Revista Engenharia 605

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2011

Nº 605

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cian magenta amarelo preto

Page 2: Revista Engenharia 605

TODO MUNDO JÁ SABE QUAL É O NOME POR TRÁS DAS MAIS IMPORTANTES OBRAS BRASILEIRAS. Há 60 anos, desde quando era Fiatallis, a New Holland participa das principais obras do Brasil. Todo esse know-how a transformou numa das marcas que mais entendem a realidade do país. Mas um passado tão bem-sucedido não impede a New Holland de ser uma empresa moderna, com foco em inovação, pioneira em novas tecnologias e equipamentos de ponta. Além disso, a New Holland tem uma rede de concessionários presente em todos os estados do país. Por isso, ao construir, pense em quem tem a força e a tradição de uma marca global, com os olhos no futuro. Pense em New Holland.

www.newholland.com.br

NEW HOLLAND. HÁ 60 ANOS CONSTRUINDO NOVOS TEMPOS.

000420_NHCE_AD_420X280_PLANEJAMENTO_COMUNICACAO.indd 1 7/6/11 7:20 PM

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TODO MUNDO JÁ SABE QUAL É O NOME POR TRÁS DAS MAIS IMPORTANTES OBRAS BRASILEIRAS. Há 60 anos, desde quando era Fiatallis, a New Holland participa das principais obras do Brasil. Todo esse know-how a transformou numa das marcas que mais entendem a realidade do país. Mas um passado tão bem-sucedido não impede a New Holland de ser uma empresa moderna, com foco em inovação, pioneira em novas tecnologias e equipamentos de ponta. Além disso, a New Holland tem uma rede de concessionários presente em todos os estados do país. Por isso, ao construir, pense em quem tem a força e a tradição de uma marca global, com os olhos no futuro. Pense em New Holland.

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NEW HOLLAND. HÁ 60 ANOS CONSTRUINDO NOVOS TEMPOS.

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CAPAESPECIAL SÃO PAULO, CIDADE DIGITALPRODAM 40 ANOSCriação: André Siqueira / Via Papel NESTA EDIÇÃO

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ENTREVISTA

Bernardo Figueiredo Diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)“TERCEIRA RODADA DE CONCESSÕES DE RODOVIASFEDERAIS SERÁ REALIZADA AINDA EM 2011”Na visão de Bernardo Figueiredo, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ao longo das diferentes etapas de concessões de rodovias federais o modelo de contrato celebrado com as concessionárias sofreu uma série de aper-feiçoamentos. Na Segunda Etapa de Concessões de Rodovias Federais, em 2007, foram realizadas modificações no edital que propiciaram a participação de novos grupos investidores, o que levou a uma maior competitividade e à obtenção de um deságio de 51% em relação à tarifa-teto do leilão. Em 2008 foram introduzidos nos contratos de concessão dispositivos voltados para a garantia do nível de serviços. Como, por exemplo, a vinculação do cronograma das obras ao volume de tráfego, que garante a execução dos investimentos de forma aderente às reais necessidades. Agora a ANTT prepara a terceira etapa de concessões federais. Segundo Figueiredo, a agência pretende conceder, ainda em 2011, as rodovias federais BR-116/MG trecho Divisa BA/MG – Divisa MG/RJ; BR-040/DF/GO/MG trecho Brasília-Juiz de Fora; e BR-101/ES trecho Divisa RJ/ES – Divisa ES/BA

LINHA DE FRENTE DA ENGENHARIA

Jorge Miguel Samek Diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional“OU EMPREENDEMOS DE FORMA SUSTENTÁVEL OUO PLANETA FICARÁ INVIÁVEL PARA A VIDA”Na visão do diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, engº Jorge Miguel Samek, empreender sustentavelmente significa renunciar a práticas que nos conduziram ao perigoso estado em que nos encontramos hoje, haja vista os malefícios causados ao planeta pela emissão dos gases causadores do efeito estufa a partir do uso de combustíveis de origem fóssil. Para ele, rever os fundamentos e conceitos é uma necessidade imperiosa e inadiável. Samek entende que parte significativa da sociedade mundial – contexto onde também o Brasil se inclui – começa a compreender melhor o quadro e se dispõe a assumir o custo de oportunidade em favor da sustentabilidade ambiental. Esse custo de oportunidade implica muitas vezes em mudanças de hábitos e, por via de consequência, na necessidade da adoção de bens substitutivos no cotidiano

ESPECIAL

SÃO PAULO, CIDADE DIGITALSão Paulo continua fazendo por merecer o título de cidade mais digital da América Latina, concedido no final de 2009 por especialistas internacionais de renome que analisaram o nível de digitalização de 150 cidades em 15 países da região. Um exemplo disso são os constantes anúncios, pelo prefeito Gilberto Kassab, de avanços na governança municipal via web. Como no caso do recente lançamento do Sistema de Gerenciamento da Fiscalização (SGF), que vai usar equipamentos eletrônicos online e emissão de multas no local da fis-calização. Ser uma cidade digital significa que o espaço em que os atores sociais vivem apresenta a possibilidade de interação virtual. Ao mesmo tempo em que, diminuindo a lacuna digital, o governo pode também minimizar o buraco social. Ao conceder a liderança latino-americana a São Paulo, os especialistas especificaram que a capital paulista se destaca em aspectos como governo eletrônico, serviços prestados aos cidadãos pela internet e compromisso com a inclusão digital, entre outros. Para se chegar a esse patamar de excelência foi decisiva a atuação da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo (Prodam), que há exatos 40 anos implanta sistemas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) que servem de ferramenta de governo para a prefeitura

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PALAVRA DO PRESIDENTE 7

CARTAS 8

PALAVRA DO LEITOR 10

CURTAS 24

DIVISÕES TÉCNICAS 28

CRÔNICA 103

MEMÓRIA 105

ENGENHO & ARTE 106

BIBLIOTECA 108

OPINIÃO 110 SE

ÇÕ

ES

A MISSÃO DO INSTITUTO DE ENGENHARIA

Promover a engenharia, em benefício do desenvolvimento e da qualidade de vida da sociedade. Realiza essa missão por meio da: promoção do desenvolvi-mento e da valorização da engenharia; promoção da qualidade e credibilidade de seus profissionais; prestação de ser-viços à sociedade, promovendo fóruns e debates sobre problemas de interesse público, analisando e manifestando-se sobre políticas, programas e ações go-vernamentais, elaborando estudos, pa-receres técnicos e propostas para o po-der público e para a iniciativa privada; prestação de serviços aos associados.Suas ações estão dirigidas para: a co-munidade em geral; os órgãos públicos e organizações não governamentais; as empresas do setor industrial, comercial e de serviços; as empresas de enge-nharia, engenheiros e profissionais de nível superior em geral; os institutos de pesquisas e escolas de engenharia; e os estudantes de engenharia.

NESTA EDIÇÃO

Filiada a:

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www.brasilengenharia.com.brISSN 0013-7707

REVISTA ENGENHARIAÓrgão Oficial do Instituto de Engenharia

FundadoresApparício Saraiva de Oliveira Mello (1929-1998)

Ivone Gouveia Pereira de Mello (1933-2007)

Rua Alice de Castro, 47 - Vila MarianaCEP 04015 040 - São Paulo - SP - Brasil

Tel. (55 11) 5575 8155Fax. (55 11) 5575 8804

E-mail: [email protected] anual: R$ 120,00

Número avulso: R$ 25,00

DIRETOR RESPONSÁVELMIGUEL LOTITO NETTO

DIRETOR EDITORIALRICARDO PEREIRA DE MELLO

DIRETORA EXECUTIVAMARIA ADRIANA PEREIRA DE MELLO

EDITADA DESDE 1942

www.brasilengenharia.com.br

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. NENHUMA PARTE DESTA PUBLICAÇÃO (TEXTOS, DADOS OU IMAGENS) PODE SER

REPRODUZIDA, ARMAZENADA OU TRANSMITIDA, EM NENHUM FORMATO OU POR QUALQUER MEIO, SEM O CONSENTIMENTO

PRÉVIO DA ENGENHO EDITORA TÉCNICA OU DA COMISSÃO EDITORIAL DO INSTITUTO DE ENGENHARIA

ASSINATURAS

ENGENHARIA ELÉTRICA / artigo

CÁLCULO DA TENSÃO INDUZIDAEM UM CABO ELETRÔNICO, NO INTERIOR DE UM TUBO METÁLICO OU DE UM CABO BLINDADOSérgio Toledo Sobral

JUNHO /JULHO 2011 - ANO 68 - Nº 605INSTITUTO DE ENGENHARIA. Presidente: Aluizio de Barros Fagundes. Vice-presidente de Administração e Finanças: Arlindo Virgílio Machado Moura. Vice-pre-sidente de Atividades Técnicas: Rui Arruda Camargo. Vice-presidente de Relações Externas: Amândio Mar-tins. Vice-presidente de Assuntos Internos: Miriana Pereira Marques. Vice-presidente da Sede de Campo: Nelson Aidar. COMISSÃO EDITORIAL: Aluizio de Barros Fagundes, Antonio Maria Claret Reis de Andrade, Joaquim Manuel Branco Brazão Farinha, José Eduardo Cavalcanti, Kleber Rezende Castilho, Luís Antônio Seraphim, Miguel Lo-tito Netto, Miracyr Assis Marcato, Nestor Soares Tupinambá, Paulo Eduardo de Queiroz Mattoso Barreto, Péricles Romeu Mallozzi, Permínio Alves Maia de Amorim Neto, Reginaldo Assis de Paiva, Ricardo Kenzo Motomatsu, Ricardo Martins Cocito, Ricardo Pereira de Mello, Roberto Aldo Pesce, Ro-berto Kochen, Rui Arruda Camargo, Ruy de Salles Penteado, Vernon Richard Kohl. ENGENHO EDITORA TÉCNICA. Diretor Editorial: Ricardo Pereira de Mello. Diretora Comercial: Maria Adriana Pereira de Mello. Editor Che-fe: Juan Garrido. Redatora: Cláudia Maria Garrido Reina. Fotógrafo: Ricardo Martins. Editoração: Adriana Piedade/ZAF Ateliê de Publicidade. Assinaturas: Leonardo Moreira. Criação e arte: André Siqueira/Via Papel. Impressão e acabamento: Companhia Lithographica Ypiranga. REDA-ÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E PUBLICIDADE: Engenho Editora Técnica Ltda. Rua Alice de Castro, 47 - Cep 04015 040 - São Paulo - SP - Brasil - Tels. (55 11) 5575 8155 - 5575 1069 - 5573 1240 - Fax. (55 11) 5575 8804. Circulação nacional: A REVISTA ENGENHA-RIA é distribuída aos sócios do Instituto de Engenharia, assi-nantes e engenheiros brasileiros que desenvolvem atividades nas áreas de engenharia, projeto, construção e infraestrutura. A REVISTA ENGENHARIA, o Instituto de Engenharia e a En-genho Editora Técnica não se responsabilizam por conceitos emitidos por seus colaboradores ou a precisão dos artigos publicados. Só os editores estão autorizados a angariar as-sinaturas.

Periodicidade: Bimestral. Número avulso: R$ 25,00

Assinatura anual: R$ 120,00E-mails: [email protected]

[email protected]

ENGENHARIA CONSTRUÇÃO CIVIL / artigo

CONTROLE DA RESISTÊNCIADO CONCRETOPéricles Brasiliense Fusco

ENGENHARIA CONSTRUÇÃO CIVIL / artigo

COMPORTAMENTO DOS SOLOS SILTOSOS QUANDO MELHORADOS COM ADITIVOS QUÍMICOS E ORGÂNICOSAlessandre C. Morales KormannBernardo P.J.C.N PernaCláudia Claumann da SilvaRoberta Bomfim Boszczowski

ENGENHARIA PRODUÇÃO / artigo

“GREEN PAINTSHOP”, PLANTA DE PINTURA ECOLOGICAMENTE CORRETAPavel Svejda

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ENTREVISTA

Bernardo Figueiredo Diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)“TERCEIRA RODADA DE CONCESSÕES DE RODOVIASFEDERAIS SERÁ REALIZADA AINDA EM 2011”Na visão de Bernardo Figueiredo, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ao longo das diferentes etapas de concessões de rodovias federais o modelo de contrato celebrado com as concessionárias sofreu uma série de aper-feiçoamentos. Na Segunda Etapa de Concessões de Rodovias Federais, em 2007, foram realizadas modificações no edital que propiciaram a participação de novos grupos investidores, o que levou a uma maior competitividade e à obtenção de um deságio de 51% em relação à tarifa-teto do leilão. Em 2008 foram introduzidos nos contratos de concessão dispositivos voltados para a garantia do nível de serviços. Como, por exemplo, a vinculação do cronograma das obras ao volume de tráfego, que garante a execução dos investimentos de forma aderente às reais necessidades. Agora a ANTT prepara a terceira etapa de concessões federais. Segundo Figueiredo, a agência pretende conceder, ainda em 2011, as rodovias federais BR-116/MG trecho Divisa BA/MG – Divisa MG/RJ; BR-040/DF/GO/MG trecho Brasília-Juiz de Fora; e BR-101/ES trecho Divisa RJ/ES – Divisa ES/BA

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Jorge Miguel Samek Diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional“OU EMPREENDEMOS DE FORMA SUSTENTÁVEL OUO PLANETA FICARÁ INVIÁVEL PARA A VIDA”Na visão do diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, engº Jorge Miguel Samek, empreender sustentavelmente significa renunciar a práticas que nos conduziram ao perigoso estado em que nos encontramos hoje, haja vista os malefícios causados ao planeta pela emissão dos gases causadores do efeito estufa a partir do uso de combustíveis de origem fóssil. Para ele, rever os fundamentos e conceitos é uma necessidade imperiosa e inadiável. Samek entende que parte significativa da sociedade mundial – contexto onde também o Brasil se inclui – começa a compreender melhor o quadro e se dispõe a assumir o custo de oportunidade em favor da sustentabilidade ambiental. Esse custo de oportunidade implica muitas vezes em mudanças de hábitos e, por via de consequência, na necessidade da adoção de bens substitutivos no cotidiano

ESPECIAL

SÃO PAULO, CIDADE DIGITALSão Paulo continua fazendo por merecer o título de cidade mais digital da América Latina, concedido no final de 2009 por especialistas internacionais de renome que analisaram o nível de digitalização de 150 cidades em 15 países da região. Um exemplo disso são os constantes anúncios, pelo prefeito Gilberto Kassab, de avanços na governança municipal via web. Como no caso do recente lançamento do Sistema de Gerenciamento da Fiscalização (SGF), que vai usar equipamentos eletrônicos online e emissão de multas no local da fis-calização. Ser uma cidade digital significa que o espaço em que os atores sociais vivem apresenta a possibilidade de interação virtual. Ao mesmo tempo em que, diminuindo a lacuna digital, o governo pode também minimizar o buraco social. Ao conceder a liderança latino-americana a São Paulo, os especialistas especificaram que a capital paulista se destaca em aspectos como governo eletrônico, serviços prestados aos cidadãos pela internet e compromisso com a inclusão digital, entre outros. Para se chegar a esse patamar de excelência foi decisiva a atuação da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo (Prodam), que há exatos 40 anos implanta sistemas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) que servem de ferramenta de governo para a prefeitura

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A MISSÃO DO INSTITUTO DE ENGENHARIA

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Instituto de EngenhariaReconhecido de utilidade pública pela lei nº 218, de 27.05.1974Av. Dr. Dante Pazzanese, 120 - CEP 04012 180 - São Paulo - SP - Tel. (+55 11) 3466 9200 - Fax (+55 11) 3466 9252 Internet: www.iengenharia.org.br - E-mail: [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIADE RELAÇÕES EXTERNASVICE-PRESIDENTEAmândio [email protected] DIRETOR REGIONALDE PORTO ALEGRE/RSAnibal [email protected] DIRETOR REGIONALDE BRASÍLIA/DFJose Augusto da [email protected] DIRETOR REGIONAL DE SALVADOR/BACarlos Alberto [email protected] DIRETOR REGIONAL DE FORTALEZA/CEFabio Leopoldo [email protected] VICE-PRESIDÊNCIADE ASSUNTOS INTERNOSVICE-PRESIDENTEMiriana Pereira [email protected] DIRETOR DEASSUNTOS INTERNOSAntonio Jose Nogueira de Andrade [email protected] NÚCLEO JOVEMJason Pereira [email protected] DIRETOR DE ASSUNTOSCOM AS ASSOCIAÇÕESBenedicto Apparecido dos Santos [email protected] DIRETOR DE EVENTOS CULTURAISNestor Soares [email protected] DE EVENTOS SOCIAISLuiz Paulo Zuppani [email protected] DE VISITASTÉCNICAS E DE LAZERSokan Kato [email protected] DIRETOR DE CONVÊNIOS,BENEFÍCIOS E PARCERIASJefferson Deodoro Teixeira da [email protected] VICE-PRESIDÊNCIA DA SEDE DE CAMPOVICE-PRESIDENTENelson [email protected]

CONSELHO DELIBERATIVOPRESIDENTEAluizio de Barros Fagundes

SECRETÁRIOMarcos Moliterno CONSELHEIROSAlfredo Eugenio BirmanAndré Steagall GertsenchteinAngelo Sebastião ZaniniAntonio Carlos Pasquale de Souza AmorimArnaldo Pereira da SilvaCamil EidCarlos Antonio Rossi RosaCarlos Eduardo Mendes GonçalvesCláudio Amaury Dall’AcquaDario Rais LopesEdson José MachadoEttore José BotturaFrancisco Armando N. ChristovamIvan Metran WhatelyJoão Alberto ViolJoão Baptista Rebello Machado João Jorge da CostaJorge Pinheiro JobimKleber Rezende CastilhoLourival Jesus AbrãoLuiz Célio Bottura Luiz Felipe Proost de Souza Marcel MendesMarcelo RozenbergMarcos MoliternoNelson Newton FerrazOdécio Braga de Louredo FilhoPaulo FerreiraRoberto Aldo Pesce Roberto Kochen

CONSELHO CONSULTIVOPRESIDENTEJoão Ernesto FigueiredoVICE-PRESIDENTEAndré Steagall GertsenchteinSECRETÁRIOJoão Antonio Machado Neto

CONSELHEIROSAlberto Pereira RodriguesAlfredo Mário SavelliAluizio de Barros FagundesAmândio MartinsAndré S. GertsenchteinAntonio Galvão A. de AbreuAntonio Hélio Guerra VieiraBraz Juliano Camil EidCarlos Antonio Rossi RosaCarlos Eduardo M. GonçalvesCláudio A. Dall’AcquaCláudio ArisaClorival RibeiroCristiano KokDario Rais LopesDirceu Carlos da SilvaEdemar de Souza Amorim

Edgardo Pereira Mendes Jr.Edson José MachadoEduardo Ferreira LafraiaEnio Gazolla da CostaEttore José BotturaFernando Bertoldi CorreaGabriel Oliva FeitosaHélio Martins de OliveiraHenry MaksoudIsmael Junqueira CostaIvan Metran WhatelyJan Arpad MihalikJoão Antonio Machado NetoJoão Batista de GodoiJoão Ernesto FigueiredoJorge Pinheiro JobimJosé Augusto MartinsJosé Eduardo CavalcantiJosé Geraldo Baião José Olímpio Dias de FariaJosé Pereira MonteiroJosé Roberto BernasconiJúlio César BorgesLourival Jesus AbrãoLuiz Carlos CrestanaMaçahico TisakaMarcelo RozenbergMarco Antonio MastrobuonoMarco Antonio V. MachadoMarcos MoliternoMiracyr Assis MarcatoMiriana Pereira MarquesNelson AidarNelson CovasNelson Newton FerrazNeuza Maria TrauzzolaOzires SilvaPaulo Alcides AndradePaulo FerreiraPaulo Setubal NetoPermínio Alves M. Amorim NetoPlínio Oswaldo AssmannRoberto Aldo PesceRoberto Bartolomeu BerkesRoberto KochenRui Arruda CamargoSonia Regina FreitasTomaz Eduardo N. CarvalhoTunehiro UonoWalter Coronado AntunesWalter de Almeida Braga

CONSELHO FISCALEFETIVOSAntonio José Nogueira de Andrade FilhoClara Cascão NassarWaldyr CorteseSUPLENTESEduardo Fares Borges Kamal MattarNestor Soares Tupinambá

INSTITUTO DE ENGENHARIA - DESDE 1916

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PRESIDÊNCIAPRESIDENTEAluizio de Barros [email protected] DE GABINETEVictor Brecheret [email protected] PRESIDENTE DA COMISSÃODE OBRASCamil [email protected] ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃOFernanda Eri [email protected] Cristina [email protected] DIRETOR DA CÂMARA DEMEDIAÇÃO E ARBITRAGEM Marco Antonio Vellozo [email protected]º DIRETOR SECRETÁRIOPedro Grunauer [email protected] 2º DIRETOR SECRETÁRIORoberto Bartolomeu [email protected] VICE-PRESIDÊNCIA DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇASVICE-PRESIDENTEArlindo Virgilio Machado [email protected] 1º DIRETOR FINANCEIROJulio [email protected] 2º DIRETOR FINANCEIROJason Pereira [email protected] DIRETOR EXECUTIVOJose Walter [email protected] Julieta [email protected] VICE-PRESIDÊNCIA DEATIVIDADES TÉCNICASVICE-PRESIDENTERui Arruda [email protected] DIRETOR RESPONSÁVEL PELA REVISTA ENGENHARIAMiguel Lotito [email protected] DABIBLIOTECAMauro Jose Lourenç[email protected] DE CURSOSRicardo Kenzo [email protected]

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romulgada em junho de 1993, a lei 8.666, disciplinadora das licitações e contratos pú-blicos, já recebeu tantas emendas e comple-mentações que hoje mais parece uma colcha de retalhos.

Não poderia ser diferente. Diversos aspectos concei-tuais equivocados podem ser observados na leitura de seu teor.

Inicialmente, percebe-se que, a cada passo, é propos-to um mandamento de proibição, cerceando desmandos e má conduta na administração da coisa pública. O espírito do legislador partiu do princípio de que os negócios pú-blicos somente ocorrem se houver agregados interesses e direcionamentos particulares inconfessáveis. Os artigos da lei vão às minúcias. O texto apresenta-se como um roteiro da fraude.

Ao longo do tempo, na medida em que surgiam defi-ciências, foram sendo introduzidas modificações no texto da lei, às vezes até através do atalho discricionário de Me-didas Provisórias, de modo a deixar bem explícitos novos cerceamentos a novas modalidades de fraudes, assim ge-rando novos procedimentos aos protagonistas dos negó-cios públicos.

Ajustes de ocasião que ocorrem com frequência, edi-tando alterações no próprio texto da lei 8.666, ou atra-vés de novo instrumento legal, para, pasmem, permitir o não-proibido ou para proibir o não-permitido. E a colcha de retalhos vai crescendo em estranho mosaico, pouco coerente.

A lei 8.666 ainda apresenta o pecado original de pre-tender reunir em um único diploma todo e qualquer tipo de compra ou contrato pelo poder público. Comprar uma resma de papel ou construir uma usina hidrelétrica exige ritual idêntico. Agraciar a população com um show de de-terminada dupla sertaneja famosa ou comprar aviões de combate exigem cuidados especiais; pois adquirir produ-tos para a merenda escolar é praticamente a mesma coisa. Contratar um bom advogado é um tormento, pois a livre escolha não é nada livre.

Dentro da engenharia, confunde-se Consultoria (es-tudos, projetos, perícias, pareceres, atividades essen-cialmente intelectivas e de gabinete) com Construção e Montagens (execução de obras e montagens de equi-pamentos, atividades de serviços industriais efetuadas a partir da consultoria). Confunde-se Fornecimento de Bens (materiais de construção, equipamentos e componentes de utilidade, atividade componente da obra) com Com-

pras no Mercado (suprimento a granel no mercado varejista). Ignora-se a En-genharia de Manutenção, tratando-a como se fosse um conjunto de obrículas convencionais. E disso tudo, constatam-se preços não-uniformes, sobrevindo a desconfiança comumente chamada de modo errôneo como sendo “superfatu-ramento” ou “subfaturamento”.

Tudo isso é licitado de modo similar, seguindo equivocadíssimas tabelas de preços unitários, como se cada empreendimento de engenharia não tivesse sua pe-culiaridade e absoluta individualidade. Como se o canteiro de obras fosse uma “fábrica” idêntica para obras parecidas. Como se empreender obras fosse uma atividade de rotina e fatura-mento constante. O imaginário do incauto não compreende variações de preços.

No setor da Consultoria, então, observam-se aberrações do tipo “fazer leilões do intelecto” ou realizar “pregões eletrôni-cos”. Não podem surtir bons resultados. Nesse segmento, não há dúvida, o “barato sempre sai muito mais caro”.

Vez que outra, curiosos alardeiam ter encontrado a fórmula mágica do sobrepreço, comparando custos de peças em lojas com custos de fornecimento dessas peças por construtores que não são comerciantes das mesmas.

Licitações de concessões de serviços públicos, felizmente já dispõem de lei especial, mas, mesmo assim, remetente à aplicação da lei geral 8.666/93, o que induz a grandes distor-ções nas montagens, análises e julgamentos dos editais que as organizam.

O ambiente das licitações e contratos está tão confuso, que, repentinamente, com a explícita finalidade de “destravar” a concretização de inadiáveis empreendimentos de infraes-trutura, está sendo criado um mecanismo “legal” de exceção à lei 8.666.

Senhores engenheiros, não está passada a hora de criar-mos algumas leis de licitações específicas para cada setor de nossa atividade? Uma para Consultoria, outra para Constru-ções e Montagens, uma terceira para Fornecimento de Bens e Serviços? Na oportunidade, que tal discutirmos a formulação das leis no sentido proativo, sob a presunção da ética e da ho-nestidade, e deixarmos o atual “roteiro das fraudes” para uso da polícia?

Aqui fica meu convite à reflexão da classe.

Aluizio de Barros FagundesPresidente do Instituto de Engenharia

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Instituto de EngenhariaReconhecido de utilidade pública pela lei nº 218, de 27.05.1974Av. Dr. Dante Pazzanese, 120 - CEP 04012 180 - São Paulo - SP - Tel. (+55 11) 3466 9200 - Fax (+55 11) 3466 9252 Internet: www.iengenharia.org.br - E-mail: [email protected]

VICE-PRESIDÊNCIADE RELAÇÕES EXTERNASVICE-PRESIDENTEAmândio [email protected] DIRETOR REGIONALDE PORTO ALEGRE/RSAnibal [email protected] DIRETOR REGIONALDE BRASÍLIA/DFJose Augusto da [email protected] DIRETOR REGIONAL DE SALVADOR/BACarlos Alberto [email protected] DIRETOR REGIONAL DE FORTALEZA/CEFabio Leopoldo [email protected] VICE-PRESIDÊNCIADE ASSUNTOS INTERNOSVICE-PRESIDENTEMiriana Pereira [email protected] DIRETOR DEASSUNTOS INTERNOSAntonio Jose Nogueira de Andrade [email protected] NÚCLEO JOVEMJason Pereira [email protected] DIRETOR DE ASSUNTOSCOM AS ASSOCIAÇÕESBenedicto Apparecido dos Santos [email protected] DIRETOR DE EVENTOS CULTURAISNestor Soares [email protected] DE EVENTOS SOCIAISLuiz Paulo Zuppani [email protected] DE VISITASTÉCNICAS E DE LAZERSokan Kato [email protected] DIRETOR DE CONVÊNIOS,BENEFÍCIOS E PARCERIASJefferson Deodoro Teixeira da [email protected] VICE-PRESIDÊNCIA DA SEDE DE CAMPOVICE-PRESIDENTENelson [email protected]

CONSELHO DELIBERATIVOPRESIDENTEAluizio de Barros Fagundes

SECRETÁRIOMarcos Moliterno CONSELHEIROSAlfredo Eugenio BirmanAndré Steagall GertsenchteinAngelo Sebastião ZaniniAntonio Carlos Pasquale de Souza AmorimArnaldo Pereira da SilvaCamil EidCarlos Antonio Rossi RosaCarlos Eduardo Mendes GonçalvesCláudio Amaury Dall’AcquaDario Rais LopesEdson José MachadoEttore José BotturaFrancisco Armando N. ChristovamIvan Metran WhatelyJoão Alberto ViolJoão Baptista Rebello Machado João Jorge da CostaJorge Pinheiro JobimKleber Rezende CastilhoLourival Jesus AbrãoLuiz Célio Bottura Luiz Felipe Proost de Souza Marcel MendesMarcelo RozenbergMarcos MoliternoNelson Newton FerrazOdécio Braga de Louredo FilhoPaulo FerreiraRoberto Aldo Pesce Roberto Kochen

CONSELHO CONSULTIVOPRESIDENTEJoão Ernesto FigueiredoVICE-PRESIDENTEAndré Steagall GertsenchteinSECRETÁRIOJoão Antonio Machado Neto

CONSELHEIROSAlberto Pereira RodriguesAlfredo Mário SavelliAluizio de Barros FagundesAmândio MartinsAndré S. GertsenchteinAntonio Galvão A. de AbreuAntonio Hélio Guerra VieiraBraz Juliano Camil EidCarlos Antonio Rossi RosaCarlos Eduardo M. GonçalvesCláudio A. Dall’AcquaCláudio ArisaClorival RibeiroCristiano KokDario Rais LopesDirceu Carlos da SilvaEdemar de Souza Amorim

Edgardo Pereira Mendes Jr.Edson José MachadoEduardo Ferreira LafraiaEnio Gazolla da CostaEttore José BotturaFernando Bertoldi CorreaGabriel Oliva FeitosaHélio Martins de OliveiraHenry MaksoudIsmael Junqueira CostaIvan Metran WhatelyJan Arpad MihalikJoão Antonio Machado NetoJoão Batista de GodoiJoão Ernesto FigueiredoJorge Pinheiro JobimJosé Augusto MartinsJosé Eduardo CavalcantiJosé Geraldo Baião José Olímpio Dias de FariaJosé Pereira MonteiroJosé Roberto BernasconiJúlio César BorgesLourival Jesus AbrãoLuiz Carlos CrestanaMaçahico TisakaMarcelo RozenbergMarco Antonio MastrobuonoMarco Antonio V. MachadoMarcos MoliternoMiracyr Assis MarcatoMiriana Pereira MarquesNelson AidarNelson CovasNelson Newton FerrazNeuza Maria TrauzzolaOzires SilvaPaulo Alcides AndradePaulo FerreiraPaulo Setubal NetoPermínio Alves M. Amorim NetoPlínio Oswaldo AssmannRoberto Aldo PesceRoberto Bartolomeu BerkesRoberto KochenRui Arruda CamargoSonia Regina FreitasTomaz Eduardo N. CarvalhoTunehiro UonoWalter Coronado AntunesWalter de Almeida Braga

CONSELHO FISCALEFETIVOSAntonio José Nogueira de Andrade FilhoClara Cascão NassarWaldyr CorteseSUPLENTESEduardo Fares Borges Kamal MattarNestor Soares Tupinambá

INSTITUTO DE ENGENHARIA - DESDE 1916

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PRESIDÊNCIAPRESIDENTEAluizio de Barros [email protected] DE GABINETEVictor Brecheret [email protected] PRESIDENTE DA COMISSÃODE OBRASCamil [email protected] ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃOFernanda Eri [email protected] Cristina [email protected] DIRETOR DA CÂMARA DEMEDIAÇÃO E ARBITRAGEM Marco Antonio Vellozo [email protected]º DIRETOR SECRETÁRIOPedro Grunauer [email protected] 2º DIRETOR SECRETÁRIORoberto Bartolomeu [email protected] VICE-PRESIDÊNCIA DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇASVICE-PRESIDENTEArlindo Virgilio Machado [email protected] 1º DIRETOR FINANCEIROJulio [email protected] 2º DIRETOR FINANCEIROJason Pereira [email protected] DIRETOR EXECUTIVOJose Walter [email protected] Julieta [email protected] VICE-PRESIDÊNCIA DEATIVIDADES TÉCNICASVICE-PRESIDENTERui Arruda [email protected] DIRETOR RESPONSÁVEL PELA REVISTA ENGENHARIAMiguel Lotito [email protected] DABIBLIOTECAMauro Jose Lourenç[email protected] DE CURSOSRicardo Kenzo [email protected]

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romulgada em junho de 1993, a lei 8.666, disciplinadora das licitações e contratos pú-blicos, já recebeu tantas emendas e comple-mentações que hoje mais parece uma colcha de retalhos.

Não poderia ser diferente. Diversos aspectos concei-tuais equivocados podem ser observados na leitura de seu teor.

Inicialmente, percebe-se que, a cada passo, é propos-to um mandamento de proibição, cerceando desmandos e má conduta na administração da coisa pública. O espírito do legislador partiu do princípio de que os negócios pú-blicos somente ocorrem se houver agregados interesses e direcionamentos particulares inconfessáveis. Os artigos da lei vão às minúcias. O texto apresenta-se como um roteiro da fraude.

Ao longo do tempo, na medida em que surgiam defi-ciências, foram sendo introduzidas modificações no texto da lei, às vezes até através do atalho discricionário de Me-didas Provisórias, de modo a deixar bem explícitos novos cerceamentos a novas modalidades de fraudes, assim ge-rando novos procedimentos aos protagonistas dos negó-cios públicos.

Ajustes de ocasião que ocorrem com frequência, edi-tando alterações no próprio texto da lei 8.666, ou atra-vés de novo instrumento legal, para, pasmem, permitir o não-proibido ou para proibir o não-permitido. E a colcha de retalhos vai crescendo em estranho mosaico, pouco coerente.

A lei 8.666 ainda apresenta o pecado original de pre-tender reunir em um único diploma todo e qualquer tipo de compra ou contrato pelo poder público. Comprar uma resma de papel ou construir uma usina hidrelétrica exige ritual idêntico. Agraciar a população com um show de de-terminada dupla sertaneja famosa ou comprar aviões de combate exigem cuidados especiais; pois adquirir produ-tos para a merenda escolar é praticamente a mesma coisa. Contratar um bom advogado é um tormento, pois a livre escolha não é nada livre.

Dentro da engenharia, confunde-se Consultoria (es-tudos, projetos, perícias, pareceres, atividades essen-cialmente intelectivas e de gabinete) com Construção e Montagens (execução de obras e montagens de equi-pamentos, atividades de serviços industriais efetuadas a partir da consultoria). Confunde-se Fornecimento de Bens (materiais de construção, equipamentos e componentes de utilidade, atividade componente da obra) com Com-

pras no Mercado (suprimento a granel no mercado varejista). Ignora-se a En-genharia de Manutenção, tratando-a como se fosse um conjunto de obrículas convencionais. E disso tudo, constatam-se preços não-uniformes, sobrevindo a desconfiança comumente chamada de modo errôneo como sendo “superfatu-ramento” ou “subfaturamento”.

Tudo isso é licitado de modo similar, seguindo equivocadíssimas tabelas de preços unitários, como se cada empreendimento de engenharia não tivesse sua pe-culiaridade e absoluta individualidade. Como se o canteiro de obras fosse uma “fábrica” idêntica para obras parecidas. Como se empreender obras fosse uma atividade de rotina e fatura-mento constante. O imaginário do incauto não compreende variações de preços.

No setor da Consultoria, então, observam-se aberrações do tipo “fazer leilões do intelecto” ou realizar “pregões eletrôni-cos”. Não podem surtir bons resultados. Nesse segmento, não há dúvida, o “barato sempre sai muito mais caro”.

Vez que outra, curiosos alardeiam ter encontrado a fórmula mágica do sobrepreço, comparando custos de peças em lojas com custos de fornecimento dessas peças por construtores que não são comerciantes das mesmas.

Licitações de concessões de serviços públicos, felizmente já dispõem de lei especial, mas, mesmo assim, remetente à aplicação da lei geral 8.666/93, o que induz a grandes distor-ções nas montagens, análises e julgamentos dos editais que as organizam.

O ambiente das licitações e contratos está tão confuso, que, repentinamente, com a explícita finalidade de “destravar” a concretização de inadiáveis empreendimentos de infraes-trutura, está sendo criado um mecanismo “legal” de exceção à lei 8.666.

Senhores engenheiros, não está passada a hora de criar-mos algumas leis de licitações específicas para cada setor de nossa atividade? Uma para Consultoria, outra para Constru-ções e Montagens, uma terceira para Fornecimento de Bens e Serviços? Na oportunidade, que tal discutirmos a formulação das leis no sentido proativo, sob a presunção da ética e da ho-nestidade, e deixarmos o atual “roteiro das fraudes” para uso da polícia?

Aqui fica meu convite à reflexão da classe.

Aluizio de Barros FagundesPresidente do Instituto de Engenharia

emendas e remendos

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05nosso direito vai desde a escolha da compra de

um imóvel; onde nossos filhos devem estudar; se queremos ser fumantes ou não; se queremos tomar determinado remédio; enfim, tudo isso faz parte da liberdade individual.Como cidadãos, temos de nos conscientizar de que o governo não pode ser o tutor de nossas vidas. Nossos poderes, principalmente o Judiciá-rio, são reféns de uma legislação administrativa feita em sua maioria por órgãos estatais. Ques-tões indígenas, raciais e ambientais formam uma verdadeira frente única de cerceamento dos direitos da maioria.Movimentos à esquerda, como o MST e a Pastoral da Terra, ainda insistem na limitação dos direitos de propriedade, mas uma parcela da sociedade desenvolvida e da imprensa tem se manifestado contra essa orientação seguida pelos governos anteriores e exacerbada no final do mandato do presidente Lula. Se formos pesquisar a história, é impossível achar uma nação livre que tenha resistido ao cerceamento do direito à propriedade: ele é um estímulo poderoso ao desenvolvimento da sociedade e não pode, de forma alguma, ser desprezado, assim como os outros direitos que nós, cidadãos brasileiros, temos o dever de defender.”

João Francisco SalomãoVice-presidente da Federação das

Indústrias do Estado do Acre (Fieac)Rio Branco - AC

“É difícil argumentar contra a ideia de que a tecnologia irá mudar mais nos próximos dez anos do que já mudou nos últimos cem. A ve-locidade dos avanços tecnológicos tende a do-brar a cada dez anos, o que significa que até o final deste século a tecnologia estará mil vezes mais avançada que nos dias atuais. A base para essas estimativas é parecida com a dos juros compostos: os avanços já alcançados aceleram novas descobertas, que por sua vez servem de ferramenta para novos avanços, num ciclo vir-tuoso que cresce em progressão geométrica. Para se ter uma ideia, foram necessários 14 anos para sequenciar o vírus do HIV, mas ape-nas 31 dias para se chegar ao genoma da gripe asiática – um esforço semelhante feito apenas alguns anos depois.Não precisamos ir muito longe. Há poucos meses eu congelei células-tronco da minha filha recém-

nascida, procedimento que hoje serve para curar meia centena de doenças (inclusive leucemia), mas que há poucos anos não passava de ficção científica. Igualmente pertenciam ao terreno da fantasia coisas que hoje são reais como nanoro-bôs que entram no organismo para limpar arté-rias, em vez das antigas cirurgias de alto risco. Também já são realidade organismos genetica-mente modificados para coisas tão fúteis como peixinhos fosforescentes ou tão úteis como lim-par os vazamentos de óleo nos oceanos, só para citar alguns exemplos.Nesse contexto, não dá para saber, ao certo, onde o mundo estará daqui a 50 ou 100 anos. Pode-se prever carros elétricos que se auto-dirigirão a destinos programados usando ro-tas controladas por computador para obter a melhor performance, ou aparelhos de telefone integrados com TV, rádio, internet e demais ca-nais de comunicação implantados diretamen-te em nossos órgãos sensoriais. E certamente ainda surgirá muita coisa que não está sequer em nosso imaginário. Se aceitarmos o fato de que nos próximos cem anos a tecnologia irá avançar mil vezes mais do que já avançou em toda a nossa história, é simplesmente impossí-vel prever o futuro. Por outro lado, há coisas que evoluem tão lenta-mente que permitem, sim, imaginar como serão no próximo século. Coisas que fazem parte da nossa constituição humana, das nossas tradições e cujas mudanças ocorrem com velocidades infi-nitamente mais lentas do que as da tecnologia. Refiro-me a questões como preconceito, avareza, egoísmo. A cada minuto morrem, por causa da fome ou de doenças curáveis, cerca de dez crian-ças. No mesmo mundo em que os recursos na-turais de uma nação, como o petróleo ou a soja, respondem por boa parte da sua riqueza, as mes-míssimas pessoas que participam da sua extração e produção pertencem às camadas mais pobres, mais miseráveis, deixando essa riqueza na mão de uns poucos privilegiados.Nossa tecnologia é capaz de ajudar uma mãe a

COMO CONTATAR A REVISTA ENGENHARIA

Comentários sobre o conteúdo editorial da REVISTA ENGENHARIA, sugestões e críticas devem ser encaminhadas para a redação: Rua Alice de Castro, 47 – CEP 04015 040 – São Paulo – SP – Fax (11) 5575 8804 ou 5575 1069 – ou por E-mail: [email protected] cartas à redação devem trazer o nome, endereço e número da cédula de identidade do leitor, mesmo aquelas enviadas pela internet. Por questões de espaço e clareza a revista reserva-se o direito de resumir as cartas.

dar à luz uma criança em condições que outrora seriam impossíveis. No entanto, morrem ou são mutilados milhões de seres humanos, simples-mente por terem nascido do lado errado das fronteiras, ou por terem determinada cor de pele ou crença religiosa. As nações se unem na busca da paz e o organismo máximo que as coorde-na, a ONU, é controlado pelos cinco países que têm poder de veto, e não por acaso, são os cinco maiores fabricantes de armas do planeta, onde se gasta em campanhas militares, a cada minuto, mais de 3 milhões de dólares.A boa notícia é que há luz no fim do túnel. A mesma perenidade das nossas atitudes mais vis também se aplica às nossas emoções mais no-bres. Posso prever, com alguma dose de certeza, que daqui a 20, 40 ou 100 anos, ainda valoriza-remos a ética, a integridade e o respeito ao pró-ximo. Posso antever que os netos dos meus netos ainda cultuarão o amor e buscarão a paz de es-pírito. Posso garantir, até onde pode um mortal oferecer garantias, que serão as nossas escolhas do presente que determinarão o futuro das pró-ximas gerações.Então, se por um lado é certo que a tecnologia pode ser usada para o mal, também o é que ela pode ser aplicada para o bem e que sempre ha-verá pessoas de boa índole que talvez, em algum momento de nossa história futura, aprendam a não ficar omissas, a não aceitar o mal de forma pacífica, a assumir a responsabilidade de agir para defender aquilo em que acreditam. E quem sabe, nesses tempos, a humanidade possa come-çar a se tornar mais justa, distribuindo melhor a riqueza, eliminando as fronteiras que nunca existiram de verdade e fazendo deste mundo, fi-nalmente, um lugar onde impere a paz, a justiça e a felicidade não só de alguns, mas de todos os seus habitantes.”

Claudio NasajonEmpresário, sócio-presidente da Nasajon Sistemas e professor de empreendedorismo da PUC-Rio

Rio de Janeiro - RJ

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“O crescimento da economia, com índices e pers-pectivas favoráveis, está intimamente vinculado a uma infraestrutura de transportes que permita a ampliação e aprimoramento logístico de todas as suas variáveis. Recursos até agora injetados nos diferentes setores dessas malhas, apesar das evi-dentes conquistas e efetiva contribuição à conso-lidação do sistema produtivo e melhoria da vida da população, ainda carecem de mais expressividade.Diante dos grandiosos desafios que esses polos fundamentais ao desenvolvimento econômico representam, é essencial que governos e socie-dade como um todo aceitem de vez a tese de que o futuro é hoje. Até porque rodovias, fer-rovias, portos, aeroportos, sistemas de comuni-cação e energéticos também configuram uma luta feroz contra o tempo. Urgência hoje ainda mais intensificada pela proximidade de grandes eventos esportivos, pela constante valorização do real, que implica maior competitividade dos produtos brasileiros no exterior e que dependem de boas estradas para que cheguem ao destino de embarque, além das ainda incalculáveis di-mensões do pré-sal.Entre tantos setores da atividade econômica sacudidos por essas realizações, a tarefa que in-cumbe ao setor da construção pesada mais uma vez é primordial. A nossa indústria é a ferramenta adequada para acionar as máquinas da produção. Rodovias são essenciais ao transporte das dife-rentes riquezas da nação e por elas hoje circulam 60% de cargas e 90% dos passageiros que per-correm o país nas mais diferentes direções. Assim, rodovias em boas condições aprimoram a ope-racionalidade dos produtores e transportadores dessas riquezas, com crescentes vantagens em termos de desempenho e custos.Dessa forma, e pela projeção de contínuo destaque na logística nacional, é imperioso que o sistema rodoviário brasileiro sofra contínuo aprimoramen-to de suas condições. Isso significa investimentos privilegiados e permanentes, não apenas na am-pliação das diferentes malhas e sistemas, mas na conservação e manutenção da atual rede.Recursos financeiros e técnicos necessários a esse desenvolvimento não devem ser atribuídos apenas ao setor público, embora dele depen-dam em grande parte. Exigem também parceria e participação ativa dos meios produtivos e da sociedade organizada. Nesse âmbito, é impres-cindível a referência à necessária urgência da elevação do nível educacional e qualificação

“Acabo de receber a REVISTA ENGENHARIA nº 604-2011, comemorativa dos 95 anos do nosso Instituto de Engenharia. Maravilhosa sob todos os aspectos. Meus parabéns! Está à altura da importância e tradição da en-genharia paulista. Espero que continue no mesmo nível por muitos anos ainda. Acei-tem o meu abraço.”

Engº Julio Cerqueira Cesar NetoConsultor, membro do Conselho de

Meio Ambiente da Federação das Indústriasdo Estado de São Paulo (Fiesp)

São Paulo - SP

“Nos tempos atuais, há uma verdadeira ‘febre’ de patrulhamento e controle das atividades dos indivíduos mundo afora. Muitas pessoas acreditam, às vezes de forma inocente, que o Estado tudo deve controlar. Essa crença pode levar a grandes equívocos. A revista Veja, em sua edição nº 2216, de 11 de maio deste ano, traz entrevista com o filósofo Denis Lerrer Ro-senfield, definido pela publicação como ‘uma das vozes mais potentes em defesa da liberda-de individual’.Faço minhas as palavras do filósofo. Durante oito anos de gestão frente à Federação das Indústrias do Estado do Acre [Fieac] e, mesmo como empresário e empreendedor, enfrentei o excesso de regulamentações, os decretos, as leis que querem controlar os cidadãos brasileiros em todos os setores de atividade, chegando até mesmo a intrometer-se em nossa vida pessoal.As crises sofridas pelo capitalismo nos últimos tempos forneceram excelentes motivos àque-les retrógrados que ainda querem colocar em campos opostos o capitalismo e a democracia. As crises são naturais no capitalismo e, em um sistema verdadeiramente democrático e livre, o Estado deve respeitar os mais simples direi-tos dos cidadãos.O direito à propriedade, a garantia aos con-tratos firmados, a liberdade de escolha, são básicos e devem ser respeitados. A democra-cia não é apenas podermos escolher nossos representantes políticos por meio de eleições livres e limpas. Sua amplitude é muito maior:

Cartasprofissional dos trabalhadores. Conjunto de esforços que só prosperará, também é preciso ressaltar, baseado em regras claras e confiável segurança jurídica, fundamentais para o sucesso de qualquer empreitada.Nessa visão estratégica do amanhã, o futuro é hoje. E uma infraestrutura de transportes ágil e moderna é, sem dúvida, o real pavimento de todas as demais conquistas da vida moderna. E – temos certeza – nós, da construção pesada, estamos preparados para trilhar esse caminho.”

Engº João Leopoldino Neto Vice-presidente do Sindicato da Indústria

da Construção Pesada doEstado de São Paulo (Sinicesp)

e diretor da Bandeirantes Engenharia e Comércio

São Paulo - SP

“Meus cumprimentos pela publicação da REVISTA ENGENHARIA nº 604, comemorativa aos 95 Anos do Instituto de Engenharia. Tomo a liberdade de propor uma retificação (rodapé da pg. 78), onde há uma informação incompleta, em referência ao 80º aniversário do IE: ‘O Instituto de Engenharia, em recepção no Palácio dos Bandeirantes, no dia 17 de fevereiro, comemora 80 anos de fundação, contando com a presença de diversas autoridades, entre elas o então governador paulista Mario Co-vas e o então prefeito paulistano Celso Pitta’.Razão da retificação: esta foi uma das mais impor-tantes homenagens já recebidas pelo Instituto de Engenharia, tendo como anfitrião o governador, com a presença do prefeito e do então senador José Serra.Como presidente da entidade na ocasião, articu-lei durante seis meses com o governador e presidi a realização deste evento de 17 de fevereiro. E levei o prefeito para estabelecer o bom relaciona-mento que sempre deveria existir entre as duas esferas do poder, independentemente de inte-resses políticos partidários, que na época eram muito acirrados, em prejuízo da capital paulista. Esta era uma importante missão do IE. Deixei a presidência do Instituto em 31 de março de 1997, em final de mandato, para assumir a Secretaria de Administrações Regionais da Prefeitura de São Paulo, devido ao bom relacionamento que man-tinha com estas duas autoridades.”

Engº Alfredo Mário SavelliConsultor, conselheiro e ex-presidente

do Instituto de EngenhariaSão Paulo - SP

Os 95 anos doInstituto de Engenharia

Infraestrutura: para o Brasil,o futuro é hoje

Observação do Leitor

O Estado não pode ser o tutor de nossas vidas

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05nosso direito vai desde a escolha da compra de

um imóvel; onde nossos filhos devem estudar; se queremos ser fumantes ou não; se queremos tomar determinado remédio; enfim, tudo isso faz parte da liberdade individual.Como cidadãos, temos de nos conscientizar de que o governo não pode ser o tutor de nossas vidas. Nossos poderes, principalmente o Judiciá-rio, são reféns de uma legislação administrativa feita em sua maioria por órgãos estatais. Ques-tões indígenas, raciais e ambientais formam uma verdadeira frente única de cerceamento dos direitos da maioria.Movimentos à esquerda, como o MST e a Pastoral da Terra, ainda insistem na limitação dos direitos de propriedade, mas uma parcela da sociedade desenvolvida e da imprensa tem se manifestado contra essa orientação seguida pelos governos anteriores e exacerbada no final do mandato do presidente Lula. Se formos pesquisar a história, é impossível achar uma nação livre que tenha resistido ao cerceamento do direito à propriedade: ele é um estímulo poderoso ao desenvolvimento da sociedade e não pode, de forma alguma, ser desprezado, assim como os outros direitos que nós, cidadãos brasileiros, temos o dever de defender.”

João Francisco SalomãoVice-presidente da Federação das

Indústrias do Estado do Acre (Fieac)Rio Branco - AC

“É difícil argumentar contra a ideia de que a tecnologia irá mudar mais nos próximos dez anos do que já mudou nos últimos cem. A ve-locidade dos avanços tecnológicos tende a do-brar a cada dez anos, o que significa que até o final deste século a tecnologia estará mil vezes mais avançada que nos dias atuais. A base para essas estimativas é parecida com a dos juros compostos: os avanços já alcançados aceleram novas descobertas, que por sua vez servem de ferramenta para novos avanços, num ciclo vir-tuoso que cresce em progressão geométrica. Para se ter uma ideia, foram necessários 14 anos para sequenciar o vírus do HIV, mas ape-nas 31 dias para se chegar ao genoma da gripe asiática – um esforço semelhante feito apenas alguns anos depois.Não precisamos ir muito longe. Há poucos meses eu congelei células-tronco da minha filha recém-

nascida, procedimento que hoje serve para curar meia centena de doenças (inclusive leucemia), mas que há poucos anos não passava de ficção científica. Igualmente pertenciam ao terreno da fantasia coisas que hoje são reais como nanoro-bôs que entram no organismo para limpar arté-rias, em vez das antigas cirurgias de alto risco. Também já são realidade organismos genetica-mente modificados para coisas tão fúteis como peixinhos fosforescentes ou tão úteis como lim-par os vazamentos de óleo nos oceanos, só para citar alguns exemplos.Nesse contexto, não dá para saber, ao certo, onde o mundo estará daqui a 50 ou 100 anos. Pode-se prever carros elétricos que se auto-dirigirão a destinos programados usando ro-tas controladas por computador para obter a melhor performance, ou aparelhos de telefone integrados com TV, rádio, internet e demais ca-nais de comunicação implantados diretamen-te em nossos órgãos sensoriais. E certamente ainda surgirá muita coisa que não está sequer em nosso imaginário. Se aceitarmos o fato de que nos próximos cem anos a tecnologia irá avançar mil vezes mais do que já avançou em toda a nossa história, é simplesmente impossí-vel prever o futuro. Por outro lado, há coisas que evoluem tão lenta-mente que permitem, sim, imaginar como serão no próximo século. Coisas que fazem parte da nossa constituição humana, das nossas tradições e cujas mudanças ocorrem com velocidades infi-nitamente mais lentas do que as da tecnologia. Refiro-me a questões como preconceito, avareza, egoísmo. A cada minuto morrem, por causa da fome ou de doenças curáveis, cerca de dez crian-ças. No mesmo mundo em que os recursos na-turais de uma nação, como o petróleo ou a soja, respondem por boa parte da sua riqueza, as mes-míssimas pessoas que participam da sua extração e produção pertencem às camadas mais pobres, mais miseráveis, deixando essa riqueza na mão de uns poucos privilegiados.Nossa tecnologia é capaz de ajudar uma mãe a

COMO CONTATAR A REVISTA ENGENHARIA

Comentários sobre o conteúdo editorial da REVISTA ENGENHARIA, sugestões e críticas devem ser encaminhadas para a redação: Rua Alice de Castro, 47 – CEP 04015 040 – São Paulo – SP – Fax (11) 5575 8804 ou 5575 1069 – ou por E-mail: [email protected] cartas à redação devem trazer o nome, endereço e número da cédula de identidade do leitor, mesmo aquelas enviadas pela internet. Por questões de espaço e clareza a revista reserva-se o direito de resumir as cartas.

dar à luz uma criança em condições que outrora seriam impossíveis. No entanto, morrem ou são mutilados milhões de seres humanos, simples-mente por terem nascido do lado errado das fronteiras, ou por terem determinada cor de pele ou crença religiosa. As nações se unem na busca da paz e o organismo máximo que as coorde-na, a ONU, é controlado pelos cinco países que têm poder de veto, e não por acaso, são os cinco maiores fabricantes de armas do planeta, onde se gasta em campanhas militares, a cada minuto, mais de 3 milhões de dólares.A boa notícia é que há luz no fim do túnel. A mesma perenidade das nossas atitudes mais vis também se aplica às nossas emoções mais no-bres. Posso prever, com alguma dose de certeza, que daqui a 20, 40 ou 100 anos, ainda valoriza-remos a ética, a integridade e o respeito ao pró-ximo. Posso antever que os netos dos meus netos ainda cultuarão o amor e buscarão a paz de es-pírito. Posso garantir, até onde pode um mortal oferecer garantias, que serão as nossas escolhas do presente que determinarão o futuro das pró-ximas gerações.Então, se por um lado é certo que a tecnologia pode ser usada para o mal, também o é que ela pode ser aplicada para o bem e que sempre ha-verá pessoas de boa índole que talvez, em algum momento de nossa história futura, aprendam a não ficar omissas, a não aceitar o mal de forma pacífica, a assumir a responsabilidade de agir para defender aquilo em que acreditam. E quem sabe, nesses tempos, a humanidade possa come-çar a se tornar mais justa, distribuindo melhor a riqueza, eliminando as fronteiras que nunca existiram de verdade e fazendo deste mundo, fi-nalmente, um lugar onde impere a paz, a justiça e a felicidade não só de alguns, mas de todos os seus habitantes.”

Claudio NasajonEmpresário, sócio-presidente da Nasajon Sistemas e professor de empreendedorismo da PUC-Rio

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“O crescimento da economia, com índices e pers-pectivas favoráveis, está intimamente vinculado a uma infraestrutura de transportes que permita a ampliação e aprimoramento logístico de todas as suas variáveis. Recursos até agora injetados nos diferentes setores dessas malhas, apesar das evi-dentes conquistas e efetiva contribuição à conso-lidação do sistema produtivo e melhoria da vida da população, ainda carecem de mais expressividade.Diante dos grandiosos desafios que esses polos fundamentais ao desenvolvimento econômico representam, é essencial que governos e socie-dade como um todo aceitem de vez a tese de que o futuro é hoje. Até porque rodovias, fer-rovias, portos, aeroportos, sistemas de comuni-cação e energéticos também configuram uma luta feroz contra o tempo. Urgência hoje ainda mais intensificada pela proximidade de grandes eventos esportivos, pela constante valorização do real, que implica maior competitividade dos produtos brasileiros no exterior e que dependem de boas estradas para que cheguem ao destino de embarque, além das ainda incalculáveis di-mensões do pré-sal.Entre tantos setores da atividade econômica sacudidos por essas realizações, a tarefa que in-cumbe ao setor da construção pesada mais uma vez é primordial. A nossa indústria é a ferramenta adequada para acionar as máquinas da produção. Rodovias são essenciais ao transporte das dife-rentes riquezas da nação e por elas hoje circulam 60% de cargas e 90% dos passageiros que per-correm o país nas mais diferentes direções. Assim, rodovias em boas condições aprimoram a ope-racionalidade dos produtores e transportadores dessas riquezas, com crescentes vantagens em termos de desempenho e custos.Dessa forma, e pela projeção de contínuo destaque na logística nacional, é imperioso que o sistema rodoviário brasileiro sofra contínuo aprimoramen-to de suas condições. Isso significa investimentos privilegiados e permanentes, não apenas na am-pliação das diferentes malhas e sistemas, mas na conservação e manutenção da atual rede.Recursos financeiros e técnicos necessários a esse desenvolvimento não devem ser atribuídos apenas ao setor público, embora dele depen-dam em grande parte. Exigem também parceria e participação ativa dos meios produtivos e da sociedade organizada. Nesse âmbito, é impres-cindível a referência à necessária urgência da elevação do nível educacional e qualificação

“Acabo de receber a REVISTA ENGENHARIA nº 604-2011, comemorativa dos 95 anos do nosso Instituto de Engenharia. Maravilhosa sob todos os aspectos. Meus parabéns! Está à altura da importância e tradição da en-genharia paulista. Espero que continue no mesmo nível por muitos anos ainda. Acei-tem o meu abraço.”

Engº Julio Cerqueira Cesar NetoConsultor, membro do Conselho de

Meio Ambiente da Federação das Indústriasdo Estado de São Paulo (Fiesp)

São Paulo - SP

“Nos tempos atuais, há uma verdadeira ‘febre’ de patrulhamento e controle das atividades dos indivíduos mundo afora. Muitas pessoas acreditam, às vezes de forma inocente, que o Estado tudo deve controlar. Essa crença pode levar a grandes equívocos. A revista Veja, em sua edição nº 2216, de 11 de maio deste ano, traz entrevista com o filósofo Denis Lerrer Ro-senfield, definido pela publicação como ‘uma das vozes mais potentes em defesa da liberda-de individual’.Faço minhas as palavras do filósofo. Durante oito anos de gestão frente à Federação das Indústrias do Estado do Acre [Fieac] e, mesmo como empresário e empreendedor, enfrentei o excesso de regulamentações, os decretos, as leis que querem controlar os cidadãos brasileiros em todos os setores de atividade, chegando até mesmo a intrometer-se em nossa vida pessoal.As crises sofridas pelo capitalismo nos últimos tempos forneceram excelentes motivos àque-les retrógrados que ainda querem colocar em campos opostos o capitalismo e a democracia. As crises são naturais no capitalismo e, em um sistema verdadeiramente democrático e livre, o Estado deve respeitar os mais simples direi-tos dos cidadãos.O direito à propriedade, a garantia aos con-tratos firmados, a liberdade de escolha, são básicos e devem ser respeitados. A democra-cia não é apenas podermos escolher nossos representantes políticos por meio de eleições livres e limpas. Sua amplitude é muito maior:

Cartasprofissional dos trabalhadores. Conjunto de esforços que só prosperará, também é preciso ressaltar, baseado em regras claras e confiável segurança jurídica, fundamentais para o sucesso de qualquer empreitada.Nessa visão estratégica do amanhã, o futuro é hoje. E uma infraestrutura de transportes ágil e moderna é, sem dúvida, o real pavimento de todas as demais conquistas da vida moderna. E – temos certeza – nós, da construção pesada, estamos preparados para trilhar esse caminho.”

Engº João Leopoldino Neto Vice-presidente do Sindicato da Indústria

da Construção Pesada doEstado de São Paulo (Sinicesp)

e diretor da Bandeirantes Engenharia e Comércio

São Paulo - SP

“Meus cumprimentos pela publicação da REVISTA ENGENHARIA nº 604, comemorativa aos 95 Anos do Instituto de Engenharia. Tomo a liberdade de propor uma retificação (rodapé da pg. 78), onde há uma informação incompleta, em referência ao 80º aniversário do IE: ‘O Instituto de Engenharia, em recepção no Palácio dos Bandeirantes, no dia 17 de fevereiro, comemora 80 anos de fundação, contando com a presença de diversas autoridades, entre elas o então governador paulista Mario Co-vas e o então prefeito paulistano Celso Pitta’.Razão da retificação: esta foi uma das mais impor-tantes homenagens já recebidas pelo Instituto de Engenharia, tendo como anfitrião o governador, com a presença do prefeito e do então senador José Serra.Como presidente da entidade na ocasião, articu-lei durante seis meses com o governador e presidi a realização deste evento de 17 de fevereiro. E levei o prefeito para estabelecer o bom relaciona-mento que sempre deveria existir entre as duas esferas do poder, independentemente de inte-resses políticos partidários, que na época eram muito acirrados, em prejuízo da capital paulista. Esta era uma importante missão do IE. Deixei a presidência do Instituto em 31 de março de 1997, em final de mandato, para assumir a Secretaria de Administrações Regionais da Prefeitura de São Paulo, devido ao bom relacionamento que man-tinha com estas duas autoridades.”

Engº Alfredo Mário SavelliConsultor, conselheiro e ex-presidente

do Instituto de EngenhariaSão Paulo - SP

Os 95 anos doInstituto de Engenharia

Infraestrutura: para o Brasil,o futuro é hoje

Observação do Leitor

O Estado não pode ser o tutor de nossas vidas

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LeitorNovos tempos, práticasvelhas (ou velhacas)

á já algum tempo venho observando os serviços de engenha-ria em execução, particularmente pelos poderes públicos, e algumas coisas estão me chamando a atenção. São coisas que,

quando me formei e comecei a trabalhar, já se vão quase 40 anos, eram consideradas básicas e ninguém contestava. Estavam até na condição de verdades eternas, eu achava até que havia uma lei que as regia! Foi engano meu, não existia a tal lei ou, se existia, foi mudada! Mas vamos aos pontos (as tais coisas) que estão me incomodando. Não vou numerar porque pode parecer que estou classificando por ordem de importância, o que não é o caso, cada um dá mais ou menos importância conforme os seus próprios interesses ou o enfoque que ele dá ao caso. Mas vamos lá.Valor dos serviços de elaboração de projetos, perícias, laudos etc. – Pagar pelo menor preço é o mesmo que comprar frutas “por leilão” depois que a feira terminou: só vai pegar coisa velha, muitas vezes imprestável. Quem tem conhecimento novo, tecnologia de pon-ta, estudou muito ou pagou caro por ela e não vai vender baratinho, quem vende baratinho é quem tem ‘sobra’ ou quem está começando, não tem experiência e quer entrar na ‘tchurma’. Ou então quem é mal intencionado (já está na tchurma e tem um esquema!), está querendo fazer uma experiência, ou tem outros interesses! Como consequência, o comprador paga pouco por coisas muito caras! Sim porque ou está adquirindo tecnologias velhas com roupagem nova ou então comprando experiências ou esquemas. Preço baixo agora tem seu custo depois!Composição de equipes de gerenciamento e fiscalização de obras – Este tipo de trabalho sempre foi feito por técnicos especializados, cada um na sua área, cada um na sua especialidade. Para isso eram feitas pesquisas de currículos de profissionais para se arregimentar uma equipe, muitas vezes multidisciplinar, para que todos os serviços a serem executados na obra fossem cobertos adequadamente. Já não é mais assim: agora existem técnicos (nem sempre engenheiros!) generalistas e/ou pluriespecialistas (acho que estou criando uma palavra...). É evidente que este novo profissional não sabe tudo que a soma dos que o antecederam sabiam – mas, em compensação é muito mais “econômico”. Quer dizer, é a lei das compensações: economiza-se (paga-se menos) mas, em compensação, obtém-se menos! Como a velha história da feira: mulher bonita não paga... mas também não leva! Por incrível que pareça, esta é a regra básica entre os prestadores de serviço e... por mais incrível que pareça ainda, todos aplaudem! Desde o governo até os empreiteiros, passando pelas empresas con-tratantes, pelos projetistas, pelos gerenciadores, pelos... pelos... Sei lá, são tantos interesses que chego a duvidar que alguém, além dos engenheiros, técnicos e usuários, sequer sintam qualquer diferença. Ah, é claro, quando ocorre algum acidente, a imprensa também gosta e lá, no fundo de sua redação, também aplaude!

NELSON NEWTON FERRAZ*

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Elaboração de projetos básicos e projetos executivos – Aqui a coisa está pegando: quem gosta de obras com grande visibilidade, de preferência (financeiramente) vultosas, chega aqui ao paraíso. Na escola de Engenharia e ao longo de minha vida profissional, eu aprendi que toda obra ou empreendimento, para ser bem feito (e todos eles por princípio devem ser), obrigatoriamente deve ser dividido em algumas etapas que, se não são muito bem delimitadas em suas passagens, são muito bem definidas em seus objetivos. São elas: ideia, estudo de viabilidade, projeto básico, projeto executivo e execução dos trabalhos. Explico melhor.Ideia - Constatado um problema, uma necessidade, um ponto de evolução, alguém (ou alguéns!) tem uma ideia e daí, conversando, reunindo grupos de pressão ou dinheiro, resolvem executar uma obra. Mas será que vale a pena? Quanto custa? Quem e quantos serão beneficiados por ela? Passamos então à segunda etapa.Estudo de viabilidade - Alguém (interessado, especialista, técnico, financista, sei lá...) chama ou é chamado para responder à essa per-gunta impertinente que não quer calar: Será que vale a pena? O(s) indigitado(s), evidentemente após acerto de honorários, começa(m) a trabalhar e, após ingentes estudos, dá(ão) sua resposta final: sim, vale a pena. Claro que nunca é tão simples assim. A resposta, sim ou não, vem embrulhada em incontáveis relatórios, gráficos, fotos, depoimentos etc. Mas, já que vale a pena, a resposta foi sim, vamos à etapa seguinte.Projeto básico - Por projeto básico entende-se: o projeto de arqui-tetura, desenhado em escalas altas, constituído de mapas, plantas baixas, cortes transversais e longitudinais, além das fachadas ou vistas. É integrado também por um Memorial Descritivo, detalhado ao nível de anteprojeto, e de um Orçamento Básico ou Estimativa de Custo para a execução do projeto. Esta é uma definição escolar, pedagógica – mas que reflete muito bem o espírito que deve orien-tar o interessado na obra (contratante ou proprietário). Ele precisa ter uma visão geral da coisa, sem muita precisão mesmo, de forma a poder propor, por si ou pelos seus assessores, alterações, ajustes, cortes ou ampliações, divisões em estágios, enfim, levar ao projeto a sua visão, a sua forma, a sua mão! Esta etapa é aquela em que, teoricamente, o proprietário da obra (ou seus prepostos) devem ter mais participação e é quando mais poderão interferir no projeto. Mas, já que tudo está a contento, vamos à etapa seguinte.Projeto executivo - Por projeto executivo entende-se: os projetos de arquitetura, estrutural, elétrico e hidráulico detalhados, desenhados em escalas maiores ou em qualquer outra que seja mais adequada à perfeita compreensão do projeto por todas as partes envolvidas na execução da obra. O Memorial Descritivo, bem como o Orçamento Executivo que o acompanha devem ser detalhados ao nível necessário para a execução completa da obra. O planejamento deve ser completo: planejamento operacional e executivo, cronograma físico, cronograma financeiro, programação de materiais, equipamentos, mão de obra etc. Pronto! Claro que algumas partes do projeto básico (aquele do item anterior) tiveram que ser alteradas e ajustadas em função de custos, interfe-rências, exequibilidade sei lá... existem tantos mistérios dentro de uma obra! Mas enfim está tudo pronto e podemos partir para a execução.

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LeitorNovos tempos, práticasvelhas (ou velhacas)

á já algum tempo venho observando os serviços de engenha-ria em execução, particularmente pelos poderes públicos, e algumas coisas estão me chamando a atenção. São coisas que,

quando me formei e comecei a trabalhar, já se vão quase 40 anos, eram consideradas básicas e ninguém contestava. Estavam até na condição de verdades eternas, eu achava até que havia uma lei que as regia! Foi engano meu, não existia a tal lei ou, se existia, foi mudada! Mas vamos aos pontos (as tais coisas) que estão me incomodando. Não vou numerar porque pode parecer que estou classificando por ordem de importância, o que não é o caso, cada um dá mais ou menos importância conforme os seus próprios interesses ou o enfoque que ele dá ao caso. Mas vamos lá.Valor dos serviços de elaboração de projetos, perícias, laudos etc. – Pagar pelo menor preço é o mesmo que comprar frutas “por leilão” depois que a feira terminou: só vai pegar coisa velha, muitas vezes imprestável. Quem tem conhecimento novo, tecnologia de pon-ta, estudou muito ou pagou caro por ela e não vai vender baratinho, quem vende baratinho é quem tem ‘sobra’ ou quem está começando, não tem experiência e quer entrar na ‘tchurma’. Ou então quem é mal intencionado (já está na tchurma e tem um esquema!), está querendo fazer uma experiência, ou tem outros interesses! Como consequência, o comprador paga pouco por coisas muito caras! Sim porque ou está adquirindo tecnologias velhas com roupagem nova ou então comprando experiências ou esquemas. Preço baixo agora tem seu custo depois!Composição de equipes de gerenciamento e fiscalização de obras – Este tipo de trabalho sempre foi feito por técnicos especializados, cada um na sua área, cada um na sua especialidade. Para isso eram feitas pesquisas de currículos de profissionais para se arregimentar uma equipe, muitas vezes multidisciplinar, para que todos os serviços a serem executados na obra fossem cobertos adequadamente. Já não é mais assim: agora existem técnicos (nem sempre engenheiros!) generalistas e/ou pluriespecialistas (acho que estou criando uma palavra...). É evidente que este novo profissional não sabe tudo que a soma dos que o antecederam sabiam – mas, em compensação é muito mais “econômico”. Quer dizer, é a lei das compensações: economiza-se (paga-se menos) mas, em compensação, obtém-se menos! Como a velha história da feira: mulher bonita não paga... mas também não leva! Por incrível que pareça, esta é a regra básica entre os prestadores de serviço e... por mais incrível que pareça ainda, todos aplaudem! Desde o governo até os empreiteiros, passando pelas empresas con-tratantes, pelos projetistas, pelos gerenciadores, pelos... pelos... Sei lá, são tantos interesses que chego a duvidar que alguém, além dos engenheiros, técnicos e usuários, sequer sintam qualquer diferença. Ah, é claro, quando ocorre algum acidente, a imprensa também gosta e lá, no fundo de sua redação, também aplaude!

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Elaboração de projetos básicos e projetos executivos – Aqui a coisa está pegando: quem gosta de obras com grande visibilidade, de preferência (financeiramente) vultosas, chega aqui ao paraíso. Na escola de Engenharia e ao longo de minha vida profissional, eu aprendi que toda obra ou empreendimento, para ser bem feito (e todos eles por princípio devem ser), obrigatoriamente deve ser dividido em algumas etapas que, se não são muito bem delimitadas em suas passagens, são muito bem definidas em seus objetivos. São elas: ideia, estudo de viabilidade, projeto básico, projeto executivo e execução dos trabalhos. Explico melhor.Ideia - Constatado um problema, uma necessidade, um ponto de evolução, alguém (ou alguéns!) tem uma ideia e daí, conversando, reunindo grupos de pressão ou dinheiro, resolvem executar uma obra. Mas será que vale a pena? Quanto custa? Quem e quantos serão beneficiados por ela? Passamos então à segunda etapa.Estudo de viabilidade - Alguém (interessado, especialista, técnico, financista, sei lá...) chama ou é chamado para responder à essa per-gunta impertinente que não quer calar: Será que vale a pena? O(s) indigitado(s), evidentemente após acerto de honorários, começa(m) a trabalhar e, após ingentes estudos, dá(ão) sua resposta final: sim, vale a pena. Claro que nunca é tão simples assim. A resposta, sim ou não, vem embrulhada em incontáveis relatórios, gráficos, fotos, depoimentos etc. Mas, já que vale a pena, a resposta foi sim, vamos à etapa seguinte.Projeto básico - Por projeto básico entende-se: o projeto de arqui-tetura, desenhado em escalas altas, constituído de mapas, plantas baixas, cortes transversais e longitudinais, além das fachadas ou vistas. É integrado também por um Memorial Descritivo, detalhado ao nível de anteprojeto, e de um Orçamento Básico ou Estimativa de Custo para a execução do projeto. Esta é uma definição escolar, pedagógica – mas que reflete muito bem o espírito que deve orien-tar o interessado na obra (contratante ou proprietário). Ele precisa ter uma visão geral da coisa, sem muita precisão mesmo, de forma a poder propor, por si ou pelos seus assessores, alterações, ajustes, cortes ou ampliações, divisões em estágios, enfim, levar ao projeto a sua visão, a sua forma, a sua mão! Esta etapa é aquela em que, teoricamente, o proprietário da obra (ou seus prepostos) devem ter mais participação e é quando mais poderão interferir no projeto. Mas, já que tudo está a contento, vamos à etapa seguinte.Projeto executivo - Por projeto executivo entende-se: os projetos de arquitetura, estrutural, elétrico e hidráulico detalhados, desenhados em escalas maiores ou em qualquer outra que seja mais adequada à perfeita compreensão do projeto por todas as partes envolvidas na execução da obra. O Memorial Descritivo, bem como o Orçamento Executivo que o acompanha devem ser detalhados ao nível necessário para a execução completa da obra. O planejamento deve ser completo: planejamento operacional e executivo, cronograma físico, cronograma financeiro, programação de materiais, equipamentos, mão de obra etc. Pronto! Claro que algumas partes do projeto básico (aquele do item anterior) tiveram que ser alteradas e ajustadas em função de custos, interfe-rências, exequibilidade sei lá... existem tantos mistérios dentro de uma obra! Mas enfim está tudo pronto e podemos partir para a execução.

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05Execução dos trabalhos ou da obra propriamente dita - Come-

çamos com uma concorrência, depois vem uma negociação feroz, alguns ajustes nos projetos, muita conversa e, por fim assina-se um contrato e damos início à obra. Tudo acertado, a obra transcorre na mais perfeita harmonia e na paz do Senhor. Terminada esta etapa, é só partir para o abraço! Claro que no dia certo, conforme o cronograma!

Todo mundo está careca de saber que isto é lenda e não ocorre desta maneira em lugar nenhum do mundo: no mundo real, as coisas se atropelam, a ideia já vem montada pelo estudo de viabilidade, o projeto básico, às vezes, fica pronto antes da viabilidade; e o projeto executivo começa pouco antes da concorrência para a execução da obra que, por sua vez, em vária ocasiões, segue um ritmo mais lento, esperando que os projetos fiquem prontos ou sejam corrigidos. O planejamento, no mais das vezes, é feito baseado no projeto básico que, também no mais das vezes, é bastante alterado pelo projeto executivo. Na verdade, é uma grande loucura. Mas, no fim, tudo acaba bem. Pelo menos na maioria das vezes (e das obras).

E não se esqueçam do Gerenciamento e da Fiscalização que estão lá para botar mais lenha nessa fogueira: isto pode, isto não pode, isto altera, isto não altera, este sai, este fica, aceito, não aceito e assim vai. É uma briga só, do começo ao fim, ninguém se entende, cada um tem uma opinião: o problema é um só mas as soluções são dezenas, centenas... E cada um acha que a sua é a melhor, a mais econômica, a mais fácil... No fim vale a opinião do chefe: a sua solução é a melhor e é a que vai valer! São as leis do chefe: ele tem sempre razão!

As pessoas que estão nesse ramo já há algum tempo sabem que o processo todo é um caos organizado. Mas, pelo menos nas obras sérias, isso funciona. Ninguém gosta de uma obra muito organizada: ela é muito chata. Mas também ninguém gosta de uma bagunça total: é muito estressante! In medio virtus já diziam os romanos e, em se tratando de obra, eles estão totalmente certos. Por isso fizeram tantas obras pelo mundo (deles) todo! E pelo mundo todo, tornou-se costume seguir, mais ou menos, bem ou mal, aquelas etapas que eu citei acima. É meio que uma regra básica e ajuda as partes a se entenderem melhor. Cada um faz a sua parte e, no final, todo mundo controla todo mundo.

Bons tempos e bons lugares aqueles. Agora, por aqui, tudo mudou, são novos tempos, estamos numa nova era! A era de Aquarius passou, agora estamos na era da galera: da galera do chefão globalizado, da galera dos lobbies organizados, da galera dos políticos mais “bem intencionados” e até da galera dos líderes (sindicais, profissionais, intelectuais e que tais) mais “bem influenciados”. E ai é uma festa, “vamos encurtar as etapas e tornar mais rápidas as negociações e assim todo mundo ganha, não é mesmo, afinal toda a galera está de acordo e quer a mesma coisa, valeu!”. Assim sendo, já que o objetivo é comum ($$$!) pra que embromar, “vamos logo aos finalmente”.

Para tanto, em vez de caos organizado, “vamos organizar o caos, de forma a chegar mais rápido aos finalmente!”. E os “fi-nalmente” são a parte mais rentável do processo, a obra! Não só rentável financeiramente, mas visual e politicamente também. E isso faz toda a diferença, não é mesmo? Afinal projetos não fazem a cabeça da plebe ignara que adora ver um tapume cheio

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Leitorde placas de propaganda comercial e, principalmente, política!

Nessa nova era o processo se tornou muito mais simples e, claro, muito mais rentável! Na verdade ele não tem uma linha rígida de procedimentos. Mas, em termos simplificados, funciona mais ou menos como vai abaixo.Ideias - São como passarinhos, estão voando por aí, é só capturar uma que tenha as cores e o tamanho mais adequado aos “finalmente”. Estudo de viabilidade - Superado! Uma vez que a ideia foi cap-turada, ela automaticamente já passou por essa análise. Há que se observar que estamos numa nova era e a galera está muito mais afinada com ela do que um monte de especialistas criados na era de Aquarius!Projeto básico - Esse sim é uma etapa importante e tão importante que, quanto mais básico for o projeto, melhor. Porém é fundamental que ele seja tão básico quanto vistoso, cheio de efeitos visuais, so-noros, cores, digitalizados e aplicáveis a CDs e DVDs para que sejam democraticamente distribuídos em todos os locais que a galera tenha interesse. Porém, o mais interessante é que, segundo essa nova dou-trina, este é o ponto ideal de maturação do projeto para se efetuar a concorrência e a consequente contratação. Mesmo porque, como já dito, a etapa de detalhamento se confunde com a concorrência e então – Eureka!, a solução: deixa estes detalhes para depois! Afinal não passam de detalhes, meros e aborrecidos detalhes e podem muito bem serem executados pelo contratado! Isso se ele quiser! Assim, passamos à etapa seguinte.Execução da obra propriamente bendita, com projeto executivo (opcional) - Aí começa a parte boa da festa, pois os salgadinhos e os doces começam a ser distribuídos. Só que não são para todos de maneira igual: alguns (poucos) recebem os doces (muitos), os demais (nós) recebem os salgados (e bota salgado nisso). A própria galera reconhece que ainda existem alguma falhas nesse novo sistema, pois o processo ainda está sujeito a algumas interferências desagradáveis que retardam aqui ou bloqueiam ali, de alguns personagens muito estranhos, dos mais variados matizes: alguns pertencem a um tal de TCU (o que um tribunal tem a ver com obra?...), outros ao Ministério Público (ministério é para ministrar e não para atrapalhar, pô...). E outros ainda – aliás os piores – são o pessoal dos jornais, rádios, TVs

e por aí afora. Mas, não tem problema não. Os chefes das galeras já estão criando um órgão específico para proteger as obras de interesse da galera (evidentemente o chefe será um dos membros da própria, assim é mais prático, pois ele será de confiança). Esse órgão deverá ser, é obvio, muito superior a todos os outros e terá poderes definitivos e decisivos: será o PIG – uma agência pública que será o Protetor dos Interesses Gerais. É verdade que alguns quiseram nomeá-lo de Protetor dos Interesses da Galera. Mas, dado que o pessoal da galera é muito discreto, acharam melhor o primeiro título.

E então ficamos assim! Observem todos que essas práticas são efe-tivadas por todos os partidos em todos os níveis de governo e de com-panhias estatais e até de muitas particulares... inclusive multinacionais! A moda pega! Vejam os senhores, estamos revolucionando os processos técnicos e administrativos de contratação de obras. Não demora e essa nossa tecnologia tomará conta do mundo! Viva a globalização.

Mas vocês pensam que essa “tecnologia” parou por aí? Ledo engano! Os aperfeiçoamentos continuam. E só para vocês terem uma ideia, outro dia veio um sujeito aqui no Instituto de Engenharia, por suposto um reduto da boa técnica, e apresentou um esboço, ou seja, alguma coisa a mais do que uma ideia, de um trem de alta velocidade entre Rio, São Paulo e Campinas (TAV) e nos informou que em pouco tempo essa “coisa” seria colocada em concorrência! Na verdade era pouco mais que uma linha vermelha traçada sobre uma foto do Google. Nenhum dos engenheiros que participaram do evento e depois do debate apoiou tal posição. Mas o apresentador, enviado pela ANTT, foi enfático: já estava decidido: o (que ele chama de) “projeto” seria colocado em concorrência em breve, talvez no inicio de 2010. Na verdade já atrasou e ficou para o começo de 2011. O pior é que apesar disso, dessa postergação de um ano, acho que continuamos ali com o anteprojeto do Projeto Básico, pouco mais que a ideia! Estudo de viabilidade? Esquece!

Só nos resta rezar para São Longuinho, dar três pulinhos e tentar achar o Bom Senso perdido!

* Nelson Newton Ferraz é engenheiro civil, formado pelo Mackenzie em 1973,

engenheiro consultor e conselheiro do Instituto de Engenharia

E-mail: [email protected]

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Leitorde placas de propaganda comercial e, principalmente, política!

Nessa nova era o processo se tornou muito mais simples e, claro, muito mais rentável! Na verdade ele não tem uma linha rígida de procedimentos. Mas, em termos simplificados, funciona mais ou menos como vai abaixo.Ideias - São como passarinhos, estão voando por aí, é só capturar uma que tenha as cores e o tamanho mais adequado aos “finalmente”. Estudo de viabilidade - Superado! Uma vez que a ideia foi cap-turada, ela automaticamente já passou por essa análise. Há que se observar que estamos numa nova era e a galera está muito mais afinada com ela do que um monte de especialistas criados na era de Aquarius!Projeto básico - Esse sim é uma etapa importante e tão importante que, quanto mais básico for o projeto, melhor. Porém é fundamental que ele seja tão básico quanto vistoso, cheio de efeitos visuais, so-noros, cores, digitalizados e aplicáveis a CDs e DVDs para que sejam democraticamente distribuídos em todos os locais que a galera tenha interesse. Porém, o mais interessante é que, segundo essa nova dou-trina, este é o ponto ideal de maturação do projeto para se efetuar a concorrência e a consequente contratação. Mesmo porque, como já dito, a etapa de detalhamento se confunde com a concorrência e então – Eureka!, a solução: deixa estes detalhes para depois! Afinal não passam de detalhes, meros e aborrecidos detalhes e podem muito bem serem executados pelo contratado! Isso se ele quiser! Assim, passamos à etapa seguinte.Execução da obra propriamente bendita, com projeto executivo (opcional) - Aí começa a parte boa da festa, pois os salgadinhos e os doces começam a ser distribuídos. Só que não são para todos de maneira igual: alguns (poucos) recebem os doces (muitos), os demais (nós) recebem os salgados (e bota salgado nisso). A própria galera reconhece que ainda existem alguma falhas nesse novo sistema, pois o processo ainda está sujeito a algumas interferências desagradáveis que retardam aqui ou bloqueiam ali, de alguns personagens muito estranhos, dos mais variados matizes: alguns pertencem a um tal de TCU (o que um tribunal tem a ver com obra?...), outros ao Ministério Público (ministério é para ministrar e não para atrapalhar, pô...). E outros ainda – aliás os piores – são o pessoal dos jornais, rádios, TVs

e por aí afora. Mas, não tem problema não. Os chefes das galeras já estão criando um órgão específico para proteger as obras de interesse da galera (evidentemente o chefe será um dos membros da própria, assim é mais prático, pois ele será de confiança). Esse órgão deverá ser, é obvio, muito superior a todos os outros e terá poderes definitivos e decisivos: será o PIG – uma agência pública que será o Protetor dos Interesses Gerais. É verdade que alguns quiseram nomeá-lo de Protetor dos Interesses da Galera. Mas, dado que o pessoal da galera é muito discreto, acharam melhor o primeiro título.

E então ficamos assim! Observem todos que essas práticas são efe-tivadas por todos os partidos em todos os níveis de governo e de com-panhias estatais e até de muitas particulares... inclusive multinacionais! A moda pega! Vejam os senhores, estamos revolucionando os processos técnicos e administrativos de contratação de obras. Não demora e essa nossa tecnologia tomará conta do mundo! Viva a globalização.

Mas vocês pensam que essa “tecnologia” parou por aí? Ledo engano! Os aperfeiçoamentos continuam. E só para vocês terem uma ideia, outro dia veio um sujeito aqui no Instituto de Engenharia, por suposto um reduto da boa técnica, e apresentou um esboço, ou seja, alguma coisa a mais do que uma ideia, de um trem de alta velocidade entre Rio, São Paulo e Campinas (TAV) e nos informou que em pouco tempo essa “coisa” seria colocada em concorrência! Na verdade era pouco mais que uma linha vermelha traçada sobre uma foto do Google. Nenhum dos engenheiros que participaram do evento e depois do debate apoiou tal posição. Mas o apresentador, enviado pela ANTT, foi enfático: já estava decidido: o (que ele chama de) “projeto” seria colocado em concorrência em breve, talvez no inicio de 2010. Na verdade já atrasou e ficou para o começo de 2011. O pior é que apesar disso, dessa postergação de um ano, acho que continuamos ali com o anteprojeto do Projeto Básico, pouco mais que a ideia! Estudo de viabilidade? Esquece!

Só nos resta rezar para São Longuinho, dar três pulinhos e tentar achar o Bom Senso perdido!

* Nelson Newton Ferraz é engenheiro civil, formado pelo Mackenzie em 1973,

engenheiro consultor e conselheiro do Instituto de Engenharia

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PALAVRA DOLeitorPALAVRA DOLeitorA Escola de Engenhariade São Carlos e a músicapopular brasileira

ue a Escola de Engenharia de São Carlos, da minha USP, foi – e é – excelente, origem de várias gerações de engenheiros de sólida formação, todos sabem. Nenhuma novidade. Que, nos

difíceis anos de 1964 a 1968, foi um reduto de bons e expressivos mú-sicos – instrumentistas, cantores, compositores –, que realizou shows musicais que pouco ficaram a dever ao então contemporâneo “O Fino da Bossa”, comandado pela Regina, para sempre, Elis, poucos sabem.

Conto como éramos. Uma completa troupe musical, com artistas e pessoal do apoio técnico, o melhor possível, dos também estudantes da Escola e membros do Centro Acadêmico Armando Salles Oliveira (CAASO).

O que fazia eu lá, estudante do curso clássico de Limeira (SP) e, depois, estudante de direito da Faculdade do Largo de São Francisco? Integrava o elenco de convidados – “artistas” que participavam dos shows na “Semana da Engenharia”. Éramos muitos. Vínhamos de Limeira, Rio Claro, Ribeirão Preto, Araraquara, Bebedouro, São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades.

Primeiro, vou lembrar os convidados que já tinham certa fama , todos iniciantes: Chico Buarque, Taiguara, Sidney Miller, Don Salva-dor, Paulo Moura, Celso Miguel, Milton de Paula (de Ribeirão Preto, pianista de trio de alto nível – piano, bateria e baixo era a formação que marcou a época). Entre os amadores como eu: a hoje famosa Marília Gabriela, saxofonista Hamleto Stamato, depois integrante da banda de Hermeto Pascoal, pianista João Antonio Stamato, o trio dos sobrinhos de Don Salvador, os cantores são-carlenses Márcia Barnabé, de linda voz rouca, Maria Eugênia, Ginoca, Dimas, simpático sambista, Euvaldo, o pianista Nelson e trio.

Integrei-me nos Encontros Musicais do CAASO por meio de meu amigo limeirense, o engenheiro Antonio Cláudio Prince Rodrigues, de saudosa memória, uma das mais inteligentes pessoas que conheci e, como eu, amante da música desde sempre.

Falemos dos engenheiros músicos ou músicos-engenheiros e dos que trabalhavam nos bastidores, no apoio da infraestrutura, tudo feito de modo artesanal, com a pouca tecnologia que (não) tínhamos na época: montagem de palco, som e luz. Sim, havia tudo isto!

Nestor Tupinambá, um grande entusiasta dos shows era dos mais dedicados e a quem devo a inspiração para escrever estas memórias. Lembro-me de vários nomes, impossíveis de esquecer, pois eram chamados o tempo todo durante os ensaios (sim, havia ensaio; eu disse que parecia mesmo “O Fino da Bossa”): João

SILMARA JUNY DE A. CHINELLATO*

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Carlos Coelho, Fernando Vilarinho, José Fernando Gullo, Ulisses Reali F. Nunes, Antonio Joaquim Correia (Quincas), Martiniano, Luiz Alberto (“Pastinha”), Rubens Gomiero (Rubinho), Tarso Dias Papa, Geraldo Cruz (Gerinha), Luis Henrique Teles (de fantástica memória, sabe tudo da atuação político-musical da Escola), Aluizio Fagundes, Gilson Vasconcelos, Guerrini, Labaki.

Agora falemos dos músicos-engenheiros. O líder musical, o exímio pianista Euclides Gabriel Corrêa, nosso “maestro soberano” Clidinho, sempre sereno, comandava tudo com muita firmeza e sensibilidade. Harmonizava belos arranjos musicais, com as espe-radas dissonâncias próprias da bossa nova, parecendo inspirar-se no Tamba e no Zimbo Trio, dando ao cantor e aos outros músicos, grande segurança. Na flauta e sax, Francisco Stella Chiavini, o Faninho, hoje respeitado músico profissional, encantava-nos com sua performance. No baixo, Ozien, circunspecto, imerso nos sons, causando grande inquietação no público feminino. Na bateria, o entusiasmado Sérgio Saia, são-carlense. Outros alunos se apre-sentaram com sucesso entre os quais o violonista Luiz Antonio Torres (Quatá).

Música da melhor qualidade, gerada antes, durante e depois dos Festivais da Record: Tom Jobim, Vinícius de Morais, Carlos Lyra (au-tor da minha preferida Primavera), Edu Lobo, Eumir Deodato, Chico Buarque, Geraldo Vandré, Marcos e Paulo Sérgio Valle etc.

Bossa e jazz em boa parceria, inclusive na abertura do show, com o Move the Groove de David Bruebeck, que já indicava o que vinha e a que vinha. Sally’s Tomato, de Henry Mancini, também era certa, imperdível e esperada.

O som que ouvi, nos shows do CAASO, não por acaso, as disso-nâncias perfeitas, arranjos e harmonias, são de tal melodiosidade que hoje ainda posso ouvi-los, imersa no passado, lentamente, guiada por notas musicais a me levar a uma estrada sem fim. Por certo, Euterpe e Minerva aplaudiriam. Eu, sim, muitas vezes. Ontem, hoje e sempre.

Quando penso na cidade de São Carlos, vem-me a imagem da Escola de Engenharia. Não por sua excelência, mas pela música. Os shows de alta qualidade técnica e de interpretação fazem parte das melhores lembranças guardadas sem chaves e que me tocam. Muito, com sustenidos, bemóis e dissonâncias bem concertadas. A música ficou em mim para sempre como amálgama. Nas minhas incursões amadorísticas no cantar e também na vida profissional, como professora de direito autoral, boa simbiose entre o útil e o mais do que agradável: contato com a arte, povoada de muitos sons.

Esta crônica tem duas conclusões, ambas absolutamente ver-dadeiras.1) Nós éramos felizes. E sabíamos.2) Música é, também ... coisa de engenheiro!

* Silmara Juny de A. Chinellato é advogada e professora da Faculdade de Direito

da Universidade de São Paulo, USP

E-mail: [email protected]

Parceria pouco conhecida: memórias de uma não-engenheira

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LeitorInfraestrutura:porta do progresso

momento histórico do Brasil indica possibilidade de crescimento com investimentos na infraestrutura. A projeção da Petrobras, neste rumo, programa crescimento na demanda de asfalto e oportunidades para novos produtos.

A infraestrutura de transportes é um dos principais pilares do desenvolvimento em todos os países. Investir na ampliação e conservação das rodovias, na modernização de aeroportos, ferrovias e portos, além da construção de novas hidrelétricas, significa progresso, geração de empregos, melhor distribuição de renda e bem estar para a população.

O momento presente é histórico e oportuno para novos avanços. A proximidade das datas de dois eventos de repercussão mundial, a Copa do Mundo em 2014, e as Olimpíadas em 2016, indicam que é necessário correr contra o tempo, apressar a execução de obras indispensáveis. É preciso melhorar a fluidez do tráfego, facilitar a locomoção dos visitantes por boas estradas e artérias.

A perspectiva otimista de que sejam injetados recursos na infraestrutura de transportes por parte do governo federal, dos governos estaduais e municipais, levou a Petrobras a fazer uma projeção do consumo do asfalto, de modo a programar-se para atender a forte demanda, considerando a tendência do crescimento até 2014.

Na previsão de demanda de ligantes asfálticos a Petrobras revela que o ano de 2010 foi marcado pelo aumento substancial dos investimentos em infraestrutura rodoviária, especial-mente pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Os indicadores apontam que o cresci-mento, em 2006, foi de 27%. Em 2008, atingiu 28% e, em 2010, o crescimento chegou a 42%.

Conforme dados da Petrobras, o atendimento do mercado somente foi alcançado a partir de planejamento bem elaborado e pela mobilização operacional das unidades produtoras, no sentido de produzir e entregar os asfaltos de maneira eficiente, incluindo a implantação de melhorias no sistema de entregas das refinarias, aumento de estoque de segurança e imple-mentação da nova sistemática de gestão e entregas de produtos asfálticos. Mesmo assim, para complementar o atendimento do mercado foi necessária uma operação de importação de asfalto a granel via marítima, suprindo em 9% o mercado, particularmente no Nordeste, onde havia carência do produto.

Diante da necessária execução de novas obras e da conservação permanente das rodovias, há de se levar em consideração o natural desgaste da malha rodoviária. Diante desse quadro, abrem-se oportunidades para o surgimento de novos produtos, com utilização de tecnologias, como o asfalto mais duro, com maior vida útil e que resiste melhor o aumento da frota de veículos pesados e o excesso de carga.

Se o governo cumprir as metas de investimentos para que o Brasil possa atender as expectativas destinadas à realização dos dois grandes espetáculos esportivos que atrairão a atenção de todo o mundo, a previsão de consumo é de 3,7 milhões de toneladas de asfalto em 2014. A tendência deverá apresentar queda a partir da realização da Copa do Mundo, estimando-se que haja outro pico por volta do ano de 2020.

Na verdade, o Brasil surge como potência emergente, aproximando-se do Primeiro Mundo. Mas o crescimento, com reflexos positivos para toda a população, somente se efetivará com a destinação de recursos, em todas as esferas, para a infraestrutura. É preciso intensificar os investimentos porque a infraestrutura é a porta segura para o progresso.

* Hélcio Petrônio de Farias é engenheiro, assessor técnico do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do

Estado de São Paulo (Sinicesp)

HÉLCIO PETRÔNIO DE FARIAS*

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05Aos colegas geotécnicos

brasileiros: precisamos nos libertar da armadilha da abordagem de risco

ergulhado em tensa lida com os recorrentes aconte-cimentos geológico-geotécnicos de mais uma tempo-rada chuvosa, estou tentando colocar sucintamente

no papel algumas reflexões que imagino talvez possam nos ajudar a melhor direcionar nossas atividades técnicas e sociais no contexto desses problemas.

Percebo que, com a melhor das intenções, acabamos por cair em uma armadilha tecnológica armada pela inconsequên-cia das administrações públicas no cumprimento de suas obrigações e atribuições de planejamento e ordenamento da expansão urbana. Inconsequência da qual resulta a in-controlável progressão do surgimento de áreas de risco e decorrentes acidentes e tragédias.

Especialmente a partir de meados da década de 1970, a geologia de engenharia e a engenharia geotécnica brasilei-ras, no contexto conceitual de uma “abordagem preventiva”, iniciaram a produção de um excelente ferramental técnico para as ações de planejamento e regramento técnico do uso do solo, sob a ótica geológica e geotécnica. A Carta Geotécnica se destaca entre essas ferramentas de caráter preventivo e de planejamento. Ela proveria aos adminis-tradores públicos as informações necessárias a não ocupar áreas de alta potencialidade natural a eventos geotécnicos potencialmente destrutivos e a util izar as técnicas mais adequadas para a ocupação de outras áreas naturalmente menos problemáticas.

No entanto, com a aversão que a administração pública brasileiras vem demonstrando à cultura da prevenção e do planejamento urbano, e com a decorrente multiplicação das situações de risco já instalado, os geotécnicos brasileiros foram progressivamente migrando para uma “abordagem corretiva/emergencial de Defesa Civil”. Surgiram assim as Cartas de Risco, os Programas de Defesa Civi l , as ações emergenciais de retirada de moradores e instalações em risco, sistemas de monitoramento de escorregamentos, novas alternativas em obras de contenção etc.

Essa abordagem de risco tem atendido melhor nossos administradores e políticos, em sua grande maioria sempre muito mais propensos a “torcer para que nada aconteça” e a culpar chuvas, geologia, população ou Deus pelas desgraças eventualmente acontecidas.

ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS*

M

Se a abordagem de r isco se impõe como pr ior i tár ia aos países onde o risco geológico é totalmente natural , vulcanismo, terremotos, tsunamis etc., ou seja, independe da vontade humana, em nosso caso, as situações de risco (escorregamentos, enchentes, erosões) são associadas a intervenções humanas no meio físico-geológico, podendo, portanto, ser mitigadas ou totalmente evitadas no depender da vontade humana.

Obviamente, diante do quadro atual não há como não atender as situações emergenciais, pois o passivo geotécnico é enorme, mas é preciso “virar o jogo”, voltando à carga nas ações preventivas de planejamento, com o que evitaríamos que novas situações de risco fossem criadas, estancando então a diabólica sucessão de erros e tragédias. O que na prática significaria a aplicação da única estratégia que o bom senso técnico e gerencial indicaria para a recuperação do controle técnico sobre o crescimento urbano: “parar de errar e corrigir o errado que já foi feito”.

O meio técnico brasileiro, especialmente seus geólogos, engenheiros geotécnicos, arquitetos, urbanistas, geógrafos, precisa se articular para essa indispensável correção de rumos.

Para uma devida e necessária uniformização conceitual, indispensável à boa discussão do tema, transcrevo a seguir uma proposta de definição conceitual para Carta Geotécnica e Carta de Risco.

A Carta Geotécnica traz informações sobre todas as feições geológicas e geomorfológicas de uma determinada região quanto ao seu comportamento geotécnico frente a um determinado tipo de ocupação. É essencialmente um ins-trumento de planejamento do uso do solo. As mais comuns são as CGs orientadas à ocupação urbana. Definem as zonas que não podem ser ocupadas de forma alguma e aquelas que podem ser ocupadas uma vez que sejam obedecidos os critérios técnicos estipulados pela própria Carta.

A Carta de Riscos delimita em uma área ou região as zonas ou os compartimentos submetidos a um determina-do tipo de risco (por exemplo, escorregamentos) frente a um determinado tipo de ocupação (por exemplo, urbana), definindo os diferentes graus de risco e as providências necessárias associadas a cada um desses graus. Geralmente é realizada para uma situação já com problemas detectados ou acontecidos e é mais comumente um instrumento de ações emergenciais de Defesa Civil e/ou reorganização da ocupação.

* Álvaro Rodrigues dos Santos é geólogo, consultor em geologia de

engenharia, geotecnia e meio ambiente, foi diretor do IPT, é o autor dos

livros: Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática, A Grande

Barreira da Serra do Mar, Cubatão e Diálogos Geológicos

E-mail: [email protected]

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05Aos colegas geotécnicos

brasileiros: precisamos nos libertar da armadilha da abordagem de risco

ergulhado em tensa lida com os recorrentes aconte-cimentos geológico-geotécnicos de mais uma tempo-rada chuvosa, estou tentando colocar sucintamente

no papel algumas reflexões que imagino talvez possam nos ajudar a melhor direcionar nossas atividades técnicas e sociais no contexto desses problemas.

Percebo que, com a melhor das intenções, acabamos por cair em uma armadilha tecnológica armada pela inconsequên-cia das administrações públicas no cumprimento de suas obrigações e atribuições de planejamento e ordenamento da expansão urbana. Inconsequência da qual resulta a in-controlável progressão do surgimento de áreas de risco e decorrentes acidentes e tragédias.

Especialmente a partir de meados da década de 1970, a geologia de engenharia e a engenharia geotécnica brasilei-ras, no contexto conceitual de uma “abordagem preventiva”, iniciaram a produção de um excelente ferramental técnico para as ações de planejamento e regramento técnico do uso do solo, sob a ótica geológica e geotécnica. A Carta Geotécnica se destaca entre essas ferramentas de caráter preventivo e de planejamento. Ela proveria aos adminis-tradores públicos as informações necessárias a não ocupar áreas de alta potencialidade natural a eventos geotécnicos potencialmente destrutivos e a util izar as técnicas mais adequadas para a ocupação de outras áreas naturalmente menos problemáticas.

No entanto, com a aversão que a administração pública brasileiras vem demonstrando à cultura da prevenção e do planejamento urbano, e com a decorrente multiplicação das situações de risco já instalado, os geotécnicos brasileiros foram progressivamente migrando para uma “abordagem corretiva/emergencial de Defesa Civil”. Surgiram assim as Cartas de Risco, os Programas de Defesa Civi l , as ações emergenciais de retirada de moradores e instalações em risco, sistemas de monitoramento de escorregamentos, novas alternativas em obras de contenção etc.

Essa abordagem de risco tem atendido melhor nossos administradores e políticos, em sua grande maioria sempre muito mais propensos a “torcer para que nada aconteça” e a culpar chuvas, geologia, população ou Deus pelas desgraças eventualmente acontecidas.

ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS*

M

Se a abordagem de r isco se impõe como pr ior i tár ia aos países onde o risco geológico é totalmente natural , vulcanismo, terremotos, tsunamis etc., ou seja, independe da vontade humana, em nosso caso, as situações de risco (escorregamentos, enchentes, erosões) são associadas a intervenções humanas no meio físico-geológico, podendo, portanto, ser mitigadas ou totalmente evitadas no depender da vontade humana.

Obviamente, diante do quadro atual não há como não atender as situações emergenciais, pois o passivo geotécnico é enorme, mas é preciso “virar o jogo”, voltando à carga nas ações preventivas de planejamento, com o que evitaríamos que novas situações de risco fossem criadas, estancando então a diabólica sucessão de erros e tragédias. O que na prática significaria a aplicação da única estratégia que o bom senso técnico e gerencial indicaria para a recuperação do controle técnico sobre o crescimento urbano: “parar de errar e corrigir o errado que já foi feito”.

O meio técnico brasileiro, especialmente seus geólogos, engenheiros geotécnicos, arquitetos, urbanistas, geógrafos, precisa se articular para essa indispensável correção de rumos.

Para uma devida e necessária uniformização conceitual, indispensável à boa discussão do tema, transcrevo a seguir uma proposta de definição conceitual para Carta Geotécnica e Carta de Risco.

A Carta Geotécnica traz informações sobre todas as feições geológicas e geomorfológicas de uma determinada região quanto ao seu comportamento geotécnico frente a um determinado tipo de ocupação. É essencialmente um ins-trumento de planejamento do uso do solo. As mais comuns são as CGs orientadas à ocupação urbana. Definem as zonas que não podem ser ocupadas de forma alguma e aquelas que podem ser ocupadas uma vez que sejam obedecidos os critérios técnicos estipulados pela própria Carta.

A Carta de Riscos delimita em uma área ou região as zonas ou os compartimentos submetidos a um determina-do tipo de risco (por exemplo, escorregamentos) frente a um determinado tipo de ocupação (por exemplo, urbana), definindo os diferentes graus de risco e as providências necessárias associadas a cada um desses graus. Geralmente é realizada para uma situação já com problemas detectados ou acontecidos e é mais comumente um instrumento de ações emergenciais de Defesa Civil e/ou reorganização da ocupação.

* Álvaro Rodrigues dos Santos é geólogo, consultor em geologia de

engenharia, geotecnia e meio ambiente, foi diretor do IPT, é o autor dos

livros: Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática, A Grande

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LeitorA eterna luta da área deTecnologia da Informação

cada vez mais disseminada a ideia de que a Tecnologia da Informação (TI) pode trazer grandes ganhos para as empresas. Nunca a TI esteve tão presente em nossas vidas.

É simplesmente inimaginável pensar no cotidiano profissional ou pessoal sem se valer de computadores (sejam desktops ou notebooks), smartphones, tablets, todos devidamente conectados à Web. Com isto alguém pode imaginar que a tarefa dos profissionais de TI seja mais simples ou mesmo mais fácil do que foi no passado: ledo engano! As expectativas quanto aos resultados a serem obtidos pelas aplicações de TI cresceram pelo menos na mesma velocidade dos avanços tecno-lógicos. E mais: os usuários hoje têm um conhecimento muito maior da TI, até porque ela está presente na vida pessoal de cada um deles.

Isto implica em que a área de TI (e, é claro, seus gestores) tenha que ficar constantemente alerta e pronta para agir. Para ilustrar isto, vamos recorrer novamente a analogias com fatos históricos e com a estratégia militar.

Há mais que 2 000 anos, Aníbal (um brilhante general cartaginês) e seu bem treinado exército (do qual a maioria das pessoas lembra pelo uso dos elefantes) impingiram aos romanos uma imensa derrota na batalha de Canas, que até hoje é estudada nas academias militares. Não somente venceu como praticamente eliminou o exército inimi-go. Depois disto, acreditava Aníbal, aos romanos somente restaria a rendição nos seus termos, pois a sua esmagadora vitória faria com que a vontade de lutar de Roma desaparecesse e também que os aliados dos romanos passassem para o seu lado.

Para a surpresa de Aníbal, os romanos redobraram seus esforços, re-crutaram novos soldados e se imbuíram de imensa determinação, além de demonstrar a seus aliados que não deixariam de fazer nenhum sacrifício para vencer e honrar suas alianças. Com isto, seus aliados continuaram fiéis

FERNANDO JOSÉ BARBIN LAURINDO*

É

e Roma reconstruiu seu exército, sob novas lideranças e remodelando sua forma de lutar. Alguns anos depois, sob o comando de Cipião, um general não somente inteligente e capaz, mas também estudioso das táticas e estratégias de Aníbal, o exército romano derrotou o grande comandante cartaginês em uma batalha decisiva, vencendo a guerra para Roma.

Que lição tirar disto? É óbvio que não existe (e nem deve existir) guerra entre a área de TI e seus usuários, mas a luta está sempre presente. Por vezes, ao final de uma longa e difícil implantação de uma nova aplicação de TI, na qual os prazos e os custos estiveram dentro do previsto e todo o processo tenha transcorrido bem, a área de TI acredita que a luta terminou. O reconhecimento geral de um projeto bem sucedido faria com que a área de TI fosse tratada de outra forma e somente restaria aos usuários aplaudir tanta eficiência. Isto pode acontecer durante certo tempo, mas a luta não para e se os executivos da TI não permanecerem atentos, o sucesso pode ser rapidamente esquecido. Novas exigências inevitavelmente surgirão e a área de TI deve estar apta para dar respostas eficientes e eficazes.

Portanto, não basta vencer uma batalha, por mais grandiosa que seja a vitória: é preciso focar em vencer a guerra. Em outras palavras, não é suficiente ser eficiente na implantação de um projeto de uma aplicação de TI: é necessária uma postura de constante busca por eficácia no uso da TI, em alinhamento com a estratégia de negócios da empresa. E como as exigências têm sido cada vez maiores, os pro-fissionais de TI têm que estar de prontidão para dar sua contribuição para o sucesso da empresa.

Esta postura da área de TI, não somente atendendo às demandas dos usuários, mas também apresentando alternativas para a estratégia da empresa, se mantida ao longo do tempo, é que permite uma boa relação com os executivos do negócio e a obtenção de resultados que possam de fato fazer a diferença para vencer a cada vez mais acirrada competição no mercado.

* Fernando José Barbin Laurindo é professor doutor da Fundação Vanzolini (www.

vanzolini.org.br), entidade gerida por professores do Departamento de Engenharia

de Produção da Poli/USP

E-mail: [email protected]

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LeitorA eterna luta da área deTecnologia da Informação

cada vez mais disseminada a ideia de que a Tecnologia da Informação (TI) pode trazer grandes ganhos para as empresas. Nunca a TI esteve tão presente em nossas vidas.

É simplesmente inimaginável pensar no cotidiano profissional ou pessoal sem se valer de computadores (sejam desktops ou notebooks), smartphones, tablets, todos devidamente conectados à Web. Com isto alguém pode imaginar que a tarefa dos profissionais de TI seja mais simples ou mesmo mais fácil do que foi no passado: ledo engano! As expectativas quanto aos resultados a serem obtidos pelas aplicações de TI cresceram pelo menos na mesma velocidade dos avanços tecno-lógicos. E mais: os usuários hoje têm um conhecimento muito maior da TI, até porque ela está presente na vida pessoal de cada um deles.

Isto implica em que a área de TI (e, é claro, seus gestores) tenha que ficar constantemente alerta e pronta para agir. Para ilustrar isto, vamos recorrer novamente a analogias com fatos históricos e com a estratégia militar.

Há mais que 2 000 anos, Aníbal (um brilhante general cartaginês) e seu bem treinado exército (do qual a maioria das pessoas lembra pelo uso dos elefantes) impingiram aos romanos uma imensa derrota na batalha de Canas, que até hoje é estudada nas academias militares. Não somente venceu como praticamente eliminou o exército inimi-go. Depois disto, acreditava Aníbal, aos romanos somente restaria a rendição nos seus termos, pois a sua esmagadora vitória faria com que a vontade de lutar de Roma desaparecesse e também que os aliados dos romanos passassem para o seu lado.

Para a surpresa de Aníbal, os romanos redobraram seus esforços, re-crutaram novos soldados e se imbuíram de imensa determinação, além de demonstrar a seus aliados que não deixariam de fazer nenhum sacrifício para vencer e honrar suas alianças. Com isto, seus aliados continuaram fiéis

FERNANDO JOSÉ BARBIN LAURINDO*

É

e Roma reconstruiu seu exército, sob novas lideranças e remodelando sua forma de lutar. Alguns anos depois, sob o comando de Cipião, um general não somente inteligente e capaz, mas também estudioso das táticas e estratégias de Aníbal, o exército romano derrotou o grande comandante cartaginês em uma batalha decisiva, vencendo a guerra para Roma.

Que lição tirar disto? É óbvio que não existe (e nem deve existir) guerra entre a área de TI e seus usuários, mas a luta está sempre presente. Por vezes, ao final de uma longa e difícil implantação de uma nova aplicação de TI, na qual os prazos e os custos estiveram dentro do previsto e todo o processo tenha transcorrido bem, a área de TI acredita que a luta terminou. O reconhecimento geral de um projeto bem sucedido faria com que a área de TI fosse tratada de outra forma e somente restaria aos usuários aplaudir tanta eficiência. Isto pode acontecer durante certo tempo, mas a luta não para e se os executivos da TI não permanecerem atentos, o sucesso pode ser rapidamente esquecido. Novas exigências inevitavelmente surgirão e a área de TI deve estar apta para dar respostas eficientes e eficazes.

Portanto, não basta vencer uma batalha, por mais grandiosa que seja a vitória: é preciso focar em vencer a guerra. Em outras palavras, não é suficiente ser eficiente na implantação de um projeto de uma aplicação de TI: é necessária uma postura de constante busca por eficácia no uso da TI, em alinhamento com a estratégia de negócios da empresa. E como as exigências têm sido cada vez maiores, os pro-fissionais de TI têm que estar de prontidão para dar sua contribuição para o sucesso da empresa.

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* Fernando José Barbin Laurindo é professor doutor da Fundação Vanzolini (www.

vanzolini.org.br), entidade gerida por professores do Departamento de Engenharia

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É vantajoso ser membro do Instituto de Engenharia. Você tem acesso a cursos e palestras especializadas, restaurante e biblioteca na sede, convênios de descontos com prestadores de serviços e empresas, Jornal do Instituto de Engenharia e a REVISTA ENGENHARIA gratuita pelo correio e um clube de campo cinematográfico com diversas modalidades de esportes e lazer. Se desejar conhecer o Clube, entre em contato com nossa secretaria.

É importante que você, engenheiro ou estudante de engenharia, participe do Instituto de Engenharia, o principal representante da Engenharia na Sociedade Civil. O Instituto de Engenharia está empenhado em responder às questões mais importantes que o desafio da globalização impõe ao País. Associado ao Instituto de Engenharia, você contribuirá com este processo e, ao mesmo tempo, estará se atualizando e crescendo profissionalmente junto com uma entidade de vanguarda. Juntos podemos conquistar para a classe mais espaço e valorização profissional. O Instituto de Engenharia é a casa do engenheiro e precisa de você.

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(*) Favor assinalar o endereço para correspondência

ASS0CIE-SE AOINSTITUTO DE ENGENHARIA

Uma entidade que desde 1916 luta pela valorização da engenharia e dos engenheiros

Recorte aqui

Reco

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Cidade: UF: CEP:

Tel.: Fax: E-mail:

Cidade: UF: CEP:

Tel.: Fax: E-mail:

Categorias de Associados

*Nos primeiros 6 meses R$ 42,45Individual Capital/Grande S. Paulo...

DT O EU T EIT NS GNI E NO H

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066

Individual - outros municípios...........

R$ 70,00*/mês

R$ 35,00/mês

Estudante Capital/Grande S.Paulo...

Estudante de outros municípios......

R$ 24,00/ano

R$ 12,00/ano Recém-formados - outros municípios............

Recém-formados - Capital/Grande S. Paulo... R$ 17,50/mês

R$ 8,75/mês

Autorizo a inclusão de meu nome no quadrode associados do Instituto de Engenharia.

assinatura

Recém-formado

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SELO

Dobre aqui

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Dobre aqui e cole no verso

Remetente:

Endereço:

Ao

Instituto de EngenhariaAv. Dr. Dante Pazzanese, 120São Paulo - SP04012 180

ASS0CIE-SE AOINSTITUTO DE ENGENHARIA

Instituto de Engenharia

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CATERPILLAR

DIESEL-ELÉTRICOSTERÃO PRODUÇÃO NACIONALA Caterpillar produzirá brevemente, no Brasil, grupos geradores e sistemas de propulsão diesel-elétricos para atender os clientes nos segmentos marítimo e de petróleo. As operações para a fabricação da série 3500C serão iniciadas no terceiro trimestre deste ano, na fábrica da Caterpillar em Piracicaba (SP). A decisão de expandir

VOLVO CAMINHÕES

UMA OPÇÃO PARA O SEGMENTO DE CONSTRUÇÃOA Volvo tem uma excelente opção para o setor de construção civil: o VM semipesado, um caminhão com motor de 260 cv e configuração de eixos, que pode ser implementado com caçamba para desempenhar uma infinidade de trabalhos. Este veículo foi exibido na Construnorte 2011 (Feira da Construção Civil do Norte), realizada e maio passado em Manaus (AM). Com um consumo de combustível até 10%

inferior aos outros veículos existentes no mercado, o VM é um veículo muito robusto para poder suportar e resistir ao trabalho diuturno de muitas operações da área de construção. Mas, ao mesmo tempo, possui uma cabine confortável, ergonomicamente projetada, com comandos ao alcance da mão do motorista.

VOLVO CAMINHÕES

UMA OPÇÃO PARA O SEGMENTO DE CONSTRUÇÃO

a oferta de produtos fab r i cados no B ras i l baseia-se na estratégia corporativa global da empresa, que prevê um crescimento de longo prazo no país. Esses grupos geradores e sistemas de propulsão diesel-elétricos terão alto índice de nacionalização.

SECOVI-SP

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA HOMENAGEIA ENTIDADEO Secovi-SP (Sindicato da Habitação) foi homenageado por seus 65 anos de atuação, em cerimônia real izada na Assembleia Legislativa de São Paulo em junho passado . A Univers idade Secov i , que já espec ia l i zou 14 000 profissionais, também foi lembrada por seus 10 anos de trabalho educacional. O presidente da Assembleia, deputado estadual Barros Munhoz, destacou que o principal motivo da homenagem ao Secov i -SP é re s sa l ta r sua a tuação “ m o d e l a r e e x e m p l a r ” n a á r e a imobi l iár ia em benef íc io de toda a sociedade.

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Líder na produção de aços longos nas Américas e uma das maiores fornecedoras de aços especiais do mundo, a Gerdau comemorou, em 17 de maio passado, 110 anos de existência, ocupando, atualmente, a posição de líder na produção de aços longos nas Américas e de uma das maiores fornecedoras de aços especiais do mundo. Naquela data a companhia celebrou com seus 45 000 colaboradores, em seus respectivos países, uma trajetória de sucesso, focada na qualidade de seus produtos e

GERDAU

CENTO E DEZ ANOS DE SUCESSO

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Sserviços e na excelência dos processos de gestão. A história da Gerdau teve início em 1901 com uma pequena fábrica de pregos em Porto Alegre (RS), chamada “Pontas de Paris”. Hoje o grupo possui operações industriais em 14 países – nas Américas, Europa e Ásia –, com capacidade instalada superior a 25 milhões de toneladas de aço por ano. A Gerdau também é a maior recicladora da América Latina e, no mundo, transforma, anualmente, milhões de toneladas de sucata em aço.

A Randon Veículos disponibilizou uma linha de crédito via crédito direto ao consumidor (CDC), para a aquisição de retroescavadeiras. A transação é realizada através do Banco Randon com taxa de 1,2% ao mês e o prazo para o parcelamento em até 36 meses. Para aquisição via essa modalidade o cliente deverá efetuar uma entrada mínima de 15% do valor do equipamento. A parceria inédita reflete a sinergia entre a fábrica e o Banco Randon, lançado em 2010 como uma instituição financeira que atua no mercado nacional e no desenvolvimento de produtos e serviços financeiros sintonizados com os negócios das empresas Randon. As retroescavadeiras apresentam benefícios como um sistema hidráulico que proporciona a precisão na escavação, ciclos mais rápidos com economia de combustível, utilização de componentes nacionais que facilitam a reposição de peças e proporcionam baixo consumo de combustível.

RANDON VEÍCULOS

CRÉDITO PARA AQUISIÇÃO DE RETROESCAVADEIRAS

U m a f o r t e t e n d ê n c i a n o s e t o r d a cons t rução c i v i l é a u t i l i z ação de equipamentos que possam agregar funções. E para suprir esta tendência a Atlas Copco desenvolveu os compressores de ar XA(T)S 127-157 PdG, com gerador integrado de 12 kVA monofásico. Os compre s so re s XA ( T )S 127-157 são indicados para ambientes de trabalho pesado, como canteiros de obras e outras aplicações que exijam ar comprimido e energ ia e lét r ica monofás ica com mobilidade e economia. Junto a ele há um gerador integrado de 12 kVA. Os produtos também são indicados para manutenção de rodovias, integrando suas funções usuais e alimentando os equipamentos destinados para esse fim. O princípio é simples: a mesma potência do motor gera ar comprimido e eletricidade, podendo ser utilizada nos mais diversos equipamentos, entre eles ferramentas, máquinas de solda de pequeno porte, bombas d’água e iluminação na obra e escritórios.

ATLAS COPCO

AGREGANDO FUNÇÕES

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Depois de ter apresentado nove lançamentos simultâneos no final de 2007, ampliando expressivamente sua oferta de máquinas no Brasil, a New Holland lança agora 14 novos produtos, com um investimento de 100 milhões de reais para renovar e evoluir, linhas de retroescavadeiras, motoniveladoras, minicarregadeiras e tratores de esteira. São 32 modelos em cinco anos, oferecidos pela marca, que recentemente completou 60 anos de Brasil. Para chegar aos novos modelos, a New Holland promoveu uma série de estudos e testes no Brasil e em várias partes do mundo. Entre os que mais passaram pelos campos de provas estão as novas minicarregadeiras, que foram totalmente reformuladas, entre as quais estão: L213, L215, L218, L220, L223, L225 e L230.

NEW HOLLAND

OFERTA AMPLIADA

Apresentado na última edição da Fenatran – Salão Internacional do Transporte – e agraciado com o prêmio “Destaque Tecnológico” do Congresso da SAE Brasil de 2009, o Daily Elétrico, veículo desenvolvido pela Iveco e pela Itaipu Binacional, foi uma das principais atrações do Primeiro Seminário sobre Tecnologias para Veículos Elétricos, o TEC-VE 2011, realizado em junho passado em Brasília. Promovido pela Associação Brasileira de Veículos Elétricos

IVECO – ITAIPU BINACIONAL

O PRIMEIRO CAMINHÃO MOVIDO A ENERGIA 100% RENOVÁVEL

(ABVE) e pelo Instituto Besc de Humanidades e Economia, o principal objetivo do encontro foi discutir alternativas para a viabilização dos veículos elétricos no país e abrir um amplo debate entre sociedade, governo e empresas para sua ampla utilização. Exemplos de países como Estados Unidos, França e Japão, que já investem maciçamente nesta energia 100% renovável, foram apresentados.

A concessionária Rota das Bandeiras acabou de concluir um projeto para implantação de 1 107 novas placas em todo o Corredor Dom Pedro, sendo 86 placas aéreas e outras 1 021 placas de solo. O número é significativo e corresponde a 19,3% das 5 723 placas existentes em todo o corredor. Do total de placas implantadas, 90% se referem à substituição daquelas que haviam perdido sua retrorrefletância devido ao desgaste natural pela ação do tempo. Com os novos dispositivos, a informação oferecida aos usuários torna-se ainda mais clara, especialmente quando a viagem é feita sob chuva, neblina ou à noite.

ROTA DAS BANDEIRAS

REFORÇO DA SINALIZAÇÃO NO CORREDOR DOM PEDRO

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A Case Construction Equipment lança no Brasil a nova linha de motoniveladoras série B, modelos 845B, 865B e 885B. As máquinas são fabricadas no Brasil, maior produtor de motoniveladoras da marca no mundo, para abastecer o mercado interno, América Latina, América do Norte e Ásia. O projeto teve investimento de aproximadamente 3,5 milhões de dólares e levou 24 meses para ser desenvolvido.

CASE

MOTONIVELADORASMAIS EFICIENTES

As principais aplicações das motoniveladoras estão nas obras de infraestrutura, como estradas, barragens de usinas hidrelétricas, pistas de aeroportos, agronegócio, entre outros. Segundo a Case, a série B foi desenvolvida para oferecer maior eficiência em campo. A cabine tem novo design, com maior ergonomia, garantindo mais visibilidade e possibilidades de controle ao operador.

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JCB

LUCROS SÓLIDOSA JCB, fabricante de manipuladores telescópicos e retroescavadeiras, comemorou seu 65º aniversário em junho passado, com milhares de funcionários ao redor do mundo. A data também marca a forte recuperação da recessão mais profunda pela qual passou a indústria global de equipamentos de construção, e que agora volta a obter lucros robustos. Crescimento foi forte nos países que fazem parte do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e outras economias em desenvolvimento, mas em alguns mercados

mais tradicionais, como Reino Unido e Alemanha, o desempenho também foi satisfatório. A JCB continua a investir em fábricas e novos produtos neste ano, notadamente no Brasil e na Índia, com 13 lançamentos até o momento.

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Depois de ter apresentado nove lançamentos simultâneos no final de 2007, ampliando expressivamente sua oferta de máquinas no Brasil, a New Holland lança agora 14 novos produtos, com um investimento de 100 milhões de reais para renovar e evoluir, linhas de retroescavadeiras, motoniveladoras, minicarregadeiras e tratores de esteira. São 32 modelos em cinco anos, oferecidos pela marca, que recentemente completou 60 anos de Brasil. Para chegar aos novos modelos, a New Holland promoveu uma série de estudos e testes no Brasil e em várias partes do mundo. Entre os que mais passaram pelos campos de provas estão as novas minicarregadeiras, que foram totalmente reformuladas, entre as quais estão: L213, L215, L218, L220, L223, L225 e L230.

NEW HOLLAND

OFERTA AMPLIADA

Apresentado na última edição da Fenatran – Salão Internacional do Transporte – e agraciado com o prêmio “Destaque Tecnológico” do Congresso da SAE Brasil de 2009, o Daily Elétrico, veículo desenvolvido pela Iveco e pela Itaipu Binacional, foi uma das principais atrações do Primeiro Seminário sobre Tecnologias para Veículos Elétricos, o TEC-VE 2011, realizado em junho passado em Brasília. Promovido pela Associação Brasileira de Veículos Elétricos

IVECO – ITAIPU BINACIONAL

O PRIMEIRO CAMINHÃO MOVIDO A ENERGIA 100% RENOVÁVEL

(ABVE) e pelo Instituto Besc de Humanidades e Economia, o principal objetivo do encontro foi discutir alternativas para a viabilização dos veículos elétricos no país e abrir um amplo debate entre sociedade, governo e empresas para sua ampla utilização. Exemplos de países como Estados Unidos, França e Japão, que já investem maciçamente nesta energia 100% renovável, foram apresentados.

A concessionária Rota das Bandeiras acabou de concluir um projeto para implantação de 1 107 novas placas em todo o Corredor Dom Pedro, sendo 86 placas aéreas e outras 1 021 placas de solo. O número é significativo e corresponde a 19,3% das 5 723 placas existentes em todo o corredor. Do total de placas implantadas, 90% se referem à substituição daquelas que haviam perdido sua retrorrefletância devido ao desgaste natural pela ação do tempo. Com os novos dispositivos, a informação oferecida aos usuários torna-se ainda mais clara, especialmente quando a viagem é feita sob chuva, neblina ou à noite.

ROTA DAS BANDEIRAS

REFORÇO DA SINALIZAÇÃO NO CORREDOR DOM PEDRO

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A Case Construction Equipment lança no Brasil a nova linha de motoniveladoras série B, modelos 845B, 865B e 885B. As máquinas são fabricadas no Brasil, maior produtor de motoniveladoras da marca no mundo, para abastecer o mercado interno, América Latina, América do Norte e Ásia. O projeto teve investimento de aproximadamente 3,5 milhões de dólares e levou 24 meses para ser desenvolvido.

CASE

MOTONIVELADORASMAIS EFICIENTES

As principais aplicações das motoniveladoras estão nas obras de infraestrutura, como estradas, barragens de usinas hidrelétricas, pistas de aeroportos, agronegócio, entre outros. Segundo a Case, a série B foi desenvolvida para oferecer maior eficiência em campo. A cabine tem novo design, com maior ergonomia, garantindo mais visibilidade e possibilidades de controle ao operador.

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JCB

LUCROS SÓLIDOSA JCB, fabricante de manipuladores telescópicos e retroescavadeiras, comemorou seu 65º aniversário em junho passado, com milhares de funcionários ao redor do mundo. A data também marca a forte recuperação da recessão mais profunda pela qual passou a indústria global de equipamentos de construção, e que agora volta a obter lucros robustos. Crescimento foi forte nos países que fazem parte do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e outras economias em desenvolvimento, mas em alguns mercados

mais tradicionais, como Reino Unido e Alemanha, o desempenho também foi satisfatório. A JCB continua a investir em fábricas e novos produtos neste ano, notadamente no Brasil e na Índia, com 13 lançamentos até o momento.

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divisão de estruturascoordenador: Natan Jacobsohn Levental vice-coordenador: Lúcio Martins Laginha

secretário: Rafael Timerman

divisão de engenharia sanitáriacoordenador: João Jorge da Costa

vice-coordenador: Flávio Magalhães

divisão de geotecnia e mecânica dos soloscoordenador: Habib Georges Jarrouge Neto

divisão de segurança no trabalhocoordenador: Jefferson Deodoro Teixeira da Costa

vice-coordenadora: Priscila Thomazellisecretário: Marcos Abrão

divisão de geração e transmissãocoordenador: Sergio Anauate

divisão de construção sustentável e meio ambiente

divisão de cadastro urbano e rural coordenador: Régis Fernandes Bueno

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divisão de distribuição de energia

departamento de tecnologia e ciências exatasdiretor: Ricardo Kenzo Motomatsuvice-diretor: Jairo de Almeida Machado Jr.secretário: Antônio Carlos Gianoto

divisão téc. de gerenciamento de empreendimentoscoordenador: Guilherme Petrellavice-coordenador: Alvaro Antonio Bueno de Camargo

departamento de engenharia de produçãodiretor: Joaquim Manuel Branco Brazão Farinha

vice-diretor: Sérgio Luis Azevedo Rezendesecretário: Gerson Amaral Françoso

divisão técnica de qualidade e produtividadecoordenador: Guilherme Miragaia vice-coordenador: Carlos César Micalli Cantú

divisão técnica de avaliações e períciascoordenador: José Fikervice-coordenador: Eduardo Rottmansecretária: Miriana Pereira Marques

departamento de engenharia de energia e telecomunicaçõesdiretor: Miracyr Assis Marcato

divisão técnica de manutenção industrialcoordenador: Victor Manuel de A.S. de Vasconcelosvice-coordenador: Arnaldo Pinto Coelhosecretário: Fausto Santoro

divisão técnica de metalurgia e materiais coordenador: Ricardo Huch Ribeiro de Castrovice-coordenador: Jorge Kolososkisecretário: Fausto Santoro

departamento de engenharia de atividades industriaisdiretor: Antonio Maria Claret Reis de Andrade

vice-diretor: Luiz Carlos Martinezsecretário: Alberto Alécio Batista

diretoria da revista engenhariadiretor: Miguel Lotito Netto

secretário: Miracyr Assis Marcatoeditor da revista: Ricardo Pereira de Mello

departamento de arquiteturadiretor: Ricardo Martins Cocito

secretária: Milene Costa Facioli

departamento de engenharia de mobilidade e logísticadiretor: Vernon Richard Kohlvice-diretor: Ivan Metran Whately

divisão de logística

divisão de transportes metropolitanoscoordenador: Ivan Metran Whately

vice-coordenador: Francisco A. Noscang Christovam

divisão de trânsitocoordenador: Maria da Penha Pereira Nobre

divisão de telecomunicações

divisão de aplicações de energiacoordenador: Martin CrnugeljD

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divisão de instalações elétricas

departamento de engenharia de agro-negóciosdiretor: Péricles Romeu Mallozzi

divisão de engenharia de materiais

divisão de tecnologia da informação e comunicaçãocoordenador: João Octaviano Machado Neto

vice-coordenador: Paulo Bezerril Jr. secretário: Vagner Diniz

divisão de sistemas de transportes inteligentescoordenador: Laurindo Martins Junqueira Filho

vice-coordenador: Pedro Luiz Scarpimsecretário: José Moacir Ribeiro Júnior

divisão de pesquisavice-coordenador: Akio Sakurai

secretário: Ely Dirani

divisão de biomédicacoordenador: Luiz Carlos de Campos

secretário: Marcelo Lúcio da Silva

gerência de programaçãodiretor de programação: Fernando Bertoldi Corrêa

departamento de engenharia do habitat e infraestruturadiretor: Roberto Kochenvice-diretora: Dione Mari Moritasecretário: Habib Georges Jarrouge Neto

departamento de engenharia químicavice-diretora: Maria Olívia Argüeso Mengod

departamento de engenharia de agrimensuradiretor: Miguel Prietosecretário: Pedro Guidara Júnior

vice-presidente de atividades técnicas: RUI ARRUDA CAMARGO

presidente: ALUIZIO DE BARROS FAGUNDES

divisão de acústicaCoordenador: Schaia Akkerman

divisão de planejamento e engenharia econômicacoordenador: Alfredo Eugenio Birmanvice-coordenador: Carlos Pontessecretário: Péricles Romeu Mallozzi

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W W W.B R A S I L E N G E N H A R I A.CO M.B R

As normas técnicas brasileiras: pequenos detalhes fazem grandes diferenças

mente aceito como sendo 1 000 VCA.Comentário: tendo em vista a obrigato-riedade de cumprirmos a NR-10, a qual define como baixa tensão até 1 000 Vca e 1 500 Vcc, como justificar uma defini-ção “geralmente aceita”?

2) Na ausência de Normas IEC – Re-comenda-se que normas nacionais ou outras normas sejam seguidas” – encon-trado na NBR IEC 60079-14: 2006.Comentário: tendo em vista a disposição da NR-10, que “na ausência de norma nacional, as normas internacionais de-vem ser seguidas”, ou seja, a prioridade é dada à norma nacional, entendemos que este texto em norma ABNT afronta o disposto na NR-10, caracterizando uma não-conformidade de cunho legal.

3) Definição 3.13.1 da NBR IEC 61892-2: 2009 – Tensão extra-baixa de proteção (PELV – Protective Extra Low Voltage) sistema elétrico no qual a tensão não pode exceder os valores de tensão extra-baixa sob condições normais e sob con-dições de falta única, excluindo faltas à terra em outros circuitos elétricos.Comentário: esta definição está diferente da adotada pela NBR 5410, norma-refe-rência para instalações em baixa tensão. Segundo a NBR 5410, PELV trata-se de sistema de extrabaixa tensão que não é eletricamente separado da terra, mas que preenche, de modo equivalente, todos os requisitos de um SELV (a ocorrência de uma única falta não resulta em risco de arco elétrico).

4) Nota “a” da NBR IEC 61892-2: 2009 – A tensão nominal dos sistemas existentes em 220/380 V e 240/415 V deve transformar-se, futuramente, no valor recomendado de 230/400 V. Re-comenda-se que o período de transição

seja o menor possível e que não exceda o ano de 2003. Comentário: este exemplo foi extraído de uma norma emitida em 2009. Como seu texto pode “recomendar” que o período de transição “não exceda 2003”?

5) Nota 1 da NBR IEC 61892-2: 2009 – Recomenda-se que, em qualquer país, a razão entre duas tensões nominais ad-jacentes seja inferior a dois (nota refe-rente a uma tabela que apresenta faixas de tensões nominais para sistemas trifá-sicos).Comentário: a Norma ABNT é aplicável no Brasil, pois em princípio foi elaborada por brasileiros e para brasileiros. Como ela pode conter recomendações para “qualquer país”?

6) 9.3 da NBR IEC 60079-14: 2009 - Cabos – Cabos com malhas com baixa resistência à flexão (também conhecidos como cabos “superflexíveis”) não devem ser utilizados, a menos que instalados em eletrodutos.Comentário: não há esta denominação de cabos no Brasil. A especificação cor-reta de um cabo elétrico deve referenciar a norma que define suas características construtivas.

7) Anexo I2 da NBR IEC 60079-14: 2009 – Por outro lado, é razoável para o proprietário de uma estação de bom-beamento remota, pequena e bem segu-ra, acionar a bomba com um motor do “tipo zona 2”, mesmo em zona 1, se a quantidade total de gás disponível para a explosão for pequena e os riscos para a vida e para a propriedade decorrente de tal explosão puderem ser desconsi-derados.” Comentário: todos os profissionais que receberam treinamento em instalações

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s normas técnicas brasileiras são elabo-

radas por comissões cons-tituídas por representantes dos consu-midores, dos produtores e de entidades neutras. Ao ser elaborada uma norma técnica nacional, é fundamental que o texto descreva os requisitos mínimos para um produto ou serviço, atendendo de forma harmoniosa e consensual aos três grupos envolvidos. Ou seja, os re-quisitos devem atender às necessidades do consumidor, devem estar dentro da capacitação fabril do produtor e devem estabelecer para os laboratórios de en-saios os critérios que avaliarão a con-formidade.

Após a comissão ter concluído o tex-to da norma, há a etapa Consulta Na-cional, onde pessoas que não participam da comissão poderão examinar o texto e tecer os comentários, já que, apesar do cuidado, alguns erros tipográficos, ou mesmo técnicos, podem ter passado despercebidos. Estes comentários são posteriormente analisados pela comis-são, que decide pela inclusão dos mes-mos ou não. E finalmente o projeto de norma poderá ser considerado concluí-do e enviado para publicação pela As-sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Portanto, ao comprarmos uma nor-ma, devemos esperar receber um texto claro, coerente com os Regulamentos Técnicos, e que permita sua pronta apli-cação pelos profissionais responsáveis.

Mas, como devemos proceder ao nos depararmos com textos como os a se-guir, encontrados em normas ABNT?

1) Definição 3.18 da NBR IEC 61892-2: 2009 - baixa tensão – Conjunto de ní-veis de tensão utilizados para a distribui-ção elétrica e cujo limite superior é geral-

APor Estellito Rangel Júnior*

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divisão de estruturascoordenador: Natan Jacobsohn Levental vice-coordenador: Lúcio Martins Laginha

secretário: Rafael Timerman

divisão de engenharia sanitáriacoordenador: João Jorge da Costa

vice-coordenador: Flávio Magalhães

divisão de geotecnia e mecânica dos soloscoordenador: Habib Georges Jarrouge Neto

divisão de segurança no trabalhocoordenador: Jefferson Deodoro Teixeira da Costa

vice-coordenadora: Priscila Thomazellisecretário: Marcos Abrão

divisão de geração e transmissãocoordenador: Sergio Anauate

divisão de construção sustentável e meio ambiente

divisão de cadastro urbano e rural coordenador: Régis Fernandes Bueno

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divisão de distribuição de energia

departamento de tecnologia e ciências exatasdiretor: Ricardo Kenzo Motomatsuvice-diretor: Jairo de Almeida Machado Jr.secretário: Antônio Carlos Gianoto

divisão téc. de gerenciamento de empreendimentoscoordenador: Guilherme Petrellavice-coordenador: Alvaro Antonio Bueno de Camargo

departamento de engenharia de produçãodiretor: Joaquim Manuel Branco Brazão Farinha

vice-diretor: Sérgio Luis Azevedo Rezendesecretário: Gerson Amaral Françoso

divisão técnica de qualidade e produtividadecoordenador: Guilherme Miragaia vice-coordenador: Carlos César Micalli Cantú

divisão técnica de avaliações e períciascoordenador: José Fikervice-coordenador: Eduardo Rottmansecretária: Miriana Pereira Marques

departamento de engenharia de energia e telecomunicaçõesdiretor: Miracyr Assis Marcato

divisão técnica de manutenção industrialcoordenador: Victor Manuel de A.S. de Vasconcelosvice-coordenador: Arnaldo Pinto Coelhosecretário: Fausto Santoro

divisão técnica de metalurgia e materiais coordenador: Ricardo Huch Ribeiro de Castrovice-coordenador: Jorge Kolososkisecretário: Fausto Santoro

departamento de engenharia de atividades industriaisdiretor: Antonio Maria Claret Reis de Andrade

vice-diretor: Luiz Carlos Martinezsecretário: Alberto Alécio Batista

diretoria da revista engenhariadiretor: Miguel Lotito Netto

secretário: Miracyr Assis Marcatoeditor da revista: Ricardo Pereira de Mello

departamento de arquiteturadiretor: Ricardo Martins Cocito

secretária: Milene Costa Facioli

departamento de engenharia de mobilidade e logísticadiretor: Vernon Richard Kohlvice-diretor: Ivan Metran Whately

divisão de logística

divisão de transportes metropolitanoscoordenador: Ivan Metran Whately

vice-coordenador: Francisco A. Noscang Christovam

divisão de trânsitocoordenador: Maria da Penha Pereira Nobre

divisão de telecomunicações

divisão de aplicações de energiacoordenador: Martin CrnugeljD

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divisão de instalações elétricas

departamento de engenharia de agro-negóciosdiretor: Péricles Romeu Mallozzi

divisão de engenharia de materiais

divisão de tecnologia da informação e comunicaçãocoordenador: João Octaviano Machado Neto

vice-coordenador: Paulo Bezerril Jr. secretário: Vagner Diniz

divisão de sistemas de transportes inteligentescoordenador: Laurindo Martins Junqueira Filho

vice-coordenador: Pedro Luiz Scarpimsecretário: José Moacir Ribeiro Júnior

divisão de pesquisavice-coordenador: Akio Sakurai

secretário: Ely Dirani

divisão de biomédicacoordenador: Luiz Carlos de Campos

secretário: Marcelo Lúcio da Silva

gerência de programaçãodiretor de programação: Fernando Bertoldi Corrêa

departamento de engenharia do habitat e infraestruturadiretor: Roberto Kochenvice-diretora: Dione Mari Moritasecretário: Habib Georges Jarrouge Neto

departamento de engenharia químicavice-diretora: Maria Olívia Argüeso Mengod

departamento de engenharia de agrimensuradiretor: Miguel Prietosecretário: Pedro Guidara Júnior

vice-presidente de atividades técnicas: RUI ARRUDA CAMARGO

presidente: ALUIZIO DE BARROS FAGUNDES

divisão de acústicaCoordenador: Schaia Akkerman

divisão de planejamento e engenharia econômicacoordenador: Alfredo Eugenio Birmanvice-coordenador: Carlos Pontessecretário: Péricles Romeu Mallozzi

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W W W.B R A S I L E N G E N H A R I A.CO M.B R

As normas técnicas brasileiras: pequenos detalhes fazem grandes diferenças

mente aceito como sendo 1 000 VCA.Comentário: tendo em vista a obrigato-riedade de cumprirmos a NR-10, a qual define como baixa tensão até 1 000 Vca e 1 500 Vcc, como justificar uma defini-ção “geralmente aceita”?

2) Na ausência de Normas IEC – Re-comenda-se que normas nacionais ou outras normas sejam seguidas” – encon-trado na NBR IEC 60079-14: 2006.Comentário: tendo em vista a disposição da NR-10, que “na ausência de norma nacional, as normas internacionais de-vem ser seguidas”, ou seja, a prioridade é dada à norma nacional, entendemos que este texto em norma ABNT afronta o disposto na NR-10, caracterizando uma não-conformidade de cunho legal.

3) Definição 3.13.1 da NBR IEC 61892-2: 2009 – Tensão extra-baixa de proteção (PELV – Protective Extra Low Voltage) sistema elétrico no qual a tensão não pode exceder os valores de tensão extra-baixa sob condições normais e sob con-dições de falta única, excluindo faltas à terra em outros circuitos elétricos.Comentário: esta definição está diferente da adotada pela NBR 5410, norma-refe-rência para instalações em baixa tensão. Segundo a NBR 5410, PELV trata-se de sistema de extrabaixa tensão que não é eletricamente separado da terra, mas que preenche, de modo equivalente, todos os requisitos de um SELV (a ocorrência de uma única falta não resulta em risco de arco elétrico).

4) Nota “a” da NBR IEC 61892-2: 2009 – A tensão nominal dos sistemas existentes em 220/380 V e 240/415 V deve transformar-se, futuramente, no valor recomendado de 230/400 V. Re-comenda-se que o período de transição

seja o menor possível e que não exceda o ano de 2003. Comentário: este exemplo foi extraído de uma norma emitida em 2009. Como seu texto pode “recomendar” que o período de transição “não exceda 2003”?

5) Nota 1 da NBR IEC 61892-2: 2009 – Recomenda-se que, em qualquer país, a razão entre duas tensões nominais ad-jacentes seja inferior a dois (nota refe-rente a uma tabela que apresenta faixas de tensões nominais para sistemas trifá-sicos).Comentário: a Norma ABNT é aplicável no Brasil, pois em princípio foi elaborada por brasileiros e para brasileiros. Como ela pode conter recomendações para “qualquer país”?

6) 9.3 da NBR IEC 60079-14: 2009 - Cabos – Cabos com malhas com baixa resistência à flexão (também conhecidos como cabos “superflexíveis”) não devem ser utilizados, a menos que instalados em eletrodutos.Comentário: não há esta denominação de cabos no Brasil. A especificação cor-reta de um cabo elétrico deve referenciar a norma que define suas características construtivas.

7) Anexo I2 da NBR IEC 60079-14: 2009 – Por outro lado, é razoável para o proprietário de uma estação de bom-beamento remota, pequena e bem segu-ra, acionar a bomba com um motor do “tipo zona 2”, mesmo em zona 1, se a quantidade total de gás disponível para a explosão for pequena e os riscos para a vida e para a propriedade decorrente de tal explosão puderem ser desconsi-derados.” Comentário: todos os profissionais que receberam treinamento em instalações

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s normas técnicas brasileiras são elabo-

radas por comissões cons-tituídas por representantes dos consu-midores, dos produtores e de entidades neutras. Ao ser elaborada uma norma técnica nacional, é fundamental que o texto descreva os requisitos mínimos para um produto ou serviço, atendendo de forma harmoniosa e consensual aos três grupos envolvidos. Ou seja, os re-quisitos devem atender às necessidades do consumidor, devem estar dentro da capacitação fabril do produtor e devem estabelecer para os laboratórios de en-saios os critérios que avaliarão a con-formidade.

Após a comissão ter concluído o tex-to da norma, há a etapa Consulta Na-cional, onde pessoas que não participam da comissão poderão examinar o texto e tecer os comentários, já que, apesar do cuidado, alguns erros tipográficos, ou mesmo técnicos, podem ter passado despercebidos. Estes comentários são posteriormente analisados pela comis-são, que decide pela inclusão dos mes-mos ou não. E finalmente o projeto de norma poderá ser considerado concluí-do e enviado para publicação pela As-sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Portanto, ao comprarmos uma nor-ma, devemos esperar receber um texto claro, coerente com os Regulamentos Técnicos, e que permita sua pronta apli-cação pelos profissionais responsáveis.

Mas, como devemos proceder ao nos depararmos com textos como os a se-guir, encontrados em normas ABNT?

1) Definição 3.18 da NBR IEC 61892-2: 2009 - baixa tensão – Conjunto de ní-veis de tensão utilizados para a distribui-ção elétrica e cujo limite superior é geral-

APor Estellito Rangel Júnior*

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em atmosferas potencial-mente explosivas sabem que existem equipamen-tos apenas aprovados para uso em zona 2 e outros aprovados para uso em zona 1. Como os requi-sitos para equipamentos destinados a zona 2 são menos rigorosos, eles não

* Estellito Rangel Júnior é engenheiro, instrutor de trei-

namento sobre NR-10, coordenador técnico do ESW Bra-

sil (evento do IEEE totalmente dedicado à segurança em

eletricidade), e auditor de instalações elétricas em áreas

classificadas

podem ser instalados em zona 1. Sur-preendentemente, porém, há um anexo em todas as normas ABNT relacionadas com instalações Ex com a orientação acima. Pelo texto, entende-se ser “razo-ável” instalar equipamentos inadequa-dos e consentir que haja uma explosão, se alguém achar (talvez usando uma “bola de cristal” ) que a explosão vai ser “pequenininha”. Cabe atentar que ex-plosões “pequenininhas” podem matar quem estiver efetuando manutenção ao lado do equipamento, ou causar um desastre ambiental pelo vazamento de produtos tóxicos no meio ambiente.

O princípio de projeto das instala-ções Ex é que a seleção de equipamen-tos elétricos deve ser tal que eles não se comportem como fontes de ignição. Como pode ser “razoável” colocar tal texto em todas as normas desta série, apesar dos diversos comentários contrá-rios recebidos pelas comissões na etapa de Consulta Nacional?

8) Consulta Nacional – Consta no site da ABNT que “durante a Consulta Nacio-nal, qualquer interessado pode se mani-festar, sem qualquer ônus, a fim de re-comendar à comissão de estudo autora a aprovação do texto como apresentado; a aprovação do texto com sugestões; ou sua não aprovação, devendo, para tal, apresentar as objeções técnicas que justifiquem sua manifestação. Sendo assim, é muito importante contarmos com a sua opinião sobre o conteúdo dos projetos em Consulta Nacional, para que possamos ter Normas Brasileiras que re-almente representem os interesses da sociedade, bem como possam ser plena-mente aplicadas e gerar todos os benefí-

cios inerentes à normalização. Participe, dando a sua contribuição – ela certa-mente ajudará na melhoria da qualidade de nossos documentos.”Comentário: segundo a IEC, se um proje-to receber 25% dos votos de contrários à publicação, o mesmo é considerado não aprovado, devendo ser reescrito e poste-riormente, reapresentado.

Porém consta que a Consulta Nacio-nal da NBR IEC 60074-14: 2009 recebeu 10 votos de reprovação e sete votos de aprovação. Apesar disto, a comissão en-caminhou o projeto para publicação.

ConclusõesNão temos espaço para apresentar

aqui todas as situações de conflito nas normas brasileiras, e trouxemos apenas alguns exemplos para ilustrar as conse-quências de uma política de tradução ao pé da letra de normas criadas lá fora, sob o equivocado argumento de que “apenas assim o país poderia efetuar a adoção de normas internacionais”. A adoção de normas internacionais prevê o reconhe-cimento de situações onde a legislação local deva ser atendida, conforme consta no ISO/IEC Guide 21-1.

A profusão de “notas de tradução” nas normas NBR IEC denota que o texto não foi fruto de um consenso sadio en-tre as partes visando o atendimento aos nossos Regulamentos Técnicos, mas sim-plesmente uma tradução ao pé da letra. Conforme definido nas Diretivas ABNT Parte 2, item 6.5.2, “notas” destinam-se apenas a complementar o texto, não podendo ser contrárias ao mesmo. Esta Diretiva ABNT está harmonizada com a ISO/IEC Directives Part 2, porém na prá-tica as “notas de tradução” são usadas para contrariar o texto da norma.

Percebemos, lamentavelmente, que há uma defesa da tese que se “uma norma internacional contiver um erro, a norma brasileira deverá manter este erro em seu texto, sendo feita uma notificação ao or-ganismo emissor para que ele efetue a correção”.

Tal diretriz significa que de nada adianta a experiência dos membros da

comissão: o erro será oficialmente inse-rido na norma brasileira sem questiona-mentos e assim repassado aos usuários da norma, enquanto ficamos na expec-tativa da IEC publicar uma errata. Quan-do vierem a publicar – se o fizerem – nós reconvocaríamos a comissão para então emitir a mesma errata em português. Mas, como ficam as obras executadas até então?

Portanto, trata-se de uma interpre-tação equivocada, pois nem a ISO/IEC Directives Part 2 está exigindo isto, nem a Organização Mundial do Comércio está exigindo isto, já que claramente é reco-nhecida a adoção “MOD” – conforme 4.3 do ISO Guide 21-1, onde temos sobera-nia para indicar na norma brasileira os desvios necessários para atendimento à nossa realidade.

Para a elaboração de uma norma ABNT, cabe à comissão analisar todo o texto da norma apontada como refe-rência, verificar a compatibilidade com nossos Regulamentos Técnicos, com nossa tecnologia, com nosso merca-do e apenas após, definir se o texto tomado como referência poderá ser adotado como uma norma brasileira IDT (idêntica) ou MOD (modificada) , conforme o ISO/IEC Guide 21-1, de for-ma a apresentar à sociedade um tex-to harmonizado e coerente com nossa realidade.

Textos traduzidos ao pé da letra, além de, por via de regra, conflitarem com nossos Regulamentos Técnicos (que são requisitos legais e devem ser obrigatoriamente incluídos na seção “Referências Normativas”, conforme estipulado nas Diretivas ABNT Parte 2, item 6.2.2) , confundem nossos profis-sionais e podem levar não só a situa-ções desagradáveis entre contratados e contratantes, como a situações de risco aos usuários.

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A utilização do georadar (GPR) comoferramenta de ensaio não destrutivo (END)

Isto significa que quanto mais alta a frequência da antena, maior a resolução do sinal, menor a profundidade investigada e mais compacta a antena. Isto viabiliza a aplicação em END (ensaio não destrutivo), com antenas de dimensões pequenas, que geram resultados de alta resolução alta, em profundidades rasas.

O objetivo principal deste levantamen-to geofísico foi identificar a manta de im-permeabilização do bloco teste, verifican-do dessa maneira também as espessuras moldadas do revestimento secundário. Este bloco foi construído com as mesmas especi-ficações do concreto que reveste o túnel das obras do metrô. Metodologia

O equipamento utilizado foi o IDSK2_TR1200, com antena de 1,2 GHz fabricada pela IDS (Ingegneria dei Sistemi, S.p.A.). É uma antena blindada, com as seguintes ca-racterísticas físicas: Comprimento = 0,13 m; largura = 0,12 m; altura = 0,08 m; peso = 1,60 kg; cabo de 15 m e roda métrica aco-plados.

Para digitalização dos dados, foi utili-zada uma unidade de controle DAD-IDS, e

para armazenamento e apresentação dos dados, foi utilizado um computador Pana-sonic modelo CF-18.

O equipamento GPR (Ground Penetra-ting Radar) é composto por quatro com-ponentes: antena transmissora, antena re-ceptora, unidade de controle e unidade de armazenamento e apresentação do dado.

Um pulso – onda – de energia eletro-magnética é irradiado para o interior do solo pela antena transmissora. Parte da energia desta onda é refletida de volta para a ante-na receptora sendo amplificada, digitalizada e registrada em um meio magnético digital para processamento e armazenamento dos dados, como mostra de forma esquemática a figura 4.

As linhas de aquisição foram posicio-nadas na lateral do bloco teste, de maneira que as ondas fossem emitidas na direção perpendicular à manta, obtendo assim var-redura no sentido da espessura mais delga-da para a mais espessa (figura 5).

ResultadosForam realizadas quatro linhas de aqui-

sição com a antena de 1,2 GHz, com apro-ximadamente 0,85 m de comprimento, para cada linha. As linhas foram espaçadas em 0,10m, a partir do topo em sentido à base do bloco, nas co-ordenadas locais de 0,10, 0,20, 0,30 e 0,40m.

Foi gerada uma seção (radargrama) para cada linha; as quatro seções apresentaram boa reso-lução, e a interface entre o concreto e a manta de impermeabilização foi claramente detectada, como apresentado no

GPR é um método ge-ofísico que utiliza a

propagação de ondas eletromagnéticas de alta frequência, variando de 10 MHz a 1 000 MHz (Annan, 1992). Quando a onda eletromagnética atinge a interface entre materiais geológicos com diferentes per-missividades dielétricas, parte da onda é refletida em direção a superfície e parte da onda é refratada (Davis & Annan, 1989). O sinal recebido é amplificado, gravado e processado. As aplicações do GPR para o mapeamento de estruturas geológicas, ar-queológicas, de tubulações, tanques e es-truturas enterradas, já estão consagradas. Porém, com a criação de novas tecnologias, novas antenas estão sendo testadas para a caracterização de estruturas em profundi-dades bastante rasas (até 0,50 m). Neste contexto, sua aplicação está voltada prin-cipalmente para a inspeção de estruturas e patologias do concreto. As frequências des-tas novas antenas variam entre 1,20 GHz a 2,00 GHz. A escolha da antena fica condi-cionada à relação apresentada na figura 1.

OPor Debora S. Carvalho* e Roberto Okabe**

(Para a localização da manta de impermeabilização e verificação da espessura do concreto num bloco teste)

Figura 2 - Apresenta o bloco com suas dimensões assinaladas

Figura 3 - Aquisição da linha: LAA10001

Figura 4 - O método eletromagnético(Carvalho, 2006, in Davis e Annan, 1989)

Figura 1

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A utilização do georadar (GPR) comoferramenta de ensaio não destrutivo (END)

Isto significa que quanto mais alta a frequência da antena, maior a resolução do sinal, menor a profundidade investigada e mais compacta a antena. Isto viabiliza a aplicação em END (ensaio não destrutivo), com antenas de dimensões pequenas, que geram resultados de alta resolução alta, em profundidades rasas.

O objetivo principal deste levantamen-to geofísico foi identificar a manta de im-permeabilização do bloco teste, verifican-do dessa maneira também as espessuras moldadas do revestimento secundário. Este bloco foi construído com as mesmas especi-ficações do concreto que reveste o túnel das obras do metrô. Metodologia

O equipamento utilizado foi o IDSK2_TR1200, com antena de 1,2 GHz fabricada pela IDS (Ingegneria dei Sistemi, S.p.A.). É uma antena blindada, com as seguintes ca-racterísticas físicas: Comprimento = 0,13 m; largura = 0,12 m; altura = 0,08 m; peso = 1,60 kg; cabo de 15 m e roda métrica aco-plados.

Para digitalização dos dados, foi utili-zada uma unidade de controle DAD-IDS, e

para armazenamento e apresentação dos dados, foi utilizado um computador Pana-sonic modelo CF-18.

O equipamento GPR (Ground Penetra-ting Radar) é composto por quatro com-ponentes: antena transmissora, antena re-ceptora, unidade de controle e unidade de armazenamento e apresentação do dado.

Um pulso – onda – de energia eletro-magnética é irradiado para o interior do solo pela antena transmissora. Parte da energia desta onda é refletida de volta para a ante-na receptora sendo amplificada, digitalizada e registrada em um meio magnético digital para processamento e armazenamento dos dados, como mostra de forma esquemática a figura 4.

As linhas de aquisição foram posicio-nadas na lateral do bloco teste, de maneira que as ondas fossem emitidas na direção perpendicular à manta, obtendo assim var-redura no sentido da espessura mais delga-da para a mais espessa (figura 5).

ResultadosForam realizadas quatro linhas de aqui-

sição com a antena de 1,2 GHz, com apro-ximadamente 0,85 m de comprimento, para cada linha. As linhas foram espaçadas em 0,10m, a partir do topo em sentido à base do bloco, nas co-ordenadas locais de 0,10, 0,20, 0,30 e 0,40m.

Foi gerada uma seção (radargrama) para cada linha; as quatro seções apresentaram boa reso-lução, e a interface entre o concreto e a manta de impermeabilização foi claramente detectada, como apresentado no

GPR é um método ge-ofísico que utiliza a

propagação de ondas eletromagnéticas de alta frequência, variando de 10 MHz a 1 000 MHz (Annan, 1992). Quando a onda eletromagnética atinge a interface entre materiais geológicos com diferentes per-missividades dielétricas, parte da onda é refletida em direção a superfície e parte da onda é refratada (Davis & Annan, 1989). O sinal recebido é amplificado, gravado e processado. As aplicações do GPR para o mapeamento de estruturas geológicas, ar-queológicas, de tubulações, tanques e es-truturas enterradas, já estão consagradas. Porém, com a criação de novas tecnologias, novas antenas estão sendo testadas para a caracterização de estruturas em profundi-dades bastante rasas (até 0,50 m). Neste contexto, sua aplicação está voltada prin-cipalmente para a inspeção de estruturas e patologias do concreto. As frequências des-tas novas antenas variam entre 1,20 GHz a 2,00 GHz. A escolha da antena fica condi-cionada à relação apresentada na figura 1.

OPor Debora S. Carvalho* e Roberto Okabe**

(Para a localização da manta de impermeabilização e verificação da espessura do concreto num bloco teste)

Figura 2 - Apresenta o bloco com suas dimensões assinaladas

Figura 3 - Aquisição da linha: LAA10001

Figura 4 - O método eletromagnético(Carvalho, 2006, in Davis e Annan, 1989)

Figura 1

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radargrama LAA10001, na figura 6.

No radargrama proces-sado digitalmente, foi feita uma interpretação geofísica, onde foi possível verificar a proximidade das medidas encontradas no radargrama e a figura esquemática do bloco. Para o revestimento secundário, na porção mais

delgada do radargrama encontramos es-pessura entre 0,09m e 0,11m; e na porção mais espessa, encontramos espessura entre 0,33m e 0,35m. Foi determinada uma me-dida central, com espessura entre 0,21m e 0,23m.

O levantamento realizado neste bloco teste proporcionou a obtenção do intervalo de velocidade de propagação da onda eletro-magnética para a especificação deste con-creto: V = 0,11 a 0,12 m/ns.

Sua aplicação não apresentou riscos aos operadores e aos colaboradores em trânsito,

próximos ao local do ensaio. O GPR, utilizado como método END, não

apresenta riscos de perfuração da manta de impermeabilização quando usado in loco.

ConclusõesO método geofísico GPR utilizado como

END pode ser utilizado para identificação da manta de impermeabilização e a espessura do concreto secundário. Sua aplicação in loco em obras de túneis para linhas de metrô pode se tornar uma ferramenta importante para agregar dados às auditorias internas e exter-nas. Sua aplicação pode evitar perfurações da manta de impermeabilização, bem como pode ser uma poderosa ferramenta para a verifica-ção e validação de cumprimento de projetos, bem como normas e especificações de espes-suras de segurança em obras e construções.

O método GPR utiliza a emissão ondas eletromagnéticas em frequências que não

Figura 5 - As linhas de aquisição o bloco de concreto

Figura 6 - Esquema do bloco e radargrama LAA10001 - Manta detectada com destaque em azul

acarretam riscos à saúde do colaborador.

Referências Bibliográficas[1] ANNAN, A.P. - Ground Penetrating Ra-dar – Workshop Note. Sensor and Software, Inc., Internal Report. 130 p. 1992.[2] CARVALHO, D.S. - Gestão de áreas contaminadas: detecção e mapeamento pelo uso de métodos geofísicos. São Pau-lo, 2006, 79 p. Dissertação (Mestrado em Sistemas Integrados de Gestão.). Centro Universitário SENAC.[3] DAVIS, J.L. & ANNAN, A.P. - Ground Penetrating radar for high resolution map-ping of soil and rock stratigraphy. Geo-physical Prospecting, v. 37, n.5, p. 531-551, 1989.

* Debora S. Carvalho é geofísica, MSc., consultora indepen-

dente

** Roberto Okabe é geólogo sênior da Sollum Geofísica Ltda.

E-mail: [email protected]

Transporte multimodal no Estado de São Paulotransporte de cargas é, no Brasil e par-ticularmente no Estado de São Paulo,

um dos obstáculos à competitividade bra-sileira no cenário internacional. Há anos se diz que a soja brasileira é, no campo, a mais barata do mundo e, no mercado externo, a mais cara. Tudo devido ao chamado custo Brasil, em que os transportes têm participa-ção relevante.

O pior é que aquilo que computamos como custo do transporte é, na verdade, apenas uma parte. Com efeito, os fretes

Por Adriano Murgel Branco*

O rodoviários calculados não levam em con-ta muitos fatores de custo, como o inves-timento feito nas rodovias (em algumas, pedagiadas, computa-se a conservação), e principalmente as chamadas “externa-lidades negativas”, como sejam os custos oriundos da poluição, do consumo excessi-vo de energia, dos acidentes etc.

Levando em conta esses fatores, de há muito se considera na Europa que a relação entre os custos de transporte na hidrovia, na ferrovia e na rodovia obedecem a re-

lação 1 : 2 : 5. Aqui no Brasil só agora se começa a perceber que o transporte rodo-viário sempre foi subsidiado, demandando orçamentos públicos descomunais.

Mais ainda, começa-se a perceber que não há como atender as demandas rodovi-árias ampliando espaços viários, elevando o peso e até a velocidade dos veículos, espe-cialmente nos grandes corredores e regiões metropolitanas.

No Brasil, os transportes rodoviários re-presentam 76% da matriz; em São Paulo

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radargrama LAA10001, na figura 6.

No radargrama proces-sado digitalmente, foi feita uma interpretação geofísica, onde foi possível verificar a proximidade das medidas encontradas no radargrama e a figura esquemática do bloco. Para o revestimento secundário, na porção mais

delgada do radargrama encontramos es-pessura entre 0,09m e 0,11m; e na porção mais espessa, encontramos espessura entre 0,33m e 0,35m. Foi determinada uma me-dida central, com espessura entre 0,21m e 0,23m.

O levantamento realizado neste bloco teste proporcionou a obtenção do intervalo de velocidade de propagação da onda eletro-magnética para a especificação deste con-creto: V = 0,11 a 0,12 m/ns.

Sua aplicação não apresentou riscos aos operadores e aos colaboradores em trânsito,

próximos ao local do ensaio. O GPR, utilizado como método END, não

apresenta riscos de perfuração da manta de impermeabilização quando usado in loco.

ConclusõesO método geofísico GPR utilizado como

END pode ser utilizado para identificação da manta de impermeabilização e a espessura do concreto secundário. Sua aplicação in loco em obras de túneis para linhas de metrô pode se tornar uma ferramenta importante para agregar dados às auditorias internas e exter-nas. Sua aplicação pode evitar perfurações da manta de impermeabilização, bem como pode ser uma poderosa ferramenta para a verifica-ção e validação de cumprimento de projetos, bem como normas e especificações de espes-suras de segurança em obras e construções.

O método GPR utiliza a emissão ondas eletromagnéticas em frequências que não

Figura 5 - As linhas de aquisição o bloco de concreto

Figura 6 - Esquema do bloco e radargrama LAA10001 - Manta detectada com destaque em azul

acarretam riscos à saúde do colaborador.

Referências Bibliográficas[1] ANNAN, A.P. - Ground Penetrating Ra-dar – Workshop Note. Sensor and Software, Inc., Internal Report. 130 p. 1992.[2] CARVALHO, D.S. - Gestão de áreas contaminadas: detecção e mapeamento pelo uso de métodos geofísicos. São Pau-lo, 2006, 79 p. Dissertação (Mestrado em Sistemas Integrados de Gestão.). Centro Universitário SENAC.[3] DAVIS, J.L. & ANNAN, A.P. - Ground Penetrating radar for high resolution map-ping of soil and rock stratigraphy. Geo-physical Prospecting, v. 37, n.5, p. 531-551, 1989.

* Debora S. Carvalho é geofísica, MSc., consultora indepen-

dente

** Roberto Okabe é geólogo sênior da Sollum Geofísica Ltda.

E-mail: [email protected]

Transporte multimodal no Estado de São Paulotransporte de cargas é, no Brasil e par-ticularmente no Estado de São Paulo,

um dos obstáculos à competitividade bra-sileira no cenário internacional. Há anos se diz que a soja brasileira é, no campo, a mais barata do mundo e, no mercado externo, a mais cara. Tudo devido ao chamado custo Brasil, em que os transportes têm participa-ção relevante.

O pior é que aquilo que computamos como custo do transporte é, na verdade, apenas uma parte. Com efeito, os fretes

Por Adriano Murgel Branco*

O rodoviários calculados não levam em con-ta muitos fatores de custo, como o inves-timento feito nas rodovias (em algumas, pedagiadas, computa-se a conservação), e principalmente as chamadas “externa-lidades negativas”, como sejam os custos oriundos da poluição, do consumo excessi-vo de energia, dos acidentes etc.

Levando em conta esses fatores, de há muito se considera na Europa que a relação entre os custos de transporte na hidrovia, na ferrovia e na rodovia obedecem a re-

lação 1 : 2 : 5. Aqui no Brasil só agora se começa a perceber que o transporte rodo-viário sempre foi subsidiado, demandando orçamentos públicos descomunais.

Mais ainda, começa-se a perceber que não há como atender as demandas rodovi-árias ampliando espaços viários, elevando o peso e até a velocidade dos veículos, espe-cialmente nos grandes corredores e regiões metropolitanas.

No Brasil, os transportes rodoviários re-presentam 76% da matriz; em São Paulo

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80%. Mas nos Estados Unidos, país da indústria automobilísti-ca e das rodovias, somente 38% das cargas viajam de caminhão.

A nossa palavra de ordem, portanto, deve ser a da “redis-tribuição modal”, ou seja, redu-zir a carga rodoviária através do maior aparelhamento das hidrovias e das ferrovias.

O Brasil tem cerca de 50 000 quilôme-tros de rios potencialmente navegáveis; São Paulo tem proporcionalmente muito menos. Mas, enquanto a tese do uso múltiplo das águas permeou as decisões governamentais do Estado desde 1940, do que resultou a Hidrovia Tietê-Paraná, com 2 400 quilôme-tros, a União criou obstáculos em seus rios navegáveis, como a Usina de Tucuruí, que bloqueou o Rio Tocantins, a Usina de Itaipu, bloqueando o próprio Rio Paraná e assim por diante. São Paulo também deslizou para esse caminho, interrompendo toda a possi-bilidade de navegação no Rio Paranapane-ma, por exemplo.

Mas de alguns anos para cá São Paulo está retomando com ênfase a navegação fluvial. No primeiro período governamental de Geraldo Alckmin, foi decidido revitalizar a Hidrovia Tietê-Paraná, começando pela remoção de alguns obstáculos (pilares de pontes, curvas acentuadas etc.) tendo como objetivo fazer crescer essa modalidade de transportes. Ao mesmo tempo, determi-

nou-se a realização de um Plano Estraté-gico Hidroviário, que abriu os horizontes do transporte fluvial. Uma das primeiras consequências foi o convênio feito com a Transpetro e a BR Distribuidora, para estudo do transporte de etanol por navegação.

Desse convênio resultou a decisão da Transpetro de seguir esse rumo, tendo ela já adotado medidas para a compra de 20 comboios, com 80 barcaças, para promo-ver a “quadruplicação” do transporte hoje realizado naquela hidrovia, assim como para a implantação de três importantes terminais de coleta e distribuição. Mas fi-cou visível, também, que o açúcar produzi-do pelas mesmas usinas de álcool poderia seguir igual caminho, até conchas, onde o álcool será transferido para dutos, para chegar ao mar, e o açúcar pode ser levado à ferrovia, para o transporte até o Porto de Santos.

Agora se lê no “Estadão” de 15/04/11 que os governos do Estado e da União de-cidiram realizar um conjunto de obras para aumentar a capacidade da Hidrovia Tietê-Paraná, abrigando inclusive o transporte de cargas que possam ser transferidas em Con-chas para a ferrovia, através da construção de um ramal de 15 quilômetros.

É a segunda etapa de uma visão que o próprio governador teve em seu primeiro governo. A ela, certamente seguirão ou-tras, previstas inclusive no Plano Estraté-gico Hidroviário, a começar pelo estudo

da viabilidade do transporte fluvial nos rios limítrofes do Estado, Rio Grande e Rio Paranapanema, que já têm grandes lagos, dependendo de instalar eclusas nas barra-gens. Mas também olhar para rios interio-res, como Mogi, Paraíba e Ribeira de Igua-pe, que já tiveram transporte fluvial para cargas e passageiros.

Dos entendimentos com a União devem resultar obras como as eclusas de Itaipu e São Simão, que darão ao Rio Paraná uma extensão navegável muito maior, cons-truindo uma hidrovia que pode ir de Goiás ao Rio da Prata, na direção da hidrovia de integração continental, sonhada por Fran-co Montoro.

Para provocar outras paragens, é inte-ressante lembrar que o transporte hidro-viário brasileiro representa 14% do total, na matriz de cargas. Para chegar a 30%, número compatível com a dimensão conti-nental do Brasil e com a imensidão de seus rios, são necessárias 205 intervenções, a um custo de 16 bilhões de reais. Em com-pensação, o retorno desse investimento se dará em ano e meio, através da redução dos custos dos transportes.

É preciso falar mais da necessidade e das possibilidades da “redistribuição modal” no Brasil?

* Adriano Murgel Branco é engenheiro consultor, diretor da

AMBranco Consultoria, associado do Instituto de Engenharia

E-mail: [email protected]

Engenharia na Autodeskm abril deste ano a REVISTA ENGENHA-RIA esteve em Walthan, Massachussets,

para acompanhar o lançamento da linha 2012 de um pacote de programas que promete me-lhorar ainda mais o desempenho das várias ta-refas que compõem um empreendimento e que os engenheiros têm que se desincumbir.

A Autodesk, empresa de software que desenvolveu essa linha de produtos, é a mes-ma produtora do conhecido AutoCAD sendo que a maioria desses produtos foi desenvol-vida a partir dessa plataforma.

O AutoCAD foi o software que revolucionou

Por Rui Arruda Camargo*

E a documentação do projeto, eliminou as pran-chetas e os desenhos tamanho “A zero” que eram feitos a lápis para após receberem o aca-bamento indelével em nanquim e ocupavam um espaço enorme nas antigas mapotecas.

Esse programa de computador eliminou as enormes pranchetas e minimizou o uso das mapotecas, pois seu armazenamento é feito por meio eletrônico, sem contar no ganho imenso de tempo na confecção de um desenho e levantamento das listas de materiais de um projeto de engenharia.

Em passado não muito distante, quando

essas facilidades ainda não estavam dis-poníveis, os engenheiros responsáveis por grandes obras, como as de infraestrutura, tinham grande dificuldade de coordenar todas as ações necessárias ao perfeito de-senrolar de sua implantação.

As dificuldades já se iniciavam na con-cepção do empreendimento, na elaboração de seu projeto, durante todas as fases da construção e finalmente as dificuldades continuavam na operação desse grande empreendimento. Quando falamos de em-preendimentos de infraestrutura referimo-

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* Rui Arruda Camargo é engenheiro consultor e vice-

presidente de Atividades Técnicas do Instituto de Engenharia

E-mail: [email protected]

nos a: estradas de rodagem, incluindo as obras de arte como viadutos e túneis; fer-rovias incluindo, além das obras de arte, pátios de ma-nobra e manutenção; aero-portos; metrô; e outras mais.

A construção de uma usi-na hidrelétrica, por exemplo, traz em seu bojo a construção

de uma barragem, o transporte e instalação de uma série de equipamentos de grande porte como as turbinas, geradores, subes-tação elétrica e linhas de transmissão. Sem contar com um enorme canteiro de obras para suprir as necessidades de armazena-mento de materiais e equipamentos, usina de concreto, oficinas de manutenção, aloja-mento de trabalhadores, cozinha industrial etc. E tudo isso instalado fora de centros urbanos sem qualquer infraestrutura.

Os projetos eram desenhados artesa-nalmente em grandes pranchetas que ocu-pavam um espaço enorme e demandavam muito tempo para serem executados. Os cálculos eram efetuados à base de réguas de cálculo e exigiam inúmeras operações e outras tantas verificações em fórmulas ma-temáticas complicadíssimas.

Os equipamentos necessários à execu-ção das obras existiam, porém não tão efi-cientes como os de hoje e o gerenciamento era feito à “unha” utilizando-se tabelas e gráficos enormes que eram atualizadas dia-riamente, consumindo horas de trabalho de vários empregados.

Alguns conflitos de obra geravam grandes prejuízos materiais, desgastes pessoais e con-sumiam tempo, pois era praticamente impos-sível prever todas as interferências, conflitos de projeto e outras adversidades decorrentes da maneira quase artesanal de produção que era impotente para prever tudo isso.

O uso de ferramentas informatizadas pro-duzidas pela Autodesk contribuiu para agiliza-ção dos grandes empreendimentos, pois atua em todas as suas fases desde a concepção do projeto, passando pelo seu detalhamento, sua construção e até sua operação.

Essa empresa também criou um sistema chamado BIM (Building Information Mode-ling), cuja tradução literal é Modelagem

da Informação da Construção e que tem a capacidade de integrar vários softwares compatíveis e que permite que a utilização dos dados armazena-dos em um dos sistemas seja também aproveitada por outros softwares em outra fase da implantação de um pro-jeto. Essa característica pode detectar interferências na obra bem como con-flitos de projeto. E ainda, na fase de projeto, prever consumos, produção e rendimento dos diversos sistemas que comporão todo o empreendimento.

É claro que para tudo isso ser vi-ável a operadora do empreendimento deverá se utilizar do mesmo banco de dados utilizados nas fases anteriores à operação.

A REVISTA ENGENHARIA, durante sua visita à Waltham numa das unidades da Au-todesk, conheceu alguns programas desti-nados a engenharia nos quais está incorpo-rada a Tecnologia BIM.AutoCAD Civil 3D – É um software desti-nado a engenheiros que trabalham em pro-jetos de corredores de tráfego, permitindo escolha de opções de projeto bem como permite a análise de seu desempenho atra-vés da visualização e análise.AutoCAD Structural Detailing - É um sistema construído sobre a plataforma Au-toCAD e que ajuda o engenheiro de estru-turas, detalhistas e fabricantes a elaborar desenhos com mais precisão de detalhes, sobretudo em parafusos, porcas e rebites.Autodesk Ravit Architecture - Este sis-tema é destinado a ajudar arquitetos tanto na concepção quanto nos desenhos de ar-quitetura. Esse sistema permite a análise de uso de energia o que pode gerar projetos autossustentáveis permitindo que seus usu-ários comparem o consumo de energia em soluções alternativas.Autodesk Ravit MEP - Foi concebido para auxiliar nos projetos dos sistemas elétricos, hidráulicos e mecânicos. Possui ferramen-tas de análise de consumo de energia o que permite tomada de decisões sobre susten-tabilidade nas primeiras fases do projeto. Possui ainda sistemas para projetos espe-ciais de tubulação e seus acessórios e tam-bém permite acessos remotos para consulta e edição de desenhos através da rede WAN

(Wide Area Network) com o uso de lap-top’s, i-pad’s ou até máquinas mais portá-teis como i-pod’s e i-phone’s.Autodesk Ravit Structure - Destinado a empresas de projetos de estruturas e pos-sui ferramentas para projetos específicos de estruturas e um módulo de análise de estru-turas. Permite também uma maior interação das equipes de arquitetura e de projetos. Autodesk Navisworks Manage - É um software de gerenciamento que atende aná-lise, simulação entre projeto e construção. Cria protótipos digitais para que soluções de projeto possam ser testadas através de um modelo integrado do projeto. Esse sistema conta com um gerenciador de interferências e com ferramentas de detecção de inconsistên-cias o que ajuda os profissionais de projeto e construção a antecipar e como consequência evitar problemas antes até do início das obras diminuindo os atrasos e retrabalhos.

A popularização do sistema BIM permi-tirá que seja também usado nos edifícios residenciais e comerciais o que permitirá conhecer com antecedência os gastos com energia elétrica, água e esgoto, podendo até escolher materiais e equipamentos que tenham relações melhores entre custo e benefício evitando gastos prematuros com bombas, lâmpadas e outros equipamentos.

Esses foram os principais produtos apresentados. Existem outros que, embora dirigidos à engenharia, não possuem a tec-nologia BIM.

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Kevin Thornton, vice-presidente sênior de vendas e marketing da Corel para as Américas

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AÇÃO-COREL

Corel ingressa no mercado desoftware de engenharia

vice-presidente sê-nior de vendas e marke-

ting da Corel para as Amé-ricas, Kevin Thornton, que busca ampliar negócios

no campo dos softwares de engenharia, veio recentemente ao Brasil para reforçar no país as estratégias de comercialização e distribuição do CorelCAD. Com isso, a canadense Corel ingressa no mercado de softwares de CAD (sigla para Computer Aided Design, ou desenho auxiliado por computador). Esses programas são usados por empresas de engenharia, empresas de manufatura e universidades para projetar produtos e construções em imagens em duas ou três dimensões. Hoje, os principais concorrentes nesse segmento são a Auto-desk e a Parametric Technology Corpora-tion (PTC), dos Estados Unidos, e a francesa Dassault Systèmes SolidWorks. Todas re-gistraram incremento superior a 25% nas vendas no ano passado.

Há oito anos na Corel, Kevin Thornton é atualmente responsável por vendas e marke-ting na região das Américas. Thornton possui experiência em gerenciamento de vendas em empresas como Coca-Cola e Sage Software. Na Corel, o executivo tem como foco princi-pal estratégias em vendas de software grá-fico, mídia digital e Office Productivity nos mercados de varejo, corporativo, acadêmico, OEM e canais diretos.

Em entrevista à REVISTA ENGENHARIA, Thornton abordou temas como o potencial dos mercados de varejo, corporativo e aca-dêmico de software gráfico, midia digital e Office Productivity no Brasil e América Latina. “O potencial é extremamente encorajador. A América Latina é estratégica para a Corel e estamos realizando investimentos para que nossos clientes tenham cada vez mais acesso às nossas soluções.”— Quantos usuários ativos de softwares da Corel existem no Brasil?

“Não podemos divulgar números. Porém, o Brasil está entre os 10 principais mercados.

Temos uma base sólida de clientes ativos.

— Quais as principais marcas de software que a Corel tem no seu por-tfólio e quais são mais procuradas no Brasil?

“A Corel está dividida em quatro uni-dades de negócios: gráficos (CorelDRAW, CorelCAD, CorelPainter etc.), midia digital (Paint Shop Pro, Video Studio, WinDVD etc.), produtividade (WinZip, PDF Fusion, WordPerfect etc.) e iGrafx (Flowcharter, iProcess for Six Sigma etc.). No Brasil a ver-tical Gráficos é a mais procurada, porém estamos acompanhando o crescimento da vertical Midia Digital e Produtividade nos últimos anos.”

— A respeito do novo produto que a Co-rel está lançando mundialmente, como será a estratégia de comercialização e distribuição desse produto no Brasil? A que público se destina esse lançamento?

“O lançamento é mundial. Nosso cliente poderá adquirir o CorelCAD através do nos-so Programa de Licenciamento por Volume, que atende as empresas em geral, assim como o setor governamental. O CorelCAD está disponível também sob a versão caixa e poderá ser encontrado nas lojas especializa-das a partir deste mês de junho. Há também o modelo Educacional que atende a insti-tuições de ensino e estudantes com preços com descontos atrativos.”

O CorelCAD está disponível em inglês, alemão, francês, italiano, espanhol e portu-guês a um preço sugerido de revenda de 1 999 reais. Os usuários registrados dos produtos CorelDRAW Graphics Suite X4 e Corel DE-SIGNER Technical Suite X4 ou superior se qualificam para o valor de 1 399 reais no crossgrade (atualização de versão de software). Também estão disponíveis licen-ças comerciais e acadêmicas por volume. Para baixar uma versão de avaliação gra-tuita e totalmente funcional ou para obter

mais informações sobre o CorelCAD, visite o site (www.corel.com.br).

A Corel é uma das principais empre-sas de software do mundo, com mais de 100 milhões de usuários ativos em mais de 75 países. Desenvolve software que ajuda as pessoas a expressar suas ideias e compartilhar suas histórias de maneiras mais interessantes, criativas e persuasi-vas. Ao longo dos anos, ficou conhecida por oferecer produtos confiáveis e inova-dores que são fáceis de aprender e usar, ajudando as pessoas a atingir novos ní-veis de produtividade. O reconhecimento do setor ocorreu na forma de centenas de prêmios por inovação, design e valor agregado na área de software. O portfó-lio de produtos premiados da Corel inclui algumas das marcas de software mais po-pulares e mais amplamente reconhecidas do mundo, entre elas a Suíte de Aplica-tivos Gráficos CorelDRAW, Corel Painter, Corel DESIGNER Technical Suite, Corel PaintShop Photo, Corel VideoStudio, Co-rel WinDVD, Corel WordPerfect Office, WinZip e Corel Digital Studio.

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* Rui Arruda Camargo é engenheiro consultor e vice-

presidente de Atividades Técnicas do Instituto de Engenharia

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nos a: estradas de rodagem, incluindo as obras de arte como viadutos e túneis; fer-rovias incluindo, além das obras de arte, pátios de ma-nobra e manutenção; aero-portos; metrô; e outras mais.

A construção de uma usi-na hidrelétrica, por exemplo, traz em seu bojo a construção

de uma barragem, o transporte e instalação de uma série de equipamentos de grande porte como as turbinas, geradores, subes-tação elétrica e linhas de transmissão. Sem contar com um enorme canteiro de obras para suprir as necessidades de armazena-mento de materiais e equipamentos, usina de concreto, oficinas de manutenção, aloja-mento de trabalhadores, cozinha industrial etc. E tudo isso instalado fora de centros urbanos sem qualquer infraestrutura.

Os projetos eram desenhados artesa-nalmente em grandes pranchetas que ocu-pavam um espaço enorme e demandavam muito tempo para serem executados. Os cálculos eram efetuados à base de réguas de cálculo e exigiam inúmeras operações e outras tantas verificações em fórmulas ma-temáticas complicadíssimas.

Os equipamentos necessários à execu-ção das obras existiam, porém não tão efi-cientes como os de hoje e o gerenciamento era feito à “unha” utilizando-se tabelas e gráficos enormes que eram atualizadas dia-riamente, consumindo horas de trabalho de vários empregados.

Alguns conflitos de obra geravam grandes prejuízos materiais, desgastes pessoais e con-sumiam tempo, pois era praticamente impos-sível prever todas as interferências, conflitos de projeto e outras adversidades decorrentes da maneira quase artesanal de produção que era impotente para prever tudo isso.

O uso de ferramentas informatizadas pro-duzidas pela Autodesk contribuiu para agiliza-ção dos grandes empreendimentos, pois atua em todas as suas fases desde a concepção do projeto, passando pelo seu detalhamento, sua construção e até sua operação.

Essa empresa também criou um sistema chamado BIM (Building Information Mode-ling), cuja tradução literal é Modelagem

da Informação da Construção e que tem a capacidade de integrar vários softwares compatíveis e que permite que a utilização dos dados armazena-dos em um dos sistemas seja também aproveitada por outros softwares em outra fase da implantação de um pro-jeto. Essa característica pode detectar interferências na obra bem como con-flitos de projeto. E ainda, na fase de projeto, prever consumos, produção e rendimento dos diversos sistemas que comporão todo o empreendimento.

É claro que para tudo isso ser vi-ável a operadora do empreendimento deverá se utilizar do mesmo banco de dados utilizados nas fases anteriores à operação.

A REVISTA ENGENHARIA, durante sua visita à Waltham numa das unidades da Au-todesk, conheceu alguns programas desti-nados a engenharia nos quais está incorpo-rada a Tecnologia BIM.AutoCAD Civil 3D – É um software desti-nado a engenheiros que trabalham em pro-jetos de corredores de tráfego, permitindo escolha de opções de projeto bem como permite a análise de seu desempenho atra-vés da visualização e análise.AutoCAD Structural Detailing - É um sistema construído sobre a plataforma Au-toCAD e que ajuda o engenheiro de estru-turas, detalhistas e fabricantes a elaborar desenhos com mais precisão de detalhes, sobretudo em parafusos, porcas e rebites.Autodesk Ravit Architecture - Este sis-tema é destinado a ajudar arquitetos tanto na concepção quanto nos desenhos de ar-quitetura. Esse sistema permite a análise de uso de energia o que pode gerar projetos autossustentáveis permitindo que seus usu-ários comparem o consumo de energia em soluções alternativas.Autodesk Ravit MEP - Foi concebido para auxiliar nos projetos dos sistemas elétricos, hidráulicos e mecânicos. Possui ferramen-tas de análise de consumo de energia o que permite tomada de decisões sobre susten-tabilidade nas primeiras fases do projeto. Possui ainda sistemas para projetos espe-ciais de tubulação e seus acessórios e tam-bém permite acessos remotos para consulta e edição de desenhos através da rede WAN

(Wide Area Network) com o uso de lap-top’s, i-pad’s ou até máquinas mais portá-teis como i-pod’s e i-phone’s.Autodesk Ravit Structure - Destinado a empresas de projetos de estruturas e pos-sui ferramentas para projetos específicos de estruturas e um módulo de análise de estru-turas. Permite também uma maior interação das equipes de arquitetura e de projetos. Autodesk Navisworks Manage - É um software de gerenciamento que atende aná-lise, simulação entre projeto e construção. Cria protótipos digitais para que soluções de projeto possam ser testadas através de um modelo integrado do projeto. Esse sistema conta com um gerenciador de interferências e com ferramentas de detecção de inconsistên-cias o que ajuda os profissionais de projeto e construção a antecipar e como consequência evitar problemas antes até do início das obras diminuindo os atrasos e retrabalhos.

A popularização do sistema BIM permi-tirá que seja também usado nos edifícios residenciais e comerciais o que permitirá conhecer com antecedência os gastos com energia elétrica, água e esgoto, podendo até escolher materiais e equipamentos que tenham relações melhores entre custo e benefício evitando gastos prematuros com bombas, lâmpadas e outros equipamentos.

Esses foram os principais produtos apresentados. Existem outros que, embora dirigidos à engenharia, não possuem a tec-nologia BIM.

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Kevin Thornton, vice-presidente sênior de vendas e marketing da Corel para as Américas

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Corel ingressa no mercado desoftware de engenharia

vice-presidente sê-nior de vendas e marke-

ting da Corel para as Amé-ricas, Kevin Thornton, que busca ampliar negócios

no campo dos softwares de engenharia, veio recentemente ao Brasil para reforçar no país as estratégias de comercialização e distribuição do CorelCAD. Com isso, a canadense Corel ingressa no mercado de softwares de CAD (sigla para Computer Aided Design, ou desenho auxiliado por computador). Esses programas são usados por empresas de engenharia, empresas de manufatura e universidades para projetar produtos e construções em imagens em duas ou três dimensões. Hoje, os principais concorrentes nesse segmento são a Auto-desk e a Parametric Technology Corpora-tion (PTC), dos Estados Unidos, e a francesa Dassault Systèmes SolidWorks. Todas re-gistraram incremento superior a 25% nas vendas no ano passado.

Há oito anos na Corel, Kevin Thornton é atualmente responsável por vendas e marke-ting na região das Américas. Thornton possui experiência em gerenciamento de vendas em empresas como Coca-Cola e Sage Software. Na Corel, o executivo tem como foco princi-pal estratégias em vendas de software grá-fico, mídia digital e Office Productivity nos mercados de varejo, corporativo, acadêmico, OEM e canais diretos.

Em entrevista à REVISTA ENGENHARIA, Thornton abordou temas como o potencial dos mercados de varejo, corporativo e aca-dêmico de software gráfico, midia digital e Office Productivity no Brasil e América Latina. “O potencial é extremamente encorajador. A América Latina é estratégica para a Corel e estamos realizando investimentos para que nossos clientes tenham cada vez mais acesso às nossas soluções.”— Quantos usuários ativos de softwares da Corel existem no Brasil?

“Não podemos divulgar números. Porém, o Brasil está entre os 10 principais mercados.

Temos uma base sólida de clientes ativos.

— Quais as principais marcas de software que a Corel tem no seu por-tfólio e quais são mais procuradas no Brasil?

“A Corel está dividida em quatro uni-dades de negócios: gráficos (CorelDRAW, CorelCAD, CorelPainter etc.), midia digital (Paint Shop Pro, Video Studio, WinDVD etc.), produtividade (WinZip, PDF Fusion, WordPerfect etc.) e iGrafx (Flowcharter, iProcess for Six Sigma etc.). No Brasil a ver-tical Gráficos é a mais procurada, porém estamos acompanhando o crescimento da vertical Midia Digital e Produtividade nos últimos anos.”

— A respeito do novo produto que a Co-rel está lançando mundialmente, como será a estratégia de comercialização e distribuição desse produto no Brasil? A que público se destina esse lançamento?

“O lançamento é mundial. Nosso cliente poderá adquirir o CorelCAD através do nos-so Programa de Licenciamento por Volume, que atende as empresas em geral, assim como o setor governamental. O CorelCAD está disponível também sob a versão caixa e poderá ser encontrado nas lojas especializa-das a partir deste mês de junho. Há também o modelo Educacional que atende a insti-tuições de ensino e estudantes com preços com descontos atrativos.”

O CorelCAD está disponível em inglês, alemão, francês, italiano, espanhol e portu-guês a um preço sugerido de revenda de 1 999 reais. Os usuários registrados dos produtos CorelDRAW Graphics Suite X4 e Corel DE-SIGNER Technical Suite X4 ou superior se qualificam para o valor de 1 399 reais no crossgrade (atualização de versão de software). Também estão disponíveis licen-ças comerciais e acadêmicas por volume. Para baixar uma versão de avaliação gra-tuita e totalmente funcional ou para obter

mais informações sobre o CorelCAD, visite o site (www.corel.com.br).

A Corel é uma das principais empre-sas de software do mundo, com mais de 100 milhões de usuários ativos em mais de 75 países. Desenvolve software que ajuda as pessoas a expressar suas ideias e compartilhar suas histórias de maneiras mais interessantes, criativas e persuasi-vas. Ao longo dos anos, ficou conhecida por oferecer produtos confiáveis e inova-dores que são fáceis de aprender e usar, ajudando as pessoas a atingir novos ní-veis de produtividade. O reconhecimento do setor ocorreu na forma de centenas de prêmios por inovação, design e valor agregado na área de software. O portfó-lio de produtos premiados da Corel inclui algumas das marcas de software mais po-pulares e mais amplamente reconhecidas do mundo, entre elas a Suíte de Aplica-tivos Gráficos CorelDRAW, Corel Painter, Corel DESIGNER Technical Suite, Corel PaintShop Photo, Corel VideoStudio, Co-rel WinDVD, Corel WordPerfect Office, WinZip e Corel Digital Studio.

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os 65 anos, faleceu na madrugada do dia 10 de

junho, vítima de um ataque cardíaco, o Diretor de Enge-nharia e Construções do Me-trô de São Paulo, engº Sérgio

A

Sérgio Salvadori,diretor do Metrô

Eduardo Fávero Salvadori. Ele iniciou sua carreira no Metrô em

1975, ocupando seis cargos, desde Enge-nheiro Sênior até Diretor de Engenharia e Construções.

Natural de Itu, interior do Estado de São Paulo, Sérgio Salvadori era um admi-rador da construção de túneis e levou esta paixão como missão de vida. Atuou dire-tamente na construção de todas as linhas do Metrô: 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha, 4-Amarela e 5-Lilás.

Especialista em grandes estruturas, Sérgio Salvadori participou das diversas utilizações de grandes tuneladoras (shield, “megatatuzão”) em obras do Metrô. Além disso, acompanhou obras dos terminais de ônibus da Barra Funda e Tietê, da Rede Metropolitana de Trólebus no ABC,

do Anel Viário Metropolitano no ABC, dos shoppings Tatuapé e Santa Cruz e a preparação da parceria público-privada (PPP) da Linha 4-Amarela.

Formado pela Escola de Engenharia da USP, em São Carlos, em 1969, na especia-lidade de Edifícios e Grandes Estruturas, começou a carreira como engenheiro de cálculo estrutural, com estágio na Socie-té de Études, de Equipaments e de Entre-prises (SEEE), em Paris, participando dos projetos dos metrôs de São Paulo e do Rio de Janeiro, da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) do ABC e do Sistema Adutor Metropolitano de Água.

De janeiro de 2007 a fevereiro de 2008, Sérgio Salvadori exerceu o cargo de Diretor de Infraestrutura da São Paulo Transportes (SPTrans), participando dos empreendimentos Expresso Tiradentes e Expresso Celso Garcia. De maio de 2008 até janeiro de 2011, trabalhou na SIURB como Superintendente de Obras Viárias.

No início deste ano, foi convidado a ocupar novamente o cargo de Diretor

de Engenharia e Construções do Metrô, função que exerceu até a data de seu fa-lecimento.

Sérgio Salvadori faleceu em sua re-sidência. Era casado com Regina Maria Maia Salvadori, com quem teve três filhos: Renato, Paula e Raquel. Seu corpo foi ve-lado na Praça Conde de Parnaíba, em sua cidade natal (Itu) e foi sepultado no Cemi-tério Municipal daquela cidade.

Milton Vargas,o mestre da geotecnia

aleceu no dia 11 de maio passa-do, em São Paulo, aos 97 anos, o

professor, engenheiro civil e eletricista Milton Vargas, um dos grandes dissemi-nadores da mecânica dos solos no país e

F primeiro presidente da Associação Brasi-leira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), associação-mãe do Comitê Brasileiro de Túneis (CBT). A geo-tecnia perde assim um pioneiro no estudo dos solos tropicais brasileiros. Milton Var-gas levou para o mundo suas pesquisas sobre os solos residuais e, no Brasil, sua contribuição para a geotecnia nacional é imensurável.

Milton Vargas, que, quando menino, brincava de construir barragens, deixou mi-lhares de alunos, seis livros, 140 artigos, nove prêmios, uma grande empresa e dezenas de obras geotécnicas em todo o país. Mais que isso, o professor Vargas deixou, na mente e no coração de boa parte dos engenheiros geotécnicos brasileiros, a paixão pelo solo

brasileiro e pelo estudo. Em mais de 60 anos de atividades geotécnicas, fazia uso sempre de um provérbio chinês. “A sabe-doria vem das mãos”, dizia o professor, que formou alunos que se tornaram professo-res e que já formaram outros professores e engenheiros.

Segundo o ex-aluno de Milton Vargas, o engº Tarcísio Barreto Celestino, “Vargas foi um norte em minha vida profissional e assim foi, certamente, com muitos dos engenheiros deste país. Conviver com ele e com sua família foi um privilégio do qual sempre me alegrarei”. Celestino, que presi-diu o Comitê Brasileiro de Túneis, foi aluno, estagiário e até hoje trabalha na empresa fundada por Milton Vargas, a Themag En-genharia.

Engº Sérgio Salvadori

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Profº Milton Vargas

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os 65 anos, faleceu na madrugada do dia 10 de

junho, vítima de um ataque cardíaco, o Diretor de Enge-nharia e Construções do Me-trô de São Paulo, engº Sérgio

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Sérgio Salvadori,diretor do Metrô

Eduardo Fávero Salvadori. Ele iniciou sua carreira no Metrô em

1975, ocupando seis cargos, desde Enge-nheiro Sênior até Diretor de Engenharia e Construções.

Natural de Itu, interior do Estado de São Paulo, Sérgio Salvadori era um admi-rador da construção de túneis e levou esta paixão como missão de vida. Atuou dire-tamente na construção de todas as linhas do Metrô: 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha, 4-Amarela e 5-Lilás.

Especialista em grandes estruturas, Sérgio Salvadori participou das diversas utilizações de grandes tuneladoras (shield, “megatatuzão”) em obras do Metrô. Além disso, acompanhou obras dos terminais de ônibus da Barra Funda e Tietê, da Rede Metropolitana de Trólebus no ABC,

do Anel Viário Metropolitano no ABC, dos shoppings Tatuapé e Santa Cruz e a preparação da parceria público-privada (PPP) da Linha 4-Amarela.

Formado pela Escola de Engenharia da USP, em São Carlos, em 1969, na especia-lidade de Edifícios e Grandes Estruturas, começou a carreira como engenheiro de cálculo estrutural, com estágio na Socie-té de Études, de Equipaments e de Entre-prises (SEEE), em Paris, participando dos projetos dos metrôs de São Paulo e do Rio de Janeiro, da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) do ABC e do Sistema Adutor Metropolitano de Água.

De janeiro de 2007 a fevereiro de 2008, Sérgio Salvadori exerceu o cargo de Diretor de Infraestrutura da São Paulo Transportes (SPTrans), participando dos empreendimentos Expresso Tiradentes e Expresso Celso Garcia. De maio de 2008 até janeiro de 2011, trabalhou na SIURB como Superintendente de Obras Viárias.

No início deste ano, foi convidado a ocupar novamente o cargo de Diretor

de Engenharia e Construções do Metrô, função que exerceu até a data de seu fa-lecimento.

Sérgio Salvadori faleceu em sua re-sidência. Era casado com Regina Maria Maia Salvadori, com quem teve três filhos: Renato, Paula e Raquel. Seu corpo foi ve-lado na Praça Conde de Parnaíba, em sua cidade natal (Itu) e foi sepultado no Cemi-tério Municipal daquela cidade.

Milton Vargas,o mestre da geotecnia

aleceu no dia 11 de maio passa-do, em São Paulo, aos 97 anos, o

professor, engenheiro civil e eletricista Milton Vargas, um dos grandes dissemi-nadores da mecânica dos solos no país e

F primeiro presidente da Associação Brasi-leira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), associação-mãe do Comitê Brasileiro de Túneis (CBT). A geo-tecnia perde assim um pioneiro no estudo dos solos tropicais brasileiros. Milton Var-gas levou para o mundo suas pesquisas sobre os solos residuais e, no Brasil, sua contribuição para a geotecnia nacional é imensurável.

Milton Vargas, que, quando menino, brincava de construir barragens, deixou mi-lhares de alunos, seis livros, 140 artigos, nove prêmios, uma grande empresa e dezenas de obras geotécnicas em todo o país. Mais que isso, o professor Vargas deixou, na mente e no coração de boa parte dos engenheiros geotécnicos brasileiros, a paixão pelo solo

brasileiro e pelo estudo. Em mais de 60 anos de atividades geotécnicas, fazia uso sempre de um provérbio chinês. “A sabe-doria vem das mãos”, dizia o professor, que formou alunos que se tornaram professo-res e que já formaram outros professores e engenheiros.

Segundo o ex-aluno de Milton Vargas, o engº Tarcísio Barreto Celestino, “Vargas foi um norte em minha vida profissional e assim foi, certamente, com muitos dos engenheiros deste país. Conviver com ele e com sua família foi um privilégio do qual sempre me alegrarei”. Celestino, que presi-diu o Comitê Brasileiro de Túneis, foi aluno, estagiário e até hoje trabalha na empresa fundada por Milton Vargas, a Themag En-genharia.

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Profº Milton Vargas

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Engº Jorge Miguel SamekDiretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional

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Na visão do diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, engº Jorge Miguel Samek, empreender sustentavelmente significa renunciar a práticas que nos conduziram ao perigoso estado em que nos encontramos hoje, haja vista os malefícios causados ao planeta pela emissão dos gases causadores do efeito estufa a partir do uso de combustíveis de origem fóssil. Para ele, rever os fundamentos e conceitos é uma necessidade imperiosa e inadiável. Samek entende que parte significativa da sociedade mundial – contexto onde também o Brasil se inclui – começa a compreender melhor o quadro e se dispõe a assumir o custo de oportunidade em favor da sustentabilidade ambiental. Esse custo de oportunidade implica muitas vezes em mudanças de hábitos e, por via de consequência, na necessidade da adoção de bens substitutivos no cotidiano. Por exemplo, se a sociedade aquilata que a formação de grandes reservatórios de água é prejudicial ao meio ambiente – julgando que esses lagos devem ser de tamanho menor – e depois essa decisão é transformada em preceito legal, obviamente que todos devem estar mental e fisicamente preparados para conviver com algum tipo de escassez de água. As pessoas devem estar prontas também para, a partir dessa carência de água, enfrentar uma eventual privação de energia elétrica e de alimentos, por diminuição de irrigação. Além de todas as demais consequências vinculadas a esses fenômenos. De qualquer forma, Samek acha que para os futuros projetos hidrelétricos a solução talvez não esteja no abrandamento das regras vigentes, mas sim no incremento de alternativas para atendimento de exigências ambientais e sociais. O que, entretanto, vai exigir muita criatividade. “E essa criatividade se estende não só às inovações tecnológicas de projeto, construção e operação das usinas, mas também às inovações tecnológicas de gestão”, diz. Ele cita como exemplo de como é possível alcançar a mitigação e até a reversão de impactos ambientais causados por formação de lagos artificiais, a intensificação da ação socioambiental que foi conduzida pela Itaipu Binacional, envolvendo comunidades, educadores, estudantes e produtores rurais –, principalmente com o programa Cultivando Água Boa.

“Ou empreendemos

ou o planeta ficará inviável para a vida”

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“A engenharia brasileira é parte relevante, senão decisiva, do êxito de qualquer esforçoque seja feito paraadequar a infraestrutura do país”

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40Engº Jorge Miguel Samek

Nascido na cidade de Foz do igua-çu, no Paraná – nas fronteiras do Brasil com a argentina e o Paraguai –, o engº Jorge Miguel samek acompanhou desde a pedra fundamental da usina Hidrelé-trica de itaipu até a sua construção. graduado engenheiro agrônomo pela universidade Federal do Paraná no ano de 1978, samek exerceu numerosos postos em empresas estatais e secre-tarias estaduais paranaenses, chegan-do até a ser secretário municipal de Curitiba. Focalizado desta edição na série de reportagens “linha de Frente da Engenharia” sobre engenheiros que alcançaram grande destaque em suas trajetórias profissionais, Jorge samek assumiu em 2003 o cargo de diretor-geral brasileiro da itaipu Binacional, onde permanece até hoje. um dos mo-mentos mais críticos enfrentados por ele à frente da companhia aconteceu em 10 de novembro de 2009 quando um blecaute atingiu várias cidades das re-giões sudeste, sul, Centro-Oeste e Nor-deste. Num primeiro momento, o apagão que atingiu 18 estados foi atribuído a uma pane na Hidrelétrica de itaipu. Mas samek reiterou, na ocasião, que o problema ocorreu nas linhas de trans-missão que levam a energia gerada pela itaipu para o resto do país.

Jorge samek sofreu um verdadeiro bombardeio por parte da mídia durante o evento crítico. um dos questionamen-tos foi que o fato de seis dos 20 000 quilômetros de linhas de transmissão “andarem juntos” representaria uma vulnerabilidade do sistema. a resposta do diretor-geral brasileiro de itaipu, naquele momento, evocou, de certa for-ma, a chamada lei de Murphy. “as linhas de 50 hertz e de 60 hertz andam com 20 quilôme-tros de distância umas das outras, justamente para evitar um torna-do, as grandes descar-gas elétricas. Mas para entrar na estação elas têm que entrar junto, não tem jeito. É como se a cidade inteira saísse

para ir à aula, de diferentes luga-res: quando chega na porta, todos têm que passar pelo mesmo lugar. É ali a entrada, não dá para mudar. Toda a energia vem, concentra nos transformadores e logo sai. Essa distância é muito curta. Mas o curto-circuito pegou justamen-te num desses pontos em que as linhas estão caminhando todas juntas.”

samek costuma lembrar que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais “limpas” do pla-neta, com metade de suas fontes de energia provenientes de re-cursos renováveis, principalmen-te hidráulicos e de biomassa, en-quanto a média mundial se situa apenas em um quinto de fontes renováveis. Essa condição de sus-tentabilidade mostra que não há incompatibilidade entre realizar os aproveitamentos hidrelétricos nacionais que necessitamos com a preservação do meio ambiente. “Os programas ambientais que conduzi-mos na itaipu são um exemplo de como é possível alcançar a mitigação e até a reversão de impactos ambientais pro-vocados pela constituição dos lagos artificiais. Problemático seria se tivés-semos que desenvolver-nos com uso de combustíveis de origem fóssil, esses sim poluentes e altamente emissores de gases do efeito estufa.”

ao analisar os desafios de um pla-nejamento equilibrado da matriz ener-gética brasileira, considerando-se os aspectos de segurança e a necessidade de diversificação das fontes de energia,

samek comenta que o Brasil é um país privi-legiado. Ele conta que costuma conversar com dirigentes de empresas do setor elétrico dos cinco continentes e que eles dizem que estamos em uma condição inve-jável na perspectiva da diversificação das fon-tes de energia. “somos o país que mais utiliza

fontes renováveis no mundo. E mais. Praticamente todas as for-mas possíveis de geração estão disponíveis no nosso território, em maior ou menor grau. Temos a costa com ventos para a geração eólica, sol o ano todo, urânio para a energia nuclear, a biomassa, gás natural que continua a ser desco-berto e o biogás, uma revolução que se anuncia para breve. Obser-ve, ainda, que não utilizamos 30% do nosso potencial hidrelétrico. Ou seja, estamos em condições de dar preferência a fontes de energia limpa e renovável, ao mes-mo tempo em que desenvolvemos oportunidades que se apresen-tam dentro dos padrões de modi-cidade tarifária [uma tarifa aces-sível para todos os cidadãos].”

Nesta entrevista exclusiva para a REVIsTA ENGENHARIA, perguntamos a Jorge samek – como fazemos com todos os focalizados desta série de re-

portagens –, qual o papel reservado para a engenharia brasileira em geral no trabalho de reverter insuficiências que afetam nossa infraestrutura. “Em minha opinião, a reversão das insufici-ências presentemente verificadas na infraestrutura do Brasil dizem respei-to à sociedade como um todo, pois tais circunstâncias a todos afetam. Operar o país com gargalos representa uma ine-xorável perda de eficiência global, tanto em nível macro como microeconômico, o que nos é prejudicial e pode com-prometer ou até mesmo pôr a perder conquistas recentes no campo econô-mico e social. a reversão desse quadro depende de vários fatores, a começar pela formulação da estratégia de alto nível, que resulte em políticas efetivas e legislações realistas, que permitam a mobilização dos recursos intelectuais, financeiros, materiais, operacionais e, principalmente, da força de trabalho – todos eles indispensáveis ao enfren-tamento de uma tarefa dessas propor-ções. E esse enfrentamento já está em curso, se considerarmos que nos últi-mos anos conseguimos passar de uma

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41economia praticamente estagnada para uma economia em crescimento, fato confirmado pelos principais indicado-res econômico-sociais amplamente di-vulgados.”

Na visão de samek, a engenharia bra-sileira é parte relevante, senão decisiva, do êxito de qualquer esforço que seja feito para adequar a infraestrutura do país. “seu brilhante passado, de inesti-máveis serviços prestados ao Brasil, e de superação de incontáveis dificulda-des, permitiu o acúmulo de conhecimen-tos que nos possibilita realizar hoje, e no futuro, uma engenharia de excelente padrão, assim reconhecida internacio-nalmente. Então, para que tenhamos mais e melhores sistemas de transpor-te, de comunicação, de abastecimento de água e energia, de saneamento e saúde, de produção agrícola e pecuária, citando entre os principais, necessita-remos mais do que nunca da comprova-da capacidade realizadora dos nossos engenheiros e técnicos, dos nossos laboratórios e institutos de pesquisa e inovação, das nossas indústrias e em-presas prestadoras de serviços. Mas, antes de tudo, penso que devemos re-forçar sobremaneira as universidades e escolas técnicas de engenharia, porque nelas é produzido e repassado o conhe-cimento. Esse sim, o principal fator de transformação de qualquer realidade, do qual a engenharia sempre será sua eterna dependente.”

— Aumenta a cada dia a preocupa-ção com relação à qualidade ambien-tal dos empreendimentos de infraes-trutura. Como a hidreletricidade é imbatível no Brasil, não seria o caso de lutar para o abrandamento das restrições ambientais em alguns ca-sos pontuais de novas usinas proje-tadas ou em construção? — pergun-tamos a Samek.

“a realidade se impõe. Ou doravante empreendemos sustentavelmente ou não teremos um planeta viável para a vida talvez ainda neste milênio. E em-preender sustentavelmente significa renunciar a práticas que nos conduzi-ram a esse perigoso estado em que nos encontramos. Portanto, rever os funda-

mentos e conceitos é uma necessidade imperiosa, inadiável. É perceptível que parte significativa da sociedade mun-dial, contexto onde também o Brasil se inclui, começa a compreender melhor o quadro e se dispõe a assumir o custo de oportunidade em favor da sustentabili-dade ambiental. Esse custo de oportuni-dade implica muitas vezes em mudanças de hábitos e, por aí, a necessidade da adoção de bens substitutivos no cotidia-no. Por exemplo, se valoramos a forma-ção de grandes reservatórios de água como prejudicial ao meio ambiente, e os aceitamos com menores tamanhos, e transformamos isso em um preceito legal, obviamente que devemos estar mental e fisicamente preparados para conviver com algum tipo de escassez de água. E, por ela, eventual escassez de energia e de alimentos, por diminuição de irrigação, e de todas as demais con-sequências a esse fato vinculadas.”

— Há o problema de que o ser hu-mano costuma resistir à mudança de hábitos. Como o senhor encara essa realidade? — prosseguimos.

“Bom, considerando que não é de modo algum ‘barato’ para a sociedade esse custo de oportunidade que men-ciono, porque é de difícil aplicação prá-tica, julgo que, para os projetos hidre-létricos que virão mais tarde, a solução talvez não esteja no abrandamento das regras vigentes, mesmo que pontuais, mas sim no incremento de alternativas para atendimento de exigências am-bientais e sociais, o que seguramente depende de muita criatividade. E essa criatividade se estende não só às inova-ções tecnológicas de projeto, constru-ção e operação das usinas, mas também às inovações de tecnologias de gestão. lembro que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais ‘limpas’ do planeta, com metade de suas fontes de energia provenientes de recursos re-nováveis, principalmente hidráulicos e de biomassa, enquanto a média mundial se situa apenas em um quinto de fontes renováveis. Essa condição de susten-tabilidade mostra, portanto, que não há incompatibilidade entre realizar os aproveitamentos hidrelétricos nacio-

nais que necessitamos com a preser-vação do meio ambiente. Os programas ambientais que conduzimos na itaipu são um exemplo de como é possível al-cançar a mitigação e até a reversão de impactos ambientais causados por for-mação de lagos artificiais. Problemático seria se tivéssemos que desenvolver-nos com uso de combustíveis de origem fóssil, esses sim poluentes e altamente emissores de gases do efeito estufa.”

— Qual a perspectiva que o se-nhor vê para a próxima efetivação de parcerias público-privadas [PPPs] no país na área de infraestrutura de energia? — solicitamos.

“Como sabemos, as parcerias pú-blico-privadas buscam interligar dois dos principais motores da sociedade: o Estado e a iniciativa privada. O alvo é o financiamento das infraestruturas ne-cessárias ao país em troca de aporte de fundos públicos e da remuneração aos empreendedores privados obtida pela exploração da concessão de serviços públicos proporcionada pela própria infraestrutura implantada. afora se-tores estratégicos para o país, onde é necessário que o Estado esteja presen-te, penso que a prática das PPPs, que se dá em muitos países, aparentemente tem apresentado resultados satisfató-rios, considerando que acelera a ação e assim encurta prazos, em benefício de toda a sociedade, o que, sem dúvida, se aplica também a muitas situações no se-tor de energia.”

— Como o senhor vê iniciativas de planejamento de longo prazo como é a proposta do PAC? — quisemos sa-ber.

“Recebo bem a ideia de planificação de longo prazo no Brasil. Parece que são sinais inequívocos de amadureci-mento da sociedade, principalmente de sua classe dirigente, que passa a se preocupar de modo consequente com as nossas gerações vindouras. O grande predicado – e a razão de exis-tir de qualquer planejamento – é de exatamente enxergar algo à frente e caminhar em direção a ele quando esse ‘algo’ é bom para nós, e de pro-curar, hoje, modificá-lo ou atenuá-lo a

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tempo, quando o consideramos ruim. É um mecanismo que mais ou menos nos possibilita ‘construir’ o futuro. Quanto ao PaC, elaborado mediante exaustivo estudo prévio de cenários, ele nos fez enxergar oportunidades e ameaças presentes e futuras, bem como nossas fortalezas e deficiências internas. Com essa visualização pudemos nos orga-nizar para corrigir tais deficiências. E com o uso de nossas capacidades, apro-veitar as oportunidades e enfrentar as ameaças, de acordo com as disponibi-lidades. Tanto no aproveitamento de oportunidades como no enfrentamento das ameaças, a providência primeira do PaC, como acelerador econômico, foi ‘atacar’ o setor de infraestrutura do país. O plano nos comunicou tacitamen-te que sem infraestrutura adequada não haveria crescimento sustentável, tampouco acelerado. Não é à toa que o PaC, em sua edição inicial, destinou a soma impressionante de 504 bilhões de reais para investimentos em infraes-trutura do país.”

— Existe estratégia, então, embu-tida no PAC? — quisemos conferir.

“sim. Esse foco, altamente estraté-gico e bastante lógico proporcionado pelas indicações do plano de longo prazo, me parece algo extraordinaria-mente benéfico para o Brasil. E nesse aspecto, não posso deixar de ressaltar o significativo avanço que alcançamos na planificação do uso dos nossos re-cursos energéticos com a criação em 2004 da Empresa de Pesquisa Ener-gética [EPE], que elaborou o Plano decenal de Expansão de Energia [PdE 2019], o Plano Nacional de Energia 2030 e o Balanço Energético Nacional, instrumentos que co-municam as principais estratégias nacionais a respeito de energia e unificam a linguagem do setor para todos os agentes econômicos e sociais que nele atuam, bem como lançam dire-trizes para a sonhada integração energética latino-americana, que

aos poucos está se efetivando.”— Fale um pouco sobre sua

pessoa e carreira. Onde o se-nhor nasceu e quais foram as influências de sua família na infância e adolescência? — so-licitamos a seguir.

“Nasci em 1955 na cidade de Foz do iguaçu, no Paraná, nas fronteiras do Brasil com a argen-tina e o Paraguai. Cidade que, se na minha infância tinha apenas alguns milhares de habitantes, logo a seguir passou para cente-nas de milhares com o desenvolvi-mento que a região experimentou, principalmente com a construção das pontes e das interligações rodoviárias com aqueles dois pa-íses vizinhos e, claro, com a cons-trução da usina Hidrelétrica de itaipu. Nesse particular, me con-sidero ‘testemunha ocular’ desde os primórdios dessa verdadeira epopeia de transformação de uma realidade regional. Meus avós vie-ram da Polônia para o Brasil em 1921, tal como muitos imigrantes que habi-tavam os países da Europa Ocidental e Central o fizeram nos séculos 19 e 20, e se fixaram no oeste do Estado do Pa-raná. Meu avô paterno era agricultor e meu avô materno engenheiro agrôno-mo, todos eles, portanto, dedicados à agricultura e à pecuária, que tornou-se o traço marcante de nossa família, tal como muitas outras famílias de imi-grantes que foram acolhidos e se esta-beleceram principalmente na região sul do Brasil.”

— O que o levou a escolher o cur-so de Engenharia? O senhor se for-

mou por qual escola? Tem especializações? — pedimos que con-tasse.

“graduei-me enge-nheiro agrônomo pela universidade Federal do Paraná [uFPR] no ano de 1978. segura-mente minha escolha pela agronomia teve influência desse am-

biente de labor com a terra vivi-do por minha família, e, é claro, de meu avô engenheiro. Ele, pe-los seus conhecimentos e traba-lho, nos mantinha num ambiente um tanto ‘técnico’ onde se falava de agrimensura, cálculos mate-máticos, se lidava com teodolitos e níveis, se manejavam máquinas e equipamentos agrícolas, se usavam as famosas calculado-ras mecânicas ‘Facit’, amigas inseparáveis dos engenheiros e topógrafos daquele tempo, que ajudam a traduzir em números as áreas, os rebanhos e as pro-duções – em suma, a organização e os resultados que se obtinha com o uso da terra. agora, imagi-ne se um menino que ‘respirasse’ toda essa atmosfera não ficaria empolgado em ser agrônomo! E foi o que aconteceu, pois acabei por escolher a engenharia agro-nômica como minha área de es-tudo. Escolha pela qual me sinto

bastante satisfeito e gratificado, prin-cipalmente porque a engenharia não só nos capacita a lidar com a ciência e a tecnologia, como nos compele a ser criativos e também nos proporciona inúmeras possibilidades de realização profissional.”

— Dê, por favor, uma “geral” so-bre sua carreira, do seu primeiro emprego aos dias atuais? — pedimos em seguida.

“iniciei minha carreira no institu-to de Terras, Cartografia e Florestas do Estado do Paraná [iTCF], onde, de 1978 a 1983, exerci a chefia do escri-tório regional de união da vitória e a chefia do escritório regional de Mor-retes, tendo neste último participado ativamente na demarcação do Parque Estadual Pico do Marumbi, que é uma importante unidade de conservação da Mata atlântica na porção paranaense da serra do Mar. depois, na secretaria Estadual de agricultura do Paraná, de 1983 a 1986, ocupei a chefia de gabi-nete do secretário. Na Prefeitura Mu-nicipal de Curitiba, entre 1986 e 1988, exerci o cargo de secretário municipal

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“O grande predicado – e a razão de existir de qualquer planejamento – é de exatamente enxergar algo à frente e caminhar em direção a isso”

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de abastecimento e fui presidente das Cen-trais de abastecimento do Paraná [Ceasa/PR], época em que se criou o Mercadão Popular, proporcionando a oferta de produtos subsi-diados da cesta básica à população de baixa renda. E, em 2003, assumi o cargo de diretor-geral brasileiro da itaipu Binacional, onde permaneço até hoje. destaco como relevantes realizações na itaipu: a ampliação da missão da itaipu em 2003, com a consequente intensificação da ação socioambiental da empresa, principalmente com o programa Cultivando Água Boa; criação do Parque Tecnológico itaipu [PTi] e do Complexo Turístico itai-pu; a conclusão das duas novas unidades geradoras em 2007; o recorde de pro-dução mundial de energia de 95 TW – alcançado em 2008; e o início da implanta-ção da universidade Federal da integração latino-ame-ricana [unila] em 2010.”

— O senhor teve atu-ação na política? — ques-tionamos.

“No campo político-partidário, iniciei minhas atividades ainda na univer-sidade Federal do Paraná, onde, de 1975 a 1978, exerci a liderança estudan-til no curso de Engenharia agronômica. Mais tarde, em 1988, fui eleito verea-dos pelo PMdB na Câmara Municipal de Curitiba. Em 1990 ingressei no Partido dos Trabalhadores [PT] e, de 1992 a 1998, reelegi-me por três vezes vereador de Curitiba pelo PT. Entre as várias e intensas atividades parlamentares desenvolvidas nesses anos de mandatos sucessivos como vereador de Curi-tiba, destaco, pelo impacto e repercussão: o projeto da lei Municipal de Meio ambiente e a proposta de revisão do Plano diretor de Curitiba. . Em 1994 concorri, pelo PT parana-ense, ao cargo de governador do Estado do Paraná. Entre 1995 a 1997 fui presidente

estadual do PT e membro do diretório Nacio-nal do partido. Em 2002 elegi-me deputado federal do Estado do Paraná pelo PT, com 114 663 votos, sendo o mais votado em Curi-tiba e região metropolitana. a pedido do pre-sidente lula, renunciei ao mandato para as-sumir a direção geral da itaipu Binacional.”

— O senhor acha que será possível evitar uma crise no sistema elétrico nos

próximos anos? Ou seja, a energia das usi-nas hidrelétricas programadas para o Rio Madeira chegarão a tempo de evitar um possível apagão elétrico? — pedimos que opinasse.

“sim, creio que não haverá crise de abas-tecimento de energia elétrica no Brasil. afir-mo isso porque o sistema elétrico brasileiro

consiste num dos segmentos mais avança-dos e complexos da infraestrutura de nosso país, estando desse modo entre os maiores trunfos de modernidade alcançados até en-tão pela sociedade brasileira. de acordo com dados da aneel [agência Nacional de Energia Elétrica], valendo-se o Brasil da capacidade que possui a energia elétrica de ser trans-formada em qualquer outra forma de ener-

gia e da facilidade e baixo custo de seu transporte por meio de redes de trans-missão, existem quase 2 400 empreendimentos em operação no país, gerando energia elétrica a partir de várias fontes. Mas com pre-dominância das hidrelétri-cas, que somadas perfazem uma potência por volta de 114 000 MW, com a enor-me vantagem de ser uma energia considerada ‘limpa’ e, portanto, ambientalmen-te sustentável.”

— Como o senhor ana-lisa o sistema de trans-missão no Brasil? — solici-tamos ainda.

“acho que é na cone-xão física de suas redes de transmissão – que formam o siN [sistema interliga-do Nacional], com mais de 95 000 quilômetros de ex-tensão – que reside o pre-dicado mais estratégico do sistema elétrico brasileiro. Pois graças a isso podemos regular os estoques de água existentes nos reser-vatórios de nosso vasto e climaticamente heterogê-neo território. O que nos torna capazes, por exemplo, de transferir energia de

uma região a outra em tempos de escassez de água de alguma delas, realizando assim uma ‘gestão de estoques de água’, ou se você preferir, uma verdadeira ‘gestão de estoques de energia’. E até, quando isso não é possí-vel – com vistas a reduzir o ‘risco hidrológi-co’ –, adicionando esporadicamente energia elétrica oriunda de fontes que independem

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NOMESdo clima, tais como as térmicas a gás, carvão e nucleares. Porém, devido à po-luição que estas usinas causam, fazen-do-o em quantidades muito inferiores às de fontes hídricas. O siN cobre pra-ticamente todo o território nacional, só faltando concluir a conexão, já em curso, de uma pequena parcela de 2% correspondente aos sistemas isolados existentes no norte do país. as deci-sões são cotidianamente tomadas pelo ONs [Operador Nacional do sistema Elétrico], órgão cuja função precípua é a de otimizar o emprego unificado des-ses recursos energéticos no país.”

— O senhor pode comentar a si-tuação da potência instalada? — perguntamos a Samek.

“segundo dados da aneel, nos pró-ximos anos a potência instalada será acrescida em cerca de 15 000 MW oriundos de 120 empreendimentos em construção. a agência informa tam-bém que para o mesmo período outros 32 000 MW oriundos de quase 500 em-preendimentos já outorgados poderão ser instalados. Esses 47 000 MW signi-ficam uma adição por volta de 40% do potencial elétrico nacional nos próxi-mos anos. Por outro lado, a aneel tam-bém nos informa que de 2001 a 2010 a potência instalada aumentou 50% – de 75 000 para 113 000 MW – e a quantidade de empreendimentos mais do que dobrou no mesmo período – de 1 000 para 2 300 empreendimentos. Para esse mesmo período 2001-2010, o Banco Central nos informa que o PiB aumentou 36%, o que, grosso modo, indica a existência de certa folga no sistema. admitindo que o consumo se mantenha próximo do ritmo atual de cresci-mento projetado para o PiB – de 3% a 5% ao ano –, e comparando esses valores, nos parece cla-ro então que haverá su-ficiência pela oferta. E veja que digo isso sem computar outras ou-torgas que necessaria-mente virão, inclusive por acordos com paí-

ses vizinhos para importação de energia elétrica, e de medidas de aumento de eficiência energética que estão em curso.”

— Como o senhor analisa os desafios de um planejamento equilibrado da matriz energé-tica brasileira, considerando-se os aspectos de segurança e a necessidade de diversifi-cação das fontes de energia? — pedimos também.

“Obter um planejamento equi-librado da matriz energética do Brasil é sinônimo de obter a ne-cessária ‘segurança energética’ do país. Ela, sem dúvida, influi nas demais ‘seguranças’ estruturais da nação: a segurança econô-mica, que implica na segurança social, e por onde ambas garan-tem a segurança institucional. Talvez seja esse o desafio mais relevante que atualmente se de-fronta a sociedade brasileira. ao planejarmos, nos obrigamos a nos imaginar anos à frente e indagar: quantos seremos e como viveremos? desse modo, embora o iBgE [instituto Brasileiro de geografia e Estatística] nos informe que o crescimento popu-lacional do Brasil esteja razoavelmente controlado – porque a tendência in-cremental é decrescente – somos hoje quase 190 milhões de habitantes e no ano de 2050 seremos algo em torno de 215 a 220 milhões. Em minha opinião, esses dados por si só traduzem que o Brasil gradualmente se consolida como nação, porque os avanços sociais veri-ficados principalmente na educação e

na saúde, a partir de 1940, refletiram di-retamente nas taxas de fecundidade e de mortalidade infantil, que diminuíram – e na expectativa de vida, que aumentou signifi-cativamente. Esse ad-mirável incremento da melhoria de condições de vida infelizmente ainda não atingiu todas

as camadas da sociedade brasi-leira, mas cremos que, mantido o ritmo, atingirá em futuro talvez não muito distante. Essa popu-lação, pelo aumento da escolari-dade e da renda, passa a adqui-rir novos gostos e aspirações que ampliam suas preferências como consumidores, aumentan-do a exigência pela produção de manufaturas, de bens substitu-tivos mais elaborados – e, por conseguinte, aumentando os im-pactos ambientais que afetam a sustentabilidade. isso tem impli-cações enormes na planificação do suprimento energético, tanto na quantidade de energia a ser produzida, como de quais fontes provirá.”

— Daí a grita geral em rela-ção às ameaças climáticas? — indagamos.

“sem dúvida. Não surpreende a preocupação geral acerca das alterações climáticas planetá-

rias, decorrente do efeito estufa cau-sado pela emissão de gases nocivos. afinal o mundo mantém a sua dinâmica obtendo sete oitavos da energia que necessita basicamente pela ‘queima’ de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás, emissores em alta escala de CO2

e de outros gases. somente me-nos de um oitavo é proveniente de fon-tes ‘limpas’. No Brasil, essa relação é favoravelmente ‘meio a meio’. No campo específico da produção de energia elé-trica, a matriz brasileira, pelo predomí-nio da hidreletricidade, é praticamente toda ela limpa – ou seja, 89% –, enquan-to que no resto do mundo somente um quinto possui essa condição. isso nos permite dizer que no aspecto energé-tico, ao contrário do mundo, o Brasil é um dos poucos países que não está na ‘contramão’ da sustentabilidade. Não temos motivos para não ser otimistas. digo isso porque, apesar da grande po-pulação, possuímos também um grande território, que pode ser integralmente ocupado, o que resulta em uma densi-dade demográfica geral baixa e não muito alta nas regiões mais populosas,

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“Existem quase 2 400 empreendimentosem operação no paísgerando energiaelétrica a partir devárias fontes – mascom predominânciadas hidrelétricas”

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45se comparada a outras partes do mun-do. dispomos de uma formidável rede de drenagem natural que nos permite priorizar a geração de energia hidráu-lica, que, como disse antes, é mais lim-pa e barata. E ainda há enormes po-tenciais a explorar, principalmente na região amazônica, algo que já estamos fazendo com os empreendimentos dos rios Madeira, Xingu e Tapajós, além de outros que virão. Há os biocombustí-veis, cuja produção já alcançou escala industrial e que já alimentam unidades térmicas complementares, tal como se faz com o carvão, com o óleo com-bustível, com o gás e com o combus-tível nuclear. as usinas eólicas, e até solares e de marés, mesmo que ainda timidamente, também já injetam – ou injetarão em breve – sua energia no siN. Temos, ainda no campo da pesqui-sa, possibilidades com a energia de on-das, produção de hidrogênio, de biogás proveniente de resíduos rurais, indus-triais e de lixo urbano, além de outras mais. Há ainda a importação de energia elétrica dos países vizinhos, o que, por exemplo, já é praticado regularmente com o Paraguai, por meio da itaipu, e vez que outra com a argentina e com a venezuela.”

— Tudo bem com nossa matriz ener-gética, então? — quisemos conferir.

“a matriz energética brasileira já é qualitativamente diversificada. Esse intento nós já alcançamos. Como vi-mos, temos fontes hidráulicas, de gás, de petróleo, de carvão, de biomassa, nucleares, eólicas e fotovoltaicas, e ainda estudos relativos às energias de marés e ondas. Porém, a matriz é quan-titativamente fora de balanço, com predominância em dois terços da fon-te hidráulica, sendo esta plenamente justificada como ‘opção preferencial’ do país, face às suas vantagens com-petitivas em relação às demais, porque produz energia limpa e renovável em nossos rios, com grandes concentra-ções de carga. Minha visão é que o de-safio que se apresenta agora consiste no incremento paulatino do uso das demais fontes disponíveis, à medida que os recursos hídricos forem se es-

gotando. Mas isso não significa uma pressão imediata sobre o país, consi-derando que, como vimos, ainda temos centenas de hidrelétricas a construir em futuro próximo. Essa condição nos confere alguma margem de manobra, no sentido de que podemos planificar com maior serenidade o uso desses re-cursos, bem como podemos tentar de-senvolver-nos endogenamente no que se refere às inovações tecnológicas de exploração dessas fontes, gerando pa-tentes e criando assim independência tecnológica. Enfim, a realidade mostra que possuímos o privilégio de dispor de várias alternativas, que, se forem inte-ligente e responsavelmente planejadas e gerenciadas, não só assegurarão a energia que viabilize o bem-estar so-cial amplo que almejamos, mas reme-terão o Brasil a uma posição de maior destaque e de liderança no panorama internacional.”

— A geração elétrica a partir do bagaço de cana é uma boa solução? — pedimos que detalhasse.

“Pelas informações que dispomos, sabemos que o bagaço de cana é um resíduo do processo industrial de pro-dução de açúcar e do álcool, que forma biomassa. Essa biomassa, quando cal-cinada, produz vapor de água que gera energia elétrica. dessa forma, o baga-ço de cana se encaixa como combustí-vel utilizável em usinas do parque tér-mico, complementar à geração hídrica, conforme antes mencionamos.

segundo estudos desenvolvidos pela uFRJ [universidade Federal do Rio de Janeiro], vários fatores jogam a favor do emprego do bagaço de cana como combustível energético: a con-dição de fonte renovável, o expressi-vo potencial de geração elétrica – as estimativas são de mais de 4 000 MW até 2015 –, além da grande quantida-de disponível. a isso se agrega o fato de haver complementaridade das sa-fras de cana-de-açúcar com o período úmido. Porém, pelo mesmo estudo, para que essa alternativa energética se fir-me no sistema elétrico, há barreiras econômicas, políticas, ambientais, se-toriais e de regulação a transpor. É evi-

dente que torcemos para que os entra-ves sejam resolvidos e que possamos também contar com mais esse ativo em nossa matriz energética. Exemplo dis-so é o programa Proálcool de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, lançado em 1975 como uma reação brasileira à primeira crise do petróleo, juntamente com as construções das hidrelétricas de itaipu e Tucuruí e do programa atômico, que consiste hoje em um dos fatores que contribuem sig-nificativamente para a diminuição de nossa dependência energética.”

— A Itaipu tem algum trabalho nessa linha? — emendamos.

“você me dá a chance de expor que, correlatamente, a itaipu desenvolve um importante projeto na área de influên-cia de seu reservatório, pelo qual deje-tos de aves e suínos são transformados em biogás, que é armazenado em re-servatórios infláveis e depois usado na combustão de motores convencionais que geram energia elétrica. a energia eventualmente excedente é injetada na rede da Copel [Companhia Paranaense de Energia] e por ela comprada dos produtores, mediante regulamentação já baixada pela aneel. Ou seja, além de neutralizar poluentes de alto impacto ambiental, descarregados em grande quantidade pelo agronegócio regional, gera-se energia que traz benefícios econômicos para os produtores locais, e a itaipu dessa forma protege seu re-servatório e ecossistemas associados. Esse é um ‘ganha-ganha’ sem preceden-tes: um problema crônico é convertido em solução múltipla. Penso que é uma experiência a ser observada, até por-que aparentemente pode ser adaptada a outros tipos de problemas com deje-tos. Em razão desses surpreendentes resultados, neste e em outros projetos de natureza semelhante, a itaipu criou a PiER [Plataforma itaipu de Energias Renováveis], cuja finalidade é a de or-ganizar e conduzir essas iniciativas em consonância com a estrutura e as estratégias da entidade, podendo até nelas influir, conforme o caso.”

— Como o senhor vê a questão da necessidade de aumento da eficiên

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NOMEScia energética por parte dos gran-des consumidores? Ou ela já está em níveis satisfatórios? — pedimos que confirmasse.

“a eficiência energética, tanto pelo lado da oferta como do consumo, se junta a tantas outras medidas de oti-mização do emprego de energia, que normalmente não se excluem entre si, mas pelo contrário se somam e penso que se deve nelas insistir. segundo da-dos do Procel [Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica], me-didas factíveis de redução de desper-dício pelas concessionárias nos usos da energia elétrica e no incremento de eficiência de aparelhos elétricos pode-rão economizar até 130 000 MWh por ano, o que não é pouco, porque repre-senta um quarto do consumo nacional hoje praticado. a ação estratégica tem como prioridade as indústrias, que são responsáveis por 44% do consumo, não se limitando portanto somente aos grandes consumidores, mas ao setor inteiro. a seguir, o uso residencial e o comercial, que respondem juntos por 41% da demanda, já são objeto de cam-panhas sistemáticas de racionalização do consumo, com estímulos à aquisição de aparelhos e lâmpadas certificados como econômicos e de indução à mu-dança de hábitos, citando como exem-plo a recomendação de uso moderado do chuveiro elétrico e da iluminação ex-terna. são iniciativas promissoras, que poderíamos chamar de uma ‘educação para o uso de energia’, porque elas afe-tam diretamente os gastos das famílias e das empresas. E com gastos desne-cessários quase todos se importam.”

— Qual o signifi-cado da expressão “arquitetura verde”? — pedimos que expli-casse.

“de fato, não se pode deixar de men-cionar o franco desen-volvimento da ‘arquite-tura verde’ como fator altamente contributivo para a eficiência ener-gética. Por ela, a con-

cepção de uma adequada geome-tria dos ambientes construídos pode proporcionar iluminação e conforto térmico com menor gasto permanente de energia se comparado aos prédios conven-cionais, isso sem onerar ou one-rando pouco o custo do projeto. É inegável que novos dispositivos eletrônicos e de sensoriamento, associados à tecnologia de infor-mação e de comunicação, também tem contribuído muito para a ino-vação que proporciona maior efi-ciência energética. a itaipu teve contato com essa tecnologia ao construir novas edificações e am-bientes do Refúgio Biológico Bela vista, situado nas proximidades da usina, onde além de empregar materiais de construção locais e de baixo impacto, tais como os cerâmicos e pétreos, utilizou sis-temas experimentais de captação de energia solar e eólica, implan-tou circuitos de conservação de água para arrefecer o forte calor que incide na região – e diminuir o uso de ar condicionado –, construiu um tro-cador de calor com o subsolo, apro-veitou o máximo da ventilação natural associando janelas com aberturas nos tetos e utilizou grama na cobertura de algumas edificações. Recomendo a visita a esse nosso espaço de demons-tração para saber como é o desempe-nho dessas novidades. se confirmado o que aqui expusemos, penso que a efi-ciência energética, além de vital, pode sim substituir capacidade relevante de geração no Brasil. ao se consultar

os dados do Procel, e de outras iniciativas em andamento, se po-derá ter um quadro mais preciso sobre esse importante as-pecto de nossa gestão energética. Por outro lado, no que se refere especificamente aos grandes consumidores industriais de energia, casos, por exemplo, da

indústria siderúrgica e metalúr-gica, sempre há a possibilidade desses players avaliarem a via-bilidade de se tornarem também autoprodutores da energia que consomem.”

— Quantos MWh a Hidrelé-trica de Itaipu produziu em 2010 e quanto espera produ-zir em 2011? — pedimos que previsse.

“a usina de itaipu é fruto do Tratado celebrado em 1973 en-tre o Brasil e o Paraguai para o aproveitamento hidrelétrico dos recursos hídricos do Rio Paraná pertencentes em condomínio aos dois países. O Tratado é comple-mentado por três anexos, além de outros documentos. O anexo a contém o Estatuto da itaipu, o anexo B trata das instalações e o anexo C das bases financei-ras. Especificamente no anexo B está prevista, portanto, a ins-talação das dezoito unidades

geradoras pertencentes ao conjunto gerador principal que, após o início das obras civis em 1975, foram mon-tadas de 1981 a 1991, e a instalação sine die de duas unidades geradoras de reserva. Contudo, na década de 1990, percebendo deficiências pelo lado da oferta para fazer frente à crescente demanda, Brasil e Paraguai decidiram de comum acordo pela instalação das duas unidades geradoras adicionais previstas, com 700 MW cada uma. a usina passou então da potência de 12 600 MW para 14 000 MW. as obras civis e de montagem das duas máqui-nas custaram quase 185 milhões de dólares e foram realizadas entre 2000 e 2007. Essa potência adicionada pos-sibilitou que a Hidrelétrica de itaipu se firmasse como a maior geradora de hidreletricidade do planeta, pois em 2008 produziu mais de 94,7 milhões de MWh, ultrapassando seu próprio re-corde mundial que foi de 93,4 milhões de MWh ocorrido em 2002. No ano de 2010 a produção foi de 86 milhões de MWh, e em 2011, se as condições se mantiverem mais ou menos iguais, es-

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“O desafio futuro consiste no incremento paulatino do uso das demais fontes disponíveis, à medida que os recursos hídricos forem se esgotando”

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47peramos poder alcançar de novo esses altos níveis de produção, visto que é altamente satisfatório o desempenho dos equipamentos da usina. Contudo, se a hidrologia for favorável, temos condi-ções de superar a marca atual, talvez chegando até mesmo à casa dos 96 mi-lhões de MWh.”

— O senhor pode ilustrar a mag-nitude desses números? — solicita-mos.

“Para se ter uma ideia de quão im-pressionantes são esses números, essa quantidade de energia chega a ser su-ficiente para abastecer a argentina por um ano, com uma folga de 10%. Ou é equivalente à produção diária de mais de 535 000 barris de petróleo ou de 47 milhões de metros cúbicos de gás na-tural. Pelo aspecto ambiental, que é de vital importância para a sustentabilida-de, se essa energia fosse gerada a gás, por exemplo, seriam emitidas para a at-mosfera por volta de 37 milhões de to-neladas de gás carbônico [CO

2] por ano.

se fosse gerada a carvão, as emissões de CO

2 chegariam a 85 milhões de tone-

ladas por ano. Esses dados servem para ilustrar algumas das razões da ‘limpeza’ da matriz energética do Brasil, que já mencionamos.”

— Do ponto de vista da engenha-ria, haverá condições de se ampliar a Itaipu ainda mais no futuro, ou só será possível fazer upgrade? — pedi-mos que esclarecesse.

“Pelas regras do Tratado, que são estritas, não há como ampliar ainda mais a hidrelétrica. Com a montagem das duas unidades geradoras reserva, o que era formalmente previsto foi desse

modo realizado. Contudo, está em curso a execução de um projeto de moderni-zação, que visa primordialmente confe-rir segurança operativa à usina e que, no entanto, não altera a sua geometria, que consiste na substituição de equi-pamentos considerados obsoletos – ou em término de vida útil –, pelos de tec-nologia mais avançada. Haverá também a incorporação de novos sistemas com novas funcionalidades. isso sem dúvida trata-se de um upgrade, indispensável a nosso ver. Porém, na minha opinião, não podemos descartar o surgimento de alternativas que venham a ser propos-tas, frutos da pesquisa científica, que avança sem parar. se alguma inovação, da natureza que for, se mostrar útil e segura para os propósitos da itaipu, com certeza Brasil e Paraguai, em co-mum acordo, a aproveitarão.”

— Continua havendo sobra de energia hoje no Brasil? A redução do nível de consumo por parte do brasi-leiro depois da crise de 2001 conti-nua tendo um papel residual positi-vo? Ou isso já se dissolveu há muito tempo? — quisemos saber.

“O dado mais recente que obtivemos da EPE [Empresa de Pesquisa Energéti-ca] dá conta que de março de 2010 a fevereiro de 2011 o consumo na rede nacional foi de 423 TWh [terawatts-ho-ra], registrando um aumento de 5,1% no período. Esse é, portanto, o nível atual de consumo de todo o país, que com-parado com a capacidade de produção de energia elétrica, que é de 506 TWh, mostra que o consumo está inferior à capacidade, indicando uma folga da or-dem de 16%. Esse percentual, na ‘corri-

da’ de tempo entre a demanda e oferta, considerados os níveis de crescimen-to atuais, representa talvez uns três anos de diferença. Portanto, a sobra de energia realmente existe. Porém é bom lembrar que teremos a realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016, e com isso este quadro tende obviamente a mudar, criando pressão pela demanda de ener-gia, tornando muito relativa essa sobra. Quanto aos efeitos da crise de 2001, os dados divulgados pela EPE indicam que os hábitos de economia de energia praticados pelos consumidores, ao que parece, foram mais ou menos localiza-dos, pois o consumo realmente decres-ceu de 307 TWh no ano 2000 para 283 TWh no ano 2001 – uma redução de 8%. Porém, logo a seguir, em 2003, o con-sumo já foi de 304 TWh, quase o mes-mo verificado em 2000. Por outro lado, no período de 1995 a 2000, o cresci-mento do consumo teve uma média de 4,3% ao ano. de 2001 a 2010, a média de crescimento do consumo aumentou para 4,8% ao ano. a análise desse nú-meros, por mais simplificada que seja, nos induz a concluir que, se há papel re-sidual do consumidor na relativa sobra de energia elétrica, ele deve ser bem pequeno. Concluo que, na prática, esse fator já está dissoluto.”

— Mas o consumidor não mudou certos hábitos, talvez para sempre? — pedimos que Samek avaliasse.

“O que cabe mencionar é que, inde-pendentemente da mudança de hábi-tos dos consumidores, as inovações e o desenvolvimento tecnológico foram bastante adiante, tornando realidade

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24 a 26 outubro 2011Foz do Iguaçu • PR

Informações:[email protected]

IRF Brazil Conference26 de outubro de 2011 IRF Certified Training27 a 28 de outubro de 2011

Promoção Parceria Internacional

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Participe!

A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias – ABCR promove em outubro o 7º Congresso Brasileiro de Rodovias e Concessões e a 7ª Exposição Internacional de produtos para Rodovias. A 7ª edição do CBR&C proporcionará aos seus participantes a oportunidade de conhecer trabalhos, idéias e estudos de especialistas brasileiros e estrangeiros relacionados com o setor de infraestrutura rodoviária.

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NOMESas lâmpadas e os aparelhos eletroele-trônicos de baixo consumo de energia elétrica, com os respectivos ‘selos de certificação de eficiência energética’ à vista dos consumidores. Boa parte des-sas iniciativas é resultado do dedicado trabalho de pesquisa feito em diversas universidades e parques tecnológicos existentes por todo o país. Nesse parti-cular, a itaipu, tanto no lado brasileiro quanto no lado paraguaio, criou o PTi [Parque Tecnológico itaipu], visando atender não só as suas necessidades tecnológicas, mas também as da re-gião que está inserida, o que tem pro-porcionado resultados úteis a todos os interessados. a implantação do PTi acabou por inspirar a implantação da universidade Federal da integração latino-americana, grandioso projeto educacional de âmbito subcontinen-tal protagonizado pelo governo fede-ral brasileiro, nucleado justamente na itaipu, devido às suas características de binacionalidade e pela sua localiza-ção na área trinacional argentina-Bra-sil-Paraguai.”

— Quantos megawatts o país agregou em 2010? Quantos se es-pera agregar em 2011? E até 2014? — indagamos

“de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia e da aneel, a capa-cidade instalada do sistema elétrico brasileiro passou de 107 gW em 2009 para 114 gW em 2010, o que repre-senta um incremento de 7 gW, ou 6,5%. isso significa a metade da potência da itaipu, que é de 14 gW. Note-se, porém, que esse acréscimo embora significa-tivo, foi inferior aos extraordinários 7,5% de crescimento do PiB de 2010. Quanto aos anos vindouros, a aneel informa que se-rão instalados 15 gW, oriundos de empreendi-mentos em construção, e outros 32 gW de em-preendimentos outor-gados, a serem realiza-dos. Penso que isso dá uma boa noção das pro-vidências que se está

tomando pelo lado da oferta.”— Há quem afirme que para

se manter uma taxa susten-tável de crescimento, o país precisa de 4% a 5% a mais de energia ao ano – ou 5 000 me-gawatts. Essa ordem de gran-deza está correta? — pedimos que checasse.

“Para opinar a respeito dessa afirmação valho-me dos dados que apresentei como resposta a outra pergunta anterior. Ou seja, que no período de 1995 a 2010, o crescimento do consumo teve uma média de 4,5% ao ano. Equi-vale a dizer, olhando para o passa-do, que o crescimento da deman-da nos últimos 16 anos esteve realmente entre 4% e 5%. assim, é bem provável que a necessi-dade de mais ou menos 5 gW ao ano, pelo menos para os próximos anos, onde os hábitos de consumo e a tecnologia não deverão variar significativamente, sejam aplicá-veis como projeções de incremento de demanda.”

— É preciso haver mais investi-mentos em linhas de transmissão? — questionamos a seguir.

“Essa é uma excelente pergunta porque nos dá oportunidade de co-mentar algo sobre a confiabilidade do sistema elétrico nacional, que se imbri-ca definitivamente com o processo de densificação da malha de transmissão. Ou seja, de criar caminhos alternativos para a energia escoar, dentro da má-xima popular de ‘...quem tem um, não tem nenhum...’. aliás, esse é o princípio

basilar da internet que, criada por motivos mi-litares, forma um ma-lha muito fechada de caminhos alternativos, de modo a assegurar que a informação saia de um computador e chegue a outro, onde esse estiver. Portanto, mediante a elaboração de planos estratégicos, e respeitando a nossa

capacidade financeira e opera-cional, creio que devemos im-plantar novas linhas que permi-tam aumentar as alternativas de transmissão da energia elétrica gerada, a começar pelos princi-pais troncos de abastecimento e de transferências de cargas en-tre regiões. isso, sem dúvida, di-minuirá o risco de ocorrerem fu-turos ‘apagões’ no país. Ressalto que, nesse sentido, o PaC prevê a execução de aproximadamente 19 000 quilômetros de linhas de transmissão, com investimentos da ordem de 37 bilhões de reais, que acrescerá importante parce-la aos 95 000 quilômetros exis-tentes no siN.”

— O consumo brasileiro de energia elétrica foi de 35 357 gigawatts-hora em fe-vereiro último, acréscimo de 4% em relação ao mesmo mês de 2010. No primeiro bimes-tre do ano a demanda cres-

ceu 5,1% frente a igual período de 2010, para 71 121 GWh. Em 12 me-ses, houve alta de 7,1% no consumo, para 422 563 GWh. Esses números refletem o nível de crescimento da atividade econômica no país no pe-ríodo? — pedimos que conferisse.

“Confirmados esses números, não resta dúvida quanto ao aumento da ati-vidade econômica no país, que apresen-ta outros indicadores que corroboram essa constatação, a começar pelo pró-prio PiB, que cresceu 7,5% em 2010. algo que dá uma medida cabal desse frenesi de desenvolvimento que ora ex-perimentamos. No que se refere espe-cificamente ao fornecimento de ener-gia elétrica, a itaipu Binacional, por estar inserida nos contextos dos seto-res elétricos do Brasil e do Paraguai, tem procurado dar a sua contribuição a ambos os países, mantendo altos ní-veis de produção, com qualidade de fornecimento e praticando uma gestão de cunho socioambiental responsável, procurando assim cumprir o que prevê o Tratado que lhe deu origem, celebra-do pelos dois países.”

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“A potência adicionada possibilitou que a Usina Hidrelétrica de Itaipu se firmasse como a maiorgeradora de hidreletricidade do planeta”

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24 a 26 outubro 2011Foz do Iguaçu • PR

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Bernardo Figueiredo50

Diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)

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Na visão de Bernardo Figueiredo, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ao longo das diferentes etapas de concessões de rodovias federais o modelo de contrato celebrado com as concessionárias sofreu uma série de aperfeiçoamentos. Na Segunda Etapa de Concessões de Rodovias Federais, em 2007, foram realizadas modificações no edital que propiciaram a participação de novos grupos investidores, o que levou a uma maior competitividade e à obtenção de um deságio de 51% em relação à tarifa-teto do leilão. Em 2008 foram introduzidos nos contratos de concessão dispositivos voltados para a garantia do nível de serviços. Como, por exemplo, a vinculação do cronograma das obras ao volume de tráfego, que garante a execução dos investimentos de forma aderente às reais necessidades. Agora a ANTT prepara a terceira etapa de concessões federais. Segundo Figueiredo, a agência pretende conceder, ainda em 2011, as rodovias federais BR-116/MG trecho Divisa BA/MG – Divisa MG/RJ; BR-040/DF/GO/MG trecho Brasília-Juiz de Fora; e BR-101/ES trecho Divisa RJ/ES – Divisa ES/BA. Ele adianta que o Tribunal de Contas da União (TCU) está atualmente analisando a modelagem das concessões destas rodovias e a expectativa é de que esta análise esteja concluída até o início do segundo semestre, possibilitando que o leilão possa ser realizado até o final do ano. Sobre o Trem de Alta Velocidade (TAV), projeto de transporte de passageiros no corredor Rio de Janeiro-São Paulo-Campinas, Figueiredo considera que se trata de um sistema ágil, seguro, pontual e de grande capacidade de transporte. Segundo ele, o trem-bala dará ao Brasil o domínio de uma tecnologia de ponta, que poderá transformar o país em exportador de componentes desse serviço. Ele confirma que o leilão do TAV está previsto para 11 de julho próximo.

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Bernardo Figueiredoatural de Sete Lagoas, em Minas Gerais, Ber-nardo José Figueiredo Gonçalves de Oliveira é economista com pós-graduação em análise e elaboração de projetos e assumiu o cargo

de diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em 2008, para um mandato de qua-tro anos (2008-2012), com grandes desafios pela frente. Conhecido no setor dos transportes como um homem ferroviarista, Bernardo Figueiredo tem 35 anos de trabalhos dedicados à área de transportes. Iniciou sua carreira profissional em 1973, na extin-ta Empresa Brasileira de Planejamento de Transpor-tes (Geipot), tendo chegado a chefe de projetos, em 1975. Durante dez anos coordenou a área de trans-portes do setor siderúrgico, como superintendente de transportes da Siderbrás e presidente da Comis-são de Transportes do Instituto Brasileiro de Siderur-gia (IBS). De 1990 a 2003 ele trabalhou na iniciativa privada, como consultor e executivo de empresas de transporte rodoviário e ferroviário, quando partici-pou do programa de desestatização da malha ferrovi-ária. No governo Lula foi diretor da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes, onde elaborou o Plano de Revitalização das Ferrovias e coordenou a mode-lagem da concessão da Ferrovia Norte-Sul. Trabalhou desde outubro de 2005 na Casa Civil, monitorando os projetos de governo na área de transportes. Foi o responsável pelo acompanhamento das ações do Pro-grama de Aceleração do Crescimento (PAC) na área de rodovias e ferrovias. Até 2012 deverá estar à frente da ANTT. Figueiredo diz que ele se considera mais um profissional multimodal e enfatiza que para este ano estão previstas tanto a terceira etapa de concessões de rodovias federais como o leilão do Trem de Alta Ve-locidade (TAV), projeto de transporte de passageiros no corredor Rio de Janeiro-São Paulo-Campinas. Se-gundo ele, há nesse corredor demanda crescente por transporte de passageiros e tanto o sistema aéreo como o rodoviário já apresentam sinais de saturação. Ou seja, há necessidade urgente de elevados investi-mentos para atender à demanda.Em relação ao processo de privatização das ferrovias (carga) iniciado há 15 anos, Figueiredo entende que nos anos que seguiram à privatização da malha da Rede Ferroviária Federal, a partir de 1996, observou-se uma

rápida recuperação da capacidade instalada no siste-ma de transporte ferroviário. Esta recuperação é, no entanto, insuficiente para atender as necessidades do país e o modelo adotado não contempla instrumentos que encaminhem soluções. Para ele, o processo de pri-vatização foi conduzido como um instrumento de ajuste das contas do governo e não teve o objetivo de fomentar o desenvolvimento e a competição do setor ferroviário nacional. As concessionárias foram desobrigadas de qualquer compromisso de investimentos em expansão das ferrovias, e ainda detinham o monopólio da explo-ração dos serviços na sua malha. Ele lembra que atu-almente três empresas controlam cerca de 90% das ferrovias e são responsáveis pelo transporte de mais de 70% das cargas. “Adicionalmente apenas um produ-to, o minério de ferro, responde por cerca de 74% do volume total de cargas transportadas em ferrovias”, diz, acrescentando que algo como 65% da malha ferroviá-ria concedida encontra-se em situação de abandono ou subutilizada. Sobre a possibilidade de que o transporte ferroviário de passageiros possa readquirir a importân-cia que já teve no passado, Figueiredo costuma declarar que com a utilização da bitola estreita será mais difícil esse ressurgimento. Ele acha, no entanto, que com a ex-pansão da bitola larga (de 1,60 m) será possível pensar em ampliação do transporte ferroviário de passageiros. Hoje o sistema ferroviário brasileiro já conta com 5 000 quilômetros de vias com bitola larga. Mas Bernardo Fi-gueiredo declara nesta entrevista exclusiva à REVIsTA ENGENHARIA, que o PAC prevê a construção de 7 493 quilômetros de ferrovias com traçado moderno, em bi-tola larga, interligando as regiões produtoras aos mer-cados consumidores. Em sua visão, também a implanta-ção do trem-bala deve alavancar o modal.Figueiredo destaca, entre muitos outros assuntos, que a ANTT vê com muita atenção a questão da segurança vi-ária e, por isso, prevê, em suas concessões, a realização de melhoramentos nos projetos das interseções, dos acessos, dos retornos e dos entroncamentos nas rodo-vias. Ele cita também que são previstas passarelas para a travessia de pedestres nos pontos críticos de atrope-lamento e nos locais de maior utilização por pedestres. E confirma que as concessionárias são obrigadas tanto a restaurar e implantar novas barreiras de proteção e guard-rails como a instalar controladores de velocida-de. A seguir, os principais trechos da entrevista.

rodovias federais“Terceira rodada de concessões de

será realizada ainda em 2011”51

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52Já foi publicado o edital de licitação do trem de alta velocidade, cujo leilão está previsto para o mês de julho

REVISTA ENGENHARIA – Quais os grandes problemas e principais avanços nos últimos anos no transporte de passageiros e de car-gas nos sistemas ferroviário, rodoviário e hidroviário? BERNARDO FIGUEIREDO – a economia brasilei-ra nos últimos anos experimentou um crescimen-to econômico que não era observado há muito tempo. O aumento da produção gerou pressões sobre a infraestrutura de transportes, que sub-sistia a um cenário de investimentos reduzidos e concentrados principalmente em sua manu-tenção. Nos últimos oito anos, para fazer frente a este crescimento, foram duplicados 1 843 qui-lômetros de rodovias e pavimentados mais 3 422 quilômetros. O programa de manutenção da ma-lha rodoviária garantiu que 60% das rodovias es-tivessem em ótimo ou bom estado e 30 % em es-tado regular. No setor ferroviário foram iniciadas obras em mais de 4 600 quilômetros de ferrovias de bitola larga, cujos benefícios são o transporte em maior velocidade e volume de carga. No modal hidroviário foi concluída a eclusa do Tucuruí, in-terrompida há mais de 20 anos, que possibilita a navegação comercial no Rio Tocantins entre o mu-nicípio paraense de Marabá e a capital daquele es-tado, Belém. Em relação ao transporte ferroviário de passageiros, foi desenvolvido e publicado o edi-tal de licitação para a construção do Trem de alta velocidade – o Tav ou trem-bala –, cujo leilão está previsto para o próximo mês de julho. No caso do transporte rodoviário de passageiros está pro-gramada para dezembro próximo a assinatura de contratos e o início do processo de transição dos serviços às empresas que vencerem as licitações, aumentando a competitividade do setor e melho-rando a qualidade na prestação dos serviços.

REVISTA ENGENHARIA – Em escala estadual paulista, quais os principais avanços ocorri-dos nos últimos anos?FIGUEIREDO – Entre os principais avanços do Es-tado de são Paulo no setor de infraestrutura me-rece destaque a construção do Rodoanel Trecho sul, com participação de recursos federais e a concessão das rodovias BR-381 [Rodovia Fernão dias], BR-116 [Régis Bittencourt] e BR-153 [Ro-dovia Transbrasiliana]. No setor ferroviário, além do Tav vale citar a construção da Ferrovia Norte-sul que interliga são Paulo aos portos e econo-mias das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. E também merece menção a elaboração do proje-to do Ferroanel, que visa retirar o fluxo de carga ferroviária do centro da cidade de são Paulo, o que vai gerar benefícios para economia paulista. No caso de projetos de infraestrutura na capital

paulista merecem destaques os aportes do governo fede-ral, por meio do Banco Nacio-nal de desenvolvimento Eco-nômico e social [BNdEs] para a expansão da linha 2-verde do Metrô de são Paulo entre as estações ana Rosa a alto do ipiranga; ou o aporte de 1,6 milhão de reais para a implan-tação do trecho da mesma linha de metrô entre as estações alto do ipiranga a vila Prudente. ao todo, entre 2007 e 2010, o BNdEs disponibilizou recursos da ordem de 3,3 bilhões de reais para investimentos do Metrô de são Paulo e da Com-panhia Paulista de Trens Metropolitanos, a CPTM.

REVISTA ENGENHARIA – Especificamente em relação às propostas do PAC, quais as prin-cipais obras em curso e projetos ainda não iniciados na área de transportes terrestres?FIGUEIREDO – Na área de ferrovias já foram con-cluídas, pelo PaC, obras totalizando 909 quilôme-tros e estão em andamento mais 3 757 quilôme-tros. a Ferrovia Norte-sul, cujas obras interligam Palmas, capital de Tocantins, a anápolis, no Estado de goiás, com 855 quilômetros, será concluída até o início do segundo semestre. a Ferrovia de integração Oeste-leste, com 537 quilômetros, atualmente em obras, e a Ferrovia Transnordesti-na, com 1 801 quilômetros de extensão, também em execução, são duas ações também relevantes. a Ferrovia de integração do Centro-Oeste, por sua vez, com 1 630 quilômetros, terá suas obras licitadas ainda no mês de junho. Esta ferrovia in-terliga a agroindústria da Região Centro-Oeste, em forte expansão, ao Polo de uruaçu, em goiás –, por onde passa a Ferrovia Norte-sul direcionando produtos ao exterior e às demais regiões do país. as obras do trem-bala Campinas-são Paulo-Rio de Janeiro, por seu lado, deverão ter início em 2012. Também estão em fase de contratação pela valec os estudos de viabilidade da extensão da Ferro-via Norte-sul até o Porto do Rio grande, no Rio grande do sul. Esta ligação poderá integrar-se à Ferrovia Norte- sul criando um eixo ferroviário em bitola larga – ou seja, de 1,60 m – entre o Pará e o Rio grande do sul, criando um novo cenário logístico para o transporte ferroviário de cargas no Brasil. adicionalmente, na Região sul está sen-do elaborado o projeto básico da Ferrovia litorâ-nea, que terá 240 quilômetros, entre imbituba e araquari – ambas situadas em santa Catarina –, e prevista a contratação do projeto básico para as obras do Corredor Ferroviário de santa Catarina interligando itajaí, Chapecó e dionísio Cerqueira,

todas em território catari-nense. O estudo de viabilidade da ligação ferroviária entre Maracajú, no Mato grosso do sul, e o Porto de Paranaguá, no Paraná, também está em processo de contratação pela valec. Este trecho integrará a concessão da Ferroeste e se li-gará com a Ferrovia Norte-sul.

Também é de grande importância a contratação dos estudos ambientais e projetos básicos e exe-cutivos que indicarão os caminhos para o início de obras da Ferrovia do Pantanal, com cerca de 750 quilômetros, que interligará Porto Murtinho, dou-rados – ambas no Mato grosso do sul – e Panora-ma, em território paulista. Bem como da extensão da ferrovia Norte-sul entre Panorama e Estrela do Oeste, em solo paulista, em cerca de 220 quilôme-tros. No caso do transporte ferroviário de passa-geiros, estão previstos estudos para a extensão da rede de trens de alta velocidade até Curitiba, Belo Horizonte e Triângulo Mineiro. Na área de rodovias, em 2007 foram concedidos 2 601 qui-lômetros no âmbito do PaC, envolvendo as seguin-tes rodovias: BR-116/PR/sC [o trecho da BR-116 entre Curitiba, no Paraná, e a divisa dos estados de santa Catarina e Rio grande do sul], BR-376/PR [conhecida no trecho paranaense como Rodovia do Café], BR 101/sC [denominada oficialmente de Rodovia governador Mário Covas]; BR-116/sP/PR [Régis Bittencourt], BR-381/Mg/sP [Fernão dias]; BR-101/RJ /Es [Rodovia Translitorânea], BR-153/sP [Rodovia Transbrasiliana], e BR-393/RJ [antiga Rio-Bahia]. Já em 2008 foram concedidos mais 680 quilômetros da BR 342/116/Ba. Estão pre-vistas ainda as concessões da BR-040 [Rodovia Washington luís]; BR-116 [Régis Bittencourt], e BR-101 [Mário Covas], totalizando 2 254 quilôme-tros. Estes projetos estão sendo analisados pelo Tribunal de Contas da união [TCu] e seus editais devem ser publicados ainda neste ano.

REVISTA ENGENHARIA – O senhor pode co-mentar a importância do TAV entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro? Afinal, qual o in-vestimento estimado para o projeto? FIGUEIREDO – O Tav inaugura uma nova moda-lidade de transporte no país. Com sua velocida-de, segurança, custo da passagem e benefícios ambientais, passa a competir diretamente com o transporte rodoviário e aeroviário. a interliga-ção dos aeroportos do galeão, guarulhos e vira-copos e destes com as regiões centrais do Rio e são Paulo permitirá a otimização do uso destas infraestruturas e viabilizará a exploração poten-

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cial de viracopos. as alternativas para solucionar a saturação da infraestrutura deste eixo frente à crescente demanda – como a construção de novos aeroportos ou rodovias –, não resolveriam este problema, pois logo estariam obsoletas. adi-cionalmente, tais obras implicariam em elevados custos ambientais e sociais. O transporte ferrovi-ário em alta velocidade é a solução mais moderna e adotada mundialmente em função da qualidade dos serviços que oferece e de ser uma alternativa de transporte capaz de expandir sua capacidade com investimentos marginais. Finalmente a mo-delagem de concessão adotada é inovadora, desa-fiante para os investidores e a que exige menos recursos públicos entre as adotadas em todos os sistemas semelhantes. Entre os interessados no projeto, orçado em 33,1 bilhões de reais, espera-se a participação dos grupos detentores desta tecnologia na Coreia do sul, Japão, França, alema-nha e Espanha, que já manifestaram esse desejo, e de grupos liderados por construtoras brasileiras, que negociam associar-se às empresas detento-ras de tecnologia. O leilão do Tav está previsto para 11 de julho próximo.

REVISTA ENGENHARIA – Quanto por cento do projeto do trem-bala corresponderia à construção civil e quanto por cento seria de tecnologia? E qual o papel dos Correios nessa história? FIGUEIREDO – Bem, como já me referi, o projeto do Tav está estimado em 33,1 bilhões de reais. des-te valor 69,2% correspondem a obras de constru-ção civil – terraplenagem, obras de arte, via per-manente, edificações e equipamentos. O restante incorpora a tecnologia em sistemas, material ro-dante, serviços complementares. além das des-pesas socioambientais relacionadas à utilização deste meio de transporte. detalhando item por item, temos que a terraplenagem deverá corres-ponder a 6,4% dos custos do projeto do trem-bala [2,12 bilhões de reais]; estruturas participa com 52,8% do total [17,5 bilhões de reais]; edificações e equipamentos com 4,1% [1,36 bilhão de reais]; sinalização e telecomunicações com 1,7% [572,5 milhões de reais]; via permanente com 5,9% [1,94 bilhão de reais]; socioambiental com 11,8% [3,9 bi-lhões de reais]; eletrificação com 3,7% [1,23 bilhão de reais]; material rodante com 7,5% [2,48 bilhões de reais]; serviços complementares com 6,1% [2 bilhões de reais]. Em relação à participação de empresas no projeto, o estudo de viabilidade técnica e econômica indicou uma taxa interna de retorno de 9,2% para os acionistas. desta forma cabe aos Correios avaliar a atratividade empresa-rial de se associarem ao consórcio vencedor do

53Tav, após a realização do leilão. O edital já prevê a entrada de um sócio estratégico – pode ser uma empresa pública, uma empresa privada ou um fun-do de pensão – após o leilão. O Citibank demons-trou interesse em participar do projeto como as-sessor ou estruturador financeiro.

REVISTA ENGENHARIA – Quais a principais construtoras nacionais interessadas em participar do projeto de construção do trem-bala?FIGUEIREDO – Existem inúmeras construtoras que manifestaram interesse na participação na li-citação do projeto. O edital de concessão do Tav é aberto à participação dos diferentes detentores de tecnologia em trens de alta velocidade e adota um modelo que privilegia o grupo que apresente a melhor proposta em termos da tarifa-teto para o usuário, e que se comprometa a uma integral e incondicional aceitação do programa de transfe-rência de tecnologia.

REVISTA ENGENHARIA – Como o senhor ana-lisa o programa de concessões de rodovias federais no Brasil, cujo último leilão ocorreu em janeiro de 2009 e envolveu 680 quilôme-tros de estradas na Bahia?FIGUEIREDO – ao longo das diferentes etapas de concessões o modelo de contrato celebrado com as concessionárias sofreu uma série de aperfeiçoamentos. Na segunda Etapa de Conces-sões de Rodovias Federais, em 2007, foram rea-lizadas modificações no edital que propiciaram a participação de novos grupos investidores o que levou a uma maior competitividade no leilão e a obtenção de um deságio de 51% em relação à tarifa teto de leilão. Em 2008, foram introduzidos nos con-tratos de concessão disposi-tivos voltados para a garantia do nível de serviços como, por exemplo, a vinculação do cro-nograma das obras ao volume de tráfego, que garante a exe-cução dos investimentos ade-rente à sua real necessidade. Os desafios futuros podem ser pensados sobre duas ver-tentes, uma delas refere-se à necessidade de aperfeiçoar as concessões da Primeira Etapa, cujos Programas de Ex-ploração das Rodovias [PER] não preveem um volume de

investimentos necessários ao aumento de segu-rança e eficiência das rodovias. Como, por exem-plo, a construção de uma nova pista no trecho da serra das araras da via dutra; a construção de uma nova pista para o trecho Rio-Teresópolis na BR-040; além da adequação da capacidade na Ponte Rio-Niterói, que necessita de obras para desafogar o trânsito ao seu redor. a segunda vertente é a construção de um novo modelo de concessões que permita ampliar a possibilidade de utilização deste instrumento para financiar o investimento na recapacitação do sistema rodo-viário nacional e garantir a manutenção de níveis de serviços adequados por longo prazo.

REVISTA ENGENHARIA – A ANTT pretende re-tomar ainda em 2011 a concessão à iniciati-va privada de trechos de rodovias federais?FIGUEIREDO – sim, a aNTT pretende conceder as rodovias federais da Terceira Etapa de Con-cessões ainda em 2011. deverão ser concedidas rodovias como a BR-116/Mg trecho divisa Ba/Mg – divisa Mg/RJ; BR-040/dF/gO/Mg trecho Brasí-lia – Juiz de Fora; e BR-101/Es trecho divisa RJ/Es – divisa Es/Ba. O Tribunal de Contas da união [TCu] está atualmente analisando a modelagem das concessões destas rodovias e a expectativa é de que esta análise esteja concluída até o início do segundo semestre, possibilitando que o leilão possa ser realizado ainda em 2011.

REVISTA ENGENHARIA – Há técnicos, como Adriano Branco, que defendem que as rodo-

vias não podem mais ser concebidas apenas com o único objetivo de permitir o máximo fluxo de tráfego possível, mas sim com vis-tas – primordialmente – à segurança. Em sua opinião, quais os conceitos básicos envolvidos nos transpor-tes que precisam ser re-formulados para melhorar a segurança?FIGUEIREDO – a aNTT vê com muita atenção a questão da segurança viária e por isso prevê em suas concessões a realização de melhoramentos nos projetos das interseções, dos acessos, dos retornos e dos entroncamentos nas ro-dovias. são previstas também passarelas para a travessia de pedestres nos pontos críticos

ENTREVISTABernardo Figueiredo

É preciso investir na recapacitação do sistema rodoviário nacional e garantir a manutenção dos níveis de serviços por um longo prazo

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46de atropelamento e nos locais de maior utilização por pedes-tres. E as concessionárias são obrigadas tanto a restaurar e implantar novas barreiras de proteção e guard-rails, como a instalar controladores de velocidade. Nos trechos ur-banos é prevista a execução de vias marginais às rodovias, para segregar o tráfego de passagem do tráfego local. O pavimento e a si-nalização das rodovias devem atender a padrões rígidos de qualidade, conforto e segurança. Há ainda a previsão da correção de traçado de pon-tos críticos e o alargamento de pontes. Todas essas questões são fiscalizadas e exigidas pela aNTT, e todas as melhorias devem ter seus pro-jetos analisados pela agência, segundo as melho-res técnicas. Essas são medidas para prevenir os acidentes. Para minimizar as consequências dos acidentes, as concessões fiscalizadas pela aNTT possuem, de pontos em pontos da rodovia, ambulâncias equipadas, socorristas e médicos de prontidão 24 horas por dia para atendimento de acidentes. Há ainda guinchos, veículos para extinguir fogo, equipamentos para a retirada de pessoas de ferragens, veículos para a apreensão de animais, equipes de inspeção de pista, telefo-ne de emergência e câmeras de monitoramento instaladas na rodovia, entre outros. as conces-sões de rodovias, a partir da segunda etapa, pos-suem em seu Programa de Exploração da Rodovia [PER] investimentos suficientes para atender à demanda existente e para comportar o cresci-mento do tráfego, dentro de padrões aceitáveis de fluidez, conforto e segurança. Finalmente, a aNTT aprovou recentemente uma resolução que dispõe sobre os sistemas inteligentes de Trans-porte [iTs]. Esta resolução define os equipamen-tos e sistemas que as concessões rodoviárias devem ter. Tais equipamentos permitem colher informações em tempo real sobre o tráfego, a exemplo de: velocidades de percurso, volume de veículos e as suas placas, além de informações meteorológicas ao longo da rodovia. Os siste-mas inteligentes são dotados de circuitos fecha-dos de Tv que detectam a parada de veículos no acostamento, bem como as saídas de veículos da pista em função de acidentes. Tais informações alimentam os centros de controle operacional das concessionárias e possibilitam a ação ime-diata para socorro ou atendimento do problema. Os dados de tráfego e do tempo, por sua vez, geram informações que são disponibilizadas aos usuários em painéis de mensagem afixados ao

longo da rodovia aumentando a segurança e permitindo que os usuários planejem melhor suas viagens.

REVISTA ENGENHARIA – Que balanço o senhor faz do processo de transfe-rência das ferrovias para a iniciativa privada, após quase 15 anos?

FIGUEIREDO – Nos anos que seguiram à priva-tização da malha da Rede Ferroviária Federal, a partir de 1996, observou-se uma rápida recu-peração da capacidade instalada no sistema de transporte ferroviário. Esta recuperação é, no entanto, insuficiente para atender as necessida-des do país e o modelo adotado não contempla instrumentos que encaminhem soluções. O pro-cesso de privatização foi conduzido como um ins-trumento de ajuste das contas do governo e não teve o objetivo de fomentar o desenvolvimento e a competição do setor ferroviário nacional. as concessionárias foram desobrigadas de qualquer compromisso de investimentos em expansão das ferrovias, e ainda detinham o monopólio da explo-ração dos serviços na sua malha. atualmente três empresas controlam cerca de 90% das ferrovias e são responsáveis pelo transporte de mais de 70% das cargas. adicionalmente, apenas um pro-duto, o minério de ferro, responde por cerca de 74% do volume total de cargas transportadas em ferrovias. E tem mais: algo como 65% da malha ferroviária concedida encontra-se em situação de abandono ou subutilizada.

REVISTA ENGENHARIA – Criou-se então uma estrutura de oligopólio?FIGUEIREDO – O que eu acho é que a privatização das ferrovias para a iniciativa privada resultou em um mercado pouco competitivo, de baixa utiliza-ção, com pouca eficiência e de acesso limitado a um número exclusivo de clientes. a proposta de revisão deste quadro iniciou-se com a retomada do investimento público na construção de ferro-vias e a possibilidade de que nestas ferrovias seja adotado um novo modelo de exploração onde as vias são abertas à entrada de operadores ferro-viários e logísticos. Estes operadores competem entre si pelo transporte de diferentes mercado-rias e por clientes. Tal modelo elimina o monopólio na prestação de serviços de transporte ferroviá-rios e cria novas possibilidades para a expansão da malha ferroviária por meio da incorporação de novas regiões e mercados. Paralelamente à regu-lamentação das concessões, que foram realiza-

das naquele período, busca-se criar um ambiente competitivo nas ferrovias; obrigar as concessio-nárias a recuperar os trechos abandonados; criar um novo marco regulatório para retomada dos investimentos na modernização da malha existen-te; e permitir aos usuários, não atendidos pelas ferrovias, organizarem seu próprio transporte.

REVISTA ENGENHARIA – A malha ferroviária alcança 28 000 quilômetros, mas o que re-almente pode ser considerado ferrovia em atividade mal chega a 10 000 quilômetros, concentrados na Região Sudeste, em corre-dores direcionados aos portos. O que fazer para ampliar a extensão da malha?FIGUEIREDO – a expansão da malha ferroviária depende da realização de novos investimentos, bem como do aumento da competitividade no transporte ferroviário de cargas, ou seja, do cres-cimento do número de usuários das ferrovias. O PaC prevê a construção de 7 493 quilômetros de ferrovias com traçado moderno, em bitola larga de 1,60 m, interligando as regiões produtoras aos mercados consumidores. além da construção de 511 quilômetros relativos ao Tav, ligando Cam-pinas, são Paulo e Rio de Janeiro. adicionalmente estão sendo desenvolvidos estudos avaliando a construção de 7 758 quilômetros de novas liga-ções ferroviárias e 1 460 quilômetros em liga-ções para o transporte de passageiros em trens de alta velocidade. Em relação aos trechos não utilizados a aNTT está redefinindo a metodologia de fixação de metas da concessão de forma que as concessionárias terão que definir uma meta de transporte para todos os trechos ferroviários concedidos e que eventuais sobras de capacidade sejam oferecidas para o direito de passagem de outra concessionária. Os trechos que não forem explorados terão que ser devolvidos ao poder concedente, nas condições definidas no contrato. E serão também objeto de uma reavaliação para definir sua melhor destinação.

REVISTA ENGENHARIA – Há gargalos a serem solucionados? Como tem sido o trabalho da ANTT nesse sentido?FIGUEIREDO – Os principais gargalos no transporte ferroviário relacionam-se ao fato de que a maior parte da infraestrutura utili-zada, praticamente todo o sistema de bitola estreita, ter sido construída no final do século 19 e início do século 20. E desde essa época, com a rápida urbanização e poucos investimentos realizados em adequação e modernização de traçados, as ferrovias foram in-corporadas ao processo de urbanização e cresci-

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O PAC prevê aconstrução de 7 493 quilômetros deferrovias com traçadobastante moderno ecom a bitola largade 1,60 m

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mento das cidades, sofrendo principalmente com o excesso de cruzamentos com o sistema rodovi-ário, a precária sinalização destes cruzamentos e a invasão e ocupação de suas faixas de domínio. a solução seria a remodelação das ferrovias e a construção de contornos ferroviários nos cen-tros urbanos. E o principal entrave à realização destes investimentos é a falta de previsão nos contratos de concessão atuais de obrigações de sua realização ou de mecanismos que permitam ao poder concedente realizar os investimentos e garantir o repasse dos benefícios gerados aos usuários. No âmbito de sua atuação, a aNTT tem adotado medidas com o objetivo de induzir a rea-lização destes investimentos. Como, por exemplo, o novo sistema de fixação de metas, as regras de direito de passagem e as regras para o usuário investidor, além de avaliar a possibilidade de re-pactuação dos contratos. Também como medida de fomento aos investimentos em infraestrutura foi criado em 2007 o Regime Especial de incenti-vos para o desenvolvimento da infraestrutura, o Reidi, para desonerar tributos em setores estra-tégicos do país, inclusive ferrovias e portos.

REVISTA ENGENHARIA – O setor ferroviário já tem novas regras para o transporte de cargas?FIGUEIREDO – Como já afirmei, atualmente cerca de 65% da malha ferroviária está abandonada ou é subutilizada. Ocorre que muito destes trechos possuem viabilidade econômica, mas não são explo-rados pelo fato das concessionárias concentrarem o transporte em trechos com maior rentabilidade, ou ainda no transporte de carga própria. a propos-ta da aNTT é de que estes trechos sejam recupera-dos pelas concessionárias, ou devolvidos ao Estado em condições de operar. Está sendo preparada abertura de audiência pública sobre a Resolução que irá determinar os prazos para que as conces-sionárias apresentem suas propostas de recupe-ração ou devolução dos trechos. Outra proposta é a instituição de metas de segurança e de produção para cada trecho da malha. atualmente, estas me-tas são verificadas para a ferrovia como um todo, não se levando em conta a distribuição dos resul-tados entre os trechos. Por isso, muitas vezes a concessionária acaba priorizando determinados trechos, em detrimento de outros. Também estão sendo revistos os procedimentos para tráfego mú-tuo e direito de passagem, ou seja, a situação em que uma concessionária necessita trafegar pela malha de outra para realizar parte do percurso de seu transporte. a proposta é rever as regras para facilitar o trânsito e incrementar o transporte nas ferrovias. as regras para usuários dependentes de

ferrovias também serão revistas, visando conferir maior estabilidade aos projetos de investimentos em negócios que utilizem o transporte ferroviário como parte fundamental de sua cadeia logística. Com essa estabilidade, novas indústrias se esta-belecerão ao longo das ferrovias, incrementando a utilização de trechos ociosos.

REVISTA ENGENHARIA – Qual a verdadeira importância da Ferrovia Norte-Sul no plano de expansão da malha ferroviária nacional e em que estágio está sua construção?FIGUEIREDO – a Ferrovia Norte-sul é importante porque promoverá a integração nacional, mini-mizando custos de transporte de longa distância e interligando as regiões Norte e Nordeste às re- giões sul e sudeste, através das suas conexões com 5 000 quilômetros de ferrovias. Esta ferrovia vai criar uma logística competitiva para o setor produtivo dos estados do Pará, Maranhão, Tocan-tins e goiás que passarão a contar com opções logísticas tanto no sentido dos portos do Norte quanto no sentido do Porto de santos. a Ferrovia Norte-sul, até o advento do PaC, era de fato dois ramais criados por decreto: um ramal ligando açailândia, no Maranhão, a Colinas de Tocantins, em solo tocantinense, e outro ligando anápolis a Porangatu, ambas em goiás. O primeiro, ligado à Ferrovia de Carajás, em bitola larga; e o segundo à Ferrovia Centro atlântica, em bitola estreita. No PaC a ferrovia passou a ser uma ferrovia em bito-la larga ligando Belém do Pará a Estrela do Oeste, em são Paulo, a qual está sendo construída a uma velocidade de 300 quilômetros por ano. O trecho que liga a ma-ranhense açailândia à capital tocantinense de Palmas, com 719 quilômetros de extensão, encontra-se concluído. O tre-cho Palmas-anápolis, de 855 quilômetros, por sua vez, será concluído agora em agosto de 2011. E o trecho que liga Ouro verde, em goiás, à paulista Estrela do Oeste – com 681 quilômetros de extensão e atu-almente em obras –, será con-cluído em dezembro de 2012.

REVISTA ENGENHARIA – Qual o papel da Ferrovia de Integração Oeste-Leste e para quando está prevista a sua construção?FIGUEIREDO – a Ferrovia de integração Oeste-leste ligará

as cidades de ilhéus, Caetité e Barreiras – todas no Estado da Bahia – a Figueirópolis, no Estado do To-cantins, formando um corredor de transporte ar-ticulado com o Porto de Ponta da Tulha, em ilhéus, concebido para ser uma plataforma logística alter-nativa para toda a região. Esta ferrovia dinamizará o escoamento da produção do Estado da Bahia e servirá de ligação dessa região com outros polos do país, por intermédio de conexão com a Ferro-via Norte-sul, integrando a Bahia ao novo sistema ferroviário em bitola larga. a ferrovia criará uma logística competitiva para o setor de agronegócios da região de Barreiras, para a produção mineral da região de Caetité, e será um instrumento de indu-ção do desenvolvimento ao longo de seu traçado.atualmente são executadas obras em 537 quilô-metros da ferrovia no trecho de ilhéus a Caetité. O segmento seguinte, de Caetité a Barreiras, com 485 quilômetros, já foi licitado e o início das obras deverá acontecer após a emissão da licença de ins-talação, pelo ibama, prevista para este semestre ainda. Por fim, a ligação Barreiras a Figueirópolis, com 505 quilômetros, deverá ter seu projeto exe-cutivo concluído também neste primeiro semestre.

REVISTA ENGENHARIA – Qual a importância da Transnordestina para a logística do país? FIGUEIREDO – até o PaC, a Ferrovia Transnor-destina estava limitada à construção de um tre-cho no interior de Pernambuco, em continuação a um trecho ferroviário construído há mais de 100 anos – e abandonado –, que ligaria Petrolina e salgueiro à capital Recife. a Nova Transnordes-

tina é um sistema moderno, em bitola larga, interligando o interior do Piauí aos portos de Pecém e suape e vai ser um fator importante do desenvol-vimento regional através da realização do potencial pro-dutivo nos setores mineral e agroindustrial da sua área de influência. atualmente, dos 1 728 quilô-metros a serem construídos, encontram-se em obras 876 quilômetros. a previsão é que os demais trechos entrem em obras ainda neste ano. a con-clusão da ferrovia está previs-ta para 2012. Numa segunda etapa, a Nova Transnordestina será ligada à Ferrovia Norte-sul e se integrará à nova ma-lha ferroviária de bitola larga que está sendo implantada.

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ENTREVISTA

A Ferrovia Norte-Sul é importante porque promoverá a integração nacional, minimizando custos de transporte de longa distância

Bernardo Figueiredo

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Por Juan Garrido

São Paulo

São Paulo continua fazendo por merecer o tí-tulo de cidade mais digital da América Latina, concedido no final de 2009 por especialistas internacionais de renome que analisaram o ní-vel de digitalização de 150 cidades em 15 paí-ses da região. Um exemplo disso são os cons-tantes anúncios, pelo prefeito Gilberto Kassab, de avanços na governança municipal via web. Como no caso do recente lançamento do Sis-tema de Gerenciamento da Fiscalização (SGF), que vai usar equipamentos eletrônicos online e emissão de multas no local da fiscalização. Ser uma cidade digital significa que o espaço em que os atores sociais vivem apresenta a possibilidade de interação virtual. Ao mesmo tempo em que, diminuindo a lacuna digital, o governo pode também minimizar o buraco so-cial. Ao conceder a liderança latino-americana a São Paulo, os especialistas especificaram que a capital paulista se destaca em aspectos como governo eletrônico, serviços prestados aos cidadãos pela internet e compromisso com a inclusão digital, entre outros. Para se che-gar a esse patamar de excelência foi decisiva a atuação da Empresa de Tecnologia da Infor-mação e Comunicação do Município de São Paulo (Prodam), que há exatos 40 anos im-planta sistemas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) que servem de ferramenta de governo para a prefeitura. Ao lado disso, a Prodam acumula a memória de como os pro-cessos das mais variadas naturezas funcionam e evoluem na administração municipal. Segun-do seu atual presidente, José de Ribamar Bar-bosa Mendes, ao longo dessas quatro décadas a Prodam compreendeu que o papel de uma empresa de TIC na área pública não se reduz a ter uma posição reativa em relação aos clien-tes, mas, pelo contrário, é o de assumir uma função proativa na formulação da estratégia tecnológica do ente público. Não por acaso, ao

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São PauloCidade Digital

longo de sua trajetória a Prodam consolidou-se como empresa fundamental para a moder-nização e transparência da gestão pública da cidade de São Paulo. Só para se ter uma ideia de magnitude, a prefeitura conecta mais de 3 000 estabelecimentos no data center da Prodam no bairro paulistano da Barra Fun-da: algo como 1 600 escolas, 800 postos de atendimento de saúde, hospitais, subprefei-turas, as unidades das secretarias municipais e outros gabinetes. Os estabelecimentos se conectam de duas formas: utilizando as em-presas de telecom que fornecem links para acesso ao backbone central da Prodam, ou por meio de uma rede ótica da própria Pro-dam. A empresa tem uma rede de 73 quilô-metros de fibra ótica chamada Aura (sigla de Anel Urbano de Acesso) que sai da Vila Ma-riana (onde há um data center menor), passa por todo o centro da cidade e atende aos 33 pontos principais da prefeitura. É uma rede que trafega até um gigabit por segundo, mas a companhia passa por um upgrade para che-gar até 10 gigabit por segundo. A meta futura é de se atingir 40 gigabit por segundo, quan-do então se conseguirá integrar todos aque-les 3 000 pontos dentro da própria Rede Aura. Atualmente a Prodam conta com muitas cen-tenas de servidores físicos e algo como 250 servidores virtuais, que entram no conceito de cloud computing – ou “computação em nuvem”, cujas características também são ex-plicadas no decorrer desta reportagem. Uma das curiosidades que aparecem nas páginas a seguir é que a “invenção” do CEP (Código

de Endereçamento Postal), usado pelos Correios, ocor-reu no âmbito da Prodam, ao longo do trabalho desenvol-

vido pela empresa, nos anos 1970, visando ra-cionalizar a entrega dos carnês do IPTU para os munícipes paulistanos.

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Empresa de Tecnologia da informação e Comunicação do Município de são Paulo (Prodam) não é apenas uma em-

presa desenvolvedora de software e sistemas de informática, mas sim um agente de políti-ca pública, além de uma parceira do governo municipal na promoção da qualidade de vida do cidadão. isso é o que diferencia a Prodam de um fornecedor de serviços de informáti-ca qualquer. longe de exercer um papel que pudesse ser confundido com “monopólio”, ao longo destes 40 anos de existência (que completa em 2011), um dos grandes focos da Prodam é garantir a continuidade dos pro-cessos nas normais e periódicas mudanças de prefeito e de secretariado municipal. algo que um fornecedor privado de tecnologia da informação e comunicação (TiC) não estaria obrigado a garantir, uma vez que, findo o seu contrato de serviços com a municipalidade, ele estaria desimpedido de outros compro-missos. Ou seja, a Prodam é quem garante a integração, a relação serviço/qualidade de vida do cidadão paulistano e isso não é uma função que os fornecedores privados tenham a vocação natural de exercer.

do ponto de vista de sua organização, a Prodam é uma empresa de economia mis-ta que apoia a prefeitura paulistana na ela-boração das políticas de informação e de informática da cidade, assim como atua na modernização dos órgãos e entidades muni-cipais, oferecendo serviços nas áreas de TiC, viabilizando um atendimento de qualidade à população e contribuindo para o desenvol-vimento social e econômico. além da presi-dência, a empresa obedece a uma estrutura organizacional formada, entre outros aspec-tos, por seis instâncias: a vice-presidência de Relacionamento, desenvolvimento e Tecnolo-gia (vPR), as diretorias de Relacionamento e desenvolvimento i e ii, de infraestrutura, de administração e Finanças, e de Participação.

Os sistemas desenvolvidos pela Prodam estão dirigidos principalmente para a auto-mação da gestão pública, geoprocessamento, aplicações para as áreas de educação, saúde, esporte, cultura, entre outras. Está também no seu escopo acompanhar diferenciados processos administrativos. a organização tem investido na excelência de atendimento e no fortalecimento de seu modelo de ges-tão, priorizando cada vez mais o empreende-dorismo e a inovação, a fim de alinhar suas diretrizes à tendência mundial do setor. Com

base nisso, as soluções desenvolvidas pela Pro-dam contribuem para a melhoria do desempe-nho da prefeitura em diferenciadas áreas.

segundo Rubens Chammas, titular da secretaria de Plane-jamento, Orçamento e gestão – à qual está vinculada a Prodam –, dentro do processo de modernização da ad-ministração pública, não se poderia deixar de olhar a internet como uma forte aliada na desburocratização dos processos, permi-tindo que serviços antes só oferecidos em locais físicos possam estar online no Portal da Prefeitura. “são oferecidos mais de 1 000 serviços pela internet, e temos certeza de que vamos aumentar ainda mais as soluções de modernização e desburocratização usan-do essa tecnologia”, diz ele, acrescentando que tem sido da maior relevância o papel da Prodam nestes 40 anos, que culminam com o reconhecimento de são Paulo como Cidade mais digital da américa latina. “a Prodam é importante pela sua história, pela sua experi-ência e principalmente pela sua abrangência de serviços e soluções. a cidade de são Paulo é destaque, principalmente, pelos serviços oferecidos ao cidadão através da internet. E a Prodam é parte fundamental na sustentação desses serviços, pois tem a responsabilidade de manter os mais diferentes sistemas fun-cionando, tanto para o cidadão como para os servidores da prefeitura, preparando, assim, o município paulistano para que seja, cada vez mais, uma referência no trato transparente das informações.”

a pesquisa que aponta são Paulo como a Cidade mais digital da américa latina foi feita pela Motorola e Convergência Research, que analisaram o nível de digitalização de 150 cidades em 15 países da região iberoameri-cana. Os municípios de Mérida e Chihuahua, do México, e san luis, da argentina, ocupam o segundo, terceiro e quarto lugares no ranking, respectivamente. além de são Paulo, a outra única cidade brasileira que consta na lista das “25 mais digitais” foi salvador. a ca-pital baiana ocupa a 12ª posição no ranking. segundo os analistas da Motorola, inclusão digital é algo que tem extrema importância para a região e deve continuar sendo uma

prioridade real dos go-vernos. ser uma cidade digital significa que o espaço em que os ato-res sociais vivem apre-senta a possibilidade de interação virtual. Ou seja, diminuindo a lacuna digital, o gover-no também minimiza o buraco social.

O ranking das 25 cidades mais digitais da américa latina se-lecionadas pelo estudo é o seguinte: (1) são Paulo – Brasil; (2) Chihuahua – México; (3) Mérida – México; (4) san luis – argentina; (5) guadalajara – México; (6) Florida – uruguai; (7) santiago – Chile; (8) Bogotá – Colômbia; (9) Chacao e Caracas – venezuela; (10) las Condes – Chile; (11) los Olivos – Peru; (12) salvador –Brasil; (13) san Joaquín – Chile; (14) Medellín – Colômbia; (15) Buenos aires – argentina; (16 e 17) Tuxtla 2 – México, e viña del Mar 2 – Chile; (18) Boca del Río – Mé-xico; (19) Marcos Paz – argentina; (20) Callao – Peru; (21) san Nicolás de la garza – México; (22) san Pedro garza garcía – México; (23) Puerto Montt – Chile; (24) la serena – Chile; (25) valência – venezuela.

No caso de são Paulo, a pesquisa fei-ta pela Motorola e Convergência Research apontou que a abertura de 300 telecentros, que oferecem treinamento e acesso gratui-to à internet e atendem mais de 1,5 milhão de pessoas por ano, aproximam a população do poder público. Outro ponto importante da pesquisa é a interação das empresas pau-listas com o website da prefeitura paulista-na. utilizado principalmente para buscar in-formações, 49% das buscas no site do órgão são relacionados a trâmites burocráticos e 41% são para fazer download e preencher formulários. saúde do município (26%); ca-pacitação e cursos oferecidos (35%), con-sultas online a bibliotecas (15%), busca de informações sobre segurança urbana (20%) e informações sobre antecedentes crimi-nais e delitos (18%) são outros dados publi-cados via web pela administração pública e que atraem a atenção dos moradores. Para 43% dos cidadãos, seria benéfica para o po-der público a criação de mais espaços nos quais a internet pudesse ser acessada de forma gratuita. Realizar atividades da admi-nistração pública pela rede também é uma

Rubens Chammas, titular da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão

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móvel, enviando ou recebendo dados sobre os processos.”

Entre os ganhos com a implantação do sgF estão, além da modernização da fisca-lização, a redução de instâncias burocrá-ticas. Para atuar no novo sistema, todos os fiscais da administração municipal utilizarão equipamentos portáteis que retransmitem eletronicamente os resultados da fiscaliza-ção para o sistema da prefeitura paulistana. segundo o prefeito gilberto Kassab, esta

possibilidade trará mais eficiência para a municipalidade. “a par-tir de novembro nós teremos, efetivamente, melhores condições de fiscalização na cidade de são Paulo. O sgF é um sistema que vai ge-rar mais eficiência nos processos de fiscaliza-ção. Os nossos fiscais terão equipamentos de qualidade e com certeza teremos não apenas mais eficiência, mas também melhores condições para punir aqueles que não estão cumprindo com a lei.”

Os equipamentos portáteis terão informações sobre o local, como dados cadastrais, zoneamento, histó-rico de fiscalizações, além de ferramentas de base, como legislação e cálculos. ao lado disso, por meio do aparelho, o fiscal poderá emitir documentos (multa, intimação ou no-tificação) na hora de retransmitir eletroni-camente os dados para o sistema. O objeti-vo é agilizar a fiscalização das mais de 600 posturas municipais. deste total, 20 terão maior foco da fiscalização, entre elas os pro-gramas Cidade limpa, o Psiu, irregularidades em obras, MPl (muro, passeio e limpeza), fei-ras livres, ocupação irregular do solo, entre outros.

sobre a expressão “posturas municipais”, vale lembrar que a Constituição Federal de 1988 deu especial importância aos muni-cípios, pois é neles que a maioria dos indi-víduos passa a maior parte do seu tempo e onde exerce as suas atividades do dia a dia. É nele que o indivíduo irá criar sua família, irá trabalhar, andará de ônibus ou de carro,

“a adoção da Nota Fiscal Eletrônica foi um grande passo da prefeitura paulistana na di-reção da simplificação e modernização dos processos relacionados com emissão de do-cumentos fiscais. O processo se iniciou em 2006 e vem sendo aprimorado até os dias de hoje. Foi tal o êxito dessa implementação que outros municípios adotaram essa solu-ção como é o caso de Manaus e Blumenau”, diz Ribamar. O secretário Chammas, de seu lado, afirma que recentemente foi encami-nhado à Câmara Muni-cipal um projeto de lei para a implantação de um novo programa em relação à Nota Fiscal Eletrônica. “a propos-ta prevê o resgate dos créditos para depósi-to em conta corrente ou conta poupança e a criação de um sistema de sorteio de prêmios em dinheiro ou abati-mento total do iPTu.”

Outra realização citada pelo presiden-te Ribamar e que está em andamento é o da implantação do siste-ma de gerenciamento da Fiscalização (sgF), com vistas à fiscalização digital no município de são Paulo. “O sgF é um projeto que visa atender às necessidades de modernização da fiscalização da secretaria Municipal de Coor-denação das subprefeituras [sMsP] visando à melhoria do processo de fiscalização com a utilização intensiva das tecnologias de in-formática e de comunicações, contribuindo assim para a ampliação da filosofia de gestão baseada em resultados, trazendo benefícios para a administração pública e para a popu-lação. O sgF integrará várias bases de dados dos sistemas de informação do município e possibilitará que o processo de fiscalização das posturas municipais processe as infor-mações recebidas de modo automático, ela-borando os roteiros georreferenciados de fiscalização e possibilitando a emissão de notificação e de multas in loco, de acordo com a legislação vigente. Cada um dos cerca de 700 agentes vistores possuirá um dispo-sitivo móvel que possibilitará a sincronização em campo, através da rede de comunicação

ideia defendida por 22,6% dos moradores.Embalada por esse clima de entusiasmo,

no final do ano passado a Prodam alcançou um novo status ao formalizar parceria com a imprensa Oficial do Estado de são Paulo, pela qual foi alçada à condição de autoridade cer-tificadora, que irá atender à administração municipal. desde 2004 a imprensa Oficial do Estado de são Paulo é uma das empresas cre-denciadas pelo instituto Nacional de Tecno-logia da informação (iTi) a conceder o certi-ficado digital a outras instituições. Entre as aplicações de seu uso na administração mu-nicipal está o processo de aprovação eletrô-nica de plantas, além de projetos que fazem parte da agenda 2012, como a implantação do sistema Eletrônico de Execução Fiscal, do sistema de gestão Tributária integrado e a expansão da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), para contribuintes com faturamento acima de 120 000 reais ao ano. a imprensa Oficial é responsável pelo fornecimento de toda a infraestrutura tecnológica, consultoria para avaliação das necessidades de utilização de certificação nos diversos órgãos municipais e treinamento de equipes. além da simplifica-ção de processos a parceria permite trans-parência às informações, reduzindo custos e garantindo mais eficiência e agilidade na prestação de serviços à população.

Nas palavras do atual presidente da Pro-dam, José de Ribamar Barbosa Mendes (que sucedeu recentemente a João Octaviano Machado Neto), a Prodam tem como missão prover soluções em TiC necessárias à im-plantação das políticas públicas da cidade e tem como visão ser referência em TiC aplica-do ao setor público. seus valores podem ser resumidos na frase “acreditar sempre”. Numa visão mais ampla, citando o crescimento do comércio eletrônico, ele diz que a Prodam encara o processo como uma ampliação do uso de TiC nos diversos setores da econo-mia, estando em crescimento acelerado na medida em que os consumidores e empresas adquirem confiança no processo, confiança essa obtida pela crescente solidificação dos sistemas de segurança das organizações. “a Prodam se integra a esse crescimento atra-vés de exemplos concretos como é o caso do pregão eletrônico que é amplamente utiliza-do pela empresa.”

as realizações da Prodam são inúmeras nesses 40 anos. Ribamar Mendes cita al-gumas, entre elas a Nota Fiscal Eletrônica.

José de Ribamar Barbosa Mendes, presidente da Prodam

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são Paulo mais Fácil, permite ao interessado saber previamente se é possível instalar uma atividade num determinado imóvel antes de concluir a negociação, facilitando assim a vida dos empreendedores. a consulta preli-minar informa se o imóvel é tombado – ou se está em área envoltória de imóvel tombado –, se está em área de manancial, em área con-taminada ou com suspeita de contaminação, se é patrimônio ambiental, área de proteção

ambiental, ou ainda se há pendências finan-ceiras. Pode-se também requerer a ficha técni-ca do imóvel, que vai in-formar todos os recuos permitidos, a taxa de ocupação, os gabaritos e demais elementos

necessários e suficientes para o projeto da edificação. além disso, já é possível obter o licenciamento eletrônico para operação de gruas. Nos próximos meses, será disponibili-zado aos cidadãos o Certificado de Conclusão de Obras – o Habite-se – eletrônico.”

sobre o papel da Prodam no processo de integração da prefeitura paulistana com a Polícia Militar, o secretário Chammas expli-ca que por meio de um convênio da Prodam com a Polícia Militar, foi possível integrar o sistema de atendimento da prefeitura e o sistema de inteligência da Polícia Militar [si-pom]. durante as rondas da PM, o policial em campo pode relatar problemas encontrados referentes à zeladoria da cidade. Ele pode abastecer o sistema com informações sobre buraco nas vias, falta de acessibilidade ou de iluminação pública, pontos irregulares de en-tulho e lixo, entre outros itens. dessa forma, o policial pode gerar de forma automática um aviso para as subprefeituras sobre esses problemas, e agilizar os serviços necessários para a população.

O presidente da Prodam, Ribamar Mendes, complementa dizendo que a Prodam compati-bilizou o sistema saC [sistema de atendimen-to ao Cidadão] para o recebimento dos Raia’s (relatórios de infrações administrativas), re-alizados pelos policiais militares no exercício do policiamento ostensivo. “Os Raia’s eram en-caminhados por escrito do comandante da PM para o subprefeito, que sanava a irregularidade e remetia a resposta de volta ao comandante. Esta operação não se realizava em menos de 30 dias. Com a integração do saC com o sistema

Municipal de são Paulo] que faz parte do pro-grama são Paulo Mais Fácil e permite ao ci-dadão consultar ou encaminhar denúncias a respeito de obras (construções ou reformas), verificando a condição de regularização da mesma junto aos órgãos municipais. Na visão do secretário Rubens Chammas, o programa de Olho na Obra é mais um projeto que sim-plifica a vida do cidadão. “de sua própria re-sidência, o cidadão comum fornece apenas o seu endereço e já pode consultar se uma obra é regular, tanto de construção como de re-forma. Esse é o tipo de atitude que transforma uma cidade, e faz parte da estratégia de trans-parência da prefeitura paulistana. É com este tipo de solução que es-tamos aumentando, cada vez mais, a transpa-rência na administração pública. Criando um canal direto de comunicação com o cidadão, que pode acompanhar, em tempo real, as mais diferentes informações e as ações que são executadas pela prefeitura.”

O citado programa são Paulo Mais Fácil foi criado para simplificar a vida do cidadão que precisa usar os serviços municipais. se-gundo Ribamar Mendes, o programa permite que o cidadão solicite licenças pertinentes ao uso e ocupação do solo de modo mais rá-pido. “antes desse programa, o cidadão levava até 360 dias para retirar um alvará de licen-ciamento de atividades para imóvel de até 1 500 metros quadrados e que não exercia atividade de risco, e hoje isso é feito na mes-ma hora pela internet. Cerca de 36 000 alva-rás foram emitidos em 2010, como exemplo da utilização deste programa.”

O secretário Chammas também vê o pro-grama são Paulo Mais Fácil como um esforço para aproximar a administração municipal do cidadão comum, que precisa dos serviços públicos com acesso simples e sem interme-diação. “através desse programa já disponibi-lizamos o sistema de licenciamento Eletrô-nico de atividades [slEa], por meio do qual é possível licenciar mais de 250 atividades de baixo e médio risco sem qualquer custo para o munícipe. Estamos trabalhando arduamen-te para ampliar o sistema e também atender aos estabelecimentos instalados em imóveis com mais de 1 500 metros quadrados. a con-sulta prévia, que pode ser feita na página do

terá seus locais de lazer e irá ter seus grupos sociais, como a igreja, o clube, o pessoal da sua comunidade, enfim, onde irá conviver com outros indivíduos diariamente. Para que essa convivência seja a melhor possível, torna-se necessário que se respeitem determinadas regras, que vão permitir aos habitantes do município, entre outras coisas, a segurança, o direito de ir e vir, um sistema de trânsito eficiente, a limpeza e conservação dos locais públicos, um meio ambiente sem poluição de qualquer espécie etc. a esse conjunto de re-gras deu-se o nome de Código de Posturas Municipais. Trata-se, portanto, de uma série de leis e decretos que regulam a vida em so-ciedade no âmbito do município, e devem ser respeitadas por todos aqueles, seja indivíduo ou empresa, que têm como seu domicílio o município, sob pena de multas e, no caso de estabelecimentos, até a interdição, caso haja descumprimento das mesmas. Cada cidade tem seu próprio Código de Posturas, que, com pequenas diferenças, visa os mesmos fins.

voltando ao caso do sgF paulistano, além dos benefícios já citados, haverá também o recebimento automático das solicitações realizadas pelo serviço de atendimento ao Cidadão (saC) ou cadastradas em outros ór-gãos da prefeitura. Possíveis erros no mo-mento da emissão de documentos também serão minimizados já que as antigas guias em papel-carbono serão unificadas em um único documento e impressas pelos equipamentos portáteis no ato da fiscalização.

a partir da implantação do sgF se fecha um ciclo de estudos feito ao longo de três anos e meio sobre a automatização de proces-sos da Coordenação das subprefeituras. To-das as informações e funcionalidades do sis-tema estarão à disposição dos vários níveis da administração pública municipal (secretários, subprefeitos, fiscais, entre outros), e ficarão disponíveis também online. “O sgF permiti-rá que a prefeitura paulistana tenha as suas operações apresentadas para a sociedade com mais transparência já que as informa-ções serão disponibilizadas na internet para o cidadão”, destaca o prefeito Kassab.

* * *

sobre as características do programa de Olho na Obra, o presidente da Prodam, Ribamar Mendes, explica que é um serviço disponibilizado no Portal da PMsP [Prefeitura

A Prodam é quem garante a integração, a relação serviço/qualidade de vida do cidadão paulistano

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Em depoimento à REVIsTA ENGENHARIA, o engenheiro e economista Gilberto Kassab, prefeito da cidade de São Paulo, confirmou que ao longo dos últimos 40 anos, a Prodam deixou de ser uma companhia de processa-mento de dados para se transformar em uma empresa de tecnologia de informação e comu-nicação (TIC). “À primeira vista, o que pode pa-recer uma simples mudança semântica na ver-dade representa um salto de qualidade com reflexos positivos diretos no grau de transpa-rência administrativa e na qualidade de ser-viços prestados para todos os paulistanos.” Segundo Kassab, desde o começo da atual ges-tão, iniciada pelas mãos do então prefeito e ex-governador José Serra, uma das grandes preocupações era criar novos mecanismos para ampliar o índice de transparência da administração municipal. “E a Prodam foi fun-damental para alcançarmos esses objetivos, pois entendemos que é um direito do cida-dão e um dever do poder público municipal o acesso a contratos de prestação de serviços e obras, vencimentos de servidores públicos, tramitação dos processos de grandes empre-endimentos e os serviços de conservação.”

Na visão do prefeito, o Portal da Transpa-rência é uma ferramenta inovadora na admi-nistração pública, na medida em que mudou a relação do cidadão com a administração municipal, pois a transparência é total. “To-dos podem saber, por exemplo, onde trabalha cada funcionário, quanto ele ganha e quantos pagamentos, para quem e para qual tipo de serviço cada órgão da Prefeitura faz. É respei-to total ao cidadão e prestação completa de contas do que é feito com o dinheiro público. Respeito esse que reafirmamos com outro programa, o De Olho na Obra. Trata-se de outro serviço que possibilitou a qualquer cidadão interessado consultar em tempo real os imó-veis em construção ou em reforma na cidade por meio da internet, obter detalhes dessas

Prodam: transparência e modernidade

Na visão do prefeito Gilberto Kassab, ao longo das últimas quatro décadas a Prodam

foi galgando sucessivos patamares de modernização e qualidade, com reflexos

no grau de transparência da administração pública da cidade de São Paulo

obras e saber se têm autorização para funcionar, estimulando indi-retamente as regularizações. Pelo site é possível consultar todas as obras feitas na cidade desde 1997 e obter detalhes que vão desde a finalidade do empreendi-mento, número de pavimentos, até a metragem, entre várias outras informações. A transparên-cia, que fizemos migrar do discurso para a prá-tica, se transformou numa importante aliada para aprimorar e fiscalizar a execução da ma-nutenção e da limpeza da cidade.”

Para Kassab, hoje, os paulistanos podem cobrar o cumprimento do horário da coleta do lixo, a varrição das ruas e até a limpeza dos bueiros da cidade. “São mais de cem serviços oferecidos por meio da internet, mas podemos e vamos avançar mais até o fim desta gestão.”

Ele destaca também que com o programa São Paulo Mais Fácil, a Prefeitura disponibilizou o Sistema de Licenciamento Eletrônico de Ativi-dades (SLEA) e, assim, mais de 250 atividades de baixo e médio risco podem ser licenciadas pelo sistema online. “Os primeiros resultados foram muito positivos, tanto é que 3 300 licen-ças já foram expedidas por meio do SLEA. Nos próximos meses, vamos aprimorar ainda mais esse serviço com o lançamento do Certificado de Conclusão de Obras, conhecido como Habite-se, por meio eletrônico, e aguardamos a apre-ciação da Câmara Municipal da proposta que prevê a implantação da Nota Fiscal Paulistana, que permitirá aos contribuintes resgatar os créditos gerados diretamente em conta cor-rente ou poupança ou para abater o IPTU.”

Além disso, lembra o prefeito, com o Jovem Tec, programa da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão em parceria com o gover-no do Estado e coordenado pela Prodam, está se investindo na capacitação e inclusão dos jovens no mercado de trabalho e contribuindo para de-senvolver ainda mais a área de TIC na cidade de

São Paulo.O prefei-

to lembra, ao lado da parti-cipação direta na ampliação dos serviços

à população e da modernização da gestão municipal, a Pro-dam também contribuiu decisivamente para fortalecer ainda mais as parcerias da Prefei-tura com a Polícia Militar (PM). Além da bem-sucedida experiência da Operação Delegada, que além de coibir o comércio irregular em São Paulo contribuiu para a redução de rou-bos e furtos nos principais centros comer-ciais da cidade, um convênio entre a Prodam e a PM permitiu a integração do sistema de atendimento da Prefeitura com o Sistema de Inteligência da Polícia Militar (Sipom). “Dessa forma, durante as rondas normais, os policiais contribuem com informações sobre buracos em vias, falta de acessibilidade, problemas com a iluminação pública, pontos de descarte irregular de lixo para tornar ainda mais ágil os serviços de zeladoria da cidade.”

O prefeito Kassab cita ainda que, mesmo com o desenvolvimento de tecnologias para aprimorar os serviços prestados pela gestão municipal, a Prodam não descuidou do seu com-promisso com a inclusão social. “Recentemen-te, a empresa contratou a Associação para Va-lorização e Promoção de Excepcionais [Avape] para compor uma equipe formada com pessoas portadoras de necessidades especiais e, assim, formá-las em uma profissão e inseri-las no mercado de trabalho e, também, na sociedade. Por todos esses avanços e contribuições, quero cumprimentar a toda a equipe da Prodam, em-presa criada para prestar serviços para a Pre-feitura, que se modernizou ao longo dos últimos 40 anos e se tornou uma empresa a serviço da população de São Paulo.”

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são Paulo o qual preten-de até o final de 2012 dar formação a 5 000 alunos de escolas públi-cas. O programa prevê a capacitação e estágio de jovens entre 16 e 21 anos, envolvendo cur-sos profissionalizantes e preparatórios para o exercício de funções na área de TiC. devido

à crescente demanda do mercado e carência de profissionais capacitados os jovens podem encontrar na área de tecnologia da informação e comunicação um mercado muito promissor e ávido em absorver esses jovens talentos.”

Com relação à atual explosão mundial das redes sociais, o secretário Chammas acha que o fenômeno tem e terá impacto sobre os atuais e futuros programas da Prodam. “Hoje, as redes sociais permitem que, em minutos, muitas pessoas possam compartilhar infor-mações, organizar eventos, manifestações e qualquer outro tipo de ação colaborativa. isso é um grande impacto para qualquer em-presa de tecnologia, e principalmente para a administração pública, que precisa de ade-quações estruturais e agilidade para acom-panhar todo este dinamismo. É um grande desafio que a prefeitura paulistana está en-carando e promovendo, por sua área de co-municação, ações nas redes sociais, hoje um grande canal para levar aos internautas as inúmeras atividades realizadas.”

sobre o tema redes sociais, o presidente Ribamar Mendes lembra que o homem sempre foi um ser gregário. “até há pouco tempo era um fator preocupante o isolamento progres-sivo das pessoas, principalmente nos gran-des conglomerados humanos. a chegada das redes sociais foi como uma retomada, uma redescoberta da importância das relações entre as pessoas que, no seu âmago, desejam essa aproximação. as redes sociais, indepen-dente de sua via virtual, cumprem esse papel de agregação e por isso mesmo parece ser um fenômeno de difícil reversibilidade para o qual todos nós devemos estar não só prontos, mas também participando. a Prodam encara a explosão das redes sociais como um fator natural e de amplificação progressiva no seio da sociedade.”

O vice-presidente Chuery, de seu lado, analisa possíveis aspectos positivos e nega-

programa importante na seara da inclusão diz res-peito à terceira idade. Este programa consiste na disponibilização dos cursos de introdução à microinformática e na-vegação na internet para pessoas dessa faixa etá-ria. a Prodam tem 25 em-pregados portadores de necessidades especiais e mais 20 empregados reabilitados, estando acima da cota de 5% exigida por lei para empre-sas que possuem de 500 a 1 000 empregados. a contratação desta força de trabalho é prati-cada desde antes da publicação da lei de cotas. Os portadores de necessidades especiais atu-am nas mais diversas áreas, tais como: tecno-logia da informação, infraestrutura, segurança da informação, negócios, área administrativa. a empresa oferece todas as condições de traba-lho a estes profissionais, tais como: aquisição de softwares sintetizadores de voz, elevadores com áudio informativo, piso tátil nas dependên-cias da empresa e condomínio, acessibilidade com rampas de acesso e banheiros adaptados e suporte especial para portadores de lesão de esforço repetitivo, o lER.”

O vice-presidente da Prodam, Flávio Cas-telli Chuery, reforça que a capacitação e qualificação de jovens na área de TiC estão diretamente conectadas ao tema. “a inclusão social passa necessariamente pela inclusão digital. É vital a importância da capacitação e qualificação profissional dos jovens nessa área, tanto que, a prefeitura paulistana, com o apoio da Prodam, implantou o Jovem-Tec, programa que tem treinado centenas de jo-vens na área de TiC.”

insistindo no programa Jovem-Tec, o pre-sidente Ribamar Mendes, considera que pelo fato da Prodam ser uma empresa de TiC, o desenvolvimento e a capacitação nesta área devem ser constantes para que um profissio-nal possa manter-se atualizado em relação às novas tecnologias existentes no mercado. “Nossos jovens das gerações Y e Z – ou seja, os que nasceram na era da internet – conhecem e interagem com uma facilidade incrível com a ampla disponibilidade de tecnologia hoje existente, o que os torna candidatos perfeitos para atuarem na área de TiC. Pensando nisso, em 2009 a Prodam iniciou o citado Programa Jovem-Tec em parceria com a Prefeitura de

de informações e Operações da Polícia Militar [siOPM] este relatório é processado online e a PM de posse de um protocolo eletrônico faz um follow-up da resolução da infração. O inves-timento do município em zeladoria da cidade, onde a Prodam participa com intensidade, gera melhorias de salubridade pública e tranquilida-de pública que inferem na segurança subjeti-va do cidadão. do tripé da ordem pública duas responsabilidades são do município – a salu-bridade e tranquilidade –, cabendo ao Estado a segurança pública. deve-se observar que os in-vestimentos que se realizam para melhorar as condições vivenciais do município são colabo-radores diretos na redução de criminalidade.”

O secretário Chammas lembra que sem-pre foi uma preocupação a questão da in-clusão social na Prodam. “a empresa possui instalações adequadas às necessidades especiais, o que contribui fortemente para integração e harmonia no ambiente de traba-lho. Essas pessoas, na sua maioria, trabalham diretamente na área de service desk. Recen-temente, a Prodam contratou a associação para valorização e Promoção de Excepcionais – a avape –, possuindo hoje 46 profissionais, contratados por essa associação e que atu-am no atendimento ao cliente, para compor uma equipe apenas com pessoas deficientes, com o objetivo principal de, fornecendo-lhes uma profissão, inseri-las na sociedade”, diz, acrescentando que o desenvolvimento de programas de capacitação e qualificação de jovens na área de TiC também favorece a in-clusão. “Hoje já contamos com o programa Jovem-Tec [Tecnologia, Ensino e Carreira], um programa social de iniciativa da prefeitura paulistana, executado pela secretaria de Pla-nejamento, Orçamento e gestão em parceria com o governo estadual de são Paulo. O ob-jetivo é capacitar e promover a inserção de jovens no mercado de trabalho. Os cursos são coordenados pela Prodam e têm como prin-cipais parceiros empresas de grande impor-tância para o setor de TiC. O público alvo são estudantes de 16 a 21 anos da rede estadual de ensino médio da capital paulista.”

ainda sobre o tema da inclusão social, o presidente da Prodam, Ribamar Mendes, con-ta que a empresa mantém uma preocupação constante com a acessibilidade nos sistemas voltados aos cidadãos. “Temos profissionais dedicados exclusivamente a esse trabalho. Pra-ticamente todos os sites da prefeitura paulista-na são acessíveis aos deficientes visuais. Outro

Flávio Castelli Chuery, vice-presidente da Prodam

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fica-se que o primeiro endereço da Prodam foi na Rua sete de abril, no centro da cidade. a intenção do engº José Carlos de Figuei-redo Ferraz, prefeito paulistano no ano em que a Prodam foi cria-da (1971), era que a empresa funcionasse como apoio técnico à

administração municipal. a Prodam deveria reunir elementos para que prefeitura pu-desse decidir, de forma mais segura, sobre a programação de qualquer obra ou serviço público. Muitos relatórios usados pelos admi-nistradores poderiam estar falseados, o que comprometia a tomada de decisões.

Em janeiro de 1972, enquanto a Prodam era implantada, foi assinado um contrato com a iBM, para o serviço de bureau. Em outubro de 1972, chegam à empresa os primeiros equipamentos, comprados da iBM. O primei-ro sistema desenvolvido para cidade foi o de fiscalização de feiras. segundo comentário corrente na época: “nas feiras-livres sabia-se haver muitas burlas por parte de fiscais de-sonestos”. além disso, são Paulo foi a primei-ra cidade do mundo a utilizar-se de um siste-ma de mapeamento informatizado dos logra-douros: o Cadlog (cadastro de logradouros). Em 1973, são admitidos os primeiros traba-lhadores com deficiência visual. Também no início desse ano, a prefeitura passou a con-trolar o sistema de trânsito da cidade, que antes era de responsabilidade do detran. E por haver muita corrupção no órgão na épo-ca, desenvolveu ainda nesse ano, o sistema de administração de Multa de Trânsito. Eram processadas mensalmente cerca de 120 000 multas. depois da 10 anos da implantação do controle de multas, o presidente da empresa naquele período fez o seguinte comentário ao Jornal Prodam: “Quando instituímos o sis-tema de multas computadorizadas, a Prodam foi invadida por uma verdadeira quadrilha, ameaçando o pessoal do trabalho, quebran-do cadeiras, arrebentando tudo o que eles encontravam pela frente. Foi uma verdadeira loucura fazermos cobrança de trânsito na base da proteção militar. Os motivos? since-ramente, não sei ...”.

Mais tarde, a Prodam assina convênio de assistência técnica com a serpro [serviço Fe-

um problema. Fiquei lá uns quatro anos na função de contador. de-pois o então presidente isu Fang me convidou para trabalhar no de-partamento jurídico. Nessa altura eu já tinha concluído meu curso de direito. Para se ter ideia, as concorrências públicas eram feitas a mão e os livros da empresa eram copiados numa gelatina com rolete. só mais tarde a Junta Comercial adotou um sistema novo. Ha-via também microfilmagem de documentos. Terminal de vídeo era em fósforo verde. Esse era o nome pelo qual eram conhecidos os mo-nitores de computador monocromáticos do tipo CRT que utilizavam uma tela de fósforo verde P1. Eles sucederam aos terminais com teletipos e precederam os CRTs coloridos com dispositivos de saída visual predominan-tes para computadores. Eram abundantes em meados dos anos 1980, juntamente com monitores âmbar P3. Pouco depois, passei a chefiar o setor jurídico. antes de 1988 não havia muito processo trabalhista. Havia mui-to processo cível, mas trabalhista não. Era um ou outro. Com a Constituição Federal de 1988 tudo mudou. Passou a haver um grande núme-ro de ações trabalhistas e muitos processos.”

— Quem era o prefeito na época do presidente Isu Fang? — perguntamos a Marcon Filho.

“de 1975 para cá, quando entrei, passa-mos por muitos prefeitos. Na gestão do isu Fang, de 1973 a 1979, o prefeito era o Ola-vo setubal, que governou a cidade de 1975 a 1979. antes dele, o prefeito era o Miguel Colasuonno. depois disso passamos por di-versos prefeitos. uma curiosidade: o José Roberto Faria lima foi presidente da Prodam por quatro vezes: ele saía e voltava. Outro caso: houve um incêndio da Prodam no ibi-rapuera. Chegou a atingir o arquivo morto. ações e documentos foram queimados. Foi um incêndio normal, não provocado. são muitas histórias, poderíamos passar a tarde inteira conversando. de 2008 para cá passei a che-fiar o gabinete do presidente. Porque o então presidente João Octaviano Machado Neto, gostava de aproveitar o pessoal da casa, e promovê-los a gerente e diretor.”

Consultando a história da Prodam, veri-

tivos da atual escalada das redes sociais em são Paulo, no Brasil e no mundo. “Eu não apon-taria os aspectos positivos e negativos, mas afirmo que estamos vivendo uma verdadeira revolução feita através das novas mídias que estão transformando a relação das pessoas, empresas e governos com fortes reflexos nas áreas sociais, culturais, políticas e eco-nômicas. a realidade do amanhã será bem diferente e as redes sociais terão um papel fundamental nessa mudança que acontecerá em são Paulo, no Brasil e no mundo todo.”

a Prodam já prestou alguns serviços para outras prefeituras brasileiras e também à se-cretaria da Fazenda do Estado de são Paulo, mas seu foco é prioritariamente a cidade de são Paulo. Há uma divisão interna de duas dire-torias que atendem as secretarias municipais. O diretor Odemil José Camargo atende um grupo de secretarias por meio da diretoria de Relacionamento e desenvolvimento i (dRd i). a diretora Malde Maria vilas Bôas (que foi presi-dente da Prodam de setembro de 2007 a junho de 2008), por sua vez, atende outro grupo de secretarias através da diretoria de Relaciona-mento e desenvolvimento ii (dRd ii). O diretor de infraestruura, Osvaldo antonio Pazianotto, de seu lado, dá suporte para todos os sistemas no datacenter. O diretor de Participação, que representa os funcionários da Prodam, é Be-nicio alves Teixeira. O novo diretor de adminis-tração e Finanças é luiz César Kiel. até recen-temente essa diretoria era ocupada por Flávio Castelli Chuery, que agora é vice do presidente José de Ribamar Mendes. O chefe de gabinete é virgílio Marcon Filho, que está na Prodam há 36 anos, sendo um de seus funcionários mais antigos.

* * *

O advogado, economista e contador vir-gílio Marcon Filho conta que ingressou na Prodam em 14 de julho de 1975, quando a instituição funcionava no Parque ibirapue-ra. “Naquele tempo havia mainframes, iBM 4391, iBM 1370, tinha fitas decas [unida-des de leitura de fitas]. de lá para cá houve alteração considerável (sorrindo). O prédio do ibirapuera era um imóvel inadequado para esse tipo de empresa. Certa vez, houve um temporal muito forte e a chuva invadiu tudo. Nós tivemos que cobrir os equipamentos com lonas pretas e muitos deles ficaram danifica-dos. a força elétrica terminava sempre, era

Virgílio Marcon Filho é chefe de gabinete da presidência da Prodam

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de um conjunto de informações geográficas, formado pela base cartográfica digital do mu-nicípio de são Paulo representando as feições referentes aos eixos de logradouros, áreas municipais, represas, principais rios e, ainda, mapa-índice representado pelos contornos das administrações Regionais, distritos admi-nistrativos, entre outros. O geolog foi dividido

em dois sistemas: o Hvs, pertencente ao depar-tamento de Operação do sistema viário (dsv), que consistirá na geo-codificação das informa-ções sobre sinalização horizontal, vertical e semafórica; e o geologo

propriamente dito, pertencente à secretaria de Finanças, que consistirá na geocodificação das plantas de referência cadastral da cidade. O sistema Cadlog continua a ser aperfeiçoado.

No ano de 1978 é implantada a primei-ra fase do geolog, que armazenará e tratará as informações sobre a cidade, permitindo a obtenção de mapas e relatórios por compu-tador. são unificadas informações de vários sistemas, integrando-as no sistema Cadlog, em um único banco de dados.

Em janeiro de 1979 são instalados os sistemas de iss, de Controle de Processos administrativos da Prefeitura, o Cadlog, o geolog, o sistema administrativo da CMTC e outros menores. a Prodam passa a dar ênfase no desenvolvimento de sistemas de interesse do cidadão: geração automática de certidões negativas e do Certificado de Regularidade dos imóveis da Cidade; incremento da rede de terminais; devolução automática de tribu-tos; sistema de multas que permite pagamen-

de comunicações (teleprocessamento), que permitiu o acesso dos usuários diretamente ao computador, através dos terminais insta-lados em seus locais de trabalho.

Em janeiro de 1976, a empresa se insta-la no Pavilhão Engº armando arruda Pereira, no Parque ibirapuera. a Companhia do Metrô passa a ser seu cliente. É desenvolvido, com a ajuda de programa-dores com deficiência visual, o “libra”, um pro-grama que possibilita a impressão de qualquer texto pelo método brai-le. Em uma matéria do Jornal Prodam, lemos: “Com o acesso às lista-gens impressas pelo computador, a compilação e a conferência dos testes dos programas são tarefas que, atualmente, com o Projeto libra, podem ser exercidas pelos deficientes visuais sem a presença de intermediários. Esta inde-pendência tem propiciado aos programadores cegos, atuarem com o mesmo desempenho dos demais profissionais da área, no que se refere à qualidade e ao prazo dos seus serviços”.

Em fevereiro de 1977 é aprovado o Pla-no de Expansão de Equipamentos da Prodam. É adquirido um novo conjunto de data-Entry [captação dos dados e sua colocação no com-putador]. as secretarias de Transportes e de Finanças aprovam o anteprojeto do novo siste-ma de multas de trânsito e o plano de implan-tação de sistemas na Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC). Em abril do mesmo ano é iniciado o projeto Cadan, que ca-dastrará e controlará a publicidade visual na cidade. logo depois, em setembro, são defini-dos os principais pontos do geolog. Trata-se

deral de Processamento de dados] e a Proda-sen [secretaria Especial de informática, que provê e gere soluções de TiC para o senado Federal]. ao mesmo tempo a secretaria de Fi-nanças passa a ter todos os impostos e taxas sistematizados, a imprimir seus relatórios e a programar o orçamento da cidade. Também a secretaria de administração passa a utili-zar-se do sistema de administração de pes-soal. Outras secretarias passam igualmente a utilizar-se de outros sistemas.

Em janeiro de 1974, chega à Prodam o computador iBM/370 - modelo 158, que agili-zou o processamento de dados da companhia. Para acompanhar a sua velocidade foi adqui-rida a microfilmadora datagraphix 4200, que permitiu a integração do sistema de micro-filmagem ao sistema de computação. Em se-tembro do mesmo ano seria aprovada a aqui-sição de um computador para backup, tendo em vista a implantação dos sistemas online. Pouco depois, no mês de dezembro, foi adqui-rido equipamento para leitura ótica. Todo o processo de arrecadação do iPTu é feito pela Prodam: da emissão dos carnês ao controle da arrecadação. O sistema Cadlog continua a ser desenvolvido. O paulistano se beneficia do sis-tema, pois ele agiliza a aprovação de plantas para a construção dos imóveis.

Em janeiro de 1975, é instalado o equi-pamento de leitura ótica. a partir desse ano, a Prodam amplia o desenvolvimento de siste-mas, aumentando sua demanda de serviços. Era necessário aumentar a capacidade de ar-mazenamento do computador. Para tanto, foi adquirido mais um módulo de memória adicio-nal com 1 024 kbytes, duplicando a capacida-de de armazenamento do iBM/370. ainda em 1975 foi instalada uma unidade de controle

O programa São Paulo Mais Fácil aproxima a prefeitura do cidadão comum, sem intermediação

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lo g2, aumentando em 61% a capacidade dos computadores centrais. a rede de teleproces-samentos é ampliada com mais 102 terminais de vídeo e 46 impressoras.

Em 1986 a rede de teleprocessamento é novamente ampliada com mais 35 terminais de vídeo e 19 impressoras. É aumentada a capacidade dos computadores centrais em 47%, com a expansão de uma CPu [Central Processing unit ou unidade Central de Pro-cessamento, em português].

Em novembro de 1987 é implantado o Centro de Treinamento Prodam, instalado na avenida Brigadeiro Faria lima, que visa for-mar e reciclar funcionários da empresa e da administração Municipal. É também criado o Espaço Cultural, local que expunha trabalhos artísticos de funcionários. Em 2001, o espa-

ço foi ampliado e rece-be trabalhos de vários artistas. Neste altura, a Rede da Prefeitura con-ta com 482 terminais instalados. Tem início a informatização do Hos-pital do servidor Públi-co Municipal. Começa

também a microinformatização da Prefeitura e da Prodam com a aquisição de 103 micro-computadores PC/XT e softwares. É adquirido um sistema gerenciador de banco de dados relacional e adotado o padrão de linguagem sQl [structured Query language ou lingua-gem de Consulta Estruturada]. sQl é uma lin-guagem de pesquisa declarativa para banco de dados relacional (base de dados relacio-nal) e muitas das características originais do sQl foram inspiradas na álgebra relacional. ainda em 1987 a Prodam obtém quatro ter-minais “audíveis” para funcionários com defi-ciência visual.

durante os primeiros meses de 1988 o Hospital do servidor Público Municipal teve todo o atendimento informatizado por um sistema desenvolvido pela Prodam. Em abril de 1988 a Prefeitura assinou convênio com o Citibank para a instalação de 100 microcom-putadores nas escolas municipais. No final do mesmo mês, cerca de 1 800 alunos de 5ª e 6ª séries são integrados no projeto “a Escola do Futuro”, que utiliza o computador como apoio ao processo de aprendizagem. de forma con-comitante, a Prodam inicia a informatização dos cemitérios. Os cemitérios da Consolação e da vila Nova Cachoeirinha receberam termi-

formática e do 16º Congresso Nacional de informática, levados a efeito no anhembi, mantendo três sistemas online: um que for-necia informações sobre restaurantes, cine-mas e eventos culturais; outro que fornecia aos visitantes informações sobre as empre-sas que participavam dos eventos; e outro em que o visitante podia verificar se seu auto-móvel tinha alguma multa. No mesmo ano foi criada a associação Brasileira de Entidades Municipais de informática (asbemi) da qual fazia parte a Prodam. a associação visava a integração de empresas de processamento de dados de alguns municípios brasileiros. além disso, a associação defendia o software nacional e a reserva de mercado para o setor de informática.

Em agosto de 1984 é instalado o primeiro de dois computadores iBM 4381 modelo g2, que substituirá dois dos três antigos computa-dores. O jornal “Folha de s. Paulo” do dia 23 de agosto destacou: “...o novo computador per-mitirá 60% de aumento de velocidade do processamento de dados”. Muitos profissionais, devido aos altos salários pagos aos profissionais de informática pelas empresas privadas, deixam a companhia. a Pro-dam passa a dar ênfase à formação de novos programadores, analistas de sistemas, de O&M e de suporte técnico. a rede de teleprocessa-mento é ampliada com mais 111 terminais de vídeo e 91 teleimpressoras. É também implan-tado o sistema de Controle de Passageiros Especiais para atender aos munícipes com mais de 65 anos e que têm direito à passagem gratuita nos ônibus municipais. É implantado ainda o sistema de Controle e gerenciamento da Frota de veículos, que controlará o cadas-tro, o tráfego e a manutenção dos veículos da Prefeitura.

Em junho de 1985 é apresentado à se-cretaria da Educação o sistema de Controle e distribuição da Merenda Escolar. Em agos-to, é apresentado o sistema administração Financeira (saF) e, em setembro, o sistema iss-Taxas, ambos para a secretaria de Fi-nanças. Em outubro, são apresentados para diversas secretarias os sistemas de controle de gerenciamento de processos, de perfil de processos e de fluxo de processos. É instala-do um novo processador, o iBM 4381 – mode-

to nos bancos. Em novembro do mesmo ano é instalado o equipamento “no-break”, ficando os computadores e periféricos da companhia ligados a um sistema de fornecimento inin-terrupto de energia, reduzindo a perda de processamentos.

Em novembro de 1980 é expandida de 4 para 6 megabytes a memória do computador, são incorporadas ao parque de equipamen-tos uma unidade de controle de teleproces-samentos, uma nova bateria de unidades de discos magnéticos e é adquirida uma duplica-dora de microfichas. É expandida também a rede de terminais remotos. ao mesmo tempo é feita a expansão do sistema de Controle de Multas de Trânsito, que permite ao munícipe ter acesso às informações conjuntas sobre as multas municipais e federais.

Em março de 1981 são concluídos os traba-lhos de geocodificação e a montagem do Mapa Oficial da Cidade (MOC) em meio magnético.

Em novembro de 1981 são instalados 40 terminais remotos de teleprocessamento em diversos pontos do município, visando melho-rar o atendimento aos munícipes. É concluída a segunda fase do geolog, possibilitando a emissão de mapas da área urbana do muni-cípio. É estendido o sistema de Controle da dívida ativa para tratamento de outros tribu-tos da prefeitura, além do iPTu. É concluído o estudo para a implantação do sistema de Crédito imobiliário para a Companhia Metro-politana de Habitação (Cohab), incluindo os módulos de inscrição/seleção/classificação de candidatos, comercialização e gestão de mutuários.

Em novembro de 1982 a Prodam recebe a visita do representante da Organização in-ternacional do Trabalho (OiT), interessado no trabalho desenvolvido com deficientes visuais. O representante tinha a intenção de difundir para toda a américa latina o trabalho da em-presa. ainda em novembro, é ampliada a rede de teleprocessamento, com a instalação de mais 60 terminais remotos. Entra também em operação a nova CPu iBM 4341 Mg2, com 8 megabytes de memória, acoplada às duas iBM 370 modelo 158 já existentes. ao mesmo tem-po, é implantado o sistema de automação de Bibliotecas Públicas, que permite automatizar as funções de catalogação, pesquisa bibliográ-fica, controle e aquisição de obras e periódicos, circulação e relatórios gerenciais de apoio.

No mês de outubro de 1983 a Prodam participou da 3ª Feira internacional de in-

A atual explosão mundial das redes sociais terá impacto sobre os futuros programas da Prodam

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porte (mainframe); um iBM 3 375 e 32 iBM 3 380 para unidade de disco; dois iBM 1 403 e quatro iBM 3 211 para unidade de impres-são. Foram implantados 27 novos sistemas e 870 novos programas para várias secreta-rias e autarquias do município. aproximada-mente 42% dos funcionários dedicam-se ao desenvolvimento de novos sistemas.

Em 1991 a Prodam iniciou a informati-zação dos serviços de saúde prestados pala secretaria Municipal de saúde com o desen-volvimento de sistemas para agilizar o aten-dimento da rede de saúde do município. Para o desenvolvimento do sistema hospitalar da rede municipal foram feitos projetos-pilotos para três hospitais: itaquera, Campo limpo e Jabaquara. sistemas de controle de custos hospitalares, controle de estoque, compras e controle antimicrobiano foram implantados no início de 1991 em algumas unidades. além disso, foi criado o Programa de aprimoramen-to das informações sobre Mortalidade do Município de são Paulo (Pro-aim), para men-surar e qualificar o índice de mortalidade na cidade. a Prodam desenvolveu o sistema, que é utilizado pela secretaria de saúde e pelo serviço Funerário Municipal, para controle dos tipos de causa mortis, acompanhando as doenças infecto-contagiosas, mortes natu-rais, homicídios, suicídios, trânsito e queda, baseado nos atestados de óbito. ainda em 1991, o sistema foi adequado, aumentando a capacidade de armazenagem das informa-ções e agilizando a emissão de relatórios.

a partir de novembro de 1991, o sistema de Execução Orçamentária (sEO), que vinha sendo desenvolvido para secretaria de Finan-ças desde 1989, passou a permitir a cada ór-gão municipal a execução de seu orçamento online. as consultas gerenciais passaram a poder ser feitas em todas as unidades orça-mentárias da Prefeitura, em terminais insta-lados pela Prodam. Em abril do mesmo ano, a Prodam e a unicamp assinam convênio de cooperação tecnológica para transferência mútua de conhecimentos, técnicas e utiliza-ção de equipamentos. No decorrer do ano, foram comprados 1 078 novos microcompu-tadores, 396 impressoras, 252 terminais, 112 teleimpressoras e 26 terminais e su-permicro. No seu parque de equipamentos, a Prodam contava com um iBM 9 021/500 (46MiPs/128MB), mainframe; um iBM 3 375 e 32 iBM 3 380 para unidade de disco; dois iBM 1 403, dois iBM 3 211 e dois Xerox

de Finanças, um para a secretaria do governo Municipal (sgM), dois para a sMa, um para a secretaria Municipal de Transportes e um para a secretaria de vias Públicas. Também

foram implantados 787 novos programas.

Em 1990 a Prodam começa a desenvolver um sistema de aten-dimento ao munícipe. Trata-se do sistema de informações aos Cida-dãos (siC), que permite

que o cidadão acesse diversas informações acerca dos serviços da Prefeitura. através do siC a população também pode dar suges-tões. O primeiro local a receber a instalação de um siC foi a galeria da Consolação. ao mesmo tempo, a Prodam auxilia a prefeitura na criação do Projeto gênese, que levará o ensino de informática a escolas municipais. Em agosto foi inaugurado o laboratório Cen-tral de informática Educacional, que contou com a participação do educador Paulo Freire. a pedido do presidente da Câmara Municipal, vereador Eduardo suplicy (PT), a Prodam de-senvolveu um sistema de apoio à elaboração da lei Orgânica do Município, o que permitiu que a Constituinte fosse cumprida no prazo. Também foi desenvolvido um sistema que ca-dastrou 1 500 propostas da população. Co-meça a ser desenvolvido o sistema de gestão de Recursos Humanos para a secretaria Mu-nicipal de Recursos Humanos, que tem como objetivo a unificação de dados do funciona-lismo e a descentralização de informações. Também é desenvolvido para a secretaria Mu-nicipal de Cultura o dobis libis, um sistema utilizado para a informatização do acervo bi-bliográfico da cidade de são Paulo. a Prodam é contratada através de concorrência pelo comitê interpartidário composto por todos os partidos que disputaram o pleito. Em oito dias de trabalho, a Prodam concluiu o proces-samento dos votos e divulgou os nomes dos candidatos que disputaram o segundo turno antes mesmo do resultado oficial do Tribunal Regional Eleitoral.

durante o ano de 1990 foram compra-dos 303 novos microcomputadores, 235 impressoras, 117 terminais e 32 teleim-pressoras. No seu parque de equipamen-tos, a Prodam contava com um iBM 4 381/T92 (9MiPs/64MB), dois iBM 4 381/R14 (7MPis/32MB), computadores de grande

nais de computadores. É instalada também uma nova mesa de teleprocessamento, que ampliou a capacidade de interligação com os usuários e permitiu a instalação de novos terminais e sistemas online. a Prodam insta-la ainda o sistema de Ponto Eletrônico e Con-trole de acesso, com a utilização de cartão magnético.

Em 1989 com o slo-gan “distribuir infor-mação é distribuir Poder”, a Prodam dá início ao plano de parceria com as secretarias mu-nicipais. É criado o Conselho Municipal de in-formática (CMi), no qual todas as secretarias e empresas municipais passaram a definir junto com a Prodam os rumos da informatiza-ção do município. Com este intercâmbio entre as secretarias, a Prodam passa a dar ênfase ao desenvolvimento de novos sistemas. antes, a ênfase era para a manutenção dos sistemas que já existiam. aproximadamente 23% dos funcionários da empresa passam a trabalhar no desenvolvimento de novos sistemas. as intenções da companhia, em concordância com a política da prefeitura na época, eram: a utilização da informática para a democrati-zação da informação; atualização tecnológica do parque de equipamentos; realização de intenso programa de reciclagem e capacita-ção técnica, visando a assimilação das novas tecnologias disponíveis; disseminação da mi-croinformática na municipalidade; criação da área de competência em tecnologia de ponta, com a função de captar, absorver e dissemi-nar as profundas, rápidas e constantes ino-vações no setor.

ainda durante o ano de 1989 foram comprados 124 novos microcomputadores, 111 impressoras, 114 terminais e 59 te-leimpressoras. No seu parque de equipamen-tos, a Prodam contava com um iBM 4 381/T92 (9MiPs/64MB), dois iBM 4 381/R14 (7MPis/32MB) e um iBM 4341/N12 (1,5 MiPs/12MB), todos computadores de gran-de porte (mainframe); quatro iBM 3 350, 28 iBM 3 375 e 28 iBM 3 380 para unidade de disco; quatro iBM 1 403, quatro iBM 3 211 e um iBM 3 800 para unidade de impressão. Foram implantados nove novos sistemas: um para o anhembi, um para o iprem [instituto de Previdência Municipal], um para a secreta-ria do Bem-Estar social, um para a secretaria

Consultando a história, verifica-se que o primeiro endereço da Prodam foi na Rua Sete de Abril

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namentais, secretaria Municipal de segurança urbana, Tribunal de Con-tas do Município [TCM], secretaria Executiva de Comunicação [secom], Câmara Municipal de são Paulo e Ouvidoria geral do Município de são Paulo.”

— Quais as áreas que têm exigido mais

esforços de sua diretoria? — questiona-mos a seguir.

“Nos últimos dois anos, a área financei-ra consumiu bastante a gente por porque nós mudamos o sistema orçamentário da prefeitura. Esse foi um processo bastante pesado. Este ano estamos focando muito a área de saúde. a prefeitura deve entrar num projeto pioneiro de parceria público-privada [PPP] na construção de três hospitais inicial-mente e para a reforma de outros hospitais, também por meio de PPP, que, apesar de ser ainda uma novidade do ponto de vista legal e burocrático, tem tudo para se popularizar proximamente. deve sair logo o edital dos no-vos hospitais e a gente entra com a parte de informatização. E também estamos entran-do com um projeto de informatização dos hospitais a serem reformados, por meio de contrato fechado com a secretaria da saúde. Hoje nós temos 11 hospitais municipais, além dos três que serão construídos. ao lado dis-so, temos que integrar esses sistemas todos em termos de informatização. Esse, aliás, tem sido um grande problema da Prodam ao lon-go de seus 40 anos de história – como seria também o problema de qualquer empresa de informatização. Ou seja, os projetos vão sen-do desenvolvidos nos seus momentos especí-ficos, cada um deles de forma independente, e chega um dia em que a gente se depara com a seguinte pergunta: ‘como é que eu integro isso tudo?’. Então hoje a discussão de criar ‘camadas de integração’ é um grande desafio. E isso nós, na Prodam, estamos vivendo na área da saúde. Essa questão de aprofundar o uso da tecnologia da informação na área da saúde para melhorar o atendimento ao cidadão, é uma preocupação imediata. se eu coloco, por exemplo, um controle de fila, isso resulta em melhoria imediata. se eu consi-go propagar a utilização do telefone celular para trocas de mensagens – para confirmar

(46 MiPs/128 MB); 35 iBM 3 380 para unidade de disco; 2 iBM 1 403, 2 iBM 3 211 e 2 Xeros 9 790 para unidade de impressão.

* * *

uma descrição mais detalhada dos pri-meiros 20 anos da his-tória da Prodam pode ser lida na excelente entrevista concedida à REVIsTA ENGENHA-RIA pelo presidente que exerceu o cargo por mais anos consecutivos, isu Fang, e que está na parte final desta reportagem. O engº isu Fang, presidente de18 setembro de 1973 a 4 de março de 1979, é considerado – de for-ma praticamente unânime – o mentor e maior responsável pela estruturação da Prodam. as realizações da Prodam de 1992 para cá estão embutidas nas entrevistas com os atuais di-retores, que estão a seguir.

— Como funciona e quais são os clien-tes da diretoria de Relacionamento e De-senvolvimento II? — perguntamos a Mal-de Maria Vilas Bôas.

“Em volume – não em importância – eu atendo em minha área secretarias como a de Finanças, de saúde, de Planejamento, e tam-bém a Câmara Municipal. Entre os grandes projetos eu destacaria o Portal da Transpa-rência e o siga saúde. acho até que para a gente não cometer equívocos entre as duas diretorias de Relacionamento e desenvolvi-mento seria importante detalhar uma lista dos clientes e depois de falar dos grandes projetos para este ano. Os clientes da dire-toria de Relacionamento e desenvolvimento ii são: secretaria Municipal da saúde, autar-quia Hospitalar Municipal, Hospital do servi-dor Público Municipal, secretaria Municipal de Finanças, instituto de Previdência Muni-cipal [iprem], secretaria Municipal de Plane-jamento, Orçamento e gestão, secretaria da Fazenda do Estado de são Paulo, Prefeitura de Manaus, Prefeitura de Blumenau, secretaria Municipal dos Negócios Jurídicos, Fundação Paulistana de Educação e Tecnologia [Funda-tec], folhas de pagamento autarquia Hospi-talar Municipal e da própria Prodam, secre-taria Municipal de Relações internacionais, secretaria do governo Municipal, gabinete do Prefeito, secretaria de Relações gover-

9 790 para unidade de impressão. Foram ainda implantados 20 novos sistemas e 568 novos programas para várias secretarias e autarquias do município. Nessa altura, 54% dos funcionários estão trabalhando no de-senvolvimento de novos sistemas.

No ano de 1992 a Prodam deixa pronta a estrutura da Rede Municipal de informática (RMi), tornando-se a pioneira na utilização de sistema aberto de comunicação de dados no Brasil. a RMi inaugurou um novo modelo tecno-lógico para a informatização da cidade de são Paulo, que tem como principal característica o processamento e a comunicação de dados distribuídos, em substituição ao modelo cen-tralizado incompatível com a complexidade e necessidades da cidade. Em dezembro, quatro administrações Regionais (santana, Campo limpo, lapa e Penha) já estavam conectadas à RMi. antes, em outubro, a secretaria de abas-tecimento (semab) recebeu o sistema de in-formatização dos Programas de alimentação da Prefeitura, que permite que a secretaria controle seus estoques, racionalize todo o processo de planejamento, desde a aquisição, estocagem, distribuição dos alimentos e mon-tagem de cardápios, além de otimizar recursos para o melhor aproveitamento das cargas e ro-teiros de remessas de alimentos.

Em novembro de 1992 a Prodam assina convênio com a universidade de são Paulo (usP), através da Escola Politécnica, para cooperação técnica-científica. O convênio prevê aplicação de recursos tecnológicos voltados ao desen-volvimento e modernização da administração pública. a Prodam volta a ser contratada pelo comitê interpartidário para apuração paralela dos votos no primeiro turno da eleição para a Prefeitura de são Paulo. durante o ano, foram comprados 151 novos microcomputadores, 311 impressoras, 178 terminais, 67 teleim-pressoras e 46 terminais de supermicro. Foram implantados 29 novos sistemas e 5 850 novos programas para várias secretarias e autarquias do município. agora, 68% dos funcionários es-tão trabalhando no desenvolvimento de novos sistemas. Em dezembro de 1992 é publicado relatório contendo as atividades praticadas pela direção, durante o governo democrático e popular (1989/1992), nele é feita pela primeira vez a descrição do parque de equipamentos da companhia, que no total conta com 1 963 mi-crocomputadores; 1 213 impressoras; 1 363 terminais; 627 teleimpressoras; 72 terminais de supermicro; 1 mainframe iBM 9 021/500

Malde Maria Vilas Bôas, da diretoria de Relacionamento e Desenvolvimento II da Prodam

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percepção pessoal? — pedimos que Malde explanasse.

“Essa é uma pergunta importante. Eu acho que o papel das empresas públicas estadu-ais e municipais da área de TiC, a exemplo da Prodesp e Prodam, tiveram uma relevância fundamental no processo de informatização da área pública no país. Há 40 anos, quando surgiu a Prodam e outras empresas, ninguém sabia o que era computador, ninguém sabia o que era processamento eletrônico de dados. se lançava iPTu naquelas máquinas mecânicas. E de repente essas empresas vieram, trouxeram pessoal, capacitaram mão de obra, quer dizer, fizeram informatização da área pública. acho importante resgatar essa história da Prodam, porque nós temos hoje na empresa um volume enorme de profissionais que são daquela épo-

ca pioneira ainda, e que viram tudo acontecer. a prefeitura paulistana tinha uma necessidade grande de fazer uma distribuição organizada do iPTu. só que quando esse problema chegou na Prodam, no passado, se descobriu que tinha que ser dado ‘um pas-

so atrás’, pois existia uma lacuna na questão do endereçamento. Na verdade a necessidade imediata era obviamente a prefeitura organizar a possibilidade de ter o recebimento mais ágil daquele tributo. só que se descobriu que ou se organizava a questão dos endereços ou não se poderia fazer nada de novo e eficiente. Nos pri-mórdios nós tínhamos computadores que ocu-pavam um andar inteiro. Hoje eu faço tudo nes-te pequeno laptop que carrego comigo. Hoje a Prodam já nem dá conta de toda a demanda da prefeitura. isso é uma coisa natural. E o mer-cado então fica ávido para oferecer serviço para a prefeitura. uma crítica que se costuma fazer é o seguinte: se existem tantas empresas de TiC no mercado, por que se precisa da Pro-dam? Por que a prefeitura não compra o servi-ço de TiC no mercado? Essa é uma discussão importante. É fundamental que a gente tenha consciência do papel da Prodam. Não tem nada a ver com essa coisa de monopólio, ou seja, ‘tem que ser pela Prodam, porque a Prodam é uma empresa pública’. Tem que ser pela Prodam por-que a Prodam é a empresa que pode garantir a continuidade dos serviços numa mudança de gestão. algo que um fornecedor não precisa

que era fruto de uma ação judicial. Houve um outro que também se verificou ser uma coisa temporária, tinha explicação. Então eu acho que esse Portal de Transparência é um avanço importante. Eu estou na área públi-ca há muito tempo, sempre nesse segmento da informatização. O setor de informática é uma esfera muito técnica. Tenho plenas con-dições, portanto, de avaliar que se a gente conseguir juntar a técnica com o efeito social do sistema que se está instalando, é possível dar um salto de qualidade monstruoso. uma coisa é o técnico em informática dizer ‘eu ponho um site no ar’, mas outra muito mais valiosa é falar ‘eu ponho no ar um serviço que dá ao cidadão as condições de ele exigir do poder público e de exercer os seus direitos’. Quando uma empresa pública de tecnologia da informação e comu-nicação, como a Prodam, consegue perceber isso e enxergar qual é a mis-são dela, a gente dá um salto de qualidade.”

— A senhora está na Prodam há quan-to tempo e qual a sua formação acadêmica? — indagamos de Malde.

“desde 2005. Eu vim para a Prodam, de-pois fui para a prefeitura de são Paulo para implantar o conceito de governo eletrônico e uma política de TiC, aí voltei para a Prodam, assumi a presidência da empresa, voltei para a prefeitura, assumi a secretaria de gestão, e voltei para a Prodam novamente (rindo). Quanto à minha formação, sou economista e analista de sistemas. Eu comecei minha car-reira em Campinas, numa empresa de infor-mática do mesmo gênero da Prodam. lá tem uma empresa municipal que se chama ima, ou seja, informática de Municípios associados s/a. Trata-se de uma empresa de economia mista – cujo principal acionista é a Prefeitura Municipal de Campinas – que presta serviços em TiC e serviços gráficos, sendo também responsável pela imprensa Oficial do Municí-pio de Campinas. Fiquei lá por 18 anos, depois fui para Brasília, também pra trabalhar nessa área nos ministérios da Educação e da saúde. aí vim para são Paulo, para trabalhar no go-verno estadual, na Companhia de desenvolvi-mento Habitacional e urbano [CdHu], também na área de informática.”

— Qual o papel da Prodam hoje, na sua

uma consulta, por exemplo –, essa melhoria é imediata. Então a área de saúde vai receber muita atenção em 2011. É o caso de dizer que hoje os nossos grandes projetos estão foca-dos na área de saúde.”

— Quais as características do Portal da Transparência? — pedimos que Malde explicasse.

“Esse é outro grande projeto em nossa área. E também uma iniciativa bastante ino-vadora. Há pouco mais de um ano o prefeito gilberto Kassab decidiu disponibilizar na in-ternet as informações da prefeitura. Pediu que nós colocássemos no ar um site para que a população pudesse acessar os dados da mu-nicipalidade. É preciso esclarecer que antes tais informações já eram públicas – só que, na prática, o munícipe não conseguia chegar nelas. daí esse conceito da transparência e essa ideia pioneira do prefeito. Então nós colocamos no ar todas as informações de orçamento, todos os pagamentos que a pre-feitura tem a fazer, todos os recebimentos... E colocamos também a listagem completa dos servidores municipais, com seus nomes completos e seus respectivos salários. isso foi um tumulto (rindo). aconteceram ações judiciais, põe no ar, tira do ar... Mas o Brasil inteiro e até gente de fora do Brasil ficou encantado com a ousadia. Não vai sair do ar, portanto. E mais: nós estamos lançando uma versão nova, ou seja, já criamos uma cultura. O conceito é muito interessante. Todo dia, qualquer pessoa entra no site e fica sabendo de todos os contratos e de todas as licitações que existem correndo na prefeitura. todos os funcionários.”

— Publicar a lista de funcionários acabou com aquele expediente tão popu-lar de denunciar a existência de “cabide de emprego”? — pedimos que Malde co-mentasse.

“É. Trata-se de uma informação que a gen-te precisava ter disponível. ainda que tenha dado briga e disputa entre os funcionários da prefeitura. Eu dizia sempre a eles: ‘vocês querem ver isso sendo adotado lá no sena-do?’. Eles respondiam: ‘ah, nós queremos!’. Não tivemos no portal nem um caso que tenha ido para a imprensa dizendo que ‘esse servi-dor não existe, é funcionário-fantasma’. Nós tivemos casos assim: um professor receben-do 68 000 reais num mês. Mas, na verdade, ele estava recebendo quantias que estavam atrasadas e ficou cabalmente comprovado

Em 1978 foi implantada a primeira fase do Geolog, que armazenará informações sobre a cidade

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tos de trabalho que são muito diferentes uns dos outros. um sistema-padrão de mercado,

ou seja, feito por uma empresa privada de TiC, também não ser-ve. simplesmente por-que os iPTus não são iguais. Cada prefeitura faz a sua adaptação, o seu modelo de trabalho e o seu plano de zone-

amento. E aquelas adaptações impedem que se tenha um único sistema. Por outro lado, para nossas equipes aqui da Prodam, ficaria muito difícil fazer essa adaptação em cada uma das prefeituras. Mas eu acho que a gen-te ainda vai achar o caminho para fazer isso (rindo).”

— Todas as empresas públicas de TIC andam na mesma linha que a Prodam? — pedimos que Malde definisse.

“sim, por isso eu insisto que gente tem que focar na missão da Prodam e no papel impor-tante das empresas de Ti no país. E isso é uma discussão que não está acontecendo só aqui em são Paulo. várias vezes você vê entrar novo prefeito e diz ‘vamos fechar a empresa de in-formática e vamos para o mercado’. acho que empresas como a Prodam não têm mais a mis-são que tinham há 40 anos. Hoje elas têm que interagir de forma diferente com o mercado. Naquela época, o mercado era fornecedor de equipamentos, de hardware. Hoje o mercado tem uma expertise. Os sistemas na área de TiC são tão amplos que eu também não consigo me especializar em todos eles o tempo todo. Então eu preciso aprender a trabalhar com o merca-do. O que não significa que eu vou repassar a minha atividade para o mercado. Eu me lembro que, há alguns anos, quando José Roberto ar-ruda assumiu o governo do distrito Federal, ele fechou a Companhia de Planejamento do dis-trito Federal [Codeplam], que é a Prodam de lá. Foi um caos. Ele fechou nos primeiros meses de seu mandato, alegando que ela era deficitária. Não existe mais o conceito de monopólio como nós tínhamos há alguns anos. aqui em são Pau-lo só nós fazíamos o serviço da prefeitura. Hoje existe o conceito de mercado. interagir com o mercado é a regra agora. Existe o conceito de integração entre os sistemas. Mas, por outro lado, existe o papel da empresa pública. Não só como prestadora de serviços mas como agente de implementação das políticas de TiC do go-verno nessa busca pela qualidade de vida do ci-

chama siga, que é o que faz o controle de atendimento ao público. só para fazer liga-ção com a pergunta an-terior, pelo menos 35 prefeituras entraram em contato conosco, solicitando permissão para usar esse siste-ma. dessas 35 nós ce-demos gratuitamente para 15 prefeituras – e agora elas estão buscando consultoria para ajudar na implementação do sistema. E mais recentemente, para surpresa nossa, o Minis-tério da saúde veio nos pedir esse sistema para ser adaptado em nível nacional. a partir disso, nós assinamos um convênio com o go-verno federal, cedendo o sistema ao Ministé-rio da saúde e estamos ajudando os técnicos de lá a conhecer melhor esse conjunto de elementos. Mas, como não temos capacidade operacional, ou seja, mão de obra suficiente para ajudá-los a implementar o sistema, o que nós podemos dar é apenas a consultoria. Então esse conceito de ‘vou vender o servi-ço’ é de difícil implementação porque seria preciso montar uma estrutura. Mesmo assim nós implantamos a Nota Fiscal Eletrônica em duas cidades: Manaus e Blumenau. Presta-mos também alguns serviços para a secreta-ria Estadual da Fazenda, como, por exemplo, a implantação do sistema de parcelamento de dívidas. Mas não conseguimos uma estrutura para vender os serviços externos à prefeitu-ra. demanda é o que não falta: as prefeituras ficam atrás da gente o tempo todo.”

— Não seria possível padronizar os sistemas – IPTU, por exemplo – para to-das as prefeituras do Brasil? — arrisca-mos com Malde.

“ao longo destes anos todos, vários mo-delos foram pensados. as empresas públicas de TiC se juntaram para fazer sistemas cor-porativos. Eu me lembro que quando estive no sistema Nacional de saúde, cada estado fazia um pedaço do sistema, depois a gente juntava tudo num sistema só. Qual é o grande conceito? Prefeitura é igual no país inteiro, estado é igual no país inteiro. a legislação é a mesma. Por que não tem um sistema único de iPTu que serve para todas as prefeituras? Porque não é exatamente assim. Porque cada prefeitura tem sua legislação municipal pró-pria e também algumas características ine-rentes à localidade. E mais: há procedimen-

fazer – quer dizer, acabou o contrato dele, ele pega a pastinha e vai embora. a Prodam é quem garante a integração, a relação serviço/quali-dade de vida do cidadão. isso não é uma função que o fornecedor precise fazer. Quando chegar outro fornecedor ele vai cumprir o que está no contrato e fim de conversa. Não é esse o papel da Prodam. O correto é olhar a Prodam como um agente de política pública, um parceiro do governo na qualidade de vida do cidadão. isso é o que diferencia a Prodam de um fornecedor de serviços de informática qualquer. No dia a dia, as secretarias municipais querem desen-volver sistemas – e elas estão certas. a Prodam vai um pouco mais além. Quando a Prodam vai discutir um sistema de iPTu, ela vai também discutir o procedimento interno da prefeitura, ela vai garantir a continuidade daquilo. daqui a pouco muda o prefeito, secretários e tal... O papel da Prodam também é essa garantia do conhecimento. as informações importantes es-tão aqui nas nossas bases de dados e o conhe-cimento está com nosso pessoal competente. É importante restituir a imagem da Prodam não só como uma desenvolvedora de software, uma software-house. Ela é um ente público.”

— Na medida em que a Prodam tem esse papel e que aperfeiçoa sua experti-se, há planos de se vender esses serviços para outras prefeituras ou governos? — propusemos a Malde.

“isso é sempre um desejo de todo diri gente de empresa. Porque depender de uma única fonte de receita também é complicado. Cada prefeitura tem dificuldade orçamentá-ria e nós também temos dificuldades aqui. O sonho de um dirigente é ser autossuficiente. implantação de sistemas não é coisa simples. você não consegue ter sistemas suficiente-mente padronizados para permitir a venda em pacotes para as prefeituras. Por exemplo, eu não consigo pegar uma Nota Fiscal Ele-trônica, que foi pioneira aqui em são Paulo, e dizer: ‘olha, senhor prefeito, estamos repli-cando a NFe para vocês’. Não é assim. depen-de de um certo volume de consultorias, que nós não temos condições de dar. Nas atuais circunstâncias, se nós fôssemos materializar esse passo, ficaríamos numa situação do tipo ‘eu tiro da prefeitura de são Paulo para poder atender outro cliente’. Então, não é possível.”

— Como estão os trabalhos de sua di-retoria em relação à área de saúde da ci-dade de São Paulo? — indagamos de Malde.

“Nós temos um sistema da saúde que se

Em 1990 a Prodam deu início ao Sistema de Informações aos Cidadãos, ou SIC

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lá tem hardware e sof-tware. Esse foi um pro-jeto importante para a Prodam, porque mudou um pouco o conceito de nossas entregas de serviços. a gente começou a fornecer soluções para os clien-tes. E não apenas a de-senvolver os sistemas. a solução é entregue

num pacote completo, ou seja, com sistema, com mobiliário, com equipamento, com co-nectividade. Esse tipo de acontecimento é que ilustra a grande transformação que a Prodam teve nos últimos anos. Tanto que hoje a gente fala ‘cliente subprefeitura’, ‘cliente secretaria tal’. Faz parte dessa metamorfose da empresa. Quando eu entrei na Prodam a gente chamava de usuário. Hoje chamamos de cliente porque a empresa tem contratos com as subprefeituras, secretarias e a estrutura da prefeitura como um todo. Hoje somos uma companhia que busca contratos, busca recur-sos e sobrevive desses contratos. ainda no caso das sub, a secretaria Municipal de Coor-denação das subprefeituras tem uma central de zeladoria, e cada subprefeitura tem uma sala de situação. a zeladoria da cidade hoje é descentralizada. Cada subprefeitura cuida de seus buracos, suas árvores, seus proble-mas regionais. O registro é efetuado na cen-tral de zeladoria e vai para a subprefeitura e esta tem que dar um destino ao serviço. Há um acompanhamento da central. É um projeto baseado num software que está em implanta-ção desde o ano passado.”

— Que outras mudanças da Prodam o senhor pode destacar? — solicitamos de Odemil.

“Houve mudança física, do ibirapuera para a avenida Francisco Matarazzo, no bairro da Barra Funda. Outra mudança interessante se refere ao fato de hoje nossos técnicos conseguirem acompanhar melhor os proje-tos, até porque eles têm um conhecimento profundo do funcionamento da prefeitura paulistana. são 40 anos de experiência re-passada de um para o outro. aliás, a Prodam é uma empresa que não tem muito turn-over, rotatividade de funcionários. É uma empresa que tem um grande número de pessoas que trabalham há muitos anos nela. Recentemen-te, por meio de concursos públicos, a gente

de história, o setor de educação recebeu, em 1997, o primeiro sis-tema feito para inter-net na Prodam – um projeto grande. isso é um dado interessante. até hoje a gente tem o sistema – na verdade, um conjunto de siste-mas –, que é renovado constantemente. O se-tor de transporte é outro cliente importante. Quando se fala em transporte a gente logo se lembra de multa de trânsito e da inspeção veicular que está agregada a isso. Mas tem também toda uma parte de processos, de arrecadação do município e do trabalho de estabelecimento de regras para que o sis-tema viário funcione. Tem ainda a parte de regulação de táxi que está dentro do siste-ma de transporte. Outro cliente – e projeto importante para nós – são as subprefeituras. Elas têm uma rede que chega mais perto do cidadão na cidade. Mas vamos à lista com-pleta. Os clientes da diretoria de Relaciona-mento e desenvolvimento i são: secretaria Municipal de Educação, secretaria Municipal de serviços, secretaria Municipal de desen-volvimento urbano, secretaria Municipal de Coordenação das subprefeituras, secretaria Municipal de Habitação, secretaria Municipal de infraestrutura urbana e Obras, secreta-ria Municipal de Planejamento, Orçamento e gestão, são Paulo urbanismo, são Paulo Obras, Companhia Metropolitana de Habita-ção [Cohab], secretaria Municipal de Controle urbano, secretaria Municipal do verde e Meio ambiente, secretaria Municipal de Transpor-tes, são Paulo Transporte s/a [sPTrans], Com-panhia de Engenharia de Tráfego [CET], são Paulo Turismo [sPTuris], serviço Funerário do Município, Companhia são Paulo de Parcerias, secretaria Municipal de Participação e Parce-ria, secretaria Municipal de Esportes, lazer e Recreação, secretaria Municipal de Cultura, secretaria Municipal da Pessoa com deficiên-cia e Mobilidade Reduzida.”

— Pode falar um pouco do caso das subprefeituras? — pedimos a Odemil.

“Bem, são 31 subprefeituras. Para servir o cidadão elas têm as suas praças de aten-dimento e a gente tem hoje um projeto nos-so que se chama ‘sala de situação’. Funciona como uma central de zeladoria do município.

dadão. a Prodam faz parte do governo. Eu diria que a Prodam é a nave-mãe nessa especificida-de do TiC. Ela garante a integração, o padrão e o conhecimento. E conseguimos isso mesmo com todas as dificuldades que nós temos. Falta pessoal, faltam recursos, temos que capacitar gente, a demanda da prefeitura é infinitamente maior do que aquilo que nós conseguimos aten-der. Mas tem esse conhecimento acumulado, essa vida vivida aqui dentro da empresa. Quan-do você pega um profissional que tem 30 anos de Prodam, qual é o valor desse homem que co-nhece o sistema, conhece a prefeitura, sabe o que aconteceu no passado? É imenso. acho que esse tipo de profissional valoriza a empresa. E o que diferencia a Prodam de uma empresa da iniciativa privada é exatamente isso. a iniciativa privada tem um contrato, ela trabalha naquele contrato, cumpre – ou não cumpre – e acabou. a Prodam é um pouco mais. sai um decreto do prefeito, por exemplo: amanhã o sistema tem que estar atualizado. O contrato não é nossa primeira preocupação, nossa primeira missão é colocar aquilo no ar. depois é que vamos dis-cutir com a prefeitura aquilo que vamos fazer.”

* * *

— Há quanto tempo o senhor está na Prodam, como funciona e quais são os clientes da diretoria de Relacionamento e Desenvolvimento I? — quisemos saber de Odemil José Camargo.

“Eu estou na Prodam há 20 anos. Entrei como analista de sistemas, mais tarde assumi os cargos de gerente e gerente de projeto, até ser convidado pelo ex-presidente João Octaviano Machado Neto para fazer parte da diretoria. aliás, eu fui o primeiro diretor oriundo dos quadros da própria Casa na his-tória da Prodam. Então tive oportunidade de ver a história da transformação da Prodam, de uma empresa que fazia sistemas e con-sertava computador para uma empresa que entrega uma solução. Bem, a divisão se faz mais em termos de área-fim e área-meio da prefeitura. a diretora Malde cuida mais das áreas-meio, ou seja, das áreas internas da prefeitura, com exceção da secretaria da saúde que ela cuida e que atende o público. E eu cuido mais das áreas que atendem o públi-co, isto é, subprefeituras, transporte, educa-ção, assistência social. Essas são áreas mais descentralizadas. Nessa linha, os principais clientes são da área da educação. Em termos

Odemil José Camargo, da diretoria de Relacionamento e Desenvolvimento I da Prodam

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ículos maiores? — prosseguimos indagan-do de Odemil.

“Esses integram outro lado do sistema da área de transporte que a gente também cuida: a parte de regulação de transporte pú-blico. Então táxis, fretamento de ônibus, ôni-bus escolares, a concessão e renovação das licenças – tudo isso a gente tem um sistema que controla. Trata-se de uma legislação bem complexa porque hoje para a pessoa ter uma

licença de táxi ela tem que juntar uma docu-mentação bem especí-fica. as regras se aper-feiçoaram, todo ano o taxista tem que fazer uma vistoria de seu veículo, tem que apre-sentar algum tipo de

documentação atualizada. Temos, portanto, um sistema que regulamenta essa parte de transporte público e outro que cuida das mul-tas de trânsito. Nós evoluímos bastante nes-ses sistemas, o que veio trazer um acréscimo de qualidade nos processos da prefeitura. agora estamos implantando a possibilidade dos taxistas e do pessoal dos ônibus fretados e escolares poderem renovar suas licenças pela internet. a gente está incorporando isso com certo atraso porque a legislação não ti-nha evoluído o suficiente. Hoje já há uma le-gislação que permitiria liberar pela internet algumas funcionalidades. Eu acho, portanto,

as zonas de restrições, tanto para caminhões como para ônibus fretados. Então essas re-gras que foram embutidas no sistema de trânsito tiveram que ser incluídas no nosso sistema informatizado. Hoje o foco do siste-ma de multas é a parte de ajuste das regras de fiscalização do trânsito do município.

Como se recorda, o rodízio municipal de veículos de são Paulo ou também chamado de Operação Horário de Pico pela CET é uma res-trição à circulação de veículos automotores na cidade de são Paulo. im-plantado em 1997 com o propósito de melhorar as condições ambientais reduzindo a carga de poluentes na atmosfera, logo passou a reduzir o congestionamento nas principais vias da cida-de nos horários de maior movimento. No entan-to, os congestionamentos da cidade continuam a piorar, com um recorde histórico de 266 quilômetros de lentidão atingido em abril de 2008. a situação é agravada pelo acelerado e contínuo crescimento da frota veicular, um re-flexo do dinamismo econômico da cidade. Para mitigar os seus efeitos no trânsito e na quali-dade do ar da cidade, a prefeitura paulistana estendeu o rodízio para a circulação dos cami-nhões dentro do chamado ‘centro expandido’ a partir do dia 30 de junho de 2008.”

— E em relação aos táxis e outros ve-

trouxe para cá um pessoal novo de mercado. Essa mistura também está ajudando a mudar a cabeça das pessoas, principalmente nos últimos cinco anos. Os que estão na Prodam há muito tempo estão arejando as cabeças, adquirindo novos conhecimentos, técnicas e maneiras de trabalhar com essas pessoas que estão chegando. a Prodam passou muito tempo sem fazer concurso público, sem tra-zer gente de mercado. Há aquela troca natu-ral de experiências. uns dizem ‘ah, eu costumo gerenciar o projeto deste jeito e para isso eu costumo ter esta solução’. Então foi muito interessante a chegada desse pessoal novo, com outra garra.”

— Para o leigo o setor de transpor-te – principalmente no que se refere ao trânsito – é um bicho de sete cabeças. O projeto em relação aos transportes se subdivide em que segmentos? E as mul-tas? — pedimos que Odemil esclarecesse.

“No caso de multas, é claro que o peso da arrecadação no sistema de transportes é grande e importante. O sistema de multas é um dos sistemas mais antigos que a Prodam elaborou. Ele foi se renovando em alguns mó-dulos e se ajustando às regras do município. Então hoje, por exemplo, temos o rodízio de veículos implantado. E, adicionalmente, temos exceções ao rodízio – como algumas catego-rias de profissionais e pessoas que têm defi-ciência para dirigir. Esses podem rodar sem ser multados. depois a prefeitura implantou

Dá para afirmar que em 2011 os grandes projetos da Prodam para a cidade estão focados na saúde

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nessa ferramenta para poder desenvolver um projeto. Recentemente fizemos viagens aos Estados unidos para conhecer um projeto internacional que poderia agregar qualidade e eficiência a outro projeto que a gente tem aqui. Então esse intercâmbio é importante. Nos últimos anos fizemos várias viagens in-ternacionais para conhecer os projetos do mundo inteiro e trazer essas contribuições para a Prodam. O importante é que a Prodam conseguiu nesses últimos anos acompanhar esse dinamismo todo do mercado. E o que nos alegra é que o mercado internacional já re-conhece a Prodam como uma empresa de li-derança na área de tecnologia de informação para o segmento público.”

— Como é esse novo sistema de geren-ciamento e fiscalização? — solicitamos de Odemil.

“Trata-se de um projeto da prefeitura pau-listana para modernizar e dar eficiência às atividades de fiscalização do município, além de facilitar a vida do contribuinte ao reduzir as etapas burocráticas para eventual inter-posição de recurso diante da aplicação de pu-nições. O novo sistema de fiscalização digital prevê o uso de equipamentos eletrônicos on-line e a emissão de multa no local da infração. É o projeto mais importante hoje na minha di-retoria. Minha equipe trabalha nisso de forma concentrada para que a prefeitura possa mo-dernizar e automatizar a fiscalização das pos-turas municipais. vai valer para múltiplas ações fiscais, desde fiscalização de rua, de barulho, de calçada, até atividades comerciais. Hoje o fiscal sai para seu trabalho com um bloco de papel e uma caneta nas mãos. agora a gente vai implantar o tablet, ou palm, cada fiscal terá o seu equipamento. Possíveis erros no momento da emissão de documentos serão minimizados, já que as antigas guias de papel carbonado serão substituídas por um único documento e impressas pelos equipamentos portáteis no ato da fiscalização. a base do trabalho tem dois focos: denúncia e planejamento de atividades. a gente recebe uma denúncia, por exemplo, de que um bar está fazendo barulho acima do per-mitido, ou num horário proibido. Ou então, pelo planejamento de atividades, fazemos uma blitz numa determinada região da cidade. Tem tam-bém a fiscalização da lei Cidade limpa.

a ideia é que o fiscal saia à rua com seu tablet e nesse equipamento ele registre as ocorrências que está constatando. Esse re-gistro vai diretamente para o sistema. O sis-

tempo para cuidar da melhoria dos sistemas e do aperfeiçoamento dos processos. a parte operacional fica para parceiros que produ-zem em volume muito grande e por um preço mais baixo. Então isso traz mais economia e eficiência à companhia como um todo.”

— Existe alguma interface entre os sistemas das escolas municipais, estadu-ais e particulares da cidade de São Paulo? — pedimos que Odemil esclarecesse.

“a secretaria de Educação do Estado de são Paulo tem a atribuição de gerenciar a rede das escolas tanto estaduais quanto par-ticulares. Existe um órgão dentro dela que tem a prerrogativa regulamentar de autori-zar o funcionamento de uma escola particu-

lar. Mas a secretaria de Educação do Município de são Paulo só atende as escolas municipais. Como se sabe, a educa-ção básica foi munici-palizada no Brasil todo. isso inclui a parte de creches, educação in-fantil e o ensino fun-damental. E o Estado

cuida da educação secundária – o antigo se-gundo grau – e as escolas técnicas. Mas hoje já existem alguns convênios com a prefeitura implantando escolas técnicas nos Centros Educacionais unificados [CEus], que são ins-tituições municipais. É importante destacar também outros sistemas que a gente faz para a educação, como os dos programas da merenda escolar e do ‘leve leite’ – este um programa municipal que distribui leite para as crianças de uma determinada faixa etária, vinculando essa distribuição à frequência do aluno na escola. O controle desse serviço de entrega é feito pela Prodam em conjunto com os Correios. O carteiro entrega para as mães do menor, independente de onde elas morem. Com esses processos, a gente conse-guiu, inclusive, atualizar os nossos cadastros sobre as famílias. Hoje esses registros sobre as crianças estão bastante aprimorado nos nossos sistemas. a gente depende disso para entregar o leite.”

— A Prodam recebe o devido reconhe-cimento na área de TIC? — indagamos de Odemil.

“a área de TiC é muito dinâmica. a semana que vem pode aparecer uma ferramenta nova e a Prodam precisa que alguém se especialize

que aquilo que os sistemas elaborados pela Prodam acrescentam resulta numa grande melhora dos processos na secretaria munici-pal na qual ele está sendo utilizado. E também melhora a condição de trabalho das pessoas. Porque atendimento ao público não é uma tarefa fácil. Basta observar o que acontece numa unidade da administração Municipal onde haja uma fila enorme: todo mundo mal-humorado e reclamando. Eu participei desse tipo de projeto e a gente melhorou muito – dando mais agilidade – os processos de tra-balho dos servidores que atendem o público.”

— Além das subprefeituras e da área de transporte, outro grande cliente está no setor de educação? Basicamente são que tipo de siste-mas? — perguntamos a Odemil.

“sim. Na educação a gente tem basica-mente um sistema ad-ministrativo que con-trola as atividades das escolas: matrícula de aluno, transferência de professor, merenda escolar... Todas as atividades burocráticas do dia a dia das escolas são controladas pelo nosso sistema. sem esse sistema acho que seria impossível administrar a secretaria da Educação. são 55 000 professores, 1 milhão de alunos, 10 000 salas de aula, cerca de 1 300 escolas. O volume é muito grande. En-tão é muito difícil administrar um volume como esse sem ter um sistema informatizado. além da parte de sistema é importante des-tacar a infraestrutura que a gente disponibi-liza. Todas as escolas estão ligadas por uma rede de conectividade, ou seja, um veículo de comunicação com computadores. aliás, se me permite sublinhar uma mudança importante que houve na Prodam nos últimos anos – que a diretora Malde já citou –, esta se refere ao fato da empresa ter se acostumado a traba-lhar com parceiros do mercado. antigamente a gente fazia tudo aqui dentro. isto é, tínha-mos técnicos que consertavam computado-res, tinha impressora no prédio do Parque do ibirapuera que imprimia multas, provas para educação, entre muitas outras. Hoje, a preocupação maior é com a inteligência dos processos. a parte do dia a dia, a parte mais operacional, a gente tem parceiros de mer-cado. Essa evolução nos permite dispor de

Há 40 anos, quando surgiu a Prodam, ninguém sabia o que era processamento eletrônico de dados

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go de introdução ao cloud computing – que todos nós estamos habituados a utilizar apli-cações instaladas em nossos próprios com-putadores, assim como a armazenar arquivos e dados dos mais variados tipos neles. Mas ressalta que no ambiente corporativo esse cenário é um pouco diferente, já que nele é mais fácil encontrar aplicações disponíveis em servidores que podem ser acessadas por qualquer terminal autorizado por meio de uma rede. a principal vantagem do modelo cloud computing está no fato de ser possível, pelo menos na maioria das vezes, utilizar as aplicações mesmo sem acesso à internet ou à rede. Em outras palavras, é possível usar es-ses recursos de maneira off-line. Entretanto, todos os dados gerados estarão restritos a esse computador, exceto quando comparti-lhados em rede, coisa que não é muito comum no ambiente doméstico. Mesmo no ambiente corporativo, isso pode gerar algumas limita-ções, como a necessidade de se ter uma li-cença de um determinado software para cada computador, por exemplo.

a evolução constante da tecnologia com-putacional e das telecomunicações está fa-zendo com que o acesso à internet se torne cada vez mais amplo e cada vez mais rápido. Em países mais desenvolvidos, como Japão, alemanha e Estados unidos, é possível ter acesso rápido à internet pagando-se muito pouco. Esse cenário cria a situação perfeita para a popularização da cloud computing, embora esse conceito esteja se tornando co-nhecido no mundo todo, inclusive no Brasil. Com a cloud computing, muitos aplicativos, assim como arquivos e outros dados relacio-nados, não precisam mais estar instalados ou armazenados no computador do usuário ou em um servidor próximo. Esse conteúdo passa a ficar disponível nas ‘nuvens’, isto é, na internet. ao fornecedor da aplicação cabe todas as tarefas de desenvolvimento, arma-zenamento, manutenção, atualização, backup, escalonamento etc. O usuário não precisa se preocupar com nada disso, apenas com aces-sar e utilizar.

um exemplo prático desta nova realidade é o google docs, serviço onde os usuários po-dem editar textos, fazer planilhas, elaborar apresentações de slides, armazenar arquivos, entre outros, tudo pela internet, sem neces-sidade de ter programas como o Microsoft Office ou OpenOffice.org instalados em suas máquinas. O que o usuário precisa fazer é

mas tudo indica que ouviremos esse termo ainda por um bom tem-po. Cloud computing se refere, essencialmente, à ideia de utilizarmos, em qualquer lugar e independente de plata-forma, as mais variadas aplicações por meio da internet com a mesma facilidade de tê-las ins-taladas em nossos pró-prios computadores. É você ter uma infraes-

trutura de TiC que possa assumir um forma-to flexível. Hoje uma aplicação demanda certo volume de recursos de hardware para poder operar. se você considerar os fatores exter-nos, ou seja, aumento de demanda e mais usuários utilizando, verificará que é preciso constantemente trocar a sua infraestrutu-ra por outra maior. Com o conceito de cloud computing, não se troca essa infraestrutura, adicionam-se equipamentos e softwares bá-sicos a essa infraestrutura de forma dinâmi-ca. isso significa que você tem elasticidade da infraestrutura para poder atender essa demanda adicional. E o contrário também é verdadeiro. Eu posso ter uma aplicação que em determinados períodos tem uma deman-da menor do que para o potencial para o qual a infraestrutura foi desenhada. Então eu posso diminuir a infraestrutura locada para atender essa demanda que hoje é menor e com essa sobra pode-se atender alguma ou-tra aplicação que porventura possa estar necessitando. Na Prodam já temos hoje 260 servidores virtuais pelo conceito de cloud computing, que, diga-se de passagem, é mais um conceito de marca que o mercado bolou. É uma coisa mais comercial. Mas quando a gen-te vai para a tecnologia mesmo, o cloud é o conceito de virtualização. Nós temos uma sé-rie de servidores reais [físicos], mas com uma infraestrutura de software podemos dispor de duas, três, e até seis vezes mais servido-res virtuais. Esse é mais ou menos o conceito e a Prodam já é ‘case’ mundial do fornecedor líder desta tecnologia no mercado, que é a vMware.

Hoje a literatura e os artigos técnicos sobre cloud computing já são abundantes. de forma didática, um técnico da área de TiC (do mercado, não da Prodam), explica – num arti-

tema pode emitir uma multa ou uma advertên-cia, dependendo da le-gislação. a gente traba-lha com muitas leis e às vezes essas legislações são bem complexas. a equipe da Prodam está adaptando a legislação do município às regras do sistema. Nós esta-mos desenvolvendo os sistemas e implantan-do a infraestrutura para isso. Num círculo virtuoso, todas essas informações vão ali-mentar ainda mais a base de dados para que o planejamento de atividades melhore sempre mais. isso, além de melhorar a fiscalização, vai melhorar a vida da cidade. Porque vamos ter, dentro de nosso banco de dados, infor-mações sobre em qual a região da cidade há mais problemas desta ou daquela natureza, em que ruas e avenidas seria preciso atuar mais, e assim por diante.”

* * *

segundo o diretor de infraestrutura da Prodam, Osvaldo antonio Pazianotto, as equi-pes do que ele chama de “fábricas de software” (lotados nas diretorias chefiadas por Malde Maria vilas Bôas e Odemil José Camargo) ana-lisam e desenvolvem aplicações para que, no ato seguinte, a sua diretoria possa implantá-las para os clientes da companhia. “Onde essas aplicações ficam hospedadas, em que compu-tadores elas rodam? Nos computadores e na rede de telecomunicações. Tudo que se refere a infraestrutura para suportar essas aplicações ficam no datacenter da Prodam. Então minha diretoria cuida basicamente disso, ou seja, da parte de hardware, dos sistemas de apoio, dos sistemas de bancos de dados e de todos os equipamentos que suportam as aplicações que são desenvolvidas para os nossos clientes. É basicamente essa nossa missão.”

— Como é o conceito de cloud compu-ting? A Prodam já usa? — perguntamos a Pazianotto.

“sim, a Prodam já usa o cloud computing. Trata-se de um conceito que vem sendo mui-to falado pelo mercado. É a ‘computação em nuvem’. a denominação cloud computing che-gou aos ouvidos de muita gente em 2008,

Osvaldo Antonio Pazianotto, diretor de infraestrutura da Prodam

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data center. E vamos construir onde? depois de várias negociações da Prodam com a secre-taria de Planejamento, Orçamento e gestão, chegou-se à conclusão de que o melhor local seria onde temos hoje o data center secun-dário, na vila Mariana, porque é um prédio próprio, da prefeitura. Trata-se de uma área grande na Rua Pedro de Toledo, esquina com a Rua leandro dupré, com mais 2 000 metros quadrados de terreno. a própria conformidade do terreno, e o fato de ele ter duas entradas decidiram a questão. Haverá intervenção de engenharia, paredes serão derrubadas, outras levantadas, mas não será demolido tudo. É uma reforma, numa área bem maior que a do prédio da Barra Funda. a questão da área é sempre importante, apesar de que hoje, com a tendên-cia à miniaturização, essa exigência diminuiu bastante. O aspecto mais relevante é mesmo a questão da conectividade, porque os equipa-mentos exigem mais conexões. Na Barra Funda não há mais como crescer em capacidade de acessos.”

— Falta falar de rede. Como é que os clientes chegam até o data center? — qui-semos que Pazianotto explicasse.

“só para se ter ideia, a prefeitura reuniu cerca de 3 000 estabelecimentos que estão conectados no data center principal, da Bar-ra Funda: 1 600 escolas, 800 postos de aten-dimento de saúde, hospitais, subprefeituras, as próprias unidades das secretarias, gabi-nete do prefeito... Esses 3 000 se conectam ao data center principal de duas formas: ou utilizando as empresas de telecom que nos fornecem links para acesso ao nosso back-bone central, ou através de uma rede ótica da própria Prodam. a empresa tem uma rede de 73 quilômetros de fibra ótica chamada aura [sigla de anel urbano de acesso] que sai do data center secundário da vila Mariana, pas-sa por todo o centro da cidade e atende a to-dos os gabinetes da prefeitura no centro, em 33 pontos principais. É uma rede que trafega até um gigabit por segundo e a Prodam está agora num processo de upgrade para chegar até 10 gigabit por segundo. a meta futura é de se atingir 40 gigabit por segundo, quando então se conseguirá integrar todos aqueles 3 000 pontos dentro da própria Rede aura. a questão de disponibilizar mais infraestrutura no novo data center em construção vem ao encontro também de grandes projetos que estão em andamento, como o sistema geral de fiscalização eletrônica e a informatização

mento disparou. O que fez a indústria, com seus pesquisadores da área de pesquisa ele-trônica partir para uma corrida tecnológica frenética. um quer estar na frente do outro, oferecendo uma velocidade maior, um arma-zenamento maior e mais barato. É isso que move a indústria. E por isso é que o céu é o limite. E a Prodam precisa acompanhar esse ritmo.”

— Dá para visualizar e quantificar os equipamentos da Prodam hoje? — pedimos ainda a Pazianotto.

“dá. Hoje nós temos muitas centenas de servidores físicos e falamos de 250 servido-res virtuais, que entram no conceito de cloud computing. Para quantificar, nós acabamos

de adquirir em torno de 660 terabytes para armazenamento [tera-byte equivale a 1 024 gigabytes; cada giga-byte, por sua vez, é uma unidade de medida de informação que equiva-le a 1 000 000 000 de bytes]. além das insta-lações do data center

no prédio da Barra Funda, a Prodam tem um mini data center na vila Mariana. Na vila Ma-riana, a companhia tem, de uma maneira dual, as aplicações mais críticas para o município. isso porque de maneira alguma a gente ima-gina que essas aplicações deixem de funcio-nar 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano. Elas estão replicadas lá. se houver algum incidente, um problema na operação do data center principal da Barra Funda, as operações são automaticamente assumidas no mini data center da vila Maria-na. aliás, a gente está de mudança. O prédio da Barra Funda é alugado, além do que o data center principal não tem mais capacidade de expansão, ele já chegou no seu limite. agora estamos retirando alguns equipamentos da Barra Funda e estamos levando daqui para o data center secundário. Para isso fizemos uma pequena expansão nas instalações da vila Mariana. dessa forma, vai sobrar espaço para que possamos utilizar novos equipamen-tos na Barra Funda.”

— Vive-se um momento especial, en-tão? — questionamos.

“Este é um momento de transição. ao sa-ber desses limites, partimos para um projeto interno pelo qual se decidiu construir um novo

apenas abrir o navegador de internet e aces-sar o endereço do google docs para começar a trabalhar, não importando qual o sistema operacional ou o computador utilizado para esse fim. Neste caso, o único cuidado que o usuário deve ter é o de utilizar um navega-dor de internet compatível, o que é o caso da maioria dos browsers da atualidade.”

— Bom, a Prodam evoluiu do cartão per-furado para cloud computing. Para onde vai agora? — indagamos de Pazianotto.

“de fato, como estamos completando 40 anos de atividades é bom posicionar a Prodam dentro desse ciclo de evolução da tecnologia. Começou realmente na época do cartão per-furado. E o interessante é que ao longo dessa existência ela sempre acompanhou a onda daquele determinado momento. Então havia o próprio mainframe que exigia aquelas sa-las imensas com uma porção de geladeiras. Mas foi havendo evo-lução e o equipamento foi diminuindo. surgiu o conceito dos chips, da miniaturização ele-trônica e tudo o mais – e a empresa foi ofere-cendo serviços com tecnologia cada vez mais atualizada. Ou seja, a Prodam sempre esteve colada à própria evolução da tecnologia. até chegar hoje no cloud. Para onde vai? a tec-nologia nova já está chegando, a gente sabe que o conceito da utilização do silício na fa-bricação dos chips está sendo ultrapassado. a intel, uma das maiores produtoras de chips dos dias de hoje já emitiu sinais de que o si-lício está no limite. a miniaturização do chip, a consolidação do dispositivo já chegou no limite. agora estão falando em mil coisas. Os pesquisadores com certeza estão buscando uma saída. Como entender uma coisa dessas? Por que o chip chegou no limite? vamos re-cuar um pouco, para antes da internet. Quem eram os usuários do computador? Era o pes-soal das empresas, dos governos. Teve início o uso do PC dentro de casa, mas poucos lares tinham a máquina. só no caso de profissionais de uma área que necessitava ter aquele PC dentro de casa. Então o número de usuários no mundo era muito pequeno. Na hora em que o mundo se abriu para a internet, a demanda desandou num crescimento exponencial. E aí a procura pelos equipamentos de processa-

Os sistemas na área de TIC são tão amplos que é difícil alguém se especializar em todos eles o tempo todo

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dos hospitais. Esses são projetos longos que nascem já no con-ceito de ‘computação em nuvem’, ou seja, num modelo de tecnologia que permite utilizar da melhor forma possível a infraestrutura física de hardware.”

Esses avanços en-chem de otimismo o di-retor de administração e finanças da Prodam, luiz César Kiel. “Esta-mos vivendo uma fase de crescimento e de investimentos nas pessoas dentro da Pro-dam. Estamos fazendo cursos de formação no âmbito da Fundação instituto de adminis-tração [Fia-usP]. O que a gente está vendo é a Prodam sendo reconhecida cada vez mais como representante da vanguarda no campo da tecnologia.”

— Como se dá este reconhecimento da “prata da casa” na Prodam? — pergunta-mos a Kiel.

“durante esta última gestão, o Odemil José Camargo, atual diretor de relaciona-mento e desenvolvimento i, foi a primeira pessoa da casa que ascendeu ao nível de di-retoria. Eu, depois de 20 anos de casa, tam-bém cheguei a diretor de administração e finanças. É comum encontrar aqui pessoas com 10, 15 ou 20 anos de Prodam. a gente costuma comentar que muitos entre nós já passou mais tempo aqui na Casa do que com nossos familiares em nossas casas. O envolvi-mento que existe com a empresa existe tam-bém em função do tempo que você está aqui e interage com as pessoas. O envolvimento das pessoas é o grande diferencial para a Prodam alcançar bons resultados. Minha formação é engenheiro civil pela Escola Politécnica da usP e no que me concerne sempre procurei investir na minha formação. depois da Poli, fiz pós-graduação em finanças na Fundação getúlio vargas [Fgv], depois completei MBa na Fia-usP, realizei curso na Fundação dom Cabral, mestrado em engenharia de compu-tação no iPT da usP, novo mestrado e MBa na Fia-usP. agora estou fazendo um curso de es-pecialização em finanças também na Fia-usP. a área de informática tem uma evolução mui-to rápida, então a gente tem que acompanhar

fazendo cursos e espe-cializações. Em relação a este meu novo cargo na empresa, estou to-mando conhecimento de muitas coisas ainda. Mas tem dois aspectos que me parecem fun-damentais e que devem ser alvo de continuida-de. O primeiro é justa-mente esta filosofia de que os nossos resulta-dos vêm através da va-lorização das pessoas. Hoje se fala muito em tecnologia, mas o que a

gente vê aí no mercado e no mundo é que a tecnologia, de certa forma, está virando com-modity. vou dar exemplo. antes a gente tinha um computador grande, um mainframe, algo que era caro e poucos tinham acesso. Hoje no seu próprio celular – e o Brasil está se tor-nando um campeão em número de celulares –, você tem, além do telefone propriamente dito, acesso à internet, planilha, dicionário, câmera de fotografar e filmar. É correto afirmar-se que atualmente a quantidade de smartfones – que são os aparelhos que têm mais funcionalidades – é menor no Brasil do que em outros países, mas é certo também que esses são os artefatos cuja venda mais está crescendo proporcionalmente. O segun-do aspecto é a preocupação com a sustenta-bilidade. O que eu quero dizer com isso? Não é só que a empresa se torne altamente com-petitiva e eficaz hoje, mas sim que ela se per-petue, tenha continuidade no tempo. a visão de uma pessoa como eu, que fez uma carreira de 20 anos na empresa, é a de que ela não te-nha como perspectiva apenas o curto prazo, mas sim que se preocupe em continuar cada vez melhor, sempre agregando valor. Que a existência dela seja pautada pela coerência e pelo reconhecimento do valor intrínseco que ela possui.”

— Como encara o fato da tecnologia estar cada vez mais acessível? — questionamos.

“a informação, que antes era de mais difí-cil acesso, hoje você encontra praticamente gratuita na internet, em muitos casos. Mas uma coisa é a informação estar disponível na rede e outra, muito diferente, é o uso que você vai fazer dela. Hoje o problema é ao con-trário de antigamente: você faz uma busca no

google e vai obter tanta informação que terá dificuldade para escolher qual deve ser apro-veitada. Eu acho que esse é o forte aqui na Prodam: as pessoas, o conhecimento corpo-rativo da prefeitura. Cada secretaria munici-pal está preocupada com as coisas de sua al-çada e tem uma visão na vertical. Na Prodam, nós temos a visão do todo e da integração. Em qualquer empresa, a informática é o setor com maior capacidade de produzir inovação, competitividade, agregar valor e gerar qua-lidade da gestão. Hoje é difícil alguma em-presa ter alguma solução que não envolva in-formática. digo isso para dar uma dimensão do grande potencial da Prodam no âmbito da prefeitura paulistana. a preocupação hoje é perseguir, de forma contínua, a agregação de valor. Hoje se fala que a marca Facebook vale 75 bilhões de dólares, ou que a marca Youtube também vale muito. Essas são em-presas que até há pouco tempo não existiam. O que significa isso? significa que para você dar continuidade aos processos, ficar focado só nas conquistas do passado não adianta. É preciso continuar sendo competitivo e acom-panhar o ritmo do mercado no aqui e agora.”

— Por falar em Facebook, a explosão das redes sociais tem algum impacto so-bre os programas da Prodam ou interfere de alguma forma na logística da empre-sa? — solicitamos de Kiel.

“a pergunta é boa. Já existe uma pesqui-sa dando conta de que usuários com até 55 anos de idade estão usando cada vez menos o e-mail para se comunicar. Por incrível que pareça o e-mail está sendo substituído ba-sicamente por sMs e redes sociais. Também estamos vendo coisas novas como ‘primave-ras árabes’ e outras revoluções pelo mundo, eventos que tiveram a participação decisiva das redes sociais para sua implementação. a rede social é um fenômeno muito interes-sante porque ela tem um aspecto ‘viral’. Ela cresce e se propaga muito rapidamente. Hoje a gente fala muito sobre o google como uma grande empresa, uma referência, uma das marcas mais conhecidas. Qual a diferença do google e de uma rede social? de uma forma bem simplificada, no google, que também é gratuito, você entra e ele vai dizer aonde se encontra o produto procurado. Numa rede social, alguém que você conhece vai lhe reco-mendar algum produto. a chance de você efe-tuar uma compra pela recomendação de um amigo ou colega é muito mais forte do que

Luiz César Kiel, diretor de administração e finanças da Prodam

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estou no segundo mandato como diretor, uma coisa inédita. Meu mandato se finda em 27 de novembro de 2011.”

— Qual sua visão sobre a Prodam de hoje? — perguntamos a Benicio.

“Tecnicamente falando, a empresa sempre foi o braço direito do prefeito. sempre atenta aos programas de governo. Quanto à relação entre o corpo da direção e as categorias e sindicatos, tenho sentido uma evolução ano a ano de ambas as partes. sabe-se que só com ações conjuntas se pode evoluir – com respei-to e cumprimento das leis. do lado de cá tem a questão dos deveres dos trabalhadores, de se aperfeiçoar tecnicamente, buscar melhoria. E isso vem numa crescente até porque o mer-cado está exigindo isso. a questão da internet, do mundo virtual, das redes de relacionamen-to como o Facebook. Enfim, toda essa mídia eletrônica faz com que tudo se modernize. a Prodam tem cumprido seu papel. É importante que se tenha uma discussão muito forte sobre a questão estatutária, para o que a Prodam foi criada e para o que ela de fato existe. se ela está seguindo exatamente o papel ao qual foi destinada. acredito que se a empresa hoje precisar de alguma coisa, é apenas um ajuste. Como qualquer empresa de 40 anos necessita. Os executivos que têm passado pela Prodam têm buscado a melhoria da sintonia com o go-verno. Nos últimos anos eles têm sido muito mais ferrenhos nisso. do outro lado, também, a cobrança do contribuinte, a necessidade de ter mais e melhores serviços pela internet é algo natural do mercado. a evolução da Prodam vem acompanhando a demanda.”

— Qual o horizonte para os funcioná-rios? — solicitamos ainda de Benicio.

“Estas últimas gestões da Prodam estão incentivando a capacitação. Essa parceria da representação – parceria no sentido de cami-nhar juntos, cada um no seu espaço, buscando o aperfeiçoamento – tem permitido se perse-guir coisas do tipo plano de carreira. Tudo isso são objetivos comuns, no sentido de se atingir o melhor para os trabalhadores e buscando a melhoria para os processos da empresa. Esta-mos vivendo um fato interessante nestes últi-mos tempos. Temos diretores eleitos e agora temos os diretores indicados – e eu fui um des-tes. O indicado pode ser de mercado como pode ser dos quadros dos funcionários. Outro que foi indicado foi o Odemil José Camargo, há mais tempo, e agora o luiz César Kiel. É uma novida-de, uma experiência diferenciada que estamos

qualquer pessoa qui-ser, em qualquer parte do mundo. Para nós, que trabalhamos com TiC, esse é um mundo de oportunidades. É a tecnologia mostrando caminhos que a gente nem imaginava.”

O diretor de par-ticipação (dipar) da Prodam, Benicio alves Teixeira, por seu lado, explica o funcionamen-

to de sua diretoria e fala sobre sua carreira na empresa. “O papel da dipar é mais do que representar o empregado em relação à dire-ção da empresa. É mostrar ao próprio traba-lhador algumas necessidades da empresa. No sentido de aperfeiçoar, mostrar caminhos alternativos. a gente tem feito esse trabalho de mostrar aos gestores também que muitas coisas dependem não só desta diretoria, de-pende muito mais deles próprios, que estão na linha de frente junto aos empregados no dia a dia. E que eles têm condições de fazer com que as manifestações dos funcionários cheguem até a direção da Casa, de forma conjunta. Facilitando, inclusive, o encaminha-mento das reivindicações. Hoje não tem mais aquela coisa de atirar pedras, a gente tem que construir junto. É na construção que se realizam coisas. E isso que a gente tem feito. Hoje o trabalhador está bastante informado sobre seus direitos e deveres no dia a dia. Nosso trabalho é fazer com que as coisas sejam conduzidas de uma forma bastante sólida e harmônica. Para tudo há um certo limite, como a maioria das coisas na vida. É preciso desenvolver a tolerância e a sabedo-ria. Quanto a minha passagem pela empresa, estou há 27 anos na Prodam. Entrei na área de produção, como conferencista, depois passei para o setor de RH e fiz o curso para poder atuar numa área que tinha necessida-de de pessoal: a do plano de saúde. É natural que essa área faça atendimento ao público. Eu acabava atendendo muitas pessoas e, de forma natural, enveredei para essa coisa da representação. Entrei na luta pelo grêmio, do qual cheguei a presidente, fui presidente da Cipa [Comissão interna de Prevenção de aci-dentes] por dois mandatos. depois tive dois mandatos de conselho de administração da Prodam, eleito pelos trabalhadores. E agora

se for meramente se-guida a informação de um site que diz em que lugar você encontra o produto para comprar. você conhece e confia no amigo, então a re-comendação dele vale muito. isso para come-ço de conversa. Mas tem também o caso de governos, como o ame-ricano, que utiliza Face-book e Twiter para avi-sar sobre ataques terroristas. as crianças já se comunicam hoje via sMs e Facebook. Para eles isso é supernatural, eles são mais espon-tâneos e imediatistas do que nós, os adultos. Eles ficam sabendo de alguma coisa e já co-locam no Facebook, interagindo. isso é uma característica da criançada. No que se refere ao consumo, é preciso estar preparado para as rápidas mudanças. Também em relação aos cidadãos de um município, na Prodam preci-samos estar atentos para a demanda por nos-sos serviços que essas pessoas vão alavancar. Os nossos funcionários vão precisar ter per-fis de interação com essas evoluções da TiC. daí o impacto. Na Prodam, o nosso consumi-dor é o cidadão. E os trabalhadores de nossa empresa vão ter que acompanhar a evolução da sociedade. É importante sublinhar que a gente está falando de tecnologia. Mas a rede social é mais que isso: é um novo canal de mí-dia. Então é importante que nas empresas e corporações esse trabalho de interação fique nas mãos de pessoas que tenham expertise em fazer comunicação. a rede social é só uma ferramenta, mas é interativa – e é viral. só para fechar o assunto: quando surgiu o jornal, séculos atrás, ele trouxe informações – antes restritas à igreja – para um número maior de cidadãos. algo que acabou desembocando em eventos como a Revolução Francesa. agora, com as redes sociais, estamos vivendo outro momento crítico. a gente está passando por uma fase histórica em que a informação exis-te, é facilmente acessível, é gratuita e se pro-paga numa velocidade incrível. É difícil dizer exatamente como a sociedade estará daqui a pouco tempo. Mas com certeza vai ser muito diferente do que é hoje. O consumidor vai ter uma posição diferente como pessoa e como eleitor. as coisas estão online. O presidente Barack Obama está disponível a hora que

Benicio Alves Teixeira, diretor de participação (Dipar) da Prodam

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berto Faria lima, que depois seria presidente da Prodam por quatro gestões – intercaladas, não seguidas –, venceu a licitação para vender as máquinas para a Prodam. Ele foi represen-tante técnico da iBM e gerente de marketing da filial são Paulo da multinacional, e inclusive ganhou o prêmio de líder Mundial de vendas da iBM, ou seja, o melhor vendedor mundial na-quela época. Ele era muito jovem e sempre foi brilhante e ativo, tanto como empresário como em sua carreira política de deputado federal. Bom, como ia dizendo, foi montada dentro da sF6 uma seção para fazer o processamento do iPTu e da folha de pagamentos. Era tudo feito com máquinas unitárias de cartão perfurado comandadas por funcionários da prefeitura. Não era computador ainda, era máquina que processava cartão. a máquina lia o cartão, fazia cálculos e imprimia. E os funcionários faziam a classificação, ou seja, havia máquinas de clas-sificação para ordenar os cartões. Então o brigadeiro Faria lima resolveu modernizar as coisas comprando novas máquinas em 1968. Mas é preciso lembrar que as maiores dessas tinham 12 K de memória – ou 12 000 posi-ções de memória. Naquela época eu estava na universidade e a máquina científica mais pode-rosa tinha 40 K. Não era mainframe ainda. Era computador dedicado. E, para se ter ideia de dimensão, 20 K – ou 20 000 posições de me-mória – custava na época uns 400 000 dólares em dinheiro de hoje. Então era um investimento muito sério. aí quando o prefeito José Carlos Figueiredo Ferraz assumiu, em 1971 – ele go-vernou até 1973 –, resolveu que era preciso ter, dentro da estrutura da prefeitura, gente mais competente para tocar esse novo negó-cio. a prefeitura tinha um pessoal sem forma-ção universitária e já começava a surgir na iniciativa privada o uso de computadores para fazer mais do que coisas simples: eram os iBM da série 1 400, com fita. Quer dizer, essa foi a grande evolução, conseguir fazer computação sem cartão. isso em 1971, quando ele fundou a Prodam. O Figueiredo Ferraz foi quem fez a lei para criar a Prodam.”

— Afinal, quem foi o criador da Prodam: Faria Lima ou Figueiredo Ferraz? — pedimos que Fang esclarecesse.

“Faria lima foi o que primeiro comprou computador. Figueiredo Ferraz montou o es-quema. E para operar a Prodam, o prefeito Figueiredo Ferraz trouxe gente da Escola Po-litécnica. Para presidente ele convidou o Max Barcellos Corrêa, presidente de junho de 1971

lacionados, bem como cria um Conselho Federal de informática e conselhos regionais nos esta-dos. a nova sede do sindicato, localizada em um edifício de 3 700 metros quadrados próximo ao centro da cidade de são Paulo, já foi usa-do pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para a campanha do presidente lula em 2006.

* * *

O engº isu Fang, presidente de18 setem-bro de 1973 a 4 de março de 1979, é consi-derado – de forma praticamente unânime – o mentor e maior responsável pela estru-turação da Prodam. Ele presidiu a companhia, reportando-se diretamente ao prefeito, nas

administrações Miguel Colasuonno e Olavo se-tubal. isu Fang é enge-nheiro de produção pelo instituto Tecnológico de aeronáutica (iTa) e Ph.d. M.sc. pela Bussi-ness school – stanford university. “sou carioca no exílio (rindo). Estu-dei no Rio de Janeiro até 1958 e em 1959 entrei no iTa, em são José dos Campos. atu-almente sou consultor da Fia/usP”, diz. Fang trabalha como consul-tor e pesquisador nas áreas de administração e planejamento estra-tégico de empresas de alta tecnologia e órgãos de governo no setor de informática e telecomu-

nicações, implantação de sistemas de gestão e informação de grande porte, distribuição e comercialização de produtos de informática e telecomunicações e negociação de contratos de licenciamento de tecnologia e de fabricação com firmas estrangeiras.

— Como foi sua entrada na Prodam? — perguntamos a Fang.

“a Prefeitura de são Paulo tinha um de-partamento chamado sF6, ou secretaria das Finanças 6, que processava o iPTu e a folha de salários dos funcionários, entre outras atribui-ções. Essa sF6 foi montada pelo prefeito José vicente Faria lima, que governou a cidade de 1965 a 1969. aliás o sobrinho dele, José Ro-

vivenciando. acho que o plano de carreira tem etapas bem delimitadas, no sentido de buscar uma evolução constante.”

— Qual a interface do Dipar com o mun-do sindical. Quantos sindicatos há na área de atuação da Prodam? — pedimos que Be-nicio contasse.

“Os sindicatos têm sido muito mais orien-tadores e parceiros. O nosso sindicato é o sin-dicato dos Trabalhadores em Processamento de dados e Tecnologia da informação do Es-tado de são Paulo [siNdPd]. O sindicato atua basicamente no sentido de fazer cumprir a questão da legislação. Existe um acordo cole-tivo de trabalho da categoria e o cumprimento desse acordo é fundamental. O sindicato ulti-mamente tem atuado no sentido de orientar os trabalhadores e de lutar por regulamentar a ca-tegoria de profissionais de TiC, para permitir a valorização desses fun-cionários. isso faz com que o sindicato também se modernize. depois de quase três décadas de existência, só recente-mente o sindicato cons-tituiu uma sede própria. Hoje ele oferece cursos de aprimoramento pro-fissional – incluindo di-ferentes linguagens de programação de rede –, além de atendimento jurídico, social, médico, esportivo e de lazer. dessa forma, o sindica-to tem sido parceiro, no sentido de buscar caminhos. Mesmo frente a todas as dificuldades muitas vezes antepostas pelo governo na hora de atender as demandas. Hoje o maior capital da empresa, qualquer uma, é o capital humano.”

segundo o idg Now, a regulamentação da categoria de profissionais de TiC tem sido uma demanda do setor há mais de 32 anos, que é o tempo decorrido desde a apresentação do primeiro projeto de lei ligado ao tema, o Pl 1205/79, e tem sido uma demanda do sindica-to desde sua fundação, em agosto de 1984. O siNdPd tem hoje mais de 30 000 associados. O mesmo pedido regulamenta a profissão de técnico de informática e outros cargos corre-

O engº Isu Fang, presidente de 18 setembro de 1973 a 4 de março de 1979, é considerado – de forma praticamente unânime – o mentor e maior responsável pela estruturação da Prodam

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o Olavo quando veio para a prefeitura se com-prometeu com o itaú a não tirar gente do ban-co. Então, no final das contas, ele me convidou para ficar na presidência. isso foi em 1974 – o mandato do Miguel Colasuonno foi até dezem-bro de 1973. Foram 15 meses de mandato do Miguel. aí o Olavo nos deu uma força incrível. Nós conseguimos crescer desesperadamen-te. a visão do Olavo era de que o que ele não implantasse em matéria de sistema, ninguém mais iria implantar, porque ia levar muito tem-po para que se voltasse a ter um prefeito que entendesse de computação e de sistemas. Com apoio irrestrito do prefeito nós criamos um mecanismo pelo qual a própria Prodam colo-cava uma equipe nas secretarias municipais mais importantes. Essas equipes não ficavam ligadas à Prodam e sim aos respectivos secre-tários municipais. Ou seja, se tornavam elemen-tos de confiança dos titulares das pastas. Por exemplo: o secretário de Finanças da época do Olavo era o sérgio Freitas, que era um homem brilhante. Ele ganhou uma equipe pela qual eu respondia financeiramente – era paga pela Prodam – mas que respondia funcionalmente a ele. E era essa equipe na secretaria de Fi-nanças que respondia por toda a organização e método dos trabalhos. Com esse mecanismo se criou em cada secretaria uma equipe de alto nível. algo que não tinha antes, quando as secretarias estavam voltadas para seu ob-jetivo final e eram, em geral, constituídas por um pessoal pouco sofisticado, da velha guarda. anteriormente, quando a Prodam pretendia implantar um sistema, encontrava uma grande barreira pela frente. afinal, como é que você ia conversar com o pessoal antigo se eles não ti-nham noção do que era sistema. a resistência era enorme.”

— Como funcionavam essas equipes? — pedimos que Fang detalhasse.

“Com a criação dessas equipes, o secreta-rio municipal tinha então um assessor-chefe que comandava a secretaria sob o aspecto técnico. E era um representante direto do se-cretário. Então esse assessor tinha uma auto-ridade que ninguém, de uma empresa de fora, poderia nunca ter. Essa estratégia constituiu a ‘massa crítica’ das mudanças. Outra coisa que foi extremamente importante – e acho que não voltou a se repetir –, foi o fato do prefeito Olavo ter ignorado o problema da Prodam ser uma prestadora de serviços, ou seja, o deta-lhe de que era preciso contratar os serviços da companhia. Para o prefeito, a Prodam era o

clusive para o serpro. Eu acabei aceitando o convite e continuei até o fim do governo do Miguel. Essa foi uma época em que a Prodam

cresceu muito. O Miguel tinha muita confiança em mim, e isso era uma grande vantagem com-parativa que eu tinha. E nós começamos o prin-cipal trabalho, que foi modernizar tudo que era antigo na Prodam. Eram procedimentos e coi-sas que ainda estava na mão dos burocratas da sF6 da prefeitura – e dos quais eles não abriam mão. Eu assumi e consegui ordenar, organizar, estruturar, fazer com que as coisas funcionas-sem de uma forma regular. Eu tive muito apoio do Miguel e ele me deu muita força também para começar a desenvolver novos sistemas. Houve episódios muito interessantes nessa mudança. Para você ter uma ideia, num fim de semana nós fomos lá, arrombamos a gaveta de um dos funcionários – um programador dos mais antigos – para pegar o programa-fonte da folha de pagamentos. Ele guardava o mate-rial e fechava a chave, ninguém podia mexer no programa dele. dessa forma, a gente não tinha nenhum controle sobre a folha de pagamentos. E aí nós conseguimos tirar, documentamos, acabamos com a bagunça de um funcionário só ser o dono dos cartões. E era um cartão enor-me que ainda rodava nas antigas máquinas. Nós começamos a desenvolver novos esquemas de atendimento ao público. Naquela ocasião se levava 15 dias para poder rodar uma cer-tidão negativa do iPTu, porque a gente tinha que rodar as fitas e dava erro, era tudo muito primitivo. aí nós começamos a montar outro sistema. O governo do Miguel Colasuonno foi muito curto. Quando acabou o mandato dele eu estava preparado para ir embora porque eu tinha entrado como amigo do Miguel. Por uma série de circunstâncias fui convidado pelo pró-ximo prefeito, o Olavo Egydio setubal – que eu não conhecia pessoalmente –, para continuar na presidência.

— Qual a importância de Olavo Setubal na história da Prodam? — pedimos que Fang recordasse.

“Muito grande. O Olavo setubal já tinha fei-to do itaú um dos bancos mais avançados em matéria de uso de computadores. O itaú sem-pre foi pioneiro. sempre houve aquela briga com o Bradesco. Mas o itaú, que era domina-do pelos engenheiros politécnicos, a começar pelo Olavo, era um banco muito sofisticado. E

a janeiro de 1973. só que o Max era um homem acadêmico, um profes-sor da Poli com visão de engenheiro de produção. Ótima pessoa, acadêmi-co competente. Mas era um acadêmico. Então ele entrou em atritos incríveis com o pessoal de sF6, com a máquina da prefeitura. Ele não conseguia transformar as mentalidades. O prefeito Figueiredo Ferraz acabou por demitir o Max e colocou no seu lugar o Francisco Hen-rique Fernando de Barros, o Chico FNM, que foi presidente da Prodam de janeiro de 1973 a se-tembro do mesmo ano.

O Chico era o chefe do CPd da volkswagen – que era um CPd enorme – e começou o pro-cesso de comprar as primeiras grandes má-quinas. Já eram as primeiras s/360, da iBM. O iBM system/360 constitui-se numa família de mainframes lançada pela iBM em 1964. Foi a primeira família de computadores a fazer uma distinção clara entre a arquitetura e a imple-mentação, permitindo que a iBM lançasse um conjunto de projetos compatíveis em várias faixas de preço. Foi comercialmente muito bem-sucedido, permitindo que os consumido-res comprassem um sistema menor sabendo que sempre poderiam migrar para um modelo mais avançado em caso de necessidade. O pro-jeto foi considerado por muitos como sendo um dos mais bem-sucedidos da história dos computadores, influenciando o desenho de novas máquinas por anos a fio. Em setembro de 1973, o prefeito Figueiredo Ferraz foi demi-tido pelo então governador laudo Natel. Para substituí-lo, Natel convidou o professor Miguel Colasuonno – que era o secretário estadual de Planejamento, para o cargo de prefeito. Eu co-nhecia muito e sempre trabalhei com o Miguel. aliás, quando o Chico se magoou pela forma como Figueiredo Ferraz foi demitido – o Chico também era da Poli, assim como o Figueiredo Ferraz–, ele fez declarações públicas que o go-vernador achou inaceitáveis, afastando-o do cargo. E logo que assumiu, o Miguel Colasuonno me convidou para assumir a Prodam.”

— O senhor fazia o quê naquela época? — solicitamos de Fang.

“Eu naquela época tinha regressado de fazer meu Phd em ciência da computação na universidade de stanford, nos Estados unidos, e era o profissional que tocava a computação na Faculdade de Economia da usP – de onde o Miguel era também. Eu já fazia consultoria, in-

São 55 000 professores, 1 milhão de alunos, 10 000 salas de aula e 1 300 escolas sob a égide da Prodam

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50. Essa dificuldade também foi encarada no decorrer do trabalho. Ou seja, além das ruas sem nome, havia o problema da duplicidade. Foi baixado então um decreto e foi criado o Ca-dlog. inclusive foi instituída uma sistemática para se decidir como é que se deveria escolher o nome, como é que se mudava a denominação, se podia trocar ou não.”

— E de onde se tirava os nomes? — pedi-mos que Fang revelasse.

“Havia um banco de nomes. O arquiteto contratado pela prefei-tura montou uma equipe e começou a separar, por exemplo, todos os nomes dos vultos histó-ricos de são Paulo. Os bandeirantes e quejan-dos, todos os episódios históricos mais relevan-tes. depois pegou os no-mes de animais, de aves.

inclusive tinha que checar se o nome já não ti-nha sido dado a algum logradouro. Tinha que se compatibilizar as grafias: criar uma grafia úni-ca e dar nome para a rua. O trabalho foi enorme e o projeto teve um custo alto. Mas, de repente, todo mundo começou a encontrar as coisas na cidade. E surgiam conflitos curiosos. Por exem-plo: Rua Marechal deodoro todo mundo achava ótimo, mas se escolhia o nome de Rua da Fuma-ça, os moradores iam reclamar na Câmara Mu-nicipal, alegando que Rua da Fumaça é nome de rua de periferia. Todo mundo queria nome de vulto histórico (rindo).

Mas foi um projeto muito bonito, inclusive com todos esses episódios cômicos.”

— Pode citar alguns episódios desse tipo? — insistimos com Fang.

“Tem um episódio que eu acho fantástico. Quando se fazia a placa de início da rua apa-recia ‘Rua tal’ e mais o nome antigo. Ou seja, o ‘Ex’ era para poder orientar as pessoas. só que quando um trecho da Marginal foi rebati-zado com o nome de um desembargador que havia falecido há pouco tempo. No dia da inau-guração estavam lá o prefeito, os parentes, as esposas dos parentes, todos os desembarga-dores... aí o prefeito Olavo descobre a placa e está escrito lá ‘avenida desembargador Fu-lano de Tal, Ex-Marginal’. O Olavo ficou pasmo (risos). Mas, como disse, não era um projeto fácil. depois disso, como já tínhamos os nomes das ruas e os Correios tinham o cadastro de logradouro [Cadlog], que era de domínio pú-

feitura. E dava lucro zero. aí, nesse momento, quando o balanço era publicado e aparecia que nós não dávamos lucro, éramos criticados na Câmara Municipal. Os vereadores costumavam argumentar que se uma empresa não dava lu-cro, ela não deveria ter sido criada! Mas, feliz-mente, isso eram apenas pequenos percalços. Na verdade, era um ambiente muito diferente, muito fácil de trabalhar. Nós implantamos uma série de sistemas importantes. O sistema de multas, por exemplo, foi implantado na época do Miguel Colasuon-no. Nós reformulamos a folha, reformulamos o iPTu, implantamos o iss.”

— Gostaria que o senhor nos contasse como foi essa história dos Correios criarem o famoso CEP a partir da reformulação da entrega dos carnês de IPTU pela prefeitu-ra paulistana — pedimos a Fang.

“Bem, na época, haviam 4 000 ruas sem nome em são Paulo. Era um tal de ‘Rua a’, ‘Rua B’, e assim por diante. E a gente não conseguia entregar o carnê do iPTu. Tinha incêndio na pe-riferia e os bombeiros não conseguiam chegar ao local do sinistro porque eles não achavam as ruas. Os Correios, por sua vez, também não en-tregavam a correspondência. Era uma popula-ção totalmente marginalizada. Então propuse-mos ao prefeito dar nome a essas 4 000 ruas. a coisa evoluiu e foi feito o Cadlog [Código de logradouros]. até hoje tem lá uma plaquinha da rua com o Cadlog, para identificação. Foi um trabalho enorme. Nós contratamos um profes-sor da Faculdade de arquitetura, que era um competente urbanista e um grande acadêmico. só que dar nomes a 4 000 ruas é um negócio muito complicado.”

— Quanto por cento dos logradouros da cidade representavam essas 4 000 ruas? — quisemos saber.

“seriam uns 30% das vias da cidade. Era bastante. as ruas só tinham nome nos bairros centrais. O resto não tinha nome. até no Mo-rumbi era tudo ‘a’ e ‘B’. E tinha outro problema: as ruas repetidas. um exemplo pode ser dado com o caso de santo amaro – antes cidade –, que tinha sido absorvido pelo município de são Paulo e se tornou um dos responsáveis pelos nomes repetidos. Ruas com o nome ‘Marechal deodoro’, só para citar um caso, havia umas

centro de processamento da prefeitura, como no banco itaú o CPd de lá era o centro de pro-cessamento. Olavo achava que era algo extre-mamente crítico considerar que a Prodam era o repositório de ‘entendimento de sistema’ da prefeitura. Ele achava que uma entidade como a Prodam era a memória de como os processos funcionavam na prefeitura. Então ele preserva-va muito. Tinha gente que vinha, olhava e depois criticava, argumentando que se gastava muito. E o prefeito, pessoalmente, ‘desancava’ os crí-ticos. Eu assisti espetáculos até divertidos. O Olavo era uma pessoa bem autoritária, sem papas na língua, muito articulado. Eu cheguei a ouvir ele dizer para o parente de um secre-tário municipal, que era prestador de serviços: ‘eu não quero mais o senhor aqui’. Olavo tinha essa visão.”

— Como era alocada a verba, então? — pedimos que Fang esmiuçasse.

“O que acontecia era que no início de cada ano era definida toda a verba da Prodam e co-locada na secretaria de Finanças. E à medida que os serviços eram desenvolvidos, ia sendo liberada. Por exemplo: toda a folha de salário do pessoal ficava dentro da secretaria de Ne-gócios Jurídicos. aí nós fomos lá, discutimos, montamos uma assessoria, estimamos qual a verba que era necessária, falamos com o prefeito Olavo e apresentamos a ele toda a proposta. Ele concordou com nosso arrazo-ado e mandou a secretaria de Finanças fazer uma transposição de verba e assinamos um contrato. inclusive, quando chegava o final do ano, sobrava verba porque não se conseguia gastar tudo o que estava planejado. Não por incompetência. simplesmente era uma época de muita falta de mão de obra. a tecnologia da informação ainda estava em fase inicial de crescimento. O país como um todo, no entanto, estava crescendo bastante. Era a época do mi-lagre econômico. Mas o delfim Neto já estava fora da equipe econômica. O então presidente Ernesto geisel comandava tudo e não tinha eclodido ainda a primeira crise do petróleo. Então era um período maravilhoso, do ponto de vista do progresso econômico. Faltava mão de obra de informática e, como era uma mudança cultural forte, a gente só conseguia fazer o que realmente era possível. Porque havia mudan-ças a serem feitas e que antecediam a própria formação maciça desse tipo de mão de obra. Num ambiente desses, quando chegava o fim do ano sobrava dinheiro, nós reformulávamos o contrato e devolvíamos o dinheiro para a pre-

O termo cloud computing começou a ser difundido em 2008 e tudo indica que o conceito veio para ficar

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rando um prédio novo, aquele que está até hoje na avenida 23 de Maio. O prefeito Olavo setubal foi convidado para inaugurar o pré-dio. aí, pouco antes da inauguração, chega-ram os discos na Prodam e eles não funcio-navam de jeito nenhum. Estava ameaçada a emissão do iPTu, o sistema não funcionava. O Olavo disse ‘olha, se meu sistema não estiver funcionando eu não vou comparecer à inau-guração e vou repensar minha relação com a iBM’. Foi uma correria. vieram vários técni-cos de fora para ‘apagar o incêndio’. No fim da história, um técnico da austrália descobriu que tinha um fio invertido no controlador do disco. Mas o que eu gostaria de destacar bem nesta entrevista é que foi muito bom o Miguel Colasuonno ter começado e o Olavo setubal ter dado sequência. Não houve interrupção e sim continuidade. Basicamente era o mesmo corpo técnico. E apesar de mudanças de ge-rentes, continuaram os diretores da Prodam. alcançamos grandes conquistas. O negócio do carnê do iPTu, que agora evoluiu, foi um avanço maluco. a gente conseguia absorver rapidamente as tecnologias. Está certo que nós não tínhamos essa barafunda atual, que são os processos de licitação, as contesta-ções, os recursos do Judiciário. você ia, esco-lhia o equipamento e comprava sem concor-rência pública, sem entraves. Mas o prefeito ficava de olho em todas as aquisições e o conselho da Prodam também. Eu tive a felici-dade de interagir com dois prefeitos que me colocaram numa posição central da adminis-tração. Eu participei da comissão de reforma administrativa do município. Olavo setubal reviu todos os decretos que foram feitos pela prefeitura, reordenou tudo. se você for olhar bem, tudo o que existe hoje em dia tem uma origem que não ultrapassa o período da gestão do Olavo setubal. alguma coisa pas-sou porque ele permitiu – achava que esta-va bom. Mas foi tudo revisto, desde a época do prefeito Prestes Maia [nomeado prefeito paulistano de maio de 1938 a novembro de 1945, na interventoria do governador Adhe-mar Pereira de Barros], e nós tínhamos dois engenheiros na prefeitura que tinham gran-de expertise em termos da municipalidade paulistana – eram grandes depositários de conhecimentos. E tinha o então secretário de Negócios Jurídicos que conhecia tudo, folha de pagamentos, processos administrativos. Na parte tecnológica, éramos nós, da Prodam, que tocávamos as mudanças.”

Monta-se no país inteiro uma ‘grade’ e esses marcos de 100 em 100 quilômetros represen-tam, digamos, os valores absolutos. depois dis-so são feitos os marcos intermediários, cuja precisão vai diminuindo, mas ainda fica num nível aceitável. a partir daí chega-se a certo ponto em que se verifica algo como um me-tro ou dois metros de falta de precisão. aqui em são Paulo, o marco zero está na subida do morro do sumaré, onde está situada hoje aquela grande torre de transmissão. só que, um belo dia, os técnicos chegaram lá e veri-ficaram que o marco zero tinha sido ‘mexido’. Como havia sido construída uma estrada no local, deslocaram o monumento do marco zero para o outro lado. isso ‘desamarrou’ o sistema inteiro. Quando se faz um sobrevoo aerofoto-gramétrico, além dos marcos zero, são avis-tados outros marcos que são colocados nas calçadas com números identificadores. Eles podem ser vistos ampliando-se as fotografias. aí você fica sabendo quais são as coordenadas daquilo tudo. isso se chama ‘amarração’. Com aquela fotografia, você consegue saber quais são as coordenadas de todos os elementos. só que aqui no Brasil um ano depois de qualquer sobrevoo aerofotogramétrico costuma acon-tecer de 70% desses marcos das calçadas já terem sumido. Porque não existe uma cultura apropriada. O camarada vai lá na calçada e quebra ou passa cimento em cima do marco, para fazer buraco e passar tubulação. Então o sistema de mapas de são Paulo estava todo ele desamarrado. No entanto, no fim do governo Olavo setubal nós chegamos a montar todas as quadras e colocar no computador. Todas as faces de quadra estavam no sistema e com isso a atualização do iPTu teve uma evolução muito grande. Com as faces de quadra no sis-tema eliminamos muito erro e muita lamban-ça que era feita quando se lançava o iPTu. a outra grande evolução dessa época foi passar da fita magnética para o disco. O disco magné-tico estava surgindo naquela ocasião. O cartão perfurado foi substituído pela fita magnética e esta foi substituída pelo disco magnético. a fita magnética era sequencial. se você queria pegar um registro que estava no fim da fita era preciso desenrolar a fita inteira, o que, mecanicamente, era muito complicado. isso foi implantado na gestão do Olavo, em 1975. Foi uma mudança radical.”

— Era tudo IBM? — indagamos de Fang.“sim, tudo iBM. Foi muito interessante

porque naquela época a iBM estava inaugu-

blico, em cima disso os Correios montaram o CEP [código de endereçamento postal]. Porque antes não existia CEP. aí criaram os números. O CEP na verdade é um espelho do Zip Code ame-ricano [Zip - Zone identification Protocol]. só que, no caso americano, o Zip Code é o ende-reço do posto de correio que atende a área. E os Correios aqui resolveram usar aquilo como o endereço da casa do carteiro, na época. En-tão você vê o CEP mudando. uma avenida longa, por exemplo, tem inúmeros CEPs. Mas, de qual-quer forma, foi uma revolução.”

— E a questão do geoprocessamento, como foi? — solicitamos de Fang.

“O geoprocessamento foi outra coisa im-portante que fizemos, entre 1975 e 1976, na gestão do Olavo setubal. Na ocasião, houve em são Paulo, uma apresentação da prefeitura francesa de Marselha que foi algo maravilho-so. Os franceses trouxeram o chefe do CPd de Marselha, e o Olavo ficou fascinado. Porque ti-nha localização geográfica de cada coisa da ci-dade. até as árvores estavam localizadas. Era a aerofotogrametria interpretada, digitalizada, colocada no computador e demonstrada grafi-camente. só que é preciso levar em conta que o computador naquela época era muito lento. Não dá nem para comparar com os de hoje. Marselha era uma cidade pequena, e são Paulo já era enorme. E Olavo me fez ir para a França para ver como dava para implantar esse siste-ma em são Paulo. Ele ‘queria porque queria’ co-locar esse esquema aqui. Eu fui para a França e, além de Marselha, aproveitei para conhecer os sistemas de Toulouse e outras cidades. vol-tei e Olavo disse: ‘como faço para trazer esse sistema para minha cidade?’ Eu respondi: ‘só tem um jeito, o senhor se eleger prefeito de uma cidade francesa’. Por quê? Porque não era um problema de computação. Era um problema de mapeamento. a França tem mapas de alta qualidade desde o tempo de Napoleão. as coor-denadas são perfeitas. aqui no Brasil, o primei-ro voo aerofotogramétrico foi feito em 1972, e depois se levou muito tempo para fazer um novo voo. E mesmo assim havia problemas ter-ríveis de ‘amarração’.”

— Como assim, “amarração”? — indaga-mos de Fang.

“só para contar um episódio. Quando se vê o mapa de um país, verifica-se que há marcos que são chamados ‘marco zero’. O marco zero é fixado com coordenadas estelares com 10 casas decimais de precisão. E 100 quilôme-tros depois desse tem mais um marco zero.

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COMPORTAMENTO DE SOLOS siltosos quando melhorados com aditivos químicos e orgânicos

ALESSANDER C. MORALES KORMANN*BERNARDO P.J.C.N. PERNA**

O presente trabalho traz um estudo do comportamento de um solo siltoso quando melhorado com nove tipos de aditivos químicos e orgânicos. Foram selecionados Terrazyme, EMC², Dynacal, Homy solo, DS-328, Ecolopavi, Lignosulfonato Vixil I, assim como a cal e o cimento. Trata-se da análise laboratorial dos resultados obtidos quando os mesmos são misturados ao

solo selecionado, compactados em cavas previamente construídas no Sitio Experimental de Geotecnia da UFPR e deixados curando por trinta dias. Após esse período de cura foram retiradas amostras indeformadas a fim de realizar ensaios de granulometria, compressão simples e cisalhamento direto. O objetivo foi efetuar uma comparação dos resultados obtidos do solo aditivado com o solo puro após a realização dos ensaios

CLÁUDIA CLAUMANN DA SILVA***ROBERTA BOMFIM BOSZCZOWSKI****

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Tabela 1 - Relação de aditivos utilizados no estudo

Grupo Aditivo Dosagem utilizada

Cimento/ cal CalCimento Portland

2%, 4%,

2%, 4%

Orgânicos EMC2 Terrazyme

0,07% , 0,67%, 1,63%0,05%, 0,07%, 1,16%

Químicos com reagentes

DS-328DynacalEcolopavi

Homy SoloMoldenzol 43Rheocem 30

0,17% + 2% Cal0,67% + 2% Cal, 0,17% + 2% Cal

0,33% + 2% Cal, 0,67% + 2% Cal, 1,52% + 2% Cal0,67% + 2% Cal, 1,11% + 2% Cal

0,5% + 2% Cimento, 2% + 2% Cimento0,17%, 0,67%

Lignosulfonato Lignosofonato Vixil 2%, 4%

s aditivos são substâncias que adicionadas ao solo possuem a fi-nalidade de melhorar determinadas características, propiciando um

aumento de compacidade, redução de higroscopicidade, aumento de dura-bilidade assim como acréscimo de resistência (TECPAR, 2006).

A principal aplicação dos aditivos desde o início de seu emprego diz respeito à pavimentação, quando foram utilizados na construção de estra-das vicinais, visando o aumento da resistência e a redução do desgaste e da formação de pó das camadas de subleito e revestimento primário (TRINDA-DE, 2005). Essa aplicação não é recente, sendo que muitos aditivos foram patenteados com tal finalidade. Hoje em dia sua aplicação também tem sido direcionada ao reforço de solos frágeis (BRAZETTI, 1998).

A utilização com a finalidade de estabilização de solos de pavi-mentação, visando solucionar problemas de deslocamento em áreas in-transitáveis, foi desenvolvida inicialmente pelos americanos, durante a Segunda Guerra Mundial (desembarque de material bélico, construção de aeroportos e desenvolvimento das cidades). A utilização do cimento e da cal foi descartada nessa época devido à necessidade de transporte a grandes distâncias, além do tempo de cura demasiado longo, o que inviabilizava o processo. Dessa forma, o uso de outros tipos de aditi-vos poderia trazer benefícios ainda maiores. Segundo BRAZETTI (1998), antigamente os aditivos tinham como desvantagens a dificuldade em se realizar a mistura com o compósito, a sensibilidade ao tipo de solo, além do alto custo.

RAUCH et al (2003) citam que os aditivos na atualidade foram intro-duzidos no mercado por um número de empresas cujo objetivo central é a estabilização de solos da base e do subgrade do pavimento. Já no que diz respeito à utilização em solos que não oferecem capacidade de suporte su-ficiente para aplicações da engenharia, alguns ensaios podem ser realizados para a verificação da adequação ou não da utilização do produto.

MATERIAIS E MÉTODOS UTILIZADOS NO ESTUDO1) Solo empregado

Para a realização da pesquisa elegeu-se utilizar um solo do tipo siltoso, adquirido de uma área de empréstimo da Região Metropolitana de Curitiba, o qual foi caracterizado geotecnicamente antes da aditivação de modo a comparar o efeito causado pelas adições com os resultados do solo no estado puro (SILVA, 2007).2) Aditivos e dosagens

Os aditivos utilizados no referido estudo estão relacionados na tabela 1. Deve-se notar que alguns deles requerem uma mistura conjugada com cal ou cimento.3) Ensaios realizados

Para a determinação dos parâmetros de resistência do solo puro e do solo aditivado foram realizados ensaios de compressão simples e cisalhamento direto. Para a avaliação das modificações nos agregados de solos foram realizados ensaios de granulometria com sedimenta-ção apenas com água (sem defloculante). A quantidade de aditivo foi determinada em relação à massa de solo seco. Os componentes foram dispostos em um recipiente na seguinte seqüência: solo, aditivo mis-turado em água e, quando o produto necessitava, acrescentava-se um reagente. As amostras utilizadas nos ensaios de cisalhamento direto e compressão simples foram moldadas a partir de corpos-de-prova compactados nas condições ótimas determinadas para o solo sem adi-ção. O procedimento de ensaio de compactação seguiu as recomenda-ções da NBR-7182/86.

O

Figura 2 - Ensaio de compactação

Conforme análise granulométrica do solo puro (figura 1), o material apresenta 19% de argila, 43 % de silte e 36 % de areia, sendo com isso caracterizado como um silte areno-argiloso. No que diz respeito ao ensaio de compactação, os resultados (figura 2) mostram uma umidade ótima de 29% e massa específica seca máxima de 1,43 g/cm³. Para a caracterização de resistência do solo foram realizados os ensaios de cisalhamento direto e compressão simples. Os ensaios de cisalhamento direto foram realizados com as tensões nor-

gs

gs

Figura 1 - Ensaio de granulometria

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Figura 5 - Dimensões iniciais das cavas

mais de 50, 100 e 200 kPa até um deslocamento de 12 mm. A velocidade de cisalhamento aplicada foi de 0,056 mm/min. Os corpos-de-prova foram moldados no teor de umidade ótima.

Na figura 3 são apresentadas as curvas tensão-deformação e na figura 4 a envoltória de resistência para um deslocamento de 5 mm. Os parâmetros de resistência obtidos são 8,2 kPa de coesão e 28,1º de ângulo de atrito interno.O ensaio de compressão simples foi executado em amostras de diâmetro 5 cm e altura 10 cm. Foram rompidos 4 corpos de prova que apresentaram resistência média à compressão simples de 72 kPa.

Figura 4 - Envoltória de resistência ao cisalhamento do solo puro

Figura 3 - Gráfico tensão tangencial x deslocamento horizontal do Solo puro

4) Preparação das amostras Com o objetivo de proporcionar a cura do solo aditivado em ca-

racterísticas próximas às de campo, o solo foi compactado em cavas abertas no Sítio Experimental de Geotecnia da UFPR, próximo ao labo-ratório. O terreno natural consiste em uma argila bastante rija e imper-meável, características que favorecem o isolamento do material estu-dado. Para não haver contaminação com o solo natural, uma pequena camada de brita zero foi colocada no fundo das cavas. Após a cura, de no mínimo 30 dias, o material era coletado em blocos e enviado ao laboratório para análise.

As cavas para compactação tinham as dimensões: 1,0 x 0,50 x 0,30 m (figura 5) e foram abertas manualmente. Ao final do processo de escava-ção, cada cava foi medida para ter seu volume verificado (largura, com-primento e 3 medidas de profundidade). A quantidade de solo aditivado foi determinada em função do volume da cava e do peso específico seco determinado através do ensaio de compactação. Na figura 6 apresenta-se uma vista geral das cavas realizadas no Sítio Experimental da UFPR.

5) Compactação dos solos aditivados e cura dos aditivos em campoPara a compactação das cavas, o solo foi peneirado para a retirada

de pedregulhos em peneira de malha 25 mm (figura 7). Após a verifi-cação da umidade de campo e correção da umidade ótima, o aditivo foi misturado ao solo, juntamente com cal ou cimento quando reque-rido (tabela 1). A mistura foi feita sobre uma lona plástica para que não ocorresse perda de material nem a mistura com outros. Após se conseguir uma boa homogeneidade, a mistura era colocada nas cavas em 3 camadas de mesma altura. A altura final de cada camada após a compactação foi de 10 cm.

O processo foi realizado com produtos de características distintas, em diferentes dosagens para verificar sua eficiência no que diz respeito ao reforço.

Após o período de cura em campo, as amostras do solo aditivado foram retiradas, protegidas com parafina e levadas ao laboratório para a realiza-ção dos ensaios, como mostra a figura 8.

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOSa) Granulometria

Na figura 9 são apresentadas as curvas granulométricas do solo puro e do mesmo solo com as adições estudadas neste trabalho. Ob-serva-se que, de modo geral, os aditivos químicos levam a uma menor porcentagem de finos sendo identificadas nos ensaios. Esse fato prova-velmente está associado a uma aglomeração de partículas.

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De modo geral, as adições provocam no solo a aglomeração de partí-culas e o aumento do intercepto coesivo. As adições que não provocaram o aumento da coesão foram: cimento 2%, Ecolopavi 0,67%, EMC² 1,63%, Lignosofonato Vixil nas duas dosagens 2% e 4%, Moldezol 43 0,5% e Rhe-ocem 30 0,67%.

Da mesma maneira como as adições provocaram o aumento da co-esão, praticamente todas diminuíram a resistência em relação ao ângulo de atrito. As exceções, que tiveram o valor do ângulo de atrito aumentado foram: EMC² 1,63% e Moldezol 43 0,5%.

Avaliando o ganho de resistência geral, as adições que tiveram o melhor desempenho neste tipo de solo foram: cal 4%, DS-328 0,17% e Moldezol 43 0,5%. Informações mais detalhadas podem ser obtidas em LACTEC (2009) e SILVA (2007).

c) Resistência à compressão simplesOs ensaios de compressão simples seguiram as recomendações da

Norma ASTM D 5102/96. Foram rompidos quatro corpos de prova de cada material para a obtenção da resistência média.

Nos ensaios de resistência à compressão simples, observa-se que os melhores desempenhos foram obtidos com os aditivos Homy Solo 0,67%, Ecolopavi 1,52%, DS-328 0,17%. Ainda as adições de Terrazyme 1,16%, Ci-mento 4%, EMC² 1,63%, Dynacal 0,67%, Terrazyme 0,55% e Lignosulfato VIXIL 2 e 4% apresentaram resistência superior à resistência do solo puro.

As adições realizadas com a cal 2 e 4%, cimento 2%, EMC² 0,67%, Ecolopavi e Dynacal 0,17% não mostraram melhorias de resistência das características apresentadas pelo solo sem adição (figura 11).

CONCLUSÕESNeste estudo, em linhas gerais tem-se um efeito de aumento da resis-

tência ao cisalhamento para os níveis mais baixos de tensão, e de redução da resistência para tensões elevadas. Esse efeito se traduz no aumento da coesão e redução do ângulo de atrito dos solos tratados.

O aumento da coesão mostrou-se consistente com os resultados de análises granulométricas realizadas com o solo puro e aditivado, as quais indicaram uma tendência dos agentes químicos provocarem a aglomera-ção de partículas. É possível que a queda de resistência para níveis mais al-

Figura 6 - Visão geral das cavas

Figura 7 - Peneiramento e compactação do solo

Figura 8 - Amostra de solo retirada das cavas compactadas

b) Resistência ao cisalhamentoO ensaio de cisalhamento direto com o solo aditivado foi realiza-

do utilizando-se tensões normais nominais iniciais de 50, 100 e 200 kPa. Os corpos-de-prova foram cuidadosamente moldados a partir de amostras indeformadas. Para isto foram utilizados anéis metálicos quadrados, que possuíam 100 mm de lado e 25,4 mm de altura. Uma vez moldados, os corpos-de-prova eram transferidos para a caixa de cisalhamento e inundados. A velocidade de cisalhamento aplicada foi de 0,056 mm/min. Na figura 10 os resultados dos ensaios estão re-presentados como pontos em um diagrama tensão cisalhante máxima versus tensão normal. Para efeito de comparação, são apresentadas as retas (envoltórias assumindo como válido o critério de Mohr-Coulomb) que melhor se ajustam a cada conjunto de ensaios. Para a determinação das envoltórias de ruptura foram considerados deslocamentos de 5 mm para o solo puro e para as adições estudadas.

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De modo geral, as adições provocam no solo a aglomeração de partí-culas e o aumento do intercepto coesivo. As adições que não provocaram o aumento da coesão foram: cimento 2%, Ecolopavi 0,67%, EMC² 1,63%, Lignosofonato Vixil nas duas dosagens 2% e 4%, Moldezol 43 0,5% e Rhe-ocem 30 0,67%.

Da mesma maneira como as adições provocaram o aumento da co-esão, praticamente todas diminuíram a resistência em relação ao ângulo de atrito. As exceções, que tiveram o valor do ângulo de atrito aumentado foram: EMC² 1,63% e Moldezol 43 0,5%.

Avaliando o ganho de resistência geral, as adições que tiveram o melhor desempenho neste tipo de solo foram: cal 4%, DS-328 0,17% e Moldezol 43 0,5%. Informações mais detalhadas podem ser obtidas em LACTEC (2009) e SILVA (2007).

c) Resistência à compressão simplesOs ensaios de compressão simples seguiram as recomendações da

Norma ASTM D 5102/96. Foram rompidos quatro corpos de prova de cada material para a obtenção da resistência média.

Nos ensaios de resistência à compressão simples, observa-se que os melhores desempenhos foram obtidos com os aditivos Homy Solo 0,67%, Ecolopavi 1,52%, DS-328 0,17%. Ainda as adições de Terrazyme 1,16%, Ci-mento 4%, EMC² 1,63%, Dynacal 0,67%, Terrazyme 0,55% e Lignosulfato VIXIL 2 e 4% apresentaram resistência superior à resistência do solo puro.

As adições realizadas com a cal 2 e 4%, cimento 2%, EMC² 0,67%, Ecolopavi e Dynacal 0,17% não mostraram melhorias de resistência das características apresentadas pelo solo sem adição (figura 11).

CONCLUSÕESNeste estudo, em linhas gerais tem-se um efeito de aumento da resis-

tência ao cisalhamento para os níveis mais baixos de tensão, e de redução da resistência para tensões elevadas. Esse efeito se traduz no aumento da coesão e redução do ângulo de atrito dos solos tratados.

O aumento da coesão mostrou-se consistente com os resultados de análises granulométricas realizadas com o solo puro e aditivado, as quais indicaram uma tendência dos agentes químicos provocarem a aglomera-ção de partículas. É possível que a queda de resistência para níveis mais al-

Figura 6 - Visão geral das cavas

Figura 7 - Peneiramento e compactação do solo

Figura 8 - Amostra de solo retirada das cavas compactadas

b) Resistência ao cisalhamentoO ensaio de cisalhamento direto com o solo aditivado foi realiza-

do utilizando-se tensões normais nominais iniciais de 50, 100 e 200 kPa. Os corpos-de-prova foram cuidadosamente moldados a partir de amostras indeformadas. Para isto foram utilizados anéis metálicos quadrados, que possuíam 100 mm de lado e 25,4 mm de altura. Uma vez moldados, os corpos-de-prova eram transferidos para a caixa de cisalhamento e inundados. A velocidade de cisalhamento aplicada foi de 0,056 mm/min. Na figura 10 os resultados dos ensaios estão re-presentados como pontos em um diagrama tensão cisalhante máxima versus tensão normal. Para efeito de comparação, são apresentadas as retas (envoltórias assumindo como válido o critério de Mohr-Coulomb) que melhor se ajustam a cada conjunto de ensaios. Para a determinação das envoltórias de ruptura foram considerados deslocamentos de 5 mm para o solo puro e para as adições estudadas.

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05tos de tensão efetiva esteja associada a uma destruição das ligações entre

partículas, devido à compressão do material. Nas análises granulométricas realizadas percebeu-se que, de um modo

geral os aditivos tiveram um comportamento semelhante entre si. Com relação à resistência no ensaio de cisalhamento direto, pode-se

concluir que os aditivos Cal (4%) e DS-328 (0,17%) foram os que apre-sentaram os melhores resultados mediante comparação com o solo puro.

No ensaio de resistência à compressão simples, pode-se concluir que as adições com 0,67 % de Homy solo, 1,52% de Ecolopavi, 0,17% de DS-328, 4% de Cimento, 1,16% de Terrazyme e 1,63% de EMC² apresentaram os melhores desempenhos em relação ao solo puro.

Dentre as adições estudadas em laboratório durante o período da pes-quisa aqui descrita, de um modo geral, deve-se notar que aquelas que mos-traram potencial de melhorar as características do solo siltoso em questão, envolveram o uso de cal. Em particular, o aditivo DS-328 (com 2% de cal) mostrou bons resultados tanto nos ensaios de cisalhamento direto como nos de compressão simples.

Finalmente, não se pode descartar qualquer um dos aditivos que não apre-sentaram bons desempenhos, pois muitos fatores devem ser levados em conta. A dosagem utilizada é um bom exemplo, pois uma vez que cada fabricante sugere formas de utilização diferentes, torna-se difícil conceber uma parame-trização que permita a comparação entre o desempenho das diversas misturas.

AgradecimentosOs autores gostariam de agradecer ao Laboratório de Solos do LAME

/ LACTEC, aos fornecedores de aditivos e à COPEL pelo fornecimento de recursos necessários à execução da pesquisa.

Figura 9 - Curvas granulométricas do solo sem adição e com adição

Figura 10- Envoltórias de ruptura para deslocamento de 5 mm

Figura 11 - Comparação entre os aditivos – resistência à compressão

* Alessander C. Morales Kormann é engenheiro civil e professor adjunto da Universidade Federal do Paraná.E-mail: [email protected]**Bernardo J. P. C. N. Perna é engenheiro civil da COPEL, Curitiba, Brasil.E-mail: [email protected]*** Cláudia Claumann da Silva é engenheira Civil, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.E-mail: [email protected]**** Roberta Bomfim Boszczowski é engenheira civil da Fugro In Situ Geotecnia.E-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS[1] BRAZETTI, R. Considerações sobre a influência de distintos aditivos orgâ-nicos nas características micromorfo-lógicas, mineralógicas, físicas, mecâni-cas e hidráulicas de um solo laterítico. Tese (doutorado em Engenharia). USP, 275 p, 1998.[2] LACTEC – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento. Melhoria e tratamento de solos: Aplicações em fundações de torres de transmissão. Relatório Técnico. LACTEC, 185 p, 2009.[3] RAUCH, A. F.; KATZ, L. E.; LIL-JESTRAND, H. M. An analysis of the mechanisms and efficacy of three li-quid chemical soil stabilizers. Research

Report. Universidade do Texas, 2003. [4] SILVA, C.C. Comportamento de solos siltosos quando reforçados com fibras e melhorados com aditivos químicos e orgânicos. Dissertação de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Construção Civil, Universidade Fe-deral do Paraná, 2007.[5] TECPAR. Disponível em < http://www.sbrt.ibict.br > Acesso em 17/10/2006.[6] TRINDADE, T. P.; LIMA, D.C.; MACHADO, C. C.; CARVALHO, A. B.; SCHAEFER, C. E. G. R. ; FONTES, M. P. F.; CANESCHI, F.P. Compactação na resistência mecânica de misturas solo - RBI Grade 81. Revista Árvore, Viçosa, v. 29, nº. 4 – Minas Gerais, 2005.

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CONTROLE DA resistência do concreto

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PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO*

o início do emprego do concreto armado, iniciou-se também o pro-cesso de normalização do projeto estrutural. Até então, as novas

estruturas eram projetadas pelo método comparativo.Na Europa, os primeiros projetos de estruturas da construção civil fo-

ram feitos determinando-se as dimensões das peças estruturais por meio de sua comparação direta com as dimensões de peças análogas emprega-das em construções semelhantes, que empiricamente haviam sido julgadas como bem construídas.

Posteriormente, os desenvolvimentos ocorridos com os conhecimen-tos de Resistência dos Materiais permitiram o início da normalização dos projetos de estruturas, feitos com a aplicação do método de cálculo de tensões admissíveis. As cargas atuantes foram fixadas subjetivamente com valores arbitrariamente considerados como plausíveis. As tensões admissí-

veis foram fixadas, adotando-se as máximas tensões calculadas em regime elástico linear nas estruturas consideradas como bem construídas, se elas fossem solicitadas pelas cargas úteis então arbitradas. Com isso, o méto-do comparativo de projeto deixou de comparar diretamente dimensões de peças estruturais, passando a comparar tensões máximas com tensões ad-missíveis.

Com o correr do tempo, a resistência do concreto passou a ser deter-minada experimentalmente, adotando-se como referência o valor médio obtido com o ensaio de três corpos de prova, empregando-se os coeficien-tes de segurança 3 para o próprio concreto, e 2 para o aço das armaduras.

No Brasil, a normalização começou na década de 40 do século passado, com a elaboração da NB-1. Para o concreto, na compressão simples, a ten-são admissível adotada foi de 40 kgf/cm2 (4 MPa) e, na flexão simples ou composta, de 60 kgf/cm2 (6 MPa). No cisalhamento, o valor admissível era de 6 kgf/cm2 (0,6 MPa) para as vigas, e de 8 kgf/cm2 (0,8 MPa) para as lajes.

Na década de 1950, quando se introduziu o cálculo de concreto armado em regime de ruptura, surgiu o conceito de resistência mínima do concre-to, adotando-se para isso o valor de ¾ da resistência média. Mais tarde, introduziu-se a ideia de que a distribuição de resistências do concreto seria normal (gaussiana), e que a resistência característica, definida como o valor com apenas 5% de probabilidade de ser ultrapassado no sentido desfavo-rável, deveria ser adotada como o valor representativo da resistência me-cânica dos materiais de construção.

A ideia de probabilização da segurança das estruturas sempre existiu, desde o código de Hamurabi. Não existe estrutura absolutamente segura. Sempre existirá uma probabilidade de ruína.

Ao poucos, a probabilização das ideias de segurança estrutural foram sendo construídas. De início, o método probabilista de projeto das estru-turas foi permitido como uma simples alternativa ao método de tensões admissíveis. Atualmente ele é o método fundamental do cálculo estrutural. Esse é um caminho que ainda está sendo percorrido.

Uma das ideias básicas para essa probabilização é a de que a resistência do concreto tenha uma distribuição normal de valores.

Nesse sentido, dado um conjunto de valores xi, que medem uma dada propriedade dos elementos que compõem uma certa população normal de N elementos, definem-se os parâmetros mostrados na figura 1. De um lado, da própria população e, de outro, de amostras com N exemplares dela ex-traídas, que irão servir para a estimativa dos parâmetros desse universo, sendo: média da amostra: xm = c; média da população: ; variância da amostra: ; variância da população: ; desvio padrão da amostra: ; desvio padrão da população: ; coeficiente de variação da amostra: ; coeficiente de variação da população: .

SEGURANÇA DA ESTRUTURAA passagem do projeto estrutural pelo método de tensões admissíveis

para o método probabilista ficou consolidada no início da década de 70 do século passado.

Ficaram então definitivamente implantadas as ideias probabilistas refe-rentes à caracterização das resistências dos materiais e das ações atuantes nas estruturas. Igualmente, foram imaginadas formas plausíveis de quanti-

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CONTROLE DA resistência do concreto

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o início do emprego do concreto armado, iniciou-se também o pro-cesso de normalização do projeto estrutural. Até então, as novas

estruturas eram projetadas pelo método comparativo.Na Europa, os primeiros projetos de estruturas da construção civil fo-

ram feitos determinando-se as dimensões das peças estruturais por meio de sua comparação direta com as dimensões de peças análogas emprega-das em construções semelhantes, que empiricamente haviam sido julgadas como bem construídas.

Posteriormente, os desenvolvimentos ocorridos com os conhecimen-tos de Resistência dos Materiais permitiram o início da normalização dos projetos de estruturas, feitos com a aplicação do método de cálculo de tensões admissíveis. As cargas atuantes foram fixadas subjetivamente com valores arbitrariamente considerados como plausíveis. As tensões admissí-

veis foram fixadas, adotando-se as máximas tensões calculadas em regime elástico linear nas estruturas consideradas como bem construídas, se elas fossem solicitadas pelas cargas úteis então arbitradas. Com isso, o méto-do comparativo de projeto deixou de comparar diretamente dimensões de peças estruturais, passando a comparar tensões máximas com tensões ad-missíveis.

Com o correr do tempo, a resistência do concreto passou a ser deter-minada experimentalmente, adotando-se como referência o valor médio obtido com o ensaio de três corpos de prova, empregando-se os coeficien-tes de segurança 3 para o próprio concreto, e 2 para o aço das armaduras.

No Brasil, a normalização começou na década de 40 do século passado, com a elaboração da NB-1. Para o concreto, na compressão simples, a ten-são admissível adotada foi de 40 kgf/cm2 (4 MPa) e, na flexão simples ou composta, de 60 kgf/cm2 (6 MPa). No cisalhamento, o valor admissível era de 6 kgf/cm2 (0,6 MPa) para as vigas, e de 8 kgf/cm2 (0,8 MPa) para as lajes.

Na década de 1950, quando se introduziu o cálculo de concreto armado em regime de ruptura, surgiu o conceito de resistência mínima do concre-to, adotando-se para isso o valor de ¾ da resistência média. Mais tarde, introduziu-se a ideia de que a distribuição de resistências do concreto seria normal (gaussiana), e que a resistência característica, definida como o valor com apenas 5% de probabilidade de ser ultrapassado no sentido desfavo-rável, deveria ser adotada como o valor representativo da resistência me-cânica dos materiais de construção.

A ideia de probabilização da segurança das estruturas sempre existiu, desde o código de Hamurabi. Não existe estrutura absolutamente segura. Sempre existirá uma probabilidade de ruína.

Ao poucos, a probabilização das ideias de segurança estrutural foram sendo construídas. De início, o método probabilista de projeto das estru-turas foi permitido como uma simples alternativa ao método de tensões admissíveis. Atualmente ele é o método fundamental do cálculo estrutural. Esse é um caminho que ainda está sendo percorrido.

Uma das ideias básicas para essa probabilização é a de que a resistência do concreto tenha uma distribuição normal de valores.

Nesse sentido, dado um conjunto de valores xi, que medem uma dada propriedade dos elementos que compõem uma certa população normal de N elementos, definem-se os parâmetros mostrados na figura 1. De um lado, da própria população e, de outro, de amostras com N exemplares dela ex-traídas, que irão servir para a estimativa dos parâmetros desse universo, sendo: média da amostra: xm = c; média da população: ; variância da amostra: ; variância da população: ; desvio padrão da amostra: ; desvio padrão da população: ; coeficiente de variação da amostra: ; coeficiente de variação da população: .

SEGURANÇA DA ESTRUTURAA passagem do projeto estrutural pelo método de tensões admissíveis

para o método probabilista ficou consolidada no início da década de 70 do século passado.

Ficaram então definitivamente implantadas as ideias probabilistas refe-rentes à caracterização das resistências dos materiais e das ações atuantes nas estruturas. Igualmente, foram imaginadas formas plausíveis de quanti-

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Figura 1 - Parâmetros da distribuição normal

ficar a segurança das estruturas por meios probabilistas.A figura 2 apresenta sinteticamente os conceitos empregados pelo

chamado método probabilista de nível I, também dito método semiproba-bilista de projeto estrutural, incluindo também um detalhe referente aos efeitos de longa duração na resistência do concreto.

Figura 2 - Parâmetros probabilistas de segurança

Resistências:Rm = valor médio. Rk = valor característico (inferior). Rd = valor de cálculo = . = coeficiente de ponderação (minoração) da resistência .Solicitações:Sm= valor médio.Sk = valor característico (superior).Sd = valor de cálculo = gf Skgf = coeficiente de ponderação (majoração) das ações.

Neste método de cálculo, admite-se que a ruína da estrutura ocorrerá quando, na seção mais solicitada, a resistência de cálculo for igual Rd e, si-

multaneamente, a solicitação máxima for igual Sd, ou seja, a probabilidade de ruína seria dada interseção .

Na verdade, a ruína pode ocorrer com muitas outras combinações de esforços resistentes e esforços solicitantes. A figura 3 apresenta um croqui explicativo dessa condição generalizada de ruína.

Para qualquer S, sempre haverá a possibilidade de ocorrer .Para qualquer R, sempre haverá a possibilidade de ocorrer .

Na figura 4 estão apresentadas as principais ideias referentes à de-terminação da resistência do concreto, as quais envolvem os seguintes conceitos:

= coeficiente de modificação = ; = considera a influência da altura do corpo de prova; = considera o aumento da resistência com o tempo; = considera a perda de resistência pela permanência das cargas; = coeficiente de minoração = ; = considera a variabilidade intrínseca da resistência do concreto; = considera a diferença dos processos de produção da estrutura e do corpo de prova; = considera outros possíveis efeitos deletérios (defeitos localizados, peneiramento pela armadura, cura defeituosa etc.).

Figura 3

Figura 4 - Conceitos principais

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AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA CARACTERÍSTICA DO CONCRETO1) Critérios de avaliação empregados na segunda metade do século 20

Desde o início do controle experimental da resistência do concreto, o conjunto de corpos de prova correspondentes a algumas betonadas que ti-vessem sido controladas era considerado como representativo do concreto da parte da estrutura realizado com esse concreto. O concreto podia ser preparado na própria obra, empregando betoneiras de pequeno porte, co-lhendo-se amostras aleatoriamente ao longo dos trabalhos de construção.

Quando se admitia que o concreto de toda a estrutura tinha sido con-trolado desse modo, por meio de corpos de prova extraídos aleatoriamente ao longo de toda a construção, admitia-se que seria obtida uma estimativa da resistência característica do concreto de toda a estrutura.

Obviamente, esses procedimentos envolviam a presença de uma gran-de variabilidade aparente nos resultados experimentais obtidos.

A impossibilidade de se avaliar o quantil de 5% de uma distribuição de valores a partir de uma amostra muito pequena provocava muitas contro-vérsias.

As próprias normas aceitavam critérios simplistas, julgando satisfatória uma amostra com 32 exemplares, para a determinação do valor caracterís-tico de uma população pela definição .

Com essa hipótese, como o erro médio obtido na estimativa do desvio padrão da população pode chegar a , com 95% de probabilidade, esse tipo de critério era absolutamente inadequado para a finalidade que se tinha em vista. Alguns regulamentos até permitiam amostras de apenas 20 exemplares, sem qualquer justificativa lógica para isso.

Uma análise mais cuidadosa desse problema mostra que, com amos-tras pequenas, não é possível estimar-se o quantil de 5% a partir das es-timativas separadas da média e do desvio padrão. Desse modo, o caminho possível era estimar-se o quantil característico diretamente sem passar pela estimativa direta do desvio padrão.

Por essa razão, na elaboração NB-1/78, adotou-se o critério, então jul-gado de natureza empírica, de se estimar a resistência característica pelas expressões até hoje vigentes na NBR 6118. Esse entendimento vigorou até pouco tempo atrás, inclusive nos debates ocorridos no Concrete Show, re-alizado em São Paulo, em setembro de 2009.

Todavia, como se expõe adiante, pode-se provar que esse estimador é efetivamente centrado no valor característico da população de onde a amostra foi retirada.

2) Interpretação do atual critério de avaliação da resistência carac-terística do concreto

Dada uma população de valores X com distribuição normal, de média e desvio padrão , a figura 5 mostra as características probabilísticas essenciais dessa população e da correspondente população formada pela variável reduzida, definida por , cujos parâmetros são e . Nessa figura é a função de densidade de frequência e é a função de frequência. O mesmo vale para a funções e .

Dada uma amostra de N elementos retirados de um universo normal de média e desvio padrão , sendo N um número par, ordenam-se os valores em ordem crescente:

onde, .Se N for ímpar, despreza-se o maior valor.

É importante assinalar que este critério é essencialmente aplicado quando a avaliação da resistência característica é globalmente feita com o con-creto produzido em diferentes betonadas. A situação usual desse emprego ocorre quando a amostragem do concreto não foi feita com todas as beto-nadas empregadas no lote considerado. Em princípio, este critério também pode ser aplicado em critério de contra prova, como posteriormente está mostrado.

A função de estimação do valor característico , correspondente ao quantil , cuja probabilidade de ser ultrapassado no sentido de valores ainda menores é apenas de 5%, é definida por:

Conforme se mostra na figura 6, o valor de , que é a média dos ( ) menores valores contidos na amostra, é uma estimativa a abscissa do centro de gravidade da área delimitada pela função , de 0 até a abscissa de , sendo:

De forma análoga, o valor de , que divide a amostra total em duas partes com números iguais de elementos, representa uma estimativa da mediana da distribuição. Com distribuições normais, que são simétricas em relação à mediana, ela também representa uma estimativa da média da população em questão.

Em princípio poderia ser calculada considerando a área desde 0 até a abscissa representativa de . Todavia, evitando a hipótese de que sejam iguais os valores de e de , sendo , adota-se , que no caso da resistência de concretos com , corresponde a uma diferença .

Para o cálculo de em uma distribuição normal, calculam-se a área A e o momento estático S da figura mostrada na figura 6 em relação ao eixo vertical passando pela abscissa .Considerando a função da variável normal reduzida , sendo:

obtêm-se, respectivamente,

e,

logo,

Na passagem da distribuição normal reduzida para a distribuição normal dos valores iniciais , é preciso multiplicar os coeficientes por .

Desse modo, como o termo entre colchetes [ ]é uma estimativa da média dos (M-1) menores valores da população integral, pode-se escrever a expressão de sob a forma:

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AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA CARACTERÍSTICA DO CONCRETO1) Critérios de avaliação empregados na segunda metade do século 20

Desde o início do controle experimental da resistência do concreto, o conjunto de corpos de prova correspondentes a algumas betonadas que ti-vessem sido controladas era considerado como representativo do concreto da parte da estrutura realizado com esse concreto. O concreto podia ser preparado na própria obra, empregando betoneiras de pequeno porte, co-lhendo-se amostras aleatoriamente ao longo dos trabalhos de construção.

Quando se admitia que o concreto de toda a estrutura tinha sido con-trolado desse modo, por meio de corpos de prova extraídos aleatoriamente ao longo de toda a construção, admitia-se que seria obtida uma estimativa da resistência característica do concreto de toda a estrutura.

Obviamente, esses procedimentos envolviam a presença de uma gran-de variabilidade aparente nos resultados experimentais obtidos.

A impossibilidade de se avaliar o quantil de 5% de uma distribuição de valores a partir de uma amostra muito pequena provocava muitas contro-vérsias.

As próprias normas aceitavam critérios simplistas, julgando satisfatória uma amostra com 32 exemplares, para a determinação do valor caracterís-tico de uma população pela definição .

Com essa hipótese, como o erro médio obtido na estimativa do desvio padrão da população pode chegar a , com 95% de probabilidade, esse tipo de critério era absolutamente inadequado para a finalidade que se tinha em vista. Alguns regulamentos até permitiam amostras de apenas 20 exemplares, sem qualquer justificativa lógica para isso.

Uma análise mais cuidadosa desse problema mostra que, com amos-tras pequenas, não é possível estimar-se o quantil de 5% a partir das es-timativas separadas da média e do desvio padrão. Desse modo, o caminho possível era estimar-se o quantil característico diretamente sem passar pela estimativa direta do desvio padrão.

Por essa razão, na elaboração NB-1/78, adotou-se o critério, então jul-gado de natureza empírica, de se estimar a resistência característica pelas expressões até hoje vigentes na NBR 6118. Esse entendimento vigorou até pouco tempo atrás, inclusive nos debates ocorridos no Concrete Show, re-alizado em São Paulo, em setembro de 2009.

Todavia, como se expõe adiante, pode-se provar que esse estimador é efetivamente centrado no valor característico da população de onde a amostra foi retirada.

2) Interpretação do atual critério de avaliação da resistência carac-terística do concreto

Dada uma população de valores X com distribuição normal, de média e desvio padrão , a figura 5 mostra as características probabilísticas essenciais dessa população e da correspondente população formada pela variável reduzida, definida por , cujos parâmetros são e . Nessa figura é a função de densidade de frequência e é a função de frequência. O mesmo vale para a funções e .

Dada uma amostra de N elementos retirados de um universo normal de média e desvio padrão , sendo N um número par, ordenam-se os valores em ordem crescente:

onde, .Se N for ímpar, despreza-se o maior valor.

É importante assinalar que este critério é essencialmente aplicado quando a avaliação da resistência característica é globalmente feita com o con-creto produzido em diferentes betonadas. A situação usual desse emprego ocorre quando a amostragem do concreto não foi feita com todas as beto-nadas empregadas no lote considerado. Em princípio, este critério também pode ser aplicado em critério de contra prova, como posteriormente está mostrado.

A função de estimação do valor característico , correspondente ao quantil , cuja probabilidade de ser ultrapassado no sentido de valores ainda menores é apenas de 5%, é definida por:

Conforme se mostra na figura 6, o valor de , que é a média dos ( ) menores valores contidos na amostra, é uma estimativa a abscissa do centro de gravidade da área delimitada pela função , de 0 até a abscissa de , sendo:

De forma análoga, o valor de , que divide a amostra total em duas partes com números iguais de elementos, representa uma estimativa da mediana da distribuição. Com distribuições normais, que são simétricas em relação à mediana, ela também representa uma estimativa da média da população em questão.

Em princípio poderia ser calculada considerando a área desde 0 até a abscissa representativa de . Todavia, evitando a hipótese de que sejam iguais os valores de e de , sendo , adota-se , que no caso da resistência de concretos com , corresponde a uma diferença .

Para o cálculo de em uma distribuição normal, calculam-se a área A e o momento estático S da figura mostrada na figura 6 em relação ao eixo vertical passando pela abscissa .Considerando a função da variável normal reduzida , sendo:

obtêm-se, respectivamente,

e,

logo,

Na passagem da distribuição normal reduzida para a distribuição normal dos valores iniciais , é preciso multiplicar os coeficientes por .

Desse modo, como o termo entre colchetes [ ]é uma estimativa da média dos (M-1) menores valores da população integral, pode-se escrever a expressão de sob a forma:

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Figura 5

Figura 6e sendo,

resulta,

ou seja,

A função de estimativa aqui estudada, vigente na NBR 6118 é, portan-to, um estimador efetivamente centrado no valor característico da popu-lação analisada.

Além disso, como ele decorre de duas estimativas de médias, uma da média do conjunto de valores da metade menos resistente da amostra, e outra da média do conjunto de todos os valores da amostra, por meio da mediana desse conjunto, a sua variância é significativamente menor que a variância de estimadores que também levam em conta diretamente a variância da população.

Observe-se, finalmente, que ao contrário do que foi considerado an-teriormente a esta publicação, esse estimador não pode ser aplicado ima-ginando-se que os M valores conhecidos sejam apenas a metade menos resistente de uma amostra ideal de 2M valores.

Como está mostrado na figura 7, se isso fosse admitido, o valor da mé-dia seria praticamente uma estimativa da média da população, e seria o valor da amostra.

Nessas condições, o estimador estaria centrado no valor [2 - ]. Com uma distribuição simétrica da variável X em torno de sua média, o estimador forneceria valores

que seriam estimativas exageradamente baixas do valor característico.

3) Resistência característica do concreto de um caminhão-betoneiraDe acordo com procedimentos normalizados de colheita do material

para moldagem dos 2 corpos de prova que formam a amostra para o con-trole da resistência do concreto fornecido por um único caminhão-beto-neira, exige-se que o material seja retirado do terço médio da descarga. Com isso, espera-se que os resultados assim obtidos estejam isentos do efeito de uma eventual sedimentação do cimento ao longo da altura do equipamento. Dos dois corpos de prova ensaiados, considera-se apenas o resultado X0 mais alto.

Para controlar a variabilidade da resistência do concreto existente ao longo do material fornecido por uma única betoneira, devem ser colhidas mais duas porções de material, uma ao se atingir 15% da descarga e outra

Figura 7

nos 85% da operação, com as quais podem ser obtidos mais dois valores da resistência desse concreto.

De acordo com a (NBR-11562 - ítem 6.3), para aceitar que uma beto-neira esteja em condições satisfatórias de funcionamento, das 3 resistên-cias obtidas para seu controle, exige-se que seja:

Desse modo, a tolerância admitida para a variabilidade da resistência do concreto fornecido por uma única betonada é dada por:

,o que mostra que a distribuição de resistências ao longo da betonada é simétrica, e que o valor médio X0 é uma boa estimativa da média dessa distribuição, confirmando-se assim a hipótese de que tal distribuição seja gaussiana.

Por outro lado, empiricamente, sabe-se que na amostragem de popu-lações com distribuição normal, muito raramente as amostras apresentam valores individuais fora do intervalo

, onde, é a média e o desvio-padrão dessa população.

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Tabela 1 - Número de valores Nx inferiores ao valor X,com P% de probabilidade

P= 50%

P= 5%

P= 6,21 x 10-3

P= 5 a

P= 1,35 x 10-3

P= 5,77 x 10-4

Caminhão - Betoneira: 1600 corpos-de-prova 15x30

A título de ilustração dessa regra empírica, no caso do concreto pro-duzido por um único caminhão betoneira, com o qual poderia ser cons-truída uma população de cerca de 1 600 corpos de prova, a probabilidade de serem obtidos valores individuais abaixo de determinados limites está indicada na tabela 1.Desse modo, da condição:

conclui-se que:média da população:desvio padrão da população:

logo, a resistência característica efetiva do concreto fornecido por um úni-co caminhão betoneira vale:

CONTROLE DA RESISTÊNCIA DO CONCRETO1) O processo de controle

O controle da resistência do concreto tem por finalidade verificar a conformidade da resistência dos diferentes lotes de concreto empregados em uma estrutura com o valor da resistência característica especificada no seu projeto.

O controle básico da resistência do concreto é feito por meio de en-saios de corpos de prova moldados na obra, por ocasião do lançamento do concreto.

A partir dos resultados desses ensaios, é feita a estimativa do valor da resistência característica inferior do concreto, que corresponde à pro-babilidade de 5% de existirem frações do concreto com resistência ainda menor.

Em princípio, quando existir essa conformidade, não haverá motivos que impeçam a aceitação automática desses lotes de concreto pelos res-ponsáveis pela segurança da estrutura.

Todavia, quando de acordo com o controle inicial não existir essa con-formidade, a aceitação desses lotes de concreto pelos responsáveis pela segurança da estrutura, sem a necessidade de realizar obras de reforço da estrutura, somente poderá ser feita após procedimentos de controle de contraprova que contradigam os resultados do controle inicial e as-segurem a efetiva conformidade do concreto, ou se o lote de concreto em exame tiver sido empregado em peças estruturais que, a critério do responsável pelo projeto da estrutura, tenham sua segurança satisfatoria-mente garantida mesmo com o emprego desse concreto cuja resistência foi avaliada com um valor menor que aquele especificado originalmente no projeto.

Nas decisões a respeito do que se deve considerar a respeito da re-sistência do concreto da estrutura, tomadas em função das resistências determinadas nos ensaios de corpos de prova moldados por ocasião do

seu lançamento, é preciso levar em conta que os resultados dos ensaios de controle também podem ser afetados pelas condições de moldagem, de cura na obra, e do transporte dos corpos de prova desde a obra até o labo-ratório de ensaio, podendo também ser afetados pelas condições de cura até a data de ensaio e pelos procedimentos de preparação desses corpos de prova para ensaio, e pelos próprios procedimentos de ensaio.

Para o controle da resistência do concreto, é necessário distinguir dois procedimentos distintos, o controle total e o controle parcial como adiante especificados.

2) Controle totalNo controle total, é feita a amostragem total, isto é, o concreto de cada

amassada (caminhão betoneira) é controlado individualmente, e também é re-alizado o mapeamento do lançamento do concreto ao longo da estrutura.

Como o resultado do ensaio do exemplar de controle do concreto de cada caminhão-betoneira somente é obtido cerca de um mês após o seu lançamento na obra, ele só fica conhecido após a utilização dessa betonada.

Desse modo, se a resistência obtida for inferior ao valor especificado no projeto estrutural, isto é, se fck,est < fck,esp , qualquer providência posterior a respeito dessa betonada particular somente poderá ser tomada se sua localização puder ser rastreada ao longo da estrutura. Esse rastreamento somente poderá ser feito se também houver sido realizado o mapeamento do lançamento do concreto ao longo da estrutura.Critério de controle C1 - No caso de controle total, a resistência do con-creto de cada caminhão betoneira é avaliada individualmente. Dos dois corpos de prova ensaiados, considera-se apenas o resultado X0 mais alto.

Em princípio, a resistência característica estimada deve ser adotada com o valor .

Se o resultado obtido for , a resistência dessa betonada será considerada automaticamente como conforme.

Se resultar , o material será considerado como não conforme em relação ao valor especificado no projeto da estrutura.

No caso de ter havido controle total, existindo o correspondente ma-peamento dos locais de lançamento das diferentes frações do concreto empregado, a critério do projetista da estrutura, esse concreto poderá ser considerado como se fosse conforme, em função da avaliação da seguran-ça das peças estruturais onde esse concreto foi empregado. Possível critério alternativo C1’ - Existe a possibilidade de adoção de um eventual critério alternativo que, por simplicidade se admite a conformi-dade da resistência quando . Esse critério poderá exigir uma revisão dos valores numéricos apresentados nos critérios de conformidade e de aceitação adiante analisados.

A título de esclarecimento, a tabela 2 mostra a influência da adoção do critério sobre a resistência de cálculo , admitindo a

relação básica , sendo:

3) Controle parcial O controle parcial ocorre quando não é feito o controle de cada cami-

nhão betoneira, ou quando não é feito o mapeamento do lançamento do concreto ao longo da estrutura, embora possa ter sido feita a amostragem total, isto é, a amostragem do material de todos os caminhões betoneira.Na ausência de mapeamento do lançamento do concreto, não se sabe loca-lizar a posição de cada betonada empregada na estrutura.Critério de controle C2 - No caso de controle parcial, o concreto deverá

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Tabela 2 - Valores em MPa

f ck, esp f1,cd esp f1,cd ef f1,cd esp - f1,cd ef

20 12,1 11,7 0,4

30 18,2 17,5 0,7

40 24,3 23,3 1,0

50 30,3 29,1 1,2

ResistênciaEspecificada

Valor Especificado

ValorEfetivo Diferença

ser julgado pelo conjunto de resultados experimentais obtidos das betona-das empregadas em todo um certo trecho da estrutura.

Dos resultados dos ensaios de N testemunhos, sendo N um número par, com resistências individuais , sendo , considera-se apenas a metade menos resistente, obtendo-se a estimativa:

O significado probabilista desta expressão já foi apresentado em tópico

anterior.O emprego deste estimador admite que todos os exemplares sejam ex-

traídos de uma única população homogênea. Desse modo, se a amostra foi extraída de uma mistura de populações diferentes, a resistência caracterís-tica calculada é, apenas, uma resistência característica aparente.Critério de controle C3 - No caso de controle parcial, havendo amostra-gem total, mas não tendo sido feito o mapeamento dos locais de lança-mento, se o resultado obtido com todas as betoneiras for o concreto será automaticamente considerado conforme. Todavia, se resultar um único valor todo o concreto será considerado não con-forme, pois não se saberá onde esse concreto foi lançado.4) Critério de contraprova

Caso o concreto tenha sido considerado não conforme pelo controle exercido com o material colhido por ocasião de seu lançamento, o enge-nheiro responsável por essa análise deverá recomendar uma avaliação de contraprova da resistência do concreto, por meio de ensaios de testemu-nhos extraídos das peças estruturais que julgar possam ter sido executadas com o concreto não conforme.

Para a contraprova, deverão ser consideradas, separadamente, apenas as partes que possam ser julgadas como construídas com lotes de concreto razoavelmente homogêneos. No exame dessa homogeneidade, as análises esclerométrica e de ultra-som poderão ser elementos auxiliares.

Em qualquer caso, com a necessária anuência do projetista da estru-tura, a eventual aceitação do concreto poderá ser feita se for verificada a condição , que equivale a adotar , por se admitir que as causas que justificam a presença desse coeficiente parcial de minoração da resistência do concreto, para corpos de prova moldados por ocasião da concretagem, não poderão agir com os testemunhos extraídos da estrutura já existente. Critério de controle C4 - No caso de inicialmente ter sido verificada a não conformidade do concreto, para o controle de contraprova de cada lote em exame, deverão ser cuidadosamente especificados o número N e os locais de extração dos testemunhos, mantendo-se uma razoável distância entre eles, para que fique considerado todo o volume do concreto a ser examinado.

O número N de testemunhos deve ser coerente com o tamanho de cada trecho em exame.

Para o ensaio de testemunhos extraídos do concreto da estrutura, não há necessidade da extração de pares de corpos de prova gêmeos, pois não há risco de que o processo empregado na concretagem de um deles tenha sido diferente do empregado na do outro. Além disso, os eventuais defeitos dos testemunhos extraídos serão visíveis e, quando houver dúvidas, sempre poderá ser extraído um novo testemunho nas imediações daquele que possa estar sob suspeição.

De maneira análoga, como nessa amostragem todos os testemunhos repre-sentam partes reais da estrutura em exame, não há razão de natureza física para desprezar-se a metade dos resultados mais altos obtidos nessa investigação.

Por outro lado, como já apresentado, não é correto fazer a estimativa da resistência característica com o estimador especificado pelo Critério C2,

admitindo-se que a amostra conhecida de N elementos seja a metade me-nos resistente de uma amostra ideal de 2N corpos de prova.

Desse modo, como não se conhece a variabilidade da resistência ao longo de todo o concreto em exame, é preferível subdividir o lote total a ser examinado em lotes locais independentes e julgá-los individualmente. Para isso, de cada lote local, pode ser extraído um número reduzido de cor-pos de prova, determinando-se assim o valor da resistência média de cada trecho. A resistência característica de cada trecho pode então ser estimada a partir desse valor médio experimental, admitindo-se um critério análogo ao critério C1, adotando um valor da ordem de:

Nessa investigação, não poderão ser aceitos resultados muito discre-pantes entre si. Caso isso ocorra, a critério do responsável pela investiga-ção, deverão ser ensaiados testemunhos suplementares.

Dessa forma, na contraprova, o menor número aceitável de testemu-nhos, em função do volume estimado de cada lote local em verificação, será de dois a três corpos de prova, que devem ser extraídos ao longo desse lote.

No caso do lote em exame ser constituído pelo concreto de uma sim-ples peça estrutural de pequeno porte, admitindo-se que ela tenha sido concretada com o material de uma única betonada, a critério do enge-nheiro responsável pelo projeto estrutural, o julgamento poderá ser feito, excepcionalmente, a partir de um único testemunho.

No caso de elementos estruturais com grande volume de concreto, o material em exame certamente não foi produzido em uma única betonada. Nesse caso, se por motivos de natureza especial, como eventuais razões legais, for necessária uma estimativa global desse concreto, será preciso extrair um número de testemunhos que possam representar o concreto de todo o lote em exame, e sua resistência característica aparente, somen-te poderá ser determinada pelo Critério de Controle C2, considerando-se apenas a metade menos resistente dos resultados experimentais obtidos.Critério de controle C5 - Na verificação da aceitação do emprego de con-creto considerado como não conforme pelo controle de contraprova, sem reforço da estrutura, é necessário verificar o efeito dessa hipótese na segu-rança da estrutura. Nessa verificação, as cargas permanentes constituídas pelos pesos próprios das partes da estrutura e das alvenarias e divisórias que já tenham sido construídas, e que possuam dimensões praticamente iguais aos correspondentes valores adotados no projeto da construção, po-derão ser consideradas com o coeficiente parcial de majoração das ações permanentes com o valor . Esse procedimento não poderá ser aplicado a pilares, quando houver pavimentos ainda não concretados.Critério de controle C6 - Quer para testemunhos extraídos da estrutura, quer para corpos de prova moldados por ocasião da concretagem, mas ensaiados em idade superior a 28 dias, os resultados, em princípio, deverão ser corrigidos para idade padrão de 28 dias.

Todavia, para ensaios de testemunhos extraídos do concreto com até cerca de três meses de idade, a critério do responsável pela investigação, os valores obtidos poderão ser considerados como referências diretamente válidas para a verifica-ção da conformidade do concreto. Esta permissão pode ser em parte justificada pelos efeitos antagônicos do crescimento da resistência com a idade e do ensaio dos testemunhos na direção horizontal da concretagem enquanto o concreto da estrutura é solicitado na direção vertical. Para ensaios realizados em idade do con-creto superior a 3 meses, o fck,est deverá ser corrigido para 28 dias.

* Péricles Brasiliense Fusco é professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, USP

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PRODUÇÃO

lguns dados para entrar no assunto: No de-curso da sua “vida”, um veículo emite em mé-

dia 21 toneladas de dióxido de carbono causadores do efeito estufa. Cerca de 20% deles já são libera-dos durante a sua produção. Cerca de 70% da ener-gia necessária para a produção é utilizada na planta de pintura. A mesma quantidade que é consumida em uma cidade com 50 000 habitantes. O consumo mundial de energia está aumentando rapidamente. Entre os dez maiores consumidores – a Alemanha está em sétimo lugar – encontram-se todos os qua-tro países Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Pela primeira vez a China ultrapassou os Estados Unidos como o maior consumidor de energia. O chinês, no entanto, utiliza nitidamente menos energia do que as pessoas em países ocidentais: um quinto do que o americano utiliza e 40% do consumo habitual na Europa Ocidental. Entretanto, o que acontecerá se um chinês aumentar seu consumo de energia e atingir o nível ocidental (figura 1)?

Temos que encontrar alternativas! Uma delas, já possível hoje em dia, é o uso crescente de ener-

“GREEN PAINTSHOP”, planta de pintura ecologicamente correta

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PAVEL SVEJDA*

Eficiência e sustentabilidade, estas são as grandes tendências do nosso tempo. Com toda a razão. Os recursos naturais limitados e a crescente demanda de energia, especialmente nos mercados em crescimento dos países emergentes, representam grandes desafios para sua economia. Não faz muito tempo que os veículos estão sendo classificados de acordo com suas emissões de CO2 ao invés de serem classificados pelo seu consumo de combustível. Para reduzir isso, novos princípios de propulsão são desenvolvidos, que chegam até a mobilidade elétrica. Também na fabricação de veículos, cresce a demanda por soluções que reduzam o consumo de energia e, portanto reduzam as emissões de CO2. Com a sua “Green Paintshop”, a Dürr coloca à disposição um abrangente pacote de soluções para o máximo de eficiência energética e eficácia no uso dos recursos disponíveis no processo de pintura de automóveis.

Uma contribuição para uma maior eficiência energéticae economia de recursos na pintura automotiva

gias regenerativas, a gestão eficiente das mesmas e dos nossos recursos. A Dürr está realmente em-penhada não só com o conceito do seu novo cam-pus em Bietigheim-Bissingen, no qual anualmente são emitidas cerca de 2 000 toneladas de CO2 a menos pelo uso das energias renováveis e por uma alta eficiência energética, mas principalmente pelo princípio do “Green Paintshop”. Um benefício para o industrial usuário destas tecnologias: uma signi-ficativa redução de custos. Portanto, um investi-mento que vale a pena.

Antes de fazermos uma excursão através do “Green Paintshop” – que poderia ser tanto na Europa Central, como também na China ou em qualquer outro país – devemos dar uma olhada no processo de pintura. A tendência vai para os chamados “processos encurtados e enxutos”, nos quais são eliminadas etapas individuais do proces-so. Com processos de pintura sem primer, nos quais a maioria é baseada em tecnologia de pintura com tinta à base de água, a camada de base tem que desempenhar o papel do primer. A característica

especial do processo 3wet, onde cada vez mais são utilizados os chamados sistemas de pintura de alto-sólidos, é que todas as três camadas de tinta são aplicadas em uma linha de pintura, úmido so-bre úmido, isto é, sem secagem intermediária. Em ambos os processos, a linha separada de aplicação do primer, assim como o secador subsequente são eliminados. As vantagens: instalações compactas, custos de investimento e custos operacionais redu-zidos, balanço ecológico positivo.

Voltando ao tema em questão, o “Green Paintshop”, uma planta de pintura com consumo otimizado da energia e que visa a economia de recursos, contém mais de 20 medidas técnicas, que se unem para um conceito global de susten-tabilidade. O tempo para a nossa excursão não é o suficiente para nos determos em cada um desses sistemas. Por isso vamos nos concentrar apenas em alguns dos importantes.

Todo processo de pintura começa com o pré-tratamento e a pintura por imersão subsequente. Neste caso o sistema por rotação se impôs. Para os

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diferentes requisitos em capacidade e flexibilidade de sistema, estão disponíveis na família RoDip a ver-são mecânica RoDip M e a versão elétrica RoDip E. A tecnologia RoDip pode ser realizada em especial layouts que objetivam a economia de espaço. A não existência das rampas de entrada e de saída, não só leva ao encurtamento do comprimento da planta, mas também à redução do volume do tanque. Isto está associado a baixos custos de material e de ener-gia, estes últimos chegam a uma redução de cerca de 35% em comparação à tecnologia convencional de transporte por pêndulo. Baseado nessas vanta-gens e em uma redução de água residual devido à rotação condicionada, resulta, em um exemplo de cálculo para uma instalação com uma produção anual de 300 000 carrocerias, uma economia do custo unitário de quase 16% por carroceria – sem contar com a melhor qualidade devido à redução de poluentes, do escoamento e dos gotejamentos.

Continuemos ainda por um momento no pré-tratamento. Com o sistema multiciclone de separação da Dürr, as partículas de matérias sóli-das são removidas especialmente dos banhos de desengraxamento e lavagem de forma eficaz e eficiente. Em comparação com sistemas conven-cionais de filtragem, é alcançada uma economia de energia de mais de 30%.

Nosso passeio leva-nos agora às linhas de pintura e aos processos de pulverização. Focamos agora no sistema de fornecimento e retirada de ar nas cabines de pulverização. A maioria da energia que é usada em uma cabine de pintura é gasta para a necessária preparação do ar; praticamente quase 60%. Uma recirculação de ar da cabine economi-zaria uma grande parte desta energia. Uma condi-ção para isso é uma nítida melhora na eficiência da deposição do “overspray” e nenhum aumento da umidade de ar, como ocorre durante a lavagem do “overspray” com separadores úmidos. Neste ponto a Dürr abre novos caminhos com o EcoDryScrub-ber. EcoDryScrubber é baseado no princípio da se-paração a seco com a ajuda de pó calcário como agente de ligação para as partículas de tinta. O ar da cabine carregado de partículas é guiado através de módulos de filtro, em cuja superfície a matéria sólida é separada e pode ser reciclado no processo de pintura, através da instalação de fornecimen-to de ar, onde uma pequena parte do ar fresco é adicionado. A parte de ar fresco que fica entre 5% e 20% – no máximo –, leva, de uma forma simples, a condições constantes de temperatura na cabine, tornando-a totalmente independente da temperatura exterior. Dependendo do grau de saturação, o pó de calcário saturado é automatica-mente substituído pelo pó fresco e pode ser usado sem pré-tratamento em outros processos de pro-

Ecopaint RoDip: mais de 20 milhões de carrocerias no mundo já foram pintadas com o RoDip

O EcoDryScrubber, um processo para a deposição do “overspray” livre de água e de química. Esta tecnologia reduz os custos de energia de toda a planta de pintura em 30%

EcoBell3, a nova geração de atomizador da Dürr. Carregador externo de tintas à base de água, apropriado para a pintura interior e pintura exterior, assim como, para a pintura de para-choques

dução. Em outras palavras: com esta nova tecnologia não se for-ma lodo de tinta que tem que ser eliminado como resíduo perigoso, não há águas residuais para serem tratadas, nem tão pouco são ne-cessários produtos químicos para a coagulação. Considerando-se o balanço energético de toda planta de pintura, podem ser economiza-dos 30% do total de energia em-pregando-se a separação a seco. A cidade mencionada no início, com 50 000 habitantes, reduz-se agora para cerca de 34 000 consumido-res de energia.

As vantagens aqui breve-mente descritas já convenceram muitos usuários em todo o mun-do. Desde a introdução desta tecnologia, a Dürr já recebeu pe-didos de 30 linhas.

Assim, a aplicação de pintura propriamente dita oferece inúme-ras possibilidades para uma maior eficiência e economia de recursos – essencialmente importante, se for considerado a grande parcela dos custos de materiais no custo total da pintura do veículo. As-sim, com sistemas inovadores de troca de tinta, a perda de material pode ser reduzida a um mínimo absoluto. Expressando isso em números: em uma troca de tinta são perdidos por atomizador cer-ca de 45 ml de tinta. Isso já é um valor padrão relativamente bom. Com o inovador sistema de troca de tinta EcoLCC, esse valor pode ser reduzido para 10 ml. Com ele uma grande parte do material de pintura, que em outra situação tem que ser lavada e descartada, é usada no processo de pintura. Uma outra redução da perda de tinta pode ser alcançada pelo uso do EcoBell2 ICC. ICC significa “in-tegrated color changer” (trocador de tinta integrado). Conforme o nome diz, o trocador de tinta é embutido diretamente no atomi-zador. Para um máximo de seis cores “high-runner”, a perda de tinta é de só 4 ml! Menos é im-possível (figura 2).

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lguns dados para entrar no assunto: No de-curso da sua “vida”, um veículo emite em mé-

dia 21 toneladas de dióxido de carbono causadores do efeito estufa. Cerca de 20% deles já são libera-dos durante a sua produção. Cerca de 70% da ener-gia necessária para a produção é utilizada na planta de pintura. A mesma quantidade que é consumida em uma cidade com 50 000 habitantes. O consumo mundial de energia está aumentando rapidamente. Entre os dez maiores consumidores – a Alemanha está em sétimo lugar – encontram-se todos os qua-tro países Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Pela primeira vez a China ultrapassou os Estados Unidos como o maior consumidor de energia. O chinês, no entanto, utiliza nitidamente menos energia do que as pessoas em países ocidentais: um quinto do que o americano utiliza e 40% do consumo habitual na Europa Ocidental. Entretanto, o que acontecerá se um chinês aumentar seu consumo de energia e atingir o nível ocidental (figura 1)?

Temos que encontrar alternativas! Uma delas, já possível hoje em dia, é o uso crescente de ener-

“GREEN PAINTSHOP”, planta de pintura ecologicamente correta

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Eficiência e sustentabilidade, estas são as grandes tendências do nosso tempo. Com toda a razão. Os recursos naturais limitados e a crescente demanda de energia, especialmente nos mercados em crescimento dos países emergentes, representam grandes desafios para sua economia. Não faz muito tempo que os veículos estão sendo classificados de acordo com suas emissões de CO2 ao invés de serem classificados pelo seu consumo de combustível. Para reduzir isso, novos princípios de propulsão são desenvolvidos, que chegam até a mobilidade elétrica. Também na fabricação de veículos, cresce a demanda por soluções que reduzam o consumo de energia e, portanto reduzam as emissões de CO2. Com a sua “Green Paintshop”, a Dürr coloca à disposição um abrangente pacote de soluções para o máximo de eficiência energética e eficácia no uso dos recursos disponíveis no processo de pintura de automóveis.

Uma contribuição para uma maior eficiência energéticae economia de recursos na pintura automotiva

gias regenerativas, a gestão eficiente das mesmas e dos nossos recursos. A Dürr está realmente em-penhada não só com o conceito do seu novo cam-pus em Bietigheim-Bissingen, no qual anualmente são emitidas cerca de 2 000 toneladas de CO2 a menos pelo uso das energias renováveis e por uma alta eficiência energética, mas principalmente pelo princípio do “Green Paintshop”. Um benefício para o industrial usuário destas tecnologias: uma signi-ficativa redução de custos. Portanto, um investi-mento que vale a pena.

Antes de fazermos uma excursão através do “Green Paintshop” – que poderia ser tanto na Europa Central, como também na China ou em qualquer outro país – devemos dar uma olhada no processo de pintura. A tendência vai para os chamados “processos encurtados e enxutos”, nos quais são eliminadas etapas individuais do proces-so. Com processos de pintura sem primer, nos quais a maioria é baseada em tecnologia de pintura com tinta à base de água, a camada de base tem que desempenhar o papel do primer. A característica

especial do processo 3wet, onde cada vez mais são utilizados os chamados sistemas de pintura de alto-sólidos, é que todas as três camadas de tinta são aplicadas em uma linha de pintura, úmido so-bre úmido, isto é, sem secagem intermediária. Em ambos os processos, a linha separada de aplicação do primer, assim como o secador subsequente são eliminados. As vantagens: instalações compactas, custos de investimento e custos operacionais redu-zidos, balanço ecológico positivo.

Voltando ao tema em questão, o “Green Paintshop”, uma planta de pintura com consumo otimizado da energia e que visa a economia de recursos, contém mais de 20 medidas técnicas, que se unem para um conceito global de susten-tabilidade. O tempo para a nossa excursão não é o suficiente para nos determos em cada um desses sistemas. Por isso vamos nos concentrar apenas em alguns dos importantes.

Todo processo de pintura começa com o pré-tratamento e a pintura por imersão subsequente. Neste caso o sistema por rotação se impôs. Para os

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diferentes requisitos em capacidade e flexibilidade de sistema, estão disponíveis na família RoDip a ver-são mecânica RoDip M e a versão elétrica RoDip E. A tecnologia RoDip pode ser realizada em especial layouts que objetivam a economia de espaço. A não existência das rampas de entrada e de saída, não só leva ao encurtamento do comprimento da planta, mas também à redução do volume do tanque. Isto está associado a baixos custos de material e de ener-gia, estes últimos chegam a uma redução de cerca de 35% em comparação à tecnologia convencional de transporte por pêndulo. Baseado nessas vanta-gens e em uma redução de água residual devido à rotação condicionada, resulta, em um exemplo de cálculo para uma instalação com uma produção anual de 300 000 carrocerias, uma economia do custo unitário de quase 16% por carroceria – sem contar com a melhor qualidade devido à redução de poluentes, do escoamento e dos gotejamentos.

Continuemos ainda por um momento no pré-tratamento. Com o sistema multiciclone de separação da Dürr, as partículas de matérias sóli-das são removidas especialmente dos banhos de desengraxamento e lavagem de forma eficaz e eficiente. Em comparação com sistemas conven-cionais de filtragem, é alcançada uma economia de energia de mais de 30%.

Nosso passeio leva-nos agora às linhas de pintura e aos processos de pulverização. Focamos agora no sistema de fornecimento e retirada de ar nas cabines de pulverização. A maioria da energia que é usada em uma cabine de pintura é gasta para a necessária preparação do ar; praticamente quase 60%. Uma recirculação de ar da cabine economi-zaria uma grande parte desta energia. Uma condi-ção para isso é uma nítida melhora na eficiência da deposição do “overspray” e nenhum aumento da umidade de ar, como ocorre durante a lavagem do “overspray” com separadores úmidos. Neste ponto a Dürr abre novos caminhos com o EcoDryScrub-ber. EcoDryScrubber é baseado no princípio da se-paração a seco com a ajuda de pó calcário como agente de ligação para as partículas de tinta. O ar da cabine carregado de partículas é guiado através de módulos de filtro, em cuja superfície a matéria sólida é separada e pode ser reciclado no processo de pintura, através da instalação de fornecimen-to de ar, onde uma pequena parte do ar fresco é adicionado. A parte de ar fresco que fica entre 5% e 20% – no máximo –, leva, de uma forma simples, a condições constantes de temperatura na cabine, tornando-a totalmente independente da temperatura exterior. Dependendo do grau de saturação, o pó de calcário saturado é automatica-mente substituído pelo pó fresco e pode ser usado sem pré-tratamento em outros processos de pro-

Ecopaint RoDip: mais de 20 milhões de carrocerias no mundo já foram pintadas com o RoDip

O EcoDryScrubber, um processo para a deposição do “overspray” livre de água e de química. Esta tecnologia reduz os custos de energia de toda a planta de pintura em 30%

EcoBell3, a nova geração de atomizador da Dürr. Carregador externo de tintas à base de água, apropriado para a pintura interior e pintura exterior, assim como, para a pintura de para-choques

dução. Em outras palavras: com esta nova tecnologia não se for-ma lodo de tinta que tem que ser eliminado como resíduo perigoso, não há águas residuais para serem tratadas, nem tão pouco são ne-cessários produtos químicos para a coagulação. Considerando-se o balanço energético de toda planta de pintura, podem ser economiza-dos 30% do total de energia em-pregando-se a separação a seco. A cidade mencionada no início, com 50 000 habitantes, reduz-se agora para cerca de 34 000 consumido-res de energia.

As vantagens aqui breve-mente descritas já convenceram muitos usuários em todo o mun-do. Desde a introdução desta tecnologia, a Dürr já recebeu pe-didos de 30 linhas.

Assim, a aplicação de pintura propriamente dita oferece inúme-ras possibilidades para uma maior eficiência e economia de recursos – essencialmente importante, se for considerado a grande parcela dos custos de materiais no custo total da pintura do veículo. As-sim, com sistemas inovadores de troca de tinta, a perda de material pode ser reduzida a um mínimo absoluto. Expressando isso em números: em uma troca de tinta são perdidos por atomizador cer-ca de 45 ml de tinta. Isso já é um valor padrão relativamente bom. Com o inovador sistema de troca de tinta EcoLCC, esse valor pode ser reduzido para 10 ml. Com ele uma grande parte do material de pintura, que em outra situação tem que ser lavada e descartada, é usada no processo de pintura. Uma outra redução da perda de tinta pode ser alcançada pelo uso do EcoBell2 ICC. ICC significa “in-tegrated color changer” (trocador de tinta integrado). Conforme o nome diz, o trocador de tinta é embutido diretamente no atomi-zador. Para um máximo de seis cores “high-runner”, a perda de tinta é de só 4 ml! Menos é im-possível (figura 2).

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de potencial para o “reabastecimento” do atomi-zador, importante principalmente na pintura de para-choques. E, naturalmente, um desempenho nitidamente superior do atomizador.

Em conexão com o fino trocador de tintas EcoLCC e a nova e muito compacta bomba do-sadora de tinta da série nove, o EcoBell3 ofe-rece assim um sistema extremamente eficiente e compacto, mas também simples para todas as aplicações.

Onde se pode economizar mais ainda ener-gia em uma planta de pintura? Na tecnologia de secagem e no seu controle de poluição de ar. O design compacto do secador com uma zona de patamar de temperatura construída assimetrica-mente, a gestão de ar integrada e a recuperação de calor, juntamente com a nova e otimizada tecnologia do queimador TARCOM V da Dürr re-sultam nos outros 15%. O queimador TARCOM V, que serve fundamentalmente para todos os sistemas, foi elaborado de tal forma, que pode ser instalado em plantas já existentes.

Não é suficiente desenvolver uma tecnologia que economize energia e que proteja o meio am-biente: é necessário também saber aplicá-la cor-retamente. Para isso, a Dürr ampliou seu sistema de controle EcoEMOS com um componente inte-ressante – o módulo de software EcoEMOS Energy. Esta ferramenta permite o registro e a avaliação dos valores de consumo de forma seletiva. Assim, pontos individuais de consumo podem ser otimiza-dos e os supérfluos podem ser identificados e eli-minados. Em combinação com o modelo de tempo de trabalho consignado em EcoEMOS, uma redu-ção sistemática e automatizada dos consumidores pode ser facilmente realizada em tempos livres de produção. Com este novo módulo a Dürr, com sua longa experiência em soluções, oferece possibilida-des muito práticas para que o funcionamento das

instalações ocorra consumindo-se a energia cons-cientemente e protegendo-se o meio ambiente, em uma área onde o consumo de energia é muito alto.

Em novas plantas de pintura, os chamados Greenfield-Projekten, certamente é mais fácil realizar planos que visem o uso coerente e efi-ciente de energia e de recursos.

No entanto, especialmente as antigas plan-tas oferecem grandes potenciais de otimização. Para isso a Dürr oferece uma avaliação, que é realizada por especialistas credenciados, com muitos anos de experiência e um amplo know-how de processo.

As avaliações podem ser adaptadas aos mais diferentes aspectos. De acordo com o de-sejo do cliente a atenção pode ser focada na eficiência energética e de material, nas adap-tações da capacidade, no aumento da disponi-bilidade, na implementação ideal de requisitos legais ou na melhoria da qualidade. Assim, com investimentos calculáveis, uma instalação de pintura já existente pode ser colocada de novo em plena forma.

Uma planta de pintura é um setor da pro-dução que mais consome energia. Com o “Green Paintshop” a Dürr oferece um novo conceito de produção, com o qual é possível um funciona-mento da instalação mais eficiente e ecologi-camente mais correto. Como “efeito colateral” positivo pode-se economizar custos considerá-veis, uma quantia de dezenas de milhões, sobre o modelo de tempo de ciclo de sete anos em uma planta de pintura com 150 000 unidades por ano. Não há razão, portanto, para adiar a execução. Então, mãos à obra!

* Pavel Svejda é engenheiro mecânico, doutor em tec-nologia de produção pela Universidade de Stuttgard, Alemanha, Key Account Manager da Dürr Systems GmbH para a BMW e para a Magna desde 1996

Purificação térmica de ar com o novo queimador TARCOM V. Baixo nível de temperatura, trocador de calor ajustável para melhores valores de gás limpo, melhor distribuição de temperatura na câmara de combustão

Figura 2 - A despesa com material é a maior parte dos custos unitários na área do primer e da pintura. Aqui se considera um veículo de classe média com 150 000 unidades por ano

Figura 1 - No consumo de energia durante a produção de um veículo a planta de pintura é o setor que mais consome energia

Uma outra inovação no campo da tecnolo-gia de aplicação é o novo EcoBell3.

Com este atomizador rotativo conseguiu-se pela primeira vez construir o carregador externo tão compacto que é possível, com ele, efetuar-se a pintura interior de veículos. A grande vantagem disso: uma nítida redução da complexidade do sistema de aplicação com tinta à base de água. Sistemas de separação de potencial podem ser dispensados. O EcoBell3 oferece mais ainda. Pin-tura exterior e interior com o mesmo atomizador e, portanto, novas possibilidades na elaboração do layout da planta de pintura; pintura simples e contínua, sem as frequentes e necessárias in-terrupções exigidas pelos sistemas de separação

Registro nítido de dados de consumo com EcoEMOS

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de potencial para o “reabastecimento” do atomi-zador, importante principalmente na pintura de para-choques. E, naturalmente, um desempenho nitidamente superior do atomizador.

Em conexão com o fino trocador de tintas EcoLCC e a nova e muito compacta bomba do-sadora de tinta da série nove, o EcoBell3 ofe-rece assim um sistema extremamente eficiente e compacto, mas também simples para todas as aplicações.

Onde se pode economizar mais ainda ener-gia em uma planta de pintura? Na tecnologia de secagem e no seu controle de poluição de ar. O design compacto do secador com uma zona de patamar de temperatura construída assimetrica-mente, a gestão de ar integrada e a recuperação de calor, juntamente com a nova e otimizada tecnologia do queimador TARCOM V da Dürr re-sultam nos outros 15%. O queimador TARCOM V, que serve fundamentalmente para todos os sistemas, foi elaborado de tal forma, que pode ser instalado em plantas já existentes.

Não é suficiente desenvolver uma tecnologia que economize energia e que proteja o meio am-biente: é necessário também saber aplicá-la cor-retamente. Para isso, a Dürr ampliou seu sistema de controle EcoEMOS com um componente inte-ressante – o módulo de software EcoEMOS Energy. Esta ferramenta permite o registro e a avaliação dos valores de consumo de forma seletiva. Assim, pontos individuais de consumo podem ser otimiza-dos e os supérfluos podem ser identificados e eli-minados. Em combinação com o modelo de tempo de trabalho consignado em EcoEMOS, uma redu-ção sistemática e automatizada dos consumidores pode ser facilmente realizada em tempos livres de produção. Com este novo módulo a Dürr, com sua longa experiência em soluções, oferece possibilida-des muito práticas para que o funcionamento das

instalações ocorra consumindo-se a energia cons-cientemente e protegendo-se o meio ambiente, em uma área onde o consumo de energia é muito alto.

Em novas plantas de pintura, os chamados Greenfield-Projekten, certamente é mais fácil realizar planos que visem o uso coerente e efi-ciente de energia e de recursos.

No entanto, especialmente as antigas plan-tas oferecem grandes potenciais de otimização. Para isso a Dürr oferece uma avaliação, que é realizada por especialistas credenciados, com muitos anos de experiência e um amplo know-how de processo.

As avaliações podem ser adaptadas aos mais diferentes aspectos. De acordo com o de-sejo do cliente a atenção pode ser focada na eficiência energética e de material, nas adap-tações da capacidade, no aumento da disponi-bilidade, na implementação ideal de requisitos legais ou na melhoria da qualidade. Assim, com investimentos calculáveis, uma instalação de pintura já existente pode ser colocada de novo em plena forma.

Uma planta de pintura é um setor da pro-dução que mais consome energia. Com o “Green Paintshop” a Dürr oferece um novo conceito de produção, com o qual é possível um funciona-mento da instalação mais eficiente e ecologi-camente mais correto. Como “efeito colateral” positivo pode-se economizar custos considerá-veis, uma quantia de dezenas de milhões, sobre o modelo de tempo de ciclo de sete anos em uma planta de pintura com 150 000 unidades por ano. Não há razão, portanto, para adiar a execução. Então, mãos à obra!

* Pavel Svejda é engenheiro mecânico, doutor em tec-nologia de produção pela Universidade de Stuttgard, Alemanha, Key Account Manager da Dürr Systems GmbH para a BMW e para a Magna desde 1996

Purificação térmica de ar com o novo queimador TARCOM V. Baixo nível de temperatura, trocador de calor ajustável para melhores valores de gás limpo, melhor distribuição de temperatura na câmara de combustão

Figura 2 - A despesa com material é a maior parte dos custos unitários na área do primer e da pintura. Aqui se considera um veículo de classe média com 150 000 unidades por ano

Figura 1 - No consumo de energia durante a produção de um veículo a planta de pintura é o setor que mais consome energia

Uma outra inovação no campo da tecnolo-gia de aplicação é o novo EcoBell3.

Com este atomizador rotativo conseguiu-se pela primeira vez construir o carregador externo tão compacto que é possível, com ele, efetuar-se a pintura interior de veículos. A grande vantagem disso: uma nítida redução da complexidade do sistema de aplicação com tinta à base de água. Sistemas de separação de potencial podem ser dispensados. O EcoBell3 oferece mais ainda. Pin-tura exterior e interior com o mesmo atomizador e, portanto, novas possibilidades na elaboração do layout da planta de pintura; pintura simples e contínua, sem as frequentes e necessárias in-terrupções exigidas pelos sistemas de separação

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figura 1 ilustra um teste de laboratório em que a diferença de potencial (V4) foi

medida na extremidade de um cabo de sinal si-tuado no interior de um tubo metálico. O valor de (V4) é o chamado ruído de modo comum, apli-cado no cabo, que pode eventualmente queimar os dispositivos terminais ligados ao cabo.

É muito simples o cálculo de (V4), utilizando o circuito equivalente mostrado na figura1, ba-seado na Teoria de Circuitos. Usando essa meto-dologia, é desnecessário o complexo cálculo dos campos elétrico e magnético e a interação dos mesmos, usando cálculo vetorial, como é feito na Teoria Eletromagnética. Outra vantagem é que os cálculos são unívocos e não dependem da escolha de caminho de integração escolhidos pelo calculista.

As impedâncias próprias e mútuas mostra-das na figura1 foram calculadas de maneira sim-ples e unívoca, usando a Lei Circuital de Ampère, conforme descrito na Ref. [4], artigo publicado no IEEE em novembro de 2009.

A EVOLUÇÃO DA METODOLOGIA DECÁLCULO DAS TENSÕES INDUZIDAS

1) Em 1873 o cientista escocês James Clerk Max-well (1831-1879) – ver figura 2 – publicou o livro A Treatise on Electricity & Magnetism, (Ref. [1]) com cerca de 1 000 páginas, em dois volumes, dividido em quatro partes, com um total de 56 capítulos, como segue: Medições, Parte I – Ele-trostática (13 capítulos); Parte II – Eletrocinemá-tica (12 capítulos); Parte III - Magnetismo (oito capítulos); Parte IV - Eletromagnetismo (23 ca-pítulos).

As chamadas Equações de Maxwell foram apresentadas apenas no capítulo XX da Parte IV, com 19 páginas, independente do resto do livro. O título do capítulo é “Electromagnetic Theory of Light”, e explica como a luz pode propagar-se sem um condutor. Essas equações deram origem a indústria das telecomunicações sem fio, tal

CÁLCULO DA TENSÃO INDUZIDA

ASÉRGIO TOLEDO SOBRAL*

em um cabo eletrônico,no interior de um tubo metálico ou de um cabo blindado

como a conhecemos atualmente.2) Por volta de 1883 começou a utilização siste-mática da corrente alternada.3) Em 1887 o alemão naturalizado americano Karl August Rudolf Steinmetz, mais conhecido pelo pseudônimo de Charles Proteus Steinmetz (1865-1923) – ver figura3 – publicou o livro “Theory and Calculation of Alternating Current Phenomena” (Ref. [2]).

De toda a tecnologia eletromagnética dis-ponível na época, o livro teve a habilidade de escolher apenas o necessário e o suficiente para calcular, de uma maneira simples e precisa, to-dos os requisitos da nascente indústria elétrica de corrente alternada.

Os procedimentos correspondentes passa-ram a ser conhecidos como Teoria de Circuitos de Steinmetz, que é a linguagem básica da in-dústria elétrica.

À semelhança do que é mostrado na figura 1, os cálculos são feitos relacionando as corren-tes com quedas de tensão próprias e quedas de tensão induzidas, utilizando impedâncias pró-prias e mútuas, sem necessidade de calcular os campos elétricos e magnéticos correspondentes. Os cálculos são simples e unívocos evitando as integrações vetoriais ao longo de trajetos arbi-trados pelo calculista.

Steinmetz foi também um dos principais colaboradores e consultores da General Electric e um dos fundadores dos laboratórios de Sche-nectady, onde foi testada a Teoria das Ondas Trafegantes, destinada a estudar raios, chavea-mentos etc.4) Até 1934, o campo de utilização dessas três teorias complementares era claro e preciso: circuitos com fios (Teoria de Circuitos de Stein-metz); telecomunicações sem fio e física teórica (Teoria Eletromagnética baseada nas equações de Maxwell); raios, manobra, chaveamentos (Teoria das Ondas Trafegantes e aplicações espe-ciais da Teoria de Circuitos).

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figura 1 ilustra um teste de laboratório em que a diferença de potencial (V4) foi

medida na extremidade de um cabo de sinal si-tuado no interior de um tubo metálico. O valor de (V4) é o chamado ruído de modo comum, apli-cado no cabo, que pode eventualmente queimar os dispositivos terminais ligados ao cabo.

É muito simples o cálculo de (V4), utilizando o circuito equivalente mostrado na figura1, ba-seado na Teoria de Circuitos. Usando essa meto-dologia, é desnecessário o complexo cálculo dos campos elétrico e magnético e a interação dos mesmos, usando cálculo vetorial, como é feito na Teoria Eletromagnética. Outra vantagem é que os cálculos são unívocos e não dependem da escolha de caminho de integração escolhidos pelo calculista.

As impedâncias próprias e mútuas mostra-das na figura1 foram calculadas de maneira sim-ples e unívoca, usando a Lei Circuital de Ampère, conforme descrito na Ref. [4], artigo publicado no IEEE em novembro de 2009.

A EVOLUÇÃO DA METODOLOGIA DECÁLCULO DAS TENSÕES INDUZIDAS

1) Em 1873 o cientista escocês James Clerk Max-well (1831-1879) – ver figura 2 – publicou o livro A Treatise on Electricity & Magnetism, (Ref. [1]) com cerca de 1 000 páginas, em dois volumes, dividido em quatro partes, com um total de 56 capítulos, como segue: Medições, Parte I – Ele-trostática (13 capítulos); Parte II – Eletrocinemá-tica (12 capítulos); Parte III - Magnetismo (oito capítulos); Parte IV - Eletromagnetismo (23 ca-pítulos).

As chamadas Equações de Maxwell foram apresentadas apenas no capítulo XX da Parte IV, com 19 páginas, independente do resto do livro. O título do capítulo é “Electromagnetic Theory of Light”, e explica como a luz pode propagar-se sem um condutor. Essas equações deram origem a indústria das telecomunicações sem fio, tal

CÁLCULO DA TENSÃO INDUZIDA

ASÉRGIO TOLEDO SOBRAL*

em um cabo eletrônico,no interior de um tubo metálico ou de um cabo blindado

como a conhecemos atualmente.2) Por volta de 1883 começou a utilização siste-mática da corrente alternada.3) Em 1887 o alemão naturalizado americano Karl August Rudolf Steinmetz, mais conhecido pelo pseudônimo de Charles Proteus Steinmetz (1865-1923) – ver figura3 – publicou o livro “Theory and Calculation of Alternating Current Phenomena” (Ref. [2]).

De toda a tecnologia eletromagnética dis-ponível na época, o livro teve a habilidade de escolher apenas o necessário e o suficiente para calcular, de uma maneira simples e precisa, to-dos os requisitos da nascente indústria elétrica de corrente alternada.

Os procedimentos correspondentes passa-ram a ser conhecidos como Teoria de Circuitos de Steinmetz, que é a linguagem básica da in-dústria elétrica.

À semelhança do que é mostrado na figura 1, os cálculos são feitos relacionando as corren-tes com quedas de tensão próprias e quedas de tensão induzidas, utilizando impedâncias pró-prias e mútuas, sem necessidade de calcular os campos elétricos e magnéticos correspondentes. Os cálculos são simples e unívocos evitando as integrações vetoriais ao longo de trajetos arbi-trados pelo calculista.

Steinmetz foi também um dos principais colaboradores e consultores da General Electric e um dos fundadores dos laboratórios de Sche-nectady, onde foi testada a Teoria das Ondas Trafegantes, destinada a estudar raios, chavea-mentos etc.4) Até 1934, o campo de utilização dessas três teorias complementares era claro e preciso: circuitos com fios (Teoria de Circuitos de Stein-metz); telecomunicações sem fio e física teórica (Teoria Eletromagnética baseada nas equações de Maxwell); raios, manobra, chaveamentos (Teoria das Ondas Trafegantes e aplicações espe-ciais da Teoria de Circuitos).

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5) Em 1934 Sergei Alexander Schelkunoff (1897-1992), russo radicado nos Estados Unidos, intro-duziu uma metodologia complexa (ver Ref. [3]), para calcular um caso particular de circuitos com fios, utilizando as equações de Maxwell, embora o caso pudesse ser calculado com muito mais facilidade pela Teoria de Circuitos de Steinmetz. 6) A partir de 1934, alguns engenheiros eletrô-nicos e professores de eletromagnetismo, moti-vados pelo “sucesso” de Schelkunoff, passaram a utilizar equações de Maxwell para resolver os circuitos com fios da indústria elétrica, utilização não prevista nem autorizada pelo mestre escocês.

Essa utilização pode criar resultados dife-rentes da realidade – Ref. [4].

VANTAGENS DA TEORIA DE CIRCUITOS SOBRE A TEORIA ELETROMAGNÉTICA, PARA

CIRCUITOS DE CORRENTE ALTERNADA1) As grandezas principais, de maior interesse na indústria elétrica são as seguintes (ver figura 4):- Corrente elétrica (I) (em ampères).- Potencial de um ponto (1) para a terra (V1), (em Volts).- “Diferença de potencial própria” (V2-V1), (em Volts), entre dois pontos (1) e (2) de um condutor (A), abreviada geralmente para “d.d.p. própria”. Essa “d.d.p. própria” é causada pela circulação da corrente (I) ao longo do próprio condutor.- “Diferença de potencial induzida” (V4-V3), (em Volts), entre os pontos (3) e (4) de um segundo condutor próximo (B), (em Volts). Essa d.d.p. in-duzida é causada pela circulação da corrente (I) no condutor (A).

Essas são as grandezas principais que afe-tam os projetistas e usuários de um sistema elétrico de geração, transmissão, distribuição e instalações prediais em corrente alternada.2) Grandezas complementares: há ainda a consi-derar grandezas complementares, denominadas campos, que são modificações que ocorrem no espaço, no entorno dos condutores:- Campo magnético (H), associado a corrente elétrica (I).- Campo elétrico (E), associado a d.d.p. (V2-V1).

Na prática da indústria elétrica, só é ne-cessário calcular os campos para verificar se os mesmos ultrapassam valores limites capazes de afetar seres vivos.3) As grandezas principais tem uma variação senoidal, que pode ser representada por vetores girantes.

A corrente (I) tem um valor variável ao longo do tempo, formando uma curva chamada senoi-de (ver figura 5). Para exemplificar, suponha-se que seu valor máximo seja 15,0 ampères.

Pode-se considerar que cada ponto dessa senoide corresponde a uma projeção no eixo dos X da extremidade de um vetor girante, de módu-lo 15,0 ampères, que gira 60 vezes por segundo. A posição do vetor descrevente de (I) na figura 4 é considerada o ângulo inicial, isto é tem-se (I) = 15,0 com ângulo 00, ou seja, (I) = 15,0 /00

4) As grandezas principais são relacionadas en-tre si por operadores simples chamados Impe-dâncias Próprias e Mútuas.A Teoria de Circuitos mostra que (ver figura 4): (V2-V1) = (I). (Z12)(V4-V3) = (I). (ZAB)- Vetor que descreve a senoide da “d.d.p. própria” (V2-V1).

É obtido aplicando-se um operador (Z12) ao vetor que descreve a senoide de corrente (I). Esse operador é chamado Impedância Própria (Z12), em ohms, entre os pontos (1-2) do con-dutor (A).

Suponha-se que tenha o valor: (Z12) = 10,9 /700 ohms.

O operador tem duas funções: - multiplica o módulo do vetor a que é aplicado;- soma o seu ângulo ao ângulo do vetor a que é aplicado.Logo: (V2-V1) = (15,0/00) . (10,9 /700) = (15,0 x 10,9) /00+700 = 163,5/700 Volts- O vetor que descreve a senoide da “d.d.p. induzida” (V4-V3).

É obtido aplicando-se um operador (ZAB) ao vetor que descreve a senoide de corrente (I). Esse operador é chamado Impedância Mútua (ZAB), em ohms, entre o trecho (1-2) do condutor (A) e os pontos (3-4) do condutor (B).

Suponhamos que tenha o valor: (ZAB) = 5,3 /900 ohms.

Figura 1 - Redução da tensão induzida no condutor no interior de um tubo metálico bi-aterrado, devido ao efeito da corrente autoneutralizada (IR)

Figura 2 - James Clerk Maxwell, o pai da indústria de telecomunicações sem fio

Figura 3 - Charles Proteus Steinmetz (Karl August Rudolf Steinmetz), o pai da Indústria Elétrica de Corrente Alternada

Figura 4 - O condutor (B), chamado de “induzido”, ou “vítima”, está aterrado no ponto (3), o terminal (4) está aberto,mostra-se: Corrente (I). “Diferença de Potencial Própria” (V2-V1). “Diferença de Potencial Induzida” (V4-V3 =I.ZAB)

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tiva própria)], em ohms. 3,73 é a resistência do condutor (A) entre os pontos (1-2), em ohms.10,24 é a reatância indutiva entre os pontos (1-2) do condutor (A), em ohms. A determinação des-se valor é feita de uma forma simples e unívoca, com base apenas na distância entre o condutor (A) e o condutor de retorno, mostrado na Figura 3. Para isso utiliza-se a Lei Circuital de Ampère, como detalhadamente descrito na Ref. [4]. 6) Determinação Simples e Unívoca da Impedân-cia Mútua entre os trechos (1-2) do condutor (A) e os trechos (3-4) do condutor (B).

(ZAB) = 5,3/900 = (5,3 cos 900 + j5,3 sen 900) = (0,0 + j5,3) em ohms.(5,3 /900) = (módulo /ângulo) em ohms.(0,0 + j5,3) = [0,0 + j (reatância indutiva mútua)], em ohms. 5,3 é a reatância in-dutiva mútua entre os trechos (1-2) do con-dutor A e os trechos (3-4) do condutor (B), em ohms. A deter-minação desse valor se faz de uma forma

Logo: (V3-V4) = (15,0/00) . (5,3 /900) = (15,0 x 5,3) /00+900 = 79,5/900 Volts.5) Determinação simples e unívoca da Impedân-cia Própria de cada trecho do circuito.

O operador (Z12) é a impedância própria do condutor (A), entre os pontos (1) e (2): (Z12) = (10,9/700) = (10,9cos700 + j10,9 sen 700) = (3,73 + j10,24 ), em ohms.

O operador Impedância Própria (Z12) é um número complexo que tem duas formas equiva-lentes de representação:(10,9/700) = (módulo /ângulo), em ohms.(3,73 +j 10,24) = [resistência + j (reatância indu-

simples e unívoca, com base apenas na distância entre os condutores (A) e (B) e o condutor de re-torno, utilizando a Lei Circuital de Ampère, como mostrado na Ref. [4].

PROBLEMAS CAUSADOS PELO USO DATEORIA ELETROMAGNÉTICA PARA

CIRCUITOS METÁLICOS1) O nível de complexidade dos cálculos é muito maior, conseguindo entretanto menor precisão.- Quando se utiliza a Teoria Eletromagnética, parte-se dos valores de corrente e potencial re-ais em alguns pontos do circuito.- Calcula-se então os valores de campos elétricos e magnéticos que existem no espaço, ao longo de todos os condutores do circuito, o que frequen-temente é muito trabalhoso e sujeito a enganos.- Escolhem-se caminhos de integração dos cam-pos ao longo do circuito que permitem determi-nar os valores de corrente e tensão desejados.

“Dependendo dos caminhos de integração escolhidos, pode-se chegar a resultados bastan-te diferentes entre si”. Ao invés de um procedi-mento padronizado que utiliza simplesmente a álgebra de números complexos usada na Teoria de Circuitos, a Teoria Eletromagnética determina as interações de campos elétricos e magnéticos usando operadores do cálculo vetorial (Diver-gente, Rotacional etc.).2) Problemas introduzidos pelo uso de uma das equações de Maxwell, que é específica para transmissão sem condutor.

Uma das equações de Maxwell considera que o campo elétrico e o campo magnético se anulam simultaneamente, o que ocorre sempre na transmissão sem condutor, como na luz e nas telecomunicações (ver figura 6).

Na transmissão com fio, os campos elétricos e magnéticos, têm correspondência com as se-noides da d.d.p. e da corrente respectivamente. Essas senoides geralmente não passam por zero ao mesmo tempo, como pode ser visto na figura 5. Essa simultaneidade só ocorre nos circuitos puramente resistivos, onde tem-se (Z12 = r+j 0,0 = r/00). Há ainda a considerar o caso da corrente “autoneutralizada” analisada no item a seguir. Nesse caso a d.d.p. é sempre nula enquanto a corrente varia senoidalmente.3) A Corrente Autoneutralizada.

A figura 7 é semelhante à figura 4, porém con-sidera que o ponto 3 e o ponto 4 estão aterrados.

Assim sendo os pontos 3 e 4 tem que ter potencial zero. Entretanto, tem que haver simul-taneamente um acréscimo de potencial igual a (I.ZAB), ao longo do trecho (3-4), o que parece contraditório.

Figura 6 - Na transmissão da luz e das telecomunicações sem fio os campos elétricos e magnéticos se anulam ao mesmo tempo

Figura 5 - Mostra 3 senoides: corrente (I), “d.d.p. própria” (V2-V1) e “d.d.p. induzida” (V4-V3). Mostra ainda os “vetores descreventes” correspondentes, que ao girar 60 vezes por segundo, criam cada ponto das 3 senoides

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tiva própria)], em ohms. 3,73 é a resistência do condutor (A) entre os pontos (1-2), em ohms.10,24 é a reatância indutiva entre os pontos (1-2) do condutor (A), em ohms. A determinação des-se valor é feita de uma forma simples e unívoca, com base apenas na distância entre o condutor (A) e o condutor de retorno, mostrado na Figura 3. Para isso utiliza-se a Lei Circuital de Ampère, como detalhadamente descrito na Ref. [4]. 6) Determinação Simples e Unívoca da Impedân-cia Mútua entre os trechos (1-2) do condutor (A) e os trechos (3-4) do condutor (B).

(ZAB) = 5,3/900 = (5,3 cos 900 + j5,3 sen 900) = (0,0 + j5,3) em ohms.(5,3 /900) = (módulo /ângulo) em ohms.(0,0 + j5,3) = [0,0 + j (reatância indutiva mútua)], em ohms. 5,3 é a reatância in-dutiva mútua entre os trechos (1-2) do con-dutor A e os trechos (3-4) do condutor (B), em ohms. A deter-minação desse valor se faz de uma forma

Logo: (V3-V4) = (15,0/00) . (5,3 /900) = (15,0 x 5,3) /00+900 = 79,5/900 Volts.5) Determinação simples e unívoca da Impedân-cia Própria de cada trecho do circuito.

O operador (Z12) é a impedância própria do condutor (A), entre os pontos (1) e (2): (Z12) = (10,9/700) = (10,9cos700 + j10,9 sen 700) = (3,73 + j10,24 ), em ohms.

O operador Impedância Própria (Z12) é um número complexo que tem duas formas equiva-lentes de representação:(10,9/700) = (módulo /ângulo), em ohms.(3,73 +j 10,24) = [resistência + j (reatância indu-

simples e unívoca, com base apenas na distância entre os condutores (A) e (B) e o condutor de re-torno, utilizando a Lei Circuital de Ampère, como mostrado na Ref. [4].

PROBLEMAS CAUSADOS PELO USO DATEORIA ELETROMAGNÉTICA PARA

CIRCUITOS METÁLICOS1) O nível de complexidade dos cálculos é muito maior, conseguindo entretanto menor precisão.- Quando se utiliza a Teoria Eletromagnética, parte-se dos valores de corrente e potencial re-ais em alguns pontos do circuito.- Calcula-se então os valores de campos elétricos e magnéticos que existem no espaço, ao longo de todos os condutores do circuito, o que frequen-temente é muito trabalhoso e sujeito a enganos.- Escolhem-se caminhos de integração dos cam-pos ao longo do circuito que permitem determi-nar os valores de corrente e tensão desejados.

“Dependendo dos caminhos de integração escolhidos, pode-se chegar a resultados bastan-te diferentes entre si”. Ao invés de um procedi-mento padronizado que utiliza simplesmente a álgebra de números complexos usada na Teoria de Circuitos, a Teoria Eletromagnética determina as interações de campos elétricos e magnéticos usando operadores do cálculo vetorial (Diver-gente, Rotacional etc.).2) Problemas introduzidos pelo uso de uma das equações de Maxwell, que é específica para transmissão sem condutor.

Uma das equações de Maxwell considera que o campo elétrico e o campo magnético se anulam simultaneamente, o que ocorre sempre na transmissão sem condutor, como na luz e nas telecomunicações (ver figura 6).

Na transmissão com fio, os campos elétricos e magnéticos, têm correspondência com as se-noides da d.d.p. e da corrente respectivamente. Essas senoides geralmente não passam por zero ao mesmo tempo, como pode ser visto na figura 5. Essa simultaneidade só ocorre nos circuitos puramente resistivos, onde tem-se (Z12 = r+j 0,0 = r/00). Há ainda a considerar o caso da corrente “autoneutralizada” analisada no item a seguir. Nesse caso a d.d.p. é sempre nula enquanto a corrente varia senoidalmente.3) A Corrente Autoneutralizada.

A figura 7 é semelhante à figura 4, porém con-sidera que o ponto 3 e o ponto 4 estão aterrados.

Assim sendo os pontos 3 e 4 tem que ter potencial zero. Entretanto, tem que haver simul-taneamente um acréscimo de potencial igual a (I.ZAB), ao longo do trecho (3-4), o que parece contraditório.

Figura 6 - Na transmissão da luz e das telecomunicações sem fio os campos elétricos e magnéticos se anulam ao mesmo tempo

Figura 5 - Mostra 3 senoides: corrente (I), “d.d.p. própria” (V2-V1) e “d.d.p. induzida” (V4-V3). Mostra ainda os “vetores descreventes” correspondentes, que ao girar 60 vezes por segundo, criam cada ponto das 3 senoides

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Para contornar a aparente contradição, a natureza faz com que uma corrente (IR) circule de (4) para (3), na impedância (Z34) do trecho, criando uma queda de tensão (IR.Z34) que com-pensa exatamente a tensão induzida (I.ZAB), evi-tando o paradoxo: (IR.Z34) = -(I.ZAB)Logo: (IR) = -I.(ZAB / (Z34), em ampères.A corrente (IR) circula em um circuito (3-4), que tem potencial nulo em todos os seus pontos.

Em termos de Teoria de Circuitos, a Corrente Autoneutralizada é uma consequência natural, pois decorre da aplicação de uma fonte de tensão (I.ZAB), em um circuito (3-4), fechado pela terra. Em 1976 Endrenyi demonstrou que essa corrente era uma mera aplicação do Teorema de Norton.

O conceito de Corrente Autoneutralizada deu origem ao Método Desacoplado, desen-volvido pelo autor em 1987, juntamente com o profº Dinkar Mukhedkar, da Ecole Politechnique de Montreal (ver Ref. [5]). O autor publicou no IEEE outros sete artigos sobre o assunto.

O Método Desacoplado foi utilizado para o cálculo do sistema de aterramento da subestação da margem direita de Itaipu. Os resultados foram confirmados por meio de medições de campo, re-latadas em artigo publicado no IEEE (ver Ref. [6]).

O autor do presente artigo desenvolveu, há cerca de 23 anos, o programa DECOP, baseado no Método Desacoplado. Foi o primeiro pro-grama brasileiro desenvolvido para o cálculo de interferências de linhas de transmissão com gasodutos e oleodutos. O programa foi ampla-mente utilizado em estudos para a maioria das Concessionárias do Brasil.

A Ref. [4] mostra que no caso das linhas de

transmissão com cabos para-raios CAA o valor da corrente de retor-no que não contribui para queda de tensão ao longo do cabo pode chegar a 64% da corrente de cur-to-circuito circulando nas fases. No caso de cabos de potência com blindagens aterradas nas malhas terminais esse valor pode chegar a 99,5%. Assim sendo, se a corrente autoneutralizada não for adequa-damente considerada, o erro que se comete pode ser intolerável.

DESCONHECIMENTO DOCONCEITO DE CORRENTE

AUTONEUTRALIZADAApesar de mais de 25 anos de

utilização, divulgação internacio-nal e comprovações de campo e de laboratório, uma porcentagem

considerável de engenheiros eletrônicos igno-ram a existência da corrente autoneutralizada, que pode ser medida em um teste de bancada, como mostrado na figura 7. É um teste tão sim-ples que pode ser feito numa garagem.

DIFICULDADES DA TEORIAELETROMAGNÉTICA COM O

CÁLCULO DE TENSÕES INDUZIDASA figura 1 mostra que o valor medido

em laboratório é idêntico ao valor calcula-do, conforme artigo do IEEE, de novembro de 2009, Ref. [4] .

Até agora não é do nosso conhecimento que se tenha conseguido calcular o valor de (V4) utilizando Teoria Eletromagnética. O problema

parece estar novamente ligado a utilização de equações de Maxwell para condições diferentes das autorizadas pelo mestre escocês. Mesmo que venha a ser conseguido, a metodologia de cálculo necessária será certamente muito mais complexa do que a mostrada na figura 1.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕESRecomenda-se que todos os cálculos e simu-

lações referentes a circuitos de corrente alternada sejam feitos utilizando Teoria de Circuitos.

Os cursos básicos de engenharia, mestrado e doutorado, destinados a engenheiros eletricistas, têm dado uma ênfase demasiada à Teoria Eletro-magnética, em detrimento da Teoria de Circuito, que é a linguagem básica para esses profissionais.

A Teoria Eletromagnética deve ser a disciplina bá-sica dos cursos destinados a engenheiros eletrônicos.

AgradecimentoO autor tem um débito de gratidão com o

engº Armando Pereira dos Reis Miranda, que foi o primeiro a mostrar-lhe que as equações de Maxwell estavam sendo utilizadas de uma ma-neira não autorizada por Maxwell.

* Sérgio Toledo Sobral é engenheiro eletricista pela PUC-Rio. Trabalhou nas áreas de estudos e proteção de Furnas e da Light; foi chefe do Departamento de Estudos e depois diretor de Projetos Elétricos da IESA; foi consultor especial do Projeto Itaipu; criou e implantou critérios de projeto de aterramento e compatibilidade eletromagnética para quatro importantes concessionárias (Furnas, Copel, Escelsa e Enersul); desenvolveu um plano de desenvolvimento de tecnologia de aterramento com o profº Dinkar Mukhedkar da Ecole Politechnique de Montreal; e fez estudos de interferências de linhas de transmissão com gasodutos e oleodutos para a maioria das concessionárias do BrasilE-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] MAXWELL, JAMES C. - “A Treatise on Electricity & Magnetism”.[2] STEINMETZ, CHARLES PROTEUS - “Theory and Calculation of Alternating Current Phenomena”. W.J. Johnston Co. NY, 1898 (book).[3] SCHELKUNOFF, SERGEI A. - “The electromagne-tic theory of coaxial transmission lines and cylindrical shields”. Bell System Technical Journal, vol. 13, 1934, pg. 532-579.[4] SOBRAL, SÉRGIO TOLEDO (ST&SC); PEIXOTO, CARLOS A. O.; AMON, JORGE F. TAVARES (FUR-NAS); MARTINS, GERALDO (UFF); IZYCKI, MAR-COS JOSÉ (FURNAS), RIGUEIRA, ALEXANDRE (UFF) - “Advantages of Steinmetz Circuit Theory Over Schelkunoff Transfer Impedance Theory”. IEEE Tran-sactions on Power Delivery, october 2009, volume 24,

number 4, ITPDE5 (ISSN 0885-8977), pp 1876-1882.[5] SOBRAL, SÉRGIO TOLEDO (IESA); FLEURY, VASCO; VILLALBA, JUAN R. (ITAIPU); MUKHE-DKAR, DINKAR (ECOLE POLYTECHNIQUE DE MONTREAL) - “Decoupled method for studying large interconnected ground systems using microcompu-ters – part I – fundamentals”. Trans. On Power Deli-very, vol. PWRD-3, n04, Oct. 1988, pp. 1536-1544.[6] SOBRAL, SÉRGIO TOLEDO (IESA); PEIXOTO, CARLOS A. O. (FURNAS); FERNANDES, DOUGLAS (FURNAS); MUKHEDKAR, DINKAR (ECOLE POLYTE-CHNIQUE DE MONTREAL) - “Grounding Measure-ments at Itaipu Generation Complex Using the Ex-tended Eleck Method”. Trans. On Power Delivery, vol. PWRD-3, n04, Oct. 1988, pp. 1553-1563 (Este artigo foi incluído como referência no Standard IEEE-81).

Figura 7 - Mostra que um condutor bi-aterrado nos pontos (3) e (4), quando submetido a uma tensão induzida (I.ZAB) é percorrida por uma “corrente autoneutralizada” IR= - I.ZAB / Z34

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uantas vezes uma grande questão tem simples solução.A formação do consórcio construtor da Usina Hidrelétrica de

Itaipu confirma o aforismo: “ovo de Colombo”.Certo dia, já se vão 35 anos, recebo telefonema que, a julgar pelo

tom de quem me chamava, tratava-se de assunto urgente e de grande importância.– Você está com o passaporte em dia? Tem condições de viajar ainda hoje

para Paris?A minha resposta afirmativa, voltou rápido: – Prepare sua bagagem e os

documentos e venha para o escritório, o mais urgente que possa.Eram 5 horas da tarde, antes das 6 chego ao escritório e sou imediatamente

encaminhado para a sala de reuniões, onde estava já o alto comando da empresa, não só a diretoria completa, como também sua assessoria técnica em peso.

Incontinênti o diretor técnico, engenheiro de grande competência, toma a palavra e discorre sobre a concorrência de Itaipu. Desce a pormenores da licita-ção, fala sobre a documentação exigida, comprovantes de capacidade técnica, capital das concorrentes, chegando, finalmente, às propostas propriamente di-tas. Neste capítulo chega a minúcias, para concluir que a proposta mais barata e, portanto, credenciada à adjudicação do contrato, apresentava vícios insaná-veis que implicavam em sua desclassificação.

Toda a argumentação do diretor foi acompanhada da exibição de planilhas de preços e documentos de toda ordem, enfim peças que comprovariam suas alegações.

A licitação estava em fase de julgamento, havendo, pois, tempo – ainda que escasso – para interposição de recursos nessa fase do processo.

Ouvi toda exposição, aguardando impaciente para saber onde eu entrava em todo esse imbróglio.

Foi quando o presidente da empresa volta-se para mim e diz: – Como você bem pôde ver, temos absoluta razão em nos insurgir contra a possível, muito provável, contratação da obra, com a empreiteira que apresentou proposta, embora de menor preço, tão imperfeita, cheia de erros e contradições. Precisa-mos levar ao conhecimento de nosso advogado essas razões para que ele possa seguir na defesa de nossos legítimos interesses.

Acontece que ele está em Paris e só retornará ao Brasil daqui a duas semanas. Temos que lhe transmitir, de imediato, não só a documentação que pre-

paramos, como também a argumentação técnica necessária à apresentação do pleito.

Eis aí sua missão: levar a documentação e explicar, esclarecer ao advogado, professor de direito, todas as razões de nosso in-conformismo, dando ênfase, naturalmente ao aspecto técnico da questão. Daí a escolha do seu nome, engenheiro que é, para nos representar junto ao professor em Paris.

Você leva o dossiê e, durante a viagem, poderá melhor estudá-lo para o encontro, que terá, amanhã cedo em Paris, com o professor, ex-ministro.

Compreendi a importância da missão que me confiavam, pois se tratava da maior obra de construção pesada jamais licitada no país. Pensei também no direito da empresa em lutar, por todos os meios legítimos, e este era um deles, na defesa de seus interesses. Legal e eticamente a posição da empresa era correta.

Assim foi que, tudo ponderado, aceitei a missão e embarquei horas depois.

Não houve tempo para tratar de honorários. As relações pró-ximas e a confiança reinante entre as partes eram para mim su-ficientes para estar certo de que a empresa saberia bem retribuir o bom desempenho, ainda mais se a missão fosse bem-sucedida.

Consciente da situação, mergulhei no dossiê durante toda a viagem. Ao final, bem a par de seu conteúdo, pude tirar minhas conclusões.

E foram as que eu imaginara. Em que pesasse a justeza das observações e impugnações,

havia margem para virem a ser contestadas. Isto poderia causar

longa, interminável discussão, não só em fase adminis-trativa, como em possível disputa judicial.

A empresa, com menor preço, portanto provável vencedora poderia ser desclassificada, a licitação anulada etc. Mas isso não interessava a ninguém.

Meditei, pensei, e cheguei a uma conclusão.Já estava preparado para o encontro com o profes-

sor, ex-ministro, ex-governador!Chegado a Paris, hospedado no mesmo hotel do pro-

fessor, mal tomo um banho e já estou batendo na porta de seu apartamento.

A porta abre-se e uma simpática figura, me saúda. – Como vai menino? Estava à sua espera. Ao divisar os volumes que carregava, pergunta: –

Tudo isto é para mim, para eu ler? Sorrindo eu respondi: – Sim professor e estou aqui

para ajudar a destrinchá-lo.– Você já leu? – Sim, durante a viagem. Levei mais

de seis horas. – E o que você achou?– É o “jus sperneandi”, professor. Muito bem feito,

bem documentado. Vai dar uma boa briga.O professor: – Entendi, boa briga, de resultado in-

certo.O professor me deixava à vontade para continuar.

Pude acrescentar: – Professor, depois da leitura, me-ditando sobre o que li e as implicações que decorreriam de uma interminável disputa, e pensei: Por que obra tão grande, tão importante, não poderia ser dividida entre as concorrentes, organizadas em consórcio?

O bolo é suficientemente grande. – Todas ficariam sa-tisfeitas, todas ganhariam etc. etc. E segui, expondo todas as

razões que me haviam levado a tal conclusão. O que o senhor acha?O professor arregalou os olhos, calou-se um instante e disse: – Eureka.

Parabéns menino. Porque não pensei nisso antes? Está tudo resolvido.Faz-me um sinal e diz: – Espere um pouco.Pega o telefone e pede uma ligação para Brasília:Logo é atendido e, com seu sotaque carregado, diz: – É o ministro? Aqui é o professor. – Atenção, cuidado, está ligado o misturador? Sim? Então ouça: com relação à Itaipu, tive uma ideia esta noite... Porque não

dar a obra para as cinco concorrentes? Todas ficarão satisfeitas...E passa a desfilar todos os argumentos favoráveis que eu havia enume-

rado, minutos antes. Lembro que, na época, anos 1970, a ideia de consórcio não era cogitada entre as

empresas, ferozes concorrentes, nem prevista nos editais. Se atualmente a formação de consórcios é frequente e corriqueira, na ocasião seria uma grande novidade.

Voltando ao dialogo telefônico: – O ministro responde, fala alguns segun-dos e logo o professor retorna dizendo:

– Muito bem, ótimo, obrigado, enfim, ganho para pensar... sim, volto a tempo, um abraço, até a volta.

O professor desliga sorridente, esfrega as mãos, eufórico, e diz: – Ele me ouve sempre, e continua:

– Você e seu filho, que me disse estar morando aqui, são meus convidados para o almoço, e com champagne!

O resto da história é conhecido.O consórcio foi formado, Itaipu está aí operando.Todos ficaram satisfeitos! Ninguém perdeu! Todos ganharam!

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* Carlos Eduardo Mendes Gonçalves é engenheiro consultor, membro dos conselhos Deliberativo e Consultivo do Instituto de Engenharia

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(A origem da formação de consórcios de empresas para execução de obras públicas)

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MemóriaPOR CLÁUDIA GARRIDO REINA

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engenheiro eletricista José Walter Merlo, formado pela Escola Politécnica da USP, turma de 1962, iniciava sua carreira

na Companhia Hidroelétrica do Rio Pardo (Cherp), quando a empresa veio a se integrar à Cesp, no dia 5 de dezembro de 1966.

Na ocasião a Cesp era denominada Centrais Elétricas de São Paulo. Posteriormente continou sob a mesma sigla, porém por volta de 1978 passou a ser chamada Companhia Energética de São Paulo, para atuar em outros segmentos de energia e não só energia elétrica. Walter Merlo fez toda a sua carreira dentro da Cesp, chegando a vice-presidente executivo e presidente em exercício.

Ao ser constituída a Cesp, em 1966, foi convidado para assumir o Setor de Mon-tagens Eletromecânicas de toda a companhia. Aí já estavam incluídas as empresas que vieram a se fundir, juntamente com a Cherp, formando um conglomerado, a saber: Usinas Elétricas do Paranapanema (Uselpa), Centrais Elétricas de Urubupungá – Jupiá e Ilha Solteira (Celusa), Companhia de Melhoramento do Paraíba, do Paraibuna e Jaguari (Comepa), e a Bandeirante Eletricidade (Belsa), num total de cinco grandes empresas.

Na verdade, segundo Merlo, foram 11 empresas, já que uma parte delas era de segunda geração. Ou seja, já eram controladas por outras maiores. “Elas foram fundidas devido a razões técnicas, até políticas, para se fortalecer numa única empresa do Estado. A capacidade instalada era então de 540 MW. Em 1995, quando começaram as privatizações, isso estava em 12 000 MW.”

Essa enorme transformação teve suas raízes na década de 1950, período em que o Estado de São Paulo, incluindo a capital, apresentava sérios problemas de abastecimento de energia. O sistema era alimentado basicamente pela Light e pela Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) que não tinham condições de atender a demanda impulsionada pela crescente industrialização.

Era preciso desenhar um novo sistema, o que teve início no governo do professor Lucas Nogueira Garcez, de 1950 a 1954. Foi criado então o Programa de Eletrificação do Estado de São Paulo e instituída uma taxa de contribuição dos consumidores. “Esse programa, que ultrapassou o governo Garcez, prosseguindo pelos outros que o sucederam, consistia em fazer usinas hidrelétricas no Estado, a começar pelas do Rio Paranapanema, já em obras, como a de Salto Grande, que começou a ser construída in-clusive para eletrificar os trilhos da antiga Sorocabana, e outras na divisa com o Paraná”.

Segundo Merlo essas usinas foram depois absorvidas pela Uselpa, que incluía as de Salto Grande, Jurumirim, Chavantes e depois Capivara, até mais abaixo, com a usina de Rosana. “Sendo que paralelamente se desenvolvia mais uma área de atuação com outras empresas anexadas como a própria Cherp, voltada para as obras do Rio Pardo – Limoeiro, Euclides da Cunha e Graminha, já em construção.”

Também as obras do Vale do Tietê foram incorporadas. Segundo Merlo, o aproveitamento hidrelétrico – ou se se preferir, hidráulico – do Rio Tietê foi concebido mais ou menos nos moldes do Vale do Tennessee, nos Estados Unidos, com uso múltiplo, mediante a construção de eclusas, piscicultura etc.

A partir de então a Cesp deu continuidade a esse programa, concluindo o primeiro trecho da Hidrovia do Tietê com a inauguração de eclusas como as de Barra Bonita, Bariri e Ibitinga, permitindo navegação. Seguiu fazendo outras usinas, entre elas as de Promissão, Nova Avanhandava e também a de Três Irmãos e o canal de Pereira Barreto, o que permite a navegação do Tietê até o Rio Paraná.

Tudo isso resulta da filosofia de uma empresa que não visava somente investimento em geração de energia, explica Merlo. “A Cesp sempre gerou desen-volvimento. Onde ela chegava era para levar progresso: estradas, novas pontes,

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um cespiano da gemanavegação e aeroportos como os de Porto Primavera e de Jupiá, que comportavam até aterrissagem de Boeing, assim como o de Água Vermelha, este atualmente desativado. No de Ilha Solteira desciam jatinhos. O de Jupiá, mantido, chegou a ter linha regular da Vasp na época da construção de Ilha Solteira.”

Todos construídos dentro dos melhores padrões, a exemplo dos canteiros de obra, diz Merlo. “Nós fizemos, em Ilha Solteira, um acampamento com conceito de cidade – com cinema, teatro, clubes e um ótimo hospital. Na ocasião nos criticaram. Mas nunca tivemos problemas com greves, paradas ou motins. Mesmo porque, como terminar uma obra em tempo recorde de quatro anos, trabalhando dia e noite? Só se parava no Natal e Finados. Em 1973 já estava operando. O fato é que Ilha Solteira recebeu um patrimônio, um investimento que ficou para o país.”

Merlo valoriza a oportunidade de ter integrado uma organização modelo onde todos aprenderam muito, “uma verdadeira escola de engenharia, dentro de sua filo-sofia do melhor possível, não só na parte de engenharia mas também na de pessoal – armadores, carpinteiros, tecnólogos. Uma gente excelentemente treinada. Para se ter uma ideia, Ilha Solteira, no pico da sua construção, chegou a ter 18 000 trabalhadores”.

Merlo foi, inclusive, um dos responsáveis pela montagem do laboratório eletromecânico da Cesp, que dispunha também de um dos melhores laboratórios hidrelétricos do mundo, e uma escola de soldadores. “Contávamos também com o IPT, que sempre foi um grande parceiro da Cesp.”

De acordo com essa visão, continua Walter Merlo, alcançava-se aprendizado, gente dedicada e uma força de vontade muito grande. E, para saber se estava no rumo certo, a Cesp recorria a consultores internacionais, em busca do que havia de melhor. “Essa era a conduta – fazer com gente nossa, sob consultoria inter-nacional, adotando como norma básica não deixar acontecer o erro. Na verdade, nós engenheiros da Cesp, das empreiteiras e dos fornecedores, formávamos uma só unidade. E a Cesp, quase que uma paixão, reuniu trabalhadores de todos os rincões do Brasil, para vencer grandes desafios.”

Ele destaca ainda que a engenharia brasileira evoluiu muito naquele período, quando foram criadas empresas como a Themag, Hidroservice, Promon e outras, estendendo essa abrangência a toda uma cadeia produtiva.

Engenheiro da Cesp de 1963 a 1988, quando se aposentou, Walter Merlo se licenciou no período de 1975 a 1979, a convite do então prefeito Olavo Setúbal, para assumir a Diretoria de Obras da Emurb. A missão era fazer grandes obras para a Pre-feitura de São Paulo. No final de 1979 retorna à Cesp como vice-presidente executivo. Permanece nessa função até 1983, ocasião em que participou da compra da Light em São Paulo, que veio a constituir a Eletropaulo. Ainda em 1982, nesse período da formação da Eletropaulo – cujo primeiro presidente foi o professor Lucas Nogueira Garcez, que faleceu no exercício da função, um ano depois de tomar posse –, Merlo assume a presidência da empresa, que dirigiu de maio de 1982 a março de 1983.

Ao deixar a Eletropaulo, por indicação do professor Celestino Rodrigues, foi convidado para participar de um grupo de trabalho do Distrito Federal, encarregado de elaborar um programa de mobilização energética, em meio à crise do petróleo. Ficou algum tempo nessa função, quando foi convidado para a presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), função que exerceu por 22 meses, até março de 1985, final do governo do general João Baptista Figueiredo. Saiu para voltar à sua área, que era a Cesp. Foi também assessor da vice-presidência executiva da Comgás, e, mais uma vez, da diretoria financeira da Cesp, quando se aposentou. Hoje tem uma empresa de consultoria na área de energia, da qual é diretor.

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Por Ivan Carlos Regina*

esta coluna temos insistido que o vi-nho é um comple-mento alimentar,

riquíssimo em pro-priedades benéficas para a saúde, e que deve, portanto, ser servido à mesa na hora das refeições. Esta é uma abor-dagem mais tradicional, clássica, que encara o vinho essencialmente como um produto agrícola.Existe outra visão, muito mais moderna e lucrativa, que alinha o vinho entre os objetos de desejo da sociedade capitalis-ta: o vinho “fashion”.Vejamos que fenômeno é este.Diferentemente de qualquer outro ali-mento, o vinho é o único produto que tem uma espantosa diversidade de tipos e preços. Estes podem atingir, para a safra do ano (não raridades), a casa dos milhares de dólares. E rótulos de centenas de reais não são novidade para ninguém.Analisando o fenômeno pelo lado da fabricação, vemos que todos os custos de produção (cuidado com os vinhedos, enologia, envelhecimento, engarrafa-mento, lucros da cadeia de comercia-lização, transporte etc.), não poderiam exceder a 30 dólares, ou cerca de 50 reais.Há excedente vínico no mundo, ou seja, se produz mais do que se consome. Nor-malmente em seu local de produção o vi-nho é muito barato, quando verificamos seu preço médio.Podemos verificar que somente alguns vinhos são muito caros. Serão os melho-res? Não necessariamente. São simples-mente os mais procurados.Como engenheiro, confesso que tenho alguma dificuldade de entender alguns

princípios da moda. Duas calças jeans, com o mesmo pano e confeccionadas igualmente (ou com pequenas diferen-ças) deveriam custar aproximadamente o mesmo preço.Todos nós sabemos que a colocação de uma etiqueta no bolso traseiro de uma das calças pode multiplicar seu preço em várias vezes, embora sua qualidade se mantenha a mesma.O fato é claro: a calça com “griffe” é mais cara e, portanto, usada por menos gente – e consequentemente mais rara.O mesmo acontece no mundo dos vinhos.O Romanée Conti é o vinho mais fa-moso do mundo, feito num terreno do tamanho de um campo de futebol, que produz apenas 6 000 garrafas por ano. É um “monopole”, ou seja, uma região demarcada que pertence apenas a um dono. Sua oferta é limitada, e a procura estratosférica. Não há milionário recente ou presidente de republiqueta eleito que não queira bebê-lo como elemento de ostentação. Por isto seu preço de venda alcança verdadeiras fortunas. Não impor-ta que seus vizinhos adjacentes, que têm a mesma qualidade (ou quase), custem uma fração de seu valor. Todos que não entendem de vinho querem o melhor, não importa o preço.Por isto que sempre brinco que quem, não sendo milionário, quer beber bons vinhos, tem que estudar.Há algumas marcas que são fenômenos de mídia, e sua qualidade, embora alta, está muito aquém de seus preços.Poderia talvez citar o Château Petrus, o vinho mais caro do mundo (às vezes, o melhor, como definido por um jornalista especializado) e os Châteaus Valandraud

NO vinho

da moda

e Le Pin. Ainda mais curioso é o aconte-cido com o Château Le Puy, da modesta comuna de Bordeaux Côtes de Francs. Um bom vinho, mas sem nada de espe-cial, até a publicação de um mangá (gibi) japonês onde o protagonista escolhe este vinho como o melhor do mundo, num roteiro intitulado “As gotas de Deus”. Esta marca, depois disto, virou “cult”, e o produtor não dá conta de sua demanda oriental, com seu preço rivalizando com os vinhos mais caros do mundo.Algumas vezes a raridade vem da mínima produção, como é o caso da maioria dos grandes vinhos da Borgonha francesa.Como não podia deixar de ser, o vinho, enquanto fenômeno de marketing en-contra seu ponto mais destacado nos Estados Unidos.Alguns pequenos produtores se apro-veitaram do tamanho minúsculo de sua produção para transformarem-se em verdadeiros tesouros, disputados por enorme séquito de compradores que se cadastram na vinícola à espera de ao me-nos uma garrafa do precioso líquido. Eles constituem os chamados “cult wines”, como Araújo State, Kistler, Marcassin, Williams Selyem, Harlan State, Rochioli. O mais famoso de todos, o “Screaming Eagle”, é produzido por uma vinícola fantasma, pois não revela seu endere-ço, sendo o vinho ofertado pelo correio a seus adoradores. Isto não o impede de ser remetido pelo preço de venda de algumas centenas de dólares e logo depois ser revendido por mais de 1 000 dólares cada garrafa. Paradoxalmente, vinhos estrangeiros são muito baratos nos Estados Unidos.Recentemente, por indicação de um pequeno produtor de vinhos do Oregon, adquiri, na própria Califórnia, três garra-fas de vinhos californianos que, segundo ele, serão novos “cult wines”. Custavam em média 100 dólares cada um, en-quanto na prateleira do lado, repousava um Château Smith Haut Brion por uma

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fração desta cifra.Não são somente os vinhos que entram e saem de moda. Com as uvas, acontece o mesmo. Nos anos 60 do século passado, tivemos o “boom” da Cabernet Sauvig-non, ainda hoje a uva mais difundida do mundo todo. Em seguida os brancos da uva Chardonnay e os tintos da cepa Shirah (Shiraz).Nos anos 1990, foi a vez da Merlot. A febre desta uva foi de tão grande inten-sidade, que, numa capa famosa, a revista “Wine Spectator” colocou a gravura de uma esposa em lágrimas, com um balão onde ela dizia “Oh, ele está me traindo com a Merlot!”. Nos Estados Unidos, nomes franceses como Merlot e Margot podem ser confundidos, evidentemente...Depois, veio a moda da Pinot Noir, a uva que não se aclimata fora de seu torrão natal, a Borgonha. Milhões de dólares foram investidos para se fazer um vinho bom, desta variedade, fora da França, com escassos resultados.O já citado Selyem conta, talvez de brin-cadeira, ter se empregado na Domaine da Romanée Conti apenas para roubar, de noite, as varas (ramos verdes das parreiras que são podadas), que, pelo processo de estaquia, dariam origem a seu famoso parreiral de Pinot Noir. O fato é que depois de alguns anos produzindo vinhos razoáveis, a partir destas uvas, vendeu sua pequena propriedade por 6 milhões de dólares.A seguir, a Carmenére, uva trazida para o Chile pelos franceses, no século 19, que depois a esqueceram.Reencontrada nos parreirais, ela ficou na moda por alguns anos como uma espécie de “Indiana Jones” tropical.A explosão da Malbec argentina, como uma uva que dá origem a um vinho ho-mogêneo, de grande corpo e altos níveis de álcool e doçura, num perfil bastante apreciado pelos neófitos, em que pese sua marcante falta de acidez e equilíbrio.Dizem que a uva da vez é a Torrontés

argentina, cepa branca que pro-duz vinhos frescos e aromáticos, mas muito instáveis. Quando são bons lem-bram cítricos e florais, mas a maioria das vezes tem sabor a sabonete ou talco, não muito agradáveis.A última moda são os vinhos italianos produzidos na encosta do Etna, com as cepas autóctones Nerello Mascallese e Nerello Capuchio. Vinhos elegantes, com corpo médio e sabores bastante agradáveis.As combinações de vinhos com comida também tem seus modismos. Há algum repúdio, atualmente, às combinações clássicas, no meu entender injustificável.A alimentação do homem moderno, normalmente estressado e sedentário, passou a ser mais leve e os vinhos têm que acompanhar esta tendência.Não se pode confundir este fato com o desconhecimento básico sobre harmoni-zação de vinhos com alimentos.Não se podem quebrar as regras estabeleci-das sem um grande conhecimento de causa.A contestação é obra rara do sábio e fruto contumaz do ignorante. Muitas vezes, a arrogância preenche o espaço vazio deixado no cérebro pela ignorância.Há alguns anos, numa degustação que eu participava, o dono da importadora de vinhos bradava que “isto de harmonizar vinhos com comidas é tudo besteira, basta você comprar os melhores, pois os gran-des vinhos têm o poder de se harmonizar com qualquer prato”. Ou seja, ele tentava substituir o conhecimento pelo dinheiro.Em verdade vos digo que existe sempre um vinho certo para uma determinada preparação culinária, independentemen-te de seu preço.Desconfie dos modismos que dizem que “tudo combina com tudo”, ou que com-binar vinhos com comidas é preocupação de “enochatos”.A certa altura da tal degustação, levan-

tei-me indignado e bradei que o homem vinha estudando no mínimo há 7 000 anos a combi-nação dos vinhos, e que existia,

sem dúvida, uma história culinária (para não dizer gastronômica) da humanidade que precisaria ser respeitada.A higiene, a ordem dos pratos, as técnicas de cocção, a sinergia entre alimentos e a combinação de vinhos são conquistas seculares que jamais devemos abrir mão.Em uma espiral crescente de modismos, os países exportadores de vinho também têm suas fases.Os primeiros a se estabelecerem como potência na exportação (fora do eixo França-Itália), foram os australianos, em especial para os mercados norte-americano e inglês. Eles produziram vi-nhos frutados, agradáveis, com taninos ligeiros, que podiam ser bebidos logo depois da safra, e, com isto, passaram a ser grandes exportadores.Este modelo vencedor foi, porém, rapida-mente copiado por outros, em sucessão, como Chile, Nova Zelândia e Argentina.Poderíamos especular que o mercado consumidor acaba “cansando” de certo tipo de vinho, seja de uma determinada uva ou de um país.Especula-se que o próximo país a se tor-nar grande exportador será a África do Sul, país que tem várias regiões de pro-dução e várias castas já bem aclimatadas.Os vinhos, as uvas e os países produtores entram em cena, têm seu momento de glória e saem da ribalta.Isto é o que um filósofo chamaria de uma característica da modernidade. Talvez, apagados os holofotes, permaneçam os grandes vinhos de outrora ao lado de um punhado de novos com grande qua-lidade. Espero poder viver para degustar mais alguns deles...

*Ivan Carlos Regina é engenheiro do setor de transpor-te público, associado ao Instituto de Engenharia e autor do livro Vinho, o Melhor Amigo do HomemE-mail: [email protected]

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BIBLIOTECA

MOUTA, Albert Eije Barreto.Manual de implantação da Nota Fiscal eletrônica.Rio de Janeiro - RJ, Editora Ciência Moderna Ltda., 2010, 462 p.

Neste livro você vai aprender como funcio-na o Projeto NF-e. Todo o referencial teórico é passado de forma simples e direta para uma boa compreensão. Além disso, o livro aborda, em detalhes, as tecnologias envolvidas no projeto NF-e:• XML - eXtensible Markup Language: são explicados conceitos importantes de arquivos XML e como eles são utilizados no Projeto NF-e;• Certificação Digital: criptografia, documento eletrônico, certifi-cado digital, assinatura digital e o funcionamento de tudo isso no Projeto NF-e;• Web Services: SOAP, WSDL, UDDI, Segurança e tudo mais que envolve Web Services para implementação do Projeto NF-e.Por fim, o livro mostra como implementar a solução da NF-e em duas linguagens: Delphi e Java. Nessa última seção do livro, são mostradas soluções prontas que estão disponíveis para as duas linguagens e também como desenvolver uma solução própria, uti-lizando as tecnologias que cada linguagem oferece.

Engenharia de Materiais para todos introduz o leitor no mundo dos materiais a partir de uma linguagem acessível aos alunos do Ensino Médio e do primeiro ano dos cursos de Engenharia. Apresenta a profissão do engenheiro de materiais e as características do Curso de Graduação nessa modalidade da Univer-sidade Federal de São Carlos, criadora desse curso no Brasil. Passeando pelo universo dos átomos, este livro chega até as principais características e apli-cações dos metais, das cerâmicas e dos polímeros (plásticos), tudo de modo introdutório.’’

RODRIGUE, José de Anchieta;LEIVA, Daniel Rodrigo. (Organizadores)Engenharia de materiais para todos.São Carlos - SP, EduFSCar, 2010, 166p.

SALGADO, Julio Cesar Pereira.Instalação hidráulica residencial -a prática do dia a dia.São Paulo - SP, Editora Érica, 2010, 176p

Os profissionais da área, bem como os lei-gos, encontram neste livro conteúdo prático para acompanhar, monitorar e mesmo executar as instalações hi-dráulicas básicas de uma edificação, além de exercícios para fixa-ção do aprendizado. Comenta as instalações hidráulicas residenciais do dia a dia de forma didática, sem se valer de dimensionamentos e de conhe-cimento específico para o projeto. Mostra as principais formas de execução das instalações de água e esgoto, considerando os diferentes materiais e tipos de conexões. Fornece a base para uma interpretação de projetos, as novas tecnologias utilizadas pelas empresas da área e orientações para o uso racional da água.

MARQUES, Eduardo.Redes sociais, segregação e pobreza em São Paulo.São Paulo - SP, Editora UNESP; CENTRO DE Estudos da Metrópole, 2010, 215p.

A obra faz o resgate da sociabilidade - questão central para a com-preensão das condições de pobreza urbana no Brasil - e vai além das explicações ditadas por dinâmicas econômicas sistêmicas e por categorias macrossociológicas. Ao incorporar tanto a estrutura quanto a mobilização cotidiana das redes, constrói uma explica-ção relacional de médio alcance para a reprodução da pobreza que acaba por delimitar os mecanismos sociais associados às redes.

O livro aprofunda a teoria eletromagnética nos pon-tos em que é fundamental para as áreas da enge-nharia elétrica como linhas de transmissão, equa-ções de Maxwell, ondas eletromagnéticas, circuitos eletromagnéticos e campo elétrico.A partir de sua vasta experiência como docente, o autor inova ao oferecer um texto contextualizado, com história das descobertas e personalidades; grande número de exercícios resolvidos e propostos; e muitas ilustrações didáticas.

CARDOSO, José Roberto.Engenharia Eletromagnética Rio de Janeiro - RJ, Elsevier, 2011, 470p.

BARROS, Benjamim Ferreira de;BORELLI, Reinaldo;GEDRA, Ricardo Luis.Gerenciamento de energia: açõesadministrativas e técnicas de uso adequadoda energia elétrica. 1ª ediçãoSão Paulo - SP, Editora Érica, 2010, 176p.

Apresenta a estudantes e profissionais os aspectos essenciais para gerenciar instalações elétricas de forma eficiente e com baixo custo. Aborda aspectos administrativos, como as faturas de energia elé-trica em baixa e alta tensão. O conhecimento das regras do mer-cado livre de energia elétrica possibilita analisar a conveniência de um consumidor migrar para esse ambiente de contratação. Esclarece aspectos técnicos, dúvidas relacionadas com o fator de potência, a eficiência energética e a certificação ambiental de edi-ficações. Descreve ainda os conceitos gerais do setor elétrico e os principais números da matriz energética brasileira.

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MOUTA, Albert Eije Barreto.Manual de implantação da Nota Fiscal eletrônica.Rio de Janeiro - RJ, Editora Ciência Moderna Ltda., 2010, 462 p.

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Engenharia de Materiais para todos introduz o leitor no mundo dos materiais a partir de uma linguagem acessível aos alunos do Ensino Médio e do primeiro ano dos cursos de Engenharia. Apresenta a profissão do engenheiro de materiais e as características do Curso de Graduação nessa modalidade da Univer-sidade Federal de São Carlos, criadora desse curso no Brasil. Passeando pelo universo dos átomos, este livro chega até as principais características e apli-cações dos metais, das cerâmicas e dos polímeros (plásticos), tudo de modo introdutório.’’

RODRIGUE, José de Anchieta;LEIVA, Daniel Rodrigo. (Organizadores)Engenharia de materiais para todos.São Carlos - SP, EduFSCar, 2010, 166p.

SALGADO, Julio Cesar Pereira.Instalação hidráulica residencial -a prática do dia a dia.São Paulo - SP, Editora Érica, 2010, 176p

Os profissionais da área, bem como os lei-gos, encontram neste livro conteúdo prático para acompanhar, monitorar e mesmo executar as instalações hi-dráulicas básicas de uma edificação, além de exercícios para fixa-ção do aprendizado. Comenta as instalações hidráulicas residenciais do dia a dia de forma didática, sem se valer de dimensionamentos e de conhe-cimento específico para o projeto. Mostra as principais formas de execução das instalações de água e esgoto, considerando os diferentes materiais e tipos de conexões. Fornece a base para uma interpretação de projetos, as novas tecnologias utilizadas pelas empresas da área e orientações para o uso racional da água.

MARQUES, Eduardo.Redes sociais, segregação e pobreza em São Paulo.São Paulo - SP, Editora UNESP; CENTRO DE Estudos da Metrópole, 2010, 215p.

A obra faz o resgate da sociabilidade - questão central para a com-preensão das condições de pobreza urbana no Brasil - e vai além das explicações ditadas por dinâmicas econômicas sistêmicas e por categorias macrossociológicas. Ao incorporar tanto a estrutura quanto a mobilização cotidiana das redes, constrói uma explica-ção relacional de médio alcance para a reprodução da pobreza que acaba por delimitar os mecanismos sociais associados às redes.

O livro aprofunda a teoria eletromagnética nos pon-tos em que é fundamental para as áreas da enge-nharia elétrica como linhas de transmissão, equa-ções de Maxwell, ondas eletromagnéticas, circuitos eletromagnéticos e campo elétrico.A partir de sua vasta experiência como docente, o autor inova ao oferecer um texto contextualizado, com história das descobertas e personalidades; grande número de exercícios resolvidos e propostos; e muitas ilustrações didáticas.

CARDOSO, José Roberto.Engenharia Eletromagnética Rio de Janeiro - RJ, Elsevier, 2011, 470p.

BARROS, Benjamim Ferreira de;BORELLI, Reinaldo;GEDRA, Ricardo Luis.Gerenciamento de energia: açõesadministrativas e técnicas de uso adequadoda energia elétrica. 1ª ediçãoSão Paulo - SP, Editora Érica, 2010, 176p.

Apresenta a estudantes e profissionais os aspectos essenciais para gerenciar instalações elétricas de forma eficiente e com baixo custo. Aborda aspectos administrativos, como as faturas de energia elé-trica em baixa e alta tensão. O conhecimento das regras do mer-cado livre de energia elétrica possibilita analisar a conveniência de um consumidor migrar para esse ambiente de contratação. Esclarece aspectos técnicos, dúvidas relacionadas com o fator de potência, a eficiência energética e a certificação ambiental de edi-ficações. Descreve ainda os conceitos gerais do setor elétrico e os principais números da matriz energética brasileira.

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BIBLIOTECA

PACILÉO NETTO, Nicola;BARROS, Luiz Almada de Alencar.Uma história visual da construção do sistema cantareira.São Paulo - SP, Aesabesp, 2010, 224p.

CORDEIRO, Simone Lucena. OrganizaçãoOs cortiços de Santa Ifigênia:sanitarismo e urbanização (1893).São Paulo - SP, Editora Imprensa Oficial, 2010, 219p.

Grandes foram as transformações vividas pela cidade de São Paulo na virada do séc. XIX para o XX. No período, a sociedade paulistana vivenciava uma busca pela racionalização do trabalho e uma expressi-va evolução populacional, certamente com consequências urbanísticas, sociais e, particularmente, com reflexos habi-tacionais que preocupavam os que estavam interessados na “organização científica” do trabalho, também relacionada com a modernização da cidade. Nesse contexto é que se colocam iniciativas do poder público como a instituição de uma comissão de exame e inspeção das habitações operá-rias e cortiços no distrito de Santa Ifigênia, cujo relatório, produzido em 1893, é aqui apresentado e analisado.

CASTRO, Jaime Tupiassú Pinho de;MEGGIOLARO, Marco Antonio.Fadiga - técnicas e práticas de dimensionamento estrutural sob cargasreais de serviço: volumes I e II.Editora CreateSpace, 2009, v.I e v. II 1016p.

NEGRAES, Roberto.Yacht Design.São Paulo - SP, C4, 2010, 112p.

Este é um guia prático que trata, de como desenvolver um as-pecto importante de qualquer aplicativo comercial - os relató-rios - de forma que se possa reaproveitar o trabalho desenvol-vido em outras tecnologias, garantir a interoperabilidade entre aplicativos heterogêneos e a leitura normal por humanos, atra-vés do uso de padrões Web. As técnicas apresentadas visam a empregar desde já os padrões e linguagens para Web em apli-cativos convencionais, com foco em linguagens de marcação e apresentação derivadas do HTML, pois desde que foi idealizado e tornou-se um padrão, o HTML (ou alguma de suas variações e derivações, como o XML) tem sido uma das tecnologias mais flexíveis e universalmente adotada por programadores e edito-res de conteúdo em todo o mundo. Assim, aliando xHTML com CSS e XML, é possível criar relatórios flexíveis e que sobrevivam ao tempo, dentro dos padrões internacionais, e com inúmeras vantagens de compatibilidade.

TISATTO, Rodrigo Maciel.Relatórios fáceis com XML & xHTML/CSS - construindo relatórios com padrões web de forma descomplicada.Rio de Janeiro - RJ, Editora Ciência Moderna Ltda., 2011, 289 p.

Um projeto de viés sociocultural, que consiste na elaboração e publicação de um livro com a narrativa histórica, fotografias e ilustrações da construção do Sistema Cantareira, o segundo maior sistema de produção de água tratada do mundo.

Esse é o primeiro volume da coleção e traz uma tônica editorial direcionada a des-construção do produto final - no caso o Yacht (embarcações de uso recreativo) -, mostrando ao leitor como se dá sua criação e alguns conceitos empregados em sua cons-trução. Os projetos foram criados pelo engenheiro Fernando de Almeida.

SANTOS, Ademir Pereira dos.Theodoro Sampaio - nos sertõese nas cidades.Rio de Janeiro – RJ, Versal Editores, 2010, 391p.

Este livro trata da iniciação e da propagação de trincas por fadiga sob cargas reais de serviço. Concebido como uma ferramenta de engenharia, o texto prioriza modelos comprovados pelo uso, desde os mais simples aos mais avançados, detalhando a complexidade mí-nima necessária para torná-los realmente úteis e confiáveis. Como não se pode modelar seriamente a complexidade do trincamento por fadiga de forma simplista, este texto não é curto. Mas a sua didática foi depurada em dezenas de cursos de graduação e pós-graduação desde 1995: os capítulos são fartamente ilustrados; desenvolvem completamente os modelos apresentados; podem ser estudados in-dependentemente; usam notação tradicional de engenharia; evitam exibições desnecessárias de erudição acadêmica; e incluem mais de 200 exemplos resolvidos e estudos de casos práticos. Este material cobre tópicos de fadiga necessários aos cursos de graduação e pós-graduação em engenharia mecânica, civil, aeronáutica, naval, auto-motiva ou de materiais.

O livro ‘Theodoro Sampaio - nos sertões e nas cidades’, de Ademir Pereira dos Santos, narra a trajetória de Theodoro Fer-nandes Sampaio (1855-1937), um engenheiro brasileiro que se destacou, durante o Império e a Primeira República, nos traba-lhos de reconhecimento do território nacional, na construção da infraestrutura urbana e em serviços públicos em São Paulo e em Salvador. Sampaio exerceu um papel que ultrapassou o seu ofício de engenheiro. Homem de habilidades múltiplas, foi também geógrafo, cartógrafo, historiador, linguista, planejador urbano e empresário, encarnando a polivalência que caracte-rizou a geração de engenheiros politécnicos, necessária para enfrentar as demandas rurais e urbanas daquele período.

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O Brasil precisa hoje de grandes projetos nacionais estratégicos, de longo prazo, como alguns que mudaram a face do País em setores vitais, entre 1940 e 1980, de que são exemplos, entre muitos outros, os seguintes projetos: ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) em 1950, do qual resultou a competência nacional que nos levou à criação da Embraer; Petrobras, em 1954, que nos capacitou para a exploração do petróleo em águas profundas; Embratel, em 1965, que nos capacitou para a decolagem em telecomu-nicações nacionais e internacionais de longa distância e via satélite; Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola e Pecuária), em 1973, responsável em grande parte pela competência nacional nesse setor.

O grande problema é dependermos da decisão de gover-nantes despreparados. Nossos dirigentes e parlamentares parecem desconhecer totalmente a importância das áreas estratégicas de tecnologia para o desenvolvimento do País.

Microeletrônica - Vejam o caso da microeletrônica brasileira. Mesmo contando com as maiores reservas mundiais de silício de grau eletrônico, o Brasil não dispõe de uma indústria mi-croeletrônica sequer incipiente. Se dependesse exclusivamente da abundância desse mineral, o País seria o mais avançado em microeletrônica. Mas as coisas não funcionam assim.

Retrato da imprevidência nacional dos últimos 30 anos, a microeletrônica nunca se transformou em prioridade nacional, embora tenha tido uma dúzia de iniciativas tímidas, sem continui-dade nem adesão nacional. Por que não pensar nessa área agora, como um projeto nacional para valer?

Nessas três décadas, faltou ao Brasil uma política nacional de desenvolvimento tecnológico e industrial de longo prazo que contemplasse a formação de recursos humanos de alto nível, a pesquisa científica e tecnológica e o apoio à indústria nacional de componentes eletrônicos.

A política xenófoba da reserva de mercado, que vigorou de 1972 a 1992, acabou expulsando as poucas indústrias estrangeiras que investiam e fabricavam componentes eletrônicos no País.

Sem investimentos maciços, sem uma política nacional am-biciosa nessa área, sem pesquisa e sem a formação de recursos humanos de alto nível, o resultado só poderia ser o atraso pro-fundo da microeletrônica brasileira e nossa extrema dependência das importações.

Ethevaldo Siqueira é jornalista especializado em telecomunicações e eletrônica, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e comentarista da Rádio CBNE-mail: [email protected]

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A indústria de telecomunicações está em frangalhos no Brasil. Diante dessa situação, o ministro das Comuni-cações, Paulo Bernardo, promete divulgar uma política industrial para o setor. Mais do que adotar medidas pon-tuais e de emergência, seria oportuno que o Ministério das Comunicações começasse a discutir e a preparar, em conjunto com outros setores do governo, um grande projeto nacional de microeletrônica e telecomunicações.

Esperamos, também, que a nova política não in-troduza nenhum tipo de reserva de mercado, mas se traduza em diversas formas de apoio efetivo às em-presas brasileiras, como financiamento, desoneração de tributos, formação e aprimoramento de mão de obra qualificada e recursos humanos de alto nível.

Vale lembrar que foram múltiplas as raízes da crise da indústria nacional de equipamentos de telecomunica-ções. A primeira causa foi a abertura total do mercado, a partir da privatização da Telebrás, em 1998, sem que a indústria nacional estivesse preparada para a com-petição com os grandes fornecedores internacionais. Nesse aspecto, a indústria brasileira foi vítima da própria política protecionista adotada pela Telebrás ao longo de seus quase 26 anos de existência (1972-1998).

A segunda causa da crise veio com a mudança nos paradigmas tecnológicos, ocorrida exatamente no momento do fim da bolha da internet, no ano 2000, quando as centrais telefônicas baseadas na tecnologia de comutação de circuitos passaram a ser substituídas por equipamentos totalmente diferentes (roteadores e comutadores) e muito mais baratos, baseados na comutação de pacotes com protocolo IP.

Essa mudança tecnológica teve efeitos catastróficos sobre os gigantes da comutação digital da telefonia mundial – Lucent, Alcatel, Siemens, Ericsson, NEC e Nortel, entre outras. Em con-sequência, a Lucent teve de ser adquirida pela Alcatel. A Nortel faliu. A Siemens, muito mais diversificada, fechou praticamente sua divisão de telecomunicações. A NEC encolheu dramaticamente suas atividades e seu faturamento.

Déficit: 16 bilhões de dólares - É essencial que consideremos e extre-ma dependência brasileira da importação de componentes eletrônicos, para manter o nível crescente de produção da indústria brasileira nos segmentos de computadores e televisão. Essa dependência se traduz no enorme déficit de 18 bilhões de dólares na balança comercial do complexo eletrônico do País. Esse é o preço do atraso de nossa indús-tria de componentes eletrônicos. Vale lembrar que o País não produz circuitos integrados nem de nível intermediário, nem memórias, nem a maioria dos componentes eletrônicos de que necessita nossa indústria.

O Brasil precisa de grandes projetos

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O Brasil precisa hoje de grandes projetos nacionais estratégicos, de longo prazo, como alguns que mudaram a face do País em setores vitais, entre 1940 e 1980, de que são exemplos, entre muitos outros, os seguintes projetos: ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) em 1950, do qual resultou a competência nacional que nos levou à criação da Embraer; Petrobras, em 1954, que nos capacitou para a exploração do petróleo em águas profundas; Embratel, em 1965, que nos capacitou para a decolagem em telecomu-nicações nacionais e internacionais de longa distância e via satélite; Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola e Pecuária), em 1973, responsável em grande parte pela competência nacional nesse setor.

O grande problema é dependermos da decisão de gover-nantes despreparados. Nossos dirigentes e parlamentares parecem desconhecer totalmente a importância das áreas estratégicas de tecnologia para o desenvolvimento do País.

Microeletrônica - Vejam o caso da microeletrônica brasileira. Mesmo contando com as maiores reservas mundiais de silício de grau eletrônico, o Brasil não dispõe de uma indústria mi-croeletrônica sequer incipiente. Se dependesse exclusivamente da abundância desse mineral, o País seria o mais avançado em microeletrônica. Mas as coisas não funcionam assim.

Retrato da imprevidência nacional dos últimos 30 anos, a microeletrônica nunca se transformou em prioridade nacional, embora tenha tido uma dúzia de iniciativas tímidas, sem continui-dade nem adesão nacional. Por que não pensar nessa área agora, como um projeto nacional para valer?

Nessas três décadas, faltou ao Brasil uma política nacional de desenvolvimento tecnológico e industrial de longo prazo que contemplasse a formação de recursos humanos de alto nível, a pesquisa científica e tecnológica e o apoio à indústria nacional de componentes eletrônicos.

A política xenófoba da reserva de mercado, que vigorou de 1972 a 1992, acabou expulsando as poucas indústrias estrangeiras que investiam e fabricavam componentes eletrônicos no País.

Sem investimentos maciços, sem uma política nacional am-biciosa nessa área, sem pesquisa e sem a formação de recursos humanos de alto nível, o resultado só poderia ser o atraso pro-fundo da microeletrônica brasileira e nossa extrema dependência das importações.

Ethevaldo Siqueira é jornalista especializado em telecomunicações e eletrônica, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e comentarista da Rádio CBNE-mail: [email protected]

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A indústria de telecomunicações está em frangalhos no Brasil. Diante dessa situação, o ministro das Comuni-cações, Paulo Bernardo, promete divulgar uma política industrial para o setor. Mais do que adotar medidas pon-tuais e de emergência, seria oportuno que o Ministério das Comunicações começasse a discutir e a preparar, em conjunto com outros setores do governo, um grande projeto nacional de microeletrônica e telecomunicações.

Esperamos, também, que a nova política não in-troduza nenhum tipo de reserva de mercado, mas se traduza em diversas formas de apoio efetivo às em-presas brasileiras, como financiamento, desoneração de tributos, formação e aprimoramento de mão de obra qualificada e recursos humanos de alto nível.

Vale lembrar que foram múltiplas as raízes da crise da indústria nacional de equipamentos de telecomunica-ções. A primeira causa foi a abertura total do mercado, a partir da privatização da Telebrás, em 1998, sem que a indústria nacional estivesse preparada para a com-petição com os grandes fornecedores internacionais. Nesse aspecto, a indústria brasileira foi vítima da própria política protecionista adotada pela Telebrás ao longo de seus quase 26 anos de existência (1972-1998).

A segunda causa da crise veio com a mudança nos paradigmas tecnológicos, ocorrida exatamente no momento do fim da bolha da internet, no ano 2000, quando as centrais telefônicas baseadas na tecnologia de comutação de circuitos passaram a ser substituídas por equipamentos totalmente diferentes (roteadores e comutadores) e muito mais baratos, baseados na comutação de pacotes com protocolo IP.

Essa mudança tecnológica teve efeitos catastróficos sobre os gigantes da comutação digital da telefonia mundial – Lucent, Alcatel, Siemens, Ericsson, NEC e Nortel, entre outras. Em con-sequência, a Lucent teve de ser adquirida pela Alcatel. A Nortel faliu. A Siemens, muito mais diversificada, fechou praticamente sua divisão de telecomunicações. A NEC encolheu dramaticamente suas atividades e seu faturamento.

Déficit: 16 bilhões de dólares - É essencial que consideremos e extre-ma dependência brasileira da importação de componentes eletrônicos, para manter o nível crescente de produção da indústria brasileira nos segmentos de computadores e televisão. Essa dependência se traduz no enorme déficit de 18 bilhões de dólares na balança comercial do complexo eletrônico do País. Esse é o preço do atraso de nossa indús-tria de componentes eletrônicos. Vale lembrar que o País não produz circuitos integrados nem de nível intermediário, nem memórias, nem a maioria dos componentes eletrônicos de que necessita nossa indústria.

O Brasil precisa de grandes projetos

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