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1 EDIÇÃO Nº 1 Velharias REVISTA

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EDIÇÃO Nº 1 VelhariasREVISTA

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Produção e Edição Revista VelhariasPublisher - Elisa YuleEdição de Arte - Caroline MoraesGerente Comercial - Fabiana OliveiraCrédito - Acervo pessoal e Fotolia

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É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Revista Velharias.

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EXPECTATIVASLugar comum dizer que o tempo voa. Bobagem também dizer que a melhor coisa é nunca criar expectativas sobre nada nem ninguém.

Quem de nós nunca as criou?

Aqui na Revista, também não foi diferente. E nem por isso, mais fácil ou mais difícil.

Aquele que - nunca viu fi lhotes a espera de alimento, pessoas na fi la de um restaurante por quilo, famílias em frente ao restaurante aguardando para entrar e perdendo o olhar janela a dentro, a busca sequiosa pela bagagem na esteira depois de uma longa viagem, a plateia esperando o fi lme começar, o e-mail sendo carregado, um fi lho procurando pelo pai na saída da escola e outras situações tantas - que atire a primeira pedra por nunca ter criado expectativas.

Feita com muito esmero, dedicação, carinho, um Q de estresse e expectativas mil, temos a felicidade de entregar a Revista Velharias, em sua edição trimestral.

Nessa levada, falamos como sempre de livros, fi lmes, desejos, crônicas, viagens, saúde, serviços, gente que encanta, comportamento e sim, encantadoras histórias de vida que nos fazem querer ser alguém muito, muito melhor.

Divirta-se!

Elisa YulePublisherv

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Para um leitor prevenido, qualquer momento de espera pode se transformar num momento de leitura.

Tudo bem que ler é um hábito solitário, mas também pode ser vista como um passatempo coletivo. Leitores atraem outros leitores, e compartilhar nossas descobertas literárias com amigos é

5 - DICAS DE LIVROS & FILMES

8 - VAI PRA ONDE?

10 - O QUE VOCÊ QUER?

11 - GENTE QUE ENCANTA...

12 - HISTÓRIA DE VIDA I

18 - HISTÓRIA DE VIDA II

19 - #ENQUADREUMVELHO

20 - ERA UMA VEZ...

22 - PROSA COM ESPECIALISTA

23 - SERVIÇOS E DIREITOS

27 - COMPORTAMENTO

28 - CRÔNICAS

30 - ALIMENTAÇÃO

32 - ARTE DE RUA

Í n d i C EDICAS De lIvroS & FIlmeS

sempre um prazer. Conversar sobre livros é uma forma de reacender, em nós e em nossos interlocutores, a paixão por eles. Assistir filmes também é um hábito e tanto. Além de nos levar a lugares e experiências magníficas, como os livros, nos permite admirar os atores e atrizes que tanto gostamos, em roteiros surpreendentes. Aventure-se:

Muito em voga nos dias atuais e por causa do crescimento notório dos veganos – pessoas que pensam no meio ambiente e também no bem-estar animal- aqui pode estar o melhor livro de receitas, além de apresentar o estilo de vida de uma vegana.

Livro de AlanaRox DIÁRIO DE UMA VEGANA

#BORALER!

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Sira Quiroga é a encantadora costureira que protagoni-za esta aventura. Um dia, Sira se apaixona loucamente

e parte de Madri para o romântico Marrocos, meses antes da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), para ter

sua inocência triturada pelos caminhos da vida. Porém, se transforma uma vez mais para mergulhar, durante

a Segunda Guerra Mundial, em um novo mundo, agora repleto de espiões, impostores e fugitivos.

Livro de Maria Dueñas

Este livro faz uma travessia pelo país conduzida pelo olhar de repórter de Eliane Brum. Ela, que se apresenta como “escutadeira”, nos carrega por vários Brasis em dez gran-des reportagens feitas na primeira década do século 21. Em cada uma, Eliane revela a história dentro da história, ao narrar os bastidores a partir dos dilemas, das descobertas e também das dores a que se lança um repórter disposto a se interrogar sobre sua própria jornada.

UM TEMPO ENTRE COSTURAS

Livro de Eliane Brum

Existe vida depois da aposentadoria. O filme de Ale-xander Payne, brilhantemente interpretado por Jack Nicholson, com a participação impagável de Kathy Bates, aborda a problemática da aposentadoria e da viuvez. O pacato Warren Schmidt se vê mergulhado no tédio e na solidão quando se aposenta.

AS CONFISSÕES DE SCHMIDT (2002 — ESTADOS UNIDOS)

Uma biografia imaginária de Dimitri Borja Korozec, um anarquista especializado em assassinatos políticos, que se caracteriza por uma espantosa dificuldade em atingir as metas às quais se propõe. Sua ‘propensão natural pela catástrofe’ fará dele eternamente o homem certo na hora errada.

O HOMEM QUE MATOU GETÚLIO VARGAS

AS BALEIAS DE AGOSTO (1987 – ESTADOS UNIDOS)

Quando os horizontes se estreitam. Bette Davis e Liliam Gish são duas velhas irmãs que vivem numa bela casa de

verão no Maine, de onde costumavam avistar baleias na sua infância. Passaram a vida em guerra, mas agora Libby está

cega e Sarah tem que cuidar dela. Vivem de recordações dos maridos, amigos e família. Até que a rotina das duas é quebrada quando um velho nobre russo – Vincent Price –

começa a visitá-las.

OLHO DA RUA

Dicas de livros & Filmes

Livro de Jô SoaresA PARTIDA (2008 – JAPÃO)

No drama de Yojiro Takita, Masahiro Motoki vive um rapaz sonhador que quer se tornar violoncelista. Ele chega a com-

prar o instrumento, mas a orquestra onde começa a atuar não sobrevive. Em busca de trabalho, ele se candidata a uma vaga bem remunerada sem saber qual será sua função. Des-

cobre que vai trabalhar para um agente funerário, prepa-rando cadáveres para o velório. A função lhe causa repulsa,

mas aos poucos percebe a importância de dar aos mortos uma despedida digna.

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MUSEU DA IMIGRAÇÃOAntiga hospedaria que servia de porta de entrada aos imi-grantes que aqui chegavam entre os séculos 19 e 20. Um belo jardim cerca o prédio histórico, muito bem cuida-do, com bacos, playground e sombras. Pagando R$10,00 para entrar, é possível visi-tar as exposições do museu, que valoriza o encontro das múltiplas histórias e origens das pessoas que vieram de terras distantes. Compõem

as atrações do museu, ex-posições de longa duração, temporárias e itinerantes e está na programação, a fes-ta do imigrante, com gas-tronomia, arte e dança de nacionalidades que com-põem a diversidade cultural.

INGRESSOS PROMOCIONAIS

Um pedaço do mundo no Brasil

Vai pra onde?

ENDEREÇORua ViscONDE DE PaRNaíba, 1316 – MOOca – tEl. 2692.1866

INSTITUTO MOREIRA SALES – PAULISTAOs paulistanos apaix-onados por fotografia acabam de ganhar um espaço cultural para chamar de seu. Local-izado em plena Av. Pau-lista, bem perto da Rua da Consolação, a nova unidade do Instituto Moreira Sales acabou de ser inaugurada. Além de grande variedade de atividades – desde música, gastronomia e claro fotografia – o In-stituto oferece cursos, palestras, workshops e exposições incríveis.

SOBRE O IMSRealizando uma anti-ga aspiração e consol-idando sua presença em São Paulo, o mais

importante cenário cultural do Brasil, o In-stituto Moreira Salles inaugurou em 20 de setembro de 2017 um novo endereço: avenida Paulista, 2424. O novo centro cultural, com projeto do escritório Andrade Morettin Ar-quitetos, abriga toda a programação organiza-da pelo instituto na ci-dade.

Cultura e arquitetura

ENDEREÇOaV. Paulista, 2424 – cONsO-laÇãO – tEl. 2842.9120

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josé mAria de FReitas, 54 anos

Meu sonho é continuar a ter paz na família e interna!

Artur Benevides

Nascido, criado e prospe-rado nos arredores de Fortaleza, mais preci-samente em Pacatuba, nos idos de 1923, Artur Eduardo Benevides foi

um príncipe.Foi rapaz bem-apessoado, simpático. Homem simples que apesar de toda sapiência e riqueza, adorava deitar na rede e se deixar vagar nos versos de todo seu lirismo.Na rotina de sua vaidade cabia sem-pre colete e paletó – foi o 16º. Filho e herdou muita vestimenta dos irmãos mais velhos.Desde cedo enamorou-se das pala-vras e se aprumava todo em cima de latas de querosene para fazer discurso e poema. Estudou direito e encantou-se pela vizinha no footing que faziam na pracinha. Fez quatro filhos, mas só uma era menina.Politizado, fundou em 1943, o Grupo Clã – vertente modernista da geração de 45 – onde fazia poesias plenas em metáforas e `temas recorrentes com morte e solidão.Era homem de ação – foi porta, contis-

A POESIA & O PRÍNCIPEta, ensaísta, bacharel em direito e letras, adido cultural na Argentina, chefe da casa de cultura brasileira em Madri, pre-sidente da Academia Cearense de Letras e também professor. Ganhou mais de 30 prêmios literários.Tirou o véu das palavras e descortinou outras tantas. Fazia uso do cinza do dia com o verde dos mares e o indômito das cavalgadas.Tinha um universo dentro de si e fez questão de mostra-lo.

o que você quer? gente que encanta

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portuguesacom certeza!

Maria RosalinaMaria Rosalina

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Para entender a vida de Rosali-na, é preciso an-tes ver o mundo em tempos idos e as circunstân-

cias que fizeram dela uma mulher de fibra, com sorri-so vasto e energia sem fim.

Por exemplo: O único atenta-do a vida do ditador português, ocorreu numa manhã de do-mingo e os anarquistas foram responsabilizados. Um dos au-tores perdeu um boné e este foi o único indício do crime, cuidadosamente preparado.

O sol estava em todo seu es-plendor numa manhã de julho de 1937. A missa de domingo fazia parte dos muitos rituais do português Antônio de Oliveira Salazar.

Seu carro, um buick, parou em frente da capela privada por volta das 10h20 e um estron-do sacudiu as Avenidas No-vas, em Lisboa, lançado terra e pedras pelos ares.Por causa de um erro, a bomba coloca-da a distância não atingiu o carro, permitindo ao ditador escapar, sacudir a poeira e assistir à missa como de cos-tume, sem mover um só mús-culo do rosto em demons-tração de espanto ou temor.

No mesmo ano, na mes-ma cidade, nascia Maria Rosalina Duarte Nunes da Cruz, filha única de Jacin-to Nunes e Olinda Duarte.

Aluna do colégio particu-lar, onde estudou durante os quatro anos primários, se for-mou no Liceu e sonhava em ser química analista, porém, ao visitar o pai no Brasil, em 1957, acabou ficando e vendo sua vida mudar radicalmente.

Ela partiu pela estação ma-rítima de Óbidos a bordo do navio de passageiros Vera Cruz, que podia transpor-tar 1.242 passageiros em três classes e onde várias autori-dades e personalidades cos-tumavam viajar a convite da companhia colonial de nave-gação, inclusive o presidente Getúlio Vargas, acompanha-do de sua esposa e de vários ministros, certa vez, partici-param de um almoço com autoridades portuguesas.

Era a primeira viagem de Ma-ria Rosalina e ela estava eufó-rica com tudo. O navio tinha salas de cinema, jardim de inverno, piscina e hospital. Eram tantas as distrações que ela nem percebeu o passar do tempo e quando viu, já ha-viam se passado seis horas e o Paquete fazia sua primeira

parada na Ilha da Madeira – no sudoeste da costa portuguesa, com origem vulcânica, muitas montanhas e profundos vales incrustados entre picos e fa-lésias. Rosalina só lamentou não ter feito nenhuma ami-zade para poder explorar a ci-dade e comentar o que via.

A segunda parada do navio só aconteceu em terras brasileiras e Recife foi quem a acolheu. O

pequeno povoado teve no sé-culo XVII uma igreja construída pelos pescadores em homena-gem à Nossa Senhora da Boa Viagem que a tornou famosa, mas a urbanização só foi ga-nhar vida no início do século XX, com a construção da Avenida Boa Viagem. Sempre foi cidade de veraneio, mas o primeiro ar-ranha – céu foi construído jus-to no ano da viagem de Maria Rosalina – o edifício Holiday – que contribuiu para que ela ad-mirasse um pouco mais Recife.

O Rio de Janeiro foi a terceira parada. A cidade ainda vibra-va com o enredo da escola de samba Portela, que se sagrou campeã naquele ano com o enredo sobre D. João VI e também com o documentá-rio chamado “O Bonde, esse eterno sofredor” do cineasta e fotógrafo Jean Manzon que retratava a vida carioca na dé-cada de 1950, desde as roupas, os costumes, uma feira-livre, o

portuguesacom certeza!Conexão Portugal x Brasil

Para entender a vida de Rosali-na, é preciso antes ver o mun-do em tempos idos e as cir-cunstâncias que fizeram dela uma mulher de fibra, com sor-riso vasto e energia sem fim.

Por exemplo: O único atentado a vida do ditador português, ocorreu numa manhã de do-mingo e os anarquistas foram responsabilizados. Um dos au-tores perdeu um boné e este foi o único indício do crime, cuidadosamente preparado.

O sol estava em todo seu es-plendor numa manhã de ju-lho de 1937. A missa de do-mingo fazia parte dos muitos rituais do português An-tônio de Oliveira Salazar.

Seu carro, um buick, parou em frente da capela privada por volta das 10h20 e um estron-do sacudiu as Avenidas No-vas, em Lisboa, lançado terra e pedras pelos ares.Por causa de um erro, a bomba colo-cada a distância não atingiu o carro, permitindo ao dita-dor escapar, sacudir a poei-ra e assistir à missa como de costume, sem mover um só músculo do rosto em demons-

tração de espanto ou temor.

No mesmo ano, na mesma cida-de, nascia Maria Rosalina Duar-te Nunes da Cruz, filha única de Jacinto Nunes e Olinda Duarte.

Aluna do colégio particu-lar, onde estudou durante os quatro anos primários, se for-mou no Liceu e sonhava em ser química analista, porém, ao visitar o pai no Brasil, em 1957, acabou ficando e vendo sua vida mudar radicalmente.

Ela partiu pela estação maríti-ma de Óbidos a bordo do navio de passageiros Vera Cruz, que podia transportar 1.242 passa-geiros em três classes e onde várias autoridades e persona-lidades costumavam viajar a convite da companhia colo-nial de navegação, inclusive o presidente Getúlio Vargas, acompanhado de sua esposa e de vários ministros, certa vez, participaram de um almoço com autoridades portuguesas.

Era a primeira viagem de Maria Rosalina e ela estava eufórica com tudo. O navio tinha salas de cinema, jardim de inverno, piscina e hospital. Eram tan-tas as distrações que ela nem

percebeu o passar do tem-po e quando viu, já haviam se passado seis horas e o Paquete fazia sua primeira parada na Ilha da Madeira – no sudoeste da costa por-tuguesa, com origem vul-cânica, muitas montanhas e profundos vales incrus-tados entre picos e falésias. Rosalina só lamentou não ter feito nenhuma amiza-de para poder explorar a ci-dade e comentar o que via.

A segunda parada do na-vio só aconteceu em ter-ras brasileiras e Reci-fe foi quem a acolheu. O

pequeno povoado teve no século XVII uma igreja construída pelos pescado-res em homenagem à Nos-sa Senhora da Boa Viagem que a tornou famosa, mas a urbanização só foi ganhar vida no início do século XX, com a construção da Ave-nida Boa Viagem. Sempre foi cidade de veraneio, mas o primeiro arranha – céu foi construído justo no ano da viagem de Maria Rosali-na – o edifício Holiday – que

por Caroline Moraes & Elisa Yule

história de vida I

Foto: Acervo pessoal

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Contribuiu para que ela admi-rasse um pou-co mais Recife.

O Rio de Janeiro foi a terceira parada. A ci-dade ainda vibrava com o enredo da escola de sam-ba Portela, que se sagrou campeã naquele ano com o enredo sobre D. João VI e também com o documen-tário chamado “O Bonde, esse eterno sofredor” do cineasta e fotógrafo Jean Manzon que retratava a vida carioca na década de 1950, desde as roupas, os costumes, uma feira-livre, o uniforme dos meninos e meninas saindo da es-cola, a farda quase militar do condutor do bonde. Ali, Rosalina almoçou e partiu para Santos, onde final-mente encontraria seu pai.

Situada no litoral do esta-do de São Paulo e com a maior participação eco-nômica da região, San-tos sempre foi o principal responsável pela dinâ-mica do turismo, da pes-ca e do comércio, justa-mente por ser a maior cidade do litoral paulista.

Seu pai a esperava em companhia de alguns amigos e, saudoso que estava da filha providen-ciou na véspera, junto as autoridades do porto, a documentação necessá-ria para que ela pudesse desembarcar horas antes do horário programado.

Ao chegarem a capital paulista, Rosalina conhe-ceu os arredores do par-que do Ibirapuera, uma região alagadiça em São Paulo, que havia sido parte de uma aldeia indí-gena no início da coloni-zação portuguesa e que

com o tempo se tornou uma área de chácaras e pastagens, para depois ser o melhor parque urbano.

Há muito relegado a se-gundo plano na vida cultu-ral e boêmia paulistana dos das atuais, o bairro de San-ta Cecília sempre penou com uma crise de identi-dade por se ver espremido entre o centro da cidade e Higienópolis, desprovido do charme do primeiro e a sofisticação do segundo. Mas foi na rua Barão de Ta-tuí, que Rosalina foi morar com o pai, dono do único bazar na região, que ven-dia desde eletrodomésti-cos, artigos de papelaria, perfumaria, até tabacaria, e era frequentado por po-líticos de renome como Ademar de Barros e a eli-te da rua Baronesa de Itu.

A vida foi melhorando e anos mais tarde, no mes-mo dia em que Brasília foi inaugurada, Jacinto abriu um restaurante chama-do “O Cantinho da Sau-dade”, na Alameda Barão de Piracicaba, bem ao

lado da antiga rodoviária de São Paulo, um dos pri-meiros locais na cidade a receber aparelhos de te-levisão em cores, o que atraia muitos interessa-dos em assistir aos jogos de futebol e curiosos em conhecer o belo chafariz em seu hall e todo o inte-rior decorado em pastilhas coloridas, que revelavam uma arquitetura bem dife-rente do que os paulistanos estavam habituados a ver.

No restaurante, o prato mais famoso era a ‘chispa-lhada à portuguesa’, prato feito com carne de porco com grão ou feijão, além da carne de chispe, que

de tão saboroso, mereceu crítica na coluna do jorna-lista Paulo Cotrim, do extin-to ‘jornal da tarde’ do grupo Estadão, nos idos de 1976.

Como nunca gostou de ficar parada, Rosalina fazia tricô e artesanatos para o bazar, além de estudar na Cultura Inglesa. Acalentava o sonho de ser pro-fessora de inglês, mas naquela época a sociedade não via com bons olhos o crescimento pro-fissional feminino e o pai não a deixou lecionar, que muito a frustrou – “ o guardei muitos ressentimentos sobre meu pai ter barrado meus sonhos e me impedido de viajar o mundo com minhas amigas e poder exercer a profissão que es-colhi, mas no fim da vida ele reconheceu ter criado empe-cilhos e me pediu desculpas”.

O pai não foi o único que a decepcionou. Quando moça, o sócio dele a pediu em casa-mento e quando foi rejeitado, além de tirar todo o dinheiro investido nos negócios, exe-cutou em parceria com um guarda-livros uma série de ne-gociatas e falcatruas que aca-baram por levar à falência todo o trabalho da vida de Jacinto.

Para não passar necessidades, Rosalina fez da máquina de tricô o seu ganha pão, dia e noite, enquanto Jacinto mon-tou um pequeno armazém de produtos de limpeza. Orgulho-so que era, se recusou a contar para a família em Portugal dos percalços e mesmo doente, se recusava a voltar por baixo.

Somente em 1994, aos 78 anos, Jacinto faleceu. Rosalina dedicou toda sua vida a cuidar do pai e atender aos seus ca-prichos. Dois meses depois de sua morte, então com 50 anos, ela finalmente se casa e vai vi-ver a vida como sempre quis.

história de vida I

Foto: Acervo pessoal

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1918

mulher guerreira

E De família humilde,Alice Ferreira Gusmão,61 anos, trabalhou desde adoles-cente na roça com seus pais, plantando café e

milho. A noite, ia para a escola jun-to com seus irmãos, no interior de São Paulo. Na cidade pequena to-dos se conheciam. Ela nunca foi na-moradeira por causa da timidez, mas sempre foi muito carismática.Aos 18 anos já mulher feita, pegou sua trouxa de roupa e partiu para cidade de Osasco, na grande São Paulo, para morar com seu irmão mas velho, An-tonio, que na época já era casado. En-cantada com a cidade grande, olhos esbugalhados ao se deparar com tan-tos prédios ao seu redor, carregan-do sua inseparável bolsinha de lado

e vestido florido, partiu em busca de emprego, o que acabou acon-tecendo em uma casa de família.Quando conheceu Geraldo Gusmão se encantou e sabia que ia dar casó-rio. Dito e feito, Francesli e Diego, são a prova do amor de seus pais.como não tinham casa pró-pria e pagava aluguel, preci-sava ajudar na renda de casa.Com o dinheiro curto e mais duas bocas para alimentar, além de pagar aluguel, havia a necessidade de ser criativa e inventar jeitos para com-plementar a renda. Alice então com dois filhos pequenos, aprendeu a fa-zer balas caseiras de coco, bolos e do-ces sob encomenda, aprendeu cor-tar cabelos e se tornou a especialista

MUlher Maravilha

em arrumar as noivas da família.Com o tempo, viu que sua ajuda para complementar a renda da fa-mília não estava sendo suficiente. Seu marido tinha uma pequena so-ciedade com o irmão para revenda de lâmpadas e o gasto com os filhos, já adolescentes, só aumentava… foi então que teve a ideia de abrir um pequeno bar e vendia doces, lan-ches, sorvetes e bebidas alcoólicas.Com o bar, ganhou uma sobrevi-da, mas viu os negócios do marido afundarem da mesma forma que ele se afundava na bebida. Foram períodos duros, com internações sucessivas em clinicas e clínicas de recuperação. Não havendo al-ternativa, toda a responsabilidade da casa ficou sobre suas costas, in-clusive a educação de seus filhos.Isso aconteceu há 16 anos. Hoje ela continua com o bar, s seu espo-so há anos não trabalha por cau-sa do alcoolismo, sua filha lhe deu um neto e Diego ainda é solteiro.Alice já passou e ainda passa por muitas dificuldades ,há 4 anos atrás mudou seu estabelecimento de lo-cal pois convivia dia e noite com o medo dos frequentadores que em sua maioria, eram usuários de dro-gas e alcoólatras e quando menos imaginava, se via com mãos para o alto, sob a mira de revólveres.Foi assim que juntou o pouco que ti-nha economizado, comprou terreno, construiu alguns cômodos e fez da-quele espaço seu novo comercio, onde vive rodeada de amigos e família. In-crementa a renda vendendo produ-tos de beleza, queijos, salgados e bo-los por encomendas , alem de massas caseiras frescas, que vendem muito.É …Alice nunca viveu no país das maravilhas, mas sempre man-teve a dignidade e carisma, sem medo de ser feliz ou de arriscar.

Alice Ferreira Gusmão, 61 anos

Marcio Cruz, Fotógrafo

Desembarcando em Caminito, Buenos Aires, encontrei este senhor no fundo de uma galeria de artes, em seu miúdo palco teatral, tocando típicas canções. Muito simpático, no entanto, com um olhar que revela solidão.

por Fabiana Oliveira & Elisa Yule

história de vida II #enquadreumvelho

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2120

O escritor, ig-nácio de loyola brandão, em seu livro “Você é jovem, vel-

ho ou dinossauro? ”, revela ter escrito um almanaque para o qual sempre guardou

material, desde que se con-hece por gente. são pequenas lembranças, sem maior importância, que definem os tempos vividos. como foi, fomos, a infância dele, casa, bairro, hábitos, a evolução das coisas e por aí vai.

No livro, ele mostra que po-demos ser mais jovens, que fa-tos que pareciam tão distantes estão perto...ou mais velhos, pois situações que pareciam próximas estão lá atrás, longe. Repasse um pouco do que vivenciou.

V o c ê é j o v e m , v e l h o o u d i n o s s a u r o ?

2. com um ano de idade, tirou uma foto pelada (o), deit-ada(o) em um sofá estampado com a bunda para cima?

3. Quando seus dentes estavam para nascer, sua mãe passou Nenê-Dent?

4. Quando fez seis anos, tirou uma foto de primeira co-munhão, num genuflexório, segurando uma vela na mão

e tendo como fundo uma imagem de cristo em papelão?

5. seus pais mandavam fazer uma sequência de fotos com você falan-do ao telefone montadas em um só quadro? Emoldurada, estava na

parede?

6. Pedia benção ao seu padrinho, beijava a mão, esperava que ele lhe desse um “quinhentão”?

7. Estudou pela cartilha caminho suave ou pela brasileirinho?

8. serrou madeirinhas, bordou tapetes em telas compradas prontas na loja, para os trabalhos manuais?

9. Escrevia a tinta e usava o mata-borrão

10. Estudou latim? se lembra de Qui, quae, quod? De Gallia est divi-sa in partes três? a citação se deformou na memória?

11. Divertiu-se relembrando isso tudo?

Confira o top 4 que separamos para você!

Era uma vez...

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2322

*Poliana de Freitas André, Fisioterapeuta do Hospital das Clínicas de São Paulo, Especialis-ta em Gerontologia e Idealizadora do Programa @quali_idade Envelhecimento Funcional.

ENVELHECIMENTO x

CAPACIDADE FUNCIONAL O envelhecimento é caracterizado por mudanças fisiológicas e alterações na composição corporal que causam declínio progres-sivo da capacidade funciona. carretando em diminuição progres-siva das habilidades motoras, sensitivas e do conhecimento. a

Oras, sensitivas e do conhecimen-to. a capacidade funcional (cF) é definida como a

habilidade física e mental para manter uma vida independen-te e autônoma, ou seja, é a ple-na realização de uma tarefa ou ação pelo indivíduo. a cF au-

menta durante a infância e atinge seu pico máximo nos primeiros anos da vida adul-ta, entrando em declínio em seguida. a velocidade do de-clínio é fortemente determi-nada por fatores relacionados ao estilo de vida, particular a cada pessoa, como tabag-ismo, consumo de bebida

alcoólica, nível de atividade física e alimentação. também devemos levar em consider-ação fatores externos a qual a pessoa foi exposta e o ambiente em que vive. Portanto, o env-elhecimento trata-se de uma experiência complexa, diversi-ficada e única que varia entre os indivíduos. É um processo, que vai depender da história de vida, dos hábitos e vícios, de fatores ordem genética, bi-ológica, social, ambiental, psi-cológica e cultural. a cF está diretamente relacionada à au-tONOMia, que é a capacidade de comando, decisão, autogov-erno. Quando a cF do indivíduo começa a declinar, aumenta a necessidade de cuidados ou de supervisão para as ativi-dades de vida diária. com a di-minuição das atividades do dia a dia, ocorre o enfraquecimen-to global da musculatura, que futuramente poderá ocasionar em quedas, síndrome da imo-bilidade, e complicações das doenças já associadas, gerando uma maior dependência, se-guida de hospitalização e insti-tucionalização, associado ainda a um maior custo financeiro e sobrecarga da família, e do cuidador. sendo assim, quan-do pensamos em idoso é mui-to importante determinarmos o grau de funcionalidade que ele apresenta, para não subes-timarmos sua condição inde-pendente ou exigir uma com-petência do que não é capaz.

Conforme o órgão, a população global aci-ma de 60 anos deve subir de cerca de 900

milhões (12,3%) em 2015 para 2,1 bilhões (21,5%) em 2050, quando o número de idosos será o mesmo que o de pessoas com até 15 anos. No mesmo período, a população acima de 60 anos do Brasil deve passar de 23 milhões (12,5%) para 63 milhões (30%), resultado da combinação entre o aumento da expectativa de vida e a dimi-nuição da taxa de natalidade.Mas viver mais não significa viver bem. Pesquisa divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz, em 2016, por exemplo, mostra que um em cada três idosos brasileiros tem alguma limi-tação funcional. Desse grupo, 80% contam com ajuda de

familiares para realizar algu-ma atividade da rotina, como vestir-se ou fazer compras.Além de prevenir e tratar as limitações funcionais ou adaptar os ambientes para que os idosos vivam melhor, o dado alerta para a necessidade de criação de alternativas para o cuidado com essa popula-ção, que levem em conta suas condições de saúde, familiares e econômicas. Inovações que são ainda mais urgentes no Rio Grande do Sul, Estado com

Saiba maisMatéria de Fernanda da Costa, publicitária da GaúchaZH

C o n h e ç a t r ê s s e r v i ç o s p a r a c u i d a r d o s i d o s o s

Prosa com especialista Serviços e Direitos

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maior percentual de idosos do país: 15,65%. Conheça alguns serviços que estão mudando a forma de cuidar desse público.Em caso de emergência, aperte o botãoComum na Europa, uma das tendências no cuidado com os idosos no Brasil tem sido a teleassistência, tecnologia que funciona graças à conexão de um botão de emergência, um aparelho de comunicação e uma central de atendimento. Quando o idoso aperta o botão, um inte-grante da central, que funciona 24 horas, entra em contato com ele por meio do aparelho.A teleassistência tem sido ofere-cida por cada vez mais em-presas no país, que vendem diferentes planos e equipa-mentos de monitoramento. Em Porto Alegre, a em-presária Marli Ellwanger decidiu investir na criação de um serviço do tipo em 2012 (irissenior.com.br).– Perguntamos ao idoso se precisa de ajuda e, quan-do necessário, acionamos o socorro. Caso ele não responda, entra em ação o plano escolhido pelos familiares, que pode ser contatá-los, chamar uma ambu-lância ou até arrombar a porta – explica Marli.Isso possibilita que as pessoas com mais de 60 anos peçam ajuda mesmo quando não têm condições de falar. Os botões são entregues aos idosos em dois modelos de acessórios: uma pul-seira ou um colar. Já o aparelho de comunicação, uma espécie de modem com um alto falante, é instalado na linha telefônica fixa da residência. É por meio dele que o idoso escuta a central de atendimento, sem precisar se deslocar para atender um telefo-ne, por exemplo.– Também temos um colar que, além do botão, tem um sensor

de queda. O aparelho aciona a central de atendimento quando o idoso cair, sem a necessidade de apertar o botão. É o mais vendido – completa Daniel Kara, diretor--executivo da empresa.Pelo alto-falante, o aparelho tam-bém pode avisar o idoso quando ele precisa tomar algum remédio, com mensagens gravadas.Engenheiro agrônomo aposenta-do, Helcio Antonio Ribeiro Gira-ffa, 86 anos, celebra na pulseira com o botão de emergência sua

privacidade. Por causa do serviço, o idoso afirma que os filhos não precisam contratar um cuidador para ficar 24 horas com ele.– Sei que é um aparelho, não uma pessoa, mas, com isso, não me sinto sozinho – relata o apo-sentado, que usa o acessório há três anos.Embora a pulseira seja à prova d’água, Helcio só a tira do pulso para tomar banho. Mas a deixa à vista, para que o botão seja facilmente acionado em caso de emergência. Conta que apertou algumas vezes dormindo, sem querer, mas precisou acionar aju-da médica em outubro deste ano:

– Não estava me sentindo bem, então pedi que chamassem a ambu-lância – conta.O filho Marcelo Martins Giraffa, 56 anos, apoia a decisão do pai de aceitar a teleassistência.– Como o pai mora sozinho, a gente sempre teve essa preocupação de, em uma emergência, ter o socorro imediato. Com essa tecnologia, a gente fica mais tranquilo – afirma o engenheiro civil.Se manter a autonomia é importan-te para quem está na terceira idade, a socialização também não deve ser esquecida. Um negócio que tem se espalhado no país busca justamente isso. Chamadas popularmente de “creches”, casas acolhem os idosos

durante um ou dois turnos do dia, nos quais eles realizam

diversas atividades. Algumas casas de repouso, onde as pessoas com mais de 60 anos ficam 24h, também prestam esse serviço, desenvolvendo oficinas para que os idosos passem parte do dia no local.

Em Porto Alegre, uma dessas casas foi criada neste ano pela

policial civil aposentada Délcia Marisa Krutzmann, que também

tem curso de cuidadora de idosos e uma empresa para recrutar e indi-car profissionais com essa formação (facebook.com/CuidadoresParaIdo-sos). Por não gostar do termo “cre-che”, a empresária prefere chamar o local de “casa de convivência”.– Percebi que havia uma lacuna entre o serviço das casas de repouso e dos cuidadores e criei um espaço para os idosos poderem se mexer, não ficarrem apenas olhando televi-são – explica Délcia.O espaço oferece atividades lúdicas em grupos, com objetivo de exer-citar a convivência, a coordenação motora e a memória. Há oficinas de culinária, jogos pedagógicos, terapia ocupacional e espaço para confec-ção de artesanato, por exemplo. O local atende mais de 30 idosos por semana, todas mulheres. Três

delas, que sofrem de Alzheimer, moram no local.– Há idosos que vêm aqui todo dia, outros uma vez por semana. Alguns ficam só quando os filhos têm com-promisso. Não temos horários fixos – completa a empresária.Artista plástica aposentada e autora de livros de poesia, Nair Oliveira da Silva Gama, 88 anos, é uma das moradoras do local.– Nunca gostei de ficar muito para-da. Acho que a convivência com as pessoas é uma coisa muito impor-tante, porque você adquire conhe-cimento. E o conhecimento te leva a uma abertura melhor para a vida, uma vida melhor.A aposentada Thereza Garate Por-ciuncula, 82 anos, passa manhãs e tardes no espaço, mas volta para casa à noite. Diz que não é muito boa nas atividades de culinária, mas adora pintar, desenhar e fazer tricô.– Gosto daqui porque é um lugar onde a gente está interagindo com as pessoas e fazendo trabalhos. A gente escolhe o que gosta mais e vai fazendo – relata a idosa, que era responsável pela contabilidade de uma clínica.Acompanhantes para consultas, passeios, festas e jogo de cartasInspirado nos profissionais que os hotéis disponibilizam para auxiliar os hóspedes em suas necessidades, outro serviço para idosos tem mo-tivado investimentos no país: o de concierges para a terceira idade. São pessoas que acompanham os idosos nas mais diversas situações: ir às compras, jogar cartas, ler, cozinhar

ou fazer artesanato, por exem-plo. Os concierges também pres-tam assessoria ou consultoria jurídica e financeira.Foi a partir de uma necessidade própria, a falta de tempo para levar a mãe idosa às constantes consultas médicas, que a em-presária Karen Garcia de Farias criou um serviço que oferece concierges para os mais velhos em Porto Alegre (ohanaconcier-gerie.com.br). Embora a maior demanda seja justamente por pessoas que levem os idosos ao médico, ela e a sócia Gisele Vara-ni também oferecem profissio-nais para acompanhar os vovôs em programações culturais ou de entretenimento.– A ideia é oferecer acompa-nhantes para onde a família dele, ou ele, necessitar. Alguns idosos passam muito tempo sozinhos – afirma Karen.Por isso, selecionaram concier-ges com formações diferencia-das, como enfermeiros, profes-sores e artesãos, que possam exercer a atividade na condição de freelancers.Para que seu pai, morador de um residencial para idosos, pudesse participar de uma festa de aniversário, o empresário Raphael Kalil Dabdab Neto, 44 anos, contratou um concierge. O acompanhante buscou o idoso na casa de repouso com um motorista, ficou com ele na festa e, depois, o levou de volta para a residência.

– O serviço atendeu nossa neces-sidade, que era levar meu pai à festa. Isso era uma lacuna de mercado, que agora trouxe con-forto e dignidade para os idosos – afirma Neto.O concierge foi o educador físico Lucas Andrei Witzel Rodrigues, 24 anos, que candidatou-se a uma vaga na empresa depois de conhecer o serviço pela internet. Depois de um curso de capacita-ção, foi chamado para o primeiro acompanhamento.– A gente ficou na festa, conver-sou sobre os membros da família e, quando ele quis ir embora, eu o levei. Achei a experiência muito boa, porque nem sempre a família quer um enfermeiro ao lado do idoso – afirma.Em busca da autonomia e da funcionalidadeServiços com o objetivo de garantir ou resgatar a autono-mia dos idosos podem ajudar a evitar a depressão, conforme a neuropsicóloga Neusa Chardo-sim, mestranda em Gerontologia Biomédica pela PUCRS. Segundo a OMS, a enfermidade, em está-gio que precisa de intervenção, é encontrada em 10% das pessoas acima dos 60 anos. Em idosos que moram em casas geriátricas, o índice salta para 40%.Ocasionada por doenças, menor capacidade de visão e audição, dificuldade para locomoção e diminuição de memória, a perda da autonomia é um dos aspectos que contribuem para

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que os idosos tenham baixa autoestima, conforme Neusa. Isso é intensificado, ainda, se o idoso é desrespeitado ou excluído. Esses fatores podem levar à introspecção, ao isola-mento e, até, à depressão.– O idoso não pode ser tratado como descartável, ele tem uma história e uma experiência que precisam ser respeitadas. A família precisa dar espaço, fazer com que ele continue ativo. Ele nunca pode se sentir excluído – explica a neuropsi-cóloga.Geriatra diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG) da PUCRS, Newton Luiz Terra reforça a importância da autonomia para o envelheci-mento saudável:– Todos nós queremos enve-lhecer com saúde, mas uma pessoa a partir dos 60 anos

tem, em média, 7,2 doenças. En-tão, é muito difícil encontrar um idoso completamente saudável. A grande questão é envelhecer com autonomia e independên-cia. É o sonho de todo mundo, envelhecer funcionalmente bem.A questão da capacidade funcio-nal citada por Terra é usada pela OMS para definir o conceito de envelhecimento saudável. No resumo do Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde, divulgado em 2015, o órgão dife-rencia a capacidade intrínseca, as capacidades físicas e mentais que um indivíduo possui, da capacidade funcional, a relação que esse indivíduo tem com os ambientes.Idosos com dificuldade de lo-comoção, mas com transporte adaptado, têm capacidade para deslocarem-se, por exemplo. “A

capacidade intrínseca é apenas um dos fatores que irão deter-minar o que uma pessoa mais velha pode fazer. O outro são os ambientes nos quais vivem e suas interações neles. Esses ambientes fornecem uma gama de recursos ou barreiras que decidirão se pessoas com um determinado nível de capacida-de pode fazer as coisas que con-sideram importantes”, afirma a OMS. Por isso, o órgão define o envelhecimento saudável como o desenvolvimento da capaci-dade funcional, que pode ser ampliada com novos serviços para os idosos.Serviços como grupos de con-vivência são excelentes, pois os idosos têm de se manter intelectualmente e socialmen-te ativos. Ser útil e ter alguma responsabilidade – completa Newton.

Onde, de fato. Já tive encontros memoráveis com amigas queridas, encontros de chorar e se comover entre a gôndola dos laticínios e a dos ‘matinais’ no supermercado perto de casa. sem falar nos encon-tros para jantar, celebrar aniversári-os, fazer cookies de Natal, camin-har…a gente se encontra nos fazeres da vida.tradicionalmente tem sido assim. Em tempos de muito mais controle sobre os corpos e as almas femini-nas, as mulheres eram autorizadas a se encontrar para bordar, tecer, costurar, sim, mas sobretudo para falar. trocar idéias, consolar, acon-selhar, acolher, desabafar, falar mal, ajudar a nascer e a morrer. Esse era o espírito dos encontros.Descubro no dicionário etimológico (tem coisa mais divertida do que di-cionários etimológicos?) que ‘gos-sip’, a palavra inglesa para fofoca, utilizada sobretudo em relação às

mulheres, vinha de ‘god-rel-ative’, alguma coisa como ‘parente de Deus’. a expressão veio do saxão, claro, e era usada para indicar a mulher que anunciava os nascimentos. a fala que anuncia acabou viran-do a fala que acusa, sabe-se lá como, que as línguas às vezes são assim, ferinas…Hoje nos encontramos na web!uma pesquisa do blogHer, a maior comunidade de blogs de mulheres, junto com o iVillage e a compass Partners, revelou que as mulheres americanas que utilizam a web já somam mais de 79 milhões. Mulheres de 17 a 77 anos! Dessas, mais da metade usam os espaços de in-teração da internet, como blogs, comunidades, redes sociais. Ou seja, algo em trono de 40 milhões de mulheres. 90% leem blogs e 51% escrevem neles.

Por quê? Das que escrevem, 76% buscam diversão, 73% querem expressar ideias e pontos de vista, 59% querem se conectar com os outros, 54% usam o blog como diário.É, as mulheres estão na web. Postando, comentando, lendo, compartilhando favoritos, adi-cionando amigos…Por isso, esse post torna-se um convite, uma convocação, uma provocação!Por que não aproveitar um espaço para encontrar outras mulheres, iguais, diferentes, mas vivendo este mesmo tempo estranho de mudanças, checklist da bagagem da alma em direção ao ‘daqui para frente’?a sua vida, a nossa vida, não seria tão diferente se nos soubéssemos tão irmãs?

por Adília Belotti e Lélia A‘Os homens, a gente sabe que eles se encontram entre um copo e outro de cerveja, mas as mulheres, onde se encontram as mul-heres?’, perguntava a Re hoje de manhã.

Aos encontros, vamos?

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Um homemsolitário, que sabe o que quer e não

cede “isso” de sua magnífica solidão.

NOTA PUBLICADA PELOS EDITORES DE “O JORNAL : NA EDIÇÃO 16/10/1964

Página 3 do 2° Caderno, coluna “Jornal de Antô-nio Maria”: “Anteontem à tarde, quando escrevia esta crônica para O Jor-nal, talvez a última de sua agitada vida de impeni-tente amante da beleza e de inimigo irredutível das coisas convencionais,

Antônio Maria suplicava por um pouco de poesia para descrever mais uma figura humana — o seu assunto predileto. Não ti-nha por que suplicar De poesia era um Midas, um perdulário Midas que em tudo que tocava convertia em lirismo, mesmo nos

amargos momentos em que descia do devaneio para ásperos reencontros com os raros inimigos que encontrou, na músi-ca, nas letras de sambas e canções e em escassos distúrbios políticos. Aí está a última crônica de Antônio Maria.

Quem me dera um pouco de poesia, esta manhã, de simplicidade, ao

menos para descrever a ve-lhinha do Westfália! É uma velhinha dos seus seten-ta anos, que chega todos os dias ao Westfália (dez e meia, onze horas), e tudo daquele momento em dian-te começa a girar em torno dela. Tudo é para ela. Quem nunca antes a viu, chama o garçom e pergunta quem ela é. Saberá, então, que se trata

de uma velhinha “de muito valor”, professora de inglês, francês e alemão, mas “uma grande criadora de casos”.Não é preciso perguntar de que espécie de casos, por-que, um minuto depois, já a velhinha abre sua mala de James Bond, de onde reti-ra, para começar, um copo de prata, em seguida, um guardanapo, com o qual começa a limpar o copo de prata, meticulosamente, por dentro e por fora. Vol-ta à mala e sai lá de dentro

por Antônio Maria

com uma faca, um garfo e uma colher, também de prata. Por último o prato, a única peça que não é de prata. Enquanto asseia as “armas” com que vai co-mer, chama o garçom e manda que leve os talheres e a louça da casa. Um gesto soberbo de repulsa.O garçom (brasileiro) tenta dizer alguma coisa amá-vel, mas ela repele, por considerar (tinha razão) a pronúncia defeituosa. E diz, em francês, que é uma

Uma velinha

pena aquele homem ten-tar dizer todo dia a mes-ma coisa e nunca acertar. Olha-nos e sorri, absolu-tamente certa de que seu espetáculo está agradan-do. Pede um filet e reco-menda que seja mais bem do que malpassado. Reco-menda pressa, enquanto bebe dois copos de água mineral. Vem o filet e ela, num resmungo, manda voltar, porque está cru. Vai o filet, vol-ta o filet e ela o devolve mais uma vez alegan-do que está assado de mais. Vem um novo fi-let e ela resolve aceitar, mas, antes, faz com os ombros um protesto de resignação.Pela descrição, vocês irão supor que essa velhinha é insuportável. Uma cha-ta. Mas não. É um encan-to. Podia ser avó da Grace Kelly. Uma mulher que luta o tempo inteiro pelos seus gostos. Não nego-cia sua comodidade, seu conforto. Não confia nas

louças e nos talheres daquele restaurante de aparência lim-píssima.Paciência, traz de sua casa, lavados por ela, a louça, os ta-lheres e o copo de prata. Um dia o garçom lhe dirá um

palavrão? Não acredito. A ve-lhinha tão bela e frágil por fora, magrinha como ela é, se a gente abrir, vai ver tem um homem dentro. Um homem solitário, que sabe o que quer e não cede “isso” de sua mag-

nífica solidão.seus milhares de lei-tores, refletindo a sua irrequieta e não raro incompreendida perso-nalidade. Aqui cantava a sua poesia e opinava sobre tudo e sobre to-dos. É com tristeza que publicamos essa edição

do Jornal de Antônio Maria. Some daqui um traço constante de alegria, de exalta-ção à beleza e de exu-berância humana. Todos sentimos pro-fundamente a sua irremediável parti-da. Os seus compa-nheiros de jornalis-mo, os seus leitores,

todos”.Texto extraído do li-vro “Com Vocês,Antô-nio Maria”, Editora Paz e Terra - Rio de Janei-ro, 1964, pág. 262. (Vo-cês,Antônio Maria”, Edi-tora Paz e Terra - Rio de Janeiro, 1964,

pág. 262.

crônicas

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Níveis de Vitamina D no corpo do idoso tendem a ser baixos, e

isso pode atrapalhar a habilidade se absorção do cálcio. Vitamina

D e cálcio trabalham em harmo-nia para ajudar a manter ossos

saudáveis.

VITAMINA D E CÁLCIO

São nutrientes essenciais para a saúde

dos ossos,

NUTRIÇÃO BALANCEADA & ATIVIDADE FÍSICA

OS SEGUINTES NUTRIENTES DESEMPENHAM UM PAPEL IMPORTANTE EM AUxILIAR O CORPO DO IDOSO A TER O DESEMPENHO PRÓxIMO AO IDEAL:

Tolice assumir que o declínio da função corporal é simples-mente parte do envel-hecimento. Do que se é conhecido até o mo-

mento, a ciência mos-tra que muito pode ser feito para auxiliar o “relógio biológico”. Nutrição balanceada e atividade física reg-

ular são importantes pontos para uma boa saúde. Os benefícios são aplicáveis para qualquer idade.

Muria me tes fordintio, que ium cerris cricae tra? Palem conteris suam, que nostesin ad mussolu-

dam hostem ercentrica; num nos rehenar ivatiquod sulis, senden-

dam. Ast patiam temum cibus condet estatum factus lostem

A água está envolvida em praticamente todos processos metabólicos

Cartilagem é o componente chave das articulações. Juntos, músculos, ossos e cartilagens desempenham um papel chave nas atividades diárias.

VITAMINA C

Contribui para a formação normal do colágeno, e contribui para o funcionamento normal da cartilagem,

INGESTÃO ADEQUADA DE FLUíDOS é NECESSÁRIA

Alimentação

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Quem me dera um pou-co de poesia, esta ma-nhã, de simplicidade, ao menos para des-

crever a velhinha do Westfália! É uma velhinha dos seus se-tenta anos, que chega todos os dias ao Westfália (dez e meia, onze horas), e tudo daquele momento em diante começa a girar em torno dela. Tudo é para ela. Quem nunca antes a viu, chama o garçom e pergun-ta quem ela é. Saberá, então, que se trata de uma velhinha “de muito valor”, professora de inglês, francês e alemão, mas “uma grande criadora de casos”.Não é preciso perguntar de que espécie de casos, porque, um minuto depois, já a velhi-nha abre sua mala de James Bond, de onde retira, para co-meçar, um copo de prata, em seguida, um guardanapo, com o qual começa a limpar o copo de prata, meticulosamente, por dentro e por fora. Volta à mala e sai lá de dentro com uma faca, um garfo e uma co-lher, também de prata. Por último o prato, a única peça que não é de prata. Enquan-to asseia as “armas” com que vai comer, chama o garçom e manda que leve os talheres e a louça da casa. Um gesto soberbo de repulsa.O garçom (brasileiro) tenta dizer alguma coisa amável, mas ela repele, por conside-rar (tinha razão) a pronún-cia defeituosa. arte de rua