Reverso 19

6
so R Rv ee Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFRB - Cachoeira/BA - N° 19 - novembro/dezembro de 2008 Um novo olhar sobre o Recôncavo A Festa D’Ajuda Pág. 07 O celibato Pág. 06 Os quilombolas Pág. 12 Buscar novas perspectivas e analisar os fatos através de um ângulo diferenciado: esse foi o lema da equipe de reportagem do Reverso nessa edição. Novos olhares voltados ao não tão novo assim. Não é o que você vê, é como você vê: isso fez toda a diferença. l ie Q ue i a Ol v ir a v Queila Oli eira Recanto dos Quilombolas Distante 47 km de traduzem a marca constante da Cachoeira, a região do Iguape resistência. esconde o mistério das Entre Rosas, Marias e Josés, histórias desconhecidas e das ouvimos as lições que nos personalidades típicas. Com aproxima de tantas outras vidas, ângulos e tomadas diferentes as preservando seus antepassados lentes das câmeras dos e o lugar que lhes coube. E fotógrafos buscaram registrar aprendendo a escutar, nos ajuda traços e sinais que identificam a a esclarecer o nosso próprio força de um povo marcado por mistério. lutas. Longe das cidades de cimento, ferro e vidro, onde a presença humana é quase rara, se erguem cabanas, aqui e ali, nos fazendo recordar a “riqueza” de um passado, as origens de negros e negros que ainda lutam para sobreviverem em condições precárias, mas que u Danielle So za Tal ta sta i Co a Daniel le S ouz

description

 

Transcript of Reverso 19

Page 1: Reverso 19

soRR ve eJornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFRB - Cachoeira/BA - N° 19 - novembro/dezembro de 2008

Um novo olhar sobre o Recôncavo

A Festa D’Ajuda Pág. 07

O celibato Pág. 06

Os quilombolas Pág. 12

Buscar novas perspectivas e analisar os fatos através de um ângulo diferenciado: esse foi o lema da equipe de reportagem do Reverso nessa edição.Novos olhares voltados ao não tão novo assim.Não é o que você vê, é como você vê: isso fez toda a diferença.

l

i

eQ

ueiaO

lvira

v Queila Oli eira

Recanto dos Quilombolas

Dis tan te 47 km de traduzem a marca constante da Cachoeira, a região do Iguape resistência.esconde o mistério das Entre Rosas, Marias e Josés, histórias desconhecidas e das ouvimos as lições que nos personalidades típicas. Com aproxima de tantas outras vidas, ângulos e tomadas diferentes as preservando seus antepassados lentes das câmeras dos e o lugar que lhes coube. E fotógrafos buscaram registrar aprendendo a escutar, nos ajuda traços e sinais que identificam a a esclarecer o nosso próprio força de um povo marcado por mistério. lutas.

Longe das cidades de cimento, ferro e vidro, onde a presença humana é quase rara, se erguem cabanas, aqui e ali, nos fazendo recordar a “riqueza” de um passado, as origens de negros e negros que ainda lutam p a r a s o b re v i v e r e m e m condições precárias, mas que

uDanielle So za

Tal ta stai Co

aD

an

ielle S

ou

z

Page 2: Reverso 19

02 Cachoeira, novembro/dezembro de 2008 Cachoeira, novembro/dezembro de 2008 11

Carta ao leitor

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Reitor: Paulo Gabriel S. NacifVice-Reitor: Silvio Luiz SogliaDiretor do CAHL: Xavier Gilles VatinVice-diretor: André Luis Mota Itaparica

soRReveConselho Editorial: Leandro Colling,Carlos Ribeiro, Luiz Nova, Paulo Miguez, Renata Pitombo e Robério Marcelo

Comissão Editorial: Professores Leandro Colling,Robério Marcelo e Péricles Diniz

Editoras: Sandrine Souza e Lise Lobo

Repórteres: Camila Moreira, Daiane Dória,

Diagramação: Danielle Souza e Lise Lobo

Impressão: SAMP Gráfica

Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL)Praça Ariston Mascarenhas - Cachoeira - BACep: 44300 - 000 - Tel: (75) 34252138 E-mail: [email protected]

Astrude Modesto, Carine Costa, Daniela Oliveira, Hamurabi Dias,Patrícia Neves e Toniel Costa.

Fotógrafas: Danielle Souza, Queila Oliveira e Talita Costa.

Nesta edição, adotamos novas perspectivas, através da linguagem literária, estilo de texto jornalístico que humaniza os personagens e da mais liberdade ao repórter para viajar nas histórias de vidas por trás dos fatos e inovar na linguagem e forma. Foi utilizado modelo de diário e de descrição de ambientes e pessoas . A fotografia também foi bastante trabalhada a exemplo do ensaio fotográfico.

A excentricidade do problema vivido pela prefeitura de Nazaré. A história do padre casado. Rea l idades sóc io -econômicas contrastantes. Profissões em extinção nas grandes cidades e ainda presentes no interior. As ricas histórias de vida dos moradores da casa de repouso em Cachoeira. O dia-a-dia de um radialista. E não poderia faltar os hilários personagens da Festa d’Ajuda. Todas analisada por um ângulo diferenciado, com um viés incomum que torna a leitura mais atraente.

Esta edição conta também com a cobertura do I Seminário Internacional AI-5: Impossível Esquecer, assim como um informe sobre a realização do Prêmio Francisco Montezuma de Jornalismo. Boa Leitura.

As editoras

Liberdade de informar,

Ineditoriais

Expediente

i

i

i

Todas as matérias publicadas neste jornal laboratório são passíveis de críticas e avaliações as mais diversas, justamente porque esta é, em última análise, a sua essência, sua razão de ser, já que se trata de um instrumento pedagógico destinado à formação prática dos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Ou seja, é importante ter tal fato em mente antes de iniciar qualquer discussão a respeito: ele não está sujeito às regras de mercado ou às contingências dos jogos políticos que marcam nossa sociedade.

Então, se por um lado nos parece mesmo natural que algumas matérias aqui publicadas sejam alvo de críticas e eventuais reparos, soa um tanto quanto exagerado que algumas delas cheguem a mot ivar preparação?questionamentos e ações na esfera jurídica. Assim sendo, é preciso deixar bem De qualquer forma, este conselho editorial claro que não é possível esperar deles notícias sente-se na obrigação de novamente que dêem conta apenas da existência daquilo e s c l a r e c e r a l g u n s f u n d a m e n to s e que determinados segmentos da sociedade pressupostos que orientam o Reverso. considerem pertinente. Ao jornalista não cabe

A missão deste jornal laboratório está somente o registro, todos sabemos. Assim fincada sobre três princípios basilares: sendo, não é possível esperar dos nossos informar, opinar e investigar. Estes são os futuros jornalistas que desconsiderem o nortes que orientam desde a discussão contexto, o ambiente social e político, o papel teórica em sala de aula, envolvendo todas as de cada um destes fatos no momento histórico necessárias questões de ordem ética, técnica, que o cerca.filosófica e estética, inclusive, mas também no Pois a formação do jornalista impõe a momento em nossos aprendizes de necessidade de investigar, de ousar, de repórteres, redatores e editores saem a escolher posição, de arriscar e tentar fazer campo para produzir o Reverso. melhor o seu trabalho. Ele pode até vez por

Este jornal laboratório, como sua outra pecar por excesso ou errar por designação já o revela, é um instrumento mesquinhez, mas não deve jamais abdicar da pedagógico, de âmbito e circulação interna, missão primeira de informar. Assim acredita o que tem como único - é preciso enfatizar - conselho editorial deste Reverso, disposto a único objetivo e missão propiciar exercício não abdicar também do seu ideal de formar e prático para o que é teorizado em sala de aula. informar, sem se deixar dobrar pelas Não teria ele, portanto, o direito à livre vicissitudes e pelas paixões de momento.expressão e ao pleno exercício do jornalismo, ainda que laboratorial, ainda que em fase de Conselho Editorial

A BELA E A FERA – A quinta- palestrando em uma igreja. feira foi assinalada por dois debates Baseada nas greves operárias, que seguiram a tendência do dia c o n t o u c o m u m a r e f l e x ã o anterior. A norte-americana Victória p r i n c i p a l m e n t e s o b r e a s Langland, especialista em Historia paralisações de Contagem (MG) e da Ame rica Latina com ênfase em Osasco (SP). “As greves de movimentos estudant is e o Contagem e Osasco justificaram professor doutor Antonio Rago mais o AI-5 do que as passeatas”, explanaram sobre a resistência dos disse o professor da PUC/SP. Rago estudantes, os operários e o a i n d a d e f i n i u a b u r g u e s i a confronto com a burguesia. bonapartista, tema também de sua

Loira, altura mediana, rosto fala, como “uma estrutura de poder um pouco bronzeado - marca burguesa de dominação sobre a certamente dos dias passados em sociedade civil”. solo brasileiro - possuindo sotaque TUDO EM FAMÍLIA NA carregado - mas que trazia um CIDADE APRAZÍVEL – O último dia português irrepreensível -, Victória do encontro foi marcado por dois dispôs em seus slides documentos eixos temáticos. A ação do Partido de sua pesquisa em acervos Comunista Brasileiro (PCB) e os nacionais e americanos. Como documentos do Departamento participou do primeiro dia como Estadual de Ordem Política e Social espectadora, em sua conferência, (DEOPS/SP) foram discutidos. O lutando contra a péssima acústica palestrante inicial foi o professor do local, ela ratificou de início alguns Muniz Ferreira (UFBA), com o tema preceitos já comentados. “O AI-5 foi “Entre a luta armada e a frente uma mudança de atitude dos democrática: a política do PCB na militares”. Sobre o impacto do AI-5 resistência ao regime militar”. na Bahia, ela mostrou que os Ferreira abordou a trajetória do diretores das faculdades federais e partido, fundado em 1922, entre os católicas receberam listas negras da anos 67 e 85. O historiador sexta região militar onde constavam classificou o partido como a mesa redonda sobre acervos e brasileira. O palestrante destacou q u a s e d o i s m i l r o s t o s d e principal força política de esquerda, fontes da ditadura militar no Brasil. em fases o partido que começou participantes das passeatas conta o mesmo estando na ilegalidade. Ele O contraste era visível. Enquanto restrito a intelectuais, profissionais regime. Como não se tinha os destacou também a fragmentação Célia comentava os arquivos do l i b e r a i s e o p e r á r i o s , m a s nomes, as fotos circulavam pelas ideológica entre os membros, que DEOPS conseguidos no Arquivo fundamentalmente composto pelo universidades para a identificação. preferiam uns o radicalismo e a luta Estadual de São Paulo, mostrando p r i m e i r o g r u p o , s u a

Para o professor do curso de armada e o Comitê Central que como se dava o trabalho desse “classemedização”, durante os anos Historia da UFRB Fabio Joly, a pregava que a forma mais eficiente órgão, Lucileide começou sua fala 30, quando sofreram com os principal contribuição da palestra é de combater a ditadura militar era com o seguinte alerta: “Estamos ataques de Vargas e sua total que ela mostra uma riqueza reunir todas as forças interessadas vinte anos atrasados em relação às esquerdização nos anos 50 quando documental para se estudar o na democratização do país. Após a fontes e documentos para pesquisa perdeu o apoio das massas.movimento estudantil tanto no ditadura, o partido entra em crise, se historiográfica”, e abordou acerca O seminário foi finalizado com Brasil como nos Estados Unidos e esvazia, perdendo assim a sua da situação dos arquivos secretos um coquetel de encerramento que aponta uma direção de estudo que singularidade de principal força de da ditadura na Bahia, antes de reuniu os presentes, estudantes da se desloca do eixo Rio-São Paulo. “A esquerda. começar sua palestra sobre os UFRB, e de outras universidades escolha dos conferencistas buscou processos contra os historiadores como UEFS, UNEB, e a FAMAM e também agregar os chamados no DEOPS. também os palestrantes do dia. “O historiadores 'brasi l ianistas' , Com a igreja sem a lotação seminário, além de fomentar o expressão utilizada para denominar máxima, quem finalizou o evento foi debate acadêmico sobre o tema, pesquisadores norte-americanos o professor de sociologia da UFBA e resultou também em uma ação que se dedicam a estudar nossa doutor em História Gustavo Fálcon, política, representando um marco história recente, como a Victoria que não chegou a ser telegráfico, nos estudos sobre a ditadura no Langland de U. S. Davis, Califórnia”, mas também não se estendeu. Brasil e na Bahia e na própria comenta Joly sobre a presença da Neste dia, que pôs à prova a história da nossa universidade”, palestrante. organização do evento, os atrasos conc lu iu Luc i l e ide Cardoso

A sua voz mansa não se acumularam, tanto pela manhã, referindo-se ao abaixo-assinado em combinava com a propriedade que o quanto pela tarde. Com isso, logo apoio à moção pela abertura dos doutor em Historia Antonio Rago após o diálogo entre as irmãs, arquivos da repressão na Bahia, apresentou em seu discurso. A tarde foi a vez das irmãs Célia Fálcon iniciou seu tema, novamente documento que deverá ser enviado Mar x ista mater ia l is ta , Rago Costa Cardoso e Lucileide Cardoso sobre o PCB e a inserção da ao grupo Tortura Nunca Mais e comentou o ineditismo de estar dividirem para si as atenções da esquerda na vida institucional depois ao Governo do Estado.

Culturai

liberdade de ensinar

Estamos vinte anos atrasados em relação

às fontes e documentos para

pesquisa historiográfica.

Lucileide

Imag

em r

etir

ada

do s

ite

da

UFR

B

Page 3: Reverso 19

Uma igreja, seus altares, seus maior parte dos estudantes assistiu santos, seus dogmas. Cadeiras passível ao golpe de 64, não tomou enfileiradas, pessoas transitando, o partido favorável nem contrario ao ambiente já estava lotado, mas golpe. Preferiram a indiferença”, diz ninguém ali esperava um padre. Brito.Treze de dezembro de 1968, uma Uma das principais táticas data, um ato, terror, perseguição, utilizadas pelos reitores era a do tortura. Ditadura Militar. Quarenta cancelamento das matriculas de anos depois e três professores da e s t u d a n t e s c o n s i d e r a d o s UFRB, Lucileide Cardoso, Fabio Joly subversivos. Segundo Brito, em 68 e Luis Nova, organizaram o houve uma tentativa de greve na Seminário Internacional 40 Anos do UFBA, mas não foi vitoriosa. Dando AI-5. O evento ocorreu durante os prosseguimento, Amilcar Baiardi dias 12, 13 e 14 de novembro na regionalizou ainda mais a discussão Igreja do Carmo, em Cachoeira, e ao trazer para o debate a questão do contou com a participação de dez m o v i m e n t o e s t u d a n t i l n o palestrantes, que, durante os seis Recôncavo Baiano. Seu foco foi a turnos de debates e de intenso calor Escola de Agronomia na cidade Cruz em Cachoeira, relembraram os das Almas. Dirigente estudantil na acontecimentos desse ano e seus é p o c a e d e p o i s p o s t o n a desdobramentos pós-68. “O foi “1968 – o ano que terminou mal: pessoas. Então, ter os documentos c l a n d e s t i n i d a d e e t a m b é m s e m i n á r i o c o n d e n s o u a escalada da violência da ditadura produzidos diretamente pela participante da luta armada, Baiardi pesquisadores de alto nível e militar brasileira.” Crítico dos ditadura é fundamental”. - que foi preso durante o regime - contribuiu para o aprofundamento e s te r e ó t i p o s e d a s v i s õ e s A tarde quente em Cachoeira traçou um perfil do estudante de de novas questões interpretativas românticas sobre o período, Fico não afastou o público, ainda sob o agronomia, ligado à burguesia rural sobre o período da ditadura militar”, analisou em sua intervenção fatos e impacto da palestra matinal. Lugar e às alianças estabelecidas pelo disse Lucileide Cardoso. expressões do período como “o abafado e um pouco de atraso. A movimento estudantil e ao PCB.

Para Luis Nova, o ano de golpe dentro do golpe”, referente ao mesa redonda foi composta pelo Nem toda a Igreja Católica foi 1968 marcou um momento AI-5. Para o historiador, o ato professor da UFRB Amílcar Baiardi, a favor do golpe militar. Esse foi i m p o r t a n t e n a h i s t ó r i a institucional representou uma pelo professor da UNEB Antonio outro mito foi quebrado na palestra contemporânea brasileira, sendo maturação do projeto militar Maurício Brito e pelo coordenador do de Grimaldo Carneiro, que falou que o país tem reflexos daquele iniciado em 64 e permitiu a vitória Grupo de Estudos sobre a Ditadura acerca do Centro de Estudos e Ação período muito fortes. “O elenco, as do regime militar no Brasil. “Todos Militar em Salvador Grimaldo Social (CEAS), tratando da oposição pessoas que vieram da primeira os eventos que culminaram no AI-5 Carneiro, tendo como tema os dessa parte da igreja à ditadura na qualidade e a presença do público são trabalhados pela memória que Movimentos Sociais na Bahia. Bahia. Formados por padres que tem lotado os dois turnos, se seguiu àquele período de uma Seu visual lembrava bastante italianos a partir do ano de 1966, o pessoas de fora de Cachoeira, de maneira heróica e romântica, de o cantor Raul Seixas, mas Antonio CEAS manteve a princípio uma outras universidades. Acredito uma maneira que eu centralmente Brito preferiu seguir o pragmatismo posição de neutralidade com sinceramente que esse foi o não concordo”, disse durante a de quem apresenta sua tese de relação à ditadura. “Quando primeiro evento que conseguimos palestra que ainda acendeu no doutorado do que a descontração e ocorreu o AI5, em que os canais de fazer com uma dimensão extra público o questionamento sobre a efervescência que tinha seu quase- par t ic ipação po l í t i ca foram CAHL e universitária”, destaca Nova abertura dos arquivos secretos do sósia. Também não era para menos. cerceados, fo i a í que e les no final do primeiro dia. regime militar. “É importante para Durante os criteriosos 40 minutos começaram uma oposição ferrenha

M E M Ó R I A S q u e p o s s a m o s c o n h e c e r de sua exposição, ele abordou as aos militares, fazendo reuniões e ESTEREOTIPADAS – A conferência rigorosamente a historia do período, dificuldades sobre a pesquisa publicando denuncias de torturas, de abertura do evento contou com a p o r q u e m u i t a s v e z e s n ó s b i b l i o g r á f i c a , o m ov i m e n to que eram publicados aqui, mas participação do Prof. Dr. Calos Fico, pesquisamos só a partir de estudantil em Salvador e o AI-5, circulavam também na Europa”, da UFRJ. O tema da apresentação memórias e depoimentos das localizado no contexto da UFBA. “A relata Carneiro.

10 Cachoeira, novembro/dezembro de 2008

Hamurabi Dias

Esporteii

História

...uma pequena cidade do interior do prefeitura, onde o corpo do prefeito foi velado, e também na Recôncavo da Bahia chamada Nazaré das Farinhas, onde os praça principal, se revezando para tentar olhar pela última vez grandes e inusitados acontecimentos eram pouco freqüentes. A o rosto de Clóvis. O som que se ouvia vinha de uma música humanidade estava ainda no século XXI, mais precisamente em muito triste que falava sobre um campeão, um grande líder, e 2008, e naquele ano, em todas as cidades do Brasil, ocorreriam emocionava ainda mais os presentes.as eleições para prefeito. E agora vocês me perguntam: como ficou a situação política

Naquela época, era o prefeito juntamente com o vice- de Nazaré? O atual presidente da câmara dos vereadores, prefeito e os vereadores que representavam os interesses da Ailton Figueiredo Júnior, sobrinho de Clóvis, assumiu a população de cada cidade. As pessoas que deveriam assumir prefeitura até o dia 31 de dezembro. O que viria a acontecer esses cargos eram escolhidas pelo povo, esperando-se que de politicamente com a cidade a partir do primeiro dia do ano de forma consciente, através do voto direto no chamado exercício 2009 levantava muitas dúvidas. Nazaré vivia então um democrático que acreditavam ser as eleições. Até então, a momento de grande apreensão política.cidade era governada por um senhor muito distinto, um O senhor Arnon Alves Soares, que ocupava o cargo de médico, o doutor Clóvis Figueiredo. Seu vice, que deveria secretário de administração e finanças da cidade, dizia ter assumir em caso de ausência do prefeito, chamava-se Milton conhecimento que, de acordo com leis e súmulas eleitorais, Almeida. quem deveria assumir seria o vice-prefeito eleito. Lembro

Tudo transcorria tranquilamente no mandato de doutor como hoje que Arnon chegou a declarar na ocasião: Clóvis, até que, no fim do encargo - ano em que ocorreriam as - Nós todos estamos na expectativa e ansiosos para que novas eleições – estando com a campanha de reeleição em assuma o vice, eleito pelo povo, Miltinho. andamento, fotos e nomes dele e de seu vice espalhados por No mesmo período, o então secretário municipal de toda a cidade, aconteceu uma tragédia... Morre Milton Almeida planejamento, Antônio José de Brito Filho, o Bia, dizia que não com complicações cardíacas. Era o dia 13 de Julho e a cidade existia nenhuma forma de ocorrer um retrocesso nesse parou para se despedir do candidato. Foi um acontecimento processo. Ele também afirmava que, de acordo com a lei muito triste, mas a campanha deveria continuar e teria que ser daquela época, o falecimento do candidato eleito ao cargo de escolhido um novo candidato ao cargo de vice-prefeito. O prefeito, ainda que antes da expedição do diploma, transfere ao escolhido foi o filho de Milton Almeida, Milton Rabelo de vice o direito subjetivo ao mandato do titular. O prefeito Júnior Almeida Júnior – Miltinho. Figueiredo, em exercício, após a morte do doutor Clóvis, falava

No dia 5 de outubro ocorreram as eleições. Naquela época, muito comovido que o grupo político estava ainda muito lá em Nazaré, o dia da eleição era muito animado desde o início chocado e que a cidade havia perdido um grande líder que da manhã, quando as pessoas começavam a sair para votar. E amava Nazaré.naquele ano não foi diferente, as pessoas votavam e Uma história como essa já aconteceu em outras cidades, permaneciam nas ruas aguardando o momento em que seria ainda nos tempos em que eram os prefeitos quem anunciado o nome do novo prefeito da cidade. representavam os interesses da cidade. Inclusive algo

Antes mesmo que todas as urnas fossem apuradas, as semelhante ocorreu na presidência do Brasil, num tempo ainda pessoas já estavam em festa, comemorando intensamente a mais distante, em 1985, com a morte do presidente eleito reeleição do prefeito. O que ninguém esperava era que menos Tancredo Neves, vocês não devem ter ouvido falar, que levou o de um mês após as eleições, no dia 28 de outubro, doutor seu vice José Sarney a assumir a presidência.Clóvis viria a falecer sofrendo um aneurisma cerebral. Está ficando tarde e já é hora de vocês dormirem. Tentem

A cidade parou mais uma vez para dar adeus ao “grande sonhar com a história e vamos ver se conseguem adivinhar líder”, como muitos o chamavam. Foi muito comovente, cerca como ela termina. Amanhã eu prometo que conto o restante de seis mil pessoas preenchiam os espaços do prédio da para todos vocês.

Quem assumiu?Era uma vez...

Daiane DóriaRepórter

Cachoeira, novembro/dezembro de 2008 03

Sob o sol de novembro

Encontro contribuiu para debate historiográfico sobre a ditadura militar

historiadores lembram o AI-5i

Política

SoD

anie

lle

uza

I Seminário Internacional AI-5: Impossível Esquecer, lota o Museu de Arte Sacra

Page 4: Reverso 19

Manhã de quinta, Pedro acorda atenção e o calor intenso sentados, olhando o movimento e às 6:30; toma banho, toma café, contribui para a dispersão. Ele se c o n v e r s a n d o s o b r e t u d o , escova os dentes e vai à escola. Ele distrai conversando com os principalmente garotas e festas.freqüenta o melhor colégio privado colegas. O barulho é constante. Pedro volta para casa, escuta da cidade, assim como a melhor Ele fica contando os minutos música, conversa com seus pais e academia e o melhor curso de para voltar para casa.oje, Pedro tecla com amigos na internet. Nos inglês. Seu pai é engenheiro não tem aula no colégio à tarde. finais de semana, ele vai aos bares e agrônomo, com doutorado na De segunda a quarta-feira, ele festas da cidade, viaja para capital França, e sua mãe, nutricionista. tem aulas extras para reforçar o ou freqüenta um clube privado da Eles proporcionam aos filhos tudo aprendizado. Sem ter obrigações cidade.que um adolescente de classe a cumprir, ele aproveita o tempo Pedro pensa em ser engenheiro, média pode querer. para ficar navegando na internet economista, advogado. Ano que

Iuri acorda cedo; toma banho, no seu quarto. Também toca vem, provavelmente, estudará num toma café, escova os dentes e vai suas musicas preferidas no dos melhores colégios da capital. p a r a u m e s c r i t ó r i o d e violão. Iuri ainda não sabe o que quer fazer contabilidade onde é Office boy. Seu facilidade, conversa um pouco com Iuri chega às 17:00 e vai para da vida.pai é motorista de Van e sua mãe, os colegas e, ao meio-dia, volta para academia malhar. Ele cultua a boa Pedro já morou na França, é professora primária. Para ter seu casa, para almoçar e descansar. forma do corpo. Pedro também faz poliglota, conheceu a Espanha, a próprio dinheiro, ele precisa Iuri tem uma manhã cheia. Corre questão de não perder um dia de Inglaterra e a Itália. Iuri pensa em trabalhar. pra lá e pra cá, resolvendo as malhação, mas, antes de ir para aprender inglês e conhecer São

A manhã de Pedro, na sua turma pendências do seu trabalho. Volta academia, tem aula de inglês até às Paulo.de 1º ano, que tem apenas 25 para casa na hora do almoço e 18:00. Algo em comum? Ambos têm 17 alunos, é proveitosa. Ele presta precisa correr para ir à escola onde Ao chegar da academia, Iuri vai anos.atenção na aula, assimila os estuda. Na aula, com cerca de 50 conversar com os amigos do bairro a s s u n to s t r a b a l h a d o s c o m colegas, o conteúdo não chama sua onde mora. Ficam na porta de casa

04 Cachoeira, novembro/dezembro de 2008

Contrastes do dia-a-diaAproximadamente 8h30min a má remuneração, falta de pelo incômodo e o tóxico cheiro da de trabalho e o abandono do marido

da manhã, quarta-feira, Cachoeira. pagamentos, falta de material e cola utilizada para colar os sapatos. foram os motivos que levaram Dona Subo rua, desço rua, paro pessoas e cobrança exagerada dos clientes, Como não há o costume de usar Antônia a lavar roupas por mais ou peço informações. Ninguém sabe que, mesmo chovendo, queriam m á s c a r a s d e p ro te ç ã o , o s menos três anos. Ela precisava onde mora uma lavadeira. Quase suas roupas prontas no dia profissionais da área ficam muito alimentar dois filhos. Quando acredito na queda da pauta ou pelo acertado, entre outras coisas. A ex- suscetíveis a problemas de saúde, mudou da sua cidade de origem menos na mudança dela. Nas lavadeira acredita que, além do como um que, há alguns anos, para Cachoeira, Dona Antônia teve a grandes cidades, as máquinas de problema da má remuneração, a acometeu Raimundo. “Ele teve oportunidade de abrir a barraca de l a v a r e a s l a v a n d e i r i a s popularização das máquinas de febre, dor de cabeça, vômitos...”, lanches e assim parar de lavar roupa institucionalizadas quase fazem lavar roupa contribuiu para que as conta o consangüíneo. para fora. desaparecer aquela lavadeira que pessoas não procurassem mais as Apesar das dificuldades Quanto à profissão, Dona bate de porta em porta e sai com lavadeiras e assim a profissão foi se encontradas, Luis considera o Antônia também se queixa da má trouxas na cabeça para lavar e tornando praticamente extinta. trabalho gratificante. “Recebemos remuneração por parte dos clientes. entregar daqui a um dia, uma Um pouco mais de meio-dia, muitos elogios”, ele comenta. “É mais fácil receber em dia de semana ou duas no máximo. As vou a uma oficina de sapatos. Apesar de não ser a sua profissão de homens solteiros do que de grandes sapatarias e a mania do C h e g a n d o l á povo de querer coisa nova não encontro portas permitem mais que se procure o fechadas. Peço sapateiro da esquina quando o tênis informações e de jogar bola fura ou o sapatinho da descubro que farda da atendente de consultório v o l t a r i a a perde o salto carrapeta. Mas essas funcionar às 14 h. profissões ainda são executadas Retorno por volta marginalmente. Será que vou achar das 14h40min. algum profissional desse aqui? E n c o n t r o u m

Finalmente, encontro alguém rapaz sentado que sabe de algo, ou melhor, a t r á s d e u m conhece uma ex-lavadeira. Ando b a l c ã o , c o m mais duas casas, a moça a quem s a p a t o s n a s pedi informações me acompanha e mãos e dois homens, conversando fato, Luis diz que gosta muito do que famílias”, afirma ela. Ela também bate na porta. Alguns segundos com ele. Aproximo-me e explico qual faz e, sobre o desempenho do irmão, atribui às máquinas de lavar roupa, depois, abre a porta uma mulher, de o meu objetivo ali. Um dos homens salienta: “o trabalho sai bem feito que significam economia às donas baixa estatura, morena, lenço levanta e cede a cadeira para que eu porque ele (Raimundo) faz com de casa, a responsabilidade por esta estampado na cabeça, e que, sente. Sento-me, eles se despedem amor, sente prazer no que atividade estar sendo extinta, tanto gentilmente, me manda entrar e e saem da pequena loja. O homem desempenha”. Então, me despeço, nas grandes cidades, como agora, sentar. Explico porque estou ali e ela sentado atrás do balcão, que agradeço pela entrevista e ele, também nas cidades pequenas.prontamente começa a me falar costura um sapato, é Luis Freitas da gentilmente, afirma que tanto ele As pessoas não possuem sobre o assunto. Cunha. Ele trabalha na verdade com quanto o irmão ficam felizes em mais interesse em aprender esses

Josélia Maria é ex-lavadeira, eletricidade, porém aprendeu o poder ajudar. ofícios, ou melhor, estes estão deixou de exercer essa atividade ofício de sapateiro com o irmão, Quinta- fe i ra . O sol em sendo substituídos por produtos do quando o filho se formou. Para que Raimundo Freitas, que é o dono da Cachoeira está cada vez mais mercado consumista. Hoje um isso acontecesse, foram anos de loja e já trabalha com isso há mais quente. Estava sentada na beira do simples “descolar” de um sapato muito sacrifício, lavando roupas, ou menos 20 anos. Luis justifica a rio Paraguassu, até avistar quem eu será motivo para procurar as lojas, fazendo faxinas e dando reforço ausência do irmão. Raimundo está procurava, dona Antônia Maria dos adquirir outro e assim alimentar o escolar – as chamadas “bancas”. com um problema de saúde, que até Santos Pereira, uma senhora negra, comércio. A venda de máquinas de Hoje em dia, ela conta aliviada que então, não se sabia se tinha sido de cabelos bem pretos e sorriso lavar torna o trabalho de lavar não lava mais roupas para fora, provocado pelo trabalho. largo. Ela também é uma ex- roupas manualmente uma coisa apesar de ainda exercer todas as Segundo Luis, um dos motivos lavadeira e, hoje, sobrevive da venda praticamente absurda. Na correria outras atividades citadas. da profissão de sapateiro estar de lanches em uma barraca próximo das grandes cidades, “perder”

Falante e receptiva, Dona sendo extinta é que falta mão-de- ao rio. Dona Antônia conta como t e m p o l a v a n d o r o u p a s é Josélia conta todas as dificuldades obra. Ele acredita que as pessoas d e i xo u d e s e r t é c n i c a e m praticamente impossível. Depois encontradas. “Lidar com gente é a não querem mais aprender essa administração e acabou lavando das entrevistas, saí com a sensação pior coisa que existe”. Com essa atividade, não só porque possuem ro u p a s p a r a s o b r ev i v e r. A de que será inevitável a extinção frase, ela conta o quanto sofreu com outros interesses, como também dificuldade de emprego em sua área dessas profissões.

iSociedade

i

Patrícia Neves

Sociedade

No caso dos prêmios para produtos jornalísticos impressos, estão Realizaçãoautomaticamente inscritas as matérias e fotografias publicadas nos semestres 2007.2, 2008.1 e 2008.2, que serão julgadas dentro de seu próprio período, ou seja, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)serão premiados os melhores trabalhos de cada semestre, em separado. Centro de Artes, Humanidade e Letras (CAHL)

Os professores responsáveis pelas disciplinas envolvidas na edição do jornal Colegiado de Comunicaçãolaboratório Reverso indicarão três finalistas para cada semestre (2007.2, 2008.1 e Núcleo de Estudos sobre Política e Cultura (Nespoc)2008.2). Grupos de Estudos da Mídia

Comissão do Bicentenário da Imprensa na Bahia Para a escolha do melhor trabalho em webjornalismo, será considerado apenas o semestre letivo de 2008.2, com a indicação para a final – por parte do Objetivoprofessor responsável pela disciplina respectiva – dos cinco melhores trabalhos O Prêmio Francisco Montezuma de Jornalismo é uma iniciativa da Comissão publicados no período.Inter-institucional do Bicentenário da Imprensa na Bahia, sediada no Centro de Artes,

Humanidade e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), na Julgamentocidade de Cachoeira, executada através de parceria com os professores responsáveis

Os trabalhos indicados pelos professores serão avaliados por uma comissão pelas disciplinas Oficina de Textos II, Jornalismo Impresso II e Jornalismo Online. Foi julgadora constituída por 5 (cinco) membros indicados pelo coordenador do curso de criado com a intenção de incentivar a produção acadêmica de textos e outros Jornalismo e pelos professores responsáveis pelas disciplinas de Oficina da Textos, produtos jornalísticos realizados pelos alunos do curso de Comunicação desta Jornalismo Impresso, Fotojornalismo e Jornalismo Online, ou, eventualmente, pelos instituição.titulares de outras disciplinas afins. Serão considerados os seguintes aspectos: técnica jornalística, criatividade, originalidade e relevância social.Categorias

A comissão julgadora divulgará o resultado final de cada categoria, durante Serão concedidas premiações nas seguintes categorias: Reportagem solenidade a ser realizada no mês de dezembro de 2008 para a entrega dos prêmios escrita; Fotografia jornalística; Reportagem online.em todas as categorias. As decisões desta comissão são soberanas e irrecorríveis.

InscriçõesPremiaçãoPoderão concorrer ao prêmio reportagens jornalísticas e fotográficas de

O vencedor de cada uma das categorias receberá prêmio em valor a ser autoria dos estudantes do curso de Comunicação Social com habilitação em definido, além de troféu especialmente confeccionado por artistas plásticos da Jornalismo da UFRB, publicadas nos veículos laboratoriais impressos e eletrônicos própria região. Os indicados em cada categoria terão direito a certificado. Os casos sob a responsabilidade de suas disciplinas regulares.omissos serão resolvidos pela comissão julgadora.

Prêmio Francisco Montezuma de Jornalismo

Cachoeira, novembro/dezembro de 2008 09

Daniela Oliveira

Rir

ddo

gh

met

aa

goo

le: Carge d

e Sauca

Danielle Souza Danielle Souza

Com seu próprio negócio, Antônia deixa de lavar roupasO sapateiro Luiz aprendeu o ofício com o seu irmão

Cachoeira ainda tem lavadeira e sapateiro

Page 5: Reverso 19

Manhã ensolarada de terça- bom português, uma boa voz e me que o rádio tem foi um momento supermercado que patrocina a feira, movimentação moderada e ensinou a gravar comerciais”, marcante na vida de Romi. “Eu programação. Ele nos mostrou, rotineira na cidade de Cachoeira. afirma. trabalhava em uma rádio que ficava passo a passo, todo o processo de Semelhantemente normal é o fluxo ao lado da empresa dos Correios e gravação que é feito por meio de um de pessoas na sede da rádio Telégrafos e, numa certa ocasião, às programa de computador que Paraguassú FM. Sede que, de início, 9 da manhã, começou a fumaçar. também corrige os erros. Cada dá a impressão tratar-se de uma Uma pessoa ligou pra rádio, dizendo t recho da fa la é confer ido casa daquelas que é tombada pelo que havia ocorrido um incêndio nos minuciosamente por Edvaldo e IPHAN. O que temos então é uma Correios. Eu falei, acionando o Tiro aprovado pela consumidora casa-estúdio. de Guerra, o Corpo de Bombeiros e a premiada.

Logo na entrada, em um local brigada voluntária e, em menos de No estúdio de gravação, que, possivelmente seria a sala da três minutos, já estavam todos, poster iormente, apareceram casa, pode-se observar o estúdio i n c l u s i v e a p o p u l a ç ã o , l á Magno do Rosário e Romilton. onde toda a programação é mobilizados. Na verdade, era um Magno faz parte do Grupo Teatral transmitida. Lá, encontramos vizinho que morava atrás da Expressão em São Félix e divulgaria Romilton Si lva Souza, mais empresa que estava queimando um evento marcado para 20/11. conhecido pelos colegas de alguns galhos de mangueira. Isso Romilton aproveitava o intervalo de profissão e pelos ouvintes por Romi mostra o poder que o rádio tem”, seu programa para gravar um Souza, 35, nascido em Jacobina-BA. conta. comercial que iria ao ar ainda

Ele mesmo definiu o caráter Mesmo apaixonado pela naquele dia.multifacetado de sua profissão. Na cozinha da casa-estúdio profissão, Romilton defende a Edvaldo aproveitou para Além de ser locutor, é programador e d a r á d i o P a r a g u a s s ú F M , revisão da questão salarial, que mostrar outras gravações de operador. Desde criança, Romilton encontramos Edvaldo Cardoso, que está aquém do desejado, por parte comerciais que geraram boa queria atuar no rádio. Ele lembra não foge da regra dos radialistas- do sindicado dos radialistas no repercussão e até poemas feitos por que, quando ele tinha seis anos de coringas. Apresentador, locutor e nordeste. pessoas da comunidade, que exibe idade, seu avô ouvia um aparelho de operador, ele comanda programas RODUZINDO E GRAVANDO – em um de seus programas. Ele rádio de madeira e perguntava musicais que variam nos estilos, Durante a nossa visita, Edvaldo prioriza os talentos das localidades acerca do que ele queria ser quando indo desde o reggae até o samba. estava em meio a uma gravação de mais humildes, por vivenciarem a crescesse. “Eu falava que queria ser PAIXÃO PELO RÁDIO – um depoimento de uma senhora, realidade descrita nas poesias. radialista, para que ele pudesse me Autodidata, Edvaldo também busca cliente contemplada em uma ouvir da localidade onde morava”, uma formação acadêmica na sua p r o m o ç ã o f e i t a p o r u m relata Romi. área, mas considera que

CARREIRA - A primeira o fundamental para um oportunidade para trabalhar no radialista é o dom que ele rádio surgiu em 1990, na rádio possui e a paixão pela Jacobina FM, mas não era ainda de p r o f i s s ã o . R o m i maneira profissional. Dois anos c o m p a r t i l h a c o m a depois, Romi ingressou em uma opinião de Edvaldo. “Hoje emissora do município de Valença. o rádio pra mim é tudo. Seria a segunda de um total de sete Além de ser minha fonte rádios baianas que ele passou, em de renda, não consigo cidades como Campo Formoso, nem tirar férias do rádio. A Ipirá, Juazeiro, Feira de Santana e, única vez em que isso agora, em Cachoeira, além de ter aconteceu foi numa também uma passagem por uma ocasião em que tive de rádio comunitária em Santa fazer uma cirurgia e fiquei Catarina. dois meses fora”, declara.

Romilton teve incentivo dos Romilton acredita radialistas que conhecia. “Como que o surgimento da sou apaixonado por rádio, eu internet reforçou o poder sempre freqüentava as emissoras. de alcance das emissoras Um desses radialistas, Evandro de de rádio, que é muito Oliveira, que hoje está na rádio grande, principalmente Serrana FM, me incent ivou no interior do estado. A bastante, dizendo que eu tinha um descoberta desse poder

08 Cachoeira, novembro/dezembro de 2008 05Cachoeira, novembro/dezembrode 2008

UFRBiPaixão em uma emissora de rádioO tempo não pára...

Abrigo de idosos é palco para recordações

“Nós nascemos, vivemos e morremos.”

arrumado e limpinho. não é mais possível. Sua maior conta de energia. Sentada na cama, Lilita tristeza foi quando perdeu os pais e a Dezesseis funcionários

relembra o passado. Ela veio avó. Ele diz que é uma pessoa cuidam com muito zelo dos de uma família pobre – eram tranqüila, e, indignado, reclama que velhinhos. A gerente administrativa, cinco irmãos – e começou a algumas moças que passam na rua, Lúcia Souza Batista, destaca que trabalhar com apenas 13 o acusam de caçar intimidades. alguns dos idosos vêm sozinhos anos, pois o pai adoeceu e “De santa não tenho nada”, pa ra o ab r i go . Ou t ros são o s d e m a i s m e m b r o s diz, em gargalhadas, Antônia Santos, conduzidos pela própria família ou ficaram desprotegidos. fazendo referência ao próprio nome. pela comunidade. Quando é Lilita diz que, quando era Está velhinha, porém continua muito apurado algum caso de maltrato jovem, parecia com a mãe. disposta para quem tem 92 anos. A contra algum senhor ou senhora de “ M a m ã e v o c ê é a alegria da vida de Antônia foi ter tido idade, a promotoria também expressão da ternura de um filho. Mas a felicidade durou encaminha agredido para o abrigo. Deus”, ela sempre repetia pouco, pois o bebê faleceu aos Na maioria das vezes, os idosos essa frase. Aos 17 anos, q u a t r o m e s e s . T e v e u m ficam sem a assistência familiar, Lilita casou, mas perdeu o companheiro, pessoa especial com apenas 5% dos parentes fazem esposo, “Deus levou para quem viveu mais de sessenta anos. visitas. o mundo espiritual”. O Ele morreu faz dois anos. Esquecidos, eles ficam mesmo aconteceu com Antônia lembra com muito tristes, nervosos e deprimidos. Seu seus dois filhos, que entusiasmo, que, em 1936, saiu no Gidásio, por exemplo, quando é m o r r e r a m a i n d a terno chamado As Bambas de solicitado por uma funcionária a crianças. Cachoeira, na famosa festa D'Ajuda voltar para o quarto, fica muito

Lilita não cursou faculdade da cidade e de bailes freqüentados agressivo. Chutando e empurrando Palavras porque não tinha dinheiro para ir a em Salvador. O falecido marido saiu a auxiliar, seu Gidásio grita que quer

pronunciadas por uma boca Salvador ou a Feira de Santana. Na em 1949 no bloco carnavalesco ver a filha. Filha esta que não vem. cansada. Os lábios de Benedita escola onde fez o curso primário, ela Filhos de Ghandi na capital. A As palavras deste solitário pai são abrem com dificuldade, a voz ecoa era muito amada. Participava de velhinha não esquece também duas apenas ecoadas para o vento.frágil. Aos 97 anos, a agilidade da apresentações e sempre foi o palestras que assistiu em Salvador, Essa rotina é comum no fala se perde. Olhar miúdo, linhas e destaque da turma. falavam sobre Castro Alves e a abr igo . Pa lavras d i tas com mais linhas apontam em seu rosto o Com satisfação diz que tem escravidão. Logo, ela enfatiza: “Que dificuldade, grunhidos, olhares tempo transcorrido. Na Ladeira sobrinhos, médicos e advogados. Foi coisa triste é a escravidão!”. distantes e cansados, falta de vigor Benjamin Constante, número 2, um dos sobrinhos que a levou para o Hoje, Antônia tem apenas nos passos. Entre um depoimento e existem várias “Marias” e “Zés” que abrigo. Às vezes, eles fazem uma uma irmã viva, que mora em São outro as confusões das mentes convivem dessa forma. Com visita, porém sua maior companhia Paulo. Com satisfação, ela comenta aparecem, “o avião já passou?”, “o experiências de vida, mas com são as fotografias e as lembranças. que estava morando em São Félix e carro vai pegar”. Observar aqueles corpos agora enfadados, muitos “Nasci, cresci e morrerei aqui em pediu a Deus para retornar a morar velhinhos faz notar a necessidade esquecidos pelos familiares, eles Cachoeira”, Lilita suspira. em Cachoeira. Sua oração foi dos seres humanos de serem buscam alegrias nas reminiscências Carrancudo e desconfiado, atendida, pois uma sobrinha a levou acolhidos.do passado. Henrique é outro personagem para o abrigo.

Joelita, mais conhecida naquele lugar. Aparentemente A Casa Abrigo dos Idosos como Lilita, é uma das moradoras do hostil, o velhinho se assusta quando tem 33 hóspedes. É abrigo. Bonita e cheia de vida aos 89 percebe que está sendo observado. um espaço amplo, anos, nasceu e cresceu em Ele foi casado 18 anos com uma limpo e confortável, Cachoeira, cidade que ela exalta mulher chamada Regina, com quem m a n t i d o como “terra de Ana Néri, Teixeira de teve um filho, além de mais três principalmente por Freitas e Maria Quitéria”. Saudosa, nascidos fora do casamento. verbas e donativos ela conta que, há muito tempo, Trabalhou cortando cacau, serviço d o a d o s p o r participou da festa de 25 de Junho, que até hoje desempenharia: “Tenho a s s o c i a d o s . O com passeatas bem animadas e vontade de sair daqui para governo do estado muitas pessoas bonitas. É vaidosa, trabalhar”. oferece uma ajuda não se cansa de conferir seu reflexo Henrique não recebe a de custo no valor de no espelho. Ela divide um quarto visita das duas filhas, isso o deixa R$ 1.500,00. A com uma amiga na Casa Abrigo dos triste. A maior alegria dele era prefeitura auxilia Idosos. Mantém o espaço bem dançar e sambar. Aos 89 anos, isso com o pagamento da

ari Co taC ne s

iMemória

Que

ila O

livei

ra

Nos estúdios da Paraguassú FM, profissionais de múltiplas facetas mostram paixão pela profissão.

Toniel Costa

Queila Oliveira

Q i a i e aue l Ol v ir

Qa

ivei

rue

ilO

la

Para o radialista Edvaldo, o dom é mais importante do que a formação acadêmica

Page 6: Reverso 19

0706 Cachoeira, novembro/dezembro de 2008 Cachoeira, novembro/dezembro de 2008

Culturai“O padre é casado!”

branca, no mínimo destoante. desde os 30 anos. Cânticos, sermão, óstias e mais Casado. Casado? È, Domingo, oito da “améns”.Tudo como manda o c a s a d o e p e l a

manhã, Igreja Católica: É hora de figurino, a não ser pela presença de segunda vez.missa. uma aliança dourada presente no Pai de cinco

Igreja pequena, f iéis dedo anelar da mão esquerda do filhos, é pároco da presentes, não em grande número, sacerdote que celebra a missa. I g r e j a C a t ó l i c a mas suf ic iente para dar a “O padre é casado!” Foi o Apostólica Brasileira impressão de “casa cheia”. que disse a mulher alta de voz (ICAB), única em Mulheres com véu na cabeça, estridente, dona de um sorriso Cachoeira. A ICAB foi responde com um sorriso nos crianças bem comportadas e largo e um olhar espantado dirigido fundada em 1945 pelo bispo Dom lábios: “Eu nasci para o sacerdócio, penteadas, todos a rigor, bem àquela que se impressiona sem Carlos Duarte da Costa, antigo c o m o u s e m c e l i b a t o . ”vestidos com seus famosos trajes demora. “E pode?”, pergunto. bispo Católico Romano. Dom Carlos Apesar de hoje um padre casado de “ver Deus”. Pelo cuidado como ser visto com naturalidade pelos sentam, pr inc ipa lmente as cachoeiranos, nem sempre foi crianças, preocupando-se em não assim. No início, a Igreja Brasileira amassar a roupa, dá para perceber sofreu as duras críticas em que aquelas não são sempre Cachoeira, feitas por aqueles que vestidas. não acreditavam na legitimidade de

Interior arrumado e limpo, uma Igreja que quebra a maior altar decorado, imagens sacras na tradição mantida pela Igreja parede. Ofertório, comunhão, Romana. As críticas partiam até - e “améns”, fundo musical, fiéis quem sabe principalmente - dos cantando e louvando ao Senhor outros padres da cidade que viam a com os velhos e conhecidos situação como irregular e até cânticos comuns nas Igrejas desconfortável. As pessoas se Cató l i cas . Ambiente quase recusavam a participar das missas acolhedor. Os poucos fiéis ali e te rem seus casamentos presentes me olhavam com celebrados naquele ambiente estranheza. No momento, a “profano”. Mas aos poucos a diferente era eu, quase “uma situação foi mudando.estranha no ninho”. Todos sabiam o E o Papa, como fica nessa que fazer, o que dizer na hora de história? A ICAB não comunga da dizer. Todos menos eu... E eles me soberania Papal, ela tem sua sede olhavam, ali sentada no último instalada em Brasília. O respeito a banco. E eu olhava o padre e sua Bento XVI parte do fato de ele ser mão. Se para eles a situação já era “Cachoeira pode tudo”, ela pregava contra a doutrina da uma autoridade, o chefe de estado natural, pra mim ainda não era tão responde entre risos. infalibilidade Papal, atitude liberal do Vaticano. Atualmente, Dom comum. De imediato, a história quanto ao divórcio e a liberdade Roque mantém uma boa relação

Era estranho pra mim estar intriga. Mas aos poucos vai sendo para os clérigos se casarem. com os demais padres de de pé às oito e meia da manhã de esclarecida. O nome dele é Roque Excomungado pelo Papa Pio XII, Cachoeira e os fiéis da cidade.domingo. Era estranho para eles Cardoso Nonato, Dom Roque, como ignora a excomunhão e funda a Situação esclarecida, Dom que eu estivesse ali, seja a hora é conhecido, 65 anos, baixo, corpo I g r e j a C a t ó l i c a A p o s t ó l i c a Roque já não me é estranho. Mas qual fosse, pelo menos a princípio. robusto, moreno, rosto redondo, Brasileira. Em 1949 o caso foi parar eu ainda sou estranha para aqueles

Missa comum. Carolas olhos pequenos compensado pelos no Supremo Tribunal Federal que que com louvor celebram sua fé a sentadas prontas para soltar as grandes óculos, grandes e concedeu Liberdade Religiosa e Deus. Nove da manhã, já é hora do notas mais desafinadas, típicas de quadrados. Calvo na parte superior legalidade da Igreja Brasileira. Na fim da missa. “Bom dia a todos”, ele frequentadoras assíduas de Igreja. da cabeça, na parte inferior cabelos ICAB, o celibato não é obrigatório. se despede. E na minha mente a Todas, e elas eram maioria, de grisalhos, curtos e raros. Dentes Ao saber dessa informação, o única coisa que passava era: “Não branco com uma fita vermelha no grandes e amarelados, lábios questionamento é direto: “Se o me olhem assim, quem casou foi o pescoço. Eu de calça jeans escura, grossos. Aparência cansada, porém celibato fosse obrigatório, hoje o padre!”blusa lilás, calçando havaianas viva. Voz rouca, andar lento. Padre senhor seria padre?”. Dom Roque

Religiãoi

Por Camila Moreira

Domingo profano na Festa d'Ajuda

A festa em louvor a Nossa Senhora d'Ajuda é comemorada todos os anos, em Cachoeira, na primeira quinzena de novembro. Trazida pelos católicos portugueses, a manifestação secular oscila entre o sagrado e o profano, com celebrações r e l i g i o s a s ( m i s s a e procissão) e os embalos de fanfarras locais pelas ruas da cidade. A festa alcança o ápice no último domingo, quando ocorre o Terno da Alvorada. Às cinco horas da manhã, a população sai fantasiada à s r u a s c o m a s tradicionais caretas e cabeçorras ou criam as f a n t a s i a s m a i s irreverentes. O festejo está renovando-se a cada ano e, gradualmente, surgem mais blocos criados pelas comunidades.

Tradição secular

Astrude Modesto

Talita Costa

Css

s B

oe

áiu

rgs

Dom Roque é casado há onze anos e sua esposa, atualmente, mora em Recife

Personagens pitorescos e divertidos dão vida a famosa e animada Festa d’Ajuda

Em Cachoeira, no dia 23 de se bem. Com purpurina dourada no novembro, às quatro horas e trinta rosto, ela só queria voltar para casa minutos da madrugada, o Largo no final d'Ajuda. “Vou voltar para casa d'Ajuda já estava cheio. Eu, que no lixo”, ela ria. não sei sambar, observava a moça A festa durou toda manhã e de vestido florido, vermelho e parte da tarde. Eu ainda não tinha laranja, e o samba que ela tinha aprendido a sambar e também entrei nos pés de sandálias prateadas. na fila para os banheiros dos bares No meio do largo, o isopor de fantasiada de diabinha. No final, eu cerveja, as latinhas penduradas e ainda tinha no bolso a receita de o sombreiro listrado de vermelho e alumã e água que Dona Elza deu-me branco. Turistas e cachoeiranos em meio aos carros de som, as esperavam sambando a primeira fanfarras e fantasias. Uma ótima banda chegar para sair atrás do receita para a garganta e a saúde que embalo. aprendi na Festa d'Ajuda. Dá próxima

O sino tocou às cinco horas vez, também levarei no bolso os paus e o sol subiu a ladeira para o Largo. de canela. Lá embaixo, a banda surgiu acompanhada de fantasias. Paulo Cruz, cachoeirano e diretor da Fundação Maria América da Cruz, aos 56 anos, mesmo adoentado, compareceu fantasiado à festa que sempre presenciou. A roupa de chita, a coroa vermelha, os óculos de gatinha e o boá cor-de-rosa; Paulo Cruz carregava no corpo a pergunta: “Que Rei Sou Eu?”. A pergunta era uma sátira aos poderes públicos. Seu Paulo cabeçorras ou as tradicionais caretas fantasias com a ajuda de um amigo reclamava da falta de infra- de que ela tanto gostava na infância. no dia 22 de novembro. Ela acordou estrutura e arrumação para o Como na época de Raimunda, às seis e meia da manhã de sábado festejo importante na cidade. “As ainda são das caretas que as crianças e o trabalho só acabaria mais de dez autoridades estão abandonando e mais gostam. Micael Ferreira, 9 anos, horas da noite. Jailda mora no é o povo que faz a festa d'Ajuda”. confessa que antes tinha medo da primeiro andar de um sobrado, em

O povo saía às ruas para fantasia com macacão de chita e São Félix. O andar fica dividido entre ver a banda passar. Muitas capuz de nariz fino e longo. Quando a moradia e o ateliê. Linhas brancas, pessoas observavam das janelas pergunto por que perdeu o medo das vermelhas, pretas, azuis, verde-com os rostos de sono e as roupas caretas, o amigo Sanderson Lopes limão e as três máquinas de costura. de dormir. Raimunda Gomes, dona tem a resposta na ponta da língua: Magra, o cabelo preto preso por uma de casa, levantou cedo para fazer o “Porque a gente é valente”. Sim, eles p r e s i l h a , J a i l d a c o s t u r av a café da manhã, por isso estava são valentes e serão capazes de serenamente uma fantasia de acordada quando a banda passou mudar a situação de descaso em que enfermeira. Ela nunca tinha ido à no bairro do Caquende. Aos 47 a festa se encontra. Não havia Festa até aquele dia. No domingo de anos, ela assistia com os filhos a enfeites na cidade para anunciar os manhã encontrei-a com o mesmo festa que já comemorou quando festejos. E, na falta de banheiros rosto calmo atrás do embalo.também era criança. Ela observava públicos, formavam-se enormes filas Ao contrário, Dona Elza da da janela a banda parada em de fantasias de super-heroínas nos Silva todos os anos vai à festa. Aos silêncio frente à Pedra da Baleia. banheiros dos bares. 84 anos, estava na rua desde as “Uma homenagem à Iemanjá, a As pessoas começam a fazer cinco horas da manhã. “Se eu rainha das águas”, ela explicou- as encomendas de fantasias a partir pudesse, teria esta festa de quinze me. Para Raimunda, a festa não de agosto, mas alguns sempre em quinze dias”, ela dizia animada. tem a mesma alegria que tinha em deixam para encomendar no dia Dona Elza, que não bebe e não outros tempos. Ela sente que a anterior. Foi com o rosto calmo que fuma, chupava canela e cuspia festa está acabando por causa da Jailda de Almeida, 35 anos, disse que quando perdia o gosto. As canelas violência. Não há mais as tantas costurou 27 camisas para blocos e 6 na bolsinha era a forma de manter-