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1 A CARTOGRAFIA DA CRIMINALIDADE NO MUNICÍPIO BRASILEIRO DE GOIÁS-GO (2001-2010) Marcello Rodrigues Siqueira 1 RESUMO: Nesta pesquisa procurou-se identificar os fatores que determinaram ou que contribuíram para a criminalidade na cidade de Goiás/GO no período compreendido entre 2001 e 2010. Do ponto de vista teórico, buscou-se suporte na teoria econômica fundamentada a partir das considerações de Becker (1968) e, sobretudo, em alguns dos principais trabalhos de Michel Foucault como Microfísica do poder (1979), Em defesa da sociedade (1999); e Vigiar e punir (2008). A partir dos conceitos de má distribuição de renda, das relações pessoais, da desestrutura familiar, da baixa educação formal e do desemprego, evidencia-se que a criminalidade começa a se apresentar com maior frequência nas cidades, à medida que estas se desenvolvem. Metodologicamente, a pesquisa se organizou em forma de cartografia, não no sentido de mapa, mas no sentido de descrição/mapeamento da história da criminalidade no município de Goiás-GO conforme Rolnik (1989). Entre as principais fontes de pesquisa destacam-se os boletins de ocorrência levantados junto ao 6° Batalhão de Polícia Militar. Em relação aos resultados foi possível verificar que uma parcela significativa dos crimes está relacionada a fatores econômicos, seja por motivação principal, seja pelo fato de haver uma forte relação entre baixos rendimentos e condições precárias de subsistência. A situação de desemprego compromete o futuro do indivíduo e seu desempenho socioeconômico, tornando necessária a compreensão do fenômeno da exclusão no mercado de trabalho, com vistas a viabilizar a integração social e econômica dos mesmos. PALAVRAS-CHAVE: História. Desenvolvimento. Criminalidade. Cartografia. Goiás. 1 INTRODUÇÃO Estudos sobre criminalidade são importantes tendo em vista os impactos que tal variável tem sobre o crescimento econômico e o bem-estar da população (DA MATA et al., 2005; 2006). No caso brasileiro, a discussão sobre o tema é ainda mais relevante, visto que nos últimos anos verificam-se elevações nas taxas de criminalidade. Nesse sentido, um dos principais desafios do Estado brasileiro é o de formular e implementar políticas que permitam prevenir e reduzir a criminalidade e a violência. Para tanto, é de fundamental importância o desenvolvimento de pesquisas que permitam monitorar e melhorar o entendimento das tendências espaciais e temporais da criminalidade. 1 Professor efetivo da Universidade Estadual de Goiás, Campus Iporá (UEG-Iporá). Doutorando em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED) junto ao Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsista de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás Fapeg (FAPEG). E-mails: [email protected] ou [email protected]

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A CARTOGRAFIA DA CRIMINALIDADE NO MUNICÍPIO BRASILEIRO DE

GOIÁS-GO (2001-2010)

Marcello Rodrigues Siqueira1

RESUMO: Nesta pesquisa procurou-se identificar os fatores que determinaram ou que

contribuíram para a criminalidade na cidade de Goiás/GO no período compreendido entre

2001 e 2010. Do ponto de vista teórico, buscou-se suporte na teoria econômica fundamentada

a partir das considerações de Becker (1968) e, sobretudo, em alguns dos principais trabalhos

de Michel Foucault como Microfísica do poder (1979), Em defesa da sociedade (1999); e

Vigiar e punir (2008). A partir dos conceitos de má distribuição de renda, das relações

pessoais, da desestrutura familiar, da baixa educação formal e do desemprego, evidencia-se

que a criminalidade começa a se apresentar com maior frequência nas cidades, à medida que

estas se desenvolvem. Metodologicamente, a pesquisa se organizou em forma de cartografia,

não no sentido de mapa, mas no sentido de descrição/mapeamento da história da

criminalidade no município de Goiás-GO conforme Rolnik (1989). Entre as principais fontes

de pesquisa destacam-se os boletins de ocorrência levantados junto ao 6° Batalhão de Polícia

Militar. Em relação aos resultados foi possível verificar que uma parcela significativa dos

crimes está relacionada a fatores econômicos, seja por motivação principal, seja pelo fato de

haver uma forte relação entre baixos rendimentos e condições precárias de subsistência. A

situação de desemprego compromete o futuro do indivíduo e seu desempenho

socioeconômico, tornando necessária a compreensão do fenômeno da exclusão no mercado de

trabalho, com vistas a viabilizar a integração social e econômica dos mesmos.

PALAVRAS-CHAVE: História. Desenvolvimento. Criminalidade. Cartografia. Goiás.

1 – INTRODUÇÃO

Estudos sobre criminalidade são importantes tendo em vista os impactos que tal

variável tem sobre o crescimento econômico e o bem-estar da população (DA MATA et al.,

2005; 2006). No caso brasileiro, a discussão sobre o tema é ainda mais relevante, visto que

nos últimos anos verificam-se elevações nas taxas de criminalidade. Nesse sentido, um dos

principais desafios do Estado brasileiro é o de formular e implementar políticas que permitam

prevenir e reduzir a criminalidade e a violência. Para tanto, é de fundamental importância o

desenvolvimento de pesquisas que permitam monitorar e melhorar o entendimento das

tendências espaciais e temporais da criminalidade.

1 Professor efetivo da Universidade Estadual de Goiás, Campus Iporá (UEG-Iporá). Doutorando em Políticas

Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED) junto ao Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do

Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsista de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás –

Fapeg (FAPEG). E-mails: [email protected] ou [email protected]

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Segundo Araújo Jr. e Fajnzylber (2001b), a criminalidade é um importante

problema social, econômico e político que deve ser enfrentado. É um problema social porque

afeta diretamente a qualidade e expectativa de vida das populações. É um problema

econômico porque, de um lado, a sua intensidade está associada às condições econômicas e,

de outro, limita o potencial de desenvolvimento das nações. Finalmente, a criminalidade é um

problema político, uma vez que as ações necessárias para combater o crime envolvem a

participação ativa dos governos e a alocação de recursos públicos escassos em detrimento de

outros objetivos de políticas públicas.

Um dos primeiros pesquisadores a tentar mensurar a importância de fatores

econômicos na determinação da variação das taxas de criminalidade foi Fleisher (1966). Em

seu estudo, o autor relaciona empiricamente as taxas de delinquência juvenil em algumas

cidades americanas às taxas de desemprego específicas desse grupo etário. Utilizando técnicas

que exploram os aspectos de séries temporais da amostra, este autor observa efeitos positivos

e significativos entre desemprego e criminalidade.

Apesar do pioneirismo do trabalho, Fleisher (1966) não tinha, até então, suporte

na teoria econômica para seus resultados empíricos. Becker (1968) preencheu essa lacuna

apresentando um modelo microeconômico. Para o referido autor, as escolhas dos criminosos

para cometer um crime é um comportamento racional em que se comparam os custos e

benefícios com o resultado incerto de sucesso ou de ir para a cadeia. O autor vê a atividade

criminosa como um investimento: leva-se em conta o risco, obtém-se um alto retorno

esperado. Se o individuo tem um comportamento racional ele irá fazer a escolha com o maior

retorno e escolhera cometer um crime se os retornos esperados forem maiores que os custos

diretos, mais os custos psicológicos, mais a punição esperada, mais os salários de mercado.

A base da abordagem econômica do crime defendida por Becker (1968) é o

pressuposto de que as pessoas envolvidas com o sistema legal agem como maximizadores

racionais de sua satisfação. Assim, a partir dos conceitos de má distribuição de renda, das

relações pessoais, da desestrutura familiar, da baixa educação formal e do desemprego,

evidencia-se que a criminalidade começa a se apresentar com maior frequência nas cidades, à

medida que estas se desenvolvem. Daí, a necessidade de se identificar os fatores que

determinam ou que contribuem para a ocorrência criminal na cidade de Goiás-GO.

No Brasil, alguns trabalhos empíricos sobre criminalidade podem ser citados. No

estudo de Andrade e Lisboa (2000), analisa-se o comportamento da taxa de homicídio na

população masculina relacionando-a com variáveis econômicas dos Estados de Minas Gerais,

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Rio de Janeiro e São Paulo para o período de 1981 a 1997. Os principais resultados

encontrados pelos autores mostram uma relação negativa entre salário real e homicídios

existentes apenas para os mais jovens (15 a 19 anos): os coeficientes não são significativos

para a população de maior idade, com exceção de algumas faixas etárias acima dos 30 anos,

em que o coeficiente respectivo é positivo. Além disso, os autores concluíram que a relação

entre desemprego e homicídios também é negativa para os mais jovens, mas que tal relação

aumenta com a idade, tornando-se próxima de zero acima dos 20 anos. A metodologia

adotada permitiu encontrar evidências acerca do efeito da inércia criminal, na medida em que

as gerações que têm maior incidência nos homicídios quando jovens tendem a perpetuar as

maiores probabilidades de vitimização pelo resto do ciclo de vida.

Carrera-Fernandez e Pereira (2000), por sua vez, estudaram a criminalidade na

região metropolitana de São Paulo, por meio das taxas de ocorrências agregadas e de dois

tipos específicos de crime: roubo e roubo de veículos. Os resultados obtidos são, em geral,

esperados pela teoria econômica: a redução dos índices de desemprego e de Gini, bem como a

melhoria no rendimento médio do trabalho, contribuem para reduzir a atividade criminal.

Mendonça (2001) faz uma análise empírica dos determinantes econômicos do

crime para todos os estados do Brasil. O autor estende os modelos econômicos do crime já

conhecidos no sentido de incorporar um mecanismo específico pelo qual a desigualdade de

renda atua sobre a criminalidade. Após controlar pela renda média das famílias, pelo PIB per

capita, pelos gastos públicos com segurança, pelos efetivos policiais, pela taxa de urbanização

e pela taxa de desemprego, o autor obtém coeficientes com os sinais esperados para todas as

variáveis de controle utilizadas, e a desigualdade, em particular, medida pelo índice de Gini,

tem o efeito de aumentar o crime.

Em Araújo Jr. e Fajnzylber (2001a) são estudados os determinantes econômicos e

demográficos das taxas de homicídios abrangendo estados da federação no período de 1981 a

1996. Inicialmente, mostra-se que o ciclo de vida dos homicídios é característico, ou seja, em

formato de “U” invertido (com pico em aproximadamente 32 anos). Além disso, na análise da

determinação da criminalidade, as taxas de desigualdade, o nível de renda e o desemprego

mostram-se relevantes para explicar a incidência de homicídios na mesma. Por último, os

autores mostram que as variáveis sugeridas pelo modelo econômico afetam os homicídios de

forma diferenciada, dependendo da faixa etária dos indivíduos.

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Cerqueira e Lobão (2003) desenvolvem um modelo teórico e fazem uma aplicação

econométrica para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, compreendendo o período de

1981 a 1999, a fim de estimar as elasticidades de curto e longo prazos relacionadas às

variáveis listadas no modelo teórico. Segundo esse modelo, os homicídios respondem

positivamente à renda, à desigualdade da renda e ao adensamento demográfico e

negativamente aos gastos em segurança pública com um período de defasagem. Contudo,

enquanto as magnitudes das elasticidades associadas à desigualdade da renda mostraram-se

extremamente elevadas – indicando que a questão da criminalidade nesses dois estados passa,

certamente, pelo problema da exclusão social, cuja desigualdade da renda é a ponta do iceberg

–, por outro lado, aquelas elasticidades associadas aos gastos em segurança pública resultaram

extremamente inelásticas, aproximando-se de zero, o que poderia sugerir a exaustão do

modelo de segurança pública, principalmente no que se refere à polícia.

Carvalho, Cerqueira e Lobão (2005) procuram-se algumas evidências acerca da

relação entre situação socioeconômica e a probabilidade de vitimização no Brasil, tomando

como unidade de análise os 5.507 municípios brasileiros. O artigo conclui que quanto maior é

a proporção de indivíduos em situação de exclusão e vulnerabilidade socioeconômica, maior é

a probabilidade de vitimização no município em questão.

Enfim, os referidos trabalhos empíricos utilizando dados de criminalidade para o

Brasil mostram que o crime pode estar relacionado às variáveis socioeconômicas. A partir

desta perspectiva, buscar-se-á no presente artigo entender o papel destes indicadores no

crescimento da criminalidade no município brasileiro de Goiás no período compreendido

entre 2001 e 2010.

2 – MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa se desenvolverá em forma de cartografia, não no sentido de mapa, mas

no sentido de descrição/mapeamento da história da criminalidade no município de Goiás-GO.

Rolnik (1989) assim caracteriza o papel do cartógrafo:

[...] O cartógrafo absorve matérias de qualquer procedência [...]. Todas as entradas

são boas, desde que as saídas sejam múltiplas. Por isso o cartógrafo serve-se de

fontes as mais variadas, incluindo fontes não só escritas e nem só teóricas [...]. O

que ele quer é se colocar, sempre que possível, na adjacência das mutações das

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cartografias [...] o que quer é apreender o movimento que surge da tensão fecunda

entre fluxo e representação: fluxo de intensidades e escapando do plano de

organização de territórios, desorientando suas cartografias, desestabilizando suas

representações e, por sua vez, representações estancando o fluxo, canalizando

intensidades, dando-lhes sentido (ROLNIK, 1989, p. 68-69).

O cartógrafo é aquele que acompanha todas as transformações da paisagem,

enquanto produz sua representação. Para produzir a cartografia a documentação pode ser

vasta ou escassa. Cabe ao historiador saber aproveitar informações, manuseá-las, ousar,

interrogar e lapidar, trazendo à tona tudo que considerar importante para resolver sua

problemática de pesquisa. Le Goff (1994, p. 107) deixa claro que a matéria-prima para a

escrita da história deve ser os documentos escritos, mas se estes não existirem, a escrita pode

também ser feita “com tudo que a engenhosidade do historiador permite utilizar”.

Desta forma, este trabalho se baseia em ampla pesquisa bibliográfica e

documental. Segundo Chizzotti (1995, p.11), “a pesquisa investiga o mundo em que o homem

vive e o próprio homem”. Contudo, a pesquisa só existe com o apoio de procedimentos

metodológicos adequados, que permitam a aproximação ao objeto de estudo.

A pesquisa bibliográfica, segundo Gil (2002, p.44), “[...] é desenvolvida com base

em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL,

2002, p. 44). A principal vantagem da pesquisa bibliográfica está no fato de permitir ao

investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que

poderia pesquisar diretamente. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato com o que

já se produziu e se registrou a respeito do tema de pesquisa. Tais vantagens revelam o

compromisso da qualidade da pesquisa.

Por sua vez, a pesquisa documental constituiu-se num “verdadeiro garimpo de

fontes” por se encontrarem muito dispersas. Acessar essa documentação, ler, classificar e

selecionar exige muito esforço. Mas, de acordo com Gil (2002, p.62-3), a pesquisa

documental apresenta algumas vantagens por ser “fonte rica e estável de dados”: não implica

altos custos e possibilita uma leitura aprofundada das fontes.

Para efetuar uma aproximação ao nível do desenvolvimento local realizou-se uma

abordagem objetiva por meio de informações disponíveis sob a forma de indicadores. A base

operacional/metodológica está fundamentada em levantamentos de dados secundários obtidos junto ao

IBGE, PNUD, SEPLAN/SEPIN/Gerência de Estatísticas Socioeconômicas, Central de Consultoria e

Negócios (CNN) do SEBRAE-GO, ESTADO DE GOIÁS, IPHAN, IPT/CEMPRE, Ministério do

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Turismo, Secretaria de Estado da Fazenda, Portal da Cidade de Goiás, SEGPLAN, Relação Anual de

Informações Sociais – (RAIS) e outros. Portanto, para produzir uma cartografia da criminalidade

foram consultadas bibliografias e documentos variados como jornais, cartas, dossiês, artigos e

outros, além, é claro, dos boletins de ocorrência levantados junto ao 6° Batalhão de Polícia

Militar.

A utilização dos dados secundários fez-se necessária para se ter um quadro atual e

recente da economia do município, uma espécie de raio-x que permitisse identificar os

principais setores de atividade não apenas em termos estáticos, mas também em termos

dinâmicos (levando-se em consideração sua evolução).

3 – RESULTADOS ALCANÇADOS

Aspectos socioeconômicos como desigualdades de renda, baixa educação formal e

a falta de estrutura familiar, são fatores que influenciam na criminalidade. Portanto, espera

demonstrar que uma parcela significativa dos crimes em Goiás-GO pode estar relacionada ao

desenvolvimento socioeconômico do município, seja por motivação principal, seja pelo fato

de haver uma forte relação entre baixos rendimentos e condições precárias de subsistência,

não permitindo ao indivíduo melhores oportunidades de desenvolvimento pessoal e

profissional, optando, muitas vezes, por incorrer em atividades ilícitas como meio de sustento.

De acordo com Carneiro (2005), na memória coletiva, o fato de Goiás ter se

tornado Patrimônio da Humanidade gerou sentimentos diferentes nos vilaboenses. Assim,

percebe-se que o título “fez bem para autoestima” da elite, entendidos como “os mais

ressentidos com a transferência da capital” enquanto os menos favorecidos “não sentem

orgulho”, mas, pelo contrário, “sentem o peso de viver numa cidade turística mundialmente

reconhecida” (CARNEIRO, 2005, p. 96).

Depois de 4 anos que Goiás adquiriu o título de Patrimônio da Humanidade, o que

se vê, o que se fala e que se ouve dos moradores da cidade é que pouco mudou na

realidade. Não houve aumento na oferta de emprego e trabalho, os jovens precisam

mudar da cidade para trabalhar. Outros saem da cidade para estudar em outros

centros, já que os cursos oferecidos nas Faculdades locais são poucos. Os turistas

diminuíram consideravelmente e os que visitam Goiás não consomem o suficiente

para corresponder às expectativas do comerciante, além de ter havido desvalorização

dos imóveis (CARNEIRO, 2005, p. 98 – Grifo nosso)

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Para conhecer e analisar o setor de turismo em Goiás-GO, o Plano Estadual de

Turismo (PET) foi considerado fundamental. O PET foi elaborado pela Agência Estadual de

Turismo – Goiás Turismo, órgão do Governo de Goiás, para o fortalecimento e crescimento

do turismo no Estado de Goiás, buscando intensificar sua contribuição para a geração de

renda, ampliação do mercado de trabalho e valorização cultural, natural e técnico cientifico. O

trabalho desenvolvido pela Goiás Turismo aponta na direção do desenvolvimento humano e

econômico. (ESTADO DE GOIÁS, 2007).

Desde então, estão sendo emitidos boletins informativos com o objetivo de

delinear uma evolução e tendências do comportamento da economia do turismo no Estado de

Goiás. Para tanto, a Política Estadual de Turismo utiliza-se de uma série de critérios2 para

classificar os destinos turísticos nas três categorias de destinos prioritários (Diamante,

Esmeralda e Cristal). Seguindo essa metodologia, o IPTur Goiás divulgou a classificação dos

vinte e seis destinos mais importantes do Estado de Goiás (Destino Diamante). De acordo

com a tabela de classificação, o município de Goiânia-GO seria o melhor estruturado,

ocupando o primeiro lugar no ranking com 403 pontos. O município de Goiás-GO encontra-se

bem classificado, aparecendo em nono lugar na classificação geral com 77 pontos (BOLETIM

DADOS DO TURISMO EM GOIÁS. EDIÇÃO Nº 02 / 2010 - IPTUR / GOIÁS).

É importante para Goiás-GO figurar entre os principais destinos turísticos do

Estado de Goiás e ainda apresentar bom desempenho em relação aos critérios estruturantes,

conforme os resultados da pesquisa apresentados anteriormente, mas será que as atividades

turísticas conseguiram transformar a realidade local e promover o desenvolvimento local?

No caso do município de Goiás-GO, os impactos podem ser mais bem

visualizados conforme a Relação Anual de Informações Sociais – RAIS referentes à

participação do turismo na geração de empregos e estabelecimentos formais nas Atividades

Características do Turismo. Entretanto, os dados são pouco animadores. Os resultados da

pesquisa revelam crescimento negativo no período analisado, entre 2006 e 2011, tanto em

relação ao número de empregos formais (-27%) quanto em relação o número de

estabelecimentos (-16%) relacionados com as Atividades Características do Turismo (ACTs).

2 Foram selecionados dez critérios de estruturação de destino turístico. Entre eles destacam-se: 1) Conselho

Municipal de Turismo – COMTUR; 2) Fundo Municipal de Turismo – FUMTUR; 3) Participação em instância

de governança regional – Fórum Regional de Turismo; 4) Instituto de Pesquisas Turísticas – IPTur; 5) Boletim

de Ocupação Hoteleira – BOH; 6) Plano Municipal de Turismo (PMT) validado pelo COMTUR; 7) Número de

leitos disponíveis no município; 8) Centro de Atendimento ao Turista – CAT; 9) Cadastro dos Prestadores de

Serviços Turísticos – CADASTUR; 10) Sustentabilidade Turística.

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Portanto, o impacto do turismo em Goiás-GO não tem conseguido transformar a realidade

local (RAIS, 2011).

Além disso, o número de turistas vem diminuindo o que tem dificultado a criação

de novos postos de trabalho, a ampliação, melhoria ou criação de novos estabelecimentos

comerciais. Para verificar se o número de turistas realmente tem diminuído consultou-se os

registros de visitantes do Museu Casa de Cora Coralina, um dos pontos turísticos mais

importantes do município. Os dados apresentados revelam que em 2010 foram registrados

20.425 visitantes. O maior índice de todo o período analisado. Este número indica uma média

mensal de 1702 visitantes e uma média diária de, aproximadamente, 56,7 visitantes. Contudo,

há certa irregularidade no período analisado e os dados mostram que em 2011 houve um

declínio no número de visitantes. Em comparação ao ano de 2010, o número de visitantes caiu

14% e, em 2009, 13%. A média do número de visitantes nos anos de 2007 e 2011 foi de

18.282 pessoas (MUSEU CASA DE CORA CORALINA, 2012).

Atualmente, há vários problemas em Goiás-GO que colocam em dúvida a

capacidade de gestão territorial e não podem deixar de ser analisados. Nesse sentido, as

pesquisas de campo revelaram também que embora menos intenso que nas décadas de 1970 e

1980, o chamado êxodo rural e urbano ainda é um grave problema. A migração para outras

cidades – principalmente Goiânia-GO e Itaberaí-GO – é notória e atinge principalmente

jovens e mulheres, que não encontram trabalho ou outros estímulos para permanecer em

Goiás-GO e alimentam perspectivas de dias melhores.

Conforme dados levantados junto ao IBGE (2010), no período compreendido

entre 1990 e 2010 foi possível perceber o decrescimento populacional de Goiás-GO em

relação ao município vizinho de Itaberaí-GO. Em 1990, a população de Itaberaí-GO (24.852

habitantes) era menor que a de Goiás-GO (27.782 habitantes). Nos dez anos seguintes,

Itaberaí-GO (27.879 habitantes) apresentou um índice populacional praticamente igual a

Goiás-GO (27.120). Mas, a partir dos anos 2000 até 2010, Itaberaí-GO (35.412 habitantes)

ultrapassa Goiás-GO (24.745 habitantes). Enfim, de 1990 a 2010, em 20 anos Goiás-GO

perdeu aproximadamente 3.037 habitantes enquanto o município vizinho de Itaberaí-GO

obteve um acréscimo populacional de aproximadamente 10.560 habitantes. Como resultado

do maior crescimento econômico e da proximidade3 entre os municípios, Itaberaí-GO tem

3 A distância entre Goiás-GO e Itaberaí é de aproximadamente 41,9 km. O tempo médio de condução é de

40min. Ver: http://distanciacidades.com/. Acesso em 13 de setembro de 2013.

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atraído grande parte da população ativa de Goiás-GO e acelerando o seu decrescimento

populacional.

Outro indicador importante para se avaliar o desenvolvimento e a qualidade de

vida em Goiás-GO é o índice de desenvolvimento humano (IDH). Assim, observa-se que após

o processo de patrimonialização ocorreu diminuição neste indicador passando de 0,736 (2000)

para 0,709 (2010). Assim, a qualidade de vida em Goiás-GO tendeu a piorar após a

patrimonialização do município.

Contudo, mesmo diante de um quadro socioeconômico tão desfavorável,

conforme apresentado anteriormente, foi possível verificar que os índices de criminalidade em

Goiás-GO, quando comparados com outros municípios da região, situam-se em conformidade

com os indicadores da ONU e do Estado de Goiás, com exceção do furto a pessoas que está

um pouco acima da média (Cf. Tabela 01).

Tabela 01: Criminalidade por Cidade/Natureza 2006

OPM Cidade População Efetivo

Homicidio Estupro F. Pessoa R. Resid.

17,38 4,95 28,36 21,08

Indice Oc. Ind. Oc. Ind. Oc. Ind. Oc. Ind.

Diversos Goiânia 1.201.006 385 204 16,99 43 3,58 863 71,85643 359 29,8916

8º/16ª/25ª Ap. Goiânia 435.323 1041 120 27,57 34 7,81 37 8,499436 90 20,6743

6º BPM

Goiás 26.705 195 3 11,23 0 0 9 33,70155 0 0

Araguapaz 7.271 909 1 13,75 0 0 3 41,2598 0 0

Aruanã 5.212 521 1 19,19 0 0 4 76,74597 0 0

Faina 7.053 882 0 0 1 14,18 1 14,17836 0 0

Guaraíta 2.835 284 0 0 0 0 0 0 0 0

Heitorai 3.711 337 1 26,95 1 26,95 13 350,3099 0 0

Itaberaí 29.775 1027 2 6,717 0 0 20 67,17045 4 13,4341

Itaguari 4.573 572 1 21,87 0 0 0 0 2 43,735

Itaguaru 5.224 522 1 19,14 0 0 1 19,14242 1 19,1424

Itapuranga 25.646 712 2 7,798 2 7,798 2 7,798487 2 7,79849

Matrinchã 4.928 448 1 20,29 1 20,29 1 20,29221 0 0

Mozarlândia 11.880 699 1 8,418 2 16,84 11 92,59259 0 0

Nova Crixás 11.035 920 4 36,25 0 0 27 244,676 0 0

Taquaral 3.285 299 0 0 0 0 0 0 1 30,4414 Fonte: ESTADO DE GOIÁS, Assessoria de Planejamento – PM/3

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Com o objetivo de compreender a situação de forma mais dinâmica, foram

analisados os boletins de ocorrência referentes ao mês de junho4 no período compreendido

entre 2001 e 2010. De forma geral, os resultados da pesquisa indicaram grande variação. Por

exemplo, em junho de 2002 registraram-se 111 ocorrências, a menor quantidade de todo

período. Em contrapartida, em junho de 2010 foram registradas 235 ocorrências

correspondendo a um aumento de aproximadamente 111,7% no índice de criminalidade (Cf.

Gráfico 01).

Fonte: 6° BPM, 2010

4 A escolha do mês de junho se justifica porque é quando ocorre o Festival Internacional de Cinema e Vídeo

Ambiental (FICA) na cidade de Goiás. Esse festival nasceu ainda em 1998, com a ideia de ampliar as ligações da

cidade com o mundo inteiro, e sua primeira edição ocorreu em 1999, e foi realizada em Goiás-GO entre os dias

02 e 06 de junho, durante a Semana do Meio Ambiente. Sua promoção foi realizada pelo Governo do Estado de

Goiás através da FUNAPEL/FEMAGO/SANEAGO/CELG. Neste momento, o município recebe turistas do

mundo inteiro e, por conta disso, os índices de criminalidade tendem a aumentar.

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4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme demonstrado anteriormente, alguns estudos apontam que, ao

resolverem-se problemas de natureza socioeconômica, resolver-se-ia também grande parte do

problema da criminalidade. Porém, a situação socioeconômica do município de Goiás-GO não

tem colabora para esta premissa.

Portanto, se acredita que há outras variáveis e que não só os do contexto

socioeconômico aqui testado têm determinando a criminalidade como um todo. Então, caberia

perguntar: Que outras variáveis poderiam explicar? Algumas hipóteses são levantadas: 1) que

a prática de crimes seja encarada como uma atividade da economia como qualquer outra, ou

seja, os indivíduos tornam-se criminosos porque o custo/benefício é compensador (exemplo

seria o tráfico de drogas); 2) a falta de confiança nas instituições, ou seja, o alto nível de

reprovação ou alta sensação da falta de eficácia/eficiência com relação à Polícia e à Justiça

gera maior sensação de impunidade e maior incentivo à entrada no crime, entre outras.

Enfim, está aberta a agenda de pesquisa para os determinantes da criminalidade no

município de Goiás-GO. A pesquisa ainda encontra-se em sua fase inicial. Além dos dados

quantitativos, é imprescindível realizar uma pesquisa qualitativa para melhor compreensão do

objeto de pesquisa em questão. Eis o grande desafio.

5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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