Revista AMANHÃ: Especial Exportação

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Abril 2014 | AMANHÃ | 20 | Abril 2014 | AMANHÃ | 20 | Especial Reconhecimento global: maior exportadora do sul do país, a BRF é uma das poucas empresas que chegam lá fora com uma marca própria

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Especial

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Reconhecimento global: maior exportadora do sul do país, a BRF é uma das poucas empresas que chegam lá fora com uma marca própria

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Q

farta no campo e com uma taxa de câm-bio um pouco mais favorável, o quadro mudou totalmente. As exportações da região deram um salto de 18,1% em rela-ção a 2012, chegando a US$ 52 bilhões, o equivalente a um quinto de tudo que o Brasil embarcou no período. De quebra, o saldo da balança comercial voltou a ficar positivo em US$ 1,1 bilhão.

O problema é que a dependência em relação às exportações de commodities submete o sul – e o restante do país – a um rol de incertezas. Uma estiagem, aqui, provoca mais do que prejuízos para os produtores: também desequilibra a quan-tidade de dinheiro que entra e sai do país e, em última análise, afeta os índices da infla-ção, das taxas de juros e, claro, do câmbio. Some-se a isso um mercado doméstico ávido por consumo e o resultado é uma ele-vação geral dos preços e, principalmente, dos custos de produção. “Não é por menos que temos tanta dificuldade para expandir o espaço da indústria na pauta brasileira de exportações”, constata José Augusto

RANKING DE AMANHÃ MOSTRA QUAIS SÃO AS MAIORES EXPORTADORAS DO SUL DO PAÍS – E OS DESAFIOS QUE ENFRENTAM PARA CRESCER LÁ FORA

{Edição: Andreas MüllerReportagens: Ricardo Lacerda, Robson Pandolfi, Pedro Henrique Tavares, Leonardo Pujol e Emanuel Neves}

QUEM EXPORTOU MAIS EM 2013 Exportações totais dos três Estados do sul, em US$ bilhões FOB

18,28,7

25,0RIO GRANDE DO SUL PARANÁ

SANTA CATARINA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – Secex

ue o agronegócio tem um peso considerável no desempenho da

balança comercial do sul do país, não é nenhuma novidade. O que surpreende é o fato de que, mesmo com todos os esforços para agregar valor aos embarques, os três Estados continuem tão vulneráveis ao ta-manho de suas colheitas. Basta conferir os números mais recentes disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que servem de base para a elaboração desta edição do Especial Exportação. Em 2012, quando uma estiagem arrasou a safra de grãos, provocando perdas que chegaram a mais de 70% da colheita, o sul do país amargou um déficit comercial de US$ 5,2 bilhões – o maior desde o início da série histórica do MDIC, em 1998. No ano seguinte, porém, com a produção

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de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Só em 2013, lembra ele, o país registrou um défi cit comercial de US$ 105 bilhões no segmento de produtos manufaturados. E não há qualquer perspectiva de que essa conta vá melhorar no futuro próximo. “Enquanto não resolvermos os nossos problemas estruturais e continuarmos apostando em medidas paliativas, como reduções temporárias de impostos, não vamos ter uma participação expressiva no comércio internacional”, lamenta ele.

Nesse contexto, as empresas que despontam nas próximas páginas são ex-ceções admiráveis. Trata-se, afi nal, de uma pequena elite de indústrias que conseguiu romper as barreiras conjunturais e se inse-rir com qualidade nos fl uxos de comércio internacional. Com base nos dados do governo federal, AMANHÃ elaborou um ranking exclusivo que aponta quais são as que mais exportam e importam pelo sul do país. É bem verdade que muitas ainda dependem diretamente do campo para prosperar – como é o caso das tradings e cooperativas que comercializam grãos e carnes in natura. Mas algumas já per-ceberam que industrializar a produção é o melhor caminho para rentabilizar as exportações e buscar um espaço mais digno nos mercados estrangeiros.

O melhor exemplo é a grande campeã do ranking, a Brasil Foods (BRF). Sob a liderança do empresário Abílio Diniz desde maio de 2013, a multinacional que agrega as marcas Sadia e Perdigão está passando por uma verdadeira reestruturação comercial. O objetivo: fortalecer suas operações no exterior com algo mais do que carne de frango. Como se verá na reportagem a seguir, Diniz não tem sido suave nas mu-danças implementadas na gestão da BRF. No mercado, diz-se que a companhia está passando por um processo de “Sadização”. Isto é: resgatando a agressividade comercial e a cultura que consagrou a Sadia como uma das grandes marcas brasileiras no exterior.

EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL DE SANTA CATARINA * Valores em US$ bilhões FOB

EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL DO PARANÁ * Valores em US$ bilhões FOB

EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL DO RIO GRANDE DO SUL * Valores em US$ bilhões FOB

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2012

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2012

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2012

EXPORTADORES DO SUL

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A BRF não é a única. Além dela, aparecem no ranking diversas outras em-presas de alimentos – como Bunge, Seara, Coamo, JBS Aves e Santa Teresinha. Quase todas vêm registrando bons resultados no comércio com outros países, com opera-ções que não se restringem ao simples ato de produzir e vender grãos e carnes. Mas ainda são poucas as que conseguem, como a BRF, apostar na construção de uma mar-ca própria. A Cooperativa Central Aurora (Aurora Alimentos), do oeste de Santa Catarina, por exemplo, exportou mais de

“É DIFÍCIL BANCAR CUSTOS QUE OS CONCORRENTES LÁ FORA NÃO TÊM. MAS NOS SAÍMOS BEM PORQUE TEMOS UM MODELO ÚNICO DE OPERAÇÃO, COM ESCALA E VERTICALIZAÇÃO”

Luis Gustavo Lopes Iensen, Diretor corporativo internacional da Weg

US$ 412,2 milhões em 2013, um avanço de 32,3% em relação ao total embarcado no ano anterior. Segundo Leomar Somensi, diretor comercial da cooperativa, o salto se deve a uma questão meramente conjuntu-ral: nunca o Brasil vendeu tanta carne de frango lá fora. “Hoje, o país exporta a pro-teína para mais de 160 destinos no mun-do – e nós fazemos parte desse processo”, conta ele. As vendas com marca própria ainda são escassas e representam não mais do que 4% do total. De qualquer forma, a Aurora está determinada a expandir seus

resultados fora das fronteiras brasileiras. “Neste ano, tínhamos a meta de obter 15% da nossa receita bruta com as exportações. Acabamos fechando em 18%. Ou seja: dá para crescer mesmo sem ter uma marca própria lá fora”, diz Somensi.

Articular-se é precisoÉ claro que o ranking dos maiores

exportadores do sul também traz indús-trias especializadas em itens de alto valor agregado. Na lista aparecem montadoras de veículos (Renault, Volvo, General Motors), fabricantes de máquinas e equi-pamentos (Weg, Embraco e Whirlpool), companhias ligadas ao setor petrolífero (Braskem e Petrobras) e muitas outras. Estas, porém, apresentaram resultados menos vistosos do que aquelas compa-nhias que atuam com commodities. A Whirlpool, por exemplo, encerrou 2013 com uma queda de 14,8% nas exportações pelo sul. Já a Tupy registrou um recuo de 5,6%, enquanto Weg teve um decréscimo de 1,7% nos embarques. E a explicação recai não só sobre a tradicional burocracia ou sobre a precariedade da infraestrutura do país. Ela também passa por um dos pontos fracos do Brasil na atual conjun-tura global: a falta de acordos bilaterais de comércio.

Carga instável: a soja em grão tem peso cada vez maior no desempenho dos exportadores do sul

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Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington, acredita que o país está fi cando isolado no jogo do comércio internacional. “Temos de acompanhar mais de perto as negocia-ções e os acordos de livre comércio que outros países concorrentes vêm fi rman-do com mercados desenvolvidos, como os Estados Unidos e a União Europeia. Hoje, estamos totalmente fora disso – até porque não temos competitividade para buscar uma inserção maior”, avalia Bar-bosa, que preside o Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, em São Paulo. Para reverter esse quadro, o Brasil tem de promover uma verdadeira campanha pela redução de custos internos e a busca de maiores patamares de efi ciência. “A má-quina burocrática, o alto custo da mão de obra e da energia, a inefi ciência dos portos – tudo que representa o custo-Brasil tem de ser atacado para que possamos recuperar a competitividade das nossas indústrias”, entende ele. Luis Gustavo Lopes Iensen, diretor corporativo da Weg, concorda: “É dif ícil bancar custos que os concorrentes

lá fora não têm. Nos saímos bem porque temos um modelo único de operação, com escala e verticalização”.

Uma revisão no MercosulPara que mais empresas consigam

triunfar lá fora, o Brasil também precisa rever sua relação com o Mercosul. Hoje, diz Barbosa, o bloco sul-americano é mui-tas vezes um empecilho, e nem sempre um impulso à expansão das exportações brasileiras. Pelas regras acordadas, o Brasil não pode negociar acordos bilaterais com nenhum outro país sem ter a bênção de to-dos os integrantes do Mercosul. O resultado é que o país fi ca à margem das conversações que as demais potências vêm travando entre si. Mesmo as negociações em bloco, como a tentativa de um acordo bilateral entre o Mercosul e a União Europeia, esbarram na necessidade de se ter o consenso de países como o Paraguai e, principalmente, a Ar-gentina. “A gente entende que o Mercosul deveria voltar a ser o que era quando foi concebido: um instrumento de abertura de portas no mercado externo. Um acordo

que nos ajude a negociar com os mercados desenvolvidos e a colocar em prática po-líticas de diversifi cação das exportações”, defende Barbosa.

Aliás, os impasses entre os países--membros do Mercosul afetam até mesmo aquelas empresas que chegaram ao Brasil dispostas a explorar as oportunidades do bloco, como é o caso da Renault. Sétima maior exportadora do sul do país, a mon-tadora mantém uma cadeia de produção com unidades fabris no Brasil e na Argen-tina. “É uma questão estratégica. Cada país fabrica determinados produtos e, juntos, eles se complementam”, explica Caíque Fer-reira, diretor de comunicação da Renault do Brasil. Ele não comenta as barreiras alfandegárias que têm sido colocadas pela Argentina aos produtos brasileiros. Mas sabe-se que a Renault, assim como outras companhias – entre vinícolas, indústrias calçadistas etc –, estão sofrendo para manter as vendas no mercado argentino. Como se verá a seguir, este é apenas um dos grandes desafi os no caminho das maiores exportadoras da região sul.

Fora do time: amarrado ao Mercosul, o Brasil tem difi culdades para negociar acordos com mercados desenvolvidos, como a União Europeia

EXPORTADORES DO SUL

Alain Jocard/AFP

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A receita quevem de fora

de operações internacionais a acordos comerciais, o que há em comum entre as empresas que lideram o ranking das grandes exportadoras do sul

Olhos no exterior: sob o comando de abílio Diniz, a BrF, maior exportadora do sul, deve se tornar ainda mais agressiva lá fora

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Brasil Foods não é mais a mesma. Maior exportadora do sul do país,

a companhia vem passando por profun-das transformações sob o comando do empresário Abilio Diniz, atual presidente do conselho de administração. Descrito como um sujeito ambicioso e competitivo, Diniz não hesitou em deixar sua marca. Quase todos os executivos, incluindo o ex-presidente José Antônio do Prado Fay, foram substituídos. Tudo para “arrumar a casa”, como chegou a justifi car durante uma conferência com investidores e analistas de mercado no fi nal de 2013, ao término de mais um trimestre decepcionante – com lucros 60% menores do que os do quarto trimestre de 2012. “A companhia precisava receber um choque de rejuvenescimento, e foi isso que procuramos fazer: colocar as pessoas certas nos lugares certos e reor-ganizar nossos processos”, afi rmou Diniz, de 77 anos.

Nos primeiros 100 dias de sua ges-tão, Diniz montou uma equipe de 70 a 80 executivos para pensar em um projeto de reestruturação – ou, nas suas palavras, para “desentortar” a empresa. Um dos fo-cos era tornar a BRF uma empresa mais comercial e menos industrial. “Antes de Abilio Diniz assumir a presidência do conselho, a BRF era conhecida por seu foco na produção. A meta da nova gestão é mudar esse foco para o mercado, com uma internacionalização cada vez mais forte”, analisa Sandra Peres, analista-chefe da corretora de investimentos Coinva-lores. Para dar vida à estratégia, foi ins-tituído um novo cargo, o de presidente executivo internacional, ocupado por Pedro Faria, da agência de investimentos Tarpon, que patrocinou a ida de Abilio ao conselho.

Com a casa arrumada, a BRF entra em 2014 com um foco na expansão de suas operações no exterior – um sinal claro de que deve manter a liderança no ranking dos maiores exportadores do sul. E isso pode levá-la a um retorno às suas

raízes – um processo conhecido como reverse takeover. Os executivos remanes-centes da Sadia já foram todos embora, mas a BRF vive uma reaproximação com a velha marca, em um processo que já recebeu até nome: “sadização”. “No mer-cado internacional, a BRF é líder com a marca Sadia em diversas categorias em países do Oriente Médio. A marca tem também grande força em países da África”, explica Augusto Ribeiro, vice--presidente de fi nanças e relações com Investidores da BRF.

A BRF surgiu para desvincular as operações da Sadia e da Perdigão. O reconhecimento internacional da Sadia, no entanto, pode encurtar o caminho do conglomerado para atingir e preservar a liderança das vendas em mercados externos. Nos últimos anos, além da am-pliação da equipe de vendas em diversos países, a BRF criou um departamento regional de marketing – que, em 2013, desenvolveu várias campanhas focadas na marca Sadia. “Em Dubai e em outros países árabes, o frango é conhecido pela palavra “sadia”. O foco de internacionali-zação, por isso, vai ser o o fortalecimento da Sadia lá fora”, projeta Sandra, da Coin-valores. “O Brasil já não cresce como antigamente, a infl ação compromete a renda da população. A BRF está focando em mercados com maior potencial de crescimento e, no próximo trimestre, deve apresentar resultados mais robus-tos”, aposta ela.

Mesmo com resultados fracos no segundo semestre – em função, prin-cipalmente, dos custos operacionais

A resultantes da reestruturação –, a BRF encerrou 2013 com um crescimento moderado: alta de 7% na receita líquida em relação ao ano anterior. Menos mal que o lucro líquido da empresa atingiu R$ 1,1 bilhão, um acréscimo de 38% em relação ao ano anterior, com um crescimento da margem líquida de 2,7% para 3,5%. O mercado externo absorveu 43,8% das vendas. Foram exportadas, ao todo, 2,5 milhões de toneladas, com um crescimento de 1,5% em relação ao ano anterior. No acumulado do ano, houve melhora tanto em relação ao volume de exportação (19,5%) quanto ao fatura-mento em dólares (13,6%).

Para 2014, a grande novidade é a fábrica em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, a primeira construída pela BRF fora do Brasil. “É um dos prin-cipais pilares da estratégia de investir em produtos processados, com marca forte, maior valor agregado e rentabilidade, em mercados em franca expansão, como Oriente Médio, norte da África e su-deste da Ásia”, destacou Abilio Diniz em um comunicado aos acionistas. “A BRF quer passar de companhia exportadora a produtora global. Essa transformação deve ser feita, principalmente, com aqui-sições. Trabalhar a internacionalização será muito positivo para a BRF, pois a empresa irá se desenvolver mais ainda e vai colher experiências de fora para dentro”, diz Augusto Ribeiro. Ele admite que a BRF vem passando por mudanças importantes. Mas se mostra otimista com os contornos que ela começa a tomar – de uma companhia globalizada

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da receita bruta da Brasil Foods veio do exterior em 2013

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não só nas vendas, mas também nas ope-rações. “Nosso objetivo é atuar com pro-fundo conhecimento dos consumidores e clientes locais nos mercados defi nidos como estratégicos, ao mesmo tempo em que replicamos nesses mercados os pilares do modelo de atuação da BRF”, diz Ribeiro.

Cooperativas ganham espaçoNo lastro da BRF, outras empresas

do ramo de alimentos vêm buscando espaço no mercado externo. O conjunto das exportações da Cooperativa Cen-tral Aurora Alimentos cresceu 46,7% e atingiu R$ 1,5 bilhão em 2013. Ásia, Japão, África, Europa e Oriente Médio foram responsáveis por três quartos das vendas. E o grande vetor do crescimen-to foi a carne de frango, cuja receita se expandiu em mais de 60%. “Ampliamos nosso foco em proteína de frango, com

“O SETOR AUTOMOTIVO ESTÁ PROVANDO QUE O BRASIL PODE, SIM, SER EXPORTADOR DE PRODUTOS MANUFATURADOS. BASTA TER AS POLÍTICAS CERTAS PARA ATRAIR O INVESTIMENTO”

Olivier Murguet, presidente da Renault

EMPRESA SETOR VALOR EXPORTADO (em US$ FOB milhões)

BRF - Brasil Foods S/A Alimentos e bebidas 3.188,90Renault do Brasil S/A Automotivo 1.169,23Coamo Cooperativa 846,09Vancouros Ind. Couros Ltda. Couro e calçados 111,02Whirlpool S/A Eletrodomésticos 532,40Us. Açúcar S. Terezinha Ltda. Energia 710,93Stihl Ferr. Motorizadas Ltda. Ferramentas 207,52Cargill Agrícola S/A Grãos 1.666,73Braslumber Ind. Mold. Ltda. Madeira e fl orestamento 89,70John Deere Brasil Ltda. Máquinas agrícolas 323,17Weg Equip. Elétricos S/A Máquinas e equipamentos 740,56Portobello S/A Material de construção 33,09Tupy S/A Metalurgia 441,72Klabin S/A Papel e celulose 345,05Petrobras Petróleo 824,36Braskem S/A Petroquímica 1.833,65Pirelli Pneus Ltda. Plástico e borracha 190,55Gelnex Ind. e Comércio Ltda. Química 69,61Arcelormittal Brasil S/A Siderurgia e mineração 86,15Souza Cruz S/A Tabaco 690,76

AS 20 MAIORES EXPORTADORAS POR SETOR Companhias ligadas ao agronegócio se destacam entre as maiores por segmento

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

a integração de fábricas à empresa por meio de compra ou locação. O Brasil é um grande exportador de aves, e nós queremos ampliar nossa fatia nesse mer-cado”, explica Leomar Somensi, diretor comercial da Aurora.

Agora, a cooperativa aposta no crescimento dos suínos para continuar galgando postos no exterior. Em julho do ano passado, aconteceu o primeiro embarque de carne suína in natura para o Japão. A novidade foi comemorada pe-las empresas do setor. Não é por menos: o Japão é o maior mercado consumidor de suínos do mundo. Logo, a abertura amplia consideravelmente o potencial de exportação das companhias brasi-leiras. “Nossa expectativa em relação ao Japão é muito grande. Podemos esperar um crescimento expressivo para esse mercado, já que a base ainda é pequena”, analisa Somensi.

EXPORTADORES DO SUL

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Turbinadas lá fora: em 2012, pela primeira vez, a Weg faturou mais com o mercado externo do que no Brasil

A contribuição das vendas externas na composição da receita operacional bruta total da Aurora no ano passado (R$ 5,7 bilhões) foi de 18,6%. Para os próximos anos, a meta é ampliar essa fatia para algo entre 25% e 30%. “Nosso grande foco para 2014 é consolidar o processo de ampliação que começou no ano pas-sado. Com isso, projetamos uma receita de R$ 6,5 bilhões até o fi nal do ano, um crescimento de aproximadamente 15% em relação a 2013”, detalha Somensi.

Outra grande cooperativa brasileira, a Coamo, vem aproveitando o embalo das commodities para crescer no exterior. Maior cooperativa agrícola da América Latina, a organização de Campo Mou-rão (PR) somou, em 2013, 3,5 milhões de toneladas de grãos embarcadas para o exterior, num valor total de US$ 1,2 bilhão. A China desponta como a prin-cipal compradora de soja. Já o farelo de

soja tem como principal destino a Europa, enquanto o milho é preferência de países do Oriente Médio e da África. O ritmo de crescimento segue forte: em 2012, a ex-pansão da empresa chegou perto dos 20%, com um faturamento de R$ 7,1 bilhões. No ano passado, emplacou mais 11,2%, com vendas de mais de R$ 8 bilhões.

Uma das explicações para o suces-so do sistema cooperativista pode ser encontrado na maior participação dos cooperados nos lucros, o que aumenta seu comprometimento com a efi ciência das operações. Somente em 2013, as sobras (lucros) da Coamo chegaram a R$ 519,7 milhões. O valor, 15% superior ao de 2012, foi distribuído entre os mais de 26 mil cooperados. “O cooperativismo funciona muito bem, e cada vez mais os produtores estão sendo conscientizados da validade do sistema, que dá um bom suporte econômico por meio do crédito,

além de auxílio técnico, armazenagem, industrialização, comercialização e ex-portação”, garante José Aroldo Galassini, diretor-presidente da Coamo.

Desindustrialização, onde?Nos últimos anos, o número de

vozes que entoam a crítica à desindus-trialização e à falta de competitividade da economia brasileira aumentou con-sideravelmente. E há razões para isso: as commodities já dominam a pauta de exportações brasileira; o saldo comercial dos produtos industrializados vem apre-sentando défi cits cada vez mais elevados – só em 2013, passou de US$ 100 bilhões; e o Brasil ocupa uma posição pífi a entre os países com melhor ambiente de negócios – no ranking Doing Business de 2012, o país aparece como o 130º colocado, uma queda de duas posições em relação a 2011. Como base de com-

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101112131415161718192021222324252627282930313233343536373839404142434445

EMPRESA VIA PR VIA SC VIA RS

BRF - Brasil Foods S/A 1.100,25 1.114,54 974,11 3.188,90 3.308,34 -3,61Bunge Alimentos S/A 911,87 278,74 1.099,21 2.289,82 1.722,29 32,95Braskem S/A --- --- 1.833,65 1.833,65 1.509,19 21,50Cargill Agrícola S/A 770,84 --- 895,89 1.666,73 1.306,09 27,61Seara Alimentos Ltda. 609,95 673,10 98,52 1.381,57 1.478,09 6,53Louis Dreyfus Commodities Brasil S/A 685,91 --- 694,05 1.379,96 908,64 34,15Renault do Brasil S/A 1.169,23 --- --- 1.169,23 1.087,35 7,53Nidera Sementes Ltda. 444 --- 561,12 1.005,12 817,96 22,88ADM Do Brasil Ltda. 346,2 75,26 430,94 852,40 842,59 1,16Coamo 805,38 40,71 --- 846,09 856,21 1,18Bianchini S/A --- --- 838,02 838,02 765,80 9,43Petrobras 322,58 90,67 411,11 824,36 896,86 8,08Weg Equipamentos Elétricos S/A --- 740,56 --- 740,56 753,78 -1,75CHS do Brasil 629,63 --- 110,81 740,44 610,85 21,21Usina de Açúcar Santa Terezinha Ltda. 710,93 --- --- 710,93 804,70 -11,65Souza Cruz S/A --- 396,98 293,78 690,76 725,33 -4,76Whirlpool S/A --- 532,40 --- 532,40 625,21 -14,84JBS Aves Ltda. --- 115,70 407,37 523,07 231,25 126,19Volvo do Brasil Veículos Ltda. 478,02 --- --- 478,02 472,81 1,10General Motors do Brasil Ltda. --- --- 453,91 453,91 170,05 166,93Noble Brasil S/A 142,51 --- 303,31 445,82 358,90 24,21Tupy S/A --- 441,72 --- 441,72 467,88 -5,59Amaggi Exportação e Importação Ltda. 161,55 71,97 180,78 414,30 235,65 75,81Cooperativa Central Aurora Alimentos --- 412,20 --- 412,20 311,53 32,31Alliance One Brasil Exportadora de Tabacos Ltda. --- 161,28 222,62 383,90 482,53 -20,44Universal Leaf Tabacos Ltda. --- --- 373,43 373,43 398,83 -6,37CTA Continental Tobaccos Alliance S/A --- 70,76 276,81 347,58 303,90 14,37Klabin S/A 345,05 118,28 463,00 345,05 424,06 -18,63John Deere Brasil Ltda. --- --- 323,17 323,17 242,61 33,2Volkswagen do Brasil Ltda. 319,47 --- --- 319,47 240,08 33,07JTi Processadora de Tabaco do Brasil Ltda. --- 36,36 255,96 292,33 196,88 48,48BSBIOS Indústria e Comércio de Biodiesel --- --- 279,95 279,95 168,88 65,77Philip Morris Brasil Indústria e Comércio Ltda. --- 56,62 218,19 274,82 294,21 -6,59Usina Alto Alegre S/A - Açúcar e Álcool 255,88 --- --- 255,88 213,23 19,98AGCO do Brasil --- --- 244,04 244,04 255,64 -4,54Marcopolo S/A --- --- 235,67 235,67 258,40 -8,80Premium Tabacos do Brasil Ltda. --- 55,69 163,82 219,51 197,01 11,42Stihl Ferramentas Motorizadas Ltda. --- --- 207,52 207,52 208,36 -0,40Câmera Agroalimentos S/A --- --- 204,42 204,42 204,48 -0,03Marasca Comércio de Cereais Ltda. --- --- 201,73 201,73 202,39 -0,33Companhia Cacique de Café Solúvel 200,26 --- --- 200,26 216,34 -7,43Pirelli Pneus Ltda. --- --- 190,55 190,55 179,03 6,43Robert Bosch Ltda. 188,69 --- --- 188,69 213,05 -11,44China Brasil Tabacos Exportadora S/A --- --- 182,76 182,76 90,97 100,9C. Vale - Cooperativa Agroindustrial 179,76 --- --- 179,76 202,44 -11,21

AS 90 EMPRESAS QUE MAIS EXPORTAM A PARTIR DO SUL*As companhias que lideraram os embarques na região, em 2013

O ranking abaixo foi elaborado a partir de dados disponibilizados publicamente pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Para cada Estado, o MDIC lista apenas as 40 empresas com maior valor exportado no ano.

TOTAL2013

TOTAL2012

VARIAÇÃO(%)

Valores exportados em US$ milhões FOB

EXPORTADORES DO SUL

POS.2012

POS.2013

*AMANHÃ excluiu do ranking a Quip e a CGQ Construções Off shore, cujos números se referiram a exportações de plataformas que não saíram do país

Page 11: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

AMANHÃ | Abril 2014| 33 |

EMPRESA VIA PR VIA SC VIA RS

AS 90 EMPRESAS QUE MAIS EXPORTAM A PARTIR DO SUL*As companhias que lideraram os embarques na região, em 2013

TOTAL2012

504349---

4844514667------

555662665418------

736358---

72---

707468758081767985---------

8990------------

88---

464748495051525354555657585960616263646566676869707172737475767778798081828384858687888990

Valores exportados em US$ milhões FOB

POS.2012

POS.2013

Copacol - Cooperativa Agroindustrial Consolata 167,47 --- --- 167,47 139,88 19,73CNH Latin America Ltda. 155,88 --- --- 155,88 166,76 -6,53CMPC Celulose Riograndense Ltda. --- --- 143,40 143,40 140,54 2,03Pamplona Alimentos S/A --- 141,70 --- 141,70 172,29 -17,75Forjas Taurus S/A --- --- 140,76 140,76 142,76 -1,40Alibem Comercial de Alimentos Ltda. --- --- 134,23 134,23 95,80 40,11Cia. Iguaçu de Café Solúvel 130,42 --- --- 130,42 136,33 -4,34Tyson do Brasil Alimentos Ltda. --- 126,87 --- 126,87 162,41 -21,88Cooperativa Agroindustrial Lar 124,17 --- --- 124,17 91,57 35,60Caterpillar Brasil Ltda. 121,72 --- --- 121,72 43,68 178,61Aker Solutions do Brasil Ltda. 119,2 --- --- 119,20 69,25 72,13Cooperativa Agrária Agroindustrial 118,99 --- --- 118,99 125,49 -5,18Pampeano Alimentos S/A --- --- 117,40 117,40 116,28 0,97Tramontina S/A Cutelaria --- --- 112,27 112,27 99,49 12,84Vancouros Indústria e Comércio de Couros Ltda. 111,02 --- --- 111,02 91,95 20,74Randon S/A Implementos e Participações --- --- 107,79 107,79 130,79 -17,59Universal Leaf Tabacos Ltda. --- 105,79 --- 105,79 543,04 -80,51Oleoplan S/A --- --- 100,38 100,38 48,65 106,32Cocamar Cooperativa Agroindustrial 99,31 --- --- 99,31 67,13 47,95Coopavel Cooperativa Agroindustrial 93,7 --- --- 93,70 77,27 21,26Kaefer Agro Industrial Ltda. 90,87 --- --- 90,87 97,85 -7,13Agrícola Jandelle Ltda. 90,21 --- --- 90,21 113,6 -20,59Braslumber Indústria de Molduras Ltda. 89,7 --- --- 89,70 71,42 25,60Braspine Madeiras Ltda. 88,3 --- --- 88,30 77,83 13,46Gonçalves & Tortola S/A 87,16 --- --- 87,16 60,47 44,12Arcelormittal Brasil S/A --- 86,15 --- 86,15 86,11 0,05AAM do Brasil Ltda. 85,24 --- --- 85,24 76,69 11,15Companhia Providência Indústria e Comércio 85,12 --- --- 85,12 89,33 -4,71Ceagro Agrícola Ltda. 79,45 --- --- 79,45 75,00 5,94Gelnex Indústria e Comércio Ltda. --- 69,61 --- 69,61 59,34 17,30Curtume Viposa S/A --- 68,56 --- 68,56 58,62 16,97Incasa S/A --- 65,15 --- 65,15 73,01 -10,77Schulz S/A --- 62,03 --- 62,03 62,21 -0,29Vossko do Brasil Alimentos Congelados Ltda. --- 43,93 --- 43,93 43,84 0,20Sertrading S/A --- 40,73 --- 40,73 20,14 102,22Frame Madeiras Especiais Ltda. --- 37,85 --- 37,85 28,07 34,84Marubeni Brasil S/A --- 35,28 --- 35,28 6,57 436,8Netzsch do Brasil Indústria e Comércio Ltda. --- 34,56 --- 34,56 32,13 7,56Indústria de Compensados Guararapes Ltda. --- 34,44 --- 34,44 32,01 7,58Zen S/A Indústria Metalúrgica --- 33,29 --- 33,29 31,69 5,05Portobello S/A --- 33,09 --- 33,09 25,64 29,05Takata Brasil S/A --- 32,29 --- 32,29 29,57 9,22Electro Aço Altona S/A --- 31,78 --- 31,78 30,79 3,20Iguaçu Celulose Papel S/A --- 31,64 --- 31,64 33,46 -5,42Fiagril Ltda. --- 29,97 --- 29,97 12,27 144,3

VARIAÇÃO(%)EMPRESA VIA PR VIA SC VIA RS

TOTAL2013

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Abril 2014 | AMANHÃ | 34 |

paração, a África do Sul é a 39ª colocada e o Peru, o 43º. Já no Global Competi-tiveness Report de 2012/2013, o Brasil está em 48º lugar em um ranking de 144 países. O problema é que, nos 12 pilares de competitividade do último relatório, aparece no primeiro quartil apenas nos quesitos “tamanho de mercado” e “sofis-ticação dos negócios”.

Mas há quem contrarie esse ciclo de pessimismo. A Weg, tradicional fabrican-te de motores elétricos, geradores e trans-formadores, aparece na nona colocação na lista das 25 empresas brasileiras com maior presença global, elaborada pela revista América Economia. Logo atrás, justamente, da BRF. Vencer essas barreiras exigiu um misto de produção em escala e integração entre as áreas de produção. “Assim como outras indústrias, também sofremos com os gargalos logísticos, a legislação trabalhista ultrapassada e a alta carga de impostos. É dif ícil ser competi-tivo arcando com custos que os concor-rentes de fora não têm. Mas procuramos contornar isso com ganhos de produtivi-dade”, explica Luis Gustavo Lopes Iensen, diretor corporativo internacional da Weg. Segundo ele, a empresa faz questão de ter suas próprias fundições e verticalizar ao máximo a produção – fabricando até mesmo os fios de cobre que utilizam. “Não somos uma simples montadora: processamos as matérias-primas. Isso explica o número relativamente elevado de funcionários em relação ao nosso faturamento”, explica.

Além de ter maior controle sobre os custos da produção, a Weg ganha flexibilidade nos prazos de entrega e, consequentemente, mais competitivi-dade. Ainda que esteja em 13° lugar no ranking dos maiores exportadores do sul, com US$ 740 milhões exportados em 2013, seu faturamento vai além do que é produzido nas 15 plantas industriais no país. Há outras 11 fábricas espalhadas pelos cinco continentes, que produzem

de tintas e vernizes a motores elétricos, transformadores, painéis e geradores.

O valor da diversificaçãoFoi a diversificação de produtos que

levou a Weg a uma conquista inédita em 2012: pela primeira vez, as vendas no mercado externo (51% do total) foram maiores do que as do mercado doméstico. Em 2013, o mercado interno equilibrou a balança, com 50% para cada lado. “O ano passado, nossas vendas se mantiveram estáveis, pois houve uma leve retração no mercado internacional. Tivemos um crescimento relativamente bom na área de bens de consumo, mas não na área industrial”, diz Iensen.

As aplicações para a indústria são responsáveis pela maior parte das ven-das da Weg no exterior, o que explica a leve retração de 1,7% nas exportações em 2013. “Nosso core business na Europa são os motores elétricos para aplicação

na indústria. Esse é o carro-chefe das nossas vendas no exterior”, garante Ien-sen. Já no Brasil, há uma linha residencial, que inclui, por exemplo, bombas e moto-res para piscinas. Mas a entrada da Weg nesse mercado ainda é pequena fora do país, admite Iensen.

O objetivo da empresa, agora, é atin-gir os R$ 20 bilhões de faturamento em 2020 – em 2013, a empresa fechou com R$ 6,8 bilhões. Traçada em 2011, a meta representa quatro vezes o faturamento da empresa na época. “Há um cresci-mento orgânico e um planejamento de aquisições e fusões. Temos mapeadas as oportunidades de cada área de negócios no Brasil e no exterior”, afirma Iensen. Para isso, diz ele, a Weg desenvolve seus produtos de olho nas tendências globais de consumo e conta, ainda, com uma área de certificações que aprova (ou não) os produtos de acordo com as normas das entidades reguladoras

exportadores do sul

os maiores exportadores do paraná empresas que mais exportaram pelo estado em 2013 - valores em us$ milhões FoB

1.169,231.100,25

911,87805,38

770,84710,93

685,91629,63

478,02444,00430,25

346,20345,05322,58319,47

255,88200,26

188,69179,76179,70

renault do Brasil s/aBrF - Brasil Foods s/a

BunGe alimentos s/a Coamo

CarGill aGríCola s/a us. aÇÚCar s. tereZinHa ltda.

louis dreYFus CHs do Brasil

VolVo do Brasil nidera sementes ltda.

searaadm do Brasil ltda.

KlaBin s/apetroBras

VolKsWaGen do Brasil ltda.us. alto aleGre s/a

Cia. CaCiQue de CaFÉ solÚVel roBert BosCH ltda.

C. Vale seara alimentos ltda.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

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AMANHÃ | Abril 2014| 35 |

OS MAIORES EXPORTADORES DE SANTA CATARINA Empresas que mais exportaram pelo Estado em 2013 - valores em US$ milhões FOB

1.114,54740,56

673,10532,40

441,72412,20

396,98278,74

161,28141,70

126,87118,28115,70105,79

90,6786,1575,26

71,9770,7669,61

BRF - BRASIL FOODS S/AWEG EQUIP. ELÉTRICOS S/A

SEARA ALIMENTOS LTDA.WHIRLPOOL S/A

TUPY S/ACOOP. CENTRAL AURORA ALIM.

SOUZA CRUZ S/ABUNGE ALIMENTOS S/A

ALLIANCE ONEPAMPLONA ALIMENTOS S/A

TYSON DO BRASIL ALIM. LTDA.KLABIN S/A

JBS AVES LTDA.UNIVERSAL LEAF TABACOS

PETROBRASARCELORMITTAL

ADM DO BRASIL LTDA.AMAGGI EXP. E IMP. LTDA.

CTA CONT. TOBACCOS ALLIANCE S/AGELNEX

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

internacionais e características de cada mercado. “É esse cumprimento dos mais exigentes padrões internacionais que nos coloca como um dos maiores players de motores elétricos do mundo, à altura de qualquer concorrente internacional”, orgulha-se Iensen.

Carros para o mundoO setor automotivo também vem

buscando reverter as tendências ne-gativas da participação da indústria na balança comercial brasileira. No sul, quem desponta nesse sentido é a Renault. O Brasil já é o segundo maior mercado da montadora, atrás apenas da França – o que não é nada desprezível para uma marca presente em 128 países. As três fábricas do Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR), receberam em 2013 um investimento de R$ 500 milhões, sufi cientes para am-pliar a capacidade de produção de 280 mil para 380 mil carros por ano. Mas a prioridade não é exatamente exportar. A ideia é abocanhar uma fatia maior de um mercado que continua em expansão: o interno. “Hoje, temos 6,6% do mercado brasileiro de veículos. A ideia é chegar a 8% em 2016. Há espaço para isso, prin-cipalmente se analisarmos a proporção de automóveis por habitantes”, explica Caique Ferreira, diretor de comunicação da Renault. No Brasil, diz ele, há apenas um automóvel para cada sete habitan-tes, em média. Já nos Estados Unidos, a proporção é de um veículo para cada dois habitantes.

A Renault é tanto a maior expor-tadora quanto a maior importadora entre as montadoras do sul do país. Esse volume de comércio externo não vem, necessariamente, da insuficiência de atendimento da demanda do mercado. É uma decisão estratégica da empresa: a produção do Clio ocorre na Argentina, enquanto modelos como Duster, Logan e Sandero, de grande demanda no Brasil,

OS MAIORES EXPORTADORES DO RIO GRANDE DO SUL Empresas que mais exportaram pelo Estado em 2013 - valores em US$ milhões FOB

1.833,651.099,21

974,11895,89

838,02694,05

561,12453,91

430,94411,11407,37373,43

323,17303,31293,78279,95276,81255,96244,04235,67

BRASKEM S/ABUNGE ALIMENTOS S/A

BRF - BRASIL FOODS S/ACARGILL AGRÍCOLA S/A

BIANCHINI S/ALOUIS DREYFUS

NIDERA SEMENTES LTDA.GM DO BRASIL LTDA.

ADM DO BRASIL LTDA.PETROBRAS

JBS AVES LTDA.UNIVERSAL LEAF TABACOS LTDA.

JOHN DEERE BRASIL LTDA.NOBLE BRASIL S/A

SOUZA CRUZ S/ABSBIOS

CTA JTI PROC. TABACO BRASIL LTDA.

AGCO DO BRASIL MARCOPOLO S/A

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2012

Page 14: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

são fabricados no Paraná. Essa espécie de rodízio global, é claro, aumenta o vo-lume comercializado pela empresa com diferentes países – especialmente com a própria Argentina. Dos 63 mil carros que a Renault exportou em 2013, cerca de 50 mil (ou quase 80%) foram enviados para a Argentina, diz Caique.

A Renault não está sozinha nesse modelo de produção. Hoje, a Argenti-na representa aproximadamente três quartos das exportações brasileiras de veículos. Isso ocorre porque as mon-tadoras fazem questão de manter uma matriz de produção capaz de aproximar os dois mercados. “Temos um acordo de integração produtiva com a Argen-tina. A produção deles depende de peças brasileiras, assim como o Brasil também depende das peças argentinas.

Há também vários modelos brasileiros produzidos na Argentina, e vice-versa. Os dois mercados são interdependentes”, diz Luiz Moan Yabiku Junior, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

O crescimento da produção do setor automotivo, aliás, também contraria os rumores de uma desindustrialização. O setor nunca produziu tanto. Em 2013, foram 3,7 milhões de unidades, o que representou um crescimento de 9,9% em relação a 2012 – e um recorde histórico para o setor. Já as exportações fecharam em 563 mil unidades em 2013. Até o fi nal da década, a meta da Anfavea é pratica-mente dobrar as vendas externas, com cerca de 1 milhão de unidades enviadas para o exterior todos os anos. Para isso, o país já conta com investimentos de peso

anunciados pelas montadoras: a BMW já está se instalando em Santa Catarina, enquanto Mercedes-Benz e Land Rover anunciaram novas plantas nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, respec-tivamente. No total, os investimentos chegam a quase R$ 2 bilhões. “O Brasil é o quarto maior mercado automotivo do mundo, mas apenas o sétimo maior produtor. Precisamos subir no ranking da produção”, atenta Moan, que também é diretor institucional da General Motors no Brasil. Ele diz não ter dúvidas de que as montadoras brasileiras ainda vão se tornar grandes exportadoras de produ-tos de alto valor agregado. “Temos grau de competitividade e tecnologia para exportar para qualquer lugar do mundo”, afi rma. Espera-se que o setor automotivo não se torne uma ilustre exceção.

EXPORTADORES DO SUL

Para além da fronteira: exportações puxaram os resultados da Coamo, que fechou 2013 com um crescimento de mais de 11% na receita bruta

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Tipo exportação: plataformas como a P-55 jamais saíram do país, mas ajudaram a vitaminar as contas externas da região sul em 2013

Superávitfl utuante

A EXPORTAÇÃO DE PLATAFORMAS SALVOU A BALANÇA COMERCIAL DO SUL DO PAÍS EM 2013, MAS NÃO ESCONDEU SUAS FRAGILIDADES

EXPORTADORES DO SUL

Div

ulga

ção

Page 16: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

ara compreender as recentes mudanças na pauta de expor-

tações do sul do país é preciso voltar no tempo. Mais precisamente, até 6 de outubro de 2013. Naquele dia, a Petro-bras concluiu uma operação que não só vitaminou os números da balança co-mercial brasileira – evitando o primeiro déficit em 14 anos – como também alterou a lista de produtos que o país, e o sul em particular, mais exportam. E foi uma senhora operação, diga-se: com a ajuda de seis rebocadores, a empresa lançou ao mar a P-55, uma das gigantes-cas plataformas de petróleo construídas pelo consórcio de empresas Quip no ERB-1, como é conhecido o estaleiro de Rio Grande. Com mais de 52 mil toneladas e área superior a dois campos

de futebol, a estrutura levaria 16 dias para cumprir o trajeto entre o porto gaúcho e o campo de Roncador, na Bacia de Campos, onde seria conectada a poços situados a até 18 mil metros de profundidade. Tratava-se, afinal, da maior plataforma semissubmersível já construída no Brasil e uma das maiores do mundo. Mais do que isso: foi uma das mais expressivas operações de exporta-ção da história da Petrobras.

Os analistas em comércio exterior, porém, tendem a subtrair a P-55 das contas da balança comercial brasileira em 2013. E a razão é simples: embora tenha sido exportada, a plataforma não chegou a sair do país. Isso foi possível graças ao Repetro, sigla que designa um programa de nome quilométrico: Regime Aduaneiro Especial de Expor-tação e Importação de Bens Destinados à Exploração e à Produção de Petróleo e Gás Natural. Desde 2004, o Repetro autoriza a exportação, sem saída do território nacional, de plataformas de perfuração e produção de petróleo ou

PSuperávitfl utuante

Div

ulga

ção

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bons resultados à balança comercial do Rio Grande do Sul. Mas dificilmente compensará a queda no valor oriundo das operações da Petrobras. “Como é uma exportação fictícia, as plataformas não devem ser encaradas como um número muito pontual. Elas distorcem a estatística das exportações”, destaca Ce-zar Müller, coordenador do Conselho de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiergs.

Sem as plataformas, a pauta de exportações do Rio Grande do Sul se mantém atrelada a um padrão histórico – e pouco alentador: a total predomi-nância das commodities agrícolas sobre os produtos manufaturados. A exceção é a venda de automóveis, que aparece na sétima colocação entre os itens mais exportados. Antes, aparecem a soja e seus derivados (bagaço e óleo), fumo, carne de frango, miúdos e polímeros petroquímicos – que, embora sejam industrializados, são vendidos também como commodity. Exatamente o oposto do que ocorre na pauta de importações, que traz diversos itens de alto conteúdo tecnológico.

Nesse sentido, o Rio Grande do Sul repete uma tendência bem brasileira. Somente em 2013, o déficit da balança comercial do país para produtos manu-faturados superou os US$ 100 bilhões. “Apenas para equilibrar a balança comercial nesse segmento teríamos de dobrar as nossas exportações. Isso demonstra o desafio que temos pela frente”, ressalta Müller, da Fiergs.

Não há nada de errado em exportar grãos, carnes, polímeros e outras com-modities. Com terras em abundância e clima favorável, é natural que o Brasil continue sendo um grande celeiro do mundo. O problema é o baixo peso dos produtos manufaturados na pauta de exportações. Atualmente, 65% dos produtos exportados pelo Brasil são commodities, como minério de ferro,

gás natural. A P-55, especificamente, foi adquirida pela Petrobras Netherlands B.V. (PNBV), subsidiária da estatal brasileira na Holanda, para depois ser alugada para operar no Brasil. A operação permite que as petroleiras não paguem PIS, Cofins e IPI sobre as plataformas. E permite também que o governo adicione receitas artificiais nas contas externas brasileiras. Aliás, artificiais e também ocasionais – já que, em 2014, o país “exportará” apenas duas plataformas, num valor total de US$ 2,5 bilhões, quase US$ 5 bilhões a menos do que no ano anterior.

Na onda do petróleoO fato é que as operações da Petro-

bras afetaram a composição da pauta exportadora do sul do país, especial-mente a do Rio Grande do Sul. Em 2013, as vendas externas do Estado somaram US$ 25 bilhões – e mais de 18% desse valor se refere a plataformas. Não por acaso, foi primeira vez em muitos anos que a soja perdeu o posto de produto mais exportado pelos gaúchos – ainda que os volumes embarcados tenham mais que dobrado em relação a 2012, quando houve a quebra de safra. Em 2014, a promissora colheita deve trazer

PriNciPais Produtos imPortados Valores em us$ milhões FoB

2.024,811.998,85

1.697,731.653,77

333,27267,28259,13

224,78171,38147,16

FertilizaNtes e iNsumosautomóVeis

Petróleomotores e autoPeças

comPoNeNtes eletrôNicosPNeus

máquiNas e Peças agrícolastrigo

FeijãocomBustíVeis diVersos

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

PriNciPais Produtos exPortados Valores em us$ milhões FoB

3.966,562.024,11

1.473,371.218,46

1.131,91947,22

756,91618,57566,38551,90

soja em grãocarNe de aVe e deriVados

Bagaço de sojaaçúcar

automóVeismilho em grão

comBustíVeis diVersosmotores e autoPeças

madeiraóleo de soja

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

exPortadores do sul

a Pauta ParaNaeNse

Page 18: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

AMANHÃ | Abril 2014| 41 |

soja e carnes. Uma realidade que deixa o país cada vez mais exposto a oscilações externas de preço.

“O mercado das commodities é muito instável, pois quem define os preços é o mercado internacional, as quantidades e o clima. Somos meros agentes passivos”, analisa José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Neste ano, diz ele, só o minério de ferro já registrou uma queda de 30% nos pre-ços. No caso dos produtos manufatu-rados, o exportador tem mais controle sobre o valor cobrado. “Os contratos são de médio e longo prazo. Isso dá mais estabilidade, garantindo que não haverá cortes bruscos de receita de exportação”, diz Castro.

O celeiro do sulSozinho, o Paraná respondeu por

quase 10% das exportações brasileiras em 2013. Grande parte delas veio das commodities, especialmente da soja, com quase US$ 4 bilhões. Mas há outros produtos primários importantes que agregam mais valor à pauta de exporta-ção paranaense: carnes, açúcares, cere-ais, madeira, papel e celulose e móveis. O Porto de Paranaguá já se especializou na exportação desses bens. “Diferente-mente de Santa Catarina, o Paraná tem uma estrutura portuária mais focada na movimentação de mercadorias a granel, o que resulta em um menor volume de embarques e desembarques de contêi-neres”, afirma Roberto Antonio Peredo Zurcher, economista da Fiep.

Essa estrutura facilita a exportação de grãos, que não são transportados em contêineres. E, quando o assunto é soja, quem aparece como um componente forte nas exportações paranaenses é a Coamo.

Maior exportadora entre as coo-perativas do Brasil, a Coamo enviou cerca de 3,5 milhões de toneladas de

soja ao exterior em 2013 – ao preço de US$ 805,3 milhões. A maior parte dos embarques foi de farelo de soja (des-tinado principalmente à Europa) e de soja em grão (para a China). José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo, diz que o principal desafio no caminho dos exportadores é logístico. Cada saca de soja enfrenta gargalos como frete caro, rodovias em más condições e demora no embarque. “O ano passado foi um desastre”, lamenta. Segundo ele, a cooperativa sofreu com a demora no Porto de Paranaguá, que chegou a ter 117 navios na fila de espera, impondo

um atraso de 110 dias no embarque e multas de US$ 10 mil a US$ 15 mil dólares por navio a cada dia de atraso. “Chegamos a comprar produto na Europa para atender os clientes que já haviam comprado, e embarcamos milho para o Japão por Rio Grande, distante 1.400 km do Mato Grosso do Sul, onde o grão foi colhido.”

Para minimizar o problema, a ad-ministração do Porto de Paranaguá ins-tituiu uma portaria que dá preferência aos navios que já têm carga completa. Antes, todos esperavam na mesma fila e precisavam aguardar a aquisição do

PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS Valores em US$ milhões FOB

1.134,10978,07

647,20531,60

433,63248,61

213,69171,37160,24

121,82

CÁTODOS DE COBREPOLÍMEROS PETROQUÍMICOS

FIOS PARA A INDÚSTRIA TÊXTILPRODUTOS SIDERÚRGICOS

ROUPAS E TECIDOS PNEUS

AUTOMÓVEISFERTILIZANTES E ADUBOS

LUVAS DE BORRACHAGARRAFAS E FRASCOS

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS Valores em US$ milhões FOB

1.934,35876,34

591,27481,08

419,78417,85411,08

241,77209,77

163,72

CARNE DE AVE E DERIVADOSFUMO E DERIVADOS

COMPRESSORES DE REFRIG.SOJA EM GRÃO

CARNE SUÍNA E DERIVADOS.MOTORES ELÉTRICOSBLOCOS DE MOTORES

CARNES PROCESSADASMADEIRAS

MÓVEIS E SEUS ACESSÓRIOS

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

A PAUTA CATARINENSE

Page 19: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

Abril 2014 | AMANHÃ | 42 |

PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS Valores em US$ milhões FOB

3.679,03

1.777,702.654,16

1.684,51

152,77

781,08

185,87551,54

178,64

114,45

PETRÓLEOAUTOMÓVEIS

NAFTA PETROQUÍMICAFERTILIZANTES E INSUMOS

MOTORES E AUTOPEÇASBENS DE CAPITAL INDUSTRIAIS

TRIGO BORRACHAS

MÁQUINAS E PEÇAS AGRÍCOLASPNEUS

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS Valores em US$ milhões FOB

4.225,192.250,72

282,84

SOJA EM GRÃO*FUMO E DERIVADOS

POLÍMEROS PETROQUÍMICOSCARNE DE AVE E DERIVADOS

BAGAÇO DE SOJAMÁQUINAS E PEÇAS AGRÍCOLAS

MOTORES E AUTOPEÇASARROZTRIGO

ÓLEO DE SOJA

*Pela contabilidade ofi cial, o principal produto exportado é plataforma de petróleo, mas AMANHÃ desconsiderou por se tratar de uma metodologia que contabiliza os últimos três anos. Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

325,83362,66

503,73808,47

1.201,991.360,56

1.841,87

produto para embarcar, o que gerava mais atrasos. “Agora, podemos embar-car em três berços, desde que haja pelo menos 18 mil toneladas por navio. Isso favoreceu muito e, neste ano, ainda não tivemos problemas de embarque”, diz Gallassini.

Problemas na ArgentinaDesde 2008, Santa Catarina não

sabe o que é ter uma balança comercial superavitária. De 2009 a 2013, a balança comercial catarinense acumulou um déficit de US$ 20 bilhões. O diagnós-tico é simples: Santa Catarina importa

muito mais do que exporta. Na última década, as compras realizadas pelo Estado cresceram 14 vezes, enquanto as exportações mal triplicaram. O que explica o descompasso é o perfil industrial de Santa Catarina, que de-pende mais de produtos e componentes fabricados no exterior – daí o fato de a pauta de importações ser dominada por cátodos de cobre (usados em indústrias como construção civil, eletroeletrônica e automotiva), polímeros, pneus para ônibus e caminhões, além de matérias--primas da área de confecção, como fibras artificiais e fios têxteis. Pelos

cálculos de Maria Teresa Bustamante, presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc, pelo menos 70% das importações catarinenses são de maté-rias-primas industriais. “Esses produtos passaram a ser adquiridos no exterior porque são de excelente qualidade e têm preços em condição de compor bem o custo de fabricação. É uma importação produtiva”, garante ela. Nesse contexto, o aumento das compras externas é um bom sinal: trata-se de uma consequên-cia direta da ampliação da capacidade instalada das indústrias instaladas em Santa Catarina.

Se as importações não preocupam, as exportações catarinenses têm se mostrado decepcionantes. Os embar-ques do Estado caem sem parar desde 2011. E a principal razão está no sul da América do Sul. “O protecionismo exa-cerbado da Argentina tem sido muito sentido em Santa Catarina. Perdemos um polo de importação expressivo, um parceiro que, pela proximidade geográfica, deveria ser um mercado natural para nossos produtos, assim como o Brasil é para os deles”, afirma Maria Teresa. “Tínhamos um espaço expressivo na pauta de calçados, têxteis, refrigeração e motores. Agora, percebe-mos que alguns produtos deixaram de fazer parte dessa pauta”.

As exportações de componentes para motores, por exemplo, caíram de US$ 405 milhões para US$ 391 milhões entre 2012 e 2013. Os compressores de ar para refrigeração também apresen-taram queda acentuada no período, de US$ 504 milhões para US$ 407 milhões. “Além da burocracia cada vez maior nas exportações para a Argentina, há custos exorbitantes para manter mercadorias que chegam a ficar 180 dias nas áreas alfandegárias. O problema da Argentina chegou ao limite e os exportadores não têm mais fôlego para superar essas bar-reiras”, lamenta Maria Teresa, da Fiesc.

A PAUTA GAÚCHA

Page 20: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

Abril 2014 | AMANHÃ | 44 |

Às compras: urbanização da população chinesa é uma oportunidade única para os exportadores do sul

exportAdores do sul

Novos destinos,velhos gargalosA boA NotíciA: cAdA vez MAis exportAdores do sul coNquistAM clieNtes eM MercAdos periféricos. A Má: poucos deles veNdeM MAis que commodities

Hu

Chen

huan

/Xin

hua/

AFP

Page 21: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

AMANHÃ | Abril 2014| 45 |

China vai sustentar um cresci-mento econômico relativamente

elevado, mas não superelevado.” A frase do presidente chinês Xi Jinping durante uma conferência na China não deixa dúvidas: até os chineses já aceitaram que a era do crescimento de dois dígitos chegou ao fi m. O temido desaquecimento da economia chinesa colocou em alerta muitos analistas que previam um forte impacto nas exportações brasileiras. Mas o quadro que se apresenta é inverso: à medida que reduz seu ímpeto de cres-cimento, a China parece cada vez mais ávida pelos produtos clássicos da pauta de exportações brasileiras.

Em 2010, as exportações do Brasil para a China somavam US$ 30,7 bilhões. Em 2013, já chegavam a US$ 46 bilhões, um crescimento de 50%. No mesmo intervalo de tempo, as vendas para os Estados Unidos avançaram apenas 26%. Convém lembrar que, até 2008, os ame-ricanos eram os grandes compradores de produtos brasileiros. Deixaram essa lide-rança após a crise do subprime – e, desde então, jamais recuperaram os índices de comércio que costumavam manter com o Brasil. Já a China, àquela altura, era apenas o terceiro país que mais importava do Brasil. Perdia até para a Argentina.

Hoje, há cerca de 30 milhões de chi-neses vivendo abaixo da linha da pobreza – com menos de 150 euros por ano. E a estatística, por incrível que pareça, merece alguma comemoração. Até o ano 2000, o país contava com mais que o dobro de pessoas abaixo da linha da pobreza. De lá para cá, milhões de chineses se inseriram no mercado de consumo e migraram para as cidades – onde passaram a demandar alimentos que o Brasil exporta em abun-dância, como o café. “Até a década de 1990, o consumo de café era proibido na China, por ser considerado uma prática ocidental. No passo passado, porém, o

“A RIO GRANDE DO SUL - PRINCIPAIS DESTINOS DAS EXPORTAÇÕES * Valores em US$ milhões F.O.B.

4.550,982.897,17

2.522,371.897,53

1.641,62715,95

647,64565,63545,83484,83

CHINAPANAMÁ*

HOLANDA*ARGENTINA

ESTADOS UNIDOSPARAGUAI

COREIA DO SULALEMANHA

BÉLGICAURUGUAI

* Trata-se de uma distorção causada pela contabilização das plataformas de petróleo e gás. Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

SANTA CATARINA - PRINCIPAIS DESTINOS DAS EXPORTAÇÕES * Valores em US$ milhões FOB

1.021,38691,61

523,56523,29517,64

357,36311,42301,12

284,50278,17

ESTADOS UNIDOSCHINAJAPÃO

HOLANDAARGENTINA

REINO UNIDOMÉXICORÚSSIA

BÉLGICAALEMANHA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

PARANÁ - PRINCIPAIS DESTINOS DAS EXPORTAÇÕES * Valores em US$ milhões FOB

3.978,882.048,89

839,00720,41

635,46628,94622,46

420,61418,70382,80

CHINAARGENTINA

HOLANDAESTADOS UNIDOS

ALEMANHAARÁBIA SAUDITA

PARAGUAIJAPÃO

FRANÇACOREIA DO SUL

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

Hu

Chen

huan

/Xin

hua/

AFP

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Abril 2014 | AMANHÃ | 46 |

país já importou 1 milhão de sacas. Os chineses estão aprendendo a apreciar o café”, afirma Fernando Mourad, diretor da Câmara Chinesa de Comércio do Brasil (CCCB). Hoje, diz ele, a rede de cafeterias Starbucks tem mais lojas na China do que nos Estados Unidos.

Esse contexto explica por que os embarques para a China devem crescer a despeito dos resultados do PIB. Segunda maior economia do mundo – e pronta para se tornar a primeira até 2016, segundo um relatório da Universidade de Oxford –, a China vem deixando para trás o modelo que a transformou na potência de hoje. Em vez dos pesados investimentos estatais em infraestrutura e do foco nas exportações, o governo chinês vem dando prioridade ao crescimento do mercado interno. “Isso não significa que não podemos manter o crescimento a um passo rápido, mas não queremos mais isso”, afirmou o presidente

Xi Jinping, em uma conferência realizada no ano passado.

O foco no fortalecimento do merca-do interno abre boas oportunidades para o Brasil – e, consequentemente, para a região sul. “O presidente Xi Jinping já deu sinais de que nós, latino-americanos e brasileiros, teremos uma grande impor-tância na agenda diplomática e comercial chinesa. Esse comércio é fundamental para sustentar o crescimento chinês e per-mitir que o país seja reconhecido como uma potência global”, afirma Mourad, da CCCB. Em 15 de julho, logo após a Copa, Jinping e outros líderes dos países em de-senvolvimento virão ao Brasil para a sexta cúpula dos Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O drama do MercosulO Mercosul não é mais o mesmo.

Nos últimos anos, o bloco deixou de ser

a esperança de uma abertura do Brasil para o mundo e se tornou uma espécie de fardo político. Os poucos acordos comerciais do bloco são com mercados pouco expressivos – como Egito, Mar-rocos e Israel. Enquanto isso, potências como Estados Unidos e Japão alinham importantes acordos bilaterais com a Inglaterra. Também há bons exemplos na própria América Latina: o Chile já tem mais de 50 acordos comerciais assinados com outros países e blocos econômicos.

Basicamente, o Mercosul esbarra na própria burocracia – que exige, entre outros caprichos, consenso dos países--membros na consolidação de tratados com outras nações. Isso explica por que a negociação de uma área de livre comércio com a União Europeia, considerada estra-tégica para o Brasil, já se arrasta há mais de uma década sem avanços expressivos. A letargia, é claro, traz consequências di-

Amarrados à mesa: regras aduaneiras do Mercosul impedem que o Brasil negocie acordos mais vantajosos com outros países e blocos

Agência Brasil

expOrtadOres dO sul

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AMANHÃ | Abril 2014| 47 |

retas à balança comercial brasileira. Entre 2012 e 2013, as exportações para os países europeus caíram 12%, de US$ 37,4 bilhões para US$ 33 bilhões. “O Brasil caiu numa camisa de força da qual não quer ou não sabe como sair. O país não tem liberdade para tomar decisões e, assim, fi ca isolado comercialmente. Cada acordo tem de ser negociado em bloco”, analisa José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

O Brasil propõe uma eliminação de 87% das tarifas de importação de produtos europeus. Uruguai e Paraguai defendem um percentual ainda maior, de quase 90%. Já a Argentina pleiteia, no máximo, 80%. Pudera: com uma econo-mia fragilizada, os argentinos temem que a abertura às importações europeias possa agravar sua crise cambial. Mais ainda com o preço da soja em queda e com a redução na safra de trigo, entre outros fatores que enfraquecem a presença da Argentina nos fl uxos globais de comércio. Segundo Castro, da AEB, o país está se desdobrando para gerar novas receitas cambiais – e a única forma de conseguir isso é com um superávit comercial de, no mínimo, US$ 10 bilhões por ano. No ano passado, por exemplo, o saldo argentino foi de US$ 9 bilhões.

O sul sente maisO sul do país é a região que mais

sente as consequências da falta de enten-dimento entre os países do Mercosul, es-pecialmente da Argentina. Em 2010, o Rio Grande do Sul tinha o mercado argentino como destino de 10% de suas exportações. Hoje, o percentual é de 7,6%. A queda é agravada pela complicada situação do setor calçadista. Em 2013, as exportações de calçados brasileiros para lá encolheram 13%. “A Argentina é o nosso segundo mercado mais importante. Por força da política protecionista, estamos perdendo uma grande participação nesse mercado”, diz Heitor Klein, presidente executivo da

RIO GRANDE DO SUL - MAIORES SUPERÁVITS * Valores em US$ milhões FOB

3.318,332.897,17

2.392,74715,95

545,83

CHINAPANAMÁ

HOLANDAPARAGUAI

BÉLGICA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

SANTA CATARINA - MAIORES SUPERÁVITS * Valores em US$ milhões FOB

523,29314,14

301,12284,50

245,85

HOLANDAJAPÃO

RÚSSIABÉLGICA

ARÁBIA SAUDITA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

PARANÁ - MAIORES SUPERÁVITS * Valores em US$ milhões FOB

774,39686,90

628,94343,04

320,69

CHINAHOLANDA

ARÁBIA SAUDITAPERU

HONG KONG

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

Para Cezar Müller, coordenador do Conselho de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiergs, também pesa o fato de a Argentina não favo-recer os países do Mercosul em suas decisões de compra. “O Rio Grande do Sul tem perdido posições importantes em função das barreiras e do controle de importações argentinas. E não temos tido nenhum tipo de sinalização de que

isso irá mudar”, diz ele.Uma ponta de esperança surgiu nas

últimas semanas, com a perspectiva de troca das listas de ofertas entre os países – uma possibilidade que conta com a simpatia da Argentina. Com isso, as ne-gociações com a União Europeia podem fi nalmente avançar. Recentemente, tanto o Brasil quanto a Argentina começaram a articular propostas para apresentar uma oferta comum aos europeus. Após uma reunião entre os ministros argentinos da

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Economia, Axel Kicillof, e da Indústria, Debora Giorgi, o ministro de Desenvol-vimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, Mauro Borges, afirmou que o país está caminhando para uma oferta conjunta do Mercosul. Se não acontecer, o Brasil já dá mostras de que poderá puxar o processo de forma independen-te – conforme apregoa a presidente da Confederação Nacional de Agricultura do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu. “Outra alternativa seria transformar o Mercosul em uma área de livre comércio, deixando de ser uma união aduaneira, o que concederia aos países do bloco liber-dade para negociar acordos bilaterais. Ou vamos esperar que a Argentina puxe o Brasil para junto dela na crise?”, questiona Castro, da AEB.

Mercados alternativosO fato é que o ranking dos maiores

compradores de produtos do sul do país está mudando. A China está crescendo e os destinos mais tradicionais – Estados Unidos e Argentina – perdem força. Ao mesmo tempo, uma tendência começa a se consolidar: a de expansão nas vendas para mercados que, até bem pouco tempo atrás, eram considerados alternativos. Países como os da região da Indochina –Tailândia, Cingapura, Vietnã e Malásia –, entre outros que vêm despontando na lista dos principais destinos das exporta-ções dos Estados do sul (veja mais detalhes

exportadores do sul

No rio GraNde do sul

país

Holanda 292,88Tailândia 187,77Coreia do Sul 113,74Taiwan (Formosa) 88,68Cingapura 60,25

CresCiMeNto eM 2013 (%)

eM saNta CatariNa

país

Cingapura 24,03China 23,46Peru 15,25Bolívia 15,05Chile 14,97

CresCiMeNto eM 2013 (%)

destiNos* de exportaÇÕes Que Mais CresCeM...

*Entre os 30 principais destinos das exportações do Estado. Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

No paraNá

país

Vietnã 409,31Malásia 43,95Emirados Árabes Unidos 35,60Espanha 34,13França 33,11

CresCiMeNto eM 2013 (%)

nas tabelas abaixo). O peso desses países ainda é pequeno na balança comercial brasileira, é verdade. Mas seu crescimento tem sido expressivo – o que abre novas oportunidades para a região sul. O Paraná, por exemplo, registrou um salto de mais de 400% nas vendas para o Vietnã entre 2012 e 2013. Já o Rio Grande do Sul viu seus embarques quase triplicarem para a Tailândia. No caso de Santa Catarina, o foco ainda está em países da América Latina, como Peru, Bolívia e Chile.

Mas essa mudança não é necessa-riamente boa. Para os Estados Unidos e Argentina, a maior parte das exporta-ções era de produtos manufaturados e semimanufaturados. Para os sul-asiáticos, concentra-se em produtos básicos, como açúcar, minérios, ligas metálicas e deriva-dos de petróleo. “Eles compram nossos produtos e industrializam. Acabam se tornando concorrentes no mercado internacional. Nossa missão é tentar recuperar nossa produtividade interna”, analisa Müller, da Fiergs.

Nesse compasso, o aumento das exportações para mercados tradicionais depende, basicamente, de esforços isola-dos de alguns setores – como o vitiviní-cola. Dez anos atrás, o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) firmou uma parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex--Brasil) e lançou o Wines of Brasil. Hoje, o projeto reúne 35 vinícolas de todo o país na tentativa de promover o vinho brasileiro no exterior, com ênfase nos mercados com maior poder aquisitivo. E já contabiliza conquistas importantes. Principal mercado externo do vinho brasileiro, os Estados Unidos respondem agora por um quarto das exportações do setor – não por acaso, já há um escritório instalado no país para facilitar a entrada de rótulos brasileiros. Iniciativas seme-lhantes foram tomadas na Alemanha e no Reino Unido. Os escritórios trabalham as marcas na imprensa, pontos de venda e feiras, e promovem até aulas de enologia. “O vinho brasileiro já atingiu maturidade

“As restrições argentinas nos afetam muito, e não há sinal de que irão mudar”Cézar MüllerCoordenador de comércio exterior da Fiergs

Divulgação

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AMANHÃ | Abril 2014| 49 |

no exterior. Não é mais um item exótico. Formadores de opinião já conhecem a produção local e veem o Brasil como um produtor importante no cenário mundial. Temos percebido uma evolução rápida”, destaca Roberta Baggio Pedreira, gerente do projeto Wines of Brasil.

Somente no primeiro semestre de 2013, o volume de vinhos exportados para a Alemanha cresceu 20 vezes. Para Hong Kong, o salto foi de 13 vezes. O próximo passo é chegar à China, maior importador de vinhos do mundo. “O produto brasileiro tem um mercado vasto pela frente. Os consumidores es-trangeiros ainda têm muito a conhecer. Nosso objetivo é que eles identifi quem o nosso vinho como uma opção imediata de compra”, explica Roberta. Países com tradição no consumo da bebida, acres-centa ela, estão aprendendo a apreciar o tom frutado e o baixo teor alcoólico dos

rótulos made in Brazil. “Começamos a entrar nas grandes redes internacionais. Até então, nosso foco era construir a imagem e a reputação. Agora, estamos montando uma rede de distribuição. O consumidor vai poder encontrar o produto mais facilmente”, empolga-se Roberta.

Novos destinos Entre os setores que vêm perdendo

espaço lá fora, o calçadista é o que sofre mais percalços. Em 2013, por exemplo, a quantidade de calçados brasileiros enviada para o exterior cresceu 8,5% em relação ao ano anterior, chegando a 122,9 milhões de pares. Entretanto, o avan-ço não se refl etiu no caixa das empresas do setor. Com o câmbio desfavorável e o cerco da concorrência asiática, o faturamento total da indústria calçadista estacionou em pouco mais de R$ 1 bilhão – um incre-

mento de apenas 0,2% em relação ao ano anterior. Além disso, os exportadores perderam posições em mercados im-portantes, como nos Estados Unidos, onde a venda de calçados brasileiros recuou 15%. Para contornar o proble-ma, os empresários estão indo à luta. “Estamos trabalhando na abertura de novos mercados onde, até pouco tempo atrás, não tínhamos uma participação relevante”, explica Heitor Klein, da Abicalçados. Entre os novos destinos estão a Rússia, a China, o Paraguai e Angola. O passo seguinte é emplacar as marcas brasileiras no exterior, com design original e maior valor agregado. “Isso vem crescendo a cada ano. O que ainda freia nossas exportações é o custo-Brasil, que torna nosso produto pouco competitivo. Se não fosse isso, voltaríamos a crescer rapidamente nesses países”, sustenta Klein.

Page 26: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

Déficit nas bombas: só em 2013, as importações da Petrobras totalizaram US$ 5,2 bilhões no sul do país

exportadores do sul

Abril 2014 | aMaNHÃ | 50 |

Carros egasolina

a forte expaNsÃo No coNsuMo NacioNal de veículos coloca as MoNtadoras e a petrobras No topo do ranking das eMpresas que Mais iMportaM pelo sul do país

Div

ulga

ção

Page 27: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

ma análise cuidadosa da lista das empresas que mais importam

pela região sul do país revela aquilo que qualquer pessoa já desconfi ava: nunca se consumiu tanto carro no Brasil. No ranking, elaborado com dados do Mi-nistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), despon-tam diferentes montadoras de veículos – lá estão Renault, Volkswagen, Toyota, Nissan e Volkswagen. Na liderança, com importações totais de US$ 5,2 bilhões em 2013, aparece a Petrobras. Que não monta veículos, mas é (a única) responsável por abastecê-los no Brasil. Ao todo, os portos do sul receberam US$ 12 bilhões em importações de carros e combustíveis. É quase 46% de tudo que chegou pelas docas das 50 maiores importadoras da região em 2013.

E nem poderia ser diferente. Nos últimos dez anos, a elevação da renda média dos brasileiros, combinada com a melhora no acesso ao crédito, alavancou o consumo de veículos – e combustíveis – em todo o país. O Brasil se tornou um dos poucos mercados do mundo que ganham mais carros e motos do que gente. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) revelam que, entre 2003 e 2013, houve um aumento de nada menos que 123% na frota brasileira. Praticamente 12 mil carros por dia ao longo de dez anos. Nesse mesmo período, porém, a população cresceu apenas 11%.

Felizmente, como mostra o ranking dos maiores importadores, o sul foi pro-tagonista nessa grande transformação. As importações de veículos e combustíveis refletem o crescimento da indústria automotiva na região, liderada pelo polo de São José dos Pinhais – que agrupa Re-nault, Nissan, Volkswagen e Volvo. E que deve ser reforçada no futuro com o início das operações da BMW em Araquari. Em 2013, aliás, a BMW apareceu pela primeira vez na lista dos maiores impor-tadores do sul do país, com compras de

US$ 166,4 milhões, todas elas realizadas pelo Porto de Itajaí.

Importantes importaçõesOs números também atestam que os

portos do sul estão à altura das necessida-des da indústria automotiva – que não são poucas. Para viabilizar a movimentação de veículos (tanto para exportação quan-to importação), os terminais precisam contar com estruturas específi cas para descarregamento e armazenamento das unidades. “Nesses portos, sempre é preciso ter um pátio automotivo. Não por acaso, nessa nova Lei dos Portos, nós defendemos a necessidade de ampliação desses pátios, já que pretendemos termi-nar esta década com a exportação de 1 milhão de veículos”, explica Luiz Moan Yabiku Junior, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em 2013, lembra ele, o Brasil exportou 563 mil carros.

As marcas associadas à Anfavea re-

U presentam, hoje, 80% da produção global de veículos. E poucas delas concentram suas linhas de produção em um único país. Ao contrário: quase todas elas desen-volvem cadeias de produção integradas com unidades no exterior – e dependem fortemente da efi ciência dos portos para viabilizar seus negócios. Ou seja: o fato de o sul importar muitos carros não repre-senta uma falta de capacidade da indústria automotiva local. É apenas refl exo de um modelo de atuação global que, até o mo-mento, está dando certo também no Bra-sil. “Sempre haverá uma complementação com produtos importados. Há modelos que não compensa você produzir aqui, porque não consegue ter economia de escala sufi ciente para descentralizar a pro-dução em todo o mundo”, explica Yabiku, que também é diretor institucional da Ge-neral Motors. De qualquer forma, conta ele, o Brasil tem uma posição privilegiada no setor automotivo: é, ao mesmo tempo, o quarto maior mercado consumidor e o

PARANÁ - MAIORES DÉFICITS EM 2013 * Valores em US$ milhões FOB

1.268,22685,61

654,37562,41

527,28

NIGÉRIAALEMANHA

ESTADOS UNIDOSFRANÇASUÉCIA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

PARANÁ - MAIORES SUPERÁVITS EM 2013 * Valores em US$ milhões FOB

774,39686,90

628,94343,04

320,69

CHINAHOLANDA

ARÁBIA SAUDITAPERU

HONG KONG

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

AMANHÃ | Abril 2014| 51 |

gasolina

Div

ulga

ção

Page 28: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

Abril 2014 | AMANHÃ | 52 |

EXPORTADORES DO SUL

134256

1197

1820131022

8192317---

121521------

26---

3132283035394441293637474245------

16---------

4640---

27

123456789

1011121314151617181920212223242526272829303132333435363738394041424344454647484950

AS 50 EMPRESAS QUE MAIS IMPORTAM A PARTIR DO SULAs companhias que lideraram os embarques na região, em 2013

Valores importados em US$ milhões FOB

POS.2012

POS.2013

Petrobras 1.777,44 --- 3.425,28 5.202,72 5.566,63 -6,35Braskem S/A --- --- 2.072,63 2.072,63 1.877,19 10,41Renault do Brasil S/A 1.757,39 --- --- 1.757,39 1.589,14 10,59Volkswagen do Brasil Ltda. 1.749,10 --- --- 1.749,10 1.904,72 -8,17Toyota do Brasil Ltda. --- --- 1.727,44 1.727,44 1.534,59 12,57CISA Trading S/A --- --- 937,88 937,88 1.110,44 -15,54Volvo do Brasil Veículos Ltda. 717,85 --- --- 717,85 539,20 33,13Yara Brasil Fertilizantes S/A 171,5 --- 485,87 657,37 599,63 9,62Copper Trading S/A --- 628,17 --- 628,17 831,13 -24,42John Deere Brasil Ltda. --- --- 565,08 565,08 384,36 47,02CNH Latin America Ltda. 550,66 --- --- 550,66 367,64 49,78Positivo Informática S/A 515,82 --- --- 515,82 453,87 13,65Bunge Fertilizantes S/A 191,34 --- 216,70 408,04 569,53 -28,35Mosaic Fertilizantes do Brasil Ltda. 290,63 --- 104,76 395,39 330,76 16,34Nissan do Brasil Automóveis Ltda. 394,65 --- --- 394,65 701,26 -43,72Capital Trade Importação e Exportação Ltda. --- 371,57 --- 371,57 374,18 -0,7Dow Brasil --- 365,02 --- 365,02 327,89 11,32Columbia Trading S/A --- 362,13 --- 362,13 400,52 -9,59Fertipar Fertilizantes do Paraná Ltda. 348,83 --- --- 348,83 247,21 41,11Electrolux do Brasil S/A 326,94 --- --- 326,94 456,03 -28,31Sainte Marie Importação e Exportação Ltda. --- 326,41 --- 326,41 432,72 -24,57Komport Comercial Importadora S/A --- 297,02 --- 297,02 333,29 -10,88General Motors do Brasil Ltda. --- --- 285,60 285,60 103,31 176,45Quip S/A --- --- 271,12 271,12 3,72 ---Sertrading (BR) Ltda. --- 270,89 --- 270,89 244,25 10,91Ascensus Trading & Logística Ltda. --- 269,82 --- 269,82 260,16 3,71Fertilizantes Heringer S/A 159,62 --- 86,46 246,09 201,97 21,84Whirlpool S/A --- 233,50 --- 233,50 200,05 16,72Diamond Business Trading S/A --- 223,26 --- 223,26 227,02 -1,66Trop Comércio Exterior Ltda. --- 213,30 --- 213,30 211,3 0,94AGCO do Brasil --- --- 207,97 207,97 190,81 9,00Bunge Alimentos S/A 102,77 103,45 --- 206,22 174,32 18,29South Service Trading S/A --- 201,24 --- 201,24 146,12 37,72Macrofertil 199,43 --- --- 199,43 150,82 32,23BRF- Brasil Foods S/A 187,62 --- --- 187,62 4,57 ---Roche Diagnostica Brasil Ltda. --- 182,01 --- 182,01 188,14 -3,26Fertilizantes Piratini Ltda. --- --- 181,61 181,61 181,5 0,06Reyc Comércio e Participações Ltda. --- 177,51 --- 177,51 138,18 28,46Milênia Agrociências S/A 171,02 --- --- 171,02 150,77 13,43Link Comercial Importadora e Exportadora Ltda. --- 170,92 --- 170,92 143,98 18,71BMW do Brasil Ltda. --- 166,36 --- 166,36 --- ---Agro Industrial São Luiz Ltda. 165,99 --- --- 165,99 57,10 190,66Pirelli Pneus Ltda. --- --- 162,69 162,69 186,01 -12,54Plant Bem Fertilizantes S/A 162,55 --- --- 162,55 89,28 82,06CHS do Brasil 84,03 --- 73,72 157,75 125,48 25,71Nortox S/A 155,87 --- --- 155,87 123,44 26,27International --- --- 147,34 147,34 143,39 2,76Unifertil --- --- 146,75 146,75 160,71 -8,68Tetra Pak Ltda. 145,71 --- --- 145,71 28,81 405,68First S/A --- 144,15 --- 144,15 228,83 -37,00

EMPRESA VIA PR VIA SC VIA RSTOTAL2013

TOTAL2012

VARIAÇÃO(%)

Page 29: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

AMANHÃ | Abril 2014| 53 |

SANTA CATARINA - MAIORES DÉFICITS EM 2013* Valores em US$ milhões FOB

3.839,861.049,56

586,32566,87

434,54

CHINACHILE

ARGENTINAALEMANHA

ÍNDIA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

SANTA CATARINA - MAIORES SUPERÁVITS EM 2013 * Valores em US$ milhões FOB

523,29314,14301,12

284,50245,85

HOLANDAJAPÃO

RÚSSIABÉLGICA

ARÁBIA SAUDITA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

RIO GRANDE DO SUL - MAIORES DÉFICITS EM 2013 * Valores em US$ milhões FOB

1.882,771.790,53

1.285,90468,64

408,41

ARGENTINANIGÉRIAARGÉLIAMÉXICO

MARROCOS

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

RIO GRANDE DO SUL - MAIORES SUPERÁVITS EM 2013 * Valores em US$ milhões FOB

3.318,332.897,17

2.392,74715,95

545,83

CHINAPANAMÁ

HOLANDAPARAGUAI

BÉLGICA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

sétimo maior polo produtor de veículos do planeta.

Nesse cenário, é compreensível que a Petrobras desponte como a grande im-portadora do sul do país. E ao que tudo indica vai manter essa posição por muito tempo. Para atender ao crescimento do consumo interno, a estatal já anunciou que deverá dobrar os volumes de im-portação de combustíveis. As previsões dão conta de que as compras externas da empresa deverão se estabilizar em 60 mil barris por dia, neste ano. No ano pas-sado, a média foi 32 mil barris. A notícia é mais um fator de preocupação para os investidores da companhia, às voltas com um endividamento crescente e denúncias de superfaturamento e má gestão. No ano passado, a produção de óleo e gás da Pe-trobras caiu 2,5%, o menor resultado des-de 2008. Além disso, a petroleira continua amarrada à política de controle de preços do governo federal, que a obriga a vender combustíveis a um valor mais baixo que o da compra. Não por acaso, a Petrobras é a companhia menos rentável entre as grandes do setor no mundo, segundo um levantamento divulgado em março pelo Credit Suisse.

Compras da competitividadeA maioria dos importadores, po-

rém, vem registrando sequências de bons resultados. É o caso da Yara Bra-sil. Dona de um quarto do mercado brasileiro de adubos e fertilizantes, a companhia desponta na oitava coloca-ção entre as maiores importadoras do sul do país. Só em 2013, suas compras externas totalizaram US$ 657,3 mi-lhões, um avanço de 9,6% em relação ao ano anterior. E a tendência é de que esses valores cresçam ainda mais: em dezembro de 2012, a Yara adquiriu a divisão de fertilizantes da Bunge em um negócio avaliado em US$ 750 milhões. No Brasil, a incorporação foi concluída em agosto – e o plano é que as sinergias

AS 50 EMPRESAS QUE MAIS IMPORTAM A PARTIR DO SULAs companhias que lideraram os embarques na região, em 2013

EMPRESA VIA PR VIA SC VIA RS

Page 30: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

Abril 2014 | AMANHÃ | 54 |

PARANÁ - PRINCIPAIS ORIGENS DAS IMPORTAÇÕES * Valores em US$ milhões FOB

3.204,492.322,15

1.374,781.321,07

1.268,22981,11

627,90545,55527,28471,55

CHINA ARGENTINA

ESTADOS UNIDOS ALEMANHA

NIGÉRIA FRANÇA

ESPANHA ITÁLIA

SUÉCIA MÉXICO

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

SANTA CATARINA - PRINCIPAIS ORIGENS DAS IMPORTAÇÕES * Valores em US$ milhões FOB

4.531,471.230,15

1.103,971.023,72

845,05455,66434,54

371,19342,43289,14

CHINA CHILE

ARGENTINA ESTADOS UNIDOS

ALEMANHA PERU ÍNDIA

COREIA DO SUL ITÁLIA

INDONÉSIA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

RIO GRANDE DO SUL - PRINCIPAIS ORIGENS DAS IMPORTAÇÕES * Valores em US$ milhões FOB

3.780,301.790,53

1.285,901.274,911.232,64

723,5665,39

468,64408,41385,31

ARGENTINA NIGÉRIA ARGÉLIA

ESTADOS UNIDOS CHINA

ALEMANHA VENEZUELA

MÉXICO MARROCOS

ITÁLIA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) - 2013

com a nova controlada comecem a dar resultados a partir deste ano.

Atualmente, 70% das matérias-pri-mas utilizadas pelos fabricantes brasilei-ros de fertilizantes são importadas. E o índice poderia ser ainda maior. O Brasil, como se sabe, é um grande consumidor de fertilizantes, mas ainda carece de insumos essenciais pra produzi-los. “Por exemplo: não temos gás natural suficiente para transformar o nitrogênio em amônia, que é necessária para produzir o fertilizante”, esclarece Lair Hanzen, presidente da Yara Brasil. A maior parte das importações são de substâncias simples, como nitrogênio, fósforo e cloreto de potássio. As reservas brasileiras desses produtos, além de es-cassas, localizam-se em pontos de dif ícil acesso, o que torna a importação mais vantajosa. A única fornecedora brasileira de cloreto de potássio é a Vale – que não atende nem a 10% da demanda nacional.

Origens preferenciaisA maior parte das importações bra-

sileiras de insumos para fertilizantes tem origem na Rússia e na Bielorússia, seguidas por Canadá e Alemanha. Mas, no placar geral, são dois os países que mais vendem produtos para o Brasil e, especialmente, para a região sul: China e Argentina. “Nossas exportações para o mercado chinês se con-centram, basicamente, em commodities e produtos básicos, como plásticos, borra-chas, calçados e couros. Já as importações são bem mais pulverizadas. No caso do sul, predominam as máquinas e os equipamen-tos”, constata Fernando Mourad, diretor da Câmara Chinesa de Comércio do Brasil (CCCB). O desequilíbrio se deve a velhos problemas estruturais do país. “Nosso sis-tema tributário é arcaico. Perdemos muito tempo com o simples ato de pagar as taxas”, reclama Fábio Pesavento, coordenador do Núcleo de Economia Empresarial da ESPM--Sul. Felizmente, isso não tem impedido as grandes importadoras do sul de obter bons resultados.

EXPORTADORES DO SUL

Page 31: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

Abril 2014 | AMANHÃ | 56 |

supersafra de grãos que o Brasil colheu em 2013 foi comemorada

pelo governo, pelas empresas e pelos próprios produtores – que, apenas um ano antes, haviam sofrido com uma das mais violentas estiagens da história. O que ninguém comemorou foram os ver-dadeiros malabarismos que alguns pro-dutores tiveram de fazer para transportar suas mercadorias até os compradores internacionais. As dificuldades não se resumiram à habitual precariedade das estradas, tampouco à escassez de opções em modais alternativos, cujo custo de frete é mais baixo. Dessa vez, o excesso de produção provocou um gargalo não apenas nas vias terrestres de acesso como também dentro dos portos. Operando no limite da movimentação, muitos deles registraram atrasos e filas de espera de navios em alto-mar, com prejuízos tanto para os produtores quanto para os trans-portadores. Sem opções, algumas coope-rativas montaram grandes operações de remanejamento. A Coamo, por exemplo, teve de ir até Rio Grande, no extremo sul do país, para embarcar sacas de soja co-lhidas no interior do Mato Grosso do Sul. Tudo porque Paranaguá, àquela altura, estava com capacidade esgotada – com dificuldades por terra e mar.

E isso explica uma mudança impor-tante no panorama portuário do sul do país: pela primeira vez desde 1994, o porto de Rio Grande voltou a ser a principal pla-

taforma de escoamento de soja do sul do país, à frente de Paranaguá – no restante do Brasil, ainda perde para o Porto de Santos, líder absoluto em embarques de granéis e contêineres. No total, o terminal gaúcho movimentou 8,2 milhões de toneladas de grãos, com um aumento de 132,4% em relação a 2012. É bem verdade que a safra recorde do Rio Grande do Sul, de 12,7 milhões de toneladas, ajudou a inflar os números. Mas, além disso, o Porto de Rio Grande também foi impulsionado pelo re-cebimento de cargas oriundas de diferentes partes do país, como Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e até Goiás.

Paulo Bertinetti, presidente do Sindi-cato dos Terminais Marítimos de Granéis Sólidos e Líquidos em Geral do Porto do Rio Grande (Sintermar), comemora a conquista com ressalvas. Para ele, o que ocorreu em 2013 foi mais um sintoma de uma velha moléstia: a infraestrutura insuficiente dos terminais portuários brasileiros – que sofrem para dar conta da demanda ao primeiro sinal de aumento na produção. “Vários portos do país têm uma movimentação graneleira muito forte, mas pouca estrutura para dar vazão ao que chega, especialmente da região centro-oeste do país”, conta ele. O resul-tado é que, com os investimentos certos, Rio Grande se projeta como uma opção de escoamento não só para os produtores gaúchos, mas para todos que param na fila dos demais portos brasileiros. “Alguns dos

A nossos terminais, como os da Bianchini, da Termasa, da Tergrasa e da Bunge Alimentos, estão bem aparelhados para fazer a movimentação graneleira”, conta Bertinetti, que também é superintendente do Terminal de Contêineres (Tecon) do Porto de Rio Grande.

Expansão necessáriaA estrutura dos portos brasileiros

pode ser insuficiente para dar conta da demanda. Mas isso não significa que é precária. Paranaguá, por exemplo, já se consolidou como o grande terminal de movimentação de granéis do sul do país, com pelo menos 20 berços de atracação e um calado de 15 metros de profundidade – suficiente para navios de grande porte. Nos últimos anos, o complexo portuário recebeu R$ 470 milhões em investimen-tos do governo paranaense em obras de infraestrutura e desenvolvimento, como novas balanças comerciais, equipamentos e dragagem. A estrutura atual ainda opera no limite, mas é inegável que se expandiu. Nos últimos dez anos, por exemplo, a movimentação de contêineres mais que dobrou em Paranaguá, chegando a quase 263 mil toneladas em 2013 (o número desconsidera contêineres vazios). O desafio, agora, é ampliar ainda mais esses números. “Paranaguá está operando perto do limite de sua capacidade e precisa, com urgência, de novos projetos de expansão”, sustenta Paulinho Dalmaz, diretor técnico

Desafios na zonade embarque

os principais portos do sul do país Evoluíram bastantE na última década. mas ainda têm dificuldadEs para atEndEr a toda a dEmanda dos ExportadorEs da rEgião

ExportadorEs do sul

Page 32: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

AMANHÃ | Abril 2014| 57 |

Pronto para zarpar: supersafra recolocou Rio Grande na liderança da movimentação de soja no sul do país

da Administração dos Portos de Parana-guá e Antonina (Appa).

A situação muda nos três principais portos de Santa Catarina – Itajaí, São Francisco do Sul e Imbituba. Com uma infraestrutura moderna, ideal para a mo-vimentação de contêineres, os terminais catarinenses vêm se destacando como opções efi cientes para as empresas que exportam produtos manufaturados e semimanufaturados. Um exemplo disso é o Porto de Itajaí. Em 2013, o complexo movimentou cerca de US$ 17,4 bilhões entre entradas e saídas – um valor

pequeno se comparado ao de Santos (US$ 122,7 bilhões) ou de Paranaguá (US$ 33,8 bilhões). Mesmo assim, des-tacou-se por movimentar as cargas com maior valor agregado entre os dez prin-cipais portos do país, segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Os números mostram que, em média, cada quilo de carga embarcada por Itajaí em 2013 custava US$ 2,2. Em Santos, para se ter uma ideia, o valor médio de cada quilo não passou de US$ 1,3. Em Rio Grande, foi de US$ 1,1 e, em Paranaguá,

de apenas US$ 0,8.“A nossa estrutura retroportuária

para produtos secos está muito bem estruturada. Isso nos coloca no mercado com um diferencial”, acredita o enge-nheiro Antonio Ayres, superintendente do porto de Itajaí. Ele lembra que, atual-mente, metade das mercadorias que saem pelo porto catarinense é de alimentos congelados, resultado direto de uma série de investimentos em câmaras frigorífi cas com capacidade de comportar até 180 mil toneladas de carne. Além disso, des-taca que Itajaí está mudando seu perfi l

Foto

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Abril 2014 | AMANHÃ | 58 |

de atuação. Até 2007, era um complexo portuário com vocação claramente ex-portadora – cerca de 90% dos produtos movimentados se destinavam ao exterior. Hoje, a situação é de equilíbrio: 51% das cargas são de importações e o restante, de exportações. “Com a mudança do perfil comercial do país ao longo dos anos, pas-samos a ter um investimento maior nas importações, o que nos deu equilíbrio no fluxo de mercadorias”, argumenta ele.

O equilíbrio entre exportações e importações é um fator importante de competitividade dos portos. No Tecon Rio Grande, por exemplo, cerca de 75% das cargas movimentadas são exportadas

Ao contrário de Santa Catarina, onde o aumento das importações na úl-tima década acabou equilibrando o fluxo dos portos, o Rio Grande do Sul mantém uma forte vocação exportadora. “Santa Catarina, assim como o Paraná, são Estados que tiveram coragem de liderar uma guerra fiscal, fazendo com que as suas indústrias crescessem e passassem a fazer negócios internacionais”, salienta Bertinetti. Nesse contexto, o executivo traz como exemplos o anúncio recente da vinda da BMW para Araquari (SC), os rumores sobre a chegada da Mercedes--Benz em solo catarinense e, ainda, o impacto positivo que a indústria auto-mobilística vem causando no fluxo de comércio exterior do Paraná a partir do ano 2000. “Enquanto isso, o Rio Grande do Sul segue um Estado essencialmente exportador de produtos agrícolas, fumo, couro, madeira, cavaco etc”, lamenta.

Apesar de sua pequena costa, a menor entre os três Estados da região sul, Santa Catarina se consolidou como uma das principais plataformas de comércio exte-rior do Brasil nos últimos anos. O conjunto de cinco terminais – São Francisco do Sul, Itajaí, Imbituba, Portonave e Itapoá – regis-trou crescimentos exponenciais em 2013. Segundo Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira de Terminais Portu-ários (ABTP), o porto de Itapoá, localizado do outro lado da baía de São Francisco do Sul, foi o que mais expandiu sua movi-mentação, saltando de 270 mil contêineres movimentados em 2012 para 465 mil em 2013. “É um porto novo e que já está com sua capacidade lotada, absorvendo cargas de todos os terminais de Santos para baixo”, explica Manteli. Ainda assim, os números da ABTP apontam como grande destaque da região sul no quesito movimentação de contêineres a Portonave, que integra o complexo de Itajaí. Em 2013, a movi-mentação no terminal chegou a 730 mil contêineres, com grande destaque para as cargas refrigeradas.Expansão que não para: Paranaguá vem se destacando na movimentação de contêineres

e apenas 25%, importadas. “Aqui tem muito contêiner vazio. Quanto existe importação e exportação meio a meio, a importação libera o contêiner que vai direto para a exportação, o que dá mais competitividade para qualquer porto”, explica Bertinetti. Ainda assim, a busca por melhores condi-ções de atendimento para quem opera no terminal gaúcho é constante. Tanto que o Tecon está investindo na ampliação de seus três berços de atracação, de 300 para 400 metros cada, o que viabilizará a atracação de navios ainda maiores – que chegam a ter até 370 metros de comprimento. Estima-se que o aporte possa chegar à casa dos R$ 200 milhões.

EmbarquEs (Em mil tonEladas)1

1 Peso total das exportações em 2013, desconsiderando-se contêineres vazios

santa Catarina 9.793,75rio GrandE do sul 4.417,32 ParanÁ 3.908,74

ConsidErando-sE somEntE a movimEntação dos Portos, santa Catarina é o Estado do sul quE mais ExPorta

ExPortadorEs do sul

Page 34: Revista AMANHÃ: Especial Exportação

AMANHÃ | Abril 2014| 59 |

EM MOVIMENTAÇÃO DE CONTÊINERES, O PORTO DE NAVEGANTES, QUE É PRIVADO, JÁ SE APROXIMA DOS MAIORES DO SUL DO PAÍS...

Desperdício costeiroDe qualquer forma, novos investi-

mentos são necessários para desafogar a produção tanto do agronegócio como da indústria brasileira. Filinito Jorge Eisenbach Neto, professor de Logística da PUC do Paraná, entende que o Brasil aproveita pouco seu próprio potencial. Afi nal, o mais de 7,4 mil quilômetros de costa, mas concentra suas exportações nos terminais do sul e do sudeste. Só o Porto de Santos fi ca com 42% de tudo que o Brasil movimenta no comércio exterior.

A superconcentração deixa os ex-portadores brasileiros sujeitos aos mais variados tipos de problemas. Entre eles, a falta de mão de obra especializada. Tal como ocorre com as indústrias, os portos também enfrentam difi culdades para encontrar e reter profi ssionais de nível operacional – como estivadores, auxiliares de manutenção, operadores de máquinas, entre outros. “O Brasil não tem mão de obra adequada e, logo, não tem competência técnica para competir lá fora. É um apagão”, expõe o professor.

Os portos também esbarram na falta de uma estrutura adequada de acesso. Recentemente, o governo brasileiro anun-ciou a intenção de investir R$ 54 bilhões na melhorias dos portos do país até 2017. “Mas esse investimento só vai sanar os problemas do setor se vier acompanhado de um uso mais racional das rodovias, hidrovias e ferrovias, além de uma boa administração”, entende Dirceu Lopes, superintendente do Porto de Rio Grande. Que assim seja.

1 Peso total das exportações em 2013, desconsiderando-se contêineres vazios

2 Unidades totais embarcadas em 2013, desconsiderando-se contêineres vazios

QUANDO ANALISADOS SEPARADAMENTE, OS PORTOS DE SANTA CATARINA AINDA FICAM ATRÁS DE RIO GRANDE E PARANAGUÁ

UF

UF

UF

PORTO DE RIO GRANDE RS 4.417,32 TUP PORTONAVE SC 4.004,24PORTO DE PARANAGUÁ PR 3.908,74TUP PORTO ITAPOÁ SC 3.226,36PORTO DE ITAJAÍ SC 1.953,98PORTO DE SÃO FRANCISCO DO SUL SC 498,31PORTO DE IMBITUBA SC 110,86

PORTO DE RIO GRANDE RS 278,56PORTO DE PARANAGUÁ PR 263,35TUP PORTONAVE (NAVEGANTES) SC 261,59TUP PORTO ITAPOÁ SC 206,39PORTO DE ITAJAÍ SC 127,25PORTO DE SÃO FRANCISCO DO SUL SC 30,57PORTO DE IMBITUBA SC 5,84

PORTO DE PARANAGUÁ PR 7.902,14TUP PORTONAVE SC 7.569,40PORTO DE RIO GRANDE RS 6.427,01TUP PORTO ITAPOÁ SC 5.645,76PORTO DE ITAJAÍ SC 4.109,11PORTO DE SÃO FRANCISCO DO SUL SC 880,67PORTO DE IMBITUBA SC 179,91

EMBARQUES

CONTÊINERES

MOVIMENTAÇÃO TOTAL

(EM MIL TONELADAS)1

(EM MIL TONELADAS)2

(EM MIL TONELADAS)3

3 Peso estimado dos embarques e desembarques totais do porto, incluindo-se contêineres vazios * Portos privados

...MAS É PARANAGUÁ QUE REINA NA REGIÃO QUANDO SE LEVA EM CONTA A MOVIMENTAÇÃO TOTAL (EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES)

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UM RAIO-X DOS PORTOS DO SUL Os investimentos que estão atracando nos principais terminais da região

PARANÁPORTO DE PARANAGUÁResponsável por movimentar 4,5% de tudo que passou pelos portos brasileiros em 2013, Paranaguá é, hoje, um dos principais polos exportadores de granéis sólidosdo país. Conta com 20 berços de atracação e um calado com 15 metros de profundidade. Em setembro, o governo estadual anunciou que injetará mais R$ 175 milhões em obras de expansão e modernização do porto. A maior parte desse valor – R$ 115 milhões – será utilizada em obras de dragagem nos berços de atracação. Com a lei dos portos, porém, algumas iniciativas foram postergadas.

SANTA CATARINAPORTO DE ITAJAÍNos dez últimos anos, recebeu mais de R$ 1,3 bilhão em investimentos. Desse total, R$ 620 milhões vieram da União para o terminal público e outros R$ 750 milhões foram aportados pelos administradores dos terminais privados.

PORTO DE SÃO FRANCISCO DO SULConta com vários terminais privados. Um deles, o Tesc, prevê investimentos de R$ 150 milhões até 2015. Ao mesmo tempo, um consórcio de empresas estuda a possibilidade de construir um novo terminal de granéis, no valor de R$ 500 milhões.

PORTO DE IMBITUBADesde fevereiro, vem passando por novas obras de dragagem com o objetivo de ele-var a profundidade do calado dos atuais 14 metros para 17 metros. O valor total do investimento é de R$ 36 milhões.

RIO GRANDE DO SULPORTO DE RIO GRANDEBenefi ciado pela supersafra de grãos e o esgotamento da capacidade de movimentação em outros portos, Rio Grande retomou o posto de principal plataforma de exporta-ção de soja do sul do país – posição que não ostentava desde 1994. Para este ano, a expectativa é de um crescimento de mais 12% na movimentação do grão. Possui 14 canais acostáveis com profundidades que variam de 5 a 12,8 metros. Em contêineres, tem como destaque o Tecon Rio Grande, com três berços de atracação de 300 metros cada – que devem ser expandidos para 400 metros até 2016.

EXPORTADORES DO SUL

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uem confere a lista dos maiores exportadores do sul (na página

30) se depara com diversos nomes que costumam despontar também em outro ranking – o das maiores empresas da região. Brasil Foods, Bunge Alimentos, Braskem, Renault, ADM do Brasil são algumas das dezenas de empresas que, além de se destacarem como grandes ex-portadoras, brilham também no ranking das 500 Maiores do Sul, elaborado anual-mente por AMANHÃ em parceria com a

Q

Quando a força está dentro de casa: crescimento do mercado interno pesou no desempenho de notáveis exportadoras, como a Renault

exportadores do sul

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As soluçõespolíticasdescoNceNtrar as exportações e firMar acordos de cooperaçÃo iNterNacioNal estÃo Na pauta de prioridades dos goverNos do sul

PwC. É natural que grandes companhias sejam, também, grandes exportadoras. Mas o verdadeiro problema está na outra ponta, entre as pequenas e médias empre-sas do sul do país: ainda são poucas as que conseguem vender lá fora.

Prova disso está em um indicador conhecido como Índice de Herfindhal--Hirschman (ou HHI, na sigla em inglês), que expressa o nível de concentração das exportações de um país ou estado. Até 2010, segundo o levantamento mais

recente da Apex Brasil, os três Estados do sul apresentavam um HHI acima de mil pontos – um patamar de concentra-ção que os especialistas consideram de moderado a alto. O Rio Grande do Sul, por exemplo, apresentava 1.275 pontos, o menor índice da região. Já Santa Ca-tarina ficava em 1.777 pontos, enquanto o Paraná chegava a 2.117 pontos. De lá para cá, ao que tudo indica esse padrão se mantém. Em 2013, por exemplo, as 40 maiores exportadoras paranaenses res-

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esse potencial para ganhar mercado lá fora. E é aí que está o desafi o.

Gloger, da ADP, acredita que a ten-dência é de expansão nas exportações paranaenses de produtos com alto valor agregado. Para ele, a venda de itens bási-cos deve perder peso à medida que mais companhias de pequeno e médio porte venham a se inserirem no mercado global. “O problema é que a velocidade dessa redução, comparada com o aumento dos itens que mais nos interessariam [os ma-nufaturados], é ainda muito lenta”, admite.

Para resolver o problema, o governo paranaense aposta no grande programa de atração de investimentos e fomento da gestão de Beto Richa. Lançado em 2011, o programa Paraná Competitivo modifi cou a lógica de concessão de benef ícios fi scais do Estado. Antes, os índices de poster-gação do ICMS eram fi xados de acordo com o nível de desenvolvimento de cada região – com o claro objetivo de favorecer as áreas mais pobres do Paraná. Agora, o pacote é defi nido conforme o tipo do investimento, o número de empregos a serem gerados, o impacto econômico e o grau de inovação. Tudo para favorecer a “descomoditização” da economia pa-ranaense. “Temos trabalhado no sentido de aumentar a competitividade das em-presas através de inovações tecnológicas e parcerias nacionais e internacionais. Se quisermos competir com países que têm uma tecnologia muito mais avançada, e que conseguem ter preços muito mais favoráveis, é evidente que nós vamos fi car sempre para trás”, diz Gloger.

Mais diversifi caçãoIdeal semelhante mobiliza a agenda

política de Santa Catarina. Atualmente, o governo catarinense desenvolve um projeto com o objetivo de capacitar micro e pequenas empresas para o mercado exportador. Liderada pelo Sebrae, a ini-ciativa conta com a parceria do governo da Flórida, nos Estados Unidos, e visa a criar um ambiente favorável às trocas comerciais entre ambos os mercados. E até mais do que isso: no futuro, a meta é dar origem a uma nova geração de pequenas multinacionais catarinenses. “Claro que isso exige uma política e um desenvolvimento de longo prazo. Mas, vencido isso, o objetivo é fazer com que as empresas daqui consigam abrir operações também nos Estados Unidos”, conta Amir Ternes Hamad, diretor da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS) de Santa Catarina.

Convém lembrar que Santa Catari-na detém a pauta de exportações mais diversifi cada do sul do país – a única que não depende da soja para catapultar seus resultados. Na lista de produtos que o Estado envia ao exterior aparecem não só commodities como as carnes de frango e suínos, mas também itens manufaturados como motores elétricos (especialmente os da Weg), compressores de refrigeração (da Embraco e da Schultz) e outros. E a ex-pectativa é de que a pauta se diversifi que ainda mais com as operações da BMW, que está erguendo sua primeira fábrica brasileira em Araquari, nas cercanias de Joinville – e a poucos minutos do Porto

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As soluções ponderam por nada menos que 69,7% dos embarques do Estado, segundo a Agência Paraná de Desenvolvimento (APD). No restante do país, a concentração foi bem menor: as 40 maiores originaram apenas 51,2% das exportações totais.

Isso explica por que os governos dos Estados do sul estão engajados em uma agenda comum: encontrar meios de desconcentrar as exportações – e incluir mais empresas de pequeno e meio porte no jogo do comércio global. “Temos de evitar essa concentração e aumentar a possibilidade de outras companhias me-nores exportarem”, resume Carlos Alberto Del Claro Gloger, presidente da APD. Ele lembra que a desconcentração é necessá-ria não só para aumentar o volume total de exportações do Estado, mas também para rentabilizá-las – na medida em que as pequenas e médias empresas tendem a trabalhar com produtos de maior valor agregado. Entre 2010 e 2013, as vendas paranaenses de produtos básicos cresce-ram 48,2%, quase o dobro do verifi cado no restante do país (25,5%). Já os embarques de manufaturados avançaram apenas 14%, fi cando abaixo da média nacional (de 17,9%).

Os índices não chegam a assustar o governo (e tampouco as empresas) do Paraná. Até porque foram, em parte, circunstanciais. Isto é: ocorreram em uma conjuntura favorável ao cresci-mento do mercado interno. Que o diga a Renault: embora desponte como uma das grandes exportadoras do Paraná, a companhia tem concentrado grande parte de seu crescimento dentro das fronteiras brasileiras. “Se você analisar, foram dez anos de expansão acelerada do mercado interno. Um período longo e consistente”, relativiza Caíque Ferreira, diretor de comunicação da Renault Brasil. Não por acaso, lembra ele, a montadora francesa investiu mais de R$ 500 milhões na ampliação de sua fábrica em São José dos Pinhais. O desafi o, agora, é aproveitar

das exportações paranaensestiveram origem nas 40 maiores empresas do Estado em 2013

70%

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PORTOS

de Itajaí. Mesmo assim, Santa Catarina não tem obtido bons resultados no comércio exterior. Em 2013, os embarques totais do Estado recuaram 2,6% em relação ao ano anterior, totalizando US$ 8,7 bilhões. O saldo fi nal foi um défi cit de US$ 6,1 bilhões.

Industrialização primáriaJá o Rio Grande do Sul percorre um

caminho à parte na busca de melhores resultados na balança comercial. A estra-tégia do governo gaúcho é fortalecer as mais tradicionais vocações econômicas do Estado – de forma que elas deem origem a novos negócios. Um processo que Mauro Knijnik, secretário de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (SDPI) do Rio Grande do Sul, resume como “indus-trializar a produção primária”. “É impor-tante exportar grãos e carnes, buscando industrializá-los. O que não interessa para o Estado é exportar gado em pé, por exem-

plo. Nosso esforço é pelo benefi ciamento dos nossos produtos”, garante ele.

A decisão de fortalecer os pilares do agronegócio – em vez de concentrar as apostas em outros setores de menor expressão – se ampara nos resultados recentes da balança comercial gaúcha. Em 2013, o Rio Grande do Sul protagonizou um salto 44,3% nas vendas externas em relação a 2012, o maior avanço registrado entre os Estados brasileiros. Não por aca-so, a participação gaúcha nas exportações totais do país voltou a crescer – de 7,17% para 10,36%. E grande parte dessa evolu-ção se deve justamente ao agronegócio. Em 2013, os produtores gaúchos tiveram colheita farta – e a expectativa é de safra recorde para 2014, com mais de 30,2 mi-lhões de toneladas de grãos, segundo as perspectivas da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).

Nos três Estados, porém, os planos

ainda esbarram em questões elementares, como a precariedade da infraestrutura à disposição dos exportadores. Dois anos atrás, as três federações de indústria do sul – Fiep, Fiesc e Fiergs – se uniram no estudo Sul Competitivo, que mapeou as obras necessárias para abrir as portas da região ao mercado externo. De lá para cá, houve avanços importantes, como a duplicação da BR-101 e a melhoria dos acessos ao Porto de Paranaguá. Mas ainda há muito a ser feito. “Os três estados estão bem articulados. O problema é que a ve-locidade da resposta do governo federal é muito lenta, e o resultado é que o sul segue alijado dos grandes investimentos federais em infraestrutura”, reclama Maria Teresa Bustamante, presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc. Como se vê, será preciso ir além da alçada dos Estados para que o sul realize suas ambições de expansão internacional.

EXPORTADORES DO SUL

PARANÁ

O foco do governo paranaense é incluir micro, pequenas e médias empresas no setor exportador. Com a ajuda do programa Paraná Competitivo, o Estado pretende não só atrair investimentos, mas também estimular os empreendedores paranaenses a apostar em negócios com alto teor de inovação. O problema é que, como os outros Estados do sul, o Paraná também carece de melhorias de infraestrutura para se tornar mais competitivo no exterior.

SANTA CATARINA

Embora tenha uma pauta de exportações diversifi cada, o Estado vem acumulando maus resultados na balança comercial recente. Para estancar as perdas, o governo estadual aposta em missões internacionais e em convênios de trocas tecnológicas com outras regiões do mundo – como o que vem sendo desenvolvido com o governo da Flórida. Ao mesmo tempo, trabalha para abrir novas frentes de exportação a partir da chegada da fábrica da BMW em Araquari.

RIO GRANDE DO SUL O governo gaúcho confi a no processo de reconversão tecnológica do agronegócio. A ideia é criar condições para que os produtores do Estado possam processar matérias--primas – especialmente grãos e carnes – antes de despachá-las para o mercado externo. Paralelamente, o governo gaúcho se esforça para fi rmar acordos de cooperação com empresas e entidades internacionais. Um exemplo é a Kita, associação que reúne mais de 72 mil empresas da Coreia do Sul.