Resumo Do Livro Julia Lucia
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Resumo do livro – Rádio: Oralidade Mediatizada. O Spot e os elementos
da linguagem radiofônica
CAPITULO III: A SONOPLASTIA RADIOFÔNICA: SILENCIO, RUÍDO,
EFEITO E TRILHA SONORA NO ESPAÇO ACÚSTICO.
Linguagem radiofônica: o combate verbo-voco-sonoplástico.
Nas comunidades de oralidade primária, a transmissão dos textos contavam
com a performance dos interpretes, que juntamente com os demais elementos
da cena, tinham como função apresentar fatos das narrativas e dos poemas.
No rádio, texto e voz se entrelaçam simultaneamente com outros signos
também sonoros.
A linguagem radiofônica não é exclusivamente verbal-oral, assim como a
palavra escrita, músicas, efeitos sonoros, silencio e ruídos são incorporados.
Esses elementos acabam perdendo sua unidade conceitual a medida que são
combinados entre si, a fim de compor uma obra essencialmente sonora com o
poder de sugestirir imagens auditivas ao imaginário do ouvinte.
Para as comunidades orais, a palavra não era algo que poderia ser visualizada
na forma impressa. Reconheciam o significado das palavras pela sonoridade.
Toda potencialidade de representação de uma ideia e/ou objeto residia no
caráter expressivo do som. Naturalmente estes valores básicos do som tem o
poder de afetar o ouvinte, suscitando-lhe diferentes respostas emocionais.
Arnheim reconhece o papel fundante da expressividade sonora, tanto na
locução como na sonoplastia: “A força expressiva que possui um ritmo
trepidante e um tom suave, um tom maior e um menor, um período rápido e
lento, um tom alto e um baixo. O ouvinte se entristece mais facilmente por tons
“lastimeiros” que por palavras. A união da música, ruído e palavra em uma
única unidade sonora, é uma das tarefas artísticas mais importantes do rádio.
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O SILÊNCIO – AUSÊNCIA DE SOM OU SOM SIGNIFICANTE
A Revolução Industrial, além das implicações políticas e econômicas, traz
consigo um sensível aumento de ruído, barulho, transforma radicalmente a
paisagem sonora dos centros urbanos, assim como o modo de ouvir. O
cidadão deste final de século ao invés de escutar, apenas ouve.
Em contraponto a ausência do silencio começa a entrar na pauta das
preocupações dos estudiosos, atentos aos índices de decibéis acima do
suportável pelo ouvido humano. Ainda prevalece a noção de silêncio como
morte, alimentando a necessidade de se estar sempre emitindo e produzindo
sons. Silêncio é o resultado da rejeição da personalidade humana, o som corta
o silêncio (morte) com sua vida vibrante.
Essa tendência de ouvir maior quantidade de sons contínuos tem na figura dos
disc-joqueis um dos seus maiores incentivadores. A partir de programações
quase que exclusivamente musicais, os Dj’s coordenam o “falatório” com a
introdução/disparo de músicas da parada. Esta não foi sempre uma
característica das emissões radiofônicas, uma vez que a paisagem sonora na
década de 30 era outra.
Continuidade e ritmo são, pois, duas preocupações centrais da produção e da
programação radiofônica. No entanto, o silêncio, também pode surgir como
matéria significante / sígnica na elaboração e produção do spot. O uso do
silêncio tem a possibilidade de adquirir significados que podem realçar a
importância da continuidade sonora, ou podem atuar como um signo. Mas deve
estar contextualizado para que não seja interpretado como uma falha. Por outro
lado, na música, ele pode deixar de ser ruído (como um som desagradável) se
for incorporado como parte da mesma.
Portanto quando o ruído surge como uma interferência nas emissões
radiofônicas, adquire a dimensão de um som indesejável. Por outro lado
quando um ruído é incorporado intencionalmente em uma obra radiofônica,
ganha status de efeito sonoro.
A palavra a que nós se dirige no mundo da sala, desperta em nós associações
mais abrangentes do que a palavra lida ou a palavra no palco. Mais
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significativo ainda do que a palavra pode ser o ruído, quando for empregado de
forma parcimoniosa, não como acompanhamento supérfluo da palavra, mas
como key sound.
O EFEITO SONORO OU O RUÍDO DESEJÁVEL
Para acentuar o poder de sugestão incorporado na palavra articulada pela voz
e, consequentemente, atrair a escuta do ouvinte, a música e o ruído assumem
diferentes funções de acordo com a sua natureza física e com seu significado
para o ouvinte. A inclusão de ruídos (efeitos sonoros) em uma obra radiofônica
tem como tendência o objetivo de provocar a associação do ouvinte com o
objeto sonoramente representado.
Neste sentindo, Kolb adverte que a palavra – assim como o ruído – só pode
evocar a representação da realidade se esta for bem conhecida pelo ouvinte.
Portanto, o ruído/efeito sonoro tem a tendência de assumir a natureza de pelo
menos duas estruturas, a descritiva e a narrativa, tem a função de voz. Quando
empregado como único meio de expressão ‘preenche o espaço’. Sinaliza e
permite ao ouvinte fazer associações.
Geralmente este conjunto de ruídos articulados são trabalhados para ficarem
em segundo plano, como fundo sonoro, paralelamente a música e à
performance do locutor, na maioria das vezes, os ruídos estão subordinados a
intenções do texto oralizado e a música.
Os ruídos, quando explorados dentro de uma estrutura narrativa, representam
acusticamente uma passagem temporal de uma ação para outra. Pode
impulsionar a ação da peça radiofônica com maior intensidade do que no palco
do teatro. Além disso pode explorado na entonação vocal, emitindo sons em
princípio não considerados como musicais, como é o caso dos gritos, bocejos,
sibilos, tosse, entre outros sons.
A “imagem sonora” surge na tela imaginativa do ouvinte como resultado de um
processo perceptivo entre impressões pessoais e representações sensoriais
sonoras apreendidas pela audição. A música que apóia frequentemente a
palavra na peça radiofônica, além de incrementar os efeitos que resultam da
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palavra ou do ruído na conformação desta imagem sonora, pode ser explorada,
também, como uma função crítica.
Trilha Sonora
Como trilha sonora no rádio, a música é utilizada com diferentes funções de
acordo com o tipo de programa no qual é empregada. Por exemplo, nos
programas de rádio jornalismo é geralmente utilizada como função fática e,
segundo Mário Kaplún, com função gramatical. No entanto é nos “radiodramas”
que a música é explorada com maior intensidade, assumindo diferentes
funções e objetos. Kaplún destaca duas funções básicas para a música
empregada como trilha neste tipo/formato de programa: a descritiva e a
expressiva. A primeira tem como objetivo situar o ouvinte no ambiente tanto
espacial quanto temporal, no qual transcorre a ação descrevendo-o.
A função expressiva contribui para suscitar um clima emocional, para criar uma
atmosfera sonora, assim como para caracterizar um personagem, procurando
adequar determinadas características da música a diferentes personalidades.
“Tanto ou mais que no cinema, o comentário musical ajuda a criar, em torno
das palavras, o ambiente peculiar requerido para provocar no ouvinte uma
determinada identificação emocional” (Kaplún). Elementos melódicos e acordes
ajudam essencialmente a desenhar situações psíquicas e suas modificações. A
dinâmica e o ritmo apoiam – preparando ou sublinhando a posterior –
intensidade do diálogo (Pfister Apud Kliper).
No spot publicitário, a música, dentre outros objetivos, é empregada para
estabelecer uma identificação entre o produto e seu público-alvo, ou seja o
mesmo produto pode ser produzido com trilhas diferentes. Convém lembrar
que a melodia e o ritmo das trilhas têm como meta a memorização.
É importante observar em qual sistema estão sendo trabalhados os elementos
da linguagem musical radiofônica. Os elementos da sonoplastia, embora
tecnicamente ocorram ao mesmo tempo que a performance do locutor, em
nenhum momento se entrecruzam, se justapõem. Trata-se de uma
estruturação dominada pela continuidade/linearidade e pela contiguidade.
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Quando sonoplastia e texto entram em equivalência, um traço da materialidade
da palavra é emprestada à sonoplastia e vice-versa. Trata-se da transmutação
do verbal em sonoplastia e da sonoplastia em verbal num processo de
equivalência, justaposição dos sentidos em que paralelismo e simultaneidade
se equilibram.
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