Revista "emCasa"

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Projeto realizado por Davi Hughes e Jani Di como forma de obtenção da terceira nota de três disciplinas do curso de Comunicação Social.

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SÁBADO À NOITE NO BAR DA SALA POR JANI DI ............................................................. 04UM PAPO COMIGO MESMO SOBRE MIM POR DAVI HUGHES ............................ 07

nesta edição:

Para algumas pessoas, noite significa curtir uma balada, beijar na boca, beber com os amigos... Sair de casa às 11 da noite e só voltar domin-

go de manhã - MAS, como toda regra tem sua exceção, existem algumas que, ao contrário dos agitadores de emoção, gostam de fazer os embalos de sábado à noite em casa.

Estas, por sua vez, acreditam que a diversão está mesmo em assistir séries em maratona, assistir filmes, se aventurar em sagas literárias ou saborear um prato digno de culinária internacional num barzinho improvisado dentro do conforto de seu lar. Nossa edição de estreia traz à tona duas histórias de pessoas assim, que preferem trocar as luzes coloridas das festas pela do abajur da escrivaninha. Aprecie a leitura sem moderação e prepare-se para viver um relacionamento sério com as páginas seguintes!

apresentação

emCASA: Um projeto simples e divertido feito por dois alunos do curso de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, sob a demanda do professor Tobias Queiroz e da professora Daiany Dantas.

SÁBADOÀ NOITENO BARDA SALA

Conheça Odilan,o Mossoroense que arquitetouum pequeno bar no confortode sua casa

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Baladas, agitos, som alto, bebidas e ótimos amigos. Dizem por aí que todo mundo espera alguma coisa de

uma quinta, sexta, sábado e até domingo a noite. Parece pegadinha, mas alguns preferem mesmo é o conforto do seu lar. Chato? Monótono? En-fadonho? Ficar em casa é um saco, um tédio, bom mesmo é sair por aí, se jogar na balada e aproveitar cada segundo da madrugada. Para alguns ficar em casa pode ser mais divertido do que se aventurar noite afora. Odilan Araújo, 46 anos, publicitário, solteiro, pai de dois filhos, faz parte desse seleto grupo de pessoas.

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“EU MONTEI UMAMBIENTE PARA NÃO

PRECISAR SAIR DE CASA”

Odilan transformou o seu lar no famoso Bar da Sala, um aparta-mento aconchegante, lindo, iluminado, repleto de estilo e bom gosto. Um lugar perfeito, onde trabalha, cozinha, toca violão e recebe os amigos, para degustar uma boa comida, boa conver-sa, bom som, bom vinho, boa cerveja. Mas ele como todos os mortais, também já se rendeu aos encantos da noite “Houve uma época que eu amava alguns lugares da cidade, quando tra-balhava em jornal, saiamos 3 horas da madrugada, direto para uma mesa de bar, ficávamos até 9 horas da manhã, era lá onde as pautas aconteciam” relata. Hoje prefere curtir a delícia de ficar os seus finais de semana em casa, apreender novos dotes culinários, novas cifras de músicas, assistir os Simpsons, rece-ber os amigos para dividir o violão, experiências da vida. Rola até uma consultoria de como saborear uma boa bebida.

Para quem já teve surtos cri-ativos em mesa de bar, deixar o encanto das baladas, parece impossível, mas o seu retor-no a Mossoró, depois de ter morado entre os anos de 2009 e 2010 em Juazeiro do Norte, a trabalho, o impulsionou a isso. “Quando voltei, fiquei desori-entado a galera já não era mais a mesma, os amigos tinham tomado outros rumos”. Relatou. Foi por causa dos amigos que seguiram outros caminhos, os dos bares legais inexistentes, que uma amiga de Odilan, Maria Izabel, lhe deu a ideia de trans-formar seu apartamento em um bar estilo europeu, um lugar para ele cozinhar, conversar, beber, receber visitas para jogar conversa fora sem pressa, sem hora, um espaço com seus gostos, bagagens e sentimentos.

O Bar da Sala, tem tudo que Odilan necessita, adora e curte: “eu montei um ambiente para não precisar sair de casa, tenho TV a cabo, internet, microondas, fogão, computador”, explicou

sorrindo. E tem mais, possui uma decoração repleta de cores, onde o antigo se une ao moderno perfeitamente, e nos faz parecer que cada objeto foi milimetricamente pensando, plane-jado e desenhado para compor um ambiente fascinante. Com vitrola e discos de vinil, computador, mesa com design italiano, escrivaninha branca, geladeira amarela encantadora dos anos 80, fogão elétrico, TV LCD, quadros na parede pintados e decorados por ele que expressa seu amor pela, arte, Beatles e Bart, e seu companheiro de sempre o violão. As prateleiras es-tão repletas do sonho de quem ama e aprecia uma boa bebida, todos os espaços são lotados de cervejas inglesas, alemãs, suec-as, artesanais, brancas, pretas, vermelhas, bebidas, água italiana e um conhaque que pertenceu a Padre Cícero.

A troca das baladas pelo aconche-go do Bar da Sala não se deu ape-nas pelo fato de ter um ambiente montado para atender suas neces-sidades, mas principalmente por causa das prioridades que muda-ram, com a idade, que, segundo

ele: “requer mais tranquilidade, sábado é para ficar em casa e eu nunca bebi nos domingos” enfatizou Odilan, que vai 3 vez-es ao supermercado todos os dias, para comprar verduras fres-cas e pão quentinho. “Como eu adoro cozinhar para os meus amigos, gosto de comprar tomates frescas”, explicou relatando que atualmente tem vontade de tornar o Bar da Sala seu espaço pessoal, em um bar no centro da cidade onde as pessoas possam ir e se divertir. Será sem dúvida um espaço repleto de singular-idades, onde os clientes serão atendidos com amor e sorriso no rosto, estilo com o qual Odilan recebe cada um dos convidados. Que saem de lá entendendo porque ele adora mesmo é ficar em casa sábado à noite.

TEXTO E FOTOS: JANI DI

UM PAPO

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ODILAN, EM SUACOZINHA PERSONALIZADA

COMIGO MESMOUM PAPO

(SOBRE MIM)

Estava sentado em meu lugar favorito do Pittsburg quando um rapaz baixinho e de cabelos castanhos entrou no local. Tropeçava

em seus próprios pés (os cardaços de seus All Stars estavam comple-tamente mastigados e desamarrados) enquanto descia o zíper de seu moletom do Capitão América; sua respiração ofegante o fazia parecer à beira de um ataque cardíaco. Após uma rápida análise do local, Davi veio a meu encontro. Demos um aperto de mão agoniado devido a seu aparente cansaço. Ele respira fundo, dá uma olhadinha no celular e diz: “Cheguei bem na hora”, aparentando uma alta satisfação pessoal.

Peço ao garçom que lhe traga um copo d’água e, então, começamos a conversar Davi “Hughes” (usa o sobrenome do diretor John Hughes como forma de homenagem nas redes sociais) Ta-vares, em seus 20 anos, parece ser o tipo de jovem que seria facilmente apagado na sociedade – e aparentemente, é as-sim que as pessoas de sua cidade o enxergam. No entanto, basta abrir alguns dos mais de 300 mil resultados que seu pseudônimo (Da5vi) gera no Google para se deparar com a prova viva de que conhecimento nos leva, sim, a vários lugares.

Davi não vai à festas e nem frequenta baladas. “Meus amigos me chamam de cafona e dizem que, quando nos encontrar-mos, vão me levar para um clube desses aí e ver se paro de falar em ‘comprar vinil da Rita Lee’”, diz. Não é que ele as odeie – muito pelo contrário, as acharia super diverti-das se nelas tivessem mais gente como ele, mais músicas que ele gosta. “Já tentei ir a festas com DJ, mas as pessoas sempre riem de meus movimentos corporais. Não que me importasse – Tá, eu não sou um dançarino de palco da Ma-donna, mas aí nenhuma menina queria conversar comigo e... Convenhamos, não é esse o ponto de ir pra esses lugares?”, ironiza.

O fato de não encontrar na cidade diversão que agradasse sua persona nunca o impediu de se divertir. Graças à inter-net, a vida se torna mais fácil para pessoas como Davi – que, em seu discurso, mostra-se isolado e descontente com a vida em sua cidade, queixando-se do favoritismo polítco e do co-modismo das pessoas – estabelecerem uma relação social. “Sempre adiciono todo mundo no Facebook. Não é algo que realmente considere fantástico, mas tive a oportuni-dade de conhecer inclusive gente da minha cidade que pensa como eu”, conta. Ele está sempre conectado e participa de inúmeros grupos na rede social, onde geralmente discute música pop de várias décadas e cos-tumes dos anos 80. Se aqui fora ele é motivo de chacota por sua personalidade estabana-da, no mundo que vibra em seu bolso a cada cinco minutos ele é res-peitado por suas opiniões e gostos diferenciados. “Para mim é legal. As pessoas me respeitam, apesar de não respeitarem certas manifestações da minha geração, por eu ser fissurado nas coisas que eles curtiam quando eram moleques. Eles adoram ler o que comento sobre discos

como ‘Rio’ e ‘She’s so Unusual’, a maneira como me apeguei à estes [álbuns].”

A família considera tudo isso loucura. “Meus tios estão sempre preocupados com minha vida amorosa – o bom é que tenho alguém pra se importar por mim”, ri. Davi acredita que a pessoa certa apa-recerá no tempo certo – “me considero altamente cafona e estúpido por isso, mas todas as garotas que me colocaram na friendzone acham fofinho” – e suas noitadas não são compostas apenas por discussões no Facebook, mas também por filmes, séries e HQs. “Gosto de fazer

maratona de episódios. Quando estou com muito sono, faço algo que vi no iCarly quando era mais novo: Enfio minha cabeça num balde de água fria. Sim, funciona! Acabo vendo quase uma temporada inteira por noite”.

Filme, para ele, é algo muito religioso: Seu quarto abriga cerca de 150 títulos em VHS (e isso foi o saldo da última contagem, feita anos atrás). “São relíquias, né? Basta pegar na do Toy Story que lembro o dia que aluguei aquela mes-ma fita e vi o filme pela primeira vez, lá no fim dos anos 90.

Quanto às HQs, retornei à leitura recentemente. Na minha cidade, o mercado de gibis ainda é escasso,” conta.

Damos uma pausa na conversa quando o garçom anuncia a chegada de nossos pedidos, e Davi aparenta estar ner-vosamente animado. “Tenho TDAH”, confessa enquanto come algumas batatinhas e responde alguém pelo celular. “Não se espante se parecer mais multifuncional que uma Tekpix!” Os minutos seguintes seguem-se em um silêncio

não-esquisito – que é quebrado quando o jovem comenta, todo contente, sobre bandas novas que estão fazendo sucesso no mercado. Para os amigos mais velhos de Davi, fica difícil de entender como alguém consegue gostar da música atual, mas ele não está nem aí. “A internet me deu um background muito forte em música que antes não tinha, e é importante deixar esse ‘xiismo’ de lado... Esse pensamento excludente de que a música acabou, se quisermos seguir em frente. Prin-cipalmente eu, que sonho em um dia ter minha coluna na Rolling Stone.”

Apesar de às vezes se sentir mais sozinho do que gostaria, Davi vê suas noitadas como uma espécie de investimento

pessoal. “Às vezes rola uma vontade de ter um grupo de amigos como em ‘Friends’, que são mais grudentos que chiclete (no bom sentido), mas... Não se pode ter

tudo – não que não tenha bons amigos fora da rede, tam-bém. Mas é que eles são piores do que eu quando se trata de sair de casa.” Para ele, estar absorvendo cultura de várias décadas faz tudo isso valer a pena. “Quero ser jornalista cultural um dia e ter meu próprio ‘canal’ online. Quem sabe um dia não me transforme no Não Salvo da música?”

TEXTO: DAVI HUGHES/ ARTE: RENATA CHAMES

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