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>> Conheça a permacultura e os benefícios para o Recôncavo Pg. 09 EDIÇÃO 45 Ecologia & Meio Ambiente >> A moda responsável >> O vilão está nas ruas de Cachoeira O futuro do Paraguaçu >> Rony Bonn revela sua arte Pg.04 Pg.05 Pg.11 Rosalvo Marques Pgs. 06 e 07 e a consciência ambiental Cachoeira - Bahia | Maio 2011

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Jornal laboratorio do curso de Jornalismo da UFRB

Transcript of Reverso 45

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>> Conheça a permacultura e os benefícios para o Recôncavo Pg. 09

EDIÇÃO 45

Ecologia & Meio Ambiente

>> A moda responsável

>> O vilão está nas ruas de Cachoeira

O futuro do Paraguaçu

>> Rony Bonn revela sua arte

Pg.04 Pg.05 Pg.11

Rosalvo M

arques

Pgs. 06 e 07e a consciência ambiental

Cachoeira - Bahia | Maio 2011

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O Reverso está de volta e vem trazendo novidades. Este semestre será inteiramente dedicado à edições especiais que abordarão os mais variados temas. E para abrir essa nova temporada trouxemos este primeiro jornal com o tema Ecologia e Meio Ambiente e abordaremos diversas questões ligadas ao assunto, desde pequenas iniciativas populares a grandes problemas ligados ao cotidiano de todos, principalmente na cidade de Cachoeira

E por que meio ambiente? Escolhemos esse tema por ser bastante atual e importante. Falar de meio ambiente é falar sobre nós mesmos, sobre nossa vida, sobre interações entre os seres vivos e não-vivos. As discussões sobre o meio ambiente tornaram-se indispensáveis diante das agressões constantes à natureza, que responde quase sempre de forma trágica. Nós do Reverso entendemos que mais necessário ainda é o desenvolvimento de medidas concretas de proteção e preservação do meio ambiente, evitando nos depararmos naquele discurso chato e clichê: vamos mudar o mundo! Nossa intenção aqui é mostrar pra você, leitor, que com pequenas mudanças de hábitos nós podemos fazer uma grande diferença.

Além de refletirmos sobre um novo modelo de produção traduzido na exploração adequada e sustentável dos recursos naturais. Pensamos num jornal que pudesse aproximar a importância de se preservar o meio ambiente. Sobretudo, levantando assuntos e divulgando iniciativas que estão próximas e no entanto parecem esquecidas. Falar de meio-ambiente e ecologia é falar do passado, do presente, e cada vez mais, do futuro.

ReitorPaulo Gabriel Soledad Nacif

Coordenação EditorialJ. Péricles Diniz e Robério Marcelo

Editora ChefeMaria Olívia Andrade

Editoração Gráfica/ Editor de ArteRosalvo Marques S. Júnior

RedaçãoLélia Maria Sampaio

Monitora / RevisãoPriscila Alves de Vasconcelos Costa

FotografiaTaiane Nazaré Diogo de OliveiraMaria Olívia Andrade

Reporteres Taiane Nazaré Diogo de OliveiraMaria Olívia AndradeSuely AlvesLorena MoraisLaís Martins Laís de OliveiraRaquel Pimentel Monalisa Leal

CARTA AO LEITOR

A militância ambiental, no Brasil, é ainda recente. Na Bahia, data do início dos anos 80, a partir de mobilizações em torno da preservação da lagoa e dunas do Abaeté e da orla marítima de Salvador, ampliando-

se pouco a pouco para os diversos ecossistemas do Estado: restingas, manguezais, cerrados, campos rupestres, mata atlântica e, sobretudo, áreas costeiras, impactadas fortemente pela especulação imobiliária. Centrava-se na denúncia dos crimes ambientais, razão pela qual as redações dos jornais e TVs passavam a ser assediadas na luta, quase sempre inglória, contra o poder econômico e o lucro a qualquer preço. Desde então, ao longo desses últimos 30 anos, a questão ambiental vem ocupando cada dia mais espaços na mídia. A divulgação do patrimônio natural brasileiro e os estudos dos complexos mecanismos de sobrevivência da fauna e flora, abriram espaço para o jornalismo científico, de grande importância para a consolidação da cidadania. Ao lado da denúncia de crimes ambientais, consolidou-se outra vertente, não menos importante, do jornalismo ambiental: a que mostra a beleza e a riqueza imensa da nossa biodiversidade. Nos anos 90, consolidou-se o conceito de desenvolvimento sustentável. A percepção da ecologia passou a abranger praticamente todas as dimensões das relações humanas: sociais, econômicas, culturais, espirituais, exigindo um redimensionamento dos paradigmas da nossa civilização. E, especialmente, dos nossos valores, comportamentos, hábitos e padrões de consumo. A necessidade de alternativas sustentáveis torna-se prioritária numa civilização voltada para a cultura do consumo e do descarte. A ecologia urbana ganha destaque, neste contexto, exigindo soluções para problemas complexos como a despoluição dos rios, a regulação dos microclimas locais, a drenagem de águas pluviais e o grande desafio ecológico do nosso tempo: a eliminação, reaproveitamento e reciclagem do lixo urbano, com providências voltadas para o reaproveitamento da matéria orgânica na produção de energia (biogás), no reaproveitamento de plásticos, na reciclagem de resíduos sólidos e do lixo tecnológico. Num mundo que produz anualmente 40 milhões de toneladas de lixo, e num país que acumula 2 milhões de toneladas de plástico pós-consumo e abandona 96,8 mil toneladas de computadores por ano, a ecologia passa a ser um problema sério demais para ser da alçada exclusiva de militantes. Daí a importância da participação de todos nós, sobretudo jornalistas e formadores de opinião. Uma questão de sobrevivência.

>> Professor do curso de Jornalismo da UFRB. Atuou durante 15 anos na área do jornalismo ambiental e da divulgação científica. Participou de expedições à Antártida, Amazônia e diversas reservas ecológicas brasileiras. www.carlosribeiroescritor.com.br

>> Carlos Ribeiro

I N E D I T O R I A L <<>>

Olívia Andrade Editora Chefe

MEIO AMBIENTE:questão de sobrevivência

Jornal Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL)

Quarteirão Leite Alves, Cachoeira/BA - CEP - 44.300-000

Tel.: (75) 3425-3189

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www.ufrb.edu.br/reverso

::: EXPEDIENTE :::

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O maior desafio dos países hoje é crescer de forma sustentável e diminuir exponencialmente o impacto no meio ambiente. Para isso existem programas de redução no uso de componentes que deterioram o

ambiente, de coleta seletiva, de reutilização de materiais velhos em novas produções e educação ambiental nas sociedades no intuito de preservar locais que precisam de uma atenção especial. Esse é o caso do manguezal da cidade de Maragogipe.

A cidade fica localizada a 135 km de Salvador, na Bahia, foi construída aterrando cerca de 70% da área coberta de mangue. Com a falência da fábrica de charutos, a Suerdieck na década de 90, Maragogipe enfrentou uma decadência econômica sem precedentes. E hoje a cidade que vive da pesca, do comércio e do funcionalismo público, enfrenta o desafio de preservar o mangue, educando a população quanto ao uso e importância dele.

A vegetação de mangue é um ecossistema complexo, fértil e diversificado. O mangue de Maragogipe sustenta boa parte da população que é pesqueira, e segundo o analista ambiental Rodolfo Mafei “quando teve o fenômeno da maré vermelha em 2007, o comércio ficou fechado por quinze dias, além de sua importância ecológica a economia da cidade depende dele.” Ele ainda garante que o grande desafio da cidade é que não há mais o que reflorestar “ onde você vai restaurar não tem como, porque existem casas”, e é por isso que a área de trabalho acaba sendo limitada.

>> Por Raquel Pimentel

O projeto de extensãoUFRB/MEC (PROEXT)Segundo o diretor geral da fundação Vovó do Mangue,

Eduardo Libório “O projeto de coleta seletiva existe, mas não é barato. Existe um processo de conscientização da população, que não é a curto prazo, para separar o lixo. Até jogar o lixo no horário certo, não é fácil. É um trabalho lento, mas que tem que ser feito”.

O trabalho da fundação é fazer com que as pessoas entendam que a preservação do meio ambiente depende de cada um de nós e do trabalho em conjunto.

A cidade ainda não está educada o suficiente para preservar o mangue, porém o trabalho já foi iniciado, as sementes da preservação foram lançadas em forma de educação e conscientização. Em um dos panfletos da fundação encontramos a frase do escritor russo Liev Tolstoi “Se queres ser universal, começa por pintar sua aldeia”, é essa a proposta dos ambientalistas em todo o mundo. A mudança começa quando cada um inicia a troca de hábitos e costumes não produtivos para o meio ambiente. Desenvolvimento sustentável: satisfazer as necessidades sem comprometer as necessidades das gerações futuras é o grande desafio, contudo basta começar.

O projeto de extensão UFRB/MEC (PROEXT) que é desenvolvido no entorno da reserva extrativista Marinha da Baía do Iguape também prevê a educação ambiental, através dos professores. Quarenta professores receberam curso de 16 horas na jornada pedagógica que teve o tema “Desenvolvimento a partir da Educação para a Diversidade”, realizada em fevereiro deste ano, eles receberam o guia didático “Os maiores manguezais do Brasil” que servirá como material de apoio no decorrer do ano letivo.

Iniciativas como essa ajudam na formação de crianças e adolescentes como cidadãos que colaboram com o meio ambiente. O uso racional dos meios naturais no planeta vai prolongar a vida de todos os seres que vivem nela, o homem é apontado como o principal poluidor e destruidor do planeta, portanto somos nós e a partir de nós que deve começar a mudança. São pequenas atitudes que a população de Maragogipe está começando a ter. Preservar o mangue de sua cidade implica em ter uma economia pesqueira estabilizada e em um meio ambiente preservado. Sem contar que essa mudança que vem sendo galgada pode servir de exemplo para todos.

A Fundação Vovó do Mangue é uma instituição idealizada há treze anos e desde então se preocupa com a revitalização das áreas que ainda podem ser reestruturadas, através da limpeza e da conscientização da população em manter o mangue em excelente estado de conservação, para que ele continue servindo a cidade e as demais espécies que também dependem dele.

Hoje a fundação está em parceria com a Petrobras pelo projeto Petrobras Ambiental, realizando projetos de educação ambiental em toda a cidade. A idéia implantada é a produção e criação de 20.000 mudas do tipo, branco, preta e vermelha para recuperar 10 hectares de área degradada. Segundo Eduardo Libório, “Maragogipe não tem mais área a ser reflorestada” por isso eles estão indo atrás de outras regiões que também vivem do mangue para revitalizar novas áreas, como os distritos de São Roque e Nagé.

ACESSE TAMBÉM:

REVERSO

www.ufrb.edu.br/reverso

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Estufa com mudas de plantasencontradas no mangue

ONLINE

Bom saber:sustentabilidade, educaçãO ambiental e preservaçãO dO mangue em maragOgipe

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O foco é educação ambiental

É triste passar pela orla da cidade e ver seis tipos diferentes de chinelos boiando no manguezal,

além de pedaços de isopor, garrafas de refrigerante e outros lixos; resultado

da falta de consciência de alguns moradores.

O pescador Adilton

Adilton Souza, 35 anos, que trabalha no mangue desde os quinze, diz que o sustento de sua família é todo tirado da pesca de mariscos na

região. “Eu passo os dias aqui, sustento dois filhos e minha mulher. Aí eu vendo na feira, depois torno a fazer de novo”. Ele acredita nos trabalhos que vêm sendo realizados em sua cidade e garante que ensina aos seus

filhos o quanto é importante o mangue e sua preservação.

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-

Acesse o portal Vovó do Mangue:

www.vovodomangue.org.br/

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A Moda que faz

bemQuando falamos de meio

ambiente, as maiores discussões a cerca do tema são justamente os impactos que ele vem sofrendo e a importância de se preocupar com o tratamento dado ao nosso planeta, seja com pequenas ações, projetos ambientais ou conscientização da população.

Os plásticos comuns causam um grande impacto ambiental. Eles estão por toda parte, nós o encontramos na maioria dos lugares que frequentamos, principalmente supermercados. É necessário fazer um uso consciente das sacolas e ter muito cuidado na hora de descartar este material. Quando descartadas no lixo, as sacolas duram em média 200 anos para deteriorar, durante esse tempo os materiais ainda existentes geram, sem dúvida, um grande problema ao meio ambiente. Sem contar que a poluição ambiental começa desde a sua fabricação, já que são feitas de polietileno, produto que tem na sua composição petróleo e do etileno.

Muitos estabelecimentos estão utilizando as sacolas de plástico oxidegradáveis, que são produzidas a partir de um plástico sintético, fazendo com que a degradação deste material seja mais rápida. No entanto, esta não é uma alternativa eficaz, por não resolver todos os problemas e por não ser um material reciclável. Segundo João José dos Santos, gerente do supermercado Pereira em Cachoeira, as sacolas plásticas utilizadas têm um percentual mínimo de material reciclado na sua composição, mas nunca são 100% recicladas. “Não tem como usar sacolas totalmente recicladas

porque o cheiro fica muito forte, e aqui elas são usadas para guardar alimento”.

A maneira mais eficiente e de contribuição mais significativa ao meio ambiente são as sacolas de pano reutilizáveis. Os supermercados de Cachoeira ainda não entraram nessa campanha, o motivo aparentemente é o mesmo: o alto custo. “Mesmo que a gente coloque o valor das sacolas sem ganhar nada em cima, sem ter nenhum lucro, as pessoas acham caro e acabam não comprando.” Diz o gerente responsável do supermercado.

Alguns estabelecimentos participam de projetos e campanhas de incentivo ao uso das sacolas. O interessante é que as sacolas de pano não seguem um padrão,

existem modelos variados e exclusivos que podem, inicialmente, chamar atenção do consumidor justamente pelo seu visual.

Além de supermercados, muitas lojas e até mesmo butiques estão entrando na onda das sacolas recicláveis, as sacolas de pano, alguns estabelecimentos até customizam as sacolas com sua marca e a partir daí criam novas coleções associadas com a preservação ambiental e consequentemente lançam tendências no mundo da moda. Esta é uma iniciativa ímpar no mercado do consumo, uma vez que consumir de maneira consciente ou até mesmo inconsciente trará, de certo modo, benefícios para o planeta.

O peso ele nem sente mais. Talvez tenha sido a necessidade que obrigou seu Helio Machado a catar e empurrar “trambolhos”, convenhamos trambolhos do bem.

É um trabalho diurno e a dedicação é integral. Aleluia! É Maria Aleluia do Santos, sua companheira e sua companhia durante o dia, durante toda a labuta. Também com oito filhos e nove netos para criar, haja garrafa, papelão, vidro, alumínio...

O convento contribui todos os dias na história de seu Hélio e dona Maria. É sagrado mesmo passar pelo convento e receber tudo, absolutamente tudo! E separadinho, que é ainda melhor.

Os caminhos são os mesmo todos os dias, são os mesmos caminhos longos e estreitos. Estreitos porque as ruas de Cachoeira são delgadas e, estreitos também porque a vida que ele leva não é nada fácil, é estreitinha inclusive. É uma estrela pequenina no cenário de Cachoeira, mas com o trabalho que faz é bem grande para o Recôncavo e brilha, brilha muito para o mundo.

É numa pequena casa alugada o grande depósito. É luz, água, comida, tudo! Tudo com o dinheiro de coisas que seriam jogadas no lixo e que ajudam seu Hélio a pagar todas as despesas. Ajuda uma vida, aliás, uma família grande, uma família de oito filhos e nove netos.

um carrinho carregado de sucatas e respeito ao meio ambiente.

Hélio machado, sustenta a família há seis anos catando lixo.

todos os dias

>> Por Monalisa Leal

>> Por Monalisa Leal

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Escolher sacolas retornáveis é uma iniciativa consciente para a preservação ambiental.

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Um novo ciclo

www.ufrb.edu.br/reverso

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Com o trabalho concluído, Rony Bonn tenta se desfazer daquela energia

depositada em suas obras.

Como ele dizia: “só pego o lixo e monto o que está na minha cabeça, não tenho idéia de como ensinar a fazer isso”.

Mas a oficina deu certo e ele produziu com duas meninas uma tartaruga gigante, símbolo do Projeto Tamar na Praia do Forte, e todo material foi encontrado ali mesmo onde estava sendo realizada a oficina . Ronny Bonn Sonha em ter uma cooperativa para trabalhar com material reciclável em Cachoeira.

Lamenta não ter deixados os estudos e hoje tenta concluir o ensino médio. “Eu quero fazer uma arte, que eu possa viver dela”, ele disse. Ronivaldo Jesus de Souza, seu nome de batismo, fez 40 anos e não aparenta, concorreu nas duas últimas edições da Bienal do Recôncavo. Por que você acha que não levou nenhum prêmio na Bienal? - perguntei. Sem hesitar, diz que os julgadores podem não estar ao alcance do entendimento de seus trabalhos “às vezes isso acontece, minhas mãos são grosseiras quando eu pinto”, comenta Rony. Encerro a entrevista com a pergunta que Rony sempre ouve quando conhece alguém: Por que Rony Bonn? “Meu primo que às vezes me chamava de Ronnie Von, o cantor. Aí, depois dele tanto me chamar de Ronnie Von, ele olhou pra mim um dia e fez: que nada rapaz, Ronnie Von é o outro mesmo, esse aqui é Rony Bonn, por que esse é bom. Mas, Bom, assim como se escreve fica bonzinho demais, por isso coloquei dois enes.”

>> Por Taiane Nazaré

C achoeirano, simples e com sorriso aberto, Rony Bonn abre a sua casa e, sem meia conversa, fala da sua história com bom humor. Começou a fazer arte no

primário riscando a carteira do colégio. Quando o significado de arte nem passava pela cabeça. O tempo foi passando e a pintura se fez cada vez mais presente em sua vida. Aos dezoito anos largou o colégio e começou a trabalhar como tipógrafo, em gráficas de Salvador. Para Rony Bonn, fazer cartões com a tipografia e todo aquele cuidado manual é o que deixava a função especial. Nas horas do almoço, começou a ler livros de História da Arte e se interessou pelas obras de Van Gogh.

Após entender que não queria produzir pinturas para pendurar em salas, se define como expressionista e reconhece no lixo das ruas o material que precisa para expressar sua arte. A pluralidade de Ronny Bonn, em experimentar novas formas como a escultura é o que sacia sua subjetividade artística. Conta várias histórias engraçadas de pessoas que não compreendiam o seu trabalho. “Fiz meio mundo de esculturas com pedra. Uma vez, fiz tipo um móvel, que dei um título de Continente, mas as pessoas achavam que era uma mesa de centro”. O primeiro convite para expor seu trabalho no Solar do Ferrão, em Salvador, foi o dia em que se sentiu reconhecido como artista. Perguntei se era muito difícil encontrar lixo para sustentar sua pintura e ele fala que “o primeiro passo para fazer a reciclagem é meter a mão no lixo”, sem o lixo a sua arte não pode existir. Os quadros Campo Minado 1, 2 e 3 já tinham materiais que encontrava na rua, construídos com sucata. Pedi para ver suas obras, mas ele não tinha nenhuma em casa. Todo o seu trabalho estava na casa de amigos, de quem comprou e alguns até perdidos com o tempo. Não se apega a nenhum trabalho. Ele só faz a pintura depois, precisa se desfazer daquela energia que depositou nos quadros. Convidado para dar oficina de reciclagem na Agenda 21, acordo com iniciativas sustentáveis fruto da Eco-92, contou que não sabia como dar aula sobre reciclagem.

Um dos trabalhos do artista plástico Rony Bonn.

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Maria O

lívia Andrade

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“Não é só pintar”, RonyBonn queria ir além da

pintura para mostrar suaarte e encontra o lixo.

RONY BONNartista plástico,vidro, papelão,

sucata...A vida do artista que transforma lixo em arte

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Enquanto as comportas estão fechadas e o nível de água diminui, formam-se bancos de areia onde são criados até porcos, é comum ver nessas áreas ratos e baratas. A margem do rio está sempre suja e isso não é culpa apenas dos órgãos municipais, falta cooperação e conscientização da população. Há um grande número de bares ao longo da orla que não tem lixeiras, depois da agitação dos finais de semana o que sobra é muita sujeira e que lamentavelmente acaba indo para o rio.

Um posto de saúde da família foi construído no local, a proposta é ótima do ponto de vista do melhoramento no atendimento de saúde da população, mas sob o prisma ambiental a obra pode ser considerada indevida por ter sido construída num espaço denominado de ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP), conforme previsto em lei.

A palavra Paraguaçu vem do indígena e significa: “água grande, mar grande, grande rio”. E essa é uma das características dele , nasce no Morro

do Ouro, Serra do Cocal, município de Barra da Estiva na Chapada Diamantina, é o único rio genuinamente baiano. Navegado desde os primeiros anos do descobrimento tornou-se principal via de transporte, comercialização e comunicação da região.

Nas lutas pela Independência do Brasil uma canhoneira portuguesa que protegia o rio Paraguaçu abriu fogo contra o reduto independentista baiano, com essa participação no cenário político nacional Cachoeira passou a ser conhecida como “Cidade Heróica”.

Seu curso tem cerca de 600 km, banhando diversas cidades que tem como principal atrativo o turismo, como os povoados de Santiago do Iguape, São Francisco do Paraguaçu, Nagé, Coqueiros, São Roque e Barra do Paraguaçu. É navegável em seu baixo curso, da foz até as cidades de Cachoeira e São Félix. Nos séculos XVIII e XIX, seu porto era utilizado para escoamento de grande parte da produção agrícola do Recôncavo Baiano, principalmente açúcar e fumo, produtos até hoje produzidos no município.

Na época das grandes chuvas o volume de água do rio subia muito e provocava muitas enchentes na cidade. Idealizada para abastecer a região metropolitana de Salvador e resolver o problema das enchentes nas cidades de Cachoeira e São Félix foi construída a barragem de Pedra do Cavalo.O que não agradou a princípio os moradores, pois expeculava-se que a barragem só encheria em dez anos, mas encheu em três e provocou uma grande enchente no final de 1989. A Usina Hidrelétrica de Pedra do Cavalo foi construída ao lado de um reservatório de água em operação desde 1985, utilizado para abastecer a cidade de Salvador.

A poluição do Paraguaçu começou com o desmatamento da mata ciliar e da vegetação original o que fez com que a erosão aumentasse, levando uma quantidade consideravelmente maior de terra para o leito do rio, fazendo com que ele deixasse de ser navegável. Segundo o presidente da Associação Rio Paraguaçu (ARP) “O Rio Paraguaçu nas imediações de Cachoeira recebe dejetos de aproximadamente 76 cidades, entre elas Feira de Santana. Fábricas como a Mastrotto que fazem beneficiamento de couro jogam no rio um líquido amarelo que degrada o ambiente”.

PARAGUAÇUnoE a poluição

não para por aí

>> Por Laís de Oliveira

Princípios Ecológicos

Preservar a qualidade da água

Manter a integridade física do rio

Proteger o habitat

dos animais e “vegetais”O Paraguaçu nunca mais

poderia voltar a ser navegável não existe viabilidade

econômica nem o custo beneficio

““

Um mergulho

Juraci Rocha

Já encontrei dois vasos sanitários... “

Roquevaldo Batista, grandes atitudes em benefício do Paraguaçu

Lixo encontrado nas margens do Paraguaçu em Cachoeira

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As ações de revitalização nos

países desenvolvidos começaram na década

de 60, e o Brasil só está começando. Isso

significa que precisamos de iniciativa para salvar

uma das paisagens mais bonitas da Bahia e do Brasil. Seria muito agradável um rio sem

mau cheiro, onde crianças pudessem se

banhar, brincar. Vamos abraçar o rio?

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É possível existir uma boa relação entre a

comunidade, empresas e o rio, se todos nos

preocuparmos com o meio ambiente e trabalharmos

rumo ao tão sonhado desenvolvimento sustentável,

que consiste em:

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PARAGUAÇU com quem

Em conversa com o Engenheiro Florestal Josival Souza , Coordenador do curso de Engenharia ambiental da UFRB, ele respondeu as seguintes perguntas:

>> É possível revitalizar o Paraguaçu nas imediações de Cachoeira?Sim. A revitalização seria ao longo das margens nas zonas rurais. Na área urbana, devido às

construções de residências e do dique, tornaria esta atividade bastante onerosa.

>> Porque não foi feito até hoje?Basicamente falta de vontade política, pois existe o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu

que é composta pelo poder público municipal, estadual e federal, sociedade civil e usuários. Além da vontade política, falta uma melhor organização da sociedade para pressionar os órgãos públicos. Entretanto, fica nítida, também, a falta de consciência ambiental da população, haja vista, a ocupação desordenada das margens do rio, drenagem de alagadiços, aterros, lançamento de agrotóxicos e cargas elevadas de esgotos domésticos

>> Existe algum projeto?A Votorantim tem o projeto de revitalização do rio, entretanto, desconheço o projeto quanto a sua

abrangência. >> Qual seria o custo x beneficio?

Qualidade de vida. Baixo custo no tratamento da água pela Embasa. Todas as entidades, públicas ou privadas, que usam a água do Rio Paraguaçu devem adotar medidas para melhorar o nível de impureza. As águas do rio Paraguaçu devem passar por um enquadramento, ou seja, ter as condições de qualidade da água reavaliadas através de estudos feitos pelo órgão gestor das águas do Estado e classificadas de acordo com o interesse de uso da sociedade.

O enquadramento é um instrumento de gestão dos recursos hídricos previsto na Lei das Águas (Lei Federal 9.433/97) e na Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que estabelece o nível de qualidade da água definido por classes de uso a ser alcançado em um rio ao longo do tempo, para assegurar que a água tenha níveis de qualidade para seus diversos usos preponderantes. Na Bahia somente o rio Subaé passou pelo enquadramento.

O enquadramento possibilita aos gestores públicos canalizar as políticas das bacias. Quando um rio é enquadrado, passa a existir uma série de normas e metas progressivas de qualidade, que gera necessidade da sociedade se educar e criar um compromisso com o uso racional da água.

>> Qual o impacto ambiental que o rio poluído causa no recôncavo?Devido as altas concentrações de nutrientes no recurso hídrico, favorece a proliferação de

fitoplâncton, interferindo nos seus múltiplos usos (consumo residencial e industrial, irrigação, consumo dos peixes). Diminuição da capacidade de diluição do corpo hídrico, contribuindo assim com aumento da concentração de contaminantes nas águas (altas concentrações de fósforo total e de coliformes termotolerantes e baixa de oxigênio dissolvido).

>>De olho

Já encontrei dois vasos sanitários... “

Roquevaldo Batista, 42 anos, proprietário de um bar resolveu tomar uma ótima iniciativa que custou menos de 20 reais, colocou lixeiras em todas as mesas do seu bar evitando que quilos de copos descartáveis e outros materiais sejam jogados no rio. “Resolvi preservar o rio, pois é uma coisa muito bonita que a gente tem, foi uma maneira de fazer a minha parte. Já encontrei dois vasos sanitários, paguei alguém pra retirar. Às vezes os turistas chegam aqui e vão tirar fotos e tem muita sujeira.”

Um bom exemplo

Roquevaldo Batista, grandes atitudes em benefício do Paraguaçu

entende

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Art. 2°, alínea “a”, e parágrafo único, da Lei n.° 4.771/65 (Código Florestal):

Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

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Lei

>> Falando

na

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima: 1. De 30 metros para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura; 2. De 50 metros para os cursos d’água que tenham de 10 metros a 50 metros de largura; 3. De 100 metros para os cursos d’água que tenham de 50 a 200 metros de largura; 4. De 200 metros para os cursos de d’água que tenham de 200 a 600 metros de largura; 5. De 500 metros para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 metros”.

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PAPEL e PAPELÃO3 a 6 meses

PLÁSTICO Mais de 100 anos

METAL Mais de 100 anos

VIDRO1 Milhão de anos

BORRACHATempo indeterminado

FILTROS DE CIGARRO5 anos

ISOPORIndeterminado

SACOS E SACOLAS PLÁSTICASMais de 100 anos

Reciclar significa transformar objetos e materiais usados em novos produtos para o consumo. Esta necessidade foi despertada a partir do momento em que se verificou os benefícios deste processo para o planeta. Reciclar, além de preservar o meio ambiente também gera riquezas. Os materiais mais reciclados

são o vidro, o alumínio, o papel e o plástico, reduzindo significativamente a poluição do solo, da água e do ar. Muitas indústrias estão recorrendo à reciclagem de materiais como uma forma de diminuir os custos de produção. Consequentemente a busca por trabalho neste setor é grande, e para muitas famílias torna-se a fonte principal de renda.

>> Por Laís Martins

Muitas campanhas educativas têm despertado a atenção para o problema do lixo. Cada vez mais os centros urbanos, com grande crescimento populacional, têm encontrado dificuldades para descartar o lixo e encontrar locais para instalarem depósitos. Neste caso, a reciclagem apresenta-se como uma solução viável não só economicamente, como também a opção ambientalmente mais correta.

Em algumas escolas os alunos são orientados pelos professores a separarem o lixo em suas casas. Foi com este olhar que a professora e doutora Girlene Santos de Souza em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Prefeitura Municipal de Cruz das Almas e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) vinculada com a Secretaria Municipal de Educação, desenvolveu o projeto Utilixo que tem como objetivo mostrar para os alunos, pais e professores de escolas municipais a importância da educação ambiental e a necessidade de pensar sobre o lixo e qual é o destino mais adequado para ele sem prejudicar o meio ambiente.

Em 2010, quando iniciou, o projeto era voluntário, mas no final do ano a FAPESB lançou e aprovou o edital para pesquisa de extensão.

A equipe é formada por cinco professores, sendo quatro da UFRB e uma professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e seis alunos da UFRB, cinco bolsistas e um voluntário, Girlene é a coordenadora chefe do projeto. O trabalho é realizado em quatro escolas municipais, ensino infantil e fundamental da cidade de Cruz das Almas. O Utilixo também promove cursos capacitação para os professores com a proposta de que o lixo pode dar lucro.

Segundo Girlene, a coleta seletiva através das lixeiras coloridas já existe nas escolas, e o objetivo maior é trabalhar a questão de reciclar alguns materiais através de atividades criadoras e compostagens. O projeto Utilixo tem um convênio com a Incubadora de Empreendimentos Solidária (Incuba) também patrocinadora do projeto, o lixo produzido nessas escolas vai para a cooperativa de reciclagem e não para lixões.

O projeto Utilixo tem a intenção de divulgar este trabalho através da mídia e mostrar que a UFRB atua na comunidade e nas escolas, despertado de modo geral a ideia de uma educação voltada para o meio ambiente.

De acordo com a coordenadora do projeto, os alunos que já tiveram a experiência em 2010,

Professora Girlene Santos de Souza é coordenadora do projeto Utilixo.

puderam passar para os pais, amigos vizinhos a importância da reciclagem do lixo e mostrar como é fácil reciclar. Através de trabalhos com garrafas pet nas pequenas hortas, os alunos cuidavam das hortaliças que eram utilizadas na merenda da escola e ainda levavam para casa .

Na UFRB não existem ainda as lixeiras de coleta seletiva, mas a Incuba trabalha dentro da universidade para expandir essa questão até os alunos, professores e servidores. Com a instituição engajada num projeto educacional como este, nada mais justo do que dar o exemplo, começando de dentro para fora, a difusão do projeto.

Lixo é Lucro Projeto Utilixo, trabalho em respeito ao meio ambiente

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Tempo de decomposição de alguns materiais

8 www.ufrb.edu.br/reverso

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Permacultura no Recôncavo

Permacultura é um termo ainda não muito conhecido, mas que promete ser a alternativa de vida em um

planeta sustentável. Na verdade, a própria definição do que venha a ser permacultura é ampla e complexa, e pode ser mais compreendida nas vivências.

O conceito foi criado pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren nos anos 70, que basicamente significa “um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis”.

Através de estudos dos modos de vida de comunidades indígenas e de tradições espirituais, a permacultura tem como princípio utilizar a terra sem desperdício, restaurar paisagens e obter um consumo mínimo de energia, além de promover o cultivo de alimentos saudáveis, habitação de forma sustentável para a criação de culturas permanentes.

A permacultura no Brasil teve um maior destaque nos anos 90, através de um minicurso realizado por Bill Mollison no Rio Grande do Sul, que abriu portas para o desenvolvimento no país. Hoje ela é utilizada em comunidades rurais e também em grandes centros urbanos.

No Recôncavo, as atividades de permacultura ainda são tímidas, implantadas principalmente pelo Instituto de Permacultura da Bahia – IPB - e o Instituto Brasileiro de Educação para Negócios Sustentáveis – IBENS, em cidades como Saubara, Cachoeira, São Félix e Maragojipe.

As ações do IPB no Recôncavo iniciaram em 2006, no município de Saubara, com o projeto em parceria com entidades governamentais e intitulado: A horta escolar como eixo gerador de dinâmicas comunitárias em educação ambiental e alimentação saudável. O projeto de horta comunitária também foi implantado em Cachoeira.

Um conceito ainda desconhecido por muitos no Brasil,mas que avança para o território do Recôncavo da Bahia.

A permacultura é aplicada de acordo com a realidade territorial e de recursos. É um envolvimento que acontece através do diagnóstico da comunidade, o contato com as pessoas e estudos socioeconômicos e de recursos ambientas.

É isso que vem acontecendo com Dalvaci Santiago, educadora ambiental e uma das fundadoras do IPB, que desenvolve atividades na Escola General Flamarion S. Pinto no distrito de Pilar, em São Félix. Dalvaci está no processo inicial de projeto, e vem fazendo observações da estrutura escolar, comunidade em torno da escola, dos professores, condições do local para chegar ao diagnóstico. Mas ela já pensa nas práticas que pode implantar no local, como captação de água da chuva, reciclagem e horta comunitária

Pela riqueza cultural existente ali e que pode obter ganhos com a prática do turismo na região, a necessidade era criar um espaço que favorecesse a permanência do visitante, mas de maneira sustentável. A partir do diálogo da comunidade com o IBENS, surgiu da ideia de criar um espaço para receber o turista – a Casa do Turista - e dentro desse projeto trabalhar a permacultura através da bioconstrução - construções ecologicamente corretas que retiram materiais do meio ambiente, sem agredi-lo.

O processo de construção começou no ano passado e conta com a colaboração da comunidade, que compreende aos poucos os princípios da permacultura e aprende novas técnicas de construção de forma sustentável.

Já o IBENS convidou em 2009 o engenheiro civil e permacultor Felipe Pinheiro, para atuar com atividades sustentáveis em comunidades quilombolas do distrito de Santiago do Iguape, em Cachoeira. Ele analisou a comunidade e trabalhou de acordo com as necessidades dos moradores e realidade do território.

A permacultura propõe principalmente o envolvimento das pessoas em projetos que beneficiem os moradores, sua cultura e principalmente o meio ambiente.

O processo de realização de atividades em permacultura é longo e contínuo, afirma Felipe, que pretende criar um grupo de permacultura na região, para as pessoas que tem se interessam. Dalvaci também planeja oferecer cursos práticos em educação ambiental no segundo semestre desse ano.

Balbino da Cruz, 29, morador da comunidade do Calembá, no Iguape, trabalha na construção da casa e pensa em construir uma moradia com esses princípios. Dedicado e observador, Balbino acredita no projeto e na união da comunidade para que ele aconteça.

Ele, que já trabalhou na construção civil e nunca teve o contato com a bioconstrução, enfatiza o papel do projeto na comunidade: “É uma construção que não usa madeira na parede, só o adobe – um barro que nunca utilizamos. Não estamos desmatando, nem agredindo a natureza. É uma experiência que nunca vou esquecer”, fala com orgulho.

As paredes da Casa do Turista foram levantas utilizando o super adobe ensacado, tipo de barro não

muito comum na região.

Dalvaci também atua com ações de permacultura em sua casa, como horta vertical e minhoqueiro.

Como aplicar?

E para uma comunidade rural e tradicional com o iguape, como atuar?

>> Por Lorena Morais

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Permacultura x Vivências

Diogo de O

liveira

Taiane Nazaré

www.ufrb.edu.br/reverso

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PATRIMÔNIO desmatadO

SSeu Edgar estava sentado na porta lateral da lanchonete de Dona Sute, chupando umas jabuticabas.

Eu não fiz questão de sentar em outro lugar e não tirei os olhos dos deliciosos frutos. Tudo que nos cercava dava sentido à Cachoeira ser patrimônio histórico material da humanidade. Desde o Cine Glória que está em reforma, até as árvores centenárias que compõe as paisagens das praças da cidade. Da mesma forma, não há como pensar Cachoeira sem as matas que a cercam ou com o Tiête cortando a cidade.

Pela conversa que eu tive com seu Edgar, o processo de desmatamento em Cachoeira está andando em larga escala. Os principais ataques à Mata Atântlica estão distantes dos olhos. Belém, Capueiruçu, Santiago do Iguape e São Francisco do Paraguaçu são bons exemplos. Uma parte dos distritos mostra o desmatamento por dois grandes motivos: crescimento urbano desordenado e alimentação de pequenos comércios como padarias, ou para produzir vassouras e outras negociações deste porte. E não dá pra saber como Capueiruçu, por exemplo, cresceu tanto seus prédios modernos sem colocar cimento e concreto onde era área de mata verde.

A indústria de casas também se faz de desgastes ambientais. Casebres que recobrem todo centro urbano, as chamadas periferias também precisaram desse espaço, mas por uma questão de expulsão ou expansão. Quando o custo de vida aumenta, a população de baixa renda vai subindo o morro, e saindo de perto dos bancos, lojas, e as praças centenárias preservadas pelo IPHAN e o IPAC.

Em São Francisco do Paraguaçu, ou na Bacia do Iguape, não há grandes construções ou pessoas faveladas. É só gado que vive de cima para baixo pastando. Nesses grandes pedaços de terra é difícil avistar as casas. É um casarão, cercado de mata atlântica, com caminhos para a passagem do dono ir ver seu rebanho. Um pouco mais para baixo do percurso as vacas desaparecem e surgem os canaviais. Ainda com pretos trabalhando e o chão vermelho de queimadas para utilização do solo. E o mesmo dono.

Seu Edgar, ou Edgar Silva Moura, secretário de meio ambiente e obras há seis anos, tem medo do Recônvavo se tornar um Sertão. Segundo ele, nesta região de abundância de água, a secretaria tem que enviar treze carros-pipa para abastecer povoados da zona rural. Isso ocorre por causa das queimadas que acabam com a vegetação e dificultam a absorção da água da chuva. As pequenas fontes de água que alimentam o Paraguaçu secam e o rio diminui seu fluxo. As bombas de água que os fazendeiros usam para irrigar sua plantação dimunem ainda mais o fluxo.

E a secretaria não tem pessoal e equipamento para fiscalizar todo o território de Cachoeira, afirmou Edgar. Algumas advertências já foram feitas, mas nada de multas.

No próximo semestre a Secretaria de Meio Ambiente e Obras terá uma reunião com órgãos federais e estaduais para esclarecer como devem funcinar as penalidades. Seu Edgar tem a expectativa de conseguir apoio desses órgãos para auxiliar na preservação da Mata Atlântica que compõe a cidade de Cachoeira. Eu espero não ficar no meu sertão, mesmo estando aqui no Recôncavo.

>> Por Diogo de Oliveira

Seu Edgar, ou Edgar

Silva Moura, secretário

de meio ambiente e

obras há seis anos, tem

medo do Recônvavo se

tornar um Sertão.

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10 www.ufrb.edu.br/reverso

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corra deste vilãoFalar de lixo nos remete logo

à cultura do desperdício. O lixo e, consequentemente, o desperdício sempre foram um problema mundial de difícil solução. Claro que existem algumas formas de amenizar “toda a sujeira”. Hoje muitas cidades têm os chamados caminhões de lixo, que geralmente circulam num horário estabelecido para recolher o lixo das casas, que são levados para lixões quando a cidade não possui aterro sanitário ou até mesmo transportados para cidades vizinhas. As coletas seletivas também são uma contribuição importantíssima neste cenário e podem ser feitas facilmente dentro de casa, este é um exercício simples que já faz muita diferença na sociedade e no mundo. O lixo além de trazer inúmeros problemas ambientais é um dos vilões da saúde.

Sabemos que muitas doenças são transmitidas pelo lixo, seja ele exposto ou acumulado. Dentre as doenças não podemos esquecer a temida Dengue. A cada ano, o índice de pessoas contaminadas pelo mosquito aedes aegypti, conhecido como mosquito da dengue, aumenta significativamente. São inúmeros os motivos que vem fazendo com que o mosquito reapareça constantemente em todos os verões, principalmente o descaso da população. E em Cachoeira não é diferente. Mesmo com alguns cuidados, por parte da secretaria de saúde, como campanhas, feiras de saúde que acontecem geralmente de quatro em quatro meses, visitação em domicílios e palestras, a comunidade, apesar de reconhecer a necessidade do combate à dengue, ainda não se deu conta de que o lixo pode ser o maior vilão.

Com o lixo espalhado a céu aberto fica difícil dar o devido cuidado com água parada que acumula em garrafas e pneus. Sendo assim, o lixo torna-se um dos maiores difusores da doença, facilitando a proliferação do mosquito e prejudicando assim toda a população. É importante que a comunidade se preocupe não apenas com a água parada dentro de suas casas, mas também com lixo que sai delas, não deixando que o lixo colocado na porta se espalhe ou acumule, já que isto facilita o nascimento do mosquito.

Lixo e água parada são condições ideais para a reprodução do aedes aegypt

O reaproveitamento de alguns materiais, que muitas vezes passam despercebidos e vão direto para o lixo, dispensando alguma nova utilidade que talvez pudesse existir, pode ser uma alternativa para a diminuição do lixo. Essa preocupação, que deve partir de todos, trás inúmeros benefícios, desde a reutilização desses materiais, que sem duvida é muito importante, até na saúde no combate a doenças. Em Cachoeira existe uma iniciativa por parte do supermercado Pereira, lá plásticos e papelões são separados e encaminhados para a reciclagem. Os resíduos plásticos são transportados para Feira de Santana e os papelão entregue à Santex, empresa responsável na reciclagem do material.

Fique ligado

INFOGRÁFICO: Rosalvo Marques

>> Por Monalisa Leal

Taiane Nazaré

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Flagrante: o lixo é jogado nas ruas de Cachoeira

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Nasci lá das bandas da Chapada Diamantina, num lugar chamado Serra do Cocal. Fiz todo um percurso de curvas, idas e vindas, grandes encontros até chegar ao Recôncavo, um território de boas energias e que me acolhe muito bem. Na verdade me encantei por um vale. Vale que leva meu nome e que abriga as duas cidades mais expressivas e que me fizeram famoso até fora do Brasil!

Meu nome é de origem indígena e retrata bem o que sou: “mar grande” de água doce. Sou o Paraguaçu, o rio que corta a heróica Cachoeira na margem direita e sua vizinha irmã São Félix, à margem esquerda.

O caminho é longo até chegar ao mar... Passo por diversas comunidades ribeirinhas que fazem de mim seu alimento e ganha pão: Nagé, Coqueiros, Maragojipe, Santiago do Iguape e tem também São Francisco do Paraguaçu. Por esses lados de tudo dou: caranguejo, peixe e marisco... De vez em quando até camarão, que tem que ser na época certa, pra não acabar com a família. O pescador sai cedinho no balanço da maré e a marisqueira sabe bem a hora de meter a mão no mangue e tirar a ostra.

Na minha margem tem engenhos, igrejas, fortes e casarios da época colonial, que retrata a história de um Brasil de outrora colonizado por Portugal.

Tenho a proteção de duas mães, a Iara e Iemanjá, porque minhas águas se misturam num emaranhado doce e salgado da vida.

Meu braços são longos, vários afluentes por aí navegam para dar água a quem lava roupa ou pra carregar na cabeça o balde quando água falta.

Mas também já causei algumas tristezas. Por duas vezes São Pedro esqueceu a torneira do banheiro aberta e a água caiu toda aqui embaixo. Não consegui dar conta e foi água pra tudo quanto é lado! Dona Maria perdeu os móveis, entrou água na venda de seu Evandro e Banzé ficou sem ir à escola. Carmelita teve que ir correndo pra roça levar seu colchão na canoa. Mas Chico adorou ver aquela água toda e chamou a garotada pra subir no barquinho do seu pai, seu João, e ver o arco-íris.

Depois que construíram uma tal de barragem Pedra do Cavalo tudo mudou... e eu aprendi direitinho a cuidar do volume da minha água.

Quase me esqueço de contar que toda vez que olho pra cima me encanto tanto com a beleza das duas cidades que reflito em meu leito. Um moço, que também gostava muito das irmãs, decidiu unir as cidades construindo uma linda ponte que levou o nome dele: Dom Pedro II. Cara importante esse aí, um rei que já navegou em minhas águas.

Esse rio que vos fala já suportou grandes e importantes embarcações, pra levar carga de charutos lá para as bandas do Atlântico. Pra trazer e levar gente pra Baía - como era chamada Salvador. Para trazer alimentos, roupas, acessórios e abastecer os mercadinhos. O vaporzinho por muito tempo já navegou, e admirou a paisagem que sempre preparei para recebê-lo. Os pássaros cantavam, as ondas batiam nas pedras, as crianças corriam a seu encontro...

Já sorri muito por tudo o que vivi, mas hoje choro porque não sou mais o Paraguaçu daquele tempo. Acho que se esqueceram de dizer que rio não é lixeira, ou se dizem, as pessoas não se importam e continuam a me sujar com esgoto, latinhas de alumínio, garrafa pet, pneu velho, sapato furado... Estão desmatando a mata ciliar, tem peixe mudando de rio, tem gente acabando com o leito de meus riachos... Às vezes meu odor é insuportável, mas não porque não me cuido, mas quem tem que cuidar de mim é você!

Tem muita terra, ficou tudo raso, embarcações grandes não navegam mais por aqui... O vaporzinho esqueceu o caminho, “não navega mais no mar”, não navega mais no rio...

em seu lugar >> Rosalvo Marques

>> Por Lorena Morais Cada lixo Jogue essa ideia na cabeça

Depois de consumir algum tipo de produto é preciso conhecer o

destino do lixo.

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Infográfico: Rosalvo Marques

Diário de um Paraguaçu