Resumos de Português: Sermão de Santo António aos Peixes

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Padre António Vieira "Sermão de Santo António aos Peixes" sermão: http://portuguesonline2.no.sapo.pt/sermaointegral.htm Objetivos do Sermão: Esta obra foi proferida na cidade de São Luís do Maranhão, no ano de 1654, no decorrer de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil. O sermão constitui um documento imaginação, habilidade oratória e poder de satirização do Padre António Vieira. O sermão tem como objetivo louvar algumas virtudes do homem, mas principalmente censurar os vícios dos colonos (“peixes grandes que comem os pequenos”). Para isto, o padre toma vários peixes como símbolos: roncador (o orgulhoso), voador (o ambicioso), pegador (o parasita) e o polvo (o traidor, mais traidor que o próprio Judas). Este sermão, foi pregado no dia 13 de Junho (Dia de Santo António) três dias antes de Padre António Vieira embarcar ocultamente (a furto) para Portugal, para obter uma legislação justa para os índios. É todo ele composto por alegorias (metáforas, comparações, utilizadas para concretizar um pensamento ou uma realidade abstrata) , pois os peixes são a personificação dos homens. Estilo: O estilo de Padre António Vieira remete para uma vertente medieval que assenta na alegoria, mas também para o barroco. Barroco : o sermão insere-se no Barroco, que se caracteriza pela utilização de contrastes, pelo pessimismo, pela presença de impressões sensoriais, pela preocupação com a duração da vida, pela linguagem erudita e trabalhada e pela tentativa da conciliação entre a religião e o racional. É associado a exageros quer na linguagem, quer na transmissão de ideias e pensamentos e quer também na arte. Desta forma, nos seus sermões convivem o concetismo e o cultismo da arte barroca, na técnica do docere, do delectare e do movere. Para esse desempenho usou: polissíndetos, assíndetos , sinédoques , comparações, anástrofes, exclamações, trocadilhos, paralelismos anafóricos, antíteses, anáforas. Estrutura:

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Padre António Vieira "Sermão de Santo António aos Peixes"sermão: http://portuguesonline2.no.sapo.pt/sermaointegral.htm

Objetivos do Sermão:

Esta obra foi proferida na cidade de São Luís do Maranhão, no ano de 1654, no decorrer de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil. O sermão constitui um documento imaginação, habilidade oratória e poder de satirização do Padre António Vieira.O sermão tem como objetivo louvar algumas virtudes do homem, mas principalmente censurar os vícios dos colonos (“peixes grandes que comem os pequenos”). Para isto, o padre toma vários peixes como símbolos: roncador (o orgulhoso), voador (o ambicioso), pegador (o parasita) e o polvo (o traidor, mais traidor que o próprio Judas).Este sermão, foi pregado no dia 13 de Junho (Dia de Santo António) três dias antes de Padre António Vieira embarcar ocultamente (a furto) para Portugal, para obter uma legislação justa para os índios. É todo ele composto por alegorias (metáforas, comparações, utilizadas para concretizar um pensamento ou uma realidade abstrata), pois os peixes são a personificação dos homens.

Estilo: O estilo de Padre António Vieira remete para uma vertente medieval que assenta na alegoria, mas também para o barroco.

Barroco: o sermão insere-se no Barroco, que se caracteriza pela utilização de contrastes, pelo pessimismo, pela presença de impressões sensoriais, pela preocupação com a duração da vida, pela linguagem erudita e trabalhada e pela tentativa da conciliação entre a religião e o racional. É associado a exageros quer na linguagem, quer na transmissão de ideias e pensamentos e quer também na arte.

Desta forma, nos seus sermões convivem o concetismo e o cultismo da arte barroca, na técnica do docere, do delectare e do movere. Para esse desempenho usou: polissíndetos, assíndetos, sinédoques, comparações, anástrofes, exclamações, trocadilhos, paralelismos anafóricos, antíteses, anáforas.

Estrutura:

Introdução (Exórdio ou Intróito - ideia sumária da matéria que vai ser tratada)

CAPÍTULO I

Apresentação do tema, a partir do versículo de São Mateus, “Vós sois o sal da terra”, referente aos pregadores, cuja função é “salgar”, ou seja, pregar a boa doutrina, e verificando que a terra “não se deixa salgar”, porque se encontra dominada pela corrupção. Vieira vai pregar aos peixes, à maneira de Santo António, que a eles pregou, por não ter sido atendido pelos homens.

Apresentação do tema, partindo do conceito: Vos estis sol terrae (vós sois o sal da terra); Exploração do tema;

pregadores - o sal impede a corrupção dos alimentos; os pregadores impedem a corrupção da sociedade, pregando a palavra de Deus.

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Panegírico a Santo António; Invocação à Virgem Maria

O capítulo começa com um conceito predicável (Vós sois o sal da terra), seguindo-se a descrição da corrupção que se faz viver na Terra. É nos explicada a função do sal (impedir a corrupção) e é feita uma referência clara aos padres e pregadores (aqueles que têm o ofício do sal). É nos então colocada a questão “qual a causa da corrupção?”. Segue-se pois um trocadilho de questões, tais como: “Será a terra que não se deixa salgar (os ouvintes não querem ouvir), ou será que os pregadores não pregam a verdadeira doutrina? Ou porque os ouvintes a ouvem, mas não praticam o que lhes é ensinado, ou porque o pregador prega a si e não a Cristo. Ou ainda, que os ouvintes ouvem, mas não servem a Cristo, antes sim aos seus apetites.” É então explicado que, se o sal não salga a terra, é porque o pregador não prega a verdadeira doutrina e por isso deve ser lançado fora como um inútil e ser pisado por todos. E à terra que não se deixa salgar, deve-se seguir o exemplo de Santo António quando pregou contra os hereges em Itália: mudar de auditório. E é isto que faz o padre António, à semelhança de Santo António, mudando de auditório, escolhendo como ouvintes os peixes ao invés dos homens, que se recusam a ouvi-lo. O pregador invoca no final Nossa Senhora porque era habitual fazê-lo nesta época, ainda mais porque Maria quer dizer Senhora do Mar.

PROPRIEDADESSal Pregadores

Conservar Evitar a corrupção

Louvar o bem Impedir o mal

A TERRA ESTÁ CORROMPIDAPorque o sal não salga Porque a terra não se deixa salgar

Motivo: Os pregadores não pregam a verdadeira

doutrina; Os pregadores dizem uma coisa e fazem

outra; Os pregadores prega-se a si mesmos e não a

Cristo.

Motivo: Os ouvintes não querem receber a

verdadeira doutrina; Os ouvintes querem imitar o que os

pregadores fazem e não o que dizem; Os ouvintes querem servir os seus apetites e

não a Cristo.

O que se há-se fazer quando não cumprem as suas funçõesAos pregadores

Resposta de Cristo: desprezar os maus pregadores

Aos ouvintesResposta de Santo António:

muda-se o auditório

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Desenvolvimento (Exposição e Confirmação - apresentação circunstanciada de uma matéria didática e desenvolvimento/apresentação de provas dos factos)

CAPÍTULO II

Proposição - apresentação do assunto do sermão Início da alegoria Divisão

CAPÍTULO III

Louvores em geral e em particular. Louvores em geral: “Ao menos têm os peixes duas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam (…).” No entanto são os únicos animais que não se deixam domesticar - não se deixam converter. Início da confirmação Louvores em particular: peixe Tobias, rémora, torpedo, quatro-olhos.

Virtudes em geral: São obedientes, ouvem e não falam; Foram os primeiros animais a serem criados; São os mais numerosos e volumosos; Não são domesticáveis, presos, virgens.

Virtudes em particular:

Peixe Virtudes Efeitos Comparação RazõesTobias Tira as entranhas

de uma peixe que o queria tragar.O fel sara a cegueira; O coração afasta os demónios

Sarou a cegueira do pai; Lançou fora os demónios de sua casa

Santo António Abria a boca contra os hereges;Aluminava e curava a cegueira; Lançava os demónios

Rémora Pequena no corpo;Grande na força e no poder

Pega-se ao leme de uma nau;Impede que ela avance

Santo António A língua de Santo António domou as paixões humanas

Torpedo Produz energia Faz tremer o braço do pescador;Impede que o pesquem

Santo António A língua de Santo António domou as paixões humanas

Quatro-Olhos Dois olhos olham para cima;Dois olham para baixo

Defende-se dos peixes;Defende-se das aves

Pregador O peixe ensinou o pregador a olhar para cima (céu) e para baixo (inferno)

CAPÍTULO IV

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1ª repreensão dos peixes em geral: 1) A ictiofagia (os peixes comem-se uns aos outros)2) Amplificação da repreensão (os maiores comem os mais pequenos)3) Estes são comparáveis ao Homem: "Ao morto, come o herdeiro, como o testamenteiro, come o

legatário, o médico, o sangrador, a viúva, o coveiro, o que tange os sinos, o que lhe canta e o que o enterra. Enfim, ainda o podre defunto o não comeu a terra e por toda a terra já foi comido"

2ª repreensão dos peixes em geral: a ignorância e a cegueira dos peixes

CAPÍTULO V

Repreensões em particular: roncadores (vício/vaidade); pegadores (crítica o parasitismo - escravização dos índios); voadores (os ambiciosos - esquecem-se que são peixes e querem voar mais alto); polvo (a traição, a falsidade, a hipocrisia)

Peixes Simbolizam Características de Santo AntónioRoncadores Arrogância e orgulho Era detentor do saber e do poder e não se

vangloriava por issoPegadores Parasitismo e adulação Pegou-se somente a CristoVoadores Ambição e presunção Tinha asas (sabedoria) e não as usou para

exibição do seu valorPolvos Traição Esteve sempre afastado da traição, sempre

houve verdade e sinceridade

Conclusão (Peroração ou Epílogo - parte final do discurso)

CAPÍTULO VI

Apelo, incitamento, elevação:1) os peixes estão acima dos outros animais2) os peixes estão acima do pregador

As últimas palavras são as que a memória dos ouvintes mais retêm. Assim, o padre sintetiza os argumentos fundamentais reafirmando a importância da tese. O orador recapitula o seu discurso e usa um desfecho vibrante para impressionar o auditório e para o exortar a pôr em prática os seus ensinamentos.

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