Revista Engenharia 615

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WWW.BRASILENGENHARIA.COM ISSN 0013-7707 9770013 770009 5 1 6 0 0

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engenharia, saneamento básico, transportes, infraestrutura, construção, rodovias, ferrovias.

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www.brasilengenharia.com

Nº 615

2013R

EVISTA ENG

ENH

AR

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ISSN 0013-7707

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www.brasilengenharia.com

Prof issional do CREA:

não espere mais para ter acesso

ao melhor da medicina por até metade do preço.Prezado(a) Prof issional do CREA,

Faz parte da missão da MÚTUA trabalhar para proporcionar cada vez mais

segurança e qualidade de vida a você, Prof issional do CREA, e à sua família.

Por isso, temos a satisfação de comunicar que você pode ter acesso aos

melhores planos para cuidar da sua saúde: Bradesco, Golden Cross, Omint

e SulAmérica Seguro Saúde.

Com os melhores planos, você irá contar com:

• Os hospitais e clínicas mais conceituadas do País.1

• Os mais modernos laboratórios.1

• Livre escolha de prestadores médico-hospitalares com reembolso.2

Concretizada em parceria com a Qualicorp, maior administradora de benefícios

do Brasil, esta iniciativa se traduz em um benefício exclusivo que você só terá acesso

pela MÚTUA.

Mas essa conquista vai muito além da exclusividade.

Graças à negociação com a Qualicorp, você poderá contar com a solidez e o padrão

de qualidade das melhores operadoras do Brasil por preços realmente mais baixos.

E ainda contará com o apoio dessa administradora após aderir ao plano, por meio

de serviços e canais de atendimento adicionais.

Aproveite e passe a cuidar da sua saúde com o que há de melhor em medicina.

MÚTUAMetade do preço: em comparação a produtos similares no mercado de planos de saúde individuais (tabela de abril/2013 - Omint). ¹ De acordo com a disponibilidade da rede médica da operadora escolhida e do plano contratado. ² Conforme condições contratuais.

Planos de saúde coletivos por adesão, conforme as regras da ANS. Informações resumidas. Os preços e a rede estão sujeitos a alterações, por parte das respectivas operadoras, respeitadas as disposições contratuais e legais (Lei no 9.656/98). Condições contratuais disponíveis para análise. Junho/2013.

ANS nº 005711Bradesco Saúde :

ANS nº 403911Golden Cross :

ANS nº 000043SulAmérica :

ANS nº 359661Omint :

ANS nº 417173

QualicorpAdm. de :Benefícios

Ligue e confira:

0800 799 3003De segunda a sexta, das 9 às 21h, e aos sábados, das 10 às 16h. Ou, se preferir, acesse www.qualicorp.com.br.

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I ENGENHARIA

engenharia 615 / 2013 3www.brasilengenharia.com

Prof issional do CREA:

não espere mais para ter acesso

ao melhor da medicina por até metade do preço.Prezado(a) Prof issional do CREA,

Faz parte da missão da MÚTUA trabalhar para proporcionar cada vez mais

segurança e qualidade de vida a você, Prof issional do CREA, e à sua família.

Por isso, temos a satisfação de comunicar que você pode ter acesso aos

melhores planos para cuidar da sua saúde: Bradesco, Golden Cross, Omint

e SulAmérica Seguro Saúde.

Com os melhores planos, você irá contar com:

• Os hospitais e clínicas mais conceituadas do País.1

• Os mais modernos laboratórios.1

• Livre escolha de prestadores médico-hospitalares com reembolso.2

Concretizada em parceria com a Qualicorp, maior administradora de benefícios

do Brasil, esta iniciativa se traduz em um benefício exclusivo que você só terá acesso

pela MÚTUA.

Mas essa conquista vai muito além da exclusividade.

Graças à negociação com a Qualicorp, você poderá contar com a solidez e o padrão

de qualidade das melhores operadoras do Brasil por preços realmente mais baixos.

E ainda contará com o apoio dessa administradora após aderir ao plano, por meio

de serviços e canais de atendimento adicionais.

Aproveite e passe a cuidar da sua saúde com o que há de melhor em medicina.

MÚTUAMetade do preço: em comparação a produtos similares no mercado de planos de saúde individuais (tabela de abril/2013 - Omint). ¹ De acordo com a disponibilidade da rede médica da operadora escolhida e do plano contratado. ² Conforme condições contratuais.

Planos de saúde coletivos por adesão, conforme as regras da ANS. Informações resumidas. Os preços e a rede estão sujeitos a alterações, por parte das respectivas operadoras, respeitadas as disposições contratuais e legais (Lei no 9.656/98). Condições contratuais disponíveis para análise. Junho/2013.

ANS nº 005711Bradesco Saúde :

ANS nº 403911Golden Cross :

ANS nº 000043SulAmérica :

ANS nº 359661Omint :

ANS nº 417173

QualicorpAdm. de :Benefícios

Ligue e confira:

0800 799 3003De segunda a sexta, das 9 às 21h, e aos sábados, das 10 às 16h. Ou, se preferir, acesse www.qualicorp.com.br.

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www.brasilengenharia.comENGENHARIA 606 / 20114

46Filiada a:

www.brasilengenharia.com.brISSN 0013-7707

REVISTA ENGENHARIAÓrgão Oficial do Instituto de Engenharia

FundadoresApparício Saraiva de Oliveira Mello (1929-1998)

Ivone Gouveia Pereira de Mello (1933-2007)

Rua Alice de Castro, 47 - Vila MarianaCEP 04015 040 - São Paulo - SP - Brasil

Tel. (55 11) 5575 8155Fax. (55 11) 5575 8804

E-mail: [email protected] anual: R$ 120,00

Número avulso: R$ 25,00

DIRETOR RESPONSÁVELMIGUEL LOTITO NETTO

DIRETOR EDITORIALRICARDO PEREIRA DE MELLO

DIRETORA EXECUTIVAMARIA ADRIANA PEREIRA DE MELLO

EDITADA DESDE 1942

ENTREVISTA

EDSON DE OLIVEIRA GIRIBONISecretário de Saneamento e Recursos

Hídricos do Estado de São Paulo “A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS É

UM PROCESSO DINÂMICO, MAS PERENE” Na visão do secretário estadual de Saneamento e

Recursos Hídricos, Edson Giriboni, para se reduzir a necessidade da busca e viabilização de novas fontes

de fornecimento de água em futuro próximo na superpopulosa Macrometrópole Paulista – uma vez

que esse recurso natural está cada vez mais escasso na região –, é preciso muita firmeza na gestão de demanda

do produto, por meio de programas de controle de perdas, de melhoramentos tecnológicos, de substituição

de equipamentos, uso racional da água, reúso de rejeitos tratados, políticas tarifárias e de incentivos

fiscais. Além do excesso de gente consumindo, outro fator que contribui para a escassez dos recursos

hídricos é a poluição dos corpos d’água, o que implica na diminuição da disponibilidade do líquido com

qualidade para os diversos tipos de usos.TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. NENHUMA PARTE DESTA

PUBLICAÇÃO (TEXTOS, DADOS OU IMAGENS) PODE SER REPRODUZIDA, ARMAZENADA OU TRANSMITIDA, EM NENHUM FORMATO OU POR QUALQUER MEIO, SEM O CONSENTIMENTO

PRÉVIO DA ENGENHO EDITORA TÉCNICA OU DA COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA ENGENHARIA

ASSINATURAS

INSTITUTO DE ENGENHARIA. Presidente: Camil Eid. Vice-presidente de Administração e Finanças: José Olimpio Dias de Faria. Vice-presidente de Atividades Técnicas: Miriana Pereira Marques. Vice-presidente de Relações Externas: Jorge Pinheiro Jobim. Vice-presidente de Assuntos Internos: Marcos Moliterno. Vice-presidente da Sede de Campo: Enio Gazolla da Costa. COMISSÃO EDITORIAL: Alfredo Eugênio Birman, Antonio Maria Claret Reis de Andrade, Aristeu Zensaburo Nakamura, Camil Eid, Ivan Metran Whately, Jefferson D. Teixeira da Costa, João Ernesto Figueiredo, José Eduardo Cavalcanti, José Fiker, Kleber Rezende Castilho, Laurindo Junqueira, Luís Antônio Seraphim, Miguel Lotito Netto, Miguel Prieto, Miracyr Assis Marcato, Miriana Pereira Marques, Nestor Soares Tu-pinambá, Paulo Eduardo de Queiroz Mattoso Barreto, Permínio Alves Maia de Amorim Neto, Reginaldo Assis de Paiva, Ricardo Pereira de Mello, Roberto Aldo Pes-ce, Roberto Kochen, Rui Arruda Camargo, Theophilo Darcio Guimarães. ENGENHO EDITORA TÉCNICA. Diretor Editorial: Ricardo Pereira de Mello. Diretora Comercial: Maria Adriana Pereira de Mello. Editor Chefe: Juan Garrido. Redatora: Cláudia Maria Gar-rido Reina. Fotógrafo: Ricardo Martins. Editoração: Adriana Piedade/ZAF e André Siqueira/Via Papel. Assinaturas: Leonardo Moreira. Criação e arte: An-dré Siqueira/Via Papel. Impressão e acabamento: Companhia Lithographica Ypiranga (CLY). REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E PUBLICIDADE: Engenho Editora Técnica Ltda. Rua Alice de Castro, 47 - Cep 04015 040 - São Paulo - SP - Brasil - Telefones. (55 11) 5575 8155 - 5575 1069 - 5573 1240 - Fax. (55 11) 5575 8804. Circulação nacional: A REVISTA ENGENHARIA é distribuída aos sócios do Instituto de Engenharia, assinan-tes e engenheiros brasileiros que desenvolvem atividades nas áreas de engenharia, projeto, construção e infraestru-tura. A REVISTA ENGENHARIA, o Instituto de Engenharia e a Engenho Editora Técnica não se responsabilizam por conceitos emitidos por seus colaboradores ou a precisão dos artigos publicados. Só os editores estão autorizados a angariar assinaturas.

Periodicidade: Bimestral.Número avulso: R$ 25,00

Assinatura anual: R$ 120,00E-mails: [email protected]

[email protected]

WWW.BRASILENGENHARIA.COM

PALAVRA DO PRESIDENTE 7

CARTAS 8

PALAVRA DO LEITOR 12

CURTAS 18

DIVISÕES TÉCNICAS 28

38LINHA DE FRENTE

ALCEU SEGAMARCHI JÚNIOR Superintendente do Departamento de

Águas e Energia Elétrica (DAEE) “O CUSTO SOCIAL DE ALGUMAS OBRAS JÁ

ULTRAPASSA O DA CONSTRUÇÃO EM SI”Embora critique a qualidade técnica de certas obras de infraestrutura

construídas no Brasil, o superintendente do DAEE, engº Alceu Segamarchi Júnior, destaca que é insubstituível o papel do engenheiro para o desenvolvimento do país. “Depois que ‘o engenheiro virou suco’

na década de 1980, felizmente a carreira está sendo revalorizada nos últimos anos, havendo, portanto, luz forte no fim do túnel”, diz. Ele

aborda outro tema candente: o custo social das grandes obras de engenharia no Brasil.

100 MEMÓRIAS DA ENGENHARIA

101 CRÔNICA

102 ENGENHO & ARTE

104 BIBLIOTECA

106 OPINIÃO SEÇÕ

ESNESTA EDIÇÃO

15/MAIO A 15/JULHO DE 2013 - ANO 70 - Nº 615

Nesta Edição 615.indd 4 27/06/2013 11:07:21

Page 5: Revista Engenharia 615

I ENGENHARIA

engenharia 615 / 2013 5www.brasilengenharia.comWWW.BRASILENGENHARIA.COM ENGENHARIA 615 / 2013 5

CAPAEspecial Recursos Hídricos:

Corrida contra o tempo

Criação: André Siqueira/Via Papel

A MISSÃO DO INSTITUTO DE ENGENHARIA

Promover a engenharia, em be-nefício do desenvolvimento e da qualidade de vida da sociedade. Realiza essa missão por meio da: promoção do desenvolvimento e da valorização da engenharia; promoção da qualidade e cre-dibilidade de seus profissionais; prestação de serviços à sociedade, promovendo fóruns e debates sobre problemas de interesse pú-blico, analisando e manifestando-se sobre políticas, programas e ações governamentais, elaboran-do estudos, pareceres técnicos e propostas para o poder público e para a iniciativa privada; presta-ção de serviços aos associados. Suas ações estão dirigidas para: a comunidade em geral; os ór-gãos públicos e organizações não governamentais; as empresas do setor industrial, comercial e de serviços; as empresas de engenharia, engenheiros e profis-sionais de nível superior em geral; os institutos de pesquisas e escolas de engenharia; e os estu-dantes de engenharia.

52CAPA / ENGENHARIA

ESPECIAL RECURSOS HÍDRICOS CORRIDA CONTRA O TEMPO Pelos cálculos preliminares dos técnicos do consórcio responsável pela terceira revisão do Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê (PDMAT-3), o limite de transbordamento da calha do Rio Tietê (vazão de restrição) na Barragem Móvel, na altura do Cebolão da Avenida Marginal do Tietê (na foz do Rio Pinheiros) – que era de 1 048 metros cúbicos por segundo em 2009, pela versão anterior do Plano – elevou-se para algo entre 1 700 e 1 800 metros cúbicos por segundo. Razão pela qual o governo paulista tem pela frente o espinhoso desafio de definir investimentos prioritários em obras físicas que, ao lado de uma gestão hídrica eficiente, permitam controlar as futuras enchentes do Tietê e seus principais afluentes na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), área que concentra os mais altos índices de desenvolvimento e riqueza do Estado de São Paulo.

9086

ENGENHARIA GERENCIAMENTO / ARTIGO

CAUSAS FREQUENTES DE REIVINDICAÇÕES CONTRATUAISRoberto RicardinoSérgio Alfredo Rosa da SilvaCláudio Tavares de Alencar

ENGENHARIA TRANSPORTE / ARTIGO

UMA REFLEXÃO SOBRE LOGÍSTICA URBANAÉdelis Alves Ribeiro

NESTA EDIÇÃO

96ENGENHARIA CIVIL / ARTIGO

APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA DE HIDROFRESA EM GRANDES ESCAVAÇÕES URBANASGerardo Marote Ramos

Nesta Edição 615.indd 5 26/06/2013 19:38:29

ENGENHARIA 606 / 20114

46Filiada a:

www.brasilengenharia.com.brISSN 0013-7707

REVISTA ENGENHARIAÓrgão Oficial do Instituto de Engenharia

FundadoresApparício Saraiva de Oliveira Mello (1929-1998)

Ivone Gouveia Pereira de Mello (1933-2007)

Rua Alice de Castro, 47 - Vila MarianaCEP 04015 040 - São Paulo - SP - Brasil

Tel. (55 11) 5575 8155Fax. (55 11) 5575 8804

E-mail: [email protected] anual: R$ 120,00

Número avulso: R$ 25,00

DIRETOR RESPONSÁVELMIGUEL LOTITO NETTO

DIRETOR EDITORIALRICARDO PEREIRA DE MELLO

DIRETORA EXECUTIVAMARIA ADRIANA PEREIRA DE MELLO

EDITADA DESDE 1942

ENTREVISTA

EDSON DE OLIVEIRA GIRIBONISecretário de Saneamento e Recursos

Hídricos do Estado de São Paulo “A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS É

UM PROCESSO DINÂMICO, MAS PERENE” Na visão do secretário estadual de Saneamento e

Recursos Hídricos, Edson Giriboni, para se reduzir a necessidade da busca e viabilização de novas fontes

de fornecimento de água em futuro próximo na superpopulosa Macrometrópole Paulista – uma vez

que esse recurso natural está cada vez mais escasso na região –, é preciso muita firmeza na gestão de demanda

do produto, por meio de programas de controle de perdas, de melhoramentos tecnológicos, de substituição

de equipamentos, uso racional da água, reúso de rejeitos tratados, políticas tarifárias e de incentivos

fiscais. Além do excesso de gente consumindo, outro fator que contribui para a escassez dos recursos

hídricos é a poluição dos corpos d’água, o que implica na diminuição da disponibilidade do líquido com

qualidade para os diversos tipos de usos.TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. NENHUMA PARTE DESTA

PUBLICAÇÃO (TEXTOS, DADOS OU IMAGENS) PODE SER REPRODUZIDA, ARMAZENADA OU TRANSMITIDA, EM NENHUM FORMATO OU POR QUALQUER MEIO, SEM O CONSENTIMENTO

PRÉVIO DA ENGENHO EDITORA TÉCNICA OU DA COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA ENGENHARIA

ASSINATURAS

INSTITUTO DE ENGENHARIA. Presidente: Camil Eid. Vice-presidente de Administração e Finanças: José Olimpio Dias de Faria. Vice-presidente de Atividades Técnicas: Miriana Pereira Marques. Vice-presidente de Relações Externas: Jorge Pinheiro Jobim. Vice-presidente de Assuntos Internos: Marcos Moliterno. Vice-presidente da Sede de Campo: Enio Gazolla da Costa. COMISSÃO EDITORIAL: Alfredo Eugênio Birman, Antonio Maria Claret Reis de Andrade, Aristeu Zensaburo Nakamura, Camil Eid, Ivan Metran Whately, Jefferson D. Teixeira da Costa, João Ernesto Figueiredo, José Eduardo Cavalcanti, José Fiker, Kleber Rezende Castilho, Laurindo Junqueira, Luís Antônio Seraphim, Miguel Lotito Netto, Miguel Prieto, Miracyr Assis Marcato, Miriana Pereira Marques, Nestor Soares Tu-pinambá, Paulo Eduardo de Queiroz Mattoso Barreto, Permínio Alves Maia de Amorim Neto, Reginaldo Assis de Paiva, Ricardo Pereira de Mello, Roberto Aldo Pes-ce, Roberto Kochen, Rui Arruda Camargo, Theophilo Darcio Guimarães. ENGENHO EDITORA TÉCNICA. Diretor Editorial: Ricardo Pereira de Mello. Diretora Comercial: Maria Adriana Pereira de Mello. Editor Chefe: Juan Garrido. Redatora: Cláudia Maria Gar-rido Reina. Fotógrafo: Ricardo Martins. Editoração: Adriana Piedade/ZAF e André Siqueira/Via Papel. Assinaturas: Leonardo Moreira. Criação e arte: An-dré Siqueira/Via Papel. Impressão e acabamento: Companhia Lithographica Ypiranga (CLY). REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E PUBLICIDADE: Engenho Editora Técnica Ltda. Rua Alice de Castro, 47 - Cep 04015 040 - São Paulo - SP - Brasil - Telefones. (55 11) 5575 8155 - 5575 1069 - 5573 1240 - Fax. (55 11) 5575 8804. Circulação nacional: A REVISTA ENGENHARIA é distribuída aos sócios do Instituto de Engenharia, assinan-tes e engenheiros brasileiros que desenvolvem atividades nas áreas de engenharia, projeto, construção e infraestru-tura. A REVISTA ENGENHARIA, o Instituto de Engenharia e a Engenho Editora Técnica não se responsabilizam por conceitos emitidos por seus colaboradores ou a precisão dos artigos publicados. Só os editores estão autorizados a angariar assinaturas.

Periodicidade: Bimestral.Número avulso: R$ 25,00

Assinatura anual: R$ 120,00E-mails: [email protected]

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PALAVRA DO PRESIDENTE 7

CARTAS 8

PALAVRA DO LEITOR 12

CURTAS 18

DIVISÕES TÉCNICAS 28

38LINHA DE FRENTE

ALCEU SEGAMARCHI JÚNIOR Superintendente do Departamento de

Águas e Energia Elétrica (DAEE) “O CUSTO SOCIAL DE ALGUMAS OBRAS JÁ

ULTRAPASSA O DA CONSTRUÇÃO EM SI”Embora critique a qualidade técnica de certas obras de infraestrutura

construídas no Brasil, o superintendente do DAEE, engº Alceu Segamarchi Júnior, destaca que é insubstituível o papel do engenheiro para o desenvolvimento do país. “Depois que ‘o engenheiro virou suco’

na década de 1980, felizmente a carreira está sendo revalorizada nos últimos anos, havendo, portanto, luz forte no fim do túnel”, diz. Ele

aborda outro tema candente: o custo social das grandes obras de engenharia no Brasil.

100 MEMÓRIAS DA ENGENHARIA

101 CRÔNICA

102 ENGENHO & ARTE

104 BIBLIOTECA

106 OPINIÃO SEÇÕ

ES

NESTA EDIÇÃO 15/MAIO A 15/JULHO DE 2013 - ANO 70 - Nº 615

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ENGENHARIA I

engenharia 615 / 20136 www.brasilengenharia.com

ENGENHARIA I

WWW.BRASILENGENHARIA.COMENGENHARIA 615 / 20136

PRESIDÊNCIA PRESIDENTE Camil [email protected] ASSESSOR DA PRESIDÊNCIA Victor Brecheret Filho [email protected] ASSESSORIA DECOMUNICAÇÃO Fernanda Nagatomi [email protected] Isabel Cristina Dianin [email protected] Marília Ravasio [email protected] DIRETOR DA CÂMARA DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM Maçahico [email protected] 1º DIRETOR SECRETÁRIO Pedro Grunauer [email protected]º DIRETOR SECRETÁRIO Reginaldo Assis de [email protected] DIRETOR DE ASSUNTOS ESPECIAIS João Ernesto Figueiredo [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIA DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS VICE-PRESIDENTE José Olimpio Dias de [email protected] e [email protected]º DIRETOR FINANCEIRO Roberto Bartolomeu [email protected] 2º DIRETOR FINANCEIRO Mauro José Lourenç[email protected] Ruth Julieta Votta [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIA DE ATIVIDADES TÉCNICAS VICE-PRESIDENTE Miriana Pereira Marques [email protected] DIRETOR RESPONSÁVEL PELA REVISTA ENGENHARIA Miguel Lotito Netto [email protected] DA BIBLIOTECA Miriana Pereira Marques [email protected] DE CURSOS Ricardo Kenzo Motomatsu [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIADE RELAÇÕES EXTERNASVICE-PRESIDENTE Jorge Pinheiro [email protected]

Dirceu Carlos da SilvaEdemar de Souza AmorimEdgardo Pereira Mendes Jr.Edson José MachadoEduardo Ferreira LafraiaEnio Gazolla da CostaEttore José BotturaFrancisco A. N. Christovam Gabriel Oliva FeitosaHélio Martins de OliveiraHenry MaksoudIsmael Junqueira CostaIvan Metran WhatelyJan Arpad MihalikJason Pereira MarquesJoão Alberto ViolJoão Antonio Machado NetoJoão Batista R. MachadoJoão Ernesto FigueiredoJoão Jorge da CostaJorge Pinheiro JobimJosé Geraldo Baião José Olímpio Dias de FariaJosé Pereira MonteiroJosé Roberto BernasconiKleber Rezende CastilhoLourival Jesus AbrãoLuiz Célio BotturaLuiz Felipe Proost de SouzaMaçahico TisakaMarcel MendesMarcelo RozenbergMarco Antonio MastrobuonoMarcos MoliternoMiriana Pereira MarquesNelson AidarNelson Newton FerrazNeuza Maria TrauzzolaOdécio Braga de Louredo FilhoOzires SilvaPaulo FerreiraPaulo Setubal NetoPedro Grunauer KassabPermínio Alves M. Amorim NetoPlínio Oswaldo AssmannRoberto Aldo PesceRoberto Bartolomeu BerkesRoberto KochenRui Arruda CamargoSonia Regina FreitasTomaz Eduardo N. CarvalhoTunehiro UonoWalter Coronado AntunesWalter de Almeida Braga

CONSELHO FISCAL EFETIVOS Clara Cascão Nassar Antonio José Nogueira de Andrade FilhoFenelon Arruda

SUPLENTES Beatriz Vidigal Xavier da Silveira RosaJason Pereira MarquesJefferson Deodoro Teixeira da Costa

DIRETOR REGIONAL DE PORTO ALEGRE/RS Anibal Knijnik [email protected] DIRETOR REGIONAL DE BRASÍLIA/DF Tilney Teixeira [email protected] DIRETOR REGIONAL DE SALVADOR/BA Carlos Alberto Stagliorio [email protected] REGIONAL DE FORTALEZA/CE Fabio Leopoldo Giannini [email protected] DIR. REGIONAL DEBELO HORIZONTE/MG Jose Augusto da Silva [email protected] DIRETOR DERELAÇOES NACIONAIS Clara Cascão Nassar Herszenhaut [email protected] DIRETOR DE CONVÊNIOS Wilson Pedro Tamega Junior [email protected] DIRETOR DE NOVOS PROJETOS Fabiano Sannino [email protected] DIRETOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Miracyr Assis Marcato [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIA DEASSUNTOS INTERNOS VICE-PRESIDENTE Marcos [email protected] DIRETOR DE ASSUNTOS INTERNOS Antonio Jose Nogueira de Andrade Filho [email protected]ÚCLEO JOVEM Jason Pereira Marques [email protected] DIRETOR DE ASSUNTOSCOM AS ASSOCIAÇÕES Benedicto Apparecido dos Santos Silva [email protected] DIRETOR DEEVENTOS CULTURAIS Nestor Soares Tupinamba [email protected] DIRETOR DEEVENTOS SOCIAIS Luiz Paulo Zuppani Ballista [email protected] DIRETOR DE VISITAS TÉCNICAS E DE LAZER Sokan Kato Young [email protected] DIRETOR DE CONVÊNIOS,BENEFÍCIOS E PARCERIAS Jefferson Deodoro Teixeira da Costa [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIA DA SEDE DE CAMPO VICE-PRESIDENTE Enio Gazolla da [email protected]

CONSELHO DELIBERATIVO PRESIDENTE Camil Eid

CONSELHEIROS Alfredo Cotait NetoAlfredo Mário SavelliAluizio de Barros FagundesAngelo Sebastião ZaniniAntonio Carlos P. de Souza AmorimAntonio Helio Guerra VieiraAntonio Mª Claret Reis de AndradeArnaldo Pereira da SilvaCarlos Eduardo Mendes GonçalvesDario Rais LopesEduardo Ferreira LafraiaFrancisco A. N. ChristovamIvan Metran WhatelyJoão Alberto ViolJoão Antonio Machado NetoJoão Jorge da CostaJosé Roberto BernasconiJosé Roberto CardosoLuiz Célio BotturaMarcel MendesMarcelo RozenbergMiracyr Assis MarcatoNestor Soares TupinambáOdécio Braga de Louredo FilhoPlínio Oswaldo AssmannRenato Casali PavanRoberto KochenTunehiro UonoVahan AgopyanWalter Coronado Antunes

CONSELHO CONSULTIVO PRESIDENTE João Ernesto Figueiredo VICE-PRESIDENTE André Steagall Gertsenchtein SECRETÁRIO João Antonio Machado Neto

CONSELHEIROS Alberto Pereira RodriguesAlfredo Eugenio BirmanAlfredo Mário SavelliAluizio de Barros FagundesAmândio MartinsAndré S. GertsenchteinAngelo Sebastião ZaniniAntonio Carlos P. de S. AmorimAntonio Galvão A. de AbreuAntonio Hélio Guerra VieiraArlindo Virgilio Machado MouraArnaldo Pereira da SilvaBraz Juliano Camil EidCarlos Antonio Rossi RosaCarlos Eduardo Mendes GonçalvesCláudio A. Dall’AcquaCláudio ArisaClorival RibeiroDario Rais Lopes

Instituto de EngenhariaReconhecido de utilidade pública pela lei nº 218, de 27.05.1974Av. Dr. Dante Pazzanese, 120 - CEP 04012 180 - São Paulo - SPTelefone: (+55 11) 3466 9200 - Fax (+55 11) 3466 9252Internet: www.iengenharia.org.brE-mail: [email protected]

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Page 7: Revista Engenharia 615

I ENGENHARIA

engenharia 615 / 2013 7www.brasilengenharia.com

setor público e, assim, os temas como saneamento, abastecimento de água, energia, transportes, lo-gística, portos e aeroportos ganham um grande destaque.

Mas não podemos somente nos ater a es-ses temas. Queremos cobrir as demais ativida-des que sejam do interesse dos profissionais da engenharia, pelo menos aquelas com elevado conteúdo tecnológico ou potencial de inovação.

Precisamos valorizar, apoiar e nos dedicar-mos às Divisões Técnicas, principalmente aque-las mais distantes do espectro de obras públicas. Queremos mantê-las como referência na enge-nharia nacional. Algumas já possuem público fiel e participativo; outras necessitam de incen-tivos para o engajamento dos associados para uma ação mais atuante dentro do cenário de nossa instituição.

Pretendemos firmar parcerias com as escolas de engenharia para a criação de novas Divisões Técnicas e de novos cursos. É de fundamental importância agregar estudantes e professores para compor os departamentos e as Divisões Técnicas. Com a finalidade de atingir esse obje-tivo, precisamos perceber a demanda do merca-do sobre os estudantes, determinar o interesse dos públicos, identificar e atrair os professores e profissionais capacitados.

As atividades técnicas, além de serem a prin-cipal porta de entrada de novos associados, são o instrumento para que a engenharia continue competitiva e competente e para que o Instituto de Engenharia permaneça independente e forte rumo ao centenário. Mas, como de resto, isso tudo só será possível com a colaboração dos co-legas engenheiros.

Em função disso, convido-os para partici-parem dos debates permanentes das questões e atuações no setor, trazendo suas ideias e in-quietações para juntos caminharmos para o en-grandecimento do profissional, da profissão e da engenharia nacional.

erto de completar 100 anos de his-tória, a vivência do Instituto de Engenharia nos provoca grandes ref lexões.

Se por um lado tem como missão promover a engenharia em benefício do desenvolvimento e da qualidade de vida, por outro nos confron-ta com as enormes dificuldades causadas pela total modificação do ambiente social, técnico e empresarial em que vivemos. Principalmente, quando comparado ao que existia nos primór-dios, ou mesmo mais recentemente, em nossos períodos áureos, em que a nossa sede ainda era no centro da cidade, próximo dos polos de de-cisão da vida econômica e empresarial de São Paulo.

Sem entrarmos na análise do grande es-pectro dessas transformações, verificamos que uma das ações mais importantes que nos cabe é a produção de conteúdo técnico atualizado. É o conhecimento tecnológico adquirido, que pre-cisa ser disseminado entre nossos associados e devidamente divulgado.

Em nossa estrutura organizacional, aparece com destaque a vice-presidência de Atividades Técnicas que, comandada pela engenheira Mi-riana Marques, está encarregada de atender a essa demanda por meio dos Departamentos de Engenharia e das Divisões Técnicas, juntamen-te com a Biblioteca, a área de Cursos e esta Revista.

Os Departamentos de Engenharia e as Di-visões Técnicas são uma das mais importantes ferramentas para atingir essa missão. Em nú-mero de 12 departamentos e 26 Divisões Téc-nicas, elas são o coração do Instituto, no qual novas ideias, projetos e estudos surgem para a discussão das melhorias dos gargalos enfrenta-dos no nosso país.

Abrangem praticamente todos os assun-tos de interesse da engenharia. Por conta da história e da origem, há um natural prevale-cimento das atividades e especificações dos itens que compõem os contratos oriundos do

PALAVRA DO PRESIDENTE

PCAMIL EID

Presidente do Instituto de [email protected]

ENGENHARIA I

WWW.BRASILENGENHARIA.COMENGENHARIA 615 / 20136

PRESIDÊNCIA PRESIDENTE Camil [email protected] ASSESSOR DA PRESIDÊNCIA Victor Brecheret Filho [email protected] ASSESSORIA DECOMUNICAÇÃO Fernanda Nagatomi [email protected] Isabel Cristina Dianin [email protected] Marília Ravasio [email protected] DIRETOR DA CÂMARA DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM Maçahico [email protected] 1º DIRETOR SECRETÁRIO Pedro Grunauer [email protected]º DIRETOR SECRETÁRIO Reginaldo Assis de [email protected] DIRETOR DE ASSUNTOS ESPECIAIS João Ernesto Figueiredo [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIA DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS VICE-PRESIDENTE José Olimpio Dias de [email protected] e [email protected]º DIRETOR FINANCEIRO Roberto Bartolomeu [email protected] 2º DIRETOR FINANCEIRO Mauro José Lourenç[email protected] Ruth Julieta Votta [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIA DE ATIVIDADES TÉCNICAS VICE-PRESIDENTE Miriana Pereira Marques [email protected] DIRETOR RESPONSÁVEL PELA REVISTA ENGENHARIA Miguel Lotito Netto [email protected] DA BIBLIOTECA Miriana Pereira Marques [email protected] DE CURSOS Ricardo Kenzo Motomatsu [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIADE RELAÇÕES EXTERNASVICE-PRESIDENTE Jorge Pinheiro [email protected]

Dirceu Carlos da SilvaEdemar de Souza AmorimEdgardo Pereira Mendes Jr.Edson José MachadoEduardo Ferreira LafraiaEnio Gazolla da CostaEttore José BotturaFrancisco A. N. Christovam Gabriel Oliva FeitosaHélio Martins de OliveiraHenry MaksoudIsmael Junqueira CostaIvan Metran WhatelyJan Arpad MihalikJason Pereira MarquesJoão Alberto ViolJoão Antonio Machado NetoJoão Batista R. MachadoJoão Ernesto FigueiredoJoão Jorge da CostaJorge Pinheiro JobimJosé Geraldo Baião José Olímpio Dias de FariaJosé Pereira MonteiroJosé Roberto BernasconiKleber Rezende CastilhoLourival Jesus AbrãoLuiz Célio BotturaLuiz Felipe Proost de SouzaMaçahico TisakaMarcel MendesMarcelo RozenbergMarco Antonio MastrobuonoMarcos MoliternoMiriana Pereira MarquesNelson AidarNelson Newton FerrazNeuza Maria TrauzzolaOdécio Braga de Louredo FilhoOzires SilvaPaulo FerreiraPaulo Setubal NetoPedro Grunauer KassabPermínio Alves M. Amorim NetoPlínio Oswaldo AssmannRoberto Aldo PesceRoberto Bartolomeu BerkesRoberto KochenRui Arruda CamargoSonia Regina FreitasTomaz Eduardo N. CarvalhoTunehiro UonoWalter Coronado AntunesWalter de Almeida Braga

CONSELHO FISCAL EFETIVOS Clara Cascão Nassar Antonio José Nogueira de Andrade FilhoFenelon Arruda

SUPLENTES Beatriz Vidigal Xavier da Silveira RosaJason Pereira MarquesJefferson Deodoro Teixeira da Costa

DIRETOR REGIONAL DE PORTO ALEGRE/RS Anibal Knijnik [email protected] DIRETOR REGIONAL DE BRASÍLIA/DF Tilney Teixeira [email protected] DIRETOR REGIONAL DE SALVADOR/BA Carlos Alberto Stagliorio [email protected] REGIONAL DE FORTALEZA/CE Fabio Leopoldo Giannini [email protected] DIR. REGIONAL DEBELO HORIZONTE/MG Jose Augusto da Silva [email protected] DIRETOR DERELAÇOES NACIONAIS Clara Cascão Nassar Herszenhaut [email protected] DIRETOR DE CONVÊNIOS Wilson Pedro Tamega Junior [email protected] DIRETOR DE NOVOS PROJETOS Fabiano Sannino [email protected] DIRETOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Miracyr Assis Marcato [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIA DEASSUNTOS INTERNOS VICE-PRESIDENTE Marcos [email protected] DIRETOR DE ASSUNTOS INTERNOS Antonio Jose Nogueira de Andrade Filho [email protected]ÚCLEO JOVEM Jason Pereira Marques [email protected] DIRETOR DE ASSUNTOSCOM AS ASSOCIAÇÕES Benedicto Apparecido dos Santos Silva [email protected] DIRETOR DEEVENTOS CULTURAIS Nestor Soares Tupinamba [email protected] DIRETOR DEEVENTOS SOCIAIS Luiz Paulo Zuppani Ballista [email protected] DIRETOR DE VISITAS TÉCNICAS E DE LAZER Sokan Kato Young [email protected] DIRETOR DE CONVÊNIOS,BENEFÍCIOS E PARCERIAS Jefferson Deodoro Teixeira da Costa [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIA DA SEDE DE CAMPO VICE-PRESIDENTE Enio Gazolla da [email protected]

CONSELHO DELIBERATIVO PRESIDENTE Camil Eid

CONSELHEIROS Alfredo Cotait NetoAlfredo Mário SavelliAluizio de Barros FagundesAngelo Sebastião ZaniniAntonio Carlos P. de Souza AmorimAntonio Helio Guerra VieiraAntonio Mª Claret Reis de AndradeArnaldo Pereira da SilvaCarlos Eduardo Mendes GonçalvesDario Rais LopesEduardo Ferreira LafraiaFrancisco A. N. ChristovamIvan Metran WhatelyJoão Alberto ViolJoão Antonio Machado NetoJoão Jorge da CostaJosé Roberto BernasconiJosé Roberto CardosoLuiz Célio BotturaMarcel MendesMarcelo RozenbergMiracyr Assis MarcatoNestor Soares TupinambáOdécio Braga de Louredo FilhoPlínio Oswaldo AssmannRenato Casali PavanRoberto KochenTunehiro UonoVahan AgopyanWalter Coronado Antunes

CONSELHO CONSULTIVO PRESIDENTE João Ernesto Figueiredo VICE-PRESIDENTE André Steagall Gertsenchtein SECRETÁRIO João Antonio Machado Neto

CONSELHEIROS Alberto Pereira RodriguesAlfredo Eugenio BirmanAlfredo Mário SavelliAluizio de Barros FagundesAmândio MartinsAndré S. GertsenchteinAngelo Sebastião ZaniniAntonio Carlos P. de S. AmorimAntonio Galvão A. de AbreuAntonio Hélio Guerra VieiraArlindo Virgilio Machado MouraArnaldo Pereira da SilvaBraz Juliano Camil EidCarlos Antonio Rossi RosaCarlos Eduardo Mendes GonçalvesCláudio A. Dall’AcquaCláudio ArisaClorival RibeiroDario Rais Lopes

Instituto de EngenhariaReconhecido de utilidade pública pela lei nº 218, de 27.05.1974Av. Dr. Dante Pazzanese, 120 - CEP 04012 180 - São Paulo - SPTelefone: (+55 11) 3466 9200 - Fax (+55 11) 3466 9252Internet: www.iengenharia.org.brE-mail: [email protected]

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Centenário e Divisões Técnicasdo Instituto de Engenharia

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PALAVRA DO LEITORCARTAS&E-MAILS

HOMENAGEM AOENGENHEIRO CALCULISTA

“O vereador Floriano Pesaro (PSDB), sensível às manifestações da sociedade, homenageou o engenheiro João Birman, projetista estrutural, que viabilizou os grandes edifícios da cidade de São Paulo nas décadas de 1930 a 1980 (vide matéria na edição 609-2012, página 37, da RE-VISTA ENGENHARIA). Com o apoio de todos os vereadores, foi referendado pelo prefeito Fernando Haddad, que através de lei denomina ‘Viaduto Engenheiro João Birman’ a obra de arte pública que inicia na pista local da Avenida Santos Dumont, continuação da Avenida Tiradentes, e ter-mina na pista expressa da Marginal do Rio Tietê, em sentido Rodovia Ayrton Senna. Este reconhecimento como personalidade e pelo conjunto de sua obra é motivo de orgulho para todos nós engenheiros, pelo que cumprimentamos e agradecemos ao vereador Floriano Pesaro, à Câmara Mu-nicipal e ao prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad.”Alfredo Eugenio Birman,filho do engenheiro João Birman, Conselheiro do Instituto de Engenharia São Paulo - SP

SURPRESAS GEOLÓGICASNAS OBRAS

“Durante os últimos anos estamos presenciando casos de acidentes e de au-mentos de custos de obras de infraestru-tura – barragens, túneis, estradas e canais, dentre outras – decorrentes, segundo justificativas amplamente divulgadas, de ‘surpresas geológicas’ encontradas duran-te a execução destas obras.

Não posso concordar com tais afirma-ções e, não só eu, também todo o meio técnico profissional que atua em geologia de engenharia e geotecnia.

O Brasil detém experiência relevante na elaboração de estudos geológicos para o projeto de obras de engenharia e para o acompanhamento técnico de sua constru-ção. No primeiro caso (estudos para cada fase de projeto) somos profundos conhe-cedores das técnicas e das metodologias de investigação e de caracterização de nossos solos e rochas que, submetidos ao clima tropical e chuvoso, apresentam-se com particularidades e diferenças signifi-cativas em relação aos maciços rochosos dos países desenvolvidos, onde predomi-nam o clima frio e pouco chuvoso, menos agressivos na decomposição e fragilidade

das rochas. No acompanhamento técnico da construção de uma obra temos de-senvolvido formas e procedimentos que permitem comparar o projetado com as condições reais encontradas no campo, procedendo aos devidos ajustes de proje-to no que for necessário, com mínimo de impacto na segurança e nos custos. Mas, para êxito nesta etapa, é necessário que a fase precedente de estudos e de projeto tenha sido feita com os devidos critérios técnicos e investimentos necessários.

Em todas as obras civis e de mineração há, sem dúvida, incertezas geológicas que apenas na execução da obra poderão ser mais bem identificadas. Empreendimentos conduzidos com seriedade e compromis-sos técnicos e éticos permitem provisionar reservas financeiras para cobertura das in-certezas geológicas. O bom gerenciamen-to exige que se definam o papel do em-preendedor, do financiador, da projetista, do empreiteiro, do fiscalizador técnico, do auditor das licitações, enfim, de todos os envolvidos. Não é aceitável que as incer-tezas geológicas sejam justificativas para a perda da qualidade técnica dos projetos e de aumento descabido de preços. Se a natureza é adversa ao projeto, se as con-dições geológicas assim o exigirem, mais investigações devem ser realizadas, mais alternativas criativas de projeto devem ser propostas, mais consultores de alto nível devem ser partícipes.

A indústria naval e aeroespacial avança em decorrência da sabedoria em avaliar os erros cometidos em acidentes. Os escorre-gamentos ocorridos na Serra Fluminense permitiram a elaboração e colocação em prática de uma moderna legislação de pre-venção de riscos e defesa civil, no caso a Lei Federal 12.608. A catástrofe recente em Santa Maria (RS) irá permitir, sem dú-vida, avanços no projeto, na legislação e na fiscalização de casas noturnas. Em nosso caso, algo precisa ser feito. Enquanto isto não acontecer o meio técnico e as entida-des técnicas e científicas precisam estar atentas e denunciar o uso indevido das ‘in-certezas e surpresas geológicas’ como jus-tificativas para o descalabro em projetos e em obras de infraestrutura em nosso país.”João Jerônimo Monticeli Geólogo e MSc em Geotecnia pela USP Presidente da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e AmbientalSão Paulo - SP

O REAL VALOR DO BIM“O tema BIM entrou na moda. Todos

querem fazer BIM, clientes pedem BIM,

mas, infelizmente, BIM não é um produto, uma tecnologia, uma caixinha que se com-pra e que se passa a usar de um dia para o outro. O mercado de engenharia consultiva, que passou anos sem investir em tecnolo-gia, sem se preocupar com seu processo, enxerga esta vontade de usar BIM e sua consequente dificuldade como uma analo-gia perfeita a uma criança que está ainda engatinhando e quer sair correndo.

O conceito de BIM mais importante não é o tecnológico, mas é o que está vinculado ao processo, e aí está a maior dificuldade que as empresas estão enfrentando. Para dar certo e não se desperdiçar dinheiro os diretores deveriam entender o BIM, criar uma estratégia de produção e de produto com base no que ele pode oferecer, discu-tir como serão os contratos, acompanhar os primeiros projetos bem de perto para corri-gir e entender as ‘sombras’ que a tecnologia acaba iluminando.

No atual processo de produção, sequen-cial, linear, bidimensional e não integrado, os problemas e as incompatibilidades aca-bam sendo resolvidos em fases mais adian-tadas do projeto ou, até mesmo, durante a obra. Estamos acostumados com isto. Faze-mos isto desde sempre, é o ‘natural’. Nossos contratos, nossa relação comercial, o mer-cado, tudo funciona dentro desta lógica. É fácil de entender que essas características acarretam em um aumento de custo ao em-preendimento, pois projetos e obras preci-sam ser refeitos, sem contar os atrasos.

A tecnologia de modelagem em BIM permite um processo de produção inte-grado, tridimensional e simultâneo, com recursos que apoiam a detecção de muito dos problemas e incompatibilidades, com ferramentas de simulação e outras tecnolo-gias que praticamente emulam de maneira virtual o edifício que será erguido. Além das disciplinas técnicas, que vão determinar como será o empreendimento, entram todas as questões relativas ao processo constru-tivo, planejamento, custo e logística com cada item, agregando mais complexidade ao modelo e à sua construção.

Comprar uma ferramenta de projeto com capacidade de BIM e continuar com o processo de produção sequencial, linear, bi-dimensional e não integrado é desperdiçar dinheiro. Achar que a compra de software e cursos padrões vão colocar a empresa no patamar de BIM é ilusão. Ter um projeto feito em 3D para mostrar como vitrine di-zendo que faz BIM é propaganda enganosa.

Conversando com diretores de empresas de engenharia consultiva há uma pergunta recorrente – fazer em BIM custa mais caro? Normalmente esta pergunta vem porque há

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PALAVRA DO LEITORCARTAS&E-MAILS

Comentários sobre o conteúdo editorial da REVISTA ENGENHARIA, sugestões e críticas devem ser enca-minhadas para a redação: Rua Alice de Castro, 47 – CEP 04015 040 – São Paulo – SP – Fax (11) 5575 8804 ou 5575 1069 – ou por E-mail: [email protected]

Como contatar a REVISTA ENGENHARIAAs cartas à redação devem trazer o nome, ende-reço e número da cédula de identidade do lei-tor, mesmo aquelas enviadas pela internet. Por questões de espaço e clareza a revista reserva-se o direito de resumir as cartas.

o entendimento que o BIM se resume em comprar um software, talvez umas má-quinas e treinar a equipe. Sabem que vão precisar comprar, não sabem bem porque, querem saber se é argumento para repassar custos ou garantir que não haverá aumento.

Esse texto tem o objetivo de esclare-cer que o BIM é uma oportunidade para empreender. Em todo empreendimento há custos, mas o valor agregado da engenharia consultiva vai aumentar exponencialmente dentro da cadeia produtiva. Entendo que o empresário que entender isso vai largar na frente e as grandes empresas de engenha-ria consultiva do século 21 começarão a ser forjadas com base nesta nova tecnologia.”Marcus GranadeiroPresidente da Construtivo.comSão Paulo - SP

TÚNEL SANTOS-GUARUJÁ: UM TRIBUTO AO FUTURO

“O Brasil começa a vencer em 2014 um desafio de oito décadas: a construção de um túnel unindo Santos ao Guarujá – as duas mais importantes cidades do litoral paulista. Tão importante quanto o projeto em si é a alternativa técnica escolhida. A Dersa (De-senvolvimento Rodoviário S.A.) e o governo estadual tiveram o descortino de escolher a alternativa mais adequada do ponto de vis-ta tecnológico. Optou-se pela construção de um túnel imerso, com blocos colocados em sequência sob o fundo do mar, em área próxima ao canal do porto. Exaustivamen-te utilizada em países como Holanda – que conta hoje com mais de 80 túneis imersos – e diversos outros países desenvolvidos, a técnica é a resposta mais eficaz ao desafio representado pela travessia do canal. No projeto em estudo estão previstas três fai-xas de tráfego em cada sentido, mais área para Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e gale-ria isolada para pedestres e ciclistas – estes, inclusive, terão um trecho ainda mais facili-tado, com 22 metros de escadas rolantes e 1 000 metros de caminhada. É uma solução completa e a que produz menos impactos na região durante a sua construção. A solução convencional em ponte, ao contrário, na al-ternativa já projetada, contava com apenas duas faixas de rolamento em cada sentido.

O túnel Santos-Guarujá terá apenas 1 800 metros – dos quais apenas 700 me-tros sob o fundo do canal. É um trecho curto, integrado por transporte coletivo de qualidade, acesso livre, fácil e rápido a pedestres e ciclistas. Durante a constru-ção e instalação do túnel o Porto de San-tos terá as atividades interrompidas por

apenas cinco dias, em datas alternadas.Se o túnel imerso é importante para o

livre trânsito de pessoas e veículos, ele será decisivo para a atividade econômica. Ao contrário da alternativa ponte, que coloca-ria um limite máximo à altura dos navios, o túnel imerso não vai oferecer qualquer bar-reira à futura atividade portuária.

O Porto de Santos, o maior da América Latina, vai dobrar de capacidade até o fi-nal deste ano, passando a movimentar até 8 milhões de contêineres por ano. É vital para a atividade portuária que seja preservada a possibilidade de receber navios de todos os calados e alturas.

Um túnel imerso não irá atrapalhar essa movimentação. Uma ponte, mesmo com 85 metros de altura de seu tabuleiro em relação ao nível do mar, no ponto mais alto, vai produzir consequências graves. Grandes embarcações, algumas com mais de 100 metros de altura, e plataformas sub-marinas utilizadas no pré-sal, não poderão passar sob essa ponte, causando restrições ao tráfego e eventuais perdas de receitas de milhões de dólares.

Quanto aos custos de manutenção, as estruturas subterrâneas demandam investi-mentos substancialmente menores do que pontes e viadutos. Estudos feitos por ope-radores de metrôs demonstraram que as es-truturas elevadas demandam 70% mais ma-nutenção do que as estruturas enterradas, já que estas estruturas estão muito mais sujeitas às variações climáticas e químicas. E isso é especialmente amplificado nas regi-ões próximas ao mar, que apresentam altos teores de cloretos. Se todos esses argumen-tos ainda não forem suficientes para pender a balança em prol da alternativa do túnel imerso, há o argumento urbanístico. Para chegar à altura de 85 metros acima do ní-vel do mar, uma ponte teria que contar com longas estruturas de acesso dos dois lados do mar, criando em consequência dois mi-nhocões – um em Santos, outro em Vicente de Carvalho – que causariam forte impac-to na paisagem urbana. Sem falar no longo trajeto a ser percorrido dentro das duas ci-dades para chegar ao início das rampas (ele-vados) de subida na ponte. Como se sabe, os elevados urbanos com essas características representam soluções do passado, felizmen-te abandonadas hoje pelos gestores públicos

em todo o mundo, que estão implodindo os seus minhocões. Exemplo mais recente no Brasil é a substituição do elevado da Ave-nida Perimetral, que por décadas degradou a região da Praça Mauá, no Rio de Janei-ro, por um túnel e os estudos da prefeitura paulistana para substituir o Elevado Costa e Silva por um túnel e recuperar a paisagem urbana naquela região da cidade.

O Comitê Brasileiro de Túneis (CBT), que tenho a honra de presidir, não faz a defesa desse projeto em decorrência de um eventual viés corporativo ou profissional. Somos um Comitê técnico integrado à As-sociação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), entidade civil sem fins lucrativos, com 60 anos de serviços prestados ao país.

Trata-se, no caso do túnel imerso, de uma tecnologia que não é dominada por empresas e profissionais brasileiros, nem por associados ou coligados ao CBT. Ou seja, o projeto será seguramente liderado por em-presas e profissionais de outros países – mas, segundo as diretrizes da Dersa, obrigará a transferência e a fixação dessa tecnologia. E isso, para nós, é um motivo a mais para apoiarmos a iniciativa, uma vez que iremos agregar tecnologia de última geração e uti-lizá-la, quem sabe, em outros projetos se-melhantes em favor da sociedade brasileira.

Para nós, o túnel imerso Santos-Guaru-já é um tributo ao futuro, uma obra que será construída, utilizada e valorizada pelas gerações futuras, unindo-se a tantas ou-tras obras de engenharia de fundamental importância, como pontes e túneis escava-dos, cada um em seu ponto ideal de ade-quabilidade. Neste caso o túnel submerso se mostra como a solução perfeita. O projeto abre novos horizontes para a engenharia construtiva brasileira e representa a solução mais eficaz para integrar as duas principais cidades litorâneas do Estado de São Paulo.”Hugo Cássio RochaPresidente do Comitê Brasileiro de Túneis da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS)São Paulo - SP

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PALAVRA DO LEITOR

TraTamenTo dos esgoTosnão domésTicos

José Eduardo CavalCanti*

s assim denominados “esgotos não domésticos”, ou ENDs, são todas as águas residuais lançadas direta ou indiretamente no sistema público de esgotos, exceto os esgotos sanitários, podendo

incluir águas pluviais contaminadas, despejos industriais, gorduras, lodos de fossas sépticas e chorume de aterros sa-nitários ou lixões.

O lançamento no sistema público de esgotos pode ser feito diretamente na rede coletora conjuntamente ou em se-parado com os esgotos sanitários ou, na ausência desta, por meio de transporte rodoviário que neste caso conduz os de-jetos até os locais previamente selecionados pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), usualmente uma estação elevatória de rede ou das próprias estações de tratamento de esgotos (ETEs).

A opção por transporte rodoviário é normalmente feita por geradores industriais que não dispõem de rede pública de esgotos próxima às suas instalações fabris e é direcio-nada a uma ETE em ciclo completo ou ainda por outras fontes estacionárias que optaram por não terem sistema próprio de tratamento de efluentes decidindo-se, portanto, pela utilização de sistema público, desde que, naturalmente, atendendo aos padrões legais de lançamento (Art. 19 A do Decreto 8.460/76).

Nessa linha, emerge também o chorume oriundo dos aterros de lixo localizados muito distantes dos equipamen-tos públicos de coleta de esgotos sanitários, os quais são transportados às ETEs da Sabesp, praticamente “in natura” e apenas parcialmente equalizados.

Nestas condições, o principal local de descarte dos ENDs na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é a elevatória do Piqueri para onde convergem diariamente cerca de 170 caminhões-tanques ou carretas-tanques só com chorume. Localizada na Avenida Marginal, à margem esquerda do Rio Tietê, junto à alça de acesso ao Viaduto do Piqueri, esta estação elevatória (EE Piqueri) recebe continuamente par-tidas destes esgotos não domésticos, incluindo o chorume, direcionando-os, por meio de recalque, ao interceptor que encaminha todos os esgotos da bacia até a ETE Barueri.

O

O chorume como um dos principais ENDsA RMSP, formada por 39 municípios com seus 19,7 mi-

lhões de habitantes, dos quais 11 milhões moram na capital, é responsável pela produção estimada de 16 233 toneladas por dia ou quase 6 milhões de toneladas por ano de resíduos sóli-dos domiciliares, sendo o município de São Paulo responsável pela geração de mais de 62,5% desses resíduos (Besen, 2011).

Segundo a Abrelpe (2009), na RMSP operam oito aterros sanitários privados que recebem cerca de 13 500 toneladas por dia de lixo. A totalidade dos resíduos urbanos do municí-pio de São Paulo é encaminhada para dois aterros privados, o Centro de Disposição de Resíduos (CDR) Pedreira (Estre Ambiental), localizado no município de São Paulo, e a Central de Tratamento de Resíduos (CTR) Caieiras (Essencis), situada no município de Caieiras. Outros aterros recebem resíduos sólidos domiciliares dos demais municípios da RMSP.

Entretanto, a quase totalidade destes aterros sanitários não dispõe de estação de tratamento de chorume própria, razão pela qual são obrigados a usufruir dos serviços da Sa-besp objetivando tratamento compartilhado com os esgotos sanitários.

Tal procedimento foi inclusive objeto de um “Termo de Cooperação Técnica entre a Prefeitura do Município de São Paulo e a Sabesp”, que estabelece as condições referentes ao recebimento do chorume gerado nos aterros municipais nas estações de tratamento da RMSP e a disposição final dos lo-dos destas ETEs integrantes do Sistema Principal da Sabesp (e eventualmente daqueles gerados nas ETEs dos Sistemas Isolados da RMSP).

Com vistas à remuneração dos serviços prestados, a Sa-besp cobra uma tarifa mensal específica para os ENDs, cal-culada pelo produto da vazão mensal multiplicada pela tarifa básica da Sabesp e por um fator de complexidade variável em função da natureza química do chorume. Valores típicos para chorume situam-se ao redor de 23 reais/m³, fora o transpor-te. Há, no entanto, um encontro de contas com a prefeitura paulistana decorrente da prestação de serviços representada pelo aterramento do lodo das ETEs.

Todas as estações de tratamento que integram o sistema principal de esgotos da RMSP recebem, pois, o chorume para tratamento conjunto. De janeiro à novembro de 2009 foram recebidos cerca de 2 milhões de metros cúbicos de chorume, sendo 80% destinados à ETE Barueri.

Para lá afluem os lixiviados provenientes dos aterros ope-rados e contratados pela PMSP: São João, Essencis Caiei-ras, CDR Pedreira, Bandeirantes, Santo Amaro, Vila Albertina além de outros 20 cadastrados. Destes, estão desativados os três últimos, localizados no município de São Paulo, mas que ainda geram chorume.

Levantamentos realizados na Estação Elevatória de Esgo-tos do Piqueri, posto preferencial de recebimento de chorume com destino a Barueri, indicam recebimento de um volume médio diário de 4 700 metros cúbicos com base em pesquisa realizada ao longo do ano de 2009, mas com enorme variação de vazões em função da influência do ciclo hidrológico sobre a própria operação dos aterros sanitários variando em cerca de 50% médios, de um mínimo em setembro a um máximo em fevereiro.

O montante da carga orgânica carbonácea (DBO) e ni-trogenada (N-NH3) lançada no subsistema Barueri atinge

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7 700 e 7 000 kg/dia, respectivamente (Bocchiglieri, 2010). A carga orgânica carbonácea devida ao total de chorume lan-çado corresponde a uma população equivalente de 143 000 habitantes.

As cargas orgânicas em DBO e N-NH3, principais parâme-tros indicadores do potencial poluidor de chorume de aterros, foram assumidas considerando-se as concentrações médias de 1 700 mg/L e 1 500 mg/L, respectivamente, embora estes valores variem muito em função da idade do aterro, seu regi-me hidrológico e época do ano.

Embora as cargas orgânicas geradas sejam tipicamente similares ao longo do ano, é esperado que as concentrações de DBO e N-NH3 sejam menores no chorume gerado nos meses mais úmidos (dezembro a maio) e maiores nos meses de inverno ( junho a novembro).

Métodos de tratamento do chorume1) Características do chorume - A produção de chorume,

juntamente com os gases, principalmente metano, é decor-rente do efeito da degradação biológica do lixo depositado no aterro a partir de reações que ocorrem em meios aeróbios e principalmente anaeróbios.

A quantidade e as características físico-químicas e bio-lógicas destes lixiviados variam de aterro para aterro e de-pende de uma série de fatores, destacando-se a precipitação pluviométrica, a composição do lixo, condições topográficas, características do solo, infiltração, evapotranspiração, imper-meabilização, recirculação dos lixiviados, bem como a idade do aterro.

Se notabilizam principalmente por conterem elevadas cargas orgânicas carbonácea e nitrogenada (principalmente nos oriundos de aterros com disposição mais recente de lixo), alta salinidade e metais pesados com graus de solubilidade variáveis em função do pH.

2) Processos de tratamento - O tratamento de chorume é normalmente feito por meios biológicos, antecedidos ou não por tratamentos físico-químicos.

Para propiciar a depuração via biológica é necessária re-moção prévia de nitrogênio amoniacal, que na concentração em que ocorre no chorume é muito tóxico para a biota. Esta remoção pode ser realizada por via química ou via biológica anóxica. Neste último caso pode ser imprescindivel uma fon-te adicional externa de carbono, desnecessária, contudo, se o tratamento do chorume for feito em conjunto com esgotos sanitários.

O tratamento do chorume misturado aos esgotos sani-tários é vantajoso sob dois aspectos – ambos relacionados ao nitrogênio amoniacal: primeiro porque com a diluição e a mistura resultantes reduz-se o efeito tóxico causado por esta forma de nitrogênio que impede inclusive a degrada-ção via biológica da matéria carbonácea; e, em segundo, tal procedimento fornece a necessária fonte de carbono para a depuração biológica da amônia. Adicionalmente, reduzem-se também os custos unitários operacionais.

Outros métodos de tratamento, porém menos utilizados, são a filtração em membranas de osmose reversa, com o con-centrado evaporado ou revertido de volta ao aterro, ou a evaporação total do chorume.

Os aterros da RMSP, à exceção do Aterro Lara, não dis-põem de sistemas próprios de tratamento de chorume. A

razão disto decorre da complexidade do processo de trata-mento, grau de depuração requerido para lançamento em corpo receptor, dificuldades operacionais e custos envolvidos (CAPEX e OPEX).

Considerações técnicas sobre a capacidade da ETE Barueri em continuar recebendo o chorume dos aterros

A ETE Barueri, maior estação de tratamento de esgotos da América Latina, capacitada a tratar em ciclo completo uma vazão média de 9,5 m³/s (820 800 m³/dia) e uma carga orgânica média de 250v000 kg DBO/dia, reúne teoricamente as condições de propiciar o tratamento de chorume e outros ENDs conjuntamente com os esgotos sanitários coletados.

Considerando-se uma vazão diária média de chorume de 4.700 m³ e uma carga orgânica diária média de 7.700 kg DBO/dia a relação de diluição volumétrica que se obtém é superior a 99% naquela ETE. No que tange à carga orgânica, todavia, esta relação se reduz a 97%.

Entretanto, com relação a N-NH3, considerando-se um aporte diário de 7 000 kg N-NH3 devido apenas ao chorume lançado no Piqueri, a relação obtida é de preocupantes 26% em relação à carga total diária de N-NH3 afluente à ETE Barueri (27 000 kg/dia ou o equivalente a 33 mg/L). Aliás, a concentração de nitrogênio amoniacal nos esgotos afluentes à ETE Barueri é aproximadamente o dobro das outras ETEs do sistema principal da RMSP.

Embora não haja obrigatoriedade legal na remoção do N-NH3 do efluente de ETEs que tratam esgotos sanitários por força da Resolução Conama Nº 397/2008, que poster-gou a fixação deste parâmetro estabelecido originariamente em 20 mg/L pelo Conama 357/2005, no efluente tratado o nitrogênio amoniacal pode interferir no funcionamento das ETEs, pois requer maior disponibilidade de oxigênio, aumen-ta a produção de lodo e pode afetar a qualidade do efluente final por excesso de turbidez ocasionada por denitrificação no decantador secundário.

A ETE Barueri, implantada na década de 1980, não previu denitrificação em seu processo de tratamento, estando, pois, sujeita a estes fenômenos, principalmente com o incremento de grandes quantidades de chorume. Ademais, encontra-se atualmente sobrecarregada pelo aumento das vazões afluen-tes, próximas a 11 m³/s atualmente, onerando hidraulicamen-te e sobrecarregando tanto a sua fase líquida como a sólida, necessitando de urgente ampliação, pois o excedente da sua vazão afluente já está sofrendo “by pass”, consequentemen-te, não recebendo nenhum tratamento.

Enquanto perdurar esta situação e para que seja restau-rada a conformidade ambiental, pelo menos parte dos ENDs – especialmente chorume, encaminhada atualmente por transporte rodoviário à ETE Barueri, via Piqueri – deveria ser desviada para outras ETEs mesmo as situadas fora da RMSP.

Em qualquer dos casos, deve-se verificar previamente a ca-pacidade de suporte das estações de tratamento no recebimen-to do chorume, cuidando-se da proteção dos sistemas biológi-cos (aeróbios e anaeróbios) e o atendimento à legislação.

* José Eduardo Cavalcanti é presidente do Grupo Ambiental, membro do Conselho Superior de Meio Ambiente da Fiesp e associado do Instituto de EngenhariaE-mail: [email protected]

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PALAVRA DO LEITOR

reFinarias: inVesTimenToesTraTégico Para o PaÍs

antonio MÜllEr* e GuilHErME PirEs dE MEllo**

Brasil precisa ampliar suas instalações para refino de petróleo – e o setor de engenharia industrial está pronto para participar dos novos projetos.

Os números recentes sobre o aumento da impor-tação pelo Brasil de petróleo e derivados, com graves prejuízos para a balança comercial do país, reforçam a necessidade de medidas urgentes, de forma a garantir o abastecimento inter-no. A demanda crescente por combustíveis verificada nos últi-mos anos e as expectativas futuras de crescimento econômico do país indicam que esse descompasso só tende a agravar-se.

Nesse cenário, a ampliação do parque de refino brasileiro constitui investimento estratégico e inadiável. O país precisa dominar todo o processo industrial do petróleo para não ficar sujeito às flutuações do mercado mundial e refém da disponi-bilidade dessas instalações em outros países.

Atualmente, dois projetos de construção de refinarias estão em andamento: a Refinaria Abreu Lima (Rnest), em Pernam-buco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no Rio de Janeiro. Com o início das operações da Refinaria Abreu Lima, entre novembro de 2014 e maio de 2015, e da pri-meira fase do Comperj, previsto para ocorrer em abril de 2015, a capacidade de refino da Petrobras deve ser elevada para cer-ca de 2,4 milhões de barris diários. O aumento na produção deve aliviar as pressões da demanda, porém, no médio prazo é insuficiente para acompanhar a expansão do consumo brasi-leiro de derivados, estimado entre 3,2 e 3,4 milhões em 2020.

Além da segunda fase do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, estão previstas para os próximos anos a construção das refinarias Premium I (Maranhão) e Premium II (Ceará). No momento, esses projetos estão em fase de avaliação pela Pe-trobras, que busca ainda parceiros internacionais para viabili-zar os empreendimentos, essenciais para a ampliação da oferta interna de derivados do petróleo.

A engenharia industrial brasileira possui grande know-how em projetos downstream e vem participando da expansão re-cente do parque de refino nacional, inclusive nos projetos de modernização das refinarias voltados à produção de diesel e gasolina com menores teores de enxofre. Com toda a expe-riência acumulada ao longo de décadas, o setor se vê pronto para participar nesses investimentos, contribuindo ainda mais para que o Brasil possa consolidar sua posição no mercado internacional de petróleo.

As empresas brasileiras estão trabalhando em todas as fren-tes para chegar aos mesmos padrões de qualidade e competiti-vidade da engenharia internacional. Nos últimos anos, em con-junto com a Petrobras, as companhias do setor modernizaram seus procedimentos, investiram na capacitação os profissio-nais, com treinamento e reciclagem de engenheiros e também formação de trabalhadores especializados em montagens in-dustriais. No momento, a Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) desenvolve um ambicioso programa para formação e certificação de trabalhadores, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e baseado na metodologia do NCCER (National Center for Construction

Education and Research), organização de acreditação de mão de obra mantida pela cadeia de óleo e gás dos Estados Unidos.

Além disso, a engenharia brasileira incorporou novas fer-ramentas de modelagem, com sistemas integrados, que per-mitem o desenvolvimento de projetos em quatro dimensões: as três dimensões do projeto físico, mais os dados de plane-jamento, o que propicia uma avaliação, em escala “real”, dos custos de cada solução. Essa integração entre projeto, canteiro de obras e fornecedores de componentes permite cruzar infor-mações de dezenas de milhares de documentos, resultando em maior precisão nos cálculos de custos e prazos da construção. No momento, o setor já começa a trabalhar também com a variável de utilização e manutenção do futuro empreendimen-to. Desta forma é possível calcular o custo global do projeto, incluindo a operação e manutenções ao longo de sua vida útil.

Enfim, o setor de engenharia industrial tem competência e quer participar dos projetos de extração e beneficiamento do petróleo desde a sua concepção básica, quando são definidas as estratégias e tecnologias adotadas. Somente essa integração de informações permitirá a construção de plataformas, dutos e refinarias de forma mais rápida, eficiente e econômica, de forma a garantir seu alinhamento com os padrões mundiais.

* Antonio Müller é engenheiro e presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi)** Guilherme Pires de Mello é engenheiro e diretor de Petróleo e Gás da Abemi

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os desaFios do PLaneJamenTode inFraesTrUTUra e a soLUÇãoPor meio da TecnoLogia

daniEl QuEiroZ*

s chamados grandes eventos (Copa e Olímpiadas) au-mentaram o foco sobre a questão da infraestrutura no Brasil. O Brasil está sendo desafiado a mostrar que pode executar grandes projetos.

Com este cenário o governo federal anunciou em agosto do ano passado o Programa de Investimentos em Logística, focado em diminuir eventuais gargalos de infraestrura. Mas, para executar um plano com tanta complexidade, ainda temos que pensar em alguns desafios.

Devemos levar em consideração que projetos de infraestrutura são grandes, complexos e geralmente envolvem várias empresas. Então o desafio aqui é como todos esses profissionais de diferentes disciplinas podem trabalhar em colaboração.

Quando a colaboração e comunicação não acontecem de ma-neira efetiva, temos excesso de mudanças no projeto durante a construção. Isso impacta em custos, prazo, e consequentemente gera prejuízo para as companhias envolvidas. Isso sem contar as restrições ambientais cada vez mais severas e como mitigar o im-pacto de grandes obras no meio ambiente.

Então, a melhor forma de minimizar eventuais problemas é re-pensar a forma de comunicação entre todas as empresas envolvidas na obra. Geralmente quando pensamos em como as companhias de engenharia informam seus projetos, pensamos no CAD tradicional. Engenheiros e projetistas compartilham suas plantas o tempo todo

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para seu time interno ou para outros participantes do projeto. Mas essa forma traz algumas limitações já que a função primordial do CAD é a de produzir desenhos, e desenhos não tem conexão uns com os outros. Isso acaba dificultando o projeto na sua fase final, uma vez que fica extremamente dificil coordenar todas as informa-ções (estruturas, redes de tubulações, instalações etc.).

Por conta disso, um novo conceito vem sendo aplicado há cerca de uma década, o BIM (Building Information Modeling).

Ao contrário do que muita gente pensa, BIM não é um software. Trata-se de uma metodologia baseada no uso de modelos 3D para construção. Ou seja, ao invés de apenas criar desenhos que repre-sentam o que queremos construir, podemos criar vários modelos 3D e integrar todas as informações em um ambiente multidiscipli-nar. Na prática, recriamos o projeto virtualmente, mas com uma vizualiza-ção fotorealística, o que automaticamente nos dará mais clareza, agilidade e continuidade no projeto.

Além de poder ofere-cer ao contratante da obra detalhes mais precisos quanto ao custo e prazo, pode-se esclarecer para autoridades e população o andamento da constru-ção, já que qualquer alte-ração no projeto pode ser sincronizada por meio de colaboração e o modelo da obra pode ser dispo-nibilizado para todos os envolvidos.

Outra vantagem é a possibilidade de simu-lar aspectos essenciais do projeto. Por exemplo, no caso de uma rodovia, pode-se simular o se-quenciamento construti-vo da mesma. Ou calcular o custo de terraplanagem de determinado empreen-dimento. No caso de um local sensível a questões ambientais podem-se de-talhar interferências e es-clarecer questionamentos dos órgãos responsáveis e/ou adaptar o projeto an-tes de iniciar a construção.

Não é novidade que a questão de infraestrutura no Brasil é sensível, mas uma forma de amenizar desafios e impulsionar o desenvolvimento de projetos é considerar esses dois aspectos primordiais: planejamento e tecnologia.

* Daniel Queiroz é especialista técnico da Autodesk Brasil, com quase uma década de experiência em projetos de infraestrutura

imPerioso TraZer arQUiTeTos eUrBanisTas Para o deBaTe geoTécnico

Álvaro rodriGuEs dos santos*

s graves e recorrentes problemas de ordem geo-lógico-geotécnica-hidrológica que têm vitimado milhares de brasileiros, como processos de en-chentes, deslizamentos de taludes e encostas, so-

lapamentos de margens de curso d’água e orlas litorâneas, têm tido sua principal origem na incompatibilidade entre as técni-

cas de ocupação urba-na e as características geológicas e geotécni-cas dos terrenos onde são implantadas.

No caso dos desli-zamentos, ou são ocu-pados terrenos que por sua alta instabilidade geológica natural não deveriam nunca ter sido ocupados – é o caso comum das ex-pansões urbanas sobre a Serra do Mar e outras regiões serranas tropi-cais. Ou são ocupadas áreas de até baixo risco natural, perfeitamente passíveis de receber a ocupação urbana, mas com tal inadequação técnica que, mesmo nessas condições na-turais mais favoráveis, são geradas situações de alto risco geotécni-co – é o caso de São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife e tan-tas outras cidades bra-sileiras.

No caso das en-chentes prevalece a cultura técnica da im-permeabilização, das avenidas de fundo de vale com extensiva re-

tificação/canalização de córregos, do espraiamento urbano horizontal, fatores causais básicos dos crescentes volumes de águas pluviais cada vez mais rapidamente aportados ao sobrecarregado sistema de drenagem.

No caso de solapamentos de margens de rios e orlas li-torâneas revela-se a indevida e inconsequente ocupação de locais nitidamente sujeitos a processos naturais cíclicos de alto poder destrutivo.

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PALAVRA DO LEITORO fato é que, ao lado das deficiências crônicas de

nossas políticas habitacionais – o que acaba obrigan-do a população mais pobre a buscar solução própria de moradia em áreas geotecnicamente e hidrologica-mente problemáticas –, não possuímos no país uma cultura técnica arquitetônica e urbanística especial-mente dirigida à ocupação de terrenos de acentuada declividade, à redução dos coeficientes de escoamento hidrológico superficial e a outros atributos naturais críticos. Isso se verifica tanto nas formas espontâneas utilizadas pela própria população de baixa renda na autoconstrução de suas moradias, como também em projetos privados ou públicos de maior porte e perfei-tamente regulares que contam com o suporte técnico de arquitetos e urbanistas. Em ambos os casos, ou seja, no empirismo popular e nos projetos mais elaborados, prevalece infelizmente uma cultura técnica urbanística e arquitetônica em que não se nota a devida preocu-pação com as características geológicas naturais dos terrenos ocupados. Esse tem sido o cacoete técnico que está invariavelmente presente na maciça produção de áreas de risco no país.

Ou seja, em que pese a excelência e indispensa-bilidade dos instrumentos técnicos de boa gestão ur-bana, produzidos pela geologia de engenharia e pela engenharia geotécnica, não serão unilateralmente su-ficientes para a solução dos graves problemas urbanos associados ao meio físico geológico. A complexa es-sência causal desses problemas exige uma abordagem multidisplinar, com papel destacado na participação da arquitetura e do urbanismo. Enfim, é imperativa a necessidade de que a arquitetura e do urbanismo bra-sileiros incorporem em sua teoria e sua prática os cui-dados com as características geológicas dos terrenos afetados. Essa nova cultura automaticamente levaria a uma mais estreita colaboração entre arquitetura, urba-nismo, geologia e engenharia geotécnica.

Seria, assim, por demais oportuno, que nossas as-sociações, nomeadamente a Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (ABGE) e a Asso-ciação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), tomassem a iniciativa de buscar entendimentos com as associações representativas de arquitetos e urbanistas, Instituto de Arquitetos do Bra-sil (IAB) e Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), para a promoção de eventos técnicos comuns, indis-pensáveis para a soma articulada das diferentes abor-dagens.

* Álvaro Rodrigues dos Santos é geólogo, foi diretor de Planejamento e Gestão do IPT e diretor da Divisão de Geologia; consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente; criador da técnica Cal-Jet de proteção de solos contra a erosão; diretor-presidente da ARS Geologia Ltda.; autor dos livros Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática; A Grande Barreira da Serra do Mar; Diálogos Geológicos;Cubatão; e Enchentes e Deslizamentos: Causas e SoluçõesE-mail: [email protected]

COMUNICADO IMPORTANTEEVITE RISCOS DESNECESSÁRIOS A responsabilidade objetiva e a solidariedade pelos passivos ambientais nas operações socie-tárias financeiras e comerciais são prescrições ir-renunciáveis na legislação ambiental brasileira.

Nas transações imobiliárias envolvendo aqui-sição e alienação de áreas industriais é funda-mental que se avalie e quantifique previamente a existência de eventuais passivos ambientais, a fim de evitar a responsabilidade da sucessão nas obrigações, que pode acarretar a imposição de sanções administrativas e até mesmo criminais.

A Grupo Ambiental, possuindo um dos mais modernos laboratórios de análises e um corpo técnico altamente qualificado, está capacitada a executar Site Assessment, objetivando a carac-terização e avaliação de passivos.

Laboratório de Análises- Análises de águas super� ciais e subterrâneas- Análises de e� uentes industriais - Testes de tratabilidade

Estudos Ambientais- EIA/RIMA ou RAP- Diagnósticos Ambientais- Avaliação de áreas contaminadas

Projetos de Engenharia Sanitária- Sistema de águas- Sistema de esgotos- Drenagem pluvial

Estação de Tratamento de Efl uentes- Projetos e implantação de sistemas- Reabilitação de unidades existentes- Operação e monitoramento

Resíduos Sólidos- Classi� cação de resíduos- Projetos de aterros especiais- Co-processamento de resíduos em fornos de cimento- Unidade móvel de secagem

Emissões Atmosféricas- Avaliação de qualidade do ar- Medição de chaminés

Av. Sebastião Eugênio de Camargo, 59São Paulo – SP – CEP 05360-010

Tel.: 11 3731 8703 – e-mail: [email protected]

ÁREAS DE ATUAÇÃO

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FRAL CONSULTORIA

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL EM CARAPICUÍBA

A Cava de Carapicuíba será um dos cases apresentados no III Gral – Conferência Internacional de Gestão de Resíduos na América Latina, que acontecerá entre os dias 4 e 6 de setembro no Instituto de Engenharia (IE). Conhecida erroneamente como lagoa de Carapicuíba, a área é, na verdade, uma cava de mineração de areia, que foi inundada pelas águas poluídas do Rio Tietê na década de 1970 e desativada há mais de dez anos. A região transformou-se numa área de descarte de materiais diversos, incluindo esgoto das comunidades vizinhas, restos do lixão anexo e bota-fora de produtos e resíduos, colocando em risco os municípios vizinhos.Desde julho de 2011 o projeto de reinserção urbana e recuperação ambiental da Cava e de seu entorno vem modificando a realidade local, que compreende os 800 000 metros quadrados da região alagada e os mais de 690 000 metros quadrados da área vizinha. Atualmente o projeto está na fase de aterramento com materiais controlados por equipes de supervisão ambiental do projeto. Diariamente trezentas viagens de caminhões-caçamba transportam entre 5 000 e 6 000 metros cúbicos de materiais que, depois de devidamente inspecionados, são depositados no fundo da Cava, por meio de dragas, que enviam os materiais ao leito da área.De acordo com o engenheiro Francisco

de Oliveira, da Fral Consultoria, contratada para a inspeção ambiental e que também atua como operadora do aterramento, o monitoramento de todo material que vai ser depositado na Cava é minuciosamente testado. “A classificação da origem do material é feita em laboratórios que atestam a procedência e a qualidade do que será depositado na área. Precisamos ter certeza de que o material não oferece riscos”, informa.O monitoramento é feito online. Como explica Oliveira, “se o veículo que chega não estiver cadastrado a entrada é proibida. Por causa da inspeção rigorosa há rejeição de 8% a 10% em média, de todos os materiais que chegam”.Esse e outros depoimentos serão objeto de e s tudo s du ran te o encon t ro . A organização da conferência está a cargo da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), organização não governamental, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que congrega empresas prestadoras de serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, e também do IWWG, instituição criada em 2002 para servir de fórum para a comunidade científica e profissional. Os interessados em participar devem realizar inscrição pelo site (www.gral.eng.br).

VEDACIT/OTTO BAUMGART

SEM MANCHASNA PAREDENão há nada mais desagradável do que notar o aparecimento de manchas de infiltração na parede. Para entender melhor o surgimento desse problema, a Vedacit/Otto Baumgart esclarece como identificar e tratar esse mal. A gerente técnica da empresa, Eliene Ventura, alerta que em um primeiro momento é importante investigar as causas e só depois iniciar a correção mais adequada para cada caso. A empresa fornece procedimentos e produtos específicos para cada situação, tais como: trincas nas paredes, juntas de dilatação, calhas e rufos, rodapés manchados, calafetação de caixilhos, tijolos aparentes, paredes sujeitas a batida de chuva, chapisco e reboco. A Vedacit/Otto Baumgart, empresa genuinamente nacional com 77 anos de atuação, é reconhecida como líder de mercado em produtos de alta tecnologia para a construção civil. Mais de 130 itens compõem as linhas de impermeabilizantes e materiais para recuperação de estruturas e aditivos para concreto, desenvolvidos em laboratório próprio.

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DERSA

APROVAÇÃO DANOVA TAMOIOSCom 26 votos a favor, zero contrários e duas abstenções o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) aprovou, em junho, o parecer técnico da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) sobre as propostas de mitigação do impacto ambiental e socioeconômico para a implantação da Nova Tamoios Serra. O próximo passo é a concessão da licença ambiental prévia (LP), necessária para a execução das obras, que serão viabilizadas por meio de parceria público-privada (PPP). A aprovação do Consema atestou a viabilidade socioambiental do empreendimento, permitindo o início do processo de licitação. Os estudos foram coordenados por técnicos da Dersa, equipe que já havia obtido êxito no licenciamento ambiental da duplicação do Trecho de Planalto, em andamento, e implantação dos contornos rodoviários de Caraguatatuba e São Sebastião, cujas obras já foram contratadas. O processo de licenciamento considerou os questionamentos e sugestões apresentados nas audiências públicas, promovidas nas cidades beneficiadas com a obra, bem como a manifestação de órgãos municipais, estaduais e federais.

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SPMAR

TRECHO LESTE COMEÇA A SER ASFALTADOA Concessionária SPMar iniciou em junho o trabalho de asfaltamento do Trecho Leste do Rodoanel Mario Covas, principal ligação entre o Porto de Santos e o Aeroporto de Guarulhos. O Rodoanel Leste terá proporções grandiosas: está prevista a utilização de 220 000 toneladas de asfalto, valor 500 vezes maior do que o empregado na construção do Autódromo de Interlagos. Esse material foi produzido através da brita produzida durante a escavação do túnel Santa Luzia, medida que, tendo em vista o aproveitamento de recursos e a redução do impacto ambiental, evitou a necessidade de uso do chamado bota-fora e , consequentemente, mais de 17 000 viagens de caminhão entre os municípios. Nos 11 quilômetros da rodovia que

CASE CONSTRUCTION

MÁQUINAS DE GRANDE PORTEA Case investe nas máquinas de grande porte e lança a pá carregadeira 1021F, de 24 toneladas. Voltada para as operações na mineração e na construção pesada, a 1021F chegou este ano ao Brasil, sendo a maior da linha de pás carregadeiras Case Construction, que conta com sete modelos. “A máquina possui motor com três curvas de potência e quatro modos

de trabalho, que permite ao operador ajustar o equipamento de acordo com a aplicação, dando maior produtividade e economia de combustível”, destaca o gerente de marketing de produto, Carlos França. A 1021F é equipada ainda com Cooling Box, um módulo de refrigeração com ventilador reversível acionado de dentro da cabine. Segundo França, a peça montada

no Cooling Box, também presente em modelos menores de pás carregadeiras da marca, permite a limpeza de todos os trocadores de calor, mesmo com a máquina trabalhando. Como opcional a 1021F pode vir equipada com o sistema Ride Control, que amortece o movimento do braço da carregadeira no transporte, evitando derramamento de material.

passarão pela região do Grande ABC, em municípios como Ribeirão Pires e Mauá, haverá a utilização de aproximadamente 100 000 toneladas de concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ). A expectativa é que se faça 20 000 toneladas de asfalto por mês.

ENGENHARIA/TECNOLOGIA

INOVAÇÃO PREVINE ATAQUE CARDÍACOUm pesquisador israelense desenvolveu um “relógio” capaz de detectar quando uma pessoa es tá pres tes a sof re r um ataque cardíaco, permitindo que se tomem providências para que ela seja atendida ra p i d a m e n t e . U s a n d o d o i s s e n s o re s óticos em outra ferramenta especial de alta tecnologia o empresário Leo Eisen desenvolveu o dispositivo Oxitone, que chegará ao mercado nos próx imos 18 meses. Esse relógio é sincronizado com o B luetooth , Andro id ou d i spos i t i vos de iPhone, que fazem le i turas minuto a minuto da frequência cardíaca e dos níveis de oxigênio no sangue. Os níveis de ox igênio são um parâmetro cr í t ico no monitoramento da doença pulmonar obstrutiva crônica. “O Oxitone fornece m o n i t o ra m e n t o c o n t í n u o , n o n - s t o p , enquanto a pessoa está andando, comendo, dormindo ou praticando esportes”, explica Eisen. D

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SPMAR

TRECHO LESTE COMEÇA A SER ASFALTADOA Concessionária SPMar iniciou em junho o trabalho de asfaltamento do Trecho Leste do Rodoanel Mario Covas, principal ligação entre o Porto de Santos e o Aeroporto de Guarulhos. O Rodoanel Leste terá proporções grandiosas: está prevista a utilização de 220 000 toneladas de asfalto, valor 500 vezes maior do que o empregado na construção do Autódromo de Interlagos. Esse material foi produzido através da brita produzida durante a escavação do túnel Santa Luzia, medida que, tendo em vista o aproveitamento de recursos e a redução do impacto ambiental, evitou a necessidade de uso do chamado bota-fora e , consequentemente, mais de 17 000 viagens de caminhão entre os municípios. Nos 11 quilômetros da rodovia que

CASE CONSTRUCTION

MÁQUINAS DE GRANDE PORTEA Case investe nas máquinas de grande porte e lança a pá carregadeira 1021F, de 24 toneladas. Voltada para as operações na mineração e na construção pesada, a 1021F chegou este ano ao Brasil, sendo a maior da linha de pás carregadeiras Case Construction, que conta com sete modelos. “A máquina possui motor com três curvas de potência e quatro modos

de trabalho, que permite ao operador ajustar o equipamento de acordo com a aplicação, dando maior produtividade e economia de combustível”, destaca o gerente de marketing de produto, Carlos França. A 1021F é equipada ainda com Cooling Box, um módulo de refrigeração com ventilador reversível acionado de dentro da cabine. Segundo França, a peça montada

no Cooling Box, também presente em modelos menores de pás carregadeiras da marca, permite a limpeza de todos os trocadores de calor, mesmo com a máquina trabalhando. Como opcional a 1021F pode vir equipada com o sistema Ride Control, que amortece o movimento do braço da carregadeira no transporte, evitando derramamento de material.

passarão pela região do Grande ABC, em municípios como Ribeirão Pires e Mauá, haverá a utilização de aproximadamente 100 000 toneladas de concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ). A expectativa é que se faça 20 000 toneladas de asfalto por mês.

ENGENHARIA/TECNOLOGIA

INOVAÇÃO PREVINE ATAQUE CARDÍACOUm pesquisador israelense desenvolveu um “relógio” capaz de detectar quando uma pessoa es tá pres tes a sof re r um ataque cardíaco, permitindo que se tomem providências para que ela seja atendida ra p i d a m e n t e . U s a n d o d o i s s e n s o re s óticos em outra ferramenta especial de alta tecnologia o empresário Leo Eisen desenvolveu o dispositivo Oxitone, que chegará ao mercado nos próx imos 18 meses. Esse relógio é sincronizado com o B luetooth , Andro id ou d i spos i t i vos de iPhone, que fazem le i turas minuto a minuto da frequência cardíaca e dos níveis de oxigênio no sangue. Os níveis de ox igênio são um parâmetro cr í t ico no monitoramento da doença pulmonar obstrutiva crônica. “O Oxitone fornece m o n i t o ra m e n t o c o n t í n u o , n o n - s t o p , enquanto a pessoa está andando, comendo, dormindo ou praticando esportes”, explica Eisen. D

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JOHN DEERE

MERCADO EMERGENTEPor meio de joint-ventures a John Deere dá mais um passo rumo à consolidação de sua divisão de Construção no Brasil: a Tauron Equipamentos, distribuidora da linha de Construção da empresa no sul do país, iniciou suas atividades em maio passado na Cidade Industrial de Curitiba (PR). Com 21 000 metros quadrados de área total, a loja irá comercializar escavadeiras, retroescavadeiras, motoniveladoras, tratores de esteira e pás carregadeiras John Deere, além de escavadeiras Hitachi. A Tauron conta com o apoio do Centro de Distribuição de Peças John Deere, em Campinas (SP), e oferece um portfólio completo de peças para toda a linha da marca. “O Brasil é um mercado que mais cresce no mundo, e a inauguração deste distribuidor para a Região Sul é parte do nosso planejamento. Estamos cada vez mais perto de nossos clientes”, afirma Roberto Marques, gerente da divisão de construção da empresa.

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ATLAS COPCO

ROMPEDORES DE DEMOLIÇÃOA Atlas Copco amplia sua linha de rompedores pesados de demolição para maior performance e redução de custos. Os seus rompedores de carreta são divididos em três classes: HB (Heavy Breaker), MB (Medium) e SB (Solid Body), com diferentes variações de potência, totalizando 40 modelos de rompedores. O HB, por exemplo, varia entre as versões 2000 a 10000 (o número é relativo ao peso de serviço). Já a classe de peso da carreta para comportar essas versões, varia de 22 a 38 toneladas para o HB 2000 e de 85 a 140 toneladas para o HB 10000. Entre algumas das principais versões e aplicações dos modelos de rompedores da Atlas Copco

está, por exemplo, a última geração de rompedores pe sados , que reque r menos esforço hidráulico e trabalho da carreta de transporte, enquanto que o equipamento mantém m á x i m o i m p a c t o n a performance. Fundada em 1873, a Atlas Copco é uma multinacional de origem sueca especializada em produtos e serviços que abrangem desde equipamentos de ar e gás comprimido, geradores, equipamentos

PARKER HANNIFIN

MANGUEIRAS ESPECIAIS PARA ÓLEO E GÁSTradicional provedora de soluções de engenharia de alta performance para o mercado petrolífero, a Parker Hannifin se tornou a fornecedora dos bundles – conjuntos de mangueiras especiais destinadas à conexão dos jumpers hidráulicos – do projeto GLL10 da Petrobras. Em parceria com a FMC Technologies, 107 árvores de natal molhadas verticais, equipamentos preparados para operar no fundo do mar sob altas pressões e temperaturas, estão sendo instaladas na Bacia de Campos, localizada no norte do Estado do Rio de Janeiro. Por meio de sua Divisão Fluid Connectors, a Parker desenvolveu, projetou e passou a

produzir os bundles em sua fábrica em Diadema (SP). Projetadas para operar em profundidades de aproximadamente 2 000 metros da lâmina d’água, o fornecimento dos bundles Parker para as árvores de natal começou no final de 2011. Quando concluídos os equipamentos contribuirão para a exploração de petróleo do pré-sal. Recentemente a Parker foi vencedora de uma nova concorrência para o fornecimento de 242 bundles para as árvores de natal a serem implantadas nos campos de pré-sal. Este novo contrato assinado com a FMC Technologies envolve fornecimentos ao longo de 2013 e 1014.

de construção e mineração, ferramentas industriais e sistemas de montagem, até serviços relacionados, como pós-venda e aluguel.

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NEW HOLLAND

AQUECIMENTO GERA DEMANDA

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CORTE E DOBRAA Gerdau, líder em aços longos nas Américas e uma das principais fornecedoras de aços longos especiais do mundo, realizou recentemente uma pesquisa com mais de 500 técnicos de construção civil no país para detalhar as necessidades do mercado de aço cortado e dobrado. A partir dos resultados, a empresa iniciou a implantação de melhorias na gestão de suas 39 unidades de corte e dobra de aço no Brasil, e pretende levar o conjunto de práticas para as outras 70 unidades de corte e dobra de aço que possui no exterior. Entre as práticas que estão sendo implantadas

SINAENCO

DE OLHO NO FUTUROPara estimular o surgimento de novas ideias e discutir o futuro das grandes cidades, o Sindicato Nacional de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco), que está completando 25 anos, lançou em maio passado um website que permite que a população envie sugestões para melhorar a vida nas grandes metrópoles. Além do concurso de ideais a campanha também envolve a realização de 13 eventos regionais. A proposta é discutir como estarão estas metrópoles em 2038. “Vinte e cinco anos passam muito depressa, mas a transformação das cidades é muito intensa. Por isso vamos promover esse debate em cada uma dessas cidades, para provocar nossos engenheiros, arquitetos, urbanistas e a sociedade a pensar agora a cidade que queremos em 2038”, ressalta o presidente do órgão, João Alberto Viol. O ciclo de eventos teve início em Belo Horizonte (MG) em maio passado, depois Vitória (ES) em junho. E prosseguirá com Porto Alegre (RS) e João Pessoa (PB), em julho; Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ), em agosto; Goiânia (GO) e Fortaleza (CE), em setembro; Brasília, Recife (PE) e Salvador (BA), em outubro; e Florianópolis e São Paulo, em novembro. Para participar do concurso basta acessar o site (www.olhonofuturo.org.br).

nas unidades do Brasil estão adoção de entregas e o reforço na qualificação das equipes de vendas e de atendimento técnico às construtoras. A previsão é que todas as unidades do Brasil estejam capacitadas no novo modelo até 2015. O sistema de aço cortado e dobrado possibilita entregar o produto em quantidade, formato e tamanhos necessários para a obra, de acordo com cada projeto. Junto com os produtos prontos para aplicação, como colunas, telas e treliças, o sistema corte e dobra proporciona reduções de até 15% no gasto com produtos de aço.

do Pará. A abertura da concessionária em Marituba faz parte do plano de expansão que contemplou também a inauguração de uma filial em São Luís (MA), um dia antes. “De forma competitiva, vamos construir um

Apostando no aquecimento do mercado, a fabricante de equipamentos de construção New Holland investe no Pará, com inauguração, em maio passado, da sua nova concessionária na região – a Bamaq. “Vivenciamos um crescimento contínuo do mercado de máquinas no Brasil, e o Norte é uma região potencial para investimentos no segmento de construções”, declara Marco Borba, diretor comercial e de marketing da New Holland Construction para a América Latina, referindo-se a hidrelétricas, ferrovias, portos e estradas. “A New Holland e a Bamaq estão preparadas para participar deste importante momento”, considera Borba. A nova unidade está localizada em Marituba, no km 13 da rodovia BR-316, Decouville, e irá centralizar a demanda do mercado de construções do estado

relacionamento sólido e de confiança com o mercado do Maranhão”, comemora, por sua vez, Maximino Rodrigues, diretor da Bamaq. O plano de expansão já contemplou outros estados como Amazonas, Ceará e Bahia.

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COLETIVO III Acima de 100 funcionários 08 representantes

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Nome:

Formação: Instituição:

Ano de Conclusão: Registro CREA:

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Correspondência.: Endereço residencial n Endereço comercial n

Desejando fazer parte do Instituto de Engenharia, na qualidade do associado, peço a inclusão do meu nome no respectivo quadro social

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divisão de estruturascoordenador: Natan Jacobsohn Levental vice-coordenador: Lúcio Martins Laginha

secretário: Rafael Timerman

divisão de engenharia sanitária e recursos hídricoscoordenador: João Jorge da Costa

vice-coordenador: Flávio Magalhães

divisão de geotecnia e mecânica dos soloscoordenador: Habib Georges Jarrouge Neto

divisão de segurança no trabalhocoordenador: Jefferson Deodoro Teixeira da Costa

vice-coordenador: Theophilo Darcio Guimarães

divisão de geração e transmissãocoordenador: Sergio Anauate

divisão de construção sustentável e meio ambiente

divisão de cadastro urbano e rural coordenador: Régis Fernandes Bueno

divisão de distribuição de energiacoordenador: Alessio Bento Borelli

departamento de tecnologia e ciências exatasdiretor: Ricardo Kenzo Motomatsuvice-diretor: Jairo de Almeida Machado Jr.secretário: Sérgio Franco Rossoni

divisão téc. de gerenciamento de empreendimentoscoordenador: Gerson Amaral Françosovice-coordenador: Fabiano Sanninosecretário: Túlio Rossetti Fernandes Miranda

departamento de engenharia de produçãodiretor: Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto

vice-diretor: Miguel Tadeu Campos Moratasecretário: Alexandre Rigonatti

divisão técnica de qualidade e produtividadecoordenador: Guilherme Miragaia

divisão técnica de avaliações e períciascoordenador: José Fikervice-coordenador: Eduardo Rottmansecretária: José Marques

departamento de engenharia de energia e telecomunicaçõesdiretor: Miracyr Assis Marcato

divisão técnica de manutenção industrialcoordenador: vice-coordenador: Arnaldo Pinto Coelhosecretário: Fausto Santoro

divisão técnica de metalurgia e materiais coordenador: Jorge Kolososkisecretário: Fausto Santoro

departamento de engenharia de atividades industriaisdiretor: Antonio Maria Claret Reis de Andrade

vice-diretor: Luiz Carlos Martinezsecretário: Alberto Alécio Batista

diretoria da revista engenhariadiretor: Miguel Lotito Netto

secretário: Miracyr Assis Marcatoeditor da revista: Ricardo Pereira de Mello

departamento de arquiteturadiretor: Ricardo Martins Cocito

secretária: Milene Costa Facioli

departamento de engenharia de mobilidade e logísticadiretor: Vernon Richard Kohlvice-diretor: Ivan Metran Whately

divisão de logística

divisão de transportes metropolitanoscoordenador: Ivan Metran Whately

vice-coordenador: Francisco A. Noscang Christovam

divisão de trânsitocoordenador: Maria da Penha Pereira Nobre

vice-coordenador: Claudinei Pereira dos Santossecretário: Vanderlei Coffani

divisão de telecomunicações

divisão de aplicações de energiacoordenador: Martin Crnugelj

divisão de instalações elétricas

departamento de engenharia de agro-negócios

divisão de engenharia de materiais

divisão de sistemas de transportes inteligentescoordenador: Laurindo Martins Junqueira Filho

vice-coordenador: Pedro Luiz Scarpim

divisão de pesquisavice-coordenador: Antonio Pedro Timoszczuk

divisão de biomédicavice-coordenador: Ângelo Sebastião Zaninisecretária: Maria Cláudia Ferrari de Castro

gerência de programaçãodiretor de programação: Fernando Bertoldi Corrêa

departamento de engenharia do habitat e infraestruturadiretor: Roberto Kochenvice-diretora: Dione Mari Moritasecretário: Habib Georges Jarrouge Neto

departamento de engenharia químicavice-diretor:

departamento de engenharia de agrimensura e geomática diretor: Miguel Prietovice-diretor: Aristeu Zensaburo Nakamura secretário: Pedro Guidara Júnior

vice-presidente de atividades técnicas: MIRIANA PEREIRA MARQUES

presidente: CAMIL EID

divisão de acústicaCoordenador: Schaia Akkerman

divisão de planejamento e engenharia econômicacoordenador: Alfredo Eugenio Birman

divisão de patologias das construçõescoordenador: Tito Lívio Ferreira Gomidevice-coordenador: Odair dos Santos Vinagreirosecretário: Antonio Guilherme Menezes Braga

DIVISÕES TÉCNICAS

WWW.BRASILENGENHARIA.COM28 ENGENHARIA 615 / 2013

divisão de sistemas de informação geográficacoordenador: Aristeu Zensaburo Nakamura

NOVO Organograma 615.indd 28 18/06/2013 15:10:17

Page 29: Revista Engenharia 615

engenharia 615 / 2013 29www.brasilengenharia.comWWW.BRASILENGENHARIA.COMENGENHARIA 615 / 201328

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divisão de estruturascoordenador: Natan Jacobsohn Levental vice-coordenador: Lúcio Martins Laginha

secretário: Rafael Timerman

divisão de engenharia sanitária e recursos hídricoscoordenador: João Jorge da Costa

vice-coordenador: Flávio Magalhães

divisão de geotecnia e mecânica dos soloscoordenador: Habib Georges Jarrouge Neto

divisão de segurança no trabalhocoordenador: Jefferson Deodoro Teixeira da Costa

vice-coordenador: Theophilo Darcio Guimarães

divisão de geração e transmissãocoordenador: Sergio Anauate

divisão de construção sustentável e meio ambiente

divisão de cadastro urbano e rural coordenador: Régis Fernandes Bueno

divisão de distribuição de energiacoordenador: Alessio Bento Borelli

departamento de tecnologia e ciências exatasdiretor: Ricardo Kenzo Motomatsuvice-diretor: Jairo de Almeida Machado Jr.secretário: Sérgio Franco Rossoni

divisão téc. de gerenciamento de empreendimentoscoordenador: Gerson Amaral Françosovice-coordenador: Fabiano Sanninosecretário: Túlio Rossetti Fernandes Miranda

departamento de engenharia de produçãodiretor: Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto

vice-diretor: Miguel Tadeu Campos Moratasecretário: Alexandre Rigonatti

divisão técnica de qualidade e produtividadecoordenador: Guilherme Miragaia

divisão técnica de avaliações e períciascoordenador: José Fikervice-coordenador: Eduardo Rottmansecretária: José Marques

departamento de engenharia de energia e telecomunicaçõesdiretor: Miracyr Assis Marcato

divisão técnica de manutenção industrialcoordenador: vice-coordenador: Arnaldo Pinto Coelhosecretário: Fausto Santoro

divisão técnica de metalurgia e materiais coordenador: Jorge Kolososkisecretário: Fausto Santoro

departamento de engenharia de atividades industriaisdiretor: Antonio Maria Claret Reis de Andrade

vice-diretor: Luiz Carlos Martinezsecretário: Alberto Alécio Batista

diretoria da revista engenhariadiretor: Miguel Lotito Netto

secretário: Miracyr Assis Marcatoeditor da revista: Ricardo Pereira de Mello

departamento de arquiteturadiretor: Ricardo Martins Cocito

secretária: Milene Costa Facioli

departamento de engenharia de mobilidade e logísticadiretor: Vernon Richard Kohlvice-diretor: Ivan Metran Whately

divisão de logística

divisão de transportes metropolitanoscoordenador: Ivan Metran Whately

vice-coordenador: Francisco A. Noscang Christovam

divisão de trânsitocoordenador: Maria da Penha Pereira Nobre

vice-coordenador: Claudinei Pereira dos Santossecretário: Vanderlei Coffani

divisão de telecomunicações

divisão de aplicações de energiacoordenador: Martin Crnugelj

divisão de instalações elétricas

departamento de engenharia de agro-negócios

divisão de engenharia de materiais

divisão de sistemas de transportes inteligentescoordenador: Laurindo Martins Junqueira Filho

vice-coordenador: Pedro Luiz Scarpim

divisão de pesquisavice-coordenador: Antonio Pedro Timoszczuk

divisão de biomédicavice-coordenador: Ângelo Sebastião Zaninisecretária: Maria Cláudia Ferrari de Castro

gerência de programaçãodiretor de programação: Fernando Bertoldi Corrêa

departamento de engenharia do habitat e infraestruturadiretor: Roberto Kochenvice-diretora: Dione Mari Moritasecretário: Habib Georges Jarrouge Neto

departamento de engenharia químicavice-diretor:

departamento de engenharia de agrimensura e geomática diretor: Miguel Prietovice-diretor: Aristeu Zensaburo Nakamura secretário: Pedro Guidara Júnior

vice-presidente de atividades técnicas: MIRIANA PEREIRA MARQUES

presidente: CAMIL EID

divisão de acústicaCoordenador: Schaia Akkerman

divisão de planejamento e engenharia econômicacoordenador: Alfredo Eugenio Birman

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DIVISÕES TÉCNICAS

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divisão de sistemas de informação geográficacoordenador: Aristeu Zensaburo Nakamura

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WWW.BRASILENGENHARIA.COM ENGENHARIA 615 / 2013 29

PANORAMA ENERGÉTICOe energia proporcionalmente mais ba-rata, além de promoverem a regulação plurianual dos f luxos hídricos garan-tindo o aumento da energia “firme” das usinas, a perenização dos cursos d’água, a navegação f luvial, o abas-tecimento das cidades, a piscicultura, as atividades turísticas, a prevenção de enchentes evitando o desperdício, a esterilização dos recursos hídricos da nação e o caro acionamento perió-dico das usinas térmicas com o conse-quente acréscimo de custos, poluição e “stress” de todo o sistema elétrico nacional. b) No que se refere ao gás natural (GN), que poderia ser um valioso co-adjuvante para aumento da seguran-ça energética, da competitividade da indústria e maior inserção de energias renováveis sazonais e intermitentes na matriz (eólica, solar, biomassa etc.), a sua produção continua incipiente, insuficiente e cara para satisfazer a demanda reprimida do país (Brasil, 10,3%; Estados Unidos, 27,2%; Euro-pa, 34,4%; Argentina, 51%; Mundo, 23,8%). Como é sabido, o GN é um energético “nobre”, versátil, ambien-talmente amigável e de elevado poder caloríf ico, que po-derá ampliar sua presença na ma-triz, principalmente na cogeração e na produção de insu-mos para as indús-trias químicas, pe-troquímicas ou de fertilizantes para a agricultura – ain-da hoje em grande parte importados –, ou para agregar valor e qualidade às indústrias de cerâ-mica e vidro onde a energia responde por cerca de 25% dos custos de pro-dução. Tecnicamen-te o GN pode ser transportado desde

gua e energia são dois dos problemas básicos que irão inf luenciar nesse início do ter-ceiro milênio, direta

ou indiretamente, a vida dos cerca de sete bilhões de habitantes do planeta, já que deles, ou da interação de am-bos, derivam alguns dos insumos fun-damentais, que além do ar, sustentam a vida sobre a Terra.

O Brasil, embora detendo 12% de toda a água doce do mundo, super-fície e insolação capazes de absorver o equivalente a 1 250 TW/dia, não está imune a esses problemas como o testemunham as distintas crises energéticas das últimas décadas, as secas, as enchentes periódicas, o ris-co de desabastecimento como verif i-cado também recentemente, o ainda precário sistema de atendimento das necessidades básicas de suprimento de água e saneamento da população e o elevado custo da energia que lhe comprometem a competitividade e o crescimento econômico.

No campo energético o país vive atualmente uma encruzilhada de di-fíceis escolhas que se devidamente equacionadas poderiam ser também oportunidades valiosas para o futuro.a) De um lado, a recuperação de sua maior vantagem competitiva, que é o seu potencial hidrelétrico, o qual está sendo gradualmente erodido pe-las usinas a f io d’água ora em cons-trução que têm o objetivo de reduzir as áreas inundadas, de pequena re-presentatividade no contexto global (os reservatórios existentes ocupam apenas 0,42% da superfície do país). Com isso a capacidade de armazena-mento de energia do sistema elétrico caiu nos últimos anos do equivalente a cerca de seis meses da demanda elé-trica total para menos de 3,5 meses e o aproveitamento da energia hídri-ca dessas usinas poderá se situar na faixa de apenas 24% da MLT (vazão média de longo termo 1931/2006). Por seu turno as usinas com reserva-tório permitem índices de aproveita-mento dos rios (MLT) acima de 50%

as fontes de produção remotas até os centros de consumo, de distintas maneiras: (1) como molécula de GN, através de gasodutos ou comprimido sob alta pressão – o GNC; (2) trans-formado em hidrocarbonetos sintéti-cos líquidos (GTL) – nafta, metanol, amônia, ureia, diesel sintético etc.; (3) transformado em energia elétrica (kWh) em centrais eficientes (60%) de ciclo combinado (turbinas a gás e a vapor) e transportado, via linhas de transmissão, como, aliás, foi sugerido recentemente pela própria presidente Dilma Rousseff; (4) liquefeito, à baixa temperatura – GNL (-163ºC), em na-vios metaneiros.

Segundo o último Boletim da ANP [Agência Nacional do Petróleo], em março de 2013 o Brasil produziu 77 milhões de metros cúbicos por dia (MMm³/d) de GN (66% de gás asso-ciado ao petróleo e 34% de gás não associado - Mexilhão: 6 MMm³/d), dos quais cerca de 4 milhões foram queimados nas plataformas, 9 mi-lhões injetados de volta aos poços, 10 milhões consumidos internamente e apenas 54 milhões disponibilizados

Engº Miracyr Assis Marcato

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MIRACYR ASSIS MARCATO*

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DIVISÕES TÉCNICAS

WWW.BRASILENGENHARIA.COMENGENHARIA 615 / 201330 WWW.BRASILENGENHARIA.COMENGENHARIA 615 / 201330

DIVISÕES TÉCNICASpara o mercado nacional. Também em março de 2013 o Brasil importou GN da Bolívia e GNL de várias origens, num montante de 48,8 MMm³/dia ao preço médio de US$ 12/MMBTu (mi-lhão de BTu-British Thermal Unit) to-talizando dispêndios de 662 milhões de dólares no mês (ANP). Paralelamen-te os Estados Unidos, que consomem cerca de 1 800 MMm³/d de GN im-plementaram a partir de 2005 a nova tecnologia do gás de xisto que hoje já supre 23% da demanda de GN do país, devendo alcançar 50% em 2035, quan-do a demanda total atingirá cerca de 2 200 MMm³/d graças à participação de milhares de produtores independen-tes, uma rede de gasodutos de cerca de 355 000 quilômetros e reservas es-timadas que cobrem a demanda atual dos norte-americanos por cerca de 100 anos (AIE). A concorrência baixou os preços do GN no mercado americano para cerca de US$ 3,5/MMBTu e deu origem a uma revolução silenciosa no mercado mundial de energia provo-cando a redução nos preços do carvão

e de outras fontes primárias, dos crédi-tos de carbono e até do petróleo. Hoje os Estados Unidos exportam quantida-des crescentes de carvão para a Euro-pa que voltou a acionar suas antigas usinas termelétricas e mesmo algumas novas alimentadas por esse combustí-vel, forçando a paralisação de várias das modernas usinas abastecidas com GN da Rússia, que se tornaram me-nos competitivas. Com isso os Estados Unidos voltaram a se tornar um mer-cado atraente especialmente para as grandes indústrias que dependem dos custos da energia para sua produção, como é o caso da química, petroquí-mica, alumínio, cerâmica etc., poden-do afetar a atratividade do Brasil para os capitais reprodutivos – e não ape-nas para os especulativos – e causar desindustrialização crescente e maior dif iculdade para a captação de recur-sos para programas importantes e até mesmo para o pré-sal que deverá mo-bilizar toda a capacidade técnica e f i-nanceira da Petrobras no próximo fu-turo, como operadora obrigatória do

mesmo. Segundo alguns especialistas a eventual exploração do gás de xisto no Brasil poderá demorar de 10 a 15 anos, prazo incompatível com as ur-gências do país. E uma das maneiras de obviar o problema seria a aquisi-ção das tecnologias já existentes com a captação de capitais privados, tanto do país quanto do exterior, e a co-locação em marcha de um programa específ ico e definido de metas e pra-zos, com o apoio político e f inanceiro do governo. Parece auspicioso que o tema conste da agenda da próxima vi-sita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, como noticiado pelos jornais, e que o encontro permita a maturação de um acordo concreto so-bre tão importante assunto.

Miracyr Assis Marcatoé engenheiro eletricista, consultor, diretor de Relações Internacionais e do Departamento de Engenharia de Energia e Telecomunicações do Instituto de Engenharia – Membro da CIGRÉ e Senior Life Member do IEEEE-mail: [email protected]

ENGENHARIA DE SÃO CARLOS COMEMORA 60 ANOS E INVESTE PARA GARANTIR UM FUTURO SUSTENTÁVEL

a atenção da sociedade para a proposta exemplar que vem desenvolvendo, como fica claro na declaração do diretor da Es-cola, Geraldo Roberto Martins da Costa, para quem o início das comemorações pelos 60 anos da Escola lembra um ci-clo entre passado, presente e futuro. “O

Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo comemora, este ano, seu 60º aniversário

de fundação. Para registrar esta marca expressiva, a EESC – uma das principais instituições de excelência na formação de engenheiros no país, havendo conquista-do o reconhecimento de Unidade da USP de classe mundial – elaborou para os pró-ximos meses uma sequência de eventos, que serão promovidos ao longo de 2013, tais como palestras, painéis, homena-gens, exposição e lançamentos de livros. No dia 8 de março passado, por ocasião do evento de abertura das comemora-ções, o jornalista e consultor Washington Novaes, prestigiado especialista brasilei-ro em questões ambientais, ministrou a palestra “O Engenheiro como Agente de Mudança para uma Sociedade Sustentá-vel: Perfil e Desafios”.

Por meio da apresentação de Wa-shington Novaes a EESC almeja chamar

presente nos mostra que as decisões do passado foram ricas e sábias”, afirmou Martins da Costa. Quanto ao futuro, o diretor destacou: “Estamos investindo pesadamente na implementação de de-cisões sustentáveis, contando com a co-laboração de nove grupos de trabalho,

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Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo

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engenharia 615 / 2013 31www.brasilengenharia.com

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DIVISÕES TÉCNICAS

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pois hoje não se faz engenharia sem se preocupar com sustentabilidade”.

UM POUCO DE HISTÓRIAA Escola de Engenharia de São Carlos

é um dos frutos mais vistosos da Lei nº 161, de 24 de setembro de 1948, cujo texto “dispõe sobre a criação de estabe-lecimentos de ensino superior em cida-des do interior do Estado de São Paulo”. Sob a direção do professor Theodoreto Henrique Ignácio de Arruda Souto a EESC, fundadora do campus na cidade, foi solenemente inaugurada em 18 de abril de 1953 com aula magna ministra-da pelo então governador de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez.

“Hoje, aos 60 anos de atuação, a nos-sa escola de engenharia tem 8 932 egres-sos dos cursos de graduação e 6 600 dos programas de pós-graduação”, afirmou Martins da Costa. “Esses egressos ocu-pam posição sólida no mercado, desta-cando-se em universidades, institutos de pesquisa, indústrias e cenário político.”

O diretor da EESC destaca também que os cursos de engenharia oferecidos, “com qualidade reconhecida”, buscam suprir necessidades do mercado e da so-ciedade em sua expressão mais ampla. São eles: aeronáutica, ambiental, elétrica (ênfase em eletrônica), elétrica (ênfase em sistemas de energia e automação), ci-vil, computação, materiais e manufatura, mecânica, mecatrônica e produção.

No caso dos programas de pós-gra-duação, “também altamente qualificados e atendendo a uma demanda diversifica-

da de áreas”, Martins da Costa menciona: ciências da engenharia ambiental, bioen-genharia (interunidades), ciência e enge-nharia de materiais, engenharia elétrica, engenharia hidráulica e de saneamento, engenharia civil (estruturas), geotecnia, engenharia mecânica, engenharia de pro-dução e engenharia de transportes.

PROGRAMA EESC SUSTENTÁVELO início das atividades deste progra-

ma ocorreu em 2011, em parceria com o USP Recicla, que agrega diversas ações e é supervisionado pela Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da Universi-dade de São Paulo.

O objetivo do EESC Sustentável é or-ganizar uma política institucional que visa à inserção da sustentabilidade de forma ampla e integrada nas atividades de ensino, pesquisa, extensão e administração. O pro-grama quer construir-se de maneira par-ticipativa, envolvendo toda a comunidade local na construção de programas, proje-tos e ações a serem implantadas na EESC e sugeridas às outras unidades do campus da USP em São Carlos e da USP em geral. A metodologia de trabalho do programa se dá pela instituição de grupos de traba-lho constituídos por especialistas e demais membros da comunidade do campus como alunos, docentes e servidores.

AMBIENTALIZAÇÃO CURRICULARÉ uma das ações do EESC Sustentável.

Trata-se de uma reestruturação dos currí-culos para incluir a dimensão da susten-tabilidade, de forma transversal, no con-

teúdo de todas as disciplinas que fazem parte dos cursos de engenharia da EESC. O projeto é de longo prazo e, neste momen-to, está sendo desenvolvido o piloto junto ao curso de engenharia de produção. O próximo passo será estender aos demais cursos de engenharia da EESC e em segui-da sugeri-lo às demais unidades da USP.

O projeto é aplicado neste momento somente em nível de graduação. Para a pós-graduação outras ações estão sendo planejadas. No que diz respeito à car-ga horária a matéria não se dá de modo adicional nos currículos, mas sim como “inserção da dimensão da sustentabili-dade relacionada ao assunto/tema da disciplina já existente”. Por isso é consi-derada tema transversal.

Como mencionado, o programa iniciou-se em 2011 e se constitui como um trabalho de longo prazo e contínuo e, à medida que novas tecnologias para a sustentabilidade são desenvolvidas, os cursos devem ser atualizados, da mesma forma como ocorre com qualquer avan-ço científico ou tecnológico. Ademais, há um grande volume de disciplinas a serem trabalhadas, além de uma nova visão para os programas político/pedagógicos dos cursos. Outro desafio é a mudança de cultura por parte da comunidade, prin-cipalmente para aqueles que estão dire-tamente relacionados aos cursos, como equipes de técnicos e docentes.

No site (www.eesc.usp.br/60anos) é possível conferir a programação com-pleta das comemorações dos 60 anos da Escola de Engenharia de São Carlos.

e amigos – José Roberto Bernasconi, Ru-bens Al Assal e Luciano Afonso Borges.

Ainda assim continuou muito ligado a ela, não só pela memória e pela história, mas na qualidade de consultor. “Em seus primórdios, na década de 1960, a Mau-bertec funcionou como uma espécie de escola de aplicação. Alunos nossos da Es-cola Politécnica – o Bernasconi também lecionou lá por algum tempo – vinham aqui estagiar para depois trabalhar como profissionais no escritório, e depois saíam por aí afora para descobrir novos hori-zontes. Nós também produzíamos mate-rial de apoio a projetos, disponibilizando esse material para outros escritórios, sem

aleceu no dia 23 de abril passado, aos 77 anos, o engenheiro Maurício Gertsenchtein. Um dos fundadores da Mauber-

tec Engenharia de Projetos, na década de 1960, e reconhecido como um brilhante profissional da engenharia estrutural, era professor universitário e empresário de su-cesso. Gertsenchtein, nascido em Ribeirão Preto – para ele “a cidade mais importante do mundo” –, havia se desligado da Mau-bertec há alguns anos, após ter tomado a decisão de reduzir suas atividades profis-sionais por conta da saúde frágil, transfe-rindo sua parte para os outros três sócios

MAURÍCIO GERTSENCHTEIN (1936-2013)nenhuma restrição. Saiu da Maubertec um sopro primeiro de liderança”, relem-brou ele há alguns anos durante entre-vista à REVISTA ENGENHARIA.

Maurício Gertsenchtein fez toda sua preparação escolar em Ribeirão Preto, até vir para São Paulo prestar o vestibular para a Escola Politécnica da USP, onde ingressou em 1954 e se formou em 1959. Logo que saiu da faculdade trabalhou durante um ano no escritório Figueire-do Ferraz. Em 1961 começou a lecionar na Escola Politécnica como assistente do professor Nilo Andrade Amaral. Na época foram seus companheiros de docência, entre outros, os professores João Antô-

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engenharia 615 / 2013 33www.brasilengenharia.comWWW.BRASILENGENHARIA.COMENGENHARIA 615 / 201332

pois hoje não se faz engenharia sem se preocupar com sustentabilidade”.

UM POUCO DE HISTÓRIAA Escola de Engenharia de São Carlos

é um dos frutos mais vistosos da Lei nº 161, de 24 de setembro de 1948, cujo texto “dispõe sobre a criação de estabe-lecimentos de ensino superior em cida-des do interior do Estado de São Paulo”. Sob a direção do professor Theodoreto Henrique Ignácio de Arruda Souto a EESC, fundadora do campus na cidade, foi solenemente inaugurada em 18 de abril de 1953 com aula magna ministra-da pelo então governador de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez.

“Hoje, aos 60 anos de atuação, a nos-sa escola de engenharia tem 8 932 egres-sos dos cursos de graduação e 6 600 dos programas de pós-graduação”, afirmou Martins da Costa. “Esses egressos ocu-pam posição sólida no mercado, desta-cando-se em universidades, institutos de pesquisa, indústrias e cenário político.”

O diretor da EESC destaca também que os cursos de engenharia oferecidos, “com qualidade reconhecida”, buscam suprir necessidades do mercado e da so-ciedade em sua expressão mais ampla. São eles: aeronáutica, ambiental, elétrica (ênfase em eletrônica), elétrica (ênfase em sistemas de energia e automação), ci-vil, computação, materiais e manufatura, mecânica, mecatrônica e produção.

No caso dos programas de pós-gra-duação, “também altamente qualificados e atendendo a uma demanda diversifica-

da de áreas”, Martins da Costa menciona: ciências da engenharia ambiental, bioen-genharia (interunidades), ciência e enge-nharia de materiais, engenharia elétrica, engenharia hidráulica e de saneamento, engenharia civil (estruturas), geotecnia, engenharia mecânica, engenharia de pro-dução e engenharia de transportes.

PROGRAMA EESC SUSTENTÁVELO início das atividades deste progra-

ma ocorreu em 2011, em parceria com o USP Recicla, que agrega diversas ações e é supervisionado pela Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da Universi-dade de São Paulo.

O objetivo do EESC Sustentável é or-ganizar uma política institucional que visa à inserção da sustentabilidade de forma ampla e integrada nas atividades de ensino, pesquisa, extensão e administração. O pro-grama quer construir-se de maneira par-ticipativa, envolvendo toda a comunidade local na construção de programas, proje-tos e ações a serem implantadas na EESC e sugeridas às outras unidades do campus da USP em São Carlos e da USP em geral. A metodologia de trabalho do programa se dá pela instituição de grupos de traba-lho constituídos por especialistas e demais membros da comunidade do campus como alunos, docentes e servidores.

AMBIENTALIZAÇÃO CURRICULARÉ uma das ações do EESC Sustentável.

Trata-se de uma reestruturação dos currí-culos para incluir a dimensão da susten-tabilidade, de forma transversal, no con-

teúdo de todas as disciplinas que fazem parte dos cursos de engenharia da EESC. O projeto é de longo prazo e, neste momen-to, está sendo desenvolvido o piloto junto ao curso de engenharia de produção. O próximo passo será estender aos demais cursos de engenharia da EESC e em segui-da sugeri-lo às demais unidades da USP.

O projeto é aplicado neste momento somente em nível de graduação. Para a pós-graduação outras ações estão sendo planejadas. No que diz respeito à car-ga horária a matéria não se dá de modo adicional nos currículos, mas sim como “inserção da dimensão da sustentabili-dade relacionada ao assunto/tema da disciplina já existente”. Por isso é consi-derada tema transversal.

Como mencionado, o programa iniciou-se em 2011 e se constitui como um trabalho de longo prazo e contínuo e, à medida que novas tecnologias para a sustentabilidade são desenvolvidas, os cursos devem ser atualizados, da mesma forma como ocorre com qualquer avan-ço científico ou tecnológico. Ademais, há um grande volume de disciplinas a serem trabalhadas, além de uma nova visão para os programas político/pedagógicos dos cursos. Outro desafio é a mudança de cultura por parte da comunidade, prin-cipalmente para aqueles que estão dire-tamente relacionados aos cursos, como equipes de técnicos e docentes.

No site (www.eesc.usp.br/60anos) é possível conferir a programação com-pleta das comemorações dos 60 anos da Escola de Engenharia de São Carlos.

e amigos – José Roberto Bernasconi, Ru-bens Al Assal e Luciano Afonso Borges.

Ainda assim continuou muito ligado a ela, não só pela memória e pela história, mas na qualidade de consultor. “Em seus primórdios, na década de 1960, a Mau-bertec funcionou como uma espécie de escola de aplicação. Alunos nossos da Es-cola Politécnica – o Bernasconi também lecionou lá por algum tempo – vinham aqui estagiar para depois trabalhar como profissionais no escritório, e depois saíam por aí afora para descobrir novos hori-zontes. Nós também produzíamos mate-rial de apoio a projetos, disponibilizando esse material para outros escritórios, sem

aleceu no dia 23 de abril passado, aos 77 anos, o engenheiro Maurício Gertsenchtein. Um dos fundadores da Mauber-

tec Engenharia de Projetos, na década de 1960, e reconhecido como um brilhante profissional da engenharia estrutural, era professor universitário e empresário de su-cesso. Gertsenchtein, nascido em Ribeirão Preto – para ele “a cidade mais importante do mundo” –, havia se desligado da Mau-bertec há alguns anos, após ter tomado a decisão de reduzir suas atividades profis-sionais por conta da saúde frágil, transfe-rindo sua parte para os outros três sócios

MAURÍCIO GERTSENCHTEIN (1936-2013)nenhuma restrição. Saiu da Maubertec um sopro primeiro de liderança”, relem-brou ele há alguns anos durante entre-vista à REVISTA ENGENHARIA.

Maurício Gertsenchtein fez toda sua preparação escolar em Ribeirão Preto, até vir para São Paulo prestar o vestibular para a Escola Politécnica da USP, onde ingressou em 1954 e se formou em 1959. Logo que saiu da faculdade trabalhou durante um ano no escritório Figueire-do Ferraz. Em 1961 começou a lecionar na Escola Politécnica como assistente do professor Nilo Andrade Amaral. Na época foram seus companheiros de docência, entre outros, os professores João Antô-

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AFFONSO DE VERGUEIRO LOBO FILHO (1942-2013)damental na criação da categoria dos metroviários e de seu sindicato, do qual foi dirigente.

De 1989 a 1992 trabalhou na ges-tão Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo. Foi diretor de obras da Empresa Municipal de Urbanismo (Emurb), chefe de gabinete e secretário de Vias Públi-cas, diretor de planejamento e projetos da Companhia de Engenharia de Trá-

fego (CET) e diretor de engenharia da extinta Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC).

Em 1993 criou, com um grupo de colegas, a Oficina de Projetos Urbanos (Opus), onde atuou nos últimos 20 anos como diretor e en-genheiro. Especialista da área de transporte, trân-sito e mobilidade urbana, ele próprio se denomi-

aleceu no dia 3 de maio passado o engenheiro civil Affonso de Ver-gueiro Lobo Filho, aos 71 anos. Formado pela

Escola de Engenharia Mackenzie, nos anos que se seguiram a 1964 partici-pou do movimento estudantil na luta pela democracia. Já engenheiro civil, em 1969, foi para a Escola de Engenharia de São Carlos onde atuou como professor de Es-truturas Metálicas até 1973. Ainda em 1971, convidado, veio traba-lhar na recém-criada Companhia do Metrô de São Paulo onde ocupou vários cargos técnicos na área de projetos, até 1988. Considerado um dos profissionais mais brilhantes dos quadros do Metrô, nessa mesma época teve atuação fun-

nava como “transporteiro”. Foi também colaborador da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) e do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Se-esp), proferindo palestras e participando de debates, principalmente, sobre pro-jetos de implantação de corredores de média capacidade. Foi ainda grande co-laborador e entusiasta do projeto desen-volvido pela FNE, o “Cresce Brasil+Engenharia+Desenvolvimento”.

A agitação intelectual era sua mar-ca registrada e o acompanhou por toda a vida, desde os tempos do Colégio São Luís e depois no Mackenzie. Ali, nos pri-meiros anos, foi diretor da Federação Universitária Paulista de Esportes (Fupe).

Deixou dois filhos do segundo casa-mento – Affonso e Thiago – e Rebeca, da união com Suseli, com quem estava casado. Torcedor fanático do São Paulo F.C., Vergueiro Lobo foi cremado ao som do hino de seu time e sob aplausos dos amigos no cemitério da Vila Alpina, no dia 4 de maio passado.

Engº Affonso de VergueiroLobo Filho

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nio Del Nero, presidente da Figueiredo Ferraz, e John Ulic Burke, na cadeira de Concreto Armado.

Ali ficou até 1979, quando a pressão para dedicação em tempo integral o obri-gou a escolher entre a Poli e a Maubertec, tendo a partir deste momento se dedica-do integralmente à empresa. Durante o período em que esteve lecionando exer-cia paralelamente atividade profissional: de 1962 a 1965, ainda sozinho no seu es-critório técnico, e a partir de 1965, quan-do chamou José Roberto Bernasconi para estagiar nesse escritório. Em 1969 tem

início oficialmente a Maubertec. A participação como docente na Esco-

la Politécnica foi uma grande experiência humana. Sob o ponto de vista técnico tam-bém foi muito importante, por abranger a fase de transição dos processos de projeto de estrutura de concreto armado em meio a uma grande mudança conceitual. Tinha sido fundado o Comitê Europeu do Con-creto, reunindo pesquisadores do mundo inteiro que eram membros permanentes desse comitê – entre os quais os profes-sores Fernando Luís Lobo Carneiro, do Rio de Janeiro, e Telêmaco Van Langendonck, da Escola Politécnica, iniciadores da escola brasileira de pensamento estrutural.

Durante o período em que lecionou na Escola Politécnica, Gertsenchtein acompa-nhou todo o movimento, as incertezas, as indefinições e a insegurança daqueles pri-meiros passos, ao participar do Comitê de Normas Técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que elabora-va a mudança da então NB 1, norma de cálculo de concreto armado.

“O Maurício sempre tinha tempo para todos, especialmente aquelas pessoas mais necessitadas e humildes. Além das ativi-dades profissionais como engenheiro es-

trutural, ele exercia inúmeras outras ati-vidades visando o bem-estar e o auxílio material, físico e espiritual dos mais ne-cessitados, sem nenhuma distinção sobre religião, credo ou classe econômica. Es-pírita fervoroso, dava plantão no Centro de Valorização da Vida (CVV), fazia visitas a detentos, realizava atendimento espiri-tual permanente a quem o procurasse, já na década de 1970”, conta o engenheiro Nelson Covas, que foi aluno de Maurício Gertsenchtein quando cursava o quarto ano do curso de engenharia civil na Es-cola Politécnica (modalidade hidráulica), e que naquele mesmo ano foi convidado por ele para fazer estágio na Maubertec. “Meu primeiro trabalho foi o de calcular os valores dos famosos coeficientes K2, K3 e K6 para a montagem de tabelas para di-mensionamento de armaduras em seções de concreto armado submetidas a flexão simples. Com base nestes valores o Maurí-cio publicou, na década de 1970, um livro com tabelas dos K, alcançando grande su-cesso, em conjunto com o professor John Ulic Burke Jr.”, destaca Nelson Covas. Foi sepultado no dia 24 de abril em cerimônia acompanhada por mais de uma centena de amigos e admiradores.

Engº Maurício Gertsenchtein

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TRÓLEBUS É SOLUÇÃO LIMPA E ECONÔMICA PARA TRANSPORTE NAS GRANDES CIDADES BRASILEIRAS

atual matriz energéti-ca de transporte pú-blico, movido basica-mente a diesel, pode não estar – ainda

– com os dias contados nas grandes cidades brasileiras. Mas os alicerces para uma futura transformação já fo-ram lançados e as autoridades estão convencidas de que a adoção de fon-tes limpas é inevitável. Todos esses aspectos foram discutidos durante o 2º Seminário de Trólebus, realiza-do em maio passado no Instituto de Engenharia (IE), quando foram desta-cados os benefícios socioambientais e econômicos deste tipo de veículo para São Paulo, a única cidade do país que

utiliza o trólebus em grande escala.

O 2° Semi-nário Trólebus apresentou ain-da as modernas tecnologias em desenvol v imen-to no Brasil e no mundo, em par-ticular o uso de supercapacitores, sistemas de indu-ção e baterias com maior capacidade que permitem mais autonomia, com a possibilidade de substituição da rede aérea a médio prazo.

Sobre essa inovação, Edson Corbo, do consórcio Illuminatti- Elektron-

Sygma- Manvel, dedicado à pesquisa e desenvolvimento, esclareceu que entre as metas do grupo está a cria-ção de um protótipo de um ônibus elétrico dotado da tecnologia de ul-tracapacitores que possa se locomo-ver sem a necessidade de uma rede de

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TRÓLEBUS É SOLUÇÃO LIMPA E ECONÔMICA PARA TRANSPORTE NAS GRANDES CIDADES BRASILEIRAS

atual matriz energéti-ca de transporte pú-blico, movido basica-mente a diesel, pode não estar – ainda

– com os dias contados nas grandes cidades brasileiras. Mas os alicerces para uma futura transformação já fo-ram lançados e as autoridades estão convencidas de que a adoção de fon-tes limpas é inevitável. Todos esses aspectos foram discutidos durante o 2º Seminário de Trólebus, realiza-do em maio passado no Instituto de Engenharia (IE), quando foram desta-cados os benefícios socioambientais e econômicos deste tipo de veículo para São Paulo, a única cidade do país que

utiliza o trólebus em grande escala.

O 2° Semi-nário Trólebus apresentou ain-da as modernas tecnologias em desenvol v imen-to no Brasil e no mundo, em par-ticular o uso de supercapacitores, sistemas de indu-ção e baterias com maior capacidade que permitem mais autonomia, com a possibilidade de substituição da rede aérea a médio prazo.

Sobre essa inovação, Edson Corbo, do consórcio Illuminatti- Elektron-

Sygma- Manvel, dedicado à pesquisa e desenvolvimento, esclareceu que entre as metas do grupo está a cria-ção de um protótipo de um ônibus elétrico dotado da tecnologia de ul-tracapacitores que possa se locomo-ver sem a necessidade de uma rede de

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DIVISÕES TÉCNICASenergia elétrica dedicada. “Para isso é preciso desenvolver o protótipo de uma estação de recarga rápida, sem rede dedicada, com o respectivo im-pacto na rede local de fornecimento.”

O projeto do veículo já está con-cluído e o da estação deverá ficar pronto até o final deste ano. “Esta-mos pensando num veículo que não vai ser uma dor de cabeça para as dis-tribuidoras de energia elétrica”, asse-gura Corbo. Sua proposta tem o apoio do diretor da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), Anto-nio Vicente Albuquerque, para quem o trólebus, usando ultracapacitores, representa um custo pequeno, pois sendo exclusivamente elétrico requer apenas algum investimento nas esta-ções. “A cada parada numa estação para embarcar e desembarcar passa-geiros o trólebus recebe uma carga ultrarrápida, de 20 a 30 segundos, e parte para a próxima estação, onde será submetido à mesma operação”.

O evento teve as atenções concen-tradas principalmente nas vantagens ambientais de se utilizar o trólebus, que possui energia limpa e renovável, em relação aos outros veículos sobre pneus movidos a combustível fóssil.

Autoridades federais, estaduais e municipais se mostraram, de forma unânime, favoráveis ao remaneja-mento energético do transporte pú-blico, a começar pelo gerente setorial de mobilidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e So-cial (BNDES), Carlos Henrique Reis Malburg. Ele anunciou medidas (e f i-nanciamentos) para incentivar novas modalidades de transporte. “Resgatar o papel do transporte coletivo como um dos principais vetores estrutura-dores do desenvolvimento urbano é uma prioridade do governo”, afirmou Malburg.

O banco tem uma reserva, incluída no PAC Mobilidade Grandes Cidades, de 12 bilhões de reais em financia-mento e 6 bilhões de reais em re-cursos do Orçamento Geral da União (FAT e FGTS), a serem distribuídos entre diversos programas ligados a transportes, somados de 7 bilhões de reais para o PAC Mobilidade Cidades Médias.

O plano do governo federal pre-

tende equacionar fontes de financia-mento aos Estados e grandes municí-pios para permitir inclusive viabilizar novas concessões e parcerias público-privadas (PPP).

O mesmo empenho ficou demons-trado pelo presidente da Empresa Metropolitana de Transportes Urba-nos (EMTU/SP), Joaquim Lopes, um incentivador do sistema elétrico, já que o corredor Metropolitano ABD – que circula entre São Paulo, de São Mateus até o Jabaquara, passando pelas cidades de Santo André, Mauá, São Bernardo e Diadema – é quase que totalmente eletrif icado e o último trecho, que liga o Terminal de Dia-dema até o Morumbi, será percorrido por veículos com novas tecnologias elétricas que já estão sendo testadas no Brasil e no exterior.

Não menos interessado se mos-tra o poder público municipal de São Paulo. Segundo Jilmar Tatto, secretá-rio municipal dos Transportes (SMT), dos 15 000 veículos sobre rodas que integram o complexo de transporte público na cidade, 1 747 usam energia limpa, sendo que a SMT pretende in-crementar e modernizar o sistema de trólebus na cidade por meio da aqui-sição de 50 novos ônibus desse tipo.

A frota de ônibus elétricos da ci-dade é de 192 veículos, distr ibuídos em 11 linhas que transportam 2,2 milhões de passageiros/mês. Os no-vos 50 coletivos substituirão os já existentes. “Nos próximos dias será lançado o edital de licitação que tra-tará da operação do sistema”, anun-ciou Tatto.

MAIS SEMINÁRIOSO presidente do Instituto de En-

genharia (IE), Camil Eid, se mostrou otimista diante do panorama expos-to pelas autoridades. “Mas é preciso incrementar a implantação do ônibus elétrico, cuja participação ainda é muito pequena no nosso sistema in-termodal”, destacou Eid, ao anunciar que o IE “está apenas iniciando o de-bate sobre um dos modais de trans-porte. Estamos preparando, para um próximo seminário, um amplo enfo-que dos demais modais”.

Também o engº Ivan Metran Wha-tely, coordenador da Divisão Técnica

de Transporte do Instituto de Enge-nharia, ao se pronunciar como mo-derador durante o painel “Benefícios Socioambientais e Econômicos”, mos-trou-se favorável à adoção do tró-lebus, “que figura como tecnologia consagrada no processo de mudança da matriz energética nos transpor-tes”. Whately citou o engenheiro e consultor Adriano Murgel Branco, que já foi do Departamento de Transpor-tes/Trólebus da Companhia Munici-pal de Transportes Coletivos (CMTC), autor do projeto de linha de trólebus São Paulo-Santos para passageiros e cargas, além de responsável pela im-plantação da fábrica de trólebus para a CMTC em 1963 e diretor de Trólebus da CMTC (Plano Sistran/1976), que não pôde comparecer ao encontro, e expôs uma indagação que aquele en-genheiro, considerado no meio como o precursor do trólebus no Brasil, costuma dirigir a seus interlocutores: “Quanto custa não fazer?”. A pergun-ta refere-se aos custos sociais com saúde, tempo perdido, poluição, aci-dentes e estresse.

O moderador do painel referiu-se, f inalmente, à lei municipal 14.933/09, pela qual, até 2018, “toda a frota de ônibus deve ser 100% movida a com-bustível renovável”.

PODER ECONÔMICOEsse otimismo não é totalmen-

te compartilhado por Paulo Saldiva, professor titular de medicina da USP, que comentou em sua palestra a in-f luência do poder econômico como obstáculo para medidas de curto pra-zo no combate à destruição do meio ambiente – “nossa política ambiental não consegue descolar da diretriz econômica” –, e lembrou que o padrão de qualidade da Organização Mundial da Saúde (OMS) para 24 horas é de 25 microgramas por metro cúbico, mas que São Paulo ultrapassa esse índi-ce em grande escala, “atingindo uma média de poluição do ar que chega a 45 microgramas por metro cúbico”.

Para o especialista em transportes Adalberto Maluf, diretor da C40 Cities Climate Leadership Group (ou Grupo C40 de Grandes Cidades para Lide-rança do Clima), que reúne grandes cidades mundiais, os ônibus elétricos,

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engenharia 615 / 2013 37www.brasilengenharia.comWWW.BRASILENGENHARIA.COM ENGENHARIA 615 / 2013 37

apesar de mais caros na aquisição ini-cial, se tornaram mais vantajosos que os movidos a diesel, devido à evolu-ção das baterias desses veículos nos últimos dois anos. “Se pensarmos em um ciclo de vida completo, os ônibus elétricos já são mais econômicos que os movidos a diesel. A partir do sexto ou sétimo ano de operação, os elétri-cos já se tornam muito mais baratos considerando todos os custos de ope-ração”, compara.

O professor Marcio Vilela, doutor em Energia pela Escola Politécnica da USP, também apresentou um estudo comparativo entre o trólebus e o die-sel, principalmente no que se refere ao consumo e às emissões de poluente e de gases de efeito estufa. Ele res-saltou que os gases de efeito estufa, principalmente o gás carbônico, “ape-sar de não atuarem como poluentes exercem um efeito muito grande no aumento da temperatura”.

Por isso, ressalva, na verdade “o trólebus não é zero emissor, mas sim um pequeno emissor de gases de efei-to estufa, visto que no sistema elétrico brasileiro, entre 20 e 30% da matriz elétrica é composta de termelétricas, alimentadas por combustível fóssil”. Mas mesmo assim, numa comparação entre o ônibus a diesel e o elétrico, ele conclui que o diesel consome da ordem de 5,21 quilovates/hora por quilômetro, enquanto o trólebus gas-ta cerca de 2 quilovates/hora.

Márcio Vilela denuncia que em 2009 foi aprovada uma lei que obri-garia a cidade de São Paulo a reduzir as suas emissões ao nível de 70% com relação a 2003, ou seja, uma redução de 30%. Só que ele é coordenador técnico de um inventário que está sendo elaborado para a cidade de São Paulo, “demonstrando estar aconte-cendo justamente o contrário”.

Vilela citou como exemplo os re-sultados surpreendentes obtidos na cidade paulista de Araraquara, “que, no entanto, teve a experiência des-continuada, com os trólebus sendo substituídos por veículos a diesel”.

PONTO DE VISTAJá o diretor da Associação Bra-

sileira de Veículos Elétricos (ABVE), Antonio Vicente Albuquerque, con-

sidera de nível zero os veículos pu-ramente elétricos, independente do custo de geração da energia utilizada, vinda de termelétricas ou não. “Caso contrário, também teríamos que levar em conta o custo de transformar pe-tróleo em gasolina ou óleo diesel, que é muito superior”.

Albuquerque estabeleceu uma comparação entre os seguintes mo-dais de transporte: o metrô, o VLT (veículo leve sobre trilhos), os tróle-bus convencionais, os ônibus híbri-dos, os ônibus a diesel e f inalmente um último desenvolvimento que é o trólebus usando um novo componen-te, os chamados ultracapacitores, ain-da em experiência, com custos meno-res de operação.

“As capacidades de transporte desses veículos, com exceção do me-trô, que é bem acima da média, são equivalentes. Mas, para isso, uma condição absolutamente necessária é que o trólebus, como qualquer ve-ículo dependente de uma rede aérea, de alimentação elétrica, trafegue em corredor exclusivo. O fato de o Bra-sil não ter adotado esses sistemas me parece absolutamente inexplicável, principalmente considerando a nossa matriz energética”.

PELO MUNDOEntre os mais avançados projetos

internacionais atuais estão as experi-ências de alguns países que desenvol-veram políticas nacionais baseadas no sistema de trólebus, entre eles a Suí-ça, que na cidade de Schaffhausen re-novou a frota em 2012 com a introdu-ção de novas tecnologias, assim como em Zurique e outras cidades. A infor-mação é de Eleonora Pazos, coorde-nadora da divisão da América Latina da União Internacional de Transpor-tes Públicos (UITP), organização não governamental que reúne, em nível mundial, mais de 3 400 membros ori-ginários de 92 países – autoridades do transporte público, operadores, tanto públicos como privados, e a indústria.

“O mesmo vem acontecendo na Espanha, com a volta do trólebus nas cidades médias do país”, informa Eleonora, acrescentando que proces-so similar foi iniciado pela Itália, que reiniciou com 22 quilômetros, estan-

do previstos para 2014 novos 45 qui-lômetros. “Depois de Roma, mais sete cidades aderiram ao trólebus”.

Outra experiência internacional bem sucedida foi referida por Pablo Burbano, coordenador do segmen-to de avaliação do Trólebus de Quito (Equador).

“Trata-se de uma cidade longitudi-nal, daí os seus problemas com trans-porte desde o início. Em função desse cenário, um fabricante de ônibus nos anos 1990 desenhou o primeiro corre-dor de trólebus, que passa pelo centro histórico, dando assim início ao siste-ma de trólebus local. Hoje em dia são transportados em média 2,8 milhões de passageiros, em 22 quilômetros de linhas”, completa Burbano.

No Brasil, a maior procura por ônibus elétricos fez a produção da fabricante Eletra, empresa brasileira que desenvolve tecnologia de tração elétrica para veículos urbanos de pas-sageiro, aumentar de dois para 15 veí-culos mensais, enquanto o número de trabalhadores subiu de 20 para 76. A demanda teria sido puxada pelas en-comendas de renovação da frota de trólebus na capital paulista.

Alguns modelos podem operar com autonomia de até 5 quilômetros sem a rede aérea, utilizando energia armazenada em um banco de baterias – estas também fabricadas no Brasil. “Esta nova tecnologia acaba com as interrupções no sistema”, diz Ieda Maria Alves de Oliveira, do consórcio Caio/Weg/Eletra.

São de fabricação da Eletra as no-vas 20 unidades do modelo trólebus articulado fornecido à Metra (Siste-ma Metropolitano de Transportes), empresa que opera o Corredor Me-tropolitano de Ônibus ABD. Segun-do Fabrizio Braga, diretor da Metra, “atualmente já são 45 quilômetros de corredores”.

Durante o seminário foram mi-nistradas palestras também de Paulo Lane, líder de Marketing e Produ-to para a América Latina da Thermo King, que detalhou soluções de ar-condicionado para trólebus, e Carlos Vidal, supervisor de Engenharia de Desenvolvimento e Inovação da Acu-muladores Moura, com uma explana-ção sobre a rede de baterias.

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“O custo social de algumasobras já ultrapassa

o da construção em si”Embora critique a qualidade técnica de certas obras de infraestrutura construídas no Brasil, o superintendente do DAEE, engº Alceu Sega-marchi Júnior, destaca que é insubstituível o papel do engenheiro para o desenvolvimento do país. “Depois que ‘o engenheiro virou suco’ na década de 1980, felizmente a carreira está sendo revalorizada nos últimos anos, havendo, portanto, luz forte no fim do túnel”, diz. Ele aborda outro tema candente: o custo social das grandes obras de engenharia no Brasil. Para ele o projeto Parque Várzeas do Tietê (PVT) – uma das jóias da coroa do governo paulista – serve como boa ilustração dos casos em que a obra de engenharia propriamente dita acaba custando bem menos do que a soma dos valores gastos com desapropriações e realocação de famílias removidas. O PVT visa restabelecer a função das várzeas do Rio Tietê para o amortecimento de cheias, por meio

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de ações voltadas à proteção e à recuperação do ambiente natural. “Suas obras físicas estão orçadas em 400 milhões de reais, enquanto os custos das desapropriações vão beirar os 500 milhões de reais e a realocação das famílias não sairá por menos que 700 milhões de reais”, diz, acrescentando que hoje é uma constante que a parte social seja mais cara que a construção em quase todas as grandes obras. Ele conta que o PVT está sendo implementado em três etapas. A primeira, de 25 quilômetros, vai da Barragem da Penha até a divisa com Itaquaquecetuba. Na segunda, com 11,3 quilômetros, serão abarca-dos os municípios de Itaquaquecetuba, Poá e Suzano. Já a terceira, de 38,7 quilômetros abran-gerá outros três municípios nas cabeceiras do Rio Tietê. Nos 75 quilômetros de extensão e 107 quilômetros quadrados de área serão plantadas 63 000 árvores e funcionarão 33 centros de lazer, esporte e cultura.

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A lceuS egamarchiJ uniorSuperintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE)

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superintendente do Depar-tamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), Alceu Se-gamarchi Júnior, tem muita coisa em comum com o se-

cretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Edson de Oliveira Giriboni: além dos dois serem engenheiros civis, ambos começaram suas carreiras na antiga Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), onde permaneceram por mais de duas déca-das. Dadas essas circunstâncias, eles já se acostumaram a ouvir a inevitável “piada pronta” dos amigos e colaboradores mais próximos: “Esses dois vieram para colocar o saneamento nos trilhos”. Escolhido como personagem da série de reportagens “Linha de Frente da Engenharia” nesta edição, Se-gamarchi, 55 anos, paulista de Sorocaba, é filho e sobrinho de ferroviários. Grande parte de sua família sempre morou em Itu (SP). “Depois meus pais e tios se mudaram para a vizinha Sorocaba por conta da fer-rovia e só por isso não nasci ituano”, conta. Ele é engenheiro civil pela Pontifícia Uni-versidade Católica de Campinas e fez exten-são universitária em administração pública na Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP).

Na entrevista exclusiva que concedeu à REVISTA ENGENHARIA, a primeira per-gunta a Segamarchi foi a mesma que é feita a todos os focalizados da série. Qual o papel reservado para a engenharia brasileira (e para a categoria dos engenheiros) no trabalho de reverter insuficiências que afetam nossa in-fraestrutura em geral numa fase em que o Brasil luta para contornar os efeitos da crise global, mas continua se esforçando para des-lanchar do ponto de vista econômico?

“Bom, depois que ‘o engenheiro virou suco’ nos anos 1980, felizmente a carreira de engenharia está sendo revalorizada no Brasil nos últimos anos”, começa respon-dendo Segamarchi. “Naquela década, a ca-tegoria enfrentou uma crise sem preceden-tes. Houve uma debandada geral, o pessoal recém-formado e até quem já estava em-pregado foi para banco, para financeira.

LINHA DE FRENTE

OFoi por essa época que eu me formei. Entrei na faculdade em 1976 e concluí o curso em 1980. Na ocasião acabei fazendo um con-curso na Fepasa. Eu já tinha feito estágio na Fepasa nos dois últimos anos de meu curso universitário – até por influência fa-miliar. Bem, prestei o concurso da Fepasa e quase ao mesmo tempo tinha prestado concurso para fiscal da Receita Federal e fui aprovado. Era um tempo de emprego difícil na iniciativa privada, então a gente tinha que tentar a carreira pública, nem que fosse como ‘plano B’. Chamado pela Recei-ta, eu estava naquela fase de escolher se ia atuar em São Paulo ou Brasília – naquela época a gente podia escolher. Claro que es-colhi São Paulo por questões logísticas. Só que na mesma semana que fiz a escolha, fui chamado pela Fepasa. Só para ter ideia de como era o sistema ferroviário naquela época, o fiscal iniciante da Receita ganhava 75 000 dinheiros – vamos denominar as-sim porque não me lembro da moeda de então. Mas o salário inicial da Fepasa era 111 000, e três meses depois do ingresso vinha um acréscimo de 10%. Optei pela carreira de engenheiro na ferrovia e não me arrependo, claro. Afinal foi engenharia que eu tinha escolhido para seguir carreira.”

— O senhor ia dizendo que hoje a pro-fissão de engenheiro foi revalorizada. Pode prosseguir? — pedimos.

“Claro. Sem dúvida, o papel do enge-nheiro é fundamental nesta situação em que o Brasil se encontra. Talvez você estra-nhe, mas eu sou um crítico da qualidade de determinadas obras de infraestrutura aqui no Brasil. Basta dar uma volta pela cidade de São Paulo, ou por muitas estradas da maior parte do território brasileiro, para se perce-ber que nós ainda temos um caminho longo a percorrer no quesito qualidade da obra. E não é preciso fazer comparações com paí-ses como a Suíça, Estados Unidos ou Suécia – é só confrontar com países parecidos com o nosso. Coteje com a África do Sul, com a Argentina, com o Chile. Com o Chile en-tão nem se fala. Olha só a má qualidade de

nosso pavimento. É uma coisa absurda. A gente paga uma das maiores cargas de im-postos do mundo. E veja que nós brasileiros sempre primamos pela qualidade de nossas escolas e pela excelência de nossa formação em engenharia. Além disso, as nossas em-presas de engenharia são das melhores do planeta. As construtoras brasileiras fizeram grandes obras no mundo inteiro. Lembro--me agora de um fato interessante: quando eu estava para me formar engenheiro, nos anos 1980, a Construtora Mendes Júnior me convidou para trabalhar no Iraque. Isso foi bem antes da primeira Guerra do Golfo, na primeira leva que a Mendes Júnior levou ao Iraque para fazer ferrovias e estradas. Eu quase fui, porque naquele tempo era solteiro, não tinha compromisso com nada. Mas, por algum motivo que nem me lem-bro, resolvi ficar aqui. Estou falando isso mais para ilustrar que já naquela época a qualidade das empresas brasileiras de en-genharia era bastante reconhecida lá fora. No entanto, essa propalada qualidade não está sendo aplicada nas obras aqui dentro. Nós nos tornamos líderes em engenharia civil mundo afora, talvez até premidos pela crise interna na época, que obrigou as em-presas a irem para o exterior. Mas o que a gente observa pelo Brasil afora, em termos de qualidade das obras, compõe um gráfi-co irregular. Não só as grandes empresas brasileiras de engenharia estão deixando a desejar aqui dentro, mas também as médias e pequenas.”

— Dentro desse quadro, como vê as escolas de engenharia hoje no país? — perguntamos.

“Antes gostaria de lembrar que a res-ponsabilidade dos engenheiros não se li-mita às empresas de engenharia. Eles estão em todos os cargos, nos órgãos dos gover-nos estaduais, das prefeituras, enfim, em todos os lugares. No caso das escolas de engenharia, eu acho que elas estão pre-cisando investir mais na questão da qua-lidade, algo que a gente não tem visto. Elas deveriam se preocupar em atualizar

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“A propalada qualidade da engenharia de infraestrutura nacional não está sendo aplicada nas obras aqui dentro do país”

os currículos para que eles se coadunem com as reais necessidades do país. Porque a gente está ficando para trás, mesmo em relação a parceiros da America do Sul. Pode ser uma coisa aparentemente não tão im-portante, mas quando se pensa sob a ótica da infraestrutura, a qualidade tem muita importância. Afinal, a qualidade de vida – não só da infraestrutura – de um lugar é determinante, inclusive, para a escolha das multinacionais que querem se instalar na América Latina.”

— Antes de entrar no assunto parce-rias público-privadas, as PPPs, qual sua opinião sobre da Lei de Licitações? — so-licitamos.

“Eu vinha dizendo que não só as gran-des empreiteiras deixam a desejar em rela-ção à qualidade das obras internas. Outra vertente dessa precariedade são as subem-preitadas de obras. As grandes empresas de engenharia estão fugindo como o diabo da cruz da Lei 8.666/93, das licitações. Hoje elas estão interessadas em concessão, PPP, parcerias de todo gênero. Alguns repre-sentantes de grandes empresas de enge-nharia, que me procuraram recentemente, me afirmaram categoricamente que em curto espaço, até 2014 ou 2015, elas não vão mais participar de licitações no Bra-sil, por conta da 8.666. Porque elas estão achando impossível manter a estrutura que elas são obrigadas a sustentar, tendo, ao mesmo tempo, que rebaixar o preço. Ali-ás, a lei já está sendo revista. A Lei 8.666 parte do principio de que todo mundo é desonesto. A legislação anterior, o Decreto 2.300, de 1986, partia do princípio de que todo mundo era honesto. Quer dizer, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Tem que haver um meio termo que permita ao po-der público optar pela qualidade. Porque o menor preço, na maioria dos casos, não é a melhor solução e acaba saindo mais caro para o contribuinte. Há muitos exemplos que podem ilustrar isso.”

— O senhor pode falar sobre as PPPs dos piscinões? Qual a meta de constru-ção de reservatórios? Quantos estão com obras contratadas? Quantos estão em processo de licitação? E quantos es-tão com recursos garantidos? — ques-tionamos.

“Bom, a PPP, como se sabe, é um con-trato de prestação de serviços ou obras pelo qual as empresas são pagas diretamente pelo governo para realizar uma tarefa e podem ainda obter parte de seu retorno financeiro explorando o serviço. Nós já pu-blicamos o edital de licitação internacional para selecionar as empresas participantes da PPP que será responsável pela constru-ção de sete piscinões na Região Metropo-litana de São Paulo, além da manutenção

e operação de 38 reservatórios pelos pró-ximos 20 anos. O edital prevê que todo o conjunto de piscinões deverá ser dotado de comportas e equipamentos para operação remota a partir de uma central de controle. A PPP fará a implantação de reservatórios na Bacia do Tamanduateí – em São Paulo e em Santo André –, na Bacia do Juqueri – em Franco da Rocha –, e na Bacia do Pirajuçara, esta na região do Morumbi. O consórcio que vencer a licitação terá que fa-zer a manutenção de 30 reservatórios já existen-tes e assumir oito que estão em obras quando eles tiverem prontos. Ou seja, quem vencer a PPP irá fazer a manu-tenção dos 45 piscinões, 24 horas por dia, de segunda a segunda. Agora está sendo transcorrido o prazo para apresentação das propostas. Já tivemos as visitas técnicas. Foi uma espécie de recorde: tivemos 54 visitas. Então isso indica que vai haver uma disputa interessante. Recapitulando: o número total dos piscinões que vai ser atingido pela PPP é de 45. Sendo que 30 deles já existem, sete deverão ser construídos pela iniciativa pri-vada com características tecnológicas mo-dernas, e oito reservatórios de contenção o DAEE já está construindo. Com obras con-tratadas, portanto, existem oito piscinões. O valor de referência do investimento da PPP, somente em obras, é de 850 milhões de re-ais, em números redondos. Mas o valor esti-mado do contrato, incluindo a manutenção ao longo dos 20 anos, é de 3,8 bilhões de reais. Ao final do período de concessão todo o sistema retorna ao Estado, que incorpo-ra os investimentos realizados. A fórmula dessa PPP é bastante interessante: a gente paga o parceiro pelo volume disponível para reservação, uma vez que se trata de reser-vatórios de contenção. Os mecanismos para aferir esse volume estão muito bem descri-tos no nosso edital – e depois vão estar no contrato a ser assinado pelo vencedor. Nós estamos esperando pelo menos seis con-sórcios interessados. Tiramos como base o número de consultas que estamos receben-do e o nível das perguntas. Por esses ques-tionamentos é possível saber se o suposto candidato está preparando uma proposta ou se só tem curiosidade pelo assunto. Os terrenos para a construção de dois dos pis-cinões serão doados pelo governo estadual, um deles pela prefeitura de Santo André e quatro pela prefeitura de São Paulo.”

— Fale um pouco sobre sua pessoa. Como é sua família de origem e a que o senhor constituiu depois? — solicitamos.

“Tenho 55 anos e nasci em Sorocaba.

Grande parte de minha família era de Itu, mas eles se mudaram para Sorocaba por conta da ferrovia – por isso que eu nasci em Sorocaba. Fui criado lá até entrar para a fa-culdade de engenharia. Estudei em colégio público, que naquela época era o que havia de melhor. Meu pai e boa parte dos meus

tios eram ferroviários, da Companhia Estrada de Ferro Sorocabana. Meu pai era técnico, não engenheiro. Depois ele foi trabalhar no Metrô. Naquela época, princi-palmente nas cidades do interior, a classe ferrovi-ária era muito respeita-da, porque era a ferrovia que levava desenvolvi-

mento tanto ao interior do Estado quanto à capital. A maioria das cidades paulistas nasceu em torno da ferrovia. E, por ironia do destino, hoje muita gente reclama di-zendo que a ferrovia corta a cidade. Não corta nada, foi a cidade que nasceu ali. É falha a visão de quem pensa em acabar com a ferrovia. A ideia defensável é a de criar condições para que a ferrovia atravesse a cidade sem causar prejuízos. A riqueza de São Paulo tem ralação com os trilhos. São Paulo se tornou o que é – e se destacou em relação a Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná – por causa da ferrovia.”

— Aliás, depois de décadas, pela pri-meira vez um programa federal coloca os investimentos para as ferrovias em pla-no superior aos das rodovias. Vê isso com otimismo? — quisemos conferir.

“Olha, não sei se com tanto otimismo assim. Mesmo agora, priorizando as ferro-vias, a condução dessas obras não dá mui-tos motivos para grande comemoração. A Ferrovia Norte-Sul, por exemplo, está lá, desde o governo do José Sarney, longe de cumprir as funções para as quais foi concebido o projeto. Como se recorda, as obras da ferrovia tiveram início em 1987. Atualmente encontra-se pronto o trecho entre Açailândia, no Maranhão, e Palmas, no Tocantins. Ninguém discute a impor-tância do projeto – todo mundo sabe que é importante. Mas olha só o problema para transporte da safra da soja para o Porto de Santos. Olha a confusão que a falta de ferrovia está provocando. A com-petitividade da nossa soja é muito baixa por causa disso. Os chineses, como se vê pela imprensa, não estão nada satisfeitos com nossa ineficiência no embarque do produto. No campo de cultivo, na plan-tação, a nossa soja tem competitividade, mas essa vantagem comparativa se perde nos caminhos rodoviários. Tudo que de-pende do governo é o caos. A iniciativa

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privada faz a parte dela, mas não tem ha-vido a contraparte pública. Outro dia eu fui almoçar na Vila Olímpia, em casa de amigos, e lá é assim: do portão para den-tro do edifício parece que você está no Primeiro Mundo, mas na hora que você sai do portão para fora, está na África. To-dos nós pagamos impostos, que, em tese, deveriam servir para pagar a infraestrutu-ra do portão para fora. Só que você já sai do prédio enfrentando buracos na pista, uma maçaroca de fios elétricos, telefôni-cos – entre outros – sobre a cabeça. Quer dizer, o poder público está atrasado no cumprimento do seu papel. Notadamen-te as prefeituras, que são as responsáveis por essa situação que estou descrevendo. Alguém pode argumentar que são as con-cessionárias de energia e de telefone as responsáveis pela situação. Mas quem é que fiscaliza tudo? As prefeituras, claro. São Paulo, por exemplo, tem o Departa-mento de Iluminação Pública – o Ilume –, quer dizer, existe um contrato de pres-tação de serviços pelo qual o órgão tem obrigação de enterrar os fios. Mas não enterra. Com o asfalto acontece a mes-ma coisa. Quando a Sabesp, a Comgás, a Telefônica, ou qualquer outra concessio-nária abrem um buraco, elas teriam que arrumar devidamente depois. Mas não é isso que acontece e a fiscalização é fa-lha. Então enquanto o poder público não se equiparar à iniciativa privada nessa questão da qualidade, nós vamos amar-gar esses problemas todos. O que implica em continuar perdendo competitividade. Temos um déficit que nós temos que eli-minar. O duro é saber por onde começar. Eu acho que a excessiva concentração dos impostos é o pecado original. O governo quer todos os recursos para ele, mas não é capaz de devolver os impostos, em tempo hábil, na forma de serviços. Mas a refor-ma tributária é difícil de fazer porque há muitos interesses conflitantes.”

— A sua família exerceu influência na sua decisão de estudar engenharia? — perguntamos.

“Não. A minha família, mesmo que de forma indireta, nunca me sugeriu nada. Eu é que sempre gostei de engenharia – desde que me conheço por gente. Nunca tive dúvida de que seguiria a carreira de engenheiro. Eu gostava da célebre revista Mecânica Popular. Gostava e gosto de au-tomóveis. Inclusive fiquei na dúvida se ia fazer engenharia civil ou mecânica. Mas, no fundo, gostava mais de civil. Já meu pai, como técnico, era mais voltado mais para a parte de mecânica. Aí fui estudar engenharia em Lins, onde fiz os dois pri-meiros anos. Lins tinha boa fama naque-la época. Fama de excelência, aliás, que

agora eles estão tentando ressuscitar. Eles montaram uma escola com o que havia de melhor, em termos de corpo docente vol-tado para engenharia de infraestrutura. Eu tenho um ex-colega, atualmente em-presário, que está se juntando com outros ex-alunos para tentar reativar a antiga excelência daquela escola de engenharia. Eu só não me formei em Lins por causa da distância. Logo depois que concluí o segundo ano, meu pai sofreu um infar-to e eu ficava meio aflito estando longe dele, embora não houvesse necessidade premente da parte dele. Foi mais uma coi-sa de sentimento meu. Foi quando fiz um exame para me transferir para a PUC de Campinas e consegui. Embora tenha pas-sado por algumas adaptações. Tive que fazer três anos de teologia, só para você ter uma noção. Mas tudo bem, deu tudo certo: a PUC tinha uma boa faculdade de engenharia. O fato de eu ter ficado mais perto de casa, inclusive, facilitou o meu estágio na Fepasa, em Campinas mesmo. Não havia admissão automática para o estágio, tive que prestar concurso, mas passei. Aí comecei minha carreira lá. Na época, eu podia escolher se queria ficar no interior ou vir para a capital. Optei por São Paulo, até porque a Fepasa estava inves-tindo muito aqui no início do sistema de trem metropolitano – que naquele tempo ainda era chamado de trem de subúrbio.”

— O senhor ficou na Fepasa até o mo-mento em que começou a crise da compa-nhia? — pedimos que contasse.

“Fiquei no capítulo metropolitano da Fepasa até 1990. O sistema de subúrbios estava efervescente, fiz vários viadutos, foi um tempo bom. Mas depois de uns quatro anos fui ascendendo dentro da compa-nhia e virei administrador. Isso é inevitá-vel. Felizmente, naquela época ainda era possível ‘engenheirar’. Então, do setor de obras passei para a área de manutenção de via permanente. Depois recebi um convite para ir para a ‘Fepasona’, que era a Fepa-sa do interior, ainda que o escritório fun-cionasse aqui na capital. Fui promovido a gerente de obras e logo depois, em 1991, me tornei consultor geral, cargo que era considerado o topo da carreira. Desde esse ano estou no topo da carreira ferroviária. Fiquei até 1995 na ‘Fepasona’ na área da infraestrutura, inclusive tomando conta de programas do Banco Mundial. Mas em 1995, quando Mario Covas tomou posse como governador aconteceu algo terrível: não havia dinheiro no cofre estadual. Foi a primeira vez na história paulista que hou-ve atraso de pagamento no funcionalismo público. Primeira e única. Por aí se vê como estavam as finanças. Acontece que em 1995 Covas e o seu secretário da Fazenda,

Yoshiaki Nakano, professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas, ti-nham alguns planos para sanear o governo. E dentro desses planos estava a federaliza-ção do setor de cargas da Fepasa. Na épo-ca, o presidente da República era Fernando Henrique Cardoso e o governo federal já fazia concessões do sistema ferroviário. Como a concessão do transporte de carga é federal, pelo plano de Covas e Nakano o governo estadual passaria a Fepasa para o governo federal – o qual, ato contínuo, fa-ria a concessão da chamada malha paulis-ta. Só que havia um subproduto: o sistema de transporte metropolitano de São Paulo, que não podia ir junto.”

— Por quê? — solicitamos. “Primeiro era preciso fazer a cisão da

Fepasa para separar o transporte metro-politano do transporte de carga. E depois passar o de carga para a iniciativa privada. E ninguém queria fazer isso na Fepasa. Ou melhor, ninguém sabia fazer isso naque-la ocasião. Até que o então presidente da companhia, o Renato Pavan, me perguntou se eu topava, porque ninguém na área de transporte metropolitano tinha conheci-mento suficiente para tocar a empreitada. Porque a cisão era um processo complica-do. Tente imaginar um esquema de cisão numa empresa privada. Agora pense isso no Estado, numa situação de calamidade financeira, que era aquela que o Covas pe-gou na época. Esse o grau de dificuldade. Mas aí eu topei o desafio. E eu fiz a parte da Fepasa praticamente sozinho, com os técnicos da secretaria estadual da Fazenda sempre acompanhando e monitorando. A CPTM [Companhia Paulista de Trens Me-tropolitanos] já existia aqui em São Pau-lo, porém já existia só com a parte fede-ral, a antiga CBTU [Companhia Brasileira de Trens Urbanos]. Em 1995 já chamava CPTM, era uma empresa bem nova. Em 1992 a seção paulistana da CBTU havia sido transferida para o controle da CPTM, criada em maio do mesmo ano. Mas ela não administrava a malha da Fepasa, que era o que de melhor havia na época em transporte metropolitano. Ou seja, eram as linhas da região oeste e essa da Avenida Marginal, que hoje são as linhas 8-Dia-mante – atualmente com 42,3 quilômetros + Expresso Oeste-Sul com 20,8 quilôme-tros – e 9-Esmeralda, esta atualmente com 32,8 quilômetros. Concluímos a cisão em nove meses, apresentamos o projeto para a Assembleia Legislativa e obtivemos apro-vação no início de 1996. Um pouco antes, no final de 1995, foi assinado um convênio de cooperação pelo qual se permitiu que a CPTM tomasse conta das linhas. Antes não podia. Quando o projeto passou pelo legis-lativo, em 1996, foi formalmente transferi-

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do o patrimônio e a dívida correspondente para a CPTM. Na ocasião, eu cuidei pesso-almente da transferência dos funcionários – pouco mais de 1 000 pessoas. Era ne-cessário tratar caso a caso: quem quer ser transferido, quem não quer, como vai ser feita a transferência, uma dificuldade adi-cional. Mas quando houve a transferência, em fevereiro de 1996, essa parte já estava equacionada.”

— O senhor continuava vinculado à Fepasa? — pedimos que explicasse.

“Nesse período, eu ainda estava na Fepasa. A CPTM era outra empresa. Os funcionários iam para CPTM, eu tinha que fazer uma anotação na carteira de traba-lho deles, uma sub-rogação do contrato de trabalho. Mas logo depois fui sondado pelo então presidente da CPTM, para ver se eu não queria mudar de lado. Na verda-de, ele não sabia nem por onde começava o processo de botar ordem na casa. Por-que, imagine só: você tinha um contrato de trabalho com funcionários da CBTU que era federal, com todo um plano próprio de cargos e salários. E tinha o pessoal esta-dual. Com todos fazendo o mesmo tipo de serviço. Dá para sentir a confusão traba-lhista que foi isso? Mas, felizmente, logo pudemos aprovar um plano novo de cargos e salários – que é o que vigora até hoje na CPTM. Fiquei na CPTM de 1996 a 2009. Na companhia, em nível gerencial eu fiz praticamente de tudo. Eu fui da diretoria administrativa e financeira, que permeava todas as áreas. Fui superintendente admi-nistrativo, fui superintendente financeiro e de patrimônio. Eu já estava no topo de carreira, não tinha outro atrativo que não fossem os novos desafios. Do ponto de vis-ta financeiro a companhia não tinha nada a me acrescentar ou a me suprimir.”

— O que aconteceu depois disso? — indagamos.

“Em 2009, no segundo mandato do pre-feito Gilberto Kassab, passei para a secreta-ria municipal de Gestão, que também cui-dava do patrimônio imobiliário. Mas eu nem conhecia o Kassab. Fui para lá a convite de Rodrigo Garcia, que era o secretário de Ges-tão. Fiquei lá dois anos, até a saída do Gar-cia. Depois disso voltei para a CPTM. Mas não cheguei a assumir na CPTM, porque o Edson Giriboni, secretário estadual de Sa-neamento e Recursos Hídricos, que também tem origem ferroviária – e que eu conheço há 30 anos também por conta da Fepasa –, assumiu a secretaria e me chamou para ajudá-lo. Pelo compromisso que assumi com Giriboni, acabei vindo para o DAEE.”

— Como as etapas da ampliação da calha do Tietê já colaboram para a me-lhoria da qualidade de vida da Região Metropolitana de São Paulo? Em quanto

foi ampliada a capacidade de vazão do rio? — perguntamos.

“O projeto de ampliação da calha do Rio Tietê, como a gente o conhece hoje, compreende toda essa proteção das mar-gens que é possível ver, o rebaixamento de calha, o paisagismo, a instalação da Barragem Móvel no Ce-bolão... Só para recordar, a Barragem Móvel, situ-ada junto ao complexo viário Cebolão, teve sua capacidade de extrava-são aumentada em 300 metros cúbicos de água por segundo, median-te a construção de um descarregador de fundo composto por duas com-portas de segmento de 7 metros de largura e 7 metros de altura, e teve incorporada uma eclusa de navegação de 12 metros de largura e 120 metros de comprimento. Isso tudo foi concluído no final de 2005, começo de 2006, no governo anterior do Geraldo Alckmin. Quando Alckmin assumiu o governo estadual novamente, em 2011, o Rio Tietê estava bastante assoreado. O Tietê é um rio de baixíssima declividade, dá 1,5 centímetros por quilômetro de de-clividade na área da Grande São Paulo. E isso é praticamente nada. Além disso, é um rio sedimentar, pela própria característica da bacia. E, ainda por cima, houve uma urbanização descontrolada. Então o desas-soreamento não é uma obra – é um serviço contínuo. Essa, aliás, é a forma como ele é tratado pelo DAEE – não é considerado investimento e sim custeio. E algo que não pode parar. Você pode fazer mais ou fazer menos, dependendo do regime de chuvas do ano – mas sempre vai ter que tirar sedi-mento e lixo. O lixo, infelizmente, ainda é uma constante no Rio Tietê, que funciona como um grande ‘ralo’. Chega todo tipo de objeto que se possa imaginar no pobre rio – até geladeira. Muitas pessoas ficam alar-madas com tanta garrafa PET boiando... Mas isso é o de menos, com uma pequena rede se resolve o problema. O que não se vê a olho nu é que constitui o problema. O rio está cheio de lixo, ensacado ou não. Pneu jogado no rio foi um item que diminuiu, porque tem algum valor de venda. Mas era um grande problema até pouco tempo. Ainda tem muita coisa que flutua, como madeira, isopor etc. Carcaças de automó-veis – todo ano se tira centenas de carca-ças de automóveis. O Tietê serve para tudo, menos para aquilo que deveria servir. Claro que há aí uma parcela importante de falta de educação e de civilidade. Quer dizer, é um processo. Para ser justo, devo dizer que a situação melhorou muito de um tempo

para cá, e continua melhorando. Mas a ve-locidade da melhora tem que aumentar.”

— Chegar ao nível de limpeza do Rio Tâmisa, de Londres, é quase um sonho? É muito difícil alcançar isso? — questionamos.

“Não, não é difícil. A diferença de nossa região metropolitana em relação a outras grandes metrópoles que tiveram problema semelhante é a quantidade de água. O Tietê é um rio pequeno, de pouca água. A Grande São Paulo fica na nas-cente do Tietê. O rio faz tudo ao contrário do que deveria fazer. Ele nasce aqui, a 50 quilômetros

do litoral e corre para o interior. Ele anda 1 100 quilômetros para desaguar no Rio Paraná. Por isso mesmo, em nosso trecho, o Tietê é um rio de pouca água. E se é um rio de pouca água é um rio de baixa dilui-ção. Então a água que nós vemos aqui é muito mais poluição do que água propria-mente dita. A vazão máxima do Tietê é de 1 048 metros cúbicos por segundo no limite de transbordamento da calha na Barragem Móvel. A gente mantém a lâmina d’água do Tietê dentro de certos limites utilizando vários expedientes entre eles a Barragem Móvel do Cebolão. Caso contrário, a gente não conseguiria navegar no rio. Agora, por exemplo, eu consigo navegar as barcaças que fazem a limpeza do rio. Não é nave-gação comercial ainda. Então o trabalho de desassoreamento é fundamental. Hoje a calha está na sua conformação de projeto. Ou na batimetria de projeto, como gosta de falar o governador. Nós retiramos nestes dois anos e alguns meses de governo Alck-min, mais de 4 milhões de metros cúbicos de detritos do Tietê. E somando-se ao que retiramos dos afluentes, nós chegamos a 6 milhões de metros cúbicos. A limpeza dos principais afluentes foi uma coisa retoma-da no atual governo. Não adianta se garan-tir que vai passar carro na Marginal Tietê, se o resto da cidade pode correr o risco de ficar submersa. Quanto à questão da vazão de restrição do Tietê na altura da Barra-gem Móvel do Cebolão, o PDMAT-3 [Pla-no Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê] será anunciado proximamente e trará novidades (ler mais detalhes na re-portagem de capa “Corrida contra o tempo”).”

— Qual a importância do Plano Di-retor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista que prevê uma meta de suprimento adi-cional de água, para o horizonte de pro-jeto de 2030? — solicitamos a seguir.

“A importância é vital. É esse Plano Di-

“São Paulo se tornouo que é, e se destacouem relação a MinasGerais, Rio de Janeiro e Paraná, por causa de suas ferrovias”

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retor que vai dar ao poder público a noção e a dimensão do problema que nós temos para resolver nos próximos anos. No curto prazo o suprimento de água na metrópole está razoavelmente equacionado. Mas só no curto prazo. Tanto que na hora em que o Sistema São Lourenço estiver pronto, já será necessário explorar outras fontes de água. Porque quando São Lourenço entrar em operação ele vai deixar de ser reserva técnica – como seria hoje se ele já estivesse operacional. Para entender melhor, o Sis-tema Produtor São Lourenço é um com-plexo de abastecimento de água para cerca de 1,5 milhão de pessoas na Grande São Paulo. Terá captação de 4,7 metros cúbi-cos por segundo de água no Reservatório Cachoeira do França – na Bacia do Alto Ju-quiá –, uma nova estação de tratamento de água em Cotia e uma rede de adução para sete municípios da zona oeste da região metropolitana, que hoje são abastecidos pelos sistemas produtores Alto Cotia, Baixo Cotia, Guarapiranga e Cantareira.”

Alguns especialistas, como José Edu-ardo Cavalcanti, presidente do Grupo Am-biental – também membro do Conselho Superior de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e membro do Instituto de Enge-nharia –, argumentam que hoje a oferta de água é inferior à demanda. Para Cavalcan-ti, por exemplo, foi uma decisão tímida a do São Lourenço ter optado pela outorga de 4,7 metros cúbicos por segundo, em re-lação às atuais necessidades. Ele acha que com as mudanças das regras operacionais do Sistema Cantareira vai faltar água em São Paulo dentro de poucos anos – con-siderando-se que o São Lourenço vai ficar pronto só em 2017, e que a outorga do Sis-tema Cantareira vai ter que ser revista em 2014. Ele prevê que em 2017, com a per-centagem de perdas observadas historica-mente na Grande São Paulo, o Sistema São Lourenço, mesmo com a outorga de 4,7 metros cúbicos por segundo, vai chegar a, no máximo, 2,8 metros cúbicos por segun-do. Na sua visão, não se justifica construir uma grande obra linear, como a que está sendo feita – 80 quilômetros de linha de tubulação de 1,20 metros de diâmetro –, para aproveitar apenas 4,7 metros cúbicos por segundo e não toda a disponibilidade hídrica do sistema de lá, que seria de 20 metros cúbicos por segundo.

Sobre essa visão crítica, Segamarchi informa que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tem procurado o DAEE e conversado com a área de concessão de outorga do órgão para tentar aumentar a captação do São Lourenço no limite máximo. “Eu acho que essa questão da produção de água é uma

discussão que só está começando. Nos estu-dos do Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista isso vai ficar bastante explicito.”

— Pode falar mais sobre o Sistema Produtor São Lourenço? — insistimos.

“O São Lourenço pode e deve ter o seu potencial explorado à totalidade. O custo dessa obra vale a pena. Estamos argumen-tando com o governo estadual que o ponto de vista do DAEE é de que o próprio gover-no, através do DAEE – e não a Sabesp – de-veria ficar à frente das providências a serem tomadas. Vou tentar explicar. A Sabesp é a concessionária de um serviço público mu-nicipal, que é o saneamento básico. Desde a constituição de 1988 os municípios são responsáveis por esse serviço – e a Sabesp, embora empresa estatal estadual, presta um serviço às prefeituras, tanto que ela tem as-sinado os contratos de programa com cada uma delas. Então, do ponto de vista institu-cional, seria mais seguro para todos – inclu-sive para a própria Sabesp – que o governo estadual fizesse a parceria público-privada, com a garantia de compra do produto por contrato. É claro que a Sabesp é uma com-panhia importantíssima. A Sabesp está fa-zendo São Lourenço simplesmente porque precisa, não tem alternativa. O Alto Tietê já está no limite. Nós devemos subir um pouco agora o nível da Barragem de Taiaçupeba, no município de Mogi das Cruzes – está em tratativas –, para a gente poder captar mais água. E assim por diante. Há várias alterna-tivas em estudo. O governo está empenha-do, através da Secretaria da Casa Civil, em coordenar esse programa, para que se possa tirar um aproveitamento máximo das fontes que nós já temos – como Alto Tietê, Billings, Guarapiranga, Alto Cotia –, de modo que se possa garantir certa segurança de abaste-cimento. Incluindo aí o São Lourenço. Até que a gente consiga fazer parar em pé um projeto de maior porte, ou seja, de buscar água mais longe. Isso não é novidade para ninguém. O Sistema Cantareira já é uma transposição. Algo que provavelmente não vamos fazer é ir buscar água no Rio Para-íba do Sul, porque estaríamos deflagrando uma guerra entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Mas existem alternativas de grande porte que precisam ser estudadas.”

— Por falar em obras de porte, as ocu-pações chegam a inviabilizar grandes projetos de engenharia na Grande São Paulo — perguntamos.

“O Parque Várzeas do Tietê, para citar um grande projeto – poderia citar Pirajus-sara, Oratório, enfim, desfiar um terço de reza... Mas vamos ficar só no Parque Várze-as. Nesse projeto, a obra de engenharia em si – construção de centros de lazer, remoção física de aterros e construções em geral – vai

custar 200 milhões de dólares, ou seja, uns 400 milhões de reais. Sabe quanto o gover-no vai gastar para desapropriar os terrenos? Nada menos que 500 milhões de reais. E sabe quanto ele vai gastar para a realocação das famílias que vão ser removidas dali? Ou-tros 700 milhões de reais. Quer dizer, olha a proporção! Eu tenho que desapropriar o ter-reno e dar uma casa para o invasor que está em cima dele. A obra mesmo é o que custa menos. O maior custo é a parte social, o re-assentamento. Isso se tornou uma constante em todas as grandes obras. Porque a triste realidade é que as pessoas acham que os rios ou os córregos são cloacas. Quando elas não estão na margem, elas estão em cima do córrego. As prefeituras da região permitem que uma situação dessas se instale e depois, obviamente, com qualquer chuva um pouco maior o rio vai assumir aquilo que é dele e vai inundar os barracos e casas que estão lá na margem. Aí surgem na TV aquelas ima-gens que a gente está acostumado a ver de pessoas aflitas, crianças chorando, até com certa razão... Mas elas não deveriam estar lá. Se elas não têm a noção de que não deve-riam estar lá, as prefeituras precisariam ter. E deveriam fiscalizar bem melhor. É muito mais barato resolver essas questões antes que elas adquiram grandes proporções. Em Osasco nós temos um reservatório de contenção de cheias chamado Piscinão do Rochdale, que fica no Córrego Baronesa, cercado de moradias irregulares. Acredite se quiser: as pessoas construíram barracos dentro do piscinão, usando sistema de pala-fitas. Então é obvio que aquilo vai encher de água quando chover. Se eles estão morando dentro de uma banheira, como vão querer não se molhar. É a natureza do reservatório. E a prefeitura permite isso. E aí na hora do problema de enchente ela vem bater na por-ta do Estado e nós temos que dar a solução. As prefeituras, embora sejam responsáveis pela manutenção e operação dos piscinões – por força de convênios assinados –, elas não cumpriram a sua parte. Então o go-vernador, no ano retrasado, permitiu que o DAEE fizesse uma licitação para limpeza dos piscinões. No ano passado o DAEE limpou e agora vamos passar essa atividade para a iniciativa privada. Mas é uma tarefa que, em tese, caberia às prefeituras fazer. O Rio Tietê só não extravasou ultimamente porque nós conseguimos tirar 6 milhões de metros cú-bicos de detritos dele e de seus principais afluentes. Está certo que as chuvas, acumu-ladamente falando, foram menores. Mas o que faz o rio transbordar não é chuva acu-mulada – é o pico de chuva. E os picos que fizeram transbordar o Rio Tietê em ocasiões anteriores ocorreram também nos últimos dois anos. Nenhum desses picos, no entan-to, conseguiu fazer o rio transbordar.”

LINHA DE FRENTE

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Edson de Oliveira GiriboniNa visão do secretário estadual de Sanea-mento e Recursos Hídricos, Edson Giriboni, para se reduzir a necessidade da busca e viabilização de novas fontes de forne-cimento de água em futuro próximo na superpopulosa Macrometrópole Paulista – uma vez que esse recurso natural está cada vez mais escasso na região –, é pre-ciso muita firmeza na gestão de demanda do produto, por meio de programas de controle de perdas, de melhoramentos tecnológicos, de substituição de equipa-mentos, uso racional da água, reúso de rejeitos tratados, políticas tarifárias e de incentivos fiscais. Além do excesso de gen-te consumindo, outro fator que contribui para a escassez dos recursos hídricos é a poluição dos corpos d’água, o que implica na diminuição da disponibilidade do líqui-do com qualidade para os diversos tipos de usos. O processo de conurbação em torno da capital paulista já engloba 180 das 645 cidades do Estado de São Paulo. Essa é a chamada Macrometrópole, que abriga 31 milhões de pessoas (75% da popula-ção paulista) – um gigantismo que torna urgente o aperfeiçoamento das ações em curso e a tomada de novas medidas não es-truturais como as que visam o controle do uso e ocupação do solo, o reflorestamento ciliar e a educação ambiental. “No fundo, o nosso objetivo maior é colaborar em tudo o que for possível para a preservação dos recursos do planeta como um todo visando assegurar que não falte água para os nos-sos netos e os netos dos netos deles”, co-menta Giriboni, para quem iniciativas como o Programa de Uso Racional da Água (Pura) vêm sendo levadas avante com bastante sucesso em escolas estaduais, prédios públicos e estabelecimentos comerciais, como, por exemplo, restaurantes

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Secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo

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ara o engenheiro Edson de Oliveira Giriboni, 59 anos, secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, os instru-mentos de gestão dos recursos hídricos são

vivos, eles não terminam. Nesse sentido, ele explica que o Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista tem fundamental importância para o futuro do Estado, em termos de crescimento, desen-volvimento e qualidade de vida. O processo de conurbação em torno da cidade de São Paulo já engloba 180 das 645 cidades do Estado, que abrigam 31 milhões de pessoas e geram 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A área da Macrometrópole Paulis-ta reúne 75% da população e 75% de toda a riqueza gerada no Estado. Por meio do citado Plano Diretor, Gi-riboni revela que é possível se conscientizar da urgência de se tomarem fortes medi-das de gestão de demanda de água – mediante progra-mas efetivos de controle de perdas, de melhoramentos tecnológicos, de substitui-ção de equipamentos, uso racional da água, reúso de efluentes tratados, políticas tarifárias e de incentivos fiscais –, de forma a reduzir os novos aportes de água para a Macrometrópole. Edson Giriboni é engenheiro civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e administrador de empresas pela Associação de Ensino de Itapetininga (AEI) – além de ter feito especialização na Universidade de Cam-pinas (Unicamp) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nascido no município de Itapetininga em 6 de abril de 1953, o secretário é filho de Orlando Giriboni e Benedita de Oliveira Giriboni e tem sete irmãos. Edson Giriboni é casado com Sandra Brasil Giriboni e o casal tem três filhos: Edson Júnior, Rodrigo e Camila.Depois de ter passado pela Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), onde fez carreira de 1977 a 1999 (chegando a superin-tendente geral), Edson Giriboni ingressou na vida pública, tendo sido eleito vice-prefeito de Itapetininga para o perí-odo 1989/1992. Voltou a ser eleito para o mesmo cargo na mesma cidade para o período 2001/2004, quando ocupou a Secretaria Municipal de Indústria e Desenvolvimento de Itapetininga. Nas eleições de 2006, foi eleito deputado es-tadual pelo Partido Verde (PV), com 47 968 votos.

Nesta entrevista exclusiva à REVISTA ENGENHARIA, o secretário Giriboni discorreu sobre diversos assuntos, como o da revisão do Projeto de Macrodrenagem na Região Metropolitana de São Paulo (PDMAT 3), piscinões, desas-soreamento do Rio Tietê, entre outros. Ainda em relação à gestão dos recursos hídricos, ele disse que há necessidade também de aperfeiçoar as ações em curso e propor novas “medidas não estruturais” tais como as que visam o con-trole do uso do solo, o reflorestamento ciliar e a educação ambiental. “Mais 60 m³/segundo de água são estimados como necessários para a Macrometrópole Paulista até 2035”, revela, salientando que isso é simplesmente uma

projeção das demandas num cenário tendencial. Com isso Giriboni quer dizer que esse número é uma estimativa de como será o consumo de água de acordo com os com-portamentos de usos que foram observados até hoje tendo em vista as projeções demográficas.Na visão do secretário, os números são preo-cupantes na medida em que refletem os elevados índices de perdas de água nos sistemas de abaste-cimento, assim como es-pelham todos os demais usos ainda ineficientes, tanto no setor industrial como na área agrícola.

Ele revela que cerca de metade dessa vazão poderá ser suprida pela disponibilidade já existente nos cursos d’água, enquanto que a outra metade – cerca de 30 m³/segundo, que equivale à produção do Sistema Cantareira – deverá ser atendida por novas obras. “Dos 60 m³/segundo, cerca de 25 m³/segundo são para o uso urbano, 17,8 m³/segundo vão para a agricultura irrigada de forma muito difusa na área dos municípios, e 17 m³/segundo para as indústrias que se abastecem isoladamente, captando a água direta-mente nos seus mananciais. “Dessa forma, por mais que se avance no controle de perdas de água nos sistemas de abastecimento público de água, esse resultado incide somente na parcela do uso urbano, que é de apenas 25 m³/segundo”, diz. Razão pela qual é necessário atuar também sobre os usuários industriais e irrigantes, promovendo um amplo programa de uso mais racional de água – ou “gestão de demanda”, como costumam dizer os técnicos. Nas páginas seguintes, a íntegra da entrevista.

“A gestão dos recursos hídricos

é um processo dinâmico, mas

perene”

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meio de projetos como o Aquapolo, de água de reúso no Polo Petroquí-mico do Grande ABC, e o Programa de Uso Ra-cional da Água, o Pura, também da Sabesp, que vem sendo implementado nas escolas estaduais, prédios públicos e em es-tabelecimentos comerciais como, por exemplo, restaurantes. O Pura é, mais que tudo, um jeito de educar as pessoas para usar a água de forma inteligen-te. Entretanto, é fundamental enfatizar que cabe à secretaria o estudo, o pla-nejamento , a construção e a operação das obras de infraestrutura de recursos hídricos como um todo no Estado de São Paulo.

reVisTa engenHaria – Segundo consta, o Plano Diretor de Aprovei-tamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista prevê uma meta de suprimento adicional de água, para o horizonte de projeto de 2030, de mais 56 m3/segundo en-volvendo usos agrícola, industrial e doméstico. Em que fase está o plano e qual sua importância para o futuro do Estado? giriBoni – Acho que posso dizer que os instrumentos de gestão dos recursos hídricos são vivos, eles não terminam. O que quero explicar é que um Plano Diretor tem fundamental importância para o futuro do Estado, em termos de crescimento, desenvolvimento e qualidade de vida de todo e qualquer cidadão. Com ele, sabemos que são urgentes fortes medidas de gestão de demanda de água – mediante progra-mas efetivos de controle de perdas, de melhoramentos tecnológicos, de subs-tituição de equipamentos, uso racio-

nal da água, reúso de ef luentes tratados, de políticas tarifárias e de incentivos fiscais – de forma a reduzir os no-vos aportes de água para a Macrometrópole.

Há necessidade também de aperfeiço-ar as ações em curso e propor novas “medidas não estruturais” tais como as que visam ao controle do uso do solo, o ref lorestamento ciliar e a educação ambiental. Não é de hoje a preocupação com a Macrometrópole. O número que você menciona na sua pergunta é ain-da maior. Mais 60 m3/segundo de água são estimados como necessários para a Macrometrópole Paulista até 2035, mas isso é simplesmente uma projeção das demandas de água num cenário tendencial. Ou seja, é uma projeção de como será o consumo hídrico de acor-do com os comportamentos de usos de água que foram observados até hoje tendo em vista as projeções demográ-ficas. Claro que os números são preo-cupantes porque eles são ref lexos dos elevados índices de perdas de água nos sistemas de abastecimento, assim como todos os demais usos ainda ineficientes de água no setor industrial e no setor agrícola. Entretanto, cerca de metade dessa vazão poderá ser suprida pela disponibilidade já existente nos cursos d’água, enquanto que a outra metade, cerca de 30 m3/segundo – que equi-vale à produção do Sistema Cantareira – deverá ser atendida por novas obras. Dos 60 m3/segundo, cerca de 25 m3/se-gundo são para o uso urbano, 17,8 m3/segundo são para o uso na agricultura irrigada de forma muito difusa na área dos municípios, e 17 m3/segundo para o uso das indústrias que se abastecem isoladamente, captando a água direta-

reVisTa engenHaria – Nas últimas décadas, verificou-se o crescimento vertiginoso das cidades em decorrên-cia do êxodo da população rural e da formação de grandes concentrações populacionais, tornando cada vez mais escasso o recurso natural água. Também a poluição dos recursos hídri-cos contribuiu para a escassez, o que implica na diminuição da disponibili-dade de água com qualidade para os diversos tipos de usos. Em vista dessa realidade qual é a estratégia da secre-taria visando o uso racional dos recur-sos hídricos?edson giriBoni – A Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo é o órgão respon-sável pela promoção, planejamento e a execução da política estadual de sanea-mento básico em todo o território pau-lista. Nesse sentido, nossa preocupação é, principalmente, com a infraestrutura necessária para que tanto o Departa-mento de Águas e Energia Elétrica, o DAEE, que é uma autarquia da secre-taria, quanto a Companhia de Sanea-mento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, que é uma empresa pública de capital aberto, atuem junto à popu-lação a fim de torná-la consciente da importância do uso racional da água. Isso se dá tanto por meio das ações estruturais, como o constante investi-mento na limpeza – via Projeto Tietê, cuja execução é de responsabilidade da Sabesp – e o desassoreamento, por par-te do DAEE, de um rio como o Tietê, que interfere diretamente na vida das pessoas, como por meio de campanhas educativas para crianças em escolas e até em peças publicitárias. A Sabesp faz isso muito bem, cabe registrar. Há ainda outras ações muito importan-tes e significativas implementadas por

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“O Pura é, mais que um programa, um jeito de educar as pessoas para usar a água de forma inteligente”

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mente nos seus mananciais. De modo que, por mais que se avance no con-trole de perdas de água nos sistemas de abastecimento público de água, esse resultado incide somente na parcela do uso urbano que é de apenas 25 m3/se-gundo. É necessário então atuar sobre os demais usuários de água que são os industriais e irrigantes, promovendo um amplo programa de uso mais racio-nal de água – o que em termos técnicos denomina-se de “gestão da demanda”.

reVisTa engenHaria – Se o pro-grama alcançar grande êxito, que re-sultados podem ser obtidos?giriBoni – Se as ações de gestão de demanda forem efetivas, os 60 m3/se-gundo caem para 29 m3/segundo, ou seja, menos da metade do previsto. Isso mostra a importância do uso mais ra-cional da água nos três segmentos que consomem esse recurso natural. Dos 29 m3/segundo, o uso urbano representa apenas 4,8 m3/segundo, o industrial será de 13 m3/segundo e irrigação, 10,7 m3/segundo. Por isso é tão importante o controle de perdas de água, troca de equipamentos e mudanças de compor-tamento. O Plano da Macrometrópole Paulista já está na fase final dos traba-lhos. Houve uma suspensão temporária que já foi superada. Estamos na fase de elaboração de Relatório Final. Depois vêm seminários regionais para mos-trar o que resultou dos esforços, isso no segundo semestre deste ano. Quan-to à importância do Plano, é só pensar que a Macrometrópole Paulista tem 180 municípios do Estado de São Paulo com uma população de mais de 31 milhões ou 75% da população do Estado. É uma região que contribui com 75% do PIB do Estado de São Paulo. Podemos dizer sem errar que o suprimento de água é estratégico para a saúde dos motores da nossa economia.

reVisTa engenHaria – Qual a im-portância da revisão do Projeto de Macrodrenagem na Região Metropoli-tana de São Paulo?giriBoni – A sua pergunta é sobre revisão, mas nós damos o nome de Ter-ceiro Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê – PDMAT 3. Tra-ta-se de um instrumento estratégico voltado para o combate às enchentes na Região Metropolitana de São Pau-lo, com o objetivo de diagnosticar e analisar o atual sistema de macrodre-

nagem da região e propor um conjun-to de soluções capazes de reduzir os efeitos das cheias com resultados para os horizontes de cinco, 10 e 20 anos. O PDMAT propõe uma relação interdisci-plinar dos problemas de inundações da Bacia do Alto Tietê, fundamentada na valorização e na restauração do meio ambiente. Dessa forma ele combina soluções estruturais, como as necessá-rias obras de macrodrenagem – canais, barragens, piscinões, obras de desassorea-mento etc. –, com so-luções não estruturais, como a criação de um sistema integrado de gestão da infraestrutu-ra de macrodrenagem, monitoramento remoto, medidas de controle do uso do solo, manuten-ção e recuperação da permeabilidade dos terrenos e outras. Como o planejamento é um processo dinâmico e permanente, os diagnós-ticos, prognósticos e a eficácia das ações preconizadas devem ser revistos de forma periódica. A Bacia do Alto Tietê, cujo território está totalmente inserido na Região Metropolitana de São Paulo, é caracterizada por uma di-nâmica econômica, social e ambiental sempre em constante transformação e o impacto para a drenagem só aumen-ta, quero dizer, é progressivamente maior. Em outras palavras, a população cresce e a mancha urbana se expan-de, resultando cheias cada vez maio-res que frequentemente extrapolam a capacidade da calha dos rios e das estruturas de contenção, o que causa inundações e prejuízos. Cuidar de di-mensionar esse excedente ao longo do tempo, estudar e propor soluções para diminuir o impacto de acordo com a capacidade das estruturas hidráulicas é a tarefa primordial do Plano Diretor de Macrodrenagem.

reVisTa engenHaria – Qual a atu-al situação do desassoreamento do Rio Tietê e afluentes?giriBoni – O trabalho de desasso-reamento do Rio Tietê é constante na nossa secretaria. Ele não pode parar nunca. Só poderia ser interrompido se as cidades parassem de funcionar. Como não é isso o que acontece, cerca de 600 000 metros cúbicos de material são depositados a cada ano no Rio Tie-

tê como se ele fosse um grande lixão a céu aberto. Para se ter ideia, tem gente que joga cadeira, sofá, carcaça de car-ro, geladeira, enfim, todo tipo de coisa dentro do rio. Nosso trabalho é, além de educar as pessoas, retirar o material que se acumula dentro do rio e preju-dica a sua capacidade de retenção de água no pico das chuvas. O Tietê tem uma capacidade de reservar água, mas se ele está cheio de lixo e sujeira, ele

não vai conseguir atin-gir a sua capacidade de vazão e vai transbordar. Desde junho de 2011 até agora, já retiramos 4 milhões de metros cú-bicos de material de as-soreamento do Rio Tie-tê. Mas, como eu disse, esse trabalho não para, ele continua ano a ano ininterruptamente.

reVisTa engenHaria – Qual a atu-al situação dos reservatórios de con-tenção de cheias [piscinões] na Região Metropolitana de São Paulo?giriBoni – O governo estadual, dian-te da situação em que se encontravam os reservatórios de contenção de cheias no final de 2011, decidiu assumir o tra-balho que deveria ser feito pelas pre-feituras da região e limpar 25 piscinões da Grande São Paulo. No ano passado foi estruturada uma licitação para uma PPP [parceria público-privada] a fim de melhorar a eficiência na manutenção e operação do sistema de reservatórios urbanos de controle de cheias da nos-sa região metropolitana, construídos e operados pelo DAEE. Nessa licitação, estão previstos: a recuperação dos 30 reservatórios existentes, a integração e automação deles e a expansão do sis-tema de reservatórios – mais 15 pis-cinões, ou seja, a construção de sete novos piscinões, mais os oito que já estavam sendo executados pelo DAEE. Com isso, teremos, em quatro anos, o acréscimo na capacidade de contenção no momento da cheia de 4,3 milhões de metros cúbicos, o que dá uma média de 1,068 milhão de m³/ano – ou seja, um incremento de 154% no que existe.

reVisTa engenHaria – Qual a im-portância do Parque Várzeas do Tietê para a recuperação das margens do Rio Tietê?giriBoni – O Parque Várzeas do Tietê

Edson Giriboni

“A gestão hídrica envolve o controle de perdas de água, troca de equipamentos e mudanças de comportamento”

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ENGENHARIA I

engenharia 615 / 201350 www.brasilengenharia.com

é um projeto audacioso do governo do Estado de São Paulo que busca preser-var definitivamente as várzeas do rio, evitando que as enchentes prejudiquem as pessoas tanto no que diz respeito aos seus bens materiais, como também em termos de saúde. Digo que é audacioso porque é uma obra muito grande tanto em extensão quanto nos investimentos necessários. Para que fique totalmente pronto, o valor calculado para o projeto é de 1,7 bilhão de reais e, àqueles que não sabem o que é o Parque Várzeas do Tietê, ele vai ligar o Parque Ecológico do Tietê, na zona leste da capital, ao Parque Estadual Nascentes do Tietê, em Salesópolis, por meio da Via Parque. É o que chamamos de parque linear. Ele terá um conjunto de ciclovia e estrada de 230 quilômetros no total, integran-do os oito municípios do Alto Tietê. O projeto é do arquiteto Ruy Ohtake e quem cuida da obra é o DAEE. Nos 75 quilômetros de extensão e 107 quilô-metros quadrados de área serão plan-tadas 63 000 árvores e funcionarão 33 centros de lazer, esporte e cultura. Mais de 3 milhões de pessoas da zona les-te da capital e, indiretamente, toda a população da Região Metropolitana de São Paulo e da Bacia do Alto Tietê te-rão benefícios com essa obra. O Parque Várzeas foi uma solução encontrada para recuperar as margens do rio, que já foram violentamente modificadas, retificadas e invadidas. Agora temos que recuperá-las. Essa demanda é ur-gente e estamos tratando dela.

reVisTa engenHaria – O senhor pode descrever o Programa Água Lim-pa e de que forma ele poderá cumprir a missão de recuperar a qualidade dos recursos hídricos do Estado?giriBoni – O programa Água Lim-

pa foi criado em 2005, à época com recursos da Secretaria da Saúde do Estado de São Pau-lo, com o objetivo de construir sistemas de esgotamento sanitá-rio em cidades pequenas, com menos de 50 000 habitantes, cujos serviços de saneamento não fossem operados pela Sabesp. Desde então, até abril de 2013, o programa já beneficiou mais de 1,6 milhão de pessoas, que passaram a contar com os serviços completos de coleta e tratamento de ef luentes. Fo-ram concluídos atendimentos em 92 municípios e inauguradas 96 estações de tratamento de esgotos – porque al-gumas cidades têm mais de uma. Há 17 estações em construção. Este ano, conseguimos um novo financiamento, o que nos permitirá assinar convênios do programa Água Limpa com mais 30 cidades. A partir daí é uma questão ló-gica. Quando se constrói uma estação de tratamento de esgotos, os ef luentes deixam de ser jogados nos córregos e nos rios, o que vai recuperando grada-tivamente a qualidade das águas. Hoje, posso dizer, com orgulho, que o pro-grama Água Limpa é umas das linhas de frente do governo estadual para que São Paulo possa ter o desenvolvimento desejado em condições plenas de saúde e qualidade de vida para as pessoas.

reVisTa engenHaria – Qual a im-portância do sistema de outorga e fis-calização dos recursos hídricos para o desenvolvimento socioeconômico e geração de negócios no Estado de São Paulo? giriBoni – A outorga é mais um dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos. A concessão de uma outorga

é feita a partir de uma avaliação das necessi-dades do uso da água frente à disponibilida-de do recurso hídrico no local. Só em 2013 já foram concedidas mais

de 2 000 outorgas pelo DAEE, que é o órgão competente para isso. Esse é um sinalizador de que existe controle sobre a concessão. A título de conhecimento considero relevante dizer que a outorga é mais uma ferramenta, ou seja, é par-te integrante do sistema de gestão de recursos hídricos – que também conta com os comitês de bacias, os planos de bacias, o monitoramento hidrológico, o sistema de informações, a cobrança e o enquadramento dos corpos d’água. Tudo isso junto dá condições para o desenvolvimento socioeconômico do estado como um todo.

reVisTa engenHaria – Qual a maior demanda de sua secretaria hoje?giriBoni – Todas as demandas são importantes. Não existe uma que se sobressai sobre a outra. Entretanto, a universalização dos serviços de sanea-mento em todo o Estado é uma meta perseguida para um futuro muito pró-ximo. Por isso precisamos trabalhar com muito afinco nessa direção. Nossa meta é atingir os 300%, ou seja, 100% de água tratada e distribuída para a população, 100% de esgotos coleta-dos e 100% do que é coletado tratado devidamente. No interior do Estado o objetivo deve ser alcançado até 2014, no litoral até 2016 e nas áreas urbanas da Região Metropolitana de São Paulo até o fim desta década. Estão em an-damento importantes programas para garantir a universalização dos serviços.

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“O Parque Várzeas do Tietê é um projeto audacioso do governo estadual, tanto em extensão quanto investimento”

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I ENGENHARIA

engenharia 615 / 2013 51www.brasilengenharia.com

“A universalização do serviço de saneamento em todo o Estado é uma meta perseguida para um futuro muito próximo”

Edson GiriboniUm deles é o Se Liga na Rede, no qual o governo estadual e a Sabesp finan-ciam a ligação de esgoto nas casas de pessoas que não têm recursos suficien-tes para fazer isso. Outro é o programa Água é Vida, por meio do qual levamos água tratada e sistemas de esgotos para comunidades isoladas, que ficam lon-ge do território urbano. Outra atenção constante da secretaria é com a macro-drenagem, principalmente na Região Metropolitana de São Paulo, porque as enchentes causam muitos danos à população. Assim o desassoreamento do Rio Tietê e as obras de contenção de cheias são um trabalho constante da secretaria. Além disso, a gestão dos recursos hídricos, por meio da relação com os comitês de bacias hidrográficas é tão importante para nós que, inclusi-ve, dá nome à nossa secretaria. As ações são integradas umas nas ou-tras. Quem olha de longe pode achar que não existe sinergia, mas tudo con-verge para um mesmo fim.

reVisTa engenHaria – Qual o per-centual do esgoto coletado e tratado na Grande São Paulo na atual etapa

do Projeto Tietê? Quando esse projeto será totalmente concluído? giriBoni – O Projeto Tietê é a prin-cipal iniciativa da Sabesp e do governo estadual para a expansão do esgota-mento sanitário e da melhoria dos rios que cortam a Grande São Paulo, em especial do Rio Tietê. Atualmente na terceira fase, o projeto deve elevar o índice de coleta de esgotos nos muni-cípios da Região Metropolitana de São Paulo dos atuais 84% para 87% e o percen-tual de tratamento dos esgotos coletados de 70% para 84%. Graças ao trabalho desenvolvi-do nos últimos 21 anos, a mancha de poluição do Rio Tietê diminuiu 160 quilômetros. Se an-tes ela chegava a Barra Bonita – a 260 quilôme-tros da capital –, hoje ela está em Salto, município próximo a Itu. Até o fim da etapa atual do programa os habitantes da metrópole vão perceber as melho-rias nas condições do rio, em especial a redução do mau cheiro. Mais de 1,5

milhão de pessoas passarão a dispor de coleta e 3 milhões contarão com tra-tamento de esgotos. Até o fim desta década, ou seja, em 2020, o saneamen-to deve estar universalizado em toda a Grande São Paulo.

reVisTa engenHaria – Qual a potencialidade de água do Aquífero Guarani para o abastecimento da po-pulação?

giriBoni – Algumas cidades do interior são abastecidas pelo Aquí-fero Guarani. Entretan-to, ele é uma reserva que devemos conservar com muito cuidado para as próximas gerações. O nosso papel é ajudar preservar os recursos hí-dricos do planeta como um todo. Por isso somos

tão empenhados em criar, desenvolver e implementar políticas públicas e ga-rantir que sejam feitos os investimentos certos para garantir a manutenção da vida na Terra para os nossos netos e os netos dos netos deles.

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CAPA

Por Juan Garrido

Corrida contra o tempoPelos cálculos preliminares dos técnicos do consórcio responsável pela terceira revisão do Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê (PDMAT-3), o limite de transbordamento da calha do Rio Tietê (vazão de restrição) na Barragem Móvel, na altura do Cebolão da Avenida Marginal do Tietê (na foz do Rio Pinheiros) – que era de 1 048 metros cúbicos por segundo em 2009, pela versão anterior do Plano – elevou-se para algo entre 1 700 e 1 800 metros cúbicos por segundo. Razão pela qual o governo paulista tem pela frente o espinhoso desafio de definir investimentos prioritários em obras físicas que, ao lado de uma gestão hídrica eficiente, permitam controlar as futuras enchentes do Tietê e seus principais afluentes na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), área que concentra os mais altos índices de desenvolvimento e riqueza do Estado de São Paulo. No seu avanço rumo ao crescimento, esta, que é hoje uma das maiores zonas conurbadas do planeta, foi

caPa

ocupando várzeas, encostas e impermeabilizando os seus solos. Tal gigantismo está agora cobrando um preço alto. Hoje o índice de impermeabilização da região atinge incríveis 90%. É nesse quadro que o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), órgão gestor dos recursos hídricos do Estado, vem travando uma luta contra o relógio para oferecer ao governo e à sociedade uma matriz de soluções visando impedir que as cheias possam trazer calamidade para a região nos próximos anos. Como o modelo climático parece estar mudando – ou, no mínimo, as características do atual ciclo são desconhecidas –, o DAEE corre atrás de informações atualizadas da Bacia do Alto Tietê (onde se situa a RMSP) que permitam balizar futuras ações de prevenção. Nesse contexto, o grande destaque vai justamente para o PDMAT, instrumento estratégico- adotado a partir de 1998 – para diagnosticar (em função da urbanização) os problemas existentes ou previstos no horizonte de curto,

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Rio Tiête, cidade de São Paulo

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ESPECIAL RECURSOS HÍDRICOS

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Corrida contra o tempoESPECIAL RECURSOS HÍDRICOS

médio e longo prazo, a fim de determinar, pré-dimensionar e hierarquizar as soluções mais adequadas para as cidades da região, do ponto de vista técnico, econômico e ambiental. A terceira edição do Plano teve início em meados de 2011 e está em fase de conclusão. Além da revisão e atualização dos dois planos anteriores, o PDMAT-3 ampliou seu escopo, abrangendo agora toda a Bacia do Alto Tietê, o que inclui novas sub-bacias que totalizam 30 córregos ou ribeirões e oito rios. O estudo envolve uma área de 5 900 quilômetros quadrados em 39 municípios – da nascente do Rio Tietê, em Salesópolis, até a Barragem de Rasgão, em Pirapora do Bom Jesus. Como as soluções a serem elencadas não envolvem apenas obras – mas também recomendações quanto ao gerenciamento da drenagem, o disciplinamento de uso e ocupação do solo, a educação ambiental e outras medidas ditas não estruturais –, o planejamento que se seguirá deverá aglutinar representantes

não só do governo estadual e das prefeituras, como também da sociedade civil. A equipe do consórcio Cobrape/Engecorps/ Maubertec – responsável pelo estudo – parte do pressuposto de que, se é impossível controlar as chuvas, é possível controlar tudo o que acontece a partir do momento em que a água chega ao solo: seu impacto, o caminho que irá fazer, qual volume ocupará nos rios e reservatórios e como será drenada ou reservada para futuros usos. O consórcio estudou a bacia por camadas (1, 2 e 3), sendo que a primeira inclui os grandes coletores, onde provavelmente se concentrarão os maiores investimentos. Para imprimir agilidade ao levantamento foi contratado um software de modelação hidrodinâmica denominado Sobek, testado com sucesso em várias partes do mundo. A reportagem que publicamos nas páginas seguintes dá uma visão da abrangência das ações e programas do DAEE e da dinamização ocorrida nos últimos anos.

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engenharia 615 / 201354 www.brasilengenharia.com

CAPA

onsiderada uma das áreas mais densamente povoadas do mundo, a Região Metro-politana de São Paulo (RMSP) – situada sobre um planalto com baixos declives – viu seus

terrenos serem ocupados, ao longo do tem-po, de forma desordenada e desprovida de planejamento urbano. O processo acelerado de urbanização, sobretudo a partir dos anos 1960, trouxe como consequência a imper-meabilização do solo – cujo índice hoje re-presenta nada mais, nada menos que 90%. Grande parte dos espaços antes destinados ao armazenamento natural das águas – ou seja, as várzeas dos cursos d’água –, acaba-ram substituídos por áreas construídas que viriam a se tornar novas superfícies inundá-veis. Acrescenta-se a isso a prática de cana-lizações dos rios e córregos, muitas vezes de forma radical, alterando o comportamento das enchentes e não resolvendo o proble-ma, uma vez que as cidades continuaram crescendo sem planejamento, motivo de crescentes transtornos à população, exigin-do fortes investimentos por parte do poder público para disciplinar e conter as águas das chuvas.

Especificamente em relação à cidade de São Paulo, os especialistas constatam que é preciso que a prefeitura adote novas orientações para disciplinar o uso e ocupa-ção do solo e aja com mão de ferro para interromper os já absurdos índices de im-permeabilização do solo paulistano, que, sem infiltração, aumenta o volume e a ve-locidade das águas superficiais que chegam ao leito do Rio Tietê, que pode transbor-dar. Em 1900, a população da cidade era de 240 000 habitantes e a vazão máxima 175 metros cúbicos por segundo; em 1930 su-biu para 350 metros cúbicos por segundo; em 1970 chegou a 750 metros cúbicos por segundo; em 1980 superou 800 metros cú-bicos por segundo; e agora já ultrapassa os 1 700 metros cúbicos por segundo, pari pas-su com o crescimento da população (mais de 11 milhões de habitantes no município) e a impermeabilização. A situação piora com os sedimentos carreados, mais o lixo mal acondicionado e mal colocado nas ruas para coleta ou sem coleta, por causa das chuvas, que entopem os bueiros, tubulações, gale-rias, canais, córregos e aumenta a vazão dos afluentes e do Rio Tietê. Há também a água desviada da Bacia do Atibaia-Piracicaba, pelo Sistema Cantareira, o que aumenta a vazão do Tietê em quase 50 metros cúbicos por segundo – a qual se junta àquela da cap-tação subterrânea, uma vazão da ordem de 11 metros cúbicos por segundo.

O combate às enchentes na RMSP teve um forte incremento em 1998 quando o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) mandou elaborar o primeiro Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê (PDMAT-1). O estudo foi desenvolvido

Cpor meio de uma abordagem integrada dos itens críticos em todas as principais sub--bacias da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, região que concentra os maiores índices de desenvolvimento e riqueza de São Paulo. A continuidade de suas ações foi assegurada pelo PDMAT-2, no ano de 2009. A tercei-ra edição do trabalho (PDMAT-3) – ora em fase de conclusão – está sendo elaborada desde agosto de 2011 pelo consórcio for-mado pelas empresas Cobrape, Engecorps e Maubertec.

Segundo Alceu Segamarchi Júnior, su-perintendente do DAEE, o PDMAT-3, além da revisão e atualização dos planos ante-riores, corresponde a uma ampliação de escopo do plano, abrangendo agora toda a Bacia do Alto Tietê. Ele explica que a me-todologia empregada nas análises de diag-nóstico da bacia e de avaliação de medidas a serem propostas consiste na simulação, em termos hidrológicos e hidráulicos e por meio de modelo matemático, do escoamen-to nos diversos cursos d’água relevantes existentes na bacia. A primeira fase dos tra-balhos consistiu na coleta de todas as infor-mações pertinentes às áreas de drenagem urbana e de recursos hídricos da Bacia do Alto Tietê, sendo montada uma base de da-dos robusta, abrangendo todos os aspectos envolvidos: físicos, hidrológicos, hidráu-licos, econômicos, sociais e institucionais. Segamarchi comenta que houve a adoção de um modelo matemático consistente, já aplicado em áreas urbanas complexas de outros países com bons resultados, associa-do à sua calibração a partir de dados ob-servados de precipitações, vazões e níveis d’água, disponíveis nos bancos de dados do radar meteorológico do DAEE e da rede telemétrica da Bacia do Alto Tietê. “Todos esses dados, praticamente contínuos no tempo, estão permitindo a obtenção de re-sultados confiáveis nas simulações. Como a modelação está sendo aplicada na bacia em geral, é possível avaliar a repercussão de uma intervenção num trecho de um deter-minado curso d’água, sobre todo o sistema de drenagem da bacia, ou seja, o modelo calibrado é uma eficiente ferramenta de avaliação de alternativas de solução.”

A partir dos resultados das simulações e os correspondentes diagnósticos da ba-cia, o plano indicará as ações propostas, envolvendo medidas estruturais e não es-truturais. Antes do início dos trabalhos, o PDMAT 3 foi amplamente discutido pelo DAEE e os técnicos do consórcio, até por-que ele seria desenvolvido de maneira di-ferente dos planos 1 e 2, sendo estudado por camadas (1, 2 e 3). A primeira camada inclui os grandes coletores, onde também poderão estar concentrados os maiores in-vestimentos: Rio Pinheiros, desde a Barra-gem de Billings até a confluência com o Rio Tietê; o Tietê, integralmente até a Usina de Rasgão; o Rio Juqueri, desde a barragem

de Paiva Castro até a Usina de Rasgão; e o Tamanduateí, desde o município de Mauá até o Tietê. As camadas 2 e 3 vão envolver os tributários de menor porte. Trata-se, no entanto, de um processo interativo: a obra da camada 1 acaba influindo na camada 2 e na camada 3, e o caminho inverso também deverá seguir essa tendência. Pelos cálculos preliminares do PDMAT-3, o limite de trans-bordamento da calha do Rio Tietê (vazão de restrição) na Barragem Móvel, na altura do Cebolão da Avenida Marginal do Tietê (na foz do Rio Pinheiros), elevou-se para algo entre 1 700 e 1 800 metros cúbicos por se-gundo. Pelos resultados da segunda edição do plano, o PDMAT-2, a vazão de restrição na Barragem Móvel era de 1 048 metros cú-bicos por segundo.

— Como explicar essa elevação do limite de transbordamento da calha do Rio Tietê em tão pouco tempo? — perguntamos a Se-gamarchi.

“Na realidade esses números que o PDMAT-3 está apontando, não passaram a existir agora. A diferença é que a tecno-logia, os modelos matemáticos novos, os softwares disponíveis apontam para uma vazão maior do que a que se supunha ante-riormente. Não é que a impermeabilização tenha avançado nessa velocidade. Embora não se possa negar que a urbanização – e, consequentemente, a impermeabilização – tenha contribuído muito para isso. Mas ela não é a única culpada. ‘Ah, estava tudo errado, então?’, poderiam pensar as pesso-as. A resposta é ‘não’. Ainda que os mode-los de enchente que se dispunha para cal-cular a vazão de restrição por ocasião do PDMAT-2 tivessem chegado ao número de 1 048 metros cúbicos por segundo, esse estudo já antecipava que por volta do ano 2020 a vazão de restrição iria ser próxima de 2 000 metros cúbicos por segundo na confluência dos rios Tietê e Pinheiros. Quer dizer, a percepção não estava errada. O que está se verificando agora é a constatação dessas expectativas. Os catedráticos e téc-nicos do tema tinham esse feeling mas não conseguiam provar cientificamente, pelos modelos de que se dispunha na época. Hoje nós estamos conseguindo provar. O que nós adotamos agora foi um sistema pelo qual a medição da intensidade de chuva é diferen-te da tradicional – que é de tempo de recor-rência de 25, 50 e 100 anos. Ou seja, subs-tituímos pela classificação de chuva pelo nível de intensidade – nível 1, 2, 3 –, como se faz fora do Brasil em relação a terremo-to, furacão e tornado. Eu mesmo sugeri a adoção dessa nova metodologia a partir do PDMAT-3. Por quê? Porque hoje uma chuva de 100 anos de tempo de recorrência em nossa bacia não representa mais o volume de água que se suspeitava ser real muito pouco tempo atrás. Para quem desconhece o assunto, para prever a chuva os técnicos analisam os modelos, chuvas ou tempes-

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ESPECIAL RECURSOS HÍDRICOS

tades do passado. E nós estamos usando como tempestade de referência – a chama-da tempestade de projeto – a tormenta de março de 2010, que obviamente ocorreu um pouco depois do PDMAT-2, de 2008. Essa foi a maior tempestade que houve aqui na Bacia do Alto Tietê desde então. E ela foi potencializada no modelo matemático do PDMAT-3 de modo a que pudéssemos che-gar a um número próximo do máximo real. E que são esses 1 700 ou 1 800 metros cú-bicos por segundo – efetivamente números muito altos.”

— Essa situação exige grandes obras de engenharia, como um túnel extravasor aco-plado a outras soluções? — questionamos.

“Exatamente. E a partir do PDMAT-3 nós vamos propor ao governo e à socie-dade algumas obras factíveis para a gente dar conta dessa vazão. O túnel extravasor é uma delas. Mas ele, sozinho, não dará conta disso tudo – teria que ser o túnel e mais algo. O que vamos propor é uma matriz de soluções. Da mesma forma que nós va-mos propor uma matriz de novas fontes de abastecimento de água no Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista que prevê uma meta de suprimento adicional de água para o horizonte de projeto de 2030. Ou seja, nós vamos fazer a mesma coisa em relação às

enchentes na Bacia do Alto Tietê. Reafirmo que não é uma solução isolada que vai dar conta do recado. Nós vamos apresentar uma combinação de obras e ações não estrutu-rais. E é o governo e a sociedade civil quem vão escolher qual combinação será a esco-lhida. Mas serão soluções factíveis e obras dentro do que o Estado pode pagar (ler adiante entrevista com os técnicos do consórcio Cobrape/ Engecorps/ Maubertec, responsáveis pelos estudos do PDMAT-3).”

— A várzea não deveria ter sido ocupada lá atrás, mas se agora Inês é morta e não se pode voltar ao passado, há que se buscar soluções técnicas. Mas a impressão que fica é que mesmo obras faraônicas serão insufi-cientes. É uma percepção equivocada essa? — colocamos.

“É o que eu sempre digo: não adianta a gente querer resolver um problemão com uma ‘soluçãozinha’. O problemão exige uma solução do tamanho do problema. Eu pró-prio disse, um tempo atrás, ao pessoal técni-co que está desenvolvendo o PDMAT-3, que não adianta você querer tratar uma ferida provocada por tiro de revólver com band--aid. Tem que extrair o projétil, fazer uma cirurgia. Primeiro nós precisamos entender o tamanho do problema e depois atacar a solução. O Estado brasileiro – entenda-se estados, prefeituras e União – deveria ter

realizado muitas obras necessárias há muito tempo. Hoje, para se recuperar o que sobrou da várzea do Rio Tietê, é preciso executar obras a um custo elevadíssimo [ler nesta edi-ção a reportagem “O custo social de algumas obras já ultrapassa o da construção em si”], e só onde ainda é possível – como estamos fazendo com o programa Parque Várzeas do Tietê. Ainda existe certa confusão jurídica a respeito do problema de uso e ocupação do solo. As prefeituras são responsáveis pela vigilância e, em última instância, pelo uso e ocupação do solo. Só que na hora em que a municipalidade se vê às voltas com os grandes problemas que ela própria aju-dou a criar – e não consegue dar conta de prover uma solução –, a busca do remédio acaba sobrando para o governo estadual ou para a União, que são as instâncias com mais condições econômico-financeiras para sanar a situação. Mas, a rigor, nós não pre-cisaríamos estar investindo hoje verdadeiras fortunas, como no Parque Várzeas do Tietê, se as prefeituras cumprissem seu papel de zelar pelo uso e ocupação do solo. O que se vê é justamente o inverso. Em algumas si-tuações as prefeituras fecham os olhos e até incentivam... E deixam o mercado imobili-ário solto, fazendo até o papel de planeja-dor da cidade. E aí, depois de algum tempo, vem a tal ‘regularização urbana’ das ocupa-

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CAPA

ções irregulares e se acaba perenizando o problema. É um pro-cesso perverso para as próprias pessoas que ocupam. Não tem saneamento, não tem infraestrutura, não tem escola, não tem transporte. É a regu-larização do caos. Aí aparece o governo e diz: ‘desapropria todo mundo, vamos devol-ver a várzea, porque em caso contrário o resto da cidade vai pagar por isso’. Que é exatamente o que acontece, no caso da zona leste da cidade de São Paulo e de parte de Guarulhos, com o programa Várzeas do Tietê. Nosso trabalho atual é no sentido de preservar a várzea remanescente para que ela sirva como um grande piscinão natural, que é o papel de todas as várzeas. Lá, da Pe-nha para cima, está o único trecho em que ainda é possível fazer alguma preservação na Bacia do Alto Tietê. Para baixo não dá mais: teríamos que desapropriar os bairros paulistanos da Barra Funda, Freguesia do Ó, Lapa e por aí afora – o que é totalmente inviável. Outra coisa: retificar rios, nesta al-tura do campeonato, é algo que não se pen-sa mais em fazer. A opção de aumentar a velocidade da água em direção ao fundo do vale, em direção ao ralo principal da bacia, que é o Rio Tietê, é o que de pior poderia acontecer para o nosso rio principal. Por isso que os reservatórios de contenção de cheias [piscinões] são tão importantes, porque eles são os equipamentos de retardo. Eles evi-tam que essa água chegue toda ao mesmo tempo no Rio Tietê, que para isso teria que ser muito mais superdimensionado do que é hoje (ler adiante entrevista com o engº Alui-sio Pardo Canholi, da Hidrostudio, especialista em piscinões). Como já comentei, um túnel, associado a outras obras, deverá fazer par-te da matriz de soluções para impedir que cheias de anos futuros virem calamidade, que o DAEE deverá apresentar brevemente ao governo estadual e à sociedade.”

Segundo Carlos Alberto La Selva, dire-tor de engenharia e obras do DAEE, um tú-nel extravasor grande está sendo realmente cogitado como uma das soluções. “Por mais que sejam preocupantes as novas vazões de restrição do Rio Tietê, há obras que poderão segurar as águas, porque a engenharia con-segue resolver virtualmente tudo. É preciso obviamente ter planejamento, dinheiro para financiar grandes investimentos em obras físicas e aspectos sociais, ao lado de von-tade política. Porque cada vez que se fala numa grande obra em área urbana se está mexendo na cidade de forma radical – é

preciso pagar desa-propriações, remane-jar pessoas, e assim por diante. E muitas vezes não há outra forma de agir que não seja enfrentando to-dos esses percalços.”

— Como funcio-naria um túnel extra-vasor? — pergunta-mos a La Selva.

“Um túnel extra-vasor funcionaria da mesma forma que um piscinão subterrâneo. Basta se pensar num túnel de metrô. Em vez de ter um pisci-não, ou seja, um re-

servatório aberto, um modelo estático, po-de-se construir um túnel contínuo. Porque a ideia desse túnel está diretamente vinculada a volume de água. Imagine ter que se con-centrar um volume imenso de água numa ‘piscina’ gigantesca. Só que em vez de se

fazer um buraco, se faz um túnel. Um túnel é fácil de construir. Hoje em dia, com a tec-nologia do equipamento shield, se permite isso. Pense no túnel de metrô de 10 ou mais metros de diâmetro que existe ligando, por exemplo, a Estação Sé à Estação Paraíso e imagine o volume imenso de água que pas-saria por lá se em vez de trem de metrô se usasse aquela cavidade para acumular água durante a chuva. É mais ou menos isso um túnel extravasor. Depois que a chuva passa, a água lá de dentro é bombeada. Na chu-va forte, a água enche o túnel. Ou se faz o projeto do túnel prevendo-se o desemboque em algum lugar a jusante, onde não esteja chovendo ou onde não haja historicamente problema de enchente – ou simplesmente se faz, para o desemboque, um reservatório de água à moda de um piscinão. Mas como a tendência é que o controle hídrico passe a ser feito em tempo real, basta se prever sistemas de abrir e fechar comportas sem-pre que necessário. Tal como os novos pis-cinões, que deverão ser dotados de compor-tas e equipamentos para operação remota a partir de uma central de controle.”

Carlos Alberto La Selva, diretor de engenharia e obras do DAEE

Três engenheiros do consórcio Cobra-pe/ Engecorps/ Maubertec, responsá-vel pela elaboração da terceira versão

do Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê (PDMAT-3), estiveram reunidos numa sala cedida pelo DAEE, no centro velho da cidade, para uma entre-vista exclusiva conjunta para a REVISTA ENGENHARIA. São eles Danny Dalberson de Oliveira, diretor da Engecorps e coor-denador geral desse trabalho; João Jorge da Costa, consultor da Cobrape, também coordenador da Di-visão de Engenharia Sanitária e Recursos Hídricos do Institu-to de Engenharia; e André Luiz de Me-deiros Monteiro de Barros, coordenador executivo pela Mau-bertec para o Plano. Durante a conver-sa eles fizeram um rápido exame dos PDMAT’s anterio-res e apontaram os novos padrões ado-tados para a reali-zação desta terceira versão – ora em fase

Os técnicos do consórcio explicamos novos parâmetros do PDMAT-3

de conclusão –, considerada muito mais avançada que as duas que a antecederam. Em sua primeira edição, o PDMAT-1 (1998) ampliou a calha do Rio Tietê e deu origem à rede de piscinões existente na RMSP. Sua revisão foi feita pelo PDMAT-2 (2009), que ampliou a capacidade de escoamento dos cursos de água e realizou intervenções em pontos críticos, como a Bacia do Pirajuça-

ra. Ambos adotaram a ampliação de áreas verdes, a criação de parques lineares e a urbanização de fa-velas em zonas ribei-rinhas como impor-tantes componentes da estratégia contra as inundações. Tais conquistas serão aprofundadas pelo PDMAT-3, responsá-vel por uma região geográfica maior do que a estudada pe-los seus antecessores. A versão em fase de finalização abrange novas sub-bacias, que totalizam 30 cór-regos ou ribeirões e oito rios.

Antes da entre-vista propriamente

Danny Dalberson de Oliveira, diretor da Engecorps

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dita, vale detalhar a gênese dos levan-tamentos. Em 1998 o DAEE elaborou o PDMAT-1, visando primordialmente ao combate às enchen-tes na RMSP, por meio de uma abor-dagem integrada dos problemas em todas as principais sub-ba-cias da Bacia Hidro-gráfica do Alto Tietê. Essa primeira versão buscou complemen-tar as obras e ações de melhoria hidráu-lica dos rios Tietê e Tamanduateí neces-sárias a um conjunto de soluções modula-res, por sub-bacias, que permitiriam sua execução por etapas. Em síntese, o obje-tivo do PDMAT-1 foi o de diagnosticar os problemas existentes ou previstos no hori-zonte do projeto, para propor as soluções mais interessantes do ponto de vista téc-nico, econômico e ambiental. Neste con-texto, atuou-se prioritariamente na am-pliação da calha do Tietê, na Bacia do Rio Tamanduateí – incluindo as sub-bacias dos ribeirões dos Meninos e dos Couros, além do Córrego do Oratório; Bacia do Córrego Pirajuçara; Bacia do Rio Aricanduva; Bacia do Ribeirão Vermelho; Bacia do Médio Ju-queri e Bacia do Rio Baquirivu.

Para dar mais alcance aos estudos, o DAEE procurou reunir o maior número de prefeituras possível entre os 39 municípios que compõem a Bacia do Alto Tietê, envol-vendo técnicos municipais, de secretarias, além de entidades governamentais e não governamentais afins. Como as soluções apresentadas ao final do levantamento não abrangiam apenas obras – mas também recomendações quanto ao gerenciamen-to da drenagem, o disciplinamento de uso e ocupação do solo, educação ambiental e outras medidas ditas não estruturais –, ficou clara a necessidade de que o plane-jamento derivado das sugestões arroladas fosse igualmente o mais abrangente pos-sível, envolvendo em sua realização os re-presentantes dos diversos agentes e órgãos responsáveis pela gestão da infraestrutura, saneamento básico, meio ambiente e da so-ciedade civil como um todo. Cumpre citar que para intervir em qualquer município, o governo estadual, por meio do DAEE, precisa, necessariamente, da “autorização e parceria” das prefeituras, seja na oferta de terrenos para construção de piscinões, por exemplo, ou execução de qualquer outra intervenção, sob sua orientação. No caso do PDMAT-2, encomendado pelo DAEE em 2008, o órgão percebeu, mais

uma vez, que a dinâ-mica da Grande São Paulo, com cresci-mento desordenado e o surgimento de no-vas demandas na área de drenagem urbana, exigia que houvesse, em relação ao PD-MAT-1, a redução do risco de inundação, adotando-se para tal uma chuva de projeto de maior intensidade, com probabilidade de ocorrência a cada 100 anos. O contí-nuo desenvolvimento urbano e significa-tivas mudanças no uso e ocupação do solo levaram a uma

reavaliação do Plano. Também nessa se-gunda versão foram ouvidas as prefeituras e as principais entidades e órgãos ligados ao segmento de recursos hídricos da RMSP. Novamente, o mesmo objetivo: obter os caminhos mais adequados para a minimi-zação das inundações e, numa fase final, a solução. Além da revisão/atualização pro-priamente dita, constaram entre as medidas recomendadas, os chamados parques line-ares nas áreas junto às várzeas de cursos d’água e introduziu-se a solução em pôlder, estrutura constituída de muro em concreto ou dique em solo – implantada ao longo das margens do rio – que atua como barreira contra o seu transbordamento. Foi sugerida, também, a uniformização dos procedimen-tos de análise hidráulica e hidrológica, a fim de possibilitar uma harmonização entre as ações dos vários órgãos das administrações estadual e municipal e das concessionárias responsáveis pelo ge-renciamento da dre-nagem urbana nos vários municípios. Fora isso, um maior enfoque nas medidas não estruturais, no tocante a implanta-ção de programas de educação ambiental e de sistemas de moni-toramento e de alerta contra inundações, e a apresentação de propostas e reco-mendações relativas à legislação sobre uso e ocupação do solo. No entanto, os proble-mas dos municípios da Grande São Pau-lo, longe de diminuir, tendem a aumentar e, com isso, em 2011 ti-

veram início os trabalhos da terceira versão, o PDMAT-3. A cargo do consórcio Cobrape/ Engecorps/ Maubertec, o estudo do PD-MAT-3 – além de rever e atualizar os planos anteriores – ampliou seu escopo, abarcando agora toda a Bacia do Alto Tietê. A metodo-logia empregada nas análises de diagnós-tico da bacia e de avaliação de medidas a serem propostas consiste na simulação, em termos hidrológicos e hidráulicos e por meio de modelo matemático, do escoamento nos diversos cursos d’água relevantes existen-tes na bacia. A primeira fase dos trabalhos consistiu na coleta de todas as informações pertinentes às áreas de drenagem urbana e de recursos hídricos da Bacia do Alto Tietê, sendo montada uma base de dados robusta, abrangendo todos os aspectos envolvidos: físicos, hidrológicos, hidráulicos, econômi-cos, sociais e institucionais. A adoção de um modelo matemático consistente, já aplicado em áreas urbanas complexas de outros pa-íses com bons resultados, associado à sua calibração a partir de dados observados de precipitações, vazões e níveis d’água, dis-poníveis nos bancos de dados do radar me-teorológico do DAEE, na rede telemétrica da Bacia do Alto Tietê – todos com dados praticamente contínuos no tempo –, e tam-bém levantados especificamente para este estudo (foram estabelecidas 15 curvas de descarga) que estão permitindo a obtenção de resultados confiáveis nas simulações. Como a modelação foi aplicada em toda a bacia – a chamada modelagem integrada –, está sendo possível avaliar a repercussão de uma intervenção feita em um trecho de um determinado curso d’água sobre todo o restante do sistema de drenagem da bacia. Ou seja, o modelo calibrado está se consti-tuindo numa eficiente ferramenta de ava-liação de alternativas de solução. A partir dos resultados das simulações e os corres-

pondentes diagnósti-cos da bacia, o pla-no vai propor ações envolvendo medidas estruturais conven-cionais e outras mais arrojadas. Especial destaque é atribuído também aos aspectos institucionais e de gestão da drenagem urbana, sendo pro-postos os chamados “distritos de drena-gem” que comporão as bases do sistema de gestão a ser im-plantado. No con-texto da importância das relações institu-cionais mobilizou-se, além das entidades e dos órgãos estaduais e municipais ligados à

Rua Cardoso de Almeida, 167 - Perdizes - CEP: 05013-000 - São Paulo-SPTel: (11) 3670-1763 www.hidrostudio.com.br

Há 15 anos a Hidrostudio Engenhariaorgulhosamente tem colaborado com o DAEEem planos e projetos para o controle dasenchentes no Estado de São Paulo.

Plano de Macrodrenagem da Bacia do Rio Paraitinga;Projeto Várzeas do Rio Tietê;Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê I e II;

São João da Boa Vista;Bacia do Ribeira do Iguape;

Reservatório Guamiranga, na Bacia do Tamanduateí;Sistemas de polder na Marginal Tietê, São Paulo.

Plano de Macrodrenagem do Município de Mococa;Plano de Macrodrenagem do Município dePlano de Macrodrenagem da

João Jorge da Costa, consultor da Cobrape, coordenador da Divisão de Engenharia Sanitária e Recursos Hídricos do Instituto de Engenharia

André Luiz de Medeiros Monteiro de Barros, coordenador executivo na Maubertec

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Há 15 anos a Hidrostudio Engenhariaorgulhosamente tem colaborado com o DAEEem planos e projetos para o controle dasenchentes no Estado de São Paulo.

Plano de Macrodrenagem da Bacia do Rio Paraitinga;Projeto Várzeas do Rio Tietê;Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê I e II;

São João da Boa Vista;Bacia do Ribeira do Iguape;

Reservatório Guamiranga, na Bacia do Tamanduateí;Sistemas de polder na Marginal Tietê, São Paulo.

Plano de Macrodrenagem do Município de Mococa;Plano de Macrodrenagem do Município dePlano de Macrodrenagem da

gestão de recursos hídricos, todos os muni-cípios da Bacia do Alto Tietê, por meio de reuniões e workshops. Particularmente no caso da prefeitura paulistana, que também atua intensamente nos problemas de dre-nagem urbana, foi realizada mais de uma dezena de encontros de técnicos do DAEE com técnicos municipais.

— Qual a área de abrangência do PD-MAT-3? — perguntamos a Danny Dalberson de Oliveira.

“O PDMAT-3 cobre toda a Bacia, pra-ticamente desde a nascente do Rio Tietê – ou seja, do reservatório de cabeceira em Salesópolis – até o exutório da bacia que é a Usina de Rasgão, em Pirapora do Bom Jesus. Os primeiros planos, até pela própria característica, tecnologia e recursos de que se dispunham, estudaram a bacia com um grau de resolução menor, utilizando um número de subdivisões e compartimentos (sub-bacias). A bacia toda abrange 5 868 quilômetros quadrados e 37 municípios da Grande São Paulo. Só para mostrar uma das diferenças da atual versão em relação aos dois PDMAT’s anteriores, nós analisamos com detalhes o trecho que vai do Córrego Três Pontes – córrego que marca a divisa dos municípios de São Paulo e Itaquaque-cetuba – até a Barragem Ponte Nova, no município de Salesópolis, um segmento

de cabeceira que não havia sido analisado antes. O estudo também abordou uma sé-rie de afluentes do Tietê, incluindo os rios Itaquera, Tiquatira, Jacu, Cabuçu de Cima, Cabuçu de Baixo, Carapicuíba, Cotia e São João do Barueri.”

— O que levou o consórcio a adotar a metodologia de estudo das três camadas? — indagamos de Oliveira.

“O consórcio decidiu, logo no começo dos trabalhos, adotar essa metodologia por razões fáceis de entender. Primeiro, pela área de abrangência ser muito grande, ou seja, quase 6 000 quilômetros quadrados. Depois pela quantidade de municípios den-tro da Bacia. Além disso, trabalhando com essa área espacial e essa quantidade de mu-nicípios, esperava-se lidar com uma série de estruturas hidráulicas existentes de grande complexidade. O que são essas estruturas hidráulicas? Todas as barragens de cabecei-ra, todas as intermediárias, as barragens a jusante e as barragens de controle. A Bar-ragem da Penha e a Barragem Móvel, por exemplo, foram construídas exclusivamente para controle da vazão do Rio Tietê. Assim como as cinco barragens do Sistema Alto Tietê – Ponte Nova, Paraitinga, Biritiba, Jundiaí e Taiaçupeba – foram inicialmente projetadas também com a finalidade de re-ter a água antes da chegada à cidade de São

Paulo, já que se localizam na cabeceira do Rio Tietê. Além de 16 estruturas hidráulicas, tivemos que fazer levantamento de dezenas de piscinões, 201 seções topobatimétricas [levantamento topográfico e levantamento ba-timétrico, sendo que este é a determinação do relevo do fundo dos corpos d’água], levanta-mento a laser a montante da Barragem da Penha, com curvas de nível de metro em metro, e levantamento de 56 projetos exis-tentes de diversas prefeituras.”

— Tudo para alimentar uma complexa base de dados? — colocamos.

“Sim, mas tem mais. Depois tivemos que fazer todo o inventário de estações de mo-nitoramento da Bacia do Alto Tietê. Ao mes-mo tempo instalamos 16 pontos de medição de vazão em toda a bacia e elaboramos os mapas temáticos de ocupação em Unidades de Conservação. Todo esse levantamento de dados hidrológicos foi feito para criar a base de dados que permitisse estudar os chamados eventos críticos da Bacia do Alto Tietê nos últimos 15 anos – que geraram inundações –, a fim de tentar entender esse fenômeno sob o ponto de vista espacial e temporal e ao mesmo tempo associá-lo com os riscos envolvidos. Para ajudar a montar o modelo de trabalho, o consórcio contratou um software de modelação hidrodinâmica denominado Sobek, já testado com suces-

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so em várias partes do mundo. Nós estamos trabalhando com ele pelas várias facilidades que ele oferece. Com o ferramental atual e os equipamentos de processamento, nosso mo-delo permite simular a bacia integralmente. Contamos, inclusive, com a orientação de consultores da Deltares, o famoso laborató-rio de hidráulica de Delft, Holanda. Na prá-tica, para simular a bacia é preciso alimentar esse software com os dados físicos; o uso de ocupação do solo atual, para fazer o diag-nóstico; e o uso de ocupação futuro, para o caso do prognóstico. Quando avaliamos a massa de informações que teríamos de colo-car no nosso banco de dados, nós achamos – tendo em vista a nossa experiência ante-rior com outros projetos – que ficaríamos muito tempo dependendo da chegada des-sa coleta de dados para podermos, depois, efetuar corretamente as análises. Então para que fôssemos tendo resultados – e também a noção do que nós estávamos descobrin-do –, resolvemos trabalhar por camadas, o que daria agilidade a nossas atividades. Mais precisamente, três camadas. É interessante ressaltar também que, para a elaboração dessa base de dados, nós usamos as bases cartográficas – levantamentos topográficos – fornecidos pela Emplasa [Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano] e pela pre-feitura paulistana. Os da Emplasa são mais antigos. Os da prefeitura são mais recentes – de metro em metro, como mencionei de passagem há pouco.”

Em sua narrativa, Oliveira comenta que a camada 1 – a de maior complexidade – pega os drenos principais, que são o Rio Tie-tê propriamente dito, o Tamanduateí, desde Mauá, o Rio Juqueri (Mairiporã – Franco da Rocha e Caieiras) e o Rio Pinheiros, que vem do Sistema Billings. A Represa Billings é um dos maiores e mais importantes reservató-rios de água da Grande São Paulo. A oes-te, faz limite com a Bacia Hidrográfica da Guarapiranga e, ao sul, com a Serra do Mar. Seus principais rios e córregos formadores são o Rio Grande ou Jurubatuba, Ribeirão Pires, Rio Pequeno, Rio Pedra Branca, Rio Taquacetuba, Ribeirão Bororé, Ribeirão Co-caia, Ribeirão Guacuri, Córrego Grota Fun-da, Córrego Alvarenga, e o Rio Juqueri, des-de a Barragem Paulo de Paiva Castro, que foi construída pela Sabesp a fim de fornecer água para a cidade de São Paulo.

— E como são as camadas 2 e 3? — so-licitamos.

“Inicialmente nós tínhamos fixado que a camada 2 seria constituída pelos afluentes a jusante da Barragem da Penha, na zona leste de São Paulo, com área de drenagem superior a 100 quilômetros quadrados. Mas isso só no início. Depois fomos ajustando esse critério até por conta da importância da sub-bacia. Então incluímos na camada 2 algumas sub-bacias menores que também são fundamentais para a análise. Finalmente chegamos na camada 3, que são os demais

contribuintes. Com isso, nós fomos colocan-do informações de tal maneira que nós pu-déssemos ir traçando os contornos – porque é um modelo muito complexo –, e colhendo os primeiros resultados para a camada 1. De-pois nós fomos agregando as informações das outras duas camadas, ajustando nova-mente o modelo, e verificando as vazões do coletor principal. E finalmente jogando a camada 3 e verificando o efeito. Isso para permitir que o trabalho fosse progredindo à medida que as informações fossem chegan-do até porque essas informações são muito demoradas, muito difíceis de obter.”

— Pode dar mais detalhes sobre o sof-tware Sobek? — pedimos a Oliveira.

“Essa ferramenta de modelagem hi-drodinâmica, que usamos para operar este modelo hidrológico/ hidráulico, trabalha em 1D e 2D – bidimensional horizontal – para considerar o espraiamento pelas várzeas. É um modelo que trabalha integrado – ou seja, simula chuva e o escoamento nos rios, piscinões e barragens – e em tempo real. Isto é, você simula a bacia toda com a chuva real, incluindo sua distribuição diferenciada pelo território. Na verdade, o modelo traba-lha com simulação de entradas de chuvas de dez em dez minutos. O modelo toma a pre-cipitação observada nos eventos naturais, e aplica na bacia subdividindo-a por área de dois por dois quilômetros. Então ele simula quadradinhos de 4 quilômetros quadrados em todos os 5 868 quilômetros quadrados, simultaneamente. E pelo tempo que se qui-ser. Para que você opere esse modelo é pre-ciso primeiro ter a chuva de calibração, que vem dos eventos naturais de grande porte que já ocorreram no passado – foram consi-derados os últimos 30 anos – com ênfase a partir de 2005 – com suas correspondentes leituras através do radar meteorológico de São Paulo e dos pontos de medição telemé-tricos. E o modelo tem que reproduzir exa-tamente: isso chama-se calibrar o modelo. Quando se calibra o modelo são ajustados os parâmetros para que ele represente o evento natural o mais próximo da realidade possível. Na verdade se está transformando chuva em vazão e vazão em nível d’água. Ou seja, partindo-se de uma chuva real, você ajusta coeficientes desse modelo, que pode prever uma futura área de inundação para uma chuva mais severa. Tudo associa-do a um menor risco.”

— Houve alguma adaptação do Sobek para o caso da Bacia do Alto Tietê? — per-guntamos a Oliveira.

“Uma das novidades desse trabalho, é que o modelista, ou melhor, a equipe de consultoria, que é oriunda da Holanda, queria que os eventos fossem variáveis no tempo. Então nós tivemos que buscar essa informação dentro do próprio sistema do DAEE e transformar esse dado. Isso, num primeiro momento, parecia ser algo relati-vamente fácil, mas acabou dando bastan-

te trabalho. Os holandeses são os maiores especialistas em softwares de modelagem hidrodinâmica, porque a Holanda é um país que convive com alto risco de inunda-ções – parte do país está abaixo do nível do mar. Então para eles essa é uma questão de sobrevivência. A grande novidade foi que selecionamos os eventos críticos, fizemos a consistência, fizemos a detecção das ima-gens de radar para a chuva de calibração e, finalmente, definimos as chamadas chuvas de projeto – estas, sim, são as tormentas de projeto. Como ilustração, foram considera-das 111 estações operadas pela rede telemé-trica do Sistema de Alerta à Inundações, o SAISP, e selecionadas 54, que foram corre-lacionadas com as imagens em tempo real do radar meteorológico, obtendo-se assim a distribuição espacial e temporal da tormen-ta distribuída a cada 2 quilômetros. A par-tir daí a chuva é aplicada ao modelo, que é ajustado até reproduzir as observações nos postos fluviométricos – dotados de senso-res chamados de limnígrafos. Com isso se calibra o modelo.”

— O que é chuva de projeto? Antes não se falava em chuva de 20, 50 ou 100 anos? — pedimos que Oliveira esclarecesse.

“É a chuva potencializada. Nos proje-tos de drenagem urbana, tradicionalmente se adotam valores para o evento de projeto que são associados às suas probabilidades de ocorrência, ou na linguagem hidrológi-ca, os períodos de retorno. Estas probabili-dades são calculadas a partir das observa-ções históricas em um ponto e, no processo tradicional, aplicadas para áreas maiores com correções baseadas em recomendações internacionais. No caso do PDMAT, onde a área de estudo é grande e a distribuição espacial-temporal da chuva varia muito nos eventos críticos, foi feita uma associação da distribuição de chuva efetiva na bacia com as estatísticas pontuais. Nós conside-ramos, na verdade, alguns eventos naturais pré-selecionados, que foram eventos que causaram grandes cheias na bacia, e depois correlacionamos com a estatística de um posto de longo histórico e boa qualidade, no caso o posto de referência da Bacia do Alto Tietê, que é operado pelo Instituto As-tronômico e Geofísico da USP, o IAG, que fica no bairro da Água Funda. Feita esta correlação foi possível gerar chuvas de pro-jeto com diferentes distribuições no espa-ço e no tempo, associadas à probabilidades correspondentes aos períodos de retorno de 25, 50 ou 100 anos, obtendo-se daí as chamadas vazões de projeto, que podem ser vazões de projeto calibradas ou vazões potencializadas. Deixe-me voltar um pou-co para falar dos tais eventos de grandes cheias. Nós escolhemos sete eventos que ocorreram desde 2005, as grandes enchen-tes que aconteceram na Bacia do Alto Tietê, entre elas as de 2005, 2007, novembro de 2009, janeiro de 2010 e janeiro de 2011. E

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para essas tormentas – chamadas eventos críticos – nós fizemos toda aquela análise de chuvas e de potencialização de chuvas. Escolhemos eventos de forte impacto – que coincidiram com o transbordamento dos rios Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e Juqueri – até para ter uma distribuição espacial da-quilo que tinha ocorrido na realidade.”

— A pergunta que não quer calar: as va-zões de projeto do Tietê subiram? Por quê? — perguntamos a André Luiz de Medeiros Monteiro de Barros.

“Sim, subiram. Quando do PDMAT-1, a vazão projetada para o rio Tietê na foz com o Rio Pinheiros (no Cebolão) era da ordem de 1.100 metros cúbicos por segundo e hoje, em 2013, 15 anos depois, é estimada entre 1 700 e 1 800 metros cúbicos por segundo.”

— A ordem de grandeza desses números representa que houve muito mais invasão, ocupação do solo, ou é só reflexo da mu-dança de modelo tecnológico de análise? — questionamos Barros.

“Fui coordenador dos estudos de re-baixamento e alargamento da calha do Rio Tietê. Na época, foi ressaltado que a vazão de projeto, com tempo de retorno de 100 anos, deveria perdurar no Rio Tietê até mais ou menos 2010 ou 2015, ‘se’ fossem feitas ações no sentido de controlar o uso e a ocupação do solo; e ‘se’ o programa de pis-cinões respondesse plenamente às expecta-tivas que se tinha com sua implantação. En-tão, esses dois ‘ses’ estavam bem destacados na ocasião. Em relação ao uso e à ocupação do solo, a verdade é que nada aconteceu de positivo. Foram feitos planos diretores etc., mas a cidade de São Paulo continuou crescendo de uma forma descontrolada e se impermeabilizando. Todos nós sabemos dis-so. Isso não é novidade para ninguém. Não só a capital continuou se expandindo de forma desordenada. Os outros municípios da região metropolitana também. Então, a impermeabilização cresceu. Nessas con-dições, aquela vazão de algo como 1 100 metros cúbicos por segundo não conseguiu se manter. O controle da ocupação das vár-zeas do Tietê a montante da barragem da Penha, crítica para a manutenção das va-zões do Tietê, está agora sendo resolvida pelo DAEE no âmbito do projeto Parque Várzeas do Tietê. Quanto aos piscinões, sua contribuição esperada para a manutenção das vazões dos principais afluentes do Tietê se confirmou parcialmente. Além disso, o histórico de eventos críticos sobre a Bacia do Alto Tietê também mudou, tendo sido observadas chuvas de características mais críticas para a bacia nos últimos anos.”

— Como é feita a avaliação da imperme-abilização do solo? — seguimos com André Barros.

“A avaliação da impermeabilização de grandes extensões territoriais antigamen-te era feita a partir da análise de imagens de satélite e fotos aéreas, nas quais se pro-

curava identificar, qualificar e quantificar os tipos de ocupação do solo. De 15 anos para cá outros recursos tecnológicos foram sendo agregados, e que propiciaram uma melhor qualidade da quantificação dos ti-pos de ocupação territorial. Por exemplo, o Google é um instrumento de planejamento fantástico; consegue-se enxergar tudo a partir do nível do solo. E estamos utilizando esse recurso em nosso projeto. Essa meto-dologia altamente sofisticada em relação ao que se fazia antigamente permite iden-tificar de fato as áreas impermeáveis com muito mais precisão. Pudemos verificar que muitas áreas que antigamente pareciam ser permeáveis, são na verdade impermeáveis. Para se avaliar o grau de impermebilização, foram feitas 100 amostras de áreas da Bacia do Alto Tietê, sendo 60 na mancha urbana da região metropolitana e 40 amostras de locais menos densamente ocupados. Então o fato de ter havido impermeabilização real – por não ter havido quase nenhum contro-le sobre o uso e a ocupação do solo nesses últimos anos –, somado à circunstância de se poder avaliar a impermeabilização com maior exatidão, tanto por meio do Google como por se dispor de imagens de satéli-te com maior nitidez, levou a um valor de impermeabilização maior. Nos estudos de 1998 chegou-se a uma impermeabilização máxima da ordem de 70% – hoje chega-se a 90%. Então esse ‘gap’, essa diferença, é um dos responsáveis por se chegar a esse valor de vazão entre 1 700 a 1 800 metros cúbicos por segundo no Cebolão. Muito se ouvia no meio técnico: ‘impermeabilizou mais’. Mas, quanto mais?... Nós fomos a fundo para chegar a esse ‘quanto mais’.”

— De qualquer forma, esses 90% de impermeabilização assustam. Pode explicar melhor como é esse processo de deteriora-ção? — perguntamos a João Jorge da Costa.

“Bom, é preciso considerar que sempre tivemos uma relação percentual entre a impermeabilização e a densidade de domi-cílios. O nosso estudo, feito com os dados atuais mostrou que para a mesma densida-de de domicílios há agora uma impermeabi-lização muito maior. Este é um dos grandes fatores da mudança e um dos subprodutos da nova tecnologia que está disponível. Pri-meiro: detectou-se que a impermeabiliza-ção atual é maior. Segundo: revelou-se que muito do que era considerado permeável já era, na realidade, impermeável. Então é possível dizer que não houve exagero nas estimativas dos planos anteriores. Se ana-lisarmos os dados da distribuição de ha-bitantes por domicílio há 20 anos e os de agora, vamos constatar uma diminuição no número de habitantes em cada unidade do-miciliar, gerando, individualmente, aumen-to da impermeabilização. Muitos jardins foram cimentados para servir de garagem. Houve uma expansão espacial, um aumen-to local, sem preocupação de se fazer um

uso e ocupação do solo de forma coerente com os impactos daí decorrentes – não só pensando em enchente, mas também em transporte público e, em última análise, em qualidade de vida. Falta ar puro para respi-rar, locais adequados para caminhadas, há carência de locais públicos adequados para as pessoas se distraírem... Isso tudo é re-flexo de uso e ocupação do solo inadequa-do. Apesar dos reclamos as coisas mudam muito lentamente. A solução passa por uma articulação entre os planos municipais e os planos de recursos hídricos garantindo o adequado escoamento das águas de chuva.”

— Desculpe a insistência, mas se o fer-ramental agora permite que se enxergue melhor, como se pode afirmar quanto au-mentou de fato o percentual de impermea-bilização? — questionamos Danny Oliveira.

“Podem ser feitas duas análises. Uma delas é se proceder ao estudo desses 100 pontos que escolhemos – 60 na área urbana e 40 mais afastados –, sendo que há também situações diversificadas, bairros industriais, bairros residenciais... Nós fizemos uma amostragem. Escolhemos um método mate-mático para ajustar essas verificações e me-dições. Por isso estabelecemos uma quan-tidade de pontos grande. Porque quando começamos a obter os primeiros resultados, não tínhamos muito clara ainda essa fórmu-la. Aí nós fomos adensando mais. É quase uma pesquisa... Sobre a pergunta que você fez em relação a quanto aumentou o per-centual de impermeabilização, devo dizer que a resposta é uma coisa complicada por-que hoje nós dispomos de uma tecnologia que não havia na época. Hoje nós podemos chegar mais perto da impermeabilização realmente existente. Mas qual era a imper-meabilização de 15 anos atrás? Nós nunca vamos saber ao certo porque naquela época não tínhamos certos instrumentos. Posso dizer o mesmo em relação ao nosso novo modelo de se estimar a vazão dos rios. Na prática, ele começa com a leitura da nuvem. Ou seja, o radar vê a chuva na atmosfera antes de cair no solo, depois vem uma esti-mativa do que essa nuvem vai significar de chuva no solo – porque tem o vento empur-rando a nuvem pra lá e pra cá –, depois tem a chuva que escoa sobre o solo e o cálculo da vazão que essa chuva vai provocar nos corpos d’água. Quer dizer, a partir daquela nuvem você vai saber como ficará o nível de água. Mas, atente: nós ainda estamos engatinhando em tudo isso. São avanços tecnológicos que ao longo do tempo prova-velmente vão facultar uma coisa muito im-portante: a gestão. Ao fim e ao cabo, qual o objetivo do PDMAT-3? É reduzir o impacto dos fenômenos climatológicos mais agudos sobre a cidade e a região. É redução de risco. Existem dois tipos de medidas que preten-demos apresentar ao final dos trabalhos. As medidas estruturais – vale dizer, obras – e as medidas não estruturais, que não são inter-

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venções físicas de engenharia. Uma delas é a gestão. Certa-mente, nós vamos evoluir nessa gestão. Muito provavelmen-te nós iremos chegar, num determinado momento futuro, a uma situação em que, em função da previsão de chuva, nós iremos operar em tempo real as nossas estruturas hidráulicas, criando volume de espera nos corpos d’água e preparando a cidade para receber a chuva. Tudo isso serão avanços de gestão. Mais do que os efeitos imediatos que esses avanços tecnológicos que nós estamos trazendo deverão produzir, os resultados mais importantes serão os seus resultados no de-senvolvimento futuro da região. Vamos poder maximizar o uso da pluviometria e da fluviometria para operar o sistema. Então, repito: nem todos os avanços que nós estamos trazen-do serão produzidos imediatamente, mas vão assegurar um futuro melhor para a gestão.”

— O nível de impermeabilização do solo poderá aumentar acima dos atuais 90%? — perguntamos a Costa.

“A impermeabilização de 90% não deverá aumentar muito mais, porque não é possível chegar a 100%. A im-permeabilização do solo aumenta de maneira significativa a vazão dos corpos d’água. Por quê? Como todos sabem, uma parte da água se infiltra naturalmente, mas havendo im-permeabilização essa água passa a correr superficialmente e – mais grave ainda – com maior velocidade. Então temos um fenômeno que chamamos tecnicamente de ‘tempo de concentração’, que é o tempo que a água leva para che-gar a uma determinada seção. O resultado prático disso é o advento de ondas de cheias de maior amplitude e correndo com maior velocidade. Isso é o que produz os fenômenos mais graves. No processo de urbanização, quando você tem uma área de mata que depois se transforma em área urbana, a vazão do corpo d’água costuma aumentar entre seis e oito vezes. E com outra agravante: quando a área é de mata a erosão é muito menor. Então quando se começa a urbanizar, o desmatamento que ocorre carreia material particulado que vai se sedimentar nos canais condutores da água. Além do aumento de vazão, há uma redução da seção geométrica do canal – que reduz a capacidade de condução da água –, que vai resultar em mais extravasamento. Então o fenôme-no de urbanização é tremendamente impactante. Por isso é tão importante discutir o assunto. Entre as medidas não estruturais que já comentamos, o destaque fica com o aper-feiçoamento dos critérios de uso e ocupação do solo. Na realidade, a sustentabilidade das obras de engenharia – ou seja, por quanto tempo elas vão ter capacidade de atender à demanda – é função do uso e ocupação do solo. Um caso típico é o do Rio Tamanduateí. Quando a calha do Taman-duateí foi ampliada pensava-se que os problemas estariam resolvidos. Mas, como dissemos há pouco, aumentar a ur-banização resulta em maior vazão, maior velocidade para as águas. A tormenta de projeto, ou seja, a chuva que se vai considerar para dimensionar hidraulicamente o canal, passa a assumir um valor maior. Chega-se a um círculo vicioso: alarga-se o canal, em seguida amplia-se o uso e ocupação do solo, e pouco depois tem se que novamente ampliar o canal. O que resulta em mais obras! As próprias obras de alargamento da calha do Rio Tietê podem ficar obsoletas em pouco tempo se não cuidarmos do uso e ocupação do solo. No entanto, é muitíssimo complicado trabalhar com uso e ocupação de solo em uma bacia por conta de diver-sas implicações, que dependem muito da gestão municipal. Você poderia perguntar: então não há solução? Sim, há. Não por acaso existem as chamadas regiões metropolitanas. A lei das regiões metropolitanas reza que todos os conjuntos que constituem agrupamento de municípios limítrofes têm por finalidade básica a resolução de problemas relativos às fun-ções públicas de interesse comum. A questão de inundação

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e de estrutura de drenagem é uma função pública de interesse comum. Mas, perceba que o cuidado político na condução dessa delicada matéria tem que ser enorme. Numa região metropolitana existe um conselho metropolitano. E geralmente o ente estadu-al oferece diretrizes que deveriam ser deta-lhadas no nível municipal. Bom, tenho aqui um pequeno levantamento: quantos muni-cípios têm ‘plano municipal de drenagem’ na Grande São Paulo e seus quase 40 muni-cípios? Não mais que três. A cidade de São Paulo, com quase 460 anos de história, está fazendo agora o seu primeiro plano muni-cipal de drenagem. Então, obviamente, se os órgãos estaduais cuidarem dos grandes canais, mas os municípios não cuidarem do uso e ocupação do solo, não iremos muito longe. Geralmente existe um plano de dre-nagem, que vai orientar o plano diretor, que vai orientar o uso e ocupação do solo... Se não se avançar na área municipal, não tere-mos sustentabilidade nas obras dos grandes canais. Faz-se uma obra agora e daqui a pouco vamos ter que aumentar seu tama-nho. Esta é a gravidade do problema.”

— Sem dúvida, mas quantas pessoas es-tão conscientes disso? — emendamos.

“A opinião pública não tem muita no-ção disso. E também muitas das autoridades municipais com quem conversamos, não têm a devida consciência sobre a seriedade do assunto. No município de São Paulo, por exemplo, na sua lei de uso e ocupação do solo, tem um artigo extremamente impor-tante, que é o artigo 32. Ele faculta a troca de imóveis em áreas inundáveis por poten-cial de ocupação. São os Cepac [Certificados de Potencial Adicional de Construção], que são valores mobiliários emitidos pela Pre-feitura do Município de São Paulo, através da SP Urbanismo, utilizados como meio de pagamento de contrapartida para a outorga de Direito Urbanístico Adicional dentro do perímetro de uma Operação Urbana Consor-ciada. Cada Cepac equivale a determinado valor de metros quadrados para utilização em área adicional de construção ou em modificação de usos e parâmetros de um terreno ou projeto. Observe que essa é uma modalidade fantástica de se ir desocupando região de fundo de vale sem ter que inves-tir em desapropriação. Há a troca por po-tencial construtivo, que, esse sim, pode ser negociado. Mas não se trata de negociação imediata. Estamos nos referindo às áreas de intervenção urbana, as AIU’s. É preciso ter um plano, elaborado por urbanistas e enge-nheiros, para cada lugar desses, cada bairro. Ou seja, os planos de bairros previstos pelo Plano Diretor de São Paulo. É necessário ter os planos de bairros para poder trabalhar es-sas AIU’s e poder efetivamente regulamentar esse artigo 32 em nível local. Para contex-tualizar melhor, as AIU’s são regiões da ci-dade já definidas no Plano Diretor nas quais a prefeitura tem a intenção de implementar

projetos estratégicos como eixos e polos de centralidades, parques e áreas verdes para a recuperação ou preservação de rios e córre-gos, rede viária e redes de transporte públi-co coletivo. Nas áreas de intervenção urbana será possível construir acima dos limites dos coeficientes básicos e os recursos obtidos deverão ser investidos na implantação de projetos estratégicos previamente definidos. Então existem instrumentos que precisam ser desenvolvidos e carecem de ser aplica-dos. Na realidade, a gente teve uma mudan-ça de conceito muito forte. Antigamente – num passado não tão distante –, como era a diretriz para uma obra de drenagem? Era empurrar a água rio baixo, rapidamente. Por quê? Porque existia uma cidade aqui e a ou-tra acolá, bem distante. No meio havia um intervalo não urbanizado, que podia aguen-tar ‘desaforos’ das tormentas.”

— Quando se consolidou o processo de conurbação, mudou a diretriz? — indagamos de Costa.

“Com a conurbação que se seguiu, as cidades encostaram umas nas outras e, com isso, essa possibilidade de se empurrar a água rio abaixo simplesmente não existe mais. Ou, quando se faz isso está apenas se transferindo o problema de lugar. Então, é preciso trabalhar, na medida do possível, na retenção: segurar a água o maior tempo possível no lugar onde ela cai. Isso não é simples. É preciso resgatar as várzeas, cons-truir várzeas artificiais. Por que as várze-as naturais foram ocupadas? Porque eram áreas livres e próximas dos grandes centros, com ótimas infraestruturas e que tinham um valor monetário potencial elevado, mas um valor de mercado baixo. Houve a ocu-pação justamente porque se podia empurrar a água rio abaixo. Mas empurrar rio abaixo foi ficando complicado e não se tem como resgatar essas áreas que seriam as várzeas naturais. É por isso que se passou a usar os piscinões. Só que, para fazer piscinão é preciso desapropriar, é preciso encontrar lu-gares não ocupados para implantá-los – e lugar adequado, não qualquer lugar. Não é simples, portanto. Hoje os piscinões estão servindo para resolver problemas locais. A solução de piscinão já não resolve os pro-blemas que temos hoje nos grandes canais. A situação é grave demais. E, muitas vezes, somos obrigados a nos afastar da solução ideal – como essa de reter a água –, pela sua inviabilidade prática. No futuro, tere-mos que tentar resgatar as várzeas, com lei de uso e ocupação do solo adequada, res-trições de uso e até mesmo a desocupação através de instrumentos legais apropriados. Mas o problema é real. Se a gente for veri-ficar bem, os impactos econômicos e sociais de uma inundação são fortíssimos para uma grande cidade.”

— Pode explicar melhor o papel dos piscinões nas sub-bacias? — pedimos a Danny Oliveira.

“Eu queria justamente separar o papel dos piscinões nas sub-bacias e o seu papel no corpo d’água principal, que é o Rio Tietê. O que o estudo mostrou é que para a gente absorver uma vazão da ordem de 1 700 ou 1 800 metros cúbicos por segundo, os pis-cinões não resolvem o problema todo. Eles resolvem apenas uma parte. Então, como o projeto da calha do rio está dimensionado para cerca de 1 100 e nós temos uma vazão de 1 700 ou 1 800 metros cúbicos por se-gundo, mesmo que se construíssem todos os piscinões previstos anteriormente – ou seja, 156 –, eles não dariam conta do reca-do. Nós chegamos a fazer esse cálculo. Daí a sugestão de uma solução que envolve obra de um porte maior. Que é um túnel. Mas é preciso sublinhar, no entanto, que nenhuma solução isolada vai resolver o problema. Tem que ser uma obra complementando outra.”

— Além de um túnel e de mais piscinões, são necessárias as citadas medidas não es-truturais? — perguntamos a Oliveira.

“Vamos dar uma sintetizada no túnel extravasor. A primeira pergunta que nós fizemos a nós mesmos, quando constata-mos esse número tão alto de vazão do Rio Tietê, foi a seguinte: será que essa vazão mudará muito no Tietê futuramente, no horizonte de 2030? Estamos falando do Rio Tietê, porque nas sub-bacias certamente mudará. Esse autoquestionamento era ne-cessário para se ter uma ideia do tamanho do problema. Então nós fizemos a simula-ção e verificamos que não mudará muito. Por quê? Porque mesmo que se modifique toda a impermeabilização na parte de cima da bacia, o problema já está colocado no trecho urbano da cidade de São Paulo. As modificações ocorrerão predominantemen-te nas periferias. Ou seja, você tem uma sub-bacia que é rural hoje em dia, mas que poderá vir a ser impermeabilizada – então a modificação ocorrerá naquele local. Mas, o Rio Tietê, que é o grande coletor, ele ten-de a permanecer mais ou menos nos 1 800 metros cúbicos por segundo para o risco de projeto considerado. Essa, a primeira obser-vação. A segunda observação é que, se nós estamos trabalhando com uma vazão dessa ordem e a calha comporta 1 100 metros cú-bicos por segundo, na melhor das hipóteses, temos uma diferença de 700 metros cúbicos por segundo. Foi nesse ponto que nós fo-mos resgatar a ideia do túnel. Digo resgatar porque ele é uma solução de obra que já foi estudada muitas vezes – não fomos nós os precursores da ideia do túnel. Já houve, ao longo dos anos, vários estudos feitos pelo Hidroplan e pelo DAEE. Esse túnel foi pen-sado ora saindo da foz do Rio Pinheiros, ora saindo da foz do Tamanduateí, ora mudan-do o ponto de captação. Ou seja, não é uma novidade. E o túnel, nesse modelo de aná-lise sofisticado que estamos usando, mos-trou-se como solução de impacto direto. Efetivamente ele funciona como um grande

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ralo. Ele drena a água e abate toda a vazão que se precisa reduzir. Quanto maior for o túnel, maior é a vazão que ele retira. Nós, do consórcio, não achamos interessante propor uma obra única. Primeiro, porque se estaria jogando toda a segurança numa obra só. E não estou me referindo apenas a aspectos de segurança. Tem também a questão do tempo necessário para a obra ficar pronta. O consórcio, então, está estudando uma sé-rie de soluções que combinadas garantiriam maior eficiência no controle de inundações. Entre estas soluções pode-se relacionar: ampliação do número de piscinões, altera-ções ainda possíveis na calha do Rio Tietê,

a implantação de novos pôlderes nas áreas mais críticas de extravasamentos. Ou seja, nós estamos estudando uma série de solu-ções cabíveis para os problemas. Cada solu-ção tem um custo e um impacto.”

— O projeto executivo de um túnel ex-travasor principal demoraria quanto tempo para ficar pronto? Quantos quilômetros te-ria o túnel? — solicitamos de Oliveira.

“Esse túnel teria ao redor de 10 metros de diâmetro e 42 quilômetros de extensão. Os estudos de engenharia levariam cerca de dois anos. Porém antes de se iniciar a im-plantação haveria o processo de discussão do licenciamento ambiental.”

Segundo um dos maiores especialistas brasileiros em macrodrenagem urba-na, o engº Aluisio Pardo Canholi, di-

retor da Hidrostudio Engenharia – empresa que presta serviços ao DAEE –, a análise e o encaminhamento das soluções das ques-tões de drenagem urbana tem sido um dos maiores desafios dos planejadores e admi-nistradores dos grandes centros urbanos do mundo. Na entrevista que segue nos próximos parágrafos ele nos fornece um quadro completo sobre a atual situação dos reservatórios para controle de cheias da RMSP. Os chamados popularmente de piscinões são uma alternativa que consis-te na acumulação das águas num ponto a montante. Têm como principal vantagem a retenção no local de todos os sedimentos e lixos, impedindo que sejam carreados para jusante, contribuindo assim para a melho-ria da qualidade da água. Têm a vantagem ainda de reduzir os picos de cheias a jusan-te, tornando-se, muitas vezes, a opção mais econômica para equacionar o problema de inundação a jusante, pelo fato de poder adequar a vazão efluente à capacidade do canal de jusante. Apresenta os seguintes problemas: (1) dificuldade na implantação, devido à rarefação de áreas físicas; (2) exi-ge manutenção constante e onerosa; (3) não resolve os problemas de ruas com co-tas mais baixas que o canal principal, como as das existentes nas margens dos rios Ari-canduva, Tamanduateí, Córrego Ipiranga e Pirajuçara; (4) não resolve o problema de assoreamento dos rios Tietê e Pinheiros. Desta forma, Canholi entende que os pis-cinões devem ser utilizados somente em locais bastante específicos.

— Quantos piscinões em operação há hoje na Grande São Paulo e quantos milhões de metros cúbicos de água eles podem armaze-nar? Esse volume corresponderia a quantas piscinas olímpicas cheias? — perguntamos a Canholi.

“Na região nós temos 30 piscinões que

Piscinões cumprem papel de várzeasocupadas de forma desordenada

foram construídos pelo DAEE. E mais 15 reservatórios implantados pela prefeitura paulistana, o que dá 45 no total. Dá uma ca-pacidade total de mais ou menos 8 milhões de metros cúbicos. Numa piscina olímpica deve caber uns 3 000 metros cúbicos. Então pouco mais de 2 600 piscinas olímpicas. Mas acho mais interessante fazer essa compara-ção com o piscinão do Pacaembu, que foi o primeiro a ser construído e que tem 70 000 metros cúbicos. Então a capacidade total dos 45 reservatórios corresponderia a mais de 100 piscinões do Pacaembu.”

— Quantos piscinões seriam necessários hoje na região? Quantos pontos de enchen-tes existem hoje na Grande São Paulo? — indagamos

“Bom, começando pelos pontos de en-chentes, são pouco mais de 600. Sob juris-dição do DAEE já estão engatilhados para construção oito piscinões – e mais 22 estão em fase de planejamento. No âmbito da pre-feitura paulistana há 20 piscinões projetados hoje e prestes a serem construídos, em fase de licitação de obras. O que dá 50 reserva-tórios no total. Todos esses com as obras engatilhadas ou com pelo menos o projeto básico pronto. Isso faz com que venhamos a ter em futuro próximo quase 100 piscinões, ou 95 para ser mais exato – que é a soma dos 45 existentes com os 50 em vista. A função principal desses piscinões é a de garantir as vazões de restrição que nós temos no Tietê, ou seja, os níveis que sua calha suporta. Va-zão de restrição é a máxima vazão que cada afluente pode injetar nos principais rios da região: Tietê, Tamanduateí, Pinheiros. Como nós temos centenas de pontos de inundação, seria impensável querer resolver o problema simplesmente ampliando a capacidade dos rios. Seria, numa analogia, ter pontos de en-garrafamento de trânsito e fazer mais duas ou três pistas numa avenida para solucio-nar a questão naqueles pontos específicos. Só que se transfere o problema para outros pontos. Por isso foram estabelecidas as va-

zões de restrição. O que elas fazem? Elas im-pedem que se procure resolver problema de alagamento com reforço de capacidade nos afluentes. Isso poderia levar a aumentar o volume de água jogado pelo afluente – nos picos de vazão – no corpo d’água receptor. É fixado então um limite para isso. Ou seja, até esse determinado ponto limite se pode fazer reforço de capacidade no afluente. Acima da vazão de restrição não se pode mais. Se, as-sim mesmo, você tiver pontos de enchentes no córrego, será preciso resolver de outra maneira, que não seja simplesmente aumen-tar capacidade – ou seja, mandar o desafogo para baixo. É nesse contexto que surge a al-ternativa da reservação.”

— A ideia é reter a água lá em cima? — emendamos.

“Quando se constrói um reservatório num afluente que tenha pontos de enchen-tes, não só se está resolvendo ou melho-rando aquela condição que está gerando a enchente ali – pela redução do pico de vazão –, como se está colaborando mais a jusan-te, reduzindo a vazão desse córrego no rio receptor. Então tem um efeito duplo. Prin-cipalmente aqui em São Paulo onde a gente tem só um corpo principal de recepção e macrodrenagem, que é o Rio Tietê. Vai tudo para lá. E você tem centenas de pontos de enchente nas zonas Sul, Leste, Norte, Oeste... Se a gente quisesse resolver, num passe de mágica, os mais de 600 pontos de enchente dos córregos só com reforço de capacidade, se estaria gerando um pico de vazão de cala-midade no Rio Tietê. Então a ferramenta do piscinão é imprescindível. Se a Bacia do Alto Tietê fosse costeira, se todos os nossos rios se dirigissem para o mar, então muito pro-vavelmente a solução de piscinão não fosse indicada. Por quê? Porque cada córrego se-guiria o seu caminho individual. Mas aqui não: todos os córregos acabam caindo no mesmo lugar: no Tietê. Então é preciso reter o máximo possível de água nas partes altas de nossas sub-bacias, controlando esse flu-xo de vazão de uma grande chuva que chega no corpo receptor maior, que é o Tietê.”

— Os piscinões existentes e os projeta-dos poderiam, por si só, resolver o problema

Aluisio Pardo Canholi, diretor da Hidrostudio Engenharia

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das enchentes?— questionamos.“Antes, deixe lhe dizer que não há a me-

nor dúvida de que a cidade de São Paulo e sua região metropolitana precisam de pis-cinões. Temos casos de sucesso bem eviden-tes. Como o do Córrego Pirajuçara. Depois que a gente construiu lá o piscinão Sharp, não se teve mais notícia de enchente. An-tes do piscinão os moradores da região do Pirajuçara ficavam muito preocupados a cada chuva forte que caía. A possibilidade de enchentes era grande, e o transtorno para os bairros também. Agora as famílias da re-gião ficam tranquilas, pois parte da água da chuva vai parar no piscinão Sharp – o se-gundo maior da Grande São Paulo, inaugu-rado em janeiro de 2010. Com uma área de 94 000 metros quadrados e capacidade para acumular 500 milhões de litros de água, ele está localizado na Estrada do Campo Limpo e beneficia a população de diversos bairros. É claro que no segmento de drenagem ur-bana não podemos falar em risco zero. Mas que melhorou muito é verdade. Num caso de evento catastrófico, porém, pode acontecer uma enchente no Pirajuçara. Uma chuva de mais de 100 mm, por exemplo.”

— Essa é a famosa chuva de 100 anos? — perguntamos.

“Pois é. A chuva de 100 anos, que é a que foi considerada para o projeto de rebai-

xamento da calha do Rio Tietê, acompanha o padrão da grande chuva de 1983, que foi a maior precipitação que nós tínhamos re-gistrado até então. Foi uma chuva de 130 mm em 24 horas. Nos anos mais recentes a gente tem registrado outras chuvas gran-des e deletérias, mas de menor volume em espaços de tempo mais curtos, como foram as de 2009 e de 2010. E isso alterou um pouco a modelagem. Quer dizer, a nossa chuva de projeto está recebendo agora um grau de criticidade maior, pela redução dos centros de duração das chuvas verificadas nesses dois anos. Houve transbordamento em alguns pontos do Tietê, mas nada ca-tastrófico. Não houve extravasamento geral da calha. Nos pontos mais baixos da calha – onde se situam as pontes da Marginal Tietê –, o rio transbordou. E lá agora estão sendo colocados pôlderes. Transbordou um pouco na Ponte Anhanguera, outro pouco na Ponte Aricanduva, os tais pontos onde estão sendo erguidos os pôlderes. Nós já tínhamos es-ses equipamentos em três pontes e agora estamos fazendo nas pontes Aricanduva, Vila Maria, Vila Guilherme e do Limão. Te-remos então sete pôlderes para proteger as sete pontes. Isso é uma coisa. Outra coisa a destacar é que em 2012 e neste ano de 2013 não houve inundação. Por quê? Principal-mente também porque o DAEE aprimorou

a forma de fazer o desassoreamento. Tanto que pelos últimos registros de batimetria [determinação do relevo do fundo do rio] feitos, a calha está no fundo de projeto. O DAEE está desassoreando com muito rigor. Então esse é o cenário onde a construção de re-servatórios é a mais indicada, uma vez que não há mais condições de aumentar a calha dos córregos. O ideal é segurar a água no local onde ela foi gerada. E independente de qualquer outra consideração – mesmo sob a ótica econômica –, a gente está num cená-rio onde reservar é a solução ideal. Quando tivermos construído os cerca de 100 pis-cinões, a história será outra. É importante destacar que na Grande São Paulo não se pode nunca pensar na bacia de uma forma geral. É preciso pensar sub-bacia por sub--bacia, afluente por afluente. Até porque eles têm condições muito diferentes de tipo de ocupação de solo, tipo de renda de quem vive lá naquela região, além de tipo de sis-tema viário que foi colocado lá. Esse último ponto é importante porque o sistema viário de São Paulo está estruturado em vias de fundo de vale, vias que correm em paralelo aos rios, quando não em cima dos rios. Ou seja, as nossas vias mais importantes estão sobre os rios. A Avenida 23 de Maio é o Cór-rego Itororó. O Córrego Sapateiro é na Ave-nida Juscelino Kubitschek. Na Avenida 9 de

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Julho passa o Córrego Saracura por baixo. A cidade se estruturou assim.”

Segundo Celso Aoki, gerente de projeto e planejamento da diretoria de engenharia e obras do DAEE, os pôlderes são estrutu-ras hidráulicas arti-ficiais, uma das mais clássicas técnicas de drenagem para con-trole de enchentes em locais de baixa altitude próximas a rios e áreas ribeirinhas em geral. “O pôlder é uma estrutura cons-truída na margem do rio, que pode ser um muro de concreto ou um dique, para barrar a água durante sua subida para evitar o transbordamento do rio. Ele evita que o rio invada as margens nos eventos críticos. O pôlder é aparen-temente uma obra simples. Mas não é. Se você coloca um muro no rio, a água não vai ter por onde sair, sen-do preciso, portanto, fazer toda uma drena-gem local. Ou seja, é necessário construir um reservatório enterrado naquele local, para depois se proceder ao bombeamento

do reservatório para jogar a água dentro do rio e evitar o alagamento das marginais. Na verdade, o pôlder é uma obra complementar no combate às enchentes. Tanto o desas-

soreamento como o pôlder são obras que não mexem no valor da vazão, mas ajudam que o rio não trans-borde. Já o piscinão atua na redução do valor da vazão que passa na seção a ju-sante.”

— Como podem ser calculadas as per-das econômicas devi-do às cheias dos rios da região metropoli-tana? Quanto custa cada enchente? — so-licitamos a Canholi.

“O custo das en-chentes em São Paulo crescem na medida em que se estruturou o sistema viário nos vales dos rios. Cada enchente dessas po-deria causar prejuízos

limitados. Como foram colocadas grandes avenidas, com tráfegos enormes – como é o caso das marginais Tietê e Pinheiros, Aveni-da do Estado e por aí afora –, se criou uma situação em que os prejuízos ficam muito

elevados. Principalmente do ônus provo-cado para o trânsito, os atrasos de viagem. Nós fizemos um cálculo para o caso da calha do Tietê, acoplado com estudo das várzeas. Quisemos analisar o beneficio que o Parque Várzeas do Tietê poderia oferecer – pela ma-nutenção das várzeas remanescentes e pela reservação de água que ainda se consegue. O item que mais se destacou foi a valorização dos imóveis da área urbana. Calculamos que o benefício anual do dano evitado é de 160 milhões de reais. Entenda-se: o benefício de uma obra contra enchente vem pelo valor do dano evitado. E também um pouco pela valorização imobiliária, pelas mercadorias – as cargas – que estragam e não chegam ao destino por problemas de trânsito entu-pido etc. e tal. Se não tivéssemos a várzea remanescente preservada, as enchentes se-riam muito maiores e o prejuízo – dano não evitado – seria muito mais elevado, porque não se conseguiria controlar a vazão que sai na Barragem da Penha. Haveria manchas de inundação maiores. Preservando a várzea essas manchas se reduzem bastante. Então, a diferença entra essas duas manchas, que seria o ‘dano evitado’, é que dá 160 milhões de reais ao ano em economia.”

— Quando tivermos os cerca de 100 pis-cinões, como fica a situação? — quisemos checar.

“Do ponto de vista local, esses reserva-tórios sempre trazem benefícios muito gran-des, como nos casos dos piscinões Sharp, Pacaembu, Pirajuçara, Cabuçu de Baixo, Ri-

Celso Aoki, gerente de projeto e planejamento da diretoria de engenharia e obras do DAEE

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A OAS Soluções Ambientais, bra-ço do grupo OAS criado especifica-mente para o segmento de água e esgotamento sanitário, assumiu em novembro do ano passado a conces-são plena (água e esgoto) da cida-de de Araçatuba, no interior de São Paulo, por meio da Sociedade de Pro-pósito Específico Samar (Soluções Ambientais de Araçatuba). “Hoje a Samar é responsável pela operação e manutenção de 602 quilômetros de redes de distribuição e 597 quilô-metros de redes coletoras de esgoto, com um total de 69 300 ligações de água e esgoto em todo o municí-pio de Araçatuba que hoje conta com cerca de 183 500 habitantes”, diz Louzival Mascarenhas Júnior, diretor-

A OAS Soluções Ambientais estreia em Araçatuba-superintendente da OAS Soluções Am-bientais.

Para ganhar o contrato, a empresa concorreu com Sabesp, Foz do Brasil e Equipav. Segundo Mascarenhas, a con-cessão é de 30 anos e o total de investi-mentos previsto é de 320 milhões de reais. “Além de Araçatuba, estão em vista outros municípios brasileiros dentro do perfil de

cidades médias, com mais de 100 000 habitantes, além de parcerias público--privadas, PPPs, envolvendo companhias estaduais”, diz, confirmando que o foco principal está no abastecimento e distri-buição de água potável e na coleta e tra-tamento de efluentes domésticos.

Por enquanto a Samar é responsável pelo tratamento de cerca de 15% dos es-

gotos gerados no município de Araçatuba. Mas, segundo an-tecipa Mascarenhas, a partir de 2015 – quando do término do contrato de prestação de serviços com a atual empre-sa, a Sanear (Saneamento de Araçatuba) – a Samar passará a responder pela integralidade do serviço municipal.

O executivo explica que diversos projetos de amplia-ção e melhorias estão sendo FO

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beirão dos Couros, só para citar alguns. Vale considerar que existe certa sensação – que é até alimentada pelos críticos – de que ‘tem muito piscinão, mas o problema de enchen-te não foi resolvido ainda’. Bom, é preciso ponderar que não foram construídos todos os reservatórios ainda. Tem cinco sub-bacias que têm melhores equipamentos, do ponto de vista de reservação – e outras sub-bacias que não estão ainda bem equipadas, mas que logo serão. Esse é um ponto. Outro pon-to é que esses piscinões estão sendo coloca-dos também como medidas corretivas. Por quê? Porque a solução em São Paulo sempre foi construir canais e galerias – que não de-ram conta. Na verdade não são os piscinões que não estão dando conta do recado: eles estão sendo aplicados em sub-bacias críti-cas, extremamente problemáticas, onde se tiveram casos de calamidade. O jeito é tentar corrigir. Quase sempre se está construindo piscinão em sub-bacias com enorme poten-cial de enchente.”

— A ideia dos parques lineares é boa? — perguntamos.

“Os parques lineares são bons desde que acoplem capacidade de reservação. A gente não pode entender um parque linear só como uma solução paisagística. Tem que haver projeto hidráulico e estudo hidrológico. Precisa possuir não só capa-cidade de absorção, como também de re-servação – como se fosse um reservatório conectado ao parque. Os lagos podem dar um toque paisagístico mais refinado, mas

é necessária a eficiência para evitar en-chente. Porque o fato de se construir um parque linear não significa que se mudou o entorno, se toda a região em volta na bacia está completamente urbanizada e imper-meabilizada. Tivemos alguns projetos de parques realizados um pouco fora desses critérios de engenharia hidráulica e de hi-drologia, mas muito preocupados com as-pectos arquitetônicos e paisagísticos – só que veio uma cheia e levou playgrounds, árvores, grama, tudo embora. Felizmen-te alguns dos atuais parques lineares que estão sendo projetados estão levando em conta os critérios racionais de engenharia, como os parques de Perus, onde foram fei-tos piscinões a montante. Às vezes, quando a gente faz o projeto de um parque, já co-loca um piscinão grande a montante para ir reduzindo os picos de vazão do córrego. Depois faz os lagos e pequenos barramen-tos. Eles funcionam assim, ou seja, não são uma solução em si. Quem pensa que para resolver problema de enchente basta rena-turalizar o córrego, plantar árvores e gra-ma nas margens, e nada mais, se engana. A coisa não é tão simples assim.”

— Como o senhor vê o papel das prefei-turas no uso e ocupação do solo? — pros-seguimos.

“Os planos diretores precisam ser apro-vados pelas câmaras municipais. No que toca à questão tanto dos mananciais – que é de onde se retira água para beber – quan-to da drenagem, o uso e ocupação do solo

tem relação direta com o resultado que se pode obter. Um bom plano diretor pode proteger os mananciais, o que permite que estes deem uma condição sustentável de abastecimento às cidades. Ou, ao contrá-rio, pode produzir uma situação catastró-fica. Acontece, muitas vezes, das pessoas ocuparem as margens dos reservatórios, fazendo com que a qualidade de vida de uma cidade tenha grande perda. E não es-tou falando apenas da Grande São Paulo. Tem enchente grande também em Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Campinas – isso porque a ocupação desordenada faz com que detritos acabem depositados na calha dos córregos, assoreando tudo.”

— Existem planos de adaptar os piscinões para que possam exercer com mais eficiência a função de agentes de melhoria da qualida-de das águas – além das grades que já retêm PETs e outros resíduos? — indagamos.

“Eu reformularia sua pergunta: como adaptar os piscinões, para que eles possam ser, mais efetivos no controle das cheias e na melhoria da qualidade da água? Bem, quando a gente tiver – e estamos cami-nhando para isso – cerca de 100 piscinões na Grande São Paulo, se vai poder fazer algo que nunca foi possível: uma operação ati-va do sistema e não uma simples operação passiva, como se registra hoje. Atualmente só medimos a chuva, os níveis de água, e soltamos os níveis de alerta, querendo nos antecipar um pouco aos possíveis proble-mas. Esses sistemas de alerta informam para

Louzival Mascarenhas

Júnior, diretor-superintendente da OAS Soluções

Ambientais

implantados pela Samar em Araçatuba. Os principais destaques são: melhorias e ampliação do sistema de distribuição in-cluindo automação das estações de tra-tamento de água; setorização dos setores de abastecimento; implantação de Centro de Controle Operacional; recuperação e reforma dos centros de reservação e es-tações elevatórias; reforma e recuperação das estações elevatórias de esgoto; troca de ramais prediais; combate as perdas de água – entre outras ações.

“Além da Samar, que é a primeira con-cessão da OAS Soluções Ambientais que chega ao consumidor final brasileiro no seu sentido mais amplo, contamos com outro importante ativo, a Epasa, conces-sionária que opera em Lima, no Peru, for-necendo anualmente um volume superior a 48 milhões de metros cúbicos de água, para uma população de mais de 8 milhões de usuários”, informa Mascarenhas. FO

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onde a chuva está indo, quantos milímetros vão cair numa determinada região, e mais ou menos quando isso vai ocorrer. Mas é só informação passiva, sem interferência ativa. Nas condições atuais, pode-se dizer que já estão sendo sistemas bastante eficientes. Mas desse jeito não é possível operar o sis-tema como um todo. Com exceção da Bar-ragem Móvel, da Barragem da Penha e da estrutura de Retiro – na confluência entre os rios Tietê e Pinheiros, que fica no canal do Rio Pinheiros e liga as bombas da Usina de Traição para reverter o curso d’água –, a gente opera o sistema de uma forma muito limitada. Está previsto na PPP dos piscinões a instalação de comportas de controle em todas as entradas dos reservatórios novos e dos já existentes. A partir daí vai poder se fa-zer uma operação em tempo real com esses piscinões. Com isso se calcula que teremos um controle muito mais efetivo da passa-gem das ondas de cheias na região. Porque, em muitos casos, você pode estar deixando entrar água num determinado reservatório muito antes do tempo em que isso poderia estar sendo mais útil. Quer dizer, você come-ça a ocupar volume com uma água que não causaria enchente a jusante. E aí, quando chega um pico maior – porque a chuva se movimenta –, o piscinão pode estar todo ele cheio. Então, não se está operando de uma forma otimizada. Não está havendo controle efetivo. Dentro em breve, com esses 95 ou 100 piscinões, com a instalação de compor-tas, e com o centro de controle operacional do DAEE – que já existe hoje, mas vai ser melhorado –, espera-se que o desempenho desses reservatórios vai ser muito melhor. As comportas serão acionadas em tempo real: vão abrir e fechar à medida que o sistema de radares for detectando que é preciso re-ter ou soltar água. Isso é gestão em tempo real, com ferramenta concreta. Hoje se faz gestão, mas é passiva na parte do sistema de controle. A gente espera que a prefeitura paulistana vá também nessa linha de siste-ma remoto em tempo real de operação que está previsto na PPP. Quanto ao controle de qualidade potável de corpos d’água ur-banos, mesmo que esses córregos estejam livres do lançamento de esgoto in natura – o que não é o caso de São Paulo, onde se recebe muito esgoto em córregos –, ainda restam todos aqueles resíduos chamados de poluição difusa, ou seja, quando a chuva cai ela ‘lava’ as ruas, e vai tudo para o córre-go. Claro que não dá para pensar em tratar as águas desses córregos e rios da mesma forma como se tratam os esgotos sanitários, porque isso sairia por um preço absurdo. Em países mais adiantados costuma-se reter a água nos reservatórios por um tempo maior – principalmente no período de chuvas mais intensas –, para que se melhore o processo de sedimentação. Então esses poluentes vão para o fundo do reservatório, depois é feito o desassoreamento e o lixo retirado é envia-

do para um destino adequado. Isso faz com que a água que sai do piscinão seja de uma qualidade superior à daquela que entra. O piscinão torna-se um agente de melhoria e essa é uma forma economicamente viável. No momento em que estiverem funcio-nando as comportas em todos os piscinões, haverá uma forma de segurar as águas por mais tempo. Tudo pelo mesmo sistema que vai fazer a operação em tempo real de pre-venção de cheias: retém, solta, desassoreia. Tecnicamente chamamos isso de ‘ampliação do tempo de residência’, significando o tem-po que a água fica retida no local.”

O engº Alfredo Pisani, chefe da Sala de Situação do DAEE, explica como surgiu esse departamento que é hoje um auxiliar impor-tante no controle das enchentes e que em breve – quando todos os piscinões tiverem as comportas citadas por Aluisio Canholi – esta-rá operando de forma otimizada. “Houve um evento de chuva de 500 mm numa noite de 1977 na capital paulista que acarretou uma subida nos reservatórios a montante do Rio Pinheiros, ou seja, Guarapiranga e Billings. Chegou ao ponto de começar a extravasar pelo corpo da barragem, correndo-se o risco de rompimento. Nós não tínhamos ainda um serviço de aviso de sinistro, só na parte da manhã, quando os funcionários chegaram, fomos descobrir o perigo que se corria. E isso gerou uma preocupação muito grande. Numa improvisação total, foram colocados sacos de areia para evitar o rompimento da barragem. E então se percebeu a necessi-dade de contar com essas informações em tempo real. Começamos com alguns postos no alto do Rio Pinheiros, depois veio a rede telemétrica do Alto Tietê, junto com ela a rede da Baixada Santista, além do Vale do Ribeira – que tinha um regime de enchentes bem grande. Nesses três locais foi colocado o sistema de telemetria, ou seja, um sistema de leitura em tempo real. Inicialmente por telex. Depois veio a linha privada ponto a ponto – e a dificuldade era que se houves-se rompimento do cabo em algum ponto –

nesse caso a transmissão era interrompida. A seguir, o sistema foi se desenvolvendo: veio o rádio e depois o celular. Hoje usamos o modo de celular, que é mais barato e efi-ciente. A gente estreou com esses postos e hoje já estamos com 250 deles. Não só na Grande São Paulo, mas também em Taubaté, Baixada Santista, Vale do Rio Piracicaba e Registro, no Vale do Ribeira.”

As Salas de Situação da capital, Taubaté, Piracicaba e Registro, avaliam diariamente, os níveis das águas nos rios, barragens e reservatórios. Muita ou pouca chuva, mui-ta ou pouca água, eis a grande questão de interesse diário para o DAEE. É na época das cheias, no entanto, que os profissionais de imprensa, técnicos e a própria população mais utilizam os serviços dessas Salas. Na capital, ela funciona na Rua Boa Vista, no Centro, e monitora, como as demais, o po-tencial das precipitações nos vários períodos do ano. O radar meteorológico do DAEE, em Salesópolis (na Barragem de Ponte Nova, na cabeceira do Rio Tietê) detecta as chuvas que se aproximam, sua velocidade, em mais ou menos em quanto tempo elas chegarão e em quais regiões ocorrerão com maior probabilidade. Depois reúne todas essas in-formações que, cruzadas com a de outros serviços, desencadeia um processo benéfico à população. Uma das vantagens do recurso é que, a partir dos dados do radar, torna--se possível conectar-se – com antecedên-cia – às equipes da Defesa Civil, a fim de que sejam tomadas medidas de evasão dos moradores das áreas de risco, em especial aqueles que vivem às margens dos rios e córregos sujeitos a inundações, além de en-costas com chances de deslizamento de terra. O DAEE também desenvolveu um sistema de cadastramento de líderes de comunidades e da população em geral. Por meio dele, mo-radores das áreas ribeirinhas e encostas ca-dastradas recebem mensagens com cerca de até duas horas de antecedência das chuvas, a fim de que possam tomar providências para salvar suas vidas e patrimônios. Para tanto, o Estado foi dividido em regiões e mapeados os pontos em que estão localizadas essas en-costas e córregos que historicamente sempre extravasam. O sistema de alerta e contro-le de enchentes, instalado nas quatro Salas de Situação do DAEE acompanha e avalia a chuva, em tempo real. O monitoramento efe-tuado é igualmente importante em períodos de estiagem para a operação de barragens e reservatórios, a definição das descargas a serem liberadas, a manutenção de níveis mí-nimos para possibilitar a navegação, no caso do Rio Tietê, assim como a movimentação das barcaças nos serviços de desassorea-mento, executados na época de estiagem, antecedendo as estações chuvosas.

— Desde quando funciona o radar mete-orológico de Salesópolis e quais são os planos para sua substituição por outro mais moder-no? — perguntamos a Pisani.

Alfredo Pisani, chefe da Sala de Situação do DAEE

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ESPECIAL RECURSOS HÍDRICOS

“O radar funciona desde 1988 e foi fa-bricado pela McGill University do Canadá. Na verdade ele equivale a um posto telemé-trico a cada 2 quilômetros. Tem uma visão num raio de 240 quilômetros com centro em Biritiba Mirim, na Barragem de Ponte Nova, localizada na cabeceira do Rio Tietê, e ele faz uma visualização de chuva a cada cinco minutos. Os postos de campo servem para calibrar os dados do radar. O posto de campo é uma medida direta e o radar é uma medi-da indireta. O DAEE está comprando agora um novo radar alemão, por 7,5 milhões de reais. O radar em si custa 1 milhão de reais, mas depois tem a torre, sistema de trans-missão, software e dá esse custo final. Será inaugurado no final de setembro próximo. Na verdade, ele já está pronto. Dará infor-mação de chuva em tempo real, por meio de emissão de um raio de micro-onda. Esse raio bate numa gota de chuva, essa gota excita o sistema e retorna um sinal. Pela potência do sinal o radar sabe a quantidade de gotas que está lá. O ‘tiro’ vai, tem um tempo de ida e um tempo de volta – e por esse tem-po de ida e volta se localiza precisamente o alvo, como se faz no setor aeronáutico. Só que, além disso, ele joga uma potência e depois mede quanto voltou dessa potência. Se o ‘espelho’, isto é, a quantidade de gotas for muito grande, a potência de retorno é

alta; se for pouca a potência de retorno pode ser zero. Por essa potência, o radar indica a quantidade de chuva e classifica a chuva em escala de cores. As cores mais frias são chu-vas fracas, e as cores mais quentes, tenden-do para o vermelho, são chuvas mais fortes. Ele mede a chuva e a velocidade que a chuva apresenta no local. Os sensores de campo medem tanto a chuva como o nível do rio e pode medir mais uns oito parâmetros, como pressão, temperatura, entre outros. Na rea-lidade, o contato com o público é feito pela Defesa Civil do Estado de São Paulo, que fica sediada no Palácio dos Bandeirantes. Nós suprimos a Defesa Civil com todas essas informações e ela faz todo o relacionamento com os 645 municípios do Estado.”

— Qual o alcance do Parque Ecológico do Tietê, e agora do Parque Várzeas, para o ataque ao problema do extravasamento do leito do Tietê? Trata-se de um novo paradig-ma que chegou tarde demais? — seguimos perguntando a Canholi.

“Não. A preservação das várzeas é um enfoque que vem de longe, basta ver o próprio Parque Ecológico do Tietê, que foi feito na década de 1970. Hoje o conceito está plenamente desenvolvido e aceito pelo DAEE e pelos órgãos ambientais, e já está se avançando muito nessa direção. A ideia do projeto do Parque Várzeas é fazer um

grande parque, desde a Penha até Mogi das Cruzes pelo menos. De uma forma ge-ral, principalmente no trecho de São Paulo a Suzano, as várzeas vêm sendo bastante ocupadas ainda hoje. E não se trata só de ocupação desordenada, como se poderia pensar. Há ocupação totalmente regulariza-da por lá, com ruas, asfalto, escolas – tudo na várzea do rio. Então o que se pretende? Principalmente preservar o que sobrou, o que é remanescente. Porque mesmo sendo apenas remanescentes, a preservação des-sas várzeas tem um grande efeito na re-dução dos picos de cheias que chegam na Barragem da Penha. Não dá para fazer uma obra contínua, porque existem todos es-ses pontos de ocupação, mas o que sobrou ainda absorve água de uma forma bastante efetiva. Os nossos cálculos indicam que se fosse construído um canal lá – ou seja, uma calha grande da Barragem da Penha até a região de Itaquaquecetuba –, como foi feito na parte de baixo, da Barragem da Penha até a Barragem Móvel/Cebolão, o pico de vazão na Barragem da Penha seria cinco ve-zes maior do que é hoje. Seria de cerca de 2 000 metros cúbicos por segundo na Pe-nha. Então não se admite chegar-se lá com um pico de vazão dessa magnitude. Nenhu-ma obra conseguiria dar vazão para esse volume de água, nem mesmo um grande

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túnel. Então essas várzeas ainda cumprem o papel delas e isso aí tem que ser preservado e se possível ampliado.Tem alguns projetos e estudos para a gente aumentar a capa-cidade de vazão por meio de escavações e ampliação dessas áreas de várzea. Ou seja, em alguns pontos em que dá para retirar as pessoas, fazer escavações. Pelo ponto de vista da qualidade da água existe a perspec-tiva de se instalar wetlands – terra úmida –, que são várzeas artificiais. São alagados onde se costuma desenvolver o plantio de certas espécies que têm capacidade de re-ter poluentes. Junto com a preservação das várzeas naturais, se instalariam wetlands para melhorar a qualidade da água dos cór-regos que chegam às várzeas do Tietê. Os wetlands são usados no mundo todo como linha auxiliar de combate à poluição do tipo industrial, sanitário e também a poluição difusa. O mais importante é preservar o que sobrou. Congelar as áreas remanescentes e impedir a invasão daqui para frente. O pro-grama Várzeas é a mais importante iniciati-va no combate às enchentes.”

— Como fica claro, o disciplinamento de uso e ocupação do solo e a educação ambien-tal são aspectos da maior importância. Como vê a questão? — solicitamos de Canholi.

“Há um aspecto importante que eu gos-taria de falar. A gente sempre vê pelos meios de comunicação que se o solo for permeabi-lizado, transformado em área verde, haveria um grande ganho em termos de redução dos picos de enchente, podendo-se até resolver o problema das enchentes por esse caminho. Vamos tirar os pisos! Vamos desimpermeabi-lizar! Vamos elaborar superfícies por onde as águas possam se infiltrar e teremos grandes ganhos! Bom, vamos colocar os pingos nos is. Em primeiro lugar, a cidade de São Paulo está numa região onde predominam os solos argilosos. A argila é bastante impermeável por si só. E são muito poucos os locais onde há solo arenoso. Outra coisa: quando se fala em desimpermeabilizar fica subentendido que esse solo já serviu de piso algum dia. Pista ou piso. Se ele já serviu para isso – ou foi edificado dessa forma anteriormente –, essa terra já foi totalmente compactada. En-tão você não consegue fazer com que aquele solo se transforme num solo permeável, se é que algum dia ele já foi. A Avenida Marginal do Tietê, por exemplo, é um aterro – um solo de argila compactada de uma várzea que já existiu ali. Se em cima disso tem asfalto ou não, dá na mesma: a chuva vai bater naquele solo e escoar. Então de pouco vale se plantar grama em cima ou não. Só muda o aspecto, que fica mais bonito. Acho que a gente tem que ser muito criterioso quando tenta apre-sentar soluções mágicas.”

— Quais seriam as soluções “não mági-cas” para beneficiar os solos impermeabili-zados? — questionamos.

“Bom, uma coisa que daria bons resul-tados seria criar um sistema de infiltração

artificial das águas através de construção de poços e expedientes pedrosos. Mas isso tem um custo econômico maior, como, por exemplo, os pavimentos permeáveis. O que são pavimentos permeáveis? É você cons-truir, embaixo de uma rua, um colchão de pedra, que pode ser preenchido com água quando houver chuva. É claro que isso custa bastante dinheiro, porque vai ter que se fa-zer praticamente um reservatório de pedra. Os vazios que essas pedras vão ter umas em relação às outras é que serão preenchidos com água quando chover. Mas, voltando à abordagem anterior: quando se fala em ges-tão de drenagem, se costuma defender mui-to essas soluções do verde e por aí vai. Não que isso esteja errado – essas soluções são bastante efetivas e devem ser adotadas. Mas, principalmente para melhoria da qualidade da água. Para se reduzir a poluição difusa. Porque a água vai para esses pontos de verde e eles retêm grande quantidade de graxas e de areias, o que evita que esses resíduos cheguem aos córregos e rios. São soluções mais usadas para isso e não para controle de cheia. Tanto que elas são dimensionadas para período de recorrência de um ou dois anos – quando se sabe que qualquer obra de controle de enchente é para acima de dez anos de período de recorrência. Então essas medidas são, na verdade, complementares. Se você quiser controlar enchente, você não vai escapar de construir uma grande obra, seja canalização, piscinão ou túnel, para comportar picos e eventos acirrados. Aque-las outras são complementos, para diminuir assoreamento e a erosão provocada pela água que corre direto. Aliás, se pudermos conseguir uma boa diminuição de erosão, isso vai reduzir o custo do serviço de desas-soreamento do rio.”

* * *Segundo Francisco Eduardo Loducca,

diretor de gestão e obras do DAEE, do final de 2010 até março passado foram utilizados 435,5 milhões de reais no desassoreamento

de 6,57 milhões de metros cúbicos de areia, sedimentos dos mais variados tipos, lixo e objetos que obstruíam os canais dos rios Tietê, Cabuçu de Cima, Três Pontes, Guaió, Baquirivu-Guaçu, Juquery, Itaqui, Cotia, Carapicuíba, Vermelho, Paraitinga e o canal de circunvalação (que circunda o Tietê como forma de proteção contra invasão das mar-gens do Parque Ecológico Tietê). O desasso-reamento visa melhorar o escoamento dos rios, córregos e canais. No caso do Tietê, iso-ladamente, a cada segundo, 50 litros de se-dimentos assoreiam o rio, considerando-se apenas o trecho que vai do Cebolão (Barra-gem Móvel) até a Barragem da Penha. Anu-almente, bem mais de 1 milhão de metros cúbicos de sedimentos e lixo são retirados pelos serviços de desassoreamento realiza-dos no rio. Do final de 2010 até março pas-sado foram retirados 3,99 milhões de metros cúbicos, num trabalho realizado em três lotes do corpo d’água, a um valor de 249,7 milhões de reais. Em proporções menores, cursos d’água de porte mais reduzido tam-bém sofrem com o assoreamento constante, principalmente em época de chuva. Naquele mesmo período foram retirados desses rios e córregos menores que desembocam de uma forma ou de outra no rio principal, o Tietê, 2,57 milhões de metros cúbicos de sedimen-tos e lixo, num investimento de 203,8 mi-lhões de reais.

A questão se torna mais difícil quando se trata de cursos d’água em áreas urbani-zadas, onde as condições de escoamento tendem a piorar. Isso porque urbanizar mui-tas vezes requer técnicas de terraplenagem que desnudam o solo, favorecendo o de-senvolvimento de processos erosivos com carregamento de partículas do solo para os rios e córregos, sem falar em casos de uso e ocupação irregulares. Além disso, o despejo inadequado de efluentes tóxicos por indús-trias, despejo de lixo domiciliar, entre outras práticas inadequadas, contribuem para o processo de assoreamento de cursos d’água. Razões de sobra para que os serviços de de-sassoreamento devam ser constantes e re-alizados com o competente planejamento prévio, justamente para que nos períodos chuvosos esses cursos estejam limpos e com maior capacidade de vazão para evitar en-chentes.

Um projeto detalhado de todas as ne-cessidades de intervenção em determinado curso d’água é o start para um bom serviço de desassoreamento, que pode representar diversos riscos e danos se for malfeito. Es-tabilidade do solo, margens ocupadas por residências, obras de arte nas extensões, interferências como linhas telefônicas e pas-sagens de gás subterrâneas, margens ocu-padas por matas ciliares, áreas de proteção permanentes (APPs): esses são exemplos de interferências a serem avaliadas e apontadas em projeto antes de qualquer intervenção. Outro item importante a ser considerado an-

Francisco Eduardo Loducca, diretor de gestão e obras do DAEE

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Contato

Fundada em 1972, a Hidroconsult, logrou ao longo de sua existência, um lugar de destaque dentre suas congêneres. Atuando no ramo de serviços de consultoria, tem por missão a elaboração de estudos e projetos de engenharia, assessoria técnica e o gerenciamento de empreendimentos.

Níveis de Atuação

- Investigações básicas;- Estudos de viabilidade;- Anteprojetos funcionais e técnicos;- Projetos básicos e executivos;- Acompanhamento técnico de obras;- Gerenciamento de implantação de empreendimentos;- Supervisão e fiscalização de obras;- Treinamento de pessoal.

Av. Brigadeiro Faria Lima, 1768 - 3º andarJd Paulistano, São Paulo - CEP: 01451-909 Fone: (11) [email protected]

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tes da execução dos serviços e que também deve ser apontado em projeto são os pontos de bota-espera (área destinada ao depósi-to dos sedimentos até que sua retirada seja efetuada) e os pontos de bota-fora, que são as destinações finais. Sem as informações de onde serão os pontos permitidos para des-pejo inicial e de quais empresas deverão re-ceber a destinação final, incluindo a distân-cia de transporte, a empresa executora não consegue trabalhar no desassoreamento. De forma geral, retirar o material do rio e de-positar na margem representa apenas 20% do custo desses serviços. Os outros 80% são compostos por transporte de sedimentos e destinação final.

A necessidade de intervenção em deter-minado curso d’água pode ser percebida a olho nu, principalmente quando a estiagem é recente. Mas é especialmente utilizada a batimetria para avaliar a quantidade de sedi-mentos no fundo dos rios. Tradicionalmente, os serviços de desassoreamento são deman-dados em regiões onde houve ocorrência maior de enchentes ou por meio de solicita-ções de prefeituras ou órgãos competentes. Geralmente um curso d’água pode represen-tar riscos de transbordamento quando 25% da sua seção estão comprometidos. Em rios maiores, caso do Tietê, com 10% de obstru-ção a intervenção já é recomendada. Só que intervir apenas em locais específicos de um rio pode causar malefícios no escoamento da sua montante, ou seja, do ponto onde o serviço foi realizado à sua nascente. Isso porque se melhora a condição de escoamen-to apenas no ponto onde o serviço foi feito, piorando a vazão do rio principalmente des-se ponto para cima, ou seja, para a nascente, e obstruindo ainda mais o curso d’água. É por essa razão que o ideal é que o desas-soreamento comece a jusante, ou seja, do lado onde se dirige a corrente d’água, como

se as obras estivessem sendo feitas contra o fluxo do rio. Outra recomendação é que, em paralelo com os serviços de desassore-amento, novas medições por meio de bati-metria sejam feitas nos locais já limpos, par se ter certeza de que o serviço já realizado está adequado. Daí a importância do cons-tante trabalho de fiscalização. Também cabe ao fiscalizador certificar-se de que todo o sedimento está sendo encaminhado para os órgãos licenciados a receberem os sedi-mentos inertes e não inertes. Essa separação pode ser feita na própria margem do rio, por meio de peneiramento. Em alguns casos, como em serviços de desassoreamento em rios menores e menos poluídos, os sedimen-tos são encaminhados diretamente para um destino final, sem necessitar de peneiramen-to nas margens.

Por se tratar de atividade que afeta os cursos d’água e as margens de rios, a em-presa contratante do desassoreamento em que conseguir licenciamentos ambientais tanto do órgão municipal de recursos hídri-cos – para os serviços nos rios – quanto da Secretaria do Meio Ambiente, para atuar nas margens. O DAEE, por ser uma autarquia, não precisa se autolicenciar para atuar nos rios, mas precisa buscar licenças por meio da Secretaria do Meio Ambiente para atuar nas margens. Quando os serviços tiverem de ser executados em matas ciliares, será preci-so ainda fazer compensação ambiental. Há uma variedade de máquinas e equipamentos de apoio utilizados em serviços de desas-soreamento de cursos d’água, dependendo do porte dos rios. Para rios de grande porte: drag-line, escavadeira hidráulica apoiada so-bre plataforma flutuante, draga de sucção e long reach; para rios de médio porte: drag--line, escavadeira hidráulica e escavadeira adaptada (gafanhoto); para rios de pequeno porte: escavadeira hidráulica e retroescava-

deira; equipamentos de apoio: pá-carrega-deira, trator de esteira ou pneu, caminhões basculantes, entre outros.

— Como tem sido o trabalho de desasso-reamento da calha do Tietê depois do rebai-xamento? — perguntamos a Loducca.

“O trabalho de desassoreamento tem sido espetacular em todos os sentidos. Nós temos três trechos de desassoreamento no Rio Tietê: lotes 1, 2 e 3. No Tietê. Um desses três lotes vai desde a Barragem da Penha até o Córrego Três Pontes, na divisa com Ita-quaquecetuba. O lote 2 vai até a Barragem Móvel, e o lote 1 do Cebolão até início da Barragem Edgard de Souza, a jusante. De 2010 para cá, no lote 1 nós desassoreamos 1,155 milhão de metros cúbicos. No lote 2 foram 1,34 milhão de metros cúbicos nes-se período. E no lote 3, outros 1,503 mi-lhão de metros cúbicos. Sendo que só no ano passado de 2012, a gente desassoreou 728 000 metros cúbicos no lote, 1,894 milhão metros cúbicos no lote 2, e 503 000 metros cúbicos no lote 3. Além desses trabalhos no Tietê, também tivemos grande atuação em outros córregos, pois estávamos com contratos vigentes. Deixe--me comentar: a maioria dos detritos não fica sedimentado ou depositado no leito dos córregos, que têm inclinação maior e correm mais rápido em direção ao Tietê. A maior parte dos detritos se deposita no lei-to do próprio Tietê. Quando chega ao Tietê, que tem uma declividade menor, a maioria desse material decanta-se na calha do rio. Tem geladeira, sofá, carro. Tiramos 240 car-caças de carro recentemente num trecho à altura de São Miguel Paulista, na zona les-te. Todo ano a gente tira carro de lá. Com a batimetria você identifica onde tem que desassorear mais. Assoreia mais nos córre-gos principais. Há casos em que a gente não mexe, em termos de desassoreamento, como

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no Rio Tamanduateí, porque a velocidade das águas é muito alta lá. Ou seja, decan-ta muito pouco ao longo dele. Toda terra e outros materiais que vêm lá de Mauá, em sua nascente – inclusive pegando um tre-cho grande que é canalizado e vai até São Caetano –, corre velozmente. Quando o rio chega perto do Tietê, o Tamanduateí diminui a velocidade e começa a depositar. É uma areia contaminada que fica caro purificar, ou seja, peneirar para uso na construção civil. Não se poderia usar para construção normal, só serviria para alguns aspectos mais bru-tos, como muros. A cada segundo, 50 litros de sedimento assoreiam o Tietê. Então é um absurdo. E nas barcaças nós fazemos uma separação dos materiais, porque vem muito lixo junto. Depois fazemos batimetria. Feita a batimetria a gente define cada trecho onde sedimentou maior quantidade de detrito em

Projetos/Gerenciamentode Obras e Sistemas

Gerenciamento da Obra da Estação de Transbordo de

Resíduos Sólidos de Salvador.

Supervisão Ambiental das Obrasde Recuperação Ambiental do Entorno da Cava de Carapicuíba.

Monitoramento Geotécnico, Ambiental e do Biogás Gerado em Aterros Sanitários.

Projeto de Aterro Exclusivo de Lodo em ETA.

Gerenciamento de Resíduos - .

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relação ao projeto original da calha. Isso va-ria em cada período chuvoso – em função de que a bacia é muito grande e tem casos em que chove mais de um lado ou do outro. A gente tem a topografia do projeto original e sabe onde acumula mais e lá a gente está fazendo sempre a batimetria. O que dispara o ‘gatilho’ de quando é preciso desassorear é justamente a batimetria. Se bem que a gente desassoreia tanto, num trabalho constante, que é até inadequado falar em gatilho. Em termos de bota-fora, estamos mandando a maior parte do material retirado diretamen-te para Carapicuíba. O DAEE tem contrato comprometendo-se a encher a cava da La-goa de Carapicuíba. Lá tem muito ainda a encher. Para dar uma ideia, a capacidade que a lagoa ainda tem para ser preenchida com material dá para 20 anos de desassoreamen-to do Rio Tietê.”

uma vez que, entre as múltiplas abor-dagens desta reportagem, o foco mais importante é o Rio Tietê, vale uma pa-

norâmica sobre esse estranho gigante hídri-co. O Tietê é o mais tradicional curso d’água paulista, não só por cortar sua capital, como também por atravessar, praticamente, todo o território do Estado, desde os contrafortes da Serra do Mar até o Rio Paraná, no extremo oeste do território bandeirante. O rio nasce a uma altitude de 1 030 metros da Serra do Mar, no município paulista de Salesópolis, a 22 quilômetros do Oceano Atlântico e a 96 qui-lômetros da capital paulista. Ao contrário de outros rios, ele subverte a natureza: como não consegue vencer os picos rochosos rumo ao litoral, em vez de buscar o mar – como a maior parte dos rios que corre para o mar – o Tietê atravessa a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e segue para o interior do Estado, de-saguando posteriormente no Rio Paraná, num percurso de 1 100 quilômetros mais ou menos.

Devido às obras de reversão, as águas de cabeceira são desviadas diretamente para o mar, gerando grande quantidade de energia nas usinas de Cubatão. O Tietê desemboca no Alto Paraná, pouco a jusante do Salto de Urubupungá, afogado pela Barragem de Ju-piá, que represa também as suas águas nos seus últimos quilômetros de percurso, na cota aproximada de 220 metros. O desnível entre a desembocadura e as cabeceiras é de pouco mais de 860 metros o que dá uma declividade média global de 74 centímetros por quilômetro. O grande desnível de seu curso tem sido aproveitado para construção de várias barragens destinadas à produção de energia hidrelétrica. A declividade do lei-to do Tietê é bastante variável, dependendo da natureza e características dos terrenos atravessados. No primeiro trecho, na Serra

O Parque Várzeas visa controlar as vazões do Rio Tietê a jusante

do Mar, ela é muito acentuada, reduzindo-se sensivelmente, à medida que o rio se aproxi-ma do planalto paulistano. Se for considera-do unicamente o trecho a jusante da capital paulista, até a desembocadura, a declividade média total baixa a menos de 50 centímetros por quilômetro. No trecho encachoeirado entre o fim da canalização do rio, no muni-cípio de São Paulo, até Salto (cidade colada a Itu) – num percurso de cerca de 80 quilô-metros – a declividade aumenta novamente atingindo cerca de 200 centímetros por qui-lômetro. Daí em diante, a declividade média cai a 30 centímetros por quilômetro.

Nos cerca de 1 100 quilômetros que o Rio Tietê percorre, até o município de Itapu-ra, em sua foz no Rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso do Sul, ele banha 62 municí-pios ribeirinhos e sua bacia compreende seis sub-bacias hidrográficas: Alto Tietê, onde está inserida a RMSP; Piracicaba; Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/Jacaré; Tietê/Batalha; e Baixo Tietê. Embora seja um dos rios mais importantes economicamente para o Estado de São Paulo e para o país, o Tietê ficou mais conhecido pelos seus problemas ambientais, especialmente no trecho em que banha a ci-dade de São Paulo. Não faz muito tempo que o rio se tornou poluído. Ainda na década de 1960, o Tietê tinha até peixes no seu trecho da capital. Porém, a degradação ambiental do rio teve início de maneira sutil na déca-da de 1920, com a construção da Represa de Guarapiranga pela empresa canadense Light, para posterior geração de energia elétrica nas usinas hidrelétricas Edgard de Souza e Rasgão, localizadas em Santana de Parnaíba. Esta intervenção alterou o regime de águas do rio na capital e foi acompanhada de alguns trabalhos de retificação também pela Light, que deixaram o leito do Tietê no trecho pau-

listano menos sinuoso nas regiões entre Vila Maria e Freguesia do Ó. E assim aconteceu a maior poluição do Rio Tietê em 2001.

Porém, ainda nas décadas de 1920 e 1930 o rio era utilizado para pesca e atividades desportivas: eram famosas as disputas de es-portes náuticos no Tietê. Nesta época, clubes de regatas e natação foram criados ao longo do rio, como o Clube de Regatas Tietê e o Clube Esperia.

O processo de degradação do Tietê por poluição industrial e esgotos domésticos no trecho da Grande São Paulo tem origem prin-cipalmente no processo de industrialização e de expansão urbana desordenada ocorrido nas décadas de 1940 a 1970, acompanhado pelo aumento populacional ocorrido no perí-odo, em que o município evoluiu de uma po-pulação de 2 milhões de habitantes na década de 1940 para mais de 6 milhões na década de 1960. Esse processo de degradação a partir dos anos 1940 também afetou seus principais afluentes, como os rios Tamanduateí e Ari-canduva, sendo o primeiro caso particular-mente mais perigoso, pois o Tamanduateí tra-zia do ABC os esgotos industriais das grandes fábricas daquela região. A política de permitir uma grande expansão do parque industrial de São Paulo sem contrapartidas ambientais acabou por inviabilizar rapidamente o uso do Tietê para o abastecimento da cidade e inclu-sive para o lazer.

A partir das décadas de 1960 e 1970, a falta de vontade política dos então governan-tes, aliada a uma certa falta de consciência e educação ambiental da população anulou qualquer iniciativa em gastar recursos para sua recuperação, o que, aliado à crescen-te demanda (fruto da expansão econômica e populacional da cidade), degradou o rio a níveis intoleráveis nas década de 1980. Nos anos 1980 o governo paulista contratou os estudos do Sanegran (Saneamento da Gran-de São Paulo), efetuados pela Engevix, sob a coordenação do engenheiro sanitarista Jorge Paes Rios. No entanto, as obras não foram executadas devido aos enormes custos. Em setembro de 1990, a então Rádio Eldorado (hoje Rádio Estadão) fez um programa es-pecial ao vivo, com dois repórteres: um, da própria emissora, estava em São Paulo, na-vegando pelo Rio Tietê e comentando sobre a poluição e deterioração das águas – o ou-tro, do serviço brasileiro da emissora de rádio britânica BBC, navegava nas águas límpidas e despoluídas do Rio Tâmisa de Londres, na Inglaterra, comentando sobre a qualidade daquele rio, que passou por um processo de recuperação desde a década de 1950. Tal pro-grama de rádio provocou grande repercussão em outros órgãos de imprensa, principalmen-te o jornal O Estado de São Paulo, do mesmo grupo da rádio. Uma organização não gover-namental, Núcleo União Pró-Tietê, liderada por Mário Mantovani, foi criada, canalizando a pressão popular por um rio mais limpo. A sociedade civil chegou a colher mais de um

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ESPECIAL RECURSOS HÍDRICOS

milhão de assinatu-ras, um dos maiores abaixo-assinados já realizados no país – rivalizando com o do movimento Ficha Lim-pa, mais recente.

Antes do problema da poluição, o Rio Tie-tê já era conhecido pe-las inundações provo-cadas por enchentes. O Tietê sempre foi rio de meandros e, portanto, para a construção das avenidas marginais foi necessária uma retifi-cação de seu curso na-tural. Deve-se lembrar que tais avenidas foram construídas sobre a várzea do rio, ou seja, locais naturalmente alagadiços. Como se não bastasse o fato de terem sido ocupadas as áreas da várzea, o crescimento desordenado da cidade também fez com que o solo da bacia do Tietê na região da Grande São Paulo fosse sendo impermea-bilizado. Com o tempo, o quadro de inunda-ções obrigou o governo estadual a projetar e construir obras de grande magnitude em praticamente todo o tramo de rio que corta a cidade de São Paulo. As intervenções fo-

ram de tal ordem que praticamente se atin-giu o limite do eco-nomicamente viável em termos das obras de engenharia que poderiam aumentar a capacidade de vazão do rio e controlar suas enchentes periódicas.

A partir dessa re-alidade, os estudos técnicos passaram a focar a recuperação das funções naturais das várzeas do rio a montante do trecho que corta a cidade de São Paulo (Barragem

da Penha) como uma alternativa viável para o controle das cheias. O projeto resultante, cha-mado de Parque Várzeas do Tietê (PVT), está atualmente em implantação e a conclusão de sua primeira fase está prevista para 2016. O projeto visa a implantação de um parque li-near localizado na várzea do Rio Tietê, entre o Parque Nascentes do Tietê, em Salesópo-lis, e o núcleo Engenheiro Goulart do Parque Ecológico do Tietê, no distrito de Cangaíba (zona leste de São Paulo). O projeto está sob responsabilidade do DAEE. Segundo Manoel

Horácio Guerra Filho, engenheiro do DAEE que coordena o PVT, a missão do projeto, em última análise, é controlar as vazões do Rio Tietê nos trechos de jusante a fim de evitar a observância de vazão limite no projeto da calha do rio. “Falando de outra forma, o PVT tem o objetivo de restabelecer a função das várzeas para o amortecimento de cheias, por meio de ações voltadas à proteção e à recu-peração do ambiente natural. As ações preve-em a promoção de usos sustentáveis e com-patíveis, tais como parques, vias de trânsito local e ciclovias junto aos limites externos, equipamentos de lazer, turismo e cultura, de forma a promover educação ambiental, inclu-são social, integração comunitária, proteção e recuperação da flora e fauna.”

O PVT foi oficialmente lançado em julho de 2009, pelo então governador José Serra. O projeto arquitetônico-paisagístico é do arquiteto Ruy Ohtake (o mesmo do Parque Ecológico do Tietê), e a expectativa é que o parque terá 75 quilômetros de extensão e 107 quilômetros quadrados de área quando completado, tornando-se, portanto, o maior parque linear do mundo, e atendendo a po-pulação dos municípios de São Paulo, Gua-rulhos, Itaquaquecetuba, Poá, Suzano, Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim e Salesópolis. O empreendimento beneficiará diretamente 3 milhões de pessoas da zona leste da capital

Projetos/Gerenciamentode Obras e Sistemas

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Manoel Horácio Guerra Filho, engenheiro do DAEE que coordena o PVT

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CAPA

e indiretamente toda a população da RMSP. Segundo Guerra, o PVT será implemen-

tado em três etapas. A primeira é objeto de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) a ser executada em cinco anos (São Paulo e Guarulhos), num tre-cho de cerca de 25 quilômetros da Barragem da Penha até a divisa com Itaquaquecetuba. “O valor contratado com o BID é de 199,78 milhões de dólares. Sendo 115,7 milhões de dólares do BID e 84,08 milhões de dólares de contrapartida do Tesouro estadual. Mas te-mos coisas a comentar. Quando o contrato foi negociado ele foi orçado nesses quase 200 milhões de dólares iniciais. Isso corresponde-ria às obras. Mas depois foram aparecendo outras necessidades, como as desapropria-ções. Estas ficaram orçadas em algo como 500 milhões de reais. Depois veio a questão da realocação das pessoas, do reassentamento das famílias. Hoje estamos com 7 500 famílias – 6 900 em São Paulo e 600 em Guarulhos. À razão de mais ou menos 100 000 reais por família, já são cerca de 800 milhões de reais. Ao somarmos isso com mais 500 milhões de reais das desapropriações, o montante já é de 1,3 bilhão de reais. Se a gente somar isso aos mais de 150 milhões de reais da contrapartida estadual [os 85 milhões de dólares citados] do contrato com o BID, dá para ter ideia da mag-nitude do empreendimento em sua primeira etapa. Depois de retirar as populações vamos retirar os aterros que as famílias fizeram para construir suas casas, e vamos renaturalizar essa várzea, inclusive com replantio da vege-tação. Então toda essa área será como se fos-se um grande piscinão. Vamos ter que retirar mais ou menos 1 milhão de metros cúbicos de terra. Interessante citar que nos trechos do PVT existem ainda muitos meandros. E esses não foram retificados. A retificação do Rio Tietê é da Barragem da Penha para baixo. É, simplesmente, a Marginal do Tietê. Era uma coisa até bonita na época, mas se previssem as consequências, talvez não tivessem levado a ideia avante.”

O coordenador do PVT confirma que, considerando-se as estimativas atuais das de-mandas do projeto e tendo como referência convênio assinado em meados de 2010, são necessárias aproximadamente 7 500 unida-des habitacionais para viabilizar a implanta-ção do Parque. Nos termos do acordo entre o governo estadual e a prefeitura paulistana, Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) e a Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab-SP) devem responsabilizar-se pelo provimento a 50% da demanda do município de São Paulo, ou seja, 3 450 unidades habi-tacionais. A Secretaria da Habitação do Esta-do de São Paulo (SH), além de outras 3 450 unidades habitacionais destinadas à demanda do município de São Paulo, deve ofertar mais 600 residências para famílias a serem removi-das do perímetro do PVT em Guarulhos.

O investimento total previsto para as três etapas é de 1,7 bilhão de reais, até 2020. A se-

gunda etapa tem 11,3 quilômetros e abrange a várzea do rio em Itaquaquecetuba, Poá e Suzano, com previsão de término em 2018. E a terceira fase, de 38,7 quilômetros, se esten-derá de Suzano até a nascente do Tietê, em Salesópolis, e deverá ser concluída em 2020. Além do principal objetivo, que é recuperar e proteger as várzeas do rio para funcionar como um regulador de enchentes, o PVT contempla uma gigantesca área de lazer para a população: 33 núcleos de lazer, esportes e cultura; 77 campos de futebol; 129 quadras poliesportivas; sete polos de turismo; ciclovia com 230 quilômetros de extensão; recompo-sição de mata ciliar, equivalente a 360 campos de futebol; construção de 230 quilômetros de Via Parque, para acesso de carro a todos os núcleos; passeios arborizados; reordenação da ocupação das margens; recuperação e pre-servação do meio ambiente e despoluição de córregos. Os espaços de lazer, cultura, recre-ação e educação ambiental a serem implan-tados dentro do escopo do projeto do Parque foram concebidos pelo arquiteto Ruy Ohtake. A Via Parque é uma faixa de rolamento aces-sível para veículos leves e encontra-se sob a responsabilidade da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.). A Ciclovia acompanha a Via Parque. A sua implantação é estratégica para impedir o processo de invasão e ocupação indevida, além de servir de acesso às obras de implantação das unidades de conservação e dos núcleos esportivos, culturais e de lazer previstos no projeto do PVT, farão a ligação dos diversos núcleos de lazer.

O parque será implantado por intermédio de uma parceria do governo estadual e DAEE, com as prefeituras de São Paulo, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Poá, Suzano, Mogi das Cru-zes, Biritiba Mirim e Salesópolis. O governo estadual e as prefeituras atuarão em conjunto nas ações de preservação e manutenção da várzea, incluindo fiscalização e demais medi-das para evitar novas ocupações irregulares, além da preparação de estudos e documentos necessários à obtenção de recursos para as obras. Outra medida muito importante para a implementação do parque é a remoção das famílias que ocupam as APAs (Áreas de Pre-servação Ambiental), a cargo dos órgãos ha-bitacionais estaduais e municipais.

Na primeira etapa, ora em curso, a po-pulação receberá 18 quadras poliesportivas, sete campos de futebol, cinco centros de educação ambiental, cinco academias para os idosos, quatro bibliotecas, quatro telecentros, nove playgrounds. O coordenador do PVT ressalta que desde 2009 o governo estadual já vem realizando investimentos que também compõem o programa. Dos 48 quilômetros de Via Parque – que possibilita acesso de carro aos núcleos – e Ciclovia previstos no projeto em sua primeira fase, 15 quilômetros já foram entregues e 60 000 mudas foram plantadas como compensação ambiental pelas obras de ampliação da Marginal do Tietê (a previsão é de um total de 120 000 mudas). Também

dois núcleos de lazer já estão funcionando, dos quais um no Parque Ecológico do Tietê (PET), inaugurado décadas atrás, e outro no Parque do Jacuí, inaugurado em 2010.

Para se ter ideia da dimensão do parque, pode-se comparar a área da recomposição da mata ciliar como equivalente a 380 campos de futebol ou 3,8 milhões de metros quadra-dos. Para a sustentabilidade ambiental e eco-nômica do parque, serão criadas unidades de conservação e desenvolvidas ações educati-vas. Nas várzeas do Alto Tietê serão formadas grandes piscinas naturais, que amortecerão as cheias e serão fundamentais para comple-mentar o efeito das obras de aprofundamento da calha do Rio Tietê (41 quilômetros) des-de a Barragem da Penha até a Usina Edgard de Souza, em Santana de Parnaíba, além das constantes obras de desassoreamento.

— Qual a importância do Parque Eco-lógico do Tietê, o PET? — perguntamos a Marta Alcione Pereira, assessora de plane-jamento do PVT.

“O PET é parte do PVT, também é ad-ministrado pelo DAEE, e tem como objetivo final de auxiliar na recuperação e preserva-ção da várzea natural do Rio Tietê. Ao lado disso, tem uma função de lazer. A zona leste de São Paulo não tem nada em termos de lazer, e o PET supre as necessidades da po-pulação. São 50 000 visitantes por fim de semana. Corresponde a uma saída de jogo de futebol no Morumbi lotado. Quando o parque fecha, ao fim do dia, é uma multidão saindo que até chega a assustar. Lá tem ati-vidade de futebol, piscina, skate, bicicross, pedalinho, patos na lagoa, museu e quios-ques para churrasco. Existe muita vida ani-mal também lá. Tem um problema sério que é o quati. Esse animal não pode ver comida, que ele vai atrás. E calcule como ficam as latas de lixo com 50 000 pessoas visitando e curtindo. As pessoas estão andando e os quatis andam do lado, é muito engraçado. Aí o pessoal responsável pela limpeza e ma-nutenção do parque, de tanto os quatis foci-nharem o lixo, desenvolveu uma ideia genial. Eles pegaram aquelas bombonas de plástico arredondadas que servem de lixeira, corta-ram esses recipientes e colocaram alças para que elas ficassem suspensas, como se fossem balanças. Aí o quati não consegue focinhar! Na verdade, a intenção é também proteger a saúde dos bichinhos, porque aquela comi-da das lixeiras faz mal para eles Tem os dois lados, um é o problema do lixo e outro é a alimentação do animal silvestre. Então ago-ra as lixeiras do parque são todas elas essas bombonas que balançam. Aí você cansa de ver aquela cena do quati lá na maior briga, balançando. O parque é muito grande e re-centemente foi inaugurada uma parte muito interessante: o Jardim Metropolitano. Este jardim foi concebido para promover o desen-volvimento ambiental sustentável, destacar a beleza natural e a recuperação de espaços degradados pelo crescimento urbano desor-

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ESPECIAL RECURSOS HÍDRICOS

denado. O Jardim Metropolitano ocupa uma área de 380 000 metros quadrados no PET, na entrada da cidade de São Paulo, tanto do lado de quem chega ou sai pela Rodovia Ayrton Senna e às margens do Rio Tietê. Ele recebeu o plantio de 1 000 árvores e 218 000 mudas de espécies da flora da Mata Atlânti-ca, entre elas palmeiras de várias espécies,

macaúba, ipê, quaresmeiras e jerivás além de arbustos como sálvia, bela emília, jasmin--amarelo e ligustro. O projeto paisagístico do arquiteto Ruy Ohtake – uma parceria das se-cretarias de Saneamento e Recursos Hídricos e a de Desenvolvimento Metropolitano – re-cebeu investimentos de 8,9 milhões de reais e é encabeçado pelo DAEE.”

pa, na vigência do PPA 2004-2007, atendeu 87 municípios, beneficiando cerca de 1 mi-lhão de pessoas com investimento de 89 mi-lhões de reais, com afastamento e tratamento de esgoto doméstico (preferencialmente por lagoas de estabilização) que eram lançados in natura nos cursos d’água locais. “Na vigência das duas versões do Água Limpa nós já con-cluímos 96 obras em 92 municípios, no valor de 158, 95 milhões de reais e uma população beneficiada de 1,49 milhão de habitantes – e estão em andamento 27 obras em 25 municí-pios, no valor de 184,04 milhões de reais que vão beneficiar 690 000 pessoas”, diz Ziroldo, acrescentando que o universo é de 220 obras para atingir todos os municípios abaixo de 50 000 habitantes sem tratamento de esgoto e não operados pela Sabesp ou outra con-cessionária.

Em oito anos e até hoje, o Água Limpa abrange 119 municípios atendidos ou em atendimento, e um total de 128 estações de tratamento de esgoto (ETEs), já que alguns desses municípios possuem mais de uma ETE. Até o final de 2013, o número de habitantes beneficiados deve subir para 2,18 milhões e o montante projetado de investimento é de 342,99 milhões de reais. Equivale dizer, que 3 900 toneladas de carga orgânica – antes lan-çadas in natura em cursos d’água – são reti-radas mensalmente dos rios paulistas, além de

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o Projeto Água Limpa foi implementa-do pelo governo estadual em 2005 em parceria com a Secretaria da Saúde e

o Programa Água Limpa que o sucedeu foi instituído pelo Decreto número 52.697 de fevereiro de 2008, posteriormente altera-do pelo Decreto número 57.962 de abril de 2012 tendo como partícipes a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos, o DAEE e os municípios conveniados. O Programa visa a execução de projetos, obras e serviços destinados ao afastamento e tratamento de esgoto sanitário doméstico em municípios com população de até 50 000 habitantes não operados pela Sabesp ou por outra conces-sionária. Segundo o engº Lupércio Ziroldo Antônio, coordenador do Programa Água

Programa Água Limpa: saneamento básico para cidades de menor porte

Limpa e diretor da Bacia do Baixo Tietê, o governo do Estado disponibiliza os recursos financeiros para a construção das estações de tratamento de esgotos e a implantação de emissários e estações elevatórias, contrata a execução das obras ou presta – por meio das várias unidades do DAEE – a orientação e o acompanhamento técnico necessário. O mu-nicípio participa do programa cedendo a área onde serão construídos os sistemas para tra-tamento dos esgotos, desenvolve os projetos executivos e providencia as licenças ambien-tais necessárias para a execução das obras. O benefício não se restringe ao município onde o projeto é implantado, mas abrange a bacia hidrográfica em que ele está localizado. Zi-roldo explica que o antigo Projeto Água Lim-

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CAPA

classificar o Estado de São Paulo como aque-le que mais vem recu-perando seus rios, no país. Até 2015, o Água Limpa deverá investir 396 milhões de reais e tratar 6 300 toneladas de carga orgânica por mês. A estimativa é que 3,1 milhões de pessoas sejam atendidas nesse período.

Segundo o relató-rio da Agência Nacional de Águas (ANA), entre os rios que apresenta-ram aumento do IQA (Índice de Qualidade da Água), localizados em São Paulo, ressaltam--se vários das bacias dos rios Tietê, Paraíba do Sul, Paranapanema e Grande, nas quais o DAEE vem realizando intensos investimentos. Seguem as relações abaixo. Na Bacia do Rio Tietê são 33 municípios: Analândia, Bari-ri, Bilac, Castilho, Cerquilho, Dois Córregos, Guaiçara, Guaiambê, Guaraçai, Guararapes, Iacanga, Igaraçu do Tietê, Itajobi, Itapura, Itirapina, Jaci, Julio Mesquita, Lavínia, Mara-poama, Monte Castelo, Nova Independência, Pauliceia, Pedreira, Rinopolis, Santa Gertru-des, Santo Antônio de Posse, Santo Antônio do Aracanguá, São João do Pau D’Alho, Ta-batinga, Torrinha, Tupi Paulista, Urupês e Valparaíso. Na Bacia do Rio Grande são 29 municípios: Américo de Campos, Balsamo, Brodowski, Casa Branca, Cedral, Colina, Cra-vinhos, Guapiaçu, Engenheiro Coelho, Ipiguá, Ituverava, Lindoia, Mirassolândia, Neves Pau-lista, Novais, Palestina, Paraíso, Patrocínio Paulista, Pindorama, Rancharia, Santa Adélia, Santa Lucia, Tabapuã, Taiuva, Tambaú, Tana-bi, Tapiratiba, Taquaral e Uchoa. Na Bacia do Rio Paranapanema, 19 municípios: Cabrália Paulista, Canitar, Chavantes, Herculândia, Ibi-rarema, Iepê, Ipaussu, Irapuru, Junqueiropó-lis, Manduri, Ocauçu, Ouro Verde, Pacaembu, Palmital, Panorama, Pompeia, Salto Grande, São Pedro do Turvo e Vera Cruz.

* * *

Um sistema completo de esgotamento sa-nitário, dependendo de seu porte é constituído basicamente pelas ligações prediais, rede co-letora, coletores tronco, interceptores, emissá-rios, estação de tratamento e emissário final. Podem estar presentes ainda estações elevató-rias e linhas de recalque, quando necessárias para o afastamento dos esgotos coletados. O Programa Água Limpa desenvolve parceria com os municípios, responsabilizando-se pelas obras de afastamento, tratamento e disposi-ção final dos esgotos. Ou seja, a rede coletora, coletores-tronco e eventualmente os intercep-tores são, em geral, de responsabilidade da prefeitura de cada município. Após conclusão das obras a prefeitura deverá se encarregar da

operação e manuten-ção de todo sistema.

Os objetivos espe-cíficos do Água Limpa são a redução sensível das doenças de vei-culação hídrica, como a diarreia, nos muni-cípios atendidos pelo Programa; aumento na disponibilidade de água para os usos múltiplos na bacia hidrográfica, possi-bilitando um melhor equacionamento des-tes usos; retomada da vida aquática nos cur-sos d’água e nas bacias

hidrográficas atendidas; redução dos conflitos pelo uso dos recursos hídricos; possibilidade de criar vetores de desenvolvimento agrícola, industrial ou de lazer face à melhora no binô-mio disponibilidade-qualidade das águas, com a consequente melhora na renda e qualidade de vida das pessoas. Entre os benefícios estra-tégicos estão a revitalização das bacias hidro-gráficas beneficiadas com uma melhor qua-lidade para as águas dos cursos d’água e das bacias hidrográficas que tiveram obras execu-tadas; melhores condições de desenvolvimen-to econômico e social em função da maior disponibilidade de boa água promovida pela realização das obras na bacia hidrográfica, que possibilitará maiores chances de emprego e renda para a população moradora na bacia hidrográfica que foi recuperada com a retira-da da carga orgânica de seus rios e córregos; ampliação do índice de universalização do sa-neamento no Estado de São Paulo no cumpri-mento das metas estabelecidas pelo governo estadual para o setor. Em relação aos benefí-cios setorizados pode ser incluída a população em geral, pela redução dos citados riscos com doenças de veiculação hídrica e pela possibili-dade de desenvolvimento que traz emprego e renda. Ao lado disso, o habitante morador da zona rural, produtor agropecuário, terá uma maior disponibilidade e qualidade das águas em suas propriedades, possibilitando melho-ria no desenvolvimento de suas culturas ou no trato pecuário. O setor industrial, por sua vez, terá à sua disposição regiões com maior disponibilidade de recursos hídricos, possi-bilitando a implementação de indústrias que demandam água como fundamental insumo de produção. Da mesma forma, em algumas regiões, o setor energético deve evoluir pela melhora da produção de energia a partir das usinas hidrelétricas que terão águas em seus reservatórios de melhor qualidade e com me-nor índice de assoreamento. Finalmente, em algumas bacias hidrográficas o segmento de lazer deve ser incrementado, pela possibilida-de do desenvolvimento de mais práticas es-portivas em lagos e represas, face à melhora na qualidade dos recursos hídricos.

— Qual o interesse econômico e social do Água Limpa e como vê o papel da água para o futuro do Brasil e do mundo? — per-guntamos a Ziroldo.

“A água será muito provavelmente o ele-mento definidor da crise do século 21. Pode-mos encontrar tipos alternativos de energia, mas não de água. Os recursos hídricos, se-jam superficiais ou subterrâneos, têm grande interface com as políticas públicas de sane-amento, meio ambiente, agricultura, saúde, transportes, energia e lazer e sua importância é claramente destacada quando na discus-são de projetos e obras que apontem para o desenvolvimento e a vida das pessoas. Neste escopo, uma das principais ações a ser pro-movida para a melhoria das águas é o efetivo tratamento das águas residuárias provenien-tes dos esgotos domésticos que degradam nossos cursos d’água, diminuem a disponi-bilidade dos recursos hídricos para os vários usos e cria espaços para a disseminação de doenças de origem hídrica como a diarreia. Por se tratar de obras caras em que os impac-tos gerados são em geral distantes dos centros urbanos, de certo modo as administrações municipais relegam a um segundo plano sua execução e os sistemas de esgotamento sani-tário acabam por prescindir do devido e efe-tivo tratamento para os esgotos coletados nas malhas urbanas. Estatísticas atuais apontam que a preservação dos rios e córregos, assim como de nossas nascentes, está diretamente vinculada à recuperação da qualidade dos re-cursos hídricos sendo que o tratamento dos esgotos sanitários é, entre todos os serviços, o de primordial importância neste contexto. Por outro lado, o desenvolvimento contínuo em nosso Estado aponta para a utilização cada vez maior dos recursos hídricos, sejam super-ficiais ou subterrâneos, e o estabelecimento de conflitos em algumas regiões já é claro face à escassez para todos os usos múltiplos da água, o que ressalta mais ainda a necessi-dade de ações de recuperação e preservação desses recursos. Neste sentido, tendo como meta a ampliação de suas ações no que se re-fere à melhoria das águas paulistas, o efetivo tratamento dos esgotos sanitários domésticos é uma ação fundamental e importante do go-verno e no cenário estabelecido detectou-se que os municípios não operados pela Sabesp com até 50 000 habitantes necessitam da execução de obras e serviços de afastamen-to e tratamento dos esgotos domésticos. E a priorização e hierarquização destas obras nestes municípios efetivará um significativo aumento nos índices de recuperação dos nos-sos rios e córregos, assim como a revitaliza-ção de várias bacias hidrográficas do Estado de São Paulo.”

— Como é o tratamento de esgotos por lagoas de estabilização? — solicitamos de Ziroldo.

“O sistema de tratamento adotado pelo Programa Água Limpa é composto por três lagoas de estabilização: anaeróbia, facultativa

Lupércio Ziroldo Antônio, coordenador do Programa Água Limpa e diretor da Bacia do Baixo Tietê

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e maturação. Constituem três fases, em que o esgoto urbano é depurado pela ação de bac-térias e algas, obtendo uma redução de até 95% de sua carga poluidora, medida em DBO [Demanda Bioquímica de Oxigênio]. Trata-se de um processo natural que não exige equipa-mentos sofisticados nem adição de produtos químicos, sendo, portanto, de fácil operação e manutenção. Essas características tornam o processo ideal para comunidades de pequeno e médio porte que disponham de terrenos de baixo custo, pois a ETE ocupa áreas relativa-mente grandes. Na primeira, o esgoto bruto – ou seja, 99% de água e 1% de resíduos sóli-dos – é decomposto por bactérias anaeróbias, isto é, as que não necessitam de oxigênio para viver. Em apenas cinco dias, as bactérias re-duzem em 50% a carga poluidora. Esta etapa gera gás metano, que exala mau cheiro, e cria

uma crosta na superfície que ajuda a manter as condições anaeróbias no meio líquido. Na segunda lagoa ocorre o tratamento biológico, em que a decomposição da matéria orgânica é realizada por bactérias anaeróbias no fundo da lagoa, bactérias aeróbias – que necessitam oxigênio – na superfície, e bactérias chama-das facultativas, que se adaptam a ambas as condições. Em cerca de 20 dias, as bactérias removem mais de 85% da carga poluidora. A remoção dos coliformes fecais e outros agen-tes que provocam doenças são eliminados na terceira lagoa – a de maturação –, onde o esgoto já praticamente tratado passa por um processo de purificação. As bactérias são eliminadas pela ação de algas. A água tratada é então lançada nos córregos e ribeirões, com padrão adequado para sustentabilidade da flora e da fauna aquáticas.”

As gigantescas reservas de água subterrânea do Aquífero Guarani

Guarani abrange quatro países da Améri-ca do Sul e oito estados do Brasil. A área ocupada pelo Guarani é de 1,15 milhão de quilômetros quadrados e 70% disso está no subsolo do centro-sudoeste do Brasil. O restante se distribui entre o nordeste da Argentina, noroeste do Uruguai e sudeste do Paraguai. A população atual do domí-nio de ocorrência do aquífero é estimada em 15 milhões de habitantes. Em território brasileiro o Guarani abrange os estados de Mato Grosso do Sul (213 700 km²), Rio Grande do Sul (157 600 km²), São Pau-lo (155 800 km²), Paraná (131 300 km²), Goiás (55 000 km²), Minas Gerais (51 300 km²), Santa Catarina (49 200 km²), Mato Grosso (26 400 km²).

Nomeado em homenagem à tribo Guarani, o aquífero possui um volume de aproximadamente 35 000 quilômetros cúbicos e profundidade máxima por vol-ta de 1 800 metros, com uma capacidade de recarregamento de aproximadamente 166 quilômetros cúbicos ao ano por preci-pitação pluvial. Costuma-se dizer que esta vasta reserva subterrânea pode fornecer água potável ao mundo por 200 anos. De-vido a uma possível falta de água potável no planeta, que começaria em 20 anos, este recurso natural está rapidamente sendo politizado, tornando-se o controle

os aquíferos são grandes reservató-rios subterrâneos que armazenam 96% da água doce do planeta. Eles

são formados por rochas porosas enchar-cadas de água e desempenham um papel importante no equilíbrio hídrico e no de-

senvolvimento socioeconômico das comu-nidades que se servem delas. Existem cen-tenas de aquíferos no mundo, sendo que dois dos maiores – os aquíferos Guarani e Alter do Chão – ficam total ou parcial-mente no subsolo brasileiro. O Aquífero

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do Aquífero Guarani cada vez mais contro-verso. Em termos de geologia, o Aquífero Guarani consiste pri-mariamente de sedi-mentos arenosos que, depositados por pro-cessos eólicos duran-te o período Triássico (há aproximadamente 220 milhões de anos), foram retrabalhados pela ação química da água, pela tempera-tura e pela pressão e se transformaram em uma rocha sedimentar chamada arenito. Essa rocha é muito perme-ável e assim permite a acumulação de água no seu interior. Mais de 90% da área total do aquífero é reco-berta por extrusões de basalto, rocha íg-nea e de baixa permeabilidade, deposita-da durante o período Cretáceo na fase do vulcanismo fissural [em que os materiais vulcânicos foram expulsos através de fratu-ras da superfície terrestre]. O basalto age sobre o Aquífero Guarani como um aqui-tardo [formação geológica de natureza se-mipermeável], diminuindo sua infiltração de água e dificultando seu subsequente recarregamento, mas também o isola da zona mais superficial e porosa do solo, evitando a evaporação e evapotranspira-ção da água nele contida. A pesquisa e monitoramento do aquífero para melhor gerenciá-lo como recurso hídrico é algo importante, uma vez que o crescimento da população em seu território é relativa-mente alta, aumentando riscos relaciona-dos ao consumo e a poluição.

Segundo o engº Carlos Eduardo Nas-cimento Alencastre, diretor regional do DAEE em Ribeirão Preto e diretor da Bacia Pardo Grande, o volume do reservatório de água do Guarani – estimado nos citados 35 000 quilômetros cúbicos é próprio de um aquífero recarregável. “Significa que ele não é uma jazida que está confinada, como no caso de uma jazida de petróleo, em que é possível exaurir tudo e acabar com a jazida. O Guarani tem entradas de água de chuva nas suas bordas, que a gente chama tecnicamente de franjas. Há uma franja que sai das proximidades de Ribeirão Preto, vai descendo, pega praticamente o Brasil inteiro, uma hora se estreita, outra hora se alarga. Afinal a natureza é cheia de meandros e não uma linha reta. Tem uma franja do lado leste e outra do lado oeste. O aquífero é uma bacia, uma camada de arenito chamado arenito Botucatu e depois tem o arenito Piramboia, por baixo do Botucatu. Todo esse arenito é embebido em água e produz

uma quantidade de água muito grande. Os poços são gran-des produtores de água subterrânea. A vazão do aquí-fero em Ribeirão Preto pode chegar a ter 400 000 li-tros/hora com água na temperatura normal. Porque ali estamos próxi-mos da franja do abastecimento. À medida que vamos mergulhando no Guarani e os poços vão ficando mais profundos pode-se obter mais água,

que já sai quente. A cada 30 metros que o aquífero se aprofunda há o aumento de 1 grau centígrado na temperatura da água. Quando se chega às cercanias da região de Araçatuba e Presidente Prudente a água já tem uma temperatura de 50 ou 60 graus centígrados. Em alguns lugares são águas jorrantes, dependendo de onde ele se localiza e da pressão. Quando a pressão interna é maior que a pressão externa, a água acaba jorrando. É mais ou menos o princípio dos vasos comunicantes: você tem uma caixa d’agua em cima, abre uma torneira em baixo, a água escapa forte.”

— Qual a profundidade média do Aquí-fero Guarani em Ribeirão Preto? — pergun-tamos a Alencastre.

“A 150 metros de profundidade você já encontra água de excelente qualidade lá. É interessante notar que essa água do aquífero na região de Ribeirão Preto tem por volta de 2 000 anos de depósito. Já foi encontrada água em outros pontos do Guarani com até 40 000 anos de depósi-to. À medida que se vai mergulhando no aquífero as águas vão ficando mais anti-gas. Mas à medida que as águas entram pelas franjas – e a região de Ribeirão está próxima das franjas – elas ficam mais novas. E por ter essa idade e estar numa zona confinada a água tem uma excelente qualidade, uma vez que se filtrou tudo o que poderia ser filtrado, porque ali é ro-cha, não é areia solta.”

— Como tem sido a explotação do aquífero em Ribeirão Preto? Está havendo rebaixamento do lençol? — questionamos Alencastre.

“A explotação é alta, a população au-menta e com ela os problemas também vão crescendo. Isso porque os canos das redes vão ficando cada vez mais velhos, se investe muito pouco em renovação – e também os reservatórios vão fican-do velhos e obsoletos. Como não há ne-cessidade de construção de estações de

tratamento de água, as ETAs, instala-se uma sensação de facilidade e tanto o poder público como os consumidores se acomodaram. O serviço municipal tira a água e só adiciona f lúor e cloro porque é uma determinação do Ministério da Saú-de que isso seja feito. O líquido com ida-de mínima de 2 000 anos de depósito sai totalmente purificado e pode ser bebido na hora, do jeito que sai do poço. O que acontece é que a água vai pelo cano, o cano é furado provocando vazamento, aí água é perdida no caminho. O índice de perda é muito alto. Oficialmente fala-se que a perda é de 45%, mas a gente sabe que é bem mais que isso.”

— Se a perda já é alta e não há investi-mento em recuperação, qual a perspectiva de futuro numa região de economia tão forte como é Ribeirão? — perguntamos.

“Bom, por meio de estudos sérios re-alizados pela USP de São Carlos nós esta-mos constatando que o lençol de água do aquífero está sendo rebaixado. O nível do lençol está uns 70 metros abaixo do que era. Uma média de rebaixamento de 1 me-tro por ano. Com esses estudos também se chegou a outro número assustador: es-tamos tirando 13 vezes mais água do que a capacidade de reposição. E a reposição é um processo muito lento da natureza. Então a água da chuva que está caindo em Ribeirão Preto só vai ser bebida daqui 2 000 anos. Não é difícil entender, por-tanto: a cidade tira muita água e a capa-cidade de reposição é pequena, o que vai rebaixando o lençol. É a mesma coisa que você sacar da conta bancária mais do que você tem depositado. Pode chegar uma hora que essa água acabe.”

— Qual a média de profundidade dos poços de Ribeirão? — pedimos.

“A camada do lençol, ou seja, do aquí-fero propriamente dito, deve ter uma mé-dia de 150 metros de espessura. Com o rebaixamento torna-se necessário afun-dar mais os poços. E como alguns poços já estão esgotados, é preciso furar outros.”

— Quer dizer que a solução do futuro é afundar cada vez mais a perfuração dos poços? — insistimos.

“Não. A solução do futuro é buscar água no Rio Pardo. Já começaram os estudos. Hoje o Pardo é um rio de bom caudal. E a qualidade de suas águas vem melhorando todos os anos, segundo a Ce-tesb. Tanto é que hoje é possível pescar dourados lá, que é um bom indicador. O dourado é um peixe que exige uma oxige-nação da água muito alta para sobreviver e o pessoal está pescando bastante doura-do. E tem piracema à vontade. O Rio Par-do está totalmente recuperado em termos de qualidade. A antiga contaminação era por causa do esgoto das cidades da Bacia do Rio Pardo. Estamos chegando com o Programa Água Limpa para zerar tudo.

Carlos Eduardo Nascimento Alencastre, diretor regional do DAEE em Ribeirão Preto e diretor da Bacia Pardo Grande

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Hoje só temos uma cidade que não tra-ta esgoto a montante de Ribeirão Preto. Trata-se de Serrana, com pouco menos de 50 000 habitantes – mas está no forno para sair um contrato do Água Limpa. Se você zerar a questão do tratamento de esgoto vai haver uma qualidade maior da água. Isso porque as grandes usinas de açúcar e álcool são muito fiscalizadas pela Cetesb e essa parte está controlada. Hou-ve apenas um acidente uns 15 anos atrás quando houve o rompimento um tanque de melaço para fazer o açúcar. Foi alto índice de açúcar no rio e o oxigênio da água foi a zero em questão de segundos. Houve 200 quilômetros de mortandade de peixe. Mas foi um acidente.”

— E a questão da infiltração de vinhaça das usinas em relação ao Aquífero Guara-ni? — continuamos.

“Não atinge. A Embrapa andou fazen-do pesquisas, mas a infiltração é muito superficial, não chega no aquífero lá em-baixo. Lógico que estamos sempre aten-tos. Porque a contaminação pode chegar por um poço mal construído, não só pela infiltração natural. Entre um poço e outro é preciso ser respeitada uma distância pa-drão. E há inclusive uma nova legislação em estudo. Hoje a região da cidade de Ri-beirão Preto foi dividida em três zonas. Na zona de pior constatação de rebaixamento do lençol está terminantemente proibida a abertura de novos poços. Só o serviço de água e esgoto pode abrir, e assim mes-mo ele tem que desativar um poço para construir outro. Em relação aos novos poços, tanto de empresas como particu-lares precisam manter 1 000 metros de distância entre um e outro. E as regras das zonas estão sendo rigidamente apli-cadas. Dentro das zonas não se fura nada sem passar pelo poder público municipal para conseguir uma permissão para uso e ocupação do solo. Depois disso é preciso dar entrada no DAEE, que vai verificar se tem poço próximo, se está perto de algum curso d’água, se está em algum local com suspeita de contaminação ou contamina-do. Por exemplo, um posto de gasolina é um local com suspeita de contaminação. Quase todos esses postos contaminam o subsolo com diferentes graus de gravida-de. Hoje em dia é muito difícil perfurar um poço novo em Ribeirão Preto. A maior par-te das solicitações que o DAEE recebe par-te do serviço municipal de água e esgoto.”

— Quantos poços estão ativos em Ri-beirão? — emendamos.

“O último número a que tive acesso é de 104 poços. Se você fizer uma conta simples e considerar que vai tirar 150 000 litros por hora de 104 poços, verá que é possível abastecer duas cidades do por-te de Ribeirão Preto. O índice de perda rural e de desperdício urbano na região de Ribeirão é muito alto. Trata-se de uma

cidade quente, de terra vermelha, existem muitas piscinas nas residências particu-lares e há também muito furto de água. É muito difícil ver uma casa de classe média que não tenha piscina. E a água lá é cara. Ela tem uma curva de preço que é exponencial. Se a família consome 30 000 litros por mês vai pagar uns 40 reais, digamos. Não sei o valor exato. Quando se vai aumentando o consumo o preço sobe muito. Só a título de comparação, se a fa-mília consome 50 000 litros ela paga 150 reais. Se consome 60 000 litros, vai pagar 500 reais. E se gasta 70 000 litros, paga 1 000 reais. Mas tem o problema também do sujeito que faz um desvio e seu con-sumo não é registrado no hidrômetro. A perda física é alta, mas a água não fatu-rada é mais alta ainda.”

— Mas chega a ser um serviço altamen-te superavitário? — perguntamos.

“Sim. Mas a autarquia lá tem proble-mas muito sérios a serem resolvidos. Pri-meira coisa: o tratamento de esgoto é uma concessionária que explora. Então a con-cessionária tem um equipamento na en-trada da estação e o que se mediu no mês ela apresenta a fatura ao Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto, o Da-erp – e este é obrigado a pagar. O Daerp arrecada a taxa de esgoto do contribuin-te, mas paga para a concessionária. Então não é receita. De fato, tem a receita da água, mas esta é acompanhada por uma alta despesa com manutenção porque as redes estão velhas e está estourando cano na cidade inteira, vazando para todo lado. Tem também um alto custo de folha de pagamento. E tem uma conta ‘salgada’ de energia elétrica, porque os grandes po-ços da prefeitura funcionam 24 horas por dia e dependem de bombas com motores grandes para tirar a grande quantida-de de água consumida. E, ao lado disso tudo, tem um sindicato altamente eficaz no sentido de defender os direitos e inte-resses de seus servidores. Então qualquer modernidade que se pense em implantar no serviço de água e esgoto, os sindica-listas cortam, para evitar o desemprego. A gente não vê muita saída, porque a ques-tão é muito politizada. Nem se vê chance de terceirizar o serviço, por exemplo. E acabamos não atacando os verdadeiros problemas. Aumentar a quantidade de reservatórios é crucial. Por que há tanta perda? Se a gente for analisar bem, não é só porque o encanamento está velho. Tem encanamento novo também, por exem-plo, nos bairros novos – mas lá também são registradas perdas. Por quê? Porque você tira do poço e injeta na rede. Quan-do o certo seria colocar num reservató-rio e depois distribuir, porque se poderia manter a pressão. Dessa forma, quando é madrugada, estoura tudo quanto é en-canamento – tanto novo quanto velho. E

esses furos todos vão sendo remendados com borracha, de qualquer jeito, troca-se um pedacinho de um trecho. Além disso, o número de profissionais encanadores está muito aquém do que se precisaria para uma demanda tão grande. Então está virando um caos. Está virando uma coisa que não se conserta. E o paliativo é sempre furar poço. Até porque furar um poço – que vai render uma grande produ-ção de água – custa menos de 1 milhão de reais. Então tudo vai sendo empurrando com a barriga, sem a menor sustentabi-lidade. Aliás, uma das coisas que vamos implementar a partir do ano que vem é a cobrança de água no Pardo, que ainda não é cobrada. Estamos alertando: é pre-ciso que os ribeirão-pretanos comecem a procurar água no Rio Pardo, porque o Aquífero Guarani vai chegar à exaustão. E vai chegar à exaustão só em Ribeirão, porque vai ter água em Sertãozinho e em todas as demais regiões. O buraco é só lá em Ribeirão. Há estudos alentados mostrando também que uma das fontes alimentadoras do Rio Pardo é o Aquífe-ro Guarani e que uma parte da água do Pardo está sendo puxada para dentro do Guarani. Por aí se tem ideia do quanto o lençol do Guarani está sendo rebaixado. Ou seja, já inverteu a coisa: o que ia está vindo. Antes o Pardo era o dreno do Gua-rani. Ainda é, mas está mudando.”

— Como instrumento de gestão o DAEE não poderia limitar a outorga de novos po-ços em Ribeirão para induzir à captação no Rio Pardo? — indagamos.

“É complicado esse negócio de limi-tar outorga. A gente já fez essa restrição. Quem está se saindo bem com essa restri-ção é o serviço de água e esgoto de Ribei-rão. E a contrapartida, que seria investir na questão das perdas, não está sendo feita. Essas restrições, a cada dois anos a gente renova. E cada vez que a gen-te renova, restringe um pouco mais. Va-mos apertar para ver se achamos alguma solução. Mas não estamos encontrando, por enquanto. Porque caímos numa coisa política e não conseguimos fazer a ges-tão como deveria ser feita. No entanto, o comitê da Bacia Pardo Grande tem for-ça e estamos caminhando para um ponto de exigir que haja mínimos estudos para captação no Pardo. O importante é que existe um movimento cuja expectativa é aproveitar as águas do Pardo. Ainda que numa cidade do tamanho de Ribeirão Pre-to, e ainda por cima acostumada a furar poço, isso não seja fácil. Então esses estu-dos têm que começar a modular. Ou seja, você faz uma estação de tratamento para os bairros que estão mais próximos do rio, vai eliminando os poços – e segue assim, paulatinamente. Não dá para mudar tudo da noite para o dia. Mas tem que ir pen-sando em poupar cada vez mais água do

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Guarani. Inclusive essa ideia de restringir outorga que você falou, é possível fazer isso nas renovações. Porque as outorgas não são infinitas. Elas têm prazo: para o particular, cinco anos – e para os serviços

Outorga do direito de uso comoinstrumento de política das águas

públicos, dez anos. É possível usar esse instrumento para avisar que não vai mais se renovar a outorga – deixar claro que é a última vez que se renova. Quando acabar, a pessoa vai ter que procurar outra fonte.”

ção do regime hidrológico, como cana-lizações, pontes, travessias e barragens. Ou ainda para usos como turismo, lazer, navegação, piscicultura e outros. A do-cumentação necessária para obtenção da outorga está disponível no site do DAEE [www.daee.sp.gov.br], no item Outorga e Fiscalização. No item Saiba Mais, o interessado encontra também a legislação que regulamenta a questão.”

— A senhora havia comentado, em conversa informal, que havia uma novi-dade nos procedimentos. Qual é? — so-licitamos.

“A grande novidade do ano, e que não está na pauta inicial de sua revis-ta, vai ser um ato declaratório do DAEE para os proprietários rurais do Estado a partir de julho, por dois anos. Nós va-mos fazer um chamamento geral, que vai estar no site do DAEE. Trata-se de uma nova forma bem simples para os usuários se cadastrarem. Estamos fina-lizando um contrato de parceria com a Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, a Faesp, com a Secre-taria da Agricultura do Estado de São Paulo, e com o Banco do Brasil, para fazer um grande cadastro dos usuários rurais, que é a parte mais falha no nosso Estado. O mote é primeiro conhecer a demanda real para poder depois fazer o cálculo da disponibilidade hídrica. Depois trabalhar principalmente com outorgas coletivas – via sindicato, por exemplo, associações, cooperativas, a f igura que eles quiserem. A outorga co-letiva é boa para esses usuários, pois os custos ficam diluídos. E boa também para nós, pois conseguiremos estrutu-rar uma boa fiscalização desses usu-ários, e eles acabam se tornando par-ceiros do DAEE na gestão. E onde não houver mais disponibilidade de água vamos começar a trabalhar com o que a ANA já está fazendo pelo país – prin-cipalmente no Nordeste –, que são os ‘pactos de alocação de água’. Nós temos na região centro-oeste do nosso Esta-do várias bacias já consideradas críti-cas e a maioria é irrigante em grande quantidade. A gente precisa conhecer os milhares de pequeninos usuários – esses milhares, somados, correspondem a alguns sistemas Cantareira. Por isso que consideramos esses pequenos tão importantes. Porque uma grande quan-tidade deles impacta as sub-bacias e a economia local.”

— Como instrumento de gestão, quais os pontos fracos da outorga? — solicita-mos de Leila.

“A outorga é um bom instrumento, mas ela tem limitações. Ou seja, há uma série de questões em relação às quais nos ressentimos de que os planos de ba-cias não nos dão diretrizes suficientes.

Leila Gomes de Carvalho, diretora de Procedimentos de Outorga e Fiscalização do DAEE

os recursos hídricos – tanto águas superficiais quanto subterrâne-as – constituem bens públicos a

que toda pessoa física ou jurídica tem direito ao acesso e utilização, cabendo ao poder público a sua administração e controle. Se uma pessoa quiser fa-zer uso das águas de um rio, lago ou mesmo de águas subterrâneas, terá que solicitar uma autorização, concessão ou licença (outorga) ao poder público. O uso mencionado refere-se, por exem-plo, à captação de água para processo industrial ou irrigação, ao lançamento de ef luentes industriais ou urbanos, ou ainda à construção de obras hidráuli-cas como barragens, canalizações de rios, execução de poços profundos, en-tre outros. A outorga de direito de uso ou interferência de recursos hídricos é um ato administrativo, de autorização ou concessão, mediante o qual o poder público faculta ao outorgado fazer uso da água por determinado tempo, f inali-dade e condição expressa no respectivo ato. Constitui-se num instrumento da Política Estadual de Recursos Hídri-cos, essencial à compatibilização har-mônica entre os anseios da sociedade e as responsabilidades e deveres que devem ser exercidas pelo poder conce-dente. No Estado de São Paulo cabe ao DAEE o poder outorgante, por intermé-dio do Decreto 41.258, de 31/10/96, de acordo com o artigo 7º das disposições transitórias da Lei 7.663/91.

Segundo Leila Gomes de Carvalho, diretora de Procedimentos de Outorga e Fiscalização do DAEE, o órgão emi-tiu 4 966 outorgas no ano de 2012. O volume representa um crescimento de 3,6% em relação a 2011, quando foram emitidas 4 792. “A Bacia do Médio Tie-tê, que inclui a Região Metropolitana de Campinas e as regiões de Piracicaba e Sorocaba, liderou a emissão de 2012, com 1 241 outorgas, o que corresponde a 25% do total do ano. Além dessas au-torizações, o DAEE concedeu dispensa de outorga para 1 503 pequenos usuá-rios, indeferiu 886 pedidos, revogou 42 portarias antigas e autorizou 81 obras de desassoreamento em cursos d’água. Veja que a outorga é um instrumento importante na gestão dos recursos hí-dricos no Estado, pois permite à admi-

nistração pública equacionar o atendi-mento às demandas e a disponibilidade deste recurso em território paulista. Com as emissões realizadas em 2012, somadas às emissões do primeiro tri-mestre de 2013, o total chega a 71 249 outorgas concedidas pelo DAEE, desde que o órgão iniciou a emissão em 1992. No primeiro trimestre deste ano, emi-timos 1 598 outorgas, um crescimento

de 23,8% em relação ao mesmo período de 2012, quando foram emitidas 1 291 autorizações. Graças a esse trabalho, o DAEE tem cadastrado usuários em mais de 16 600 cursos d’água do Estado, de minúsculos riachos ao Rio Tietê, o maior deles, com 1 100 quilômetros de extensão mais ou menos.”

— Como se solicita uma outorga? — perguntamos a Leila.

“A outorga deve ser solicitada por todo usuário que necessite realizar cap-tações e lançamento de ef luentes nos cursos d’água superficiais, extração de águas subterrâneas para qualquer f i-nalidade, destacando-se os usos para abastecimento público, irrigação e uso industrial. Também por quem precise realizar obras que impliquem em altera-

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A maior parte não dá essas diretrizes e aí a decisão acaba sendo do DAEE. Teríamos que evoluir nesse campo. Por exemplo, quem faz enquadramento de corpos hídricos? A competência é do comitê de bacia. Quem deveria decidir, nos planos de bacia – quando houver criticidade –, os corpos d’água que de-veriam ter prioridade nas outorgas? Os comitês de bacia, novamente. Isso está na lei. Mas, na realidade, os planos ain-da não estão, individualmente, atentan-do para esses aspectos. A precariedade dos comitês de bacia reside apenas em relação a diretrizes para outorga. Por-que os comitês têm belos planos, muito bons diagnósticos e até competentes prognósticos nos aspectos gerais.”

— Que tipo de utilização de água a outorga abrange? — prosseguimos.

“Todas. A outorga serve para capta-ção superficial e subterrânea. Qualquer poço, seja urbano ou rural, ele tem que ter outorga. Quando a vazão é menor que 5 metros cúbicos por dia, o usuário precisa ter um cadastro – pelo menos o cadastro é obrigatório e isso vale tanto para água superficial quanto subterrâ-nea. Os lançamentos dos ef luentes to-dos em rios e corpos hídricos de qual-quer tipo. E todas as obras hidráulicas: barragem, canalização, travessia. Além disso, os serviços: o desassoreamento de um rio, dos reservatórios. O Rio Pa-raíba, por exemplo, é a ANA quem dá outorga porque se trata de um rio que atravessa três estados: Rio de Janei-ro, São Paulo e Minas Gerais. Já para os af luentes do Paraíba, é o DAEE que concede a outorga. Agora só existem rios federais e rios estaduais. Antes havia rios municipais também, mas a Constituição de 1988 revogou os rios municipais. Os antigos rios municipais passaram a ser estaduais.”

— Qual a importância da outorga para desenvolvimento socioeconômico e geração de negócios no Estado? — per-guntamos.

“De uma forma bem geral, a água é um dos insumos mais importantes para o desenvolvimento. É um insumo que pode ser indutor, onde existe em quan-tidade suficiente para atrair mercado. Ou pode ser, ao contrário, um limitador – como hoje já acontece na Bacia do Alto Tietê como um todo. Isso para as empresas que precisam utilizar bastante água. De uns 20 anos para cá, indús-trias siderúrgicas e metalúrgicas, por exemplo, têm saído do Estado. Muitas unidades de apoio da indústria automo-bilística da Grande São Paulo mudaram para Minas Gerais, Mato Grosso, para regiões onde havia mais abundância de água, em função da baixa disponibili-

dade hídrica do Estado de São Paulo. Os grandes usuários de água, o que in-clui a indústria de papel e celulose, não ficariam hoje na RMSP. Teriam que ir para as regiões dos rios Peixe e Para-napanema, onde há bastante água. Mas aí aparece outra situação importante. A gente brinca que são vários os elemen-tos a serem levados em conta para um bom planejamento: tem que ter água, energia, transporte. Imagine o empre-sário lá no Pontal de Paranapanema, cheio de água: talvez o custo de trans-porte acabe fazendo não valer a pena ele transferir seu negócio para lá.”

— O DAEE tem algum procedimen-to diferenciado para autorizar o uso do lençol subterrâneo do Aquífero Guarani? — questionamos.

“Sim. Em função de cada tipo de aquífero temos regras envolvendo, por exemplo, a interferência entre poços. No caso do Guarani, há uma regra que não nos permite outorgar poços a me-nos de 1 500 metros de distância, para não haver interferência de um poço para outro. Na realidade, depois que se estudou mais a fundo o Guarani, se constatou que o aquífero funciona como uma grande caixa d’água. Tem muita água, mas um poço interfere no outro com muito mais facilidade do que em regiões do Cristalino, ou seja, de rochas cristalinas. Cristalino é outro tipo de aquífero que tem na Grande São Paulo. É rocha e a água fica nas racha-duras. O Guarani, no caso, é uma caixa d’água basicamente de rocha bem poro-sa, quase areia. É muito interessante.”

— Para um breve ranking, quais são os usuários mais importantes do Estado? — indagamos.

“Temos os mais diferenciados usos de água em função da bacia. Estivemos recentemente na região do Paranapane-ma, ali a agricultura é o topo do uso. Abastecimento público em primeiro lu-gar e agricultura em segundo. Aí a gen-te vem para uma Região Metropolitana de São Paulo e o perfil muda totalmen-te. Aqui a prioridade, depois do abaste-cimento público, é a indústria, seguida por serviços. É por existir esse corte di-ferenciado que se elaboram os planos de bacias. Esses planos fazem diagnósticos detalhados do perfil de cada grupo de usuários. Então fica bem interessante porque se faz um balanço hídrico – se a demanda nas diversas bacias em relação à sua disponibilidade está boa, se está sofrível, se está ficando negativo, se a qualidade da água está boa. Cada região tem um perfil. Mas gostaria de lembrar que está definido por lei os usos prio-ritários da água em casos emergenciais. Primeiro vem matar a sede das pesso-

as. Se houver um conf lito entre o uso industrial e a utilização para abasteci-mento público, o que se corta primei-ro é a água para o uso para indústria. Numa hora de crise, o abastecimento da indústria vem em quinto lugar, pela lei 9.034 de 1994. Pela lei, projeto de ir-rigação coletiva vem em sétimo lugar. Até chamei a atenção dos ruralistas lá da região do Paranapanema para esse detalhe. Porque o segundo uso impor-tante naquela área é o agropecuário. Eu alertei esse pessoal sobre a importância de se montar um plano de bacia para definir as prioridades. Caso contrário – ou seja, na ausência de um plano elabo-rado pelo comitê de bacia –, numa hora de crise o DAEE é obrigado a aplicar as prioridades de nossa tabela baseada na lei. Se o pessoal do Paranapanema apre-sentasse o plano indicando que em caso de crise a prioridade da região seria a ir-rigação, o DAEE poderia aplicar a regra local. Sem isso, temos que aplicar a lei. Só para deixar bem claro esse ponto, o artigo 12 da lei 9.034/94 define que en-quanto não estiver estabelecido o plano de uma determinada bacia hidrográfi-ca, a prioridade de uso dos respectivos recursos hídricos obedecerá à seguinte ordem: 1) atendimento das primeiras necessidades da vida; 2) abastecimento de água às populações, incluindo-se as dotações específicas necessárias para suprimento doméstico, de saúde e de segurança; 3) abastecimento de água de estabelecimentos industriais, comerciais e públicos em geral, situados em áreas urbanas, que se utilizam diretamente da rede pública, com demandas máximas a serem fixadas em regulamento; 4) abas-tecimento doméstico e de animais em estabelecimentos rurais e irrigação em pequenas propriedades agrícolas para produção de alimentos básicos, ole-ricultura, fruticultura e produção de mudas em geral; 5) abastecimento in-dustrial, para fins sanitários e para a in-dústria de alimentos; 6) aquicultura; 7) projetos de irrigação coletiva, com par-ticipação técnica, f inanceira e institu-cional do Estado, dos municípios e dos irrigantes; 8)abastecimento industrial em geral, inclusive para a agroindús-tria; 9) irrigação de culturas agrícolas em geral, com prioridade para produtos de maior valor alimentar e tecnologias avançadas de irrigação; 10) geração de energia elétrica, inclusive para o supri-mento de termoelétricas. Não é por ou-tra razão que a gente se bate tanto para que os comitês de bacia estabeleçam seus planos e suas prioridades de usos de água. Para nós, do DAEE, isso seria preferível do que ter que aplicar a regra geral da lei.”

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Uma reflexão sobre logística urbana

ÉDELIS ALVES RIBEIRO*

engenharia civil tem como um dos seus importantes ra-mos de atuação a engenha-ria de transportes. São os transportes que capacitam

a movimentação da população e de produtos de um lugar para outro, produzindo efeitos de ordem social, econômica e cultural. Mas tam-bém a saúde pública depende de ações de en-genharia. Este estudo trata – crê-se, de forma pioneira – da logística urbana de saúde vis à vis a logística urbana de transporte.

Os aspectos físicos da engenharia refe-rem-se a produtos como estruturas de cons-trução, máquinas, rodovias, veículos etc., bem como tudo que é necessário para o fun-cionamento desses produtos como materiais, combustíveis etc.

Entretanto, Gilberto Freyre considerava que “para que a engenharia possa se realizar como ciência e tecnologia, ela deve contem-plar além de suas questões físicas, a dimen-são humana e social.”

No que diz respeito ao sistema de trans-porte, é necessário trazer para a engenharia além do cunho tecnológico, a ótica humana e social. Com isso, o transporte passa a ser considerado o propulsor de coordenação e integração na sociedade, promovendo plena acessibilidade aos bens, serviços, produtos, equipamentos e espaços da cidade.

Nesse sentido, atendendo a uma deman-da oriunda da Secretaria de Estado da Saúde (SES), propondo ocupar espaços disponíveis em terminais de ônibus, estações de metrô e trem, com postos de atendimento à popula-ção, a fim de facilitar o acesso aos serviços de saúde, e considerando-se que os resultados da Pesquisa Origem-Destino/2007 mostram uma quantidade de viagens por motivo saúde muito significativa, o presente trabalho ana-lisa a distribuição dessas viagens na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), levan-do a uma reflexão sobre a relação do sistema de transporte coletivo metroferroviário e por ônibus e a oferta de equipamentos de saúde.

O estudo foi realizado baseado em da-dos extraídos da Pesquisa OD/2007, além de informações obtidas via site das secretarias estadual e municipal de saúde.

Um dos grandes problemas enfrentados atualmente pela área de saúde é a convergência da procura por atendimento em determinados centros hospitalares. O Hospital das Clínicas de São Paulo é um exemplo dessa situação. Por ser o maior complexo hospitalar da América Latina recebe enorme quantidade de pacientes originá-rios das mais diversas e longínquas localidades.

Esse tipo de concentração dificulta os atendimentos, retarda e complica as resolu-ções das intercorrências médicas (perda de resolutividade), assim como provoca maior

fluxo de deslocamentos da população, con-tribuindo para o aumento da demanda dos transportes públicos coletivos.

Nesse caso, torna-se necessário imple-mentar medidas que facilitem a acessibili-dade aos serviços de saúde de forma mais rápida e eficiente.

Ressalte-se que os dados levantados para este estudo não são suficientes para uma aná-lise conclusiva da situação atual do Sistema de Saúde na RMSP, mas contribuem para orientar no sentido de se apurar as causas que provocam deslocamentos de pessoas em busca de equipa-mentos de saúde fora de suas regiões de origem, resultando em um grande número de viagens diárias de longa distância por motivo saúde.

ANÁLISE DOS DADOSA RMSP é composta por 39 municípios

e conta com uma população de 19,8 mi-lhões de habitantes. De acordo com a Pes-quisa OD/2007 são efetuadas 38 milhões de viagens por dia, sendo que 1,6 milhão de viagens/dia são por motivo de saúde. Isso sobrecarrega o sistema de transporte, espe-cialmente nas vizinhanças dos hospitais.

As pesquisas origem-destino têm mos-trado que há uma evolução constante dessas viagens. Na Pesquisa OD-1987 as viagens por motivo saúde representavam 3,5% do total de viagens, em 1997 passou a 3,77% e em

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2007 as viagens representavam 4,26% do total de viagens por motivo saúde na RMSP.

O Município de São Paulo (MSP) está di-vidido administrativamente em 31 subprefei-turas e possui 11,2 milhões de habitantes. São realizadas 25,4 milhões de viagens por dia. Deste total, 1 milhão de viagens é em busca de atendimento de saúde, que representa 4% do total de viagens por motivo saúde no MSP.

Para efeito de análise dos dados, hou-ve agregação dos municípios da RMSP e das subprefeituras do MSP, com seus respectivos distritos, formando macrozonas distribuídas da seguinte forma: RMSP – Norte/Nordeste/Leste/Sudeste/Sudoeste/Oeste; MSP – Nor-te1/Norte /Oeste /Leste /Leste2/Sul1/Sul2.

O quadro 1 mostra a agregação em ma-crozonas na RMSP e no MSP.

Com relação às viagens por motivo saúde realizadas na RMSP, verificou-se que, mais de 80% ocorrem dentro dos próprios municí-pios, como por exemplo, na RMSP-N (região de Caieiras, Franco da Rocha etc.) e RMSP-SE (região do ABC e outros). No MSP as viagens se concentram na macrozona Sul2 (Campo Limpo, M’Boi Mirim etc.). Nessa macrozona são realizadas cerca de 190 000 viagens/dia por motivo saúde, sendo que 72% desse total ocorrem dentro da própria região.

De acordo com dados da Secretaria de Esta-do da Saúde (SES), a região SE da RMSP conta com 153 unidades de atendimento à saúde, re-gião que apresenta maior oferta de Centros de Saúde (CS), Unidades Básicas de Saúde (UB) e Hospitais Gerais (HG). No MSP são 621 unidades.

A figura 1 ilustra a oferta de equipa-mentos de saúde na RMSP e no MSP.

A fim de se verificar a distribuição das viagens por motivo saúde especificamente no MSP, foram consideradas apenas as via-gens externas, ou seja, as viagens que se ori-ginam nas diversas macrozonas e têm como destino outras regiões, sendo descartadas as viagens realizadas dentro da própria região e os retornos para residência.

Com isso, observou-se que as regiões que mais produzem viagens por motivo saúde na RMSP são as macrozonas do MSP: Norte 2, Leste 1, Leste 2 e Sul 2.

Do total de viagens realizadas por mo-tivo saúde em Leste 2 (47 564 viagens/dia), 56% têm como destino a região Leste 1. O mesmo ocorre com a região Sul 2 (42 880 viagens/dia), onde 43% das viagens se des-tinam à região Sul 1 e 33% à Região Oeste. Das viagens efetuadas em Norte 2 (43 448 viagens/dia) 42% se destinam para a região Oeste e 27% para a região Norte1.

A figura 2 mostra a movimentação das viagens por motivo saúde de uma região para outra nas macrozonas do MSP

Quadro 1 - Agregação das Subprefeituras (MSP) e Municípios (RMSP)

Figura 1 - Oferta de Equipamentos de Saúde na RMSP (Fonte: Secretaria de Estado da Saúde - http://sistema.saude.sp.gov.br/consulta_cnes)

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nificativa de viagens com destino a outras regiões em busca desses atendimentos.

A figura 4 é um mapa da SMS que ilustra a distribuição dos estabelecimentos de saú-de no MSP. Realmente a região Leste possui quantidade considerável de estabelecimen-tos, assim como uma concentração de equi-pamentos mais a sudoeste do município.

Também foram levantados alguns hospitais gerais considerados de grande porte, somente da rede pública de saúde, situados nas várias re-giões estudadas, a fim de se perceber possíveis carências desses equipamentos de saúde.

A figura 5 ilustra a localização de alguns hospitais gerais, municipais e estaduais nas diversas regiões do MSP.

Pode-se observar que no extremo leste da região Leste2 foi levantado apenas um hospital, Hospital Cidade Tiradentes, e o mesmo ocor-re na região Sul2, onde se localiza o Hospital

Municipal M’Boi Mirim. As regiões que con-centram maior número de hospitais são Sul1, Centro e Oeste. Especialmente na região Oeste situa-se o Complexo Hospitalar das Clínicas.

SISTEMA DE TRANSPORTECom relação ao modo de transporte utiliza-

do para realização das viagens por motivo saúde na RMSP, constatou-se que 48% são efetuadas por transporte coletivo e 34% por automóvel. Das viagens realizadas por transporte coletivo 39% são por ônibus municipal e metropolitano e 9% pelo sistema metroferroviário.

A figura 6 mostra a distribuição das via-gens por motivo saúde de acordo com os vá-rios modos de transporte.

O sistema ônibus opera com 1 350 linhas de ônibus e 120 quilômetros de corredores mu-nicipais, gerenciados pela SPTrans. Na RMSP opera o Corredor Metropolitano ABD, que in-

Figura 2 - Movimentação das viagens entre as macrozonas no MSP (Fontes: Pesquisa Origem-Destino- 2007; e Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE – Censo demográfico 2010)

Figura 3 - Quantidade de unidades de atendimento de saúde no MSP (Fontes: Secretaria Municipal de Saúde, Coordenadoria de Epidemologia e Informação, Ceinfo; Pesquisa Origem-Destino- 2007; e Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE – Censo demográfico 2010)

Através do site da SMS foi possível quan-tificar as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e os Centros de Saúde (CS) que prestam aten-dimento nessas regiões.

As regiões com maior número de UBS e CS são as mais populosas do MSP: região Leste 2 com 2 380 780 habitantes, possui cerca de 112 unidades de atendimento e Sul 2 com 2 553 800 habitantes, conta com 119 unidades de saúde.

A figura 3 ilustra as regiões com maior quantidade de unidades de atendimento de saúde no MSP.

Embora essas regiões apresentem maior disponibilidade de unidades de atendimento de saúde, a pesquisa mostra, como visto an-teriormente, que há uma porcentagem sig-

Figura 4 - Estabelecimentos e Serviços da Rede Municipal por Coordenadoria Regional de Saúde (Fonte: Secretaria Municipal de Saúde, Coordenadoria de Epidemologia e Informação, Ceinfo)

Figura 5 - Hospitais Gerais da Rede Municipal e Estadual no MSP (Fontes: Secretaria Municipal de Saúde, Coordenadoria de Epidemologia e Informação, Ceinfo; e Secretaria de Estado da Saúde)

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criar alternativas para melhorias de acesso aos equipamentos de saúde.

A descentralização dos atendimentos com acessibilidade mais rápida aos equipamentos da saúde e a criação de novas unidades in-tegradas em terminais/estações do transpor-te coletivo, contribuiria para a redução do grande volume de viagens por motivo saúde em circulação pela cidade, aliviaria a concen-tração de pacientes no Complexo Hospitalar das Clínicas, além de propiciar aumento nas resoluções dos tratamentos à população.

Os resultados apontados neste estudo dão subsídio ao sistema de saúde pública para pro-posituras ao sistema de transporte coletivo pú-blico, metroferroviário e por ônibus, visando oferecer um melhor atendimento à população que procura os equipamentos de saúde e se utiliza do transporte público coletivo.

Outro fator relevante é que o planejamen-to integrado deve estar imbuído das perspec-tivas futuras. O país passa por um processo de envelhecimento populacional. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-ca (IBGE) em 2030 cerca de 40% da população brasileira deverão ter entre 30 e 60 anos. Hoje, as pessoas idosas representam 10,6% da po-pulação; em 2030 serão 14%. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) registra em seus estudos que, além do envelhecimen-to da população, a proporção de pessoas com idade superior a 80 anos está aumentando, o que implica em maior demanda por cuidados, por um período de tempo mais longo.

Sob a ótica do conceito de uma engenha-ria física, humana e social, apontado no início deste estudo, os órgãos públicos têm que se preocupar e se preparar, planejando, criando programas específicos com pessoas capacita-das e implantando infraestruturas adequadas para poder atender a população futura.

cluindo os corredores da capital, so-mam cerca de 160 quilômetros de cor-redores. Os corredores metropolitanos estão passando por grande ampliação no momento: Corredor Tucuruvi-Guarulhos, na região Leste e Itapevi-Butantã, na região Oeste da RMSP.

Além das linhas e corredores mu-nicipais e metropolitanos, circulam no município, linhas intermunicipais da RMSP que também são gerencia-das pela EMTU.

A figura 7 ilustra o sistema ônibus no MSP e os corredores municipais e metropolitanos em operação e futuros.

O sistema metroferroviário (Me-trô/CPTM) é formado por 75 quilô-metros de metrô e 130 quilômetros de trens metropolitanos operando na cidade de São Paulo, totalizando 205 quilômetros sobre trilhos. O MSP possui 61 terminais de integração em operação, sendo 28 da SPTrans, 31 do Metrô/CPTM e dois da EMTU.

A figura 8 ilustra a distribuição dos terminais urbanos no município de São Paulo.

Além disso, todos os sistemas es-tão em expansão prevendo futuras implantações de corredores de ônibus municipais, corredores metropolita-nos, novas linhas de metrô, monotri-lhos e modernização da ferrovia.

CONSIDERAÇÕES FINAISA partir dos dados levantados,

pode-se perceber que no MSP, nas macrozonas mais populosas e que apresentam maior quantidade de uni-dades de saúde é onde ocorrem mais deslocamentos para outras regiões em busca de atendimentos de saúde.

Remete-se ao setor da saúde a sugestão de uma investigação mais apropriada no sentido de se apurar as causas desses deslocamentos. Torna-se necessário um aprofundamento da co-leta de dados mais específicos do setor da saúde, como: cadastro com dados gerais dos pacientes, quantificação de leitos hospitalares por região, levanta-mento de equipamentos para exames e, sobretudo, realização de pesquisas qualitativas e quantitativas para se ter uma avaliação mais consistente da si-tuação do atendimento da saúde.

O conhecimento das situações que levam pessoas a se deslocarem das regiões de origem para outros locais, muitas vezes muito distantes, em bus-ca de serviços de saúde, possibilitará

Figura 6 - Distribuição das viagens por motivo saúde de acordo com o modo de transporte utilizado (Fonte: Pesquisa Origem/Destino – 2007)

Figura 7 - Linhas de Ônibus Municipais e Corredores Municipais e Metropolitanos – RMSP

Figura 8 - MSP – Sistema de Transporte Público Coletivo – Terminais Urbanos

* Édelis Alves Ribeiro é socióloga, trabalhou no Metrô de São Paulo e atualmente faz parte da Superintendência de Planejamento da São Paulo Transporte S.A. (SPTrans)E-mail: [email protected]

[1] OLIVEIRA, Edgar Costa – O Sociólogo que Redefiniu o Conceito de Engenharia – referente FREYRE, Gilberto. Homens, Engenharias e Rumos Sociais. São Paulo: É Realizações, 2010. Disponível em: (http://univesp.ensinosuperior.sp.gov.br).[2] METRÔ - COMPANHIA DO METROPOLITANO DE SÃO PAULO et alii. Pesquisa Origem – Destino 2007. Banco de Dados.[3] SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE - (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/epidemiologia_e_informacao/).[4] SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE – (http://sistema.saude.sp.gov.br/consulta_cnes).[5] IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – (www.ibge.gov.br/).[6] METRÔ - COMPANHIA DO METROPOLITANO DE SÃO PAULO – (http://www.metro.sp.gov.br/).[7] CPTM - COMPANHIA PAULISTA DE TRENS METROPOLITANOS – (http://www.cptm.sp.gov.br/).[8] EMTU - EMPRESA METROPOLITANA DE TRANSPORTES URBA-NOS – (http://www.emtu.sp.gov.br/).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ENGENHARIA I GERENCIAMENTO

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ROBERTO RICARDINO*SÉRGIO ALFREDO ROSA DA SILVA**CLÁUDIO TAVARES DE ALENCAR***

DIV

ULG

AÇÃO

presentação das causas mais frequentes de reivin-dicações em contratos ad-ministrativos, de um ponto de vista da parte responsá-

vel pela implantação de empreendimentos de infraestrutura e obras e serviços de grande complexidade técnica, como uma referência ao planejamento do processo de gerencia-mento de reivindicações.

OBJETIVOEste artigo tem por objetivo apresentar as

causas mais frequentes de reivindicações em contratos administrativos para execução de empreendimentos de infraestrutura e obras e serviços de grande complexidade técnica, tais como aeroportos, portos, usinas hidrelétri-cas, rodovias, obras de arte e de saneamento, doravante denominados neste trabalho sim-plesmente como “empreendimentos de cons-trução pesada”. O conhecimento de tais cau-sas é relevante à formulação da estratégia e planejamento do processo de gerenciamento de reivindicações, concebido na fronteira dos atos de identificação, avaliação e formulação do plano de respostas aos riscos de execução do empreendimento.

São relatados alguns aspectos das rei-vindicações contratuais e do seu processo de gerenciamento, seguindo-se uma breve descrição da pesquisa de campo realizada e a apresentação dos principais resultados ob-tidos, relativos ao assunto aqui tratado.

Este artigo foi elaborado como parte integrante das atividades acadêmicas do programa de doutorado da Escola Politéc-nica da Universidade de São Paulo, na área de concentração referente à engenharia de construção civil e urbana.

REIVINDICAÇÕES CONTRATUAISNa indústria da construção, uma rei-

vindicação é tida como a demanda por algo devido, ou que se acredita ser devido, em geral resultante de uma ação, orientação ou ordem de mudança que contraria os termos e condições de um contrato acordado, e que

Figura 1 - Fluxograma do processo de alteração do contrato[Fonte: adaptado de Ricardino (2007, p. 47)]

Causas frequentes de reivindicações contratuais

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cidos pela sigla ADR (Alternative Dispute Re-solution). Os processos de ADR mais conhe-cidos no Brasil são a mediação, conciliação e arbitragem (Tisaka, 2011).

O procedimento de reequilíbrio da equação econômico-financeira do contra-to encerra-se com o Termo de Aditamento que consolida as alterações decorrentes da readequação de preço, ou ressarcimento de ônus incorridos, e/ou a fixação de novo cro-nograma físico-financeiro contratual, como sugere a figura 1.

Qualquer que seja o processo, a negocia-ção é o único em que as partes atuam sem o auxílio de uma terceira parte neutra (Ri-cardino, 2007, p. 41). As diretrizes de ação contidas no Relatório de Recomendação, re-sultante dos procedimentos de mediação ou de conciliação, representam uma nova opor-tunidade para que as partes voltem a nego-ciar e superem suas divergências por meio do entendimento direto. É importante des-tacar que a documentação de acontecimen-tos, feita por meio de registros, constitui a principal fonte de evidências na resolução de disputas e mitigação de virtuais reivindica-ções (Wickwire et al., 2003).

GERENCIAMENTO DE REIVINDICAÇÕESO gerenciamento de reivindicações

constitui um processo especialmente impor-tante nos empreendimentos de construção pesada em cuja execução as reivindicações contratuais desempenham um papel signifi-cativo. O processo tem por objetivo evitar a ocorrência de reivindicações e, sempre que isso não for possível, resolvê-las o quanto antes, ao menor custo e menor perturbação ao andamento do contrato (PMI, 2008).

Esse processo aplica-se ao longo do ciclo de construção e divide-se em quatro partes: (1) identificação de situações com potencial para gerar reivindicações, derivadas do con-trato ou da sua execução; (2) quantificação da situação julgada procedente tendo em vis-ta compensação adicional, extensão de pra-zo – ou ambas; (3) prevenção da ocorrência de reivindicações mediante reconhecimento antecipado de problemas latentes e sua fran-ca discussão entre as partes, com respeito a possíveis alternativas e alterações ao plano original; e (4) resolução, mediante negocia-ção entre as partes, da reivindicação que não pôde ser evitada, antes do acionamento de processos alternativos de solução de disputas previstos no contrato (PMI, 2008).

A correta identificação de situações capazes de acarretar reivindicações impõe conhecimento suficiente do escopo do em-preendimento e dos requisitos contratuais. Assim, o procedimento inicia-se com a inter-

difere é o fundamento jurídico-conceitual invocado. Nos contratos administrativos, a teoria da imprevisão. Nos contratos de direi-to privado, a teoria da base do negócio” (op. cit., grifos do autor).

A ocorrência de reivindicações con-tratuais é comum na indústria da constru-ção, cujas atividades são desenvolvidas em ambientes altamente sensíveis a mudanças (PMI, 2008). Muitas reivindicações são le-gitimadas por negociação direta entre as partes, não se desdobrando em disputas. Quando as partes falham na negociação di-reta, surge o litígio que precisa ser resolvi-do (Ahuja et al., 1994). Visando evitar o in-gresso em juízo recorre-se a procedimentos alternativos de solução de disputas, conhe-

Tabela 1Alguns exemplos de relações de causa e efeito

TIPO DE REIVINDICAÇÃO SINAIS DE ALERTA À PARTE CONTRATADA

Caso fortuito ou de força maior

Desastres naturais, incluindo, sem a isso se limitar, inundações,

terremotos, furacões e outras condições incomuns e severas; guerras e

outras hostilidades; greves e conflitos trabalhistas.

Aceleração do trabalhoPedido de conclusão do contrato, no todo ou em parte, antes da data acordada;

insistência na conclusão na data acordada, a despeito de atrasos justificáveis.

Alteração de grande

importância

Pedido de execução de serviços que excedem muito o objeto do contrato, ou cuja especificação é completamente diferente da especificação contratual.

Alteração construtivaAlteração de serviço contratual sem emissão de Ordem de Mudança; exigência de execução diferente da forma prevista no contrato, ou recusa de aceitar a execução conforme o contrato.

Especificações defeituosas

Erros ou omissões nos desenhos ou especificações contratuais;

impossibilidade ou extrema dificuldade em executar requisitos do

contrato; dimensões incorretas.

Atraso em aprovaçõesDemora desarrazoada em aprovar desenhos, cronogramas, amostras ou

outros itens submetidos em conformidade com as estipulações contratuais.

Atraso na emissão de

Ordem de Mudança

Demora desarrazoada em emitir Ordem de Mudança, causando desperdício

de tempo ou de recursos (materiais, mão de obra e equipamentos).

Atraso na emissão de

Ordem de Início

Falha na emissão de Ordem de Início da execução do contrato ou de serviços

na data prevista no contrato; demora desarrazoada na emissão de Ordem de

Início, quando o contrato não prevê data específica para esse fim.

Condições locais inesperadasCircunstâncias físicas do local de execução divergentes daquelas

descritas nos documentos contratuais, ou extraordinárias ou incomuns.

Interferência na execução

Ações, indecisões ou instruções da parte contratante, que interferem,

interrompem, atrasam ou perturbam o andamento dos trabalhos como

planejado pela parte contratada.

Supervisão inadequada

Falha da parte contratante em supervisionar o andamento dos trabalhos

no campo; supervisores da parte contratante são inacessíveis para

tratar problemas rotineiros durante a execução.

[Fonte: extraído e adaptado de Brams e Lerner (1996, p. 464-468)]

não pode ser economicamente resolvida en-tre as partes (PMI, 2008).

O objetivo da reivindicação é restaurar a equação de equilíbrio econômico-financeiro do contrato, pactuada pelas partes na sua assinatura. “Para que surja o direito ao ree-quilíbrio do contrato (e correspondente de-ver da outra parte de reequilibrar o contrato) é necessário que o fato que provocou o de-sequilíbrio tenha sido imprevisível (ou pre-visível mas de consequências incalculáveis) e se contenha na álea extraordinária do negó-cio”, afirma Amaral (2010, p. 190, grifos do autor). Ainda segundo o mesmo autor, esse conhecimento essencialmente orientado aos contratos administrativos também é aplicá-vel a contratos de direito privado. “O que

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tratuais, como acredita a parte reclamante (PMI, 2008).

Vale lembrar que publicações acadêmi-

cas a respeito da aplicação sistêmica do pro-cesso de gerenciamento de reivindicações são escassas, particularmente as que tratam de pesquisas avançadas, nos cenários inter-nacional e nacional, especialmente neste úl-timo (Ricardino, 2007).

CAUSAS E TIPOS MAISFREQUENTES DE REIVINDICAÇÕESAmaral (2010) acentua que um contrato

administrativo pode ser desequilibrado pela ocorrência de fatores internos ou externos ao contrato, e escreve o que segue.

Os fatores internos são aqueles atribu-íveis à contratante, tais como alterações de projeto e atraso na liberação de áreas previs-tas no contrato. Os fatores externos abran-gem: a) fato do príncipe, que é toda atua-ção estatal que repercute indiretamente ao contrato, tais como aumento e redução de tributos, alteração de política cambial ou de política ambiental e intervenção nos preços (planos econômicos); b) os fatos incluídos na teoria da imprevisão, tais como surto infla-cionário, sujeições imprevistas, força maior (greve abusiva, incêndio provocado por ter-ceiros) e caso fortuito (chuvas inesperadas, índice pluviométrico anormal) – (op. cit., p. 190, grifos do autor).

Segundo Brams e Lerner (1996), suple-mentado por Kaye (2003), há numerosos indí-cios de causas prováveis de reivindicações, tais como: serviços com desenhos e/ou especifica-ções técnicas insuficientemente detalhados; serviços adicionais não previstos nos desenhos e especificações contratuais; serviços fora do escopo contratual; modificação no cronogra-ma físico de execução; ação que perturbe ou interrompa a execução dos serviços; qualquer forma de aceleração do cronograma físico; compactação de serviço do qual a parte con-tratada, por força de circunstâncias além do seu controle, executa grande soma de traba-lhos em prazo menor que o previsto.

Os mesmos autores propõem uma lista de diversos tipos de reivindicações, associando a elas os respectivos fatores (“sinais de alerta”) cuja ocorrência tem potencial para gerá-las. A lista serve como alerta antecipado, deven-do ser consultada diariamente no campo tão logo dificuldades na execução do contrato se verifiquem ou se tornem evidentes. Algumas dessas relações de causa e efeito são exempli-ficadas no quadro da tabela 1.

ASPECTOS DA PESQUISA REALIZADA E DOS RESULTADOS OBTIDOS

Tendo em vista o objetivo primário nes-te estágio da pesquisa, de apresentar um conjunto mínimo de referências que orien-te o planejamento do processo de geren-

pretação do contrato e seus anexos, seguida da descrição documentada da situação que ultrapassou os limites das obrigações con-

Tabela 2Causas consideradas de extrema frequência em reivindicações

CAUSAS POSIÇÃOFREQUÊNCIA DE

RESPOSTAS (EM % )

FREQUÊNCIA

ACUMULADA (EM %)

Mudança do escopo

pela Contratante1ª 11,22 11,22

Atraso em desapropriações 2ª 10,83 22,05

Atraso na liberação

de áreas de trabalho3ª 10,64 32,69

Atraso em aprovações

da Contratante4ª 9,86 42,55

Geologia 5ª 8,32 50,87

Atraso de pagamento

da Contratante6ª 7,54 58,41

Aceleração do prazo 7ª 5,61 64,02

Atraso na emissão

de Ordem de Serviço8ª 5,61 69,63

Condições locais

diferentes das previstas9ª 5,22 74,85

Especificação técnica incorreta

ou insuficiente10ª 5,22 80,07

Condições climáticas adversas 11ª 4,84 84,91

Gestão omissa ou desordenada da Contratante

12ª 3,68 88,59

Interferências subterrâneas imprevistas

13ª 2,91 91,50

Envolvimento de novas garantias e deveres

14ª 1,55 93,05

Alteração da política cambial 15ª 1,35 94,40

Mudança de legislação 16ª 1,35 95,75

Greve 17ª 1,35 91,10

Suspensão de trabalho pela Contratante

18ª 0,97 98,07

Surto inflacionário 19ª 0,77 98,84

Guerra, insurreiçãoe outras hostilidades

20ª 0,58 99,42

Inundação 21ª 0,39 99,81

Abalo sísmico 22ª 0,19 100,00

[Nota: Há uma semelhança de motivo e consequência entre “atraso em desapropriações” (2ª posição de frequência de respostas nesta tabela) e “atraso em liberações de áreas de trabalho” (3ª posição)]

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WWW.BRASILENGENHARIA.COM ENGENHARIA 615 / 2013 93

contrato, ensejadores de reivindicações.A investigação foi realizada junto a em-

presa privada de engenharia e construção, integrante de importante organização de origem brasileira, de negócios diversificados e atuação de abrangência mundial. Assim, a pesquisa reflete o ponto de vista da parte contratada. A técnica de investigação esco-lhida para realizar o levantamento de campo foi a da utilização de questionário, estrutura-do em seis seções de assuntos, contendo 30 questões no total. A maioria das questões é de formato fechado, e as demais, de formato aberto, não possuem categorias pré-fixadas de respostas, dando ao entrevistado ampla liberdade para respondê-las. Partindo dos rótulos das questões, os respondentes foram solicitados a colocar suas opiniões na catego-ria apropriada da escala subjetiva contínua de cinco categorias de frequência: “rara”, “pou-ca”, “frequente”, “muita” e “extrema”.

O questionário da pesquisa foi enca-minhado a uma população-alvo de 1.319 potenciais respondentes. Destes, 742 inicia-ram o questionário e 411 concluíram-no em todas as suas seções, sendo esta a amostra selecionada para tabulação das respostas, em razão da interdependência das questões formuladas nas diversas seções do questio-nário. 80,7% dos respondentes são gradua-dos em engenharia. A amostra selecionada assegura 94,7% de confiabilidade nos dados obtidos, com 4% de margem de erro, face ao universo amostral considerado.

Do referencial teórico utilizado como su-porte das questões da entrevista, destacam-se os trabalhos de Brams e Lerner (1996); KAYE (2003); Manuele (1996); Meagher (1996); Ricardino (2007); e Tisaka (2011). As tabelas 2 e 3 exibem os resultados apurados em questão pertinente a este artigo, relativa às causas mais frequentes de reivindicações. O questionário ofereceu aos respondentes um conjunto total de 22 opções de resposta, sendo 12 delas relativas a causas internas e as demais a causas externas ao contrato.

A tabela 2 apresenta as respostas válidas às causas consideradas de “extrema frequên-cia” pelos respondentes, sendo a mudança do escopo pela contratante a primeira dessas cau-sas, e a tabela 3, as respostas válidas à soma das causas assinaladas na categoria “muita frequência” e na categoria “extrema frequên-cia”; neste caso, atraso na liberação de áreas de trabalho foi o primeiro motivo apontado. Verifica-se pouca inversão de posição entre as causas indicadas nas tabelas 2 e 3.

A representatividade do conjunto se-lecionado das dez primeiras causas é de 80,07% na tabela 2, e de 75,05% na tabela 3. Destaca-se ainda que nove das dez pri-

Tabela 3Causas consideradas de muita e de extrema frequências em reivindicações

CAUSAS POSIÇÃOFREQUÊNCIA DE

RESPOSTAS (EM % )

FREQUÊNCIA

ACUMULADA (EM %)

Atraso na liberação de áreas

de trabalho1ª 10,75 10,75

Atraso em aprovações da

Contratante2ª 9,93 20,68

Atraso em desapropriações 3ª 9,39 30,07

Mudança do escopo pela

Contratante4ª 8,30 38,37

Aceleração do prazo 5ª 6,82 45,19

Geologia 6ª 6,66 51,85

Atraso de pagamento da

Contratante7ª 6,39 58,24

Atraso na emissão de Ordem

de Serviço8ª 6,11 64,35

Especificação técnica incorreta

ou insuficiente9ª 5,51 69,86

Condições locais diferentes das

previstas10ª 5,19 75,05

Condições climáticas adversas 11ª 4,69 79,74

Gestão omissa ou desordenada da Contratante

12ª 4,42 84,16

Interferências subterrâneas imprevistas

13ª 3,23 87,39

Alteração da política cambial 14ª 2,78 90,17

Envolvimento de novas garantias e deveres

15ª 2,18 92,35

Mudança de legislação 16ª 1,97 94,32

Greve 17ª 1,58 95,90

Suspensão de trabalho pela Contratante

18ª 1,47 97,37

Surto inflacionário 19ª 1,09 98,46

Inundação 20ª 0,76 99,22

Guerra, insurreição e outras hostilidades

21ª 0,49 99,71

Abalo sísmico 22ª 0,29 100,00

[Nota: Há uma semelhança de motivo e consequência entre “atraso em liberação de áreas de trabalho” (1ª posição de frequência de respostas nesta tabela) e “atraso em desapropriações” (3ª posição)]

ciamento de reivindicações, realizou-se um levantamento de campo com a finalidade

de investigar as causas mais frequentes de ocorrência de fatos internos ou externos ao

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* Roberto Ricardino, doutorando, Mestre em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Pesquisador do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da Universidade de São PauloE-mail: [email protected]

** Sérgio Alfredo Rosa da Silva, Professor Doutor do Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Pesquisador do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da Universidade de São PauloE-mail: [email protected]

*** Cláudio Tavares de Alencar, Professor Doutor do Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Pesquisador do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da Universidade de São PauloE-mail: [email protected]

[1] AHUJA, H. N.; DOZZI, S. P.; ABOU-RIZK, S. M. - Project Management: te-chniques in planning and controlling construction projects. 2nd ed. New York: Wiley, 1994.[2] AMARAL, A. C. C. - Licitação e Con-trato Administrativo: estudos, pareceres e comentários. 3. ed. Belo Horizonte: Forum, 2010.[3] BRAMS, R. S.; LERNER, C. - Construc-tion claims deskbook management: docu-mentation, and presentation of claims. New York: Aspen, 1996.[4] FOGEL, I. M. - Estudos em geren-ciamento de aquisições: gerenciando para evitar reclamações. In: DINSMORE, P. C.; CABANIS-BREWIN, J. AMA - Ma-nual de gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro: Brasport, 2009. cap. 15A, p. 212-216.[5] LEVIN, P. - Claims and changes: han-dbook for construction contract manage-ment. 4th ed. Maryland: WPL Associates, 1980.[6] KAYE, R. E. (Org.) - 2003-2 Cumulative Supplement. In: BRAMS, R. S.; LERNER, C. (Ed.) - Construction claims deskbook: ma-nagement, documentation, and presenta-tion of claims. New York: Aspen, 2003.[7] MANUELE, V. O. - Acts of God. In: BRA-MS, R. S.; LERNER, C. (Ed.) - Construction claims deskbook: management, documen-tation, and presentation of claims. New York: Aspen, 1996a. cap. 3, p. 33-46.[8] ______. Acts of Government. In: BRA-MS, R. S.; LERNER, C. (Ed.) - Construction claims deskbook: management, documen-tation, and presentation of claims. New

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

meiras causas frequentes de reivindicações são atribuíveis à parte contratante. Os resul-tados reforçam a afirmação de Fogel, de que em geral as reivindicações “não decorrem de falhas técnicas, resultam da falta de geren-ciamento” (2009, p. 212).

Os dados procedentes do levantamen-to de campo mostram-se em conformidade com o referencial teórico da pesquisa, re-velando divergências pouco significativas quando comparados entre si.

CONCLUSÃOEm contratos para execução de em-

preendimentos de infraestrutura e obras e serviços de grande complexidade técnica, em que é alta a probabilidade de ocorrerem mudanças, a correta prática do gerencia-mento de reivindicações é um dos processos imprescindíveis à preservação da equação de equilíbrio econômico-financeiro do con-trato, bem como ao seu restauro, no caso da ocorrência de fatos extraordinários que perturbem ou mesmo impeçam o seu normal andamento.

O processo de gerenciamento de reivin-dicações – cujo propósito é evitar a ocorrên-cia de pleitos e, quando isso não for possí-vel, buscar resolvê-los o quanto antes – terá maior eficácia se for precedido da acurada identificação de situações potencialmente perigosas, capazes de colocar o contrato em risco ao afetar o respectivo patamar de equi-líbrio econômico-financeiro planejado.

Nesse sentido, a identif icação das possíveis categorias ou tipos de reivin-dicações às quais a implantação de um determinado empreendimento estará mais sujeita, por força de sua natureza e de-mais condições de contorno a ela asso-ciadas, permitirá: (i) um monitoramento do desempenho do contrato com foco mais preciso em potenciais ofensores; (ii) maior capacidade de detecção da ocor-rência de desvios potencialmente capazes de colocar em risco o patamar de equi-líbrio econômico-financeiro, a partir da identif icação de ofensores passíveis de serem associados a estas categorias de reivindicações (“alertas antecipados”); e (iii) maior capacidade de reação, pre-ventiva ou corretiva, a estas situações de desvio da condição de equilíbrio econô-mico-financeiro do contrato.

Portanto a capacidade de considerar, desde a fase de planejamento da implan-tação de um empreendimento, os tipos de reivindicações com maior possibilidade de ocorrência, torna-se um fator crítico à ma-nutenção da sua equação de equilíbrio (a condição de equilíbrio econômico-finan-

ceiro estabelecida no início da execução do contrato também é conhecida como patamar da qualidade esperada) na execução e até o encerramento do contrato.

Os processos de gerenciamento da im-plantação do empreendimento serão tão mais eficientes e eficazes se, ao longo do seu ciclo de vida, forem previamente orientados para o tratamento de categorias de desvios capazes de desequilibrar o contrato, permi-tindo respostas mais rápidas e precisas, con-dição crítica à preservação ou restauração do patamar de qualidade esperado para im-plantação do empreendimento.

AgradecimentoOs autores agradecem a Antônio Bacelar

de Rezende Filho e Olindina Perez Domin-guez, por terem tornado possível a realiza-ção da pesquisa.

York: Aspen, 1996b. cap. 4, p. 47-58.[9] ______; MEAGHER, P. A. - Unusually severe weather. In: BRAMS, R. S.; LERNER, C. (Ed.) - Construction claims deskbook: ma-nagement, documentation, and presenta-tion of claims. New York: Aspen, 1996. cap. 6, p. 69-79.[10] MEAGHER, P. A. CARDINAL CHAN-GE. IN: BRAMS, R. S.; LERNER, C. (Ed.) - Construction claims deskbook: manage-ment, documentation, and presentation of claims. New York: Aspen, 1996. cap. 7, p. 81-86.[11] PMI – PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE - Construction extension to the PMBOK Guide third edition. 2nd ed. Pennsylvania: Project Management Insti-tute, 2008.[12] RICARDINO, R. - Administração de contrato em projetos de constru-ção pesada no Brasil: um estudo da interface com o processo de análise do risco. 2007. 172 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Es-cola Politécnica de São Paulo, São Paulo, 2007.[13] RICARDINO, R.; SILVA, S. A. R.; ALEN-CAR, C. T. - Planejamento da Administra-ção Contratual. REVISTA ENGENHARIA, Instituto de Engenharia - Engenho Ed. Tec. Ltda.,São Paulo, ano 64, n. 582, p. 114-120, jul.-ago. 2007.[14] TISAKA, M. - Como evitar prejuízos em obras de construção civil – construction clai-ms. São Paulo: Pini, 2011.[15] WICKWIRE, J. M. et al. - Construction scheduling: preparation, liability, and clai-ms. 2nd ed. New York: Aspen, 2003.

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CONTAINERACOPLADOSREVESTIDOS

GUARITASPROJETOS ESPECIAIS

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Aplicação da tecnologia de hidrofresa em grandes escavações urbanas

GERARDO MAROTE RAMOS*

sistema de hidrofresa está projetado especialmente para a execução de pare-des diafragma em solos de alta resistência, trabalhos

de escavação profunda e aplicação em situ-ações únicas que exigem um método de má-xima confiabilidade e segurança. Em obras urbanas envolvendo grandes escavações, a solução de hidrofresa tem muitas vantagens sobre outros métodos construtivos.

O Grupo Terratest executou mais de 600 000 metros quadrados de paredes-diafragma com hidrofresa em todos os tipos de solos e projetos. Entre as principais apli-cações se destaca a execução de escavações profundas para obras de metrô e ou trens de alta velocidade, túneis, estacionamentos, cut-and-cover de linhas férreas e fundações profundas de estruturas especiais.

DESCRIÇÃO DO SISTEMADE HIDROFRESA

O equipamento de perfuração de hidro-fresa está baseado numa estrutura pesada de aço com duas rodas de corte localizadas num plano vertical na parte inferior. O acio-namento hidráulico das rodas, com rotação em sentidos contrários, combinado com o empuxo vertical ligado ao peso da ferramen-ta, faz o corte do solo que, misturado com a lama de perfuração, é bombeado para a estação de tratamento pela bomba de sucção instalada na hidrofresa. Na estação são sepa-rados os detritos e a lama é reciclada e trans-ferida aos tanques de armazenamento para posterior bombeamento para a perfuração.

A perfuração com hidrofresa, ao contrá-rio do que acontece com todos os sistemas convencionais de perfuração com equipa-mentos de caçamba tipo “clam-shell”, é um

processo contínuo e perfeitamente estrutu-rado. O ciclo de perfuração consiste em cin-co fases interrelacionadas (figura 1).1) Produção (1 e 2), bombeamento (3) e ar-mazenamento (5) da lama de perfuração.2) Bombeamento da lama (6) da usina ao painel de trabalho da hidrofresa.3) Perfuração com hidrofresa (8) e bombea-mento de retorno (7) da mistura de material escavado e lama de perfuração.4) Separação dos detritos da lama de perfu-ração na estação desarenadora (4).5) Tratamento da lama residual com filtro-prensa (9 e 10).

EQUIPAMENTOSPara executar o procedimento de esca-

vação descrito na figura 1 é necessário con-tar com os equipamentos principais relacio-nados a seguir.

Estação de Gerona – Trem da Alta Velocidade (TAV)

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não podem ser removidas com os equipa-mentos normais de tratamento, é necessário que sejam descartadas. Atualmente é muito difícil encontrar aterros nos quais seja pos-sível despejar efluentes e o transporte para estações de tratamento é muito caro. Tais razões levaram à necessidade de fazer o tra-tamento de lamas residuais no canteiro de obra, para obter-se in loco água limpa e um resíduo sólido adequado para ser carregado em caminhão e transportado para um ater-ro convencional. O filtro-prensa resolve o problema de tratamento de lamas residuais. O princípio de funcionamento é a prensa-gem do efluente através de telas de filtração onde ocorre a separação das partículas só-lidas, que ficam retidas no filtro, e a água purificada, que escoa por outro lado. Os filtros-prensa atuais podem tratar até 250 metros cúbicos de lamas residuais por dia de trabalho.

PROCESSO DE EXECUÇÃOA execução de paredes-diafragma com

hidrofresa consta de módulos primários e secundários. Nos painéis primários a hidro-

Equipamento de hidrofresa - com três missões: executar o corte do solo; bombe-ar a mistura detritos-lama até a estação de tratamento; limpar o fundo da escavação e substituir a lama contaminada antes da con-cretagem.Usina de lamas - responsável pelas seguin-tes tarefas: produção e armazenagem da lama de perfuração; bombeamento da lama à frente de trabalho da hidrofresa; separação da mistura detritos-lama gerada pelo hidro-fresa; purificação das lamas residuais.

Os equipamentos de hidrofresa permi-tem a execução de paredes-diafragma de até 2 metros de espessura e 150 metros de profundidade. Além disso, as rodas de cor-te instaladas na parte inferior da hidrofresa são especialmente projetadas para perfurar todos os tipos de solos e rocha, pois, depen-dendo da resistência do solo, as rodas po-dem adotar diversas configurações e estar equipadas com diferentes tipos de dentes. O peso da ferramenta, entre 30 e 50 tonela-das, aliado ao torque elevado fornecido pelas transmissões (até 120 kN/m por roda), per-mite a perfuração de solos com resistências compressivas simples de até 200 MPa.

Além de ser um equipamento de alta po-tência e capacidade, a hidrofresa é o siste-ma de execução de paredes-diafragma com maior precisão durante a perfuração, graças aos sistemas embarcados de controle e cor-reção de desvios. Esse controle é realizado através da ação combinada dos seguintes procedimentos e dispositivos: (1) colocação de um quadro guia fixado à mureta com macacos hidráulicos, que permite posicio-nar com precisão o equipamento e manter a verticalidade nos primeiros metros da es-cavação, que geralmente são os mais proble-máticos; (2) instalação no quadro de um in-clinômetro que fornece informação contínua sobre os desvios que ocorrem em relação ao

eixo vertical em dois planos perpendiculares entre si; (3) controle total sobre a perfuração pelo operador, através do monitor central da cabine que, além de registrar os parâmetros relativos ao avanço da hidrofresa, mostra a posição do equipamento na planta e os des-vios instantâneos e acumulados da frente de escavação (figura 2).

A combinação desses sistemas permite execu-tar escavações profun-das com a confiabilidade necessária, sendo a hi-drofresa uma alternativa interessante na execu-ção de qualquer parede diafragma de mais de 40 metros de profundi-dade. Se na escavação com equipamentos con-vencionais as tolerâncias verticais ficam ao redor de 1,00%, com a tecno-logia de hidrofresa esse valor pode ser reduzido até 0,30%.

O equipamento de hidrofresa é comple-mentado com a usina de lamas, que deve contar com os dispositivos ne-cessários para executar a produção, armazena-mento e bombeamento da lama de perfuração, a separação da mistura detritos-lama e a puri-ficação das lamas resi-duais.

Quando as lamas de perfuração estão exces-sivamente contaminadas com partículas finas que

Figura 1 - Esquema de funcionamento do sistema de hidrofresa

Estação de metrô em Barcelona (Espanha)

Equipamento de hidrofresa Bauer BC 40

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em uma junta rugosa, serrilhada, concreto contra concreto, de ótimo desempenho tan-to estrutural como contra a entrada de água, oferecendo maior estanqueidade. Este tipo de junta apresenta comprimento superior ao de outros tipos e muito baixa permeabilidade, devido à rugosidade do concreto triturado pela hidrofresa. A junta sobreposta foi testada com pressões de água até 45 metros sem que ocorressem vazamentos através da mesma.

APLICAÇÃO DO SISTEMA DEHIDROFRESA EM GRANDES

ESCAVAÇÕES URBANASA potência e confiabilidade da hidrofresa

fazem que esta tecnologia seja um sistema apropriado para a execução de paredes-diafragma associadas a grandes escavações urbanas. As principais razões que compro-vam que o sistema é adequado nesse tipo de

projetos são as seguintes:a) É um sistema contínuo de escavação, que não precisa que a ferramenta de perfuração seja extraída em cada passada, minimizando o risco de comprometer estruturas vizinhas e maximizando a estabilidade da escavação, pois não causa flutuações na lama de per-furação.b) Devido à elevada capacidade de perfura-ção da hidrofresa, mesmo em solos de mas-sas de rochas, não é necessário utilizar broca para progredir em camadas adequadas. Isso minimiza o ruído e as vibrações, e o processo de perfuração tem uma influência mínima sobre o ambiente.c) A hidrofresa oferece a possibilidade de trabalhar em grandes escavações com alta confiabilidade, graças aos sistemas de con-trole de desvios instalados nos equipamen-tos. Para complementar esses sistemas, o

fresa executa duas perfurações laterais no solo, de comprimento igual ao da abertura da fresa (2,80 m) e uma descida central para remover a banda não perfurada. Assim, são escavados módulos entre 6,40 m e 7,00 m de comprimento em planta. Se as circuns-tâncias o exigirem, podem ser feitos painéis primários simples com uma única descida da hidrofresa. Em qualquer caso, a distância entre os painéis primários deve ser sempre inferior à abertura da fresa, de modo que quando sejam executados os módulos se-cundários, os painéis fiquem sobrepostos.

Os painéis secundários são executados com uma única descida da hidrofresa. Nesse tipo de painéis, além de perfurar o solo exis-tente entre os dois módulos primários, a hidro-fresa remove uma pequena parte do concreto dos painéis primários adjacentes (figura 3).

A sobreposição entre os painéis resulta

Figura 2 - Computador Central da Cabine (Possibilidade de correção, com placas hidráulicas localizadas na ferramenta, de qualquer desvio extraordinário que seja detectado; para tanto, em caso de serem ativadas, as placas exercem uma pressão localizada sobre diferentes áreas das paredes da escavação, forçando a hidrofresa a voltar à posição correta)

Figura 3 - Junta em formade serra entre painéis

Tipos de rodas de hidrofresa

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Grupo Terratest incorpora, em projetos especiais que requerem to-lerâncias rigoro-sas de execução, a medição do perfil real de es-cavação com tec-nologia Koden.

SISTEMA KODEN

O sistema Ko-den é constituído por uma estrutu-

ra metálica de proteção e um guincho que suspende uma sonda emissora e receptora de ultrassom. O envio contínuo de sinais da sonda para as paredes da escavação e a recepção do eco desses sinais, ao longo de toda a profundidade do módulo de diafrag-ma, permite calcular a distância real entre a sonda e as paredes. A análise em tempo real das distâncias torna-se um registro contínuo do perfil da escavação, no qual podem ser detectados os desvios que tenham ocorrido em relação à posição teórica.

A precisão da tecnologia Koden é um com-plemento ideal para as informações fornecidas pelos sistemas de controle instalados na hidro-fresa. Além disso, o Grupo Terratest desenvol-veu um software chamado Anako que, a partir dos resultados do Koden, permite calcular a sobreposição entre os painéis ao longo de toda a profundidade da escavação, definindo assim a configuração real da parede-diafragma exe-cutada (figura 4).

* Gerardo Marote Ramos é engenheiro civil, mestre em mecânica de solos e engenharia de fundações, diretor técnico do grupo Terratest, especializado em fundações profundas (estacas de grande diâmetro, paredes diafragma e técnicas de hidrofresa)E-mail: [email protected]

[1] MAROTE (2008) - Aplicação da tecno-logía de hidrofresa em grandes escavações urbanas. Conselho superior de Investigações Científicas (CSIC).[2] BAUER MASCHINEN GMBH (2012) - Bauer trench cutter systems. Dados técnicos do produto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOFTWARE ANAKOa) Devido à formação de uma junta de quali-dade, por sobreposição, entre os painéis, não é necessária a utilização de formas de juntas planas ou circulares que, devido ao seu peso e dimensão, envolvem tarefas de instalação trabalhosas e até perigosas.b) Não é necessária a utilização de cami-nhões no interior do canteiro para extrair o material escavado, porque a área de despejo está limitada à parte inferior dos desarena-dores. Evitando-se assim o tráfego de cami-nhões na frente de trabalho. Já o material escavado tem baixo teor de umidade após passar através do ciclo de remoção de areia, tornando o entulho mais fácil de transportar para a reutilização ou para o aterro.

CONCLUSÕESA execução de paredes diafragma com

hidrofresa é uma técnica muito interessan-te que se adapta perfeitamente à escavação de solos resistentes, grandes profundidades e projetos com tolerâncias rigorosas de exe-cução. A verticalidade da parede diafragma executada, a estanqueidade das juntas entre os painéis, a confiabilidade do processo e a capacidade de produção em situações des-favoráveis, tornam esse sistema uma tec-nologia adequada para lidar com grandes escavações em áreas urbanas. Além disso, a flexibilidade oferecida pelos diferentes tipos de hidrofresa permite executar uma grande variedade de projetos com a garantia de qua-lidade e desempenho exigida.

Tratamento de lodos descartados com filtro prensa

Vibrações mínimas

Sistema Koden

Poço de acesso a estação da linha 9 do metrô de Barcelona; Paredes diafragma de até 75 metros de profundidade com escavação interior de 45 metros

Material de escavação localizadojunto ao “desarenador”

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gora transformado em livro, o trabalho apresentado em 2001 por um brasileiro no concorrido XII Congresso da The Interna-tional Union of Air Pollution and Environ-mental Prevention Associations (IUAPPA), em Seul, na Coreia do Sul, ref lete inte-

ligência e sensibilidade. A obra Preservação do Fundo de Vales e das Águas do Planeta, do engenheiro civil Flávio Magalhães, é o resultado da reunião de vários trabalhos seus referentes ao meio ambiente. Foram elaborados em diferentes épocas, iniciando-se o primeiro em 1993.

Na verdade, o livro tem suas origens ainda na infância e adolescência do autor em Goiás, quando, em companhia do pai, fazendeiro, professor e amante da natureza, teste-munhou a agressão que vinha se processando nas encostas que constituíam o fundo de vale do Córrego das Antas, em Anápolis. “Nessas excursões aprendemos a apreciar e preservar a natureza em seu todo: montes, rochas, f lo-restas, córregos, mares e animais”, conta Magalhães. Mas em poucos anos a paisagem começou a mudar. “Presen-ciávamos o avanço urbano arrasando uma formação de lajes, entremeadas com vegetação típica do cerrado, que era uma criação paisagística da natureza, de rara beleza”, acrescenta.

Isso explica uma grande predileção pela botânica e, em particular, pela silvicultura, apesar de sua formação profissional ser a engenharia civil. “Como projetista e con-sultor, sempre que possível eu introduzia o elemento verde em minhas obras e quando concluía uma residência procu-rava entregá-la já com o jardim pronto.”

Mais tarde, devido à preocupação mundial com rela-ção ao meio ambiente, com o solo, ar e principalmente com a água doce, ele literalmente “mergulha” no tema ao abordar a questão sobre Retenção Hídrica, quando passa a combater os projetos que visam a rápida condução da água doce para o mar, que a seu ver só deve ser adotada em situações excepcionais. “Um caso extremo é o sistema de reversão de parte da vazão do sistema dos rios Pinhei-ros e Tietê, cujas águas são parcialmente lançadas ao mar através da Represa Billings, para a geração de energia elé-trica”, contesta, lembrando que para se obter um aumento pouco superior a 2% de toda a energia produzida no Es-tado de São Paulo é consumida uma vazão de 150 metros cúbicos por segundo. “Consequentemente, a Billings fica poluída e perde-se a possibilidade de aproveitamento de 10 metros cúbicos por segundo de água para abastecimen-to da capital paulista.”

Para Magalhães, priorizou-se a energia em detrimento da preservação hídrica, causando prejuízos ecológicos que se sucedem em cadeias, pelo país e pelo continente, em

todas as regiões a jusan-te banhadas por essas águas. “Não temos o direito de tirar água doce e despejar no oceano seja lá qual for o motivo, porque essa água não tem retorno. Trata-se de um absurdo, já que os desdobra-mentos ecológicos são gravíssimos, como todos sabem.”

Em seu livro, Magalhães apresenta ainda um caso bem--sucedido de reúso da água, que depois de tratada pode ser utilizada para alimentação de reservatórios de incên-dio, descargas sanitárias, um lago ornamental dotado de plantas aquáticas, constituindo-se num jardim ornamental f lutuante. “E o restante, depois de passar por dois reser-vatórios de retardamento de vazão, caso ainda haja, segue por meio de uma tubulação perfurada semienterrada, que irá irrigar o bosque a jusante”.

Magalhães é também o responsável pelo projeto e construção do Cemitério da Paz, no bairro do Morumbi, em São Paulo, de propriedade da Associação Cemitério dos Protestantes, inaugurado em junho de 1965, “o primeiro cemitério jardim do Brasil, quiçá da América do Sul, onde foi possível realizar a minha vocação de construtor e, ao mesmo tempo, de silvicultor, plantando árvores e fazen-do jardins”. Após esse empreendimento, vários cemitérios jardins foram projetados pelo seu escritório, que seguiu desenvolvendo várias ações ambientais e propondo o re-torno ao sepultamento ecológico. “Os cemitérios tradicio-nais devem ser mantidos e conservados como um marco histórico e artístico de nossa civilização. Mas é inegável que essa prática agride frontalmente o meio ambiente e não traz vantagem prática aos seres vivos. Felizmente as construções tumulares acima do solo já foram quase total-mente abolidas com a prática de cemitérios jardins da qual fomos pioneiros.”

Flávio Magalhães, engenheiro civil formado pela Esco-la Politécnica da Universidade de São Paulo em 1950, pro-jetou e executou serviços de urbanização e terraplenagem na capital e cidades do interior do Estado de São Paulo; projetou e construiu edifícios residenciais e industriais, notadamente laboratórios de indústria farmacêutica; co-laborou com a administração do prefeito Faria Lima na Secretaria de Serviços Municipais, como assessor, e nos grupos de trabalho para problemas de cemitérios, além da Comissão de Parques e Jardins (Coparja). Como engenheiro da Ecel S/A construiu o prédio do Centro Tecnológico de Saneamento Básico, denominação anterior da atual Com-panhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb); e a Estação de Tratamento de Esgoto de Pinheiros. Também foi supervisor de obras da Companhia Metropolitana de Saneamento Básico (Sanesp), atual Companhia de Sanea-mento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Engenharia e respeito à natureza,

ENGº FLÁVIO MAGALHÃES

MEMÓRIAS DA ENGENHARIA

uma vitória da inteligência

POR CLÁUDIA GARRIDO REINA

A

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CRÔNICA

esiliência é um termo cada vez mais emprega-do no cotidiano.

Na engenharia, ele é utilizado para definir a capacidade que um material tem de absorver tensões e recuperar-se após a supressão das mesmas.

Materiais sujeitos a tensões também sofrem deformações. Po-dem ser frágeis ou dúcteis, conforme deformem menos ou mais antes da ruptura. Em “condições normais de temperatura e pres-são”, o vidro é frágil e o cobre é dúctil. No entanto, dependendo das condições ambientais, essas características podem ser afetadas.

No caso de materiais dúcteis, ou seja, que apresentam maior elasticidade, a relação entre as tensões e as deformações resulta em gráfico característico, onde alguns pontos têm nome e sig-nificado.

O Limite de Proporcionalidade corresponde ao fim do equi-líbrio entre tensões e deformações da chamada Região Elástica, onde as deformações desaparecem quando as tensões são supri-midas, ou seja, o material se recupera integralmente.

O Limite de Escoamento, logo após o anterior, marca o início de um patamar, que corresponde a uma deformação que evolui sem aumento da tensão, indicando, também, o início da Região Plástica, na qual a recuperação das deformações não é total, quan-do o esforço é suprimido: restará uma residual, sequela definitiva.

Apesar disso, o material poderá suportar tensões ainda maio-res, com deformações também superiores, inclusive as residuais. Só que as “marcas” serão cada vez maiores e visíveis, inspirando progressivos cuidados.

Essa capacidade de suportar tensões maiores, apesar das progressivas deformações residuais, evolui até o Limite de Re-sistência: máxima carga que o material pode suportar.

Ele pode ser ultrapassado e o material deformará cada vez mais, só que sob tensões cada vez menores, até alcançar o Limi-

Rte de Ruptura, inferior ao de Resistência, que representa a falência do material.

As tensões que ge-ram as deformações podem ser estáticas, dinâmicas e/ou cícli-cas. No caso das dinâmicas, se aplicadas num curto espaço, às vezes o material suporta mais do que sob tensões prolongadas. Já no que se refere às cíclicas, o esforço repetitivo leva a colap-sos, mesmo sob tensões menos importantes. É o que se conven-cionou chamar de fadiga do material.

Ossos, peles e membranas também são materiais: tecidos or-gânicos de resistências variáveis, para os quais a teoria acima é perfeitamente aplicável. Serviria também para a mente humana?

Bem... Dependendo da pessoa e do ambiente, a resiliência, os limites e danos, entendidos como traumas, podem ser diferentes.

Alguns, depois de um sofrimento prolongado, tornam-se mais fortes. Outros são tão frágeis, que sucumbem perante qualquer adversidade. Há ainda os que, submetidos a tensões cíclicas, sofrem estresse psicológico ou, no extremo, colapso mental: “espanam”!

É... A mente humana é de uma complexidade que ainda es-tamos muito longe de entender. Talvez por isso algumas pessoas gostem de testar os limites dos outros, impondo-lhes sofrimen-to físico e mental, isoladamente ou em massa, como forma de ocultar suas limitações ou por “simples” exercício de poder.

Não fazer nem se submeter a isso é um grande desafio para o ser humano! E nos cabe buscar esse equilíbrio, para que nos-so “limite de ruptura” jamais seja atingido, o qual é tão mais iminente quando cometemos o supremo erro de desistirmos de nós mesmos.

Para evitar esse colapso, é preciso ser resiliente! Mas tam-bém é preciso que nossa “têmpera” seja forjada com amor, ami-zade e respeito, pois ninguém é de ferro!

Limites humanosADILSON LUIZ GONÇALVES*

é engenheiro, mestre em educação, escritor, professor universitário e compositor. Autor dos livros

digitais: Sobre Almas e Pilhas, Dest’Arte e Claras VisõesE-mail: [email protected]

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magine você comemorando aquela data especial, para a qual guardou um Grand Cru Classé de Bordeaux no tama-nho Magnum. Ao levar a taça ao nariz, já imaginando os ma-

ravilhosos aromas de cassis e tabaco tí-pico do grande vinho que lhe aguarda, é surpreendido com um horripilante cheiro de pano ou papelão mofado. Incrédulo, experimenta o vinho e constata, estupe-fato, que está estragado. Surpreso? Nem tanto, o vinho está “bouchonée” e a cul-pa é da rolha.

A rolha funciona como um termô-metro das qualidades do vinho, poten-cializando seus aromas. Daí o costume de cheirá-la previamente para verificar as condições do vinho que será degus-tado. Alguns pesquisadores afirmam que o hábito de apresentar a rolha durante a abertura da garrafa começou na época da terrível “philloxera vastritis”, o pa-rasita que quase dizimou as plantações mundiais de uvas viníferas, no século 19. Surgiram então muitas fraudes, dada à escassez do produto, e os vinicultores passaram a engarrafar seus vinhos gra-vando na rolha seu nome e a safra. A apresentação da rolha visava basicamen-te comprovar a origem e a qualidade do produto que estava sendo servido.

A rolha de cortiça tem reconhecida importância para o desenvolvimento da indústria vinícola. No entanto, através dela, algumas doenças podem aconte-cer, afetando o vinho diretamente. A mais recorrente delas deixa no produto o chamado “gosto de rolha”, ou, como é normalmente conhecido, vinho “boucho-née”. Acreditava-se até pouco tempo que a causa era um fungo conhecido como “Armilaria melea”.

Pesquisas recentes acreditam na con-taminação da rolha pelo produto 2,4,6 Tricloroanil, ou, como é conhecido inter-nacionalmente, TCA, substância pode-rosa que pode ter seu dano identificado mesmo quando diluído em partes por trilhão. É algo assim como colocar uma colher de sopa numa piscina e transmitir seu mau gosto em toda a água presente.

Pesquisadores suíços foram os que primeiro identificaram esse produto

como a causa principal da alteração. En-quanto outras substâncias químicas po-dem estar envolvidas, o TCA é considera-do o principal agente.

É formado pelas reações químicas dos fenóis, componentes orgânicos presentes na cortiça, na uva e nas plantas. Alguns degustadores podem perceber menos de uma parte por trilhão, enquanto outros necessitam de 15 p.p.t. para identificá-lo. Alinha entre os aromas mais poderosos existentes, junto, por exemplo, com o da urina dos felinos, um dos mais penetran-tes de nossos conhecidos. Quando um gato faz xixi sobre as garrafas de uma adega a mesma está severamente com-prometida.

Estima-se que 10 bilhões de dólares sejam perdidos anualmente com vinhos contaminados por TCA, e alguns produ-tores famosos, por causa dessa contami-nação, foram obrigados a recolher milha-res de garrafas de sua produção (como fez Jean Marie Guffens, enólogo da Ver-get, excepcional produtor da Borgonha, na safra de 1994).

O TCA também pode estar presente na adega de processamento da vinícola. Alguns Chateaux de Bordeaux trocaram suas paredes e telhados porque a madeira de que eram feitos emitiam moléculas que contaminavam o vinho pelo ar. Cansado de sofrer com os aromas alterados em seu vinhos, o conhecido Chateau Canon de Saint Emilion identificou o problema com produtos químicos que haviam sido aplicados em sua adega para preservar o madeirame existente. O TCA também já foi detectado nos tonéis, nos engradados ou nas garrafas de vidro vazias.

O vinho bouchonée tem um aroma normalmente descrito como de trapos mofados ou papelão molhado. Seu gos-to é horrível, com o desaparecimento de qualquer traço de fruta no vinho. Quan-do você encontrar um vinho assim, num restaurante, avise o mais rapidamente possível o garçom ou o somellier.

Em caso de dúvida – alguns vinhos podem estar apenas ligeiramente altera-dos – manifeste-se, sem constrangimen-tos. O profissional que o atende tem a obrigação de conhecer o produto e provi-denciar sua reposição, se for o caso, sem

ENGENHO&ARTE

Icobrar pelo vinho com problema. O di-reito de troca está implícito no custo do vinho quando servido num restaurante.

No caso de um vinho comprado em um supermercado ou numa importado-ra, é conveniente que a garrafa seja de-volvida o mais completa possível, junto com sua rolha original. As importadoras costumam ter especialistas que poderão dizer se realmente o vinho está alterado. Já nos casos dos supermercados, procure conversar diretamente com o gerente. O estabelecimento poderá trocar a merca-doria ou, caso não haja mais garrafa do mesmo exemplar disponível, devolver o dinheiro.

O percentual de ocorrência de vinhos bouchonée é tema bastante controverso. Enquanto o famoso enólogo Paul Pon-talier (do Chateau Margaux) acredita tratar-se de um fenômeno muito raro, alguns vinicultores americanos falam de 8 a 10%, até para justificar a utilização de rolhas sintéticas em seus vinhos. A empresa American Corky Supply, da Ca-lifórnia, produtora dessas rolhas, estima este percentual em 1,7%. Rolhas sintéti-cas estão sendo pesquisadas com muito carinho (e dinheiro), especialmente nos Estados Unidos da América. A empresa Supreme Cork, em Washington, produz uma rolha a partir de um elastômero ter-moplástico que imita a cortiça na maior parte de seus predicados.

Na média um percentual de 4% do total deve estar próximo da perda real dos vinhos bouchonée. Parece pouco? Significa que em duas dúzias de garrafa, uma estará estatisticamente estragada. Dependendo do valor unitário do vinho, o prejuízo poderá ser muito grande.

A melhor amiga

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vinhos encontradas bouchonées. Propôs também uma forma de reduzir substan-cialmente o nível de TCA nas rolhas, atra-vés do cozimento das pranchas de cor-tiça, logo após sua retirada das árvores.

Como sabemos, a extração de todo o revestimento do sobreiro é uma ope-ração delicada, que debilita a planta. É realizada apenas de nove em nove anos. Seu cultivo é difícil, pois esta árvore ne-cessita de 45 anos para iniciar a produção comercial da cortiça.

Finalizando, temos hoje disponíveis no mercado três tipos de rolhas:

1) A sintética, que começa a apare-cer em alguns vinhos do Novo Mundo, como Chile, Argentina e Estados Unidos da América, que se comporta quase igual a de cortiça, necessitando inclusive de um saca rolhas para sua extração. Não se sabe ainda se o vinho em que foi utiliza-da envelhecerá com qualidade. Pesados investimentos estão sendo feitos para melhorar sua qualidade.

2) A “screw-pull”, aquela rolha metáli-ca serrilhada (muito utilizada nos azeites de vidro, por exemplo), que se comporta bem apenas para vinhos jovens e que não necessitam de guarda prolongada.

3) A de cortiça, tradicional e apro-vada para envelhecimento, mais cara e sujeita a estar bouchonée, também com estudos e investimentos em andamento para resolver este problema.

Cabe a você, gentil leitor, decidir o futuro destes tipos de rolha. Da sua acei-tação e da sua escolha pessoal nascerá a preferência por um determinado tipo.

Seu caráter é inovador, aceita as mo-dificações tecnológicas, ou você se en-quadra dentro dos tradicionalistas, com perfil mais clássico?

Na verdade, a rolha é a melhor amiga do vinho. No fundo, o que temos por obje-tivo é a qualidade deste líquido maravilho-so que embala nossos corações e enriquece nossa vida cotidianamente. Saúde!

IVAN CARLOS REGINAé engenheiro do setor de transporte público,

associado do Instituto de Engenhariae autor dos livros Vinho, o Melhor Amigo

do Homem e Harmonizando Vinho&ComidaE-mail: [email protected]

vogam o uso da cortiça dizem exatamen-te o contrário, que é necessário a entrada de minúscula parte de ar para que o vi-nho complete seu envelhecimento dentro da garrafa.

A boa rolha é flexível, veda o ar sem ser completamente estanque e permite ao vinho maturar em seu tempo correto, evoluindo dentro da garrafa. A rolha ideal deve ter forma perfeitamente cilíndrica, com cortiça de boa qualidade (sem de-masiados poros ou canais lenticulares) e comprimento adequado à sua finalidade.

A rolha demasiado curta facilita a en-trada do ar, impedindo o lento envelheci-mento necessário a alguns vinhos. Rolhas feitas com conglomerado de cortiça, de tamanho reduzido, mostram que nem os produtores levaram seus vinhos a sério.

Os vinhos de guarda, portanto, ne-cessitam de rolhas com comprimento igual ou superior a 40 milímetros. Para os vinhos de consumo rápido, que devem ser bebidos jovens, admite-se rolhas com comprimento inferior. Pode-se verificar a qualidade da cortiça pressionando-se a rolha entre o indicador e o polegar. Esta deve ser flexível, ceder à pressão mas re-tornar rapidamente ao seu volume nor-mal. A cortiça expande-se quando mo-lhada, daí a necessidade de se manter os vinhos de guarda na posição horizontal na adega. A rolha, aumentada em seu vo-lume, dificulta a entrada do ar, fazendo o vinho envelhecer com dignidade.

Ao contrário, na posição vertical, com a garrafa em pé, a rolha contrai-se, permitindo a entrada do ar e provocando a oxidação do vinho, arruinando-o rapi-damente.

A cortiça é o revestimento exterior do lenho do sobreiro, árvore majestosa, utilizada também na engorda dos por-cos (por seus frutos) e aproveitada para o curtimento de peles, pelo seu tanino. Seus dois maiores produtores mundiais são Portugal e Espanha.

A fim de pesquisar e propor novos métodos de combate ao TCA, em Portu-gal foi fundado um Centro Tecnológico da Cortiça, com investimentos públicos e privados. Este empreendimento, de fina-lidade muito interessante, estima em cer-ca de apenas 1% o número de garrafas de

do vinhoA utilização de rolhas sintéticas em

larga escala ainda parece longe da rea-lidade. É evidente que vinhos correntes, de baixo valor agregado, ou de consumo rápido, poderiam utilizá-las. As emba-lagens tetra pak ou sacos aluminizados, introduzidas pela indústria para envase de vinhos ordinários (no sentido de co-muns), e que visavam a substituição das garrafas, não vingaram (ao menos até agora). Muitos argumentam que o vinho, por ser um produto natural, inteiramente orgânico, requer uma rolha que reforce esta ideia, não a contrarie.

Alguns produtores, na dúvida da melhor alternativa, propõem novas ex-periências. A vinícola californiana Jose-ph Phelps, produtor do Phelps Insignia, engarrafou metade de uma safra recen-te com rolhas naturais e a outra metade com rolhas sintéticas para, daqui a al-guns anos, verificar qual terá apresenta-do melhor desempenho.

Recentemente, um grupo europeu anunciou haver praticamente resolvido o problema da contaminação da rolha de cortiça por qualquer agente, por meio de um processo que utiliza microondas para sua completa desinfecção. As rolhas assim tratadas estão em teste em 25 vi-nícolas, entre elas a do produtor alemão Dr. Burklin-Wolf e do famoso produtor de vinhos do Porto Taylor Fladgate. Estes dois produtores podem ser encontrados no mercado brasileiro, caso você queira averiguar a correção da medida.

Os defensores da rolha sintética afir-mam ser esta completamente neutra, propiciando um ambiente vedado que permitirá ao vinho envelhecer mais len-tamente e com mais nobreza. Os que ad-

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DAMASIO, Alex de Assis.MS-Project 2010: do planejamento ao controle com earned value.Rio de Janeiro - RJ, Editora Ciência Moderna Ltda., 2013, 135p.Escolhi o MS-PROJECT para este livro, pois é um software prático e dinâmico que aceita integração com outros programas. O MS-PROJECT é somente uma ferramenta, tem que ser moldada para o objetivo final de cada especialidade.O Earned Value (Valor agregado) é uma técnica de Planejamento e Controle que integra de forma abrangente o físico e financeiro de cada projeto. Junto com outros métodos, como Fichas de apropriação e controle

de Produtividade, será essencial para o bom funcionamento do ciclo PDCA em qualquer projeto.Quando comecei a trabalhar com planejamento, não tinha ideia de como esta área era tão importante para o sucesso de um projeto,

independentemente da ferramenta utilizada, pois um bom planejamento pode ser feito até mesmo,

se necessário, com o bom e velho papel de pão.

MAGALHÃES, Naiara; CAMARGO, José Alberto de.Não é coisa da sua cabeça.Belo Horizonte – MG, Editora Gutenberg, 2012, 319p.Doenças como depressão, ansiedade generalizada, síndrome do pânico, TOC, abuso de álcool e drogas ilícitas, bipolaridade, esquizofrenia e mal de Alzheimer atingem uma em cada três pessoas ao longo da vida. Para fornecer informações sobre esses distúrbios ainda pouco diagnosticados e tratados, afastando a noção equivocada de que as doenças da mente não passam de

fraqueza, frescura, falha de caráter ou “invenção da cabeça das pessoas”, os autores apresentam aqui um guia acessível a todos os interessados no

assunto. A partir do relato de sujeitos que superaram ou estão se recuperando

de um transtorno emocional, a obra ajuda a identificar a linha que separa as

inconstâncias normais do ser humano das desordens psíquicas.

BIBLIOTECA

SOUZA, Thiago Hernandes de.Relatórios profissionais para aplicações Java com as ferramentas iReport e Pentaho Design.Rio de Janeiro - RJ, Editora Ciência Moderna Ltda, 2013, 195p.Obra focada totalmente na prática e assimilação da criação, formatação e apresentação de informações relacionais utilizando: códigos de barras, gráficos e subrelatórios. Além de exemplificar passo a passo, como integrar os bancos de dados: MySQL e PostgreSQL com o iReport e Pentaho Design,

serão apresentados exemplos de integração de aplicações Java desktop e web com os relatórios: “.prpt”(Pentaho) e “.jrxml”(iReport). Ao final, aborda um exemplo com Java compreendendo as quatro operações básicas de um banco de

dados, o conhecido CRUD(Create, Ready, Update e Delete).

SUZUKI, Carlos Yukio; AZEVEDO, Angela Martins; KABBACH JÚNIOR, Felipe Issa.Drenagem subsuperficial de pavimentos: conceitos e dimensionamento.São Paulo - SP, Oficina de Textos, 2013, 240p.O livro resume conceitos básicos e os benef ícios da drenagem subsuperficial, fundamental na pavimentação de ruas e rodovias, explicando a metodologia, os procedimentos e os materiais utilizados. Os autores explicam que os efeitos e os impactos da água em longo prazo, aliados ao tráfego pesado de veículos, prejudicam a vida útil dos pavimentos e a realização da drenagem subsuperficial é um dos fatores mais importantes relacionados ao bom desempenho de um pavimento. Uma série de exemplos práticos aborda os critérios que devem ser utilizados ao realizar um projeto, orientando os estudantes e profissionais ao elaborarem planos para a drenagem subsuperficial de rodovias.

BIELENKI JÚNIOR, Cláudio; BARBASSA, Ademir Paceli.Geoprocessamento e recursos hídricos: aplicações práticas.São Carlos – SP, EdUFSCar, 2012, 257p.Dentre os diferentes objetivos do projeto destaca-se o desenvolvimento de aplicação direcionada aos profissionais de engenharia e de ciências ambientais, bem como às instituições públicas envolvidas na gestão de recursos hídricos. Com a ideia de apoiar o cálculo de parâmetros hidrológicos com o uso do Software SPRING como ferramenta de geoprocessamento foram incluídos conceitos fundamentais destas áreas conforme os seguintes tópicos: Conceitos de utilização de geoprocessamento para aquisição e análise de dados; Manipulação de dados vetoriais no SPRING; Manipulação de dados raster no SPRING; Utilização de dados altimétricos para geração de curvas de nível, mapa dedeclividades, perfis, cálculo de volumes, entre outros.

BARRENTO, João (organização e tradução).BENJAMIN, Walter, 1892-1940.O anjo da história.Belo Horizonte - MG, Autêntica Editora, 2012, 261p.O compilado de dez ensaios traz ao leitor reflexões de Benjamin referentes a diversos temas, como sociedade, política, o conceito de história e sua filosofia, o vigor do materialismo histórico, uma necessária revisão da tradição, o uso do poder como forma de violência, a luta de classes, o fascismo alemão, o chamado progresso, iniciado a partir do industrialismo europeu, entre outros. Alguns de seus ensaios mais influentes estão reunidos neste volume: “Sobre o conceito de história”; “Fragmento teológico-político”; “Experiência e pobreza”; “Sobre a crítica do poder como violência” e “Destino e caráter”, o que o torna uma obra de referência para historiadores, filósofos, cientistas políticos, entre outros.

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I ENGENHARIA

engenharia 615 / 2013 105www.brasilengenharia.comWWW.BRASILENGENHARIA.COM ENGENHARIA 615 / 2013 105

GUIMARÃES, Dayan Adionel; SOUZA, Rausley Adriano Amaral de.Transmissão digital: princípios e aplicações.São Paulo - SP, Editora Érica, 2012, 320p.O conteúdo foi estruturado em quatro partes adequadas ao seu escopo e profundidade. A parte 1 explora os primeiros conceitos de transmissão digital na sua forma mais simples, a transmissão em banda base, a qual trata de geração e recepção de sinais que não necessitam de onda portadora. Na parte

2, sobre representação e análise do espaço de sinais, constrói-se um conjunto de ferramentas que permitem realizar de forma geométrica o usual tratamento de sinais no domínio do tempo. A parte 3 descreve várias técnicas de modulação digital em banda passante, nas quais se tem a presença de uma

onda portadora, enquanto a parte 4 apresenta, além de novos conceitos, uma aplicação do que foi estudado nos capítulos anteriores, em uma das mais difundidas técnicas de comunicação hoje em dia, o espalhamento espectral, servindo como uma

revisão dos pontos principais do livro.

BALDAM, Roquemar de Lima;VIEIRA, Estéfano Aparecido.Fundição: processos e tecnologias correlatas.São Paulo – SP, Editora Érica, 2013, 380p.Essencialmente didático, o livro abrange o processo de fundição, proporcionando um aprendizado gradual. Pode ser usado por profissionais, estudantes de cursos técnicos e de graduação, auxiliando na formação de novos colaboradores. Demonstra a obtenção de uma peça fundida, as partes essenciais de uma fundição e os principais processos, aspectos

meta lúrgicos , es tudo de moldagem e alimentação, adaptação de peças mecânicas, sistemas de massalotes e de canais. Explica macharia e moldagem manual, mecanizada

e em areia, além da elaboração de ligas metálicas, incluindo a automação dos processos.

Aborda desmoldagem e recuperação da areia, acabamento e tratamento de peças fundidas,

controle de qualidade e defeitos. Por fim, abrange ergonomia e aspectos ambientais.

LIMA, João Filgueiras.Arquitetura: uma experiência na área de saúde.São Paulo – SP, Romano Guerra Editora, 2012, 324p.E s t a o b r a a p re s e nt a a e x p e r i ê n c ia construtiva e projetual do arquiteto à frente da Rede Sarah Kubitschek de hospitais . Faz um histórico de toda a experiência arquitetônica, que implica em desenvolvimento de sofisticados sistemas ambientais, produção de componentes pré-fabricados e desenho mobiliário específico para reabilitação de pacientes acidentados. Em 1980 foi inaugurado em Brasília o primeiro hospital da Rede Sarah Kubitschek, especializado na reabilitação de pessoas com problemas físico-motores, onde Lelé desempenhará papel de enorme protagonismo. A experiência acaba levando à criação do Centro de Tecnologia da Rede Sarah, uma fábrica de edificações composta por diversos núcleos de produção: metalurgia (estruturas), argamassa armada, marcenaria, moldagem em plástico e fibra de vidro etc.

BUENO, Ricardo.Borracha na Amazônia: as cicatrizes de um ciclo fugaz e o início da industrialização.Porto Alegre - RS, Quattro Projetos, 2012, 124p.Ainda que à história da extração e da exportação da borracha no Brasil se possa, com relativa adequação, usar a palavra ciclo como definidora no sentido de um processo econômico que nasceu, cresceu, expandiu-se e, de certa forma, encerrou-se, tudo isso em curtíssimo espaço de tempo, a realidade é que os fatos históricos que se correlacionam, para quem busca entender o que efetivamente representou a saga da extração do látex da hevea brasiliensis, são um terreno farto.Ao fim e ao cabo será fácil concluir que não há uma história do ciclo da borracha no Brasil, e sim várias possíveis leituras daquele incrível momento histórico. A que está retratada no livro é apenas uma delas. O autor espera conquistar a atenção do leitor até a última página.

PAIVA, Márcia de.BNDES: um banco de história e do futuro.São Paulo – SP, Museu da Pessoa, 2012, 216p.A obra procura sintetizar a relevante contribuição do BNDES ao desenvolvimento econômico e social do país, em seus vários setores de atuação: infraestrutura, insumos básicos, desenvolvimento regional, meio ambiente, agronegócio, desenvolvimento industrial, comércio e serviços, exportação, infraestrutura social e cultura.Nessas seis décadas, o país enfrentou muitos desafios e conseguiu avançar. O saldo foi positivo. Os marcos históricos do BNDES, aqui relatados, devem ser vistos como fonte de inspiração para os novos desafios e, em especial, para o imprescindível processo de aperfeiçoamento da nossa instituição em um cenário de crescente competição bancária e financeira. Esse cenário benigno para a economia brasileira resulta de juros reais muito mais baixos, com inexorável superação do “curto prazismo” e das formas viciosas de indexação financeira que tornaram o nosso sistema de poupança e crédito tão anômalo, quando comparado aos padrões avançados.

KATINSKY, Julio Roberto (curador).Arquitetura brasileira: o coração da cidade: a invenção dos espaços de convivência. São Paulo – SP, Instituto Tomie Ohtake, 2012, 192p.O Coração da Cidade – a invenção do espaço de convivência é a segunda exposição do programa Arquitetura Brasileira, patrocinado pela Holcim e realizado pelo Instituto Tomie Ohtake que, desde a sua fundação, contempla a arquitetura, ao lado das artesplásticas e do design – único espaço no Brasil especialmente concebido e projetado para realizar mostras nessas três vertentes. Apropriando-se, por um lado, da tese defendida por Gilberto Freyre em “Casa Grande & Senzala” sobre a formação do Brasil e sua cultura contemporânea e, por outro, das contribuições modernas estrangeiras na arquitetura brasileira, principalmente da escola corbusiana, Katinsky reflete sobre o espaço de convivência como vigorosa proposta da arquitetura moderna brasileira para a democratização social.

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Baixada Santista, iniciada em 2012. Dos 16 restan-tes, dez estão tendo início neste ano de 2013, com atrasos, portanto, de res-pectivamente de 22 anos e oito anos da promulgação das referidas leis. Entre essas bacias está a do Alto Tietê que abriga a maior e mais com-plexa região metropolitana brasileira, a Grande São Paulo, com crescente vulnerabilidade do abastecimento público de água potável e, de longo tempo, a desafiante poluição de seus mananciais.

Vale lembrar que o Estado do Ceará cobra o uso de suas águas, por meio de decreto, desde 1996 e a União, apesar de só ter seu diploma legal – a Lei Federal 9.433, sancio-nada em 8 de janeiro de 1997 –, deu inicio em 2003, pela Bacia do Paraíba do Sul, que por sua vez forçou o Estado de São Paulo a também fazer a cobrança, que teve início em janeiro 2004. Fato que também ocorreu na Bacia do Piraci-caba Capivari e Jundiaí, tendo a cobrança federal iniciado em 2006 e a estadual em 2007.

Como referência da dimensão dos valores da cobrança pelo uso da água nos comitês de bacias hídricas de São Paulo, apresenta-se, a seguir, a arrecadação do ano de 2012, publicada pela Agência Nacional de Águas (ANA), de 06/03/2013: Paraíba do Sul, R$ 3.044.899,46; Piracicaba, Capivari e Jundiaí, R$ 17.667.619,24; Sorocaba e Médio Tie-tê, R$ 6.879.646,71; e Baixada Santista, R$ 8.799.179,53 – perfazendo um total de R$ 36.401.345,74.

A cobrança tem por objetivo fomentar a racionalização do uso, a conservação e a recuperação dos recursos hídri-cos, viabilizando a gestão e o planejamento dos mesmos por meio de mecanismos econômicos e financeiros. A ex-periência de mais de seis décadas de cobrança – em países como a Alemanha, França e Estados Unidos – tem com-provado que o instrumento mais poderoso para a gestão racional das águas é o pagamento pelo uso. Infelizmente, na história da civilização, uma das restrições que realmente funciona é imposta pelo preço. Já dizia Horácio (65-8 a.C.): “pecuniae obdiunt omnia” (tudo obedece ao dinheiro).

O grande atraso na implantação da cobrança pelo uso dos recursos hídricos em São Paulo, certamente tem trazido prejuízos de difícil mensuração – porém reais – para sus-tentabilidade ambiental.

Para garantir o uso da água em quantidade e com pa-drões de qualidade satisfatórios para as atuais e futuras gerações de nosso Estado, espera-se que os gestores esta-duais e municipais, com a imprescindível participação da sociedade civil, consigam dar agilidade ao cumprimento satisfatório da legislação, a fim de recuperar a dívida so-cioambiental acumulada.

OPINIÃO

Estado de São Paulo, nos fins dos anos 1980 e início dos anos 1990, foi o pionei-ro e liderou a modernização da gestão dos recursos hídricos no Brasil. Iniciando com o Decreto 27.576 de 11 de novembro de 1987, que criou o Conselho Estadual de Recursos

Hídricos com a incumbência de formular a política do go-verno, estruturação do Sistema Estadual de Gestão e a ela-boração do Plano Estadual de Recursos Hídricos. Com este instrumento de ação, teve início o processo de transfor-mação para a modernização da gestão das águas em nosso país, cujo principal diploma legal em vigor era o Código de Águas de 1934.

A partir desse momento, com a participação de 400 téc-nicos do Estado de São Paulo, em modelo de cooperação interinstitucional e multiprofissional – mediante orientação política e normativa do Conselho Estadual de Recursos Hí-dricos (CRH) e de planejamento e coordenação do Comi-tê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos, o CORHI (art. 5 do Decreto 27.576) –, foram elaborados os artigos pertinentes aos recursos hídricos para a Constituin-te Paulista, o projeto de lei decorrente e o Primeiro Plano Estadual.

Oportuno torna-se ressaltar que todo esse trabalho foi divulgado e disponibilizado para os legisladores brasilei-ros (senadores, deputados federais e estaduais) bem como para os dirigentes e técnicos do setor dos governos federal e estaduais. Essa iniciativa resultou na uniformização da legislação dos recursos hídricos em nível federal e estadu-al, tendo por base a paulista. Nesse período (1987/1991), São Paulo teve pioneiramente aprovados o Primeiro Plano Estadual de Recursos Hídricos, pelo Decreto 32.954, de 7 de fevereiro de 1991, assim como a Política Estadual e o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos, pela Lei 7.663, de 30 de dezembro de 1991.

Tomando-se conhecimento do estágio institucional atual da gestão dos recursos hídricos em nosso Estado, constata-se que há muito perdemos a dianteira para a União e outros estados, principalmente, em um dos princi-pais instrumentos da política: a cobrança pelo uso da água. Tornada obrigatória pelo art. 211 da Carta Magna Paulista de 1989, além de reiterada explicitamente no art. 14 da Lei 7.663 de 30/12/1991, somente 14 anos depois, em 30 de dezembro de 2005, foi promulgada a Lei 12.183 que trata unicamente da cobrança pelo uso dos recursos hídricos de domínio do Estado de São Paulo.

Todavia com todo esse aparato legal, neste ano de 2013, dos 20 comitês de bacias hidrográficas do Estado, a cobrança está sendo feita em apenas quatro: Paraíba do Sul, iniciada em 2004; Piracicaba Capivari e Jundiaí, ini-ciada em 2007; Sorocaba Médio Tietê, iniciada em 2010; e

A importância da cobrançapelo uso da água

PAULO BEZERRIL JÚNIORé engenheiro civil e sanitarista, consultor,

membro do Instituto de EngenhariaE-mail: [email protected]

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