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Revista Filosófica de Coimbra Publicação semestral do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Director: Miguel Baptista Pereira Coordenação Redactorial : António Manuel Martins e Mário Santiago Carvalho Conselho de Redacção: Alexandre F. O. Morujão, Alfredo Reis, Ainândio A. Coxito, Anselmo Borges, António Manuel Martins, António Pedro Pita, Carlos Pitta das Neves, Diogo Falcão Ferrer, Edmundo Balsemão Pires, Fernanda Bernardo, Francisco Vieira Jordão t, Henrique Jales Ribeiro. João Ascenso André, Joaquim das Neves Vicente, José Encarnação Reis, José M. Cruz Pontes, Luísa Portocarrero F. Silva, Marina Ramos Themudo, Mário Santiago de Carvalho, Miguel Baptista Pereira As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos Autores Toda a colaboração é solicitada Distribuição e assinaturas: Fundação Eng. António de Almeida Rua Tenente Valadim, 331 P-4100 Porto Tel. 6067418; Fax 6004314 Redacção: Revista Filosófica de Coimbra Instituto de Estudos Filosóficos Faculdade de Letras P - 3049 Coimbra Codex Tel. 4109900; Fax 36733 E-Mail: [email protected] Preço ( IVA incluído): Assinatura anual 1997: 4.000$00 (Portugal) 5.500$00 (Estrangeiro) Número avulso: 2.200$00 (Portugal) 3.000$00 (Estrangeiro) REVISTA PATROCINADA PELA FUNDAÇÃO ENG. ANTÓNIO DE ALMEIDA

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Revista Filosófica de Coimbra

Publicação semestral do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras

da Universidade de Coimbra

Director: Miguel Baptista Pereira

Coordenação Redactorial : António Manuel Martins e Mário Santiago Carvalho

Conselho de Redacção: Alexandre F. O. Morujão, Alfredo Reis, Ainândio

A. Coxito, Anselmo Borges, António Manuel Martins, António Pedro Pita,

Carlos Pitta das Neves, Diogo Falcão Ferrer, Edmundo Balsemão Pires,

Fernanda Bernardo, Francisco Vieira Jordão t, Henrique Jales Ribeiro.

João Ascenso André, Joaquim das Neves Vicente, José Encarnação Reis,

José M. Cruz Pontes, Luísa Portocarrero F. Silva, Marina Ramos Themudo,

Mário Santiago de Carvalho, Miguel Baptista Pereira

As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos Autores

Toda a colaboração é solicitada

Distribuição e assinaturas:

Fundação Eng. António de Almeida

Rua Tenente Valadim, 331

P-4100 PortoTel. 6067418; Fax 6004314

Redacção:

Revista Filosófica de CoimbraInstituto de Estudos FilosóficosFaculdade de LetrasP - 3049 Coimbra CodexTel. 4109900; Fax 36733E-Mail: [email protected]

Preço (IVA incluído):

Assinatura anual 1997: 4.000$00 (Portugal) • 5.500$00 (Estrangeiro)Número avulso: 2.200$00 (Portugal) • 3.000$00 (Estrangeiro)

REVISTA PATROCINADA PELA FUNDAÇÃO ENG. ANTÓNIO DE ALMEIDA

Revista Filosófica de Coimbra

Publicação semestral

Vol. 6 • N.° 11 • Março de 1997

ISSN 0872-0851

Artigos

Miguel Baptista Pereira - Fenomenologia e Transcendência.A propósito de Emmanuel Lévinas (1906-1995) ....................... 3

Maria Luísa Portocarrero F. Silva - Filosofia, Praxis e Herme-nêutica: a Perspectiva de H.-G. Gadamer ................................. 63

António Manuel Martins - Modelos de Democracia ..................... 85

Documento

Amândio Coxito - Um Texto de Luís A. Vernei contra o !mate-rialismo de Berkeley .................................................................... 101

Estudo

Fernanda Bernardo - A morte segundo Emmanuel Levinas : Limite-

-Limiar do Eu inter-essado .......................................................... 119

Crónica ................................................................................................ 205

Ficheiro de Revistas ........................................................................... 209

Recensões ............................................................................................ 217

CRÓNICA

O 2° Congresso Ibero-Americano de Estudos Utilitaristas terá lugar no Con-vento da Arrábida (Azeitão), de 11 a 15 de Junho de 1997. A Comissão Exe-cutiva é constituida por José de Sousa e Brito (Lisboa), Esperanza Guisán(Santiago de Compostela) e José Luis Tasset (La Corufia). As conferências ecomunicações versarão os seguintes temas:

1. Éticas dos direitos do homem e éticas utilitaristas2. Lógica dos direitos subjectivos, do dever e da utilidade3. Fundamentação utilitarista dos direitos do homem4. O problema da distribuição, a titularidade dos direitos e utilitarismo.

De 13 a 14 de Junho de 1997 terá lugar no Instituto de Matemática da Univer-sidade de Viena um Simpósio Internacional subordinado ao tema Tarski e o Cír-culo de Viena - As relações entre a Austria e a Polónia no Empirismo Lógico.Entre os conferencistas convidados contam - se L. Henkin , J. Hintikka, A. & S.Feferman, Benson Mates , M. Przelecki , R. Woicicki, J. Wolenski e P. Simons.Informa : Institut Wiener Kreis, Museumstr. 5/2/19, A-1070 Wien.

De 29 de Junho a 2 de Julho de 1997 terá lugar o 12th Annual Symposiumon Logic and Computer Science (LICS 97) em Varsóvia . E-mail : lics-request@research . bell- labs.com

Coordenado por J. Kjaer, R. Zieman e H.J. Schmidt terá lugar, na Univer-sidade de Dortmund, de 9 a 11 de Julho de 1997, o V Internationale DortmunderNietzsche- Kolloquium subordinado ao tema: "denn ich liebe es schreibend zudenken" - Der junge Nietzsche (1844-1864). Conferências de: J. Figl, K. Jauslin,Pia Daniela Volz- Schmücker, J. Jkyer, H.G. Hádl, R.G. Müller, V. Gerhardt,R. Ziemann, W.Ries e C. Niemeyer. Informa: Prof. Dr. Hermann Josef Schmidt,Universitãt Dortmund, Philosophie, D-44221 Dortmund.

De 30 de Julho a 2 de Agosto de 1997 terá lugar em Gent (Bélgica) o FirstWorld Congress on Paraconsistence. Entre os temas a debater contam-se osseguintes: O papel da inconsistência na História e Filosofia das Ciências, Paracon-sistência e Mundividências, A Abordagem polaca à Paraconsistência (Homenagem

a S. Jaskowski). Informa: Prof. Dr. D. Batens, Blandijnberg 2, B-9000 Gent.

Revista Filosófica de Coimbra-,i." 11 (1997) pp. 205-207

206 Revista Filosófica de Coimbra

De 10 a 16 de Agosto de 1997 terá lugar em Kirchberg am Weschel (Austria)

o 20. Internationale Wittgenstein - Svntposiuni, subordinado ao tema: O papel da

Pragmática na Filosofia Contemporânea. Estão previstas as seguintes secções:

1. Aspectos pragmáticos da Lógica aplicada

2. A Dimensão pragmática da Linguagem3. Problemas pragmáticos na Filosofia da Ciência4. Abordagens pragmáticas na Ética e na Teoria da Acção5. Sistemas e Filósofos pragmáticos6. Wittgenstein.

Entre os conferencistas convidados contam-se; L.W. Adams, M. Bierwirsch,

D. Birnbacher, J. Bouveresse , J. Conant, L. Flores, P. Gürdenfors, K. Gentes, Paul

Gochet , H. Haider, P.H. Hare, W.L. Harper, R. Hilpincn, R.C. Jcfírcy, 11. Kamp,

H. Kreutz , T. Kuipers, N. Kurtonina , F. von Kutschcra, G. Megglc, P. Mittelsládt,

E. Morscher, D. Pears, J.L. Pollock, N. Rcschcr, E. von Savigny, E. Sidorenko,

B. Skyrms, P. Suppes e R. Wojcicki. Informa: Ostcrreichischc Ludwig

Wittgenstein Gesellschaft , Markt 63, A- 2880 Kirchberg am Wechsel.

De 21 a 23 de Agosto de 1997 terá lugar cm Pádua ( Itália) a 11 th Annual

Conferente of the European Societyfor Philosophv of Medicine and Health Care.

Tema : Investigação em Cuidados de Saúde - Aspectos históricos, éticos e

filosóficos . Informa : Prof. Dr. Henk ten Have, Dept of Ethics, Philosophy and

History of Medicine , Faculty of Medical Sciences, P.O. Box 9191, HB Nijmegen,

Holanda.

De 25 a 29 de Agosto de 1997 terá lugar em Viena (Austria) o Fifth Kurt

Gãdel Colloquium (KGC'97). Temas: proof theory, automated theorem proving,

unification theory, complexity theory, logics of programs, nonstandard logics fortheoretical computer science and AI, recursion theory, Iogic programming.Informa : Alexander Leitsch, Technische Universitüt Wien, Institut für Computers-prachen E185 . 2, Resselgasse 3/1, A-1040 Wien.

De 3 a 10 de Setembro de 1997 terá lugar cm Cerisy-La-Salte (França) umcolóquio Cent ans de philosophie autrichienne 1838-1938 organizado por J.-P.Cometti e K. Mulligan . Informa : J.-P. Cometti, Université de Provence, Départe-ment de Philosophie , 29 avenue Robert Schuman, F-13621 Aix-en-Provence

Cedex.

PAIDEIA. XX Congresso Mundial de Filosofia. O vigésimo CongressoMundial de Filosofia terá lugar em Boston , Mass . USA, de 10-16 de Agosto de1988. Seguindo a tradição dos congressos anteriores , desenvolverá um temaprincipal , A Filosofia na Educação da Humanidade , em torno dos seguintestópicos:

*Origens e concepções filosóficas da Paideia*A Filosofia e o Futuro da Educação

pp. 205 -207 Revista FilosóJìca de Coimbra - n." 11 (1997)

Crónica 207

*Educação filosófica e Diversidade cultural*Paideia , Justiça social e Direitos humanos*Os Ideais do Iluminismo e o seu Legado*Pragmatismo: o que é e o que não é*Desafios actuais à Ética*Ciência e Humanidades*Agenda global para o Ensino da Filosofia.

Para além destes temas são aceites comunicações em praticamente todas asáreas da filosofia bem como todas as tradições.

Data importante a fixar para quem quiser enviar qualquer comunicação oufazer propostas de discussão de um tema é o dia 1 de Setembro de 1977, datalimite para a recepção de material . Para mais informações : contactar o secretariadodo congresso . American Organizing Commitee , lnc., Boston University, 745Commonwealth Avenue, Boston Mass . 02215 (USA). Fax:+1(617)353-5441.E-Mail: paideia@bu . edu. Para informação em várias línguas e registo em linhaatravés do endereço na Internet : http :/ /web.bu .edu/WCP

Revista Filosófica de Coimbra - n.° 11 (1997) pp. 205-207

FICHEIRO DE REVISTAS

Acta Philosophica - Roma Vol. 5(1996):N° 1: L. Clavell: La perenità delia filosofia dell'essere (5-20); F. D'Agostino:

La tolleranza difficile (21-30); G. Kamphausen: Abschied von der Wirklichkeit.

Eine soziologische Zeitbetrachtung über die Herrschaft der Wiirte (31-46);

A.R. Luno: "Veritatis Splendor" un anno dopo. Appunti per un bilancio (47-76);

F. Russo: La libertà. il male, Dio. Gli ultimi scritti di Luigi Pareyson (77-94);

M. Jaworski: Dio e l'esitenza umana (95-101); H.J. Padrón: Tecnociencia y ética

(103-113); José Pereira: John of St. Thomas and Suárez (115-136); H.Z. Arreguin:

Orexis, telos y physis. Un comentario con ocasión de EN 1094a19ss (137-147).

N° 2: J. M. Burgos: Weber e lo spirito dei capitalismo. Storia di un problemae nuove prospettive (197-220); M. Fazio: 11 singolo kierkegaardiano: una sintesiin divenire (221-249); M. Marsonet: 1 raporti tra scienza e metafisica (251-268);M. P. de Laborda: Sujeto, proprio y esencia: el fundamento de Ia distinciónaristotélica de modos de predicar (269-292); I. Yarza: Ética y dialéctica. Sócrates,Platón y Aristóteles (293-315); A. Maio: 1l desiderio: precedenti storici econcettualizzazione platonica (317-337); G.J. Zanotti: El problema de Ia "TheoryLadeness" de los juicios singulares en Ia epistemología contemporánea (339--352).

Agora - Santiago de Compostela Vol. XIV (1995):N° 2: F. Montero Moliner: Kant y Husserl: el problema de Ia subjetividad

(5-22); A. Nepomuceno Fernández: Un estudio formal de aspectos relevantes de

estructuras informativas (23 - 30); L. Villegas: Algunos problemas de ias ciencias

reconstructivas (31-39); R. Kleszcz: Razón y lógica: Ia tradicción analítica en

Polonia (41-53); M. González Fernández: El ideario pirrónico en el oriente

medieval (Presencia y divulgación) (55-77). M. J. Bertomeu-Graciela Vidiella:

Persona moral y justicia distributiva (81-97); E. Moreno Chumillas: Las utopias

de Ia mediocridad (99-111); M. Bordes Solanas: Identidad y continuidad causal:

una crítica a Ia teoria de Ia continuidad causal de Shoemaker (113-122);

Recensiones; Noticias.

Análise - LisboaN° 17 (1994): F. Gil: A operação da evidência (9-24); J. M. Gago: O saber

comum: etnofísica dos movimentos e da electricidade (25-34); H. M. Macedo:

Revista Filosófica de Coimbra -;1.' 11 (1997) pp. 209-215

210 Revista Filosófica de Coimbra

Metaphorical structure of the self (35-42); J. Gil: Figurações imaginárias do

interior do corpo na cultura popular portuguesa (43-75); M. S. Marques: A ana-

logia e a ideia de clínica : unta questão de metantedicina (160); M.F. Molder: Três

motes para o pensamento morfológico de Goethe (161-197); A.M. Silva: Aspectos

psicosociais da epilepsia (199-209); F. Medeiros: A heterogeneidade qualitativa

do espaço e do tempo sociais nos processos de mudança social (211-230); M.V.

Cabral : Equidade , economia e cidadania : crescimento económico e equidade

social no Portugal democrático (231-246).

N° 18 (1995 ): M. L. C. Soares: Em torno da identidade do singular (5-33);

A. Cardoso : A identidade real corno categoria dinâmica no pensamento de

F. Suarez ( 35-49 ); F. Gil: Le vague et le determitté (51-60); R. A. Branco: As

estratégias da identidade (61-84); Ph. Caspar: L'individuation des êtres vivants

selon 1 ' immunologie moderne: aspects scientifiques et portée ontologique (85-

-124); J. P. Monteiro : Realismo e apreensibilidade (125-156).

Analogia Filosófica - Xochimilco (México) - 10 (1996):

N° 2: L. Rossetti: El momento epíkairos (Kairós "espontáneo", kairós

negativo , kairós inducido, contra-kairós) (3-30); C. I. Massini Correas: El

pensamiento práctico. Consideraciones metodológicas a partir de Tomás de

Aquino (31-54); M. Teodoro Ramírez: "No es una metáfora". Filosofia, lenguaje

y hermenéutica en Merleau-Ponty (55-71); R. Kuri Camacho: Ser y hermenéutica.

El relativismo contemporâneo o el nuevo fundamentalismo laico (73-112);

A. Burrieza - A. Diéguez: La instrumentalización del tientpo (113-138); A. Mar-

tínes Lorca: El concepto de civitas en Ia teoria política de Tomás de Aquino (139-

-150); M. A. Rendón Rojas - M. D. Okolova: La re-presentación extrema del

estetismo, del intelectualismo y del moralismo eti política (151-174); E. I. Aguayo:

El concepto de libertad jurídica en Ia iusfilosofia de Eduardo Gracía Máynez

(175-199); G. Aguilar Espinoza: Lo que debemos considerar conto principio del

conocimiento para filosofar (201-212); W. R. Darós: "Naturaleza humana" ett

Ia filosofia de M. E Sciacca y Ia concepciótt light de G. Vattimo (213-258);

G. del C. Balderas Rosas: La concepción de "leys de Ia naturaleza" en el

Tractatus de Ludwig Witgenstein (259-265), Reservas.

AnáMnesis - Ciudad de México VI (1996):N° 2: M. Gourgues: "Desde su templo él escuchó mi voz" (5-21); L. Cohen:

La Historia Eclesiástica y el cristianismo oriental (23-50); P. Argárate: El movi-

miento del ser en el pensamiento de san Máximo el Confesor (51-100); H. Zagal

Arreguín: ¿Cristianismo posmoderno o modernidad poscristiana? (101-127);

R. Kuri Camacho: Del pelagianismo a Ia gnosis o Ia historia como mística v Iafiebre milenarista (129-142); V. M. Pérez Valera: Algunos aspectos de Ia Teologia

de Ia Liberación en Abraham Joshua Heschel (143-158); E. M. Torres: Tres

ejemplos de Ia relación fraile-indigena a través de Ias plantas: el tabaco, el cacao

y Ias nopaleras (159-202).

pp. 209-215 Revista Filosófica de Coimbra - a.° 11 (1 997)

Ficheiro de revistas 211

Aut Aut - MilãoN° 275 (settembre - ottobre 1996):A. Dal Lago: Dentro/Fuori. Scenari dell'esclusione (3-7); A. Sayad: La

doppia pena dei migrante. Riflessioni sul "pensiero di Stato" (8-16); S. Mezzadra:

La comunità dei nemici. Migranti, capitalismo e nazione negli scritti di Max

Weber sui lavoratori agricoli nei territori prussiani a est dell'Elba (1892-1895)

(17-42); A. Dal Lago: Nonpersone. Il limbo degli stranieri (43-70); A. Petrillo:

L'insicurezza urbana in America (71-92); L. J. D. Wacquant: L'America come

utopia rovesciata (93-102); M. Davies: Chi ha assassinato Los Angeles? La

sentenza è pronunciata (103-128); F. Gambino: Alcune aporie delle migrazioni

internazionali (129-141); S. Palidda: Verso il "fascismo democratico"? Note su

emigrazione, immigrazione e società dominante (143-168).

Convivium - Barcelona - 9 (1996):H. Banyeres Baltasà: El cant gregorià, un model de música perfecta (5-22);

J. M. Garcia de Ia Mora: Francisco Suárez: interpretaciones y críticas (23-37);

D. Cifuentes Camacho: En el centro dei laberinto: Ia hybris y el Minotauro

(38-48); M. Canais Surís: Fonament de l'axiologia de Plató. (La interpretació

dei platonisme a 1'escola de Tubinga) (49-76); S. Münnich: En torno a Ia frase

de Nietzsche "La verdad es mujer" (77-91); J. L. Arce Carrascoso: Ontologia y

conocimiento en M. Merleau-Ponty (92-116); A. Sanvisens Herreros: Entidad y

origen de Ia inforniación (117-133); J. M. Romero Baró: Entrevista con Rhené

Thom (134-138). Crítica de Llibres.

Dialogo Filosofico - Madrid 12 (1996):N° 3: J. M. Campos: Sobre Ia lógica modal en Tomás de Mercado (México,

s. XVI) (356- 365); G. L. Benítez: Dos propuestas sobre epistemología y ciencia

el el siglo XVII novohispano: Carlos de Sigüenza y Sor Juana Inés de Ia Cruz

(367-384); B. Navarro: Los aspectos de ciencia moderna en Ia filosofia de

Clavigero (385-398); M. Beuchot: Importancia de lafilosofía novohispana para

el hispanismo filosófico (399-408); J. García Leal: El desinterés en Ia actitud

estética (409-420); A. Serrano de Haro: Hannah Arendt y Ia cuestión dei mal

radical (421-430); M. J. Sánchez Huertas: La didáctica de la filosofia en Italia

(431-454).

Disputatio - Lisboa Vol. 1 (1996):N° 1: M. S. Lourenço: Nota de apresentação (3-4); J. Branquinho: Singular

propositions and enodes of presentation (5-23); N. Markosian: O paradoxo da

pergunta (23-26); J. Cachopo & A. Cardoso: Quine e Ullian: The web of belief

(26-40).

Estudios Filosoficos - Salamanca XLV (1996):

N° 130: C. Campo Sánchez: Estructura social, estructura dual (433-452);

B. Cuesta lvarez: Globalización, pobreza y responsabilidad solidaria (453-510);

Revista Filosófica de Coimbra - ti." 11 (1997) pp. 209-215

212 Revista Filosófica de Coimbra

J. R. López de Ia Osa: Globalización y responsabilidad moral (511-541); J. L.

Inquieta Etuláin : Sociología y Antropologia en Castilla-León: El reto de Ia

interdisciplinariedad (543-560); J. Cercós Soto: Que lo que no es, no es (561-

-574). Bibliografía.

Études Philosophiques (Les) - Paris 1996:N° 3: J. Biard: Présentation t= Philosophie Médiévale, Logique et Séman-

tique] (289- 290); S. Knuuttila: Naissance de Ia logique de la volonté dans la

pensée médiévale (291-305); C. Michon: Asyntétries. Thonias d'Aquin ei Guillau-

me d'Occam précurseurs de Frege (307-321); C. Panaccio: Le langage mental

en discussion : 1320-1335 (323-339); E. J. Ashworth: Aulour des 'Obliyationes'

de Roger Swyneshed: Ia 'nova responsio' (341-360); J. Biard: De Ia logique à

Ia physique: quantité et mouvement selon Albert de Sa.w (361-374); D. O'Bricn:

A propos du 'Sophiste' de Platon (375-380); F. Rivenc: Théories de Ia vérité et

sémantique des conditions de vérité: le projet de Tarski (38 1-402); Analyses et

comptes rendus.

N° 4: J.-L. Veillard-Baron: De Descartes à Malebranche: Ia question de

Lhomme (433-435); G. Rodis-Lewis: L'âme et le corps chez Descartes et ses

successeurs: Ia naissance de l'occasionalisme (437-452); J.-L. Viellard-Baron:

L'âme et l'amour selon Malebranche (453- 472); M. Adam: Sur Ia terre comine

au ciel. L'homme et Dieu selou Malebranche (473-488); J-C. Bardout: Malebran-

che ou i ' individuation perdue (489-506); A. Bitbol-Hespériès: Connaissance de

lhomme, connaissance de Dieu (507-533); B. Pinchard: Souveraineté de Male-branche. La constance d'une philosophie de l'Ordre (535-548); L. Millet: L'exé-gèse à Ia fin du XXe diècle (549-553); Analyses et comptes rendus.

1997:

N° 1: J.-L. Labarrière: Avant-propos [Aristote sur l'imagination] (1-2);V. Caston: Pourquoi Aristote a besoin de l'imagination? (3-39); R. Lefebvre: La'phantasia ' chez Aristote: subliminalité, indistinction et pathologie de Iaperception (41-58); M. Canto-Sperber: Mouvement des animaux et motivationhumaine dans le livre II du 'De Aninia' d'Aristote (59- 96); J.-L. Labarrière: Désir,'phantasia ' et intellect dans le 'De Anima' 111, 9-11. Une réplique à MoniqueCanto-Sperber (97-125); Orientations bibliographiques (127-129); Analyses etcomptes rendus.

Filosofia - Turim XLVII (1996):N° 3: V. Possenti: Razionalità e interiorità (295-305); G. Chiurazzi: Fles-

sione e riflessione: "circolarità" ermeneutica e circolarità speculativa(307-349); G. M. Tortolone: Immaginazione e soggeto (351-392); S. Ferretti:I miti platonici nella "filosofia delle forme simboliche" di Ernst Cassirer (393-411); A. Di Chiara: Nota sull'escatologia di Luigi Pareyson (413-417); V. Stella:Rosario Assunto interprete delta ntodernità (419-442). Rassegna di libri.

XLVIII (1997):N° 1: A. Deregibus: Coscienzalismo critico e moralità nella filosofia di

Bernardino Varisco (3-36); D. Antiseri: Quanto sono "razionali" le norme etiche

pp. 209-215 Revista Filosófica de Coimbra -#1." 11 (1997)

Ficheiro de revistas 213

e le proposte politiche (37-52 ); D. Drivet: La nozione di mondo negli scrittiprecritici kantiani (1747-1764) ( 53-108 ); M. Montuori : Le "nuvole": qualeSocrate ? (109-123); A. Brancaforte : Appunti di filosofia per il 111 millenio (125-- 131); S. Pisa : Filosofia e Cristologia (133-153). Rassegna di libri.

Kriterion - Belo Horizonte-MG XXXV(1995):N° 92: J.-L. Petit: O "descobrimento" da intencionalidade pela teoria

analítica da acção (7-23); M. G. S. Nascimento: Materialismo e espinosismo:Diderot leitor de Espinosa (24-36); P. J. Smith: Wittgenstein: racionalidade eceticismo (37-65); M. J. Campos: Finitude e conhecimento: um diálogo entreHeidegger e Kant (66-79); M. Tiburi: Consciência da necessidade e sobrevivênciada arte na teoria estética de Adorno (80-92).

Manuscrito - Campinas XIX (1996):N° 1: R. Sylvan: What Limits to Thought, !nquiry and Philosophy (19-67);

R. H. de S. Pereira: Teoria kantiana do Sujeito (19-95); D. Ginev: Philosophy ofthe Human Sciences at the End of Modernity (97-126); M. C. Dias: DireitosSociais Básicos: Uma Investigação Filosófica acerca da Fundamentação dosDireitos Humanos (127-147); G. E. R. Haddock: On the Semantics of Mathe-matical Statements (149-175); D. Labonia: Acerca de Ia Teoria "Unitária" dePaul Broca; Elementos para una Critica de Ia Interpretacion Estandar de IasIdeas de Broca sobre Ia Afasia y Ia Representacion dei Lenguaje en el Cerebro(177-208); L. H. de A. Dutra: Ceticismo e Realismo Científico (209-253); Reviewsand Discussions.

Metalogicon - Nápoles/Roma VIII(1995):N° 2: A.G. Grappone: Many-valued Sentence Logic: Representation Problems

in Standard Sentence Logic (65-72); R. Lello: A Peannian Analysis of Tigrigna- Part Two - Derivation and Grammar Algebra (73-90); M. Malatesta: St.Augustine's Dialectic from the Modern Logic Standpoint - Logical Analysis ofContra Academicos 111,10,22-13,29 (91-120); M. Malatesta: ExperimentalPhilology: Davide Nardoni (121- 128).

IX(1996):N° 1: M. Malatesta: Demonstrative Pronoun Logio (1-8); L. Senzasono: Limiti

dei platonismo di Galeno (9-90). Recensioni.

Philosophica - Lisboa 8 (1996):L. R. dos Santos: Editorial [Descartes e o Círculo Cartesiano] (3-4); J. C.

Gonçalves: Leitura Medieval e Moderna de Descartes (5-15); L. R. dos Santos:

As Metamorfoses da Luz, ou a Retórica da Evidência na Filosofia Cartesiana

(17-36); J. de A. P. Arêdes: Foucault: Da Morte do Sujeito ao Sujeito da Morte

(37-49); A. Cardoso: Mathesis Leibniziana (51-77); J. M. Aragüés: Spinoza y el

Poder Constituyente (79-94); M. de F. Blanc: A Leitura hegeliana de Espinosa e

Leibniz (95-110); A. P. Mesquita: O que é a Filosofia? Sentido Filosófico e

Revista Filosófica de Coimbra - 11.° 11 (1997) pp. 209-215

214 Revista Filosófica de Coimbra

Virtualidades pedagógicas de uma definição de Filosofia (1 1 1-141 ); Documento

[Leibniz, Resumo de Metafísica ]; Recensões ; Memória e Prospectiva.

Revista Portuguesa de Pedagogia - Coimbra XXX (1996):

N° 1: M. Fernandes et al.: Crenças de controlo sobre a realização escolar.

análise da evolução e diferenciação do construto de "controlo" (3-16); L. Faria:

Desenvolvimento intra-individual das concepções pessoais de inteligência duram:

a adolescência (17-33); M. O. A. Pereira: As atitudes dos adultos face ao estudo

no contexto do ensino superior à distância: Análise de algumas variáveis pe.vsoai.v

(35-49); S. N. Jesus et al.: Unia abordagem sóciopolítica do mal-estar docente(51-64); A. P. Relvas: Textos e cotue.vto.v educativos /icnciliure.c (65-78);

B. Lefèbvre et al.: Os pais na organização escolar local (79-90); V. R. Alferes.

A pedagogização do sexo (91-96); Varia; Recensões e Críticas.

Revue Philosophique - Paris 120 (1996):N° 3: M. Kail: Jean-Paul Sartre (337); M. Kail: La conscience ti'est pos

sujet: pour un matérialisme authentique (339-354); H. Rizk: ire social et logique

de l'impuissance (355-368); R. Harvey: Panbiographisnie chez Sartre (369-382);

G. Idt: L'engagement dans le ' Journal de guerre I" de Jean-Paul Sartre (383-

-403); Analyses et comptes rendus.N° 4: J. Darriulat: Descartes et Ia inélancolie (465 - 486); G. Boss: L'infinité

des attributs chez Spinoza (487-502); J.-M. Lardic: Alalebranche ei l'arguncent

ontologique (503-519); J.-M. Gabaude: L'oeuvre musicale d'Evanghelos Moutso-polos (521-525); Analyses et Comptes Rendus.

Síntese - Belo Horizonte 23 (1996):N° 74: M. F. de Aquino: Para uma ontologia da linguagem (301-312);

R. Landim F°: Descartes: "Idealista Empírico e Realista Transcendental".'

(313-343); H. C. de L. Vaz: Theilhard de Chardin e a questão de Deus (345-370);C. A. Ramos: Hegel e Schmitt: Unta relação ambígua em torno da afirmação dopolítico (371-386); N. Saldanha: Criatividade e metáfora em ciências sociais(387-398); H. C. de L. Vaz: A nova imagem de Platão (399-404); M. H. Barreto:Observações a respeito de "O culto de Jung" de Richard Noll (405-415).

Telos - Santiago de Compostela Vol. 4 (1995):N° 1: A. G. Müller: Bentham y Ia pobreza (9-37); M. D. Farreli: La satis-

facción de das preferencias y los limites del utilitarismo (41-50); D. S. Megales:Autonomía y bienestar en Ia tonta de decisiones públicas (51-82): P. F. Gómez:Breve genealogia de Ia moral por acuerdo (83-113); J. Barragán: La realizabilidad

de los sistemas éticos (115-143); J. Trabal: Ensayos suprimidos v niveles dediscurso en Ia obra de D. Hume (147-199).

N° 2: H. Aznar: Las supuestas tesis utilitaristas de Ia ética de J. Locke(9-46); A. Marturano : La idea de Bentham de Ia lógica deóntica (49-82);G. Williams: La felicidad en J.S. Mill: ¿utilidad o eudainionía? (83-94); J. L.Tasset : Sobre Ia simpatía en sentido moral (elementos para una ética de Ia razónpasional) (97-128); S. Frey & I. Bohnet: ¿Regias, discurso o comunidad?

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Ficheiro de revistas 215

Variaciones experimentales sobre liberalismo, teoria dei discurso y comunitarismo(129-143); J. R. Larreta: El utilitarismo de satisfacción de preferencias y el"principio de Sidgwick" (145-151).

Vol. 5 (1996):N° 1: J. Montoya: Bentham y los derechos humanos (9-24); E. Guisán: Las

personas en serio (Los derechos humanos y el Bienestar) (27-46); D. S. Megales:La polémica Harsanyi-Sen sobre utilitarismo e igualdad (49-77); A. K. Sen,Desigualdades de bienestar y axiomática rawlsiana (79-102); J. C. Harsanyi:Funciones de bienestar social no lineales: una réplica ai Prof. Sen (103-106);A. Sen: Funciones de bienestar social no lineales: una réplica ai Profesor Har-sanyi (107-112); Entrevista: Julia Barragán dialoga con John Harsanyi (115-121).

N° 2: J. S. Brito: 0 direito como conceito limitado da justiça (9-20);J. Griffin: Ley moral,lei positiva (21-46); M. Catalán: La paradoja dei taxi-dermista. Una ilustración negativa dei juicio práctico deweyano (47-63);M. Carreras: Elección pública y democracia representativa (65-85); P. Schwartz:¿Importan los hechos para los juicios morales? (87-113); H. Spector: Relatividadagencial: respuesta a Farrell (115-123).

Teoria - Pisa XVI (1996):N° 1: W. Müller-Lauter: Heidegger e Nietzsche (5-30); G. Campioni; "L'uomo

superiore" dopo Ia morte di Dio. Appunti di lettura (31-53); Franco Volpi:Nietzsche e il nichilismo contemporaneo (55-66); Adriano Fabris: Heidegger,Nietzsche e il problema dei senso (67-85); Felix Duque: Lo sminuzzamento dellospazio storico (87-92); Carlo Marletti: Note su conoscenza e grammatica (93-99);Leonardo Amoroso: Vichiana (101-118).

N° 2: F. Camera: Ricordo di Alberto Moscato (1926-1996) (3-5); V. Sainati:Teologia e verità. R problema delia traduzione teologica (7-20); A. Peruzzi: Debitidello strutturalismo (21-63); S. Iovino: L'ethos dell'intersoggettività nei romanzidi Friedrich Jacobi (65-106); N. Sciaccaluga: L'antecipazione nella scienza

baconiana (107-130).

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RECENSÕES

G. HOTTOIS, Entre Symboles et Technosciences . Un 1tinéraire Philo-sophique , Bruxelles, Champ-Vallon, 1996, 267 páginas.

O grande mote desta obra de G. HOTTOIS é sem dúvida o seguinte: é necessário quea filosofia acompanhe o desenvolvimento tecnocientífico contemporâneo . Tal acompanha-mento não tem sido feito e o resultado é uma separação quase total de campos , que conduza uma limitação do filosofar à problemática da linguagem.

O autor critica, pois, na linha de uma outra obra sua, anteriormente publicada, aquiloa que chama a inflação da linguagem na filosofia contemporânea do Ocidente. Fá-lo, nãoporque não reconheça a importância da problemática filosófica da linguagem mas pelosignificado do que chama a obsessão contemporânea pela temática da linguagem (9). Estarepresenta , em sua opinião , a marginalidade da própria filosofia , unia secundaridadeassumida , face ao desenvolvimento da tecnociência e ao seu incontestável monopólio doreferente ontológico de toda a linguagem . " A inflação da linguagem e a obsessãolinguística da filosofia contemporânea no séc. xx surgem como uma espécie de últimobrilho do logos: como o fim do homem-linguagem-imagem, do ser vivo que fala à imagemdo Deus-verbo,do ser-no-mundo como ser livre" (9).

As filosofias contemporâneas , excluídas das suas tradicionais prerrogativas ontológicasreconverteram - se, de facto, ou à análise crítica da linguagem (modelo analítico anglo-saxó-nico ) ou a uma reflexão linguístico-hermenêutica das condições de acesso ao ser. Mesmoem Unterwegs zur Sprache de Heidegger ou em Wahrheit und Methode de Gadamer, porexemplo, e segundo uma forma diferente na " écriture" de Derrida , a linguagem tomou olugar do ser: o ser é linguagem . Por outras palavras: a ideia ontológica e extralinguística( clássica ) da coisa dissolveu - se tanto quanto a filosofia da linguagem " (31-32).

É claro que toda a filosofia de natureza fenomenológica, dialéctica e hermenêuticaprocura sempre salvaguardar a sua abertura a uma realidade mais originária do que o realda ciência. Mas segundo o autor o equívoco persiste. A filosofia contemporânea joga nasecundaridade e pode parecer idealista porque postula ingenuamente o carácter realista enão problemático do discurso científico. Ignora todas as modificações que o postuladoclássico do realismo físico tem sofrido com o desenvolvimento das tecnociências. E, hoje,não devemos esquecer que estamos na era das intervenções técnicas capazes de transfor-marem o referente , a natureza e a natureza do homem ,de uma maneira que escapa a todaa previsão e esquece completamente todo o apelo de natureza simbólica. Daí que esta obrainsista na necessidade do acompanhamento filosófico da tecnociência apresentando,nomeadamente , duas ordens de razões . Em primeiro lugar, a filosofia corre o risco de sefechar num novo idealismo, se ignorar os novos possíveis tecnológicos. Neste contexto,o autor pergunta mesmo - com que direito, excluindo o direito puramente tautológico do

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símbolo , se afirma o primado do Verbo sobre o fazer? Isto é, deverá o fazer continuar aser entendido como pura aplicação da teoria? Ou não será justamente chegada a altura deentender que o fazer próprio da tecnociência, operatório por excelência, isto é, não simbó-lico, precisa de se articular com a dimensão simbólica do pensar, crucial para o futuro doexistir e para a manutenção da sua liberdade? Se a tecnociência torna hoje nula a oposiçãoclássica entre a episteme , como ciência teorética pura, e o saber prático e técnico, cabede facto à filosofia repensar, a partir das novas condições, a importante temática dasimbolização.

Em segundo lugar, porque seria muito perigoso o divórcio total entre filosofia etecnociência , uma vez que do ponto de vista puramente técnico toda a simbolização pareceinútil e mesmo irrelevante (166-167).

Para a técnica apenas conta a operacionalidade e a eficácia. O agir técnico é instintivo,imediatista e automático . Funciona de unia maneira quasi-causal. Não abre qualquer espaçopara a reflexividade , para a distância e para a crítica. Conduz à funcionalização e aautomatismos . "Tal como o instante ou o reflexo, o agir técnico - e aqui tudo é acção,mesmo a própria linguagem - não tem distância; faz com que o sujeito adira ao objectode uma maneira mecânica ou causal . A técnica está grudada ao mundo (ela é causal efísica ) e o homem da técnica está grudado à técnica (ele funciona e age de modoquasi -causal )" (167).

O problema fundamental da tecnociência é, de facto, a ausência de mediação eman-cipadora . A simbolização não existe no meio tecnocientífico e isto significa que nestemundo o homem já não deve mais mediar simbolicamente os seus actos e percepções umavez que aqui se prescreve univocamente o que cada um deve perceber e fazer (168).A emancipação do sujeito funciona agora apenas no que diz respeito a tudo o que é causaobjectiva ou objectivável . Quer isto dizer que a mediação tecnocientífica não é emancipa-dora no que respeita à ordem do sujeito , porque, retirando-lhe a mediação simbólica,sensível e afectiva, objectiva e instrumentaliza todo o ser humano: "Direi, em resumo, quea ciência e a técnica oferecem uma mediação relativamente a tudo o que é objectivo ecausal e que esta mediação é uma libertação da servidão e da sujeição pelo domínio e pelocontrolo que oferece ao sujeito : um inivíduo totalmente dedicado à sua sobrevivência outomado pela doença e pela dor não tem qual quer possibilidade de cultivar a sua autonomiamoral nem tem uma relação livre consigo mesmo e com o outro. As ciências e as técnicasoferecem pois possibilidades e condições necessárias mas não suficientes para a autonomiapessoal , que apenas pode desenvolver-se graças à mediação simbólica" (169). Por outraspalavras, ao nível da ciência e da técnica, o homem apenas é reconhecido como objectoou instrumento biofísico, fonte e lugar de manipulações biofísicas e nunca como sujeitoreal, isto é, como um ser afectivo que deseja, julga e projecta, um ser que antecipa o sen-tido , procurando ser livre e responsável (102). O sucesso da operacionalidade e da eficáciatecnocientíficas não se funda , de modo nenhum, em valores antropológicos (92). Pelocontrário , a sua verdadeira condição é o esquecimento ou mesmo a clara anulação do valorexpressivo do símbolo , que é sempre aberto, multívoco e suscitado pela sensibilidade ético--afectiva do estar-no-mundo . Para a tecnociência , a forma humana de vida acaba por nãoter qualquer privilégio nem ontológico nem axiológico (208).

A Tecnociência torna impossível todo aquele tipo de simbolização que, nas sociedadestradicionais , caracterizou o modo superior que o homem, enquanto ser natural -simbólico,tinha de apreender o meio e nele afirmar uma forma de superioridade, diferente dameramente material . Daí o próprio sentido da cultura , hoje, na época em que se vive asecundaridade filosófica e o império mediático e socioeconómico da tecnociência: um meroconjunto de conhecimentos e competências que permitem ao jovem compreender comofunciona a sociedade técnica, isto é, como ela se produz e reproduz. Este conjunto de

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informações e competências práticas, que visam fundamentalmente uma inserção funcionaldo indivíduo na sociedade, rouba todo o espaço ao simbólico, isto é, à verdadeira condiçãoda liberdade humana. A questão impõe-se pois de um modo decisivo: poderá a filosofiacontinuar a refugiar-se na secundaridade , quando hoje tomamos finalmente consciência quea mudança imposta ao mundo da vida , desde a segunda metade do século, é grande egeradora de uma crise simultaneamente moral , temporal e simbólica? (cf. 88-89 ). Poderáa filosofia , simbólica por natureza, responder ainda aos problemas do mundo contem-porâneo sem cair numa pura mimesis da técnica, nomeadamente nos seus aspectos de artifi-cialidade, ludismo , mobilidade , não representatividade e pura auto -referencial idade? Poroutras palavras : não deverá ela reconhecer e nomeadamente prevenir a sociedade em quevivemos, do verdadeiro perigo da tecnociência : não o do seu progresso e poder operativo,mas do que está implicado na própria mudança ou inversão a que hoje se assiste, com osilêncio da própria filosofia, entre cultura e técnica? A questão fundamental que hoje nãopode mais ser escamoteada é, de facto, esta: com a sociedade técnica não mudamos decultura ou simplesmente de forma de simbolização . Mudamos de vida (163)!

Quer isto dizer que a "localização preponderante da energia humana sobre a técnicae já não sobre o simbólico ( o espírito ) é uma mutação que não coincide com uma mudançade cultura ou de símbolo, mas com uma deslocação - uma desvalorização - radical docultural, do simbólico enquanto tal . Não é pois de espantar que as filosofias , os intelectuaise muitos homens da cultura se alarmem e sintam o acontecimento como uma liquidaçãoda humanidade enquanto tal" (163-164).

O desenvolvimento tecnocientífico segue o imperativo técnico, segundo o qual énecessário fazer tudo o que é possível. E isto significa exactamente que não devem colo-car-se limites a priori e definitivos , isto é, de origem simbólica e intitulados ontológicosou éticos . Por outras palavras, a tecnocracia procura substituir o poder simbólico pormodelos de regulação psico-social , cientificamente fundados e tecnicamente funcionais.A cultura tecnocientífica não permite qualquer articulação simbólica das questões funda-mentais da existência humana relativamente à morte, ao sofrimento , ao sentido da vida,

ao que está bem e mal, ao amor e ao mistério da consciência . Sob o seu desenvolvimento,não somente o ser e o devir foram des - simbolizados , tornados sem fim e significado comoa capacidade de intervenção nos processos cósmicos se torna cada vez maior, compreen-dendo ainda processos de produção biofísica da própria humanidade . Estes vão desde agenética até às tecnociências do cérebro . Torna-se pois tremendamente difícil continuar areservar um tratamento puramente simbólico à questão do homem e consequentemente aofuturo da humanidade.

Mas, lembra - nos Hottois , a negação e marginalização do símbolo é, em si mesma,nefasta e muito perigosa ( 106). Com efeito, o próprio tornar-se adulto do homem é umprocesso simbólico, expressivo e formador da afectividade do existir. Sem o símbolo, nãoexiste para o homem nem a liberdade , nem a ética nem a possibilidade de escolha. Só o

símbolo autêntico , aberto e plurívoco possibilita a distância da representação e a possibi-

lidade da reflexão e da deliberação . Só ele permite que o homem tenha relativamente a si

mesmo e ao mundo uma relação livre, isto é, não limitada a estímulos . A tecnociência

esquece o modo como o homem está na evolução : esquece que este ser vivo a que chama-

mos homem surge dotado de uma diferença específica, a que os filósofos sempre deram

o nome de logos, símbolo. É um ser que fala e é capaz de deliberar. É o único animal que

se reporta ao real simbolizando-o, quer dizer, distanciando-se dele. Tem mundo e não

apenas ambiente , isto é, não está mecanicamente determinado pelo conjunto dos seus

instintos . Pode, assim representar o que poderia acontecer nas diversas hipóteses da acção

(os cenários do futuro ), o que lhe permite escolher aquilo que julga preferível e agir tendo

em vista a realização do que foi escolhido. Claro que pelo facto de ter esta possibilidade

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o sucesso não está assegurado e o resultado pode revelar-se muito diferente daquilo quea imaginação tinha antecipado . Mas isto não impede que ele realize assim o seu destino,isto é, "não o sofra pura e simplesmente".

Não podemos , de facto, esquecer que a tecnociência é, hoje, um factor importante eespecífico da humanidade . Mas ela não pode ser o único. Por sua vez, a defesa dasimbolização , num mundo tecnicamente administrado, como o mundo contemporâneo, nãopode evidentemente limitar-se a uma contestação pura e simples da técnica a favor de umaimagem natural - simbólica já plenamente determinada do homem - até porque atecnociência contesta- a -nem a uma defesa da ideia tradicional de que a sociedadeocidental se divide por duas culturas distintas (95). Deve, pelo contrário, fazer justiça aoque no homem ( 107) resiste a toda a objectivação e mecanização, quer dizer, a essa parteexpressiva do sujeito da sua interioridade a que alguns chamarão moral ou espiritual. Sóa defesa do símbolo permite a liberdade humana e não podemos esquecer que o fenómenoda humanização exige toda uma evolução ético-afectiva propícia ao desenvolvimento daliberdade ou autonomia . Quer isto dizer que a humanização não parece poder ultrapassaras vias , hoje , ameaçadas do símbolo, da comunicação e do diálogo (94). Logo, a tesepuramente autonomista da tecnociência acabaria por conduzir ao fatalismo e ao abandonode valores cruciais do ponto de vista ético-político, isto é, da liberdade, da razão, daafectividade e da responsabilidade . Ela esqueceria o próprio modo como o homem surgeno seio da evolução: como um animal simbólico, um ser vivo que fala, que pergunta edelibera.

Ora, só o verdadeiro símbolo, autêntico, aberto e plurívoco permite a distância, própriada representação , logo a possibilidade da reflexão e da decisão. Só ele permite uma relaçãolivre não constrangedora com o real. O homem pode escolher, porque é capaz derepresentar simbolicamente os mundos possíveis, quer dizer as linhas de acção queconduzem a situações diferentes, tendo simultaneamente em conta os constrangimentosfísico -causais e as relações simbólicas de sentido e de valor (156).

Como pensar então, hoje, a possível interacção entre o ambiente tecnofísico em quevivemos e a dimensão simbólica inalienável do existir? Será ainda possível fazê-lo quandoparece que se perdeu totalmente a dimensão afectiva de que os símbolos são portadores?Quando a força que interliga e desliga simbolicamente as pessoas, isto é o desejo e a von-tade parecem ter-se eclipsado na indiferença, na inércia, no automatismo e na passividade?

Mas não é também verdade que a filosofia tem jogado algum papel neste novo espaçosimbólico de acompanhamento da tecnociência, que é a Bioética? (18-19) E não é verdadetambém que o perigo tecnocrático é integralmente antropológico, e não tecnológico, e quesurge quando o saber e a prática tecnocrática exercem a sua função emancipadora universalrelativamente a todos os poderes simbólicos particulares instituídos ou em cristali-zação (189)?

E não assistimos hoje à progressiva desvalorização do simbólico no seio das formashumanas de vida ? Como avaliar então a tecnociência, nomeadamente quando ela toma ohomem como puro objecto operatório? Haverá limites simbólicos e éticos a impôr nestedomínio ou poderemos aceitar pacificamente que a tecnociência visa emancipar o homemrelativamente a si mesmo , isto é , à sua matéria e à sua forma natural? Mas a que preço ede que modo poderia a tecnociência libertar o homem da sua condição humana? (185)

Para Hottois o futuro vai jogar-se no equilíbrio do possível tecnocientífico e dosimbolizável . E o que há que ter claramente em conta é o seguinte: `é sempre à margemda physis e a partir dela que simbolizamos e não simplesmente à margem e a partir detextos, livros e discursos como pretenderia uma parte considerável da filosofia retórica ehermenêutica contemporânea . Ora, no futuro é nas tecnociências que a physis se revelarámas também será descoberta e inventada . É pois a partir dela que se deve re-simbolizar.

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E que, se, de facto o homem se caracteriza pela sua capacidade simbólica e pela assumpçãosimbólica da sua condição, ele distingue -se também pelo que várias vezes se chamou pul-são de transcendência ou pulsão metafísica ( 212), que hoje se transferiu do simbólico parao tecnocrático . Da morte simbolizada à morte operada , que temos hoje, é toda umamudança do sentido da própria humanidade que se anuncia. Mas o verdadeiro perigo, quese adivinha , surge pelo facto de continuarmos a ter uma má compreensão da ciência e datécnica contemporâneas , tal como da relação que a humanidade deveria manter comelas (251).

É preciso aprender a conceber as ciências e técnicas como tecnociências e deixar depensar o homem como superior ou exterior aos processos de evolução cósmica com osquais interagem as tecnociências . A humanidade é hoje chamada a gerir a complexainteracção da produção tecnocientífica e da sua própria instituição simbólica. É a articula-ção entre o poder tecnológico e científico contemporâneos e o polimorfismo simbólico dahumanidade que hoje deve ser feita. O grande desafio da filosofia dos dias de hoje serácertamente este : integrar a dimensão operatória da técnica, sem destruir a ética. Hoje oproblema da escolha, do saber e dever escolher é fundamental, porque não nos é possívelactualizar todo o possível sem graves consequências e não nos podemos esquecer que assolidariedades particulares que religam a humanidade , fundando as suas escolhas, apresen-tam hoje um espectáculo perigoso de conflito de identidades simbólicas , étnicas, morais,religiosas e locais.

A própria história da humanidade apresenta constantemente o conflito sempre existentee violento entre estes diferentes tipos de solidariedades . Foi, aliás, o nascimento da ciênciamoderna, o advento do humanismo progressista da filosofia das Luzes , fundado na adesãoao desenvolvimento das ciências e das técnicas que pacificou este tipo de conflitos, aofuncionar como "operador real e ideológico de universalização" (262).

Mas o problema é hoje o seguinte : a mediação simbólica é um valor, uma necessidadee uma exigência fundamental . Como refazê - la sem cair no problema das solidariedadessimbólicas particulares e suas diferentes relações com o poder tecnocientífico? Quanto aeste assunto, diz-nos Hottois: "Só nos parece aceitável o desenvolvimento de uma simboli-zação do poder bom . Este tipo de simbolização associaria o máximo de poder ao máximode amor, tendo do poder uma concepção mais próxima da noção de criatividade do quedas noções de domínio ou posse ; uma visão poética , que não esvaziasse , no entanto, opoder do seu poder operatório . Quer isto dizer que é necessário acabar com a oposiçãopoder- amor , aprender a articulá-las na abertura da generosidade , aprender a pensar o podercomo doador e não apenas como dominador." (265).

M. L. Portocarrero F. Silva

M' Carmen Paredes Martín (Ed.), Política y Religión en Hegel, Salamanca,

Unidad de Filosofia Teórica - Universidad de Salamanca, 1995,

158 páginas.

A publicação editada por Me Carmen P. Martín é o produto de um Simpósio orga-

nizado na Universidade de Salamanca em Maio de 1994, no quadro de um projecto de

investigação subsidiado pelo Governo Espanhol, por intermédio do respectivo Ministério

da Educação e Ciência.Do projecto de investigação foi responsável Mariano Álvarez Gómez e nele se

integraram oito colaborações individuais de investigadores especializados, oriundos de

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diferentes Universidades espanholas.O objecto temático do projecto de investigação é constituído pela associação de Polí-

tica e Religião e o terreno histórico-filosófico a que se aplica é o da Filosofia hegelianacomo um todo , quer dizer , sem delimitação prévia de períodos na História da evoluçãodo pensamento de Hegel.

Na Presentación , M. Álvarez Gómez justifica a natureza da associação de Política eReligião, dizendo não se tratar nem de uma indiferenciação dos dois domínios; nem daabsorção de um domínio pelo outro; nem de uni afrontamento; nem de uma redução dareligião ao foro privado . A unidade temática justifica-se no interior de uni "regresso aHegel " ( vuelta a Hegel) de duas formas: em primeiro lugar pelo facto de em torno de Hegelse terem agrupado aspectos essenciais do pensamento moderno sobre aqueles dois temas.por outro lado , pelo facto de na unidade dos dois temais se tornar possível um melhorconhecimento da obra do filósofo.

1. A primeira contribuição da autoria de M. Álvarez Gómez traz o título la Poder dcIa Subjectividad en Religión e parte da construção lógica da individualidade naEnciclopédia das Ciências Filosóficas, no quadro da tríade lógica do Universal-Particular--Singular, para progressivamente ir mostrando como o singular da Lógica se deveinterpretar como subjectividade e personalidade. A singularidade-subjectividade surge nasua diferença face à individualidade-objectividade das ciências. O seu lugar próprio é ode uma doutrina do Espírito, a qual possui na Religião um dos seus mais importantespontos de desenvolvimento e se inclui na terceira divisão, alínea B. Die geotfenbarteReligion da Terceira Parte Philosophie des Geistes da Enciclopédia. É nos desenvol-vimentos da Filosofia do Espírito e, especialmente, no Espírito Absoluto. que se tornapossível compreender de que modo é a personalidade livre ou a subjectividade que dá umconteúdo à categoria lógica da singularidade da Ciência da Lógica.

Para alcançar estes objectivos, este primeiro artigo começa por referir uma alteração

de palavras , aparentemente ligeira e inócua, ocorrida entre a edição de 1827 e a edição

de 1830 da Enciclopédia . Trata-se na Enciclopédia de 1827 da passagem do § 563

(pág. 399, 5-17 das Gesammelte Werke, vol. 19) e na Enciclopédia de 1830 do § 552

(pág. 538 , 1-15, G. W., vol. 20). M. Álvarez Gómez chama a nossa atenção para o facto

de as expressões de 1827 "indivíduo" e "existência individual" darem lugar em 1830 a

"sujeito" e "existência subjectiva" (p.ll-12). Como o autor demonstra ao longo do seu

contributo , a alteração de expressões é mais do que uma simples questão de predilecção

terminológica . Ela visa acentuar a condição de possibilidade da Religião nas convicções

individuais , quer dizer, no plano daquilo que no ponto de vista lógico da tríade Universal-

- Particular- Singular pertence a este último nível.

Ora, o que Hegel dá a conhecer por intermédio da aplicação da sua doutrina do

desenvolvimento do Conceito aos dois membros da Filosofia Real - Natureza e Espí-

rito -é uma diferença de estatuto entre ambos, no que diz respeito às relações entre

substância e existência , entre essência e individualidade, entre individualidade física esubjectividade humana , enfim , para usar os termos consagrados pela mais antiga tradição

filosófica, entre género , espécie e indivíduo. M. Álvarez Gómez exprime esta diferença

na fórmula geral : no âmbito da Natureza a substância não coincide com a existência

individual (p. 14).

Partindo desta última constatação , o autor procura situar a natureza teleológica datransformação da Natureza em Espírito em Hegel e, aí, o novo significado que adquire asingularidade na perspectiva do Espírito, como um movimento teórico-prático de umaRazão processual . O reconhecimento pleno da identidade entre substância e existênciaindividual (entre o universal do género e a singularidade ) só tem lugar na subjectividade

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humana e deve-se, por um lado , à ultrapassagem da oposição entre subjectividade e objecti-vidade e, por outro, à afirmação da subjectividade como liberdade efectiva , tanto na teoriacomo na prática.

Este processo possui no Cristianismo a sua mais importante concreção histórica, poisfoi por meio dele que Deus se concebeu como Espírito singularizado . É, pois, na Religiãoe, particularmente , na modalidade da Religião revelada que é o Cristianismo , que se tornouconsciente o desenvolvimento do Conceito . Poderia dizer- se, a propósito , que aquilo queconstitui o Conceito no seu movimento lógico-ontológico , se mostra na Religião namodalidade da Revelação cristã.

2. O artigo de Gabriel Amengual Coll trata o tema da relação entre Cristianismo eIndividualismo ou, como corrige o próprio autor, o tema Cristianismo, Modernidade eIndividualismo . O centro da sua temática é, portanto, a modernidade . Como muitos outrostemas de investigação do presente volume, também este se não pode considerar como umtema novo na pesquisa hegeliana , sobretudo depois dos trabalhos já clássicos de J. Ritter,M. Riedel e K .- H. Ilting no terreno da Filosofia Política de Hegel . A estratégia do autorconsistiu em traçar as linhas de demarcação entre dois jovens hegelianos - L. Feuerbache K. Marx - e o próprio Hegel , a propósito da interpretação do valor do Cristianismo paraa Modernidade em contraposição com o "comunitarismo " da Antiguidade . A modernidadenão se entende somente como uma categoria de diferenciação epocal na História dopensamento , mas abrange as dimensões social , económica , política e religiosa da formahistórica do Espírito que nasce com a Revelação cristã. A contraposição fundamental será,por isso, entre mundo grego antigo e mundo judaico-cristão.

G. Amengual Coll começa a sua exposição por uma referência à importante carta deL. Feuerbach a Hegel datada de 22 de Novembro de 1828 (cf. Briefe von und an Hegel,

Bd. III, Hamburg , 19693, 244-248 ). Embora o autor refira a estreita relação entre a carta

e o escrito de 1830 Gedanken über Tod und Unsterblichkeit , a situação destas duas peças

no quadro das polémicas da escola hegeliana da década de 30 fica por iluminar. Do mesmo

modo, o conteúdo muito rico dessa carta só parcialmente se esclarece . O objectivo do autorfoi, apenas , o de salientar três coisas : 1. como L. Feuerbach em 1828 - 30 partia da ideia

da possibilidade de um prolongamento da Filosofia de Hegel ( p. 34); 2. a interpretação

do Cristianismo por L. Feuerbach como uma religião da subjectividade ; 3. como a

perspectiva de Hegel sobre o Cristianismo não coincide totalmente com a de L. Feuerbach

e a dos jovens hegelianos.A divergência entre Hegel e os seus discípulos críticos acaba por se tornar mais funda,

em virtude da utilização dos mesmos termos para designar diferentes coisas. O autor atribui

esta diferença a um malentendido epocal entre Hegel y los Jóvenes Hegelianos (p. 36).

Para mostrar como se constituiu em Hegel e, parcialmente , nos hegelianos a imagem

do Cristianismo como religião da subjectividade , contraposta à imagem antiga da Pólis

como uma única comunidade vivente , o artigo começa por abordar o tema da personalidade

livre nos Fundamentos da Filosofia do Direito. A intenção é mostrar como nesta obra o

princípio individualista está sempre mediado pelo seu contrário comunitarista. Assim, se

nos é possível reconstruir a parte sobre o Direito Abstracto na linha do jusnaturalismo dos

séculos XVII-XVIII, o mesmo já não acontece com a parte sobre a Eticidade e aí com a

divisão sobre o Estado (§§ 257-340), alegadamente inspirada em princípios comunitaristas.

Entre um plano e outro medeia toda a segunda parte da obra intitulada A Moralidade (§§

105-141) e, no interior da terceira parte sobre a Eticidade, o capítulo sobre a Sociedade

Civil (§§ 182-256). Nos desenvolvimentos relativos à Sociedade Civil, particularmente

naqueles que se referem à doutrina da corporação , Hegel colocava a tónica na mediação

entre os particularismos da ordem social e a universalidade da ordem política do Estado.

As Grundlinien teriam então como fio condutor a tradução progressiva do individualismo

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e subjectivismo - cujo modelo histórico foi dado de uma vez por todas com a descobertada liberdade individual infinita da Revelação Cristã e confirmado com a Reforma protes-tante - na universalidade, no género ou na comunidade, que constitui a realidade domundo ético e do Estado - cujo modelo foi, outrora, o da Pólis grega.

Embora com o mesmo sentido parcial de uma crítica da perda dos valores comunitáriosna sociedade moderna, regida pelo egoísmo do homem económico, a crítica de K. Marxa Hegel de 1843-44 é analisada, na contribuição de G. Amengual Coll, como idêntica àcrítica da religião . Entre a crítica da religião própria da Questão Judaica e a Crítica daFilosofia do Direito de Hegel o problema é sempre o da crítica da abstracção, damistificação das relações reais dos homens por relações fantásticas, concebidas como asmais autênticas e reais (p. 45). Aliás, a teoria marxista do reflexo I Widerschein) nasce cmcontinuidade com a teoria das relações invertidas, a qual se desenvolve desde estes escritosde 1843-44 até à Ideologia Alentã. Ora, o que a ideia de relação invertida pretende diagnos-ticar é um desacerto entre uma representação e tuna existência. Para K. Marx uni taldesacerto ocorria tanto na Religião, na modalidade do Cristianismo, como na Política, naforma da mistificação hegeliana do Estado.

3. A Cayetano Aranda Torres coube o tratamento da questão ;Es religiosa Iareconciliación hegeliana?

Segundo as palavras do autor, o objectivo do seu contributo havia consistido emaveriguar se a Reconciliação pertencia a um discurso da fé, a uma modalidade religiosada autoconsciência do Espírito ou se, ao contrário, a Reconciliação era uma categoria que,envolvendo a unidade perfeita entre Conceito e Real, apenas se dava no discurso filosófico.Partindo da descrição hegeliana do mundo moderno como mundo cindido, o artigo tentacaptar o sentido da exigência de uma conciliação entre subjectividade e natureza, entresubjectividade e mundo ético.

Como a Reconciliação religiosa é ainda insuficiente na economia total da reconciliação

hegeliana , é no discurso filosófico que opera sobre a Morte de Deus, como uma "Ressur-

reição especulativa de Deus" (p. 64), que pode ter lugar a conciliação entre os diferentes

aspectos da realidade cindida; ético-político, religioso e especulativo. O autor enuncia a

sua tese sobre a Reconciliação: Ia reconciliación como noción que pertenece a Ia economia

del conocimiento absoluto enuncia especulativamente, y en positivo, Ia muerte de Aios,

Ia muerte filosófica de dios (p. 64). A reconciliação não é, portanto, inteiramente realizada

na forma religiosa . Só como saber especulativo ela se pode finalmente cumprir. Mas este

seu cumprimento não implica a abstracção da realidade prática do Estado e da eticidade.

Pelo contrário , para o autor, é na modalidade da lei racional da comunidade política quese pode construir uma existência social e política concordante com a razão e na qual a

razão se reconcilia com a realidade efectiva.

4. De Pedro Cerezo Galán inclui o presente volume um contributo sobre o pensamento

hegeliano de Frankfurt, com o título La Dialéctica dei Destino frente a Ia Ler.

Logo de início, o autor defronta-se com a diferença de perspectivas sobre esta épocada evolução de Hegel, referindo-se às divergências entre W. Dilthey e G. Lukács, nacontinuidade das quais foram surgindo as de G. Rohrmoser, de P. Asveld e de A. Peperzack,para apenas citar as posições que o próprio autor mais directamente comenta. Inicialmente,na literatura filosófica de comentário à obra hegeliana, o problema principal na caracte-rização do período de Frankfurt foi o de saber se aí eram predominantes os interessesreligiosos ou os interesses sociais e políticos. O autor traça, com brevidade, uma históriadeste conhecido problema interpretativo , para caracterizar de seguida esta época na fórmulageral da crítica do kantismo e do início dos "esquemas dialécticos de pensamento ". Nassuas análises, o autor abstraiu dos problemas relativos à comunidade de interesses entreHegel e Hõlderlin.

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O desenvolvimento da caracterização dos temas hegelianos de Frankfurt segue por trêsdirecções interligadas . Por um lado, pela análise do conceito de legalidade e a crítica dapositividade. Por outro lado, pela análise dos conceitos de destino, de crime e de expiação.Por fim, mediante a ideia positiva de reconciliação pelo amor. O enquadramento geraldestas três vias analíticas é constituído pelo texto de Hegel O Espírito do Cristianismo eo seu Destino, editado por H. Nohl em 1907 e redigido entre 1798-99 e ainda prova-velmente em 1800.

5. Com o título La Religión de Ia Belleza y Ia Religión Revelada, Raúl Gabás Pallásrealiza uma abordagem dos conceitos hegelianos da Religião dos gregos e da Religiãojudaico-cristã, mediante uma perspectiva evolutiva do pensamento de Hegel.

É com base neste método que o autor retrocede até 1788, ano que K. Rosenkranzconsiderou como o do início do contacto de Hegel com a Grécia, através da leitura daAntígona de Sófocles. O fascínio pela Grécia estende-se aos anos seguintes. R. G. Pállasmostra como o culto da antiguidade obedecia na geração de Hegel ao impulso vindo deWinckelmann, que se estendeu a Goethe, Schiller, Herder e, mais próximo de Hegel, aoamigo Hõlderlin. O princípio poético-filosófico do "Todo é Uno" (en kai pan) de Hõlderlinrepresenta o lema sob o qual estarão unidos os três companheiros de Tübingen. Já emTübingen, portanto, Hegel procurava para o seu tempo uma concepção da Religião quefosse próxima da sua própria interpretação da Religião dos gregos , como Religião estética.O autor analisa a problemática da Religião Popular do período de Berna comoconsequência das concepções já presentes em Tübingen e refere em particular o fragmentodatado de 1793 Volksreligion und Christentum. Continuando o que a pesquisa já firmoucomo seguro acerca do período de Berna, esta contribuição mostra como Hegel combinaa sua interpretação de Kant com as suas leituras de Schiller, nomeadamente Kallias e asCartas sobre a Educação Estética do Género Humano. Sintetizando o espírito geral dacontinuidade entre o período de Berna e o de Tübingen, escreve o autor: (...) el influjoschilleriano repercutió durante el período final de Ia época de Berna en Ia preparaciónde una superación de Ia moral kantiana mediante Ia idea de Ia belleza . El modelo griegoopera desde el final de Ia epoca de Tubinga como prototipo de unidad armónica entresensibilidad e razón, así como entre indivíduo v comunidad ( p. 85).

Nas análises que ocupam a parte 3 . do seu contributo , tenta R . G. Pallás a integraçãodas reflexões hegelianas sobre a Religião da época de Frankfurt. Um traço fundamentalpresente nestas reflexões é a meditação platonizante de Hõlderlin sobre a vida humana,que se cumpre com a redacção de Hyperion. O Mais Antigo Sistema -Programa doIdealismo Alemão mereceu neste contexto uma breve referência . Mas é no texto sobre OEspírito do Cristianismo e o seu Destino que o autor vem a descobrir o essencial datentativa hegeliana para conciliar o espírito grego e o judaico-cristão em matéria religiosa.Tal como anteriormente para Berna, também a respeito do período de Frankfurt o autorretoma os resultados da pesquisa mais recente.

É com referência a um artigo de K. Düsing de 1986, que R. G. Pállas sustenta que

uma análise pormenorizada da recepção da Crítica da Faculdade de Julgar por Hegel está

ainda por fazer (p. 100-101). Essa análise seria importante no enquadramento do conceito

de Hegel da Religião da Beleza. Toda a parte 4 do artigo toma por objecto a concepção

da maturidade. Infelizmente o território a explorar - Filosofia Real de 1805-06,

Fenomenologia, Enciclopédia, Lições sobre Filosofia da História, Lições sobre Filosofia

da Religião e Estética - tornam impraticável qualquer síntese. No entanto, o aspecto que

o autor salienta é o do privilégio que, progressivamente , torna a Religião cristã o centro

da temática religiosa. Como é sabido, esse lugar privilegiado da Religião revelada foi

consagrado na Enciclopédia e, com essa consagração, Hegel estava efectivamente a

abandonar o carácter paradigmático do mundo grego e da respectiva Religião para o seu

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próprio ideal religioso . A viragem da visão nostálgica da Grécia para a visão da Religiãopopular como uma fase histórica do passado ocorre já em Jena e tem a sua expressãosistemática na Fenomenologia do Espírito, na forma da relação entre os momentos daReligião Natural , da Religião da Arte e da Religião Revelada.

6. Ángel Gabilondo Pujol assina um artigo interessante, embora de difícil síntese,sobre La Ciudad sin tiempo . Una levenda de Ia Fenomenologia del Espirito.

A noção de uma Cidade intemporal conota para o autor a Cidade do Conceito. Sobesta última designação entende-se a comunidade política consciente de si mesma, querdizer, a comunidade que se compreende no interior de uma História que, ultrapassando oacumular contingente de acontecimentos, é a llistória concebida (die be,srijlene Ges-chichte).

É, portanto, no terreno da comunidade que, segundo A. G. Pujol, se compreende o

sentido da relação entre Tempo e Conceito da F'rnnmenn/r ,qio. Para explicitar esta tesegeral , o artigo parte da noção de Cidade como uma comunidade de fala e afirma: FIproblema de Ia ciudad es, a su vez, Ia cuestión del Icnguajc (p. 108). Seguidamente, oensaio de apreensão da Cidade intemporal nos quadros fenomenológicos, leva o autor afalar em préfigurações e configurações, que retiram progressivamente do saber imediatotoda a consistência do Real como Espírito. A Cidade intemporal é então uma meta (Ziel).que se vai realizando do ponto de vista das figuras fenomenológicas até se tornarinteiramente transparente a si mesma. Justifica-se assim a afirmação: La ciudad es ....caberabsoluto (p. 110).

A oposição que Agostinho estabeleceu entre Cidade terrena e Cidade celeste érecuperada pelo autor , com o intuito de repensar entre Hegel e Agostinho a relação entreeternidade e tempo . Enfim, as restantes reflexões de A. G. Pujol sobre a lenda comoreleitura ou rememoração e a narração são, sem dúvida, estimulantes, mas dificilmentepodem ser tidas como "hegelianas".

7. Da organizadora deste volume colectivo, M° dei Carmen Paredes Martín, inclui-seum contributo com o título La Dialéctica de Ia Positiridad en el joven Hegel.

Esta contribuição é iniciada por uma discriminação do uso do termo positivo epositividade no jovem Hegel, nomeadamente no Fragmento de Tübingen de 1792-93 e nostextos de 1795-96 redigidos em Berna e que receberam na edição H. Nohl o título DiePositivitãt der christlichen Religion . A autora justamente assinala que estes textos podemter sido escritos na mesma altura da redacção de outro texto nuclear sobre A Vida de Jesus(p. 126). Estas importantes peças para a compreensão da génese das concepções sobrePolítica e Religião entre Berna e Frankfurt foram editadas no quadro da Edição Críticadas Obras Completas de Hegel por F. Nicolin e G. Schüler (G. W. F. Hegel, GesanunelteWerke, Frühe Schriften /, Hamburg, 1989). O aspecto nuclear da noção da positividadenos escritos mencionados é o da transformação do que se toma por "real", "factual", "dado"em norma de todo o dever prático. Do ponto de vista da fé religiosa, uma tal aceitaçãopassiva consiste numa subordinação sem discussão aos ditames de enunciados religiosos,compreendidos como dogmas indiscutíveis. O conceito de uma Religião Positiva dosFragmentos sobre Religião Popular e Cristianismo (1793-94) integra-se nesta crítica daReligião institucionalizada e fundada na autoridade exterior. O cerne da crítica é o queHegel designava por "verdades objectivas" e a forma do seu ensino (Der religiosedffentliche Unterricht ). Ora, como sustenta Ma dei Carmen Martín, o carácter "positivo"destas "verdades objectivas " transparece em toda a sua evidência, quando existe a pretensãode fazer delas também "verdades subjectivas", dar daquelas "objectividades" a aparênciade produtos do sujeito prático (p. 127). Na época de Berna, Hegel contrapunha à"positividade " na Igreja e no Estado a "moralidade" de inspiração kantiana.

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Na sua exposição , a autora integra as observações de Hegel sobre o Judaísmo e oCristianismo no horizonte da crítica geral à "positividade ". A situação ambígua que nessejuízo ocupa o Cristianismo entre positividade e moralidade é igualmente assinalada(p. 130), do mesmo modo que o cruzamento entre a concepção do Estado como máquina- que se lerá em 1796/97 no Mais Antigo Sistema-Programa do Idealismo Alemão - ea Igreja. A fórmula desta mistura é uma Staatskirche em um Kirchenstaat (p. 131)

As articulações subsequentes do artigo seguem as linhas fundamentais da História doDesenvolvimento deste conceito até Jena . Me del Carmen Martín considera que, depoisde Frankfurt, os ensaios de repensamento da positividade em Jena serão conduzidos sobuma perspectiva especulativa da superação da positividade, no quadro da relação metafísicaentre o finito e o infinito.

8. Ramón Valls Plana é o autor de um comentário à nota do § 552 da Enciclopédiadas Ciências Filosóficas de 1830 - La nota al § 552 de Ia Enciclopedia de Ias CienciasFilosóficas de Hegel (3` edición, 1830) sobre Religión y Estado.

Para começar farei um reparo formal . A utilização por R. Valls Plana de algumas siglas(ENC, FREL, FDD, LOG, FEN, Wann, Wk, Ferr., etc.) sem indicação do seu significado,obriga o leitor a um esforço de decifração totalmente dispensável . Logo na primeira página,para um leitor não especialista seria complicado compreender sob "FDD" e "Wann. " asGrundlinien der Philosophie des Rechts, (Filosofia del Derecho, FDD, presume-se) e aedição dos apontamentos das lições de Hegel sobre Direito Natural e Ciência do Estadode Heidelberg do ano de 1817/18, do aluno de Direito P. Wannenmann , " Wann ", respectiva-mente.

O comentário de Valls Plana da referida nota ao § 552 começa por assinalar asdiferenças entre a edição do mesmo § na Enciclopédia de 1827 e na Enciclopédia de 1830(p. 145). De seguida , faz a micro-história do §, mostrando como o seu conteúdo se nãoencontrava ainda na Enciclopédia de 1817 nem na Propedêutica de Nürnberg, tendoemergido no contexto das Lições orais sobre Direito Natural e Ciência do Estado (ouFilosofia do Direito) de Heidelberg a Berlim, exprimiu- se no texto impresso dasGrundlinien de 1820 e só depois vem a ter lugar no quadro da Enciclopédia de 27. Noúltimo ano da vida de Hegel (1831), o mesmo tema reaparece nas Lições sobre Filosofia

da Religião.O § 552 é, na edição de 1830, o último § da parte da Enciclopédia sobre o Espírito

Objectivo. Em relação à versão de 1827, a anotação de 1830 é consideravelmente mais

longa. O conteúdo do § em si mesmo , sem a anotação , destina-se a preparar as reflexões

anteriores sobre a eticidade e o Espírito dos povos na História Universal para a sua

elevação (Erhebung ) no Saber do Espírito Absoluto . Na nota ao §, Hegel introduz várias

considerações , das quais a mais importante se refere à natureza da relação entre Estado e

Religião.Na elucidação da génese destas últimas considerações, R. Valls Plana faz observações

históricas sobre o contexto político do problema da relação entre Igreja e Estado. Nesse

contexto revela num primeiro plano o debate constitucional da época - que aliás se

prolongará na Alemanha até 1848 - e a recepção por Hegel via V. Cousin das doutrinas

constitucionais do juste milieu de Benjamin Constant . A expressão desta problemática

encontra-se em Wannenmann §§ 71 e 158. Para a reprodução deste contexto político-

-constitucional e seus reflexos em Hegel, remete R. Valls Plana para P. Becchi, o discípulo

italiano de K.-H. Ilting, responsável pela defesa de muitas perpectivas do mestre sobre o

valor dos apontamentos de alunos de Hegel das exposições orais da Filosofia do Direito,

na História da obra de 1820.Ora, a exposição do problema do relacionamento entre Estado e Religião é em

Wannenmann ainda "disperso". É necessário esperar por 1820, com as Grundlinien, no

seu § 270, para encontrar um tratamento mais sistemático da questão.

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Para R. Valls Plana , que parece seguir, por momentos, a tese de K.-H. Ilting sobre a

Akkomodation ou Anpassung de Hegel à realidade do Estado prussiano sob Hardenhere-

-Altenstein ( p. 146), que H. C. Lucas rejeitou com base num minucioso exame da micro-

-história da edição das Grundlinien, os apontamentos de Wannenmann seriam preciosos

para medir y valorar Ia Ilamada Anpassun 2 (p. 146).

O objectivo do autor não foi contudo tratar o problema da Acomodaçõ,-. mas sim

mostrar como o conteúdo do § 552 está imerso num contexto político muito complexo.

que tem as suas raízes próximas na Restauração política europeia posterior ao Con^res a

de Viena de 1815 e na constituição do deutsche Bund. Neste Contexto poliiic,' ,geral

assentam acontecimentos tão centrais para a génese da Filosofia política de Ile_el em

Berlim como o movimento das /3ursclien.a hu/ten, o assassinato de Kotzehue, oos decretos

de Karlsbad , a evolução das relações de Hcgel cupi o Ntinisierio da Educaçã e doo Culto

sob responsabilidade de Altenstein (p. 150), etc... Os materiais históricos a que 1: Va111s

Plana recorre são conhecidos na pesquisa hegeliana desde us trabalhos pioneiros de V.

Rosenzweig , J. D'Hondt e , sem dúvida. K.-I1. llting. A posição de Heggel na sua época

histórica é claramente a de um pensador da época post-napoleónica. entre Resolução e

Restauração , entre constitucionalismo e Iegitimismo monárquico.

Em todo o processo histórico que decorre entre 1815 e a Resolução de 1848. a

situação política alemã é a de uma profunda indecisão..- exigcncia do Congresso de Viena

de um trono um altar tinha de ser tomada a sério pelo teórico que se propusesse pensar a

relação entre Estado e Religião.

A tese de R. ValIs Plana pretende demonstrar que a evolução das anotações da

Enciclopédia sobre este último tema, embora se deram a unia "ei idenre aconu Jacidn a

Ias nuevas circunstancias que en ella se respira', permitem contudo concluir que ' Hegel

sigue fiel a Ia monarquia constitucional s a su autosuficiencia racional- (p. 150).

Ednuaido Bniniõo

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