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    INSTITUTO FEDERAL DE GOIS - CAMPUS GOINIACURSO DE ESP. EM POLTICAS E GESTO DA EDUCAO

    PROFISSIONAL E TECNOLGICA

    RESUMO - A educao profissional nos anos 2000: A dimensosubordinada das polticas de incluso

    Accia Zeneida Kuenzer

    Neste artigo Kuenzer se prope a confrontar as polticas de Educao

    Profissional formuladas a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, a

    partir do segundo perodo de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e

    durante o primeiro governo do presidente Lus Incio Lula da Silva, embora pautadas

    no discurso da incluso dos trabalhadores no mundo do trabalho por meio daqualificao profissional, essas polticas no s no surtiram o efeito anunciado como

    ainda tornaram mais precarizadas as ofertas educativas. Em sntese, o que ela quer

    afirmar a necessidade de confrontar, permanentemente, e dialeticamente, pensamento

    e realidade, buscando apreender o real como totalidade em movimento, em sua

    complexidade, para que se possa comparar e avaliar os impactos das polticas de

    Educao Profissional da ltima dcada, mais especificamente no perodo

    compreendido entre os anos 1995 e 2005.

    A formulao de polticas e a implantao de programas de Educao

    Profissional no ltimo governo so muito recentes para que se possa levar a efeito uma

    avaliao com dados primrios e secundrios exaustivos, e que permitam anlises

    histricas. Contudo, possvel confrontar as concepes e propostas presentes nas

    polticas com dados de pesquisa a partir de um quadro categorial epistemologicamente

    integrado, de modo que se apreendam as mediaes que articulam as propostas

    educativas e a realidade do trabalho no mbito da acumulao flexvel.

    Accia Kuenzer, em sua trajetria investigativa busca elucidar relaes

    sugeridas que lhe conduziram, nesta ltima pesquisa, formulao da seguinte tese, a

    qual parece resumir a pedagogia do trabalho na acumulao flexvel: do ponto de vista

    do mercado, ocorre um processo de excluso da fora de trabalho dos postos

    reestruturados, para inclu-la de forma precarizada em outros pontos da cadeiaprodutiva. J do ponto de vista da educao, estabelece-se um movimento contrrio,

    dialeticamente integrado ao primeiro: por fora de polticas pblicas professadas na

    direo da democratizao, aumenta a incluso em todos os pontos da cadeia, mas

    precarizam-se os processos educativos, que resultam em mera oportunidade de

    certificao, os quais no asseguram nem incluso, nem permanncia. Em resumo, do

    lado do mercado, um processo de excluso includente, que tem garantido diferenciais de

    competitividade para os setores reestruturados por meio da combinao entre integrao

    produtiva, investimento em tecnologia intensiva de capital e de gesto e consumo

    precarizado da fora de trabalho. Do lado do sistema educacional e de EducaoProfissional, um processo de incluso que, dada a sua desqualificao, excludente.

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    Esta proposta de investigao se justifica, tambm, pelo carter parcial e

    insuficientemente explicativo das pesquisas que tm sido realizadas na rea, as quais

    tomam recortes das cadeias produtivas, principalmente por meio de estudos de caso.

    Seus resultados, ainda que preliminares, podem servir de contraponto para a anlise das

    polticas e dos programas de Educao Profissional formulados na ltima dcada,

    reafirmando que no possvel estudar as polticas pblicas sem um quadro categorial

    que as compreenda como expresso de uma totalidade em movimento, nesse caso, de

    uma prtica social capitalista marcada pela acumulao flexvel.

    Mas, de que incluso se fala? Como afirma Oliveira, o termo excluso, e

    por consequncia o seu par categorial, a incluso, passou a ocupar espaos crescentes na

    literatura social, especialmente na rea de polticas pblicas, embora esteja fortemente

    presente em todas as reas. O resultado desta disseminao, segundo o prprio Oliveira

    2010, levou ao uso indiscriminado e indefinido dessas categorias, de modo que

    passaram a ser empregadaspor quase todo o mundo para designar quase todo o mundo.

    A forma de compreender o par categorial excluso/incluso, como relao

    constitutiva do modo de produo capitalista, conduz a duas ordens de consideraes,

    tendo em vista as finalidades deste artigo.

    A primeira, referente lgica das relaes mercantis, permite compreender que

    a competitividade dos setores dinmicos no mercado mundial depende do que se pode

    chamar de excluso includente dos setores precarizados.

    Pode-se compreender, assim, como um ramo ou parte dele, como, por exemplo,

    o metalrgico, pode permanecer orgnico acumulao flexvel utilizando mquinas

    antigas, tecnologicamente superadas, j descartadas por setores mais complexos, porm

    re-adquiridas porque respondem a necessidades de produo de servios ou produtosfinais em pequena escala, que atendem demandas especficas dos setores dinmicos, as

    quais, por sua particularidade e pequeno nmero, no suportam processos

    tecnologicamente complexos que resultariam em aumento do custo final do produto da

    cadeia.

    Contraditoriamente, a precarizao ao longo da cadeia, combinada com a

    intensificao decorrente das estratgias de flexibilizao da produo, condio para

    a complexificao na ponta mais dinmica, e, neste sentido, para a manuteno da

    lgica da acumulao flexvel.

    Com relao aos trabalhadores, o processo o mesmo; no plano das realidades

    que precisam ser excludas para que o capital possa confirmar-se como princpio

    abrangente de sntese, os trabalhadores tambm devem passar por um processo de

    reduo ontolgica. Assim com tudo o que no possa ser completamente abrangido

    pela lgica capitalista: primeiro precisa ser excludo, em seguida reduzido dimenso

    meramente econmica para depois ser includo sob outro estatuto ontolgico, processo

    que se d, no individualmente, mas no cerne das relaes sociais e produtivas, ao longo

    da histria.

    Dessa forma, medida que se avana na cadeia, no sentido dos trabalhos mais

    complexos, vo se verificando outras demandas de qualificao profissional e de

    escolaridade, permitindo compreender que a incluso subordinada regida pela

    polarizao das competncias, e a compreenso desta categoria ficou facilitada pelo

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    estudo da cadeia com os seus principais elos, o que evidenciou dois movimentos que

    elucidam como a polarizao refora a precarizao, viabilizando um consumo cada vez

    mais predatrio da fora de trabalho e objetivando a lgica da acumulao flexvel. Por

    um lado, verifica-se a maior exigncia de escolaridade e/ou Educao Profissional

    medida que a cadeia se complexifica tecnolgica e administrativamente, pela adoo de

    novos processos, equipamentos, materiais e formas de organizao e gesto; por outro

    lado, a desmobilizao de trabalhadores qualificados, que passam a ser incorporados em

    pontos da cadeia em que o trabalho mais precarizado e intensificado, como os dados

    acima evidenciam.

    Este processo de reduo da classe trabalhadora a uma identidade que lhe

    permita incluir-se no processo de trabalho por meio de formas predatrias se d por

    intermdio dos processos de flexibilizao e conta com a contribuio de processos

    pedaggicos, que ocorrem no mbito das relaes sociais e produtivas e por meio da

    escola e da formao profissional, quando estas oportunidades esto disponveis. No

    caso dos trabalhos feitos fora das firmas, a flexibilizao demanda uma subjetividade

    que se ajuste sazonalidade, intensificao, variabilidade de ocupaes,

    necessidade de adaptar-se a novas tarefas, enfim, uma fora de trabalho com mobilidade

    e plasticidade para ajustar-se permanentemente ao novo, que no caso corresponde ao

    trabalho precrio, que demanda pouca qualificao, predominantemente de natureza

    psicofsica e tcita, para o que a escolarizao pouco contribui; uma fora de trabalho

    com as caractersticas daquela demandada pelo modo taylorista/fordista, porm sem os

    benefcios da estabilidade e do vnculo formal.

    J nas firmas reestruturadas que compem as cadeias, em que a formao

    terico-prtica se evidencia como necessria, a flexibilizao assume o significado dapolivalncia, da capacidade de aprender permanentemente e de ajustar-se

    dinamicidade de uma planta que se adapta continuamente para atender s demandas do

    mercado.

    Nessas duas situaes, as pesquisas mostraram que o processo de reduo

    ontolgica conta com mais uma importante estratgia educativa voltada para a formao

    de subjetividades que se adaptem flexibilizao e ao mesmo tempo justifiquem o

    insucesso a partir dos sujeitos: as propostas de educao para o empreendedorismo,

    sobre o que h necessidade de desenvolver estudos mais aprofundados.

    No plano da formulao das polticas, no perodo analisado, tem-se dois

    documentos que explicitam as concepes e propostas de Educao Profissional dos

    dois ltimos governos: o Plano Nacional de Qualificao do Trabalhador (PLANFOR) e

    o Plano Nacional de Qualificao (PNQ).

    O PLANFOR, implementado a partir de 1995 pelo Ministrio do Trabalho e

    Emprego por dois quadrinios de vigncia (1995-1998 e 1999-2002), teve como

    proposta articular as Polticas Pblicas de Emprego, Trabalho e Renda, tendo como

    principal fonte de financiamento o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

    O PLANFOR props como meta qualificar, por meio da oferta de Educao

    Profissional, pelo menos, 20% da Populao Economicamente Ativa (PEA), o que

    significou aproximadamente 15 milhes de pessoas com idade superior aos 16 anos,

    tendo em vista a incluso no mundo do trabalho. Esse programa envolveu 15,3 milhes

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    de trabalhadores nos Planos de Qualificao Profissional, havendo uma crescente

    disponibilizao de recursos nesse perodo, que passou de R$ 28 milhes, em 1995,

    para R$ 493 milhes, em 2001. Ao mesmo tempo, a carga horria mdia dos cursos

    oferecidos passou de 150 horas para 60 horas mdias, indicando a priorizao da

    quantidade da oferta sobre a sua possvel qualidade. J para o ltimo ano de governo, os

    recursos foram reduzidos para R$ 153 milhes, aproximadamente 30% dos valores do

    ano anterior; para 2003, primeiro ano do novo governo, o oramento da Unio, definido

    ainda no governo anterior, destinou apenas R$ 186 milhes.

    A partir da avaliao do PLANFOR, o governo do presidente Lula apresentou

    nova proposta de poltica pblica de Educao Profissional, expressa no Plano Nacional

    de Qualificao (PNQ), para o perodo 2003/ 2007, com trs grandes objetivos: incluso

    social e reduo das desigualdades sociais; crescimento com gerao de trabalho,

    emprego e renda, ambientalmente sustentvel e redutor das desigualdades regionais; e

    promoo e expanso da cidadania e fortalecimento da democracia.

    A nova proposta fundamenta-se em seis dimenses principais: poltica, tica,

    conceitual, institucional, pedaggica e operacional, cujas concepes so, em sntese: o

    reconhecimento da Educao Profissional como direito, como poltica pblica e como

    espao de negociao poltica; exigncia de integrao entre educao bsica e

    profissional, para o que a durao mdia dos cursos passe a ser estendida para 200

    horas; reconhecimento dos saberes socialmente produzidos pelos trabalhadores;

    exigncia de formulao e implementao de projetos pedaggicos pelas agncias

    contratadas; garantia de investimentos na formao de gestores e formadores; a

    implantao de um sistema integrado de planejamento, monitoramento, avaliao e

    acompanhamento dos egressos; a integrao das Polticas Pblicas de Emprego,Trabalho e Renda entre si e destas com relao s Polticas Publicas de Educao e

    Desenvolvimento: transparncia e controle no uso dos recursos pblicos.

    Dessa forma, para fins de anlise, podem-se identificar trs linhas

    programticas que, a partir do PNQ, propem-se a operacionalizar as polticas de

    Educao Profissional do governo do presidente Luis Incio Lula da Silva: a primeira,

    que se constitui na proposta reformulada do PLANFOR, continua financiando aes que

    integram o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT), e

    as Comisses Estaduais e Municipais do Trabalho, com recursos, cada vez mais

    exguos, do FAT; a segunda, que congrega os programas que apresentam efetiva

    vinculao com a Educao Bsica; e a terceira, que congrega as aes que tm sua

    origem no Programa Nacional de Estmulo ao Primeiro Emprego (PNPE).

    Com relao s aes do primeiro grupo, o que se tem como novidade a

    extenso da durao dos cursos, por meio da exigncia de 200 horas em mdia, que

    integrem educao bsica e profissional obedecendo a planejamento pedaggico

    integrado, a ser implementado pela entidade executora, incluindo contedos que

    discutam cidadania, organizao e gesto do trabalho e sade e segurana.

    No segundo grupo tem-se a continuidade do PRONERA e do PROEP, nesse

    momento em fase de negociao com o Banco Mundial tendo em vista sua renovao, o

    Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria

    (PROJOVEM) e o Programa Nacional de Integrao da Educao Profissional

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    Educao Bsica, na Modalidade de Educao de Jovens e Adultos (PROEJA), ambos

    criados no Governo Lula.

    No terceiro grupo tem-se as aes abrangidas pelo Programa Nacional de

    Estmulo ao Primeiro Emprego (PNPE), gerenciado pelo Ministrio do Trabalho e

    Emprego, o principal programa do Governo Lula voltado para a incluso dos jovens em

    situao de vulnerabilidade social, cujo objetivo combater a pobreza e a excluso

    social atravs da integrao entre as polticas de emprego e renda a uma poltica de

    investimentos pblicos e privados geradora de mais e melhores oportunidades.

    Contudo, as polticas e propostas contidas nos decretos e planos nos dois

    governos, originaram um conjunto de programas e projetos que tiveram por objetivo a

    sua implementao. Esses programas e projetos, tanto no Governo Fernando Henrique

    quanto no Governo Lula, no se diferenciam no que diz respeito concepo das

    relaes entre Estado e Sociedade Civil, que passam a se dar por meio das parcerias

    entre o setor pblico e o setor privado.

    Essas relaes supem o repasse de parte das funes do Estado para a

    Sociedade Civil, acompanhado do repasse de recursos, os quais, realizados sob o

    ordenamento jurdico privado, fogem aos controles pblicos da Unio. Em decorrncia

    desta concepo, a prestao de contas dos contratos d-se por meio da realizao do

    produto acordado, ficando a entidade executora obrigada a fornecer comprovaes, no

    havendo controle do processo, inclusive sob o ponto de vista contbil. Como j se

    apontou anteriormente, a natureza do produtojovens qualificados, entre os quais 30%

    devem ser inseridos no mundo do trabalho ou em outras alternativas de formao

    presta-se a relatrios meramente formais, sem que se tenha indicadores de qualidade e

    efetividade social, e, por consequncia, do bom uso dos recursos pblicos.Todavia, a continuidade de uma realidade que se generalizou no governo

    anterior, e que, embora negada no plano do discurso, fortalece-se cada vez mais no

    Governo Lula: o crescente repasse de recursos pblicos para o setor privado, por

    intermdio de parcerias justificadas pela impossibilidade do Estado em cumprir com

    suas funes.

    A compreenso desta afirmao fica facilitada pela anlise do ordenamento

    jurdico sobre a Educao Profissional, que tem dado suporte a esta concepo: o

    Decreto n. 2.208/97, do governo anterior, e o Decreto n. 5.154/2004, do atual governo.

    Ao analisar o novo decreto, em texto que, embora tivesse circulado, no foi publicado,

    indagou-se acerca da sua verdadeira inteno, uma vez que, no obstante revogue

    formalmente o Decreto n. 2.208/97, na prtica no o faz, porque, no obstante recrie os

    cursos mdios integrados, o que na prtica no seria necessrio por estarem eles

    contemplados no pargrafo segundo do artigo 36 da Lei n. 9.394/96, incorpora todas as

    modalidades de Educao Profissional por ele propostas, com pequenas mudanas de

    denominao.

    Em resumo, o que se est afirmando que, uma vez procedido o desmonte da

    oferta pblica de Educao Profissional pelo Decreto n. 2.208/97, e estabelecido o

    balco de negcios, dificilmente este processo ser revertido. A resistncia das agncias

    formadoras s exigncias do PNQ mostra, entre outros fatos, que o negcio deixou de

    ser interessante; como resultado, tem-se menos oferta gratuita oferecida pelo setor

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    privado com recursos pblicos e tem-se reduzida oferta pblica. Ao mesmo tempo, a

    profuso de programas criados com a finalidade de operacionalizar o PNPE mostra que

    foram abertos muitos outros canais de repasse de recursos para o setor privado, sob a

    coordenao de diferentes ministrios e da Secretaria - Geral da Presidncia da

    Repblica. Causa, no mnimo, estranheza, a criao de programas praticamente

    idnticos, mas sob a coordenao poltica de diferentes ministrios e/ou da Secretaria-

    Geral da Presidncia da Repblica, como o caso dos Consrcios Sociais da Juventude

    e do Juventude Cidad.

    H, portanto, uma profuso de dados que enunciam o mau uso dos recursos

    pblicos a partir de uma concepo que, implementada no governo anterior, foi

    assumida e estimulada no Governo Lula, e que esconde, sob a defesa do carter pblico

    das aes, a sua realizao pelo setor privado sem que haja elementos que permitam

    comprovar sua qualidade e efetividade social.

    O que os dados revelam que, sob o discurso da parceria entre o Estado, a

    Sociedade Civil e o setor empresarial, a partir do entendimento de que as organizaes

    da Sociedade Civil tendem a obter melhores resultados entre o pblico jovem em

    situao de maior vulnerabilidade social, e que essas instituies so capazes de

    chegar a lugares onde o Estado no chega, foram e esto sendo carreados vultosos

    recursos para o chamado setor comunitrio realizar a funo do Estado no tocante

    Educao Profissional, sem que haja indicaes, por meio de avaliaes consequentes,

    de que os projetos atingem suas finalidades. De modo geral, a oferta gratuita, pelos

    setores pblico e comunitrio, quantitativamente insignificante e pouco aderente s

    demandas dos excludos, cujos resultados no evidenciam outra possibilidade de

    incluso seno por intermdio da realizao de trabalhos precarizados epredominantemente eventuais, segundo a lgica da incluso subordinada.

    Alm da concepo de ao pblica no-estatal que justificou o repasse de

    recursos pblicos para instituies privadas, os programas aqui referenciados se

    caracterizaram pela desarticulao e pela fragmentao das aes a que deram origem,

    por meio de uma profuso de projetos similares espalhados por diferentes unidades

    gestoras, particularmente no governo do presidente Lula.

    Em resumo, so trs programas que continuam, com modificaes: o

    PRONERA, o PNQ e o PROEP; mais dois que se vinculam explicitamente ao Sistema

    Nacional de Educao: o PROJOVEM e o PROEJA. E mais sete projetos distribudos

    entre ministrios, secretarias, secretarias especiais, alguns deles com seus respectivos

    conselhos, todos vinculados ao Plano Nacional de Estmulo ao Primeiro Emprego. No

    total, tem-se 12 propostas em andamento, sem considerar o ensino mdio integrado,

    ainda muito incipiente.

    Com o objetivo de viabilizar cada um desses projetos, so estabelecidas

    parcerias entre a Secretaria-Geral da Repblica, os ministrios citados, os governos

    estaduais, municipais e outros rgos federais, entidades da Sociedade Civil, empresas

    pblicas e privadas, sempre prevalecendo a primazia do repasse dos recursos ao setor

    privado, como se analisou anteriormente, por meio das redes ou franquias sociais. E, de

    modo geral, eles so muito parecidos, com pequenas especificidades que no justificam

    tamanha fragmentao de aes e pulverizao de recursos.

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    Como resultado, reproduzem-se estruturas, espaos e recursos, financeiros e

    humanos, para os mesmos fins, configurando-se uma clara estratgia populista de

    eficcia discutvel.

    Essas propostas de Educao Profissional que vm sendo analisadas, cotejadas

    com os dados disponibilizados pelas pesquisas de campo realizadas pela autora nos

    ltimos anos, vem evidenciando que, embora as mudanas ocorridas no mundo do

    trabalho passem a exigir ampliao da educao bsica com qualidade, qual se integre

    formao profissional de natureza tecnolgica, fundada no domnio intelectual da

    tcnica como relao entre conhecimentos e competncias cognitivas complexas, o que

    se vem oferecendo aos que vivem do trabalho se resume, basicamente, reproduo do

    conhecimento tcito, no passando de discurso a integrao entre educao bsica e

    profissional.

    Dessa forma, a pedagogia do trabalho, assim compreendida, resume-se a

    observar e repetir at memorizar as boas prticas dos trabalhadores maisexperientes,

    bastando inserir desde logo o futuro trabalhador na situao concreta de trabalho,

    mesmo sem que ele se aproprie de categorias terico-metodolgicas que lhe permitam

    analis-la e compreend-la para poder intervir com competncia.

    A anlise levada a efeito, mais do que abranger toda a temtica, indica um

    extenso programa de investigao a ser levado a efeito por aqueles intelectuais que

    professam compromisso com os que vivem do trabalho, tendo em vista a avaliao do

    que lhes tem sido ofertado sob o discurso de sua incluso, e a proposio coletiva de

    projetos de outra natureza. E mostra que os princpios que orientaram a Educao

    Profissional no Governo Fernando Henrique no foram superados no Governo Lula,

    alguns deles inclusive tendo sido intensificados.Como resultado, possvel indicar a continuidade de propostas precrias de

    Educao Profissional para legitimar a incluso em trabalhos precarizados, de modo que

    se alimente o consumo predatrio da fora de trabalho, para o que a reduo

    epistemolgica por meio da formao de subjetividades flexveis, polivalentes e

    empreendedoras se realiza por intermdio das dimenses pedaggicas dos processos

    sociais aos quais se articulam polticas e prticas educativas de carter privado,

    populistas e fragmentadas, que expressam as estratgias de disciplinamento necessrias

    ao novo regime de acumulao, para o que a nova epistemologia da prtica fornece os

    fundamentos.

    Contudo, no h como professar uma crena mecnica no poder das

    contradies, como se fosse possvel resolver o problema da incluso por meio da

    qualificao precarizadas para uma insero consentida, que apenas atende s demandas

    da acumulao flexvel, com restritas possibilidades de desenvolver uma conscincia de

    classe.