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Revista Brasileira de Geografia Física V.08, N.04 (2015), 1225-1243. 1225 Michel, G. P., Kobiyama, M. ISSN:1984-2295 Revista Brasileira de Geografia Física Homepage: www.ufpe.br/rbgfe Estimativa da profundidade do solo: parte 2 métodos matemáticos Gean Paulo Michel - Instituto de Pesquisas Hidrálicas (IPH) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) . Autor correspondente. E-mail: [email protected] Masato Kobiyama - Instituto de Pesquisas Hidrálicas (IPH) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Artigo recebido em 13/11/2015 e aceite em 28/12/2015. R E S U M O O presente trabalho é o segundo de uma série de dois artigos que têm como objetivo apresentar o estado da arte referente aos métodos de estimativa da profundidade do solo. Neste segundo artigo foram abordados os métodos matemáticos, subdivididos em: (i) estatísticos; (ii) empíricos; e (iii) baseados em processos. Os métodos estatísticos são representados principalmente por técnicas da estatística clássica e ferramentas de geoestatística implementadas em ambiente de SIG. Tal método vem alcançando bons resultados na definição da distribuição espacial da profundidade do solo. Entretanto, necessitam de um grande número de dados para estabelecimento dos modelos e, além disso, precisam ser reformulados para diferentes áreas de estudo. Os modelos empíricos são os que apresentam a abordagem mais simples. Aqueles que trazem relações embasadas na dinâmica de formação dos solos têm gerado bons resultados. Tais métodos são mais comumente usados quando há escassez de dados ou quando os mecanismos de formação dos solos ainda não puderam ser plenamente descritos, parametrizados e/ou quantificados. Os métodos baseados em processos são aqueles que utilizam equações de base física para descrever os inúmeros mecanismos que influenciam na formação e desenvolvimento dos solos. Embora gerem resultados muito satisfatórios, requerem que os processos físicos atuantes na área analisada estejam bem definidos e que os parâmetros e dados de entrada sejam precisos. Enfim, conclui-se que a escolha do melhor método para estimativa da distribuição espacial da profundidade do solo dependerá do tipo, quantidade e qualidade dos dados existentes para a área de estudo. Palavras-chave: Profundidade do solo, métodos matemáticos, métodos estatísticos, métodos empíricos, métodos baseados em processos Soil depth estimation: part 2 mathematical methods Abstract The present work is the second of two papers that aim to present the state of the art related to methods used to estimate soil depth. This second paper addressed the mathematical methods and subdivided them into three classes: (i) statistical; (ii) empirical; and (iii) process-based. The statistical methods are represented mainly by classic statistical methods and geostatistical tools implemented in GIS. These methods have well achieved the determination of the soil depth spatial distribution. However, they require many data to define the models and need to be reformulated when applied to other study areas. The empirical methods are the simplest among three mathematical ones. The empirical models that include relations based on the soil formation dynamics have demonstrated good performances. They are commonly used when there is a lack of data or where the soil formation mechanisms are not yet described, parametrized and/or quantified. The process-based methods are those that use physically-based equations to describe various mechanisms affecting the soil formation and evolution. Though generating satisfactory results, they require that the physical processes acting in the study area are well defined and that parameters and input data are accurate. Finally, it is concluded that an adoption of the best soil depth estimation method depends on the type, quantity and quality of existing soil-data of the study area. Keywords: Soil depth, mathematical methods, statistical methods, empirical methods, process-based methods

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  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

    1225

    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    ISSN:1984-2295

    Revista Brasileira de

    Geografia Fsica

    Homepage: www.ufpe.br/rbgfe

    Estimativa da profundidade do solo: parte 2 mtodos matemticos

    Gean Paulo Michel - Instituto de Pesquisas Hidrlicas (IPH) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) .

    Autor correspondente. E-mail: [email protected]

    Masato Kobiyama - Instituto de Pesquisas Hidrlicas (IPH) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

    Artigo recebido em 13/11/2015 e aceite em 28/12/2015.

    R E S U M O O presente trabalho o segundo de uma srie de dois artigos que tm como objetivo apresentar o estado da arte

    referente aos mtodos de estimativa da profundidade do solo. Neste segundo artigo foram abordados os mtodos

    matemticos, subdivididos em: (i) estatsticos; (ii) empricos; e (iii) baseados em processos. Os mtodos estatsticos so

    representados principalmente por tcnicas da estatstica clssica e ferramentas de geoestatstica implementadas em

    ambiente de SIG. Tal mtodo vem alcanando bons resultados na definio da distribuio espacial da profundidade do

    solo. Entretanto, necessitam de um grande nmero de dados para estabelecimento dos modelos e, alm disso, precisam

    ser reformulados para diferentes reas de estudo. Os modelos empricos so os que apresentam a abordagem mais

    simples. Aqueles que trazem relaes embasadas na dinmica de formao dos solos tm gerado bons resultados. Tais

    mtodos so mais comumente usados quando h escassez de dados ou quando os mecanismos de formao dos solos

    ainda no puderam ser plenamente descritos, parametrizados e/ou quantificados. Os mtodos baseados em processos

    so aqueles que utilizam equaes de base fsica para descrever os inmeros mecanismos que influenciam na formao

    e desenvolvimento dos solos. Embora gerem resultados muito satisfatrios, requerem que os processos fsicos atuantes

    na rea analisada estejam bem definidos e que os parmetros e dados de entrada sejam precisos. Enfim, conclui-se que a

    escolha do melhor mtodo para estimativa da distribuio espacial da profundidade do solo depender do tipo,

    quantidade e qualidade dos dados existentes para a rea de estudo.

    Palavras-chave: Profundidade do solo, mtodos matemticos, mtodos estatsticos, mtodos empricos, mtodos

    baseados em processos

    Soil depth estimation: part 2 mathematical methods

    Abstract

    The present work is the second of two papers that aim to present the state of the art related to methods used to estimate

    soil depth. This second paper addressed the mathematical methods and subdivided them into three classes: (i) statistical;

    (ii) empirical; and (iii) process-based. The statistical methods are represented mainly by classic statistical methods and

    geostatistical tools implemented in GIS. These methods have well achieved the determination of the soil depth spatial

    distribution. However, they require many data to define the models and need to be reformulated when applied to other

    study areas. The empirical methods are the simplest among three mathematical ones. The empirical models that include

    relations based on the soil formation dynamics have demonstrated good performances. They are commonly used when

    there is a lack of data or where the soil formation mechanisms are not yet described, parametrized and/or quantified.

    The process-based methods are those that use physically-based equations to describe various mechanisms affecting the

    soil formation and evolution. Though generating satisfactory results, they require that the physical processes acting in

    the study area are well defined and that parameters and input data are accurate. Finally, it is concluded that an adoption

    of the best soil depth estimation method depends on the type, quantity and quality of existing soil-data of the study area.

    Keywords: Soil depth, mathematical methods, statistical methods, empirical methods, process-based methods

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    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    Introduo

    Na primeira parte deste trabalho (Michel e

    Kobiyama, submetido), os mtodos de campo para

    estimativa da profundidade do solo foram

    discutidos. Os mtodos de campo so capazes de

    gerar informaes pontuais ou relativas a

    pequenas reas. Entretanto, muitas vezes

    necessrio que existam informaes acerca da

    profundidade do solo sobre uma rea maior, por

    exemplo, bacias hidrogrficas. Neste sentido, os

    mtodos matemticos se tornam de grande

    relevncia, j que possuem capacidade de realizar

    a estimativa da profundidade do solo a partir de

    outras variveis.

    Os mtodos matemticos utilizados para

    tal finalidade so aqueles que se baseiam em

    equaes ou relaes, de base estatstica, emprica

    ou fsica, que levam em considerao atributos

    fsicos do local analisado. Neste sentido, um

    mtodo matemtico de avaliao da profundidade

    do solo est embasado na resposta de uma ou de

    um sistema de equaes ou relaes aplicadas s

    condies locais. Desta maneira, podem ser

    geradas informaes espacialmente distribudas da

    profundidade do solo que so indispensveis em

    diversos processos de modelagem ambiental

    (hidrolgica, de estabilidade de encostas, de

    fluxos de detritos, de evoluo da paisagem, entre

    outros). Conforme h uma melhoria significativa

    na capacidade dos modelos ambientais em

    representar detalhes de pequena escala em suas

    formulaes, a distribuio espacial dos

    parmetros, tal como a profundidade do solo,

    torna-se ainda mais relevante no processo de

    modelagem (Grayson e Bloschl, 2000).

    Moore et al. (1993) expuseram a

    necessidade de mapas e levantamentos de solos

    com resolues mais adequadas s suas aplicaes

    (em escalas prximas de 1:5000). Alm disso,

    apontaram as dificuldades em se elaborar mapas

    nesta escala utilizando as metodologias

    tradicionais de campo. Vrias abordagens tm

    sido propostas para estimativa da profundidade do

    solo, principalmente aquelas baseadas em

    parmetros oriundos de relaes geomorfolgicas,

    de uso e cobertura do solo, e hidrolgicas (Tesfa,

    2009). Portanto, em relao aos mtodos

    matemticos, o presente trabalha adota uma

    subdiviso entre metodologias baseadas em: (i)

    modelos estatsticos; (ii) modelos empricos; e

    (iii) modelos baseados em processos (fisicamente

    embasados).

    Modelos estatsticos

    Os modelos estatsticos de estimativa da

    profundidade do solo so baseados no pressuposto

    de que uma combinao de fatores que definiu a

    ocorrncia de certa profundidade do solo em

    determinado local tambm determinar a

    profundidade nos demais locais. Na anlise

    estatstica, pressupe-se que, por exemplo, as

    caractersticas do terreno (morfologia), que

    controlam os padres de escoamento da gua,

    podem ter relao com os atributos do solo

    (Moore et al., 1993). Desta maneira, nos locais

    onde as mesmas caractersticas do terreno se

    manifestam, h uma tendncia de que os atributos

    do solo sejam similares. Segundo McBratney et

    al. (2003), os mtodos que ajustam estas relaes

    quantitativas entre as propriedades do solo e o

    ambiente so baseados, principalmente, em

    modelos lineares generalizados, rvores de

    classificaes e regresso, redes neurais artificiais,

    lgica fuzzy, redes bayesianas e geoestatstica.

    Geralmente os modelos estatsticos para

    estimativa da distribuio espacial dos atributos

    do solo adotam o seguinte formato (Gessler et al.,

    1995):

    solar... radiao bacia, na posio e,declividadii fS

    Em que S um atributo individual do solo (e.g.

    profundidade do solo, pH e resistncia); f uma

    funo de um ou vrios atributos ambientais; e i

    o domnio fisiogrfico caracterizado por

    condies ambientais comuns.

    Zhu e Lin (2010) elaboraram uma

    classificao ainda mais detalhada destes mtodos

    onde os classificaram em: (i) estatsticos (e.g.,

    regresso linear mltipla e rvores de regresso);

    (ii) geoestatsticos (e.g., krigagem ordinria e

    krigagem universal); e (iii) hbridos (e.g., co-

    krigagem e krigagem-regresso). Os modelos

    estatsticos podem considerar diversas

    caratersticas ambientais em suas formulaes,

    sendo que mais comum que considerem, ao

    menos, as caractersticas relacionadas ao relevo

    (topografia/geomorfologia). Alguns modelos

    consideram apenas estas caractersticas

    (McBratney et al., 2003). Alm disso, os atributos

    do solo estimados atravs deste mtodo quase

    sempre vo alm da profundidade do solo, sendo

    que suas propriedades hidrulicas so tambm

    muitas vezes objetos de investigao.

    A utilizao de atributos geomorfolgicos

    quantificados na tentativa de estimar

    caractersticas do solo teve seu incio no final da

    dcada de 1980 (McKenzie e Austin, 1993; Moore

    et al., 1993). Anteriormente, devido ausncia ou

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    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    dificuldade de aplicao de tcnicas sofisticadas

    de determinao dos parmetros geomorfolgicos,

    as anlises eram basicamente qualitativas (Furley,

    1976; Stone et al., 1985; Kreznor et al., 1989). As

    metodologias que levam em considerao a

    posio na paisagem do ponto a ser estudado esto

    cada vez mais sendo fortalecidas pela melhoria

    das tcnicas de quantificao dos parmetros

    geomorfolgicos (McBratney et al., 2003).

    Entretanto, mtodos comuns de interpolao de

    parmetros, tais como a krigagem, geralmente

    ignoram qualquer tipo de mecanismo de

    pedognese (Moore et al. 1993), o que dificulta a

    obteno de resultados coerentes com as

    condies locais.

    McBratney et al. (2003) apresentaram

    uma reviso de mtodos de elaborao de mapas

    digitais de solos baseados em caractersticas

    ambientais obtidas atravs de sistemas de

    informaes geogrficas (SIG). Considerando esta

    reviso elaborada, propuseram um quadro

    genrico que engloba todos os mtodos

    estatsticos pesquisados, chamado scorpan-SSPFe

    (soil spatial prediction function with spatially

    autocorrelated errors). O prefixo scorpan

    refere-se aos sete tipos de variveis ambientais

    utilizadas por este mtodo:

    s : Solo, propriedades do solo, alm da procurada,

    em determinado ponto;

    c : Clima, propriedades climticas do ambiente

    naquele ponto;

    o : Organismos, vegetao, fauna ou atividade

    humana;

    r : Relevo, topografia, atributos da paisagem

    (geomorfolgicos);

    p : Material de origem, litologia;

    a : Idades, o fator tempo;

    n : Espao, posio espacial.

    Os modelos que se baseiam em um ou mais

    dos fatores listados acima podem ser chamados de

    modelos scorpan e so descritos da seguinte

    maneira:

    naprocsfSa ,,,,,,

    Em que Sa representa o atributo procurado do

    solo. Cada fator representado por um conjunto

    de uma ou mais variveis contnuas ou

    categorizadas, por exemplo, ao utilizar a

    temperatura e a chuva mdia anual para

    representar o clima. Para aplicao deste mtodo,

    necessrio que existam medies realizadas em

    determinados pontos do atributo que se pretende

    distribuir espacialmente. Nestes mesmos pontos,

    tambm so determinadas as variveis ambientais.

    A relao entre os dados medidos e as variveis

    ambientais proporciona a definio e calibrao

    do modelo, tal como um problema genrico de

    regresso. As regras ou equaes de regresso

    ajustadas atravs dos dados de calibrao so

    ento aplicadas aos demais pontos da rea de

    estudo, onde apenas so conhecidos os valores das

    variveis ambientais.

    Considerando os modelos scorpan, a

    Tabela 1 traz uma recapitulao dos trabalhos que

    utilizaram tal mtodo para determinar a

    distribuio espacial da profundidade do solo ou

    de seus horizontes. Alm disso, indicado o

    modelo estatstico no qual cada anlise foi

    baseada. Na Tabela 1, a maior parte dos trabalhos

    publicados antes de 2003 foram extrados de

    McBratney et al. (2003).

    Tabela 1 Sumrio de modelos scorpan em ordem cronolgica.

    Autores Atributo Mtodo Fator Preditivo

    s c o r p a n

    Walker et al. (1968)* Espessura de

    horizontes RLM X

    Pennock et al. (1987)* Espessura de

    horizontes AD, RLM X

    Moore et al. (1993)* Espessura de

    horizontes RLM X

    Odeh et al. (1994, 1995)* Profundidade do solo RLM, KO, CK,

    KR X X

    Zhu e Band (1994), Zhu (1997),

    Zhu et al. (1996, 1997, 2001)*

    Profundidade de

    horizontes SF, CE X X X

    Gessler et al. (1995)* Profundidade de

    horizontes MLG X

    Knotters et al. (1995)* Profundidade de

    horizontes KO, CK, KR X X

    McKenzie e Ryan (1999)* Profundidade do solo MLG, AR X X X

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

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    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    Sinowski e Auerswald (1999)* Profundidade do solo AD X X

    Bourennane et al. (2000)* Espessura de

    horizontes KDE X X

    Continuao

    Gessler et al. (2000) Profundidade de

    horizontes e do solo RLM X

    McIntosh et al. (2000)* Profundidade de

    horizontes ANOVA X

    Ryan et al. (2000)* Profundidade do solo AR, MLG X X X X

    Zhu (2000)* Profundidade de

    horizontes RNA X X X

    Park et al. (2001)*

    Espessura e

    profundidade de

    horizontes

    RLM X

    Tsai et al. (2001) Profundidade do solo RLM X X

    Florinsky et al. (2002)*

    Espessura do solo e

    profundidade de

    horizontes

    RLM X

    McKenzie et al. (2003) Profundidade de

    horizontes e do solo SF X

    Hengl et al. (2004)* Espessura do solo

    superficial MLG, KR X

    Schmidt et al. (2005)

    Profundidade da

    camada de razes e do

    solo

    SF X

    Murphy et al. (2005) Profundidade de

    horizontes e do solo SF X X

    Ziadat (2005) Profundidade do solo RLM X

    Penzek e Boruvka (2006) Profundidade do solo RLM, KO, CK,

    KR X

    Sumfleth e Duttman (2008) Profundidade de

    horizontes

    RLM, DIP, KO,

    KR X X X

    Kuriakose et al. (2009) Profundidade do solo RLM, KO, KR X X X

    Dahlke et al. (2009) Profundidade do solo ME X X

    Tesfa et al. (2009) Profundidade do solo MAG, FA X X

    Zhu et al. (2010)

    Espessura de

    horizontes,

    profundidade at o

    manto

    SF, RLM X

    Chaplot et al. (2010) Espessura de

    horizontes KO X X

    Ziadat (2010) Profundidade do solo RLM X

    Zhu e Lin (2010) Profundidade do solo KO, KR X X

    AD = anlise discriminante, ANOVA = anlise de varincia, AR = rvores de regresso, CE = conhecimento

    especializado, CK = co-krigagem, DIP = distncia inversa ponderada, FA = florestas aleatrias, KDE =

    krigagem com deriva externa, KO = krigagem ordinria, KR = krigagem-regressso, MAG = modelos

    aditivos generalizados, ME = mdias estatsticas, MLG = modelos lineares generalizados, RLM = regresso

    linear mltipla, RNA = redes neurais artificiais, SF = sistemas fuzzy,

    *Trabalhos listados por McBratney et al. 2003.

    Uma detalhada explanao dos mtodos

    estatsticos mencionados acima encontra-se em

    Hastie et al. (2009). A seguir se far uma breve

    referncia aos mtodos estatsticos. Grande parte

    dos trabalhos utiliza o mtodo de regresso linear

    mltipla (RLM). Neste mtodo, assumido que a

    varivel de interesse (um atributo do solo, neste

    caso) varia aproximadamente de forma linear com

    cada uma das variveis preditoras (Hastie et al.

    2009). A definio dos parmetros de variao

    realizada geralmente atravs da tcnica de

    mnimos quadrados. Segundo McBratney et al.

    (2003), o mtodo tem sido vastamente usado por

    causa de sua facilidade de aplicao e vasta

    disponibilidade (diversos softwares desenvolvem

    os clculos). A anlise discriminante (AD),

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    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    desenvolvida por Fisher (1936), tambm descreve

    uma relao linear. Segundo Pennock et al.

    (1987), a metodologia envolve o ajuste de um

    eixo a uma distribuio multivariada que

    maximize a distncia entre a mdia dos grupos.

    Sucessivos eixos so ajustados at que uma

    quantidade insignificante de varincia permanea

    por ser explicada.

    Moore et al. (1993) tentaram relacionar a

    espessura do horizonte A com as caractersticas

    ambientais de sua rea de estudo. As

    caractersticas ambientais utilizadas eram todas

    vinculadas a topografia da regio e foram

    calculadas a partir de um grid com clulas de

    aproximadamente 15 m. Anlises de RLM foram

    conduzidas na tentativa de relacionar as variveis.

    Os autores encontraram influncia significativa da

    declividade e do ndice de umidade para a maioria

    dos atributos do solo estudados.

    Gessler et al. (1995), em um estudo

    similar, demonstraram correlao entre o ndice

    topogrfico e a profundidade do solo, julgando

    que este comportamento era previsto, j que o

    ndice topogrfico combina informaes de

    contexto com informaes locais (rea de

    contribuio a montante e declividade,

    respectivamente). Entretanto, ressaltaram que

    algumas variveis sem relao explicitamente

    definida tambm podem ser significativas. Por

    exemplo, no mesmo estudo foi constatado que a

    curvatura plana, que no rene informaes

    contextuais, tambm foi um fator preditivo para a

    profundidade do solo e para a espessura do

    horizonte A.

    Os modelos lineares generalizados (MLG)

    estendem os modelos de regresso linear para

    acomodar distribuies no normais de dados,

    onde se faz uma tentativa de reformulao do

    modelo ao invs de transformao dos dados

    (Lane, 2002). Os modelos aditivos generalizados

    (MAG) so uma extenso no paramtrica dos

    MLG (Yee e Mitchell, 1991). Nos MAGs os

    valores ajustados resultantes no vm de um

    modelo estabelecido, sendo que a estrutura dos

    dados examinada primeiramente. Os dados

    determinam o formato da curva resposta, ao invs

    de estarem limitados pelos formatos disponveis

    nas classes paramtricas.

    Nos modelos de rvores, como a rvore

    de Regresso (AR), ao invs de ajustar um

    modelo aos dados, uma estrutura de rvore

    gerada dividindo os dados recursivamente em um

    determinado nmero de grupos, com cada nvel de

    diviso sendo estabelecido de maneira a

    maximizar a diferena na varivel resposta entre

    grupos resultantes (McBratney et al., 2003). Estes

    modelos lidam bem com a no linearidade dos

    dados e funcionam com dados categricos e

    contnuos, sendo de mais fcil interpretao que

    os modelos citados anteriormente. As Florestas

    Aleatrias (FA) so a combinao de ARs, de

    maneira que cada rvore depende dos valores de

    um vetor aleatrio amostrado independentemente

    e com a distribuio igual para todas as rvores da

    floresta (Breiman, 2001). Tesfa et al. (2009),

    utilizando MAG e FA, concluram que ambas as

    metodologias foram capazes de prever

    aproximadamente metade das profundidades dos

    solos da bacia, sendo que a metodologia da FA

    apresentou um erro mdio quadrtico ligeiramente

    menor.

    McKenzie e Ryan (1999) propuseram

    uma metodologia para prever a distribuio

    espacial das propriedades do solo atravs de

    atributos topogrficos extrados de modelos

    digitais de terreno e sensoriamento remoto

    radiomtrico gama. Os autores utilizaram o ndice

    de umidade topogrfico e o ndice de Prescott

    (ndice que relaciona chuva com evaporao),

    alm de diversas relaes topogrficas para

    inferir, atravs da metodologia da AR, sobre a

    distribuio espacial da profundidade do solo e

    fsforo e carbono totais presentes no solo. Em

    relao ao parmetro de profundidade do solo, o

    modelo conseguiu reduzir em 42% a varincia

    entre os resultados calculados e observados

    quando comparados com um modelo nulo (ou

    seja, a mdia dos valores observados). Os autores

    ainda frisaram a necessidade de medir as variveis

    ambientais e do solo na mesma escala em que os

    processos que as relacionam ocorrem, sendo que,

    quanto mais adequada resoluo utilizada, maior

    a capacidade de predio da distribuio espacial

    dos parmetros do solo.

    As Redes Neurais Artificiais (RNA)

    tentam construir um modelo matemtico que

    supostamente funciona de maneira anloga ao

    crebro humano (McBratney et al., 2003). As

    RNAs so constitudas por um sistema de

    neurnios interconectados, sendo que, segundo

    Chang e Islam (2000), trs caractersticas definem

    o sistema: (i) o modelo assumido para um

    neurnio isolado; (ii) como os neurnios esto

    conectados para formar uma rede; e (iii) como as

    intensidades das interconexes so determinadas.

    Na descrio do sistema, no h pressupostos em

    relao estrutura do modelo. Em vez disso, as

    redes so ajustadas ou treinadas para que entradas

    de dados levem a sadas alvo especficas

    (Gershenfeld, 1999). Usando as RNAs, Zhu

    (2000) demonstrou como a metodologia pode ser

    ltil na determinao da profundidade do solo

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

    1230

    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    quando comparada a metodologias baseadas

    apenas no conhecimento de especialistas.

    Os modelos baseados em Sistemas Fuzzy (SF)

    tentam representar a incerteza existente entre os

    atributos preditores e preditos (McBratney et al.,

    2003). Ao contrrio dos mtodos mais

    convencionais, que admitem apenas funes

    binrias (o elemento membro do grupo, ou no),

    os SFs admitem a possibilidade de pertencimento

    parcial ao grupo. Por isso, so adequados para

    situaes onde as fronteiras entre classes no

    podem ser nitidamente definidas (Burrough,

    1989). Nos mapas elaborados com base em lgica

    fuzzy, os solos so representados por vetores de

    valores de adeso, que descrevem o grau de

    similaridade do solo local com um valor padro

    predefinido, ou uma classe preestabelecida (Zhu,

    1997). Scull et al. (2003) pontuaram que os

    modelos fuzzy so estrategicamente importantes

    nas pesquisas de solo por serem capazes de

    representar a continuidade e a complexidade dos

    solos, expressando caractersticas por graus de

    similaridade com determinados padres, e no

    existncia ou no de similaridade absoluta como

    na lgica Booleana. Os sistemas baseados na

    lgica fuzzy frequentemente utilizam-se do

    Conhecimento Especializado (CE), seja aquele

    adquirido atravs de especialistas ou de

    observaes de campo e que conseguem

    estabelecer as relaes entre o ambiente e a

    manifestao de determinadas caractersticas do

    solo, para definio do grau de adeso entre o

    atributo preditor e o predito (Zhu et al., 2001).

    Zhu (1997), Zhu et al. (2001) e Zhu e

    Mackay (2001), propuseram um modelo baseado

    na lgica Fuzzy e no conhecimento especializado

    acoplado a um SIG. O modelo foi chamado de

    Soil-Land Interface Model SoLIM. O modelo

    consiste basicamente na representao de

    similaridades ao longo da paisagem, permitindo

    que o solo seja considerado como um meio

    contnuo, transcendendo a ideia de unidades

    espaciais com parmetros uniformes. As

    condies ambientais de determinada rea so

    extradas de softwares SIG, enquanto que as

    relaes entre as caractersticas do solo e as

    condies ambientais so elaboradas a partir da

    opinio de especialistas ou de observaes de

    campo. As condies ambientais das demais reas

    servem de base para determinao dos padres de

    manifestao de suas caractersticas do solo,

    baseada nas relaes estabelecidas anteriormente.

    O contraponto em utilizar este tipo de

    metodologia a necessidade de informaes

    ambientais (principalmente topogrficas) de boa

    qualidade, alm de conhecimento especfico sobre

    as relaes entre o solo e as condies ambientais

    especificamente na rea de estudo.

    Os mtodos geoestatticos, tais como

    Krigagem ordinria (KO), Co-Krigagem (CK),

    Krigagem-regressso (KR), Krigagem com

    Desvios (KDE) e Distncia Inversa Ponderada

    (DIP), esto sendo cada vez mais utilizados na

    tentativa de obter dados espacialmente

    distribudos com acurcia, coletando o menor

    nmero possvel de amostras, atravs de tcnicas

    de interpolao (Zhu e Lin, 2010). Segundo

    Oliver e Webster (1990), a KO essencialmente

    um mtodo de estimativa por mdias locais

    ponderadas, onde os pesos so determinados pelos

    variogramas e pela configurao dos dados. Pode

    ser considerado um interpolador otimizador, j

    que as estimativas so no tendenciosas e tem

    varincia mnima conhecida. Kravchenko e

    Bullock (1999) reportaram que propriedades do

    solo que demonstram uma variabilidade aleatria

    ao longo do terreno menor que 10% podem ser

    mais bem mapeadas com o mtodo KO.

    Estudos preliminares demonstraram que o

    uso de variveis auxiliares, que vo alm da

    distribuio espacial dos pontos amostrados,

    importante na estimativa das propriedades do solo

    (Ahmed e De Marsily, 1987). Alguns mtodos de

    interpolao, tais como CK, KDE e KR, utilizam

    variveis auxiliares para aumentar a acurcia da

    interpolao e reduzir o nmero mnimo

    necessrio de observaes para atingir o valor

    esperado para as variveis (Zhu e Lin, 2010). Em

    geral, a utilizao de mtodos de interpolao

    complementados por variveis auxiliares geram

    melhores resultados que os mtodos

    geoestatsticos genricos, como a KO.

    A CK a extenso lgica da KO para

    situaes onde duas ou mais variveis so

    espacialmente interdependentes e para situaes

    onde os valores que sero estimados no foram

    to intensivamente amostrados quanto s outras

    variveis as quais estaro relacionados (Oliver e

    Webster, 1990). Na CK variveis aleatrias so

    simultaneamente determinadas utilizando suas

    inter-relaes e co-dependncia espacial (Odeh et

    al., 1995). Quando o processo de krigagem utiliza

    variveis auxiliares (ou externas) para modelar

    a deriva (ou tendncia) dos dados, em vez de usar

    apenas uma funo das coordenadas dos dados

    observados, chamado de Krigagem com Deriva

    Externa (KDE) (Hengl et al., 2004). A KR

    geralmente baseada em uma tcnica similar

    quela utilizada na KED, sendo que, na KR,

    primeiramente aplicado um processo comum de

    regresso entre o parmetro desejado e as demais

    observaes, seguido de uma krigagem ordinria

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

    1231

    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    dos valores preditos (Odeh et al., 1994). Hengl et

    al. (2004) afirmaram que, na realidade, os

    mtodos de KR e KDE so equivalentes e devem,

    quando aplicados com os mesmos pressupostos,

    gerar os mesmos resultados.

    O mtodo de interpolao da distncia

    inversa ponderada (DIP) traz como pressuposto

    que o valor de um atributo em determinado local,

    onde no foram feitas observaes, equivale

    mdia ponderada dos pontos onde existem dados

    conhecidos dentro de uma vizinhana circundante

    ao local no amostrado (Robinson e Metternicht,

    2006). Desta maneira, pontos com dados

    prximos ao local de interesse tm pesos

    relativamente maiores quando comparados com os

    que esto a uma distncia maior. Tal qual a KO, o

    mtodo DIP traz a desvantagem de no considerar

    fatores relativos formao e evoluo dos solos,

    e, portanto, demonstra potencial limitado para

    mapeamento das particularidades dos solos

    (Sumfleth e Duttman, 2008), inclusive a

    profundidade.

    Baseado nas informaes e concluses

    levantadas por estes trabalhos percebe-se

    claramente que os atributos topogrficos so os

    principais parmetros preditores da profundidade

    do solo, qualquer que seja a metodologia aplicada

    (Tabela 1). A aptido inerente aos atributos

    topogrficos em descrever as caractersticas do

    solo j foi apontada por Scull et al. (2003). O

    segundo grupo de atributos mais utilizado so

    aqueles relacionados a fatores que descrevem a

    atividade de organismos (fauna, flora e ser

    humano). A maior parte das metodologias

    utilizadas nos trabalhos citados teve, em maior ou

    menor grau, um desempenho satisfatrio na

    tentativa de determinar a profundidade do solo ao

    longo da bacia. As tcnicas geoestatsticas,

    impulsionadas pelo aprimoramento das

    ferramentas de SIG, esto sendo otimizadas

    atravs de sua combinao com outras tcnicas

    advindas da estatstica clssica. Alm disso, esta

    incorporao possibilita a considerao de mais

    variveis na estimativa dos parmetros desejados,

    promovendo previses cada vez mais acuradas.

    Entretanto, a eficcia dos mtodos e a escolha do

    modelo ideal dependem de diversos fatores tais

    como escala, parmetro a ser mensurado e

    caractersticas locais da rea de estudo. Scull et al.

    (2003) apontaram que reas montanhosas

    florestadas, com alta declividade, foram pouco

    estudadas, por isso ainda necessrio que as

    metodologias sejam testadas em ambientes mais

    diversos.

    Modelos empricos

    Os modelos empricos de estimativa da

    profundidade do solo podem ser considerados, os

    mais simplistas, visto que muitas vezes baseiam-

    se apenas na relao observada entre um

    determinado parmetro e uma varivel desejada.

    O nmero de trabalhos publicados que adotam tal

    mtodo muito menor, quando comparado aos

    demais. Embora seja uma abordagem simples,

    muitas vezes a modelagem emprica pode gerar

    resultados mais adequados do que aqueles obtidos

    com modelos mais sofisticados. Isto se d

    considerando que o conhecimento acerca dos

    processos atuantes no perfil do solo, sua

    formulao matemtica e sua posterior aplicao

    atravs de metodologias sofisticadas ainda no

    esto plenamente desenvolvidos (Catani et al.,

    2010), e assim, muitas vezes no alcanam os

    resultados esperados.

    Saulnier et al. (1997) propuseram duas

    equaes empricas para determinao da

    profundidade do solo em toda a extenso de uma

    bacia hidrogrfica. Neste trabalho, a variao

    espacial da profundidade do solo foi incorporada

    ao TOPMODEL, proposto por Beven e Kirkby

    (1979), demonstrando como a variabilidade da

    transmissividade do solo pode afetar a resposta

    hidrolgica de uma bacia. As equaes no foram

    desenvolvidas com o propsito de mapear, de

    maneira acurada, a profundidade do solo. Mas

    sim, com o propsito de simular dois tipos

    diferentes de distribuio espacial da

    profundidade do solo na bacia e avaliar o efeito da

    considerao destes diferentes padres. A

    primeira equao proposta por Saulnier et al.

    (1997) traz os valores de profundidade do solo

    como uma funo linear decrescente da elevao:

    minminmax

    minmaxmax ee

    ee

    zzzz ii

    (1)

    Em que zi a profundidade do solo em

    determinado ponto; ei a elevao no mesmo

    ponto; zmax e zmin so o mximo e mnimo valores

    para a profundidade, respectivamente; e emax e emin

    so o mximo e mnimo valores de elevao na

    bacia hidrogrfica, respectivamente.

    No caso onde o comportamento do valor

    mdio da profundidade da bacia conhecido,

    possvel rearranjar a amplitude dos valores de

    profundidade (zmax-zmin) para que os valores

    calculados sejam consistentes com a mdia.

    Quando a Eq. (1) aplicada a uma bacia

    hidrogrfica, obtm-se uma profundidade rasa

    para as reas de cabeceira, enquanto que para as

    reas mais baixas, o solo se torna profundo. A

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

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    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    lgica por trs do conceito que o sedimento das

    reas mais altas conduzido gravitacionalmente

    para as reas mais baixas, o que reduz as

    profundidades nas cabeceiras e as aumenta nas

    reas baixas.

    A segunda equao proposta por Saulnier

    et al. (1997) estabelece um decrscimo linear da

    profundidade do solo em funo da declividade do

    local analisado:

    minminmax

    minmaxmax tantan

    tantan

    ii

    zzzz (2)

    Em que max e min so a declividade mxima e

    mnima da bacia, respectivamente; e i a

    declividade da encosta em determinado ponto.

    Com a Eq. (2) tambm pode-se estabelecer uma

    amplitude para a profundidade do solo de maneira

    que se mantenha a consistncia da profundidade

    mdia da bacia. A Eq. (2) tenta descrever a

    profundidade do solo em termos de propenso a

    ocorrncia de eroso. Pontos de declividade mais

    acentuada tendem a demonstrar maiores

    potenciais erosivos, consequentemente criando

    profundidades menores do solo, enquanto que,

    zonas de baixa declividade so propcias

    deposio, apresentando profundidades maiores.

    Silva (2010) desenvolveu um modelo

    hidrolgico com consideraes a respeito da

    distribuio espacial da profundidade do solo e

    utilizou a mdia aritmtica das profundidades

    calculadas com as Eqs. (1) e (2) em sua

    abordagem. Embora Saulnier et al. (1997) e Silva

    (2010) tenham estabelecido a distribuio espacial

    da profundidade do solo em suas bacias, nenhum

    dos autores tinha a inteno de verificar o

    desempenho de seus modelos comparando-os

    realidade. A real inteno destes autores era

    apenas a adoo de determinado padro de

    distribuio espacial da profundidade do solo e a

    verificao do efeito desta adoo no processo de

    modelagem hidrolgica. Por isso, as equaes

    propostas por estes autores no foram comparadas

    com dados de campo para calibrao e validao.

    Partindo para uma abordagem extrada de

    princpios fsicos, Catani et al. (2010) propuseram

    uma equao emprica para estimativa da

    profundidade do solo mais robusta que as Eqs. (1)

    e (2) ou sua mdia. A equao proposta tem como

    base conservao da massa para uma coluna de

    solo situada na encosta. Considerando a perda de

    massa por transporte de sedimento devido ao

    rastejamento do solo e ao fluxo superficial obtm-

    se:

    eKqss 2 (3)

    Em que s a massa especfica do solo; qs o

    fluxo de sedimento; e K um coeficiente de

    difuso ou adveco. A Eq. (3) implica que a

    perda do solo est relacionada ao laplaciano da

    elevao, ou seja, a curvatura da encosta.

    Para contabilizar o efeito do

    posicionamento do ponto pela extenso da bacia, e

    tambm para considerar o comprimento da

    encosta e rea de contribuio, Catani et al. (2010)

    propuseram uma metodologia de posicionamento.

    Nesta metodologia, a bacia dividida em

    unidades de comportamento similar, delineadas

    atravs de informaes geolgicas,

    geomorfolgicas, topogrficas e dados de campo.

    A partir da localizao, elaborou-se um ndice ()

    de espessura relativa do solo baseado na

    toposequncia da encosta pertencente

    determinada unidade.

    Visto que a ocorrncia de movimentos de

    massa pode perturbar a relao entre o relevo e as

    perdas de solo, Catani et al. (2010) propuseram

    tambm o estabelecimento de uma declividade

    limite para a ocorrncia de movimentos de massa

    e regulao da profundidade do solo. Este valor de

    declividade foi estabelecido com base em valores

    de ngulo de atrito interno do solo e em registros

    histricos de escorregamentos. Assim, a expresso

    final se d pela seguinte equao:

    1 CKz C (4)

    Em que KC um parmetro de calibrao; C um

    ndice baseado na curvatura da encosta; e um

    limiar de contribuio dos escorregamentos. Foi

    proposto que igual a limtan1 nos pixels

    com a declividade maior que a declividade limite

    (lim) e 1 para o restante dos locais. Os parmetros

    C, e expressam, na forma de nmeros que

    variam de 0 a 1, a propenso de determinada

    localidade acumular solo, enquanto o KC, o qual

    calculado para cada litologia a partir de medies

    de campo, auxilia na calibrao da frmula e

    transforma o nmero em um valor mtrico. Este

    modelo foi nomeado por Catani et al. (2010) de

    GIST Geomorphologically Indexed Soil

    Thickness.

    Catani et al. (2010) utilizaram 217

    medies diretas da profundidade do solo para

    realizar a calibrao e a validao do modelo,

    sendo que 55 valores foram utilizados na

    calibrao e os 162 restantes na validao. Alm

    disso, os resultados da aplicao do GIST foram

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

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    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    comparados com resultados obtidos pela aplicao

    de sua verso simplificada (o sGIST, onde a

    geomorfologia no utilizada para definio das

    unidades de comportamento similar) e das Eqs.

    (1) e (2). Os resultados mostraram que a aplicao

    das Eqs (1) e (2) gerou erros substanciais, tanto

    em termos de erro mximo quanto em termos de

    erro mdio absoluto. Atravs da comparao dos

    seus dados medidos em campo com valores

    calculados, Catani et al. (2010) demonstraram que

    a Eq. (1) gera uma tendncia de subestimao da

    profundidade do solo prximo aos divisores das

    bacias, e uma superestimao nos vales ou ps das

    encostas. A Eq. (2) apresentou resultados ainda

    piores, sendo que a profundidade do solo foi

    superestimada em todos os pontos de controle.

    Esta tendncia encontrada leva a crer que a

    insero de um coeficiente de minimizao na Eq.

    (2) pode vir a alavancar o desempenho da mesma.

    O sGIST apresentou um resultado

    levemente melhor que as Eqs. (1) e (2).

    Entretanto, ao levar em considerao os efeitos da

    geomorfologia, com o GIST, os resultados

    melhoraram significativamente, apresentando erro

    mdio absoluto de 11 cm. Estes resultados

    implicam que o GIST apresenta-se como uma

    ferramenta satisfatria para a estimativa da

    profundidade do solo na bacia, principalmente

    tratando-se de estudos de estabilidade de encostas

    ou hidrolgicos. Alm disso, a diferena entre os

    resultados obtidos entre o GIST e sGIST indica a

    importncia da considerao das caractersticas

    geomorfolgicas na estimativa da profundidade

    do solo.

    Schulz et al. (2008) elaboraram um

    modelo emprico para estimativa da espessura do

    colvio nas encostas costeiras de Seattle, nos

    EUA. Neste modelo, a espessura do colvio foi

    descrita como proporcional posio do ponto na

    encosta e tambm sua declividade. Trechos da

    encosta foram classificados em quatro diferentes

    morfologias: (i) escarpas; (ii) bancadas; (iii)

    trechos a jusante de bancadas; e (iv) encostas

    planares. Segundo o pressuposto adotado, a

    espessura do colvio se reduz na direo de

    montante das escarpas, j que estas so o limite

    superior da produo de colvio, de maneira

    proporcional a sua posio e a declividade da

    mesma. Alm disso, considerado que a partir da

    escarpa, a espessura do colvio tende a aumentar,

    devido adio de material desprendido de reas

    a montante. Porm, considerou-se que a partir de

    determinado ponto h uma reduo na espessura

    devido remoo de colvio prximo ao p das

    encostas, devido a processos erosivos. A jusante

    de bancadas foi considerada que o colvio

    apresenta formato de cunha, com sua espessura

    sendo reduzida na direo de montante. Devido s

    caractersticas dos depsitos gerados por

    processos gravitacionais da regio onde o modelo

    foi desenvolvido, foi considerado que o colvio

    mais espesso nos locais de menor declividade,

    qualquer que seja a morfologia.

    Parmetros topogrficos (declividade do

    ponto, altura e declividade da escarpa, distncia

    at a base e o topo da escarpa, entre outros) foram

    extrados do modelo digital de elevao. Estas

    variveis foram relacionadas com 40 medies

    realizadas para calibrao do modelo. A equao

    final que descreve a espessura do colvio (Tc)

    proposta por Schulz et al. (2008) :

    teeeec zADfHffT 1,0,1,121 (5)

    onde f() uma funo da declividade da encosta;

    f(e,He) uma funo da declividade e e altura da

    escarpa He; f(De) uma funo da distncia a

    jusante a partir da escarpa, De; Ae um fator de

    ajuste para a morfologia da escarpa; e zt a

    profundidade mxima do colvio no p das

    encostas. A Eq. (5) vlida para escarpas,

    bancadas e encostas planares. Para trechos a

    jusante de bancadas a equao se simplifica para:

    tc zeffT (6)

    Em que f(e) uma funo da elevao do ponto.

    O modelo desenvolvido por Schulz et al.

    (2008) pode ser considerado emprico, pois as

    funes inseridas nas Eqs. (5) e (6) utilizam-se de

    relaes e limiares empricos para sua definio.

    Por exemplo, os autores impuseram um limite de

    declividade de 46,5 para existncia de algum

    colvio na encosta. Para declividades acima deste

    valor limite, a profundidade foi considerada nula.

    Uma peculiaridade no modelo que,

    diferentemente do modelo proposto pela Eq. (2), a

    relao entre profundidade do solo e declividade

    no linear, o que notavelmente melhorou o

    desempenho do mesmo na determinao da

    profundidade.

    O modelo completo proposto por Schulz

    et al. (2008) conseguiu explicar boa parte da

    ocorrncia dos solos coluviais das encostas da

    rea de estudo, sendo que para colvios menos

    espessos que 1,7 m houve uma ligeira

    superstimativa, enquanto que para mais espessos

    houve uma ligeira subestimativa. Os autores ainda

    frisaram que alguns pressupostos relativos ao

    comportamento da espessura do colvio frente

    distncia da escarpa foram incorretos, ao menos

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

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    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    em parte. Isto foi verificado durante o processo de

    calibrao do modelo. Godt et al. (2008)

    aplicaram a mesma metodologia proposta por

    Schulz et al. (2008), baseando-se na declividade

    do ponto e na declividade, altura e distncia da

    escarpa, considerando uma relao no linear da

    declividade com a profundidade do solo.

    Salciarini et al. (2006) demonstraram que os

    dados medidos de profundidade de sua bacia

    ajustaram-se bem a uma curva exponencial da

    declividade, ou seja:

    0693,0exp14 z (7)

    As profundidades foram medidas at uma

    declividade de aproximadamente 30, excluindo

    da anlise as declividades maiores, que possuem

    maior potencial de gerao de tendncias no

    lineares.

    Uma comparao entre cinco diferentes

    modelos empricos para distribuio espacial da

    profundidade do solo foi conduzida por Segoni et

    al. (2012). Nesta comparao foram includos os

    modelos descritos pelas Eqs. (1) e (2); os modelos

    GIST e sGIST; e um ltimo modelo, chamado de

    Sexp. O modelo Sexp consiste, basicamente, na

    Eq. (2), porm com uma relao exponencial entre

    a profundidade do solo e a declividade da encosta,

    que faz com que ocorra um decaimento mais

    rpido da espessura do solo com o aumento da

    declividade. Atravs do clculo do erro mdio

    absoluto, os autores demonstraram que o modelo

    GIST foi melhor para as duas bacias analisadas.

    Em seguida, o melhor desempenho foi

    apresentado pelo modelo Sexp. Entretanto, ao

    analisar a distribuio dos erros, os autores

    destacaram que o modelo Sexp tende a subestimar

    os valores de profundidade do solo. Considerando

    a possibilidade de execuo de um ajuste mais

    apurado do modelo Sexp e a facilidade em se

    obter o parmetro para sua aplicao, o Sexp

    metodologia pode ser promissora em reas de

    estudo com poucos dados.

    Segundo Godt et al. (2008), a escolha do

    modelo adequado para estimativa da profundidade

    do solo deve ser guiada pelas caractersticas

    regionais e pelos dados disponveis. Para

    paisagens dissecadas em ambientes temperados,

    onde as taxas de produo de solo podem ser

    estimadas, modelos de difuso do solo podem

    gerar estimativas acuradas da profundidade do

    solo. Entretanto, em locais onde os processos no-

    difusivos imperam, tais como ambientes

    declivosos, onde os movimentos de massa

    abruptos dominam o transporte e deposio

    coluvial, relaes empricas locais entre espessura

    do solo e topografia podem ser mais apropriadas.

    Modelos baseados em processos

    Os modelos de estimativa da

    profundidade do solo baseados em processos so

    aqueles que tentam representar o resultado da

    interao entre os diferentes processos atuantes na

    encosta, descrevendo cada um deles atravs de

    equaes matemticas. Em geral, estes modelos

    apresentam uma base fsica, tal como a

    formulao do balano de massa em um volume

    de controle presente na encosta. Godt et al. (2008)

    chamam a ateno para a aplicao deste tipo de

    modelagem, que pode gerar resultados muito

    acurados quando utilizado dentro de determinadas

    condies.

    Dietrich et al. (1995) foram pioneiros na

    tentativa de determinar a profundidade do solo

    coluvial a partir de modelos baseados em

    processos, embora trabalhos anteriores j tivessem

    esboado uma teoria similar (Culling, 1960;

    Kirkby, 1971). Segundo Dietrich et al. (1995),

    quando a topografia bem descrita pelos dados

    digitais de elevao, o modelo capaz de estimar

    a espessura dos depsitos coluviais em vales no

    canalizados e identificar os locais de exposio do

    manto rochoso. A equao que descreve o balano

    de massa para a profundidade do solo descrita

    como:

    ssb

    rs qt

    e

    t

    z

    (8)

    onde s e r so a massa especfica do solo e da

    rocha, respectivamente; eb a elevao da

    interface entre solo e rocha; e sq

    o vetor de

    transporte de solo. O primeiro termo da Eq. (8)

    representa a mudana na espessura do solo com o

    tempo (t), o segundo termo a taxa de

    transformao de rocha em solo devido ao

    rebaixamento da interface solo-rocha, e o ltimo

    termo o divergente do transporte de solo. A

    teoria envolvida na Eq. (8) a base de diversos

    trabalhos que foram elaborados na tentativa de

    descrever a morfologia das encostas, tais como

    Culling (1960), Culling (1963), Kirkby (1971) e

    Hirano (1975). A Eq. (8) tambm vastamente

    aplicada na modelagem da evoluo da paisagem

    MEP. Porm, na MEP, em vez de analisar a

    evoluo da profundidade do solo, observam-se as

    variaes na topografia do terreno (Tucker e

    Hancock, 2010). Para solucionar a Eq. (8) em

    funo da profundidade do solo, necessrio

    estabelecer uma lei de produo de solo e outra de

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

    1235

    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    transporte de solo. A Figura (1) mostra um

    esquema ilustrativo do funcionamento da Eq. (8).

    Figura 1 Balano de massa entre o transporte e a produo de solo que controla a profundidade do solo

    coluvial. (Adaptado de Dietrich et al. (1995) e Heimsath et al. (1997)).

    Leis de produo de solo a partir da rocha matriz

    Heimsath et al. (1997) e Heimsath et al.

    (2001) estabeleceram com dados de campo uma

    lei de produo do solo a partir da rocha matriz.

    Estes autores utilizaram medies da

    profundidade do solo para demonstrar que a

    curvatura (um indicativo da produo de solo)

    decai com o aumento da espessura do solo, e

    finalmente determinaram o formato da funo de

    produo do solo. O estudo foi complementado

    por medies in situ de taxas de produo de solo

    determinadas a partir de nucldeos cosmognicos

    (10Be e 26Al) que corroboraram com a relao

    exponencial inversa definida. Ento, a funo de

    produo de solo descrita por:

    ZZt

    eb

    10 expsec (9)

    Em que Z espessura do solo normal a encosta;

    (Z) a taxa de produo do solo na direo

    normal a inclinao da encosta; 0 a taxa de

    produo do solo em profundidade zero; e 1 um

    parmetro de ajuste.

    Saco et al. (2006) tentaram estabelecer as

    implicaes de se considerar a umidade do solo

    nas funes de produo de solo e descrever qual

    tipo de dinmica de produo de solo necessria

    para que a topografia da rocha matriz tenha um

    padro espacial diferente daquela encontrada na

    superfcie. Assim, estes autores propuseram uma

    funo de produo de solo na forma:

    ZxxFt

    eb

    12110 exp,1

    1

    (10)

    Em que 21, xxF uma funo varivel de dependncia espacial, ou seja, dependente das

    coordenadas planimtricas x1 e x2; 1 e 1 so

    parmetros de ajuste. Se esta funo for igual a

    zero, a Eq. (10) torna-se igual a Eq. (9). Em

    contraponto, pode-se adotar uma variao espacial

    da funo de maneira que reas que apresentarem

    valores maiores para esta funo denotem taxas de

    produo de solo mais acentuadas. Por exemplo,

    F aumentando em funo da umidade do solo

    (devido ao estmulo ao intemperismo qumico e

    atividade biolgica) e ocasionando um aumento

    na taxa de produo de solo a partir da rocha

    matriz. Esta modificao permitiu que se

    estabelecesse um modelo arqueado (humped) de

    dependncia entre a taxa de produo e

    profundidade do solo. Assim, a teoria vastamente

    discutida na geomorfologia, onde a maior taxa de

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

    1236

    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    produo de solo se d a uma profundidade

    diferente da nula, pode ser contemplada sem

    disparidade entre o modelo proposto e dados

    observados em campo.

    Leis de transporte de solo

    As leis de transporte de solo ao longo das

    encostas foram denominadas, por Dietrich et al.

    (2003), leis de transporte geomorfolgico (LTG).

    Estas leis descrevem diversos processos de

    transporte atuantes na encosta ao longo de escalas

    de tempo geomorfolgicas. Para alguns processos,

    as leis propostas j foram parametrizadas e

    testadas, enquanto que, para outros, as leis so

    ainda inexistentes, no parametrizadas e/ou no

    testadas. A principal lei de transporte em encostas

    refere-se ao rastejamento (creeping) do solo,

    ocasionado por contrao e dilatao devido a

    ciclos seco/mido, quente/frio,

    congelamento/descongelamento e atividade

    biolgica. Os modelos que se baseiam nestas leis

    so denominados modelos difusivos de transporte

    de solo. A equao mais comumente utilizada

    para descrever este processo dada por:

    eKqs

    (11)

    Em que K uma constante de proporcionalidade

    com unidades de um coeficiente de difuso [L/T].

    Esta relao linear entre o fluxo de sedimentos e a

    curvatura da encosta foi sustentada por Mckean et

    al. (1993) e Small et al. (1999), com experimentos

    de campo utilizando nucldeos cosmognicos

    (10Be). Embora esta hiptese tenha sido validada,

    ela foi testada apenas para encostas de baixa

    declividade (at aproximadamente 20%).

    Roering et al. (1999) defenderam que em

    encostas de alta declividade o processo de

    transporte difusivo de sedimentos depende, de

    maneira no-linear, do gradiente da encosta. Isto

    acontece devido ao carter planar das encostas de

    alta declividade, onde a convexidade do perfil

    ocorre apenas prximo ao topo da encosta. Assim,

    Roering et al. (1999) propuseram uma LTG que

    aproxima-se de uma lei de difuso linear em

    baixas declividades e, alm disso, indica que o

    fluxo de sedimento cresce mais rapidamente

    quando o gradiente aproxima-se de um valor

    crtico. A LTG proposta por Roering et al. (1999)

    :

    21 cs

    Se

    eKq

    (12)

    Em que Sc o gradiente crtico da encosta e pode

    ser considerado prximo ao ngulo de atrito do

    solo da encosta. Alm disso, o coeficiente K

    descrito na Eq. (12) no necessariamente igual

    quele da Eq. (11). Esta relao foi elaborada a

    partir de um balano ente as foras atuantes nas

    direes de montante e jusante em determinado

    ponto na encosta. Roering et al. (1999) testaram e

    validaram este modelo em sua rea de estudo nas

    cordilheiras do estado do Oregon, EUA.

    Heimsath et al. (2005) questionaram o

    pressuposto de um modelo de transporte baseado

    apenas nas caractersticas difusivas, e propuseram

    que o transporte tambm dependeria da espessura

    do solo. Assim, os autores adotaram outra

    abordagem, proposta por Furbish e Fagherazzi

    (2001), onde o transporte de solo linearmente

    proporcional ao produto da espessura do solo pelo

    gradiente superficial:

    ezKqs cos

    (13)

    Alm disso, Roering (2008) props um

    modelo no-linear de dependncia entre fluxo de

    sedimentos e profundidade/declividade. O modelo

    proposto utiliza a Eq. (12), porm o clculo do

    coeficiente de difusividade K envolve a

    considerao da relao entre declividade da

    encosta e profundidade do solo em uma funo

    exponencial. Roering (2008) testou esta teoria e a

    confrontou com as Eqs. (11), (12) e (13). O autor

    encontrou que o desempenho do modelo de

    relao no-linear entre fluxo de sedimentos e

    declividade/profundidade foi o mais satisfatrio

    dentre os testados.

    Pelletier e Rasmussen (2009) elaboraram

    diferentes modelos para a estimativa de

    profundidades do solo baseados em LTGs. Os

    modelos propostos baseiam-se no pressuposto de

    que o solo local atingiu um equilbrio de longo

    perodo em sua espessura. Estes autores

    calcularam o balano entre produo (descrita

    atravs do modelo exponencial e do arqueado) e

    eroso do solo (descrita atravs de trs diferentes

    modelos de transporte de sedimentos no-lineares

    dependentes da (i) declividade; (ii) rea e

    declividade; e (iii) profundidade e declividade).

    Comparando seus resultados com dados de

    campo, os autores concluram que o modelo

    arqueado de produo de solo, associado ao

    modelo de transporte no-linear dependente da

    profundidade e declividade, foi o mais adequado

    para sua rea de estudo.

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

    1237

    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    Uma anlise da evoluo da espessura do

    solo foi realizada por DOdorico (2000), onde foi

    utilizado um modelo estocstico de balano de

    massa para considerao de eventos aleatrios de

    escorregamentos, combinado a um processo

    determinstico de produo de solo a partir da

    rocha matriz. DOdorico (2000) relatou que a

    dinmica existente no processo de formao das

    encostas tem dois regimes extremos: (i) limitado

    pelo intemperismo; e (ii) limitado pelo transporte.

    Esta dinmica biestvel, com dois estados

    preferenciais por entre os quais o sistema pode

    flutuar devido ao de forantes aleatrias (tais

    como escorregamentos). Assim, em longo prazo,

    o sistema no tende assintoticamente a

    permanecer em estado estacionrio em algum dos

    dois extremos. Eventos erosivos aleatrios, por

    exemplo, podem levar um ponto da encosta, onde

    a dinmica limitada pelo transporte, para uma

    dinmica limitada pelo intemperismo, devido

    ocorrncia de um escorregamento e

    consequentemente remoo da camada

    superficial no consolidada.

    Quando o escoamento superficial

    existente e capaz de gerar a lavagem superficial

    (surface wash), comumente se considera o

    transporte de sedimentos atravs de fenmenos

    advectivos alm dos difusivos (Nicotina et al.,

    2011). Entretanto a representao destes

    fenmenos atravs de LTGs no trivial,

    considerando sua natureza estocstica. Alm

    disso, alguns processos, como a eroso laminar,

    so entendveis e passveis de descrio em

    investigaes pontuais, porm, tornam-se de

    difcil caracterizao quando analisados ao longo

    de escalas geomorfolgicas inseridos na dinmica

    da paisagem. Os modelos existentes tendem a (i)

    ser demasiadamente empricos ou (ii)

    demasiadamente parametrizados para serem

    aplicveis no contexto de modelagem

    geomorfolgica (Dietrich et al., 2003).

    Os modelos baseados em LTGs tendem a

    considerar o transporte ocasionado pelo

    escoamento superficial atravs da adio de um

    termo emprico especfico formulao do vetor

    de transporte de solo ao longo da encosta:

    sasds qqq

    (14)

    Em que sdq

    represente os processos difusivos de

    transporte na encosta; e saq

    represente os

    processos advectivos. Assim, diversos autores

    (Follain et al., 2006; Saco et al., 2006; Nicotina et

    al., 2011; Liu et al., 2013) representaram a eroso

    laminar em modelos geomorfolgicos atravs da

    equao:

    22

    2 Sqqsa (15)

    Em que q a descarga por unidade de largura; S

    a declividade na direo do fluxo; 2 a taxa de

    transporte de sedimento (anlogo ao fator de

    erosividade dos modelos tradicionais de eroso,

    por exemplo, USLE); e 2 e 2 so parmetros de

    ajuste. O vetor saq

    tem direo igual quela

    assumida pelo fluxo superficial. Considerando que

    a Eq. (15) utilizada para simular processos de

    eroso de longo prazo, a descarga geralmente

    interpretada como a descarga de pico mdia anual,

    portanto:

    33

    Aq (16)

    Em que 3 uma taxa constante de escoamento; A

    a rea de contribuio por unidade de largura; e

    3 um coeficiente de ajuste.

    Liu et al. (2013) aplicaram um modelo de

    predio da profundidade do solo em uma bacia

    da Pennsylvania, nos EUA. O modelo foi baseado

    em equaes bsicas de produo e transporte

    difusivo e advectivo de solo na encosta. Os

    autores calibraram seu modelo e o aplicaram em

    uma simulao de 13.000 anos de evoluo da

    paisagem da bacia. Comparando os dados

    simulados com os observados, os autores

    obtiveram um impressionante coeficiente de

    determinao de aproximadamente 0,74, com

    erros absolutos menores que 10 cm em 70% das

    106 amostragens realizadas. Estes resultados

    demonstram o potencial de aplicao da tcnica

    para definio da profundidade do solo nos

    estudos de evoluo da paisagem.

    Portanto, atravs da adoo de modelos de

    produo e transporte de solo, muitos trabalhos

    vm aplicando a metodologia baseada em

    processos na tarefa de mapear a distribuio

    espacial da profundidade do solo nas bacias.

    Entretanto, os modelos descritos requerem dados

    de entrada de qualidade, tais como informaes

    extradas da topografia e parmetros e coeficientes

    utilizados para soluo das equaes. Alm disso,

    alguns processos relevantes na dinmica da

    variao da profundidade do solo so

    desconsiderados, por exemplo, os movimentos de

    massa abruptos. Por isso, embora embasados em

    uma teoria robusta, algumas das aplicaes de tais

    modelos falham na estimativa da profundidade do

    solo nas encostas.

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

    1238

    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    Nicotina et al. (2011), ao aplicar seu

    modelo, obtiveram um coeficiente de Nash-

    Sutcliff de apenas 0,1 comparando dados

    calculados e observados de profundidade do solo,

    evidenciando o baixo desempenho do modelo. Os

    autores pontuaram ainda que o seu modelo no

    necessita de calibrao, visto que todos os

    parmetros de entrada so mensurveis, e

    associaram a este fato o mal desempenho. Ainda

    assim, estes autores consideram que o modelo

    pode ser usado para descrever um comportamento

    mdio da profundidade do solo na bacia e seria

    til para mapeamentos preliminares.

    Limites da profundidade do solo

    Processos, tais como os movimentos de

    massa (escorregamentos, fluxos de detritos, entre

    outros), que certamente contribuem para o

    transporte de sedimento nas encostas, ainda no

    foram objetos de elaborao de LTGs

    parametrizadas e validadas (Dietrich et al., 2003).

    Entretanto, alguns trabalhos foram desenvolvidos

    no sentido de contabilizar a influncia de tais

    processos na evoluo da paisagem e

    profundidade dos solos. Schmidt e Montgomery

    (1995), atravs da anlise de equilbrio limite

    bidimensional de Cullman, previram uma relao

    limite entre declividade da encosta e o relevo, de

    forma que a altura mxima de determinada

    encosta (Hc) seria limitada pela seguinte equao:

    cos1

    cossin4

    g

    cH

    sc (17)

    Em que c a coeso do solo; g a acelerao

    gravitacional e o ngulo de atrito interno do

    solo. Baseado nesta equao, Densmore et al.

    (1998) definiram uma funo de probabilidade de

    falha para cada ponto localizado na encosta,

    agregando um fator que varia de acordo com o

    tempo e que aumenta conforme o passar do tempo

    a partir da ocorrncia do ltimo escorregamento.

    Alm disso, Iida (1999), embasado em

    anlises de equilbrio limite (Fator de Segurana

    FS) para modelos de encosta infinita, definiu

    limiares de profundidade do solo. Iida (1999)

    determinou o valor da mxima profundidade que

    poderia se estabelecer em uma encosta

    considerando que o FS de determinado local no

    atinja valores menores que 1. No caso de encostas

    declivosas, escorregamentos podem vir a ocorrer

    sem saturao do solo, ou seja, com ausncia de

    gua. Desta maneira, a profundidade limite (zc0)

    foi descrita por:

    tancoscos20

    g

    cz

    s

    c (18)

    Sendo que zc0 nunca alcanado, visto que a

    profundidade do solo aumenta lentamente com o

    tempo e tempestades peridicas produziro

    alguma saturao na encosta, ocasionando

    escorregamentos.

    Quando o solo encontra-se completamente

    saturado, tambm possvel estabelecer uma

    profundidade limite (zc1), dada por:

    tantantancos21

    gg

    cz

    ss

    c (19)

    Quando a profundidade real do solo

    menor que zc1, ento no haver possibilidade de

    ocorrncia de escorregamento, mesmo com uma

    grande tempestade. Neste caso, este local adquire

    caracterstica de imunidade por determinado

    perodo. Se a profundidade do solo maior que

    zc1, ento os escorregamentos podem ocorrer

    quando a saturao do solo atinge um valor limite.

    Iida (1999) demonstrou que estes valores crticos

    de profundidade tm boa aderncia com valores

    medidos em campo.

    Michel e Kobiyama (2014) basearam-se

    na teoria de encosta infinita combinada a um

    modelo hidrolgico de estado permanente e

    uniforme para estabelecer um valor limite da

    profundidade do solo (zc) relacionado ao padro

    mdio de saturao do solo da bacia. A equao

    que descreve esta profundidade limite :

    tancossin

    sin

    tan

    cos

    ss

    w

    sc

    kb

    ap

    g

    c

    z (20)

    Em que p a taxa de recarga uniforme do solo; a

    a rea de contribuio a montante; b o

    comprimento do contorno e ks a condutividade

    hidrulica saturada do solo. Embora os autores

    no tenham comparado os valores de

    profundidade obtidos atravs da aplicao da Eq.

    (20) com dados de campo, esta demonstrou

    comportamento coerente ao ser aplicada a uma

    encosta hipottica. O resultado da aplicao das

    Eqs. (18), (19) e (20) a uma encosta hipottica,

    bem como a coerncia existente entre os valores

    calculados esto apresentados na Figura 2. O

    desempenho dessas trs equaes dever ser

    avaliado com dados obtidos atravs dos mtodos

    de campo.

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

    1239

    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    Figura 2 Comportamento da profundidade limite para diferentes valores de declividade em uma encosta

    hipottica. Parmetros utilizados: c = 11,9 kPa; s = 1.800 kg/m; w = 1.000 kg/cm; p = 0,005 m/d; a = 300

    m; b = 5 m, = 30,5; ks = 0,38 m/d.

    Concluses

    Atualmente, a estimativa da distribuio

    espacial da profundidade do solo se configura em

    uma das tarefas mais difceis e importantes para

    diversos ramos da cincia que necessitam desta

    informao. Segundo Dietrich et al. (1995), a

    estimativa da profundidade do solo

    extremamente difcil e trabalhosa, mesmo para

    pequenas bacias hidrogrficas. Associado a isto, a

    distribuio espacial da profundidade do solo

    controlada por diversos fatores (Tesfa et al.,

    2009), tornando este parmetro uma das variveis

    fsicas menos compreendidas pela comunidade

    cientfica dentro dos sistemas de encostas (Catani

    et al., 2010). Desta maneira, o presente trabalho

    o segundo artigo de uma reviso de mtodos de

    estimativa da profundidade do solo. Este artigo

    abordou os mtodos matemticos utilizados para

    esta estimativa, enquanto que, o primeiro artigo

    (Michel e Kobiyama, submetido) tratou dos

    mtodos de campo.

    Os mtodos matemticos para tal

    finalidade foram classificados neste trabalho em

    estatsticos, empricos e baseados em processos.

    Os mtodos estatsticos avanaram muito nas

    ltimas dcadas, principalmente devido

    evoluo dos softwares SIG, que possibilitou a

    fcil aplicao das ferramentas de geoestatstica.

    Assim, diversos atributos passaram a ser

    considerados nestas anlises, na tentativa de

    relacion-los com a profundidade do solo. Desta

    maneira, os modelos estatsticos demonstram

    atualmente uma imensa capacidade de estimar a

    distribuio espacial da profundidade do solo.

    Entretanto, a aplicao destes modelos requer uma

    grande quantidade de dados mensurados (tanto em

    relao s variveis preditoras, quanto varivel

    estimada), para que seja possvel estabelecer as

    relaes existentes. Alm disso, sempre que tal

    mtodo for aplicado a uma nova rea de estudo,

    uma nova formulao do modelo deve ser

    elaborada.

    Os mtodos empricos so de fcil

    aplicabilidade. Os modelos empricos baseados

    em relaes que expressam os processos fsicos

    relacionados formao dos solos, mesmo sem o

    uso explcito de equaes fisicamente embasadas,

    vm apresentando resultados satisfatrios. Porm,

    aqueles que no se constituem de tentativas

    enfticas de representar os processos fsicos

    atuantes no estabelecimento da profundidade do

    solo, tm fracassado. Desta maneira, percebe-se

    que quanto mais o modelo emprico aproxima-se

    de um modelo fisicamente embasado, melhores

  • Revista Brasileira de Geografia Fsica V.08, N.04 (2015), 1225-1243.

    1240

    Michel, G. P., Kobiyama, M.

    so seus resultados. Assim, conforme Godt et al.

    (2008), em ambientes onde as taxas de produo e

    transporte do solo podem ser bem definidas, o uso

    de modelos baseados em processos tende a exibir

    melhores resultados. Portanto, a aplicao dos

    modelos empricos torna-se mais adequada para

    locais onde o equacionamento dos processos

    fsicos atuantes ainda no foi elaborado,

    parametrizado e/ou testado; ou onde existe uma

    limitao de dados de campo necessrios para

    aplicao de outros tipos de modelagem.

    Os modelos baseados em processos tm a

    caracterstica de utilizar equaes fisicamente

    embasadas relativas aos mecanismos de produo,

    transporte e estabilidade dos solos. Assim, para

    locais onde existem dados de qualidade

    (topogrficos, pedolgicos, geolgicos, entre

    outros) e j foram definidas as LTGs referentes

    aos processos atuantes, h um bom desempenho

    destes modelos. Entretanto, importante lembrar

    que os modelos baseados em processos

    geralmente descrevem a evoluo da

    profundidade do solo em termos de escalas

    geomorfolgicas de tempo. Por isso, muitos

    processos estocsticos abruptos que influenciam

    drasticamente no padro de distribuio da

    profundidade do solo ainda no foram objetos de

    LTGs. Desta maneira, ainda existe a necessidade

    de se avanar no estudo destes processos para

    alavancar o desenvolvimento de novas LTGs,

    possibilitando a elaborao de um modelo mais

    abrangente. O estabelecimento de limites de

    profundidade do solo baseados em caractersticas

    geomorfolgicas, hidrolgicas e de resistncia dos

    solos pode ser importante para o aprimoramento

    das LTGs e consequentemente dos MEPs.

    Enfim, mesmo que este trabalho tenha

    dividido as tcnicas de estimativa da profundidade

    do solo em mtodos de campo e mtodos

    matemticos, observou-se que, em um contexto de

    estudos espacialmente distribudos, h uma

    interdependncia entre ambos. Os mtodos de

    campo fornecem informaes pontuais ou

    relativas a pequenas reas e, desta maneira,

    necessitam dos mtodos matemticos para

    gerao de informaes mais abrangentes sobre

    toda rea de estudo. Os mtodos matemticos,

    por sua vez, necessitam de dados de campo para

    sua calibrao e validao. Assim, percebe-se a

    necessidade de intensificao do uso de ambos os

    mtodos. Os mtodos matemticos devem ser

    intensificados com o intuito de identificar as

    tcnicas mais adequadas para elaborar a

    distribuio espacial da profundidade do solo.

    Este objetivo somente ser alcanado com dados

    suficientes, gerados atravs dos mtodos de

    campo, para calibrar e validar os modelos e assim

    possibilitar a escolha do mais adequado.

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