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RETRATO DA ARTE E CULTURA DO RECÔNCAVO DA BAHIA 76 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Ruínas de Cachoeira pag. 6 e 7 A dança na Quarta dos Tambores pag. 8 e 9 A arte na educação pag.4 Entrevista com Sine Calmon pag. 5 Vida de artista pag. 10

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RETRATOS DA ARTE E CULTURA DO RECÔNCAVO DA BAHIARETRATO DA ARTE E CULTURA DO RECÔNCAVO DA BAHIA

76 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Ruínas de Cachoeira

pag. 6 e 7

A dança na Quarta dos Tambores

pag. 8 e 9

A arte na educação pag.4

Entrevista com Sine Calmon pag. 5Vida de artista

pag. 10

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*Ícaro de Oliveira é estudante de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e músico da Banda Escola Pública.

Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL)Quarteirão Leite Alves, Cachoeira/BA

CEP - 44.300-000 Tel.: (75) 3425-3189

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo

Acesse o Reverso Online

ReitorPaulo Gabriel Soledad Nacif

Coordenação EditorialJ. Péricles Diniz e Robério Marcelo

EditoraLorena Bernardes

RedatorasAlice VelameCátia LimaIlze MeloLorena BernardesNaiara Moura

Editoração Gráfica

Alice VelameNaiara MouraIlze MeloLorena Bernardes

Colaboradores

Balbino AzevedoAline Brandão CalvacanteGeisa LimaÍcaro de OliveiraJuliano MascarenhasLarissa Molina

>>EXPEDIENTE<<

I N E D I T O R I A L <<>>CARTA AO LEITOR A cidade de Cachoeira em toda a sua essência trans-

pira arte. Desde a arquitetura barroca até o artesanato em madeira, o samba de roda e a beleza natural. E nós, estudantes de Comunicação da UFRB, privilegiadas em vivenciar diariamente o charme, encanto e as cores des-sa cidade, optamos por descobrir um pouco mais do que acontece sobre a arte por aqui.

Eis que foi escolhida a linha editorial da Esquadros, revista que foi preparada quase como um dossiê de ar-tistas, eventos e lugares voltados para a experiência es-tética de olhar, perceber e sentir a produção artística da região.

A nossa equipe acompanhou a Quarta dos Tambores, conversou com o reggaeman Sine Calmon, redescobriu a educação artística na cidade, visitou Castro Alves, onde há Arte Na Rua, passeou pelas ruínas do centro histórico e registrou o corpo e a cultura com o colega Marlon (Baga). Trazemos também a canção Esquadros, que dá nome ao nosso projeto, e a poesia de Geisa Lima dos Santos, estudante de Artes Visuais da UFRB. O Ineditorial traz a palavra do musico e também colega de CAHL, Ícaro de Oliveira.

Todo o processo de elaboração da Esquadros passou pela orientação do professor Péricles Diniz, que nos es-timulou através do seu entusiasmo pela NOSSA profis-são.

O resultado de tudo isso está agora em suas mãos. Aproveite a leitura e experimente viver um pouco mais do que as artes tem para oferecer.

Equipe Esquadros

Cachoeira Heróica, berço cultural, patrimônio imaterial e afim, não faltam ad-jetivos quando nos referimos à cidade de Cachoeira. Mas será que toda esta pompa tem respingado em sua produção cultural e artística de fato? Em algum momento sinto uma espécie de propaganda enganosa, como aquelas do governo em período de eleição, o incentivo caminha ao mesmo passo que a reforma dos antigos casarões coloniais e a ditadura permanece instalada. Nada de novo.

Mais recentemente como delegado de cultura, pude pelas conferências pre-senciar uma verdadeira Babilônia, assustadora, o retrato de uma cidade perdida dentro de sua própria riqueza, que tem mais servido para fomento midiático do que precisamente para seus artistas. O que sobra disto? Cachoeiranos plena-mente afastados de sua herança, o que sobra é a mentira criada pela cultura massa, este é o gosto amargo da falta de ações e incentivos de fato à manutenção das raízes esfaceladas ao longo dos anos.

Há muito mais por dentro destas paredes an-tigas, há muito pra sair daí. A dança tem ido às praças novamente, a musicalidade tão respeitada mundo afora quer se fazer ouvir, aqui dentro. Os poetas que se foram e os que aqui estão decla-mam cada vez mais alto e suas palavras ecoam e reverberam. “Todo Risco” para quem acredita neste lugar mágico. Não há outro como aqui, não para este jovem artista que vos fala. Estes últimos cinco anos nesta cidade, onde tenho tentado produzir arte sem vícios me enriqueceram de uma forma onde já não caibo dentro de minhas limitações, é preciso transcender, pois o que sai deste lugar é muito, para mim, que sou tão pouco.

Desta forma, imagino que a chegada da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia traga mais do que mera mudança estética, é preciso prolongar os arre-dores e separar as fronteiras do academicismo impositivo. Saiam de suas salas e venham para a “universidade”, venham às sambadeiras, rezadeiras, aos loucos, aos cachorros da praça, aos artistas de nobre valor instalados nas entranhas da feira, que durante o dia labutam até a noite cair, quando a poeira se arrasta num samba.

A cultura do descaso Ícaro de Oliveira*

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CACHOEIRA | BAHIA Outubro / Novembro 2013www.ufrb.edu.br/reverso 3CIFRA

Tom: A AEu ando pelo mundo F#m7Prestando atenção em cores que eu não sei o nomeBm7 ECores de Almodovar, cores de Frida Kalo, cores APasseio pelo escuro F#m7Eu presto muita atenção no que o meu irmão ouve Bm7 EE como uma segunda pele, um calo, uma casca AUma cápsula protetoraF#m7 Eu quero chegar antes Bm7 E Pra sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus A F#m7 Eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone Bm7 E E vendo doer a fome nos meninos que tem fome

Am DmPela janela do quarto, pela janela do carroPela tela, pela janela AmQuem é ela, quem é ela?Eu vejo tudo enquadradoF7+ E Remoto controle

A Eu ando pelo mundo F#m7 E os automóveis correm para quê? Bm7 E As crianças correm para onde? A Transito entre dois lados de um ladoF#m7 Eu gosto de opostos Bm7

Exponho o meu modo, me mostro E Eu canto para quem?

Am DmPela janela do quarto, pela janela do carroPela tela, pela janela AmQuem é ela, quem é ela?Eu vejo tudo enquadradoF7+ E Remoto controle

A Eu ando pelo mundo F#m7 E meus amigos, cadê? Bm7 E Minha alegria, meu cansaço... A F#m7 Meu amor cadê você? Bm7 Eu acordei E Não tem ninguém ao lado

Am DmPela janela do quarto, pela janela do carroPela tela, pela janela AmQuem é ela, quem é ela?Eu vejo tudo enquadradoF7+ E Remoto controle

A Eu ando pelo mundo F#m7 E meus amigos cadê?...Am DmPela janela do quarto, pela janela do carroPela tela, pela janela AmQuem é ela, quem é ela?Eu vejo tudo enquadradoF7+ E Remoto controle

ESQUADROSAdriana Calcanhotto

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CACHOEIRA | BAHIA Outubro / Novembro 2013 www.ufrb.edu.br/reverso4 ARTE EDUCAÇÃO

De acordo com a Lei de Di-retrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a disciplina de Educação Artística é obrigatória nos diversos níveis da Educa-ção Básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. Porém, alguns estudio-sos questionam a valorização de quem ensina arte, principalmente porque se acredita que qualquer um pode atuar na área.

Nos últimos anos, projetos em arte e educação estão sendo de-senvolvidos por associações, or-ganizações não-governamentais e instituições privadas. O projeto de extensão “Diálogos da Arte Brasileira com a História da Arte”, realizado no Colégio Estadual da Cachoeira, é uma iniciativa da Universidade Federal do Recôn-cavo da Bahia (UFRB). Coordena-do pelo professor de Artes Visuais Dilson Rodrigues Midlej, o proje-to pretende estender as relações com a comunidade e estimular o gosto pelas atividades artísticas.

O projeto promove encontros semanais com os estudantes do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual da Cachoeira, para a realização de aulas teóri-cas e práticas. Segundo o profes-sor Dilson, a proposta é adaptar o conteúdo das pesquisas desen-volvidas pelos estudantes de Ar-tes Visuais para reforçar as aulas de Educação Artística do colégio.

Para compreender a arte em sua totalidade é importante consi-derar que o conhecimento teórico caminha junto com a prática, am-

bos são inseparáveis. Alguns che-gam a concluir que a arte é ape-nas diversão, mas a área envolve outros aspectos muitas vezes ig-norados.

Manifestações artísticas

O espaço escolar é o mais in-dicado para a aproximação com o universo artístico. A professora de Educação Artística do Colégio Estadual da Cachoeira Edelzuita Pinheiro dos Santos acredita que o ensino de arte ajuda os alunos a desenvolver habilidades como a criatividade e a comunicação. “Através de um desenho, por exemplo, o aluno pode conhecer suas aptidões e talentos e se sentir estimulado a expressar o que sente”, explica a professora.

Para a estudante Janaína da Hora dos Santos, 17 anos, as au-las de Educação Artística são as melhores. “É a oportunidade de livrar as coisas ruins da nossas mentes e poder relaxar”, comenta a jovem.

O professor Dilson também afirma que a arte pode ultrapassar o espaço escolar e estar presen-te em nosso dia-a-dia em outros momentos. Além de ser educati-va, ela é capaz de refletir valores sociais e culturais. “O contato com a arte transforma, porque torna o ser humano mais potencializado. As artes de uma maneira geral fa-zem com que as pessoas produ-zam sentidos, a manifestação ar-tística é inerente ao ser humano”, afirma Dilson.

Lorena Bernardes

Alunos do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual da Cachoeira aprendem a fazer trabalhos artísticos através de Proje-

to de Extensão da UFRB.

Fotos: Romielle Evangelista

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CACHOEIRA | BAHIA Outubro / Novembro 2013www.ufrb.edu.br/reverso 5MúSICAwww.ufrb.edu.br/reverso

Revista Esquadros: Sine, conte para a gente como está sendo a sua volta, nesta nova temporada de shows.Não é voltando, é continuando, eu estava apenas fora da grande mídia, mas continuava fazendo shows em São Paulo como na Virada Cultural e no interior da Bahia.R.E: Como você vê o reggae no ce-nário musical atualmente ?O reggae sempre sofreu uma grande resistência do sistema, mas eu nem posso reclamar porque sempre tive muitos seguidores.R.E: Você vem fazendo uma série de shows em Salvador, fale um pou-co sobre isso.Acabei de fazer um show com o Ilê Aiyê

na Senzala do Barro Preto, e estou fa-zendo parte de um projeto promovido pelo Governo do Estado, que durante dois anos levará minha música para a Praça Pedro Arcanjo no Pelourinho.R.E: Você também gravou um DVD recentemente, já tem previsão de quando ele chega no mercado ?Gravei sim, foi no São João e chama- se “Live in Cachoeira”, onde também contei com ajuda de equipamentos de alta definição da UFRB. Ainda não tenho previsão de lançamento, pois o DVD ainda está em processo de edi-ção e masterização.R.E: O que seus fãs podem esperar de novidade nesse DVD , tem músi-ca nova ?Tem muitas novidades, eu canto Tim

Maia, Edson Gomes, Djavan, tudo numa nova linguagem e trago uma música nova que chama Lata de Prata.R.E: Você se diz cristão, fala de passagens bíblicas, você acha que pode se tornar um cantor gospel ?Eu já sou. Peguei o trem do amor pra Jerusalém... (canta)R.E: Você já entoou cânticos do candomblé ? Não. Aliás, só aquela: nessa cidade todo mundo é de” babá”... mas can-tava como música popular brasileira, não como música de candomblé.R.E: Como você vê o momento cul-tural cachoeirano?Vejo a depreciação da poesia, a des-valorização do samba de roda e do re-

ggae, mas com a chegada da univer-sidade deu um gás e fortaleceu nossa cultura, tomando um novo rumo, como esse projeto que foi aprovado ai, a Quarta dos Tambores.R.E: Quais são os seus próximos projetos ?Por enquanto, tenho um convite do meu parceiro e amigo Gerônimo para gravar um DVD no TCA em 2014, e já tem até nome: Os dois lados da mo-eda.R.E: Como está sua agenda nos próximos meses?Tem o projeto do Pelourinho, tem coi-sa por marcar, como viagem para São Paulo, festival de reggae em novem-bro e o Réveillon na ilha, as coisas estão andando.

J o g o r á p i d o c o m Sine Calmon

Texto e foto: Cátia Lima

Cachoeirano, Sine Calmon co-meçou a vida artística aos 17 anos com a Banda Golpe de Estado. O reggaeman toca guitarra, piano e teclado. Já teve várias indicações para o Troféu Caimmy na Categoria Instrumentista de Cordas enquanto tocava na Banda Estúdio 5.

Em 1994, formou a Banda Sine Calmon & Morrão Fumegante, pre-sente no cenário musical até hoje. Sine já teve trabalhos gravados por Ivete Sangalo e Cássia Eller. O mú-sico se prepara para lançar em bre-ve o DVD “Live in Cachoeira”, gra-vado no São João de Cachoeira.

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6 CACHOEIRA | BAHIA Outubro / Novembro 2013www.ufrb.edu.br/reverso

Andar pelas ruas de Cachoeira e ter a sensação de estar vi-vendo em um cenário de filme ou novela de época. Quem nunca foi arrebatado por esta sensação? Os imóveis em estilo colonial nos transportam pelo tempo na cidade que é história viva em cada rua. Também não é difícil notar num passeio ou estando apenas “de passagem” pela heroica e guerreira cidade que o tempo passou e deixou marcas desde o apogeu econômico nos séculos XVIII e XIX e a contemporaneidade.

O tombamento de Cachoeira foi decretado em 1971, conside-rando a necessidade de proteger o acervo arquitetônico e natu-ral da cidade que ficou conhecida como Cidade Monumento Na-cional. Porém, mais de quarenta anos se passaram e o trabalho em prol da conservação patrimonial ainda enfrenta dificuldades. Para o condutor turístico cachoeirano Davi Rodrigues, há muito trabalho a ser feito e a grande dificuldade parte dos próprios moradores saberem que a cidade é tombada e não respeitarem.

Conservação dificultada

Pintura descascando, para-peitos enferrujados, janelas destruídas e vidros quebrados. De alguns imóveis somente a fachada resistiu e em algumas fachadas ainda é possível ver a data de construção. De acordo com o decreto-lei número 25 de 30 de novembro de 1937, que regula o patrimônio histórico e artístico nacional, o abandono de imóveis é punível.

Conforme Karina Madureira, chefe do escritório técnico do IPHAN em Cachoeira, tem sido feita a fiscalização de bens em ruína e os proprietários recebem as autuações, porém a maioria destes imóveis está em proces-

Naiara Moura

so de inventário e, como a Vara Cível da cidade está sem juiz titular, os processos não seg-uem adiante. “Notifica-se tam-bém a prefeitura, que é o órgão que pode desapropriar e leiloar ou dar uso”, completa. Karina também explica que em casos específicos, como quando há risco de desabamento ou quan-do o proprietário não pode ar-car com a conservação, o Iphan desapropria o imóvel e dá con-tinuidade na conservação com verba da União.

Cachoeira fez parte do pro-grama Monumenta, do Minis-tério da Cultura, que realizou obras em monumentos como a Casa Natal de Ana Nery e Quarteirão Leite Alves e termi-

Um incêndio destruiu as instalações da loja de eletrodomésticos Jota Lima em agosto de 2012. O prédio ainda não passou por reformas.

Com uma localização privilegiada - as margens do Rio Paraguaçu, o prédio do Hotel Colombo segue em estado de arruinamento.

Foto : Maeli Souza

Foto : Maeli Souza

Foto : Maeli Souza

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7www.ufrb.edu.br/reversoCACHOEIRA | BAHIA Outubro / Novembro 2013

nou em 2009, quando foi firma-do o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades históricas, do Ministério das Ci-dades. O PAC Cidades Históri-cas está dividido em três etapas e na primeira foram abarcadas apenas cidades que não fizer-am parte do Monumenta e por este motivo Cachoeira ainda não está inclusa. A cidade deve estar contida na segunda etapa do PAC entre 2014 e 2015.

A Heroica e Guerreira cidade

O patrimônio cultural da ci-dade de Cachoeira compõe um cenário único no mundo. Casarões e sobrados dispostos diante do Rio Paraguaçu, por onde os saveiros trafegavam antes. A viagem pelo tempo (e pelo rio) carrega marcas do

Brasil Império, período em que a cidade foi uma das mais ricas e importantes do país.

Não dá para resistir e não imaginar como teriam sidos os anos áureos de Cachoeira, a vida das famílias abastadas, a luta pela independência, a re-sistência do povo negro, a vida dos filhos ilustres de Cachoeira como Ana Néry, pioneira da en-fermagem no Brasil, ou Ernesto Simões Filho, fundador do Jor-nal A Tarde.

É difícil não pensar que toda essa história, vivida nas ruas por onde hoje caminhamos para ir ao trabalho ou a universidade, pode se apagar no decorrer de mais trinta ou quarenta anos caso as pessoas não entendam e invistam no potencial cultural e turístico de Cachoeira.

Localizada diante da feira livre de Cachoeira, a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios está abandonada há décadas.

Foto : Maeli Souza Foto: Wagner Almeida

Foto : Maeli Souza

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CACHOEIRA | BAHIA Outubro / Novembro 2013 www.ufrb.edu.br/reversoDANÇA8

Foi com praça cheia que se iniciou aquela “Quarta”, queria presenciar as apresentações de dança daquela noite. Infelizmen-te não pude ficar até o final, mas me interessei em saber o que havia acontecido, então fiquei sabendo de um grupo de dan-ça da cidade chamado “GAM-GE street dance”, resolvi então procurá-los para fazer a minha matéria do Reverso.

Cheguei à sede do Grupo de Apoio ao Menor Gotas de Espe-rança (GAMGE), numa quarta--feira à tarde, todos dançavam e brincavam entre si. O clima me conquistou de imediato, princi-palmente ao ser recepcionado por Samir Suzart 30 anos, pro-fessor, coreografo, coordenador, produtor, enfim, o “faz tudo” do grupo, ele me contou que está à frente do projeto desde o seu iní-cio em 2007.

O grupo tem 24 integrantes, isto é, até o fechamento desta matéria, pois devido à gravação do primeiro DVD o número de componentes vinha aumentan-do consideravelmente. As aulas são gratuitas e disponibilizadas para jovens de 14 a 25 anos.

Interpelei sobre a apresenta-ção na Quarta dos Tambores, ele me contou que o convite sur-giu por meio de uma amiga do GAMGE, percebi que a pessoa referida era do tipo especial para o grupo e que seria impossível a ela dizer não.

Enquanto ele falava observei que seria interessante procurar esta pessoa também, mas se fiz isso ou não eu conto mais tarde.

O motivo de o grupo ter acei-tado o convite, é que consideram a Quarta um movimento de efer-vescência cultural já consolidado e acreditam no projeto, além de considerar um bom lugar para a divulgação do GAMGE.

Expliquei pra ele que gosta-ria de conhecer mais o grupo e para isso queria conversar com um dos integrantes, ele sorriu dizendo “vou buscar alguém pra você”.

Eis que surge atrás de mim uma linda moça de belo sorriso, e o corpo? Todos sabem que mulher repara uma na outra, mas ali não havia gordura algu-ma. “Deve ser a dança”, pensei, mas isso é outra história.

O nome da simpática menina é Sheyla da Silva de 18 anos, apesar de sempre ter dançado ela só estava no grupo há seis meses, participava de outras aulas de dança por causa da in-compatibilidade de horários do GAMGE.

Falou que da apresentação na

Quarta o reconhecimento é que é legal tanto por parte da produ-ção conhece o trabalho e que fez o convite quanto da socieda-de que já reconhece na rua. “Eu sou conhecida como aquela me-nina do GAMGE”. A empolgação era facilmente percebida nas falas de Sheyla sobre o grupo. “Quando cheguei aqui e vi a ga-lera dançando, eu gostei, gostei muito, é muito legal.”

Sai dali decidida a procurar aquela amiga que fez o convite para o grupo se apresentar na Quarta dos Tambores, o nome dela é Lorena Morais minha co-

Ilze Melo Fotos: Mariana Brito /Divulgação

Lutando pela preservação da cultura negra

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CACHOEIRA | BAHIA Outubro / Novembro 2013www.ufrb.edu.br/reverso 9

lega de curso na universi-dade, mas que ainda não havia tido a oportunidade de conhecer.

Louvado seja o face-book.

Marquei o encon-tro no CAHL, ela já chegou me explican-do que seria melhor fazer a entrevista com o coordenador da Quarta.

Então, expliquei que precisava ser com ela, por causa do contato direto com o gru-po de dança.

Foi quando me con-tou que Alder Augusto, o coordenador da Quarta dos Tambores, continua-

va sendo a pessoa mais indicada para a entrevis-ta, pois ele também tinha contato com o grupo, ha-via sido o instrutor corpo-

ral da galera.Com a mediação de

Lorena o meu encon-tro com Alder aconteceu na faculdade também, ele chegou brincando, já imaginei que ele fosse

um cara legal.No desenvolver da en-

trevista me contou como a Quarta surgiu e que completará dois anos em

dezembro.Como já sabia do

seu envolvimento do grupo, quis en-tender o que achava da galera e por que apresentá-los nesse evento.

E inesperadamen-te ele me perguntou:

“Você sabe o que é orgu-lho?”

Respondi que sim com a cabeça, e permiti que ele continuasse.

As propostas de resis-tência, combate ao racis-

mo e intolerância religio-sa expressos na Quarta, estavam também presen-tes naquele grupo.

Ele me contou que vê o GAMGE street dance defendendo e perpetu-ando as identidades ne-gras é realizador, pois cultura negra não é ape-nas o samba de roda, a capoeira, o candomblé, e esses adolescentes mostram a sua cultura de um jeito moderno e isso é impresso no reggae, no hip hop, e no rap.

“São jovens como eu fui, que vêem no street dance a possibilidade de expressar as suas iden-tidades, de se posicio-nar no mundo através da dança.”

Depois de algum tem-po de conversa, avisei que estava satisfeita com

a entrevista, ele se des-pediu de mim, correu até a bicicleta, que havia es-tacionado no CAHL, e gri-tou: “Tenho que correr pra outro compromisso” e foi.

Sinto-me feliz de ter conhecido um pouco des-sas duas entidades que a cada dia conquistam mais reconhecimento e respeito.

Percebo, que o GA-MGE street dance e a Quarta dos Tambores in-tegram um pensamento comum, o de perpetuar e não deixar morrer a cul-tura e identidade negra, cada um com seu jeito, é claro!

Mas, ainda bem que tem gente fazendo algu-ma coisa.

O que me leva a per-sistir na fé que tenho nes-sa humanidade.

“São jovens como eu fui, que vêem no street dance a possibilidade de expressar as suas identidades, de se posi-cionar no mundo através da dança.” Alder Augusto

Lutando pela preservação da cultura negraDANÇA

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CACHOEIRA | BAHIA Outubro / Novembro 2013 www.ufrb.edu.br/reversoPERFIL10

Alice Velame

Nascido em Salvador, no ano de 1958, e criado na cidade de Castro Alves-BA, Balbino Azevedo contou em entrevista sua trajetória de vida como Artista Plástico e também Arte Educador.

Desde pequeno rabisca-va, desenhava quadrinhos e fazia pinturas, começa-va assim o gosto pela Arte. Seus pais trabalhavam na construção de jornais, e as-sim Balbino começou tam-bém a gostar da área de jornalismo.

Na década de 70, devido à influência de jornais fei-tos pelos próprios morado-res da cidade de Castro Al-ves, Balbino resolveu junto com alguns colegas criar “O espelho”, um jornal mi-meografado, que em plena ditadura militar era rotulado como um produto subversi-vo.

Passado algum tempo, trabalhando em matérias

para o jornal, finalmente, depois de 10 anos de es-pera, o artista plástico con-seguiu concretizar o sonho de fazer a “I Exposição de Artes de Castro Alves” no Colégio Polivalente, em 1980, onde reuniu traba-lhos dele e de outros artis-tas da cidade. “Organizei uma grande exposição, foi uma das melhores que eu fiz até hoje, mesmo depois tendo participado de outras exposições importantes, em espaços nobres. Mas a primeira ficou marcada.” Disse.

Perguntado se já havia organizado ou participado de algum projeto ligado à Arte, o artista plástico fa-lou sobre o recente “Arte na Rua”, que é um projeto onde ele procura paredes da cidade onde estão des-gastadas e faz pinturas, normalmente de persona-gens que marcaram o mun-do como Charlie Chaplin e Che Guevara, assim, trans-formando o que antes era apenas um espaço sujo, em Arte. Além desse, existe também o Arte nas Escolas e o Arte nas Casas.

Outro projeto importante foi intitulado como O Cine-ma vai à Escola, “Eu esco-lhia um filme de curta me-tragem, instalava o projetor na escola e passava para os alunos, comecei com esse projeto em castro Al-ves, depois fui pra salvador, de salvador para Alagoas. Fiquei trabalhando nisso durante 15 anos”, relatou.

Também já foi membro

do Movimento Cineclubis-ta, contribuição de grande importância, que trazia uma perspectiva de renovação democrática no campo do audiovisual.

Sobre a carreira acadê-mica, ele relatou que teve certa resistência em exer-cer o papel de professor, começou a ensinar à oito anos. Ele acabou perce-bendo que instruindo, da-ria chance para que outras pessoas chegassem aonde ele chegou. Através do en-sino, ofereceria oportuni-dades para jovens que se identificam com algum tipo de arte a estimular o dom e levá-lo para frente.

O artista não está com um projeto ativo no mo-mento, mas pensa em fa-zer uma exposição didática no Colégio Polivalente de Castro Alves.

Fotos: Acervo Pessoal

O Projeto Arte na Rua, realizado em Castro Alves, transforma o que antes era sujo, em Arte.

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CACHOEIRA | BAHIA Outubro / Novembro 2013www.ufrb.edu.br/reversowww.ufrb.edu.br/reverso POESIA 11

IndIvIdualIdade Geisa Lima dos Santos*

Eles não entendem meu sonhode menina molecade querer estudar,

trabalhar e ser independente,morar sozinha, não casar, nem ter filhos;Não são estas emoções que quero viver,

pretendo outras coisas fazer;

Ser reconhecida por minha arte,de desenhar, pintar ou escrever,

viver do meu sonho e fazer ele acontecer;

Inscrever meu futuro com o suor do meu rostocom o pincel do meu coração,não quero o que não seja meu,

vou ser teimosa e lutarpara minhas realizações alcançar.

Não adianta reclamar,não sou mulher de cabrestos usar,

gosto de sentir a liberdade em meu peito pulsar,E poder em liberdade voar;

Sou mulher das palavras,sou mulher dos desenhos,

sou mulher de pintar com empenho,o que quero ter em minhas mãos;

Já sofri calada, já sorri calada,sou um tanto o quanto reservada,

mas já vivi muitas felicidadesem minhas caminhadas;

Para que falar do que faz doer?para que falar de quem me fez sofrer?

para que falar de quem amo e quero ter?

Coisas indivisíveiscoisas de artista;

Faço da minha vida uma arte a ser vivida;Liberdade meu grito preferido.

* Estudante de Artes Visuais

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12 CACHOEIRA | BAHIA Outubro/ Novembro 2013www.ufrb.edu.br/reverso

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Flores , Imagens , Cores

Modelo e conceito: Baga de BagaceiraProdução: Ilze Melo eBaga de BagaceiraFotos: Naiara Moura