Revista Época

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fevereiro 2008 ÉPOCA N e G ócios 41 G E S T ã O P ú B L I C A 40 ÉPOCA N e G ócios fevereiro 2008 ALUNOS NA SAÍDA DO COLÉGIO São José, em Palmas, no Tocantins: a parceria pela educação vem gerando resultados concretos, de dar inveja a outros estados TOCANTINS NOTA 10 PARA COMO A PARCERIA ENTRE UMA ONG, O GOVERNO ESTADUAL E MUNICíPIOS COLOCOU O MAIS JOVEM ESTADO DO PAíS NO MAPA DO ENSINO DE QUALIDADE POR RENÉ DANIEL DECOL FOTO_CLAUDIO ROSSI/EDITORA GLOBO: EDIçãO DE IMAGEM_MARCELO BISCOLA

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Nota 20 para Tocantis

Transcript of Revista Época

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ALUNOS NA SAÍDA DO COLÉGIO

São José, em Palmas, no Tocantins:

a p a r c e r i a p e l a e d u c a ç ã o

vem gerando resultados concretos,

de dar inveja a outros estados

TocanTinsnoTa 10 paracomo a parceria entre uma ong, o governo estadual e municípios

colocou o mais jovem estado do país no mapa do ensino de qualidade

por r ené Daniel Decol

Foto_Claudio Rossi/EditoRa Globo: edição de imagem_maRCElo bisCola

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T

V I V I A N E S E N N A

(centro) com a diretora

Margareth Goldemberg e

a coordenadora Inês Kisil:

o instituto trabalha como

consultoria de gestão

ocantins, o estado mais jovem do Brasil, costuma ser pródigo em más notícias. seu indicador de Desen-volvimento Humano

(iDH) é um dos mais baixos da federa-ção: se fosse um país independente, per-deria para Jordânia, irã, azerbaijão, Ja-maica, Vietnã e Turcomenistão. o norte do estado abriga bolsões de pobreza de arrepiar. na região do Bico do papagaio, entre Maranhão e pará, 12 pessoas, na maioria crianças, ficaram cegas há dois anos, após ter contato com as águas do rio araguaia. suspeita-se do parasita trematóide, transmitido por caramujos.

Mas há uma área na qual o estado vem se destacando, e muito: na edu-cação pública. parte da explicação é a política - ou melhor, a ausência da po-lítica onde nomeações são usadas ha-bitualmente como moeda em troca de apoio eleitoreiro. a atual secretária de educação do estado, Maria auxiliadora seabra rezende, mais conhecida como professora Dorinha, de 44 anos, assu-miu o cargo em 2000, quando a então titular se ausentou para disputar um

cargo eleitoral. Dorinha era uma téc-nica competente e mostrou-se à altura do desafio. Tanto que tem sido mantida no cargo ao longo das três últimas ad-ministrações, algo tão raro que hoje é a secretária da educação mais antiga no país. Depois de sua chegada, as escolas nos municípios ganharam autonomia para administrar seus recursos e mes-tres, pais e alunos tornaram-se co-res-ponsáveis pela gestão escolar. Dorinha também foi bem-sucedida ao se cercar de onGs competentes para assessorá-la na hercúlea tarefa de erguer quase do zero a educação do estado. o resultado está em indicadores de fazer inveja a outros estados, como um salto espe-tacular no percentual de alunos em nível adequado de aprendizagem ao final da 4a série: de 5% em 2003 para 91% em 2007 (veja quadro abaixo).

Um dos principais parceiros pela educação no Tocantins é o instituto ayrton senna (ias), criado por Vivia-ne senna, irmã do piloto. Voltada para o treinamento de professores da rede pública, a organização vive dos royal-ties do licenciamento da imagem de ayrton e do personagem senninha,

e de contribuições de empresas como Microsoft, Vale e Unibanco. apesar de ser uma organização do terceiro setor, o instituto funciona exatamente como uma consultoria de gestão de negócios: faz diagnósticos, propõe soluções, dá treinamento de pessoal, mas não execu-ta diretamente os projetos. as próprias secretarias e escolas colocam a mão na massa. “conseguimos colocar 97% das crianças do país em sala de aula, mas a qualidade despencou: as crianças não aprendem, repetem ou saem da escola”, diz Viviane. É um desperdício estimado em mais de r$ 10,5 bilhões por ano. “pior do que o desperdício de recursos, é o desperdício dos oito anos de vida mais importantes na formação de milhões de crianças.” seu objetivo ao criar o instituto, em 1993, era encontrar formas de combinar qualidade em edu-cação com impacto em grande escala: “Fazer projetos no varejo é bonito, mas não é relevante para o tamanho dos problemas que temos no Brasil”, afirma.

o ias administra cerca de r$ 16 milhões por ano e, desde sua criação, já aplicou mais de r$ 161 milhões no treinamento de professores do centro-

o saLTo DE TocanTinsalguns indicadores mostram como o estado vem conseguindo, em pouco tempo, resultados expressivos na educação

fonte_mEC, Fundação CaRlos ChaGas, instituto ayRton sEnna

inFográFico_alExandRE aFFonso Foto_thomas susEmihl

Alunos aprovadosao final da 4ª série

2005 2007

83%

99%

Alunos com nível adequado de aprendizagem (4ª série)

2003 2007

100

0

100

0

100

0

60

0

5%

91%

Alunos com distorção idade/série (1ª a 4ª série)

2003 2007

32%

17%

Número de livroslidos por ano

Médianacional

Média emTocantins*

2

56

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oeste, nordeste, são paulo e Tocantins. “Formulamos soluções simples que podem ser replicadas pelo país afora”, diz Margareth Goldenberg, diretora executiva do ias. “o professor tem de estar na sala de aula, tem de ter material de ensino de boa qualidade e seus resul-tados tem de ser monitorados.” a admi-nistração da onG é enxuta. cerca de 60 profissionais, como a coordenadora inês Kisil, administram o trabalho de 70 consultores independentes em dife-rentes estados. a organização investe praticamente tudo o que arrecada nos programas educacionais. “Temos um custo operacional baixo, de apenas 9%”, diz Margareth. “o grosso, 91% da nossa verba, chega diretamente ao público-alvo.” Também como uma consultoria de negócios, é nos números que o ins-tituto gosta de exibir resultados: em pernambuco, onde começou a atuar em 2003, investiu r$ 7 milhões na capaci-tação de professores. com a melhoria do ensino, houve queda na repetência, o que representou uma economia de r$ 150 milhões para os cofres do estado.

no caso de Tocantins, a parceria começou há cinco anos, quando o es-tado adotou o se Liga, programa que

atende crianças com dificuldade de al-fabetização. o instituto entrou com sua tecnologia pedagógica, treinamento de professores e material didático. com isso, os resultados têm sido surpreen-dentes: o índice de crianças com defa-sagem escolar entre a 1ª e a 4ª série caiu de 32% em 2003 para 17% em 2007. o programa também tem como meta um número determinado de leituras anu-ais: 30. Mas a garotada não se conten-tou e ultrapassou o objetivo, cravando a marca de 37 livros. Em 2004 foi ini-ciado o acelera Brasil, cujo objetivo é reforçar o aprendizado formal, concen-trando todo conteúdo de quatro anos em apenas um. a aprovação tem sido igualmente alta. a meta de leitura anu-al também foi superada: era de 40 li-

vros, mas os alunos acabaram lendo 56. o se Liga e o acelera se tornaram

políticas públicas, adotadas também em Goiás, pernambuco, paraíba, sergi-pe e Mato Grosso. Mas é em Tocantins que o instituto produz seus resultados mais visíveis.. na Escola Estadual an-tônio Benvindo da Luz, em Tocantínia, uma hora ao norte da capital palmas, é possível encontrar professores mo-tivados, crianças interessadas e salas de aula equipadas, ainda que de forma básica: três mapas pendurados na pa-rede - um do estado, um do Brasil e um mapa-múndi -, um relógio (tipo “cebo-lão” de ponteiro) e o “cantinho da leitu-ra” - uma mini-biblioteca com os livros preferidos (clássicos como João e o pé-de-feijão, Flicts, de Ziraldo, e dicioná-rios). os mapas servem para introduzir o conceito de vista superior ou vertical, fundamental na matemática e na geo-grafia, e o relógio induz a dimensão de tempo e fusos horários. Quando o pro-fessor usa esse material simples para estimular a curiosidade das crianças, elas acabam no cantinho da leitura, o que estimula o gosto pelo aprendizado.

a rigor, a maioria das escolas do país tem este kit básico. no entanto,

C R I A N Ç A S N O

cantinho da leitura (à esq.)

e Maria Auxiliadora,

a professora Dorinha,

secretária de educação

mais antiga do país: ela

aceitou soluções vindas

de fora e soube se cercar

de ONGs competentes

poucas a usam no dia-a-dia, por mais tacanho que possa parecer. “Muitas diretoras escondem o material porque acham que as crianças vão estragá-lo”, diz Gisela Wajskop, doutora em edu-cação pela Universidade de são paulo e de paris, ex-assessora do Ministério da Educação na gestão FHc e diretora do instituto singularidades, especia-lizado na formação de professores. Em outras escolas, esse equipamento bási-co é mantido em salas especiais, ou na biblioteca, longe da visão das crianças.

É um erro. Mapas não servem ape-nas para o ensino burocrático de geo-grafia. servem também para estimu-lar a inteligência. Douglas Bezerra de Lima, de 12 anos, é aluno do colégio Es-tadual nossa senhora da providência, em Lajeado, 60 quilômetros ao norte de palmas, onde participa do programa acelera. adora futebol e é capaz de lo-calizar no mapa-múndi os países onde jogam seus ídolos. “o Kaká joga bem aqui, ó”, diz ele, apontando para Milão, na itália. Ele pode repetir a façanha com cada um dos jogadores brasileiros atualmente no exterior, de robinho a alex. o campo de futebol, por sua vez, é um excelente artifício para estudar ge-

ometria. É com soluções simples, mas inteligentes, que o instituto consegue se diferenciar de tantas outras onGs que trabalham em educação no país.

quaDro negro

“a qualidade do ensino no Brasil é tão ruim que a perda entre primeira e oitava série chega a 41%”, diz Viviane. “E, sem o domínio da língua e da ma-temática, essas crianças não vão poder participar de uma economia globaliza-da”. a perda mencionada por Viviane é resultado do seguinte cálculo: conside-rando-se a população brasileira como um todo, cerca de 3,3 milhões de crian-ças deveriam passar a cada ano pelo primeiro ano do ensino fundamental. E, se tudo desse certo, outros tantos deve-riam chegar à oitava série. a realidade é que, devido à repetência, há quase o do-bro, 5,7 milhões na primeira série - 2,3 milhões a mais do que o que seria de se esperar pela idade. outros tantos conti-nuam empacados nas séries seguintes. na média, uma criança leva 10,8 anos para concluir o ciclo, que deveria levar apenas oito. “não é difícil convencer os empresários da gravidade da situação”, diz Margareth. “Basta comparar, por

SALA DE AULA EQUIPADA com mapas

e outros materiais (à esq.) e o aluno Sidney

Sinparte (abaixo), índio xerente: as escolas

adotam soluções simples para estimular o

aprendizado e valorizam a cultura local

o QUE É o insTiTUTo ayrTon sEnna

Principais característas da organização que ajuda a melhorar

a educação em tocantins

>> organização não-governamen-

tal que oferece consultoria em

e duc aç ão f un dam ent al para

1.360 municípios. alguns de seus

projetos foram adotados como

políticas públicas em tocantins,

goiás, mato grosso e pernambuco

>> vive de recursos próprios

(100% dos royalties de licencia-

mento da imagem do piloto ayrton

senna e do personagem senninha)

e da contribuição de empresas

>> gerencia um orçamento anual

de R$ 16 milhões. em 14 anos,

já aplicou R$ 161 milhões em

treinamento de professores

>> um de seus principais projetos,

o se liga, de combate ao analfa-

betismo no ensino fundamental, já

treinou 4 mil professores

o iaSinveste

91% de sua verba no

público-alvo

Fotos_REnE daniEl dECol

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exemplo, com um fabricante de geladei-ras onde, de cada 100 produtos, 40 não passassem no controle de qualidade.”

a origem do problema está, em parte, no crescimento quantitativo do contingente de crianças que a escola teve que acolher. Eram 12 milhões em 1970, quando o país tinha 90 milhões de habitantes. Devido ao crescimento demográfico (a população brasileira dobrou de tamanho desde então, ultra-passando os 180 milhões), à urbaniza-ção intensa e às campanhas de inclusão escolar, hoje são 35 milhões de alunos.

nesse contexto, indicadores posi-tivos chamam atenção – como ocorre em Tocantínia, ao lado da única aldeia xerente do país. ramo da família Jê, há apenas 1 624 índios dessa etnia no Brasil, segundo dados do anuário in-dígena do instituto socioambiental. as crianças xerentes representam cerca de 20% dos alunos da escola antônio Ben-vindo da Luz, a única de Tocantínia, e freqüentam as aulas com disposição: dizem saber que sem domínio do portu-guês e da matemática não terão nenhu-ma chance no mundo lá fora. ao mesmo tempo, garantem adorar a vida indí-

gena de “pescar, caçar, andar no mato”.aldair sremtowe é um xerente de

11 anos. por falar a língua materna em casa, sua alfabetização em português estava capengando. Foi colocado, então, no programa acelera, do instituto ayr-ton senna. agora aldair não só lê com fluência como foi cativado pela leitura. “Tô levando livro para ler em casa”, diz. sidney sirnapte, outro jovem índio de 12 anos, gosta de ler e, como prefere di-zer, “produzir textos”. obra preferida? “aldeia sagrada”. sonho? “Melhorar a vida na aldeia”. os xerentes, que foram “descobertos” apenas em 1937, pelo antropólogo curt nimuendaju, um ex-plorador alemão que chegou ao Brasil em 1903, produzem um artesanato ex-tremamente elaborado com palha dou-rada, um material natural da região. colares, cestos e bolsas são disputados nas butiques chiques de artesanato so-lidário em são paulo e rio e nos lugares de veraneio da moda como Trancoso, na Bahia. aldair e sidney têm suas tradições valorizadas na sala de aula.

outro rincão ermo de Tocantins só recentemente incorporado ao mapa eco-nômico do país é arraias, no sudeste do

estado. arraias é mais velha que muitas capitais importantes das américas. ali os portugueses descobriram ouro no começo do século 18. Com o fim do ciclo do metal, a região foi abandonada à pró-pria sorte. Luciano alves de araújo, 12 anos, aluno da segunda série da Escola Estadual Brigadeiro Felipe, de arraias, é freqüentador do programa se Liga. “Quero ser advogado quando crescer”, diz. o se Liga parece ter despertado seu interesse pela escola. “Gosto muito da-qui”, diz. a mesma disposição aparece na conversa com Felipe sodré de Mou-ra rodrigues, aluno de 12 anos da Esco-la Estadual silva Dourado, também de arraias, participante do programa ace-lera. “antes eu não sabia muitas coisas”, afirma. “Agora tô aprendendo demais.”

“a realidade destas crianças é bem difícil”, diz a professora Liz adriana, de 33 anos. Ela conta que o pai de Lucia-no saiu de casa atrás de trabalho e ele mora só com a mãe. “Em casos assim é fundamental resgatar a auto-estima da criança, que já não acredita mais em si mesma.” aliás, o trabalho ali pode ser sintetizado em uma fórmula: elevar a auto-estima do aluno e do professor em

uma região onde falta tudo, a começar por identidade e marcos históricos. Liz adriana é também diretora regional de ensino e supervisora direta de 11 turmas em seis municípios. “a parce-ria com o instituto ayrton senna tem contribuído para melhorar a educação do estado como um todo”, afirma. “o sistema de monitoramento, acompa-nhamento e supervisão funciona muito bem.” o resultado é que os municípios de Lavadeiras, combinado e novo ale-gre corrigiram a distorção idade/série e seus alunos já ultrapassaram colegui-nhas em estados ricos como são paulo.

inteligência

ser gestor público de educação re-quer mais do que dedicação: é preciso estar atualizado sobre cognição e inteli-gência - campos que tem avançado com a velocidade de uma Ferrari -, e acima de tudo, ter comprometimento com resultados de longo prazo. “as poucas escolas públicas de qualidade no Brasil são administradas por um educador, e não por um cabo eleitoral”, diz o consul-tor Celso Antunes. “São profissionais, e não figuras itinerantes e inconseqüen-tes.” o retrato cabe como uma luva à professora Dorinha. natural de Goiâ-nia, formada em pedagogia, assumiu a diretoria da Universidade do Tocantins (Unitins) em 1991. no final de 1996, foi nomeada para um cargo técnico na se-cretaria de Educação, chegando ao co-mando da pasta em 2000. “Quando as-sumi, Tocantins estava no último lugar no ranking nacional na avaliação do en-sino básico, tanto em português como em matemática”, diz. as falhas estavam concentradas entre a primeira e a quin-ta série. “passei o ano seguinte procu-rando formas de sanar o problema.”

Dorinha foi atrás de instituições com larga experiência em ensino: o

conselho Britânico, a Fundação ces-granrio e o instituto ayrton senna. parte do segredo dessas organizações é um sistema detalhado de indicadores e acompanhamento. Um método tão sim-ples quanto eficiente, que já está sendo adotado pela secretaria de educação de Tocantins para o conjunto do estado, consiste em fazer avaliações mensais de cada uma das turmas envolvidas nos projetos especiais. Todo dia 10, impre-terivelmente, uma planilha eletrônica contendo informações como número de faltas dos alunos e dos professores, lições de casa não feitas, e livros lidos é enviada por e-mail para palmas. a seguir, as coordenadoras, reunidas em uma espécie de central da inteligência na sede da secretaria, detectam se há alguma falha no sistema. se houver, ela é localizada e diagnosticada - muitas vezes enviando-se a coordenadora para a sala de aula em questão para entender a origem do problema. o método fun-ciona tão bem que já foi adotado como política pública em outros estados.

outro princípio é a autonomia. “a escola sempre foi um espaço dis-putado por políticos, pois dispõe de grande número de empregos e recebe

recursos financeiros significativos”, diz Dorinha. “Mas aqui não há inge-rência política.” Em Tocantins, os 25% do orçamento do Estado que, segundo a constituição, devem ir para a educa-ção, vão integralmente para a garotada. “Em outros lugares, costuma-se incluir nessa conta itens como o ensino supe-rior.” com foco, o estado já conquistou avanços importantes. seus professores estão entre os mais bem pagos do país.

por ser a secretária de educação há mais tempo no cargo no Brasil, Dorinha assumiu a presidência do conselho nacional de secretários de Educação (consed). Durante sua ges-tão, Tocantins foi o estado que mais avançou no sistema de avaliação da Educação Básica. Em português, a rede estadual teve desempenho próximo ao do rio de Janeiro. o mais interessante é que, no lugar da rejeição habitual a um corpo estranho, o sistema públi-co do seu estado está incorporando as inovações vindas de fora, como aquelas criadas pelo instituto ayrton senna. “Quando há uma parceria entre onGs competentes e um governo bem inten-cionado, a educação pode funcionar”, diz a especialista Gisela Wajskop.

os aLUnos aVançaMo percentual de repetência caiu nos 1.360 municípios em que o programa acelera brasil foi implantado. alguns exemplos:

Altamira (PA)80

0

2001 2007

70%

21%

Sinop (MT)30

0

30

0

30

0

2001 2007

28%

4%

Teresina (PI)

2001 2007

26%

5%

São Vicente (SP)

2001 2007

16%

3%

proMoção conGEsTionaDao fluxo escolar deveria ter a forma de um cone. mas, devido ao mau desempenho, virou uma pirâmide, com milhões de alunos retidos

3.180.616 8ª Série

3.476.179 7ª Série

3.891.386 6ª Série

4.520.875 5ª Série

4.146.400 4ª Série

4.177.063 3ª Série

4.417.501 2ª Série

5.724.541 1ª Série

o brasil colocou 97% das crianças na escola. se o sistema funcionasse direito, 3,3 milhões de alunos passariam pela primeira série e chegariam à oitava.

devido à repetência, 5,7 milhões continuam no primeiro ano (2,4 milhões a mais do que o esperado pela idade) e outros tantos ficam retidos nas demais séries. no total, a perda é de 41,3%

fonte_inEP/CEnso EsColaR 2005

*REdução na distoRção idadE/séRiE* (1ª a 4ª séRiE do Ensino FundamEntal)

inFográFicos_alExandRE aFFonso

fonte_instituto ayRton sEnna