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IV ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
28 a 30 de maio de 2008 Faculdade de Comunicao/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.
AS FESTAS NOS TERREIROS DE ARACAJU O SAGRADO, A
SOCIABILIDADE E AS RELAES ENTRE HOMENS E DIVINDADES.
Janaina Couvo Teixeira Maia de Aguiar1
RESUMO:
Esta comunicao tem por objetivo apresentar os primeiros resultados de um estudo acerca das festas nos terreiros da cidade de Aracaju - Se. A partir de uma anlise dos aspectos que compe a festa, identificamos os elementos sagrados, assim como as relaes entre adeptos, visitantes e demais pessoas envolvidas na organizao das festas. Para este estudo selecionamos um terreiro de Candombl da capital sergipana, para neste espao sagrado realizarmos uma anlise etnogrfica sobre a festa.
Trata-se de um trabalho importante para o estudo das religies afro-brasileiras, que tem nas festas uma das suas caractersticas mais representativas. neste momento que os Orixs, Inquices e Voduns recebem as homenagens e as oferendas. E tambm nesse momento que podemos observar como os elementos sagrados e profanos interagem nas relaes entre divindades, adeptos e demais visitantes destes espaos. PALAVRAS CHAVE: Religies Afro-Brasileiras, Festa, Interao, Sagrado, Profano. INTRODUO Para as religies afro-brasileiras a festa o momento em que a interao entre a
comunidade, os adeptos e as divindades acontece. Trata-se de uma cerimnia na qual os
laos internos entre os integrantes do grupo; e os laos externos integrantes do grupo
e comunidade, so reafirmados.2 Assim, para entender a funo da festa para estas
religies importante analisar todo o processo de constituio deste ritual,
1 Prof da Universidade Tiradentes, Coordenadora Adjunta do Curso de Histria PROEAD/UNIT. [email protected] 2 TEIXEIRA, Maria Lina Leo. Sexualidade e festa no Candombl. IN: Vivncia revista do Centro de Cincias Humanas, Letras e Artes da UFRN. Natal, CCHLA/UFRN, v.13, p.74.
reconstituindo todos os momentos que iro resultar na sua organizao e os seus
elementos constitutivos.
Nos primeiros estudos sobre estas religies existem referncias s festas
enquanto espaos onde acontece o transe e demais manifestaes3. Sempre foram
referenciadas enquanto o espao sagrado onde as divindades se apresentam para serem
reverenciadas pelos iniciados e demais participantes dos rituais, receberem suas
oferendas, garantindo aos participantes proteo e prosperidade, sem necessariamente
serem o objeto central destes estudos.
O aspecto ldico e esttico, alm das funes desenvolvidas pela festa nos
terreiros tambm passaram a despertar o interesse de estudiosos. Entretanto o que nos
propomos analisar neste trabalho corresponde aos elementos que compe a festa,
situando os mesmos entre os espaos do sagrado e profano, demonstrando em nossa
anlise, como durante toda a preparao de uma festa de Candombl existe todo um
processo de ritualizao envolvendo vrios elementos que so necessrios para a
culminncia da festa.
Fonseca4 destaca a funo de aprendizagem existente nas festas religiosas dos
terreiros. Ou seja, refere-se ao processo em que durante estes rituais, os iniciados so
orientados a observarem todos os movimentos e determinadas atitudes presentes nas
festas, que devem ser repetidos, alm das msicas destinadas s divindades. Assim, as
festas tambm so espaos onde o conhecimento religioso transmitido para os mais
novos adeptos destas religies.
So mitos sobre os Orixs, posturas que devem ser seguidas, comportamentos
diante de determinadas pessoas ou msicas, a obedincia e a hierarquia, aspectos
importantes presentes nos terreiros de candombl, que encontram nas festas seu
momento de maior representatividade.
Assim, as festas nos terreiros possuem um papel importante para as religies
afro-brasileiras, situando-se numa posio central na sua estrutura. Desempenham um
papel religioso, pois o momento privilegiado de contato com os Deuses.5 o
momento em que a interao entre homens e divindades possuem seu momento
3 Estudos de Arthur Ramos, Roger Bastide, Nina Rodrigues entre outros que elaboraram estudos sobre o Candombl. 4 FONSECA, Eduardo P de Aquino. Os significados das festas nas religies afro-brasileiras. IN.: Vivncia revista do Centro de Cincias Humanas, Letras e Artes da UFRN. Natal, CCHLA/UFRN, v.13, 91. 5 Idem, p.98.
mximo, marcado por uma forte relao de devoo. a expresso mxima da f em
torno dos Orixs.
TEM DEND E ACARAJ: FESTA DE OY NO ABA SO JORGE
O TERREIRO
Para desenvolver este trabalho selecionamos um terreiro de Candombl da
capital sergipana. Trata-se de um terreiro tradicional da cidade, que realiza todos os
anos, durante o ms de dezembro, uma grande festa dedicada Ians. Este o Orix de
Me Marizete, a me de santo do Aba So Jorge.
Trata-se de uma festa religiosa que acontece durante quatro dias, mas que tem
seu momento mais representativo no dia 4 de dezembro, dia dedicado a Ians. Deste
ritual participam, alm dos filhos de santo da cidade e municpios vizinhos, tambm os
filhos de santo de vrias partes do pas e at do exterior, que passam o ano se
preparando para se dirigir Capital sergipana.
perceptvel a mobilizao de todos os iniciados da casa, que trazem suas
vestes mais bonitas e preparam um verdadeiro Banquete para os Orixs. Este
composto por comidas denominadas comidas secas, que so ofertadas a todos os
Orixs, no apenas divindade dona da festa.
Participam adeptos de outros terreiros da cidade e regies circunvizinhas, alm
da prpria comunidade onde o espao sagrado est inserido.
Desta forma, nesta festa elementos sagrados e profanos convivem
constantemente, caracterizando o espao do terreiro enquanto um espao de
socializao entre divindades, adeptos e comunidade em geral.
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
A festa de Oy no Aba So Jorge tradicional em Aracaju. Trata-se de um
ritual que acontece todos os anos, no dia 04 de dezembro. Uma grande quantidade de
adeptos e demais participantes ou simples admiradores do Candombl e do terreiro
dirigem-se neste dia para o Bairro Amrica, local onde est situado o Terreiro. Todos
querem prestigiar OY MATAMBA, a Ians da me de santo.
Acompanhamos esta festa h 10 anos, registrando atravs da fotografia o
desenvolvimento dos rituais. A mobilizao para a organizao desta festa acontece
com 3 meses de antecedncia, quando a filha carnal da me de santo viaja para a regio
sul do pas em busca da roupa e dos paramentos de Ians. O segredo mantido at o
perodo da festa. Ningum pode ter acesso, apenas a famlia e alguns iniciados que
possuem cargos importantes no terreiro Alm disso, as oferendas e a prpria
decorao do terreiro so pensadas com muito tempo de antecedncia, tambm
respeitado o segredo em torno da decorao.
Toda a mobilizao para a organizao desta festa envolve vrias pessoas. So
filhos de santo e a prpria famlia da me de santo, que ficam responsveis por toda a
organizao de todos os preparativos para a organizao da festa. importante ressaltar
que estas pessoas fazem parte do crculo de confiana do terreiro, mantendo a discrio
diante das definies para a cerimnia.
A FESTA
Na semana da festa os rituais internos do terreiro so realizados, contando com a
presena de alguns filhos de santo. Trata-se de um ritual fechado, onde nem todas as
pessoas podem participar. Neste momento so feitos os sacrifcios e as comidas secas
para cada um dos Orixs.
No dia seguinte, todos esto empenhados e na decorao do terreiro, na
preparao dos alimentos que sero servidos aos deuses e aos participantes, alm da
arrumao de suas roupas, pois, muitos utilizam duas roupas neste dia: uma para
comear a festa e outra quando a me de santo incorpora a o Orix, os seus fios de
contas etc.
importante ressaltar o carter sagrado atribudo s roupas que so utilizadas
por todos os iniciados. Percebemos que durante todo o perodo festivo, os iniciados tm
muito cuidado com suas roupas de santo, evitando utilizar as mesmas durante
determinados momentos de ludicidade existente no decorrer da festa. uma expresso
de muito respeito para com as divindades.
Outro aspecto referente festa est relacionado ao investimento necessrio para
a realizao da cerimnia. Para a sua organizao contribuem pessoas de fora 6,
iniciados com melhores condies financeiras e a prpria me de santo, que consegue os
recursos atravs das consultas e dos trabalhos7 realizados no terreiro. queles que
no podem contribuir financeiramente, ajudam nos preparativos, na decorao, na
confeco das roupas do santo e tambm na elaborao das oferendas para os Orixs.
Todos procuram de alguma forma contribuir para a organizao dos rituais.
A festa tem incio a partir das 22 horas, quando uma grande quantidade de filhos
de santo de vrias partes do Estado e de outras regies do pas e at do exterior esto
organizados, com suas roupas e fios de conta, dedicado aos seus orixs protetores.
Muitos pais e mes de santo de outros terreiros prestigiam a festa, o que torna o terreiro
pequeno para a grande quantidade de adeptos. Desta forma, organizada duas grandes
rodas para o Xir dedicado aos Orixs, na qual homens