Resumo do capítulo 8º de Memorial do Convento 12º
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Transcript of Resumo do capítulo 8º de Memorial do Convento 12º
Resumo da sequência 8 do livro Memoria do ConventoDe José Saramago
(PDF 45; livro 77)
(TEXTO DE APOIO UTILIZADO EM EXPOSIÇÃO ORAL, SEM CORREÇÃO ORTOGRÁFICA OU GRAMATICAL)
1- Planos principais:
O 8º capítulo caracteriza-se por três planos principais:
1º - A curiosidade, e descoberta de Baltazar, relativamente ao motivo pelo qual Blimunda comia todos os dias de
manhã um pedaço de pão ainda antes de abrir os olhos.
2º - Entretenimento do Infante D. Francisco que da janela do seu palácio se diverte disparando com a espingarda
tiros de ferem e matam marinheiros que trabalham empoleirados nas vergas dos barcos.
3º - Ida do bispo D. Nuno da Cunha ao terreiro do passo para “receber o chapéu” ou seja, para ser nomeado
cardeal pelo rei e por um enviado do Papa.
(anúncio do nascimento de D. Pedro, segundo filho do rei D. João V; Escolha do local para a construção do
convento))
2- Ampliação
O capítulo começa com o acordar de Blimunda que passara a noite na enxerga ao lado esquerdo
de Baltazar. Como de costume, Blimunda mal acorda estende a mão sobre o saquitel onde
costuma guardar o pão. No entanto, não o encontrou, procurou por baixo do travesseiro e no
chão mas Baltazar diz-lhe que não procure mais e que se o quer terá de lhe dizer qual o segredo
que ela guarda e o porquê de comer antes de levantar.
Gera-se um diálogo aceso entre ambos e Blimunda acaba por ceder prometendo contar o
segredo logo depois de comer. Baltazar dá-lhe o pão, Blimunda come-o e conta a Baltazar que
tem o poder de ver as pessoas por dentro. Inicialmente Baltazar não acredita e pede-lhe que o
olhe por dentro. Blimunda nega o pedido alegando que não conseguia fazê-lo depois de comer e
a sua promessa de que nunca o olharia para lá da pele. Então combinam sair na manhã do dia
seguinte enquanto Blimunda permanecia em jejum, com a condição de Baltazar permanecer
atrás dela para que esta não pudesse velo. Nessa altura Blimunda dá-lhe provas do seu dom.
João Miguel Pereira
Logo depois disto, o narrador sugere-nos que olhemos para D. Francisco, irmão do rei com o qual
a rainha tem sonhos de intimidade, que se diverte da janela do seu palácio a atirar com uma
espingarda sobre os marinheiros que no Tejo se empoleiram nas vergas dos barcos. Entre um tiro
e outro os criados carregam-lhe a espingarda, e mais um dos marinheiros cai ao convés depois de
ter sido atingido ficando ferido ou finado, mesmo sabendo que algum daqueles que estavam na
mira da espingarda poderia ser seu irmão embora não o conseguissem ver com a distância.
Vendo isto, o contramestre fica arreliado mas não se atreve a mandar descer os marujos, uma
por não querer irritar sua alteza outra porque a manobra tem de ser feita.
Por fim vai Baltazar, e os colegas do açougue, ao Terreiro do Paço para ver a procissão na qual vai
D. Nuno da Cunha que vai agora ao palácio real “receber o chapéu” das mãos do rei e do enviado
papal, que é como quem diz, vai ser nomeado cardeal. No fim de todo o cerimonial vai D. Nuno
ao quarto da rainha que repete o choco.
Há ainda o anúncio do nascimento do 2º filho do rei, o infante D. Pedro, bem como a deslocação
do rei a Mafra para escolher o local para a construção do convento. Ficará instalado num local
chamado Vela.
(Constata-se ao longo do capítulo a crítica irónica à atitude do rei e do cardeal bem como ao protocolo cerimonial.)
3 - Excerto para leitura e explicação
(…)vão os nossos olhos mais longe, lá no Rio de Janeiro, onde entrou uma armada daqueles
inimigos, e não precisaram de dar um tiro. Estavam os portugueses a dormir a sesta, tanto os do
governo do mar como do governo da terra, e tendo os franceses fundeado a seu bel-prazer,
desembarcaram, eles sim que parecia que estavam na sua terra. A prova foi que o governador
deu logo ordem formal para que ninguém tirasse nada de casa. Lá teria as suas boas razões, pelo
menos as que o medo dá, tanto que os franceses deram eles saque a tudo o que encontraram, e
com o que não fizeram recolher aos navios armaram uma venda no meio da praça, que não
faltou quem ali fosse comprar o que roubado lhe fora uma hora antes. Não pode haver maior
desprezo. E deitaram fogo à casa do fisco, e foram aos matos, por denúncia de judeus, a
desenterrar o ouro que certas pessoas principais tinham escondido, e isto sendo os franceses
apenas dois ou três mil e os nossos dez mil. Porém estava o governador feito com eles. Não há
João Miguel Pereira
mais que saber, que, entre portugueses, traidores houve muitas vezes, ainda que nem tudo seja o
que parece. Por exemplo, aqueles soldados dos regimentos da Beira de quem dissemos que
desertaram para o inimigo, não desertaram. Antes foram para onde lhes dariam de comer, e
outros houve que fugiram para as suas casas. Se isso é traição, é o que está sempre a suceder.
Quem quiser soldados para entregar à morte há-de ao menos dar-lhes de comer e de vestir,
enquanto estiverem vivos, e não andarem por aí descalços, sem trabalhos de marcha e disciplina,
mais gostosos de pôr o próprio capitão na mira da espingarda do que de estropiar um castelhano
do outro lado. Agora, se quisermos rir do que estes nossos olhos vêm, que a terra dá para tudo,
consideremos o caso das trinta naus de França que já se disse estarem à vista de Peniche, ainda
que não falte quem diga tê-las avistado no Algarve, que é perto… E na dúvida se guarneceram as
torres do Tejo, e toda a marinha se pôs de olho alerta, até Santa Apolónia, como se as naus
pudessem vir rio abaixo, de Santarém ou Tancos que isto de franceses é gente capaz de tudo. E
estando nós tão pobrezinhos de barcos pedimos a uns navios ingleses e holandeses que aí estão e
eles foram pôr-se na linha da barra, à espera do inimigo que há-de estar no espaço imaginário. Já
em tempos antes contados se deu aquele famoso caso da entrada dos bacalhaus, e agora veio-se
a saber que eram vinhos comprados no Porto, e as naus francesas são afinal inglesas que andam
no seu comércio, e de caminho vão-se rindo à nossa custa. Bom prato somos para galhofas
estrangeiras, que também as temos excelentes da nossa lavra (…)
in: Memorial do Convento
Explicação:
No excerto que acabei de ler retirado do 8 capítulo da obra “Memorial do Convento” de José
Saramago é bem visível a crítica sarcástica à sociedade portuguesa, e ao poder nacional que a
meu ver se mantem muito atual.
Primeiro o autor apresenta-nos o povo português como um povo desprevenido e
desinteressado em relação as consequências dos seus atos no futuro. Tal verifica-se com a
referência a um episódio da História de Portugal em que os franceses invadiram uma das
colónias portuguesas e roubaram os colones sem que estes se tentassem defender antes ou
depois da entrada dos invasores. A atitude dos guardas da costa, que dormem descansados a
sua sesta sem que ninguém se mantenha alerta, revela-se uma atitude imprudente e pouco
João Miguel Pereira
profissional. Já o governador ao ordenar que não houvesse resistência embora os portugueses
fossem bem mais que os franceses revela uma atitude cobarde e medrosa.
(isto pode-se comparar com o fraco profissionalismo que ainda hoje se vive em Portugal, que é
em parte responsável pela fraca produtividade da nação bem como ao facto de estarmos
constantemente a ser “roubados” pelos bancos e mercados internacionais.)
No entanto, se por um lado o autor critica os soldados portugueses, também os defende por
outro, ao consentir que estes tenham traído a pátria ao deixar a batalha e a irem para suas
casas ou juntarem-se aos inimigos em troca de comer, roupa e calçado. Segundo o autor, se
queremos bons soldados para enviar para a guerra devemos trabalha-los (marcha e disciplina)
e trata-los com dignidade em vez de os deixar-mos à fome e descalços.
(A partir desta atitude do autor é fácil compreender que alguns funcionário públicos (policias,
fiscais, etc.) lesem o estado em proveito próprio em vez de zelarem pelo correto cumprimento da
lei, pois também o estado não os trata com a dignidade que estes necessitam)
Verifica-se ainda a crítica voltada para o povo português, que exagera muitas vezes em relação
ao que se passa na realidade e assim acaba por ser motivo de chacota por parte dos
estrangeiros, bem como ao facto de raramente conseguir-mos assegurar as necessidades vitais
da nação sem ter-mos de recorrer ao auxílio de outras nações.
(Atualmente Portugal possui uma grande divida para com vários órgãos internacionais isto
porque não tem capacidade para satisfazer as necessidades internas, divida essa por vezes
causada também pelos excessos cometidos pelo povo e seus governantes.)
4- Elucidação sobre uma personagem: Blimunda
Considero Blimunda uma personagem interessante uma vez que Saramago se mostra como uma
pessoa que não acredita na existência de um deus, ou seja, é agnóstico, e no entanto inclui na
sua obra esta personagem muito ativa que possui poderes sobrenaturais e algo místicos. Em 2º
lugar acho interessante a forma de viver de Blimunda, uma mulher que se entrega
completamente ao amor e que é muito avançada para a cultura da época pois Blimunda não se
deixa dominar por homem nenhum e faz apenas aquilo que a sua vontade sugere. Considero-a
João Miguel Pereira
ainda uma mulher corajosa e honesta, primeiro porque confessa o seu segredo a Baltazar mesmo
sabendo que este a poderia denunciar à inquisição e depois porque prometeu que nunca olharia
Baltazar por dentro e até agora (este capítulo) não faltou á sua promessa mesmo tendo já
possuído razões para isso.
João Miguel Pereira