Revista dos Bancários 35 - out. 2013

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www.bancariospe.org.br DOS Bancários Revista Ano III - Nº 35 - Outubro de 2013 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco Com uma greve de 23 dias, a mais forte das últimas décadas, bancários quebram a intransigência dos bancos e encerram mais uma Campanha Nacional vitoriosa Mais uma batalha vencida

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DOS BancáriosRevista

Ano III - Nº 35 - Outubro de 2013 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Com uma greve de 23 dias, a mais forte das últimas décadas, bancários quebram

a intransigência dos bancos e encerram mais uma Campanha Nacional vitoriosa

Mais umabatalha vencida

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2 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Opinião Editorial

>>A forte greve construída pelos bancários surpreendeu os bancos, que tiveram que ceder e atender as reivindicações dos seus funcionários

Valeu a pena

DOS BancáriosRevista

Redação: Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00Fone: 3316.4233 / 3316.4221Correio eletrônico: [email protected]ítio na rede: www.bancariospe.org.br

Presidenta: Jaqueline MelloSecretária de Comunicação: Anabele SilvaJornalista responsável: Fábio Jammal MakhoulConselho editorial: Anabele Silva, Geraldo Times, Jaqueline Mello e João RufinoRedação: Fabiana Coelho, Fábio Jammal Makhoul e Sulamita EsteliamDiagramação: Bruno LombardiFoto da capa: Beto OliveiraImpressão: NGE GráficaTiragem: 12.000 exemplares

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

ÍndiceAs conquistas da greve

As histórias da greve

A truculência dos bancos

Entrevista: Jaqueline Mello

As crianças e os livros

Dicas de cultura

Bancário artista

Conheça Pernambuco

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São Paulo, 5 de setembro. Depois de quarenta dias de negociações, os bancos apresentaram uma contra-proposta para as reivindicações da Campanha Nacional dos Bancários deste ano que previa reajuste salarial de 6,1% e mais nada.

Recife, 11 de outubro. Depois de 23 dias de greve, os bancários apro-varam um acordo com os bancos que garantiu 8% de reajuste salarial, 8,5% de valorização do piso, PLR maior e avanços nas condições de trabalho, no combate ao assédio moral e nas questões relativas à saúde.

Os mais de quarenta dias que se-param a última negociação antes da greve e a aprovação do acordo foram de muita luta e suor para os bancários. Mas a briga valeu a pena.

Os bancos, que diziam categorica-mente nas negociações e nas matérias

veiculadas pela grande imprensa que os bancários não teriam aumento real este ano, tiveram que ceder, pres-sionados pela mais longa e forte greve realizada pelos seus funcionários nas últimas décadas.

A forte paralisação construída pelos bancários surpre-endeu até mesmo os bancos. Em entrevista para a Folha de São Paulo, publicada no dia 27 de setembro, o diretor de Relações Trabalhistas da Fenaban, Magnus Apostólico, responsável pelas negociações com os bancários, afirmou que os “bancos decidiram que não haverá aumento acima da inflação este ano”. Falando em nome dos banqueiros, o diretor da Fenaban disse que “ao repor o poder de com-pra, os bancários continuarão com os melhores salários do mercado, os melhores benefícios e a participação de lucros [PLR] garantida em convenção coletiva”.

O que nem Magnus e nem os banqueiros esperavam era que os bancários fossem resistir a toda sorte de pressão promovida pelos bancos e se manter firmes numa longa greve.

Nesta edição de outubro da Revista dos Bancários você vai lembrar como foi a Campanha Nacional deste ano, a difícil greve encarada pela categoria e as conquistas garantidas com muita luta. O fechamento desta edição foi adiado em quinze dias para que a revista saísse quen-tinha, com todas as informações desta luta que já entrou para a história dos bancários brasileiros.

@bancariospe /bancariospe

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Capa Campanha Nacional

A Campanha Nacional dos Bancários de 2013 entrou para a história como uma das mais difíceis batalhas enfrentadas pela categoria nas últimas décadas. Para conquistar um grande acordo com os bancos, os traba-lhadores tiveram de encarar 23 dias de greve, a mais longa desde 2004

e a mais forte das últimas décadas. Só em Pernambuco, 90% das 600 agências do estado aderiram ao movimento e permaneceram fechadas.

Mas a luta valeu a pena. Pelo décimo ano consecutivo, os bancários garantiram aumento real de salários que, no acumulado de 2004 para cá, já soma 18,33% de reajuste acima da inflação. A valorização do piso é ainda maior: 38,7% a mais que a inflação nos últimos dez anos.

Isso sem falar dos avanços conquistados com a valorização da PLR e as me-lhorias nas áreas da saúde, condições de trabalho e no combate ao assédio moral.

Passados os 23 dias de greve e toda luta que antecedeu a paralisação, os ban-cários podem se orgulhar da linda campanha que construíram este ano, em que mostraram garra e disposição para enfrentar os bancos.

Uma lutaMuitas conquistas

Depois de 23 dias degreve, a mais longadesde 2004 e a mais forte das últimas décadas,os bancários encerraram mais uma CampanhaNacional vitoriosa,com grande parte dasreivindicações atendidas

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BANCários lotArAM A AssEMBlEiA quE AProVou o ACorDo E ColoCou uM PoNto fiNAl NA grEVE, No DiA 11 DE outuBro: No MoMENto DA VotAção, trABAlhADorEs forAM “ABENçoADos” Por uMA fortE E ráPiDA ChuVA

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Mas, para garantir um grande acordo nas negociações gerais com a Fenaban e nas específicas com o Banco do Bra-sil, Caixa e BNB, os bancários tiveram muito trabalho. “Começamos a negociar com os bancos no início de agosto e, depois de um mês e meio de diálogo sem avanços, não restou outra alternativa que não fosse a greve. Mas conseguimos quebrar a intransigência dos bancos, que juravam, até pela imprensa, que este ano os bancários não teriam aumento real de salários”, diz a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello.

A luta dos bancários garantiu um reajuste de 8% para os salários, vales e auxílios, com ganho real de 1,82%. Já o aumento dos pisos foi de 8,5%, um ganho real de 2,29%. “Conseguimos, ainda, valorizar a nossa PLR. Além de garantir um reajuste de 10% no valor fixo da regra básica, a parcela adicional irá mudar para melhor. Antes, os bancos distribuíam 2% do seu lucro líquido como adicional. Agora serão 2,2%. Pa-rece pouco, mas só esses 0,2% a mais significam R$ 120 milhões do lucro dos bancos que estão indo diretamente para o bolso dos bancários”, comenta.

Para Jaqueline, apesar dos avanços garantidos nesta Campanha Nacional, a pauta de reivindicações dos bancários continua cheia. “É claro que não conquis-tamos tudo que queríamos. Mas a luta não para. A Campanha Nacional acabou, mas as negociações permanentes com os bancos continuam. Vamos manter a pres-são sobre as instituições financeiras para avançar nas reivindicações que ainda não foram atendidas visando melhorar, sempre, os salários e as condições de trabalho dos bancários. E também vamos manter a luta contra os abusos dos ban-cos. A Contraf-CUT e os sindicatos estão pressionando o Governo Federal para a realização, urgente, de uma Conferência Nacional sobre o Sistema Financeiro para discutirmos que tipo de bancos queremos para o Brasil”, diz.

Capa Campanha Nacional

PriNCiPAis CoNquistAs Nos BANCos PÚBliCos

BANCO DO BRASIL• Contratação de 3 mil concursados• Mais caixas executivos, efetivando quem está há mais de 90 dias na função• Para a ascensão por meio do TAO (Talentos e Oportunidades) serão consi-derados os primeiros 20 colocados nas disputas das vagas. A medida serve para coibir favorecimentos

CAIXA• Manutenção da PLR Social • Pagamento de todas as horas-extras feitas pelos funcionários de agências com até 15 empregados • Mais contratações

BNB• Manutenção da PLR Social • Contratação de 850 funcionários• Revisão do PCR

PriNCiPAis CoNquistAs

Reajuste8% (1,82% de aumento real)

PisosReajuste de 8,5% (ganho real de 2,29%)

Participação nos Lucros e ResultadosRegra básica: 90% do salário mais valor fixo de R$ 1.694,00 (reajuste de 10%), limitado a R$ 9.087,49. Se o total apurado ficar abaixo de 5% do lucro líquido, será utilizado multiplicador até atingir esse percentual ou 2,2 salários (o que ocorrer primeiro), limitado a R$ 19.825,86PLR adicional: aumento de 2% para 2,2% do lucro líquido distribuídos line-armente, limitado a R$ 3.388,00 (10% de reajuste)

Auxílios• Vale-refeição: de R$ 21,46 para R$ 23,18 por dia• Cesta-alimentação e 13ª cesta: de R$ 367,92 para R$ 397,36• Auxílio-creche/babá: de R$ 306,21 para R$ 330,71 (para filhos até 71 me-ses). E de R$ 261,95 para R$ 282,91(para filhos até 83 meses)• Requalificação profissional: de R$ 1.047,11 para R$ 1.130,88

Adiantamento emergencialNão devolução do adiantamento emergencial de salário para os afastados que recebem alta do INSS e são considerados inaptos pelo médico do tra-balho em caso de recurso administrativo não aceito pelo INSS

Combate ao assédio moral• Gestores ficam proibidos de enviar torpedos aos celulares particulares dos bancários cobrando cumprimento de resultados• Redução do prazo de 60 para 45 dias para resposta dos bancos às denún-cias de assédio moral encaminhadas pelos sindicatos

Novas conquistas• Abono-assiduidade: 1 dia de folga remunerada por ano• Vale-cultura: R$ 50,00 mensais para quem ganha até 5 salários mínimos

Compromissos assumidos• Discutir um novo modelo de PLR antes da campanha nacional de 2014• Reunião específica para discutir aprimoramento do programa de preven-ção de conflitos no ambiente de trabalho• Realização, em data a ser definida, de um Seminário sobre Tendências da Tecnologia no Cenário Bancário Mundial

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Capa Campanha Nacional

Greve forte

e solidáriaCom espírito decooperação, bancáriosderam bons exemplosnesta greve, com uma série de protestos solidários

A solidariedade deu o tom da Campanha Nacional dos Bancários em Pernambuco este ano. Construiu-se um

movimento forte e coeso, na mais longa greve da categoria desde 2004 e na mais forte das últimas décadas. A despeito das pressões conhecidas, al-guns incidentes provocados por alguns gestores e até mesmo casos isolados de

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CErCA DE CEM BANCários DoArAM sANguE DurANtE A grEVE, NuM ProtEsto soliDário CoNVoCADo PElo siNDiCAto

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Capa Campanha Nacional

truculência, a tranquilidade reinou em terras pernambucanas.

No espírito de cooperação com a so-ciedade, o Sindicato convocou vários protestos solidários, a exemplo da doação coletiva de sangue, simbólica das rela-ções de trabalho nos bancos. No dia 1º de outubro, uma centena de “bancários sangue bom” se dirigiram ao Hemope para deixar sua contribuição, muitos deles do interior. Outros protestos com a marca do partilhamento aconteceram ao longo da greve, com distribuição de sopa à população de rua, por exemplo.

“Da capital ao interior, a greve come-çou com força, e desde o primeiro dia os grevistas mostraram a compreensão de que é preciso lutar juntos para se chegar à conquista. Estamos todos de parabéns”, avalia a presidenta do Sin-dicato, Jaqueline Mello.

Uma prática comum em greves pas-sadas foi retomada naturalmente nesta campanha: nos bancos públicos, conso-lidada a paralisação de suas unidades, não foram poucos os bancários que se mobilizaram para ajudar a fechar agên-cias dos bancos privados.

Geraldo Lélis é exemplo dessa solida-

riedade e disposição de luta. Empregado da Caixa há pouco mais de um ano, par-ticipou ativamente do movimento pela primeira vez, em sete anos de trabalho como bancário. Egresso do setor privado, passou pelo Santander e pelo Bradesco. Sua agência aderiu à greve, e ele levou seu entusiasmo para ajudar no fechamen-to da Agência Imperador do Bradesco, onde trabalhou anteriormente.

“Tenho muito orgulho de reencontrar meus colegas. Mais ainda em poder par-ticipar ativamente, pela primeira vez, de uma causa. Essa luta é em prol da nossa dignidade. Eu sei que os colegas dos bancos privados têm, sim, espírito de luta, mas não podem participar, porque são escravizados pelo sistema. Então, eu os represento”, resumiu Lélis, logo no primeiro dia de greve.

Veterana de algumas greves da cate-goria, Sandra Cavalcanti também saiu de sua agência para ajudar na paralisação em outras unidades do próprio Banco do Brasil: “Participo do movimento há anos. Acho muito importante, pois quanto mais gente adere, mais rápido a greve termi-na, pois o banco se sente pressionado”, exemplificou.

Dois episódios envolvendo bancários dos bancos públicos, também, são dignos de registro: no Banco do Brasil , Agência Praia de Boa Viagem, a gerência média se movimentou para chamar os colegas resistentes à responsabilidade - “ou tra-balhamos ou paramos todos”, contou o bancário Fábio Andrade no quinto dia de greve. A Caixa Teatro Marrocos, que mo-vimenta as contas do Governo do Estado, mobilizou empregados de diferentes unidades para fechar a agência na última semana de greve, deixando o governo Eduardo Campos em polvorosa.

APoio Dos CliENtEs Os inevitáveis transtornos provocados

pela greve não subtraíram o apoio da po-pulação, numa mostra de que a moral dos banqueiros está em baixa junto ao povo, e que este compreende os motivos da paralisação prolongada. Desde o início, o movimento contou com a compreensão e, até mesmo, a simpatia de clientes e usuários o que serviu de estímulo aos trabalhadores.

Carlos Augusto, cliente da Caixa Es-pinheiro e do Itaú Piedade, por exemplo, justificou a paralisação como contraponto à lucratividade dos bancos: “Nunca se viu um lucro tão estratosférico, e isso não é repassado para quem de fato toca o banco, que são os funcionários. Então, eu acho que a população deve apoiar essa greve, porque é legítima.”

Jeremias Gonçalves Reis, cliente da Caixa, chamou a atenção para o tratamen-to que a categoria recebe dos banqueiros para empenhar seu apoio: “É preciso olhar pelo lado dos funcionários. Mesmo precisando usar os serviços dos bancos, hoje já é possível resolver minhas ques-tões de outra forma”, lembra ele, que é analista de sistemas.

Lamartine Santos é especialista em solda e cliente do Bradesco, mas também compreendeu as razões da greve e a ne-cessidade de os bancos buscarem entrar em acordo com os bancários: “A gente

ProtEsto CoM DistriBuição DE soPA AJuDou A PoPulAção MAis CArENtE E AtrAiu A siMPAtiA Dos CliENtEs PArA A grEVE

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chega aos bancos e leva horas para ser atendido, porque faltam funcionários. Os bancos cobram taxas em cima de taxas e não contratam”, observou.

Aposentada pelo ex-Bandepe, Neucita Ferraz hoje é apenas cliente do Bradesco, mas ainda guarda o amor à causa: “Sem-pre participei das greves, porque se o bancário não se unir e participar a gente não consegue nada” afirmou.

No Santander de Gravatá, Roseane Albuquerque se queixou das péssimas condições de atendimento e cobrou mais contratações. “Precisa ter mais funcioná-rios. A gente fica horas na fila, debaixo de sol e chuva”, reclamou.

Para a secretária de Finanças do Sindi-cato, Suzineide Rodrigues, este apoio dos clientes e usuários dos bancos foi essen-cial para fortalecer os bancários na greve. “Nossa luta também inclui os clientes. Queremos que os bancos contratem mais bancários para melhorar o atendimento e também reivindicamos mais crédito e menos juros para a população. O país todo é explorado pelos bancos e, por isso

mesmo, a luta dos bancários é de todos os brasileiros”.

DE PAi PArA filhoSe dependesse da vontade de Fabiano

de Lima Brito, o filho não trabalharia em banco, embora ele próprio siga na trilha do setor há 23 anos. Com experiência de duas décadas em bancos públicos, pri-meiro no Banco do Brasil e nos últimos seis anos na Caixa, aconselhou-o a usar o diploma em Economia para trabalhar noutras áreas, melhor remuneradas e menos sacrificantes.

Renato Tenório Brito fez o que os filhos costumam fazer: não ouviu o con-selho do pai, prestou concurso, passou e há cinco anos é funcionário do BB. “Não houve qualquer motivação filo-sófica. Foi necessidade de segurança, mesmo”, garante Renato, que confirma a anti-influência paterna: “Se fosse ouvir meu pai, eu correria léguas de banco. Ele sempre alertou para a falta de condições de trabalho, baixa remuneração e não--valorização profissional”, reconhece.

Entretanto, ambos se afinam quando o assunto é greve. O pai sempre fez greve, e o filho segue o exemplo, desde que se tornou bancário. Fez mais, tornou-se diretor do Sindicato, onde é titular da Secretaria de Relações Intersindicais: “Quis ser dirigente, exatamente, para ser agente transformador dessa realidade. Aprendi com meu pai que a gente deve lutar pelo coletivo ao invés de seguir a lógica de correr atrás de uma comissão, do individualismo, que impede alguns bancários de fazer greve”, diz.

Fabiano Brito nunca fez parte da dire-ção do Sindicato, mas sempre foi mili-tante ativo, daqueles que ajudam a fechar outras agências, e dá plantão à frente da unidade. Principalmente no final dos anos 80, tempos de redemocratização do país, quando a CUT assumiu o Sindicato dos Bancários de Pernambuco.

O cacoete de militante permanece, ainda que afirme não ter, hoje, “o mesmo

entusiasmo”. Foi ele, por exemplo, quem colou os cartazes de greve na agência da Caixa no Shopping ETC, na Rosa e Silva. Confessa, também, que mantém o hábito de conversar e convencer o pessoal a participar das assembleias e da greve. E aponta contradições: “Hoje as pessoas estão meio descrentes no movimento sindical e, ao mesmo tempo, têm medo de se queimar. As pessoas não querem se expor”.

Talvez aí residam as dificuldades em barrar as transformações vivenciadas por quem trabalha nos bancos públicos nos últimos tempos. O próprio Fabiano Brito elenca: “Perdemos vantagens salariais. Na Caixa, por exemplo, não recebo mais licença-prêmio. A cobrança de resultados sempre existiu, mas no afã de garantir rentabilidade e se manter no topo dos mais lucrativos, caso do Banco do Brasil, por exemplo, os bancos pú-blicos têm abusado da pressão sobre os funcionários.”

Capa Campanha Nacional

gErAlDo lélis: “tENhoorgulho DE lutAr, PElAPriMEirA VEz, Por uMA CAusA”

rENAto sEguiu os PAssos Do PAi,fABiANo: Virou BANCário E MilitANtE

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“O Santander é podre.” A definição é de uma cliente do banco, Le-nilda da Silva, servi-

dora pública que denunciou ao Sindi-cato a discriminação de que é vítima a clientela comum. Ao ponto de “pedir um cafezinho e me dizerem que é só para cliente Vang Gogh, tanto nesta agência como na Caxangá”, ilustra.

Lenilda se refere à Agência Agamenon Magalhães, no Espinheiro, escolhida pelo Sindicato como palco de um protes-to no 22º dia de greve, em 10 de outubro. A manifestação foi contra o atendi-mento seletivo, mas também pelo uso de ameaças para coagir funcionários a trabalharem, e de truculência para tentar intimidar sindicalistas. São práticas re-correntes, sobretudo em tempos de greve.

Mas o Santander não está sozinho na pratica truculenta. Junto com o Bradesco e Itaú, o banco se valeu do expediente do interdito proibitório e uso da força policial para tentar barrar a greve. O Sin-

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Lição deBancos usaram expedientes ilegais para tentar enfraquecer a greve,

mas só ajudaram a fortalecer o movimento

dicato dos Bancários, por seu turno, reagiu de duas formas: deu ciência às autoridades competentes, do mau uso do aparelho policial e da atitude antigreve por parte dos bancos; e questionou na Justiça a ilegitimidade dos interditos. Lavrou alguns tentos.

Em Paulista e no Recife, a Justiça cassou as liminares de interdito obtidas pelo Itaú. Em Olinda, o pedido do banco foi negado e o recurso interposto pelo Sindicato acatado. “O que a Justiça fez foi reconhecer aquilo que o Sindicato já afirmava: que o interdito proibitório não pode ser usado numa greve legítima dos trabalhadores. O objetivo dos bancários não é tomar posse da propriedade”, lembra o secretário de Administração do Sindicato, Epaminondas Neto.

Outras liminares judiciais foram obtidas pelo Bradesco em Recife, Olinda, Jabo-atão, Moreno, Igarassu e Escada. E pelo Santander, em Recife e Escada. Entretanto, o efeito na greve foi pífio.

CENtrAis ClANDEstiNAsJá o Banco do Brasil, assim como os bancos privados, usou um expediente an-

tigo para tentar enfraquecer a paralisação. Num desrespeito ao direito de greve, as instituições financeiras montaram centrais clandestinas para seus empregados trabalharem. Além disso, todos os grandes bancos privados fizeram esquemas de contingenciamento, obrigando os funcionários a entrarem antes das seis horas da manhã para furar a greve.

“O Banco do Brasil chegou a alugar um cinema desativado no Recife, para onde transferiu cerca de 120 bancários que trabalham no CSO (Centro de Suporte Opera-cional). Em vez de resolver a greve na mesa de negociações, os bancos tentaram, em vão, enfraquecer o movimento com expedientes ilegais”, afirma o secretário-geral do Sindicato, Fabiano Félix.

truculência

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Entrevista Jaqueline Mello

Provamos quetemos força

Os banqueiros não acreditavam na força dos bancários. Che-garam a anunciar, na grande imprensa, que não dariam aumento real de salários este ano. Tentaram vencer pelo cansaço e, frente à resistência da categoria, apelaram para os velhos instrumentos de pressão. A verdade é que os próprios bancários começaram a Campanha sem acreditar em si próprios. Aos poucos, a luta foi gerando combustível e aquecendo os ânimos. A participação foi crescendo e a greve golpeou a intransigência dos banqueiros. Em entrevista à Revista dos Bancários, a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello, fala, de forma franca, sobre as dificuldades, as conquistas e os desafios. >>

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REVISTA DOS BANCÁRIOS – Quais foram as dificuldades na organização desta Campanha?

Jaqueline Mello – Pouco antes da Campanha, nós vínhamos sentindo as pessoas um pouco apáticas, sobretudo nos bancos públicos. Tínhamos feito várias ações, inclusive contra o Proje-to de Lei 4330 – que escancara a ter-ceirização, e a resposta que vínhamos obtendo da categoria era fraca. Isso era uma avaliação do Brasil inteiro: em diversos estados do país, havia a mesma dificuldade em mobilizar a ca-tegoria. Por isso, o tamanho e a força da greve surpreendeu. O pessoal dos bancos privados mostrou uma grande disposição, inclusive no Bradesco, que tem longa tradição repressiva. Mesmo com interdito proibitório, mesmo com pressão, os bancários, no país inteiro, resistiram bravamente. Aos poucos, também os bancários dos bancos públicos foram saindo da toca e se envolvendo mais nas atividades. E foi isso que venceu a intransigência dos banqueiros.

RB – E como foram as negociações?Jaqueline – Desde a primeira pro-

posta, dos 6,1%, os bancos mostraram que ia ser preciso brigar muito. Não deixavam brecha para o diálogo. Dis-seram que era proposta final. Foram à imprensa afirmar que este ano não haveria aumento real. Só que eles não acreditavam no poder de mobilização dos bancários. No começo, tentaram vencer pelo cansaço. Então, viram o tamanho da greve e recorreram aos ve-lhos instrumentos de pressão. E nisso o Banco do Brasil foi destaque: antes mesmo de começar a greve, o banco já estava ameaçando de forma velada, mandando recadinhos e divulgando comunicados intimidatórios.

RB – Um fato que todos os anos se repete e atrapalha o movimento

são os bancários que permanecem trabalhando internamente. Que avaliação você faz disso?

Jaqueline – As pessoas estão, cada vez mais, reféns da comissão. E isso mostra a urgência de construir um Pla-no de Cargos e Carreiras que não deixe o trabalhador tão dependente destas comissões. Ao mesmo tempo, este é o jogo do banco: estimular o individua-lismo e a competição. Então, sobretudo os mais novos, acabam absorvendo este conceito de que deve construir sua vida e sua carreira de forma individu-al. O desafio dos sindicatos é mostrar o contrário: que é a experiência de coletividade que constrói um melhor ambiente de trabalho e um processo de encarreiramento justo.

RB – Além do aumento real, o que você destacaria na Convenção conquistada?

Jaqueline – A mudança na fórmu-la da PLR (Participação nos Lucros e Resultados). A regra da parcela adicional melhorou. Antes, os bancos distribuíam 2% do seu lucro líquido como adicional. Agora serão 2,2%. Parece pouco, mas só esses 0,2% a mais significam R$ 120 milhões do lucro dos bancos. Tem, ainda, outros avanços, que parecem pequenos, mas são importantes. É o caso do abono assiduidade, com um dia de folga por ano. Ou, no que se refere ao combate ao assédio, da proibição do uso de celulares para cobranças e pressão.

RB – E nos acordos específicos dos bancos públicos?

Jaqueline – No Banco do Brasil, houve avanços importantes para os caixas, com contratações, efetivações e elevação da pontuação de mérito. No que diz respeito ao combate ao assé-dio, também se aprimora o instrumen-to que nós já conquistamos em 2010 e, na seleção de gestores para a rede de

agências, haverá pré-requisito de não ter demanda de ouvidoria procedente nos últimos doze meses. Na Caixa, o pagamento de todas as horas extras em agências de até quinze empregados foi um avanço importante, já que alguns funcionários se viam obrigados a com-pensar as horas trabalhadas a mais, mesmo contra sua vontade ou mesmo com uma carga de trabalho que não possibilitava esta compensação. Des-taque-se também algumas conquistas no Saúde Caixa, com possibilidade de inclusão de dependentes entre 21 e 27 anos; e, claro, a manutenção da PLR social. No BNB, eu destaco a contra-tação de 850 bancários até o final do ano que vem.

RB – Que avaliação você faz do movimento?

Jaqueline – Acho que conseguimos vencer a intransigência dos banqueiros e conseguimos retomar uma mobili-zação que estava bem enfraquecida. Também conseguimos um diálogo muito bom com a sociedade. Apesar destes 23 dias de greve, a população, em sua maioria, compreendeu que era preciso rediscutir o papel dos bancos. São passos. A cada passo, para frente, a gente avança um pouco. Há muitos de-safios ainda, muita coisa a discutir com relação ao emprego, como o fim das demissões e mais contratações, além da melhoria nas condições de trabalho, Plano de Cargos e Carreiras decente, fortalecimento do piso, combate a me-tas. Mas é com unidade e mobilização permanente que a gente avança. O pró-ximo passo agora é fortalecer as mesas temáticas e a negociação permanente para que se possa conquistar mais.

Como se vê, nossa luta não para nun-ca. Temos muitas demandas que ainda não foram atendidas e nossa batalha para melhorar a vida dos bancários e evitar os abusos das instituições finan-ceiras é cotidiana.

Entrevista Jaqueline Mello

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Educação literatura

Crianças leitorasNo Dia Nacional da Leitura,crianças compartilham históriassobre a descoberta do prazer de ler

>>

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CoNtrário DAs outrAs CriANçAs, é ElA quEM

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Educação literatura

Nem todo mundo sabe, mas o Dia das Crianças, 12 de outubro, é também o Dia Nacional da Leitura e Literatura. Está no

papel, ou melhor na Lei 11.899, de 2009. É também em outubro que se comemora a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca: de 23 a 29, segundo o Decreto 84.631, de 1980. Para completar, outubro inicia, em Pernambuco, com Bienal Internacional do Livro. Ou seja, o mês das crianças é mês de Leituras e de Livros. E será que criança gosta de ler?

Olguinha, Heitor, Maria Eduarda, Vítor, Caio, Lucas... todos eles garantem que sim. São todos filhos de bancários que descobriram, cada um a seu jeito, o prazer da leitura. Infelizmente, nem sempre isso ocorre. Pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro em 2012 revela que metade da população brasileira não costuma ler nada. E apenas 8,5% leem livros de literatura. A pesquisa também mostra que o interesse pela leitura caiu nos últimos cinco anos e que os brasileiros estão abandonando os

livros para navegar na internet ou assistir televisão.

Por outro lado, os dados mostram que a maioria das crianças gosta de ler e que, entre os jovens, o interesse cresceu. Mos-tram ainda que o Nordeste, ao contrário da média nacional, ganhou um milhão de leitores entre 2007 e 2011.

DEsDE CEDoEntre estes novos leitores está Olguinha,

filha dos bancários Alan Patrício e Daniella Almeida, ambos da diretoria do Sindicato. Ela já costumava folhear os livros, ouvir a história pela boca da mãe e olhar as ilustra-ções enquanto criava as próprias narrativas. Mas, nos últimos meses, aprendeu a juntar as letras e fazer, sozinha, a leitura dos livros. “Hoje é ela quem lê pra mim...”, conta a mãe, orgulhosa.

Tem motivos para isso. Olga tem apenas quatro anos, bem menos que a idade de alfabetização. Mas cresceu cercada de livros e de estímulos. “Eu amo ler. Então, ela sempre me vê com um livro na mão. E faço questão de encher a casa de livros”, diz Daniella.

Ao estímulo em casa, some-se o incen-tivo da escola frequentada por Olguinha,

que tem – segundo a mãe – um agradável espaço de leitura, onde as crianças escutam histórias, fazem improvisações com os per-sonagens e, de maneira lúdica, descobrem o prazer de ler.

Daniella sabe, entretanto, que cada crian-ça é diferente e que o fato de alfabetizar-se mais cedo não é garantia de que a leitura fará, para sempre, parte da vida de Olga. Mas a persistência dos estímulos é essencial para isso. “Antes mesmo de aprender a falar, Olga já folheava os livros e tinha, também, uma memória visual incrível. Era espantosa sua capacidade de identificar marcas, sím-bolos e letras. Com menos de dois anos, ela já reconhecia o alfabeto inteiro. Minha filha mais nova está com esta idade agora e tem outras habilidades, diferentes. Cada criança tem seu tempo”, afirma a mãe.

uM PrEsENtEVítor Kunst, por exemplo, descobriu

o prazer da leitura por volta dos 10, 11 anos. Ao contrário de Olguinha, ele conta que não teve estímulo em casa nem na escola. Os livros lhe surgiram por acaso, como presente de algum amigo ou familiar. Ganhou o presente, começou a ler e não parou mais. A sorte é que o livro era bom

PArA CAio, A EsColA tEM PAPEl fuNDAMENtAl EM suA forMAção CoMo lEitor

VÍtor DEsCoBriu o PrAzEr DA lEiturA Muito CEDo, MEsMo sEM EstÍMulo Dos PAis ou DA EsColA

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Educação literatura

porque, segundo ele, “quando a história não me agrada, nunca mais leio livros daquele autor”.

Vítor tem 13 anos e é filho da bancária Janaína Kunst, também diretora do Sin-dicato. Mas garante que nem o pai nem a mãe costumam ler. Nenhuma das escolas por onde passou tinha biblioteca e o tra-balho de incentivo à leitura se resumia aos paradidáticos que, segundo ele, eram “muito chatos”.

Para ele, legais mesmo são os livros ba-seados na mitologia grega, como “Pégasus e o Fogo do Olimpo”, de Kate O’Hearn; ou a série “Percy Jackson”, de Rick Riordan.

o PAPEl DA EsColAPara os irmãos Caio e Lucas Rocha,

filhos de Sílvia, bancária do Bradesco, a escola tem papel fundamental no estímulo à leitura. Lucas, 11 anos, estuda no Lu-bienska e faz questão de citar o papel de uma de suas professoras, que levou para a turma excelentes leituras. “Gostei, por exemplo, do livro ‘As aventuras de Pedro Malazartes’. É que gosto de histórias diver-tidas. E o personagem é muito engraçado – ele faz muitas travessuras e espertezas pra se dar bem”, conta Lucas.

Segundo ele, a escola também tem uma

biblioteca. Mas ele não gosta de pegar livros emprestados: tem medo de perder o prazo e acabar pagando multa. “Prefiro ler lá mesmo. Quando meu irmão estudava na mesma escola, a gente ia juntos. Tinha um livro sobre origami, que a gente gostava de ver. Eu também gosto muito de ler sobre história antiga, do Brasil e do mundo”, diz o garoto.

Caio, o irmão, tem 12 anos. Este ano, foi aprovado no Colégio de Aplicação e já não divide a mesma escola com Lucas. Com-partilha, entretanto, o gosto pelos livros. Caio não sabe dizer se os pais gostam de ler: não costuma vê-los com livros. “Eles leem a Bíblia”, completa Lucas. Mas afirma que eles costumam comprar livros e levá-los à livrarias. Caio também destaca o papel da escola em sua formação como leitor.

No Aplicação, a professora criou uma “biblioteca da turma”. No início do ano, ela passa uma lista de livros e cada aluno se responsabiliza pela compra de um. Depois, o acervo é compartilhado e eles podem escolher o que querem ler. “Estou lendo agora o primeiro volume de ‘As Crônicas de Nárnia – O sobrinho do Mago’. Gosto muito de histórias de ação e aventura”, conta. Na atual escola, também tem o privilégio de poder escolher a biblioteca a frequentar:

“Prefiro a biblioteca do Centro de Educação, que é do lado. Ela é maior e mais silenciosa que a do Aplicação”, afirma.

fAMÍliA lEitorANa família do bancário Helenildo Freire,

do Banco do Nordeste, todo mundo lê. Os pais gostam de ler; a mãe leu para a filha mais velha que, hoje, com 11 anos, divide com a mãe a tarefa de fazer as leituras para os irmãos menores: de 4, 2 e 1 aninho. “A gente trabalha o dia inteiro. Mas, à noite, minha esposa costuma ler para as crianças. E, no final de semana, eles sempre nos veem lendo”, conta Helenildo. Sobre a pre-sença dos livros dentro de casa, o pequeno Heitor responde: “Tem muitão”.

Heitor tem quatro anos e ainda não aprendeu a ler. Mas adora histórias e tem suas preferidas, como as do Pica-pau e da Fazendinha. Gosta também de escutar as histórias que sua irmã, Maria Eduarda, inventa ou lê.

Maria Eduarda tem 11 anos e gosta de ler desde pequena. Ela lembra que gostava muito dos gibis da Turma da Mônica, que curte até hoje. E também das histórias clássicas, como Chapeuzinho Vermelho e Pinóquio.

Além do incentivo da família, Eduarda conta que sua escola, a Souza Leão, tem biblioteca, onde ela costuma ir no final das aulas para levar livros emprestados. Tam-bém garante que os paradidáticos são “bem legais”. Os últimos, por exemplo, foram sobre personagens do folclore, o Caipora e o Papafigo. Além disso, os professores costumam fazer leituras em sala.

Segundo ela, a cada semestre, os alunos têm uma oficina diferente. “No semestre passado, foi sobre sustentabilidade. Agora, é a oficina de texto. Além de ler, estamos também escrevendo. Vamos fazer um livro para o final do ano”, conta Eduarda, que também gosta de escrever. E já tem leitores para suas criações: divide com os irmãos cada história que escreve. E também divide com a mãe a função de ler para os irmãos menores. “Eu gosto”, garante.

luCAs fAz quEstão DECitAr o PAPEl DE uMADE suAs ProfEssorAsNo iNCENtiVo à lEiturA

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Teatro

Debates

TREMA! De emoção!

Um espaço paraconfluência de ideias

Entre os dias 15 e 20 de outubro, a capital pernambucana recebe a segunda edição do TREMA! – Festival de Teatro de Grupo do Recife, que ocupa o Teatro Marco Camarotti, Teatro Barreto Júnior e o Espaço Magiluth. Com dez apre-sentações de espetáculos e duas ações formativas, o festival realizado pelo grupo Magiluth movimenta a cena teatral

recifense durante seis dias. O evento se baseia na criação de redes entre os coletivos de diversas áreas do país como uma forma de divulgação e fortalecimento do trabalho des-ses artistas. A grade de espetáculos completa pode ser vista no site do festival: www.tremafestival.com.br Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 (meia).

O evento Expoideia: A Feira do Futuro, que neste ano chega à terceira edição, visa criar um espaço multidisci-plinar, unindo cultura, academia, tecnologia e sustentabili-dade. Organizado pela Cia. de Eventos, com parceria com o Governo do Estado, o Expoideia acontece entre os dias 18 e 23 deste mês, na UFPE e no Centro Cultural Correios (CCC), com o tema “Em tudo que habito” - refletindo sobre os espaços urbanos e a influência da tecnologia na vida contemporânea. O evento, que é um desdobramento da Bienal do Livro, é gratuito. A programação deste ano reúne teóricos como o francês Gilles Lipovetsky e o argentino Néstor García Canclini. A programação completa está no www.expoideia.com.br.

Cultura Dicas

CANCliNi é rEfErêNCiA Nos EstuDos CulturAis soBrE gloBAlizAção

CENA DA PEçA filhA Do tEAtro

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Cultura Bancário Artista

O bancário Hélder Coelho é um artista empreende-dor. Embora afirme que é “muito descansado”, ele

não espera sentado pelas respostas de editoras. Ele mesmo produz seus livros, banca a publicação e, o melhor de tudo, vende todos os exemplares. Até agora, já foram dois livros nesta pisada: do primeiro, com mil exemplares publi-cados, restaram pouco mais de cem. Do segundo, com 500 cópias, já não há nenhuma.

Segundo ele, o banco acaba sendo parceiro em sua arte. “Sou muito bem--aceito pelos clientes e eles fazem questão de comprar meus livros. Se eu levasse às livrarias não conseguiria ven-der, porque não sou conhecido e teria que investir em muito marketing”, diz.

O primeiro livro chama-se Resíduos Poéticos, uma coletânea de suas pri-meiras produções – sobretudo sonetos. O segundo, Versos em III atos, divide--se em três partes: Atos Reflexivos, Atos Urbanos e Atos de Amor. Ambos foram publicados pela Cepe (Compa-nhia Editora de Pernambuco). E um novo livro já está pronto para publi-cação: “Estou negociando, para ver se a editora banca. Minha intenção era lançar o terceiro e reimprimir o segun-

do, que está esgotado”, afirma Hélder.O trabalho mais novo é baseado no

best-seller The Secret, da escritora aus-traliana Rhonda Byrne. “Achei o livro muito interessante e comecei a escrever versos a partir dele e de sua ideia de que fazer o bem faz bem”, explica o poeta.

Hélder também escreve letras, canta e toca violão. Já participou de três festivais de música pela Apcef (As-sociação de Pessoal da Caixa), com suas composições Se Arrependimento Matasse, A Serra do Inácio e O Tudo e o Todo. Esta última foi bem pontuada na música e letra, mas a nota foi mais

baixa no critério interpretação. “Minha esposa acha que eu deve-ria dar para alguém cantar. Mas o bom é participar. Adoro o clima, o frio na barriga e tudo mais...”, confessa.

Bancário da Caixa há 24 anos, Hél-der conta que iniciou sua relação com as artes uns três anos antes, quando foi estudar agronomia em Araripina. “Na república onde fiquei hospedado tinha muitos poetas. Tinha também um colega que tocava e hoje é cantor em Bodocó. Acabei despertando a veia poética e musical”, lembra.

Quem quiser, ainda pode comprar os últimos exemplares de Resíduos Poéti-cos. Ou esperar um pouco para adquirir os outros títulos. Cada livro custa R$ 20 e podem ser adquiridos com o autor: [email protected].

hélDEr CoElho

“Eu trago versos em três atosSão versos que trago. E fatos...Reflexivos, urbanos, de amor...Tirados do peito, ao seu dispor.(…)Versos trazidos com a pura rimaAo brilho do sol, vindo de cima.Meus resíduos diários de alforria”

PoetaempreendedorPoetaempreendedor

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Turismo Conheça Pernambuco

Barreiros é uma cidade de muitas lendas, histórias e belezas naturais. Surgiu de uma aldeia indígena cujo

chefe descendia de Filipe Camarão, um dos líderes da luta dos pernambucanos contra os holandeses. O mar e o rio Una ou Carimã se encarregam das paisagens – com recantos em que a natureza ainda parece intocada. E é justamente nestes lugares, escondidos e silenciosos, que as lendas ganham força e se impõem.

No Rio Carimã, por exemplo, fala-se da Pedra da Moça – onde uma linda jovem teria se afogado e, à noite, ouve--se seus gritos de socorro. No ponto onde hoje localiza-se a Escola Professor Joaquim Augusto de Noronha Filho, conta-se que existiu um cemitério de cavalos, onde eram sacrificados os

animais com doenças irreversíveis e onde ainda se escuta, às vezes, o tropel e o relinchar dos bichos.

Os pescadores contam histórias do João Galafuz – que surge na maré cheia com seu lume, atrapalhando a pesca. Os que vivem perto dos resquícios de Mata Atlântica que se espalham entre a cidade e a praia relatam histórias da Comadre Fulozinha.

Mas Barreiros ficou conhecido depois que serviu de cenário para novela global. Foi na Praia do Porto - com suas formações rochosas, suas ilhotas e suas águas calmas – que foi gravada “A Indomada”.

Caminhar pelas rochas e ultrapassar seus limites é ter contato com a natureza primitiva, onde pode-se tomar banho no mar calmo ou em pequenas lagoas, sempre ouvindo o cantar dos pássaros. Na Ilha do Coqueirinho, com seu solitário coqueiro, é possível chegar na maré baixa, caminhando pela areia.

Outra dica é dar uma esticada até a foz do Rio Una, principalmente para quem gosta de pescar. Ou fazer um passeio de barco pelo rio e mar. À esquerda da Praia do Porto fica Mamocabinhas, outra linda praia, com extenso coqueiral.

Para chegar a Barreiros, segue-se pela PE-60. São 96 Km, contados a partir do aeroporto dos Guararapes. Os nove quilômetros de estrada de terra que levam até a praia do Porto proporcionam belas paisagens, entre canaviais e remanescentes de Mata Atlântica. Só não esqueça de levar o que comer, beber e tudo o que for necessário para passar o dia, já que a praia não dispõe de estrutura de bares e restaurantes.

BArrEiros

Histórias que a natureza conta