Revista Avesso

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“Uso de ironia ou de sarcasmo para atacar alguma forma de comportamento humano.” “Técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema (indivíduos, organizações, estados), geralmente como forma de intervenção política ou outra, com o objetivo de provocar ou evitar uma mudança.” “Modalidade literária que consiste na crítica a pessoas ou instituições.” “Poesia em que o autor mete a ridículo os vícios ou defeitos de uma época ou pessoa.” 1 Nº 16 Editora Real Maio, 1958

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Revista Avesso

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“Uso de ironia ou de sarcasmo para atacar alguma forma de comportamento humano.” “Técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema (indivíduos, organizações, estados), geralmente como forma de intervenção política ou outra, com o objetivo de provocar ou evitar uma mudança.” “Modalidade

literária que consiste na crítica a pessoas ou

instituições.” “Poesia em que o autor mete a ridículo os

vícios ou defeitos de uma época ou pessoa.”

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Nº 16

Editora Real

Maio, 1958

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Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D

8 de Junho 19hrsAlemanha Ocidental

xArgentina

8 de Junho 19hrsIrlanda do Norte

xTchacoslováquia

11 de Junho 19hrsArgentina

xIrlanda do Norte

11 de Junho 19hrsAlemanha Ocidental

xTchecoslováquia

15 de Junho 19hrsAlemanha Ocidental

xIrlanda

15 de Junho 19hrsTchecoslováquia

xArgentina

8 de Junho 19hrsIugoslávia

xEscócia

8 de Junho 19hrsFrança

xParaguai

11 de Junho 19hrsIugoslávia

xFrança

11 de Junho 19hrsParaguai

xEscócia

15 de Junho 19hrsFrança

xEscócia

15 de Junho 19hrsParaguai

xIugoslávia

8 de Junho 19hrsSuécia

xMéxico

8 de Junho 19hrsHungria

xPaís de Gales

11 de Junho 19hrsMéxico

xPaís de Gales

11 de Junho 19hrsSuécia

xHungria

15 de Junho 19hrsSuécia

xPaís de Gales

15 de Junho 19hrsMéxico

xHungria

8 de Junho 19hrsBrasil

xÁustria

8 de Junho 19hrsUnião Soviética

xInglaterra

11 de Junho 19hrsBrasil

xInglaterra

11 de Junho 19hrsUnião Soviética

xÁustria

15 de Junho 19hrsBrasil

xUnião Soviética

15 de Junho 19hrsÁustria

xInglaterra

Quartas de Final19 de Junho 19hrs

1° Grupo 1x

2° Grupo 2

19 de Junho 19hrs1° Grupo 2

x2° Grupo 1

19 de Junho 19hrs1° Grupo 3

x2° Grupo 4

19 de Junho 19hrs1° Grupo 4

x2° Grupo 3

Semi Finais24 de Junho 19hrs

Vecedor Quartas 1x

Vecedor Quartas 2

24 de Junho 19hrsVecedor Quartas 3

xVecedor Quartas

Final29 de Junho 19hrs

Vencedor Semis 1x

Vencedor Semis 2

Tabela Copa do Mundo FIFA 1958Primeira Fase

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Olá, leitores! A revista mais polêmica da atualidade lançou mais uma edição cheia de novidades. A Avesso

desta quinzena destaca, majoritariamente, as áreas de cultura e esporte. Aqui você encontrará opiniões abalizadas e totalmente imparciais sobre fatos e notícias, com o nosso habitual teor de sarcasmo em doses pequenas e quase imperceptíveis. Na ala de esportes, uma mega cobertura a respeito do grande evento que está por vir: a Copa do Mundo da Suécia; matéria com a teni-sta brasileira Maria Esther Bueno; crônica de Danilo Pimpão, com suas previsões a respeito do esporte no Brasil. Na esfera cultural, o leitor terá oportunidade de acompanhar a matéria sobre a nossa “querida” Miss Adalgisa e suas peripécias em Long Beach; uma entrevista com o ator mais sisudo dos espetáculos brasileiros, Oscarito; uma dissertação a respeito da recente(e polêmica) obra de Jorge Amado, “Gabriela, Cravo e Canela”. Esperamos que todos os leitores desfrutem de mais uma edição da “Avesso”. Até a próxima!

4 Carta do Leitor

Mais uma vez amado 6

10 Oscarito, o REI da chanchada

Miss, Brasil?13

15 Programação Cultural

União Estável 16

18 Suécia em Festa

O Desencanto de Wimbledon 22

24 Pés pelas Mãos, Nunca Mais!

Tabela de Jogos 26

Índice

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Interagindo

À Revista Avesso

Venho por meio desta deixar o meu posiciona-mento quanto à carta de um amigo leitor posta-da no mês de dezembro do ano passado. Deixo claro que sua tentativa de desmoralizar a Re-vista, por sua vez tão acessível e democrática ao ponto de publicar tamanho absurdo, foi uma prática infeliz. Não acredito que a revista seja esquerdista. Em minha opinião, sua visão é na verdade, tão prática e verdadeira que deixa às claras o redemoinho de desilusões, a farsa e os interesses escusos de nossos “estimados” governantes. Isso não é comunismo, esquerd-ismo ou outra coisa do tipo. Infelizmente, é ver-dade pura!

Adalberto Campos, Florianópolis, SC.

Prezados Sr. da Redação da Revista Avesso

É com desgosto que me dirijo a vocês, pes-soas que considero de tão boa índole moral para expor meu profundo desprezo pela forma imoral como foi tratada a questão da sexuali-dade dos adolescentes que frequentam a praia de Copacabana. A meu ver é um disparate darmos de frente pelas ruas com meninos e meninas semidespidos. Não sou conservado-ra, apenas prezo pela moral e bons costumes nas gerações futuras, afi nal, se não pormos um freio neste trem de obscenidade que está prestes a descarrilar, meu Deus! Onde este mundo vai parar?

Adalgiza Rodrigues, Copacabana, RJ.

A Danilo Pimpão

Meus cumprimentos pela crônica apresentada na revista de janeiro sobre a lanchonete Bob´s. Sou frequentadora assídua do estabelecimento em Copacabana, desde sua inauguração, em 1952, e não havia pensado na questão explo-rada pela revista. Além de oferecer um cardá-pio delicioso, mas pouco saudável, a presença do Bob´s aqui em nossa terra pode ter função bem menos ingênua da que parece. Ah, sensa-cionais também são as demais crônicas sobre nosso modo carioca de ser. Abraço!

Anita Aguiar, Urca, RJ.

Amigos da Direção da revista Avesso

Gostaria de saber o que aconteceu com a seção “Biodiversidade Brasileira”, da Giovan-na Fernandes, que tratava da proteção de nossa fauna e fl ora. Era interessante e triste ver que muito do que temos de natureza vem sendo extinto. Tenho um fi lho de oito anos que se interessa muito pelo assunto, mas há três edições não vemos mais a seção. O que acon-teceu? Posso entender a ausência como uma retaliação pelo excesso de denúncias de atos impunes ao nosso meio? Considero a mesma uma grandiosa perda.

Joaquim Soares, Centro, SP.

com Leitor...

o

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elasmãos,

mais!tenista, que vem de uma sequência notável encaminha-se para o tradicional torneio de Wimbledon como favorita ao título na disputa de duplas que acontecerá na grama sagrada da terra da Rainha. Curiosamente, Maria Esther está inscrita no torneio ao lado de Althea Gibson, natural dos Estados Unidos da América. Logo, o bom senso nos faz ver que se trata apenas de um caso descomunal de talento norte-americano nos esportes praticados com as mãos. Os ingleses da América não levarão muito tempo para perceber sua vocação para o futebol e então viverão um momento de desengano esportivo nos moldes do que vivemos hoje.A nação tropical brasileira em dez anos será

a terra do tênis, do basquete, do boxe, do vôlei e do handball. Não demorará muito para que

os campos de futebol de várzea cedam lugar a quadras e vislumbro uma possível adaptação de nossos custosos estádios do “Vexame de 50” para a prática dos novos esportes da identidade nacional sessentista. Com certeza, com estes novos e corretos

rumos desportivos brasileiros poderemos ter as alegrias de uma nação campeã e esquecer as loucuras que nos levaram ao Maracanaço. O Brasil será campeão mundial no Maracanã, sim! Mas só quando o estádio acompanhar esta vanguarda desportiva manual e se adaptar a prática de um esporte de tais características. Do contrário, poderemos sonhar até depois do ano dois mil e não conseguiremos tal feito.Meter os pés pelas mãos, nunca mais! • •

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Finalmente vemos um rumo defi nitivo e vitorioso se encaminhando em nossa nação. A soberania do talento manual

põe-se, no âmbito do esportes, em seu merecido lugar de destaque. Quatro anos atrás estávamos vivendo o frenesi causado pelo delírio da população brasileira, que acreditava ser possível vencer a Taça Jules Rimet de futebol mundial. Nada mais do que mera persistência característica dos nascidos em nosso chão, já que em 1950 tivemos a prova cabal de que não nascemos pra isso.Felizmente temos presenciado acontecimentos

esportivos que mostram o verdadeiro talento de nossa nação e o único artifício capaz de nos colocar no rumo das vitórias mundiais: as mãos! Seja com Maria Esther Bueno no tênis de campo ou com Éder Jofre no boxe, vemos que

os tupiniquins, no exercício de suas habilidades manuais, estão prestes a se sagrar os novos campeões esportivos, deixando claro que precisamos de uma vez por todas abandonar a paixão pelo jogo de pés dos ingleses.Éder Jofre, jovem pugilista paulistano, tem

se destacado no boxe sul americano com sete vitórias consecutivas, sendo as últimas quatro conquistadas neste ano e todas por knock out. O atleta ainda este mês lutará pelo título da América do Sul, em Montevidéu, e já notamos superioridade em relação a seu rival Ruben Cáceres, o uruguaio. Coincidência? Apenas para os tolos que ainda não notaram a superioridade vizinha no futebol e nosso talento nato para os esportes dos membros superiores.Nossa querida garota Maria Esther Bueno,

Pésp

nunca

Danilo Pimpão

5

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6

E mais

uma vez,

AMADO! Sensual, forasteira e com jeito moleca, Gabriela só chega

em agosto mas já dá sinais de que veio para fi car. A nova

personagem de Jorge Amado, que cheira mais a pimenta que

canela, delineia nova fase da polêmica trajetória literária do

autor que seduz agora pela espontaneidade e desenvoltura de

personagens muito a frente de nosso tempo.

Notável pela beleza exuberante de um litoral extenso, cujo clima e solo outro-ra favoreceram o surgimento de vastas

plantações de cacau, componente indispen-sável para o luxo e a miséria da região, Ilhéus, musa inspiradora de Jorge Amado assiste este ano à publicação de mais uma história do ex-menino grapiúna, que com propriedade de quem viu de perto as contradições da terra, torna a relatar as belezas e pecados da cidade onde estreou os primeiros passos. Arriscando-se na mistura

extremamente inovadora que, como nin-guém sabe, leva cravo, canela, cacau, muita pimenta e azeite de dendê acrescentados ao Sol, areia branca, misticismo e, é claro, a bo-emia litorânea, o autor traz às prateleiras em agosto Gabriela, Cravo e Canela, título que dá vida à exótica e serelepe Gabriela, mais um de seus emblemáticos e, provavelmente, eternos personagens...para desespero das mulheres e deleite do público masculino!

Por Giovanna Fernandes

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Des

não foi em vão. “Sai vitoriosa por 6 à 3 e 6 à 4, nesse dia. Essa vitória foi uma grande alegria para mim, como atleta, pois seguia de uma série de outras vitórias em torneios nacionais, e me sentia, naquele momento, a melhor jogadora, achava que ninguém poderia me vencer.” Essa con-quista, logicamente, não foi o que aler-tou Esther do futuro caminho da carreira profi ssional. Pelo con-trário, encheu-a de confi ança, confi ança tamanha que a tirou do pódio em Wimble-don.“Por mais que uma

derrota seja desani-madora para o atleta, são com elas que cri-amos força para mel-horar.” conclui Esther. Com seu jeito afoba-

do de jogar, Esther irritou a todos que a assistiam em Wim-bledon. Pelas dez ho-ras de jogo na fi nal, a tenista perdeu a força em seu saque, e começou a errar os movimentos devido a impaciência. Os es-pectadores, cansados de torcer, deixaram a arena de jogos antes que a partida se en-cerrasse. O campe-onato não rendeu a Esther só o fracasso como também, sema-

nas de dores muscu-lares. “Saí da partida acabada.” “Precisei de quase uma semana para me recuperar completamente.” “Du-rante o jogo sentia ta-

manha exaustão, sa-bia que já durava pra lá de 8 horas e meu corpo pedia para que parasse, apesar da vontade de conquistar o título, não controlei minha cabeça e perdi a concentração.” A partida durou tan-

tas horas, pois a ITF, (federação internac-

ional de tênis) aboliu a regra que jogadores, clubes, e treinadores impuseram em 1937, o “tie-break”. Que de-fi ne: em caso de em-pate de 6 a 6, um

novo “game”, de ap-enas sete pontos, é iniciado, acabando quando um jogador conferir vantagem de dois pontos.O presidente da ITF

comentou a derrota da brasileira: “Maria Es-ther permanece lá, na quadra, sozinha, com o mundo aos seus

pés. Ela repete, ‘como é estranho, todas es-sas pessoas que eu não conheço estão me vaiando’”. “O prob-lema de Maria Esther é sua impaciência e falta de determinação, defi nitivamente ela não nasceu para ser atleta.” “Seu jogo é limpo, e apesar da qualidade, ela não tem cabeça capaz de controlar sua irritação durante as partidas.”Com essa inesper-

ada derrota, Esther-zinha foi eleita a sé-tima pior jogadora de tênis do mundo em um evento, promovido pela ITF, que ocor-reu em Londres dias atrás, que elege as dez piores da tempo-rada de Grand Slams.O novo vice-campe-

onato vai para um vasto hall de troféus de segundo lugar de torneios nacion-ais que Maria Esther possui em sua casa. “Esse aqui vai ter um lugar especial.” afi rma a campeã com lágri-mas no rosto. Maria Esther agora se pre-para para o Aberto de Roma que acontece em agosto. Prepare-mos-nos para mais uma decepção desta atleta inexperiente. •

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A paulista Maria Esther Bueno, de apenas 19

anos, perdeu no mês passado o que seria o primeiro título bra-sileiro no campeonato de tênis de Wimble-don, na Inglaterra, o mais antigo torneiro de tênis do mundo e por isso considerado o de maior prestígio, ao lado da norte-americana Althea Gibson. Esta, porém, não foi a primeira der-rota internacional em fi nais de Estherzinha, como é carinhosa-

mente chamada. No ano passado, Esther chegou a fi nal do Or-ange Bowl, nos Esta-dos Unidos, e perdeu no último “game”.A principal promes-

sa do tênis brasileiro, e uma das maiores do mundo, decep-cionou mais uma vez o povo brasileiro. Es-ther chegou ao país na última semana e foi recebida com muito choro e tristeza, cumprimentada pelo presidente, Juscelino Kubitschek que repe-tia incansavelmente:

“Mas que decepção, Estherzinha” e vaiada pelo público no de-sembarque. Em uma conversa

rápida com a revista Avesso, Esther con-tou histórias sur-preendentes sobre o início de sua carreira como atleta profi s-sional. Começou a jogar tênis aos cinco anos. Aos 11, disputou seu primeiro campe-onato. Porém, foi aos 13 anos, no Aberto de tênis da Cidade de Curitiba, em 1953, Maria Esther foi sur-

preendida ao colocar os pés no saibro do clube curitibano. Do outro lado da rede, Ilse Ribeiro, já uma senhora de 41 anos, desafi ava Estherzin-ha. “Eu confesso que me senti intimidada pela discrepância en-tre nossas idades, porém, sempre muito confi ante, não me deixei abater pelas aparências. Pensei comigo mesma ao en-trar em quadra: Essa senhora não tem chances.” disse Maria Esther. E sua bravura

O

Estherzinha, mais desconcentrada do que nunca, desapon-

tou, outra vez, a torcida brasileira em Wimbledon.

DesDesencantode

WimbledonPor Vitor Roque

7

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8

Como tradição literária, incansavelmente Jorge Amado chama a atenção para os prob-lemas sociais afl orados nos lugares onde pas-sou sua vida na juventude. Ilhéus possui, sem dúvida, a ambiência favorita! Vinte e cinco anos após a publicação de Cacau (1933), primeiro romance a ter como pano de fundo a terra do cacau, orgulho brasileiro no que diz respeito a disputas por poder, riqueza, exploração, misé-ria e vadiagem, Jorge Amado, em retribuição, volta-se pela trecentésima vez – desculpem a hipérbole! – à cidade para contar a história de Gabriela, uma retirante nordestina levada de uma feira para trabalhar na cozinha de um bar de Ilhéus. Com seu jeito simples e beleza provocante a moça desperta a cobiça dos ho-mens da cidade, dentre eles a do sírio Nacib, seu patrão, que inebriado pelo tempero e sen-sualidade da mestiça a agraciava com os mais sortidos cortejos.

Mulher boa na cama

e na cozinha, Gabriela

desperta a inveja das

ilheenses e enlouquece

os homens que frequen-

tam o Vesúvio.

Seduzida pela nova realidade, Gabriela ca-sa-se com Nacib. Entretanto, não prescinde do espírito rústico e aventureiro que a incita a frequentar outras camas. Mulher boa na cama e na cozinha, Gabriela desperta a inveja das ilheenses e enlouquece os homens que fre-quentam o Vesúvio se negando, portanto, a se subjugar à rotina do casamento: é dona de sua própria vontade e rapidamente se rende aos prazeres de uma vida libertina, conduta que entra em choque com as pretensões de Nacib e o conservadorismo machista de sua

época. Enquanto crítica social, Gabriela, Cravo e Canela preserva a ambiência cotidiana da Ilhéus dos anos 20, trazendo à tona as trans-formações nos costumes da engessada so-ciedade patriarcal baiana. O romance enfatiza ainda a modernização político-econômica que germinava na cidade ao relatar as peripécias do idealista Mundinho Falcão no enfrentamen-to dos governantes locais para trazer desen-volvimento a Ilhéus. Eis aí o tempero essencial que qualifi ca e apimenta a história: um misto da sensualidade tropical de Gabriela e seu ideal de liberdade, aliados à coragem, perseverança e heroísmo do sofredor e festivo povo baiano, ademais, do brasileiro num cenário extremo de adversidades. Mas combinemos: o entusiasmo do autor baiano tem a ver com o aclamado e embriagante ideário progressista atualmente enaltecido nos quatro cantos do país. Ludibri-ado pelo nacional-desenvolvimentismo do vis-lumbrado JK – que busca modernizar a carroça à moda estrangeira – Jorge Amado inaugura no

21

novos, que certamente sentirão o peso dob-rado de jogar ao lado de um cara como esse.Apesar da experiência, Nilton não sabe tudo, não é uma enciclopédia e muito menos será lembrado como um dos grandes laterais da história da seleção brasileira. E tenho dito!Alguns dados interessantes: dos 22 jogadores

convocados para disputar a Copa do Mundo da Suécia, 12 pertencem a times do Rio de Ja-neiro(1 do Fluminense, 3 do Vasco da Gama, 1 do Bangu, 4 do Botafogo e 3 do Flamengo) e os outros 10 são de equipes paulistas(2 do Corinthians, 1 da Portuguesa de Desportos, 3 do São Paulo,2 do Santos e 2 do Palmeiras). Esses dados demonstram o quão democrática essa seleção é, levando cada pedacinho do

Brasil para ser representado na grande festa! Afi nal, todos os estados estao aí, não é mes-mo?Segue a lista com os convocados: Goleiros:

Castilho e Gilmar; Zagueiros: Bellini, Zózimo, Mauro e Orlando; Laterais: Djalma Santos, Nilton Santos, De Sordi e Oreco; Meias: Dino, Didi, Moacir e Zito; Atacantes: Pelé, Zagallo, Garrincha, Vavá, Dida, Pepe e Joel. Técnico: Vicente Feola.O Brasil caiu no grupo 4, junto com União So-

viética, Inglaterra e Áustria. Grupo complicado que difi cilmente dará brechas para a seleção avançar, mesmo contando com alguns joga-dores consagrados em território nacional, pois todos nós sabemos que nossos campeonatos

não são parâmetro para medir qualidade em escala mundial.

Outros Destaques:

As pedreiras: a Alemanha Ocidental pinta como uma das favoritas após manter o time campeão mundial de quatro anos antes. Ape-sar de envelhecidos, todos nós sabemos que ninguém desaprende a jogar bola. A Hungria vem com um time mais fraco do que aquele de Puskas e companhia, mas ainda sim pos-sui uma bela equipe. A União Soviética, cre-

denciada pela medalha de ouro nas Olimpíadas de 1956, aparece como forte candidata ao título. A Inglaterra, fundadora do futebol, não passa por um bom momento: uma tragé-dia aérea, quatro meses atrás, matou 3 jogadores chave do time britânico, todos pertencentes ao Manchester United, que formavam a base da atual seleção inglesa.Transmissão: Assim como

na Copa anterior, a Copa do Mundo da Suécia tam-

bém será transmitida. Infelizmente, para nós, o Sputnik lançado pelos soviéticos só servirá para os países europeus. O resto do mundo, ncluindo nós, só poderá ver a Copa através da compra dos Kinescópios de cada um dos jogos. A Emissora de televisão Tupi já manifestou in-teresse em comprar os kinescópios dos jogos, tranqüilizando a população brasileira(que tem acesso à tv, obviamente).Final: A grande fi nal do evento será realizada

em local diferente dos demais jogos. Prevista para o dia 29 de Junho, o último jogo será reali-zado no Estádio Rasunda, em Estocolmo, com capacidade para 50.000 espectadores. •

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foram construídos exclusivamente para o evento(Tunavallen,Ullevi e Malmo Stadion) e um foi ampliado pelo mesmo motivo(Idrottsparken).Vale lembrar que para chegar até a Copa do

Mundo, as seleções devem passar por um classifi catório. Essa fase pré-Copa é chama-da de Eliminatórias e cada cotinente tem di-reito a um número determinado de vagas. A Europa(UEFA) tem direito a onze vagas, sendo duas delas automáticas, em função de abrigar o país sede e a atual campeã (Alemanha oci-dental).Os demais continentes lutam por migal-

has, pois sobram 5 vagas para as Américas, África e Ásia. A América do Sul(CONMEBOL) tem direito a três vagas; América Central, do Norte e Caribe(CONCACAF) tem direito a uma vaga; África e Ásia, continentes de dimensões pequenas, adivinhem... uma vaga! Mas, quan-do a esmola é demais, o santo desconfi a. A FIFA, a partir desse ano, ordenou que só pode-ria participar do evento as seleções que tives-sem feito e vencido pelo menos um jogo antes da Copa, em função das inúmeras desistên-

cias. Não deu outra: Israel, único sobrevivente da África/Ásia, perdeu sua vaga ao ser derro-tado duas vezes pelo País de Gales.O mais cu-rioso dessas eliminatórias foi a desistência das seleções árabes ao terem que enfrentar Israel, numa clara questão política que invade as qua-tro linha.

Falar de Brasil e de Copa é lugar comum para falar de choro, decepção, angústia e silêncio. Sim, meus caros, não vamos esquecer tão cedo a derrota na fi nal da Copa de 1950, no fa-moso “Maracanazzo”. Digam-me: por que deve-mos ter otimismo numa seleção que, jogando em casa e com o apoio de seus afi cionados, perdeu de virada para o Uruguai? Se o time com Zizinho,Friaça,Jair,Ademir e Nilton Santos não foi capaz de levantar a taça, por que de-veríamos confi ar em Didi,Zagallo,Garrincha e Zito?? Não é querer ser zeca pimenteira, mas acho que o Brasil deveria investir em outras frentes esportivas mais promissoras. O futebol, a longo prazo, deve ser facilmente superado por outras modalidades como o lançamento de dardos, o curling, a sinuca e o críquete, que está voltando aos seus áureos tempos.A novidade da vez é o guri Edson Arantes do

Nascimento, popularmente conhecido como Pelé. Revelação do Santos, é o jogador mais jovem a disputar uma Copa do Mundo. A ver-dade é que não dá pra entender como um téc-nico, aliás, uma comissão técnica, consegue trabalhar por quatro anos e chegar à brilhante conclusão de levar um moleque de dezessete anos para uma Copa do Mundo, depositando todas as esperanças em um rapaz que nem ti-rar carteira de motorista pode ainda. Tratando-se de Brasil, a gente nem estranha! Tudo é feito sempre às pressas, de qualquer jeito, as vezes até de má vontade. Por que achar que no fute-bol as coisas seriam diferentes? A insistência com a convocação do lateral

Nilton Santos, remanescente do fracasso de 50, incomoda também. Um jogador com toda a carga negativa de uma copa dramática para os brasileiros pode não fazer bem aos mais

E o Brasil?

9

novo texto uma fase que, embora não rompa efetivamente com a denúncia social sem efei-tos, abraça com ênfase a disputa entre o atra-so e o quimérico progresso exaltado em um país que se lança sem armas próprias ao que chamam de desenvolvimento. Curioso nisso tudo é a bajulação ao progres-

so partir também daquele que desde os vinte anos já marchava pela causa comunista. Nada contra a tal modernização, óbvio. Na verdade, já era hora! Mas reconhecemos o papel funda-mental da bagagem adquirida na velha aliança para a composição de uma literatura crítica e verossímil, cuja linguagem coloquial, espon-tânea e de fácil entendimento atinge o público em geral, inclusive a grande massa semianalfa-beta que, condenada a uma vida enredada em privações, mal se acostuma com os vocábulos rebuscados dos exímios literários os quais, como se bem sabe, quase ninguém entende.Preso diversas vezes e perseguido pelo con-

teúdo “subversivo” de seus textos, Jorge Ama-do dá indícios de que cansou da vida animada

por exílios e fugas decorrentes de suas petu-lantes e infl amadas publicações em épocas de militância política afi ada junto ao Partido Comunista Brasileiro – de quem, como se vê, tem se distanciado. Mas lhe rende o crédito de nunca ter se visto intimidado frente ao ritual de ameaças e perseguições que sofrera, como a queima de exemplares seus na Salvador e da invasão de sua casa do Rio de Janeiro pela polícia, eventos que nem tampouco o afastou de premiações pelo seu modo de ser literário o qual, é bem certo, soube desagradar os que se punham na trincheira ideológica oposta, mas que também lhe rendeu premiações de porte como os Prêmios Graça Aranha, em 1936, e a mais alta condecoração concedida pelo gov-erno soviético, o Stalin da Paz, em Moscou, há sete anos.

Sensualidade e coragem apimentam Gabriela.

Depois da afamada trilogia Subterrâneos da Liberdade, que relata a luta dos revolucionários junto ao PCB contra a ditadura do Estado Novo, Jorge Amado espera surpreender este ano com a publicação de leitura inovadora, quase des-vinculada de sua usual trajetória e que, como apregoa, retrata as transformações sociocul-turais de nosso tempo com foco nas conquistas da mulher brasileira numa sociedade hostil a ela e carregada de preceitos morais hipócritas. Está no espírito livre e desapegado de Gabriela a ruptura com a servidão doméstica que ainda hoje impera? Jorge Amado adora mexer em vespeiro... Mais uma travessura do ex-menino grapiúna! Sendo assim, eis a polêmica: apolo-gia à depravação ou mostra da realidade social que vagarosa, como tudo no Brasil, dá liber-dade e autonomia para se pensar, agir e falar? Sem mais, o romance fresquinho fi nalizado este mês na calma Petrópolis, RJ, merece gas-to de tempo para ser lido, amado ou repudiado. Está dada a dica, aguarde, confi ra e mais uma vez divirta-se com o odiado e, por vezes, ama-do Jorge! •

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10

OSCARITO O REI DA

CHANCHADA

Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepción Teresa Dias, mais conheci-

do como Oscarito, tem muita fama pelo Brasil devido as suas atuações em pro-

duções cinematográfi cas chamadas chanchadas. Suas atuações cômicas e suas

caras e bocas são os principais chamativos dos fi lmes da Atlântida. Com 51 anos,

é ator, comediante e compositor. De família circense, ele tem a alma da comédia.

É consagrado além dos fi lmes por trabalhos em Teatro de Revista.

Quando começou seu interesse por essa

arte da comédia, a arte de atuar?

Na verdade nasci no meio da arte, venho de uma família circense, temos 400 anos de tra-dição no circo. Já na minha infância comecei a trabalhar nisso. Fiz de tudo, fui palhaço, tra-pezista, acrobata. Foi no circo onde comecei a atuar, aos cinco anos participei de uma adap-tação do romance O Guarani. No meio de tanta arte, seria impossível seguir outro caminho, as artes e o entretenimento já vieram comigo no sangue, é bem que um dom.

Além do Circo, e sua carreira de ator, o que

mais já fez?

Trabalhei em muitos meios, mas todos relacio-nados à arte. Já compus e componho músicas, trilhas sonoras para fi lmes, inclusive os quais eu mesmo atuo. Também já fui violinista em salas de projeção na época do cinema mudo, sabe? Porém o que me identifi co e amo mesmo é a comédia. Gosto de parodiar, de satirizar, de tirar sarro de pessoas e de outras produções.

E sobre trabalhar em fi lmes, como posso

dizer, sérios e decentes, pretende?

Bem, meus trabalhos são sérios, mas se quis se referir a produções fora da comédia, já atuei, já trabalhei como galã e já trabalhei nos Teatros de Revista. Nossas chanchadas são trabalhos

Por Yuri Pereira

19

s passos em terras escandinavas... e o Brasil com isso?

M

FESTAticipantes e o resto. Alguns chamam de euro-centrismo, mas é preferível se reter à questão óbvia: o maior continente em extensão tem o maior número de seleções, ora!(ou será que não??? Manter-me-ei neutro...)O formato de disputa será a mescla do for-

mato de grupos com o formato de mata-mata. Serão constituídos quatro grupos de quatro equipes, onde todos deverão se enfrentar em turno único e os dois melhores times passarão à próxima fase. Em caso de empate, valerá a regra do saldo de gols. Persistindo o empate, a classifi cação para a fase seguinte será feita através de sorteio(justo, não?). Após essa eta-

pa, começa a fase de mata-mata, constituindo-se em quartas de fi nal, semifi nal e fi nal.Um total de doze estádios foram selecio-

nados para sediar os jogos,sendo cada um deles pertencente à cidades diferentes.São elas : Borås- Estádio Ryavallen,Eskilstuna - Estádio Tunavallen,Gotemburgo - Estádio Ullevi,Halmstad - Estádio Örjans Vall,Helsingborg - Estádio Olympia,Malmö - Malmö Stadion ,Norrköping - Estádio Idrottsparken*,Örebro - Estádio Eyravallen,Sandviken - Estádio Jernvallen,Solna - Estádio Råsunda,Uddevalla - Estádio Rimnersvallen e Västerås - Estádio Arosvallen. Dentre os doze estádios, três

Page 11: Revista Avesso

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A grande festa do futebol começa a dar seus primeiros

Daqui a dois meses, terá início a sexta edição da Copa do Mundo de Futebol, organizada pela FIFA, entidade re-

sponsável pelo controle do esporte em escala mundial. A Suécia, país-sede, mostra-se muito confi ante na possibilidade de desempenhar um bom papel no evento, tanto pelo futebol quanto à organização, afi nal, sediar um evento desse porte não é papel simples.A abertura da Copa será no dia 8 de junho e

sua duração será de 22 dias, sendo a grande fi nal no dia 29 de junho. Dezesseis seleções farão parte da competição, numa justa dis-tribuição de equipes por continente: África-0

participantes, desponta como uma das favori-tas; Ásia – 0 participantes, grandes possibili-dades de termos um time zebra/azarão(nunca se sabe); Américas – 4 participantes: Brasil,Argentina,Paraguai e México(estranha-se a ausência do Uruguai, bicampeão mun-dial e semifi nalista na última Copa, na Suíça); Europa – 12 participantes: Suécia,Alemanha Ocidental, Áustria, França,Tchecoslováquia, Hungria, União Soviética,Iugoslávia, Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia,País de Gales.Podemos perceber, de uma maneira bem

sutil, que existe uma certa discrepância em relação ao número de seleções européias par-

SUÉCIAE

FPor: Jarbas Moreira

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sérios, bem feitos, a diferença é que temos a intenção de entreter, divertir e fazer rir.

Bem, sobre os fi l-

mes da Atlântida, a

que você atribui o

sucesso desse cine-

ma fora dos padrões

americanos?

Acho que os fi lmes da Atlântida consegui-ram sucesso e publi-co por abordar temas mais comuns, temas do cotidiano. O que a gente representa, atrai as pessoas, pois fazem a maioria se identifi car. Queremos um cinema demo-crático, que agrade a maioria, seja bem acessível, nada para elites industriais. Fa-zemos cinema para o povo. São temas bem brasileiros, carna-valescos, utilizamos marchas e sambas em nossas trilhas, tudo que faça o povo se sentir vivendo no fi lme. Também tra-balhamos com muita alegria e humor, sati-rizando e parodiando sucessos do cinema estrangeiro.

Fazem um cinema

mais acessível, por

isso a baixa quali-

dade técnica das fi l-

magens, cenários e

fi gurino?

Bem, a qualidade técnica é o de menos, temos nossas limita-

ções, tornam nossas obras mais baratas, entretanto fazemos tudo com profi ssiona-lismo e amor. Quando o conteúdo, o enredo é bom, a técnica é o de menos. Se con-seguirmos divertir as pessoas e levar ale-gria, nosso objetivo é alcançado.

O elenco também

é sempre repetido,

inclusive, em quase

todos os fi lmes tem

sempre a mesma

dupla, formada por

você e Grande Ote-

lo, como é a relação

de vocês, há algu-

ma disputa entre os

dois?

Nossa relação não poderia ser melhor, além de ser meu par-ceiro nas produções, somos grandes ami-gos fora das fi lma-gens também. Acho que temos uma gran-de sincronia, nos en-tendemos muito bem nas cenas. É maravi-lhoso trabalhar com uma pessoa como ele. Tudo que fazemos juntos é pura diver-são. Não há disputa alguma, nossas

qualidades em cena se completam, ele é hilário e é também uma grande pessoa.

E essa ideia de

parodiar fi lmes de

Hollywood, não con-

seguem criar algo a

partir do zero?

A graça é exatamen-te a paródia, em pe-garmos a ideia ame-ricana e trazer para realidade brasileira, fazendo do nosso jei-to, engraçado, cômi-co, usamos a chan-chada para uma fuga da formalidade do cinema estrangeiro, precisamos de obras carnavalescas, com a verdadeira cara do Brasil.

E sobre a Vera Cruz,

por que não con-

seguiram sucesso

como a Atlântida,

seus fi lmes eram

ruins?

Os fi lmes da Vera Cruz passaram por muitos problemas, as obras eram muito boas, mas enfrenta-ram concorrência com o cinema exterior, ti-veram problemas com a distribuição, e as qualidades técnicas que aplicaram nas produções, não tive-ram retorno em bilhe-teria. Bem, acho

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que faltou sorte, pois tinham muita competên-cia com toda a indústria cinematográfi ca que estruturaram, porém não conseguiram retorno.

Pretende trabalhar fora da comédia, em ou-

tros fi lmes além de chanchadas?

Não, não. Minha vida é a comédia, é o que amo fazer. Gosto de fazer as pessoas rirem, gargalharem, meu sangue é cômico, minha alma é de palhaço. Já não me vejo em outra área, sem ser a comédia, vou fazê-la para o resto da vida.

Já recebeu propostas para fazer cinema

em Hollywood ou na Europa?

Já sim, mas não saio do Brasil, quero conti-nuar aqui fazendo o que gosto, eu levo o cine-ma mais como paixão que como ofício. Minha diversão é entreter o povo brasileiro, fazer car-naval.

Então podemos esperar próximas produ-

ções da Atlântida, e sempre com Grande

Otelo, certo?

Vamos continuar com nossas produções, sempre será uma honra trabalhar com Grande Otelo, espero ainda trabalharmos muito, ainda levarmos muitos risos e diversão às pessoas. •

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É NOTÍCIA

União

União Soviética e Estados Unidos continuam sua disputa particular

em busca dos avanços tecnológicos

PPassado o fi m da Segunda Guerra Mun-dial, dizem as más línguas que o mundo anda tendendo para uma polarização.

Esses pólos seriam a famigerada URSS e o todo poderoso Estados Unidos. Alguns acreditam que esses países estão numa es-pécie de guerra não declarada, buscando ex-pandir suas áreas de infl uência e assumir o posto de líder global. Na opinião deste humilde jornalista, as coisas não são bem assim.É necessário entendermos que o mundo não

gira em torno do dinheiro. Países de maior po-tencial fi nanceiro têm como prioridade ajudar os mais necessitados, numa clara tentativa de balancear a distribuição de renda e a qualidade de vida. Feita essa ressalva, vamos ao que in-teressa. Não existe uma “corrida tecnológica”! EUA e

URSS estão apenas exercendo seus respec-tivos papéis de potências e investindo na área da pesquisa e da tecnologia, em busca de avanços que possam ser úteis não só a eles como a todo mundo. Esses dois países têm plena consciência dos benefícios que ambos podem trazer a toda humanidade. É a famosa disputa sadia, aquela rivalidade que só faz bem para todos os envolvidos. Falando em termos práticos, temos avanços

signifi cativos na esfera soviética. O Sputnik III,

recém lançado, mostra o progresso dos russos na questão espacial. Trata-se de um laboratório de estudo do campo magnético e do cinturão radiativo da Terra. Após o sucesso dos Sputnik I e II, a URSS mostra que continua fi rme e forte na área da pesquisa espacial. Já pelas bandas americanas, a área espacial

também parece ser, coincidentemente, o alvo principal. A NASA, nome de um possível pro-jeto de laboratório norte-americano para estu-dos e ações espaciais, surge como a grande “concorrente” dos centros de pesquisa soviéti-cos. Americanos buscam superar a expedição Sputnik II, que levou a cadela Laika para uma viagem espacial, com um audacioso plano de levar o homem para a lua, previsto para daqui há mais ou menos dez anos. Sinceramente, essa é uma das idéias mais fantasiosas que poderia existir e o comentário geral nos Esta-dos Unidos é de que tal história não passa de uma fábula mal feita. Eu, que acredito em Papai Noel, dou meu voto de confi ança para os ilust-ríssimos cientistas norte-americanos.A população mundial assiste essa bela dis-

puta dos parceiros soviéticos e americanos, torcendo pra que a rivalidade entre eles con-tinue assim: sadia, inteligente e sem segun-das intenções(mesmo que, muitas vezes, essa relação se mostre um tanto quanto fria...). •

Por Jarbas Moreira

StávelE

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No último fi nal de semana aconteceu em Long Beach, E.U.A., o concurso Miss Universo. Mas a representante

brasileira Adalgisa Colombo fi cou longe de trazer o título para casa. Deselegante e fora do padrão, a modelo foi desclassifi cada na primeira eliminatória do concurso, logo após o desfi le em roupas de banho. Os jurados fi caram estarrecidos com a ousadia

da brasileira que, apresentando conduta julgada “inadequada” pelos organizadores do evento, desfi lou com um maiô que deixava à mostra todos seus defeitos: celulites, varizes e estrias sobravam nas coxas roliças de Adalgisa. Sua barriga também saltava sobre os elásticos da minúscula peça. Mesmo antes do concurso era claro que a

brasileira não seguia os padrões de beleza da maioria. As modelos altas e de silhueta esguia predominavam no “resort” onde fi caram hospedadas as concorrentes. Para prejudicar ainda mais o desempenho de Adalgisa em Long Beach, a participante chegou à cidade dois dias depois do resto das modelos sob o discurso de que estava no Brasil se “recuperando do carnaval”. Tal comportamento

alarmou os jurados sobre o que estava por vir. A estada da modelo foi conturbada. Adalgisa

foi perseguida por fotógrafos e organizadores do evento vinte e quatro horas por dia no hotel onde fi cou instalada. A modelo se mostrou irritada com a presença dos repórteres. Tentou, por exemplo, tomar Sol à beira da piscina, mas assim que tirou o vestido e mostrou seu corpo acima do peso para as lentes dos fotógrafos, risadas ofensivas foram ouvidas do outro lado da piscina. Depois desse incidente, Adalgisa permaneceu

em sua suíte saindo apenas para as reuniões do concurso. Toda essa agitação em torno da péssima forma da modelo deu início a especulações sobre sua dieta e rotina de exercícios. Nos registros da suíte de Adalgisa constavam doces e bebidas alcoólicas, para a felicidade dos repórteres internacionais, que publicaram notícias agressivas nos jornais locais. Na noite do concurso, apesar exaustão

provocada pelos três dias sob o foco dos jornalistas, Adalgisa chegou confi ante ao auditório. Porém, em vão. Suas concorrentes eram “muito mais belas”, como disse um dos

Miss, ?

Brasil ?

Atual Miss Brasil exibe péssima forma em concurso de beleza

internacional

Por Vitor Roque

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jurados no fi m do evento. Debateu-se, então, nos dias seguintes sobre

as possibilidades de alguém tão fora dos padrões de beleza ser eleita Miss Brasil. Seria o padrão de beleza brasileiro diferente ou a condição de modelo de Adalgisa não passa de um grande equivoco? A análise a respeito das misses brasileiras dos últimos cinco anos e as misses americanas mostra que ouve mudança do padrão internacional de beleza: a mulher ideal emagreceu, ganhou altura e perdeu a silhueta. No Brasil essa mudança ainda não aconteceu, a mulher ideal continua com o corpo violão, ainda bem! •

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Tom Jobim e Vinicius de Morais, expoentes da Bossa Nova,

apresentam no dia 28/05 o show do disco “Canção do Amor

Demais”, o primeiro do gênero. Com participação de Elizeth

Cardoso e João Gilberto, o disco irá surpreender a geração

embalada pelo rock’n’roll estrangeiro.

Na próxima sexta-feira acontece a estreia do fi lme O Grande

Momento, de Roberto Santos. Estrelado por Gianfrancesco

Guarnieri e Miriam Pérsia, o longa vem sendo criticado des-

de sua pré-estreia em São Paulo por intelectuais que partici-

param do evento. Com uma proposta realista e denunciativa

o fi lme segue o padrão do Cinema Novo na precariedade da

produção, é o que dizem.

O Museu de Arte Moderna do Rio exibe a partir de Domingo

uma retrospectiva da trajetória de Tarsila do Amaral. Com os

principais quadros da artista, o conceito da exposição é apre-

sentar de forma sintética e impactante o desenvolvimento das

obras de Tarsila e suas mudanças, relacionando-as com sua

vida particular e contexto social de cada época.

Programação Cultural