Revista Alvo

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ALVO

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Publicação digital sobre as performances individuais de Sara Oliveira, Cadu Gonçalves e Daniel Bomfim, realizadas entre maio e novembro de 2013 no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

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Obra de capa: Balada, 1995 (detalhe) Nuno Ramos Livro de 896 páginas atravessado por uma bala de revólver, que se aloja ali dentro à altura da página 700. Tiragem de 100 exemplares, 70 no calibre 38 e 30 no calibre 22. Livro, pólvora e bala. 225 X 165 X 6 cm.

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Nem sempre a mira possui um alvo certo. Nem sempre o acertamos, mas sem dúvida, os vestígios do que nele é projetado, deixam estilhaços que se espalham pelo espaço, atingindo quem quer que seja. O resultado dos trabalhos aqui documentados, é sempre a deformação. Nada termina como começou, nem a performance, nem os objetos utilizados em sua realização e muito menos os artistas. Tudo trinca, racha, quebra, entorta, voa, explode, ocupa o espaço de forma ruidosa, desrespeita fronteiras, ataca quem observa. O alvo pode ser qualquer ponto.

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SUMÁRIO

SARA OLIVEIRA Irreversível 6

CADU GONÇALVES Shall We Dance? 12

DANIEL BOMFIM Transmetalbox 19

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Sinopse: A performer vestida de preto se posiciona no centro de um palco no espaço externo da faculdade, munida de escultura em cerâmica de um casal de tamanho 16 x 21 x 12 cm , realizada pela própria artista. O objeto é atirado no chão pela performer, que em seguida recolhe os cacos, remontando a peça com fita adesiva. A ação se repete até o ponto em que não seja mais possível colar o objeto, deixando seus vestígios no espaço. Data: z

Crítica por Mayara Polizer “ Para Platão, o vinculo é a beleza ou o acordo das formas, segundo o gênero; para Sócrates, a excelente elegância do espirito; para Timeu, uma tirania da alma; para Plotino, um privilegio da natureza; para Teofrasto, um engano silencioso; para Salomão, “ Fogo escondido, águas Furtivas”; para Téocrito, marfim perdido; para Carneade, um reino angustiado...”¹

No dia 05 de dezembro de 2013 às 8 horas da mnhã, foi apresentada a performance intitulada Irreversível, de Sara Oliveira. No palco arena, localizado na Unidade I do Centro Universitário Belas Artes, a artista realizava uma ação sem volta. Em posse de uma de suas esculturas de cerâmica, arremessava- a ao chão diversas vezes, tentando, posteriormente a cada quebra, reverter sua ação anterior. Mas o próprio material usado para remendar esses pedaços já antecipava o fracasso desse conserto, uma fita adesiva marrom larga, que à medida que usada, mais escondia e deformava do que consertava. Sua ação não durou mais que 20 minutos, mas foi o suficiente para gerar questões naqueles que a observaram, em primeiro lugar a escultura, rustica e de formas brutas era a representação de um casal, que teve sua relação transformada em fragmentos ali no palco arena, ainda que seus corpos pudessem ser reconhecidos após as primeiras quebras, seus pedaços deixaram de se completar, e com o decorrer foram sendo perdidos no chão, sem mais fazer parte do todo. É interessante nesse momento fazer um comparativo Ocidente e Oriente com o destino da cerâmica quebrada,

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No meio termo dessas duas visões, a performance de Sara, não valoriza a quebra, e não descarta seus fragmentos, pelo menos não no momento da ação, parece muito mais, uma questão de esconder e desvendar. A fita adesiva, além de seu objetivo primeiro que é reconexão dos pedaços, faz também o papel de esconder, não só o quebrado, mas a um certo momento a peça inteira, chegando a um ponto em que sua sobreposição se torna não uma ajuda, mas sim um impedimento do conserto, nessa hora a artista opta por retirar a massa de fita e recomeçar a reconstrução da peça. Toda essas Massas Fantasmáticas que acabam restando no chão cada vez em mais quantidade, à medida que a ação de desenvolve, já não lembram o que eram no inicio, não mais sendo retrato de dois corpos, e assim deixando uma outra possibilidade de perceber a quebra dos vínculos, não são mais exclusivamente sobre relações humanas quebradas, mas podem falar sobre a própria objetividade da representação.

no Japão uma técnica chamada Kintsugi conserta objetos frágeis de cerâmica com uma mistura de ouro e laca, transformando as rachaduras em cicatrizes, sem esconder a história do objeto, e muitas vezes valorizando sua quebra. No Ocidente, impera uma cultura do descarte, logo o destino de algo quebrado, cerâmico ou outro, não pode e não é outro, que não o lixo.

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Se a proposta da escultura era retratar esses dois corpos através da argila, e eternizá-los, ou pelo menos torná-los duráveis, através de um procedimento de queima, no momento que ela arremessa a peça ao chão, está indo contra o próprio trabalho anterior e também a própria natureza da cerâmica, que é ser resistente. E o resultado, todos os cacos e as fitas moldadas pelas tentativas de conserto, são deixados no chão do mesmo modo que ali caíram, como registro da ação. A opção por esse fim e o próprio nome da obra revelam uma posição pessimista sobre o tema, Irreversível na química diz – se de uma reação que não prossegue até o final e que não é limitada pela reação inversa, é algo sem volta, com uma única direção. Bem apropriado para essa performance que não constrói, não valoriza a história de suas rachaduras, mas também não a descarta de imediato, deixa como registro do que foi, optando pelos fragmentos, e não pelo embrulho da fita, como sua última imagem. ¹ Bruno, Giordano, 1548-1600. Os vínculos/ Giordano Bruno; Tradução Elaine Sartorelli – São Paulo: Hedra, 2012. – (Coleção Bienal) 64 p.

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A Visão da Artista (Sara Oliveira, São Paulo, SP, 1993- Vive e trabalha em São Paulo-SP) Irreversível é um projeto que considero à margem de minha produção. Costumo basear os trabalhos na estruturação das formas e na ordem, e não na destruição e caos, como é o caso desta performance. A ação surgiu de um momento conturbado na vida pessoal, uma relação com muitas idas e vindas, que cada vez que ameaça um término vai se quebrando. E assim como a peça de cerâmica aos cacos no chão, mesmo tentando reconstruí-la ela jamais voltará a ser como era antes e a cada vez que se quebra, fica mais difícil restaurá-la. Com o passar do tempo, o desejo de tentar voltar à forma original do objeto se torna quase frenético, mas em vão. Até que em certo momento, não é mais possível nem tentar. Considero que esta ação foi um respiro de pensamentos que estavam sufocados em minha cabeça, e que me levou a concluir que nada na vida é permanente. Nem mesmo a própria vida.

A Visão da Espectador por Cadu Gonçalves A simplicidade de Irreversível é o que há de mais rico na performance realizada por Sara Oliveira. Diferente de muitos trabalhos apresentados, o conteúdo e a força motriz da ação são fatores que te pegam pelo estômago, por ser muito presente, muito real, está falando de gente. Sara Oliveira usa algo de que nenhum ser humano sairá ileso: amor, ou melhor, o término dele. Esse ir e voltar, e quebrar e reconstruir e ver que não tem mais jeito, porque tudo já está muito remendado, como na peça de cerâmica usada pela artista. Não tem mais jeito, só resta a ela fazer da dor um rito.

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O performer, vestido com um macacão feito de algodão cru, arremessa em uma parede de 400x300 cm (dimensões variáveis) revestida por algodão cru e papel kraft, um boneco feito do mesmo tecido, preenchido por jornal e com dimensões similares às do artista (cerca de 188 cm de comprimento). A área do chão próxima à parede também é revestida por papel kraft. O boneco desprovido de mãos, pés e cabeça é entintado diversas vezes pelas mãos do performer durante a ação, com tinta guache de cor preta depositada em uma bacia. As variações na intensidade dos arremessos ocasionam diferentes registros do impacto do boneco na superfície do tecido. Performance realizada em 26/11/2013

Sinopse:

Crítica Por Lucas Cominato No fundo de uma sala da Galeria 13, espaço expositivo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, deparo-me com um espaço limpo, harmônico e esteticamente calmo. Em tons claros, as paredes laterais e o chão são forrados com papel kraft e a parede ao fundo com tecido de algodão cru. Neste espaço encontra-se um boneco encostado na parede, feito com tecido de algodão cru, o mesmo material do macacão, roupa escolhida por Cadu Gonçalves, que entra neste ambiente e senta-se na parede em frente ao boneco, imitando sua posição, com as pernas esticadas, e também há um recipiente de plástico. É uma agradável composição. O artista em seus primeiros movimentos, levanta-se em direção ao boneco e nesse momento a performance intitulada Shall We Dance?, começa. Cadu abre um dos potes de tinta guache preta que se encontravam na parede ao lado, despeja no recipiente e sentado, coloca o boneco em seu colo e começa a entintá-lo com as mãos, passa tinta nas pernas deste boneco, que nos remete a uma figura humana mesmo com a ausência da cabeça, massageia-o, passa novamente mais tinta, escolhe os locais onde quer que a mancha preta seja colocada e calmamente se levanta, escolhe uma parede e abraçado ao boneco, vai em direção à ela, até que o atrito faz com que deixe um carimbo nessa superfície. Novamente abaixa-se e coloca mais tinta em outra parte deste boneco e carimba-o na parede. Sua concentração e todo o procedimento remeteram-me a questões ritualísticas, onde há uma grande força no que se faz em conjunto com um desejo grande de alcançar algo. O que o performer que alcançar?, ficava me perguntando. Enquanto observava a ação que supostamente

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Agora a relação entre artista e boneco é dada por uma agressividade crescente, os movimentos aumentam, a rapidez com que a tinta é passada beira o jogar o aleatoriamente, a escolha não é mais minuciosa nem do lugar a ser carimbado e nem da parte escolhida do boneco. A respiração é ofegante, a calma já não existe, a pressa é predominante e nessa hora o boneco voa com força em direção à parede, causando um barulho forte, seguido pela sua caída ao chão. Eu ali em frente a este espaço começo a ficar tenso. Estou diante de um duelo de entregas. O interessante é que, diferente de “Antropometria” de Yves Klein, Cadu mantém com sua performance a relação íntima e de total entrega, não está somente como propósitos, mas também como próprio objeto a ser utilizado. Digo objeto e não é à toa, do começo da sensação serena e de estética totalmente limpa que a performance me causava, há agora um campo de manchas pretas, mescladas umas às outras, fazendo com que o formato humano fique cada vez mais difícil de se perceber. O que está em jogo não é quem é quem, não existe um ditador, uma hierarquia neste duelo, existe agora uma simbiose, artista e boneco confundem-se, ambos causam estranhamento pelo estado em que se encontram, e pelo que fazem dentro deste espaço que agora é caótico, transpassando a energia para quem assiste a poucos metros de distância. Cadu chega ao fim de sua performance utilizando alguns potes de guache, deixando o boneco e seu corpo quase que inteiramente pretos. Nas paredes, as marcas interessantes que fazem alusão à forma humana, deixam um excesso de tinta no chão, um recipiente

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pensava manter-se igual, vejo o boneco sendo arremessado na parede contrária do que eu pensava que iria ocorrer o ato. Neste momento toda uma melodia é quebrada, todos os movimentos e sensações que estava tendo até então, modificam-se em uma ansiedade dada pelo imprevisível da situação.

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Mais do que simplesmente uma ação no espaço, sinto um potencial grande enquanto um intercâmbio de linguagens, numa discussão entre pictórico, corporal e interpessoal. O nome escolhido para a obra não poderia ser mais propício, um convite para a dança, em sútil ironia com o que é apresentado e com o que remete em nossa cabeça. Mas, por mais contraditórias que sejam as associações, a performance foi música do começo ao fim, dos silêncios, dos barulhos, das pausas, da sincronia obtida e deste duelo representado entre dois seres supostamente diferentes, cada um com suas qualidades e potências para um grande espetáculo. Termina o primeiro ato de Shall We Dance? Com uma pequena apresentação, com pouco público. Mas merece e fica o desejo de rever essa ação em outros grandes palcos, para grandes públicos.

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sujo, marcas de pés até o fim da sala, onde se retira e a performance é finalizada. Deixa também um sentimento ainda incompreendido em quem viu a ação. Posso dizer por mim, que fiquei aliviado quando cravados 30 minutos do começo, ela se deu por encerrada. Não saberia dizer a que ponto chegaria Shall We Dance?, devido a grande entrega do artista e a crescente adrenalina pulsante e visível das ações. Fica a dúvida no ar. Em uma mistura de estética glamorosa obtida por Yves Klein e de um estranhamento obtido por Stuart Brisley, a ação que vi ainda permanece no local em forma de instalação. Foram 30 minutos de execução que formaram uma imensa mancha gráfica preta, contraste muito forte com o ambiente branco de uma galeria.

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A Visão do Artista (Cadu Gonçalves, São Paulo, SP, 1991- Vive e trabalha em São Paulo, SP) Encaro a construção desse projeto como uma extensão de trabalhos realizados anteriormente. Vem da minha pesquisa estética a pulsão, o gesto e o ataque, que resultarão, agora, em uma mescla de bi e tridimensionalidade, além da minha ação. Como idealizador do projeto friso a construção do trabalho através da ação e dos possíveis resultados plásticos. A utilização do “humanóide” é a de empregar um interlocutor entre o meu gesto e a parede. Shall We Dance? não é nada mais do que pintar de forma catastrófica.

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A Visão do Espectador por Amanda Castro Fonseca Acompanhei a performance de Cadu Gonçalves, e inclusive registrei através da fotografia, desde os minutos que precederam o começo das ações, quando já foi possível notar o estado de concentração do artista, completamente voltado para a execução de sua obra. Antes mesmo de começar, quando ainda sentado e imóvel, a composição do artista com o ambiente a sua volta causava muita expectativa e prometia grandes imagens. Durante a execução da obra, que não deixou a desejar, uma série de oscilações de sensações foram transmitidas aos espectadores. Com o uso de movimentos muito expressivos, fossem estes gentis ou agressivos, o artista ofegante usou de todas as partes de seu corpo e do corpo de pano feito para expressar emoções súbitas que pareciam tomá-lo por completo, e a cada ação um rastro de tinta foi deixada em um dos quatro planos possíveis revestidos de papel e no corpo de pano, cada vez menos brancos, assim como o artista. O resultado é semelhante a uma tela em formato cúbico repleta de pinceladas, algumas carregadas de tinta, outras suaves, inclusive no chão. Meu registro foi intuitivo, pela potência das imagens que estavam sendo feitas e pela agilidade com que o artista se movia espontaneamente e realizava as ações, tive receio de perder grandes composições resolvi registrar sem parar, porém, obviamente, buscando o melhor ângulo e enquadramento.

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Sinopse: Com uma caixa de 50cm x 50cm x 50cm feita de alumínio presa a um biombo na Unidade 13 do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, o performer realiza o ato de socar violentamente o objeto com 2 socos-ingleses, durante um período de aproximadamente 10 minutos a caixa até que o objeto fique totalmente retorcido e deixe de ser um cubo reto e geométrico e passe a ser um monte de metal retorcido. Performance realizada em 21/05/2013

Crítica por Fábio Genthe Dentro das instalações da Unidade 13 do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, local com grande movimentação de alunos do curso de artes e repleta de biombos pichados, o artista Daniel Bomfim executa uma performance de violência e destruição. Utilizando-se de roupas pretas e um soco-inglês em cada mão, o artista se posiciona em frente a um cubo de metal preso a um biombo, e assim começa a desferir diversos socos em sua superfície plana. Os socos são fortes e rápidos e a arma com o metal juntos fazem um grande barulho ao se chocarem com violência. A cada pancada o metal retorce e se desfigura cada vez mais, perdendo assim sua forma geométrica inicial. Em certo momento a caixa metálica se desprende do biombo após alguns poucos golpes, o artista em um momento de distração olha para o público com um olhar de surpresa, como se isso não fosse para acontecer, mas logo em seguida retorna a se concentrar. Ele agarra a caixa do chão, erguendo-a no ar e assim recomeça a golpeá-la, porém dessa vez os golpes não são intercalados, mas uma sequência direta de golpes fortes e cada vez mais rápidos. A caixa agora já perdeu totalmente a sua forma geométrica, pois os lados não estão mais juntos um no outro, nem são mais quadrados, de tão retorcidos e amassados. Ele os ergue um a um e alternando os punhos os massacra com fúria, tanto a caixa quanto suas próprias mãos, o barulho é alto e repetitivo, me pergunto o que ele pretende com tudo isso? ele esta tentando chegar a algum ponto? Está tentando provar algo a alguém ou a si mesmo? Ou esta fazendo meramente por prazer, o prazer de se ter poder sobre algo que não pode revidar. A performance acaba após aproximados 10 minutos de execução, com a caixa jogada ao chão totalmente retorcida e manchada com o sangue que discretamente escorre de uma de suas mãos, mostrando assim as consequências de toda a violência atribuída durante a performance.

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A Visão do Artista (Daniel Bomfim, São Paulo, SP, 1991- Vive e trabalha em São Paulo, SP) Um ato compulsivo, um ato de violência, que se é sentido tanto pela vitima, quanto pelo agressor. Por que faço isso? O que pretendo realizando esta ação? A sensação de poder e de controle sobre o objeto é, de certa maneira, consumida por mim até um ponto em que, ao ver meu próprio sangue, percebo o quão frágil é o corpo humano e quão intensa é a dor, mostrando que sou apenas um ser mortal como todos no recinto e que o poder que possuía era falso, temporário, a partir dai decido parar. Mesmo tendo bastante contato com a violência através da mídia, da música e de videogames, nunca realizei um trabalho utilizando a violência, trabalhar com ela foi além de inédito, libertador. Como uma terapia que liberava uma raiva animal de dentro de mim, já que não sou e nem fui uma pessoa violenta por natureza. A grande influência desse trabalho foi a música. Bandas como Pantera e Five Finger, Death Punch, que são agressivas tanto na sonoridade, quanto nas letras e em suas performances ao vivo, me ajudaram a pensar em como criar uma atmosfera de violência e poder.

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A Visão da Espectador por Filipe Alcesar O ato de socar um objeto cria um choque que é sentido pelo agredido, um objeto de metal que se retorce e se despedaça conforme os golpes são desferidos em sua superfície plana e dura, e pelo agressor, que mesmo, visivelmente com dor nas mãos, não consegue parar, pois os socos-ingleses que o artista porta, dão a falsa sensação de poder sobre tudo e todos, é a sensação que se tem ao portar uma arma seja ela branca ou de fogo.

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São Paulo, Brasil 2014

As performances apresentadas nesta publicação foram realizadas pelos alunos do sexto e agora sétimo semestres de Bacharelado em Artes Visuais, entre maio e novembro de 2013, em diversos espaços do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Sob a orientação da professora Juliana Moraes.

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