revista cana online de julho 2015/anntonio inacio ferraz
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1
2 Julho · 2015
3
Clivonei Roberto [email protected]
Luciana [email protected]
CÁ ENTRE NÓS
Demorou, mas o casamento da ca-
na-de-açúcar com o fogo está se
extinguindo. Utilizado para facili-
tar o corte manual da cana, o fogo tam-
bém contribuía para a redução de pragas
e plantas daninhas no canavial.
A prática da queima da palha da cana
pode até apresentar benefícios, mas ape-
nas seus malefícios é que ficaram registra-
dos na história canavieira: a figura do tra-
balhador enegrecido pela fuligem, virou
sinônimo de trabalho penoso; a fuligem,
ou a popular queimada, que encobria ruas,
casas e quintais, mesmo que proveniente
do fogo em terrenos baldios, para a popu-
lação era coisa de usineiro; qualquer notí-
cia sobre queimada, era de cana; e para os
ambientalistas, a queima da palha da cana
é um crime ambiental.
Nesta safra, no estado de São Paulo,
90% da cana será colhida crua e com má-
quina, além disso, o setor descobriu não só
os efeitos agronômicos da palha no solo,
como também o econômico, pois queimar
a palha é reduzir a renda que pode vir com
o seu direcionamento para a produção de
energia ou até etanol celulósico.
Quando a usina coloca fogo no ca-
navial, trata-se de queima programa-
da (fato cada vez mais raro), elas aconte-
cem longe das áreas urbanas, no período
noturno, com a presença de carro pipa e
têm a autorização da Cetesb. Então, quan-
do se vê fogo em cana fora dessas condi-
ções, são incêndios criminosos ou aciden-
tais, que geram danos sociais, ambientais
e também para o setor, já que na maioria
dos casos a cana não estava no ponto de
colheita.
Resumindo: na cultura canavieira, o
fogo passou a ser indesejado. Para dizer
isso à sociedade, para mostrar que incên-
dio é diferente de queima programada e
para reduzir a quantidade de incêndios, o
setor se uniu a Abag/RP e lançou uma im-
portante campanha, que é o tema de capa
desta edição. A CanaOnline também quer
contribuir para divulgar que a cana diz
não ao fogo.
O fim da era do fogo nos canaviaisUma das peças de divulgação
da campanha promovida pelo setor e Abag/RP
Capa
A cana diz não ao fogo
Holofote- Quais são os obstáculos
para aumentar a
produtividade agrícola?
Tendências- Xarope de milho: o que ele
tem a ver com o setor de cana?
Especial Amendoim- Cultura do amendoim
exige carinho
ÍNDICE
Especial Amendoim- A difusão da Meiosi
cana MPB e amendoim
Pesquisa & Desenvolvimento- A cana que vem do frio!
Herbishow- Não relaxe
com a Tiririca!
Editores: Luciana [email protected]
Clivonei Roberto [email protected]
Redação: Adair [email protected]
Leonardo [email protected]
MarketingRegina Baldin
Editor gráficoThiago Gallo
Insectshow- Sphenophorus levis quebra
usinas e produtores de cana
- Erradicar canavial pode não
ser a melhor forma de se
livrar das doenças da cana
Tecnologia Industrial- Mesmo com a crise,
inovação não morre
Economia- A crise também acontece
da porteira para dentro
Logística- Logística com confiabilidade
Gestão dePessoas- Imaturidade das
relações humanas
Gestão de Empresas- A prática de “comer bola”
aumenta as perdas do
setor sucroenergético
Aproveite melhor suanavegação clicando em:
Áudio LinkFotosVídeo
Entre em contato:Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a re-vista CanaOnline serão muito bem-vindas:Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SPTelefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074Email: [email protected]
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CanaOnline é uma publicaçãodigital da Paiva& Baldin Editora
6 Julho · 2015
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Vai demorar para retomar patamares do passado
Essa pergunta não é fácil. Inclusive acho
que vamos demorar ainda um tempo
para retomar o patamar de produtivida-
de que já tivemos. Uma causa é o próprio
impacto da mecanização sobre a soquei-
ra. E sofremos muito com isso no cerra-
do, porque num período que tem cinco,
seis meses de estresse hídrico, a soquei-
ra vai ser abalada bastante. Por isso, ima-
gino que demoremos um pouco para re-
tomar os melhores patamares. O caminho
é lento, precisamos ter um solo adequa-
damente preparado. Na nossa região per-
cebemos que a água é um nutriente dos
mais importantes. Quanto às variedades,
há um leque de materiais para se trabalhar
ao longo da safra com sani-
dade. Na BP estamos inves-
tindo forte nesta questão.
Agnaldo Rigolin, gerente
de desenvolvimento
agrícola da BP
Biocombustíveis
Melhoria do plantio
Pagamos a conta de um ambiente cada
vez mais mecanizado, na colheita e no
Vários fatores, como clima, compactação, idade e pragas
Nos últimos anos, a lavoura de cana-
de-açúcar tem apresentado núme-
ros baixos de produtividade agrícola de-
vido a vários fatores, mas principalmente
ao clima, pragas, plantas daninhas, idade
avançada e compactação de solo. Parale-
lo a isso, contribuem para agravar essa si-
tuação a falta de políticas públicas e pla-
nejamento estratégico que incentivem
investimentos e garantam a competitivi-
dade dos produtos. Mas as perspectivas
de produtividade para a próxima safra en-
tre os associados da Canaoeste são boas.
Provavelmente os números serão superio-
res aos da safra 2014/2015, principalmen-
te devido aos maiores volumes de chuvas
ocorridos de fevereiro a maio de 2015, em
comparação ao mesmo período do ano
passado, os quais influenciarão positiva-
mente a produtividade das canas colhidas
do meio para o final da safra.
Alessandra Ramos Durigan,
gestora técnica da Canaoeste
8 Julho · 2015
plantio. Fomos para um plantio mecaniza-
do em velocidade enorme, com o nível de
falhas que se tem hoje. É preciso discutir
muito com os fabricantes esse aperfeiçoa-
mento das máquinas. E a qualidade da co-
lheita precisa evoluir sempre. Sem esque-
cer as pessoas. O trabalhador precisa ser
qualificado. A forma de melhorar a produ-
tividade, de pelo menos recuperar o que
se tinha antigamente, na nossa visão, pas-
sa pela melhoria do plantio. Te-
mos muita soca falhada, com
custos enormes para recupe-
rar essas falhas. Precisamos de
um salto na melhoria da quali-
dade das operações, do pre-
paro à colheita.
Fernando Lima,
diretor de produção
agrícola da Raízen
O aprendizado da colheita é cruel
Tivemos perdas médias de produtivi-
dade quando foram agregadas às áre-
as tradicionais as regiões dos greenfields,
mas que evoluíram para áreas de me-
lhor potencial de produtividade. Para che-
gar nessa média, precisamos de tecnolo-
gia para essas áreas de menor potencial.
Não tenho dúvida que têm potencial me-
lhor do que estão realizando. Todas as usi-
nas que foram inauguradas não somente
crescem rapidamente, como plantam cana
o ano todo. O potencial de produtividade
de uma cana desta é muito baixo. Existe
ainda um grande diferencial de produtivi-
dade que vai ser ganho quando essas em-
presas pararem com essa prática, o que já
acontece. Vamos realizar produtividades
melhores naquelas regiões. Com relação
às regiões tradicionais, tivemos perdas cli-
máticas. Tem outras perdas, como a che-
gada do Sphenophorus e a evolução da
ferrugem alaranjada, esta última está ti-
rando do canavial algumas variedades im-
portantes. Para as empresas que tiveram
uma evolução de colheita recentemen-
te, é aquele velho pedágio: o aprendiza-
do da colheita é cruel. Tudo reside na na-
tureza da nossa cultura, a cana. Temos de
remover na colheita 100 t por hectare, en-
quanto outras culturas têm que remover
de 3 a 5 toneladas. Essa diferença expli-
ca a necessidade de mecanizar o trânsi-
to desse volume dentro do canavial. Pa-
rece simples a receita, mas a execução é
difícil porque passa pelas pes-
soas. Não podemos esquecer
que, para operar nossas má-
quinas mais sofisticadas, com
eletrônica embarcada, temos
um material humano cada
vez menos prepara-
do. Afinal, a edu-
cação no país é
cada vez pior.
A empre-
HOLOFOTE
9
sa que não perceber que tem que cum-
prir esse papel, não vai conseguir realizar
o que entende que deve ser feito. O prin-
cipal investimento nosso é suprir essa de-
ficiência de educação desse pessoal.
Mario Gandini, o Marinho, diretor
agroindustrial da Usina São Martinho
É preciso aperfeiçoar o manejo
A qualidade da matéria-prima passa
pelo fator varietal, é preciso realizar
o manejo varietal correto. São poucas as
variedades que atendem à mecanização, e
não aproveitamos o potencial das varieda-
des disponíveis. É necessário adequar as
operações, o plantio, a colheita, o preparo,
para que este aproveitamento se torne re-
alidade. Consigo até chegar à cana de três
dígitos em ambiente desfavorável, mas o
custo fica insuportável. O manejo é o ca-
minho para chegar à alta produtividade.
Por não explorar todo potencial das varie-
dades, deixamos de ganhar ATR por hecta-
re. Tem variedade de potencial que, se for
alocada adequadamente, apresentará me-
lhor resultado. A mecanização é um pro-
blema sério, principalmente no plantio. As
falhas são de assustar. Precisamos aprimo-
rar o plantio para termos uma melhor co-
lheita. Cobramos muito das inovações dos
fabricantes, mas temos de preparar nossos
operadores para que aproveitem as inova-
ções. Aproveitamos pouco a
tecnologia embarcada.
Paulo Roberto
Artioli, o Betão,
diretor da
Tecnocana e
produtor de
cana em Lençóis
Paulista, SP
Todo dia corremos atrás da produtividade
Nas áreas de expansão, o processo
já iniciou mecanizado. Na área tra-
dicional, quem começou a mecanizar há
mais tempo tem uma história, quem de-
morou para começar, teve de fazer cor-
rendo e está pagando por isso. Particular-
mente mecanização de campo é algo que
deve trazer aumento de produtividade e
não redução. Logicamente paga-se pe-
dágio, e depois se usufrui do benefício.
Também há um aspecto de manejo: acer-
tar no conjunto de variedades, no plan-
tio, na adubação, no ajuste de máquinas.
Duvido que cada um que trabalha na área
agrícola das usinas não acorde todo dia
pensando em como vai melhorar o ma-
nejo para melhorar a produtividade. Todo
dia corremos atrás da produtividade para
baixar custos. Acho que o mais significati-
vo é que as áreas novas vão trazer um be-
nefício grande ao setor, porque vão exigir
10 Julho · 2015
hectare. No passado, a média era de 35,
40 sacos de soja por hectare. Isso deve
nos fazer questionar por que a cana con-
tinua com a produtividade de vinte anos
atrás, e até caindo. Qual seria a grande ra-
zão disso? Tem as dificuldades financei-
ras, mas acima de tudo acredito que te-
mos de tomar cuidado para fazer bem
aquilo a que nos propusemos. E isso, em
alguns momentos, está faltando. Na hora
de plantar cana, se for plantar uma varie-
dade que brota mal no plantio, ou nasce
mal, ou perfilha mal, já defini o futuro. Se
decidi plantar numa área mal preparada,
mal corrigida, já defini o futuro. Acredito
que está faltando usarmos mais a agrono-
mia. Podemos pegar o exemplo de outras
culturas. Muitas vezes não acreditamos na
tecnologia que está aí. Um exemplo é va-
riedade. Dizemos que não temos varieda-
des boas, mas vemos resultados excepcio-
nais em alguns locais onde o pessoal está
fazendo a coisa certa, com as variedades
novas que estão aí. Que já foram selecio-
nadas considerando o sistema de meca-
um nível de agronomia melhor. Foi o que
aconteceu com grãos. Quando o grão foi
para o Centro-Oeste, a produtividade da
soja e do milho subiu no Brasil todo. Com
cana vai acontecer também, mas demo-
ra mais, porque o canavial demora mais
para se ajustar ao novo manejo. Mas em
casa que falta pão todo mundo grita e nin-
guém tem razão. O problema é grana. Se
não colocar dinheiro, como teremos varie-
dades novas? Se não tiver sobra de caixa
na nossa operação, como vamos investir?
Se o fornecedor de cana não participar da
energia, como vai valorizar a matéria-pri-
ma? A crise hoje é de caixa. Se não traba-
lharmos mais fora da propriedade do que
dentro da fazenda, vamos demorar mais
tempo para mudar a situação.
Paulo Rodrigues, produtor de
cana em Jaboticabal, SP
É preciso usar mais a agronomia
Observando outras culturas, vemos
que a produtividade da soja explo-
diu. Nesse ano choveu bem no Sul, e con-
versando com alguns produtores, eles
chegaram a colher 90 sacos do grão por
HOLOFOTE
11
nização. Entramos com colheita mecani-
zada, mas não treinamos nosso pessoal
para que não haja pisoteio no canavial. A
tecnologia mudou, chegou a mecaniza-
ção, entramos em ambientes mais restri-
tivos, mas continuamos fazendo o que fa-
zíamos lá atrás. Tem usina que está acima
do patamar de produtividade, mas o que
faz para conquistar isso? Cabe discutirmos
internamente para sabermos até que pon-
to buscamos tecnologias que estão sendo
usadas, que estão disponíveis e muitas ve-
zes não vão custar mais. Porque a defini-
ção de plantar a variedade x ou y vai de-
pender do meu planejamento. Tem usinas
e grupos que já estão fazendo isso.
Rogério Augusto Soares, gerente de
Planejamento Agrícola da Bunge
Variedade não é o único componente da produtividade
Acredito que, para a produtividade, a
variedade é um grande componen-
te, mas não é o único. Estes últimos anos,
com o plantio mecanizado, e principalmen-
te a colheita mecanizada de cana crua, aos
quais as usinas não estavam tão prepara-
das e tiveram que rapidamente se adaptar,
aliado às condições climáticas, que nos úl-
timos anos foram muito danosas à cultura
da cana, somente a variedade não teria toda
a capacidade de elevar a produtividade. Te-
mos variedade com alto potencial, mas ve-
rificamos que em função de seu manejo, da
colheita mecanizada de cana crua, da com-
pactação do solo, da adubação etc, os re-
sultados deixam a desejar. É preciso somar
a essas belas variedades o manejo adequa-
do, para que efetivamente consolidemos
uma produtividade acima de 100 tonela-
das por hectare na média de 5 cortes. Sozi-
nha, uma variedade não vai resolver o pro-
blema. E quando falo de manejo me refiro
desde o preparo do solo, a adubação, pas-
sando pela colheita, época de corte, qua-
lidade da brotação, colheita de cana crua.
Ao carregar sobre a variedade essa gran-
de expectativa estamos penalizando mui-
to esse fator chamado variedade, pois é um
complexo. Por isso que nós, como univer-
sidade, entendemos que devemos atuar de
maneira conjunta, ampla, em todo o mane-
jo da lavoura. O sonho da RIDESA (Rede In-
teruniversitária para o Desenvolvimento do
Setor Sucroenergético) é criar um progra-
ma de cana-de-açúcar em todas as áreas.
Aí sim acredito que teremos aumentos sig-
nificativos de produtividade.”
Edelclaiton Daros, pesquisador da
Universidade Federal do Paraná e
coordenador nacional da RIDESA
12 Julho · 2015
TENDÊNCIAS
Xarope de milho:o que ele tem a ver com o setor de cana?
O xarope de milho, também conhe-
cido como isoglucose ou HFCS
(High Fructose Corn Syrup), é um
adoçante bastante utilizado pela indústria
alimentícia, principalmente na fabricação
de bebidas.
Os principais países produtores do
xarope são Estados Unidos, China, Japão
e os integrantes da União Europeia, sen-
do a Hungria a maior produtora no bloco.
Já os maiores consumidores são Estados
Unidos, México, China e Japão. Segundo
Ana Malvestio1 e Daniela Coco2
Nos EUA, o xarope de milho é muito utilizado pelas
empresas de refrigerante
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a Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO), os Esta-
dos Unidos respondem por 64,5% da pro-
dução e 58,8% do consumo mundial de
HFCS, que é utilizado principalmente pela
indústria de refrigerantes, a qual absor-
ve cerca de 90% do xarope consumido no
país. Estimativas apontam que os Estados
Unidos devem permanecer como líderes
mundiais na produção do xarope de milho
pelo menos até 2023.
No entanto, o HFCS vem sendo alvo
de estudos associando o seu consumo à
obesidade e à diabetes, principalmen-
te nos Estados Unidos. Embora algumas
marcas tenham reformulado seus produ-
tos, a fim de retirar o xarope da composi-
ção dos mesmos, os produtores do ado-
çante enfatizam que as pesquisas não são
conclusivas e que, embora o consumo do
xarope tenha caído nos Estados Unidos
nos últimos anos, o índice de obesidade
sofreu elevação no país. No México, princi-
pal importador do xarope, também se ob-
serva o debate em torno do consumo de
HFCS e os altos índices de obesidade da
população.
Embora os estudos associando seu
consumo a problemas de saúde não se-
jam conclusivos, ações de marketing mos-
trando os benefícios do produto e a sus-
tentabilidade de sua cadeia de produção
14 Julho · 2015
TENDÊNCIAS
2Gerente de Agribusiness da PwC Brasil
1Sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness para o Brasil e Américas
podem minimizar retaliações do merca-
do e melhorar a percepção do consumi-
dor com relação ao consumo moderado
do HFCS.
Um dos principais fatores que pode-
rão afetar o mercado mundial nos próxi-
mos anos e causar impactos também na
produção de HFCS é a extinção da política
de cotas para produção de açúcar dentro
da União Europeia, em 2017. Atualmente,
a produção do HFCS é limitada a apenas
5% da cota de produção de açúcar do blo-
co. Com a extinção da política de cotas,
não haverá mais esta restrição e a indús-
tria poderá aumentar a produção e o con-
sumo de HFCS.
O Brasil por ser um grande produtor
e exportador de milho e de açúcar de cana,
deve ser impactado com o fim das cotas da
União Europeia, com a abertura e desafios
para o seu mercado. Esse é um tema que
provavelmente será mais discutido nos
próximos anos e demandará mais atenção
por parte dos integrantes da cadeia de va-
lor do milho e da cana-de-açúcar.
O Brasil é um grande exportador de milho
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16 Julho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
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APOIO
Cultura do amendoim exige carinho
TRATO CULTURAL BEM FEITO E INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS SÃO
FUNDAMENTAIS PARA O SUCESSO DA CULTURA DO AMENDOIM
18 Julho · 2015
A colheita do amendoim terminou
em maio, e na fazenda dos Pena-
riol, em Jaboticabal, SP, as máqui-
nas já passaram por manutenção, foram
lavadas e estão preparadas para a próxi-
ma colheita que se inicia por volta de fe-
vereiro de 2016. O plantio da nova safra,
se o tempo permitir, começa em outubro,
mas as máquinas já estão prontas para a
largada.
Há mais de 40 anos a família se dedi-
ca à lavoura do amendoim. Na última sa-
fra, plantaram 420 hectares, entre terras
próprias e arrendadas, tudo em área de
renovação com cana. A produção foi de
66.800 sacas de 25 quilos, produtividade
de 420 sacas por alqueire, mas eles espe-
ravam mais, pois já teve ano que beirou
as 600 sacas. A queda foi em decorrên-
cia de condições climáticas adversas. Fal-
tou chuva na época do plantio e sobrou
na hora da colheita. “Não foi por falta de
tratos culturais”, salienta José Antonio Pe-
nariol, que cuida da lavoura junto com os
primos Robson José Lampa e Danilo Cé-
sar Penariol.
Eles sabem que amendoim é enjo-
ado, desde o preparo é problemático. “O
certo é fazer tudo antecipadamente. Para
começar é preciso reduzir a quantidade de
palha da cana. Amendoim não nasce com
palhada. O certo é que tenha um pouco de
Luciana Paiva e Leonardo Ruiz
ESPECIAL AMENDOIM
Robson, Izildinha, José Antonio e Danilo: tradição na cultura do amendoim
19
chuva para ajudar a desintegrar a palha e
facilitar o serviço, mas se tiver muita chu-
va, a palha mela, aí é outro problema”, diz
Robson.
Danilo observa que o aumento das
pragas de solo tem exigido mais opera-
ções para preparar a área para o plantio.
“Agora precisa passar o desintegrador de
soqueiras em duas linhas, pulamos duas
linhas, trabalhamos a área e depois vol-
tamos para desintegrar as touceiras das
duas linhas que pulamos. Mas só pode fa-
zer isso com o clima seco. O problema é
que, na maioria das vezes, o pessoal libera
as áreas de renovação na última hora, difi-
cultando a realização do preparo do solo”,
comenta Danilo. Mesmo assim, eles não
desistem da atividade. Pelo contrário, se
empenham cada vez mais para obter uma
produção com qualidade.
Afinal, qualidade é a meta principal
dos Penariol, pois a colheita deles segue
integralmente para a Coplana (Coopera-
tiva Agroindustrial), onde se transformará
APOIO
Na fazenda dos Penariol, as máquinas já estão prontas para a colheita
20 Julho · 2015
em sementes tratadas que irão abastecer
os cooperados da entidade e formar no-
vas lavouras de amendoim, produção que
seguirá para o mercado interno e exter-
no. “A lavoura de amendoim começa pela
qualidade da semente, então a nossa pre-
cisa ser a melhor possível”, diz Carmen Izil-
dinha Penariol, a tia dos “meninos”.
Pragas, doenças
e plantas daninhas
na cultura do amendoim
O engenheiro agrônomo e respon-
sável técnico comercial da Coopercitrus -
Monte Alto, Daniel Pierre Vitória, diz que é
grande a quantidade de doenças e pragas
do amendoim. Entre as principais pragas
estão as Trips, lagartas, cigarrinhas, ácaros,
percevejos, cupins e cochonilhas. Dentre
elas, os insetos-chave são o Trips, mais es-
pecificamente a espécie Enneotripes fla-
vens, e a lagarta do pescoço vermelho.
O Enneotripes flavens tem multipli-
cação rápida, atingindo a fase adulta duas
semanas após a postura do ovo, em con-
dições favoráveis de clima. Por atacar os
brotos das folhas, causa os maiores danos
durante os primeiros meses de crescimen-
to das plantas. Um clima quente e seco fa-
vorece sua disseminação, enquanto chuvas
pesadas contribuem para o seu controle.
Plantas de amendoim que surgem no ter-
reno antes da instalação da cultura cons-
tituem fontes de infestação de Trips. Já a
lagarta do pescoço vermelho, outro in-
seto bastante disseminado no Estado de
São Paulo, é de tamanho muito pequeno
e ataca de preferência os brotos de amen-
doim, perfurando-os e afetando o desen-
volvimento da planta. O controle, nesses
casos, é feito com inseticidas específicos.
Com relação às enfermidades, a
mancha preta é a doença foliar de maior
frequência e danos à cultura. A ferrugem,
mancha castanha e verrugose também
aparecem com certa regularidade. Atual-
mente, existem fungicidas eficientes para
a mancha preta e castanha, mas, em geral,
é necessário alternar com outros produtos
quando há infestação de ferrugem ou de
verrugose.
Por ser uma planta de porte rasteiro,
o amendoim é uma espécie bastante sen-
sível à infestação de ervas daninhas, que
prejudicam seu crescimento e, no final do
ciclo da cultura, afetam a eficiência das
ESPECIAL AMENDOIM
21
operações de colheita. Daniel Pierre ob-
serva que o manejo das plantas daninhas
talvez seja o diferencial de produtividade,
APOIO
pois existem vários métodos de controle
eficientes, como o PPI (pré-plantio incor-
porado), em que o intuito é a redução do
banco de sementes. “Outros métodos uti-
lizam herbicidas pré-emergentes da cultu-
ra e do mato e se, por algum motivo, hou-
ver algum escape de plantas daninhas, há
herbicidas de pós-emergência que elimi-
nam matos de folhas finas mesmo com a
cultura em desenvolvimento.”
Novas moléculas para
a defesa do amendoim
O lado positivo, segundo Daniel Pier-
re, é que, ao longo dos últimos anos, hou-
ve grandes investimentos por parte de di-
versas empresas de defensivos na forma
Do plantio à colheita, são sete aplicações de defensivos
A cultura do amendoim é exigente em
tratos culturais
22 Julho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
APOIO
de pesquisa e registro de novas moléculas
para a cultura do amendoim, tornando o
manejo mais eficiente e, consequentemen-
te, menos agressivo ao meio ambiente.
Daniel Pierre dá como exemplo a
BASF: a empresa possui um amplo portfó-
lio para a cultura, desde o tratamento de
semente, com o Standak® TOP - que man-
tém o stand nos primeiros momentos de
arranque da cultura -, a soluções para ou-
tras fases da cutura, como o Plateau®, um
“Outras soluções da Basf estão che-
gando, como o Orkestra®”, informa Pierre
Vitória, explicando que o novo produto se
trata de um fungicida resultante da mistu-
ra de piraclostrobina com uma nova mo-
lécula fluxapiroxade, que promete trazer
grandes resultados para a cultura.
O produtor aprova
as inovações
A administração do negócio dos Pe-
herbicida padrão de mercado para o con-
trole de plantas daninhas, o Opera®, fungi-
cida indispensável no manejo e rotação de
produtos, evitando resistência aos fungos,
e o Opera Ultra®, uma evolução no con-
trole de doenças fúngicas. “Ainda faz par-
te desse portfólio uma variedade de inse-
ticidas de vários grupos químicos que se
encaixam e auxiliam no controle das pra-
gas”, salienta.
nariol fica a cargo de Izildinha. Ela sabe
a importância de poder unir custo e be-
nefício. Por isso, comemora o fato de as
empresas investirem em tecnologias que
facilitam o desenvolvimento da cultu-
ra do amendoim, como a mecanização
e o avanço na área de defensivos quími-
cos. O amendoim é altamente dependen-
te de defensivos, em um ciclo de um pou-
co mais de quatro meses. Entre plantio e
O amendoim produzido pelos Penariol segue para a Coplana e será semente na próxima safra
23
24 Julho · 2015
colheita, recebe sete aplicações.
“Dependendo das condições, tem
vez que a semente de amendoim, para
germinar, leva quase 30 dias. Ainda bem
que lançaram o Standak® TOP. Ele ativa a
semente a germinar mais rápido e a plan-
ta vem bem mais vigorosa”, diz José Anto-
nio. Já seu primo Danilo, elogia o Plateau®.
“Antigamente, quando a gente pegava
uma área muito infestada com tiririca, não
sabíamos o que fazer. Depois, com o Pla-
teau®, acabou o problema. Já aconteceu,
na hora de aplicar herbicida, de pular uma
linha, que ficou sem aplicar o Plateau®. O
resultado foi uma faixa verde de tiririca no
meio das linhas do amendoim, de longe
se via aquela linha verde”, conta.
Maior portfólio
do mercado de produtos
dirigidos à cultura
do amendoim
Mauro Cottas, da área de Desenvol-
vimento de Mercados da BASF, salienta a
importância que a empresa direciona ao
amendoim, oferecendo o maior portfólio
do mercado de produtos dirigidos a essa
cultura.
Segundo ele, o primeiro grande mar-
co do amendoim da BASF no Brasil foi o
lançamento, em 2002, do Opera®, fungi-
cida que, além de auxiliar na proteção da
lavoura, proporciona plantas mais sadias,
vigorosas e produtivas. Agora, 13 anos de-
pois, a BASF lança no mercado o que será,
de acordo com a empresa, o segundo mar-
co da cultura: o sistema AgCelence Amen-
doim, que engloba não um, mas três pro-
dutos que se completam no manejo da
cultura. São eles o Opera®, o Standak® TOP
- produto seletivo que, quando utilizado
em tratamento de sementes, protege as
plântulas contra o ataque de pragas e fun-
gos de sementes no período inicial de de-
senvolvimento da cultura -, e o OrkestraTM
SC, primeiro e único fungicida com Xe-
mium® no Brasil, a carboxamida da BASF.
Cottas afirma que, para ser chama-
ESPECIAL AMENDOIM
Parte do portfólio de produtos BASF para amendoim
25
do de sistema, são necessários, ao menos,
dois produtos que contenham piraclostro-
bina, a estrobilurina da empresa respon-
sável pelos efeitos fisiológicos nas plantas
que possibilita o AgCelence, que é o be-
nefício advindo desses efeitos.
Na cultura do amendoim, os efeitos
fisiológicos podem ser observados como
vantagens operacionais, benefícios Ag-
Celence propriamente ditos e diferenciais
agronômicos. A vantagem operacional se
dá pelo longo período em que é possível
utilizar as sementes tratadas com Stan-
dak® TOP sem que este interfira ou alte-
re seu poder germinativo. Entre os bene-
fícios provindos do AgCelence, pode-se
destacar uma maior rapidez no estabeleci-
mento da cultura, melhor desenvolvimen-
to do sistema radicular e um alto índice
de área foliar. Por fim, o grande diferen-
cial agronômico é relacionado à alta efi-
ciência no controle das doenças e pragas
de solo, que podem causar perda do stand
caso não sejam contidas.
Cottas recomenda que, dentro do
Sistema AgCelence, devem ser realizadas
seis aplicações. O produtor, segundo ele,
deve iniciar o manejo com o Standak® TOP,
partir para uma sequencial com o Opera®,
fazer a alternância com uma sequencial
de OrkestraTM SC, fechando com mais uma
sequencial com o Opera®. “Decidimos pa-
dronizar essa recomendação, pois, dentro
dos nossos trabalhos, foi a que registrou
os melhores resultados. Nosso principal
objetivo é criar a melhor receita para que
o produtor de amendoim tenha sucesso
na sua lavoura.”
APOIO
Em dia de campo, Mauro Cottas apresenta o sistema BASF para a cultura do amendoim
26 Julho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
A difusão da Meiosi cana MPB e amendoim
AÇÃO DA COPLANA PERMITIRÁ A PEQUENOS E MÉDIOS PRODUTORES
O ACESSO À ALTA TECNOLOGIA E A MUDAS DE CANA SADIA,
ALÉM DA GERAÇÃO DE RENDA COM O AMENDOIM
Luciana Paiva e Leonardo Ruiz
Sistema Meiosi Cana MPB e Amendoim na fazenda Belo Horizonte, em Jaboticabal, SP
Em 2013, Ismael Perina, produtor rural
em Jaboticabal, SP, presidente da Câ-
mara Setorial Sucroenergética e di-
retor da Coplana (Cooperativa Agroindus-
trial), foi o pioneiro a adotar o sistema de
Meiosi com amendoim e mudas de cana
pré-brotadas (MPB). Perina iniciou com o
plantio de duas ruas com MPB AgMusa
da BASF, que oferece mudas sadias de ca-
na-de-açúcar a partir de viveiros básicos
formados com variedades nobres e mais
produtivas.
27
A cana produzida nestas duas ruas
era usada para cobrir 10 ruas onde antes
havia amendoim. O objetivo era plantar
a cana nessa área de renovação para que
aproveitasse os efeitos agronômicos do
amendoim, como incorporação de mate-
rial orgânico e fixação simbiótica de nitro-
gênio de 30 a 40 Kg/ha deixados no solo.
Além disso, segundo o pesquisador New-
ton Macedo, em área de renovação com
amendoim, devido ao preparo bem feito,
é menor a infestação com Sphenophorus
levis, a praga que está devastando os ca-
naviais do Centro-Sul.
A qualidade das mudas e o solo pro-
pício fizeram que, desde o início, o siste-
ma superasse as expectativas: uma única
linha de cana gerou mudas para 11 ruas,
a cana restante foi fornecida para a usina.
“Essa cana com apenas oito meses ofere-
ceu muito mais material que a cana con-
vencional de 14 meses. Isso contribui para
voltarmos a investir na formação de vivei-
ros que, por pressa, deixamos de fazer e
passamos a plantar cana com praga, com
doença e perdemos muito com isso. Ago-
ra podemos voltar a fazer a coisa certa e
com muito mais qualidade”, disse Perina
na época.
Segundo ele, apenas com produtivi-
dade é que o produtor pode enfrentar o
atual momento difícil do setor. Para isso,
APOIO
Ismael explica o sistema Meiosi MPB-Amendoim para participantes de dia de campo em sua fazenda
28 Julho · 2015
é fundamental plantar muda de cana com
qualidade. “Formação de viveiro primá-
rio é base para o nosso setor. Como me-
lhorar a qualidade de muda e aumentar a
produtividade do canavial são prioridades,
adotar este sistema não pesa no bolso. Ao
contrário, traz retorno”, salienta. Ele expli-
ca que se trata de um sistema simples e
que, a partir de uma taxa de multiplicação
de 1 x 7 se tem o equilíbrio de custo na
produção da muda. Mas o melhor é que
Ismael já está alcançando taxa de multipli-
cação de 1 x 20 no plantio manual.
+ Cana
Recentemente a Coplana lançou o
Programa Mais Cana, capitaneado pelo
departamento de Tecnologia e Inovações
da entidade. Com o objetivo de elevar a
produtividade e consequentemente a
competividade do produtor de cana. Para
isso, o programa tem como tripé (MPB +
carta de solos + agricultura de precisão).
Com a MPB, o produtor terá um canavial
com sanidade. Já a carta de solos ofere-
cerá conhecimento mais refinado dos am-
bientes de produção, mas para que isso
ocorra é preciso das tecnologias de agri-
cultura de precisão.
Renata Morelli, gerente de Tecnolo-
gia Agrícola e Inovação da Coplana, con-
ta que a proposta da Cooperativa é permi-
tir também ao pequeno e médio produtor
o acesso a esse pacote tecnológico. Para
viabilizá-lo, fechou com a BASF a aquisi-
ção de 500 mil mudas AgMusa, o que per-
mitirá ao cooperado adquirir MPB de alta
qualidade por preço acessível.
A Coplana é a maior produtora de
amendoim do Brasil, com cerca de 160
produtores que cultivam o grão nos Esta-
dos de São Paulo, Minas Gerais e Tocan-
tins. Nesta safra, seus cooperados produ-
ziram 82.250 toneladas (amendoim em
casca, seco e limpo), em 22.800 hectares.
Sendo que 95% da área é de renovação de
canavial.
Estimular a diversificação da renda
faz parte da política da Coplana. Por isso,
a cultura do amendoim não é só muito
bem-vinda, como foi adicionada ao Pro-
grama + Cana, e contribuirá para que o
cooperado aumente a produtividade por
meio do sistema Meiosi MPB-amendoim.
ESPECIAL AMENDOIM
APOIO
Renata Morelli: pacote tecnológico também aos pequenos e médios cooperados
29
30 Julho · 2015
Acesso à agricultura
de precisão
Renata salienta que formar viveiros
com mudas sadias de cana pelo sistema
AgMusa é estar na vanguarda tecnológica
da cultura. Mas a adesão a esta tecnolo-
gia precisa vir acompanhada por um siste-
ma eficiente de mecanização do proces-
so de plantio. “Um dos obstáculos para a
implantação da Meiosi é a necessidade do
GPS para o plantio, para que haja parale-
lismo entre as linhas de cana.” Um produ-
tor, por exemplo, pode intercalar duas li-
nhas de cana com 16 linhas de amendoim
no mesmo talhão. Porém, para que essa
operação atinja um bom nível de qualida-
de, é importante que ele adote técnicas
que permitam que esse processo seja fei-
to com o máximo de paralelismo entre as
passadas, já que, no próximo ano, as mu-
das produzidas serão utilizadas para com-
pletar o plantio de cana, sulcando direto
ESPECIAL AMENDOIM
Com o piloto automático, é necessário apenas marcar a primeira linha referencial no monitor
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na área que antes era ocupada pela outra
cultura. Dessa forma, sem um sistema de
posicionamento, ficará difícil saber exata-
mente onde entrar com a máquina na pró-
xima vez.
Entre as ferramentas de tecnologia
de precisão está o piloto automático, em
que o operador marca apenas a primeira
linha referencial. As próximas passadas, à
direita e à esquerda, aparecerão automa-
ticamente na tela, sendo que o trator irá
segui-las sem que o operador precise co-
locar a mão no volante. Para ele, caberá
realizar as manobras de cabeceira. O ar-
quivo gerado pode ser transferido para
outras máquinas e utilizado nos próximos
anos, seja para a colheita da área ou para
o plantio da mesma.
Visando proporcionar esses bene-
fícios para seus cooperados, a Coplana e
a Socicana (Associação dos Fornecedores
de Cana de Guariba) firmaram uma par-
ceria com a Colorado Máquinas, Conces-
sionário Autorizado John Deere. Um dos
objetivos é aumentar a demanda por me-
lhores práticas na agricultura regional, por
meio da oferta de técnicas de Agricultu-
ra de Precisão. A parceria foi estabeleci-
da depois que uma pesquisa de mercado
revelou que os produtores da região em
questão apresentam altos índices de acei-
tação de novas tecnologias.
O gerente comercial AMS (Agricul-
tural Management Systems) da Colorado
Máquinas, Alberto Adriano Verruma, ex-
plica que o projeto visa oferecer, gratui-
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Alberto Verruma: “O retorno financeiro da aquisição desse tipo de equipamento [piloto automático] é muito satisfatório, mesmo para os pequenos produtores”
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ESPECIAL AMENDOIM
APOIO
tamente, sinal RTK/AMS, da marca John
Deere, com precisão de 2,5 cm, para os co-
operados ativos das duas associações que
atuam nas culturas de cana, soja e amen-
doim. “Ou seja, o cooperado que já possui
um trator com piloto automático poderá
às novas tecnologias.
O sinal proporcionado pela Colora-
do Máquinas é o RTK (Real Time Kinema-
tic), que alia a tecnologia de navegação
por satélites a um rádio-modem ou a um
telefone GSM para obter correções instan-
se beneficiar do nosso sinal sem custo al-
gum”. Para a utilização, é preciso que os
produtores realizem um cadastro de seus
equipamentos de agricultura de precisão
para receber a licença de utilização do si-
nal. Desde o início do projeto, no final de
2014, mais de 30 cooperados já aderiram
tâneas. Algumas aplicações de engenha-
ria exigem que o processamento e forne-
cimento das coordenadas sejam obtidos
instantaneamente, sem a necessidade de
pós-processamento dos dados, o que faz
com que a precisão obtida chegue ao ní-
vel centimétrico. “Outro beneficio do RTK
Ao todo, já foram instaladas oito torres RTK na área de atuação da Coplana e Socicana
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34 Julho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
é a sua função de repetibilidade, ou seja,
daqui a cinco anos posso voltar à mesma
área e fazer as passadas no mesmo lugar,
devido à presença da base referenciada,
sendo que, por meio dela, o trator reco-
nhece, automaticamente, as próximas li-
nhas”, explica o gerente.
Ao todo, já foram instaladas oito tor-
res na área de atuação das Associações,
sendo que cada uma delas possui poten-
cial para emitir um sinal com raio médio
de 20 mil hectares.
Custo-Benefício
É importante lembrar que, mesmo
aqueles cooperados que não possuem
tecnologia embarcada em suas máquinas,
podem se beneficiar da parceria. Esses de-
vem ir até a Colorado Máquinas e solici-
tar os equipamentos de piloto automáti-
co, que também podem ser instalados em
máquinas e equipamentos agrícolas de
outras marcas.
Alberto Verruma diz que o retorno fi-
nanceiro da aquisição desse tipo de equi-
pamento é muito satisfatório, mesmo para
os pequenos produtores. “Temos exem-
plos de clientes que plantam 100 alquei-
res de cana e possuem pilotos automáti-
cos em todos seus tratores. Na verdade,
muitos imaginam que o investimento nes-
se tipo de ferramenta não é viável, porém,
Os cooperados ativos da Coplana e Sociana poderão utilizar, gratuitamente, o sinal RTK / AMS, que possui precisão de 2,5 cm
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APOIO
há casos em que o aumento de metros li-
neares dentro de um mesmo talhão é de
8% a 10%”.
Ele conta que a Agricultura de Pre-
cisão já foi considerada um bicho de
sete cabeças pelos produtores. Porém,
atualmente, o nível de aceitação dessas
tecnologias tem aumentado considera-
velmente. “Os agricultores têm percebi-
do que, mesmo diante da crise em que
estamos, é importante que haja investi-
mentos visando o aumento de produti-
vidade e, consequentemente, de lucros”,
finaliza.
Cada torre RTK possui potencial para emitir um sinal com raio médio de 20 mil hectaresD
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36 Julho · 2015
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
Clivonei Roberto
O FRIO NÃO É MAIS PROBLEMA! NOVAS VARIEDADES DESENVOLVIDAS
PELA RIDESA E PELA EMBRAPA CLIMA TEMPERADO GARANTEM
A VIABILIDADE DA CANA NO RIO GRANDE DO SUL
A cana que vem do frio!PA
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Dia de Campo sobre Cana-de-Açúcar, promovido pela Embrapa Clima Temperado,Emater/RS e Ridesa: apresentação a produtores das variedades produtivas em áreas gaúchas
Para crescer, a cana-de-açúcar preci-
sa de sol e luz. Por encontrar estas
condições, a cultura se desenvolveu
ao redor do globo nas regiões de clima
tropical e sub-tropical. No Brasil, a cana se
instalou na Zona da Mata nordestina, nos
estados do Sudeste, especialmente São
Paulo, e mais recentemente tem consoli-
dado sua presença na região Centro-Oes-
te. Já no Sul do país, a atividade canavieira
tem boa presença no Paraná, especial-
mente nas regiões Norte e Noroeste do
estado, onde os agricultores encontraram
condições propícias para a cultura.
Mas o clima temperado estabeleceu
uma barreira para a expansão em larga es-
cala da cana em direção aos outros esta-
dos do Sul do Brasil. Em Santa Catarina o
37
cultivo é direcionado à produção de gara-
pa. O estado é o maior produtor e consu-
midor de caldo de cana do Brasil. Porém,
o pequeno volume de produção e a pro-
dutividade limitada pelas condições eda-
foclimáticas não incentivaram a implanta-
ção de unidades sucroenergéticas.
É sonho antigo do Rio Grande do Sul
se tornar um grande produtor de cana,
açúcar e etanol, afinal, importa os produ-
tos de outros Estados. A expansão cana-
vieira que embalou o país, por volta de 10
anos e a instalação da fábrica de plástico
verde da Braskem nas terras gaúchas es-
timularam investimentos, e quase que a
Destilaria Coopercana, localizada em Por-
to Xavier, no Oeste do Estado, a maior ex-
periência gaúcha na área canavieira, ga-
nha a companhia de novas unidades.
Porém, a crise que envolveu o se-
tor e a inexistência de variedades de cana
adaptadas ao clima gaúcho congelaram
os projetos. E a cana nos pampas conti-
nuou restrita aos pequenos agricultores
que a cultivam para produzir rapadura, ca-
chaça e garapa.
Mas se depender dos pesquisadores
da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e
da unidade da Embrapa (Embrapa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária) – Clima Tempe-
rado, situada em Pelotas, RS, as condições
climáticas poderão deixar de ser uma limi-
tação para o desenvolvimento da cana-de
-açúcar em boa parte do Sul do país. Desde
2006 eles pesquisam o desenvolvimento de
variedades de cana tolerantes ao frio.
Segundo Edelclaiton Daros, profes-
sor da UFPR, instituição que integra a RI-
DESA (Rede Interuniversitária para o De-
senvolvimento do Setor Sucroenergético),
nunca houve uma seleção de material va-
rietal específica para o Rio Grande do Sul.
“Diferente do que estamos fazendo há
nove anos. Fizemos um cruzamento na
Serra do Ouro, AL, pela Universidade Fe-
deral de Alagoas já com progenitores to-
lerantes ao frio. Depois destes cruzamen-
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Em 2014 foram selecionados 105 clones T3
38 Julho · 2015
tos específicos, mandamos estes materiais
para o Rio Grande do Sul, onde foram se-
lecionados em condições adversas.”
De acordo com Sérgio dos Anjos,
pesquisador da Embrapa Clima Tempera-
do, estão atualmente em avaliação no Rio
Grande do Sul mais de mil clones, sendo
que em 2014 foram selecionados 105 clo-
nes T3, que fazem parte do Ensaio Prelimi-
nar do convênio entre o RS e o PR.
Em 2015, os 105 materiais com tole-
rância ao frio, selecionados no Rio Grande
do Sul, foram recebidos pela UFPR. “Agora
que recebemos estes materiais, vamos ini-
ciar os primeiros testes no estado do Pa-
raná e provavelmente a partir de 2016 es-
tes materiais também serão avaliados no
Mato Grosso do Sul, em parceria com a RI-
DESA/UFSCar”, relata Daros.
Já no Ensaio Regional, a Embrapa Cli-
ma Temperado tem 46 Genótipos sendo tes-
tados em 12 locais diferentes no Rio Grande
do Sul. As características principais dos ge-
nótipos selecionados são produtividade, boa
adaptação às condições ambientais, estabi-
lidade e tolerância a doenças. Após a ava-
liação de campo em quatro safras agrícolas
(entre o ciclo 2010/2011 e o 2013/2014) em
cinco locais no Rio Grande do Sul, a Embra-
pa já tem uma lista com os genótipos de ca-
na-de-açúcar que apresentam melhor nível
de tolerância ao frio na fase de maturação,
tanto para ciclo precoce como médio tardio.
São ao todo 38 materiais.
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
Genótipos de cana-de-açúcar que apresentam melhor nível de tolerância ao frio na fase de maturação
Genótipos de ciclo precoce
RB005935, RB006996, RB015868,
RB015895, RB016910, RB016913,
RB016916, RB016918, RB036145,
RB036152, RB855156*, RB925345,
RB935581, RB966928, RB975932,
RB975935, RB975944, RB985867
Genótipos de ciclo médio tardio
RB005003, RB005014, RB005017,
RB006624, RB867515, RB92579,
RB937570, RB965560, RB975290,
RB995431, RB996519, RB996527,
RB996532, RB008347, RB835089*,
RB845197, RB925268, RB935744,
RB987932, RB987935.
39
Nove variedades indicadas
Este projeto de desenvolvimento de
variedades tolerantes ao frio já resultou na
indicação de cultivo de 9 variedades. “O
comportamento delas está muito bom, es-
tão sendo plantadas por pequenos produ-
tores em diferentes pontos do Rio Grande
do Sul”, afirma Daros.
Segundo Dos Anjos, a tolerância ao
frio foi fator determinante para a indica-
ção destes materiais. “No que se refere
a esta característica é importante salien-
tar que o período de frio que antecede o
inverno propicia a aclimatação destes ge-
nótipos, aumentando a tolerância duran-
te geadas mais severas. Isto não acontece
em ambientes como Mato Grosso do Sul,
São Paulo e Paraná, onde a queda de tem-
peratura é muito abrupta, causando danos
irreversíveis”, explica.
Segundo o pesquisador da Embrapa
Clima Temperado, as variedades de cana-
de-açúcar recomendadas para o RS já fo-
ram adotadas por mais de 138 produto-
res que produzem cana e não apenas para
produção de álcool, mas também para a
fabricação de aguardente, açúcar masca-
vo, melado e alimentação animal.
Estas 9 variedades indicadas para
plantio no RS foram lançadas em 2012. Na
ocasião, houve a assinatura do convênio
entre a Embrapa e a Universidade Fede-
ral do Paraná. “Isto melhorou muito nos-
sa articulação com a Ridesa do Paraná,
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Pesquisador Sergio dos Anjos conduziu o público em visitação ao canavial
40 Julho · 2015
assim como
com outros
pesquisado-
res de outras
Univers ida-
des da Rede,
que se apro-
ximaram mais
do projeto fa-
cilitando nos-
sos trabalhos
e proporcio-
nando mais
discussões sobre demandas da cultura”,
afirma dos Anjos.
Cana no RS atrai investidores
De acordo com Dos Anjos, os resul-
tados obtidos neste projeto, as novas de-
mandas do setor no Rio Grande do Sul e a
capacitação da equipe técnica permitiram
a continuidade deste trabalho com finan-
ciamento da Petrobras, que tem mostrado
interesse em investir na produção de eta-
nol no RS.
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
Cultivares adaptadas ao RSRB855156 - precoce - 93 toneladas de colmos/ha
RB966928 - estabilidade boa - 93 toneladas de colmos/ha
RB946903 - menos tolerante ao frio - 97 toneladas de colmos/ha
RB925345 - mais precoce - 103 toneladas de colmos/ha
RB965902 - tem mais exigências - 94 toneladas de colmos/ha
RB867515 - é a mais cultivada no país - 99 toneladas de colmos/ha
RB925268 - tem exigências de solo - 102 toneladas de colmos/ha
RB935744 - crescimento rápido - 109 toneladas de colmos/ha
RB845210 - tem longevidade - 94 toneladas de colmos/ha
Variedades RB 966928 e 935744 estão entre os nove materiais indicados para cultivo no Rio Grande do Sul
41
Além disso, o pesquisador da Em-
brapa relata que, com os resultados já ob-
tidos relacionados principalmente com
o desempenho do material genético e à
adaptação nas condições de frio, aumen-
tou o interesse de empresas em investir
no setor no estado, inclusive consideran-
do que há áreas aptas à cultura canavieira
no Rio Grande do Sul, segundo o Zonea-
mento Agroecológico da Cana.
O entrave no momento é a crise en-
frentada pelo setor sucroenergético e pela
economia do país. “Porque falta recurso
e a instabilidade na política dos biocom-
bustíveis gera dúvidas em novos investi-
mentos, principalmente numa região não
tradicional.”
De qualquer forma, independente
dos cenários incertos, RIDESA e Embrapa
continuam apostando na viabilidade da
cana-de-açúcar tolerante ao frio. Apesar
de que este projeto vai muito além disso.
“Hoje já contamos com as variedades indi-
cadas e muitos clones promissores já ava-
liados, mas nosso trabalho não é só com
variedades. Temos pesquisas em anda-
mento para todo o sistema de produção,
que é tão importante quanto o desenvol-
vimento de novas variedades, que fazem
parte do sistema. Portanto, temos desen-
volvido tecnologias que permitem dizer
que a produção de cana no RS não é mais
um fator limitante para o setor sucroener-
gético”, diz o pesquisador da Embrapa.
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Melhoramento genético: esperança de que
canaviais ganhem espaço nas terras gaúchas
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HERBISHOW
Tiririca é uma das plantas daninhas mais agressivas
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Não relaxe com a Tiririca!
Com registros que datam 4600 anos
antes de Cristo, a Tiririca, perten-
cente à família botânica Cypera-
ceae, é considerada uma das plantas da-
ninhas mais agressivas encontradas até
hoje. Por ser extremamente rústica e de
fácil adaptação a solos de diferentes tex-
turas e pH, e com variados graus de ferti-
lidade, ela já foi relatada praticamente no
mundo todo, principalmente onde há con-
dições de clima tropical e subtropical.
O professor adjunto da Universidade
Federal de Goiás (UFG), Regional Jataí, e
doutor em agronomia com ênfase em ci-
ência de plantas daninhas, Paulo César Ti-
mossi, explica que, dentre as espécies de
Tiririca, a Cyperus rotundus tem sido a
mais importante para o setor canavieiro,
ADOÇÃO DE HERBICIDAS DE ALTA EFICIÊNCIA CONSEGUIU
REDUZIR AS INFESTAÇÕES DE TIRIRICA NOS ÚLTIMOS ANOS.
PORÉM, CASO O PRODUTOR SE DESCUIDE, ESSA PLANTA DANINHA
PODE REDUZIR A PRODUTIVIDADE DA ÁREA EM ATÉ 40%
Leonardo Ruiz
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Alta infestação de Tiririca: acima de 1.000 manifestações epígeas por metro quadrado podem dizimar a produtividade do canavial em até 40%
44 Julho · 2015
HERBISHOW
devido às suas características botânicas e
biológicas. “A espécie é perene, com pro-
pagação vegetativa acima de 95% da dis-
persão e pouca importância da dissemi-
nação por sementes. Ela apresenta porte
baixo, atingindo, no máximo, 40 centíme-
tros de altura e não tolera sombreamento,
o que faz com que haja senescência das
manifestações epígeas a partir do mo-
mento em que as entrelinhas da cana-de
-açúcar ficam sombreadas”.
A disseminação da Tiririca se dá pela
fragmentação de rizomas e distribuição de
tubérculos presentes na camada subsu-
perficial (0 a 30 cm) do solo, a qual ocorre
sempre na projeção das linhas de cultivo.
“No início da infestação de novas áreas,
essa daninha se desenvolve e propaga-se
em reboleiras. Dessa forma, quanto mais o
solo for movimentado, maior será a distri-
buição/infestação na área de cultivo”, afir-
ma Timossi.
Sem cuidado, Tiririca
pode dizimar canavial
Altas infestações de Tiririca, acima
de 1.000 manifestações epígeas por metro
quadrado, podem dizimar a produtivida-
de do canavial em até 40%. O professor da
UFG conta, ainda, que essa planta daninha
prejudica a formação de perfilhos/afilhos
e, consequentemente, o desenvolvimento
dos colmos. “As principais formas de in-
terferência estão na competição por nu-
trientes e água. Além disso, ela apresenta
efeitos alelopáticos, os quais também in-
terferem no desenvolvimento inicial das
plantas.”
Por isso, é importante que o produtor
adote medidas preventivas visando dimi-
nuir a infestação de novas áreas, se basean-
do na inspeção/limpeza de equipamentos
e máquinas. A lavagem dos equipamentos/
maquinários logo após a saída de áreas in-
festadas se torna vital nesse cenário.
Já o controle é baseado na adoção
de herbicidas seletivos, aplicados em pré
e pós-emergência. “É importante ressaltar
que esses produtos necessitam de boa es-
Aplicação de herbicida: O controle de Tiririca é baseado
na adoção de herbicidas seletivos, aplicados em
pré e pós-emergência
45
tabilidade físico-química em condições ad-
versas de clima e textura de solo, pois, com
a colheita de cana crua, a presença de pa-
lha residual tem demonstrado ser mais um
quesito a ser analisado na escolha do ingre-
diente ativo a ser adotado”, afirma Timossi.
Tiririca pode se adaptar
ao canavial com palha
A Tiririca já foi considerada a pior
planta daninha encontrada em canaviais
brasileiros, devido às suas características
de agressividade e pelo seu difícil contro-
le, já que possui propagação vegetativa e
por sementes. Dessa forma, a cada opera-
ção de cultivo/adubação pós-colheita de
lavouras já infestadas pela espécie, havia
um aumento expressivo na multiplicação
de plantas.
Ao longo dos últimos anos, a Tiririca
reduziu seu grau de importância junto ao
setor sucroenergético. Paulo César Timos-
si, da UFG, explica que a presença da pa-
lha residual, proveniente da colheita me-
canizada de cana crua, foi um dos fatores
que contribuiu para a diminuição da pre-
sença de Tiririca nos canaviais. “Em varie-
dades que possibilitam maior quantidade
de palha sobre o solo, registramos que a
população dessa daninha diminuiu ines-
peradamente no primeiro momento. Po-
rém, ao longo dos anos, é provável que ela
se recupere, mostrando haver adaptação a
esse novo sistema”.
Herbicida de alta eficiência
Porém, um dos principais motivos
que possibilitam a redução da Tiririca é a
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“Plateau® controla não só a parte aérea da Tiririca, mas também diminui, em até 60% no primeiro ano, o número de tubérculos”, informa Daniel Medeiros
46 Julho · 2015
utilização de herbicidas altamente eficien-
tes, que chegam a diminuir acima de 80%
da infestação logo na primeira aplicação.
“Essa forma de manejo praticamente man-
tém as populações abaixo de 5%, a qual
em muitos casos se concentra na encos-
ta de terraços, os quais não são sombrea-
dos de forma eficiente e nem cobertos por
palha residual, demonstrando que a pró-
pria cultura também colabora com a dimi-
nuição das infestações”, afirma Paulo Cé-
sar Timossi.
Pertencente ao grupo químico das
Imidazolinonas, o Plateau®, herbicida se-
letivo da BASF recomendado para o con-
trole de plantas daninhas na cultura do
amendoim e da cana–de–açúcar, é um
grande aliado no controle da Tiririca nos
canaviais brasileiros.
Daniel Medeiros, da área de Desen-
volvimento de Mercado da empresa, con-
ta que, durante o desenvolvimento do
produto, havia apenas um herbicida no
mercado que controlava a Tiririca. “Dessa
forma, a questão dessa daninha foi mui-
to bem trabalhada pela BASF. O Plateau®
controla não só a parte aérea dessa dani-
nha, mas também diminui, em até 60% no
primeiro ano, o número de tubérculos. Ou
seja, com dois a três anos de aplicações, é
possível reduzir a presença da planta a ní-
veis bastante satisfatórios”.
Medeiros explica que, em função do
grande banco de sementes presente nos
canaviais, a erradicação completa da Tiriri-
ca é praticamente impossível. “Além disso,
cerca de 20% dos tubérculos permanecem
dormentes, ou seja, não estão aptos a ab-
sorver o herbicida. Dessa forma, se levar-
mos em conta apenas o número de partes
HERBISHOW
Canavial tratado com Plateau®, livre de Tiririca e com maior produtividade
47
subterrâneas que são capazes de receber
o produto, o nível de eficiência do Plate-
au® é ainda maior.”
Um dos primeiros herbicidas a poder
ser trabalhado na época seca, o Plateau®
possui um perfil muito satisfatório, pois
é o que mais atravessa a palha da cana,
ou seja, com apenas 20mm de chuva, cer-
ca de 85% do ingrediente ativo já conse-
gue atingir o solo. “É importante ressaltar
que essa chuva não precisa acontecer, ne-
cessariamente, logo após a aplicação, pois
o produto possui alta estabilidade, supor-
tando condições adversas severas, ou seja,
mesmo se a chuva vier apenas dois me-
ses após a aplicação, o produto consegui-
rá transpor a palha com a mesma eficiên-
cia”, afirma Medeiros.
Tiririca em Campo Florido
Na região abrangida pela CanaCam-
po (Associação de Fornecedores de Cana
da Região de Campo Florido-MG), a Tiriri-
ca ainda é encontrada por muitos produ-
Para controle de Tiririca, o herbicida recomendado por Piau é o Plateau® , da BASF
tores. O coordenador agrícola da Associa-
ção, Rodrigo Piau, conta que, mesmo essa
daninha estando em áreas específicas na
região, é uma planta que deve ser trata-
da com muito cuidado para que sua pro-
pagação seja evitada. “Nossa orientação é
que sejam feitas limpezas dos implemen-
tos antes que esses troquem de proprie-
dade. Além disso, é importante que se
faça um manejo cuidadoso da muda, evi-
tando que a Tiririca seja levada para locais
livres de infestações dessa planta”.
Nas áreas onde há infestação, o her-
bicida recomendado por Piau é o Plateau®,
da BASF. “Orientamos uma aplicação na
soqueira ou na desinfestação de área com
dose de 210 a 230 gramas/ha. Esse méto-
do de manejo nos proporciona uma efici-
ência de 70% a 80% no controle”, finaliza.
Para o controle de tiririca as doses de
Plateau® variam de acordo com o tipo de
solo e teor de matéria orgânica, com ampli-
tude de 175 a 230 g/ha na cana soca e de
200 a 350 g/ha na desinfestação das áreas.
48 Julho · 2015
CAPA
49
A cana diz não ao fogo
SETOR SUCROENERGÉTICO E ABAG/RP PROMOVEM CAMPANHA
DE CONTROLE DE INCÊNDIOS NA ÁREA RURAL E MOSTRAM
QUE INCÊNDIO É DIFERENTE DE QUEIMA CONTROLADA
Incêndios causam danos ambientais, sociais e
colocam em risco a vida de pessoas e animais
50 Julho · 2015
Em 2014, o estado de São Paulo vi-
veu a pior seca dos últimos 70 anos.
Com tempo seco e quente, a zona
rural enfrentou condições alarmantes cau-
sadas por incêndios, trazendo grandes da-
nos para o meio ambiente, para a popula-
ção e para a agropecuária.
“No estado de São Paulo, em 2014,
o corpo de bombeiros recebeu aproxima-
damente 36 mil ocorrências emergenciais
de incêndio em cobertura vegetal, e não
incêndio estrutural e em indústrias. É um
número realmente expressivo”, relata o
Capitão Rodrigo de Araújo, do Corpo de
Bombeiros de Ribeirão Preto.
Incêndios não controlados, de ori-
gem criminosa ou acidental, sempre fo-
ram comuns ao longo do ano na zona
rural, atingindo áreas verdes, diferentes ti-
pos de plantações, instalações de fazen-
das e máquinas agrícolas, além de provo-
car acidentes em rodovias, por conta da
fumaça, e de colocar em risco a vida de
pessoas e animais.
Para minimizar os prejuízos causa-
dos pelo fogo à população e à agricultura,
produtores rurais, entidades representati-
vas e usinas de açúcar e etanol do interior
paulista se uniram em uma campanha de
conscientização. A iniciativa é da Associa-
CAPA
Leonardo Ruiz. Clivonei Roberto e Luciana Paiva
Casa cheia no evento que marcou o lançamento da campanha, em Ribeirão Preto
51
52 Julho · 2015
ção Brasileira do Agronegócio da Região
de Ribeirão Preto (ABAG/RP), que lançou
a ação no último dia 15 de julho em um
evento em Ribeirão Preto. “A ação preten-
de despertar a população para atitudes
que evitem incêndios, criar uma rede de
comunicação entre os agentes produtivos
e ampliar os canais de comunicação com a
sociedade”, diz Marcos Matos, diretor exe-
cutivo da ABAG/RP.
A campanha
A campanha começou em julho, no
início do período mais seco do ano quan-
do a ocorrência do fogo é, historicamen-
te, maior, e segue até outubro com uma
série de ações de comunicação e educa-
ção. “Mas deve durar muito tempo. Esse é
o primeiro passo do projeto, que começou
a partir da união entre produtores, usinas,
associações, em prol da preservação am-
biental e da maior sustentabilidade do se-
tor”, diz Valéria Ribeiro, assessora de co-
municação da ABAG/RP.
A ação foi construída a partir de vá-
rias reuniões envolvendo os produtores
Grupos envolvidos diretamente na campanha1) Associados da ABAG/RP
Setor sucroenergético:
- Grupo Balbo (Santo Antônio e São Francisco),
- Grupo São Martinho (Iracema, Santa Cruz e São Martinho),
- Grupo Pedra Agroindustrial (Ipê, Pedra e Buriti),
- Usinas Batatais/Lins, Ipiranga/Iacanga, Santa Fé e Viralcool.
Associações de Produtores:
- Canaoeste (As. dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de S. Paulo),
- Copercana (Coop. dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de S. Paulo),
- Coplana (Coop. dos Plantadores de Cana de Guariba),
- Socicana (Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba).
2) Parceiros na Campanha
- Grupo Biosev,
- Grupo Raízen.
3) Apoiadores
- Usinas Pitangueiras, Moreno e Grupo Guarani.
CAPA
53
“Incêndio é diferente de queima
controlada”, diz Matos
rurais, associações, usi-
nas, entre outros atores
da sociedade civil. Matos
informa que três motes
serão trabalhados:
1 – Incêndio é diferente de queima
controlada;
2 – Incêndio não interessa pra nin-
guém: nem para o campo, nem para a
cidade;
3 – Consciência e responsabilidade: a
melhor prevenção.
O diretor da Abag/RP salienta que a
campanha pretende deixar claro que in-
cêndio é diferente de queima controlada,
que requer permissão da CETESB (Com-
panhia Ambiental do Estado de São Pau-
lo), horário marcado e monitoramento das
condições do ar. “Incêndio é situação cri-
Queima de cana controlada acontece de madrugada, longe das áreas urbanas,
com a presença de carro pipa e que requer
permissão da Cetesb
54 Julho · 2015
minosa, tem causa desconhecida e resulta
em grandes perdas. É perigoso para pes-
soas, estruturas e causa grandes prejuízos
no campo e na cidade”, diz Matos.
A campanha é bastante representati-
va. Os grupos empresariais, as cooperati-
vas e as associações que integram a ação
representam 3.500 produtores rurais. E
isto significa 150 milhões de toneladas de
cana, 2 milhões de hectares plantados e
75 mil empregos diretos. De acordo com
Matos, a produção dos participantes da
campanha representa 44% de toda a cana
do estado de São Paulo.
O combate efetivo aos incêndios
na zona rural não tem apenas importân-
cia econômica e ambiental, mas também
social. O fogo, quando se alastra, destrói
tudo pela frente, sem distinção de tama-
nho da propriedade. Quando se analisam
os 3.500 produtores rurais que são repre-
sentados pelos grupos e entidades que
apoiam a campanha, 37% deles produzem
menos de mil toneladas de cana por safra
(em torno de 12 hectares) e 45% produ-
zem entre mil e 6 mil toneladas (entre 12
e 75 hectares). “Ou seja, 82% dos produ-
tores rurais envolvidos nesta iniciativa es-
tão abaixo de 75 hectares”, destaca Matos.
Marco Antonio Sanches Artuzo, ge-
rente regional da CETESB em Ribeirão Pre-
to, diz que essa campanha é uma evolu-
ção. “Não sei se é uma ação pioneira, mas
é muito bem-vinda. É uma iniciativa pre-
ventiva e integrada, que visa minimizar as
vulnerabilidades a incêndios e é funda-
mental a participação de todos: da área
produtiva, das instituições, que têm mis-
são de fiscalizar, da sociedade como um
todo, para que compreenda que deve se
envolver com o assunto.”
Investimento em
comunicação e educação
Matos salienta que a intensão é se
comunicar com a sociedade utilizando
CAPA
Arte da campanha para busdoor
55
56 Julho · 2015
uma linguagem clara e uma mensagem
bem objetiva. A ação é composta pelas
seguintes peças de comunicação: dois co-
merciais de televisão (duas versões de 15
segundos) e dois spots de rádio (30 se-
gundos cada), além de anúncio para revis-
tas e jornais, e arte para outdoors, busdo-
ors e placas para estradas. Os associados
da ABAG/RP e os parceiros da campanha
podem replicar essas comunicações nas
suas respectivas regiões, utilizando das
estratégias que acharem mais eficientes.
As placas de alerta serão coloca-
das nas estradas com telefones das usinas
mais próximas para facilitar a comunica-
ção e garantir que o combate aos incên-
dios aconteça no menor tempo possível.
Além disso, mais de 100 mil carti-
lhas serão entregues para as comunida-
des do entorno das unidades produtivas e
em escolas da região. Inclusive serão dis-
tribuídas nas escolas que fazem parte do
programa educacional Agronegócio na
Escola, da própria ABAG/RP. As unidades
de produção ainda colocarão seus técni-
cos à disposição para ministrar palestras
de esclarecimento e também para treinar
ou ajudar a formar brigadas municipais de
combate aos incêndios.
“Nas cartilhas são explorados bas-
tante os hábitos sustentáveis. Ela faz parte
da estratégia educacional da campanha,
que é fundamental. Este material mostra o
perigo do fogo e a importância do envol-
vimento de todos para a sua prevenção”,
diz Matos.
O Capitão Rodrigo de Araújo obser-
va que no mundo todo, a prevenção de in-
cêndio em vegetação começa por educa-
ção pública. “Em outros países boa parte
dos incêndios é causada por fatores natu-
rais, mas no Brasil é muito predominante
a condição comportamental. O incêndio
CAPA
Assista os vídeos da campanha para a TV
Ouça spotda campanha para o rádio
57
é iniciado de uma forma que poderia ter
sido prevenida. Por isso, uma campanha
como essa é tudo o que se precisa para se
mudar esse cenário de tantos incêndios.”
Campanha reforçará
as ações individuais
Para Vitor Antenor Morilha, assessor
de meio ambiente para as unidades do
Grupo São Martinho, presente no lança-
mento da campanha, a ação permitirá que
as empresas que já desenvolvem traba-
lhos integrados, em planos de auxílio mú-
tuo, tenham maior efetividade no comba-
te aos incêndios.
O Grupo São Martinho tem uma atu-
ação bem organizada voltada ao comba-
te aos incêndios não controlados. “Para fa-
zer essa nossa estrutura funcionar, temos
colaboradores, devidamente treinados e
reciclados, além de dispormos de equi-
pamentos adequados para cada tipo de
incêndio. Isto permite que nosso comba-
te seja sempre efetivo e rápido, causando
menor prejuízo possível aos canaviais, às
áreas de proteção ambiental e aos equipa-
mentos da empresa”, relata Morilha, des-
tacando que a São Martinho não realiza a
queima da palha para realizar colheita de
cana. Hoje o Grupo colhe 100% das áreas
passíveis de mecanização com máquinas.
Fernando Lima, diretor de produção
agrícola da Raízen, também prestigiou o
lançamento e diz ter gostado muito da ini-
ciativa. “Normalmente fazemos prevenção
isolada e nunca alcançamos a amplitude
que precisamos, que é atingir a popula-
ção, as escolas, as pessoas que transitam
Arte da campanha para outdoor
Morilha: campanha permitirá maior efetividade no combate aos incêndios
58 Julho · 2015
pelos canaviais e não têm conhecimen-
to da nossa cultura, que é a cana-de-açú-
car.” A Raízen vai atuar ativamente na cam-
panha, principalmente com a participação
das unidades do Grupo que ficam nas re-
giões de São Carlos e Araraquara. “Pos-
teriormente avaliaremos o resultado para
tomar a decisão se expandiremos a ação
para todo o Grupo.”
Segundo Lima, no ano passado a Ra-
ízen registrou focos de incêndio em todas
as regiões em que está presente, mesmo
desenvolvendo uma política bem estrutu-
ra de combate aos incêndios não contro-
lados. “Ao todo, trabalhamos com 1.700
pessoas envolvidas no combate de incên-
dio. Em todas as unidades, são 170 cami-
nhões, torres de vigia, EPIs. Nossa preocu-
pação é combater o incêndio rapidamente
para que não tome grandes proporções.”
A Raízen hoje tem 97% de colheita mecâ-
nica e não utiliza do fogo como facilitador
de colheita.
Somente no polo agroindustrial Ri-
beirão Preto da Biosev, Reginaldo Saba-
nai, diretor de saúde, segurança, meio
ambiente e competitividade da empresa,
relata que é mantido um time composto
por cerca de 350 pessoas, treinado e dedi-
cado à área de combate. “Além disso, te-
mos um ativo de 50 caminhões que ficam
posicionados e acompanham as atividades
em pontos críticos para combater possí-
veis focos”. A Biosev trabalha fortemente a
questão da comunicação junto a seus co-
laboradores e cidades próximas, com car-
tazes e outdoors com os números de con-
tato para que qualquer um possa avisar a
empresa em caso de incêndio. “Além dis-
so, procuramos atuar junto aos fornece-
CAPA
Equipe da Usina Alta Mogiana no lançamento da campanha: Ricardo Antônio Jordão, Saulo Augusto de Almeida Cantasini, e Sebastião Falcão da Silva
59
Sabanai: “não é de interesse das empresas sucroenergéticas provocar queimadas”
Nogueira: “No ano passado mensuramos cerca
de 54 focos de incêndio entre nossos associados”
dores, instruindo-os nas melhores estraté-
gias de combate e prevenção, por meio de
palestras, treinamentos e reuniões.”
População desconhece
a realidade
Um aspecto importante da campa-
nha é a oportunidade de mostrar para a
sociedade que o fogo não está mais atre-
lado à cana. O Protocolo Agroambiental,
firmado entre o governo do estado de São
Paulo, a Unica (União da Indústria de Ca-
na-de-açúcar) e os produtores de cana,
teve papel fundamental nesse processo,
uma vez que estabeleceu 2014 como pra-
zo máximo para as usinas e produtores
signatários extinguir a quei-
ma para a colheita de cana nas
áreas mecanizáveis. Já nas áre-
as não mecanizáveis, o Proto-
colo estabelece como prazo
final o ano de 2017.
O que se viu, nos últi-
mos anos, foi um processo
acelerado de mecanização
dos canaviais no estado de São Paulo. “No
estado, como um todo, chegamos a 90%
do índice de mecanização e na região de
Ribeirão Preto esse índice é maior ainda,
entre 93% e 97%”, observa José Guilherme
Nogueira, superintendente da Socicana.
Para Nogueira, a sociedade ainda
desconhece que cada vez menos o setor
se utiliza do fogo para colher o canavial.
“Por isso, quando cai fuligem na casa de
um morador, logo já dizem: ‘é o usineiro
que está queimando cana’, o que normal-
mente não é verdade. E além de ser uma
prática mínima, quando ocorre é controla-
da e longe dos espaços urbanos.”
A incidência da queima de cana para
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SEV
60 Julho · 2015
Laurentis: “o produtor de cana muitas vezes é apontado como causador de um incêndio, o que é injusto”
fins de colheita já está em fase final, ainda
mais perto de cidades. “Acredito que em
dois anos vamos chegar à queima zero. In-
clusive com a substituição das áreas que
hoje não se consegue colher com máqui-
na”, diz Nogueira, lembrando que o nível
de mecanização da colheita entre os asso-
ciados da Socicana hoje é de 85%. E onde
ainda ocorre a queima, a ação ocorre de
madrugada e acompanhada por um cami-
nhão equipado. E isso quando a queima é
permitida.
Reginaldo Sabanai salienta que toda
a indústria é bastante afetada quando há
um incêndio. Dessa forma, é importante
que a população saiba que não é de inte-
resse das empresas sucroenergéticas pro-
vocar queimadas.
Para o engenheiro ambiental da Usi-
na Açucareira Guaíra, Anderson Faria Ma-
lerba, a questão da conscientização e edu-
cação ambiental é o ponto crucial dessa
campanha. “A população precisa entender
que as usinas já não fazem o uso do fogo
para realizar a colheita da cana-de-açúcar,
que agora é praticamente toda feita com
máquinas. Muitos incêndios partem de si-
tiantes, que colocam fogo em entulhos
durante as épocas secas do ano, e a pre-
sença do vento pode levar fagulhas para
o canavial mais próximo, iniciando, dessa
forma, um foco de incêndio. A campanha
é fundamental para que a população dei-
xe de enxergar as usinas como vilãs e sai-
ba que esses incêndios também causam
prejuízos a elas.”
Para Francisco Laurentis Filho, do
conselho da ABAG/RP e
secretário da Coplana,
os incêndios, criminosos
ou acidentais, trazem um
grande prejuízo ao pro-
CAPA
Anderson Faria Malerba: “A questão da conscientização e educação ambiental é o ponto crucial da campanha da ABAG/RP”
61
dutor de cana-de-açúcar, que muitas ve-
zes ainda é apontado injustamente como
o causador do fogo. “É como se o produ-
tor tivesse alguma vantagem com o uso
do fogo, mas isso não é verdade. É algo
que praticamente deixou de existir.”
Riqueza que vira cinzas
Na verdade, os incêndios criminosos
têm provocado grandes perdas no setor.
O polo agroindustrial Ribeirão Preto da
Biosev, composto por quatro usinas (San-
ta Elisa, Vale do Rosário, MB e Continental)
sofreu com os incêndios atípicos de 2014.
Reginaldo Sabanai conta que a seca afe-
tou severamente as unidades do Polo, fa-
zendo com que houvesse um índice ele-
vado de queimadas que causou diversos
prejuízos.
Em 2014, os associados da Socica-
na também sofreram sérios prejuízos, se-
gundo o superintendente da associação,
José Guilherme Nogueira. “No ano passa-
do mensuramos cerca de 54 focos de in-
cêndio. Houve grandes perdas. Existe uma
produtividade esperada daquele canavial
que pegou fogo. E na maioria dos casos
não estava na época da colheita daque-
la cana. Quando o fogo ocorre, aconte-
ce antes mesmo do ponto de maturação
da cana. Isso prejudica, pois a cana pode-
ria dar volume maior de toneladas, além
da palha e bagaço que poderiam ser usa-
dos para cogeração. Assim, diretamente
o produtor perde dinheiro no campo”, diz
Nogueira. O fogo também impede que a
palhada que fica no canavial nutra o solo
e retenha a água da chuva. Em 2015, até
meados de julho, a Socicana registrou três
focos de incêndio.
Na Raízen, a biomassa é utilizada
para a produção de bioeletricidade e eta-
nol de segunda geração. “Não podemos
permitir que incêndios fora de contro-
le destruam uma fonte de riqueza como
essa, que nos oferece tantos produtos. E O incêndio transforma a cana em cinzas
62 Julho · 2015
isso vale tanto para a cana em pé como
para a palha que fica no campo”, diz Lima.
Para ele, as perdas que se têm com estes
incêndios devem ser apresentadas para a
população por meio da campanha. Com-
provando que a cana diz não ao fogo.
CAPA
Para Lima, a sociedade não pode permitir que incêndios fora de controle consumam
uma fonte de riqueza que é a cana-de-açúcar
A ideia de unir forças para prevenir
e combater incêndios não é nova.
Unidades próximas geografica-
mente estabelecerem procedimentos co-
muns e estabelecerem canais de comuni-
cação com o objetivo de combater com
maior velocidade e eficiência qualquer
foco de incêndio que apareça na região.
PAME reduz área afetada por incêncios em canaviais
USINAS ALTA MOGIANA, COLORADO E GUAÍRA CRIARAM O PLANO DE
AUXÍLIO MÚTUO EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA, VISANDO ATUAÇÃO
CONJUNTA E EFICAZ DAS EMPRESAS NO COMBATE A INCÊNDIOS
Quando há o início de um foco, as empresas atuam juntas para garantir o rápido combate ao incêndio
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Um exemplo bem-sucedido foi adotado na região de Ribeirão Preto. Em 2012, com
a criação do PAME (Plano de Auxílio Mútuo em Situações de Emergência) envolvendo as
Usinas Alta Mogiana, Colorado e Guaíra, em parceria com a polícia da região e com apoio
e supervisão do Corpo de Bombeiros.
Dessa forma, quando há o início de um foco, as empresas atuam juntas para garan-
tir o rápido combate ao incêndio, disponibilizando recursos materiais, de comunicação,
equipamentos e caminhões tanques/pipas, a fim de minimizar o risco à sociedade, ao
meio ambiente e ao patrimônio da empresa.
O engenheiro de segurança do trabalho da Usina Alta Mogiana, Ricardo Antônio
Jordão, conta que a iniciativa da criação de uma associação partiu do momento em que
as três usinas começaram a abolir a queima de suas atividades e constataram que já não
era mais interessante ter cana queimada. “Como as empresas possuem canaviais muito
próximos, um pequeno incêndio em determinado local pode se propagar rapidamente
para outras áreas, afetando, também, os talhões da usina vizinha”.
Sempre alerta
Cada uma das três empresas integrantes deste PAME possui sua própria estrutura
de prevenção e combate a incêndios, que vão desde mirantes, caminhões-pipa (ou ca-
minhões-bombeiro), aba-
fadores, mangotes, man-
gueiras, esguichos, EPIs,
veículos leves para apoio,
ambulâncias (caso ocor-
ram emergências com ví-
timas), kits para aplicação
de espuma (que visam
abafar a propagação do
fogo e economizar água),
Cada uma das três usinas pertencentes ao PAME
possui sua própria estrutura de prevenção e combate a incêndios
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64 Julho · 2015
CAPA
até torres de vigias, guardadas 24 horas por dia por funcionários munidos de binóculos
e rádios que fazem a vigilância dos canaviais. Além, é claro, das brigadas de incêndios.
A Usina Açucareira Guaíra, localizada na cidade paulista de mesmo nome, foi uma
das empresas que investiu pesado em sua estrutura de combate a incêndios. O engenhei-
ro ambiental da unidade, Anderson Faria Malerba, conta que os investimentos se deram
desde a aquisição de caminhões-pipas e equipamentos e treinamento de brigadas de in-
cêndios até a instalação de kits para aplicação de espuma nos tratores e colhedoras.
“Unida, a estrutura das três usinas possibilita uma ação rápida e eficiente, tanto na
comunicação de possíveis focos até na extinção dos mesmos. Em 2014, nós registramos
um número maior de incêndios se comparado a 2010, porém, graças à ação do PAME, as
áreas afetadas foram bem menores”, afirma Malerba.
Na Usina Alta Mogiana foram quase 10 mil hectares queimados ao longo de 2014.
Prejuízos que são incalculáveis, segundo o engenheiro agrônomo de colheita da empre-
sa, Saulo Augusto de Almeida Cantasini. Ele conta que, quando a queima ocorre em épo-
cas fora do período de safra, a cana é colhida para que haja a brotação e, posteriormen-
te, é descartada. “Além desses, existem também os prejuízos indiretos, pois, quando há
algum foco de queimada próxima, precisamos parar as atividades de colheita para que o
fogo possa ser controlado, o que representa perdas de eficiência operacional.”
Na Usina Alta Mogiana foram quase 10 mil hectares queimados ao longo de 2014
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66 Julho · 2015
INSECTSHOW
Sphenophorus levis quebra usinas e produtores de cana
Um bicho pequeno, menor do que
uma tampa de caneta, está cau-
sando estragos crescentes nos ca-
naviais do Centro-Sul, principalmente no
PRAGA AVANÇA NO CENTRO-SUL, PRINCIPALMENTE EM SÃO PAULO;
ESTIMA-SE QUE A INFESTAÇÃO ESTEJA EM MAIS DE 3 MILHÕES DE HECTARES
Clivonei Roberto, Luciana Paiva e Leonardo Ruiz
Sphenophorus levis adulto
estado de São Paulo. É o Sphenophorus
levis (Sl), também conhecido como bicu-
do-da-cana. Uma praga que pode redu-
zir a produtividade em até 30 t/ha/corte,
67
A larva do Sphenophorus se
“faz de morta”
além de abreviar a longevidade do cana-
vial. Há casos que, devido à alta incidên-
cia, a renovação da área tem de ocorrer no
segundo corte.
Atualmente há áreas do estado de
São Paulo com índice de infestação supe-
rior a 80%. Segundo estudo da Kleffmann,
a incidência da praga nos canaviais pau-
listas avançou 6,7% de 2013 para 2014.
De acordo com informações do Centro
de Tecnologia Canavieira (CTC), o Sphe-
nophorus levis atingiu 150 municípios em
2014 entre os estados de Minas Gerais, Pa-
raná, Mato Grosso do Sul, Goiás e, prin-
cipalmente, São Paulo – responsável por
54,6% da produção nacional de cana-de
-açúcar. Um levantamento da consulto-
ria Datagro Alta Performance indica que a
praga está presente em mais de 60% dos
canaviais do Noroeste paulista, além do
avanço considerável em outras partes do
estado, como a região de Assis.
Diante des-
tes números e pela
dimensão de da-
nos que pode cau-
sar, esta praga é
hoje um dos princi-
pais desafios do se-
tor sucroenergético.
Para Carulina Oliveira, gerente de Marke-
ting Cana, Citrus e Amendoim da BASF,
apenas com um posicionamento efetivo
dos profissionais do setor será possível
controlar a praga e minimizar os prejuízos
que tem causado.
“O produtor tem de buscar informa-
ções e se mobilizar contra o Sphenopho-
rus, que tem apresentado uma infestação
cada vez mais agressiva nas regiões cana-
vieiras do país, com exceção do Nordeste.
É uma praga que se consegue controlar,
mas é de difícil eliminação”, diz Carulina.
Segundo ela, o problema somente poderá
ser enfrentado na magnitude que repre-
senta hoje para a atividade canavieira na
medida em que os profissionais entende-
rem o risco que oferece para o negócio.
Estimativas indicam que o setor ain-
da não entrou pra valer na “guerra” con-
tra esta praga. Em 2014, foram tratados
mais de 800 mil hectares com a presença
68 Julho · 2015
INSECTSHOW
da praga. “Porém, estima-se que mais de
3 milhões de hectares estejam infestados”,
relatou Carulina.
Difusão de conhecimento
Com o objetivo de levar informações
para o produtor de cana-de-açúcar e pro-
fissionais de usinas, a BASF promoveu, no
dia 16 de julho, no Departamento de Ciên-
cias Agrárias da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar), em Araras, um Encon-
tro sobre Controle do Sphenophorus. Par-
ticiparam produtores de cana, estudantes
de agronomia, consultores e jornalistas.
Na abertura do evento, Carulina des-
tacou o esforço da empresa no desenvol-
vimento de soluções para o controle desta
praga, além do compromisso com a difu-
são de conhecimento sobre o Sl.
Na BASF, o Sphenophorus não é as-
sunto recente. A empresa iniciou os estu-
dos sobre seu controle em 2004. Desde
então, a atenção da empresa direcionada
ao Sl não parou. “No ano passado come-
çamos um trabalho de inteligência para
entender melhor este inimigo da cana-de
-açúcar e também este mercado. O objeti-
vo era verificar onde esta praga está pre-
sente no país, e porque está se alastrando
de forma tão calma e ao mesmo tempo
atingindo com agressividade os cana-
viais”, contou Carulina.
Para atender este objetivo, a compa-
nhia trabalhou conjuntamente com a Kle-
ffmann a fim de traçar um perfil nacional
do Sphenophorus levis. Foi feito um levan-
Carulina: “os últimos números mostram que a infestação já está em torno de 25% da cana-de-açúcar do estado de São Paulo”
69
tamento amplo sobre o assunto, que con-
firmou o avanço gradativo da praga sobre
os canaviais do Centro-Sul, especialmente
no estado de São Paulo.
“Ao comparar com dados do pas-
sado, vemos que em 2010 a praga esta-
va concentrada e tinha baixa infestação.
Em 2013, quando ocorrera o último levan-
tamento, a infestação com a praga já era
de 15% dos canaviais paulistas. Os últimos
números mostram que a infestação está
em torno de 25% da cana-de-açúcar do
estado de São Paulo”, disse Carulina, lem-
brando que o problema também é cres-
cente no Triângulo Mineiro, MG, na região
de Dourados, MS, e no estado de Goiás.
Sphenophorus quebra
usinas e produtores de cana
O Encontro contou com a palestra de
dois especialistas de manejo fitossanitá-
rio em cana-de-açúcar: o consultor Weber
Valério e o pesquisador Newton Macedo,
que desde 2004 participa do trabalho da
BASF em busca do controle eficiente do
Sphenophorus.
O pesquisador lembrou que essa
grande disseminação do Sl se deu com o
uso de mudas sem sanidade nas áreas de
renovação ou expansão de canavial. “Acre-
dito que o setor já abandonou em grande
parte o uso dessa prática errada, além dis-
so, a adoção da muda-pré-brotada con-
tribui para a formação de canaviais sem
pragas. Assim, hoje, o principal meio de
disseminação são as máquinas. Por isso, é
fundamental que elas sejam desinfectadas
antes de seguirem para outro talhão”, aler-
tou Macedo.
Na “batalha” contra o Sphenophorus,
Macedo ressalta que é necessário utilizar
todas as armas possíveis. “É preciso entrar
Canavial com alta infestação de Sphenophorus
70 Julho · 2015
pesadíssimo, dando um choque na praga
para que depois haja apenas a administra-
ção da mesma, de forma que consigamos
conviver com ela em níveis satisfatórios.”
Macedo destaca que negligenciar a
incidência dessa praga é correr o risco de
não ficar no negócio, uma vez que é um
fator de redução da produtividade. “Infe-
lizmente ainda há quem não tenha ideia
do impacto que o Sphenophorus pode
trazer ao canavial. Se uma usina ou um
produtor não faz o controle adequado de
pragas, pode quebrar.” O pesquisador sa-
lientou que é fundamental tratar integral-
mente a área com infestação, e deu como
exemplo uma usina que apresentava 25
mil hectares de cana com Sphenophorus e
tratou apenas uma área de nove mil hec-
tares. “Um grande erro.”
Weber Valério concordou com Mace-
do: “Infelizmente, muitas empresas ainda
não têm a dimensão do risco que esta pra-
ga oferece. Ao reduzir a produtividade e
exigir antecipação na renovação, o Sphe-
nophorus contribuiu para o fechamen-
to de muitas usinas e vai continuar a fazer
isso”, afirmou Valério.
Até 2006 o Sphenophorus não era uma
praga de grande importância para a cana-
de-açúcar, lembrou o consultor. “Mas com o
crescimento da colheita mecanizada, a ca-
mada de palha que começou a ser forma-
da no campo deixou a praga mais confortá-
vel, uma vez que utiliza este ambiente como
abrigo”, explicou. O Sl sobrepõe ciclos, com
aproximadamente quatro a cinco gerações
por ano. “Esta praga é esperta, tem uma es-
tratégia de perpetuação. Na fase larval, que
INSECTSHOW
Newton Macedo: “o Sphenophorus levis começou a ganhar espaço, sendo que já se tornou uma praga de grande importância para o setor”
71
é prejudicial, fica alojada dentro do rizoma,
em que é difícil chegar com defensivo quí-
mico para fazer o controle.”
Regent® Duo, o melhor
inseticida para o
controle do Sphenophorus
Com este estudo iniciado em 2004,
a BASF reuniu importantes informações
para desenvolver o primeiro inseticida
direcionado para
o controle des-
sa praga em cana-
de-açúcar: o Re-
gent® Duo, lançado
em 2013. De acor-
do com Daniel Me-
deiros, da área de
Desenvolvimento
Técnico de Merca-
do da BASF, o Re-
gent® Duo é uma
ferramenta que
tem alta eficiência
no controle da pra-
ga. “Este produto apresenta efeito de cho-
que e longo residual, controlando adultos
imediatamente e oferecendo um residu-
al sobre as larvas por mais tempo, elimi-
nando os insetos antes de seu desenvolvi-
mento”, observou Daniel, destacando que
o produto tem o efeito desalojador. “O Sl
adulto se finge de morto, por isso precisa
ter um estímulo para que se movimente e
se contamine com o produto.”
Newton Macedo, que aplicou toda
sua experiência ao lado da BASF no desen-
volvimento do Regent® Duo, salientou se
tratar do produto mais eficiente e eficaz no
combate ao Sphenophorus levis. Opinião
compartilhada por Weber Valério, consul-
tor com 34 anos de experiência trabalhan-
do com cana-de-açúcar. Ele concorda que
o Regent® Duo é uma solução segura e efi-
caz no controle do Sl. “Este produto mistu-
Valério: “estimativas apontam que os danos podem chegar
de 20 a 30 TCH por ano”
ra uma molécula com grande residual, que
é o Fipronil, com um produto de choque
(piretroide), que é o Fastac®, o qual tem óti-
mo resultado contra o Sphenophorus, uma
vez que desaloja a praga de onde está alo-
jada na raiz da planta, ficando suscetível à
ação do produto”, explica.
72 Julho · 2015
De acordo com Carulina, o Regent®
Duo é o melhor produto para o comba-
te ao Sphenophorus, mas é preciso mais
do que isso. O produtor de cana e a usi-
na precisam aprender a combater a pra-
ga. Para ela, todo profissional que traba-
lha com cana precisa buscar dados sobre a
praga, conhecer seus hábitos, para montar
uma estratégia adequada de diagnóstico e
controle e fazer a aplicação do defensivo
de forma correta. “É preciso o manejo mais
responsável possível. Caso contrário, o se-
tor nunca vai atingir os três dígitos de pro-
dutividade. Mas antes de tudo, o produtor
tem de entender que o problema existe.”
Na tentativa de controlar a praga, ou-
tra questão que requer atenção é a tecno-
logia utilizada na aplicação de defensivos.
INSECTSHOW
Daniel Medeiros: “Regent® Duo é uma ferramenta que tem
alta eficiência no controle da praga”
“Com Regent® Duo, análises técnicas comprovaram redução de 18% em 2013 para 2% em 2014 de tocos atacados”, mostrou Artioli
73
“Posicionar o produto por meio de defen-
sivos injetados o mais próximo de onde
ela está alojada é um grande desafio. Essa
é uma das dificuldades de controlar essa
praga”, destacou Valério. Além do desco-
nhecimento sobre a presença da praga em
seus canaviais, muitos produtores têm tra-
tado o Sl de forma errada. “É importan-
te tratar soqueira de primeiro e segundo
corte, e não as áreas que irão para refor-
ma.” O consultor conta que aplica, atual-
mente, de 70 mil a 100 mil hectares de in-
seticidas para o controle do Sl.
O sucesso do Regent®
Duo na prática
No Dia de Campo que a BASF pro-
moveu em Araras, Paulo Roberto Artioli,
produtor de cana de Macatuba, SP, e dire-
tor agrícola da Tecnocana, com 13 mil hec-
tares destinados à cultura, também foi pa-
lestrante. Ele apresentou com detalhes seu
trabalho de combate ao Sl. Artioli decla-
rou que a praga reduziu de forma signi-
ficativa sua produtividade. “Desde então,
iniciamos um trabalho minucioso para
combater esta praga por meio de contro-
les mecânicos e químicos.”
Para Artioli, todo produtor tem de
estar consciente que se tiver a área in-
festada, nunca vai ter boa produtividade.
Para amenizar a incidência da praga, Ar-
tioli adotou o método integrado de ma-
nejo, com controle mecânico na reforma,
Schiavon: “depois de aplicar Regent® Duo, notamos que os níveis de infestação caíram significativamente e minha produtividade aumentou”
74 Julho · 2015
Elisângela e Sílvio Sarpa: “em 2014 fizemos 90% da soqueira com Regent® Duo, com índice de controle próximo de 95%”
rotação de cultura, controle químico com
Regent® Duo no plantio e na cana-so-
ca. Na propriedade de Artioli, o uso des-
te produto é fundamental na batalha con-
tra o Sl. “Com residual de 200 dias, trouxe
segurança maior para dar continuidade
na produção, melhor relação custo x be-
nefício (margem muito boa devida à baixa
infestação) e evolução (análises técnicas
comprovaram redução de 18% em 2013
para 2% em 2014 de tocos atacados)”, diz
o produtor.
Detentor de uma área de 2.400 hec-
tares de cana-de-açúcar na região pau-
lista de Tambaú, o produtor Claudinei
Antonio Schiavon, fornecedor da Aben-
goa Bioenergia, participou como ouvinte
no Encontro da BASF sobre Sphenopho-
rus. Entrevistado pela CanaOnline, contou
que seus canaviais já sofreram com o ata-
que do Sl, considerada a pior praga de sua
propriedade. “Nossa produtividade che-
gou a cair 15%. Em área de outros forne-
cedores já vi altas infestações que deman-
daram reforma já no segundo ano, o que
representa um prejuízo enorme para qual-
quer empresa.”
A solução do produtor foi iniciar um
tratamento com o Regent® Duo. “Após o
início dessa forma de manejo, notamos
que os níveis de infestação caíram signi-
ficativamente. Além disso, minha produti-
vidade aumentou, saindo de 81 t/ha para
85 t/ha na safra 2013/14”. Schiavon afir-
mou que, atualmente, 70% do seu cana-
vial é tratado com o inseticida da BASF. Já
no plantio, esse número sobe para 100%.
“Utilizamos o Regent® Duo na cobertura
dos toletes e também na soqueira quando
há a necessidade”.
Elisângela Men-
des Sarpa e o marido,
Sílvio Renato Sarpa,
do Grupo Bom Retiro,
são fornecedores de
cana da Usina Ester.
Eles também presti-
giaram o evento e nos
reportaram que tam-
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76 Julho · 2015
bém tiveram um ótimo resultado no com-
bate ao Sphenophorus aplicando o Re-
gent® Duo. “No ano passado fizemos 90%
da soqueira com este produto. E tivemos
um retorno bastante interessante.”
Elisângela observou que o índice de
controle esteve próximo de 95%. “Isso re-
fletiu no aumento de toneladas por hecta-
re e no desenvolvimento da planta. A cana
respondeu muito bem, principalmente de-
pois da estiagem longa do ano passado”,
diz. Também lembra que o produto aju-
dou no melhor controle de formigas. Para
ela, o Regent® Duo passou a ser uma fer-
ramenta importante para a empresa na
busca pela cana dos três dígitos. “Para este
ano, estimamos 93 t/ha de produtividade.”
Regent® Duo também
controla saúva,
broca e cigarrinha
Este aspecto de controlar formigas,
abordado por Elisângela, é mais um dife-
rencial do Regent® Duo que foi desenvol-
vido para controlar o Sl, mas apresenta si-
nergia no controle de outras pragas que
atacam a cana-de-açúcar, como formiga
saúva, cigarrinha e broca.
Daniel Medeiros contou que esse
desempenho foi levantado pelos clientes.
“Eles nos relataram que as áreas que re-
cebiam a aplicação do Regent® Duo, além
da redução do Sl, passaram a apresen-
tar menor incidência de saúva, cigarrinha
e broca. Fizemos o levantamento é con-
firmamos que é real”, disse Daniel, desta-
cando ser mais uma vantagem do produ-
to, elevando seu custo-benefício. Que já é
grande, de acordo com dados apresenta-
dos por ele. Nas áreas de cana-planta, o
Regent® Duo oferece 13 toneladas a mais
que o produto concorrente e nas áreas de
cana-soca a eficiência é de 25% acima do
tratamento padrão.
Melhor relação custo-benefício
INSECTSHOW
77
A cultura da cana-de-açúcar, como
qualquer outra, sofre com ata-
ques de diversas doenças, causa-
das por fungos, bactérias, vírus e nemató-
ides. Entre as principais estão as ferrugens
alaranjada e marrom, raquitismo das so-
queiras, escaldadura das folhas, carvão,
mosaico, amarelinho e a podridão aba-
caxi. Doenças essas que podem dizimar a
produtividade do cultivo agrícola. Estima-
tivas apontam que, se fosse possível con-
trolar totalmente apenas as doenças, ha-
veria um aumento de 13% na produção
dos canaviais.
Detectada pela primeira vez no Brasil
em dezembro de 2009, na região de Arara-
quara, SP, a ferrugem alaranjada (Puccinia
kuehnii) causa duros danos econômicos
aos produtores canavieiros e, por isso, é
considerada a pior doença da cultura, atu-
almente. Estima-se que cerca de 1,3 mi-
lhão de hectares (15% da área cultivada)
no Brasil esteja infectado pela doença. Os
mais afetados são os estados de São Pau-
INSECTSHOW
Erradicar canavial pode não ser a melhor forma de se livrar das doenças da cana
MANEJO DE DOENÇAS DA CANA-DE-AÇÚCAR COM O USO DE
FUNGICIDAS É ALTERNATIVA PARA O SETOR OBTER AVANÇOS
SIGNIFICATIVOS NA PRODUTIVIDADE DOS CANAVIAIS
Leonardo Ruiz e Luciana Paiva
Folhas de cana que tinham ferrugem alaranjada, após aplicação de Nativo
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78 Julho · 2015
Folhas não tratadas
com Nativo
lo, Mato Grosso do Sul, Paraná,
Goiás e Minas Gerais. Estudos
apontam que a doença causa
redução na produção agrícola
na ordem de 30% a 50% na TCH
(toneladas de colmos/ha) e de
15% a 20% no teor de sacarose
dos colmos.
A doença é causada por
um fungo que provoca lesões
nas folhas, denominadas pús-
tulas, em que são produzi-
dos os esporos que funcionam
como sementes para sua pro-
pagação. Depois de instaura-
da, uma quantidade enorme de esporos
é lançada no ar, o que contamina outras
plantas daquele mesmo talhão ou de ou-
tras áreas. O vento é a principal forma de
disseminação.
Setor entra em pânico
com a ferrugem alaranjada
e erradica canavial
Entre as variedades mais suscetíveis
à ferrugem alaranjada está a SP 81-3250.
Quando a doença surgiu em 2009, essa
variedade era uma das mais cultivadas
no interior paulista. Por isso, deixou mui-
ta gente em pânico, a ponto de erradicar
canaviais com 3250 e eliminá-la do plan-
tel varietal.
Mas, para José Otávio Menten, pro-
fessor associado da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ)/Uni-
versidade de São Paulo (USP), essa atitu-
de radical não precisa acontecer, o setor
de cana poderia fazer como outras cultu-
ras: adotar o controle químico.
Mentem explica que existem cerca
de 40 diferentes medidas que podem ser
utilizadas, simultaneamente ou em sequ-
ência, para se reduzir os danos causados
pelas doenças. Medidas essas que podem
ser incluídas em métodos genéticos, bio-
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lógicos, culturais, físicos e químicos. “Po-
rém, a maior parte delas é preventiva, já
que depois que uma doença se estabele-
ce, o principal método de controle é o quí-
mico, baseado, principalmente, na utiliza-
ção de fungicidas.”
Na maioria das culturas, como feijão,
arroz, trigo, batata, tomate e citrus, a for-
ma de controle mais utilizada no combate
às doenças é a química, devido à sua efi-
ciência e praticidade. Porém, no caso da
cana-de-açúcar, o cenário é um pouco di-
ferente: as enfermidades são manejadas,
principalmente, empregando-se varieda-
des resistentes, obtidas por meio dos pro-
gramas de melhoramento genético. São
utilizadas, também, mudas sadias ou ade-
quadamente tratadas, roguing e cultivo
em áreas favoráveis.
O professor salienta que apenas es-
ses procedimentos não são suficientes
para garantir o cultivo satisfatório da cul-
tura no Brasil. “É importante que se crie a
tradição ou costume de se utilizar fungi-
cidas foliares em cana-de-açúcar. Em ou-
tras culturas, como soja, milho e algodão,
a aplicação de fungicidas, que há 15, 20
anos era muito pouco utilizada, atualmen-
te é uma prática já incorporada no proces-
so produtivo, com amplos benefícios para
o produtor”.
Ao adotar a medida de erradicar
a variedade, o setor pode abrir mão de
plantas mais suscetíveis a ocorrência de
doenças, porém apresentam boas carac-
terísticas agronômicas, como produtivida-
de, bom desenvolvimento em áreas com
limitações edafoclimáticas e resistência às
pragas. “É importante lembrar que o tra-
balho de seleção de uma nova variedade
em cana leva cerca de 15 anos. Em casos
como estes, é interessante lançar mão de
outras medidas de manejo que impeçam
que a doença atinja altos níveis de dano
“É importante que se crie a tradição ou costume de se utilizar fungicidas foliares em cana-de-açúcar”, diz Menten
80 Julho · 2015
econômico e que permitam que estas va-
riedades continuem sendo utilizadas”, ob-
serva o professor.
Chegou Nativo® Cana
Para Menten, este é o momento de
se validar a utilização de fungicidas na cul-
tura da cana. “Trata-se de uma oportuni-
dade de se incorporar outras alternativas
de manejo, seguindo o que preconiza o
manejo integrado de pragas (MIP), já que
não é sustentável basear o manejo de do-
enças em uma ou poucas medidas. O ideal
é utilizar o maior número possível de téc-
nicas, simultaneamente ou em sequência.”
Segundo ele, a utilização racional desses
produtos pode ser o choque tecnológico
que a cultura precise nesse momento de
crise. “Essa produtividade, de pouco mais
de 70 t/ha, é baixa. A cultura da cana pre-
cisa continuar incorporando novas tecno-
logias para ser sustentável.“
Para atender essa necessidade do
setor, a Bayer CropScience lançou o fun-
gicida Nativo® para uso em cana. O pro-
duto já fazia parte do portfólio da empre-
sa para controle de patologias em citrus,
café hortifruti e grãos e, agora, segundo,
Paulo Donadoni, gerente de Marketing Es-
tratégico da Bayer CropScience, a lavou-
ra canavieira também conta com essa al-
ternativa que não só combate as doenças
da cana, mas contribui para aumentar a
produtividade.
Com vários anos de atuação na cul-
tura canavieira, Donadoni já presenciou
outras crises e comenta que a atual é uma
das mais longas, mas salienta que uma
vez incentivado, a resposta do setor é rá-
pida. “A demanda por etanol e energia é
crescente e para atendê-la será necessá-
rio aumentar rapidamente a produção. O
Nativo® chega para ajudar. É um fungicida
ideal para cana, se comporta muito bem,
age rápido, controlando a ferrugem ala-
ranjada, lava a folha, deixando-a verde. É
resistente a lavagem por chuvas logo após
a aplicação e tem residual longo, promo-
vendo maior produtividade e qualidade
da cana”, diz.
INSECTSHOW
Folhas não tratadas com
Nativo já começam a reduzir sua área
foliar por manchas e sintomas de
ataque de doenças fúngicas
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82 Julho · 2015
Um grande diferencial do produto, é
que pode ser utilizado para prevenir do-
enças nas variedades cultivadas em di-
ferentes ambientes de produção ao lon-
go de toda a safra. “O Nativo® mantém a
proteção necessária para a cana tanto na
fase de crescimento inicial, como na fase
de crescimento vegetativo até a matura-
ção. Já que permite um limbo foliar mais
verde, sem a presença de manchas que es-
tão diretamente ligadas a redução da pro-
dução”, salienta Donadoni.
Maior produtividade e
longevidade dos canaviais
Mais uma vantagem do Nativo®,
apontada por Donadoni, é que o matu-
rador aplicado nas áreas que receberam
o fungicida tem um desempenho bem
superior.
Além disso, o Nativo® não se limita
ao controle da ferrugem alaranjada. Atua
no complexo de doenças da cana, como
a podridão abacaxi, causada pelo fungo
Thielaviopsis paradoxa, e que pode causar
quedas de até 50% na brotação e de 42%
na produtividade de colmos. O patógeno
está presente no solo e pode infectar a ca-
na-de-açúcar logo após o plantio, por meio
de cortes ou ferimentos existentes nos re-
bolos. Tal fato é particularmente importan-
te, uma vez que os colmos são seccionados
por ocasião do plantio, oferecendo portas
de entrada para o fungo. O plantio mecani-
zado aumenta a quantidade de danos nos
rebolos, que são colhidos mecanicamente.
O Nativo® é aplicado no sulco de
plantio, tem efeito preventivo e, segundo
Donadoni, acelera a brotação, oferece auto
vigor e aumenta o número de perfilhos. O
produto também pode ser utilizado na ca-
na-soca e ao apresentar melhores ganhos
em produtividade de colmo, quantidade
de açúcar por hectare e brotação, levará à
maior longevidade do canavial.
O professor Menten, que acompa-
nha o desenvolvimento do Nativo®, expli-
ca que o produto atua como uma impor-
tante ferramenta para aprimorar o manejo
do complexo de doenças da cana, visando
o aumento da produtividade e a susten-
INSECTSHOW
Donadoni: Nativo, o braço forte contra as doenças da cana
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Área sem a proteção de Nativo no sulco de plantio
Área protegida com Nativo no
sulco de plantio
tabilidade da produção. “Durante os trei-
namentos e capacitações que desenvolvo
com equipes em campo, procuro dar uma
visão geral de como diagnosticar e preve-
nir as doenças, e como utilizar o Nativo®
no controle da podridão abacaxi e ferru-
gem alaranjada.”
“Renovar canavial apre-
senta alto custo, a tendência é
renovar cada vez menos, ou em
prazos mais longos, mas é pre-
ciso ter um canavial sem falhas,
com alta produtividade e quan-
tidade de açúcar por hectare.
O Nativo® contribui para isso”,
salienta Donadoni, reforçan-
do que o fungicida assegura as
características varietais. O pro-
dutor não precisa abandonar a
boa variedade em decorrência de
doenças. “Aplica Nativo®, o braço
forte contra as doenças da cana”,
recomenda Donadoni.
A cultura canavieira recebe
total atenção por parte da Bayer
CropScience, ressalta Donado-
ni. “Investimos para o desen-
volvimento do setor. Tanto que, de 2014
a 2018, lançaremos quatro produtos vol-
tados para a cana-de-açúcar. A Bayer é a
agroquímica com a maior equipe de pro-
fissionais para atender o segmento cana-
vieiro, são mais de 55. O setor pode con-
tar com a Bayer.”
84 Julho · 2015
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
Em sua 36ª edição, a Reunião Anual
da Fermentec, realizada nos dias 22
e 23 de julho, em Ribeirão Preto, SP,
reuniu cerca de 300 pessoas para debater
a tecnologia e a gestão na área industrial
do setor sucroenergético.
O vice-presidente da Fermentec,
Henrique Amorim Neto, salienta que o
objetivo principal do evento foi o de apre-
sentar todas as novidades em pesquisa
aplicada realizadas pela empresa duran-
te o último ano. “O número de participan-
tes dessa edição mostrou que o setor está
Mesmo com a crise, inovação não morre36ª REUNIÃO ANUAL DA FERMENTEC APRESENTA NOVIDADES E TECNOLOGIAS
QUE VISAM AUMENTAR O RENDIMENTO DA ÁREA INDUSTRIAL
“O setor está ávido por tecnologias que o ajude a aumentar o rendimento dos processos”, diz Henrique Amorim Neto
ávido por tecnologias que o ajudem a au-
mentar o rendimento dos processos.”
Ele explica que, diante de cenários
desafiadores como os vividos atualmente,
o conhecimento e a tecnologia serão os
mantras para as usinas se manterem com-
petitivas. Mas para executar todas as me-
lhorias necessárias é preciso utilizar as fer-
ramentas com harmonia entre agrícola,
indústria e laboratório.
Além das palestras, o evento contou,
também, com uma feira técnica, onde di-
versas empresas do ramo apresentaram
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Cana-energia - o primeiro
programa de melhoramento
genético de cana do Brasil
Luís Rubio, da Vignis, apresentou o
primeiro programa brasileiro de melhora-
mento de cana-energia na reunião da Fer-
mentec. “A cana-energia representa uma
mudança estratégica para o setor. A usina
não vai parar por falta de matéria-prima,
Dr. Henrique Amorim avalia o primeiro dias da 36ª Reunião Anual da Fermentec
Conheça as usinas campeãs do Prêmio Excelência Fermentec 2015
seus produtos e novidades para a agríco-
la, indústria e controle de processos. “Per-
cebemos que todos os participantes es-
tavam abertos e receptivos a conhecer as
novas tecnologias, apresentadas pelos pa-
lestrantes e pelas empresas expositoras”,
afirma Amorim Neto.
Empresas expositoras na 36ª Reunião Fermentec, que aconteceu nos dias 22 e 23 de julho em Ribeirão Preto, SP
PALESTRAS
86 Julho · 2015
mas apenas por questões técnicas. Dessa
forma, não se deixa parado um ativo tão
caro”, afirma.
A Vignis, que já possui contrato com
três grandes grupos, tem experimentos
em vários pontos do país. Em Goiás, a cana
energia da empresa tem produtividade na
casa de 180 t/ha. “Esta tecnologia pode ter
grande impacto no setor sucroenergético”.
Ao final da palestra, o público de-
monstrou muito interesse pelo assunto,
encaminhando inúmeras perguntas a Luís
Rubio. Segundo ele, no genoma da cana
-energia tem participação maior de ances-
trais mais rústicos da cana, o que confere
menor problema com doenças.
Melhorar a eficiência
agroindustrial é um
grande desafio do setor
“O aumento da competitividade do
setor passa pela melhoria da eficiência
agroindustrial e pela agregação de valor”,
afirmou Fernando Henrique Giometti, es-
pecialista de aplicação da Fermentec.
Economia de água e energia
na fermentação e destilação
Guilherme Marengo, da Fermentec,
falou sobre a viabilidade e o retorno de
tecnologias para aperfeiçoar o consumo
de água. Ele apresentou a tecnologia Al-
tferm e números que atestam o retorno fi-
nanceiro propiciado pela tecnologia.
Personalização da
automação a favor da
evolução da indústria
Paulo Vilela, da Fermentec, apresen-
tou os caminhos necessários para a au-
tomação na indústria, destacando que a
automação e os processos da indústria
devem caminhar juntos.
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
Amarelecimento do
açúcar na estocagem
Durante a reunião anual da Fermen-
tec, Pedro Salvador falou sobre o risco do
87
amarelecimento do açúcar na estocagem,
os fatores que provocam o problema e as
iniciativas para a prevenção do mesmo.
Qual a importância de medir
as perdas de forma setorizada?
Eder Silvestrini, especialista de apli-
cação da Fermentec, afirmou que o con-
trole setorizado de perdas, por meio de
amostragem contínua e análises indivi-
dualizadas, principalmente nas águas de
multijatos e águas residuais, permite uma
redução significativa nos níveis de perdas.
“Isso contribui para a gestão da unidade
e, consequentemente, permite a obtenção
de maiores eficiências industriais”.
O especialista falou, ainda, que com-
pensa, e muito, lutar por apenas 0,1% de
ganho. “Uma usina que processa um mi-
lhão e meio de toneladas de cana por safra,
0,1% resulta em cerca de R$ 250 mil reais”.
Contaminantes afetam
o rendimento da
fermentação por subproduto
Segundo Rudimar Antonio Cherubin,
da área de transferência de tecnologia da
Fermentec, na safra 2013/14 foi identifica-
da no processo uma bactéria que utiliza
o Glicerol como fonte de carbono. “A pre-
sença dessa bactéria pode ter uma interfe-
rência de 3p.p. no rendimento de fermen-
tação por subproduto”.
Além disso, Cherubin falou que, com
o advento da cromatografia líquida, foi
possível determinar o Manitol, produto
originário pelo metabolismo bacteriano no
qual para a sua formação há o consumo de
açúcares redutores afetando o rendimen-
to da fermentação por subprodutos. “Este
é um exemplo de novas variáveis que po-
deriam ser inseridas na equação de rendi-
mento de fermentação por subprodutos.”
Medição dos volumes
pode aumentar o rendimento
geral da destilaria
Claudemir Domingos Bernardino,
da Fermentec, afirmou que o sistema de
“Mangueiras de nível”, embora considera-
do arcaico, tem sido utilizado por cerca de
90% dos clientes da empresa.
Ainda durante a palestra, ele afir-
mou que a cromatografia tem eliminado
88 Julho · 2015
a interferência dos açúcares infermentes-
cíveis, que afetam diretamente a grande-
za do rendimento da fermentação, assim
como do geral da destilaria.
Origem do óleo fúsel
Osmar Parazzi Junior, da Fermentec,
falou das origens do óleo fúsel, conside-
rado um subproduto do processo de des-
tilação, formado, em sua essência, por ál-
coois superiores.
Segundo ele, as aplicações mais
usuais deste produto são para as indús-
trias de perfumarias, cosméticos e far-
macológica. “Ele também pode ser utili-
zado no preparo de sabores artificiais ou
aromatizantes”.
Como transformar a
xilose em alimento
O diretor científico da Fermentec,
Mário Lúcio Lopes, afirmou que esse é um
projeto que está sendo trabalhado pela
empresa e que já conta com resultados in-
teressantes. “A xilose é resultante da hi-
drólise do bagaço de cana, sendo que foi
descoberto que leveduras de gêneros não-
Saccharomyces são capazes de metabolizá
-la para produção de biomassa celular”.
Uma das alternativas aqui, segundo
ele, é a produção de biomassa celular para
ração animal.
Experimentos industriais
fazem com que usinas Alta
Mogiana e Lins consigam
controlar, de forma mais
efetiva, a contaminação
bacteriana em suas unidades
O coordenador de pesquisas na in-
dústria da Fermentec, Marcel Salmeron
Lorenzi, apresentou alguns experimentos
industriais realizados nessas usinas com
o uso do Natrucan, composto natural que
pode ser usado para combater as princi-
pais bactérias que prejudicam o processo
de fermentação alcoólica.
O composto foi avaliado em ensaios
de fermentação em batelada nas doses
150ppm e 75ppm. As aplicações do produto
ocorreram sempre quando a contaminação
já estava acima de 2,0 x 107 bastonetes/mL.
Os resultados mostraram que, em to-
das as dosagens do produto, houve um con-
trole efetivo da contaminação bacteriana, o
que reduziu de forma expressiva a popula-
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
89
ção de bactérias após as aplicações (79% a
95% de redução). Além disso, não houve in-
terferência no metabolismo das leveduras.
As vantagens financeiras
e as possibilidades
das leveduras secas
O diretor da Fermentec Engenharia,
Alexandre Godoy, contou que a empre-
sa tem trabalhado em um projeto no sen-
tido de não só melhorar e otimizar ener-
geticamente os processos das unidades,
mas também desenvolver um processo de
produção de levedura seca mais eficien-
te energeticamente falando e concilia-la
com uma fermentação extremamente efi-
ciente, de forma a garantir a qualidade das
leveduras a serem processadas na unidade
de secagem. “O excesso de leveduras tor-
na-se prejudicial não só ao processo fer-
mentativo, mas também a destilaria”. Ain-
da segundo ele, o ato de secar a levedura
garante maior retorno para a empresa.
Natrucan visa revolucionar
o setor através do controle
da contaminação bacteriana
nos processos fermentativos
Glauco Martins de Mello Junior, da
Química Real, apresentou o Natrucan. O
produto, totalmente natural, pode ser usa-
do para combater as grandes contamina-
ções de bactérias que prejudicam o pro-
cesso de fermentação alcoólica.
O Natrucan não afeta o metabolismo
da levedura e não deixa nenhum resíduo
no fabrico de fermento seco e seus deri-
vados. Portanto, este novo produto natu-
ral está posicionado para as vendas aos
produtores de etanol que, além de pro-
duzirem álcool, pretendem vender o fer-
mento à indústria de alimentos como um
subproduto.
A arte de sair do
lugar comum foi
a palestra motivacional
de Marco Zanqueta
Palestrante motivacional há nove
anos, Marco Zanqueta une o lúdico à má-
gica com um jeito moderno com foco na
busca por resultados. Um dos focos da pa-
lestra foi a motivação para vencer desafios.
90 Julho · 2015
ECONOMIA
A crise também acontece da porteira para dentro
O segmento sucroenergético está
atravessando uma das piores cri-
ses da história, não somente fora
de suas porteiras, mas principalmente inter-
namente. “Muito se fala da questão de mu-
“É FUNDAMENTAL CONHECER OS NÚMEROS DA EMPRESA
E PLANEJAR A LONGO PRAZO”, DIZ CONSULTOR
Andréia Moreno, da MBF Agribusiness
dar a forma de gerir o setor sucroenergético,
com uma governança mais efetiva e profis-
sional. Mas infelizmente a crise econômica
desvia qualquer atenção em relação a esse
assunto. Quem tem ânimo para mudar, in-
91
vestindo em qualidade e controles, não sabe
se viverá o dia de amanhã. Para aqueles que
conseguem caminhar com a mudança em
paralelo, tem que haver um trabalho sério
de investimento em controles. Conhecer os
números da empresa e planejar a longo pra-
zo é uma grande deficiência do setor, que
precisa ser mudada”, ressalta Marcos Fran-
çóia, diretor da MBF Agribusiness.
Ele acredita que deve haver uma
ação muito forte, com a interferência do
governo, para reescalonar o endividamen-
to do setor. “Seja com instituições finan-
ceiras ou com o próprio governo federal,
que é um dos maiores credores e fomen-
tador dessa dívida gerada.”
A analista de Agronegócios do ban-
co Itaú BBA, Giovana Araújo, disse recen-
temente que o fato do preço da gasolina
no Brasil estar, em média, 15% menor que
o praticado no mercado internacional é
um dos principais fatores de comprome-
timento da rentabilidade do setor de açú-
car e etanol no país. Giovana avaliou ainda
que o estabelecimento da paridade entre
as cotações interna e externa da gasolina
poderia ser adotada pelo governo federal
como medida de curto prazo. Ela defen-
deu o aumento da Contribuição sobre In-
tervenção no Domínio Econômico (Cide)
sobre a gasolina, hoje em R$ 0,22 por litro.
O desafio da
recuperação judicial
Françóia explica que o governo está
flexibilizando, só que não consegue con-
Cada vez é maior o número de usinas inativas
92 Julho · 2015
ECONOMIA
certar os erros de uma hora para a outra.
Ele acredita que o mercado de etanol irá
se regularizar ao longo do tempo, pois o
governo federal não poderá mais segurar
o preço da gasolina. “O consumo do eta-
nol está aumentado, em parte pela defa-
sagem diminuída e, julgo eu, grande parte
pelo fato da imagem negativa da Petro-
bras”, lembra.
O consultor admite que há boa von-
tade por parte das instituições financeiras
em ouvir mais o setor e tentar flexibilizar
as dívidas. Porém, a exigência de mais ga-
rantias e taxas ainda altas tem inviabiliza-
do os acordos. “Infelizmente a recupera-
ção judicial continuará a ser um desvio de
rota na gestão, para se tentar fôlego. Po-
rém, se nada for feito, também não será
uma solução. Não há como um plano de
recuperação judicial dar certo se o merca-
do afunda cada vez mais. Se não houver
uma intervenção do governo e uma flexi-
bilização maior dos credores, a parte endi-
vidada do setor tende a sucumbir. Intervir
é exigir regras de governança e acompa-
nhar os resultados das empresas”, frisa.
Para se conduzir um processo com
eficiência é preciso, na opinião de Fran-
çóia, em primeiro lugar realizar um diag-
nóstico efetivo e sério da empresa, por
quem realmente conhece o setor. “Temos
visto consultorias cometer grandes falhas
nas projeções, induzindo bancos e deve-
dor a erros de decisão. Também é preciso
ter uma conversa prévia com os bancos,
na tentativa de um acordo extrajudicial,
visto que estão mais abertos a conversar”,
explica.
“Temos visto consultorias cometer grandes falhas nas projeções, induzindo bancos e devedor a erros de decisão”, diz Françóia
93
94 Julho · 2015
LOGÍSTICA
Logística com confiabilidadeClivonei Roberto
A logística de suprimentos é o iní-
cio de uma grande cadeia pro-
dutiva. No setor sucroenergético,
por exemplo, antes mesmo de o produ-
to chegar à usina, existe um grande pla-
nejamento relacionado ao momento da
compra, ao mercado fornecedor, à quan-
tidade a ser comprada, ao local e momen-
to da entrega, à quantidade a ser entre-
gue. “Para todo esse planejamento, muitas
variáveis são levadas em consideração e
mesmo uma pequena falha pode impactar
em muitos outros processos”, relata Ale-
xandre L. Menezio, Diretor de Suprimentos
da Guarani, subsidiária do Grupo Tereos.
Segundo ele, não é difícil imagi-
nar que, se um equipamento importan-
te para a produção demorar mais que o
esperado para ser entregue, pode provo-
car uma interrupção no recebimento de
matéria-prima ou impactar na programa-
ção da colheita. “Pessoas serão mobiliza-
das para solucionar o problema, o plane-
jamento de produção de açúcar ou etanol
poderá sofrer mudanças, a área comer-
cial terá que adequar seu planejamento
de vendas, impactando no atendimento
aos clientes e podendo gerar insatisfação.
Com esse exemplo, pode-se perceber o
dano que um desvio relevante na logísti-
ca pode causar”, pontua Menezio.
Cada vez mais encarada com profis-
sionalismo, a logística de suprimentos está
no “radar” das empresas como diferencial
de competitividade, na opinião de Ricardo
Amadeu da Silva, CEO da TransEspecialista
(TE). Empresário deste segmento há mais
de quinze anos, com amplo know-how no
atendimento do setor sucroenergético, Ri-
cardo sabe bem que, se bem planejada e
integrada, a logística de suprimentos não
apenas traz resultados financeiros dire-
tos para a companhia, como possibilita re-
dução de estoques, uma logística reversa
versátil e intercompany com baixo custo.
Além disso, ele lembra que planejar evita
urgências, o que elimina riscos e aumen-
ta a qualidade das entregas. “Com plane-
95
Com sete plantas industriais, a Guarani consome cerca de 50
milhões de litros de diesel e 70 mil toneladas de fertilizantes por ano
96 Julho · 2015
jamento, é possível planejar a demanda, o
fluxo de veículos nas unidades, trazendo
previsibilidade de custos e rastreabilidade
total das operações.”
Guarani
Na logística de suprimentos das uni-
dades da Guarani, normalmente, há duas
modalidades. No primeiro caso, o próprio
fornecedor é responsável pela logística
dos produtos que são comprados. Neste
caso, o acordo é feito com o fornecedor,
que deve garantir que seu produto che-
gue de acordo com a programação com-
binada durante a negociação. No segun-
do, a Guarani é responsável pela logística
dos materiais adquiridos. “Sendo assim,
contratamos um transportador que pos-
sa executar esse serviço. O transportador,
por sua vez, deve ser homologado para a
prestação de serviços, como qualquer ou-
tro fornecedor, e normalmente é contra-
tado por um período mínimo de um ano.”
A TransEspecialista é prestadora de
serviços logístico para a Guarani. Ricar-
do confirma que há, por parte desta com-
panhia, a constante movimentação e co-
brança por refinamentos na performance
dos serviços prestados. “Posicionamen-
to que achamos positivo, pois as ade-
quações também nos permitem o cresci-
mento profissional e o aprimoramento de
nossos produtos. A inovação e o trabalho
em conjunto trazem fidelização e resulta-
dos para ambas as instituições.”
Ricardo relata que, recentemente,
a TransEspecialista mudou seu sistema
de cobrança junto ao Grupo Tereos, por
entender a importância de ser flexível e
ter capacidade de diálogo com o clien-
te. “Também pactuamos tabelas espe-
ciais, estendendo benefícios para os for-
necedores, aproveitando a mesma malha
rodoviária e fluxo logístico estabelecido.
São aperfeiçoamentos na comunicação e
integração que consideramos um case de
sucesso.”
Menezio: “todos os fornecedores são previamente avaliados quanto à capacidade de prestação de serviços, ao histórico de faturamento, à saúde financeira e à idoneidade”
LOGÍSTICA
97
98 Julho · 2015
Toda a logística de suprimentos exi-
ge muito profissionalismo, pois qualquer
falha resulta em prejuízo para o cliente.
“Dependendo da criticidade do material,
pode ocorrer desde um atraso no pro-
cesso até uma parada total da produção”,
destaca o gestor da Guarani.
Ricardo explica que a TransEspecia-
lista possui em seu contrato com o Grupo
Tereos KPis mensais para atingir, além de
pesquisas de satisfação e laudos técnicos.
“São ferramentas de gestão que atestam a
qualidade, bem como punem os respon-
sáveis por eventuais ineficiências. O atra-
so num processo ou a ‘parada’ de uma
usina, podem custar ‘milhões’. A logísti-
ca de suprimentos do setor é uma área
de grande responsabilidade e exigência.
Não há espaço para ‘aventuras’”, acentua
Ricardo.
Gestão profissional
Na rotina das unidades da Guarani,
os suprimentos chegam diariamente, vol-
tados a usos distintos. De acordo com Me-
nezio, os maiores gastos são relacionados
à aquisição de combustíveis, fertilizantes,
agroquímicos, insumos industriais e pe-
ças de MRO (manutenção, reparo e opera-
ção) para as áreas industrial e automotiva.
A Guarani (que possui 7 plantas produto-
ras de açúcar, etanol e energia) consome,
por exemplo, cerca de 50 milhões de litros
de diesel e 70 mil toneladas de fertilizan-
tes por ano.
Segundo Ricardo, os serviços pres-
tados pela TransEspecialista ao Grupo são
bem integrados com a área de suprimen-
tos da companhia. “Transportamos mais
de 10 mil itens mensais para a Guarani.”
Os pedidos de transporte de su-
primentos são enviados para a área de
follow-up da TE e, após o input, os pedi-
dos são consolidados e distribuídos entre
as plantas das unidades do Grupo. E nes-
ta lista está uma infinidade de itens, como
produtos químicos, de siderurgia, peças,
equipamentos agrícolas e industriais.
Como se trata de uma área estraté-
gica para a companhia, a Guarani selecio-
na com muito critério os fornecedores de
serviços logísticos. Segundo Menezio, to-
dos os fornecedores são previamente ava-
liados quanto à capacidade de prestação
de serviços, ao histórico de faturamento,
à saúde financeira e à idoneidade perante
aos órgãos públicos regulatórios. “O re-
sultado dessa triagem é fundamental para
que o fornecedor possa ser habilitado a
prestar serviços.”
De acordo com Ricardo, existe um
movimento profissional nesta área no se-
tor sucroenergético, com exigências cada
vez maiores na homologação, com valida-
ção da infraestrutura, coberturas securitá-
rias, idoneidade das empresas, entre ou-
tros pontos. “E embora a Guarani ainda
não exija as certificações ISO-9001 e SAS-
SMAQ, a operação TE segue as normas
padrões certificadas, o que contempla
LOGÍSTICA
99
desde os processos comerciais, parame-
trização de tabela e CRM, até a conclusão
da operação na porta do cliente, contro-
le de jornada e de velocidade, laudos de
emissão de poluentes, idade da frota etc.”
Menezio lembra que, uma vez ha-
bilitado o fornecedor e iniciada a pres-
tação de serviços, há ainda a avaliação
operacional, que leva em conta questões
como pontualidade, qualidade, organiza-
ção e segurança dos serviços prestados.
As duas fases permitem decidir se um for-
necedor permanecerá habilitado ou não
para participar em fornecimentos futuros.
“Além de nossa avaliação, entretan-
to, toda empresa prestadora de serviços
deve obedecer à regulamentação referen-
te ao tipo de serviço que presta, prover
treinamento e condições adequadas de
trabalho aos motoristas, manter um alto
nível de qualidade da frota, exigir condu-
ção adequada pelos motoristas, respeitar
a legislação ambiental e apresentar do-
cumentação de permissão de transporte,
dependendo do material a ser transpor-
tado”, relata.
Para ele, o que a companhia espera
obter de um atendimento logístico é tran-
quilidade, o que apenas é proporcionado
quando o prestador de serviços oferece
um atendimento pontual, confiável e de
qualidade. “Todas essas variáveis são im-
prescindíveis para atingirmos excelência
em nossas operações, com o apoio dos
nossos fornecedores”, conclui o diretor de
Suprimentos da Guarani.
Ricardo: “A logística de suprimentos do setor é uma área de grande responsabilidade e exigência. Não há espaço para ‘aventuras’”
100 Julho · 2015
GESTÃO DE PESSOAS
Imaturidade das relações humanasAMBIENTES ORGANIZACIONAIS IMATUROS DÃO ESPAÇO A POSTURAS
INADEQUADAS, E TAMBÉM DE ASSÉDIO, AGRESSÃO E BULLYING
*Beatriz Resende
As relações de trabalho mudaram:
quero crer que para melhor, em-
bora alguns ajustes ainda preci-
sem ser feitos. As relações humanas e suas
interações, estas sim têm se deteriorado e
como elas fazem parte dos ambientes or-
ganizacionais, consequentemente vemos
pessoas sendo tratadas de forma indevida
101
ou boicotadas, diante desse cenário que
vou chamar de imaturo.
Sobre as relações de trabalho e as
mudanças vistas: relações mais justas en-
tre colaboradores e empresa, represen-
tada pelos seus líderes e gestores. A im-
posição do poder, o autoritarismo e a
vantagem que comandantes de pesso-
as e equipes sempre exerceram, hoje per-
dem força. A condução firme e exigente,
mas honesta e transparente, ganha espa-
ço e trabalha para que as pessoas tragam
os resultados que as empresas precisam.
Além disso, profissionais hoje são questio-
nadores, querem se envolver em algo sig-
nificativo além de ter um emprego, e tra-
çam seus objetivos de carreira e lutam por
eles, sem ficar esperando somente pelas
oportunidades dadas pelas empresas. A
entrada de gerações com pensamentos e
expectativas diferentes das anteriores for-
çou essa mudança. O que é muito bom.
Agora só precisamos lapidar tudo isso e
transformar em resultados mais aparentes,
e construtivos. E potencializar essa energia
em prol do negócio.
Roteiros frágeis
Das relações humanas e a sua inter-
ferência na relação de trabalho: as organi-
zações se caracterizam por ser ambientes
de interação, comunicação e trocas cons-
tantes. Os resultados advêm da força des-
se conjunto conduzido de forma equili-
brada e madura. O que vemos é que os
atores desse contexto não estão com seus
ensaios em dia. Os roteiros estão pobres;
a direção das peças está frágil e a sintonia
entre os atores, esta se mostra muito dis-
102 Julho · 2015
tante ainda do que precisaríamos ter para
a conquista de resultados perenes.
Portanto, em cenários de escassez e
imaturidade profissional, posturas de des-
controle emocional, desrespeito, leniência
e permissividade tomam conta de um es-
paço que deveria ser eminentemente pro-
fissional. E adulto.
Práticas de desrespeito, menospre-
zo, agressão e desconfortos contínuos
sempre existiram, especialmente quan-
do a força do poder do cargo imperava
nas relações de trabalho e quando a pró-
pria relação de trabalho tinha essa natu-
reza de forma mais explicitada. Hoje, na
era da sustentabilidade socioambiental e
das boas práticas de gestão de pessoas,
posturas como essas deveriam estar sen-
do administradas com foco na minimiza-
ção e eliminação. Pelo contrário, o assunto
está cada vez mais sendo discutido. Antes
mais na esfera do assédio e dano moral,
agora na do bullying. O problema origi-
nal sempre foi pelo mau uso da autorida-
GESTÃO DE PESSOAS
103
de de gestores sobre subordinados. Isto
ainda existe, e as empresas precisam pa-
rar de estimular os chefes a serem durões,
pois estes não sabem exercer o equilíbrio
entre a firmeza necessária e o trato res-
peitoso. As empresas precisam estimular
e cobrar dos seus líderes posturas firmes,
assertivas, transparentes e menos pater-
nalistas. Os líderes hoje só sabem ser ou
autoritários demais ou bonzinhos em ex-
cesso. Muito diferente do que as empresas
precisam, na realidade atual.
Alerta aos gestores de RH
Além da principal relação profis-
sional, entre subordinado e chefia, tam-
bém nas relações de coleguismo e parce-
ria de trabalho os problemas de assédio e
bullying têm ocorrido. Fruto da que cha-
mei da imaturidade das relações humanas.
Das pessoas em geral. E aqui eu me reme-
to a um discurso que tenho feito nos últi-
mos anos, sobre o apagão de inteligência
emocional: pessoas têm chegado às orga-
nizações com imaturidade estendida, sem
nenhuma preocupação com a adequação
profissional e imagem, que são os princi-
pais pilares da empregabilidade. Acham
que podem fazer o que querem e podem
cismar ou se dar ao luxo de não gostar de
quem elas escolheram crucificar. Isto não
é, e nunca foi, postura a ser adotada em
locais de trabalho. Em lugar nenhum, na
verdade. Ouvir que isto acontece nas es-
colas, onde a imaturidade ainda faz par-
te da fase infantil e juvenil, já nos agride.
Imagina no âmbito organizacional, onde o
quadro é composto por adultos; adultos
que deveriam ser cientes do senso de ade-
quação em todos os níveis.
Fica aqui o alerta para que dirigen-
tes, gestores e profissionais de RH cuidem
para que esses cenários não se transfor-
mem numa degradação que causará da-
nos maiores ao negócio. Todos são adul-
tos e deveriam cuidar de si: sim! Mas não
está acontecendo. Cabe à empresa inter-
vir, pelo bem dela mesma. E para a matu-
ridade do ambiente e das relações de tra-
balho em geral.
*Beatriz ResendeConsultora Organizacional, Palestrante e Conselheira de CarreirasCoerhência- Integrando Negócios & Pessoas – http://www.coerhencia.com.br/
104 Julho · 2015
GESTÃO DE EMPRESAS
A prática de “comer bola” aumenta as perdas do setor sucroenergético
O “Comedor de bola” é um bola murcha
Luciana Paiva
Nos últimos tempos, o tema cor-
rupção, propina, suborno, que
significa o ato de cobrar ou acei-
tar dinheiro para facilitar um negócio, saiu
dos bastidores, ganhou a mídia e espaço
nas conversas das pessoas.
A corrupção sempre existiu, as pes-
soas, os governos, a sociedade, as empre-
sas se acostumaram a conviver com isso,
a fazer vista grossa e achar que é parte
do jogo, tanto que esse crime ganhou o
nome popular de: “comer bola”. A prática
se transformou em um monstro que de-
vora o desenvolvimento dos países, ge-
rando inclusive milhões de mortes, ao re-
duzir oferta de alimentos, abortar obras
essenciais ou levar a utilização de mate-
rial inferior, comprometendo a segurança.
Segundo a Organização Transparência In-
ternacional, o custo da corrupção na ad-
ministração pública no mundo em 2014
foi de 1 trilhão de dólares, sendo que o
105
Brasil foi responsável por mais de 20%
desse montante.
O “comer bola” também é rotina nos
departamentos de compras das empresas
privadas. O valor da propina é muito infe-
rior que os estipulados na administração
pública, mas também é prejudicial, pois
muitas vezes o responsável pelas com-
pras, em decorrência dos “mimos” recebi-
dos, deixa de analisar o que é melhor para
a empresa, propiciando até mesmo o seu
fechamento.
“Comer bola” no
setor sucroenergético
Conversamos com vários fornece-
dores de produtos e serviços para o se-
tor sucroenergético e constatamos que o
“comer bola” também é comum no mun-
do da cana. Muitas empresas reclamaram,
mas nenhuma delas deixou que divul-
gássemos os nomes, pois, também nesse
meio, é difícil provar o ato. Assim, o “co-
medor de bola” se mantém no cargo e o
fornecedor que denunciou é prejudicado.
Porém, prejudicada mesmo é a usina que
muitas vezes deixa de conhecer uma so-
lução mais viável para seus problemas, ter
acesso a inovação, a produtos com maior
qualidade e melhor custo-benefício.
As especialistas em Administração
de Compras, Cibele Cassimiro de Campos
e Fernanda de Jesus Lisboa, salientam que
o profissional de compras jamais pode es-
quecer que não está comprando para ele
mesmo, mas para a empresa em que tra-
balha. E é sempre desse modo que ele tem
de pensar ao analisar os orçamentos dos
Obras inacabadas: um dos danos da corrupção
106 Julho · 2015
fornecedores. Presentes
com pouco valor comercial
como brindes publicitários
(caneta, agenda, calendário
etc...) que tenham o nome
do fornecedor impresso ne-
les podem ser aceitos, des-
de que não causem uma
situação em que o compra-
dor se sinta influenciado a
tomar uma decisão tenden-
ciosa ou que levem outros a
pensarem assim.
Formas de prevenir a proprina
Para elas, o setor de compras e su-
primentos é um dos departamentos-cha-
ve da organização, porém, nem todos re-
cebem a devida importância, o que é um
erro fatal da gestão. Segundo elas, as em-
presas devem procurar métodos para ga-
rantir a integridade de seus comprado-
res, ou seja, adotar algumas maneiras de
se prevenir contra o suborno no setor de
suprimentos.
Algumas ações para prevenir a
corrupção:
• Exemplo ético da
cúpula da empresa;
• Rotação de compradores;
• Auditoria interna e externa;
• Código de Ética
claro e explicado.
Porém, mesmo com as medidas cita-
das acima, alguns compradores acabam se
submetendo a este suborno. Muitas vezes
não é fácil comprovar de maneira clara e
inquestionável a desonestidade do empre-
gado. Nesses casos, as especialistas aler-
tam que não é aconselhável que se demi-
ta o comprador ”boleiro” por justa causa,
mas que seja desligado da empresa sem
indicação da razão, evitando assim qual-
quer discussão. Todavia, nos casos graves
em que houver a devida comprovação, o
comprador pode ser demitido por justa
causa e responsabilizado pelos prejuízos
no campo do Direito Civil, e ainda vir a ser
condenado à prisão, pela lei penal.
“Não deveria haver nada mais re-
compensador para os profissionais em
compras do que a consciência tranquila,
a paz de espírito e o nome respeitável pe-
rante a empresa e a sociedade em que vi-
vem”, observam as especialistas.
GESTÃO DE EMPRESAS
A corrupção coloca a segurança das pessoas em risco
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