Resumo de Frei Luís de Souza
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Resumo de Frei Luís de Souza, Almeida Garrett“Em 1578, o rei D. Sebastião desapareceu na Batalha de Alcácer-Quibir.
Não tendo deixado herdeiros, houve uma longa disputa pela sucessão. Entre os pretendentes estava Filipe, rei da Espanha, que anexou Portugal ao seu império em 1580. O domínio espanhol duraria sessenta anos (1580 a 1640). Criou-se nesse período o mito popular do "Sebastianismo", segundo o qual D. Sebastião, retornaria para reerguer o império português. Entre os nobres desaparecidos em Alcácer-Quibir estava D. João de Portugal, marido de Madalena de Vilhena. Tendo esperado durante sete anos o retorno do marido, Madalena acabou contraindo segundas núpcias com Manuel de Sousa Coutinho. Entretanto, vivia angustiada com a possibilidade de que o primeiro marido estivesse ainda vivo. Suas angústias eram alimentadas por Telmo Paes, o fiel escudeiro de D. João. Essa situação perdurou por vinte anos, no fim dos quais, D. João, que realmente estava vivo, retornou a Portugal. Revelada a sua identidade, no ponto culminante da peça, o desespero domina todas as personagens. No desenlace trágico, Manuel Coutinho e Madalena resolvem tomar o hábito religioso, como forma de expiação; durante a cerimônia, Maria de Noronha, filha do casal, tomada pela vergonha e pelo desespero, morre aos pés de seus pais. A atitude de Manuel de Sousa Coutinho em relação ao domínio espanhol assim como o retorno de D. João de Portugal (associado, evidentemente, ao sebastianismo) inserem-se na temática nacionalista, tão cara aos românticos da primeira geração."Personagens principais:- D. Manuel Coutinho de Souza (protagonista): herói romântico; filho de Lopo de Souza Coutinho;
segundo esposo de D. Madalena; fidalgo honrado e religioso; abandona o nome de batismo ao ser convertido em frei. Passa a chamar-se Frei Luís de Souza.
- D. Madalena de Vilhena: foi esposa de D. João de Portugal; mulher recatada, virtuosa, cristã, dada a presságios; converte-se também à vida religiosa, recebendo o título Sóror Madalena. Os seus temores a impediram de desfrutar plenamente a felicidade de estar casada com D. Manuel. Revela que se apaixonou pelo segundo marido antes de ficar viúva e sente-se culpada e pecadora.
- D. João de Portugal: guerreiro honrado e generoso; parece ser cruel e vingativo, mas perdoa a esposa; pede a Telmo que salve D. Madalena e D. Manuel do triste fim que os aguardava.
- Maria de Noronha: filha do segundo casamento de D. Madalena; aos treze anos apresenta-se como menina pura, inteligente, perspicaz, intuitiva, estudiosa e que gosta de ler. É carregada de virtudes que a diferenciam das outras meninas da sua idade. É muito influenciada por D. Telmo. D. Madalena afirma que a menina não ouve, não crê, não sabe senão o que D. Telmo lhe diz. Sofre de tuberculose e morre no final da peça. Segundo Vasco Graça Moura , uma análise psicológica da obra revelaria uma conexão entre Maria e a filha ilegítima de Almeida Garrett com Adelaide Pastor.
- Telmo Paes: escudeiro que ajudou a criar D. Manuel, e antigo amigo da família que dizia amar Maria como se fosse sua filha. Alimenta os temores de D. Manuela e não impede que ela e o marido se entreguem ao claustro. Desejava o tempo todo o retorno de D. João de Portugal.
- Frei Jorge: irmão de D. Manuel; evita que Telmo apresente a solução proposta por D. João de Portugal para livrar a família de D. Manuel da degradação social. Portador do discurso católico que promete consolar os sofredores, caso se convertam à religião e aceitem os desígnios de Deus.
- Miranda e Doroteia: criados de D. Manuel e D. Madalena. Doroteia é a aia de Maria.- D. Joana de Castro: tia de Maria que abandona o esposo para se tornar freira.- Romeiro: D. João de Portugal que retorna do cativeiro na Terra Santa e não é reconhecido por D.
Madalena.Observações:- As personagens são descritas ao longo da peça e através dos diálogos das personagens.- Não há referências aos atributos físicos das personagens, exceto em raríssimos casos como o de Maria
que sabemos ser uma menina franzina.- Os criados não são descritos de forma alguma; somente seus nomes e suas ocupações são mencionados.
A classe fidalga é privilegiada neste sentido.- As personagens Telmo Paes e Frei Jorge crescem no terceiro ato, tornando-se fundamentais para o
desfecho trágico da peça.- Almeida Garrett trata D. Sebastião e Luís Vaz de Camões de forma tão atenciosa, que podemos considerá-los personagens secundárias.Espaço e Tempo:- A trajetória das personagens limita-se às cidades Lisboa e Almada, numa época de peste em processo de
declínio.- Influência das lutas pela liberdade religiosa no século XVI. Os ingleses já haviam traduzido as sagradas
escrituras. Em Portugal, somente os religiosos dominavam os segredos do catolicismo, porquanto as missas eram rezadas em Latim.
- Influência do Iluminismo: observemos a definição extraída do Dicionário Aurélio – Século XXI:Filosofia das Luzes: Movimento filosófico do séc. XVIII que se caracterizava pela confiança no
progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento. [Sin.: iluminismo, ilustração. Tb. se usam o alemão: Aufklärung e o ingl. Enlightenment. ] Vejamos, agora, o que D. Manuel diz à Maria: “E Deus entregou tudo à nossa razão, menos os segredos de
sua natureza inefável, os de seu amor e da sua justiça e misericórdia para conosco. Esses são os pontos sublimes e incompreensíveis da nossa fé! Esses crêem-se; tudo mais examina-se.”
Características Românticas:- Nacionalismo: as personagens falam e agem, demonstrando um patriotismo ufanista:
“– O meu nobre pai! Oh, meu querido pai! Sim, sim, mostrai-lhe quem sois e o que vale um português dos verdadeiros!”
- Idealização de personagens femininas: Maria, D. Manuela, D. Joana de Castro são exemplos das mais diversas virtudes. O segundo casamento de D. Manuela não chega a ser uma atitude pecaminosa, posto que procurou por D. João de Portugal durante sete anos, investindo uma grande quantia de dinheiro nessa procura. Somente quando todos, exceto Telmo Paes, desacreditaram na possibilidade de D. João estar vivo, consolidou sua união com D. Manuel. Maria, por sua vez, é citada como um anjo de bondade.
- Pessimismo: é facilmente detectado no diálogo das personagens:“– Meu adorado esposo, não te deites a perder, não te arrebates. Que farás tu contra esses poderosos?” “Crê-me que to juro na presença de Deus; a nossa união, o nosso amor é impossível.”
Notamos que esse pessimismo explícito abre portas ao metafísico, sob a forma de presságios e agouros, que disputam, em pé de igualdade com os dogmas do catolicismo, a fé popular. Algumas personagens acreditam em Deus, mas crêem igualmente que seus medos e suas sensações são avisos de que alguma coisa ruim realmente acontecerá:“...não entremos com os teus agouros e profecias do costume: são sempre de aterrar... Deixemo-nos de futuros...”“... agora não lhe sai da cabeça que a perda do retrato é prognóstico fatal de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar de meu pai.” - Sentimentos e emoções conturbados: não há paz e tranqüilidade no relacionamento das personagens
principais. Amor e medo caminham juntos, gerando atitudes precipitadas e movidas pelo desespero:“...peço-te vida, vida, vida... para ela, vida para a minha filha!”“– Se Deus quisera que não acordasse!”“– Vamos; eu ainda não me intendo bem claro com esta desgraça. Dize-me, fala-me a verdade: minha mulher...– minha mulher! com que boca pronuncio eu ainda estas palavras! – D. Madalena o que sabe?”
- A natureza também não se apresenta sempre tranqüila. Vimos na descrição do Tejo que suas águas ficam furiosas quando o tempo muda:“Mas neste tempo não há de fiar no Tejo: dum instante para o outro levanta-se um nortada... e então aqui o pontal de Cacilhas! Que ele é tão bom mareante...”
- Escapismo: quando a situação adquire uma carga insuportável de sofrimento moral e emocional, os protagonistas não enfrentam o repúdio da sociedade e aceitam o refúgio na vida religiosa:“– Madalena... senhora! Todas estas coisas são já indignas de nós. Até ontem, a nossa desculpa, para com Deus e para com os homens, estava na boa-fé e seguridade de nossas consciências. Essa acabou. Para nós já não há senão estas mortalhas (tomando os hábitos de cima da banca) e a sepultura dum claustro.”
Análise dos atos e das cenas:Primeiro ato:- Subdivide-se em doze cenas.- Câmera antiga e luxuosa dos princípios do século dezessete.- Apenas um retrato do cavaleiro São João de Jerusalém.- Menciona a posição das portas que será invertida no ato seguinte.- Começa num início de tarde em Lisboa.Segundo ato:- Subdivide-se em quinze cenas.- Palácio, em Almada, que pertencera a D. João de Portugal.- O salão antigo, de gosto melancólico e pesado, cria um contraste com o cenário do primeiro ato.- Há vários retratos, entre eles os do Del-rei D. Sebastião, Camões e D. João de Portugal.- A posição das portas faz, como no primeiro ato, referência ao interior e exterior do ambiente. A inversão
causa uma sensação de real mudança de domicílio.- O aspecto religioso transparece através da Capela da Senhora da Piedade e da Igreja de São Paulo.- Não é mencionado em que parte do dia este ato se desenvolverá.
Terceiro ato:- Subdivide-se em doze cenas.- Ocorre na parte baixa do Palácio, onde encontramos a Capela da Senhora da Piedade da Igreja de São
Paulo dos Domínicos d’Almada.- Os móveis e a ornamentação intensificam a melancolia do ambiente. A simbologia da cruz de tábua negra
com o letreiro INRI sugere sacrifícios de cunho religioso.- As cores, além de mais escuras, são acrescidas do peso dos materiais de que são feitos os objetos: castiçal
de chumbo.- A iluminação noturna, composta de tochas e velas, não dispensa a declaração de que o ato começa na
total ausência de luz solar: “é alta noite”.Os três atos desenvolvem-se em ambientes diferentes que acompanham o clima de tensão, e colaboram de forma graciosa para a sua intensificação. O declínio de luzes e cores dá o exato tom sombrio e triste, condizente com o destino das personagens.A descrição dos cenários é feita de forma objetiva, sem rebuscamento de linguagem, assemelhando-se a uma lista de ingredientes.
Romantismo Primado dos valores do sentimento e da sensibilidade; Individualismo Hipertrofia do eu: Egocentrismo Inspiração livre Arte desligada de valores éticos, utilitários e sociais. Autonomia dos valores estéticos Arrebatamentos, exaltação desmedida, espontaneidade Nacionalismo Homem indisciplinado, revoltado, irrequieto, pessimista
Homem que procura a evasão do real: no espaço – fuga para locais que representem qualquer coisa de exótico/diferente; no tempo – fuga para o passado (nomeadamente para épocas histórias em especial para a idade média) Homem revoltado contra a sociedade, perdido do seu eu
Culto da mulher-anjo (frágil, pura, vestida de branco) ou então da mulher-demónio (leva os homens à perdição). Amor sentimental e sensorial
Natureza espontânea, selvagem, sombria, melancólica Preferência pelas horas sombrias ou crepusculares ou da noite Preferência pelas personagens imperfeitas Vocabulário familiar, afectivo, popular, sintaxe próprio da fala Versificação livre e variedade estrófica Gosto pela quadra Democracia. Simpatia pelo povo Tom coloquial Exploração das noções de originalidade e de génio Subversão das formas clássicas Interesse pelo excepcional e desmedido, procura do particular e do diverso Interesse pelos anseios e enigmas profundos do homem; exaltação da energia criativa do sonho e da imaginação Confessionismo evidente Valorização do nacional e do popular, redescoberta do passado medieval.
Texto dramático Assente nas falas das personagens Poucas descrições
Suporta-se na 2ª pessoa Tem como objectivo ser representado
Plano textual (texto principal–falas; texto secundário–didascálias, indicações cénicas)Destinatário: leitor (individual) Espaço físico, tempo, personagens, acção
Plano cénicoDestinatário: espectador (colectivo)
Cenário (espaço), tempo representativo a partir de elementos figurativos, actores que dão corpo e voz às personagens, representação (acção) Espaço no texto dramático:Pouco elaborado (decorado) – rarefeito (elementos mínimos)Pouco amplo Concentração de espaço (de acordo com o palco) Espaço único para cada acto “Narradores” – personagens que se encarregam de fazer referências de tempo/espaço e que contam aspectos que não foram representados. Espaço
Acto 1ºPalácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século XII. É, pois, um espaço sem grades, amplamente aberto para o exterior, onde as personagens ainda gozam a liberdade de se movimentarem guiadas pela sua vontade própria. Através das grandes janelas rasgadas domina-se uma paisagem vasta. – É o fim da tarde. Acto 2ºPalácio que fora de D. João de Portugal, em Almada, que agora pertença a D. Madalena.Salão antigo de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro; estão em lugar de destaque o de el-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos Condes de Vimioso. Deixa de haver janelas e as portas, ainda no plural, são já mais destinadas a cercar as personagens que a deixá-las escapar.
Acto 3ºParte baixa do Palácio de D. João de Portugal, comunicando pela porta à esquerda do espectador, com a capela da Senhora da Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínicos de Almada: é um casarão sem ornato algum. Arrumadas às paredes, em diversos pontos, escadas, tocheiras, cruzes e outros objectos próprios para uso religioso. É alta noite. Qual é o tratamento dado ao espaço no Frei Luís de Sousa?Progressão em termos negativos. Há um afunilamento quer a nível de luz, decoração ou amplitude. Ou seja, vai evoluindo no sentido da acção: vão surgindo acontecimentos que afectam a vida normal familiar e que culmina com a morte de Maria. A acção caminha no sentido da destruição, a par do tratamento que vai sendo dado ao espaço. Espaço social (costumes e mentalidades que definem uma época) Características do palácio de D. Manuel família da aristocracia Madalena lendo Sendo mulher, usufrui de educação A existência de Telmo, Doroteia, Miranda Maria lendo “Menina e Moça” de Bernardim Ribeiro D. João servia ao lado de D. Sebastião
Pesteà população com más condições; a Almada não chega a peste devido à falta de comunicação
Os casamentos não eram feitos por amor D. Madalena casa com D. João por obrigação
D. Madalena fica com tudo o que era de D. João os casamentos eram feitos com base na partilha
Maria é uma filha ilegítima por ser filha de um segundo casamento
Más comunicações: um cativo na terra santa não consegue fazer saber-se que está vivo e a família também não o encontra
O marido funciona, muitas vezes, com pai da esposa, pois esta é muito mais nova que ele.
Tempo Informações temporais dadas através das falas das
personagens Período vasto de tempo (21 anos) mas a acção representada tem
apenas uma semana Batalha de Alcácer Quibir (1578) + 7 anos + 14 anos
Primeira sexta-feira (27 de Julho de 1599) + 8 dias Segunda sexta-feira (4 de Agosto de 1599) – HOJE (2º acto)
5 de Agosto (consequências do hoje) - madrugada Em cena temos apenas duas partes de dois dias Tempo histórico (o desenrolar da acção está dependente da
batalha)Tempo da acção Ao afunilamento do espaço corresponde uma concentração do
tempo dum dia especial da semana: 6ª feira As principais cenas passam-se durante a noite.
Personagens Classificação de personagens:
Relevo/desempenho Personagem principal (impulsiona directamente o avanço da acção) Personagens secundárias Figurantes (não participam na acção mas estão directamente relacionados com o espaço social) (Doroteia, Prior de Benfica, Miranda, Arcebispo)
Formação da personagem Personagem modelada (a que se aproxima do modelo humano) Personagem plana (tem características que obedecem a um padrão)
Personagem tipo (representativo de uma classe social) Todos os figurantes no Frei Luís de Sousa são tipo.
No texto dramático predomina a caracterização indirecta (com base na actuação)
Manuel de Sousa Coutinho (personagem principal e plana)
Nobre, cavaleiro de Malta Construído segundo os parâmetros do ideal da época clássica Racional Bom marido e pai terno Corajoso, audaz, decidido, patriota,
nacionalista Valores: pátria, família e honra Excepções ao equilíbrio (momentos em que Manuel foge ao modelo clássico e tende para o romântico): cena do lenço de sangue/espectáculo excessivo do incêndio
D. João de Portugal (personagem principal, plana e central)
Nobre (família dos Vimiosos) Cavaleiro Ama a pátria e o seu rei Imagem da pátria cativa Ligado à lenda de D. Sebastião
Nunca assume a sua identidade Exemplo de paradoxo/contradição: personagem ausente mas que, no desenrolar da acção, está sempre presente.
Telmo Pais (personagem secundária) Escudeiro e aio de Maria Tem dois amos: D. João e Maria
Confidente de D. Madalena Chama viva do passado (alimenta os terrores de D. Madalena) Provoca a confidência das três personagens principais Considerado personagem modelada num momento: durante anos, Telmo rezou para que D. João regressasse mas quando este voltou quase que desejou que se fosse embora.
Frei Jorge Coutinho (personagem secundária e plana) Irmão de Manuel de Sousa Ordem dos Dominicanos
Amigo da família Confidente nas horas de angústia É quem presencia as fraquezas de Manuel de Sousa
D. Madalena de Vilhena (personagem principal e plana) Nobre e culta Sentimental Complexo de culpa
(nunca gostou de D. João, mas sim de D. Manuel) Torturada pelo remorso do passado Ligada à lenda dos amores infelizes de Inês de Castro
Apaixonada, supersticiosa, pessimista, romântica (em termos de época), sensível, frágil
D. Maria de Noronha (personagem principal e plana) Nobre: sangue dos Vilhenas e dos Sousas Precocemente
desenvolvida, física e psicologicamente Doente de tuberculose Poderosa intuição e dotada do dom da profecia Encarnação da Menina e Moça de Bernardim Ribeiro Modelo da mulher romântica: a mulher-anjo A única vítima inocente
Etapas em Frei Luís de Sousa 1ª Etapa: D. João existe apenas no domínio psicológico das personagens (1º acto)
2ª Etapa: D. João torna-se visível no retrato (início do segundo acto)
3ª Etapa: D. João chega na forma de Romeiro (final do 2º acto) 4ª Etapa: Embora não esteja presente é D. João que provoca a
morte das 3 personagens (3º acto) Em nenhuma altura temos D. João assumido como tal.
Características trágicas em Frei Luís de Sousa Existência de personagens com o papel de confidentes (personagens que existem para que as outras personagens digam o que sentem) e coro (conjunto de pessoas que cantava um cântico
pesado que ia interrompendo a acção para comentar o desenrolar da mesma e profetizar
Existência da regra das três unidades: tempo, espaço e acção A tragédia tem como objectivo provocar a piedade (pelas vítimas)
e terror (por alguém que há-de vir dos mortos) nos espectadores Estrutura do desfecho: Presságios(vários elementos, situações ou ditos das personagens que vão aumentando a tragédia
1 – Peripécia (momento em que o decorrer da acção é irremediavelmente invertido)à a chegada de alguém que trás notícias de D. João de Portugal2 – Revelação (segredo/identidade que se revela)à o revelar da identidade do romeiro3 – Catástrofe (morte violenta/final que vitima as personagens envolvidas)à morte figurada no caso de Manuel e Madalena e morte violenta de Maria.
No desfecho temos a presença do destino como castigo do amor de D. Madalena por D. Manuel
Destino: força superior que transcende a vontade das personagens e perante a qual as personagens se tornam indefesas
Presságios: Fogo( destrói a família e destrói o retrato); Leituras ( Lusíadas e Menina e Moça)
Phatos: crescente de aflição e de angústia que conduz ao clímax da acção através de uma precipitação de acontecimentos através dos presságios.
Hybris: desafio lançado aos deuses ou às autoridades (atitude de D. Madalena ao casar com D. Manuel)
Clímax: auge do sofrimento Peripécias: mutação repentina da situação Anagnorisis: reconhecimento ou constatação dos motivos
trágicos Moira ou fatum: força do destino Catástrofe: desfecho trágico Leitura simbólica de Frei Luís de Sousa:
Tragédia – sexta-feira (dia de azar); a noite (parte do dia propícia a sentimentos de terror e parte escura do dia); os números: 7 nº de anos de busca 14 tempo de casamento (7 reforçado, 14=2x7) 21 tempo da acção 13 nº de azar, idade de Maria 3 nº de elementos da família sujeitos à destruição, 3 retratos na sala dos retratos. Pátria – atitudes de Manuel de Sousa que se podem resumir num protesto à tirania, defesa dos valores da pátria. Incêndio símbolo patriótico
A família pode ser vista como a unidade da pátria, a destruição da família é a destruição da pátria governada pelos estrangeiros. Oposição entre D. Manuel e D. João entre Portugal velho e ultrapassado e o novo e actual que se pretende (Manuel)
Características românticas em Frei Luís de Sousa Narcisismo/ hipertrofia do eu: as personagens dão construídas a partir de uma projecção. Almeida Garrte transporta o seu problema de amor para D. Madalena e transporta o problema da filha ilegítima para Maria
Preferência pelas horas sombrias: o desenrolar da acção passa-se essencialmente à noite ou de madrugada. Culto da mulher-anjo: na personagem de Maria Nacionalismo/ patriotismo: nas atitudes de Manuel de Sousa Preferência por personagens imperfeitas: D. Madalena que se apaixonou ainda casada Religiosidade Mitos/superstição Infracção e pecado Individualismo versus sociedade: Manuel de Sousa Coutinho decide o que há-de fazer porque a sociedade aponta Maria como filha do pecado, o 1º casamento seria inválido
Liberdade versus destino: Ao escolher o amor, D. Madalena comete uma infracção à religião e costumes e o destino castiga essa acção. Será então o homem livre ou será dominado pelo destino? Tudo o que fará por escolha própria estará sujeito a castigo por parte do destino?
De que forma o tempo e o espaço se relacionam com o desenrolar trágico da acção? O tempo vai caminhando para uma concentração no momento do clímax. É como que uma preparação para aquele momento.O espaço é cada vez mais escuro e tem relação directa com o desfecho da acção que será no altar. Caminha-se de um espaço amplo para um espaço reduzido. Caminha-se de objectos confortáveis para objectos que são alusões cada vez mais nítidas à catástrofe. Do profano ao religioso/ da vida à morte.Telmo cada vez faz mais agoiros. As personagens vão anunciando o aparecimento de um terror qualquer. Terrores e medos de D. Madalena que contribuem para um ambiente mais tenso; Maria que conta o que lê, o que sonha, o que pensa. Vão surgindo previsões do que se irá passar.Resumo das cenas VII até XII
Chegada de Manuel de Sousa; Notícia da vinda dos governadores espanhóis e por consequência a ideia de fuga
para a casa de D. João de Portugal; Madalena fica aterrorizada e começa com as suas desconfianças. Opostamente,
Maria e seu tio, Frei Jorge, concordam alegremente com a ideia; Gera-se um conflito entre Manuel e Madalena, visto que têm ideias diferentes; Madalena tenta dissuadir seu marido, enquanto que este a tranquiliza, acabando
ela por ter de aceitar a ideia; Manuel de Sousa é avisado que os governadores se anteciparam e este apressa-
se; Antes de incendiar a casa, Manuel faz referência a seu pai e realça o seu
patriotismo com tal atitude; Madalena recorda-se do retrato de seu marido, mas este já está consumido pelas
chamas e impossível de ser salvo;
Posta esta situação todos se apressam a fugir em direcção à casa de D. João de Portugal.
Personagens Manuel de Sousa:
« Homem corajoso« Lutador« Defensor dos seus ideais« Apaixonado por Madalena« Patriota « Determinado« Homem de ideias fixas « Não tinha ciúmes do passado de Madalena Dona Madalena de Vilhena:
« Supersticiosa Cautelosa« Amedrontada« Insegura« Vivia em pânico constante « Aterrorizada« Crente « Remorsos da sua vida passada
Dona Maria de Noronha:« Terna« Adorava D. Sebastião« Dom da
sibila« Corajosa« Pura« Ingénua« Sofre de Tuberculose« Possuía olhos e ouvidos de tísica« Curiosa« Supersticiosa
Telmo Pais:« Tinha um carinho enorme por Maria« Era contra o segundo casamento de
Madalen « Atencioso« Prestativo« Conselheiro
Conflito entre Dona Madalena e o marido « Uma vez apresentado o plano de fuga de Manuel para a casa de D. João de Portugal, Madalena e o marido entram num conflito;
« Madalena opõe-se a tal ideia pois pressente que algo de mal vai acontecer; « Pensa que ao ir para a casa do seu primeiro marido, significa que se vai separar
de Manuel e de Maria; « Essa ideia é impensável para ela, uma vez que lutou muito para o conseguir; « Este conflito não chega a ser resolvido, balançando assim para o lado de
Manuel.
Presságios e Elementos Simbólicos « Madalena era uma pessoa muito supersticiosa e por consequência qualquer coisa que ela achasse fora do normal ela considerava isso como um sinal, e todos os objectos tinham um simbolismo;
« Para Madalena o retrato de Manuel de Sousa e o seu palácio tinham um significado de presença e afirmação dele mesmo na sua mente;
« A sua destruíção pelo incêncio fez com que Madalena pressenti-se que iria perder Manuel de Sousa tal como perdeu o seu retrato e o seu palácio.
Situação histórica referida na peça « Em Lisboa vivia-se uma época de peste;
« Portugal estava sobre o domínio dos Felipes de Espanha o que não agradava a diversos senhores da grande carisma na sociedade;
« Um desses senhores era Manuel de Sousa; « Ele incêndiou a sua própia casa para impedir a acomodação dos governadores
Espanhóis.
Importância do Incêndio « O incêndio é um facto decisivo e marcante no desenrolar da acção;
« Este vai desencadear outras acções pricipais na história; « É através do incêndio que Manuel de Sousa realça o seu patriotismo, e é
também através dele que ele faz frente aquilo que ele é contra, os governadores Espanhóis;
« Por consequência do incêndio todos terão de ir viver para a antiga casa de D. João de Portugal;
« Nessa casa vai aparecer então o misterioso romeiro, que se revela D. João de Portugal;
« E por fim a passagem de Manuel de Sousa a Frei Luís de Sousa, e a morte de Maria.
Expressividade da Linguagem: Repetição: “ Meu Deus, Meu Deus “ – Madalena, Acto I, cena XII “ Fujamos, Fujamos ” – Todos, Acto I, cena XII “ Parti, Parti “ – Manuel, Acto I, cena XII
Interrogação retórica:
“ Quem sabe se eu morrerei nas chamas ateadas por minhas mãos? “ – Manuel, Acto I, cena XI
Enumeração: “ Parti já tudo, as arcas, os meus cavalos, armas e tudo o mais.” – Manuel, Acto I,
cena X Ironia: “ Ilumino minha casa para receber os muito poderosos e excelentes senhores
governadores destes reinos. Suas Excelências podem vir, quando quiserem. “ – Manuel, Acto I, cena XII
Elementos clássicos e românticos « Elementos clássicos § Reduzido números de personagens e seu estatuto social § Os presságios e os indícios de uma catástrofe § “Pathos” (sofrimento) § “Ágon” (conflito) § Peripécia § Papel do coro « Elementos românticos
§ Nacionalismo e Patriotismo § Amor pela liberdade § Confronto entre o individualismo e a sociedade§ Crença em agoiros e superstições