Revisões e revisores construtivos e eficazes · De uma ideia do Dr. Ricardo Azevedo, ......
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José Eurico Possebon Cyrino, Ph.D.Departamento de Zootecnia
ESALQ‐[email protected]
http://lattes.cnpq.br/9747975641171204
Revisões e revisoresconstrutivos e eficazes
Num mundo ideal...
qualquer manuscrito seria aceito eimediatamente publicado por qualquerperiódico a que fosse submetido SEM queprecisasse ser revisado.
- “Manuscrito do Zico? Nem precisa avaliar! Já sabemos que ‘tá bom prá
caramba! Este cara é um gênio!”
Maaaaassssss…
Número antecipado de artigos a serem publicados em 2014
em revistas indexadas no JCR
≈ 1.700.000
Número de revistas indexadas noJournal Citation Reports®
Web of KnowledgeSM
8471
No mundo real...
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Impact Factor
g-index (top cited papers)
h-b index (topics)
h index
m-index or m-quotient: Accounting for varying lengths of academic careers
Contemporary h-index: Accounting for active versus inactive researchers‘giving more weight to recent articles’
Web of Science
e-index
http://www.harzing.com/pop_hindez.htm
De uma ideia do Dr. Ricardo Azevedo, Departamento de Genética, ESALQ-USP
Logo, a competição é acirrada!
A palavra de ordem é: publicar ou perecer (“publish or perish”)!
Por isso:
Todos os manuscritos, i.e., todos nós,autores, estamos sujeitos à avaliação por“pares”,
um sistema universalmente aceito eabsolutamente vantajoso do ponto devista da isenção e da ética editorial.
Neste cenário, cedo ou tarde, cada um denós, autores, avaliará seus “pares” (equem sabe isso seja o mais importante).
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A revisão por pares é a ferramenta que “protege os
leitores dos autores e protege os autores de si
mesmos!”
A publicação de um artigo em umperiódico indexado acontece a partirde um processo conduzido pelaseditoras e denominado cicloeditorial (“publishing cycle”), queenvolve a troca de informações entreautores, editores, revisores eleitores, bem como os agentes dedistribuição e disponibilização doperiódico (Mabe, 2009).
Mabe, M.A. 2009. Scholarly publishing. European Review 17(1): 3‐22
EditoraDistribuidor
Biblioteca
Periódicocorpo
editorial
editor
leitor
autor
revisor
comunidade científica
revisão por pares
revisão editorial
artigo aceito volume finalizado
submissão
Representação diagramática do “publishingcycle” ou ciclo editorial (adaptado de Mabe,2009).
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http://www.elsevier.com/reviewers/peer‐review
Fluxograma da revisão por pares do“Reviewer Guidelines”, Editora Elsevier.
É um processo complexo e
um trabalho
árduo
altruísta,
cooperativo e
de grande responsabilidade social.
Quem são, afinal, esses tais de “pares”?
No início, os “figurões”.
No “durante”, os pares propriamente ditos: no começo mais velhos, depois “iguais” e gradativamente ficandomais jovens.
No final: – “Estes @#$%***& estavam no curso primário enquanto eu escrevia a droga da minha tese! Agora querem me ensinar? Bando de *#?Ĭ&%! @#! ...”
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O sistema é bom, mas, como tudo mais, sujeito a distorções:
propensão positiva ou negativa a certostemas por parte de editores e revisores
a avaliação pode, desnecessariamente,estender o tempo entre a submissão e apublicação de um manuscrito
revisores podem argumentar, i.e., revisarartigos, com base em preconceitos étnicos,sexuais, ideológicos ou nacionalistas
Pessanha, C. 1998. Critérios editoriais para avaliação da literatura científica. Ciência da Informação 27(2): 245‐268.
Mesmo respeitando os princípios ecódigos de ética, o ser humanotende a agir da maneira maisconveniente.
Se numa análise introspectiva nãoadmitirmos estar agindo da maneiramais conveniente, estaremos agindoda maneira mais conveniente.
O “Committee on Publication Ethics [COPE]”define como lidar com desvios na(s/os):i. definição de objetivos dos estudosii. éticaiii. análise de dadosiv. autoriav. conflito de interessesvi. processo de revisão por paresvii. publicação redundanteviii. plágioix. deveres dos editoresx. relações com a mídia exi. publicidade
http://www.publicationethics.org
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ética s.f. (secXV cf. FichIVPM) 1 parte da filosofiaresponsável pela investigação dos princípios que motivam,distorcem, disciplinam ou orientam o comportamentohumano, refletindo esp. a respeito da essência das normas,valores, prescrições e exortações presentes em qualquerrealidade social 1.1 FIL ...estudo das finalidades últimas,ideais e, em alguns casos, transcendentes, que orientam aação humana para o máximo da harmonia, excelência ouperfectibilidade, o que implica a superação de paixões edesejos irrefletidos… 2 p.ex. conjunto de regras e preceitos deordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo socialou de uma sociedade …
Para ter comportamento ético não precisamos mais que entender o sentido literal da palavra:
Houaiss, A.; M.S. Villar, e F.M.M. Franco. 2004. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1ª Reimpressãocom alterações. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, RJ.
forjar ou fabricar (fraudar) um parecer
mentir para um autor a respeito doprocesso de emissão de parecer
roubar idéias do texto de um manus-crito submetido à consideração doperiódico do qual ele é editor
Práticas malsãs por parte dos editores
Práticas malsãs por parte dos revisores
falsificar fatos ou emitir parecermentiroso
retardar a apresentação de parecer,sem motivos razoáveis, a fim deobter vantagens pessoais
roubar idéias do texto de ummanuscrito que esteja examinando
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Plagiarism retracts reviewPosted by Bob Grant[Entry posted at 1st April 2010 03:37 PM GMT]
A two-year-old review paper on advances in using genetically engineered biofuel crops to boost ethanol production was retracted from Nature Reviews Genetics (NRG) because the author stole the bulk of a paragraph from another paper she had peer reviewed.
The review author, Michigan State University plant scientist Mariam Sticklen, wrote in the current issue of NRG that she was retractingher article "due to a paragraph being paraphrased without attribution."
Read more: Plagiarism retracts review - The Scientist - Magazine of the Life Sciences http://www.the-scientist.com/blog/display/57267/#ixzz1JQT0xjVC
RetractionNature Reviews Genetics 11, 308 | doi:10.1038/nrg2777
Plant genetic engineering for biofuel production: towards affordable cellulosic ethanol; Mariam B. Sticklen
Nature Reviews Genetics 9, 433–443 (2008)I am retracting this invited Nature Reviews Genetics article due to a paragraph being paraphrased without attribution. The paragraph in question was from an early version of an article to which I had access as a peer reviewer and which has since been published in Plant Science(Abramson, M., Shoseyov, O. & Shani, Z. Plant cell wall reconstruction toward improved lignocellulosic production and processability. Plant Sci. 178, 61–72 (2010)). I regret this error and wish to apologize to the authors of the Plant Science article.
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Independentemente de qual o método de trabalho de cada revista, i.e., duplamente cego, anônimo ou aberto, os avaliadores (ou revisores) – especialistas externos escolhidos
pelos editores – devem emitir opiniões documentadas, isentas,
com o objetivo demelhorar um artigo.
Frequentemente os avaliadores, ou revisores, sãoodiados, demonizados mesmo.
Mas... Como é que nos comportamos “no papel” de revisor? A quem ouvimos? Anjos ou demônios?
O lema de um revisor consciente deve ser:“Como é que eu posso ajudar a fazer deste
manuscrito um excelente trabalho publicado, para que o maior número possível de pessoas
(autores e leitores) se beneficiem dele”?
Mas, infelizmente, há aqueles para quem olema é:
“Será que eu consigo encontrar um número suficientemente grande de defeitos neste
manuscrito de modo que consiga ter a certeza que ele jamais seja publicado em lugar
algum”?
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Ao invés de perguntar quais são as pequenas coisas que estão me irritando neste trabalho, e que eu posso usar paradar um fim nisto?
O revisor deve, idealmente, abordar o manuscrito com argumentos como:
a ciência aqui relatada é boa?
é possível entender o que foi feito?
se não é, é possível fazeralgo para tornar otrabalho inteligível?
Em suma: autores, reviso-res e editores devem,todos!, tomar uma atitude
proativa,
ética,
polida
e firme. Chapron, G., and A. Husté. 2006. Open,fair, and free journal ranking forresearchers. BioScience 56(7): 558‐559.
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Uma atitude proativa não significa “virar uns anjos” e
aprovar qualquer porcaria que nos caia nas mãos…
http://www.universalrejection.org/
Por outro lado, também não devemos nos filiar ao Clube da
Rejeição Universal…
Em outras palavras:ao invés de “sevingar” de todas asavaliações negativasque porventura játenhamos recebido,assumamos a “Regrade Ouro” da revisãopor pares: dar aosnossos pares asavaliações que gosta-ríamos de ter semprerecebido!
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“Estamos aqui para ajudar você a sair bem na foto
(e aprender junto)!"
“Nós aprendemos . . .
10% do que lemos
20% do que ouvimos
30% do que vemos
50% do que vemos e ouvimos
70% do que discutimos
80% do que experimentamos
95% do que ensinamos aos outros.”
William Glasser 1925 – 2013
The peer paper grinder.
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A revisão ideal é justa, isenta, pronta, cordial, consciente e confidencial (mesmo que não seja anônima)
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Nem todos os periódicos adotam a revisãoduplamente cega (“double blind”).
Desta forma, mas não somente por isso, umrevisor que:
• já teve algum tipo de conflito com osautores;
• é colaborador do(s) autor(es) em projetosem andamento;
• publicou trabalho(s) junto(s) com o(s)autor(es) nos últimos cinco anos;
• mantém relação de amizade, mesmo quedistante, com o autor principal ou algumdos autores colaboradores;
• trabalha na mesma área do(s) autor(es) e,por isso, pode beneficiar-se ou prejudicar-se fazendo a revisão do artigo;
• trabalha junto ou próximo do autorprincipal ou de algum dos autorescolaboradores;
• ou ainda já revisou aquele trabalho paraoutra revista, ou um muito semelhanteantes,
deve abster-se de revisar um manuscrito a ele encaminhado
nestas condições!
Antes de iniciar a avaliação, o revisor deve certificar-se, cuidadosamente,se o artigo se adequa ao escopo e ao formato do periódico.
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escopo /ô/ s.m. (c1677 SMorQ 49) 1ponto em que se mira; alvo 1.1intenção, objetivo … ETIM … pelolat. scopus,i ‘alvo, meta, pontaria’ …;f.hist. c1677 scopo SIN/VAR versinonímia de propósito …
Houaiss et al., 2004: 1208
Jaeger e Toft (1998) apresentaram umalista das falhas fatais que levam àrejeição de manuscritos:
Jaeger, R.A., and C.A. Toft. 1998. Writing for scientific journals II: The review process. Herpetologica 54: S54‐S63
• O manuscrito não tem foco
• Qual é a hipótese?
• Metodologia confusa
• Métodos inadequados
• Abordagem estatística inadequada
• Falta teste estatístico da hipótese
• Baixo poder de análise
• Discussão verborrágica
• Referências inapropriadas
• Especulação exagerada
• Quais as inferências biológicas?
• A discussão divaga
• Uso inadequado da linguagem
• Formato impróprio para o periódico
“As coisas” são hoje como já eram duas década atrás.
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A comunicação científica objetiva disseminar novos conhecimentos? Sim.
Então, tem que ser efetiva.
Para ser efetiva, tem que ser convincente.
Para ser convincente, tem que ser agradável.
Para ser agradável, tem que ser inteligível.
Para ser inteligível, tem que ser contextualizada.
coerência de ideias, na forma de umahipótese sólida, i.e., um trabalho bemplanejado e justificado;
garantia de solidez da hipótese, na formade uma revisão de literatura abrangente,mas não necessariamente longa, i.e., umaboa introdução;
evidências da qualidade do trabalho, naforma de material e métodosreproduzíveis e resultados acurados (etambém reproduzíveis);
Artigos devem oferecer aos leitores:
o reconhecimento de pontos devista alternativos, na forma deuma discussão detalhada, que
permitam respostas concretas àsindagações, ou seja, conclusõessólidas
que demonstrem a validade dasnovas descobertas, i.e., permitama demonstração da hipótese comoverdadeira.
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Em suma:
Regra I“A finalidade dos estudos deve
ser a orientação do espírito para emitir juízos sólidos e
verdadeiros sobre tudo o que se lhe depara.”
René Descartes
Descartes, R. 1637. Regulae ad Directionem Ingenii. Regras Para a Direção do Espírito. Tradução de João Gama. Textos Filosóficos. Edições 70 Ltda., Lisboa, Portugal.
Ou seja: mal entendidos nãosão permitidos!
Por isso, um revisor deve abordar aavaliação de um artigo sob a visãomecanicista, “cartesiana”, e indagar:
A hipótese (argumento) é clara eestá correta?
A metodologia está correta?
O modelo (estatístico) está correto?
Os dados (resultados) estão exatos?
A comprovação empírica (discussãoe conclusões) explica os resultados(é coerente)?
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Se todas as questões puderemser respondidas com um SIM,não há motivo pelo qual umartigo deva ser rejeitado
Um único NÃO pode, ou deve,significar a rejeição do artigo.
Se a redação científica exige dos autores
clareza,concisão,
correção e completitude,
a revisão dos artigos deve ser igualmente
clara,concisa,
correta e completa,
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de modos que, quando publicado, umartigo:
represente uma contribuição signifi-cativa para a ciência,
resultado do uso de metodologiasólida, consistente e replicável,
oferecendo conclusões consubstancia-das pelos dados,
de modo conciso, elegante einteligível.
Peer review cannot be agame of chance!!!
Neff, B.D., and J.D. Olden. 2006. Is peer review a game of chance? BioScience 56(4): 333‐340.
A revisão por pares não pode ser um “jogo de
azar”, um exercício de casuísmo!!!
É um trabalho duro, mas alguém temque fazê-lo.
É um trabalho cooperativo: o autor dehoje é o revisor de amanhã.
É um trabalho altruísta e de granderesponsabilidade social.
É a única garantia que a ciência vaicontinuar contribuindo para odesenvolvimento da raça humana.
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O pouco que a gente sabe, bota na vitrine. O muito que ignora,
esconde no porão.Millôr Fernandes 1924 – 2012
Muito obrigado pela sua atenção, paciência e
compreensão.
Revisões e revisoresconstrutivos e eficazes
José Eurico Possebon Cyrino, Ph.D.Departamento de Zootecnia
ESALQ‐[email protected]
http://lattes.cnpq.br/9747975641171204