Revisão bibliográfica

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Revisão bibliográfica; Obesidade na escola Gilmar e Paulo 7° período biologia INTRODUÇÃO A obesidade é, provavelmente, a alteração metabólica mais antiga que se conhece, tendo sido descrita em monografia datada do século XVII. O semanário médico The Lancet, em 1926, em editorial chamava a atenção para a diminuição da expectativa de vida em indivíduos obesos1. É um distúrbio crônico em expansão, com prevalência crescente em todas as faixas etárias, tanto em países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento, o que a torna epidêmica, sendo considerada nos Estados Unidos o maior problema de Saúde Pública2. Durante as últimas três décadas, o número de crianças com sobrepeso neste país quase que duplicou3, o mesmo acontecendo em países onde doenças de escassez representam importantes problemas de Saúde Pública4. No Brasil, o panorama de prevalência crescente não é diferente, sendo que no inquérito Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde PNDS, realizado em 1996, foi encontrada prevalência igual a 4,9%, e os inquéritos nacionais realizados nas décadas de 70, 80 e 90 demonstraram crescimento de 3,6% para 7,6% no sexo feminino, na população de quatro a cinco anos de idade. Foi relatada, em São Paulo, prevalência de 2,5% de obesidade em crianças menores de 10 anos, entre as classes econômicas menos favorecidas, e de 10,6% no grupo mais favorecido5. Em estudo realizado em escola de classe média/alta no nordeste do Brasil, foram detectadas em crianças e adolescentes prevalências de 26,2% de sobrepeso e 8,5% de obesidade6. Diamond7 afirma que a obesidade infantil na América é uma epidemia silenciosa, uma vez que o reconhecimento clínico dos riscos da enfermidade, por parte dos médicos clínicos, não é satisfatório, existindo uma dificuldade em quantificá-la e tratá-la eficazmente, além da inexistência de programas de prevenção. 1. Halpern A. Obesidade. São Paulo: Lemos; 1998. 2. Yanovski S, Yanovski J. Obesity. N Engl J Med 2002;346: 591-602. 3. Rocchini AP. Childhood obesity and a diabetes epidemic. N Engl J Med 2002;346:854-5. 4. Florencio TM, Ferreira HS, de Franca AP, Cavalcante JC, Saw aya AL. Obesity and undernutrition in a very-low- income population in the city of Maceio, northeastern Brazil. Br J Nutr 2001;86:277-84. 5. Monteiro CA, Mondini L, de Souza AL, Popkin BM. The nutrition transition in Brazil. Eur J Clin Nutr 1995;49:105-13. 6. Balaban G, Silva GAP. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes de uma escola da rede privada de Recife. J Pediatr (Rio J) 2001;77:96-100. 7. Diamond FB Jr. New er aspects of the pathophysiology, evaluation, and management of obesity in childhood. Curr Opin Pediatr 1998;10:422-7.

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Revisão bibliográfica; Obesidade na escola

Gilmar e Paulo 7° período biologia

INTRODUÇÃO

A obesidade é, provavelmente, a alteração metabólica mais antiga que se conhece, tendo

sido descrita em monografia datada do século XVII. O semanário médico The Lancet,

em 1926, em editorial chamava a atenção para a diminuição da expectativa de vida em

indivíduos obesos1. É um distúrbio crônico em expansão, com prevalência crescente em

todas as faixas etárias, tanto em países desenvolvidos quanto naqueles em

desenvolvimento, o que a torna epidêmica, sendo considerada nos Estados Unidos o

maior problema de Saúde Pública2. Durante as últimas três décadas, o número de

crianças com sobrepeso neste país quase que duplicou3, o mesmo acontecendo em

países onde doenças de escassez representam importantes problemas de Saúde Pública4.

No Brasil, o panorama de prevalência crescente não é diferente, sendo que no inquérito

Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde – PNDS, realizado em 1996, foi

encontrada prevalência igual a 4,9%, e os inquéritos nacionais realizados nas décadas de

70, 80 e 90 demonstraram crescimento de 3,6% para 7,6% no sexo feminino, na

população de quatro a cinco anos de idade. Foi relatada, em São Paulo, prevalência de

2,5% de obesidade em crianças menores de 10 anos, entre as classes econômicas menos

favorecidas, e de 10,6% no grupo mais favorecido5. Em estudo realizado em escola de

classe média/alta no nordeste do Brasil, foram detectadas em crianças e adolescentes

prevalências de 26,2% de sobrepeso e 8,5% de obesidade6. Diamond7 afirma que a

obesidade infantil na América é uma epidemia silenciosa, uma vez que o

reconhecimento clínico dos riscos da enfermidade, por parte dos médicos clínicos, não é

satisfatório, existindo uma dificuldade em quantificá-la e tratá-la eficazmente, além da

inexistência de programas de prevenção.

1. Halpern A. Obesidade. São Paulo: Lemos; 1998.

2. Yanovski S, Yanovski J. Obesity. N Engl J Med 2002;346: 591-602.

3. Rocchini AP. Childhood obesity and a diabetes epidemic. N Engl J Med 2002;346:854-5.

4. Florencio TM, Ferreira HS, de Franca AP, Cavalcante JC, Saw aya AL. Obesity and undernutrition in a very-low-

income

population in the city of Maceio, northeastern Brazil. Br J Nutr 2001;86:277-84.

5. Monteiro CA, Mondini L, de Souza AL, Popkin BM. The nutrition transition in Brazil. Eur J Clin Nutr 1995;49:105-13.

6. Balaban G, Silva GAP. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes de uma escola da rede

privada de Recife. J Pediatr (Rio J) 2001;77:96-100.

7. Diamond FB Jr. New er aspects of the pathophysiology, evaluation, and management of obesity in childhood. Curr

Opin Pediatr 1998;10:422-7.

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Todas as fases da infância são importantes para o estudo da obesidade, porém, a

adolescência representa um período crítico para o desenvolvimento do excesso de peso.

Nessa etapa do crescimento, o indivíduo adquire aproximadamente 25% da sua estatura

final e 50% da sua massa corporal. 5 Deve ser considerado também que o risco de um

adolescente obeso manter-se assim até a idade adulta chega a aproximadamente 80%.6

No Brasil, várias investigações demonstram alterações significativas no perfil

nutricional da população, em razão do processo denominado transição nutricional.7

5. Heald EP. Adolescent nutrition. Med Clin North Am. 1975; 59: 1329-36. , 7. Popkin BM. The Nutrition transition and

obesity in the developing w orld. J Nutr. 2001; 131: 871-3.

A obesidade é “uma síndrome multifatorial que consiste em alterações fisiológicas,bioquímicas,

metabólicas, anatômicas, além de alterações psicológicas e sociais, sendo caracterizada pelo

aumento de adiposidade e de peso corporal”1, envolvendo fatores genéticos e ambientais .2 Há

evidências de que fatores genéticos são capazes de modular a resposta do organismo às

variações dos fatores ambientais, como dieta e atividade física.3 A ingestão de dieta com valor

calórico elevado e o gasto energético diminuído têm sido apontados como

os principais fatores causais da obesidade.4,5

1. De Angelis RC. Riscos e prevenção da obesidade: fundamentos f isiológicos e nutricionais para o tratamento.

Atheneu: São Paulo, 2003.

2. Parra- Caberá S, Hernández B, Duran- Arenas L, López-Arellano O. Modelos alternativos para el análisis

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5. Atkin LM, Davies PSW. Diet composition and body composition inpreschool children. Am J Clin Nutr.2000;72:15-21.

Em relação à obesidade infantil, Lustig6 a descreve como um fenômeno associado a

diversas doenças, a maioria das quais ainda não totalmente identificadas. É consenso

que a obesidade infantil vem aumentando de forma significativa e que determina vários

agravos à saúde na infância e na idade adulta.7.. 6. Lustig RH. The neuroendocrinology of

childhood obesity. Pediatr Clin North Am. 2001;48:1-14.

7. Meyer F, Mello ED, Luft VC. Obesidade infantil: como podemos ser eficazes? J Pediatr. 2004;80(3):173-82.

A variável, dependente do estudo foi estado nutricional da criança. Para sua

classificação, foram utilizadas as curvas de percentis do Índice de Massa Corporal

(IMC=Peso (kg) / Altura (cm)²) para idade, conforme padrão de referência o

Multicentre Growth Study, atualmente recomendado pela Organização Mundial de

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Saúde23 que classifica como baixo IMC para idade valores < percentil 3, IMC

adequado ou eutrófico > percentil 3 e < percentil 85, sobrepeso > percentil 85 e <

percentil 97 e para obesidade valores > percentil 97. Para análise estatística, a variável

dependente foi categorizada em baixo IMC para idade + IMC adequado ou eutrófico (<

percentil 85) e sobrepeso + obesidade ( > percentil 85).

Em alguns paises da América Latina, que apresentaram rápido crescimento econômico

nas últimas décadas, observou-se tendência temporal de diminuição da desnutrição

infantil associada ao aumento da prevalência da obesidade9; o mesmo tem sido

verificado no Brasil10 e, fato que tem preocupado os especialistas, o aparecimento do

sobrepeso e da obesidade tem sido constatado em idades cada vez mais precoces.11-13.

9. Martorell R. Khan LK, Hughes ML, Grummer-Straw n LM. Overw eight and

obesity in preschool children from developing countries. Int J Obes 2000:24:959-67. 10. Monteiro CA, Conde WL.

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13. Magalhães VC, Mendonça GAS. Prevalência e fatores associados asobrepeso e obesidade em adolescentes de 15

a 19 anos das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, 1996 a 1997. Cad Saúde Pública. 2003; 19 (Sup 1)

Estudos realizados em algumas cidades brasileiras mostram que a prevalência, tanto do

sobrepeso quanto da obesidade é maior na população mais favorecida

economicamente14-17, ao contrário do que ocorre nos paises desenvolvidos, onde a

maioria das crianças com sobrepeso ou obesas pertencem a famílias de condição

socioeconômica baixa.

14. Leão LSCS, Araújo LMB, Moraes LTLP, Assis AM. Prevalência de obesidade emescolares de Salvador, Bahia. Arq

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17. Vitolo MR, Gama CM, Bortolini GA, Campagnolo PD, Drachler ML. Some risk factors associated with overweight,

stunting and w asting among children under 5 years old. J Pediatr (Rio J).2008; 84(3):251-257.

Estudos no Brasil reforçam as evidências apresentadas pela OMS. De acordo com

Albano & Souza 5, a prevalência de sobrepeso ou obesidade alcançou 32,5% em

meninos e 26,5% em meninas de uma escola pública de São Paulo. Souza-Leão et al. 6

encontraram uma prevalência de obesidade (IMC > p 95) de 15,8% em escolares de

Salvador, Bahia. Outros estudos representativos da população brasileira compararam

tendências e mostraram aumento nas prevalências de sobrepeso. Wang et al. 7

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demonstraram que a prevalência de sobrepeso era de 4,1% em 1974, atingindo 13,9%

em 1997. Já Veiga et al. 8 revelaram entre indivíduos de 10 a 19 anos um crescimento

da prevalência de sobrepeso de 2,6% em 1975 para 11,8% em 1997.

5. Albano RD, Souza SB. Estado nutricional de adolescentes: “risco de sobrepeso” e “sobrepeso” em

uma escola pública do Município de São Paulo. Cad Saúde Pública 2001; 17:941-7.

6. Souza-Leão LSCD, Araújo LMB, Pimenta-de-Moraes LTL, Assis AM. Prevalência de obesidade em

escolares de Salvador, Bahia. Arq Bras Endocrinol Metabol 2003; 47:151-7.

7. Wang Y, Monteiro C, Popkin BM. Trends of obesity and underw eight in older children and adolescents in the United

States, Brazil, China, and Russia. Am J Clin Nutr 2002; 75:971-7. 8. Veiga GV, Cunha AS, Sichieri R. Trends in

overweight among adolescents living in the poorest and richest regions of Brazil. Am J Public Health 2004; 94:1544-8.

Sabe-se que existe uma associação entre a obesidade e diversas doenças crônicas não

transmissíveis, tais como, doença coronariana, hipertensão, diabetes, dislipidemias

sangüíneas, osteoartrite, entre outras 9. Segundo dados do Departamento de Informática

do SUS (DATASUS) 10, no Estado do Rio Grande do Sul, 38% dos óbitos no ano 2000

foram por doenças associadas à obesidade, quase 9% da população de 30 a 69 anos têm

diabetes e, cerca de 17,7% das intervenções hospitalares na mesma faixa etária são por

doenças do aparelho circulatório. A obesidade infantil pode apresentar-se acompanhada

também de transtornos psicossociais. Segundo Burrows 11, cerca de 50% dos obesos

apresentam menor sociabilidade, menor rendimento escolar, baixa auto-estima, além de

distúrbios de humor e sono. A obesidade pode ser causada por diversos fatores. De

acordo com Wright et al. 12, crianças obesas filhas de pais obesos têm maiores chances

de tornarem-se adultos obesos, devido a influências genéticas e também devido aos

hábitos adotados pela família. Além disso, alguns estudos têm mostrado que o

comportamento alimentar de adolescentes parece apresentar elevado consumo de

lipídeos. Segundo Kazapi et al. 13, quase 34% dos alunos de escolas públicas e 39% dos

alunos de escolas particulares apresentam consumo elevado deste nutriente. Os longos

períodos de sedentarismo também podem ser responsabilizados pelo acúmulo de

gordura corporal.

10. Departamento de Informática do SUS. Mortalidade por causas associadas à obesidade no ano

2000. http://www.datasus.gov.br (acessado em 20/ Jun/2004).

11. Burrow s R. Obesidad infantil y juvenil: consecuencias sobre la salud y la calidad de vida futura. Rev Chil Nutr 2000;

27:141-8. 12. Wright J, Pepe M, Seidel K, Dietz W, Whitaker R. Predicting obesity in young adulthood from childhood

and parental obesity. N Engl J Med 1997; 337:869-73.

13. Kazapi IM, Di Pietro PF, Avancini SRP, Freitas SFT, Tramonte VLCG. Consumo de energia e macronutrientes

por adolescentes de escolas públicas e privadas. Rev Nutr 2001; 14:27-33.

Em um primeiro momento este estudo demonstrou associação significativa entre o alto

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consumo de alimentos com alta densidade energética e sobrepeso ou obesidade,

entretanto, após a realização da regressão de Poisson foi perdida a significância

estatística. Esse resultado pode estar mascarado devido ao viés de informação, pois

aqueles sabidamente com excesso de peso podem manipular a informação a seu favor.

Em alguns estudos 14,32 tem-se observado que o consumo de alimentos com alta

densidade energética por indivíduos obesos é semelhante ou menor ao de indivíduos

eutróficos, o que pode revelar uma tendência dos obesos de subestimar o próprio

consumo, não apresentando associação entre esta variável e a prevalência de sobrepeso

ou obesidade. Outra explicação para ausência de associação é a causalidade reversa que

está implícita aos estudos transversais quando exposições e desfechos são coletados

simultaneamente 33. Dessa forma, este estudo recomenda preocupações metodológicas

que levem em conta esses aspectos para o delineamento e execução de novos estudos.

Apesar da existência de algumas limitações, o estudo é inédito na região e representa o

universo das escolas da zona urbana de Capão da Canoa. Seus resultados podem ser

utilizados para desencadear uma série de medidas políticas e pedagógicas, úteis para o

enfrentamento do problema da elevada prevalência de sobrepeso e obesidade e para

evitar o agravamento do problema.

14. Fonseca VM, Sichieri R, Veiga GV. Fatores associados à obesidade em adolescentes. Rev Saúde Pública 1998;

32:541-9.

32. Andrade RG, Pereira RA, Sichieri R. Consumo alimentar de adolescentes com e sem sobrepeso do

Município do Rio de Janeiro. Cad Saúde Pública 2003; 19:1485-95.

33. Andrade A, Zicker F. Estudos de prevalência. In: Andrade A, Zicker F, organizadores. Métodos de

investigação epidemiológica em doenças transmissíveis. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde/Fundação

Nacional de Saúde; 1997. p. 33-42.

A prevenção e o tratamento da obesidade devem, portanto, partir de uma completa

modificação comportamental da sociedade, que propicie uma vida mais saudável, com

uma alimentação de qualidade e atividade física preventiva. Além disso, ações públicas,

que permitam o acesso de todos, independentemente da classe social 37, a informações

sobre os determinantes e conseqüências da obesidade são imprescindíveis para o

controle da doença. 37.

37. Monteiro CA, Moura EC, Conde WL, Popkin BM. Socioeconomic status and obesity in adult populations

of developing countries: a review. Public Health Rev 2004; 82:940-6.

No Brasil, tem sido detectada a progressão da transição nutricional, caracterizada pela

redução na prevalência dos déficits nutricionais e ocorrência mais expressiva de

sobrepeso e obesidade não só na população adulta, mas também em crianças e

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adolescentes. 22 Segundo teorias ambientalistas, as causas estão fundamentalmente

ligadas às mudanças no estilo de vida e aos hábitos alimentares. Confirmando essas

teorias, verifica-se que a obesidade é mais freqüente em regiões mais desenvolvidas do

País (Sul e Sudeste), pelas mudanças de hábitos associadas a esse processo.2 O

consumo alimentar tem sido relacionado à obesidade não somente quanto ao volume da

ingestão alimentar, como também à composição e qualidade da dieta. Além disso, os

padrões alimentares também mudaram, explicando em parte o contínuo aumento da

adiposidade nas crianças,13 como o pouco consumo de frutas, hortaliças5 e leite,6 o

aumento no consumo de guloseimas (bolachas recheadas, salgadinhos, doces) e

refrigerantes,3 bem como a omissão do café da manhã.14

2. Escrivão MAMS, Oliveira FLC, Taddei JAAC, Lopez FA. Obesidade exógena na infância e na adolescência.

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3. Ferrante E, Vania A, Mariani P, Pitzalis G, De Pascale A, Monti S et al. Nutritional epidemiology during

school age. Ann Ist Super Sanita 1995;31:435-9. 4. Gaglianone CP. Estudo do conteúdo relacionado à

nutrição em livros didáticos de ciências utilizados no ensino fundamental brasileiro [dissertação]. São

Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1999.

5. Hanley JG, Harnis SB, Gittelsohn J, Wolever Ms, Saksvig B, Zinman B. Overw eight among children

and adolescents in a Native Canadian community: prevalence e associated factors. Am J Clin Nutr

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6. Harnack L, Stang J, Story M. Soft drink consumption among US children and adolescents: nutritional

consequences. J Am Diet Assoc 1999;99:436-41.

Sendo a obesidade infantil uma patologia reconhecida por gerar conseqüências em curto

e longo prazo9,13,14 e por ser importante preditor da obesidade adulta9,14-18, a

prevenção nas primeiras etapas de vida, bem como diagnóstico precoce e efetivo

tratamento são fundamentais para melhoria do prognóstico6. Os dados obtidos nas

entrevistas relacionados à suspeita de excesso de peso nas crianças são subjetivos e

sujeitos a viés, pois dependem da percepção e aceitação que o entrevistado tem a

respeito de excesso de peso. Estes dados merecem atenção, pois relatos de literatura

confirmam, como no estudo atual, que apesar da dificuldade no encontro de critérios

diagnósticos ideais para a definição da obesidade infantil, existe uma forte correlação

entre o “achar” e o “ser” 9,13. Por outro lado, é preocupante o fato de que uma vez

suspeitado o distúrbio, não estejam sendo tomadas medidas para confirmação

diagnóstica e tratamento adequado. Este não encaminhamento pode estar condicionado

à falta de conhecimento da gravidade da patologia, por parte dos responsáveis; presença

de fatores culturais dirigidos pelo paradigma antigo de que saúde e felicidade infantil

guardam relação proporcional com o peso; descuidos no relacionamento familiar,

determinados pela inclusão de ambos os responsáveis no mercado de trabalho, que

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reduz o tempo disponível para a adequada assistência; medo e negação da doença; falta

de estímulo por parte dos pediatras à manutenção do peso da criança o mais próximo do

considerado ideal; falta de estrutura dos serviços de saúde para o atendimento.

9. Consenso Latino Americano de Obesidade [site na Internet]. Disponível: www.abeso.com.br.htm. Acessado: 16 de

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18. Serdula MK, Ivery D, Coates RJ, Freedman DS, Williamson DF, Byers T. Do obese children become obese adults?

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Com a finalidade de servir como referência para sistemas de vigilância, a Organização Mundial

da Saúde classifica os fatores de risco que se associam à etiologia das doenças não-

transmissíveis em dois grupos, um vinculado ao indivíduo e outro à comunidade7. Os fatores

de risco estão agrupados como geral, associados ao estilo de vida, e intermediários ou

biológicos. No primeiro agrupamento, encontram- se a idade, sexo, escolaridade e herança

genética. No segundo, o tabagismo, dieta inadequada, e sedentarismo. No terceiro, a hipertensão

arterial, obesidade e hipercolesterolêmica. Entre os fatores de risco associados à comunidade

estão as condições socioeconômicas, culturais, ambientais e de urbanização.

7. Pan-American Health Organization. C.A.R.M.E.N. - Conjunto de Acciones para la Reducción Multifactorial de las

Enfermedades No- Tansmisibles. What are NCD risk factor Available from:

http://www.paho.org/english/ad/dpc/nc/carmen -info.htm. [cited 25 feb 2004].

A adolescência é um período crítico para o desenvolvimento da obesidade,4

particularmente devido à predominância de atividades de lazer sedentárias e práticas

alimentares inadequadas. Exemplos dessas práticas são o consumo de lanches

hipercalóricos em substituição às principais refeições e elevada ingestão de alimentos

ricos em açúcar, carboidratos refi nados egordura saturada, como os fast food.2

Uma proporção significativa de adolescentes com excesso de peso mantém a

corpulência na vida adulta19 e os hábitos alimentares estabelecidos na infância e

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adolescência,9 o que indica a importância da prevenção do ganho de peso excessivo nas

idades mais jovens. Propostas de prevenção de obesidade têm como foco freqüente a

educação nutricional de adolescentes em ambiente escolar.18 Além do intenso contato

do indivíduo com a escola em suas duas primeiras décadas de vida,21 a escola

possibilita a inserção de conteúdos de educação nutricional no currículo escolar e

estimula aprática regular de atividade física.

Estudos conduzidos nos Estados Unidos10,20 e Europa7 a partir de intervenções em

escolas relatam mudanças positivas nos hábitos alimentares na adolescência. Gabriel et

al5 (2008) e Sichieri et al17 (2008) também relatam resultados positivos de programas

de educação nutricional que abordam hábitos alimentares de risco para o

desenvolvimento de obesidade entre adolescentes no Brasil. Estudo com amostra

probabilística de estudantes de escolas públicas de 12 a 19 anos em Niterói, RJ,

apontou prevalências signifi cativas de sobrepeso23 e de alterações metabólicas de risco

para doença cardiovascular. 22 Esses dados alertaram para a necessidade de estratégias

que contenham a evolução do problema e motivaram a realização do presente estudo,

cujo objetivo foi avaliar os efeitos de um programa de prevenção de obesidade sobre as

práticas alimentares de adolescentes de escolas públicas.

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16. Sahota P, Rudolf MCJ, Dixey R, Hill RJ, Barth JH, Cade J. Randomised controlled trial of primary school

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17. Sichieri R, Trotte AP, Souza RA, Veiga GV. School randomised trial on prevention of excessive weight

gain by discouraging students from drinking sodas. Public Health Nutr. 2008;12(2):197-202.

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18. Sichieri R, Souza RA. Estratégias para prevenção da obesidade em crianças e adolescentes. Cad Saude

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20. Singh AS, Paw MJMCA, Brug J, van Mechelen W. Shortterm effects of school-based weight gain prevention

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21. Story M. School-based approaches for preventing and treating obesity. Int J Obes Relat Metab Disord.

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and serum lipid changes in Brazilian adolescents. Rev Saude Publica. 2009;43(1):44-52. DOI:10.1038/ sj.ijo.0800859

A OBESIDADE É UM DISTÚRBIO NUTRICIONAL e metabólico caracterizado pelo

aumento da massa adiposa do organismo, que se reflete no aumento do peso corpóreo. É uma condição clínica séria e prevalente, podendo se tornar o principal problema de saúde do século XXI e a primeira causa de doenças crônicas do mundo, pois induz a

múltiplas anormalidades metabólicas que contribuem para a manifestação de dislipidemias, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, entre outras doenças

crônicas (2). Ainda não se conhece claramente a etiologia da obesidade. Sabe-se que fatores etiopatogênicos múltiplos e complexos, que alteram o balanço energético, estão envolvidos na sua gênese. Estes fatores podem ser classificados em genéticos,

metabólicos, nutricionais e psicossociais, e parecem interagir, levando a um balanço calórico positivo, predispondo a um fenótipo obeso (3). O fator de risco mais importante

para o aparecimento de obesidade na criança é a presença de obesidade em seus pais, pela soma da influência genética e do ambiente (4,5). De acordo com estimativas recentes, a criança que tem os pais obesos tem 80% de chance de se tornar obesa,

enquanto que a proporção diminui para 40% quando apenas o pai ou a mãe é obeso. Estudos comparando o peso corporal relativo de crianças adotadas com os pais adotivos

e biológicos sugerem um maior componente genético na incidência da influência da obesidade. Entretanto, apesar dessa indiscutível evidência da influência genética no desenvolvimento da obesidade, influências ambientais também têm sido bem

documentadas (3,6,7). O peso corpóreo durante a adolescência é um forte previsor do peso no adulto. Adolescentes que estavam acima do percentil 95

tiveram de 5 a 20 vezes maior probabilidade de se tornar adultos com peso excessivo (8). A prevalência da obesidade está crescendo intensamente na infância e na adolescência, e tende a persistir na vida adulta: cerca de 50% de crianças obesas aos seis

meses de idade e 80% das crianças obesas aos cinco anos de idade permanecerão obesas (9). De acordo com o National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES-

III; 1988 –1991), a prevalência da obesidade na infância está aumentando entre a população dos Estados Unidos. A NHANES-III indicou que 20% dos meninos e 22%

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das meninas com idade de 12 a 19 anos estão com sobrepeso, baseado no calculo do

IMC. Estes dados representam um aumento significante em relação ao trabalho prévio da NHANESII (1976–1980), no qual 15% dos adolescentes meninos e meninas estavam

com sobrepeso. Uma taxa de 15% é o objetivo nacional, de acordo com o estudo “Pessoas saudáveis no ano 2000” (2).

2. Grundy SM. Multifactorial causation of obesity: Implications for prevention. Am J Clin Nutr 1998;67(suppl.):563S- 72S.

3. Cysneiros MAPC. Obesidade na infância e adolescência. Pediatria Moderna 1996;32:705-16.

4. Escrivão MAMS, Oliveira FLC, Taddei JAAC, Ancona- Lopez F. Obesidade exógena na infância e na adolescência. J Pediatr 2000;76:305S-310S. 5. Oliveira FLC, Escrivão MAMS, Ancona-Lopez F. Obesidade exógena na infância e adolescência. Diagnóstico e Tratamento 2000;5:39-42.

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2001; www.medscape.com/Medscape/endocrinology/ Clinical MgmT/CM.vo3/pnt.Mvo3.html. Acessado em maio de 2001. 9. Abrantes MM, Lamounier JA, Colosimo EA. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes

das regiões Sudeste e Nordeste. J Pediatr 2002;78:335-40.

A obesidade é definida como o excesso de gordura corporal em relação à massa magra, sendo uma doença cuja prevalência vem aumentando nas últimas décadas, tanto em adultos como em crianças; hoje, já é considerada uma pandemia. Dados do

International Obesity Task Force (IOTF) indicam que, no mundo, 22 milhões de crianças com menos de cinco anos têm sobrepeso(1). A prevalência elevada de

obesidade é um grave problema de saúde pública, uma vez que outras doenças e síndromes estão a ela associadas, com conseqüente redução da expectativa de vida(2). Ainda, dentre as inúmeras conseqüências da obesidade, sabe-se que 60% das crianças de

seis a 12 anos que estão acima do peso têm ao menos um fator de risco para doenças cardiovasculares (3) e que o dano à parede arterial ocasionado na infância devido ao

excesso de peso é permanente(4). Em relação à patogênese, vários estudos têm sido realizados, abordando aspectos comportamentais e ambientais, além de avaliar aspectos genéticos e metabólicos. Pesquisas relacionadas a aspectos comportamentais sugerem

que a obesidade é resultado do excesso de ingestão calórica e do sedentarismo; entretanto, em seus resultados preliminares, o National Health and Nutrition

Examination Survey (NHANES) demonstrou que a ingestão calórica havia mudado pouco nas crianças e adolescentes avaliados(5). O gasto energético por meio da atividade física é um elemento importante na avaliação causal da obesidade; porém,

estudos recentes sugerem que a inatividade possa ser mais uma conseqüência do que uma de suas causas(5,6). Em relação ainda ao componente ambiental, estudos

comprovaram que os pais têm importante papel na determinação das preferências alimentares da criança – principalmente nos primeiros dois anos de vida – e são também fundamentais na construção da auto-estima e da auto-imagem(7). No que se refere ao

componente genético, estudos realizados com crianças adotadas mostraram que estas possuíam índice de massa corpórea (IMC) relacionada com o de seus pais biológicos e,

não, com o dos adotivos. Essa descoberta indica que, embora o ambiente exerça papel importante na determinação da obesidade, a influência genética.

1. Deitel M. The International Obesity Task Force and “globesity”. Obes Surg 2002;12:613-4. 2. Friedman JM. Obesity in the new millennium. Nature 2000;404:632-4.

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3. Steinberger J, Daniels SR. Obesity, insulin resistance, diabetes and cardiovascular risk in children: an American Heart Association scientif i c statement from the Atherosclerosis, Hypertension, and Obesity in the Young Committee (Council on Cardiovascular Disease in The Young) and the Diabetes Committee (Council on Nutrition, Physical Activity,

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childhood and adolescence: II. Energy metabolism and physical activity. Pediatrics 2002;110:307-14. 7. Golan M, Crow S. Parents are key players in the prevention and treatment ofweight-related problems. Nutr Rev 2004;62:39-50.

Page 12: Revisão bibliográfica

RESULTADO E DISCUSSÃO

O consumo de refrigerantes talvez não tenha se modificado devido à tendência de

crescimento da ingestão dessas bebidas no Brasil.12 Isso pode ser atribuído,

principalmente, à redução de preço desses produtos, mais acessíveis às populações de

menor nível socioeconômico, como os adolescentes avaliados neste estudo.

A tendência no aumento do consumo de refrigerantes e outros produtos industrializados

com alta densidade calórica e pouco valor nutritivo foi recentemente observada em

famílias de baixa renda a partir do programa de transferência condicionada de renda

denominado Bolsa-Família.a É provável que o consumo familiar de refrigerantes

influencie diretamente o hábito do adolescente, o que dificultaria sua mudança quando a

família não é contemplada no programa de intervenção, como ocorreu neste estudo.

Resultados não esperados e indesejáveis foram encontrados após a intervenção, como a

redução do número de estudantes que consumiam os alimentos de boa qualidade

fornecidos na merenda escolar. Mudanças favoráveis quanto ao consumo de alimentos

trazidos de casa ou da merenda escolar foram observadas em apenas cerca de 15% dos

adolescentes da EI e não diferiram dos adolescentes da EC. Sahota et al16 (2001), em

estudo com crianças de sete a 11 anos, também relataram aumento signifi cativo no

consumo de alimentos e bebidas ricas em açúcar e redução do consumo de frutas entre

os estudantes com sobrepeso e obesidade do grupo de intervenção quando comparados

ao grupo controle, como mudança inadequada e inesperada após o período de

intervenção. Quanto ao tipo de alimento consumido durante o intervalo escolar,

Ochsenhofer et al14 (2006), estudando adolescentes de uma escola pública de São

Paulo, observaram a preferência pelo consumo de alimentos vendidos nas cantinas

escolares em detrimento daqueles oferecidos gratuitamente pelo Programa Nacional de

Alimentação Escolar.b No presente estudo, durante as atividades de intervenção em que

essa temática foi abordada, os adolescentes relataram que os alimentos e produtos

vendidos na cantina são “mais saborosos” em comparação àqueles da cantina da escola.

As dificuldades constatadas para promoção de mudança de comportamento em favor do

consumo de alimentos saudáveis podem ser atribuídas a fatores como a forte influência

dos pares nos hábitos de consumo alimentar dos adolescentes. Durante as atividades de

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intervenção, observou-se, com freqüência, que os jovens que declaravam gostar de

alimentos como frutas e legumes eram intensamente contestados pelos seus colegas, que

emitiam opiniões valorizando o consumo de alimentos não saudáveis. A busca pela

aceitação do grupo e a construção de identidade com os pares, peculiares adolescência,

11 têm importante papel na formação e manutenção dos hábitos alimentares do grupo.

10. Killen JD, Telch MJ, Robinson TN, Maccoby N, Taylor CB, Farquhar JW. Cardiovascular disease risk reduction

for tenth graders: a multiple- factor school-based approach. JAMA. 1988;260(12):1728-33.

11. Knobel M. Síndrome da adolescência normal. In: Aberastury A, Knobel M. Adolescência normal: um

enfoque psicanalítico. 10. ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1981. p.24-62.

12. Levy-Costa RB, Sichieri R, Pontes NS, Monteiro CA. Disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil:

distribuição e evolução (1974-2003). Rev Saude Publica. 2005;39(4):530-40. DOI:10.1590/S0034-

89102005000400003.

14. Ochsenhofer K, Quintella LCM, Silva EC, Nascimento APB, Ruga GMNA, Philippi ST, et al. O papel da

escola na formação da escolha alimentar: merenda escolar ou cantina? Nutrire Rev Soc Bras Aliment Nutr.

2006;31(1):1-16.

Ainda que alguns estudos sugiram que o sexo feminino possa ser fator de risco para a obesidade infantil(16), esse dado não é um consenso e nossos resultados não mostraram

diferença significante na prevalência de alterações do estado nutricional em relação ao sexo. Quanto à atividade física, há controvérsias na literatura se o sedentarismo é causa de excesso de peso em função do menor gasto energético ou é conseqüência, uma vez

que a obesidade leva a pessoa a ter menos disposição e auto-estima, tornando-se mais inativa fisicamente (5,6) O Framingham Children’s Study acompanhou 106 crianças da

infância à adolescência e concluiu que a taxa de obesidade em crianças que assistem a mais de cinco horas de televisão por dia pode chegar a ser até 8,3 vezes maior do que para aquelas que assistem duas ou menos horas diárias de televisão(17). Em nosso

estudo, foi observada prática de atividade física mais freqüente na amostra escola. Surpreendentemente, no entanto, nesse grupo foi encontrada a maior freqüência de

atividade física nos indivíduos classifi cados como sobrepeso e obesos. Esse achado pode refl etir a melhor condição socioeconômica e cultural do grupo, com maior estímulo às práticas esportivas extra-escolares e acesso à orientação profissional relativa

ao excesso de peso. As duas amostras avaliadas no presente estudo apresentaram diferenças signifi cativas em relação aos parâmetros sociais. Os alunos que freqüentam

a Escola Estadual Sérgio Porto, em sua maioria, pertencem a famílias em que pelo menos um dos pais é funcionário da Universidade, que exige no mínimo escolaridade média de seus colaboradores. Portanto, essa amostra apresentou média maior de

escolaridade materna e maior média salarial, comparada às famílias que procuraram o ambulatório do hospital público. A relação entre a renda familiar e a prevalência de

alterações do peso em crianças também apresenta aspectos contraditórios. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003 do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE)(18) demonstraram que a porcentagem de indivíduos

com sobrepeso e obesos aumenta à medida que aumenta a renda familiar.

Page 14: Revisão bibliográfica

RESUMO O objetivo do trabalho foi determinar a prevalência da obesidade entre adolescentes da Rede Estadual de Ensino da cidade de Bragança Paulista, SP, e relacioná-la com o estado nutricional dos pais. Foi realizado um estudo transversal com 1.334 adolescentes, na faixa de 11 a 18 anos, matriculados da 5ª série ao 3ª colegial, sendo 796 (59,7%) do sexo feminino. As variáveis estudadas nos adolescentes foram: sexo, idade, escolaridade, peso atual e estatura, e nos pais: sexo, idade, peso atual e estatura. O diagnóstico nutricional foi feito pelo índice de massa corpórea [IMC - peso (kg)/altura (m2)]. A avaliação do estado nutricional foi realizada com as medidas anteriores, de acordo com indicadores antropométricos recomendados para adolescentes. Encontrou-se baixa prevalência de sobrepeso e obesidade entre os adolescentes (7,3 e 3,5%, respectivamente), e maior prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes que possuem pai e mãe obesos (26,09%), quando comparados aos pais com peso normal (9,29%). Concluiu-se que a obesidade não é um problema de Saúde Pública nesta população e que existe relação da obesidade dos adolescentes com o estado nutricional de seus pais. (Arq Bras Endocrinol Metab 2003;47/6:663-668)

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Como calcular IMC infantil

publicidade

Tatiana Zanin (Nutricionista)

O Índice de Massa Corporal (IMC) infantil é utilizado para avaliar se a criança ou

adolescente está no peso ideal, podendo ser feito nas consultas com o pediatra ou em casa pelos pais.

O IMC infantil é uma relação entre o peso e a altura da criança entre os 2 e os 20 anos, que indica se o peso atual está acima, abaixo ou dentro do normal, ajudando a

identificar desnutrição ou obesidade infantil.

Para calcular o IMC da criança basta dividir o peso atual da criança, em Kg, pela altura ao quadrado, em metros, como mostra a imagem da esquerda:

Fórmula para cálculo do IMC

Menino de 10 anos com 1,40 m de altura e 32 Kg de peso

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O exemplo acima mostra o cálculo do IMC de um menino de 10 anos, com 1,40 m de

altura e 32 Kg de peso, resultando num valor de 16,3 Kg/m2. Porém, este valor ainda não determina o estado nutricional da criança.

Os valores de IMC na criança podem variar entre 12 e 35 Kg/m² e, ao contrário do

adulto, devem ser introduzidos na tabela de IMC infantil, que relaciona a idade e sexo da criança com o valor do IMC.

Tabelas de IMC infantil por idade e sexo

Tabela de IMC do menino

Tabela de IMC da menina

O resultado da relação entre o IMC e a idade indica o percentil da criança, que varia de

acordo com a sua fase de desenvolvimento.

Após obter o percentil da criança, deve-se utilizar a Classificação do IMC Infantil, para

saber se a criança está dentro, ou não, do peso ideal para a sua idade.

Classificação do IMC Infantil

Categoria de Peso Percentil

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Abaixo do peso Abaixo do percentil 5

Peso ideal Entre o percentil 5 e o 85

Excesso de peso Entre o percentil 85 e o 95

Obesidade Acima do percentil 95

Utilizando o exemplo do menino com 10 anos que possui um IMC de 16,3 Kg/m², seu percentil, de acordo com a tabela, é ligeiramente inferior a 50, que seria o ideal.

Caso a criança apresente um percentil inferior a 5 ou superior a 85 é importante consultar um nutricionista para fazer uma reeducação alimentar. Saiba como em:

Segredos da alimentação saudável.