de vida. Como com-plicador, há também a “Cultura de Massa”; a transformação de tudo em mercadoria, imposta pelo capital. O que virá a seguir?

Page 34: Revista Fusão Cultural

34 AGO/SET 2010

Para abordarmos a comple-xa relação entre Cultura e Educação, iniciaremos com uma reflexão sobre

a necessidade de integração entre os diferentes campos do saber. Integrar saberes que na realidade nunca estiveram separados é uma tarefa de reforma do pensamento que histori-camente divide e põe em caixinhas o conhecimento. Nos encontramos em um momento no qual é urgente dar movimento à transformação do pen-samento e unir saberes inseparáveis.  Com o disse Edgar Morin no seu necessário livro entitulado Os Sete Saberes Necessários à Educação do Fu-turo: “O todo tem qualidades ou pro-priedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, certas qualidades ou proprie-dades das partes podem ser inibidas.” Então, partindo desta reflexão, nos sentimos motivados a considerar que a Educação e a Cultura são parceiras inseparáveis, se inter-relacionam in-tensamente, se retroalimentam e se embelezam mutuamente.

 Mas, a questão chave deste breve texto, não é reverenciar a integração entre Educação e Cultura e sim evidenciar a necessidade de seu reencontro criativo. No decorrer da história da sociedade esta ínti-ma relação vem se dissociando por forças e conflitos entre o saber e o poder, e com isso, atualmente, nos deparamos com uma educação que dá ênfase à alfabetização, à tecno-logia e à formação de especialistas, os quais vêm se mostrando, de forma geral, indiferentes a complexa teia da vida. Ou seja, a cultura é en-fraquecida como dinamizadora e transformadora da sociedade. Aqui, evidencia-se a necessidade de trazer a cultura para a renovação da edu-cação, uma educação integrada com o movimento da vida e não isolada em compartimentos. Porém, ao mesmo tempo em que verificamos o empobrecimen-to cultural da educação, verificamos também a oportunidade de estabelecer de forma concreta uma nova cultura. Uma cultura conciliatória, de conví-

por Karine Silva Faleiros

Karine é engenheira florestal, educadora e integrante do Educomunicamos! Ponto de Cultura de Piracicaba (SP)

Page 35: Revista Fusão Cultural

35AGO/SET 2010

Primavera, tempo de amores, de flores, de cores. Nas unhas, o colorido continua como tendência. No entan-

to, novos tons devem prevalecer. Ok, a primavera iniciará apenas no dia 23 de setembro, mas a antecipação é a premissa das tendências. Em relação aos esmaltes, as tonalidades em voga são as lançadas por marcas famosas. Algumas, inclusive, surgiram a partir dos acessórios, como as bolsas apre-sentadas durante as semanas da moda do Rio de Janeiro e de São Paulo.  Os tons que devem ter lugar cati-vo na primavera são os pastéis. E as grandes apostas estão no salmão e no laranja. Apesar de as cores mais cla-ras prevalecerem, há espaço também para tons mais escuros, como o roxo e o esverdeado. As cores neon, por outro lado, deve perder o destaque.  Textos, flores e formatos varia-dos também estarão nas unhas das mulheres. Mais do que simples partes do corpo, as unhas transmi-tem magia e sedução, ainda mais na primavera.

Pintando as unhas Tendências de esmaltes

para a primavera

vio entre as diferenças e mais impor-tante, uma cultura de participação na mudança do presente e do futuro da sociedade.  E aqui ficam duas perguntas para nos motivar a enfrentar a tarefa da integração real de diferentes cam-pos do saber: Como construir esta nova cultura sem a educação e como construir uma nova educação sem a cultura?  Soluções importantes estão no planejamento de políticas públicas que integrem de forma ampla estas duas áreas, mas deve ir muito além disso, educação não acontece só na escola e sim em qualquer espaço de convívio, assim como a cultura que se realiza no encontro, dessa forma somos co-responsáveis pelo reen-contro entre Educação e Cultura.  Exemplos de reencontro criativo entre a Cultura e a Educação, atuais e conectados com o contexto acima explorado, são os Pontos de Cultura distribuídos por todo o país. Em Piracicaba temos agora dois Pontos de Cultura, o Garapa e o Educomu-nicamos Ponto de Cultura.

Faço parte do Educomunicamos Ponto de Cultura e se você se interessa por essa movimentação contate-nos, acesse www.educomunicamos.blogspot.com e participe!

por Karine Silva Faleiros

Page 36: Revista Fusão Cultural

36 AGO/SET 2010

por Rafaela Silva

Conceito popular e amplamente estudado, o folclore é tido como um conjunto de mitos e lendas passados de geração para geração. Os mitos são

narrativas de apelo simbólico, criadas para explicar fenômenos, transmitir conhecimentos e alertar sobre perigos, defeitos e qualidades do ser humano. Já as lendas são histórias transmitidas oralmente, e mis-turam fatos reais e fantasiosos. Segundo Roberto Benjamin no texto O conceito de folclore, a palavra folclore tem raízes saxônicas, e foi formada pela junção dos termos folk (povo) e lore (saber).  A conceituação de folclore entre os estudiosos, contudo, não se resume em “saber do povo”. No esforço em conceituar adequadamente o termo, foi realizado no Brasil em 1951 o I Congresso Brasi-leiro de Folclore, no qual foi estabelecida a Carta do Folclore Brasileiro, uma tentativa de conceitu-ar melhor o termo. Apesar de adotada por muitos anos, a Carta ainda tinha muitas imprecisões e ambigüidades. Sua atualização foi realizada em 1995, durante o VIII Congresso Brasileiro de Fol-clore. De acordo com a re-conceituação, “folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunida-de, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da ma-nifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionali-dade, dinamicidade, funcionalidade.”

Page 37: Revista Fusão Cultural

37

 Muitas características do folclore foram atualizadas, relativizadas ou desaparece-ram. A característica anonimato (o fato folclórico não ter autor conhecido), por exemplo, tem sido progressivamente rela-tivizada, por deixava de fora o artesanato e a poesia dos repentistas. A característica aceitação coletiva tem sido usada na rein-terpretação do anonimato, visto que para alguns folcloristas, a criação de um autor conhecido passa a ser folclórica quando o coletivo a aceita.  Outra característica amplamente discutida é a transmissão oral, pois sua absolutização exclui manifestações escritas, como a literatura de cordel, do conceito folclore. Estudiosos do tema, como Renato Almeida, acreditam que a transmissão oral deva ter um sentido simbólico, para não deixar de lado outras formas de aprendizado.  Quanto à antiguidade, provavelmente uma das características mais polêmicas, folcloristas mais tradicionalistas a colo-cam como primordial para um fato ser considerado folclore. Contudo, uma forte corrente acredita no “folclore nascente”, que reconhece novos fatos folclóricos, permi-tindo ao criador popular a possibilidade de criação. Pois não há como negar o surgimento do novo, nem proibir sua exis-tência em uma cultura popular.

Page 38: Revista Fusão Cultural

por Rafaela Silva

38 AGO/SET 2010

Body ModificationUma releitura das tradições tribais

Para muitos povos modificar o corpo não é nada de bizarro ou anormal, mas sim elemento tradicional

de sua cultura, ligado às questões estéticas. Na África muitas tribos realizam essa prática. A tribo Mursi, da Etiópia, utiliza uma placa no lábio inferior e também no lóbulo da orelha. As mulheres da tribo Ndebele, em Lesedi, usam pesadas argolas de metal no pescoço, pernas e braços depois que se casam para não olharem para outros homens. Mesmo hábito das “mulheres girafas” da tribo Padaung, de Burma – Ásia. Os Padaung acreditam que o pescoço é o centro da alma.  Em tribos africanas são comuns as escarificações (marcas feitas por cortes na pele), que começam a ser realizadas quando a garota tem apenas cinco anos. Em busca da beleza, mulheres chinesas tiveram os pés deformados. Para ser belo, o pé deveria assemelhar-se a uma pequena flor de lótus, e para atingir esse resultado, a menina ao completar três anos tinha ataduras colocadas em seus pés. Essa prática durou do século 10 até 1949.

 A body modification realizada atualmente pelas tribos urbanas assemelham-se à de tribos tradicionais e tem os mesmos motivos, estéticos, culturais ou espirituais, sendo considerada uma arte. No entanto, as questões culturais que envolvem as formas de modificação divergem. Cabe a cada um que optar por essa arte avaliar os prós e os contras e não entregar-se a modismos, pois mesmo as culturas mudam.  E x e m p l o s c o m u n s d e b o d y modification são: Bifurcação da língua (divisão da língua em duas partes), Branding (cicatriz na pele de uma queimadura feita de ferro quente), Escarificação (cicatrizes cortes feitos por bisturi), Implantes subcutâneos (implante de objeto sob a pele), Implante transdermal (implante de aço cirúrgico, no qual metade do objeto fica exposto e a outra metade fica dentro da pele), Pocket (assemelha-se ao piercing, no entanto a haste fica para fora da pele e as pontas, para dentro) e Surface (implante de objeto semelhante a uma trave ao contrário, no qual as pontas ficam para fora da pele e a haste fica dentro).

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Page 39: Revista Fusão Cultural

As galerias virtuais estão se multiplicando para dar con-ta do grande número de

artistas plásticos que utilizam o com-putador não apenas para acessar in-formações, mas para criar suas obras, com o uso de equipamentos, como o mouse-pincel ou o tablet. A impressão é realizada em plotado-ras digitais, também conhecidas como giclée. Essa nova forma de fazer arte amplia o acesso às obras. Além de apreciar os quadros nas galerias virtuais, há a possibilida-de de comprar a obra impressa.  Todas as técnicas de pintura podem ser reproduzidas pelos programas de computador. Para muitos teóricos, esse tema ainda rende muito estudo, por conta da reprodução em massa das obras de arte. Ela deixaria de única e passaria a ser um produto feito em série. Segundo falas do jornalista, escritor e art-designer Bezerra Neto, as obras fei-tas a partir do computador são a arte do futuro e talvez faça muitos artistas aposentarem os pincéis.

P apéis de carta, cartões, mar-cadores de livro, envelopes, porto-lápis e outros objetos

tem em comum o material utilizado para confecção, o papel reciclado artesanal. En-tre os papéis recicláveis estão as folhas de caderno, envelopes, fotocópias, papel de fax, cartazes, folhetos, jornais e revistas. Os não recicláveis são papéis sujos, parafina-dos, plastificados, metalizados, etiqueta, fita crepe, papel carbono e fotografias.  A preparação do papel reciclado artesanal é fácil e os materiais também são fáceis de en-contrar. Primeiro é feita a polpa, com o papel picado e água. Os papéis também podem ser decorados, misturando à polpa outros ingre-dientes como linha, fios de lã, cascas ou pe-daços de frutas e vegetais, pétalas de flores, entre outros. Para dar cor ao papel reciclado basta adicionar papel crepom junto à água ou guache e anilina junto à polpa. Depois é feito o papel com uso de moldura e porte-riormente o papel é prensado. Com o papel reciclado artesanal pronto, é só usar a imaginação e criar.

Papel Reciclado ArtesanalArte Consciente

por Rafaela Silva

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