Resumo a partir da leitura do ensaio A Inocência do Devir

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  • 5/28/2018 Resumo a partir da leitura do ensaio A Inocncia do Devir

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    Universidade de So Paulo

    Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas

    Departamento de Letras Clssicas e Vernculas

    MODULAO E RITMO:

    Resumo a partir da leitura do ensaioA Inocncia doDevir, de Silvina Rodrigues Lopes.

    Anderson Vieira Santana

    N USP 6465132

    So Paulo, Novembro de 2013

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    Modulao e Ritmo:

    Resumo a partir da leitura do ensaioA Inocncia do Devir, de Silvina Rodrigues Lopes.

    Se nos predispomos a adentrar o imaginrio potico de Herberto Helder,

    necessrio, de antemo, esquecermos ou ao menos esforar-se por faz-lo -, o lugar da

    poesia marcada, pr-dita, encapsulada sob a forma de esquemas que mais amarram

    do que fazem fluir a palavra-poema. Ora, o poeta em questo nos proporciona o

    prazer quase ingnuo de estar diante do novo, de uma transformao que se realiza na

    poesia pela prpria poesia; medida que nos faz crer que na palavra escrita - ou dita -,

    haja a chave para tantos outros lugares, revelando a possibilidade mgica do

    bilinguismoda linguagem, da transgresso sinttica a operar minuciosamente versos que

    trasmudam-se infinitamente. Para longe da sutileza, do lirismo do senso [potico]

    comum, Helder matemtico, preciso em suas escolhas no bvias e, paradoxalmente,

    liberto dessas amarras se levarmos em considerao o papel do leitor tambm eleautor da obra, em certa medida -, e de seu lugar de enunciao a partir da recepo da

    leitura.

    sob esse ponto de vista da eterna mutao do verso, lugar onde corpos

    orgnicos e inorgnicos -, e o mundo expressam a complexidade potica e sua

    imanncia, que Silvina Rodrigues Lopes traz superfcie a ideia do devir na obra

    helderiana. Espcie de metamorfose o corpo que se transforma no mundo, porque

    parte dele, por que ele -, d-se na poesia de Helder, certa simbiose atravs da qual se

    percebem jogos de combinao, fuses, negaes, palavras que valem por imagens e

    vice-versa, na construo de sentidos incessantemente novos.

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    Importante salientar, no obstante, que o que soa em princpio paradoxal, dado

    o carter experimental, por vezes um tanto catico desta potica, ganha verossimilhana

    e ainda mais propriedade ao entendermos que a ideia de continuidade a representada, e

    explicitada no ensaioA Inocncia do Devir, parte do processo de criao do poeta que

    nos faz entender que o ritmo ferramenta essencial poesia -, no se d apenas pela

    constncia da o aspecto inovador que imprime o poeta; o eterno frescor do poema. Ao

    contrrio, a negao desse paradigma a partir da qualidade do que perene, que

    revela as novas possibilidades exploradas pelo autor.

    O ritmo em Herberto Helder no dado pela oposio temporal claro/escuro, por

    exemplo, antes o que se v a imanncia de um no outro: no h o claro sem escuro,

    portanto os dois no se antagonizam necessariamente, nem devem apenas ocupar

    recortes de tempo distintos. A modulao, ou ainda, o devir, a palavra-chave para a

    leitura de seus poemas, assim, o claro transforma-se no escuro num ritmo de

    completude e no de excluso. No h finitude, apenas continuidade. Nas palavras de

    Silvina, o devir um molde temporal contnuo, ou ainda: O poema assemelha-se

    aco passada num palco, que pode ser o mundo, onde o encenador e o actor trocam os

    papis, sem que o acto de troca seja perceptvel. (p. 52)

    Essa fora representativa do que no se esgota, mas transforma-se, posta por

    Helder de maneira a construir uma espcie de espelho da palavra - e do sujeito que a

    enuncia, seja ele o prprio autor, ou mesmo o receptor da obra, que assume papel ativo

    no processo de criao potica, medida em que a re-enunciade seu lugar -, que

    traz tona diferentes mscaras (...), deformando-as em novas formas., uma vez que

    no h linguagem sem metalinguagem. (pp. 54 55)

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    Dessa exposio, Silvina nos chama ateno para o fato de que a imagem de

    suma importncia para o poeta Escrevi a imagem que era a cicatriz de outra

    imagem, diz ele. Ora, a partir desse entregar-se dissecao espontnea, mas nada

    ingnua e que exige do leitor certa astcia, da leitura da obra helderiana que se descobre

    esse potencial imagtico de sua poesia. Est nela uma capacidade mpar de revelar

    imagens no signo dado, escrito e, portanto, escancarado, mas tambm atravs de seus

    silncios: signos mudos que saltam atravs da criao de tenses que extrapolam a

    natureza semntica, mas que provm de timbre, (...) acentos, (...) intensidades. (p. 60)

    Esta relao, j tratada como no sendo paradoxal, mas complementar, pode ser

    encarada como uma espcie de generosidade do autor. Ora, para Silvina Lopes a

    modulao de imagens no se d de forma definitiva o que possibilitaria a

    desmoldagem, a desconstruo, tambm ela definitiva -, mas contnua: modular

    moldar de maneira contnua e perpetuamente varivel. (p. 62) Desta forma, portanto, se

    admitimos a tal premissa, estaremos sempre diante de uma obra que no carrega o peso

    de uma relao unilateral autor/leitor, mas que se apresenta nova a cada contato.

    Em suma, entendemos, a partir da leitura do ensaio de Silvina Rodrigues

    Lopes, que a poesia helderiana o lugar da invocao do novo, do presente eterno que

    no nega a experincia mnemnica - e com isso o passado -, porque dela tambm se

    alimenta na criao do que est dado e do que ainda est por vir. Importante

    percebermos que estes lugares de alternncia que no so excludentes, mas formam

    parte da experincia do dizer sim ao devir. O instante do voo. (p. 105)