Revista Capacitando Para Missões Transculturais 3

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    Revista Capacitando para Misses Transculturais #3

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    A FILOSOFIA MISSIONRIA DE PAULORussell Phillip Shedd

    Dr. Shedd apresentou estes estudos em 2 Corntios 2 a 6 na Consulta Missionria daAPMB, AMTB e ACMI em outubro de 1995 em guas de Lindia. Com muita bondadeele concordou em escrev-los para o benefcio dos leitores desta revista. O desafio doDr. Shedd, e das Escrituras que ele to habilmente explica, deve nos levar pergunta:"Os alvos do nosso treinamento missionrio tm algo a ver com os ensinamentos emodelos bblicos?" Temos objetivos e mtodos coerentes com os que podemos verclaramente operando na vida e no ministrio do Apstolo? Estas lies nos tocam?Levam-nos a transformao? Vamos deixar que Deus fale conosco atravs da Sua

    Palavra aqui apresentada.

    INTRODUOTodas as divergncias entre metodologias e alvos missionrios devem ser

    submetidas a um exame bblico. No significa que os missionrios do Novo Testamentono erraram, mas que reconhecemos que os primeiros missionrios receberamdirecionamento especfico do Esprito Santo, segundo Atos. Paulo diz que a Igreja fundada sobre os apstolos e profetas (Ef 2.20), indicando que os mtodos praticados ealvos almejados no surgiram de mentes humanas, mas no corao do Senhor.

    Paulo acrescenta em sua carta aos Corntios que ele alicerou a Igreja sobre onico fundamento que Jesus Cristo (1Co 3.10, 11). Para executar esta obra to

    significativa, recebeu graa particular (v. 10). Ningum poder lanar outro fundamentosem contrariar o propsito de Deus.

    A igreja de Roma, que no foi plantada por um apstolo, deveria receber de Pauloum "dom (charisma) espiritual (pneumatikos)" (Rm 1.11). Qualquer que fosse a carnciadas igrejas que no receberam a orientao dos apstolos e profetas, fica claro que Pauloe seus colegas no promoveram um movimento missionrio independente (cf. At 8.14,15). No podemos avaliar perfeitamente a importncia do gesto de estender a destra dacomunho a Paulo por parte das colunas da igreja de Jerusalm (Gl 2.9). Creio que Pauloreconhecia que o endosso da igreja me em Jerusalm acrescentaria crdito a seuministrio. Mas provavelmente Paulo no teria desistido da obra, se no tivesse recebidoesse aval. A argumentao toda de Glatas parece apontar nessa direo.

    Paulo demonstra sua filosofia de trabalho em vrios textos nas epstolas e Atos.Como no temos espao ilimitado, parece-nos vlido restringir nossas observaesprincipalmente a uma parte de 2 Corntios (2.14 - 6.3). Na defesa do seu ministrio contraobreiros pouco escrupulosos, Paulo pe em relevo alguns princpios missiolgicos como,por exemplo, sua confiana no Senhor quando confronta perseguio e foras contrrias.Paulo mantinha sua viso firme no fim. A Vinda de Jesus resolver os maiores problemasque o missionrio enfrenta. A graa central, mas no uma graa sem compromisso. Amensagem e o mensageiro se identificam. Em toda parte deparamos com a motivao do

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    amor de Cristo. Esprito triunfante sem triunfalsmo caracteriza a missiologia paulina.

    UM TRIUNFALISMO AMBGUO (1.8 - 2.14)A profunda gratido que Paulo sentia aps dez anos de trabalho rduo missionrio

    focaliza a soberania divina. "Graas porm a Deus que sempre nos conduz em triunfo",

    no quer dizer que tudo que ele teve que enfrentar tenha sido agradvel ou resultado emsucessos imensurveis. "Porm" (v. 14) nos adverte que a vitria que Paulo celebra nose ganha sem pagar um alto preo.1. Em feso uma sentena de morte foi pronunciada contra Paulo (1.9). Ele enfrentouferas numa luta que, ainda que no fosse literal, deve ter sido ameaadora (1Co 15.32)."Dia aps dia morro" (1Co 15.31; cf. 2Co 4.11), revela at que ponto sua vida estavasempre sob ameaa. Paulo encarava o dio, que colocava sua vida em risco, como normalpara a carreira de um missionrio.2. O triunfo, que Paulo reconhecia, no exclua problemas serssimos no cuidado dasigrejas. A prpria igreja de Corinto desafiou a liderana de Paulo de uma maneiradesrespeitosa. Paulo teve que se defender da acusao que o tachava de mentiroso (2Co

    1.17-21). O sucesso do triunfo no garantia que Paulo recebesse elogios da parte dosmembros da igreja. Comentavam alguns acerca da sua pessoa: "As cartas, com efeito. . .so graves e fortes, mas a presena pessoal dele fraca, e a palavra desprezvel" (10.10).Por no ter cursado uma escola superior de retrica, nem ter a pretenso de escrevergrego clssico para impressionar seus ouvintes e leitores, os corntios o desprezaram.Evidentemente, para Paulo, o missionrio no tem que ter o poder da palavra em vez dopoder do Esprito (1Co 4.20). Ele menciona que sua pregao no consistia em"linguagem persuasiva nem de sabedoria, mas em demonstrao do Esprito e de poder"(1Co 2.4). Adulao e elogios no fazem parte do triunfo constante a que Paulo se refere.3. Sucesso no deve ser sempre esperado no ministrio pioneiro. Paulo decidiu visitar aigreja de Corinto para resolver algum problema, mas no foi bem sucedido (cf. 2Co13.1). Aparentemente, o apstolo foi insultado de maneira baixssima. Sentiu-se foradoa voltar para feso e escrever a "carta severa" que no foi includa no cnon do NovoTestamento (2Co 2.4). Custou muitas lgrimas. Ficou angustiado ao relembrar o queacontecera. Mas, evidentemente, a maioria da igreja aplicou a disciplina sugerida porPaulo (2.6). O arrependimento da parte da igreja e tambm do infrator incentivou Paulo aordenar que a igreja o perdoasse e comprovasse seu amor. Tratar assim o membro queprovocou a crise evitaria maiores investidas satnicas contra a igreja (vv. 8-11).4. Triunfo no significa que Satans no consegue vantagens sobre a Igreja. Deve-seconhecer os seus desgnios para poder levantar uma defesa eficaz (v. 11). Impecabilidadeno uma caracterstica do povo santo de Deus e nem faz parte necessria do triunfo deDeus.5. Tambm no faz parte desse triunfo escapar das presses e desequilbrio emocional.Nada mais evidente do que a profunda emoo conflitante que acompanhava asrelaes que Paulo experimentou com os corntios (e, outras igrejas). Derramou lgrimascopiosamente. Quando chegou ate Trade no pde aproveitar a grande porta aberta parapregar (2.12). Ficou to agitado e intranqilo que deixou Trade para ir ao encontro deTito, que traria notcias da igreja de Corinto (v. 13). Um ministrio invencvel no excluia possibilidade de nervosismo.

    Ainda que seja difcil imaginar uma situao mais constrangedora e frustrante, o

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    apstolo afirma que "Deus em Cristo sempre nos conduz em triunfo" (v. 14). "Somosmais do que vencedores por meio daquele que nos amou" (Rm 8.38). Estas duas frasesdevem ter sido escritas dentro de um prazo de apenas seis meses (outono e inverno de 56-57 a.D.).

    L-se nas entrelinhas o amor que Paulo sentia pelos "filhos" na f. A

    responsabilidade de cuidar deles, de exort-los, visit-los e encoraj-los evidente emtodo lugar. Com razo ele expressa esta preocupao comovente na carta aos glatas,"Meus filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, at ser Cristo formado em vs"(4.19). Poderiam ter muitos tutores (professores de Bblia e religio), mas somente umpai "pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus" (1Co 4.15).

    Missionrios que conseguem sentir algo do amor paterno e materno que Paulosentiu podem desenvolver um grande ministrio transcultural. Mesmo sendo judeu, elecolocou de lado seus escrpulos farisaicos para se dar, corpo e alma, ao trabalho de gerare servir a famlia de Deus.

    A INVENCIBILIDADE DO MINISTRIO (2.14-17)

    Nossa palavra "triunfo" chegou ao portugus diretamente do latim. Foitransliterada para o grego thriambeuein que denotava, para os romanos, uma procisso devitria. A maior honra que um general romano podia receber do estado era de serconvidado para ir a Roma, para um desfile de reconhecimento supremo. Os candidatoseram limitados. S podia ser um general, comandante supremo. Em sua campanha teriaque pacificar a regio inimiga e as tropas ficarem livres para voltar para casa. O generalinimigo teria perdido pelo menos 5,000 soldados numa batalha. O territrio romano teriaque ser estendido s custas do inimigo estrangeiro.

    Uma vez cumpridas todas as exigncias, o imperador ordenava o desfile triunfal.Na procisso entravam oficiais do estado, senadores e outros generais. Marchavamtocadores de trombetas, seguidos por carregadores de esplios, quadros e modelos deitens tirados do inimigo. (Quem visita Roma hoje pode ver algo semelhante no arco detriunfo de Tito que celebra a vitria sobre os judeus na guerra de 66-70 a.D.). Caminhavana procisso um touro branco que era sacrificado eventualmente em gratido aos deusesromanos que agraciaram a vitria. Entravam na procisso tambm sacerdotes, balanandocensrios espalhando um perfume de incenso aromtico. Juntavam-se msicos paradeleitar os acompanhantes e estimular as emoes. Em enormes filas andavam os presoscapturados e destinados ao mercado de escravos. As conquistas romanas tomaram oimprio, dos dias de Paulo, numa sociedade dividida. Mais da metade era composta deescravos. Finalmente, chegava o general, juntamente com sua famlia, em p, num carropuxado por quatro cavalos de rara beleza. Em seguida, marchava o exrcito orgulhosoque lutara sob seu comando na guerra vitoriosa. (Note a discusso de Colin Kruse. 2Corntios, Introduo e Comentrio. S. Paulo: Ed. Vida Nova, 1994, pp. 95,96).

    Este termo, "triunfo", aparece somente duas vezes no Novo Testamento. Almdeste texto, o encontramos em Colossenses 2.15, onde Paulo queria expressar a vitriatotal sobre os inimigos dos altos escales da hierarquia demonaca. Jesus Cristo despojouos principados e potestades, "publicamente os exps ao desprezo, triunfando sobre elesna cruz". Foi especificamente na morte cruel da cruz e na ressurreio que Cristo "tomoucativo o cativeiro"(Ef 4.8). Assim forou Satans a entregar o seu direito (exousia, comp.Mt 28.18) e preparou o caminho para a proclamao do evangelho a todas as naes (vv.

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    19, 20; At 1.8).A gratido que Paulo sentia (2Co 2.14) se fundamentava na realidade da vitria

    que Deus operou na pessoa de Cristo. "Sempre nos conduz", aponta para o fato que, umavez que Cristo morreu vicariamente, a vitria sobre o inimigo foi garantida. Tudo queacontece na historia apenas uma complementao do triunfo na cruz. Por isso o

    apstolo usa a palavra, "sempre", indicando claramente que no h derrotas no contextomissionrio. Na batalha contra Satans h baixas, feridas e retrocessos, mas nuncaderrotas. Deus soberano e onipotente. Tudo que Ele planeja e decide ocorre (Ef 1.11).No so as emoes que Paulo tem em vista, mas a realidade.

    "Por meio de ns manifesta em todo lugar a fragrncia do seu conhecimento" (v.14), expressa a viso missionria de Paulo. Onde quer que ele e seus companheirosviajassem, Antioquia, feso, Tessalnica, Filipos, Cornto, poderia se cheirar a fragrnciada vitria de Cristo. Nesta expresso Paulo refere-se a pregao do evangelho quedivulga "o conhecimento de Deus" onde no fora conhecido. Os missionrios, como osincensrios dos sacerdotes romanos, exalam um aroma sacrificial. "Nos somos para comDeus o bom perfume de Cristo". o perfume de Cristo, morrendo na cruz, que emana

    dos missionrios. A personalidade de Paulo e seus colegas esto fundidas, ouincorporadas no "Corpo" de Cristo. Portanto, o cheiro o mesmo que emanou da cruz (Ef5.2). Os sacrifcios missionrios no devem ser distinguidos claramente do sofrimento deCristo, ainda que no tenham nenhum valor vicrio (Cl 1.24). O importante no seesquecer que Cristo se identifica com seus obreiros (At 9.5). A vitria de Cristo partilhada conosco.

    A metfora que Paulo emprega para descrever a disseminao das boas novas sacrificial (osme euodia representa o "suave cheiro" do sacrifcio no Antigo Testamento,cf. Gn 8.21). Destarte, mesmo sendo o bom perfume de Cristo, so os missionrios quetm esse aroma "para com Deus" (v. 15). O sacrifcio que Paulo sofre oferecido a Deus.Tem o efeito de separar alguns para vida e outros para morte. A reao dos ouvintesmostra que os que esto "sendo salvos" (grego, tempo presente) e os que "estoperecendo" (grego) escolhem j o seu destino. Podem mudar de direo e destino, masno fcil. O cheiro do sacrifcio nas narinas dos que perecem de morte cada vez maiscerta ("de morte para morte"). Naqueles que esto sendo salvos de vida que se confirmacada vez mais ("vida para vida").

    Tudo isto leva Paulo a sentir a seriedade do ministrio de evangelizao.Conquanto o que est se passando nas vidas dos ouvintes provocado pelo "bom cheirode Cristo", nenhuma culpa paira sobre ns. Mas se ns criarmos algum impedimento(mau cheiro?), que o evangelho no requer e no comporta, colocamo-nos no banco dosrus. Por isso, Paulo pergunta, "Quem suficiente para estas cousas?" (v. 16). Emalgumas linhas, mais para frente, o apstolo escreve: "No que por ns mesmos sejamoscapazes de pensar alguma cousa, como se partisse de ns; pelo contrario, a nossasuficincia vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma novaaliana ..." (3:5,6).

    Em contraste marcante, existem obreiros ("tantos outros") que tm outramotivao e alvos distintos. Seus interesses giram em tomo de vantagens financeiras.Hipocritamente querem divulgar um cheiro prprio que no tem nada a ver com a cruz.So "mercadejadores" da palavra, vendendo a mensagem a ouvintes iludidos, como quemvende vinho com gua no mercado (o significado do original, v. 17).

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    Os que sinceramente buscam o bem dos ouvintes e a glria de Deus, exercem seuministrio "em Cristo", isto , identificados com Ele, debaixo de sua tutela e poder. Apregao de Paulo e sua equipe proclamada "na presena de Deus". Ele v tudo e dassessoria, mostrando seu agrado ou descontentamento. A sinceridade (grego,eilikrineias) da equipe missionria autntica recebeu de Deus sua comisso e autorizao.

    Por isso, Paulo questiona radicalmente a origem da comisso dos "falsos apstolos"(11.13) que se auto-comissionam. Sem o envio da parte de Deus (Rm 10.15), eles agemna carne. Os seus sucessos so humanos porque militam segundo a carne (cf. 10.3).

    CREDENCIAIS MINISTERIAIS LEGTIMAS (3.1-11)Todos os ministros buscam legitimidade. Os missionrios insinceros trazem suas

    cartas de recomendao, possivelmente, de Jerusalm. Eles no plantaram a igreja deCornto, portanto necessitariam algum passaporte para abrir a porta da igreja para o seutrabalho. Paulo, por outro lado, no apresenta nenhuma carta material, composta empapel e tinta. Suas cartas de recomendao so os prprios corntios. "Vs sois a nossacarta, escrita em nossos coraes e lida por todos"(3.2). A converso dos corntios foi

    evidente. Suas vidas passaram por uma mudana radical (1Co 6.8-11). No so apenasamados por Paulo, com um amor derramado no corao pelo Senhor ("escrita em nossoscoraes"), mas tambm suas vidas so observadas por mundanos e cristos ("todos").Apresentam a mensagem ao mundo pelas vidas que vivem.

    A mensagem impressa na vida pode ser descrita como uma "carta de Cristo" (v.3). Trata- se da implantao de evidncia de que Cristo est nos corntios (Cl 1.27). Apersonalidade de Cristo muda as vidas que lhe pertencem. Paulo receava que essaevidncia tivesse desaparecido da realidade de Cristo nas vidas dos glatas (4.19). Comestes o apstolo passava dores de parto de novo, "at Cristo ser formado" neles. A cartade Cristo, "produzida por nosso ministrio", revela que os missionrios so osinstrumentos humanos nas mos de Deus para efetuar essa transformao radical (3.3).Paulo e seus colaboradores so secretrios escolhidos pelo Esprito Santo para produziressas cartas de vida.

    As cartas vivas so gravadas nos coraes pelo Esprito de Deus (3.3). As tbuasdo Sinai foram gravadas com o dedo de Deus em placas de pedra. Porm, o efeito na vidada nao de Israel foi decepcionante. Por isso, Deus adicionou a promessa da novaaliana. No mais em pedra, mas nos coraes, Deus colocar suas leis (Ez 11.29; 36.26;Jr 31.33).

    O ministrio que impressiona os homens no empolga a Deus necessariamente. Anova aliana no foi estabelecida nos moldes da primeira (cf. Hb 12.18-24).Impressionou pelo fogo e fumaa. Hoje, fora militar ou poltica empolgam, mas rarasvezes servem aos interesses do Esprito. As multides e manifestaes, Ibope ereportagens nas manchetes, no pertencem categoria em que Deus concentra Suasoperaes. Ele busca verdadeiros adoradores que sinceramente desejam fazer a vontadedele. Ele convoca obreiros submissos ao Esprito para desenvolver sua obra.

    Confiantemente Paulo declara sua esperana para o futuro. " por intermdio deCristo que temos tal confiana em Deus; no que por ns mesmos seramos capazes depensar alguma cousa, como se partisse de ns; pelo contrrio nossa confiana vem deDeus" (3.4, 5). O trabalho missionrio pode ser promovido por movimentos organizadose propaganda eficiente, mas toda realizao permanente, espiritual, depende da

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    onipotncia de Deus. Ele habilita seus ministros a servir seus interesses na nova aliana(v. 6). Capacidade, habilitao e idoneidade so dons oferecidos por Deus aos que obuscam em primeiro lugar e se dispem a servi-lo.

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    CONTRASTES ENTRE OS MINISTRIOSDAS DUAS ALIANAS (3.7-11)

    Seria um erro grave no distinguir entre os tipos de servio que promovem a velhae a nova aliana. A nova depende do Esprito que vivifica; a velha, da obrigao legalistada letra que mata e condena. A nova grava a lei de Deus no corao; a velha em placas de

    pedra. A velha se revestia de glria, como se verificou na face de Moiss ao sair dapresena de Deus no Sinai; a nova produz a glria do Esprito, muito maior. A velha tinhaa glria da condenao; a nova outorga a justia essencial para herdar a vida eterna. Ocontraste entre as duas intensidades de glria tal que a da nova aliana ofusca a glriada velha. Esta, em comparao, perdeu sua glria (v. 10). A glria da velha alianadesvanecia; a da nova permanece.

    Paulo escreve no contexto do judasmo. As sinagogas se espalharam em todo oimprio para servir a populao judia disseminada em toda parte. Durante as primeirasdcadas da histria da Igreja, somente os judeus tinham uma viso clara da diferenaradical que existia entre o judasmo e o cristianismo. Os cristos se abrigaram debaixo doguarda-chuva da religio lcita do judasmo. Mas o nacionalismo judeu endureceu os

    coraes dos judeus contra a misso de Paulo. Os judeus estavam de braos abertos aosgentios que passassem pelas exigncias impostas sobre os proslitos que queriam aderirao judasmo. Mas Paulo pregava a salvao que realiza a regenerao pelo Esprito. Nadade religio ritualista, de guardar leis e cumprir obrigaes externas.

    Os missionrios tm a responsabilidade de distinguir claramente entre ocristianismo autntico e uma mudana de religiosidade. Um velho cacique conversavacom um missionrio. "Estou entendendo corretamente que se eu me converter no possoentrar nalguma choupana da aldeia e pegar qualquer cousa que quero?" "No, no! Isso roubo. proibido", disse o missionrio. "E forar uma moa bonita vir para minhachoupana para passar a noite comigo"? "No, tambm, no". "E como seria se eu juntasseos meus guerreiros para atacar a tribo vizinha"? "Ah, no! Isso totalmente proibido pelocristianismo." " Interessante", disse o cacique. "Nesse caso, eu sou cristo. Eu sou velhodemais para fazer essas cousas."

    A SANTIFICAAO DOS MINISTROS (3.12-18)A ousadia que Paulo utiliza para falar (v. 12) se fundamentava na esperana da

    nova aliana. A esperana crist bem distinta da que Moiss acalentava. Os querecebem o evangelho da graa aguardam a glria da revelao dos filhos de Deus (Rm8.21). O vu que Moiss colocou no rosto para no deixar transparecer que a glriadesvanecia de sua face, ilustra o vu de incredulidade nas faces dos que lem o AntigoTestamento sem entendimento (v. 14). Os sentidos embotados, se referem soberbanacional. O vu do tradicionalismo vedava os olhos espirituais quando se pregava aCristo na sinagoga. Preconceitos e rejeio da interpretao do Esprito provocou odesprezo e dio que o judeu tinha para com os cristos. "At ao dia de hoje, quando lidoMoiss, o vu est posto sobre o corao deles" (v. 15). As mesmas interpretaesincorretas das profecias messinicas continuam dcadas aps a vinda, morte eressurreio de Cristo.

    Um sinal verdadeiro da converso pode ser descoberto quando se mudaradicalmente a maneira de entender o Antigo Testamento. Os cristos lem a Bbliajudaica com olhos iluminados pelo Esprito. Ele os capacita a captar a verdade

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    cristolgica nos velhos textos inspirados. Isso Paulo chama de, "remoo do vu" (v. 16).Que mais importante para o novo convertido do que a compreenso das Escrituras?

    "O Senhor o Esprito" (v. 17) se refere citao do texto de xodo 34.34,quando Moiss voltava para a presena do Senhor para receber novos estoques de glriana face. A vantagem da nova aliana evidente. A presena permanente do Esprito

    garante uma fonte inesgotvel de glria na vida do cristo (cf. Jo 4.14; 7.38, 39). Apresena do Esprito tambm acrescenta o elemento bsico da lberdade. O crente filhode Deus, no escravo (Gl 4.21-31). Ele tem privilgios e vantagens concedidos a um filhoamoroso, muito distintos das obrigaes impostos a escravos.

    O caminho da santificao do cristo muito diferente tambm. Os passos quePaulo aponta so os seguintes. 1) Todos ns (cristos) com rostos desvendados (isto ,convertidos), contemplamos, "como por espelho, a glria do Senhor" (v. 18). O espelho uma metfora para a Palavra que o Esprito ilumina e grava no corao. 2) Contempla-sea glria de Cristo na Palavra pela meditao e submisso aos seus ensinamentos. Pode-seouvir a voz do Esprito na Bblia. Por meio dela pode-se ganhar um viso da glria deSenhor Jesus. 3) O efeito desta contemplao da glria de Cristo opera uma

    transformao do cristo na imagem de Cristo. Ele passa da glria recebida no momentoda regenerao para a glria maior da santificao. 4) O Agente desta transformao oSenhor, o Esprito. Sendo Ele o Mediador da nova aliana, deve ser patente que somentepor Seu ministrio o cristo amadurece e cresce para a perfeio (Cl 1.28).

    BARREIRAS E TENTAES ENFRENTADAS NOTRABALHO MISSIONRIO (4.1-15)

    Quem se candidata para o ministrio de missionrio deve-se prontificar paraenfrentar problemas, oposio e lutas. Paulo destaca alguns destes para mostrar suadependncia do brao forte do Senhor.

    O apstolo alista trs tentaes que todo obreiro transcultural deve esperar. Aprimeira o desnimo que se toma patente na frase, "no desfalecemos" (v. 1, 16; 5.6, 8).O alento que conquista o desnimo a misericrdia de Deus. Se Deus demonstrou Suabondade infinita, buscando e salvando Paulo, um opositor to empedernido e hostil a Seuevangelho, certamente devemos esperar que Ele derrube qualquer inimigo humano etransforme-o em aliado.

    necessrio lutar contra a segunda tentao de utilizar mtodos ocultos evergonhosos para conseguir resultados visveis. Mas Paulo rejeita, terminantemente, todaforma de astcia (v. 2; cf. 12.16). Missionrios do sculo XX tambm tero que rejeitaresta tentao de tirar vantagens para o evangelho, usando mtodos anti-ticos. Os finsno justificam os meios, declara Paulo neste retumbante posicionamento. No licitoadulterar a mensagem, mesmo que isso traga um crescimento numrico igreja.

    A terceira tentao que deve-se evitar, a todo custo, seria a pregao de si mesmo(v. 5). Paulo queria dizer com estas palavras que a auto-promoo, para ganhar umaudincia maior, no algo digno do Senhor da Glria a quem servimos. Exaltar nossashabilidades, inteligncia e autoridade humana, esbarra no efeito inevitvel: desmancha aglria do Senhor Jesus para focalizar o pregador. Paulo venceu esta tentao,concentrando todo esforo em servir a igreja como "escravo" (grego douleuo). Sereconhecemos que somos "escravos", no teremos maior dificuldade em exaltar JesusCristo posio de Senhor. Ele o Senhor e Rei.

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    A Barreira da Cegueira dos OuvintesO trabalho missionrio inevitavelmente enfrentar a barreira da cegueira dos

    incrdulos (v. 4). No somente Israel que tem os olhos vedados pelo vu deincredulidade (v. 3), os pagos tambm sofrem as conseqncias da ao satnica quefura seus olhos espirituais.

    O deus deste mundo se defendeu contra a luz do evangelho destruindo acapacidade natural do homem de perceber a verdade. Eis a razo da cegueira que envolveos entendimentos. Quando os ouvintes da mensagem no recebem auxlio de Deus, asboas novas parecem insensatez. Parecem uma inveno fictcia que ilude aos quecrem. O objetivo do diabo se concretiza toda vez que ele impede que a luz doevangelho da glria de Cristo resplandea nos coraes dos pagos. Esta barreira mudaa glria em trevas, a sabedoria de Deus em insensatez, e a verdade do evangelho emmentira.

    Que outra barreira, que o missionrio enfrenta hoje, mais formidvel do queesta? Alguns tm gasto a vida inteira tentando ultrapassar o abismo que separa oscegos dos que vem. Mas Paulo afirma que esta barreira no e intransponvel, por que

    ele mesmo foi recipiente do milagre da palavra criativa de Deus. Gnesis 1.3 revela oefeito iluminador de Deus quando disse, "Haja luz!" Algo semelhante ocorre quando oCriador ordena que a luz brilhe nos coraes dos que so espiritualmente cegos (v. 6).Deste modo Paulo reconhece o que disse anteriormente. "Nossa suficincia vem deDeus". Por isso, exclama: Ouk engkakoumen ("no desfalecemos").

    Na realidade, no uma luz abstrata, nem terica, porque Deus mesmo"resplandeceu em nossos coraes" (v. 6). A luz, que ali brilha, comunica "oconhecimento da glria de Deus na face de Cristo" (v. 6). Na estrada de Damasco Pauloviu a glria de Deus quando apareceu diante dele a pessoa de Cristo. Por meio desseencontro transformador, chegou a conhecer a Deus como nunca antes. No farisasmoconheceu a lei de ordenanas e mandamentos. Mas pela revelao do Filho em Paulo(Gl 1.16), toda sua viso da realidade espiritual mudou. Passou a experimentar o queJesus disse, "A vida eterna esta: que te conheam a ti, o nico Deus verdadeiro, e aJesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3).

    Todos os meios de comunicao nos campos missionrios sero ineficazes sefaltar esta atuao miraculosa de Deus. Paulo pode plantar e Apolo regar, mas agerminao e crescimento vem de Deus (1Co 3.6). Da a importncia absoluta dadependncia da orao dos que pregam e dos que enviam os obreiros. Doutro modoesta barreira da cegueira impossibilitar o avano da obra de Deus.

    A Barreira da Fragilidade dos ObreirosExiste mais uma dificuldade que Paulo sentia na pele. A fragilidade do

    missionrio, que ele compara com vasos de barro em que se guardavam tesouros naantiguidade. O tesouro do evangelho est escondido em pessoas vulnerveis e fracas,semelhantes a esses vasos. Se eles no quebrarem, esse tesouro se manter invisvel.Precisamente na fragilidade encontramos a manifestao da excelncia do poder de Deus(2Co 4.7).

    No caso particular de Paulo, sabemos um pouco acerca das fraquezas quecaracterizavam sua vida. Seu nervosismo e emocionalismo j foram mencionados (cf .1Co 2.3; 2Co 2.13). Sofria de um espinho (literalmente, uma estaca) na carne (2Co

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    12.7). No podemos definir que aflio o incomodava, mas ele mesmo se refere "fraqueza" que permitia que o poder de Deus se aperfeioasse nele. Nisso, ele segloriava (12.9). Muitos pensam que era alguma doena. Possivelmente era depresso,ou ataques demonacos sugerido pela expresso, "mensageiro (grego: anjo) de Satans"(12.7).

    Acrescentam-se as perseguies constantes, e logo notamos como a suafragilidade no era apenas uma expresso de modstia. Mas Paulo via, em todas estasexperincias negativas, um propsito de Deus. Toda capacitao tem sua fonte na Suasuficincia. A fragilidade glorifica a Deus naquele obreiro que d boas vindas sprovaes. Passando o que Paulo passou, ningum se acharia capaz de agireficientemente por meio de seus recursos prprios. Carncia, fraquezas e todas asprivaes tm a finalidade de ensinar-nos a lio da dependncia do Senhor.

    Para ilustrar a vulnerabilidade dos ministros, Paulo alista quatro tipos desofrimento mental e fsico. Acredito que todo missionrio, trabalhando em camposdifceis, sentir empatia com o apstolo.1. "Em tudo somos atribulados" (v. 8). Refere-se aos apertos que pressionam eafligem os servos do Senhor. Mas, nem por isso, Paulo sentiu-se to comprimido epressionado que fosse impedido de agir. Numa priso, por exemplo, as restries sodas mais severas, mas Paulo no parava de testemunhar, aconselhar e escrever cartas(cf. Fp 1.12-17). "No angustiados" quer dizer que no perdeu completamente aliberdade. No teve que vestir uma camisa de fora que o impedisse de trabalhar.2. "Perplexos", como se fossem trancados num beco sem sada; mas "nodesanimados", quer dizer, no foram forados a se tornarem apticos e incapacitadosemocionalmente de continuar o ministrio.3. "Perseguidos", por serem alvos e vtimas de malcia, compls, e planos traados paraeliminar os missionrios. "Mas no desamparados", quer dizer, no abandonados, nemdeixados a ss para se virar sem apoio.4. "Abatidos" isto , derrubados e jogados no cho; "mas no destrudos", querdizer, mantiveram a vida e equilbrio suficiente para se levantar e continuar a servir. O

    apedrejamento em Listra e os aoites, que as vezes matavam (11.24, 25), noimpediram que Paulo voltasse logo ao ministrio. Toda espcie de ameaas e conflitosmostravam que Deus preservava sua vida e o equilbrio mental. Frgil ele era, masDeus no permitia que o inimigo destitusse sua vida e nem trancasse seu ministrio.

    Este trecho deve nos encorajar. Os sofrimentos e barreiras que o diabo tem poder paralevantar diante dos comunicadores do evangelho, no podem parar o avano da obra deDeus. O desfile de triunfo continua, a despeito de todas as dificuldades e oposio que osprincipados lanam na frente.

    BENEFCIOS, MOTIVAES E A FINALIDADE DOSACRIFCIO MISSIONRIO

    "Levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que tambm sua vida se

    manifeste em nosso corpo" (v. 10), acrescenta a verdade que a motivao da oposio aosobreiros est enraizada no dio pelo Senhor. A sentena de morte que se pronuncia contraos missionrios (1.9), compartilha a hostilidade que provocou o grito, "Crucifica-o!Crucifica-o!" na sexta-feira da Paixo. No toa que os evangelistas carregam este"morrer de Cristo". Se o gro no morrer fica ele s (Jo 12.24). Esta hostilidade homicidah de produzir fruto da ressurreio quando a vida de Jesus se mostrar nas vidas dosobreiros.

    "Somos sempre entregues morte por causa de Jesus"(v. 11), reitera a mesma

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    verdade das linhas anteriores. O perigo constante que Paulo e seus colegas enfrentamdivulga mais claramente a vida de Jesus. A identificao com o Cabea se mostra maisclaramente no Corpo. A concluso toma-se patente: "Em ns opera a morte; mas em vs,a vida"(v. 12). O sentido o mesmo que encontramos em Colossenses 1.24. "Agora meregozijo nos meus sofrimentos por vs; e preencho o que resta das aflies de Cristo, na

    minha carne, a favor do seu corpo, que a igreja." A solidariedade dos obreiros comCristo e com a igreja singular. O que eles sofrem redunda em favor dos cristos emCorinto ou em Colossos. No pode ser vicrio, no sentido de propiciao pelos pecados,mas avana a misso de Deus no mundo e apressa a Segunda Vinda (2 Pe 3.12). Jesusdeclarou aos seus discpulos que Sua Vinda ocorrer somente aps a evangelizao dospovos e naes do mundo (Mt 24.14; Mc 13.10). A investida mais arrojada contra oinimigo custa muito caro em aflies, perseguio e martrio.

    O incentivo para esta vida missionria, sacrificial, tem sua fonte na f (2Co 4.13).Exatamente como o salmista que cria no Senhor, mesmo no meio de grandes aflies (Sl116.10), assim tambm Paulo cr. No mesmo contexto do Salmo, o autor expressa suagratido ao Senhor pela libertao da morte (Sl 116.8). Aconteceu o mesmo com o

    apstolo e seus colegas. A restaurao da vida, quando tudo parecia perdido, oferece basefirme para Paulo lembrar que como Deus ressuscitou a Jesus, levantar dos mortos aosque passarem pelo martrio. E os corntios tambm se levantaro dos seus tmulos comPaulo, todos apresentados perante Deus, vitoriosos juntos no dia final (v. 14).

    A motivao central da obra missionria, segundo Paulo, encontra sua dinmicaem quatro verdades (v. 15). 1) Tudo que se sofre traz benefcios para os corntios, o povoalvo (v. 15, "por amor de vs"). 2) O ministrio aumenta a oferta da graa salvadora,multiplicando-a nas vidas receptoras. 3) A multiplicao da graa produz um aumento deaes de graa nos coraes dos convertidos. A converso de "muitos" novos cristos fazo louvor abundar. 4) A transformao de vidas acrescenta glria a Deus no mundo. Estadeve ser a finalidade de todo esforo missionrio e evangelstico.

    ALGUMAS VANTAGENS PESSOAIS DOSACRIFCIO MISSIONRIO (4.16 - 5.17)

    Diante dos imensos problemas em que a vida missionria incorre, seria naturaldesanimar, livrando-se de toda maneira da obrigao de enfrentar um desafio to difcil.Mas Paulo pensa diferentemente. "Por isso, no desanimamos" (v. 16). Estava pensandonos incentivos alistado nos versos anteriores. Mas logo acrescenta outras motivaes queele antecipa com ardor.

    Primeiro, menciona a perspectiva de um moribundo que est prestes a sergalardoado com tesouros inefveis. O "homem exterior", isto , a pessoa fsica doobreiro, est se corrompendo. Tem poucas chances de sobreviver at a velhice. Porm, ohomem interior" (o verdadeiro "eu" que no morre), se renova todo dia. Busca novavitalidade da sua fonte Jesus Cristo. Em vez do desnimo, busca novas doses de energia emotivao, atravs da esperana de um futuro maravilhoso.

    Segundo, Paulo prope uma comparao entre seus sofrimentos e o "peso deglria" que receber em troca de tudo que sofre. A tribulao, vista deste ngulo, perdesua importncia. leve e momentnea, enquanto a "glria" pesada e eterna. Por que sefala de glria pesada? No hebraico, a palavra kabodh significa "peso" e "glria". Existeno cerne do termo o conceito de tesouro que se media pelo peso. Figuradamente, a

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    riqueza que toma um homem notvel, honrado e importante, semelhante aoreconhecimento que Deus dar aos Seus servos fiis. Diante de tal riqueza de glria, quePaulo aguarda, os sofrimentos desta vida praticamente esvaecem. So leves demais paraserem sentidos. So de to curta durao que permanecero na memria como episdiosque passaram em momentos. A eternidade desvalorizar o sofrimento da aflio e

    galardoar com as palavras do Senhor, "Muito bem, servo bom e fiel". Infinita satisfaoe alegria recompensar todo o sacrifcio que os missionrios tenham passado.Terceiro, Paulo aponta para o alvo de sua viso. No atenta "nas cousas que se

    vem, mas nas que se no vem" (v. 18). No preza os valores do mundo fsico que doprazer carne e aos olhos (1Jo 2.16). As belezas destas cousas temporais s podem serpassageiras. As realidades do cu so eternas, infinitamente mais prazerosas, e, melhorainda, nunca tero fim. No de se admirar que Paulo se anime diante da perspectiva daglria futura (Rm 8.21).

    Quarto, o apstolo afirma que de conhecimento geral entre os cristos que odesfazer-se "deste tabernculo", nossa existncia no corpo fsico, herdado de nossos pais,no deve ser encarada como alguma calamidade. Um crente no deve ver a morte como

    aquele inimigo terrvel. Pelo contrrio, temos um "edifcio da parte de Deus, casa nofeita por mos, eterna, nos cus". Esta casa substituir a casa de carne que fatalmentecondenada morte. Essa nova casa celestial tem dois aspectos. Um o corporativo, talqual se encontra na frase familiar, "casa do meu Pai" (Jo 14.1). Aps a morte, noficaremos desabrigados e solitrios. Seremos inseridos numa casa-templo (cf. Mc 14.58),onde adorar ser o nosso maior prazer (comp 1Pe 2.4, 5).

    Mas no deve se restringir esta meno de casa eterna ao corporativo, ou igrejacelestial. Jesus interpretou: "a casa no feita por mos" como o corpo glorioso queressurgiu do tmulo de Jos (Jo 2.21). O corpo glorioso da ressurreio no ter nenhumadas caractersticas deprimentes deste corpo de humilhao (Fp 3.21). Esta "habitaocelestial" nos atrai (2Co 5.2). um revestimento (2Co 5.4) e no uma anulao dapersonalidade que portamos nesta vida. Verdade que gememos neste "tabernculo", isto, o corpo que sofre as aflies que os obreiros tm que suportar.

    Paulo no almeja ser despido (v. 4), mas aguarda o momento em que o mortalser absorvido pela vida (v. 5). A existncia sem o corpo no a bendita esperana docristo. Um estado "intermedirio", no atrai o apstolo. Sua escatologia culmina naressurreio. O recebimento do Esprito Santo marca a garantia que Deus realizar tudoque Ele nos prometeu. "Penhor" trata de uma espcie de sinal pago em antecipao dopleno recebimento do que foi contratado. O "bom nimo" (v. 6) conseqncia destaconfirmao da futura alegria perfeita com o Senhor (1Co 13.12). Ficar vivos na terra,"no corpo" (v. 6), significa "ausncia do Senhor", somente no sentido que nossacomunho agora parcial e imperfeita. Quando o Senhor voltar essa parcialidade passarpara perfeio total (1Co 13.10-12). Experimentaremos uma nova dimenso da realidade,quando todo pecado e empecilho que nos separam do Senhor sero retirados.

    Todas as glrias do futuro podem ser vistas apenas pela f (v. 7). Por isso, Paulodesvia sua ateno das cousas visveis, andando e vivendo em plena confiana naspromessas de Deus (v. 8, cf. 4.18). "Deixar o corpo" na morte o meio pelo qual o crentechega a "habitar com o Senhor". Quem tem medo disso? Porque ns nos apavoramosdiante do sinistro anjo da morte? O aguilho da morte foi retirado pela cruz e pelaressurreio de Cristo (cf. 1Co 15.55). As vantagens desta atitude so incalculveis para

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    os que se dedicam ao servio do Senhor em terras hostis e perigosas. Consideremos aspalavras de John Paton, quando respondeu objeo de um cristo velho que disse, "vocser comido por antropfagos!"

    "Senhor Dickson, o senhor j est avanado em idade, e sua perspectiva de logoser deitado num tmulo e ser comido por vermes. Eu confesso ao senhor que, se eu puder

    viver e morrer servindo e honrando o Senhor Jesus, no far diferena para mim se eu forcomido por antropfagos ou vermes, e no grande dia meu corpo ressurreto levantar tobelo como o seu, na semelhana de nosso Redentor ressuscitado".1

    Duas vezes Paulo emprega o vocbulo, "plena confiana" (grego, tharrouomen,vv. 6, 8). Comunica uma idia de alegria e bom nimo, a atitude predominante em todoeste trecho. Subjaz sua gratido e aes de graa perenes (cf. 2.14). Vemos aquijustamente a percepo que os apstolos tm da vantagem de ser cristo e servir a ummestre que recompensa muito melhor do que se ousa esperar (cf. Mt 20.15).

    Paulo no determina que estar morto melhor do que estar vivo. No especulaacerca do estado desencarnado (cf. Colin Kruse, 2 Corntios: Introduo e Comentrio,S. Paulo: Ed. Vida Nova, 1994, p. 125). Mas uma ambio central domina sua mente: a

    de ser agradvel ao Senhor, seja no corpo ou desencarnado, isto , "ausente". AosFilipenses, Paulo tambm deixa transparecer a sua ambivalncia sobre um futuro norevelado. "Morrer lucro" no sentido que Paulo estar com Cristo, mas fruto para o seutrabalho exige viver na terra (Fp 1.20-24). Assim, vemos novamente que a vantagem deser servo do Senhor engloba a existncia na carne e a ausncia dela, porque Paulo afirmaa possibilidade de agradar a Deus em ambos estados.

    O TRIBUNAL DE CRISTOFinalmente, Paulo concentra sua ateno sobre o julgamento "perante o tribunal

    de Cristo". Todos ns teremos que comparecer individualmente diante do Juiz de toda aterra para "receber segundo o bem ou o mal que tivermos feito por meio do corpo" (v. 10;Rm 14.10). Ento sero avaliadas todas as obras boas ou ms que tivermos feito.

    Faz parte integral da teologia evanglica, a esperana de receber galardes peloesforo e dedicao obra do Senhor. Base bblica j vimos na esperana que Paulo tinhade ganhar um peso de glria incomparavelmente maior que o sofrimento que passaranesta vida (4.16, 17). Muito menos claro o mal que receberemos naquele dia (v. 10).Vrias observaes so necessrias.1. O cristo regenerado no teme o juzo de Deus (1Ts 1.10). Jesus Cristo pagouintegralmente nossa culpa. "Nenhuma condenao h para os que esto em Cristo Jesus",declara o apstolo inspirado (Rm 8.1).2. Biblicamente no se pode sustentar qualquer ensinamento sobre um supostopurgatrio, no qual crentes so purificados dos pecados que o sangue de Cristo noremoveu. Os Reformadores se opuseram doutrina do purgatrio como tradio catlicae sem merecimento de maior considerao.3. No havendo castigo no alm, como devemos entender alguma compensao pelo malfeito no corpo? A posio evanglica, tradicional, tem se limitado concluso que onico castigo seria a privao de galardes. Trabalhadores descomprometidos com oministrio sofrero "dano...como que atravs do fogo"(lCo 3.15). Esse dano ser a perdade benefcios que doutro modo lhe seriam oferecidos.4. Outra opo razovel aponta para o fato que um julgamento passa em revista a vida do

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    cristo. Obras que glorificaram ao Senhor recebero sua recompensa. Mas as falhas,omisses pecaminosas e desobedincia, poderiam ser relembradas para nos conscientizarsobre a grandeza do perdo que Jesus nos concedeu. Imaginemos uma tela enorme emque o "vdeo" da nossa vida seria passado em revista. Cada transgresso seriaacompanhada por uma viso da agonia de Jesus na cruz sofrendo por esse pecado

    especfico. Assim, se cumpriria a palavra de Jesus, "Digo-vos que de toda palavra frvolaque proferirem os homens, dela daro conta no dia de juzo" (Mt 12.36). Neste contextogeral, pode ser que a viso que Joo avistou do "Cordeiro como tinha sido morto" (Ap5.6), mostrasse que mesmo 60 anos aps a morte de Jesus na cruz, as feridas pareciamrecentes, da mesma hora. A maioria dos pecados por ns cometidos, no nosimpressionam, nem os notamos. No poderia ser que um dia teremos o privilgio de ver eagradecer o perdo de cada pecado que cometemos, resultando num amor maior peloSenhor? No esqueamos que o amor prevalece aps a aniquilao de todos os dons (1Co13.8, 13).

    TEMOR E AMOR MOTIVAM A

    DEDICAO MISSO (5.11-17)Descobrimos neste pargrafo central a explicao do enigma da dedicao demissionrios como Paulo. As motivaes que foram transparentes para ele sodesgastadas e ofuscadas para a grande maioria dos obreiros na seara do Senhor hoje.

    A primeira motivao o temor do Senhor (v. 11). Fala da reao enraizada noconhecimento do julgamento por Cristo que todos teremos que enfrentar (v. 10). Falta dotemor do Senhor, que caracteriza a igreja evanglica moderna, se deve em grande parte "graa barata" que freqentemente se prega. O perdo no custa nada, portanto, o horrorda desobedincia ao onipotente Deus desvanece. O aperfeioamento da nossasantificao ocorre onde o temor do Senhor reside (2Co 7.1). Se experimentarmos o realtemor do Senhor, persuadiremos aos homens (5.12). Se um alarme de fogo ressoa noscorredores de um hotel ou escola, e sabemos que apenas um ensaio, no nos apressamospara sair, nem tomamos cuidado. Porm, se surgir um cheiro de fumaa, se o alarme nopara de incomodar, se os rudos dos carros bombeiros corta o silncio da noite, e gritos dehspedes ou alunos desesperados comeam a ecoar nos corredores, a sim, o temordominar.

    Algo semelhante motivava o corao de Paulo. Uma viso realista do futuro e acondenao dos homens perdidos o incomodava. "Tenho grande tristeza e incessante dorno corao", so as palavras que ele escolheu para descrever esse incmodo (Rm 9.2)."Persuadimos aos homens" (v. 11), descreve como o apstolo tentava mostrar a lgica docaminho da salvao aos no-cristos. Pelo relatrio em Atos, sabemos que Pauloensinava nas sinagogas dos judeus em toda cidade em que queria implantar uma igreja.Usava as Escrituras em que os judeus confiavam, para mostrar que Jesus era o Messiasesperado e que Ele precisava morrer e ressuscitar para cumprir as profecias (At 17.2, 3;1Co 15.3). Em Atos tambm, encontramos pregaes de Paulo para auditrios gentios(veja At 14.14-17; 17.16-31). Contextualizava suas mensagens citando poetas oufilsofos para tornar mais persuasiva sua palavra. Em feso, Paulo apresentavadiariamente os argumentos favorecendo o cristianismo na escola de Tirano (At 19.9)."Alguns deles foram persuadidos", escreve Lucas, acerca dos gregos piedosos e mulheresdistintas que creram (At 17.4).

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    A segunda motivao central para incentivar um compromisso com a misso , "oamor de Cristo" (5.14). Do original no podemos saber se o amor de Cristo por ns oude ns por Cristo. Provavelmente no faz muita diferena neste verso. O que importa que seja um amor constrangedor que exclui outros amores que usualmente nospreocupam. Uma vez que o Esprito derramou o amor de Deus no corao de Paulo (Rm

    5.5), esses amores alheios cederam lugar para seu amor por Cristo (cf. 1Jo 4.10,19).As distines na quantidade de amor que motiva os obreiros, tem sua explicaoneste fator varivel. Jesus quis enfatizar esta verdade quando foi convidado para ir a casade um fariseu (Lc 7.36-47). Uma pecadora tambm entrou na casa. Ficou aos ps deJesus, regando-os com lgrimas, ungindo-os com ungento e enxugando-os com oscabelos. Jesus notou que o fariseu no tinha dado o mnimo da ateno esperada de umanfitrio. Jesus perguntou ao fariseu quem entre dois devedores perdoados amava mais aocredor compassivo. A resposta bvia foi que era quem foi perdoado mais. Ento Jesus feza aplicao. Acerca da mulher, Ele declarou, "ela amou muito" (Lc 7.47).

    Nada mais bvio no ministrio do que a diferenciao de intensidade de amornos missionrios enviados para os campos. Um ministro de justia em Braslia

    amargamente comentou que enquanto ele fosse responsvel, no concederia nenhumvisto a missionrio algum. Ficou amargurado ao perceber que um missionrio do seuconhecimento veio ao Brasil para criar gado e buscar riquezas. Faltou o amorconstrangedor de Cristo.

    Acontece que ainda que todos os pecadores salvos pela graa tenham recebidoperdo, no so todos que o apreciam com a mesma intensidade. Se o sentimento deindignidade e merecimento de castigo for muito forte, o alvio do perdo constrangemais. O amor cresce e emana do corao com mais devoo.

    Paulo acrescenta um outro fator explicativo: a solidariedade de Cristo com oseleitos em sua morte. "Um morreu por todos, logo todos morreram" (v. 14b). umconceito pouco comentado hoje, mas que uma verdade central do Novo Testamento(veja R. Shedd. A Solidariedade da Raa. S. Paulo: Ed. Vida Nova, 1994, passim). Amorte do Chefe ou Cabea implica na morte de todos que esto nele. No fosse assim, amorte vicria de Jesus no teria valor algum para nos livrar da culpa ou inserir-nos noCorpo de Cristo. Tal como o pecado de Ado incluiu a raa toda, assim a obedincia deCristo salva a todos que nele se abrigam.

    bom lembrar que a morte de Cristo teve uma razo pouco reconhecida. Elemorreu por todos, para que os que vivem (ressuscitados com ele pela f) no vivam maspara si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou (v. 15). Jesus padeceupara conquistar nosso egosmo e para que sirvamos quele que deu a si mesmo por ns. Oesforo missionrio, portanto, uma conseqncia de uma compreenso clara dosignificado da cruz. Assim como irracional praticar a fornicao porque nopertencemos a ns mesmos (1Co 6.19, 20), o cristo depois de ter morrido com Cristo,no tem uma existncia independente.

    Devemos entender porque Paulo diz que "daqui por diante, a ningumconhecemos segundo a carne" (v. 16). A importncia de cada homem ou mulher noreside na sua raa, riqueza, inteligncia ou talentos. O significado da existncia humanamudou totalmente com esta unio com Cristo. Ser uma "nova criatura" (ou criao, v. 17)implica no fator nico: sua importncia para Deus e o Seu reino. Depois da morteteremos mudanas incrveis em nossa maneira de avaliar as pessoas. Os heris sero

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    seguramente os humildes desconhecidos (cf. Lc 16.25)."As cousas antigas j passaram" (v. 17b) quer dizer que as demandas da velha

    aliana so substitudas pelas da nova. As novas cousas que regem a vida do homemnovo se resumem na nova ambio do verso 15, "Para que os que vivem, no vivam maispara si mesmos, mas para aquele que por eles morreu. . ." A nova valorizao daqueles

    que nenhuma importncia tm para o mundo, mostra a nova realidade do homem emCristo. A nova criao se torna visvel na igreja de Jesus Cristo, a nova sociedade unidapelos laos de amor e do Esprito.

    A MENSAGEM E O MENSAGEIRO (5.18 - 6.3)Paulo escolheu oito verbos para comunicar a natureza da mensagem bem como do

    mensageiro da nova criao. Estas aes procedem de Deus (v. 18), o Autor eConsumador de nossa salvao. Falou certo o Arcebispo da Igreja Anglicana, WilliamTemple: "A nica cousa que posso contribuir para a minha salvao a minha maldade."1. Deus nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo (v. 18). Transformou ainimizade que marcava o relacionamento entre Deus e o homem.

    2. Deus deu aos Seus servos o "ministrio" (grego, diakonia) da reconciliao. Osenviados por Deus tm o privilgio de anunciar os termos da paz entre os inimigos, paraque a reconciliao se realize.3. Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo. Uma verdade profunda afirmaesta maravilhosa verdade da encarnao. Cristo trouxe Deus para o mundo de um modoque podia efetuar a reconciliao do mundo. Deus, a fonte nica de vida, que no podemorrer, morreu em Cristo, Deus encarnado.4. Deus deixou de imputar aos homens suas transgresses, porque o seu Substituto tinhapago a conta. Deus no pode cobrar de ns o que j foi pago pelo Seu Filho.5. Deus nos confiou a palavra de reconciliao e assim nos fez Seus embaixadores (v. 19,20). Os missionrios so representantes de Deus no mundo. Cuidam dos interesses do Reidivino, tal qual um embaixador cuida dos interesses do seu soberano.6. Deus exorta os homens por intermdio de Seus embaixadores (v. 20; 6.1). Faz tudopara persuadir os inimigos a aceitar os termos de paz e tomarem-se aliados do Rei. Paulose empenhou neste ministrio em Corinto. Hoje os servos de Deus tem a mesmaresponsabilidade.7. Deus fez Cristo pecado por ns (v. 21: cf. Is 53.6), ainda que ele pessoalmente nuncatenha cometido pecado algum. Unicamente o perfeito Filho de Deus podia ser feitopecado, isto , oferta que tira o pecado por meio da identificao. Foi o nico que podiatomar nosso lugar, assumindo nosso castigo na cruz.8. Deus nos fez justia de Deus (v. 21b). A troca maravilhosa operada pela graa de Deustransfere nosso pecado para a inocente Vtima sacrificial e tambm imputa a ns a justiadele.

    Seria bom notar algumas verdades fundamentais que Paulo afirma neste trecho.Primeiro, Deus o autor da salvao. Os verbos todos requerem Deus como sujeito.Segundo, Jesus Cristo o meio pelo qual a transao salvadora foi realizada. Terceiro, osmissionrios, evangelistas que ministram as bnos da nova aliana so os embaixadoresde Deus. Quarto, o mundo o alvo dos benefcios previstos na mensagem dereconciliao.

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    CONCLUSOTodos os que se envolvem no ministrio da nova aliana so cooperadores com

    Deus (cf. lCo 3.9). Como embaixadores eles procuram convencer os inimigos(incrdulos) de que continuar a lutar contra Deus vo e prejudicial. No papel decooperadores, eles tem a responsabilidade de exortar os "cristos" a no receber a graa

    de Deus em vo (6.1). Esta graa no a espcie "barata" que no exige nenhumcompromisso com Deus. Demanda uma mudana de atitude, e requer a corrida emdireo a santidade (Hb 12.14).

    Entendemos, ento, que a exortao de Paulo foi no sentido de encorajar oscorntios a se despojar do pecado e buscar o Senhor e o Seu reino em primeiro lugar (Mt6.33). Ele exorta os irmos a se desvincularem de jugos desiguais (6.14). Devem viveruma vida separada do mundo e no se misturar indevidamente com os mpios. Receber agraa de Deus com proveito seria, portanto, purificar-se de "toda impureza, tanto dacarne, como do esprito, aperfeioando a nossa santidade no temor de Deus" (7.1).

    H urgncia nesta exortao, visto que o nico dia da salvao o presente (6.2).A prorrogao pode ser fatal. O arrependimento e a renovao do compromisso com a

    graa salvadora tm de ser agora. A tremenda seriedade do ministrio no d aberturapara escndalos e tropeos. As falhas dos ministros facilmente oferecem motivos dedesprezar a mensagem. Por isso, Paulo toma todo cuidado possvel para que nenhumacensura ou acusao verdadeira venha a prejudicar a aceitao da graa por ele anunciada(v. 3).

    Creio que Paulo faria um apelo semelhante s igrejas brasileiras neste fim dosegundo milnio. O crescimento rpido do povo de Deus no Brasil, a sua juventude eenergia, talvez se assemelhem mais aos corntios do que a outras igrejas do NovoTestamento. O mundo de ento, caracterizado por espiritismo, no muito diferente do quese pratica no Rio ou em Salvador, fazia com que Paulo se sentisse preocupado. A poucainfluncia da igreja na sociedade no Brasil seguramente preocuparia o grandemissionrio. Estranharia a falta de perseguio, com certeza. Mas o triunfo de Deuscontinua. Haveria entre ns mais sabedoria para guerrear contra as artimanhas do diabo?Haveria aqui mais horror do pecado? Haveria candidatos mais comprometidos com osno-alcanados? Examinemo-nos a ns mesmos.

    NOTAS1 James Paton, ed. John G. Paton; Missionary in the New Hebrides . London: TheBanner of Truth, 1965/1891, citado por John Piper,Let the Nations be Glad, G. Rapids:Baker Books, 1993, p. 111)

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    A REALIDADE DO MISSIONRIOBRASILEIRO" - DOCUMENTO FINAL

    Reunidos em guas de Lindia, So Paulo, nos dias 16 a 20 de outubro:-Tendo compreendido que a obra da igreja manifestar a glria de Deus entre os

    povos, pelo trabalho missionrio, e entendendo que a Igreja est em uma fase de forteimpulso na tarefa missionria;-Tendo entendido, aps estudos, testemunhos e discusses em grupo que devemos

    melhorar os programas de preparo, de sustento e de apoio aos que so enviados;-E tendo entendido o valor do papel do pastor e da igreja local no despertamento

    da Igreja Brasileira para uma maior viso e envolvimento missionrios, apresentamos opresente documento:

    CONSIDERANDO. . .Quanto Bblia-Que o triunfo divino pode implicar em sofrimento e aparentes derrotas, assim

    espalhando a fragrncia de Cristo sem ufanismo;-Que o ministrio cristo implica na comunicao da vida de Deus para outras pessoasatravs das nossas vidas;-Que temos este tesouro em vasos frgeis, porm, no somos derrotados.

    Quanto Realidade Missionria Brasileira:-Que o movimento missionrio brasileiro est em plena fase de expanso haja visto onmero cada vez maior de missionrios transculturais brasileiros (aumento de 83% nosltimos cinco anos), um envolvimento missionrio maior da parte das igrejas, de escolas,agncias e publicaes missionrias;-Que em trs anos 26% da fora missionria voltou antes do perodo previsto, conforme apesquisa realizada por Ted Limpic, da SEPAL;-Que o principal recurso a pessoa do missionrio;-Que a mdia anual per capita de contribuio do povo evanglico a misses ainda , namelhor das hipteses de R$1,30 (se calcularmos que cada missionrio recebe U$1.000por ms), demonstrando um envolvimento ainda fraco da maioria das igrejas locais.

    Quanto ao Missionrio Brasileiro:-Que uma pessoa que parte por um impulso divino, com uma chamada subjetiva.Condicionado pelo seu corao pecaminoso e marcado pela sua cultura, e s vezes vistocomo um super-homem;-Que sofre o processo da renncia, tanto da famlia, quanto dos valores ao seu redor.Consciente de fraquezas e vulnerabilidades que marcam a personalidade humana;-Que suscetvel s crises emocionais, psicolgicas, familiares e at espirituais, pormciente de que como vaso de barro leva um grande tesouro;-Sendo produto de um contexto triunfalista e ufanista, algumas vezes sentindo-se s,isolado de sua prpria estrutura social e comunidade eclesistica, vivendo sob pressopessoal e social;-Que adaptvel a outras culturas pela sua forma aberta de comunicao.

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    Quanto Realidade do Campo Missionrio:-O campo exige muito da estrutura pessoal do missionrio, desde a habilidade deaprender diversos idiomas capacidade de adaptar-se s vrias realidades sociais eculturais diferentes, muitas vezes dentro de sua equipe de ministrio e at mesmo na suaprpria famlia.

    PROPOMOS. . .Que o Missionrio Brasileiro:-Receba um treinamento apropriado ao ministrio que ir desenvolver com uma profundaexperincia vivencial de Deus e Seu carter, e prtica no ministrio;-Ajude a ampliar a viso missionria da igreja enviadora;-Seja incentivado a reconhecer sua suscetibilidade s crises emocionais, psicolgicas,familiares e at espirituais, porm ciente de que como vaso de barro leva um grandetesouro;

    Que a Igreja Local:

    -Reconhea seu papel de geradora da fora missionria;-Reconhea o papel do pastor como principal promotor da viso missionria na igreja:-Forme o Conselho Missionrio para estruturar a igreja para a realizao da tarefamissionria, desde o despertamento de vocaes, at a morte de seus missionrios;-Selecione entre seus candidatos a misses aqueles que comprovem seu chamado pelassuas vidas e prtica ministerial;-Reconhea que Deus que est realizando a obra missionria atravs da igreja e seusmissionrios;-Tenha a responsabilidade pelas necessidades da famlia do missionrio, tanto no campoquanto no regresso ao pas;-Encare seus missionrios como obreiros dignos do mesmo respeito e considerao queseus pastores, como seres humanos que devem ser tratados e cuidados com todo a carinhoimplcito nas palavras "irmo" e "irm".

    Que o Preparo e Treinamento Missionrios:-Incuta nos seminrios a viso missionria;-Seja realizado a partir da igreja local, nas escolas teolgicas e/ou missiolgicas etambm pela agncia missionria formal e informalmente;-Seja abrangente (1) de acordo com os dons e o tipo de ministrio, (2) atendendo snecessidades do campo, (3) tanto acadmico, prtico e espiritual, num estilo dediscipulado para a formao do ser, saber e fazer.-Seja um processo contnuo, antes da ida ao campo, no campo, e no retorno;-Tenha como objetivo os princpios bblicos como amor, humildade, dependncia deDeus e conhecimento e obedincia Palavra.-Capacite pessoas que, pela vida e pela palavra, possam ensinar e ajudar outras pessoas aterem Cristo formado em suas vidas. Para este fim pedimos equilbrio no currculo entre ateoria, prtica ministerial e vida. O ensino deve estimular crescimento contnuo domissionrio e dos seus discpulos, com a finalidade que Deus seja glorificado entre asnaes.

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    Que a Agncia Missionria:-Procure criar parcerias com diversas outras pessoas e instituies, principalmente com aigreja local, quanto ao cuidado do missionrio;-Defina, em conjunto com a igreja local, as responsabilidades quanto ao missionrio nocampo, para que ele saiba claramente quem o responsvel por ele, a quem ele deve

    prestar contas e recorrer em suas necessidades;-Providencie estrutura para o estabelecimento do missionrio e sua famlia no campo;-D apoio moral, logstico, financeiro, comunicao pessoal e por mdia, oraointercessria, cuidados com o bem-estar espiritual, psicolgico, e fsico;-Oriente sobre a poltica da agncia e critrios quanto aos pr-requisitos eavaliao;-Supervisione o trabalho, amparando os missionrios nas dificuldades, desde o envio ato retorno;-Trabalhe em constante parceria com a igreja, o missionrio e a entidade receptora.

    Que a AMTB, ACMIe a APMB:

    -Estudem a situao dos missionrios brasileiros no somente em termos das agnciasrepresentadas, mas tambm em relao porcentagem dos missionrios representada porcada agncia;-Elaborem um cadastro de profissionais dispostos a empregar seus talentos na obra demisses;-Encorajem as igrejas e as agncias missionrias a alcanarem os povos indgenas doBrasil;-Que as trs agncias cooperem na promoo de eventos e servios que sirvam para amelhor estruturao do movimento missionrio brasileiro.

    Para tanto, que Deus nos ajude!

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    CONTEXTUALIZAO NAPARBOLA DO BOM

    SAMARITANOAntnia Leonora van der Meer

    Antnia van der Meer ("Tonica") foi obreira da ABU no Brasil e em Angola por muitos

    anos. Atualmente, ela faz parte do corpo docente do Centro Evanglico de Misses, emViosa -MG. Este artigo a adaptao de uma tarefa realizada no curso de Mestradoem Misses na Faculdade Teolgica Batista de So Paulo concludo em 1993. Jesus nosso modelo perfeito para contextualizao e misso. Tonica traz tona princpios daao missionria do prprio Jesus e os aplica nossa realidade.

    INTRODUOSe pensamos em Misso, sabemos que Jesus Cristo o missionrio por

    excelncia, enviado pelo Pai a este mundo para levar a mensagem do evangelho e realizarsua obra salvadora. Viveu inteiramente, e sem restries, em funo do cumprimento fiele cabal da misso que lhe foi confiada,jamais calculando o custo. Suportou o sofrimento

    conseqente de seu posicionamento sempre ntegro e fiel, com uma obedincia e umadevoo sem limites ao Pai Amado, e com uma atitude constante de ntima compaixodiante do sofrimento humano.

    Tambm na contextualizao, Jesus nosso grande modelo e nosso grandeMestre. Atravs de sua encarnao, identificou-se profunda e completamente. Suamensagem era sempre apropriada ao contexto em que vivia.

    Identificou-se tanto com o homem que muitos nunca reconheceram que vinha deoutro lugar. Desta maneira Jesus comunicou, de forma dinmica e relevante, a suamensagem salvadora para os homens. Sua comunicao expressou-se atravs doenvolvimento vital nas aes, atitudes e atividades da vida real, causando um impactomuito maior que uma mensagem estritamente verbal. E mesmo quando a mensagem eraverbal, causava semelhante impactoporfalarda vida real, como nasparbolas, relatandoacontecimentos normais e no utilizando generalizaes e proposies abstratas.Comunicava assim uma mensagem muito mais compreensvel a respeito de Deus. Cristoensinou a verdade, apresentando-a duma maneira que tocasse o corao dos ouvintes.Depois Jesus convidava a fazer as descobertas. Ele ensinava segundo o costume da suasociedade, por exemplo, vivido e verbal. Alguns crticos interpretaram a recusa de Jesusde dar respostas pr-fabricadas como superior a muitas tcnicas educacionais modernasdo Ocidente. No perceberam que tal comunicao, orientada para a descoberta, eraculturalmente apropriada para a Palestina do 1o Sculo, e mesmo hoje reconhecidacomo superior a muitas tcnicas educacionais modernas.1

    Percebemos assim em Jesus uma contextualizao perfeita que garantia grandeimpacto e compreenso, e oferecia uma oportunidade genuna de refletir e tomar decisesdiante de sua mensagem.

    Jesus ministrava dentro dos limites da cosmoviso judaica. Assim mesmo seadaptava aos interesses, necessidades e pontos de vista especficos dentro de outroscontextos. No falou ao jovem rico do novo nascimento, nem mulher samaritana quedevia vender tudo o que possua e segui-lo, nem a Nicodemos sobre a gua da vida. Astrs apresentaes eram maneiras vlidas de falar das verdades eternas de Deus, mas noseriam compatveis aos respectivos contextos. No ministrio de Jesus, assim como no de

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    Pedro e de Paulo, a comunicao inclua uma referncia necessidade espiritual bsicado ser humano em seu estado natural de pecado e alienao de Deus. Em cada caso,porm, essa necessidade foi apresentada de uma maneira diferente. Nicodemos tinhanascido s uma vez, a mulher samaritana praticava a imoralidade e a adorao falsa, aaudincia de Pedro no Pentecostes tinha entregue Cristo crucificao, Cornlio e seus

    amigos deviam saber que havia remisso dos pecados pela f em Jesus, os gregos emAtenas deviam saber que o Deus verdadeiro j no aceitaria seu culto de ignorncia,agora que tinha levantado a Cristo dentre os mortos.2 Percebemos aqui a grandesensibilidade psicolgica e pastoral de Jesus e dos seus apstolos, apresentando oevangelho sempre de maneira a corresponder melhor aos problemas e pecados dosouvintes, como tambm s suas angstias e busca de solues. Analisaremos, a seguir, aparbola do Bom Samaritano em que Jesus revela essa sensibilidade e percepoprofunda.

    O PROBLEMA APRESENTADO:QUEM O MEU PRXIMO?

    A quem devo amar como a mim mesmo? A qualquer homem do mundo? Onde seestabelece a linha divisria? Devemos tratar os piores pecadores, tiranos e herticos comonosso prximo? Ou faz mais sentido dizer que so os de nossa famlia, rua, sinagoga,povo? Para os judeus, os gentios no estavam includos no prximo. Mas Jesus recusou-se a definir o prximo baseando-se em classificaes sociais ou religiosas. 3 A parbola um ataque mortal contra os preconceitos raciais.4

    Jesus responde com um exemplo prtico. No fim da parbola a pergunta j noera: "Quem era o prximo que esses homens deviam amar?", mas: "Quem agiu como oprximo do homem assaltado?" A parbola mostra que o prximo aquele queencontramos em nosso caminho e que necessita ser ajudado. Devemos ajudar segundosua necessidade, identificando-nos, tomando-nos prximos, sem olhar as barreiras raciais,religiosas, etc.5 A questo bsica das parbolas sobre o Reino de Deus estava relacionadacom a participao neste reino. Jesus mostra que viver segundo esse reino implica emviver como o Bom Samaritano. 6 Jesus quer que nos preocupemos com a pergunta: "devo-me tomar o prximo de quem?" o padro de amor incondicional, um padro ticoelevado, pelo qual se deve lutar.7 Jesus tambm desafia a avaliar se o sacerdote ou olevita realmente guardavam a Lei, que ordenava o amor ao prximo.

    Na poca de Jesus o judasmo enfatizava a separao religiosa e social dosimpuros, pecadores, gentios, Samaritanos, etc. Fazia isso por motivos religiosos e parapreservar a identidade nacional e cultural dos judeus, numa poca de imperialismopoltico e cultural. Jesus mostra um tipo diferente de santidade, que se entrega ao outro, eno uma santidade defensiva. Jesus no estava traindo a herana judaica, como sepensava. Cria que chegara o Reino de Deus, cumprindo as promessas e as esperanas doA.T., de reconciliao e de renovao. Vemos como Jesus quebrou todos os preconceitosao falar com a mulher Samaritana e com a pecadora. No porque era anarquista, noligando para a moralidade, mas para anunciar a reconciliao do Reino de Deus e paratrazera cura. Jesus anuncia a poca em que as divises entre adoradores sero derrubadas(Jo 4.21-26). Paulo, mais tarde, fala que Jesus destruiu as barreiras e a hostilidade entreJudeus e Gentios (Ef 2.14). Para Paulo, a Igreja era o prottipo do plano de Deus para areconciliao do mundo e por isso devia manifestar sua unidade e chamar outros mesma

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    reconciliao (2Co 5.16-21). Um chamado vida revelada do Reino de Deus, que Cristoexemplificou e para a qual nos convida.9

    Vemos que Jesus, profundo conhecedor da realidade religiosa do povo, seentristecia e se irava frequentemente com o legalismo to distante da vontade de Deus.Aqueles que no alcanassem nova compreenso da responsabilidade crist pelo

    prximo, seriam incapazes de contribuir para a expanso do Reino de Deus. Aqueles queno compreendessem que tipo de atitudes bsicas Deus esperava deles ficariam mais emais escravizados a um sistema religioso sem vida, sem serem abenoados e sem seremuma bno.

    A PARABOLAO Homem Assaltado

    Jesus no definiu a nacionalidade do homem, mas os judeus teriam presumido quefosse dos seus. O homem ferido provavelmente estava inconsciente, totalmentedespojado, no podendo identificar-se. Naquela poca, as pessoas eram identificadas pelasua maneira de vestir e de falar, e naquele estado era impossvel identific-lo. Era

    simplesmente um serhumano com necessidades.

    10

    O trfego nessas estradas era intenso, justamente pelo fato de haverpoucasopes de trajetos. O propsito mais comum das viagens era o comrcio. Viam-se osmercadores judeus, os caravaneiros nabateus, os grandes negociantes babilnicos,homens de negcio da Sria e at abissnios e sudaneses, alm dos mascates gregos, dosfornecedores das lojas, e dos camponeses que vendiam seus produtos no mercado. Nocaminho havia algumas hospedarias, constitudas de uma praa rodeada por muros, umespao descoberto para os animais, um alojamento de madeira para abrigar as pessoas, ealguns quartinhospara os viajantes mais abastados. Ningum viajava sozinho, a no serquando se tratava de distncias muitopequenas. Os homens viajavam em grupos, comoproteo contra ladres e salteadores. Esta era uma das maldies da poca. O risco doroubo, saque e assalto nas estradas ocupava um lugar importante nos registros da vidadiria nos evangelhos. Nesta parbola tratava-se de assalto armado, do qual a vtima s serecuperou por um milagre. Nas colinas e desfiladeiros da Judia faziam emboscadas osbandos de pastores desempregados, mendigos, mercenrios ociosos e escravos fugidos.11

    A Atitude dos Homens ReligiososO Sacerdote, quando viu a vtima, sentiu a luta entre a objeo da pureza

    cerimonial e a obrigao de ajudar o necessitado. A primeira preocupao venceu, e elese afastou deliberadamente. Os sacerdotes e levitas deviam observar umpadro elevadode pureza ritual, por seu ministrio sagrado. Muitos viviam na regio frtil de Jeric, e,portanto havia muitas idas e voltas a Jerusalm. Parar para ajudar traria um problemadifcil, talvez intil se o homem j estivesse morto. Era arriscado, pois os bandidosestavam ali. Tambm havia escrpulos religiosos em se aproximar de um morto,possivelmente estrangeiro, e por isso considerado impuro.13 O Sacerdote provavelmenteandava a cavalo, indicando ser de uma classe mais elevada, e portanto com maiorpossibilidade de oferecer o socorro necessrio. Os sacerdotes tinham instrues parasocorrer o prximo quando o visse se afogando, sendo atacado, etc. (B.T. Sanhedrin 73a,Soc, 49b), mas como ele no vira o ataque, no sabia se o homem era seu prximo. Almdo mais podia estar morto e assim ele se contaminaria. O sacerdote recebia, distribua e

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    comia dos dzimos, dos sacrifcios do templo e dos Pes da Proposio e se estivessecontaminado, no poderia faz-lo. Entre as piores coisas que contaminavam o homem nojudasmo estava o contato com um cadver, ou com um no judeu. Havia assim o perigograve de contrair a contaminao ritual. Considerando que o sacerdote voltava do seutrabalho de dirigir o povo em seu culto a Deus, caso isso acontecesse deveria voltar ao

    Templo e seguir as prescries humilhantes do rito da purificao. O sacerdote e suafamlia gozavam de toda espcie de privilgios e direitos especiais que podiam perdertemporariamente no caso dele se contaminar ritualmente.14 O sacerdote era vtima de umsistema tico teolgico que era um livro de regras.

    Quanto ao levita, quase certo que sabia que o sacerdote passara antes dele; otipo de estrada permitia que se visse a pessoa de longe. O levita sofria menos dasrestries da pureza ritual, portanto podia ajud-lo. Mas, chegou e observou o homem.Ao contrrio do sacerdote, porm, decidiu passar adiante. Provavelmente foi por causa domau exemplo do sacerdote. "Se o sacerdote no fez nada, por que eu deveria faz-lo?"15

    Percebemos que o sistema religioso tornou-se rgido, inflexvel e sem misericrdia(qualidade que Deus prefere ao sacrifcio, ver Mt 9.13; 12.7 e Os 6.6), e que os religiosos

    cumpriam suas obrigaes formais sem conhecerem verdadeiramente a alegreconsagrao de suas vidas a Deus e ao prximo. Tornaram-se meros ritualistasprofissionais, ej no homens de Deus.

    Percebemos a contextualizao profunda de Jesus, ao criticar a cultura e asociedade, relacionando a verdade bblica (o 2 Mandamento) quele contexto.Percebemos que Jesus fez uma aplicao contextualizada, analisando os costumes sociais luz da Palavra de Deus, recomendando uma qualidade de vida que exibisse as virtudescrists universais dentro da realidade. Ele comunicava as verdades do evangelho e dasnecessidades do homem pecador de uma maneira contextualmente apropriada. 10 Jesusaplicava a contextualizao crtica, em que velhas crenas e hbitos no deveriam sernem aceitos, nem rejeitados, sem reflexo. Deveriam, porm, ser estudados em termos deseu lugar no contexto cultural, e avaliados segundo as normas bblicas (no caso de Jesus,segundo o esprito da lei, e no meramente a letra). Para isso, era necessrio analisar oscostumes tradicionais associados questo, para depois levar o povo a avaliarcriticamente seus prprios costumes luz de novas compreenses bblicas e tomar suasprprias decises em relao ao seu uso.17

    Jesus era um verdadeiro mestre da comunicao e conseguia sempre ser fiel mensagem bblica e coerente ao meio ambiente geral e pessoal. A contextualizao maisprofunda sempre uma contextualizao crtica, que avalia os costumes, e abre apossibilidade de novas decises, luz da Palavra de Deus. Temos muito a aprender comEle. Aqui ele expe criticamente os hbitos dos judeus religiosos, mostrando que seusescrpulos os afastavam do Reino de Deus, onde a regra mais importante o amor. Masfaz essa exposio com arte, no atravs de um simples ataque, mas de uma parbola queconvida reflexo e resposta.

    O Bom SamaritanoOs Samaritanos eram os mais detestados pelos judeus. Havia uma antiga

    animosidade entre eles, desde a volta do exlio. A introduo do Samaritano foi muitocontrovertida e antiptica. Se Jesus tivesse escolhido um judeu normal, os ouvintesficariam satisfeitos com uma histria anti-clerical, mas ele descreve com detalhes a

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    amabilidade do Samaritano. Embora estivesse em viagem, longe da sua terra, no seafastou da vtima, mas seu corao moveu-se de compaixo. Uma compaixo que seexpressou em aes prticas: cuidar das feridas, coloc-lo sobre o jumento, lev-lo hospedaria, cuidar dele, e ainda prometer pagar as outras despesas depois.18

    O povo jamais esperaria tal ao. Se o sacerdote e o levita no ajudaram, muito

    menos um Samaritano o faria. Se o judeu estivesse bem, e o Samaritano lhe oferecesseum copo de gua, rejeitaria com indignao. Mas a compaixo do Samaritano superou aanimosidade religiosa, mostrando-se como uma figura de Jesus, que se tornou nossoprximo para nos socorrer.19 Os dois denrios pagariam as despesas ainda por um bomtempo, visto que com um denrio podia-se permanecer trinta dias na hospedaria, ou sealimentar durante doze dias. O Samaritano fez muito mais do que o mnimo, fez tudo oque era possvel.20 Ele tinha a mesma lei que dizia que seu compatriota era seu prximo, eaquele homem ferido dificilmente seria um Samaritano, mas ele o socorreu. OSamaritano provavelmente era comerciante, e seria alvo fcil dos assaltantes, portantopodia desculpar-se como o levita. Mas preferiu correr o risco, inclusive de sofrer aretaliao da famlia e dos amigos do judeu a quem ofereceu sua ajuda. Sua compaixo

    obrigou-o a agir.Tratou as feridas do homem. "Atar as feridas" era uma figura usada pelos judeuspara a obra salvadora de Deus (Jr 30.17; Os 6.1-10). Aqui Deus age soberanamente parasalvar, usando um Samaritano. Os profetas haviam ensinado que Deus quer amisericrdia, mais do que os sacrifcios (Os 6.6; Mq 6.7-8). Foi o Samaritano quemostrou esse amor inabalvel (hesed). Foi ele quem ofereceu a oferta aceitvel a Deus.Se o homem naquele momento recuperasse a conscincia poderia insult-lo porque eraproibido um judeu aceitar leo e vinho de um Samaritano, segundo a lei oral.21 O leo eraum dos medicamentos mais usados, sendo geralmente esfregado, com a idia de amaciare acalmar a dor, e podia-se fazer uso dele at mesmo no sbado. 22

    O Samaritano colocou o homem na sua montaria pois, provavelmente, os outrosanimais estavam carregados de mercadorias. Guiar o jumento estalagem era assumiruma posio de servo (Et 6.7-11). Entrando na estalagem, havia o perigo de ser acusadode ser o responsvel pela situao do homem, e sofrer represlias, mas mesmo assim oSamaritano no deixou o servio pela metade, fez tudo o que pde para socorrer ohomem necessitado. um tipo do amor de Deus, que aparece inesperadamente e age,oferecendo salvao.23

    Vemos que Jesus deliberadamente chocou seus ouvintes, os judeus complacentes,muito conscientes de sua superioridade. Jesus mostrou que a maneira como viviam suareligio era contrria ao esprito da lei, e que Deus pode se manifestar atravs do amorhumano e sincero de algum to desprezvel quanto o Samaritano. Comeou a abrir amente deles para uma f e uma fraternidade mais csmica, sem barreiras raciais eculturais, uma f que aceita a responsabilidade de seguir o exemplo de Jesus, vindo emsocorro do ser humano em sua necessidade. Esta dimenso missionria sempre esteveenvolvida na aliana, mas os judeus a haviam esquecido (Gn 12.1-3). Precisavamaprender a valorizar o ser humano como criatura feita segundo a imagem e semelhana deDeus, no por causa de sua raa, mas por ser merecedor de respeito.

    O Estilo e o Objetivo de Jesus"O estilo essa parte da comunicao missionria em que a sua compreenso

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    sobre a cultura respondente, os seus poderes de imaginao, e a sua habilidade no uso desmbolos, ajudam a ter liberdade de expresso no servio do reino". 24 IndubitavelmenteJesus tinha um estilo poderoso e atraente, justamente porque compreendia to bem osproblemas verdadeiros dos seus respondentes, que os confrontava com os mesmos. "Deusemprega nossa lngua, nossa cultura, os princpios de comunicao que ns usamos. Ele

    se revela de maneira orientada para o receptor."25

    O segredo do sucesso de Jesus era sua profunda identificao com sua audincia.Compartilhava com eles as sensaes, imagens e idias familiares. Voc pode persuadirum homem medida que fala sua lngua pelas palavras, gestos, tonalidade, ordem,imagens, atitudes e idias, identificando seus caminhos com os dele. H vrios nveis decomunicao, desde os mais superficiais at os mais profundos. Num nvel maissuperficial, a mensagem diz respeito ao sistema de valores da pessoa. Quando se tentaconvencer o outro que deve se arrepender dos pecados, e levar outro tipo de vida, necessria uma identificao com o receptor, para que este perceba que a fontecompreende sua realidade e respeita seus pontos de vista, mesmo se discordar dosmesmos... Mas h ainda um nvel mais profundo em que a mensagem comunicada de

    maneira to eficiente que o receptor sente a mesma necessidade que a fonte sentia decomunicar a mensagem. A o receptor toma-se fonte da continuao da comunicao damensagem.26 Percebemos que em Jesus havia essa profunda sabedoria e identificao,pois nunca lhes falava como crtico de fora, mas como irmo, vivendo a mesma vida,ouvindo as mesmas Escrituras, sofrendo as mesmas presses e tentaes. E justamentepor essa identificao completa que podia desafiar abertamente a religiosidade formal,onde o religioso se orgulha dos seus cumprimentos rituais, em vez de humilhar-se diantede Deus e dispor-se ao servio ao prximo. E certamente conseguiu o nvel maisprofundo de comunicao, porque os discpulos que estavam presentes comunicaram amensagem a outros, at que chegou a ns, escrita pelo evangelista Lucas.

    Cristo falava de acordo com sua maneira de vero mundo, sua maneira depensar ede usar a lngua, sua maneira de agir, de interagir com os companheiros, e de tomardecises em relao ao futuro. Mas, no contexto missionrio, o ponto estratgico eabsolutamente dominante o prprio mensageiro missionrio. Esse deve mostrar uminteresse genuno e constante na religio, nas idias, nas instituies, e nos sentimentos;em resumo, em todas as reas da vida do povo. Somente um interesse genuno e contnuonopovo como ele , cria verdadeiros pontos de contato.

    justamente esse interesse genuno, movido por um amor, e por uma disposio adar-se sem limites, que era o verdadeiro segredo da comunicao de Jesus. Viveu trintaanos praticamente na clandestinidade, ouvindo, aprendendo, observando e orando, equando abria a boca, a sua mensagem sempre era exatamente aquela que o receptornecessitava, quer a aceitasse, quer no. A no aceitao nesse caso no estava na falha dacomunicao, mas numa deciso tomada pelo receptor.

    O BOM SAMARITANOUMA PARBOLA MISSIONRIA?

    A Parbola do Bom Samaritano um dos fundamentos bsicos no treinamentodos Doze para transformar sua viso bitolada e preconceituosa numa viso missionria,desejosa de alcanar o mundo. Primeiramente, porque Jesus claramente derruba osconceitos do exclusivismo religioso, da superioridade racial e da santidade que consiste

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    na separao do pecador (pois na verdade consiste em separar-se do pecado e no, dopecador). E no foi somente nessa parbola. Na vida prtica, Jesus tambm mostra muitoamor, respeito e interesse pelos Samaritanos (assim como pelos gentios), como no casoda cura dos dez leprosos, em que apenas o Samaritano voltou para dar glria a Deus; ouda mulher Samaritana, talvez a primeira pessoa a quem Jesus claramente disse que era o

    Messias que deveria vir. Assim, vinha forando os discpulos a desenvolver uma atitudediferente, indispensvel sua tarefa futura. E, parece que deu muito fruto, porque emAtos percebemos que j no havia muita dvida e resistncia contra a evangelizao dosSamaritanos, se bem que ainda o tinham em relao evangelizao dos gentios.

    Em segundo lugar, porque a parbola mostra que a necessidade do prximo (umser humano, sem distino de raa, credo, ou nacionalidade), traz consigo a obrigao,queles que pertencem ao Reino de Deus, de empreender uma ao compassiva, quecertamente no se limita evangelizao, mas que tambm a inclui. Ao saberem dastrevas em que os povos viviam, a atitude necessria era oferecer o remdio da salvaoem Jesus Cristo.

    Em terceiro lugar, o bom Samaritano claramente um tipo do prprio Jesus, que

    penetra em nossa realidade desesperadora. Sem calcular os custos faz tudo o que necessrio para nossa salvao completa. Jesus mesmo define o seu ministrio, em textoscomo Lucas 4.18-19 e Lucas 7.20-22, como aquele que veio de encontro necessidadeprofunda do homem, o que inclui as boas novas para os pobres, mas tambm a vista paraos cegos, a audio para os surdos, a libertao dos cativos e dos oprimidos. Para Jesussempre havia uma dimenso ampla de salvao necessria e oferecida, respondendo snecessidades espirituais, emocionais, fsicas e sociais do homem. Quando Jesus fala dacomisso missionria no Evangelho de Joo 17.18 e 20.21, enfatiza que "assim como oPai me enviou, assim tambm vos envio". Isso significa, com a mesma compaixo, com amesma disposio de pagar o preo de servio ao necessitado, com o mesmo amor quetranscende todas as barreiras, com a mesma viso ampla e profunda da necessidade dohomem. Por isso essa parbola um estmulo muito forte obra missionria, e o intencionalmente. Jesus conhecia bem os preconceitos no corao dos seus discpulos efoi desafiando sua maneira de ver a religio, e suas responsabilidades, dando-lhes poucoa pouco uma nova viso, at que o corao deles se transformasse em corao de carne,disposto obedincia, graas obra do Esprito Santo que continuou a tarefa de Jesus.

    CONCLUSAOA verdadeira contextualizao no uma aceitao passiva, mas uma

    compreenso profunda. avaliar todas as coisas com uma atitude justa e compassiva, ereter o que bom. buscar a soluo dos problemas mais profundos, que est na raiz dasatitudes e aes contrrias Palavra de Deus, e no se contentar com um legalismo, queataca apenas as manifestaes superficiais e esconde as causas. Fazer a obra missionria transpor barreiras por amor de Jesus e do Evangelho, sejam elas raciais, religiosas,geogrficas ou tradicionais. Transp-las, porque sabemos que fomos enviados com umamisso muito importante, uma misso que significa a diferena entre a desgraa final e aplena restaurao daqueles a quem fomos enviados. A parbola nos ensina a amar oprximo sem termos recebido dele nada em troca. Nossa misso, portanto, amar nossoprximo porque Deus nos amou primeiro e nos salvou de semelhante situaodespertadora.

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    NOTAS1 Charles H. Kraft. Christianity in Culture. 7a impr. New York: Orbis Books, 1988.2 David J. Hesselgrave. Communicating Christ Cross-Culturally. Grand Rapids: Zondervan,1978.3 David Wenham. The Parables of Jesus, Pictures of Revolution. Londres: Hodder & Stoughton,the Jesus Library, 1989, p. 154-155.

    4 Kenneth Bailey.A Poesia e o Campons, So Paulo: Vida Nova, 1985, p. 75-78.5 David Gooding.According to Luke. Leicester: InterVarsity Press, 1987, p. 202.6 Wenham, Op. cit.,p. 156-157.7 Bailey, Op. cit.,p. 80-82.8 Leon Morris.Lucas. So Paulo: Ed. Vida Nova e Mundo Cristo, 1983, p. 177.9 Wenham. Op. cit.,p. 156.

    10 Bailey. Op. cit.,p. 85-87.11 Henri Daniel Rops. A Vida Diria nos Tempos de Jesus, So Paulo: Ed. Vida Nova, 1986, p.170-172.12 Morris. Op. cit.,p. 178.13 Wenham. Op. cit.,p. 160.14 Daniel-Rops. Op. cit.,p. 171.

    15 Bailey. Op. cit.,p. 94-95.16 Hesselgrave. Op. cit.,p. 84-85, 135.17 Paul G. Hiebert.Anthropological Insights for Missionaries, Grand Rapids: Baker Book House,1988. p. 186-187.18 Wenham. Op. cit.,p. 158.19 Gooding. Op. cit.,p. 203.20 Morris. Op. cit., p. 179.21 Bailey. Op. cit.,p. 94-98.22 DanieI-Rops. Op. cit.,p. 211.23 Bailey. Op. cit.,p. 100-102.24 Hesselgrave. Op. cit.,p. 139-140.25 Kraft. Op. cit,p. 169.

    26 Hesselgrave. Op. cit.,p. 92-94.27 Hesselgrave. Op. cit,p. 98, 436

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    FUNDAMENTOS DE CURRCULORobert W. Pazmio

    Robert Pazmio Professor Associado de Educao Religiosa na Escola Teolgica deAndover Newton em Newton Centre, Massachusetts, EUA. Antes disso serviu como

    Professor de Educao Crist no Seminrio Teolgico Gordon-Conwell. Suasobservaes podem nos alertar sobre a metfora que estamos seguindo na formao demissionrios em nossas escolas. Pasmio enfatiza a necessidade de examinar os valoresque so o fundamento do nosso ensino, valores, conscientes ou inconscientes, que podematrapalh-lo ou ajud-lo, dependendo da sua fidelidade aos valores cristos e bblicos.Educadores cristos devem no s analisar e definir valores, mas viv-los na realidade.

    Definio uma questo imediata na considerao de currculo. O que "currculo"? H vrias definies e conceitos sobre currculo que refletem os valoresdistintivos e compromissos dos seus autores. As seguintes definies so algumas entrevrias:

    1. Currculo um contedo colocado a disposio dos alunos.(1)2. Currculo inclui as experincias didticas, planejadas e dirigidas, dos alunos.(2)3. Currculo composto das experincias atuais dos alunos ou participantes.(3)4. Geralmente, currculo inclui tanto os materiais e as experincias paraaprendizado. Especificamente, currculo compe as matrias escritas para estudousados para a educao crist.(4)5. Currculo a organizao das atividades didticas dirigidas por um professorcom a inteno de mudar comportamento.(5)Alguns especialistas referem-se ao "currculo" como aquilo que planejado ou

    intencionado pelos educadores, enquanto a "instruo" aquilo que realmenteexperimentado pelos estudantes. Neste caso, o experimentado pode ser semelhante, oumuito diferente, do que planejado ou intencionado. Em contraste com os que mantmesta distino, minha definio inclui aspectos de instruo e currculo. Defino currculocomo "o contedo colocado disposio dos alunos, junto com as suas experincias deaprendizado dirigidas por um professor". Esta definio implica que o professor tem queassumir responsabilidade em termos de contedo e experincia no planejamento,implementao e avaliao do ensino.

    Lois LeBar apia esta perspectiva. Ela observou que, sem experincia, o contedocristo vazio, e da mesma forma, a experincia sem contedo cega.(6) O desafio, naconstruo de currculo, combinar contedo cristo e experincia para que as mentes evidas dos alunos sejam impactadas e transformadas pela verdade de Deus. Uma nfaseexclusiva sobre contedo ortodoxo (crenas certas) pode ignorar a dimenso essencial daexperincia crist, sem a qual a educao