Revista Ecológico 47

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1 ÍNDICE

O LEGADO DA RIO+20As lições e as reflexões

sobre o meio ambiente deixadas pela Rio+20

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E mais...ENTREVISTA

O publicitário Roberto Hilton fala da sustentabilidade no mercado da propaganda

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MEMÓRIA Livro reúne depoimentos da família e dos amigos de Célio de Castro, ex-prefeito de BH

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CIDADES SUSTENTÁVEISConheça locais no Brasil e no mundo que conciliaram biodiversidade com a vida urbana

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INSETOSAlimentação humana à base de insetos é opção curiosa e sustentável

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1I M AG E M D O M Ê S

DIA DE MANDELA “Pela minha alma inconquistável, nas garras das circunstâncias eu não recuei e nem gritei.... Minha alma é invencível. Eu sou o capitão

do meu destino. Eu sou o capitão da minha alma”.

Esses são trechos do poema que Nelson Mandela proferia para si mesmo durante os 27 anos em que esteve preso. Liberto, continuou na luta pela igualdade racial, conquistou o Prêmio Nobel da Paz em 1993 e tornou-se, no ano seguinte, o primeiro presidente negro da África do Sul, dando fim ao apartheid. No dia 18 de julho, o símbolo maior da libertação racial do século XX, completou 94 anos. Data em que a ONU instituiu como o Dia Internacional de Mandela.

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XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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1CARTAS DOS LEITORES

Prêmio Hugo Werneck 2012“Que maravilha! Ficamos felizes com a escolha do canarinho-da-terra como símbolo do Oscar da Eco-logia 2012! Atentaremos e batalharemos para sua preservação!” BRENO CAMPOS E FÁTIMA SANTOS, Floricultura Domi

Edição 44 “A reportagem da Paixão e Morte da Amazônia é reveladora. Não sabia que os números de assassinatos e ameaças eram tão altos. Ficou muito bem escrito, como se estivesse lendo um livro.” ISABELLA DINIZ BARROS, pelo Facebook

“A capa ficou atrativa demais e muuuito bonita!” DANI DINIZ BARROS, pelo Facebook

Cumprimentos“Tomo a liberdade de entrar em contato para dar mais do que parabéns pela Revista ECOLÓGICO. Trabalho digno de jornalista e cidadão, belas ima-gens, excelente editoração e principalmente conte-údo pra lá de interessante, muito bem produzido e redigido! Sucesso sempre!” SÉRGIO MONTEIRO, jornalista Caxambu MG

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

FA LE CO NOS COEn vie sua su ges tão, opi nião ou crí ti ca pa ra

car tas@re vis tae co lo gi co.com.brFaça contato também pelo nosso site:

www.re vis taecologico.com.br

“A Revista ECOLÓGICO é uma im-portante fonte, de leitura agradável e atrativa, das principais informa-ções nas temáticas socioambientais, culturais e políticas da atualidade. Além de assinar, eu a recomendo para todas as pessoas que possuem a consciência de que podem fazer algo em prol da sociedade e do meio ambiente. Após a minha leitura eu a encaminho para uma biblioteca para que se cumpra o seu papel na disseminação da sustentabilidade, conforme ensinava o professor Hugo Werneck.”RAFAEL THIAGO DO CARMO, biólogo e consultor em mudanças climáticas – WayCarbon

EU ASSINO

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Entrevista“Quero felicitar a Revista ECOLÓGICO pela entre-vista com Alexandre Sion (edição 44, pág. 72). Ele foi ao centro da questão ao falar sobre os diversos atores que estão num jogo complexo de negocia-ções. É evidente que a criação de estratégias de diálogo é o caminho com mais ganhos. Vejo poucos colegas nossos com essa abordagem.” AUGUSTO HENRIQUE LIO HORTA, assessor-chefe de Relacionamento Institucional do Governo de Minas

Rio+20“Concordo com o texto do ex-ministro do Meio Am-biente José Carlos Carvalho, não podemos perder as esperanças!” JOANA ELEUTHÉRIO, pelo Facebook

Visão e atitude libertárias“Trabalho exemplar, admirável e necessário que o pessoal da Amda, Ibama, fazendeiros e estudantes estão fazendo, parabéns! É gratificante saber que tem gente tomando iniciativas, fazendo alguma coisa, muito show!” SÔNIA MAIA ARAGÃO, pelo Facebook.

CongressoQuero agradecer à Revista ECOLÓGICO pela oportunidade de participar do II Congresso Brasileiro de Direito e Sustentabilidade. Foi fantástico e muito esclarecedor! Aproveitei e renovei minha assinatura!! BETÂNIA LARA, pelo Facebook

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Café ecológico“Amigo editor. Taí uma amostra do café da Matinha. Puro que nem nós mesmos. Jamais viu qualquer tipo de adubo. Este é 100% ao sabor da natureza. Nascido, crescido e frutificado na borda da mata. Plantei e colho com ajuda dos de casa; seco ao sol na ex qua-dra de peteca, limpo com uma maquininha manual comprada na Loja do Paulo, torro naquela velha bola de lata movida a manivela, em fogão de lenha. É a parte mais difícil. Uma arte saber o ponto certo de tirar do fogo, antes que torre muito e fique amargoso. A moagem também é na máquina manual e a em-balagem varia de ano pra ano. Uma saca de café em grão me oferece a alegria de, a cada Natal, brindar os amigos com este mimo que não deve ter mais que 200 gramas. Duas ou três coadas. E o melhor: tem história. Quando eu estava no MIC, com Camilo Pena, o ministério completou 20 anos e, na come-moração, o IBC, que era vinculado à Indústria e ao Comércio, ofereceu aos funcionários uma mudinha de café. Levei a minha para casa e tratei de arran-jar um vaso grande para plantá-la e cuidar dela na sacada do apartamento na 402 Asa Norte brasiliense. Cresceu, ficou robusta, viçosa até que chegou o dia da mudança para BH, a convite do Francelino, para dirigir o nosso querido Palácio das Artes, onde nos encontramos, em 80. O cafeeiro veio no caminhão de mudança – sob licença do Ministério da Agricul-tura, providenciada pela Liginha, minha mulher - e foi também para a varandinha do apartamento que alugamos na Rua Ceará. Continuou vistoso, verde, com cara de feliz. Um ano depois vendemos o apar-tamento de Brasília e compramos uma casa na Rua Tobias Moscoso, no Santa Lúcia, onde tínhamos um pequeno jardim frontal. A primeira casa, o primeiro jardim. Era hora de libertar do vaso o cafeeiro, que virou peça principal do paisagismo improvisado na área verde mínima. Por lá ficamos 10 anos, tempo suficiente para os frutos caírem de maduros e germinarem na grama algumas mudas que foram crescendo por ali, natu-ralmente, a espera de destino mais espaçoso. Foi aí que você me convidou para comprarmos, em parceria – não tínhamos grana para comprar sozinhos - um lote rural de 20 mil m2 na Mata do Engenho, em Nova Lima, no coração da APA Sul. Recanto de ambientalistas de vocação e fé que se comprometiam a não desmatar, não agredir, não prender nem espantar passarinhos, não caçar as ainda várias espécies de animais de pelo da região. Fui mais rápido que você e, na minha metade, nas pequenas clareiras existentes na parte menos aci-dentada do terreno, assentei um bangalô de madei-ra e plantei algumas fruteiras ao redor da casa. Não

havia luz, nem água encanada, nem telefone, nem televisão. Uma ilha de paz e sossego a 18 km de Belo Horizonte. As mudas de café rodearam também a casa e gostaram do clima. Deram frutos e outras mudas que foram replantadas. Hoje são perto de 60, muitas à sombra, convivendo em harmonia com candeias, maçarandubas, quaresmeiras, ipês e outras nativas do nosso recanto na montanha, aninhando sabiás, saíras, trinca-ferros, tico-ticos e escondendo jacus, tucanos, micos, macacos, caxinguelês... maravilha. Pois é, já se vão 26 anos e perto de 20 que a gente toma um cafezinho puro que é neto ou bisneto da mudinha dos 20 anos do MIC, criada na varanda do apartamen-to da 402 norte. Saúde pra você e sua mudinha que também vingou, virou revista especializada, especial, que dá frutos ecológicos pra muita gente. Com afeto e amizade”.

NESTOR SANT’ANNA, jornalista, ex-presidente

da Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes) e da Rádio Inconfidên-

cia , diretor da NS Consultoria e conselheiro da Revista ECOLÓGICO

O QUE ACONTECEU COM UMA MUDINHA DE CAFÉ TRAZIDA

DE BRASÍLIA PARA MINAS, MUITO ANTES DA RIO/92

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

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Eu me lembro da Eco/92 como se fosse ontem. Depois do que de gravidade planetária ali se discutiu e nós, jornalistas, difundimos de ma-

neira irrefutável e espetacular, a humanidade iria mudar seu comportamento e relação com a natureza. Ledo engano. Quando a mesma imprensa, de volta à sua ansiedade e estreita visão ecológica, a chamou de “fracasso”, uma vez que não aconteceu nada de imediato, eu vi outra lição igualmente irrefutável da natureza. Sábia, e no seu tempo cósmico, ela não dá saltos. Tal como nós, que viemos dela, também não conseguimos nos mudar assim repentinamente. Ain-da somos uma espécie sedentária, contidos no tempo humano e não no tempo repetitivo e sempre novo das estações. Continuamos reticentes, egoístas. Abrimos mão até da qualidade de vida, se necessário, para não sairmos da nossa zona de conforto. Daí a tragédia do que o nosso desamor por nós mesmos e pela natureza continuava fazendo após a Eco/92.

Continuávamos uma ova. Como dizia Freud, a única coisa capaz de mudar o olhar e a forma de vi-ver de um ser humano passa pela consciência. Seu outro nome, eternamente revolucionário, é informa-ção. Quando somos informados de uma verdade, um fato ou consequência, não tem mais jeito. Somos outra pessoa. Podemos até insistir em negar. Mas o tempo nos fará mudar, primeiro de opinião. E, de-pois, de atitude, o que demora mais.

Arquimedes já dizia: “dê-me uma alavanca que eu moverei o mundo”. Esta alavanca hoje se chama in-formação em tempo real. Informação sobre o estado do mundo, externo e interno, em que vivemos.

Por isso, quando a mesma imprensa que ungiu a Eco/92 e passou a se referir a ela negativamente como uma “ressaca”, por nada ter mudado radical-mente na humanidade e no mundo, eu me lembrei de Rachel Carson. Da bióloga e escritora norte--americana autora do livro “Primavera Silenciosa”, em junho de l962, denunciando os estragos ocultos do uso de agrotóxicos no verde e pulsar humano do planeta. Ela estava certa. A revolução provoca-da pela primeira Conferência do Rio, tal como um

olhar diferente da humanidade sobre o uso de pro-dutos químicos, já estava em curso. E desse mesmo jeito: lenta, invisível e irreversível.

E com isso, o lema adotado após a Eco/92 passou a ser um só, como na canção de Roberto, e endereçado somente aos outros: “É proibido poluir!” - endereça-do principalmente aos empresários e suas indústrias, que eram grandes, tinham endereço certo, com CGC e tudo, e não podiam mais esconder o que faziam.

Com a Rio + 20, quase a mesma coisa aconteceu. A

A REVOLUÇÃO RUIDOSA

CARTA DO EDITORHIRAM [email protected]

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A ECOLÓGICO TAMBÉM SE FEZ PRESENTE NA CÚPULA DOS POVOS

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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única e mais revolucionária mudança passou a ser no método deflagrado, em curso mais ainda irrever-sível: ao invés do silêncio, o seu efeito foi e será tão ruidoso como os seus participantes mostraram, não no Riocentro, mas no aterro do Flamengo e nas ruas do Rio: “É obrigado fazer alguma coisa!”. Detalhe: os outros e nós também. Simultaneamente.

Ou seja, a natureza continuará sem pressa e não dando saltos. Mas igualmente ruidosa e aumentando o tom. Ora causando a maior enchente na história do Rio Negro, ora a maior seca no interior da Bahia. O maior degelo no Everest. A quantida-de jamais vista de refu-giados ambientais da África, famintos, com a terra seca, querendo invadir a Europa em busca de sobrevivência.

Esta foi a contribui-ção maior da Rio+20. Antes, a consciência silenciosa. Doravan-te, o clamor sonoro. Antes a imprensa tra-dicional, em cima do muro, só denuncian-do os fatos, sem se posicionar. Agora to-mando partido, ao ver o poder concorrente das redes sociais. An-tes, o pensar; hoje, o falar. Antes o guardar só pra si, que fazia o jogo da situação. Hoje, o agir necessário de todo e qualquer político, estadista, economista, cidadão e líder que se preze.

Nem nós, jornalistas e fiscais da sociedade, que acostumamos ditar (apenas apontar) regras de conduta somente para os outros, ficamos imunes às duas conferências do Rio. Até a primeira tentamos ficar confortáveis, ouvindo e repercutindo os dois lados, menos o nosso.

Eu me lembro de uma pesquisa feita pelo nos-so colega Washington Novaes, que explicou à época da Eco/92, porque os jornalistas, de modo geral não

gostavam de meio ambiente: porque era um assunto inconveniente uma vez que nos exige coerência e ati-tude. Exige de nós também, e não apenas dos outros. Pode um profissional da informação que fuma um cigarro cancerígeno, que polui o seu meio ambiente interno, criticar uma indústria que polui e enche de câncer todo o ambiente social externo?

Esse tempo passou. Com a Rio + 20 e depois dela, até a imprensa vem se colocando não mais silenciosa em defesa do que nos resta de natural. O desenvolvi-

mento sustentável, ela também vem aumen-tando o tom, se tornou a pauta conceitual, heroica, emocionada, racional e não mais outras pautas enfa-donhas e previsíveis, o que mais nos fazia envelhecer antes da hora. Nós agora temos uma ideologia não mais somente antro-pológica, mas uni-versal e democrática para acreditar e lutar, sem enganos.

Antes, durante e de-pois da Rio+20, até as crianças mudaram sua visão de mundo. Elas não falam mais em salvar seu papai, sua mãezinha, suas bolas e bonecas, a flor-zinha na janela ou o

peixinho esquecido no aquário. Preferem dizer, com mais sabedoria e convicção do que todos os seus an-tepassados: “Quando crescer, eu quero salvar a mãe natureza, salvar o mundo!”

Elas são, como na canção de Marcus Vianna, “os filhos dos filhos dos....” e nos salvarão unidas. Elas são o futuro!

É este legado, o recado da Rio+20, que a ECOLÓGI-CO continua abordando nesta edição. Afinal, a nova revolução só começou. Já sabemos que nós é que te-mos de nos salvar, e não o planeta que se regenera so-zinho, segundo a cartilha de seu criador.Boa leitura. Até a próxima lua cheia.

“A natureza não dá saltos, mas vem se tornandocada dia mais violenta e barulhenta.”

RACHEL CARSON: 30 ANOS ANTES DA ECO/92: “OS PESTICIDAS

TÊM O PODER DE SILENCIAR O CANTO DOS PÁSSAROS”

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

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BRANCO

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d1E C O N E C T A D O

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“Bem, da próxima vez faz só a Cúpula dos Povos e economiza.” @blogdosakamoto - Leonardo Sakamoto , jornalista

“Felicidade? É aquele momento em que você e a natureza se bastam.” @mauriciodesousa - desenhista

“Fim do voto secreto é aprovado na @cmbhinforma! Parabéns a todos os envolvidos!” @nossabh – Movimento Nossa BH

“Gravação vídeo institucional Unesco-Hidro-ex no lindo Jardim Botânico!” @pires_cleo – Cléo Pires, atriz

“Sem-terra ficaram de fora das ações de governo, diz Oswaldo Dehon, convidado do Sala de Imprensa sobre crise no Paraguai.” @tvalmg - TV Assembleia MG

Quer presentear um amigo com uma assinatura trimestral? Basta seguir o @sou_ecologico e twittar a frase: “Eu leio a Revista ECOLÓGICO e quero presentear um amigo. Via @sou_eco-logico!” A primeira pessoa que twittar a frase ganha! Não é sorteio! Boa sorte!

Com objetivo de difundir o Movimento Sou Ecológico que trata da mudança de compor-tamento em relação ao meio ambiente, o Grupo Ecológico que incorpora a “Revista ECOLÓGICO”, o “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” e a “Hiram Firmino Consultoria” agrega todas as mídias sociais ao nome SOU ECOLÓGICO. Fique de olho nas mudanças!

Uma garrafa PET cheia de água e duas tam-pinhas de água sanitária. A mistura simples e prática é a solução sustentável para tirar da escuridão locais que necessitam do uso da luz também durante o dia. Palafitas, barracos ou mesmo locais mal iluminados podem fazer uso da engenhoca que poupa energia elétrica e o meio ambiente. Como fazer? Mais simples do que você imagina! É só conferir na área de vídeos do nosso site “Litros de luz” - www.souecologico.com.br

ECO LINKS

Lester Brown é um renomado escritor da área ambiental e fundador do Earth Policy

Institute, instituto de pesquisas verdes com sede em Washington (EUA). Em 2009,

ele lançou o livro “Plano B 4.0- Mobilização Para Salvar a Civilização” que trata prin-

cipalmente dos desafios de como reduzir os níveis de CO2 em 80% até 2020. Um

progresso que refletiria em dois outros eixos: o aumento da eficiência energética

e a adoção de fontes renováveis, como a térmica, a eólica e a solar. Interessados na

obra de Brown podem fazer o download do Plano B 4.0. Basta acessar o link: http://

www.worldwatch.org.br/plano_b.pdf

Já imaginou ter acesso a frutas, legumes, bebidas, laticínios e grãos orgânicos com

direito a entrega domiciliar? A boa ideia já foi colocada em prática, mas até o momento

somente na cidade do Rio de Janeiro (RJ). O serviço é prestado pela Organomix, uma em-

presa que promete uma linha completa de produtos orgânicos. Os interessados podem

fazer o pedido por meio do site www.organomix.com.br ou televendas. Os horários de

entrega são agendados pelos clientes; e os produtos, entregues dois dias após a realiza-

ção do pedido. Quem sabe a ideia é lançada em outros estados!

A técnica em Meio Ambiente,

Isabella Diniz Barros tem muita

vontade de ver fotos dela nas

páginas da Revista ECOLÓGICO.

Pedido feito e aceito, publicamos

aqui a foto que ela fez de um

belo casal de mandarins (Taenio-

pygia guttata). Ela, que se diz fo-

tógrafa por hobby, acredita que

“a natureza é rica demais para

não ser observada e apreciada!”

Twittando

REPÓRTER ECOLÓGICO

ECO PROMOÇÃO

ECO MÍDIAS

ISA

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ARR

OS

ISABELLA GOSTA DE REGISTRAR A

DIVERSIDADE E OS MOMENTOS

RAROS DA NATUREZA.

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XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

1G E N T E E C O L Ó G I C A

“Jorge Amado me chamava de coqueiro, por causa das

pernas compridas”

IVETE SANGALO, QUE FAZ A CAFETINA

MARIA MACHADÃO, NO REMAKE DA

NOVELA “GABRIELA”

“O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião.

O corpo é uma festa”

EDUARDO GALEANO, JORNALISTA

E ESCRITOR URUGUAIO

“É triste pensar que anatureza fala e que o gênero

humano não a ouve”

VICTOR HUGO, ESCRITOR FRANCÊS

“É ultrajante, repugnante e indigno de uma pessoa do seu nível. O senhor não vale mais que os

caçadores ilegais que roubam e saqueiam a natureza. Você é a vergonha da Espanha”

BRIGITTE BARDOT, 77 ANOS, EX-ATRIZ FRANCESA, EM CARTA ABERTA AO REI DA

ESPANHA, JUAN CARLOS,POR TER CAÇADO E MATADO ELEFANTES NA ÁFRICA

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“Eles podem nos dizer o que ler, o que falar, o que fazer. Mas

não podem nos dizer o que pensar.Isso dá uma sensação de grandeza. É como estar sozinho

no topo de uma montanha à noite, sem nada à sua volta, a

não ser estrelas”

TRECHO DA PEÇA NÃO SOBRE ROUXINÓIS DO

ESCRITOR AMERICANO TENNESSEE WILLIAMS

INSPIRADA EM UMA REBELIÃO DE PRESOS EM

1930 NOS EUA

“Na próxima vez que você tomar um copo de água,

lembre-se que está bebendo o oceano. Só há um sistema de água, e nós estamos usando esse sistema como esgoto”

JEAN-MICHEL COUSTEAU, FILHO DO FAMOSO

EXPLORADOR FRANCÊS JACQUES COUSTEAU

RENÊ JERÔNI-MO DE ARAÚJO

“Esta corrida faz as pessoas pensa-rem mais em si, na natureza, no corpo e na saúde”. A frase é de Renê Jerônimo de Araújo, um senhor de 72 anos, que chegou na 697º posição na Meia Maratona das Cataratas, realizada no Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu. Com alegria e disposição, o ex-pescador que está acostumado a viver em meio à natureza, já que mora em Fernan-do de Noronha, deu a fórmula da vitalidade. “Viver é bom demais, basta saber viver. Hoje minha vida é correr, correr, correr”.

RENAN CALHEIROS

A negativa do Ibama de con-ceder licença prévia para construção de um estaleiro em Alagoas provo-cou a ira dos senadores do estado. Renan Calheiros (PMDB) - apoia-do por Fernando Collor (PTB) e Benedito de Lira (PP) - disse que a negação é de origem política, e que, por isso, também dificultará a tramitação de um projeto que beneficia servidores da área am-biental. Segundo o Ibama, “mais da metade da área proposta para instalação do estaleiro encontra--se numa região de mangue, considerada área de preservação permanente (APP)”.

CRESCENDO

MINGUANDO

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes, terão livros. Sem

livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua

própria história”

BILL GATES,XXXXXXXXXXXXX

“A sustentabilidade também faz parte do DNA do nosso grupo”

EIKE BATISTA, EMPRESÁRIO DO

GRUPO EBX

CATA

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CÉU DE BRASÍLIA

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

VINÍCIUS [email protected]

MPF X INCRA 1Segundo investigação do Mi-nistério Público Federal (MPF), os assentamentos de reforma agrária tornaram-se os maio-res desmatadores da Amazônia. Respondiam por 18% do des-matamento anual em 2004, mas somaram 31,1% de toda a devas-tação em 2010. Foram 133.644 quilômetros quadrados de flo-resta derrubados dentro dos 2.163 projetos de assentamento que existem na região.

MPF X INCRA 2 A área desmatada pelos assenta-mentos na Amazônia é cerca de cem vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Só dentro de assenta-mentos criados pelo Incra no ano passado, desapareceram 1,6 mi-lhão de hectares de floresta. Entre 2000 e 2010, mais de 60 milhões de campos de futebol em florestas teriam sido derrubados. Segundo contas do MPF, os danos ambien-tais chegam a R$ 38, 5 bilhões.

MULTAS AMAZÔNICAS Uma conta no valor de R$ 181 milhões em multas por desma-tamento está sendo cobrada pela Advocacia Geral da União (AGU) e pelo Ibama na Amazônia Legal. O foco são os desmatadores que so-freram autuações entre R$ 1 mi-lhão e 10 milhões. A ação corres-ponde a 21 Ações Civis Públicas, movidas contra os responsáveis pela devastação de 35,6 mil hecta-res de floresta nativa.

BRASILEIROS EM RISCO Dados divulgados pelo Ser-viço Geológico do Brasil (CPRM) indicam que existem atualmente no país pelo me-nos 680 mil pessoas moran-do em áreas consideradas de risco alto ou muito alto de deslizamento de terra ou inundações. E o número vai aumentar. Segundo a CPRM, foram monitorados cerca de 140 municípios até agora. O número chegará a 286 muni-cípios até o final do ano, sal-tando para 821 até 2014.

ENERGIA SOLAR 1Um estudo divulgado em julho pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia, mostra que a produção re-sidencial de energia solar já é economicamente viável para 15% dos domicílios brasileiros. Por outro lado, o estudo mostra que a geração deste tipo de energia em grande escala por usinas comerciais ainda não é viável economicamente.

ENERGIA SOLAR 2Segundo a EPE, o custo atual de produção da energia solar em larga escala gira em torno de R$ 405 por MWh, enquanto a média do preço de outras fontes de energia é de R$ 150 por MWh. Ou seja, mesmo com incentivos que barateiem em 28% o preço da energia, informa a EPE, a solar ainda custaria hoje o dobro da média cobrada nos leilões de venda de energia.

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TENSÃO EM BELO MONTE Após 21 dias de ocupação no sítio Pimental, um dos principais canteiros de obra da usina de Belo Monte (Pará), índios aceitaram proposta da Norte Energia para desocupar a área. Além do cumpri-mento das condicionantes da hidrelétrica, eles pedem indeniza-ções pelos danos que já sofreram por conta do empreendimento.

EMISSÕES E DESMATAMENTO Um estudo publicado na revista “Science” revela que as emissões de gases de efeito estufa decorrentes do desmatamento tropical são menores do que se pensava. De acordo com o levantamento, elas representam cerca de 10% da liberação total de carbono, e não entre 20% e 30% como afirmavam pesquisas anteriores.

CÓDIGO FLORESTAL A ministra de Relações Institucio-nais, Ideli Salvatti, declarou que o governo quer a aprovação da me-dida provisória do Código Flores-tal sem qualquer flexibilização. A MP editada por Dilma exige dos médios produtores uma recom-posição florestal de 20 metros em áreas de produção nas margens de rios com até 10 metros. A bancada ruralista pressiona para reduzir a recomposição para 15 metros.

EXTINÇÃO 1Em estudo publicado na revista “Science”, cientistas britânicos e americanos estimaram quan-tas espécies da fauna amazô-nica podem desaparecer em decorrência do desmatamento ocorrido entre 1978 e 2008. O cálculo foi feito por estado. Os pesquisadores afirmam que 12 espécies de mamíferos, 13 de aves e três de anfíbios pode-riam sumir no Tocantins a par-tir do desmate histórico. O es-tado seria o mais afetado.

EXTINÇÃO 2Na perspectiva para 2050, em pro-jeção com índices superiores a 28 mil km² ao ano nos próximos 38 anos, o extermínio seria ainda maior. Neste caso, Rondônia lide-raria a perda de biodiversidade de mamíferos, aves e anfíbios, com o desaparecimento de 59 espé-cies. Roraima e Amapá perderiam, cada um, 46 espécies.

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ECONOTAS1

ÁGUA PARA TODOS A questão da seca no semiárido brasileiro é antiga, mas as solu-ções são viáveis e possíveis. Basta ver o projeto “Água para todos”, fruto da parceria entre a Funda-ção Banco do Brasil, o Banco do Brasil, a Articulação do Semiárido (ASA) e a Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC). A previsão é construir 60 mil cis-ternas com formato cilíndrico, cobertas e semienterradas. Um encanamento simples recolhe no telhado das casas a água da chuva e a encaminha para a cisterna fei-ta de placas de cimento.

Cada cisterna tem a capacidade de acumular 16 mil litros de água que, se usados com moderação, podem durar até oito meses para uma família de cinco pessoas.

A primeira unidade da “Tecno-logia Social Cisterna de Placas” foi instalada na propriedade da se-nhora Afifa Gonçalves de Souza, zona rural da cidade de Salto da Divisa (MG), distante 877 km da capital Belo Horizonte e cerca de 140 km de Porto Seguro (BA).

A iniciativa que faz parte do Plano Brasil Sem Miséria pre-tende abranger 89 municípios de 40 microrregiões.

SAIBA MAIS: www.fbb.org.br

EM DEFESA DOS ANIMAIS Sabe aquele xampu colorido e perfumado que as crianças usam? Antes de chegar às prateleiras, ele pode ter sido testado em muitos animais a custo de dor e sofrimen-to. E o mais complicado é que muitas vezes o consumidor não é informado sobre isso para decidir se compra ou não, marcas que fazem esses testes. Em alguns países, escolher produtos que não utilizam cobaias é mais rá-pido. Muitos fabricantes informam sobre isso nos rótulos e há selos de certificação concedidos pela Peta, ONG que age em defesa dos animais. Já aqui no Brasil existe o Projeto Es-perança Animal (Pea) que divulga uma lista on-line de empresas que não realizam testes em animais.

SAIBA MAIS: www.peta.org e www.pea.org.br

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ENERGIA LIMPAO governo do Amazonas promete instalar, em Manaus, a maior usina solar da América Latina. Ela terá capacidade para atender 3.757 resi-dências, com consumo médio de 154 kWh/mês e potencial de 6MW.

A capital amazonense, que já possui energia gerada a partir de óleo combustível e diesel, à base hídrica e gás natural, pretende adi-cionar a energia solar como opção limpa e sustentável na cidade. O projeto será desenvolvido pelo governo do Amazonas, baseado em pesquisas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e re-cursos do Banco de Desenvolvimento da Alemanha. O projeto cus-tará R$40 milhões e deve ser concluído em dois anos.

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XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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XX ECOLÓGICO/ABRIL DE 2012

E N T R E V I S T A1

Roberto Hilton é presidente da JBIS Propaganda, com sede em BH e atuação nacional. Faz parte do conselho da Associação dos Dirigentes de

Marketing e Venda do Brasil (ADVB), é diretor nacional da Associação Brasileira de Propaganda (ABAP) e mem-bro do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR).

Tanto na profissão, quanto na vida pessoal, o sinônimo de sustentabilidade para ele é respeito. “Sustentabilida-de é olhar para o outro, com credo e cor diferente, com respeito. É saber que uma baleia tem tanto valor quanto um ser humano. E que, matar uma planta (embora ela não tenha representação jurídica) é como matar um ser humano. As agências de propaganda têm de cultivar o respeito pelo anunciante, pelo veículo, pelo consumidor e também por seus concorrentes”, defende.

O publicitário é diretor de Sustentabilidade na ABAP e no CONAR e participou da comissão que estudou a aplicação do tema no setor. “Elaboramos um docu-mento que diz como as agências devem praticar a sus-tentabilidade, uma espécie de protocolo com regras mínimas e recomendações a serem seguidas”, diz.

Para Roberto, a despeito de todo o modernismo e so-fisticação atuais não herdamos das sociedades primiti-vas o respeito que elas tinham pela natureza, incluindo a convivência com o próximo. E é papel das agências o resgate destes princípios.

“A propaganda é uma centelha de recuperação dos conceitos que se perderam ao longo do tempo pela força do capitalismo, embora não creia que a susten-tabilidade tenha alguma veiculação ideológica” (ele a considera muito menos moral e mais ética).

Falar sobre sustentabilidade é fácil. Mas Roberto pro-cura praticá-la também. Na grande sala em que traba-lham os funcionários da JBis não há uma parede se-quer. “Não acredito em fronteiras. Elas são motivos de guerra e conflito no mundo todo. Os pássaros migram para diversas regiões e não aprendem outras línguas, muito menos regras diferentes das que já possuíam. Não existem barreiras na natureza. Por que deveria ha-ver entre os homens?”

Como a sustentabilidade pode ser aplicada no mer-cado da propaganda e na vida? Confira a seguir:

SUSTENTABILIDADE É

RESPEITO"

"

Cíntia [email protected]

ROBERTO HILTON: "A PROPAGANDA

TEM MUITO A CONTRIBUIR

PARA A DISSEMINAÇÃO DA

SUSTENTABILIDADE NO SEIO DA

SOCIEDADE E DO PLANETA"

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

JBIS

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ROBERTO HILTONPRESIDENTE DA JBIS PROPAGANDA

2 ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 XX

“Sustentabilidade é saber que uma baleia

tem tanto valor quantoum ser humano”

Como aplicar o conceito da sus-tentabilidade à propaganda?● É não deixar mais que as em-presas vendam produtos sem sabermos suas reais funcionali-dades, suas verdadeiras mensa-gens e as consequências de seu uso para o indivíduo, a empresa e a sociedade. Esse tripé nos leva a um quarto, que é o planeta. Por isso acredito que a sustentabili-dade é considerar o indivíduo, o agente (a empresa), a sociedade e o planeta que será atingido em sua atmosfera, fauna e flora. Não existe primazia de indivíduo, sociedade e cultura na susten-tabilidade. Simplesmente uma corrente ética em que as pessoas começam a perceber realmente que estão em um mesmo am-biente. E que para que tudo corra bem é preciso que haja, princi-palmente, o respeito.

Na prática, como as agências estão trabalhando?● Já existem algumas iniciativas

de regulamentar e de norma-tizar tudo isso. Foi criada uma comissão na ABAP. Fizemos um trabalho de amplitude nacional, selecionando algumas agências para dar início a projetos embrio-nários. Entre elas, a própria JBis. Durante esse processo, diversos parâmetros de aplicações da sus-tentabilidade foram discutidos. Ouvimos as agências para saber o que elas pensavam e demos abertura a todos os filiados para que contribuíssem com opiniões e sugestões, trabalho que foi feito junto a Escola Superior de Propa-ganda e Marketing de São Paulo. Posteriormente, elaboramos uma espécie de protocolo com regras a serem aplicadas.

Qual o principal fundamento?● Respeitabilidade. Ninguém pode dizer que um produto é verde ou orgânico sem que seja verdadeira-mente comprovado. O objetivo é proteger o consumidor e valorizar quem pratica a sustentabilidade.

No âmbito da ABAP isso ainda funciona de forma voluntária. Qualquer mudança na sociedade obedece a etapas, como conhe-cer, sensibilizar-se e conscienti-zar-se. Depois vem a mudança e a construção dos embaixadores que irão defender a causa.

Em que ponto estamos?● Na fase da sensibilização. Ao mesmo tempo em que temos em-presas extremamente avançadas, existem outras que ainda não têm uma noção muito clara da impor-tância disso. Mas não tenho dú-vidas de que a propaganda é uma alavanca propulsora, capaz de disseminar conceitos, tornando-os conhecidos, desejados e con-sumidos pela sociedade. Acredi-to firmemente que a propaganda tem muito a contribuir para a dis-seminação da sustentabilidade no seio da sociedade e do planeta. Os integrantes da agência têm obri-gação de checar o que é verdadei-ro ou não. Esses são os princípios

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E N T R E V I S T A1do nosso negócio. Se o produto não é verdadeiro, se houver de-núncia, o CONAR vai agir.

Esse é o papel da propagan-da hoje?● Exatamente. O papel da ABAP, como associação, e do CONAR, como órgão regulador do setor. Temos setores como o da ener-gia elétrica e da mineração e ou-tros também que se utilizam de linguagens metafóricas. Vamos checar o que é verdadeiro e o que não é. No caso de mineradoras, por exemplo. Elas realmente fa-zem bem ao meio ambiente? Faz sentido dizer isso? Será que para que haja a extração é preci-so jogar dejetos nos córregos dos rios? Não pode haver um lago de contenção? Será que não deveria haver uma estrada lateral para os caminhões das mineradoras trafegarem, minimizando os im-pactos ambientais que eles ge-ram? Será que não deveria haver uma recuperação do que já foi degradado? Não quero cometer injustiça, mas não dá para redu-zir impactos?

Onde a ABAP e o CONAR en-tram nisso?● Vamos atenuar ao máximo qualquer tipo de falsa mensagem.

Como?● É preciso construir um acordo com a sociedade. O correto é dizer a verdade, que esse tipo de explo-ração é degradante, mas que pode ser feito dentro de determinadas condições. Isso, sim, é aplicar a sustentabilidade. Ainda mais que existe uma parte nessa história que não se pronuncia, que é a fau-na e a flora. As agências têm de checar se a empresa está falando a verdade ou não. E não pode é utilizar-se de mensagens e ele-mentos metafóricos que não tra-

duzem a realidade dos impactos de suas operações. O CONAR vai estar de olho nisso. Agora, se as mineradoras estiverem negocian-do todos os seus impactos com os órgãos ambientais, então isso não é problema da propaganda.

A propaganda, que estimula o consumo, pode trabalhar em prol da sustentabilidade?● A questão do consumo deve ser analisada com cuidado para não cairmos em clichês. Vivemos em uma sociedade democráti-ca e num estado democrático de direito onde qualquer um pode anunciar um produto e ofere-cê-lo ao público. Temos de ter discernimento para saber o que é bom ou ruim para nós. Essa é a regra do jogo e é democrática. Não vai e nem pode mudar. O que precisamos é ir além.

Em que sentido?● No que é ético e depende de va-lores e da percepção de mundo. Dentro de minha empresa, não vou trabalhar com um cliente que quer vender um produto que não faz bem a outras pessoas. Essa é uma posição minha, são minhas crenças e valores. Acho que é nis-so que a sustentabilidade vai atuar porque já existe uma normatiza-ção jurídica da moral. Veja o pro-blema da obesidade nos Estados Unidos. As pessoas não nascem obesas, elas se tornam obesas.

Essa é uma questão de cultura ali-mentar. Agora, dentro das normas jurídicas é possível impedir que as empresas parem de fabricar produtos com alto teor de gordu-ras saturadas? Acho que não. Mas uma agência de propaganda pode dizer que não vai atender aquele cliente que produz um alimento que faz mal a saúde. Como um ad-vogado pode se negar a defender um assassino.

Acredita na mudança a partir da ética?● Sim. Mas creio que a percepção do peso e do valor da ética só vai se dar por meio do estudo da fi-losofia. Só ela é capaz de mudar paradigmas e construir uma so-ciedade melhor. O poder público pode colaborar muito com isso, colocando na grade curricular a obrigatoriedade do ensino da filosofia para que os indivíduos aprendam a pensar e a questio-nar e também a estarem abertos para o novo, mudando conceitos.

Quais os principais desafios do mercado mineiro de pro-paganda?● O baixo nível profissional do cliente, que tem uma percepção muito provinciana em relação a seus negócios. Talvez seja um resquício da cultura da própria BH, que deseja se tornar uma ci-dade grande, mas insiste nas prá-ticas de uma cidade pequena.

Como o mineiro dirige suas empresas? Pode exemplificar?● Há muita interferência na co-municação, às vezes até de uma forma muito personalista. O pla-nejamento estratégico e a apli-cação de ferramentas são pouco valorizados. No limiar da propa-ganda hoje há a questão do Re-torno do Investimento em Comu-nicação e Marketing, o Roi, que é

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

“Quem sofreu verdadeiramente com o Mensalão foram as

agências mineiras, ainda discriminadas.

Somos zero em Brasília hoje”

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pouco valorizado pelo cliente. Sabe aquela piada do mineiro: não importa qual é o remédio, se tem desconto eu compro?

Nossa propaganda é de boa qualidade?● De altíssimo nível. Temos ótimas estruturas de ensino fundamental e médio. Minas se destaca no setor de ensino. Nossas escolas têm um corpo docente de excelente nível. Somos celeiros de bons profissio-nais. Vários que aqui se graduam acabam indo para outros centros como São Paulo, Rio e também para o exterior. Sempre haverá um mineiro se destacando no cam-po da mídia, do planejamento, da criação, do atendimento.

Ainda existem vestígios do episódio do Mensalão no mer-cado publicitário mineiro? ● Nosso Estado sempre foi re-conhecido porque o mineiro tem uma imagem de pessoa la-boriosa, séria, trabalhadora, pacata, honesta, com valores estruturados. E nós, que somos mineiros, sabemos que essa é uma expressão da verdade. A fi-gura que apareceu no Mensalão (Marcos Valério) nem publicitá-rio é. Não o conheço, nunca o vi e acho que o que ocorreu foi um encontro da oportunidade com o momento, e cabe aos tribunais julgarem. Não podemos confun-dir alhos com bugalhos. O setor da propaganda é uma indústria organizada. Que recolhe impos-tos e emprega pessoas. E partici-pa com um PIB (Produto Interno Bruto) no país, de mais de 40 bi-lhões, com pelo menos 3 bilhões de reais. Somos profissionais, empresários e não admitimos ser envolvidos com determina-das práticas de uma pessoa ou um grupinho de pessoas que se utiliza de má fé para fazer ne-

gócio. Quem sofreu verdadeira-mente com o Mensalão foram as agências mineiras, que até hoje estão sendo discriminadas. So-mos zero em Brasília hoje.

Você enxerga o futuro com bons olhos?● Sim. Se não acreditar que o mundo vai melhorar vou ter di-ficuldades. Provavelmente serei uma pessoa depressiva. Acho que tudo vai melhorar: nossas ruas vão voltar a se encher de pássaros, em cada janela dos prédios deverá haver um jeito deles fazerem ni-nhos. Sou otimista porque acho que o ser humano é inteligente. Não é um ser bom. É violento, ruim, mas ao mesmo tempo é complexo e capaz de se socializar.

E de mudar também?● Sim. Mas só a partir da educa-ção. Somos produtos dela e o que vai mudar esse mundo é única e somente a educação. Temos de recorrer aos gregos, tendo a fi-

losofia como base da educação para aprendermos a pensar e construirmos um mundo me-lhor. E usar a ciência como fer-ramenta. Quem aprende a pen-sar compreende qualquer teoria científica. E se conseguirmos criar pessoas mais éticas e mo-rais, vamos melhorar muito.

Como construiu esse seu sen-so crítico?● Desde criança sempre olhei para tudo de forma muito crítica e ao mesmo tem muito imagina-tiva, o que aprendi com minha mãe. Ela olhava para uma rosa e achava que podia fazer um belo almoço. Acreditava que em um grande buraco poderia haver uma pepita de ouro. Estava sem-pre acreditando que as coisas po-deriam ser melhores do que real-mente eram. Acho que a gente sempre deve acreditar que exis-te uma pepita de ouro debaixo da terra e nos inspirarmos nisso para tornarmos o mundo melhor.

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ROBERTO HILTONPRESIDENTE DA JBIS PROPAGANDA

“A figura do Marcos Valério que apareceu

no Mensalão nem publicitário é.”

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E N T R E V I S T A1Ano de eleições municipais. Alguma mudança no mundo da propaganda política?● O mercado se autorregula. E acredito que os políticos irão se surpreender porque a sociedade está mudando. A dependência e a veiculação do indivíduo com o poder público, de provedor so-cial e paternalista, desde a Era Vargas, esse populismo, está com os dias contados. Com o advento da internet, muitas coisas, antes negligenciadas, agora estão se tornando públicas. Os políticos terão de se explicar um pouco mais para a sociedade, mostran-do mais seus valores e propostas. Teremos grandes surpresas. As pessoas começam a questio-nar hoje quem é que é capaz de lhes dar segurança, transporte público, saúde... Procuram se in-formar o tempo todo nas redes sociais e começam a ter mais dis-cernimento e opinião. Agora, elas participam de debates.

Os políticos têm noção desse movimento forte e crescente das redes sociais?● Não. Ainda acham que o políti-co carismático, que tem a máqui-na pública a seu favor, controla essas variáveis. Vão “quebrar” a cara. Recentemente, no Egito, enquanto a população usava o Facebook para discutir a crise in-terna e as questões envolvendo o governo, os paramilitares, mon-tados em camelos, chicoteavam as pessoas nas ruas.

O político ainda não traba-lha pensando no povo, para o povo?● Não. E isso me lembra a histó-ria da indústria aeronáutica que fabricava aviões sem perguntar às empresas aéreas o que elas precisa-vam. Ao mesmo tempo, as empre-

sas aéreas também não pergunta-vam a seus passageiros o que eles queriam. Tempos depois eles per-ceberam que era muito mais viável construir um avião pensando no passageiro. Como é mais viável que se construa um prédio residencial pensando na pessoa que vai morar nele. Da mesma forma, os políticos precisam começar a pensar em se tornar produtos baseados nas aspi-rações de seus eleitores. Do contrá-rio, se darão muito mal.

Esse modelo de político que aí está já ruiu?● Sim. A população quer pessoas éticas, honestas e, principalmen-te, comprometidas em solucionar problemas, como a questão da mobilidade, do transporte públi-co. Chegou a hora da transparên-cia, do comprometimento e da inovação. Os políticos têm de en-tender que dirigir a coisa pública é cuidar mais do bem comum e menos de si mesmos.

O que você acha da nova ge-ração digital?● Tive uma formação clássica. Fui um devorador de livros na infância e adolescência. Os jo-vens hoje são mais práticos. Nós éramos enciclopédias ambulan-tes. Não somos melhores nem piores. Vivemos numa sociedade digital. Antes precisávamos acu-mular tudo na cabeça. Hoje tudo

é acumulado num chip de com-putador. O lado ruim, é uma cer-ta alienação. Os jovens precisam aprender a pensar e elaborar o conhecimento que estão buscan-do na internet, sabendo lidar com o conhecimento e a informação.

Fora do trabalho o que há de bom para fazer?● Ler, viajar, ir ao cinema, cozi-nhar, curtir minha filha, Sofia (de três anos), e jogar tênis, meu esporte favorito! Sou extrema-mente competitivo, não gosto de perder. Por isso nunca perco a es-perança naquilo em que acredito.

Como dirige sua empresa?● Sou uma pessoa extremamen-te simples e procuro passar isso às pessoas. Por exemplo, acre-dito que a boa forma faz parte do bem viver. Aqui na empresa as pessoas costumavam comer coxinhas, salgadinhos do tipo “Elma Chips” e sanduíches. Pas-sei a oferecer salada de frutas na empresa todos os dias, o dia todo, porque acredito que uma boa alimentação faz bem as pessoas. Deu certo. Outra coisa, nossos horários de trabalho são flexíveis. As pessoas chegam a hora que querem e decidem que horas vão embora. Não acredito que pressionar as pessoas faz com que elas produzam mais. Procuro tornar o ambiente de trabalho um local agradável, motivando a equipe, fazendo com que cada um se sinta im-portante, com vontade de se en-contrar com o grupo. Devemos tomar muito cuidado com dois lugares nessa vida: a empresa e o colchão, onde gastamos mais ou menos 18 horas por dia. E sus-tentabilidade é um pouco isso. Contribuir para um ambiente mais equilibrado e saudável.

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

ROBERTO HILTONPRESIDENTE DA JBIS PROPAGANDA

“Setores como o da energia elétrica

e da mineração utilizam linguagens metafóricas. Vamos

checar o que é verdadeiro e o

que não é”

Page 21: Revista Ecológico 47

ESTADO DE ALERTAMARIA DALCE RICAS (*)[email protected]

Com uma “boa” foto de erosão marginal em uma rodovia asfaltada, o jornal Hoje em Dia publicou matéria sobre voçorocas formadas

em função de intervenções irresponsáveis no solo do Estado, baseada em pesquisa realizada pelo Instituto Voçorocas, que identificou 798 barrancos, em 33 mu-nicípios da bacia do Alto Rio Grande, entre o Campo das Vertentes e o Sul de Minas.

Talvez a pesquisa tenha incluído as famosas e gi-gantescas voçorocas na cidade de Morro dos Ferros, próxima a Oliveira, cujas fotos estão disponíveis na internet e que ameaçam ruas, casas e até o cemitério local. São, entre as muitas, talvez a mais grave heran-ça do Dnit para a cidade e para o meio ambiente, re-sultante da BR-381.

Em torno de BH, área não abrangida pela pesquisa, voço-rocas podem ser vistas com faci-lidade. A mais próxima, talvez, seja a gigantesca erosão deixada pela prefeitura da capital, através de uma empresa pública que não mais existe, chamada Ferrobel, em parceria com a empresa mineradora, que também já se foi, na margem esquerda da BR-40 (sentido RJ). Parte da área foi ocupada pelo Leroy Merlin, e o res-tante continua “fornecendo” terra para os manan-ciais da Copasa situados no lado oposto da rodovia.

Em Piedade do Paraopeba, distrito de Brumadi-nho, também tem uma voçoroca digna de ser vista, resultante da tentativa de abertura de estrada até a BR-040, atravessando a Serra da Moeda. Isso aconte-ceu há mais de 30 anos, e a voçoroca continua cres-cendo e descendo, como sangue, pela serra até chegar ao Córrego Fundo, afluente do rio Paraopeba. Ainda há a cratera deixada pela Extrativa Paraopeba, bem na divisa do Parque do Rola Moça, que tirou o miné-rio de ferro e se mandou. Portanto, nenhuma delas foi resultado de processos naturais.

O presidente do Instituto, Marcus Ferreira, aponta que a abertura de estradas rurais na área pesquisada, é a maior causa das erosões, “sendo a razão de 70% delas”. Eu diria estradas municipais e diria também que se trata de um dos mais graves problemas am-bientais do país, ganhando facilmente das cicatrizes deixadas por minerações irresponsáveis. E que tam-

VOÇOROCAS: QUEM VAI RESOLVER?bém continuam sendo ignoradas pelos municípios e pelo governo do Estado.

É claro, multar prefeituras, convocá-las para licencia-mento, exigir cumprimento de condicionantes é muito mais difícil do que agir em relação a empreendimentos privados. E os conselhos municipais de meio ambiente, com raras exceções, continuam a ser arremedos de cole-giados deliberativos e democráticos. A postura de tole-rância do poder público consigo mesmo é muito maior. “Macaco senta no rabo e fala dos outros”, diz um antigo ditado. O que dizer das centenas de erosões resultan-tes também das rodovias estaduais? O DER, há alguns anos, fez levantamento e criou um mapa tampado por bolinhas coloridas representando-as. E elas continuam

“firme e forte”. Não podemos esquecer também da

contribuição dos loteamentos, mina de dinheiro para um punhado de gente, fontes de degradação ambien-tal, desespero para outros e exemplo

perfeito da privatização de lucros e socialização de pre-juízos. E ainda tem treeiros, jipeiros, super pastoreio, ocupação de APPs, incêndios e desmatamentos diversos. Que aqueles que me concedem a graça da atenção, não pensem que sou negativista. A insistência representada por mais de 30 anos de militância na causa ambiental mostra o contrário: sou otimista e insistente.

E que também saibam que não ignoro a super de-manda sobre a Semad, sua precária e insuficiente estrutura de pessoal, seus baixos salários. Pelo con-trário. Por isto propusemos a criação de uma agên-cia (ou algo inovador e ousado) que poderia facilitar a mudança desse quadro. Chegamos até a acreditar que seria criada. E por último, nem ouso pensar que os órgãos ambientais resolverão todos os problemas, se seus “colegas” que interferem ou estimulam interfe-rências no meio ambiente natural não ajudarem.

Faço coro. Comando e controle, somente, não mudam essa situação. Mas não seria legal jogar alguns “deles” dentro das voçorocas? De paraquedas é claro, pois al-gumas são tão fundas que eles poderiam se machucar.

(*) Su pe rin ten den te-exe cu ti va da Associação

Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

“A postura de tolerância do poder público consigo

mesmo é muito maior.”

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Imagine que um amigo o con-vide para almoçar na casa dele. Ansioso pelos pratos es-

peciais, você se depara com uma pizza de grilos coberta por queijo e farofa de tanajura. E de sobre-

mesa, morangos com creme de leite e larvas de besouros, tam-bém conhecidos como tenébrios.

Esses insetos, que podem soar bizarros para uma nutrição oci-dental, são consumidos há séculos

em países como China, Malásia e Indonésia. Estima-se que existem 1417 espécies de insetos comes-tíveis conhecidas e que cerca de 3000 grupos étnicos ao redor do mundo que se alimentam deles.

Cristiane Mendonç[email protected]

O hábito de comer insetos, conhecido como entomofagia, é uma prática sustentável e curiosa

IGUARIAS COMO PÃO-DE-QUEIJO RECHEADO DE TENÉBRIOS E GRILOS COM DAMASCO SÃO FONTES DE PROTEÍNAS

E N T O M O F A G I A1

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Page 23: Revista Ecológico 47

Mas, você deve estar se pergun-tando: por que comer insetos?

A prática conhecida como en-tomofagia é explicada em muitos países por questões históricas de escassez de alimentos, contextos religiosos, além do simples fato de ser um alimento que estava disponível. Quando o homem viu animais comendo insetos, apren-deu que também podia comê-los. Daí ser reconhecida como fonte alimentar foi um pulo. O cientista e filósofo grego Aristóteles escre-veu sobre a coleta de “saborosas” cigarras. E na Bíblia, estão passa-gens como a de João Batista, que no deserto se alimentava de mel silvestre e gafanhotos.

Registros históricos à parte, a entomofagia tem sido defendi-da pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Ali-mentação (FAO) como solução para a escassez de alimento, que a instituição prevê para as próxi-mas décadas.

Segundo dados da FAO, até o ano de 2050 a população mundial passará dos nove bilhões de pes-soas, o que poderá causar uma crise na indústria de alimentos. Faltarão terras e água para pro-dução de mantimentos. Outro agravante, de acordo com a insti-

tuição, é que o consumo de carne anual - que hoje gira em torno de 20 quilos por pessoa - chegará a 80 quilos. Resumo da previsão: muita gente, pouco alimento.

Porém, as informações que soam catastróficas para alguns, representam novas oportunida-des para outros. Empresas e pes-quisadores que estudam o uso de insetos comestíveis defendem a entomofagia como uma prática saudável, nutritiva e, principal-mente, sustentável.

Para ser ter uma ideia, uma for-miga-tanajura tem mais proteína que um bife de filet mignon. Para se produzir um quilo de grilos é necessário alimentá-los com 1,7kg de alimentos. O frango, em contrapartida, necessita de 2,2 kg

de alimentos para produzir um quilo de carne.

O biólogo Eraldo Medeiros Costa Neto é referência no Brasil na área de pesquisas sobre a nu-trição baseada em insetos, além de ter organizado o livro “An-tropoentofagia: Insetos na Ali-mentação Humana”. Divulgador da prática, Neto argumenta que alimentar-se de insetos é um há-bito ecológico já que a criação demanda muito menos recur-sos naturais. Outro ponto po-sitivo para o professor é o fator econômico, que ao contrário da criação de gados, não demanda derrubada de pastos. Questiona-do sobre o paladar, Neto explica que os sabores dos insetos es-tão mais ligados a preferências culturais e dependem também de como eles são preparados. “O uso de especiarias, tal como em outros pratos, é fator deter-minante para que os insetos fi-quem saborosos.” Além do mais,

“Achei a barata mais gostosa que o tenébrio,

pois o tenébrio tem gosto de camarão e

eu não gosto”

SUELEN SOARES DA SILVA

i a barata maistenébr

OS INSETOS DA NUTRINSECTA TAMBÉM RECEBERAM AVAL DO MINISTÉRIO

DA AGRICULTURA PARA ALIMENTAÇÃO HUMANA

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

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Page 24: Revista Ecológico 47

o pesquisador conta que aquilo que é comido pelo inseto é de-terminante para o gosto que ele terá. “Tenébrios que se alimen-tam de flores açucaradas terão um sabor doce”, exemplifica.

Gosto que a atendente Suelen Soares da Silva diz ter aprovado. Ela já comeu baratas (Naupho-eta cinérea) e tenébrio comum (Tenebrio molitor) e disse que re-petiria os pratos sem problemas. “Achei a barata mais gostosa que o tenébrio, pois o tenébrio tem gosto de camarão e eu não gosto. Já a barata comi pura e coberta de chocolate e gostei”.

Já a auxiliar administrativa Gleis Rodrigues é veemente ao afirmar que jamais comeria e brinca: “Morreria de fome se pre-cisasse comer insetos!”

As espécies comestíveis de-vem ser produzidas em con-dições sanitárias ideais. Outro dado importante é que nem to-das são adequadas para alimen-tação humana, sendo algumas até venenosas. CRIAÇÃO DE INSETOS

Existe um mercado que vê na produção de insetos para ali-mentação uma fonte de renda sustentável. Em Betim, região metropolitana de Belo Horizon-te, a empresa Nutrinsecta produz insetos para ração animal desde 2007. E já planeja para o próxi-mo ano um quiosque para que as pessoas degustem pratos feitos à base de insetos, tal como tené-brios caramelados.

A empresa que pertence ao grupo Vale Verde, mesmo criador da cerveja Kaiser e da Cachaça Vale Verde, produz as espécies tenébrio comum (Tenebrio moli-tor), tenebrio gigante (Zophobas morio), grilo preto (Gryllus assi-milis), barata cinérea (Naupho-eta cinérea) e mosca doméstica (Musca domestica).

Como atividade pecuária, a criação de insetos requer baixo investimento e tem menos im-pacto ambiental. Há uma redu-zida necessidade de água, visto que os insetos consomem umi-dade por meio de frutas da épo-ca ou em forma de gel. Os resí-

NA NUTRINSECTA, AS ESPÉCIES SÃO SEPARADAS POR ESTUFAS E TRATADAS POR UMA EQUIPE DE SEIS PESSOAS.

O GRILO PRETO (GRYLLUS ASSIMILIS) É UMA DAS ESPÉCIES QUE PODEM

SER CONSUMIDAS TANTO POR ANIMAIS QUANTO POR PESSOAS

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Page 25: Revista Ecológico 47

duos orgânicos são reciclados transformando-se em húmus de minhoca. Os insetos são sepa-rados por espécies em estufas, alimentados com farelo de trigo, soja e milho, além de leveduras e premix mineral e vitamínico. Ao atingir a fase comercial, são de-sidratados, empacotados e têm validade de até seis meses, já que não são utilizados conservantes.

A produção do insetário atinge duas toneladas por mês, valor que reduz cerca de 2/3 depois de desi-

dratados. Para se ter uma ideia, so-mente na China são produzidas 30 toneladas por mês de tenébrios.

Os insetos são vendidos para vários lugares do Brasil e tam-bém são utilizados para con-sumo interno da Fazenda Vale Verde que cria várias espécies de animais como avestruzes, pavões e seriemas.

Mesmo atendendo todas as exigências sanitárias, a ideia de vender insetos para alimentação humana surgiu da vontade dos próprios visitantes da Fazenda Vale Verde. Ao saber que existia um insetário, eles procuravam os funcionários do local e pergunta-vam se podiam experimentar as iguarias.

Mesmo sendo um mercado promissor, segundo o zootecnis-ta Gilberto Schickler, responsá-vel pela Nutrinsecta, ainda fal-tam investimentos em pesquisas para que o mercado alavanque. “É importante a parceria com universidades e instituições para investimento em estudos e pesquisas que permitam cata-

logar mais espécies e descobrir o potencial nutritivo de muitas delas.” O zootecnista conta que faz parcerias com pesquisadores e chefs de cozinha para partici-pação de simpósios e prepara-ção de pratos. “Forneço a ma-téria-prima e eles nos ajudam a divulgar. A informação é muito importante para que as pessoas possam quebrar preconceitos e enxergar o potencial desse mer-cado”, esclarece.

Hoje com aval do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento para alimentação hu-mana, Schickler conta que já foi procurado por atletas que esta-vam em busca de baratas para alimentação, já que elas são as mais ricas em proteínas e que já forneceu insetos para reality shows e programas de TV que utilizam as espécies para provas de resistência.

PARA SABER MAIS

www.insetosonline.com.br

PARCERIA ENTRE A NUTRINSECTA E SIMPÓSIOS RENDEM

A PRODUÇÃO DE PRATOS COM VARIADOS INSETOS

GILBERTO SHICKLER É O ZOOTECNISTA RESPONSÁVEL PELA PRIMEIRA FÁBRICA DE INSETOS COMESTÍVEIS DO BRASIL

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

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Sabará reinaugura a

PRAÇA DO BARÃO

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J. Sabiá [email protected]

Voltam as águas do símbolo maior do Projeto “Boulevard de Sabará”, até hoje não implantado por falta de visão e vontade política

Com direito a viola, caldos de mandioca e feijão, e ain-da uma lua cheia no céu, a

prefeitura da cidade histórica de Minas que mais atrai visitantes da Região Metropolitana de BH conseguiu recuperar, fazer fun-cionar e entregar a fonte lumino-sa da Praça do Barão novamente à sua população. Essa notícia boa ocorreu na primeira quarta-feira de julho, numa cerimônia sim-ples e festiva. Projetada e patro-cinada pela mineradora Anglo-

Gold Ashanti, a um custo de R$ 600 mil, a fonte só funcionou um dia, em 12 de dezembro de 2008, para tristeza de seus frequentado-res. Foi durante a inauguração do Projeto de Recuperação Ambiental, Urbanística e Paisagística do Rio Sa-bará– “Boulevard de Sabará” – em uma parceria público-privada (PPP) também apoiada pela Arcelor Mitall, ex-Belgo Mineira, que nasceu e atua igualmente no município. A side-rúrgica contribuiu com R$ 1 milhão, para custear os trabalhos técnicos

doados depois à prefeitura.A exemplo das crianças, até o ex-

-prefeito na época, Sérgio Freitas, entrou e brincou literalmente em suas águas . Mas no dia seguinte, a praça amanheceu como dantes: sem a fonte. Uma infiltração em sua base, mais outros defeitos e imperfeições estruturais no proje-to doado pela AngloGold fizeram secar toda expectativa da popula-ção. Nesses quatros anos a minera-dora de ouro não assumiu nem se ofereceu para resolver o problema.

SONHO RENOVADO: QUATRO ANOS DEPOIS, A FONTE LUMINOSA DA PRINCIPAL PRAÇA AO LONGO DO RIO SABARÁ VOLTA A ENCANTAR A POPULAÇÃO E TURISTAS

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E agora, por conta própria e empe-nho criativo de seus funcionários, a prefeitura conseguiu fazer a fonte borbulhar novamente.

Foi uma festa, estranhamente só com a presença de representantes da Vale, que também aderiram à parceria, na época, fornecendo as mudas plantadas em ambas as margens do rio. Na placa alusiva ao projeto original continua escri-to, de Guimarães Rosa, “que per-to de muita água tudo é feliz”. Foi isso, o papel educativo e inclusivo da praça reinaugurada que o atual prefeito Willian Borges destacou na solenidade: “Conseguimos re-cuperar a graciosidade da praça”.

O Grupo Ecológico, através da Revista Ecológico, que idealizou e coordenou o projeto de des-poluição e recuperação do Rio Sabará, financiado pelas empre-sas, para a prefeitura, resolveu “adotar” a conservação doravan-te da Praça do Barão, através do Programa “Sabará mais Verde”. A adoção começará a partir de se-tembro próximo, quando terão terminado os últimos retoques de iluminação, reforma dos can-teiros e paisagismo. O editor da Ecológico, jornalista Hiram Fir-mino, foi quem trouxe de São Paulo para Belo Horizonte, quan-do assessor e depois secretário municipal de Meio Ambiente, a idéia do projeto “Adote o Verde”, hoje intitulado “Cidade Jardim”.

Presente na solenidade, ele lembrou a importância de se dar exemplo e ser parceiro onde a questão ambiental primeiro acontece, que é no município: “A realização recente do Congres-so Mundial de Governança local (Iclei) na capital mineira e a Rio +

20 comprovaram isso. Até o final do século, 90% da população glo-bal estará vivendo em cidades. Em 2050, dos nove bilhões estimados, 6,7 bilhões de pessoas já terão se migrado do campo. Seremos cida-dãos urbanos, e não mais rurais. O nosso viver será no concreto, no asfalto. E tornar nossas cidades sustentáveis, com um mínimo de natureza protegida, água pura e qualidade de vida, preservando os já poucos espaços públicos de verde e lazer, será fundamental”.

Em vez de só cobrar das autori-dades, os cidadãos, as empresas e instituições conscientes, incluin-do os órgãos de imprensa, terão também de fazer a sua parte, de-clarou Hiram: “Ao invés de obriga-ção, é um dever de todos, notada-mente de uma revista de ecologia como a nossa, ajudar a revitalizar e cuidar das águas, praças e jar-dins que nos restam. Que essas (Anglo, Arcelor e Vale) e outras empresas do município entrem neste mutirão. Sabará, que sem-pre lhes deu tanto ouro e minério, merece!” - exortou.

BOULEVARD DIFÍCILDesde a administração do prefei-to Wander Borges, que obteve a segunda maior votação no país e a maior em Minas, o projeto “Bou-levard de Sabará” tenta virar rea-lidade. Graças à PPP financiada pela AngloGold e a Arcelor Mittal, Sabará ganhou um projeto téc-nico e executivo final completo, capaz de recuperar totalmente a qualidade de suas águas, além de recolher e tratar seus esgotos, evi-tando que eles continuem caindo

no rio, e ainda transformar ambas as suas margens em “ramblas”, tal como existem em Barcelona e ao longo do Rio Sena, em Paris.

O projeto, porém, continua en-gavetado na prefeitura. Nenhuma de suas sucessivas administrações desde então, conseguiu sensibili-zar os governos federal e estadual, para financiarem ou apoiarem a sua implantação, incluindo o Pro-jeto Manuelzão, leia-se a sua não inclusão na Meta 2014 em parce-ria com o governo do Estado. Sa-bará e Santa Luzia são os municí-pios que mais poluem o Rio das Velhas, dentro da Bacia Hidrográ-fica do Velho Chico. E o Rio Sabará é o mais fácil de ser despoluído. O município tem projeto, feito den-tro das normas da Codevasf, o que a maioria dos municípios brasilei-ros não tem, por falta de estrutura e capacidade técnica-consultiva.

Na administração Sérgio Frei-tas, a Copasa se propôs a custear e executar o projeto. Mas exigiu, em contrapartida, que o município

RICHARDSON SILVA, JUNIA SIBELE,

WILLIAN BORGES, ARGEMIRO RAMOS E

HIRAM FIRMINO: SONHO MANTIDO

“Conseguimos recuperar a

graciosidadeda praça”

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lhe passasse também a concessão do tratamento do esgoto, repas-sada depois à conta dos muníci-pes. Como era véspera de eleição, o prefeito não quis correr o risco de ficar impopular, por autori-zar o aumento da conta de água. E nada fez, engavetou o projeto, apesar de toda a população estar ecologicamente consciente e mo-bilizada sobre a sua proposta am-biental e turística.

A notícia boa agora, dada pelo prefeito Willian Borges, na reinau-guração da Praça do Barão, é que a Câmara Municipal conseguiu aprovar, finalmente, passar ambos os serviços públicos para a Copasa, o que aumentará, em média, 40% o valor da conta de cada cidadão sabarense, para ter um rio limpo, com paisagismo e urbanismo de primeiro mundo, mais todo o seu esgoto recolhido e tratado, antes de voltar ao Velhas.

A notícia ruim é que, ao longo de todas essas administrações, a prefeitura continuou pavimen-tando e fazendo obras nas mar-gens do Rio Sabará, em desalinho à proposta conceitual do Boule-vard. O que pode estar começan-do a mudar agora, com a entrada da Copasa no município funda-do por Borba Gato. Pela primei-

ra vez, uma cidade ribeirinha do Rio das Velhas tem um projeto pronto e saneador como esse, ca-paz de limpar suas águas e fazer a população se apoderar do “rio da sua aldeia” como poetizava Fer-nando Pessoa.

A graciosidade e a esperança parecem estar se namorando de novo, na Praça do Barão.

A PRIMEIRA INAUGURAÇÃO, QUE DUROU SÓ

UM DIA: ALEGRIA E FESTA DA CRIANÇADA

O EX-PREFEITO SÉRGIO FREITAS, A SECRETÁRIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE, JUNIA SIBELE, JÚLIO

NERY (VALE), HÉLCIO GUERRA (ANGLOGOLD) E ROBSON ALMEIDA (ARCELOR): SONHO ANTIGO

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LEGADO DA

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Lições+20Esperança, urgência de mudanças, lições. Leia a seguir a opinião de quem esteve na Rio+20

e seguiu de perto os avanços e recuos da conferência mundial sobre o meio ambiente

Na mesma semana em que os países ricos alegaram na Rio+20 falta de recur-

sos para inviabilizar a criação de um fundo de US$ 30 bilhões para financiar o desenvolvimento sus-tentável no mundo, o FMI liberou mais de US$ 125 bilhões só para salvar os bancos espanhóis da cri-se financeira. Talvez seja o retrato mais simbólico do que foi a Rio+20: uma conferência cujo objetivo era discutir um novo marco civilizató-rio para o planeta, mas que viu os países mais ricos do mundo ten-tando resolver a crise a partir do mesmo arsenal que a criou.

Talvez seja também o maior le-gado desta conferência: a lição de que a solução para os proble-mas do mundo certamente não virá de um consenso entre 200 chefes de estado metidos num centro de convenções. E não virá, entre outras coisas, porque o en-caminhamento dos debates que precisamos realizar está simples-mente equivocado.

Cultura em nenhum momen-to foi tema central para a Rio+20 oficial. E não foi porque o intan-gível, o imensurável e o imaterial – verdadeiros motores da experi-ência existencial humana – são basicamente descartados por um

modelo de civilização incapaz de abraçar os mistérios intrínsecos à vida como uma benção, e não como problema a ser resolvido. É o tipo de miragem que nos faz buscar verdades, não significa-dos; resultados quantificáveis, não vivências. É como se aquilo que não pudesse chegar a um nú-mero validado por um programa de computador fosse algo menor, quando, na verdade, é aquilo que temos de mais precioso.

Estamos abolindo a ética e a dimensão imaterial da reflexão sobre nosso estilo de vida. E a coleção de estatísticas apresen-tada na Rio+20 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) é um bom sinal desta armadilha matemá-tica. US$ 1,3 trilhão ao ano para “tornar verdes os dez setores es-tratégicos da economia”? 0,03% do PIB mundial para “aumentar em 20% o valor adicionado da in-dústria florestal”? É mesmo desse tipo de decisão que precisamos? Ou dito de outro modo: é “ape-nas” deste tipo de decisão que precisamos?

Não são alguns bilhões de dó-lares pra cá e outros pra lá que resolverão nossos problemas, embora seja realmente impera-

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 XX

Vinícius [email protected]

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tivo inverter a conta que devasta o planeta para o lucro de poucos à custa de tantos. “Economia ver-de” não pode ser o tema principal de uma conferência desta natu-reza, sobretudo quando a base do argumento é a de que o caminho em direção à sustentabilidade serve para aumentar a competi-tividade da economia.

Nosso principal desafio con-temporâneo é justamente o oposto: colocar a cooperação no centro do empreendimento hu-mano. O que realmente precisa-mos discutir a fundo são coisas como ética nos relacionamentos, o primado do afeto e a possibi-lidade real de uma experiência espiritual não necessariamente religiosa com o mundo.

Uma planta não deve ser pre-

servada só pelos remédios que gera, assim como uma árvore não deve ficar em pé simplesmente pelo carbono que é capaz de esto-car. Merecem estar aí pelo simples fato de serem o que são: seres por-tadores de vida. O mundo é de to-dos nós, seres humanos inclusive.

Se fizermos o que sempre fize-mos, vamos continuar a obter o que sempre obtivemos. E seja-mos francos. Durante a Rio+20, países ricos e em desenvolvi-

mento negligenciaram o debate cultural para voltar a defender a retomada do crescimento econô-mico a partir de uma renovada expansão do consumo, sustenta-da por tecnologias inovadoras de mitigação das mudanças climá-ticas. É a versão mais do mesmo, e se fia no argumento de que a tecnologia e o engenho humano serão capazes de resolver nos-sos problemas sem necessidade de alteração estrutural no motor que move o sistema: a expansão contínua dos bens de produção e consumo, e não dos serviços essenciais de que carece a maior parte da população mundial.

O bom senso, por outro lado, demonstra que o sistema cairá pela impossibilidade material desta mesma reprodução. Afinal, a capacidade de reposição eco-lógica do planeta está no limite num momento em que bilhões de pessoas sequer acessaram a classe mundial de consumo.

E como este promete ser o sécu-lo dos países em desenvolvimen-to e de toda essa gente que estava aí excluída dos “benefícios” da globalização, resta tomar a sério a questão imediata do porvir: se o objetivo propagado destes pa-íses ainda é assegurar a seus ci-dadãos as mesmas condições de vida que há nos países ricos, e se é sabido de antemão que isso é materialmente impossível, como a humanidade resolverá seu dile-ma de perpetuar-se garantindo oportunidades e condições de vida digna para todos, com res-peito ao gigantesco patrimônio cultural e ambiental do planeta?

Não é uma porcentagem do PIB mundial que vai resolver isso.

Talvez um dia, oxalá, consiga-mos colocar estas questões – e não cifras – no centro das discus-sões sobre o futuro que realmen-te queremos.

"Cultura, por exemplo, em

nenhum momento foi tema central para

a Rio+20 oficial."

LEGADO DA

PROTESTO CONTRA A

MERCANTILIZAÇÃO DA VIDAXX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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O PODER DA INFORMAÇÃOPesquisa revelou que 74% da população carioca

conhecia os objetivos da Rio+20

Quem soube o que foi a Rio+20? Segundo levan-tamento inédito do movi-

mento Rio Como Vamos (RCV), feito com o apoio da The Climate Works e executado pela M.Sense Pesquisa, 74% da população do município do Rio souberam. E mais: essa parcela de cariocas entendeu que os temas discutidos nas conferências tinham relação direta com o cotidiano de todos e, principalmente, com a qua-lidade de vida de gerações futuras.

Segundo análise do RCV, o resul-tado da pesquisa evidencia o nível de informação e de consciência da população. Além disso, pode repre-sentar uma ponte importante para diminuir a distância entre o coti-diano dos cidadãos e os discursos oficiais de governos e empresas.

O RCV destaca ainda, a percep-ção da população sobre o consu-mo: um em cada cinco habitantes do Rio tende a optar pela quali-

dade. No momento da compra está disposto a pagar mais por produtos menos nocivos ao meio ambiente. Isso vale para equipa-mentos eletroeletrônicos e mate-rial de limpeza, por exemplo. Mas o tema alimentação é o que mais preocupa o carioca: 26% dos en-trevistados pagariam o necessário e 32% um pouco mais que a mé-dia por um produto sustentável. Muitos (64%) optariam por uma alimentação de melhor qualidade se tivessem mais dinheiro. Ou seja, a população quer escolher e não apenas comprar mais e mais.

Entre os temas apontados pela população como os que mais con-tribuíram para melhorar o bem-estar coletivo, a saúde ficou em primeiro lugar (91%) seguida pela educação (89%), segurança (81%) e proteção ao meio ambiente (63%). Este último item superou áreas como saneamento básico, trabalho

e política de inclusão de portadores de necessidades especiais.

As soluções propostas para me-lhorar o problema do lixo na cidade foram reveladoras: segundo a pes-quisa, a população conhece e quer programas de incentivo à recicla-gem (58%) e coleta seletiva (46%).

Sobre o tema educação,a popu-lação do Rio deixou claro o que de-seja para gerações futuras. Os en-trevistados querem, por exemplo, inovação no currículo das escolas. Das várias opções fornecidas para a inclusão de novos temas em salas de aula, além das matérias tradicio-nais (português, matemática, geo-grafia, história),foram ressaltados “ética e valores sociais”(71%) e cui-dados com o meio ambiente (70%).

Publicado no jornal O Globo

PARA SABER MAIS:

www.riocomovamos.org.br

“A população quer escolher e não a apenas comprar mais e mais”

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ESPAÇO PARA O OTIMISMO

LEGADO DA

Virgilio Viana (*)[email protected]

A Rio+20 pode ser dividida em duas. De um lado, a negocia-ção oficial e o texto produzi-

do no Riocentro. De outro, os mais de três mil eventos que ocorreram durante os dez dias da Conferência. Um balanço equilibrado da Rio+20 tem que avaliar ambos.

O texto aprovado pelos países pre-sentes é o suficiente para enfrentar a séria crise de sustentabilidade ecoló-gica, pobreza e desigualdade social? Não. Entretanto, o texto merece ser lido e analisado cuidadosamente. Trata-se de um grande esforço, lide-rado pela diplomacia brasileira, de renovar os compromissos dos paí-ses em caminhar rumo à sustentabi-lidade. Os princípios defendidos e a abrangência do texto são bons. Falta o que se chama de “ambição”: metas mais claras e compromissos especí-ficos. A pergunta é: se isso houvesse

sido colocado no texto, teria sido aprovado? Diante dessa incerteza, a diplomacia brasileira optou por um texto que, a rigor, atende a um dos principais objetivos da conferência: renovar o compromisso dos países quanto à sustentabilidade, no âmbi-to do multilateralismo. Todos os pa-íses fizeram declarações alinhadas com o documento e o assinaram.

A crítica das lideranças não gover-namentais ao documento oficial,

por outro lado, tem plena justifica-tiva. A ciência nos mostra que o pla-neta já está no seu limite de susten-tação ecológica e, em alguns casos, já ultrapassou esse limite. Estamos caminhando perigosamente para a ruptura de ecossistemas e ciclos ecológicos essenciais para manter a vida humana. É necessária uma mudança radical no nosso estilo de desenvolvimento, rumo a uma economia verde, com mais efici-ência no uso de recursos naturais, menos consumo de energia, menos emissão de carbono e menor pega-da ecológica. Tudo isso combinado com a necessidade imperiosa de erradicar a pobreza extrema e pro-mover maior equidade social

A pergunta que deve ser feita é: a expectativa criada em relação à Rio+20 e outros processos da ONU é razoável? Creio que não. Existe

VIANA: “CABE À ECONOMIA

PRIVADA FAZER AS MUDANÇAS”

NOSSO ÚNICO CAMINHO É ENVOLVER A SOCIEDADE CIVIL E GOVERNOS; LÍDERES POLÍTICOS, EMPRESARIAIS E AMBIENTALISTAS; CIENTISTAS E PAJÉS

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“A Rio+20 marcou o fim da fase de maquiagem verde. Não se trata mais de modismo: é uma tendência que veio para ficar”

uma expectativa que não é realis-ta diante do sistema de tomada de decisões multilaterais, baseado no consenso. É muito difícil a cons-trução de consensos num mundo marcado por circunstâncias locais muito contrastantes diante das mu-danças climáticas (exemplo: ilhas oceânicas x países árabes produto-res de petróleo), ou diante de ques-tões geopolíticas (exemplo: EUA x Irã). Assim, é quase impossível ob-ter acordos que contenham metas ambiciosas, compromissos finan-ceiros significativos etc.

Se não é possível esperar metas rígidas e compromissos legalmen-te vinculantes dos processos da ONU, como enfrentar a urgência das mudanças necessárias rumo à sustentabilidade e à economia verde? A resposta está dividida em dois segmentos: governamentais e não governamentais. No âmbito governamental, caberá aos gover-nos nacionais e subnacionais (es-tados, municípios) definir políticas de incentivo à economia verde e desincentivo à “velha economia” (poluidora, degradadora e injusta). No âmbito não governamental, ca-berá a empresas e ONGs fazer ações práticas. Mais de 75% da economia global é privada. Portanto, cabe aos agentes privados fazer acontecer as mudanças necessárias.

A boa noticia é que há muitas no-vidades no campo não governamen-tal. As empresas incorporam cada vez mais políticas e práticas coeren-tes com os conceitos de sustentabili-dade. É razoável dizer que a Rio+20 marcou o fim da fase de maquiagem verde. Um número cada vez maior de empresas incorporou especia-listas em sustentabilidade nos seus conselhos de administração e dire-torias. Não se trata de modismo: é uma tendência que veio para ficar.

Também existem boas noticias no campo do terceiro setor. Existe uma

tendência de profissionalização das ONGs, que passam a serem cobra-das por resultados, aferidos por in-dicadores sólidos e verificados por auditorias e certificação indepen-dente. Não basta apenas trabalhar por uma causa nobre. É cada vez mais necessário comprovar os im-pactos e resultados alcançados.

A DÚVIDA PRINCIPALAs mudanças estão ocorrendo na escala e velocidade necessárias? Infelizmente não. A gravidade das crises ecológica e social exige que as mudanças sejam profundas e rápidas. Infelizmente o quadro atual não estimula o otimismo. Ao contrário: dos 34 objetivos e metas analisados pelo relatório GEO-5 do PNUMA, apenas três tiveram progresso dentro do esperado. 13 tiveram melhorias em nível inferior ao necessário e 18 tiveram piora. O quadro é preocupante. Apesar dos avanços das empresas, ONGs e go-vernos nacionais e subnacionais, a velocidade e a magnitude das mu-danças ainda está muito abaixo do necessário. Entretanto, não devem passar despercebidos os 692 com-promissos, totalizando cerca de 513 bilhões de dólares que constam do anexo da declaração da Rio+20. Isso é significativo!

A questão central é: como aumen-tar a velocidade e escala das mu-danças rumo à sustentabilidade? É necessário um plano que en-volva e inclua todos, sem exceção. São ações estratégicas nas áreas da Educação e Sensibilização por-que empresas e governos só mu-darão suas políticas e estratégias se forem pressionados por consu-midores e eleitores. Na da Capaci-dade de Implementação porque modelos de gestão inovadores e lideranças empreendedoras são essenciais. Na de Recursos, devem ser criados: mecanismos para in-centivar inovações; e incentivos fiscais para empreendimentos verdes; e taxas crescentes para empreendimentos poluidores. E ainda as estratégias das Métricas e Indicadores e do Diálogo e Ava-liação Coletiva da nossa trajetória rumo à sustentabilidade. Elas são básicas para conciliar as aspira-ções das gerações atuais com os direitos das gerações futuras.

Essas cinco estratégias não re-presentam uma lista exaustiva, mas são pilares essenciais. Não há chance de, nos dias de hoje, uma assembleia da ONU tomar uma decisão revolucionária para os desafios da sustentabilidade. Infelizmente. Nosso único cami-nho é um movimento que envolva toda a sociedade civil e governos; líderes políticos, empresariais e ambientalistas; cientistas e pajés. Só isso criará as bases para uma mudança de políticas, públicas e privadas; individuais e coletivas. Quando todos estiverem conven-cidos de que temos soluções ver-des viáveis e atraentes para todos haverá espaço para otimismo.

(*) Ph.D. por Harvard; ex-secretário de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do

Amazonas e atual superintendente geral da

Fundação Amazonas Sustentável (FAS)

O DIÁLOGO QUE PRECISA SER

CONSTRUÍDO ENTRE OS POVOS

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LEGADO DA

A última reunião da Organi-zação das Nações Unidas realizada na cidade do Rio

de Janeiro, tendo como tema cen-tral a economia verde e a erradi-cação da pobreza, foi alcunhada de Rio+20, em referência à reu-nião, também da ONU, em 1992, quando o termo desenvolvimento sustentável foi consagrado uni-versalmente, como um mantra a ser seguido por todos.

Após a Segunda Guerra Mun-dial, o chamado mundo desen-volvido, notadamente os países do hemisfério norte, conhece-ram um crescimento espantoso na economia. Para isso criaram o Grande Deal, o Plano Marshall, o conhecimento científico e desen-volvimento tecnológico acumula-do nos duros anos da guerra, mas também a exploração dos recur-sos naturais daqueles abaixo da Linha do Equador.

As perdas dos processos de pro-dução, nas formas de emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos, foram consi-deradas externalidades pelas ci-ências econômicas. Traduzindo: seriam questões externas ao siste-ma de produção, deixando para o meio ambiente – o ar, as águas, o solo e a biota – a responsabilidade de internalizar.

Quando, na década de 1950, ocorreram even-tos significativos como a morte de

cerca de quatro mil pessoas em Londres, em apenas uma semana, devido à poluição atmosférica; e, no Japão, uma aldeia de pescado-res foi dizimada pela contamina-ção das águas da Baía de Mina-mata, os donos do progresso do pós-guerra começaram a sentir os efeitos colaterais do modelo eco-nômico escolhido.

Na década de 1960, Rachel Carson surpreendeu os Estados Unidos e o mundo com seu livro “A Primavera Silenciosa”, onde denunciou a contaminação do solo e dos alimentos, o desapa-recimento da fauna e os danos à saúde pelos efeitos, inclusive cancerígenos, dos agrotóxicos. Li-teralmente, a salvação da lavoura foi colocada em xeque.

Os limitesEssas e outras levaram a variável ambiental entrar na pauta de pre-ocupações dos senhores do desen-volvimento. Aconteceu no final da década de 1960. A reunião ficou conhecida como Clube de Roma, quando governantes e empresários decidiram contratar o prestigioso Massachusetts Institute of Techno-

logy (MIT) para aná-lise da situação. O documento final foi intitulado “Os Limi-tes do Crescimento”. Aí começava a “cair a ficha” que os recursos naturais são limitados e que não havia para todos, na taxa elevada e crescente de consu-mo dos países ricos.

RIO ZERO A ZERO José Claudio Junqueira (*)

[email protected]

JUNQUEIRA: “JÁ FOMOS CHAMADOS

DE OBSTÁCULOS DO PROGRESSO”XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Para sua reunião anual em 1972, ocorrida em Estocolmo, Suécia, a ONU elegeu o meio ambiente como seu tema central. Daí para sua inclusão na pauta dos países membros foi um pulo. Entretanto, isso não significou que a questão sendo tratada com a seriedade que exige. Primeiramente, meio ambiente foi visto como certo modismo romântico no Brasil da ditadura, foi taxado de ideológi-co, e jocosamente comparado a melancias: verdes por fora e “ver-melhos” por dentro. Mais tarde, como radicais obstáculos do pro-gresso, os ecochatos.

A Eco’92 deu nova dimensão à questão ambiental. O Relatório Brundtland, intitulado “ O Nos-so Futuro Comum” mostrou a ne-cessidade de integrar as variáveis ambiental, econômica e social para um desenvolvimento sus-tentável, baseado na solidarieda-de dos povos nas atuais gerações e nas futuras. Foi aprovada a Agen-da 21, para que neste século pu-déssemos redirecionar os rumos da economia, com mais justiça

social e respeito ao ambiente.Em 2002, na chamada Rio + 10,

em Johanesburgo, África do Sul, os governantes que deveriam fa-zer um balanço dos compromis-sos assumidos na Eco 92, mostra-ram mais discurso do que ações.

Rascunho ZeroPara a Rio+20, inicialmente houve muita expectativa. Depois, frus-tração com o anúncio da ausência dos principais líderes mundiais. A proposta de transformar o Progra-ma das Nações Unidas para Meio Ambiente - PNUMA em agência ambiental internacional foi abor-tada. Objetivos e metas, nem pen-sar. O Rascunho Zero, documento inicial, após discussões interminá-veis noite adentro, deu origem ao documento final, em que mais de

uma centena de parágrafos não vão além dos “reafirma, assegura, etc.”

Os otimistas exaltaram a opor-tunidade de troca de ideias nos eventos paralelos. A Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, proporcionou ao terceiro setor e à sociedade exprimir o desejo uníssono de mudanças, que os senhores do desenvolvimento tei-mam em não ouvir. Para muitos, a indústria roubou a cena com a magnífica exposição Humanida-de e os seminários de alto nível técnico no Forte de Copacabana.

Para os críticos, a reunião de-veria ser conhecida como Rio – 20. Houve muita conversa e nada de concreto para mudar os rumos do Planeta, cada vez mais insustentável. O Ministro Patrio-ta declarou que o grande ganho foi não retroceder.

Fui, vi e me convenci. Cheguei à conclusão que houve empate: Rio Zero a Zero.

(*) Doutor em Saneamento, Meio Ambiente e

Recursos Hídricos. Professor da Universidade FUMEC e

da Faculdade Dom Helder, ex-presidente da Feam

"Para os críticos, a reunião deveria ser conhecida como Rio-20"

“Os ambientalistas já foram comparados

a melancias: verdes por fora e

'vermelhos' por dentro”

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

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LEGADO DA

A MINERAÇÃO + SOCIAL

Na Rio+20, a exemplo dos países ricos, o mundo qua-se todo ali representado fez

a sua opção clara de crescer. Não mais crescer a qualquer custo, mas construindo um diálogo com a so-ciedade, compartilhando valor e deixando um legado sustentável. Minimizando e compensando, em muito maior grau, os impactos so-cioambientais. No setor da mine-ração moderna e responsável, os impactos positivos já superam os negativos. Essa foi a contribuição que mostramos.

Nossa atividade não é bonita visu-almente. Nós sabemos disso. Como também sabemos que a maior po-luição que continua nos desafian-do globalmente, como empresas, governos e sociedade, é a poluição humana, a miséria absoluta.

Neste cenário, o setor de recur-sos naturais e o de mineração, particularmente, têm um papel fundamental. Lidamos com gran-des volumes de terra e com o dia a dia das pessoas. Portanto, somos forçados a estar à frente destas questões críticas da sociedade, mais até que o setor de petróleo, cada vez mais em alto-mar.

Se trabalharmos nesta visão que foi consolidada na Rio+20, pode-mos deixar um importante legado para as atuais e próximas gera-ções. Isso passa pela ideia maior de compartilharmos os desafios e resultados que nos são inerentes, como também à toda sociedade e o meio ambiente à nossa volta.

LICENÇA SOCIAL A mineração atual só acontece se os diversos atores sociais fizerem parte deste compartilhamento e discus-

são, se pudermos deixar um legado positivo onde atuamos. Mais que a licença ambiental, oficial, que é ne-cessária e nos legaliza, o que busca-mos é a sua legitimidade também por parte da sociedade. Todas es-tas mudanças, esforços e desafios difundidos pela Rio+20, e eu parti-cipei de seus vários e distintos fó-runs, fazem parte de um contexto histórico. Estamos aprendendo e evoluindo juntos com as governan-ças locais e a sociedade organizada e consciente. Eu sou otimista. Sou a favor da transparência para fazer

estes acordos, onde todos ganham. Isso já trouxe muitos avanços. O mundo hoje é muito melhor.

Em Minas, onde a Vale nasceu há 70 anos, uma pesquisa re-cente feita pela Fundação João Pinheiro mostrou que, das 10 cidades com maiores índices de Desenvolvimento Humano Mu-nicipal (IDHM), sete delas têm na mineração o seu principal in-dutor socioeconômico.

Nosso desafio é deixarmos no planeta mais do que retiramos. E isso, minerar e preservar nessa ordem, já acontece. Em uma área de 400 mil hectares de florestas que preservamos em Carajás, no Pará, a mineração acontece pon-tualmente em apenas 3% dela. Nesta ótica, a atividade econô-mica se faz necessária como ins-trumento de preservação, e não mais o contrário.

(*) Diretora-executiva de Recursos Humanos, Saúde

e Segurança, Sustentabilidade e Energia da Vale

Vania Somavilla (*)[email protected]

DESAFIO: MINERAR E PRESERVAR O MEIO AMBIENTE

SOMAVILLA: “A MAIOR POLUIÇÃO É A

POLUIÇÃO HUMANA, A MISÉRIA ABSOLUTA”XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Page 40: Revista Ecológico 47

SUSTENTABILIDADE OU SOBREVIVÊNCIA?

Márcia Vieira(*)[email protected]

Nosso tempo traz, por ne-cessidade, evolução ou in-quietação, algumas refle-

xões sobre como estamos vivendo na Terra, como nossa civilização optou por marcar esta etapa da vida no planeta.

Vivemos uma transição mar-cada por aprendizados e frustra-ções. Fim de um ciclo e começo de outro com dúvidas naturais. O que vamos levar das experiências desta era e quais novas escolhas faremos? Até aqui, nossa ilusão de separação dos seres trouxe um desencadear de escolhas feitas de causa e “inconsequência”.

Falamos em cuidar do planeta,

plantas, animais, rios como se es-tivessem separados de nós, como se fosse apenas uma obrigação ambiental. Será? Corte as árvo-res e não terá sombra, ar puro... Polua os rios e comerá peixes contaminados. Polua o ar e terá

problemas em sua saúde. Talvez se o termo sustentabilidade fos-se substituído por sobrevivência levaríamos mais a sério. Imagine a diferença! Já leu o material so-bre sobrevivência? Como estão as medidas de sobrevivência em sua casa e empresa? Sustentabilida-de não é opção, inovação, causa ou moda… é garantia da vida. Já teorizamos demais, diagnostica-mos o suficiente. A vida na Terra aguarda ações individuais e cole-tivas agora.

Consciência ambiental é a consciência do que estamos fa-zendo aqui, quem somos, como cuidamos de nós mesmos e o que

LEGADO DA

MÁRCIA: “NOSSAS VIDAS SÃO

ESCOLHAS E CONSEQUÊNCIAS”XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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deixaremos aos filhos dos nossos filhos. Cresci no interior quando não havia sacolas plásticas; os pães eram embalados sem papel; o leite em garrafas retornáveis; as sobras orgânicas alimentavam animais domésticos ou se torna-vam adubo; das folhas e cascas eram feitos chás; os doentes eram tratados com ervas medicinais e somente quando inevitável eram comprados remédios; todos os meus vizinhos tinham hortas; os carros eram usados apenas para longas viagens; caminhávamos; havia tempo para trabalhar, brin-car,estudar e conviver com as pes-soas amadas; não me recordo dos termos stress,síndrome do pânico e outros. Em 30 anos evoluímos em muitos aspectos, porém,des-lumbrados como acesso ao con-sumo,não percebemos o acúmulo

de danos causados. As “facilida-des” da vida moderna trouxeram prós e contras. Agora vamos se-parar o joio do trigo, fazer as es-colhas para os próximos 10,20,30 anos.Tempo de decidir o que per-manece e o que vamos reinventar. Não precisamos esperar as gran-des reuniões de cúpula. Pense em Você+20, Seu Filho+20, Sua Em-presa+20, Sua Cidade+20... O hoje é fruto do ontem… Amanhã será fruto do agora. Nossa vida, indivi-

dual e coletiva, é “sustentada” por escolhas. Todas trazem sequên-cias…consequências ou inconse-quências. Como trato os efeitos das pressões da vida moderna em meu corpo, em meu pensamento? Como cuido dos meus templos sagrados: minha casa, meu corpo, minha mente, minhas emoções, meu espírito?

Cada ação, palavra, sentimento emanam reflexos no mundo ex-terno, um desencadear de efeitos capaz de impactar indefinida-mente pessoas, lugares, vidas. Es-tamos todos interconectados em uma teia de “múltiplas escolhas”. E sustentabilidade é a nossa ca-pacidade de sustentar as escolhas fundamentadas no amor à vida.

(*) Administradora / [email protected]

"Corte as árvores e não terá sombra, ar puro... Polua os

rios e comerá peixes contaminados"

“Pense em Você+20, Seu Filho+20, Sua Empresa+20, Sua Cidade+20...”

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“SENTIMENTO MAIS VERDE”Luciana Morais

[email protected]

Hora de mudar o tom do discurso e centrar esforços na solução dos problemas s a par-tir da erradicação de suas causas. Essa é

também a visão do secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas, Adriano Magalhães, que faz um balanço da participação de Minas na Rio+20. Ele destaca avanços ocorridos no Brasil e no mundo desde a Rio/92.Reafirma que o momento atual é de ação e anuncia um plano estra-tégico para desarticular a chamada ‘máfia do carvão vegetal’, desafio secular a ser superado. Minas ainda é o estado brasileiro campeão em desmatamento da Mata Atlântica. Tranquilo e determinado, Adriano reconhece que é essencial acelerar as ações de con-trole e destinar mais recursos a programas como o Bolsa Verde, que recompensa produtores rurais e posseiros que conservam suas florestas de pé: “Sem pagamento por serviços ambientais e a inclusão só-cio-produtiva das comunidades locais não teremos sucesso no combate ao desmatamento”.

LEGADO DA

MAGALHÃES: “FOI A

CONFERÊNCIA DA ESPERANÇA”

Page 43: Revista Ecológico 47

“Não adianta a imposição dos governos ou instituições. Todos têm de fazer a sua parte.”

Como foi a participação de Minas na Rio+20? Que contri-buições, impressões e apren-dizados ficaram?● Minas se preparou. Enviamos uma equipe de 45 pessoas , in-cluindo seis secretários de Estado e servidores de diferentes pastas. O estande do governo mineiro foi um dos mais visitados. Durante cinco dias, tivemos participação direta em diversos fóruns e pai-néis de debates. Entre eles, o de Secretários Estaduais de Meio Ambiente, no qual apresenta-mos as ‘Cartas do Cerrado e da Caatinga’, com diretrizes e prio-ridades para conservação desses importantes biomas, alertando inclusive para a necessidade de estabelecermos legislação mais rigorosa para protegê-los. Elabo-ramos um documento contendo 57 iniciativas já adotadas e em implantação pelo governo esta-dual, distribuídas em 17 projetos estruturantes, todos elas alinha-das aos dois pilares centrais da Rio+20: a erradicação da pobre-za e a economia verde. Além da experiência adquirida durante os debates, assinamos um acor-do de cooperação técnica com a Agência Francesa de Desenvol-vimento (AFD), envolvendo in-vestimentos de 100 mil euros em parcerias e estudos nas áreas de mobilidade urbana, proteção de florestas, gestão de resíduos só-lidos e, principalmente, recupe-ração de áreas degradadas pela mineração. A França tem elevado know-how nesse assunto e várias iniciativas de sucesso na recupe-ração de passivos ambientais, pi-lhas de rejeito de minério. Muito do nosso modelo de licenciamen-to, fiscalização e normatização ambiental é inspirado na expe-riência francesa.

Algo o surpreendeu ou de-cepcionou?● Em um dos últimos painéis de que participei, com ministros de Meio Ambiente e integrantes de vários países, sobre a proteção de florestas, o nível da discussão deixou um pouco a desejar. Em especial depois do contratempo envolvendo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que acabou se ‘indispondo’ com ma-nifestantes contrários à constru-ção da Usina de Belo Monte. Mas tudo serviu para a reflexão. Prin-cipalmente para nós, que traba-lhamos em órgãos ambientais e sentimos na pele as dificuldades de assegurar a proteção ambien-tal em um país com as dimen-sões do Brasil. E, claro, num esta-do territorial, como Minas, com seus 853 municípios. Minas é um ‘resumo’ do Brasil.Essa experiência mostrou, mais uma vez, a importância de nos mantermos serenos e centrados, buscando sempre, o caminho do meio que permita equilibrar de-senvolvimento econômico com inclusão social e a conservação dos nossos recursos naturais, que não são ilimitados.

Como homem público, mo-rador de BH e cidadão de Aiuruoca, que sentimento fi-cou da conferência?● Esperança. E a certeza de que a construção de soluções para um mundo mais sustentável passa ne-cessariamente pelo diálogo. Só é possível ter melhorias e avanços por meio de soluções compartilha-das, coletivas e com foco cada vez mais local. Não adianta a imposi-ção dos governos, de setores ou ins-tituições. Todos têm de fazer a sua parte. Os desafios a serem supera-dos são muitos, inclusive no que se

refere ao termo economia verde, ainda muito subjetivo. Prefiro falar em economia de baixo carbono.Isto permite a discussão e análise de metas concretas e mensuráveis, definindo, por exemplo, o nível de qualidade do ar e da água que que-remos para uma determinada cida-de ou região. Considero esse ponto uma das frustrações da Rio+20.

Por quê?● A expectativa era de que sai-ríamos de lá com uma definição mais clara sobre o conceito de economia verde e sua aplicação efetiva. Por outro lado, a presen-ça de delegações de 188 países mostra a importância que o tema sustentabilidade tem para o mun-do, indica o quanto evoluímos. Desde a Eco’92, mais de 100 paí-ses incluíram a gestão ambiental em suas Constituições.E tivemos vários desdobramentos positivos, entre eles, a criação do Protoco-lo de Kyoto e o estabelecimento das Agendas 21 locais. Agora, na Rio+20, ficou claro que a palavra de ordem é ação. Este é o momen-to de revermos conceitos e, acima de tudo, de mudar o tom e o foco das discussões, centrando nossos esforços na solução dos proble-mas ambientais a partir da erradi-cação de suas causas. E isso envol-ve, a meu ver, centrar foco em seis itens essenciais já contemplados na pauta de políticas públicas e na agenda da gestão ambiental em Minas: proteção de florestas, ges-tão de recursos hídricos, gestão de resíduos sólidos urbanos, melho-ria do saneamento, recuperação de solos degradados e controle da qualidade do ar.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO “MINAS +20”,

ESPECIAL SOBRE A REALIDADE E OS DESAFIOS

DO ESTADO DIANTE DA MÁFIA DO CARVÃO

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

Page 44: Revista Ecológico 47

A ESPERANÇA NAS MARCAS

1ESTANDES DA RIO +20

Com seus estandes politi-camente corretos, várias marcas e instituições esti-

veram presentes e deram seus re-cados na maior conferência am-biental do século.

Além de partici-par da Cúpula da Terra, no Aterro do Flamengo, com um estande sobre o Projeto Estação Viçosa + 20, o publi-citário Paulo Busta-mante teve um dia de observação solo

no Riocentro, onde estava con-centrada a maior quantidade de marcas e instituições. Logo após o evento, quando não havia mais ninguém, nem autoridades ou vi-sitantes, e o sol voltou a brilhar, ele revisitou o local. E fotografou as principais instalações alusivas à Rio + 20. Confira!

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

VISTA GERAL DA PRAÇA

CENTRAL DO PARQUE

DOS ATLETAS DECORA-

DA COM ÁRVORES DE

FIBRAS NATURAIS

ESTANDE DO GOVERNO DE MINAS:

APRESENTAÇÃO DOS PROGRAMAS

AMBIENTAIS COM DESTAQUE PARA

O AMBIENTAÇÃO E O HIDROEX

O GOVERNO DA ITÁLIA MESCLOU

TECNOLOGIA (FIBRAS NATURAIS)

E SIMPLICIDADE (PAPELÃO) EM

SEU BELO ESTANDE.

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O INCENTIVO ÀS COOPERATIVAS DE

CATADORES APOIADAS PELA ONG

“DOE SEU LIXO” DA ATRIZ ISABEL

FILARDIS, FOI UM DOS PROJETOS

SOCIAIS MOSTRADOS PELA COCA-COLA

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ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 XX

PROJETO “THINK BLUE” DA VOLKSWAGEN:

AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS QUE INCLUI A

RECICLAGEM DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS

UM DOS DESTAQUES FOI O ESTANDE DO

GOVERNO DO RIO DE JANEIRO, MONTADO

COM MADEIRA DE PALETES E CAIXOTES

ENTRADA PRINCIPAL DO PARQUE DOS

ATLETAS, EM FRENTE AO RIOCENTRO, ONDE

FICARAM INSTALADOS OS ESTANDES

A FOZ DO BRASIL, DO GRUPO ODEBRECHT FOI

EMBLEMÁTICA: OFERECEU ÁGUA GELADA

PARA OS VISITANTES DO RIOCENTRO.

A PETROBRAS DEMONSTROU SUAS PRINCIPAIS AÇÕES

AMBIENTAIS, COMO O PATROCÍNIO AOS PROJETOS

TAMAR, CORAL VIVO E GOLFINHO-ROTADOR

A BRASKEM DEMONSTROU A MONTAGEM DE UMA

USINA PARA PRODUÇÃO DA “MADEIRA PLÁSTICA”

A PARTIR DA RECICLAGEM DE EMBALAGENS

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Justas e sustentáveis

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Cerca de 3,5 bilhões de pes-soas vivem hoje em centros urbanos, contra 2,4 bilhões

à época da Eco 92. É um cresci-mento vertiginoso, segundo dados da ONU. O aumento no número de habitantes das cidades, nestes últimos 20 anos, equivale a nada menos que 110 cidades de Paris ou algo como 32 vezes a população de Tokyo, maior megalópole do mun-do com 37 milhões de pessoas.

Como, então, levar a pauta da

Programa levará aos candidatos das eleições, soluções sustentáveis de gestão urbana de mais de 60 cidades do mundo

Vinícius [email protected]

sustentabilidade para cidades que crescem tão rapidamente? Enca-beçado pela Rede Nossa São Paulo, Instituto Ethos e Rede Social Bra-sileira por Cidades Justas e Sus-tentáveis, um grupo de organiza-ções da sociedade civil, empresas e governos adotou sua estratégia: aproveitar as eleições municipais deste ano para apresentar, aos can-didatos, experiências inovadoras e exemplares de gestão urbana e sustentável de mais de 60 cidades

do mundo. A ação faz parte do Pro-grama Cidades Sustentáveis, que também apresenta um conjunto de indicadores de gestão urbana a ser perseguido pelos próximos gesto-res municipais.

“São boas práticas de vários paí-ses em cultura de paz, manejo sus-tentável da água, coleta seletiva de lixo, redução da poluição do ar, im-plantação de ciclovias e priorização do transporte público que quere-mos levar aos candidatos e candi-

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

Page 47: Revista Ecológico 47

Sustentabilidade na prática

datas nestas eleições”, explica o co-ordenador da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, Maurício Broinizi. O relógio, diz, está correndo. Apesar de abrigarem pouco mais da metade da popu-lação mundial, as cidades conso-mem hoje 75% de toda a energia e respondem por 80% das emissões globais de carbono.

“Podemos nos inspirar no que deu certo adaptando estas práticas para nossas condições locais”, diz Broinizi. Entre outras ações, o Programa Cida-des Sustentáveis oferece uma relação de casos exemplares para a melhora integrada dos indicadores das cida-des. Entre elas, a experiência de Co-penhage, na Dinamarca, onde 55% da população já vai para o trabalho de bicicleta. Ou a experiência de Los Angeles, nos Estados Unidos, que le-vou à redução de 62% dos resíduos depositados nos aterros da cidade, com a meta de ampliar este número

Londres2.012 hortas até 2012Esta iniciativa de alimentação sus-tentável, batizada Capital Growth, tem encorajado os londrinos a criar hortas para produção local e orgâ-nica de alimentos em espaços ur-banos inutilizados como pátios es-colares, casas de repouso, ferrovias abandonadas, margens de canal, complexos habitacionais e telhados de edifícios comerciais e residen-ciais por meio de incentivos fiscais. Além de oferecer produtos saudá-veis a preços acessíveis, a iniciativa promove o aumento das áreas ver-des e permeáveis e melhora o as-pecto visual da capital da Inglater-ra. Até o momento, há 1.500 hortas criadas e mais de 40 mil voluntários para o cuidado desses espaços. A meta é implementar 2.012 jardins do tipo até o fim deste ano.

para 89% até 2015.Para assegurar o avanço, o pro-

grama prevê a mobilização de candidatos a cargos executivos para que confirmem seu engaja-mento assinando uma carta com-promisso. Nela, os signatários eleitos deverão estar dispostos a promover a Plataforma Cidades Sustentáveis em suas cidades e a prestar contas das ações desen-volvidas e dos avanços alcançados por meio de relatórios mensais.

“Hoje somos 5.565 municípios.

Destes, mais de 4.700 tem menos de 50 mil habitantes. São cidades que também podem começar a se orga-nizar de forma inteligente, promo-vendo alianças estratégicas e com-plementando dinâmicas políticas verdadeiramente transformadoras. Temos uma grande oportunidade”, diz o professor e consultor das Na-ções Unidas Ladislau Dowbor.

Também participaram do lança-mento do programa, realizado em Brasília, representantes dos Mo-vimentos Nossa Betim/Nossa BH, Nossa São Luís, Nossa Belém, Nos-sa Campo Grande, Nossa Recife, Nossa São Paulo e Nossa Brasília. “O que marca esses movimentos é uma participação ativa e colabora-tiva para a gestão urbana. Qualquer que seja o grupo político, estamos dispostos a discutir uma visão de futuro para a cidade”, afirma o jor-nalista e coordenador do Movimen-to Nossa Betim, Luiz Guilherme.

“Podemos nos inspirar no que deu certo adaptando estas

práticas apra nossas condições locais”

MAURÍCIO BROINIZI

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

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1C I D A D E S S U S T E N T Á V E I S

Vitoria-GasteizCapital Verde Europeia de 2012Em muitas cidades europeias é utilizado um indicador que mede a quantidade de habi-tantes que mora num raio de 300 metros dos serviços bá-sicos (saúde, escolas, lojas de alimentos e espaços para ativi-dades culturais e de lazer). Em Vitoria-Gasteiz, na Espanha, 99% da população têm acesso a serviços básicos e áreas ver-des nesse raio de 300 metros em relação a suas residências. Vitoria-Gasteiz foi nomeada como Capital Verde Europeia de 2012. São também 787 hec-tares de novo cinturão verde, levando uma relação de 465 m² de floresta por habitante e um total 130 mil árvores nas ruas da cidade, além de 95 km de ciclovias e 598 estaciona-mentos de bicicletas.

BangladeshResíduo orgânico vira fertilizanteGrandes êxitos na redução das emissões em várias cidades de Bangladesh, Sri Lanka e Vietnã se deram por meio da promoção da compostagem de resíduos sóli-dos, no lugar da queima, para de-pois vendê-los a empresas de fer-tilizantes. Os objetivos principais da experiência em Daca, iniciada em 1995, são reduzir as emissões de CO2 e o desperdício de resídu-os sólidos gerando renda. Hoje o modelo já é utilizado em 47 pro-jetos por 26 cidades diferentes. Entre os resultados, redução de 18 mil toneladas na emissão anu-al média de CO2 em Bangladesh e geração de 16 mil novos empregos para a população pobre da região na compostagem de resíduos or-gânicos em Daca.

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LinköpingComida gera energia para transporteEm Linköping, na Suécia, os resí-duos provenientes de cantinas e restaurantes são utilizados para produzir biogás. Isso resultou em menor volume de resíduos, em maior uso de combustível não fóssil no transporte público da cidade e em mais disponibilidade de biofertilizante para a agricul-tura. O projeto, iniciado em 2001, é um bom exemplo de como uma autoridade local pode combinar separação de resíduos de forma mais eficiente, com produção de combustível renovável e contri-buições para a agricultura local. Além do aumento na produção de biogás em 1,3 milhão de m³/ano, equivalente a 12,65 GWh de combustível renovável por ano, a medida leva à produção de 3.422 toneladas de biofertilizante para a agricultura anualmente.

ReykjavikO chão aquece a cidadeReykjavik, capital da Islândia, tem uma localização geológi-ca privilegiada. Todos os dias, energia que vem de fontes termais subterrâneas (geo-térmica) é usada para gerar eletricidade e aquecimento a 95% de todos os edifícios da cidade. Em termos de emis-sões de CO2, a cidade é hoje uma das cidades mais limpas do mundo. Reykjavik tem o maior e mais sofisticado siste-ma de aquecimento geotérmi-co do planeta, que utiliza água quente natural para fornecer calor aos edifícios e casas des-de 1930. Foram reduzidas as emissões de CO2, entre 1944 e 2006, em até 110 milhões de toneladas, evitando o lança-mento de até 4 milhões de to-neladas do gás por ano.

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JacartaSistema de corredores de ônibusEm 15 de fevereiro de 2004, a linha de ônibus Transjakarta iniciou as operações ao longo de um corre-dor de 12,9km pelo centro de Jacar-ta, capital da Indonésia. A linha foi implementada no curto prazo de 9 meses e presta serviços para 39 mi-lhões de pessoas. São 256 ônibus movidos a GNV - o que reduz em 120 mil toneladas o CO2 produzido por ano. O corredor do Transjakar-ta fica separado e tem uma es-trutura de ônibus específica. As estações de ônibus fornecem pla-taformas elevadas para assegurar o embarque e desembarque rápido. Na maioria dos casos, as estações estão ligadas à calçada por uma ponte de pedestres e rampas para fácil acesso. Calcula-se que 5% da-queles que normalmente usavam carros passaram a usar ônibus de-vido ao novo sistema.

CopenhagueMelhor cidade do mundo para ciclistasCopenhague, capital da Dinamarca, tem o objetivo de ser considerada a melhor cidade do mundo para ciclistas até 2015. Para que isso se concretize, a cidade elaborou políticas, planos, pro-gramas e projetos que incentivam o uso de bicicletas. Atualmente a cidade conta com cerca de 340 km de ciclo-vias. Os problemas de estacionamento também foram resolvidos com a insta-lação de stands de bicicletas por toda a cidade: nas ruas, nos estacionamen-tos públicos e privados e em conjuntos habitacionais, sendo possível também trafegar com elas no trem e no metrô. Todos os dias, 55% dos moradores da cidade vão para o trabalho de bicicle-ta. E, em conjunto, a população pedala mais de 1.210 km por dia.

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KamikatsuAcademia de resíduos zeroKamikatsu é um vilarejo de 2 mil habitantes em uma região relati-vamente isolada do Japão. A ini-ciativa começou com a decisão de diminuir as taxas de incineração dos resíduos domésticos na cida-de. No Japão, o lixo não reciclado é geralmente incinerado, já que a ilha sofre com problemas de espaço que tornam aterros sani-tários muitas vezes inviáveis. Os moradores da cidade passaram a separar seu lixo em 34 tipos dife-rentes, que é levado a um posto de coleta pelos próprios cidadãos, em vez de ser recolhido da manei-ra tradicional (apenas idosos sem carro estão isentos desta respon-sabilidade). Como há subsídios para a compra de material para compostagem, estimulada pela prefeitura, a taxa de reciclagem da cidade, que era de 55% em 2000, agora gira em torno de 80%.

MilãoLinha de metrô alimen-tada por energia solarA linha vermelha do metrô de Milão, na Itália, é ali-mentada com energia solar gerada a partir de uma usi-na localizada sobre o telha-do da Azienda Trasporti Mi-lanesi, o depósito Precotto: uma instalação de 23.000 m2 com medidores de ca-pacidade para produzir até 1,4 milhão de kilowatts de energia por ano. Isso se traduz em economia para a Azienda Trasporti Milanesi e, portanto, para o cidadão comum. Além de economi-zar dinheiro, o projeto já evitou a emissão de 70 mil toneladas de CO2.

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Cincinnati Abatimento de impostos residenciaisA cidade de Cincinnati aprovou uma medida que fornece até 100% de isen-ção fiscal para imóveis recém-cons-truídos ou reabilitados, comerciais ou residenciais, que ganham uma ava-liação mínima com a designação de “prata” no certificado LEED. LEED é um sistema de certificação de cons-trução verde que é reconhecido inter-nacionalmente, o qual verifica se um prédio ou comunidade foi projetado e construído pensando em estratégias de sustentabilidade como economia de energia, eficiência da água, redução das emissões de CO2, melhor qualidade ambiental interna e gestão de recursos. No final de 2008, a cidade já possuía 64 prédios registrados como LEED, núme-ro que saltou para 99 em 2009 (cresci-mento de 54%, o maior dos EUA).

VaubanUma cidade sem carros e am-bientalmente amigávelQuando a área militar conhecida como Vauban, em Friburgo do Sul, na Alemanha, fechou em 1992 o município comprou os 38 hectares de terra desocupados para criar um novo distrito onde o planejamento fosse baseado na sustentabilidade. Foi dada ênfase à participação da comunidade, à interação social, à mobilidade, à eficácia energética e às construções ambientalmente sustentáveis. Um dos principais objetivos foi manter o centro da ci-dade com o trânsito livre e um nú-mero reduzido de carros particu-lares. Para isso, o município criou um sistema de compartilhamento de carro, estabeleceu 500 km ci-clovias e acrescentou 5 mil lugares de estacionamento para bicicletas. Hoje, 40% dos cidadãos de Vauban não têm nem precisam de auto-móveis particulares.

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AmsterdãPlanejamento da mobilidade Amsterdã, capital da Holanda, é uma cidade com características distintas. Construída em volta do rio Amsted, a cidade passou por um processo de drenagem para que pudesse ser habitada, o que fez que suas ruas ficassem abai-xo do nível do rio e do mar. Dessa mesma forma meticulosa foi pla-nejado o tráfego da cidade. Não há prioridade para um tipo de transporte, mas sim para a articu-lação entre eles no espaço públi-co. Nas ruas se intercalam espa-ços para bicicletas, carros, trens e bondes, além de ilhas e calçadas para os pedestres. Atualmente, um terço das viagens é feito por carro, enquanto que 36% são fei-tas por transporte público, 27% por bicicletas e 4% a pé.

EstocolmoVeículos não poluentesO programa Veículos Limpos em Estocolmo, capital da Suécia, que teve início em 1996, pretendeu transformar todos os veículos da cidade em não poluentes. Segun-do este programa, todos os carros devem usar biocombustíveis ou emitir menos de 120g de CO2/km, utilizando tecnologia híbrida ou veículos extremamente pequenos. A cidade tomou iniciativas para que esta meta se tornasse realida-de. A prefeitura iniciou uma nego-ciação com fabricantes de automó-veis e os incentivou a comercializar modelos não poluentes e de menor preço que os já existentes. Articula-ções com o governo nacional, jun-tamente com outros municípios e ONGs, levaram a descontos fiscais sobre veículos e combustíveis – ini-cialmente a título experimental e, finalmente, como uma política na-cional de longo prazo.

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Exemplo brasileiro

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Como dar mais harmonia ao concreto das pequenas, médias e grandes cidades

do mundo? Aproveitando o que ainda resta de área verde nas “sel-vas de pedra”.

Defendendo a ideia de que a natureza não é privilégio somente das zonas rurais. E que, portanto, o entendimento e a valorização da biodiversidade urbana podem e devem ir além, harmonizando

Curitiba colhe os louros dos benefícios de quem optou pela gestão municipal baseada na valorização dos ecossistemas urbanos

Cíntia [email protected]

mais e melhor as cidades ao redor do planeta. E, claro, trazendo, de quebra, mais qualidade de vida às suas populações.

Sobram exemplos de quem con-seguiu conciliar o cuidado e a con-servação da biodiversidade com a vida urbana. No sul do Brasil, Curi-tiba (PR), com quase 1,8 milhão de habitantes, é um deles. E fez boni-to na plenária que discutiu o tema “Cidades Biodiversas” no congres-

so mundial do Iclei recentemente realizado em BH.

Desde a década de 1970, a ci-dade trabalha em prol da natu-reza urbana. A partir da criação de leis ambientais mais rígidas, mas também de benefícios para a população, o município avan-çou no aproveitamento de seus espaços naturais.

O resultado? Cada habitante curitibano usufrui hoje de 64, 5

PARQUE BARIGUI: O MAIS

VISITADO E UM DOS MAIS ANTIGOS

DA CAPITAL PARANAENSE

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metros quadrados de área verde num contingente que se espalha por 3,9 milhões de metros qua-drados só na arborização pública, mais 77,7 milhões de metros qua-drados nos maciços vegetais. Isto significa cinco vezes mais o índice mínimo de área verde recomen-dado pela OMS como excelência em qualidade de vida.

Ao todo, são 23 Unidades de Conservação (UCs), 16 bosques, uma estação ecológica, duas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e cinco Reservas Particu-lares do Patrimônio Natural Mu-nicipal (RPPNM).

Segundo a assessora da prefeitu-ra de Curitiba, Dâmaris Seraphim, a cidade é exemplo também na gestão dos resíduos sólidos. “Não dá para ser bom na biodiversi-dade se não cuidarmos de nosso lixo. Desde 1992 trabalhamos com programas que incentivam a par-ticipação e a colaboração de to-dos. Atendemos cem por cento da população com a coleta de lixo e já temos 85% da população sepa-rando seus resíduos”, comemora.

Não é para menos. Desde 2010, a capital paranaense ostenta o título de metrópole mais verde da América Latina. A classifi-cação foi dada pelo Green City Index (GCI), projeto que analisa o desempenho ambiental das principais cidades do mundo. E que considerou Curitiba muito acima da média quanto às nor-mas ambientais adotadas na gestão municipal.

No ano da Rio+20, Curitiba foi considerada pelo programa das Nações Unidas para o Meio Am-biente (Pnuma) como modelo de “economia verde”. O conceito, que foi tema da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvi-mento Sustentável, defende o de-senvolvimento com baixa queima de carbono, eficiência no uso dos recursos e inclusão social.

PRAÇA DO JAPÃO:

HOMENAGEM À IMIGRAÇÃO

JAPONESA, EM CURITIBA

JARDIM BOTÂNICO: ESTUFA

ABRIGA PLANTAS DA

FLORESTA ATLÂNTICA

ÓPERA DE ARAME: COM

VISTA PARA O LAGO E A

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1C I D A D E S S U S T E N T Á V E I S

Se for para classificar, por grau de prioridade, quem vem em primeiro, segundo e

terceiro lugares nos centros urba-nos, Gil Peñalosa não pensa duas vezes: pedestres, ciclistas e, por último, carros. Para ele, observar como a cidade trata seus pedes-tres diz muito sobre ela.

“Pense em uma criança que você ama. Agora pense em um adulto que você ama. Você deixaria que fossem sozinhos, caminhando até a padaria?”, indaga.

Se a resposta for sim, segundo Gil, é porque a cidade está tra-tando bem seus pedestres e a mobilidade urbana. Do contrá-rio, como ocorre na maioria das grandes cidades do mundo hoje, há que se pensar com mais cui-dado em seus moradores.

No Brasil, a cada 22 minutos, mor-re uma pessoa por acidente de trân-sito. O país ocupa o quinto lugar no ranking de trânsito que mais mata no mundo. Só perde para a Índia, China, Estados Unidos e a Rússia.

Juarez Rodrigues Coelho, taxis-ta em BH há 18 anos, conhece de perto o problema. Se contar o tem-po em que foi motorista de empre-

sa, já são 23 anos no volante. Ca-sado, pai de três filhos, ele trabalha parte da tarde e a noite toda e diz que tem chegado tão cansado em casa que já não tem mais humor para aproveitar a família.

“A cada dia no trânsito perco um dia de vida. Quando a gente menos espera já está arrastando bengala e nem viu os filhos crescerem. Rodar de taxi é passar raiva. Tem dia que a gente pensa que vai sofrer um ata-que no volante”, diz.

Juarez pensa em largar o ofício em dezembro deste ano. “Não aguento mais. Dirigir em BH ficou insuportá-vel e daqui a mais dois ou três anos vai ficar impossível”, sentencia.

Para Gil, as estatísticas no trânsito e o dilema de Juarez têm a ver com o estilo de vida que levamos hoje.

“No passado, o homem enfrentou desafios que o ensinaram a sobrevi-

ver. Agora, precisa aprender a viver e a conviver. Se construo um pas-seio de dois metros, tenho uma pas-sagem. Um de quatro metros impe-de que eu esbarre em outra pessoa. Já num de oito metros, dá para fazer uma festa, um verdadeiro encontro de pessoas!”, diz.

Outra aposta de Gil como cone-xão de locais de origem e de des-tinos nos centros urbanos são as ciclovias. “Há duas condições para que se tenha mais de 10% da po-pulação pedalando: a velocidade máxima dos carros em toda a vi-zinhança não deve ser maior que 30 km/h e as ciclovias devem ser protegidas, com separação física entre ciclistas, pedestres e carros. Os bicicletários, sistema de alu-guel de bicicletas e as sinalizações também são importantes”, diz.

Preocupado com a realidade do planejamento urbano de mui-tas cidades hoje, o pesquisador alerta: “Pensar em cidades para pessoas significa priorizar pes-soas. Quando a prioridade são os carros e a construção de ruas e avenidas, ampliamos os conges-tionamentos. É como se colocás-semos fogo em gasolina”.

Cidades para as pessoasO pesquisador Gil Peñalosa defende a importância de

os centros urbanos abrigarem pessoas saudáveis e felizes

PEDESTRES E CICLISTAS DEVEM TER PRIORIDADE SOBRE OS CARROS: TENDÊNCIA MUNDIAL

DIRETOR-EXECUTIVO COLOMBIANO DA 8-80 CITIES,

ORGANIZAÇÃO CANADENSE SEM FINS LUCRATIVOS E

CONSULTOR SÊNIOR DA GEHL ARCHITECTSXX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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1PRÊMIO HUGO WERNECK

Personagem presente na história de vida de quase todos os brasileiros, principalmente nas lembranças de quem já viveu no interior,

ele tem vários nomes: Canário-chapinha, Coroinha ou Cabeça-de-fogo, em Minas. Canário-do-chão, na Bahia. Canário-da-telha, em Santa Catarina. Caná-rio-verdadeiro ou Canário-da-terra, mais universal, em quase todo o Brasil, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, e em grande parte da América Latina.

Seu nome científico é Sicalis flaveola brasiliensis, da ordem dos passeriformes. Uma das aves mais ad-miradas pelas pessoas, por causa do seu canto triste e estalado. E por isso mesmo, até pouco tempo atrás, antes do advento da consciência ecológica, segun-do listagem do Ibama, um dos dez passarinhos mais aprisionados em gaiola ou mortos a estilingadas por viverem em bandos e, em sua inocência, mais se aproximarem dos seres humanos.

Soma-se ainda um de seus nomes de sentido du-plo: Canário-da-terra, do chão, da roça, do sertão, do Cerrado e da Mata Atlântica brasileira. E Caná-rio-da-Terra, significando a realidade, luta e sobre-vivência de todas as espécies aladas do alaneta.

Estes foram os motivos que levaram os ambien-talistas mineiros a escolherem o nosso saudoso e afetivo canarinho amarelo, tal como a cor da cami-

sa da seleção brasileira de futebol, como o sím-

bolo do “III Prêmio Hugo Werneck de

Sustentabilidade & Amor à Natureza – o Oscar da Ecologia” - cujas inscrições já estão abertas e se-rão encerradas em setembro. Os vence-dores deste ano serão

conhecidos no dia 28, lua cheia de novembro,

no Teatro do Sesc-Palla-dium, em BH, durante ceri-

mônia de gala a ser presidida pela ministra do Meio Ambien-

te, Izabella Teixeira.

A MINISTRA IZABELLA TEXEIRA, HOMENAGEADA EM

2011, SE DISPÔS A PRESIDIR A PREMIAÇÃO ESTE ANO

SÍMBOLO VITALPor sua beleza e capacidade de sobreviver em am-bientes extremos, inclusive à própria contaminação da natureza por agrotóxicos utilizados sem contro-le na lavoura até pouco tempo, o Canário-da-Terra também simboliza a luta pela economia verde e a erradicação da pobreza abraçada pelos governos, empresas e ONGs socioambientais na Rio+20. Se-gundo os promotores do Prêmio Hugo Werneck, capitaneado pelo jornalista e ambientalista Hiram Firmino, sua lembrança permite um resgate do amor à Terra, à vida mais natural no campo e seu retorno também urbano junto à ecologização em curso das cidades, onde 95% da humanidade estará morando a partir do ano 2.030.

Como pregava e nos ensinava Hugo Werneck, um dos “pais” do ambientalismo brasileiro, que também amava e defendia as borboletas, “não há como sepa-rar a vida de um passarinho da vida de uma árvore, de um solo, da vida de um rio, da vida humana”.

As empresas, instituições, pessoas, polí-ticos, técnicos e organizações não-gover-namentais que não apenas cum-prem, como vão além da legislação ambiental, e ajudam a construir uma sociedade mais sustentável, justa e in-clusiva, já podem con-correr à láurea máxima do ambientalismo bra-sileiro. Para participar, se inscrever ou indicar uma personalidade ou iniciativa que mereça ser premiada e difundida, bas-ta acessar o site www.pre-miohugowerneck.com.br .

O evento este ano será cor-realizado pela Associação Brasileira das Agências de Pu-blicidade (Apab-MG) e a Suce-su Minas, através da integração de seus respectivos prêmios so-bre sustentabilidade.

sa da seleção brasfutebol, com

bolo do “IIHugo Wer

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O SÍMBOLO DO OSCAR

ARTE SOBRE FOTO/FLÁVIO BRANDÃOREUTERS/SERGIO MORAES

Page 58: Revista Ecológico 47

P R Ê M I O H U G O W E R N E C K1

Depoimentos

VITORIOSOSCom a abertura das inscrições do III Prêmio Hugo Werneck

de Sustentabilidade & Amor à Natureza, vencedores da primeira edição falam sobre o significado do Oscar da Ecologia

Aécio Neves (*) - Melhor Político

“O meio ambiente e o desenvolvimento sustentável integram hoje a agenda principal do debate da sociedade contemporânea no mundo graças ao trabalho incansável daqueles que souberam antever a im-portância que a preservação do planeta implicaria para o futuro das novas gerações. O professor Hugo Werneck esteve entre os maiores lí-deres ambientalistas do nosso tempo. Tive a honra de ter convivido com ele durante a formulação da política pública de meio ambiente para o Governo de Minas. O Prêmio Hugo Werneck faz uma justa ho-menagem ao nosso querido e saudoso professor, e contribui para o prosseguimento do imenso e valoroso legado que ele nos deixou.”

(*) Senador e ex-governador de Minas

Marina Silva (*) - Destaque Nacional

“Agradeço a todos pelo Prêmio Hugo Werneck. Lembro que devemos, sim tratar bem a Terra. Ela não foi doada a nós pelos nossos pais e an-tepassados, mas tomada emprestada das crianças, dos nossos filhos e das futuras gerações.”

(*) Ex-ministra de Meio Ambiente

Carlos Eduardo Ferreira Pinto (*) Melhor Exemplo em Resíduos Sólidos

“O Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza foi recebido com muito orgulho pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Sobretudo pela grandeza do Dr. Hugo, que representa a defesa intransigente de nossa biodiversidade.”

(*) Promotor de justiça

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Angelo Machado (*) - Personalidade Ambiental

“É muito gratificante receber um Prêmio que tem o nome de Hugo Werneck. Ele me introduziu no movimento ambientalista através do Centro para Conservação da Natureza em Minas Gerais, onde estive a seu lado durante 35 anos. Se ganhei este Prêmio devo a ele, pois apenas segui seu caminho.”

(*) Presidente da Fundação Biodiversitas, médico e entomólogo

Verdemar (*) - Melhor Empresa

“O Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza foi um reconhecimento à nossa política de Sustentabilidade, valorizando, viabilizando e contribuindo para a preservação do meio ambiente. Este é um trabalho que já faz parte da cultura da empresa e que tende a se tornar padrão em todas as operações de nossa atividade.”

(*) Alexandre Poni, diretor do Verdemar

Vitor Wanderley Junior (*) - Destaque Nacional

“Ser agraciado com o Prêmio Hugo Werneck foi de um valor muito grande para mim e para toda a equipe que cuida da área ambiental de Coruripe. E nos incentiva a continuar e melhorar todo o trabalho que já estava sendo feito com muita perseverança. Resumindo: o Prêmio, é realmente o nosso Oscar ambiental, tem uma importância enorme para nós que trabalhamos com a natureza.”

(*) Diretor-Geral da Usina Coruripe

SISTEMA DE ILUMINAÇÃO NATURAL DA FIAT (*) Melhor Exemplo em Energia

“O prêmio Hugo Werneck representou para nós, da Fiat, um expressivo reconhecimento ao esforço que fazemos para consolidar um modelo sustentável de negócios. Também tem a força de um poderoso estímu-lo para que continuemos a buscar soluções criativas e eficientes para tornar o processo produtivo cada vez menos impactante ao ambiente.”

(*) Victor Ambrosi, diretor-adjunto de Tecnologia Industrial da Fiat

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 XX

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BRANCO

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GESTÃO EMPRESARIAL & TIROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*)[email protected]

No mesmo mês em que a americana Apple decidiu que seus computadores

não precisam mais do selo ver-de da EPEAT, o Prêmio brasileiro “Hugo Werneck de Sustentabili-dade & Amor à Natureza”, nosso Oscar da Ecologia, inova e lança a categoria de Sustentabilidade em TI, em parceria com a Sociedade dos Usuários de Informática e Te-lecomunicações de Minas Gerais, SUCESU MINAS.

Se alguns dizem que a decisão da Apple é calculada porque somente parte de seus clientes exigem o selo, como a cidade de São Francisco, EUA, o Prêmio Hugo Werneck dá um passo importante para formar a opinião do mercado comprador de Tecnologia da Informação na direção da sustentabilidade.

Por aqui os exemplos ainda são escassos. Pressionados pela necessidade de resultados, nem sempre a questão da sustenta-bilidade é posta como quesito para a decisão da tecnologia de escolha pelos “Chief Information Officers”, os CIOs. A SUCESU MI-NAS pensa diferente: acaba de lançar a INFORUSO 2012, seu maior evento anual, com o tema “O valor da TI para o negócio”.

Se a tecnologia quer mesmo re-presentar valor, tem que começar a pensar no crescente exército de consumidores que se preocupam com a poluição que os equipa-mentos descartados causam ao meio ambiente ou que mesmo em uso, consomem mais energia e ro-dam softwares pouco otimizados.

UM PRÊMIO PARA A BOA GESTÃO DE TI

O Prêmio de Sustentabilidade em TI não se destina somente a fabricantes. A exemplo da cidade de São Francisco, ele também se destina a premiar iniciativas de clientes que já cobram de seus fornecedores as estratégias de sustentabilidade em suas pro-postas. E vão além: pedem que esses fornecedores tenham uma sustentabilidade ética no forne-cimento de seus produtos e servi-ços, setor onde o trabalho irregu-lar é uma realidade.

Ele é também para aquelas organizações que se preocupam com a universalidade do acesso e com a qualidade do conteúdo entregue à população pela WEB e ainda para aquelas que usam a TI para resolver problemas so-ciais de uma forma inovadora.Com esses focos, não há espaço

para as empresas ou CIOs que jul-guem que o momento ainda não chegou, que o valor da tecnologia da informação para seus respec-tivos negócios ainda não precisa incluir o valor para a vida e para o meio ambiente. A estes só posso dizer que estão errados e não te-mos mais tempo!

Sem dúvida, esta é uma oportu-nidade para que o Hugo Werneck e a SUCESU MINAS encontrem os exemplos entre os que vendem ou compram tecnologia. É o momen-to em que se poderá provar que, cada dia mais, o risco de causar danos à natureza é mesmo um ris-co calculado, mas o resultado deste cálculo é uma perda certa de lucro e já começa a incomodar.

Foi o caso da Apple: preferiu evi-tar o azar de uma sexta-feira, 13 de julho e, nesse dia, voltou atrás e comunicou que todos os seus pro-dutos voltarão a ter a certificação EPEAT. Lição dada pelo mercado, lição aprendida!

E, se nenhum desses argumen-tos servir, olhando o maravilho-so canário da terra, símbolo de um país inteiro, escolhido para encantar o prêmio 2012, a gente lembra que profissionais de TI também precisam ter coração, sensibilidade e, principalmente, amor à natureza. Que comecem a provar isso!

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente

de Sustentabilidade da SUCESU-MG

e presidente do Comitê para a

Democratização da Informática - CDI.

Gente de TI também precisa ter amor à natureza

Conheça iniciativas para certificação de cadeias de valor em Resíduos Sólidos Eletroeletrônicos:

A posição da Applehttp://goo.gl/FuSlV

Uma cidade que pensa em TI Sustentávelhttp://goo.gl/XTSNk

O que é a EPEAThttp://epeat.net

A Apple reconsiderahttp://goo.gl/ojd1p

Conheça a SUCESU MGhttp://www.sucesumg.org.br

TECH NOTES

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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OLHAR EXTERIOR1

Antes mesmo de começar a Rio+20, já se observava, como vem sendo de praxe, o tom pessimista, as de-clarações sem esperança, a torcida pelo negativo

não somente dos jornalistas, mas também dos políticos, empresários e outros profissionais que, supostamente, trabalham objetivando a implementação do desenvolvi-mento sustentável. E me perguntava: mas o que seria pre-ciso acontecer para esse público declarar como “um suces-so” a Rio+20 – em números, a maior conferência da ONU já realizada? O que deveria ser acordado para que, então, a imprensa pudesse publicar como manchete: “Rio+20: O planeta na direção correta da sustentabilidade”?Vamos analisar os resultados dessa Conferência da ONU.

705 compromissos voluntários foram assinados entre governos, organizações não-governamentais (ONGs) e os principais grupos da sociedade, incluindo 500 empre-

CRIANDO UM MUNDO MELHOR

sas, indústrias e universidades, entre outros.

50 acordos foram assinados envolvendo governos; 72 entre o Sistema ONU e ONGs; 226 entre empresas e a indús-tria; 243 entre universidades e escolas de todo mundo.

513 bilhões de dólares serão disponibilizados duran-te os próximos 10 anos para serem investidos em 13 dos principais projetos da ONU, bem como nas demais par-cerias, programas e ações nas áreas de transporte, energia, economia verde, redução de desastres e proteção ambien-tal, desertificação, mudanças climáticas, entre outros as-suntos relacionados ao desenvolvimento sustentável.

Milhares de eventos foram realizados no período que antecedeu e durante a Rio+20, incluindo mais de 500 eventos oficiais e paralelos no Centro de Convenções Rio-

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*)De Belo Horizonte, Minas [email protected]

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Page 63: Revista Ecológico 47

centro, onde a Conferência foi realizada.

45.381 pessoas participaram do evento, entre eles, 188 delegações de Estados-Membros e três observadores (totalizando 12 mil negociadores), mais de 100 Chefes de Estado e de Governo, 9.856 ONGs e outros grupos da sociedade; 4.075 profissionais da mídia. Cerca de 5.000 pessoas trabalharam no Riocentro diariamente.

Somente esses dados não seriam suficientes para valer uma manchete positiva?

O que ganham os jornalistas e pessimistas de cartei-rinha em manter e perpetuar o tom de derrota?Quer um exemplo: as reportagens que as revistas Veja e Isto É publicaram às vésperas da Rio+20, e os principais jornais da mídia brasileira. Todos destacaram os problemas que te-riam de ser abordados durante a Cúpula da ONU: desertificação, explosão demográfica, poluição dos oceanos, mudanças climá-ticas. Matérias cheias de dados, ilustradas com fotografias fantás-ticas. Junto a elas, foi publicado o que vem sendo feito pelos gover-nos, empresas, ONGs e cidadãos como eu e você para combater os problemas? Para mostrar que os desafios não estão sendo ignora-dos, mas que estratégias de ação já estão sendo imple-mentadas? Infelizmente, não.

E o pior: depois do encerramento, nas matérias de aná-lise do evento, o prazer em escrever que os nossos líderes não se interessam por nosso destino comum; de ressaltar a inoperância de nossos negociadores, com afirmações do tipo “se não andou para trás, também não avançou em nenhuma questão” (Veja, pg. 102, 27/6/2012).

Então, eu pergunto: como vamos criar um mun-do melhor para vivermos quando todo o nosso pen-samento, palavras, atenção e energia estão voltados para o negativo?

Bater incessantemente na tecla da inoperância da ONU, de nossos líderes políticos, da má vontade da-queles que nos representam diplomaticamente – espe-cialmente quando o cenário é o contrário – não nos levará a lugar algum. Ou melhor, nos guiará para as trevas do sofrimento.

DESEJO, LOGO REALIZOPor outro lado, imagine se todos estivéssemos concentra-

O que ganham os jornalistas e pessimistas de carteirinha em manter e perpetuar o tom de derrota?

dos e sincronizados em pensamentos e atitudes visando ao melhor para cada um de nós, para a nossa comunida-de, o nosso país, até alcançarmos um bem global? Pense no efeito multiplicador se nossos meios de comunicação abrissem espaços também para as ações positivas e con-cretas que estão sendo implementadas para promover o desenvolvimento sustentável?

Problemas existem, sim. Mas se desejarmos, centrar-mos nossos pensamentos e visualizarmos as imagens das realidades que queremos estar inseridos, acredite, o mundo será outro. Aliás, não é uma questão de acreditar, já que isso implicaria num ato de fé. Essa abordagem faz parte do corpo de conhecimento teórico da física quânti-ca e das abordagens filosóficas milenares.

O mundo é assim: somos o que pensamos. Em seu livro “Desejo, logo realizo – A saúde plena de-pende de nós”, o médico Roberto Zeballos afirma: “O ser humano deste século precisa urgentemente aprender a controlar seus pensa-mentos da mesma maneira que aprendeu a caminhar em pé. Será esse um marco evolutivo da nos-sa espécie tão importante quanto o domínio do fogo, a invenção da roda e a criação da escrita. Preci-

samos nos conscientizar de que, quando enxergamos as metas já alcançadas, o universo conspira para a materialização.”

Esse conhecimento já é de domínio público há séculos. Aqueles que o praticam, se beneficiam com todas as con-quistas que colecionam, através do hábito de direcionar suas vidas – e não apenas deixar o mundo rolar.

Podemos, sim, construir uma sociedade sustentá-vel. Aliás, já o estamos fazendo. Precisamos, entretan-to, que esse desejo, de viver em um mundo melhor, se torne viral; faça parte de nossos pensamentos, de nos-sas intenções, não só pessoais, mas também como so-ciedade. Que esteja estampado nas primeiras páginas dos jornais. Que seja tema das discussões que acon-tecem no mundo virtual. É preciso desejar primeiro, para que então se torne realidade. Deseje, pense e vi-sualize um mundo melhor. Para todos nós!

(*) Jornalista ambiental e editora do Portal Conexão Verde

www.conexaoverde.com

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

“Se desejarmos, centrarmos nossos

pensamentos e visualizarmos as

imagens das realidades que queremos estar

inseridos, acredite, o mundo será outro.”

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1V O C Ê S A B I A ?

MESMO VALORQuem é que não gosta de comer um ovinho com ar-roz quando a fome aperta? Ou alguns ovos de codorna como aperitivo? Mas será que existem diferenças nu-tricionais entre um e outro? Segundo a pesquisadora Nilce Maria Soares, do Laboratório de Patologia Avícola do Instituto Biológico, não. Quanto ao sabor dos ovos, a variação está na alimentação das aves. Se for de peixe, por exemplo, o gosto do ovo tenderá a ser este.

BENDITA SOIS VÓSAssim como na Bíblia, que tem na história de Maria uma gravidez sem fecundação, no mundo animal também existem fêmeas “benditas”. Pes-quisadores americanos descobriram, na es-pécie de tubarão galha-preta, duas fêmeas que conseguiram engravidar sem fecundação. Não há evidências, no entanto, se nesse caso foi o Espírito Santo quem promoveu o milagre...

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

por exemplo, o gosto do ovo tenderá a ser este.

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animal enditas”. Pes-scobriram, na es-a, duas fêmeas que

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AZUL DA COR DO CÉUA atmosfera é composta de moléculas que refletem, absorvem e difundem a luz solar. Devido a um fenômeno chamado refração, a luz solar que se difunde por essas moléculas espalha-se para todos os lados. Quando o sol está bem acima do horizonte, a luz atravessa uma camada menos espessa da atmosfera, deslocando-se para a extremidade azul da sucessão de cores em que decompõe - ou seja, do seu espectro. Por isso, o céu fica a maior parte do tempo azul, com exceção do amanhecer e anoitecer, quando a atmosfera é mais densa e as ondas luminosas se alongam, levando a luz a se deslocar no espectro para a faixa do alaranjado.

DE PÉJá repararam que os cavalos passam a maior parte do tempo de pé? Inclusive quando estão dormin-

do? Para eles é mais confortável ficar de pé, já que quando se deitam seu peso faz pressão sobre os órgãos internos do corpo. Esses animais têm um mecanismo nos tendões e ligamentos das pernas que lhes permite ficar de pé sem utilizar os mús-culos. Só em fases mais profundas do sono é que

costumam se deitar.

mecanismo nos tendões e ligamentos das pernasque lhes permite ficar de pé sem utilizar os mús-culos. Só em fases mais profundas do sono é que

costumam se deitar.

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AS RPPNS DA VALE (1)AASS RRPPPPNNSS DDAA VVAALLEE ((11))AS RPPNS DA VALE (VII )

COMODATO PETI: UNIDADE DE

CONSERVAÇÃO PRIVILEGIADA

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ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 XX2

Pode-se dizer que a Unida-de de Conservação (UC) Comodato Peti , a pouco

mais de 100 quilômetros de Belo Horizonte, é privilegiada. A re-serva encontra-se bem ao lado da Estação Ambiental Peti, da Cemig, parceira da Vale na pro-teção da UC. As duas áreas for-mam um importante corredor ecológico de Mata Atlântica para a fauna local.

No inventário da fauna e flora

da estação da Cemig foram iden-tificadas 502 espécies vegetais, 556 espécies de insetos, 10 de peixes, 24 de anfíbios, 26 de rép-teis, 256 de aves e 39 espécies de mamíferos. Algumas são novas para a ciência, como a libélula Heteragrion petiense e a árvore canela Licaria triplicalyx.

Com vegetação típica de transi-ção da Mata Atlântica e Cerrado, a reserva da Vale abriga pássaros raros. E espécies ameaçadas de

extinção, como o pavó (Pyroderus scutatus), que, inclusive, virou símbolo da Estação Ambiental da Cemig. “Hoje existem apenas 22 indivíduos aqui”, relata Leota-cílio da Fonseca, que há 28 anos comanda as atividades na esta-ção da Cemig. Outros que tam-bém sofrem ameaça de extinção e vivem em Peti são o jacu (Pene-lope obscura), o catitu (Pecari Ta-jacu), o lobo-guará e a suçuarana (Puma concolor).

Cíntia Melo [email protected]

LEOTACÍLIO, ADMINISTRADOR DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PETI: “PRIMEIRO,

ABRO UMA BRECHA NO CORAÇÃO DAS PESSOAS PARA DEPOIS SENSIBILIZÁ-LAS”

COMODATO PETI Localizada na Mina de Brucutu, no município de São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), a reserva da Vale é vizinha da Estação Ambiental Peti, da Cemig. Juntas,

as duas áreas somam 609,41 hectares e guardam a biodiversidade local

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AS RPPNS DA VALE (1)AASS RRPPPPNNSS DDAA VVAALLEE ((11))AS RPPNS DA VALE (VII)

Sérgio Pessôa, supervisor das RPPNs da mineradora, credita à criação da Gerência de Áreas Pro-tegidas da Vale e o fortalecimento da parceria com a Cemig, a maior proteção da reserva. “Sempre ti-vemos um ótimo relacionamen-to de parceria com a Cemig. Mas agora essa relação está mais for-talecida ainda”, observa.

Ele sente-se honrado em traba-lhar em prol do verde da Vale, tare-fa que considera muito gratifican-te. “Só cuidamos do que amamos. A empresa confiou em mim quan-do me passou a responsabilida-de de cuidar de suas áreas verdes. Portanto, procuro fazer meu traba-lho abraçando-as e protegendo-as como um pai”, frisa.

Ele enfatiza que um dos princi-pais desafios é vencer as invasões e os incêndios, comuns nas UCs da empresa. Para isso, conta com uma equipe que monitora toda a área diariamente, além dos brigadistas

da ONG Terra Brasilis, que faz par-te do Acordo de Cooperação técni-co financeiro entre a Vale, Semad e Sindiextra. Esses brigastistas atu-am nas ocorrências de incêdios.

Jacqueline dos Santos, por exem-plo, está na coordenação e contro-le de pessoal e é uma das que ar-regaça as mangas quando vê um foco de incêndio. Quem pensa que o fato de ela ser mulher a desen-coraja de subir morro para apagar o fogo, se engana! Nessa hora, so-bram fôlego e vontade.

“Sempre que somos aciona-dos, corremos para área. Se ficar próximo da natureza já é bom, imagine então quando a gente pode socorrê-la! É melhor ain-da, não é?”, diz.

PETI CEMIGA Estação Ambiental Peti, da Ce-mig, foi criada em 1983. Alunos do Ensino Fundamental, Médio e Superior, de escolas públicas e

“Só cuidamos do que amamos”

SÉRGIO, SUPERVISOR DAS RPPN’S DA VALE

RPPNs

RPPN Comodato Peti

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

LORE

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Page 69: Revista Ecológico 47

particulares, que ficam na área de influência da reserva e na Região Metropolitana de Belo Horizonte, podem fazer visitas e desenvolver pesquisas no local.

A Cemig integrou, ao programa de educação ambiental, a visita de grupos de terceira idade e alu-nos especiais e portadores de de-ficiências visuais e auditivas.

Outro trabalho desenvolvido na estação é o cuidado com os bichos que o Ibama apreende no comba-te ao tráfico de animais. Entre as espécies estão um casal de araras--canindé, outro de tucanos, uma coruja, alguns papagaios, um car-cará e um sofrê, que há 12 anos vive no local.

Depois de devidamente tra-tados, os animais trazidos pelo Ibama são devolvidos a seus am-bientes naturais de origem. Nem todos, no entanto, são passíveis de serem reintroduzidos. “Alguns exemplares chegam aqui bastan-

te machucados e levam muito tempo para se recuperar. Se fi-cam muito tempo no cativeiro a readaptação na mata é compli-cada”, explica Leotacílio que, na hora de sensibilizar as pessoas, costuma mostrar as consequên-cias dos maus-tratos a que esses bichos foram submetidos.

“Costumo falar das coisas di-fíceis que ocorrem no meio am-biente, como a crueldade dos ho-mens, para abrir uma brecha no coração das pessoas. Desse modo, consigo sensibilizá-las”, explica.

A Estação Ambiental de Peti conta com um laboratório que faz às vezes de berçário de mui-tos filhotes de aves e outros ani-mais. E funciona como um típi-co pronto-socorro, livrando os animais que chegam por lá de maus-tratos e da crueldade dos homens. Mais: alojamento, refei-tório, Centro de Pesquisa e fisca-lização motorizada.

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 XX

NA PRÓXIMA EDIÇÃO, LUA CHEIA DE 31 DE

AGOSTO, A ECOLÓGICO VISITA AS RPPNS DE

SOBRADO E DIOGO. ACOMPANHE!

VIVEIRO DE PETI: CUIDADO COM AS AVES APREENDIDAS DO TRAFEGO DE ANIMAIS

Apresentando fisionomias de floresta

estacional semidecidual e pequenas manchas

de Cerrado e vegetação rupícola, as matas da

RPPN hoje se encontram em estágio secundário.

De acordo com o Plano de Manejo elaborado

para a UC, nas áreas mais conservadas, a

floresta apresenta de dois a três extratos

com espécies emergentes, como o angico-

branco (Anadenanthera colubrina), além de

um sub-bosque com espécies arbóreas em

regeneração, com destaque para o angelim-

pedra (Hymenolobium janeirense), a braúna

(Melanoxylon braúna) e o jacarandá-da-bahia

(Dalbergia nigra), ambos da família Fabaceae,

típicos da Mata Atlântica.

Outras espécies observadas no sub-bosque e

indicadoras de uma boa conservação

da mata são a negramina Siparuna

guianensis, Siparunaceae, Erythroxyllum sp.

(Erythroxylaceae), a erva-de-rato Palichourea

marccgravii (Rubiaceae), entre outras.

Algumas espécies amostradas como

jacarandá-da-bahia Dalbergia nigra

(Papilionoideae) e Melanoxylon brauna

(Fabaceae), são consideradas vulneráveis e

constam da lista de espécies ameaçadas de

extinção em Minas Gerais. Outra espécie,

Vernonanthura diffusa (Asteraceae), compõe

a lista daquelas presumivelmente ameaçadas

no estado.

Quanto à caracterização da avifauna foram

constatadas e identificadas 44 espécies

de aves. Entre elas, a juruviara (Vireo chivi), o

pichito (Basileuterus hypoleucus), a saíra-sete-

cores (Tangara seledon), a chorozinha-de-

chapéu-preto (Herpsilochmus atricapillus) e o

piolhinho (Phyllomyias fasciatus).

Segundo o Plano de Manejo, a reserva é

pouco suscetível à ocorrência de queimadas

devido à ausência de propriedades rurais em

seu entorno, à existência de aceiros no limite

norte, à continuidade da área florestada

nas demais porções e à existência de corpos

hídricos limitantes a leste.

SAIBA MAISFERN

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Page 70: Revista Ecológico 47

MA

RCO

S G

UIÃ

O

Dia desses fui parar num lu-gar chamado “Péla Jegue”, comunidade com nome

dos mais esquisitos que já estive. Lá tive a felicidade de conhecer Geral-do Bruaca, um moreno de barbas e cabelos já esbranquiçados, rosto redondo sempre ornado com um sorriso franco, olhar doce e andar arrastado. O apelido é derivado de um namoro ainda nos tempos de ginásio com uma moça sem mui-tos encantos, que a garotada de antanho assim lhe caçoavam. Os anos se passaram, a moça sumiu, mas o apelido ficou. Sujeito de boa prosa, esticada nos detalhes, fui me agradando daquilo e acabei por passar boa parte de minhas horas de folga ouvindo relatos e

rindo de suas muitas histórias. Num dilatou muito e a conver-

sa deu-se por encaminhar para as plantas medicinais da região. Sa-bedor de minha paixão pelo tema, ele me encarou com seriedade e de-clarou enfático:

Fui curado de uma diabetes braba com uma pranta... Óia que nesse tempo minha vida era só in-ternado, fazendo exame de tudo quanto é qualidade. Teve dia deu tomar inté 18 comprimido de ma-nhã e outra remessa dessa mesmi-nha em antes de dormir... Aquilo era uma fadigação sem base, pois só de insulina eu tomava três fer-roada no dia e mermo assim a glicose só viajava nas alturas, lá pelos 800. Eu já tava sem espe-

rança de vida mió, quando certo dia uma vizinha me trouxe umas batatas escuras, uma tal de Yacon (Smallanthus sonchifolius). Pois foi minha valença!

Dispois de uma semana a glicose deu ponto de queda, daí regulou e já se vão dois anos que num tomo nem aspirina. Ocê que é jornalista, conta esse caso pros outros, quem sabe preles tamém vai sê bão... Prá mim foi bão por demais!

Assim fica o registro do que ouvi, e aproveito para acrescentar outras informações que andei recolhen-do sobre a Batata Yacon. Originá-ria da região dos Andes, tem sabor adocicado e textura semelhante a uma maçã. De acordo com pes-quisas realizadas pelos orientais, parece que ela atua no intestino, diminuindo a absorção da glicose. A recomendação é consumir dia-riamente de três a quatro fatias da yacon cruas, sem cozimento. Os efeitos costumam aparecer a partir de 7 a 10 dias depois.

Seu consumo também é reco-mendado para os hipertensos, e o mineral mais abundante en-contrado nela é o potássio, com 230mg para cada 100g da batata. Um adoçante natural de baixa caloria, a inulina, é um tipo de carboidrato presente em gran-des concentrações naYacom, conferindo-lhe um agradável sa-bor de pêra. Experimente e de-pois me conte os resultados. Inté a próxima lua!

(*) Jor na lis ta e consultor em plantas medicinais.

NATUREZA MEDICINALMARCOS GUIÃO (*)[email protected]

1

Vai plantar BATATA!

BATATA YACON: SANTO

REMÉDIO PARA OS

HIPERTENSOS

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Page 71: Revista Ecológico 47

OLHAR POÉTICO ANTONIO BARRETO (*)[email protected]

1

éuma

pedraque eu

vejo vivaentre as águas

molhando a linhatorta do horizonte

sem linha e não oarisco peixe que ciscaclarágil a superfícieda nuvem sem fim

sim deve haveralgo táctil

entrenós

enão

mais seránecessário

despertar-lheo sonho o sono

o limo e o cheiroa lua o luaro mar ou o

ar porque talvez só

PeixePeixePeixe

assim entenda o rio que a pedra o peixe e o vento são apenas

pequenos enigmas que o silêncio da água não sabe decifrar

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

ISTO

CK

Page 72: Revista Ecológico 47

1H U M O R

Fernanda Mann [email protected]

“Humor e criatividade que chamam à serie-dade”. Essa é a defi-

nição de José Alberto, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil, para o livro “Aquecimento Global em Cartuns”.

Para Léo Valença, organizador do livro, “é importante dissemi-nar a sustentabilidade ao máximo possível. Quanto mais pessoas,

empresas e instituições se envol-verem nessa jornada, melhores condições de vida conseguiremos no futuro. Mas, acima de tudo, é importante fazer a nossa parte.” Por isso, a editora Pod foi esco-lhida a dedo. Ela utiliza o sistema “print on demand”, ou seja, ao invés de produzir estoques de li-vros, eles só são impressos depois de encomendados pelo site www.

podeditora.com.br/livros/humorE se uma imagem vale mais que

mil palavras, são muitas as refle-xões sobre esse tema nessa pu-blicação que reúne 25 charges de diferentes autores. Algumas delas, premiadas pelo festival Green Na-tion Fest, foram divulgadas pela ECOLÓGICO, na edição de junho. As demais você confere nesta edi-ção e nas próximas luas cheias.

Consciência ambiental pelo riso

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Page 73: Revista Ecológico 47

ADRIANO LOUZADA

O jovem de Campinas, de 20 anos, já par-

ticipou de diversas exposições, como “Ho-

menagem a Hanna-Barbera, “Hiroshiuma e

Nagasaki” e salões de humor como Redman

Art. Desenha desde a infância e seus traços

têm grande influência de Mangás e Animês.

ALAN SOUTO MAIOR

O publicitário carioca, ilustrou o jornal por-

tuguês Expresso, em 2006 e ganhou vários

prêmios como o 1º Lugar no VIII Salão de

Artes Plásticas Elisabeth Kinga da Associa-

ção Brasileira de Desenhos e Artes Visuais

e Menção Honrosa no Festival Internacional

de Humor e Quadrinhos de Pernambuco,

entre outros.

www.fotolog.com/alansoutomaior

CASSO

De Belém do Pará, Carlos Augusto Nascimen-

to, desistiu da profissão de administrador e

virou cartunista, caricaturista, chargista e

ilustrador. Instruiu oficinas de desenho de hu-

mor para fundações, é chargista esportivo do

tablóide “O Bola”, que sai diariamente no Diá-

rio do Pará e ilustra também para o Diarinho,

caderno infanto-juvenil. Conquistou vários

prêmios e seu trabalho é reconhecido interna-

cionalmente, já tendo publicado em catálogos

no Brasil, Iran, Turquia, China, Portugal, Índia,

Croácia, Itália, Yugoslávia, entre outros.

cassocartuns.blogspot.com

BIRA DANTAS

Paulista da capital, ele fez o curso de Edito-

ração de História em Quadrinhos na Escola

de Comunicação e Artes da USP em 1985 e

o curso Design Gráfico na Escola Arquitech

de Campinas em 1995. Participou da Asso-

ciação de Quadrinhistas e Caricaturistas de

SP e passou por diversas mídias, como as

revistas Pantâno, Tralha, Porrada, Megazine

e de jornais como Retrato do Brasil, Folha da

Tarde, Diário do Povo e Pasquim. Professor na

Escola de Arte Pandora, em Campinas, desde

2002, publica charges no site.

www.chargeonline.com.br.

CHARGE:

ALAN SOUTO MAIOR

QUEM SÃO ELES CHARGE:

ADRIANO LOUZADA

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Page 74: Revista Ecológico 47

1H U M O R

CHARGE:

CARLOS AUGUSTO

R. NASCIMENTO

CHARGE:

UBIRATAN LIBANIO

DANTAS DE ARAÚJO

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Page 75: Revista Ecológico 47

BRANCO

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FAZENDA PARQUE DA ROSETA

1TURISMO

Hiram Firmino [email protected]

Inaugurada, em Baependi, a mais nova opção de lazer e turismo histórico-cultural do Circuito das Águas

Com direito a lua cheia no céu, fogueira para espantar o frio e violão de Juarez Moreira, o ambientalista Paulo Maciel

Júnior, ex-secretário de Meio Ambiente de BH e ex-diretor da FEAM, realizou seu sonho antigo. Na última noite de junho, ele inaugu-rou o Parque do Cavalo e do Pouso do Tropei-ro na antiga Fazenda da Roseta, ex-morada da família do Barão de Maciel, seu bisavô, em Baependi, no Sul de Minas.

O evento contou com a presença de quase 200 pessoas, entre autoridades, empreende-dores de turismo, produtores rurais, criado-res de cavalos, jornalistas e ambientalistas. Logo após missa e benção celebrada pelo Pe. Itamar, defronte à antiga Gruta de N. S. de Lourdes, também restaurada, o Parque do

FAZENDA DA ROSETA: A ANTIGA MORADA DO BARÃO DE MACIEL É ORIGINÁRIA DE UMA SESMARIA DE 1738, CUJA HISTÓRIA ESTÁ PRESERVADA COMO ATRAÇÃO HISTÓRICA.

GRUTA NOSSA SENHORA DE LOURDES:

RELIGIOSIDADE RESTAURADA

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Page 77: Revista Ecológico 47

Cavalo “Paulo Cesar Junqueira de Andrade” foi aberto ao trade tu-rístico com um show, à parte, do adestrador Zé Trovão e seus cava-los Lusitanos e Mangalarga Mar-chador.

O Pouso do Tropeiro, que dora-vante irá recepcionar os turistas e viajantes a cavalo pela região, também foi inaugurado na mes-ma oportunidade. Trata-se de es-paço destinado à hospedagem de cavaleiros e amazonas que quei-ram desfrutar de um ambiente rústico, porém acolhedor, que remete aos velhos tempos dos tropeiros. Como atrativo tradi-cional, a pousada possui fogão a lenha e churrasqueira que podem ser utilizados pelos próprios hós-pedes, caso queiram preparar sua própria comida. Eles contam ain-da com assistência veterinária de emergência para os animais além de transporte em micro-ônibus de um destino a outro, com todo conforto e segurança.

HISTÓRIA REVISITADANascido em 1837, naquele muni-cípio, Justo Domingues Maciel III era também conhecido como o Barão da Roseta, das Águas ou de

FAZENDA PARQUE DA ROSETA

Para mais informações, agendamento

de grupos e reservas, os interessados

devem entrar em contato com a agência

de receptivo regional- Caminho Natural

Turismo e Meio Ambiente, parceira da

Fazenda da Roseta.

www.caminhonatural.tur.br

[email protected]

(35) 3341-7525

COMO IR

Contendas. Iniciou suas ativida-des como tropeiro, levando pro-dutos da fazenda para a corte no Rio de Janeiro e São Paulo.

Casado com Luíza Leocádia Ri-beiro da Cunha, que era cantora lírica e interpretava Chopin, a ba-ronesa fez parte da comitiva que recepcionou a visita da família imperial a Caxambu, em 1868. A princesa Izabel, que casada com o

Conde D´Eu, diz a lenda, só con-seguiu engravidar após beber as águas ferruginosas desta estância hidromineral e, em agradecimen-to, mandou construir a belíssima igreja em sua homenagem, no alto da cidade.

Justo Maciel também foi pre-sidente da Câmara Municipal de Baependi e também o primeiro prefeito do município após a pro-

A BELEZA E O

ADESTRAMENTO DOS

CAVALOS FORAM

UM SHOW À PARTE

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 XX

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Page 78: Revista Ecológico 47

Várias au-

t o r i d a d e s ,

políticos e

p e r s o n a l i d a -

des da região

prestigiaram o

evento, como o

prefeito de Ba-

ependi, Efrain

Lemos, o promotor de Justiça, Bergson

Guimãraes, e o promotor cultural Cláudio

Mourão. Mas a figura que mais chamou

a atenção foi do também baependiense

Chico Pelúcio, do Grupo Galpão. Nesta

mesma data, sua cidade natal estava toda

“vestida” com fotos, bandeiras e posters

da ex-moradora mais ilustre, Francisca de

Paula de Jesus, a “Serva de Deus”, como

Nhá Chica era conhecida, por causa da

sua beatificação reconhecida e recém-

-anunciada pelo Papa Bento XVI.

A noite enluarada já entrava a madru-

gada. O frio estava de rachar. A pinga já

tinha acabado; a fogueira, quase; e um

nevoeiro tipo londrino acabara de envol-

ver toda a fazenda e seus últimos visitan-

tes. Foi quando, parece que do nada, Chi-

co Pelúcio apareceu de repente para se

despedir. Envolto num casaco com o ca-

puz amassado na cabeça contornando o

rosto, a lembrança da Santa de Baependi

veio na hora, e unânime. Todos a “viram”

ali no estilo Galpão, também benzendo a

Fazenda do Barão”.

PAULO MACIEL: “O NOSSO OBJETIVO É PRESERVAR O PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO, OS

COSTUMES, A CULTURA E A HISTÓRIA SUL-MINEIRA COM SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL”

A noite em queChico Pelúcio

virou Nhá Chica

O COMPOSITOR JUAREZ MOREIRA COM AS FOTOS DO BARÃO E DA BARONESA AO FUNDO: ALTAR DA HISTÓRIA

clamação da República, na época do regime parlamentarista.

Em 1884, acompanhou o im-perador D.Pedro II na inaugura-ção da ferrovia “The Minas and Rio Railway”. Como empresário fundou e presidiu a “Empreza das Águas de Caxambu e Con-tendas” (sic), considerada a pri-meira indústria constituída de engarrafamento de águas mine-rais. Nesse período, importantes obras foram realizadas para im-plantação do Parque das Águas de Caxambu.

Após a morte de Justo e Luíza, a propriedade da Fazenda da Ro-

seta passou a pertencer aos seus descendentes, incluindo os pais de Paulo Maciel. Com o declínio das suas atividades produtivas, o patrimônio sofreu um forte des-gaste e, desde 2005, vinha sendo restaurada para se transformar na primeira Fazenda-Parque da região e, assim, pode receber não somente cavaleiros e amazonas, como os turistas tradicionais em busca de beleza natural e a vida no campo.

Segundo Paulo Maciel Jr., que preside a Lume Ambiental em Belo Horizonte, a ideia maior é integrar o Sul de Minas a ou-

1TURISMO

tros polos de turismo equestre dos estados vizinhos do Rio e São Paulo, criando e aumentan-do a oferta de emprego e renda na região que já foi próspera no passado: “Mais que isso, quere-mos provar que recuperando o meio ambiente e trazendo a exu-berância da natureza de volta, através do turismo ecológico, é possível desenvolver a chamada indústria sem chaminés de ma-neira simples e necessária.”

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

MIR

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Page 79: Revista Ecológico 47

BRANCO

Page 80: Revista Ecológico 47

1E N S A I O F O T O G R Á F I C O

O VELHO CHICODE ALAIN DHOMÉ

ALAIN DHOMÉ: FOTOJORNALISTA E PUBLICITÁRIO.

REALIZOU DOIS DOCUMENTÁRIOS PARA A TV

FRANCESA.COLABORA EM VÁRIAS REVISTAS COMO

GEO, PARIS-MATCH , TERRA E SIPA-PRESS.

40 imagens, 40 histórias. É assim que o fotojornalista e publicitário franco-brasileiro Alain Dhomé vê e mos-tra o Rio São Francisco ao mundo. Catalogadas tam-bém na forma de um livro didático, suas fotos, tiradas de 1999 a 2003, já foram expostas em Brasília, França e Colômbia. Seu último itinerário, de propósito, foi em BH, mais precisamente na Fundação Zoo-Botânica, onde existe o maior aquário temático do Brasil, dedi-cado às espécies do Velho Chico. São 1.200 peixes de 50 espécies diferentes, distribuídos em 22 tanques, em um cenário que reproduz as margens e o fundo outro-ra viçoso, em processo de recuperação ambiental. O objetivo é mostrar a riqueza natural e cultural em tor-no de um rio considerado a coluna vertebral da con-quista do território nacional. É uma homenagem ao povo ribeirinho e um apelo para sua conservação.

Este rio com nome de santo que nasce no Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Mi-nas, corre por cinco estados, per-corre centenas de comunidades, povoados e cidades até chegar ao

mar. Por onde passa, se ouve histórias. Elas falam dos índios tapuias que viveram às suas margens. Das bandeiras e entradas paulistas, baianos e pernambuca-nos em busca de ouro e pedras preciosas. Do comércio entre os povoados feito por canoas ou barcaças movi-das a remo e hoje feito por balsa. Ele é também o rio dos Currais. Por ali existiu e ainda existe um ambiente agropastoril que fomentou o homem são-franciscano, descendente dos tropeiros e sertanejos.

A lente de Alain capta a fé dos ribeirinhos na procis-são de Bom Jesus dos Navegantes. Revela o imaginário que ganha forma nas toscas esculturas de carrancas moldadas nos fundos de quintais. Eterniza o pescador, flagra a brincadeira, registra o olhar do velho escravo e

denuncia a poluição. E por fim, e na es-perança de que seja para sempre, mos-tra as exuberantes imagens de um rio místico. Da nascente à foz.

PARA SABER MAIS

www.nossomundoaui.blogspot.com.br

JÚLI

A C

OST

A

Marina [email protected]

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Page 81: Revista Ecológico 47

2

FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO

ALAGOAS/SERGIPE

BARCO DE VELA QUADRADA

SÓ ENCONTRADO NO BAIXO

SÃO FRANCISCO

CIDADE DE PENEDO (ALAGOAS):

AQUI SURGIU O PRIMEIRO

POVOADO ÀS MARGENS DO RIO

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ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 XX

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Page 82: Revista Ecológico 47

1E N S A I O F O T O G R Á F I C O

PESCADOR DE PIRAPORA

NA LIDA DO DIA A DIA

BREJO GRANDE (SERGIPE): JOGOS

FLUVIAIS USANDO UM TRONCO

COMO TRANPOLIM

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

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Page 83: Revista Ecológico 47

BARCOS NA PROCISSÃO DE BOM

JESUS DOS NAVEGANTES

( ALAGOAS/SERGIPE)

PROCISSÃO DE BOM

JESUS DOS NAVEGANTES

(ALAGOAS/SERGIPE)

CACHOEIRA CASCA

D'ANTA - SERRA DA

CANASTRA /MG

FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO

(ALAGOAS/SERGIPE)

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ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 XX

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Page 84: Revista Ecológico 47

Agosto de 1971, tempo frio. Lá pelas cinco da ma-nhã, Tetê, minha mulher, acordou assustada com as frases desconexas que eu dizia em delírio,

tremendo com mais de 40 graus de febre. Éramos um casal muito jovem (eu tinha apenas 21 anos) e inexpe-riente diante da vida. Correu ao telefone da vizinha e aconselharam-na a chamar o Dr. Célio de Castro.

Foi assim que em menos de meia hora ele chegou a minha casa e me viu prostrado e em volta, todo um alvoroço familiar. Com muita calma, examinou, revirou, mediu, auscultou, vasculhou e sentenciou. “Uma virose muito forte”. Receitou e alguém foi cor-rendo buscar um antibiótico de amplo espectro,

M E M Ó R I A1

RELATO DE UMA SAUDADE

XX ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

coisa moderna na medicina de então. Mais antitér-micos, alimentação frugal e deixar que o tempo se encarregasse do resto.

Voltou no final da tarde. Novos exames e consegui-mos conversar um pouco. Naquele dia eu perdi uma viagem a Lavras onde faríamos mais uma das apre-sentações de Oh! Oh! Oh! Minas Gerais. Cinco dias de repouso e recuperação. “Quando você melhorar, vá ao meu consultório que vamos fazer outros exa-mes”, disse de saída. Calma e segurança era o que me passava aquela figura frágil e minuciosa.

Dias depois fui ao consultório, ainda no Hospi-tal Santa Mônica e lá conheci a Lia, secretária que o acompanhou por toda a vida e que se tornou mi-nha amiga. Pediu exames depois de uma consulta de mais de uma hora revirando daqui e dali a procura de respostas. “Virose mesmo, isso não tem explica-ção, não tem causa aparente, está no ar”, explicou. E estendeu a conversa como se não tivesse mais ne-nhum paciente na sala de espera. Teatro, arte, litera-tura, política, vida, terapia.

Célio fazia terapia e insinuou que eu deveria fazer o mesmo. “Muita sensibilidade aguçada gera ansie-dade, depressão, angústia, você vai precisar deste suporte”, concluiu.

Amigos desde então, meu médico e ouvinte atento durante mais de 30 anos. Bastava um pequeno sin-toma, um medo à toa e lá ia eu ao João XXIII ou ao consultório clamando por socorro que nunca me foi negado. Parava tudo, examinava e conversava. “Mais uma crise de ansiedade, não é, Pedro Paulo?” E con-versava, receitava e eu saia dali com a alma lavada, vendendo saúde.

Estivemos juntos nos principais movimentos con-tra a ditadura e o arbítrio: Anistia, Cebrade (Centro Brasil Democrático), Fundação do MDB, campanhas políticas, luta contra a censura. Mais que amigos, nos tornamos companheiros de ideias e de utopias.

Deputado Federal, atendia em BH às sextas e sá-bados aos incontáveis amigos, correligionários e até

Pedro Paulo Cava (*) [email protected]

“SUA SABEDORIA ESTAVA NO OLHAR

QUE ELE POUSAVA SOBRE AS PESSOAS”

O temor consciente ou inconsciente do fim de todas as coisas é fonte de angústia e muitos transtornos, que podem ser tratados.

AD

ÃO

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GU

ES

RevEco_Ago12_MEMÓRIA CELIO DE CASTRO_OK_R_C.indd 1 20/07/2012 10:06:02

Page 85: Revista Ecológico 47

dos e chorei em seu ombro. Bei-jei suavemente a testa daquele amigo e ele sorriu feliz.

Célio se foi e deixou uma marca na vida de cada um que teve a fe-licidade de conviver com ele. Em mim, talvez, tenha deixado muitas, mas a maior de todas é a saudade.

(*) Depoimento do diretor teatral no livro

“Doutor Célio de Castro-Trajetória”

como Doutor Beagá. Lançamos sua campanha para prefeito em noite memorável no Teatro da Cidade. Não mais que uns 40 amigos. Ele tinha naquele mo-mento apenas 2% de intenção de votos. Ganhou na ponta das urnas. Conhecia as vísceras e os vícios da cidade, andava a pé por suas artérias e veias e sentia pal-pitar o coração dos miseráveis e desprovidos que habitavam os bairros mais pobres. A cada dia tomava o pulso e media a pres-são da metrópole e se entristecia por não ter todos os remédios que pudessem dar cabo da pior doença: a miséria humana.

Almoçávamos juntos quase toda semana. Ele saia a pé pela rua Goi-ás e enfrentávamos a fila do bande-jão mais próximo. Simples em tudo. Sua sabedoria estava no olhar que ele pousava sobre as pessoas e os comentários que eventualmente emitia sobre a política.

Quando adoeceu corri ao hos-pital e lá estava toda a família. Por covardia minha, nunca tive a coragem de visitá-lo em casa. Não queria vê-lo doente, logo ele que me aliviou de tantas do-res e aflições. Encontrei-o numa homenagem na Câmara Munici-pal. Sorriu e gritou quando me viu. Ficamos um tempo abraça-

adversários políticos. Era referên-cia na medicina nacional. Lia mar-cava as minhas consultas por últi-mo porque sabia que a prosa entre médico e paciente iria se estender. Na saída: “Dr. Célio disse que não vai cobrar a consulta”. Ele sabia que eu não tinha muitos recursos. E deve ter sido assim com tantos outros que ele, como um passe de mágica, aliviava as aflições.

Ameaçado, perseguido, os ho-mens da direita jogaram uma bomba em sua casa que destruiu parte da frente. Eu estava no trân-sito e ouvi a notícia pelo rádio. To-quei para a casa dele na Rua Cate-te e devo ter sido dos primeiros a chegar. Maria e as crianças escon-didas e aterrorizadas nos fundos da casa. Ele ao telefone e outros amigos foram chegando e a rua se encheu de medo e de gente.

Enfrentou sem medo as ame-aças, tornou-se constituinte, vice-prefeito e depois virou mito

LIVRO CONTA A TRAJETÓRIA DO MÉDICO E POLÍTICO MINEIRO

CÉLIO DE CASTRO E SEU FILHO RODRIGO,

IDEALIZADOR E REALIZADOR DO LIVRO

PEDRO PAULO CAVA: “ CÉLIO DE CASTRO

CONHECIA AS VÍSCERAS E OS VÍCIOS DA

CIDADE, ANDAVA A PÉ POR SUAS ARTÉRIAS”

CÉLIO DE CASTRO

Célio de Castro nasceu em Carmópolis de

Minas em 1938. Se formou em medicina

pela UFMG em 1958. Foi também presi-

dente do Sindicato dos Médicos. Casado

com Maria das Dores Matta Castro, teve

4 filhos: Adriana, Rodrigo, Marcelo e

Ana Paula. Antes de ser eleito prefeito

de BH em 1996 e reeleito em 2000, foi

deputado federal e vice na gestão de

Patrus Ananias em 1992. Morreu em 20

de julho de 2008.

QUEM É ELE

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 XX

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A NATUREZA DE ROUSSEAU

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um dos pensadores modernos que mais defenderam o meio ambiente no século XVIII. Entendia que o

amor à natureza deveria ser um dever pedagógico para aqueles que não mediam esforços em lutar con-tra os depredadores. Essa luta era no sentido de cons-cientizá-los da importância do convívio pacífico com a natureza como a condição primeira da felicidade humana. Seus ideais naturistas eram baseados no conceito de que sentir seria sempre antes de pensar, do bem pensar. A felicidade passa a ser um sentimento e não um pensamento. E, mais ainda, é esse sentimento que conduz, organiza e direciona o pensamento. É o coração que orienta a razão e, portanto, se a sua pai-xão é consistente, a sua conduta o será também.

Uma das teses mais polêmicas de Rousseau é que o homem é naturalmente bom, mas a civilização o corrompe. O contato constante com o natural produz uma alma nobre no sentir e no pensar. Já a civilização corrompe aquilo que conquistamos na natureza: as

exigências morais que norteiam e estruturam a nossa conduta no mundo.

Corrupção, deslealdade, violência e egoísmo são frutos de um processo civilizatório desumano que o indivíduo não conhecia em estado primitivo. A grande desgraça das sociedades modernas é a insti-tuição da propriedade privada. O dia em que um in-divíduo traça um limite e afirma “isto é meu”, come-ça a luta encarniçada pela vida, pois os outros irão fazer a mesma coisa.

O homem em contato com a natureza sabe das suas necessidades inatas, mas as sociedades modernas criam outras falsas necessidades, levando o ser hu-mano ser a mais atraído pelo supérfluo do que pelo necessário. Quantos de nós não deixamos de lado um copo d’água para tomar um de refrigerante? O ho-mem primitivo era feliz porque se sabia e se sentia in-serido num contexto cósmico da existência, contexto esse já programado de geração em geração. As ritua-lizações do passado faziam com que esse homem se sentisse protegido da ação corrosiva do tempo, desse tempo que destrói e que mata. É a força dos laços co-munidade-família que impede o indivíduo primitivo de escolher o caminho destruidor das mudanças con-tínuas, da angústia e da solidão modernas.

Desse modo, Rousseau achava que o homem pri-mitivo estava a uma distância astronômica das so-ciedades corruptas e egoístas do mundo moderno. É bom também advertir que esse pensador moderno não prega o retorno absoluto ao mundo natural e nem a destruição das sociedades civilizadas. Ele de-fende uma relação mais constante com a natureza conjugada com as conquistas tecnológicas. E é pela educação, (vejam a sua obra pedagógica Emilio) que podemos atenuar essa discrepância entre o na-tural e o cultural. A busca de uma vida mais pró-xima da natureza e, portanto, mais saudável, seria o objetivo de todo homem de bom senso. Para ele, o mergulho do indivíduo na magia grandiosa da na-tureza, faz com que ele sinta a própria infinitude do seu espírito. Essa entrega mística ao natural seria o reflexo objetivo de uma alma boa, feliz e integrada ao mundo em que vive.

CONVERSAMENTOSALFEU TRANCOSO (*)[email protected]

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