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RESUMÃO DE FILOSOFIA TRABALHO, ALIENAÇÃO E CONSUMO TRIPALIARE O simpático [e preguiçoso] gato Garfield e a frase clichê “odeio segunda-feira!” representam o sentimento quase universal de desânimo e/ou aversão diante do trabalho. A própria palavra trabalhar deriva do latim tripaliare, que designava o tripálio, um instrumento formado por três paus, próprio para atar os condenados ou manter preso os animais difíceis de ferrar. A origem etimológica associa o trabalho à tortura. Todavia, é pelo trabalho que a natureza é transformada mediante o esforço coletivo para, por exemplo, arar a terra, colher seus frutos, domesticar animais, modificar paisagens e construir cidades. E não somente isso, pois é também pelo trabalho que se formam instituições como a família, a escola e até mesmo o Estado; a ciência, a arte e a filosofia. É possível dizer, portanto, que o ser humano se faz pelo trabalho, pois a partir do momento em que produz algo, constrói a própria subjetividade, ou seja, se modifica e enriquece, desenvolve a imaginação, aprende a se relacionar e a superar obstáculos. Como condição de humanização, o trabalho liberta, ao viabilizar projetos e concretizar desejos. Para se emancipar, a mulher precisou ter amplo acesso ao mercado de trabalho, não só para garantir sua autonomia financeira, mas também para formar uma nova identidade e garantir maior liberdade nas suas escolhas.

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RESUMÃO DE FILOSOFIA

TRABALHO, ALIENAÇÃO E CONSUMO

� TRIPALIARE

O simpático [e preguiçoso] gato

Garfield e a frase clichê “odeio

segunda-feira!” representam o

sentimento quase universal de

desânimo e/ou aversão diante

do trabalho.

A própria palavra trabalhar deriva do latim tripaliare, que

designava o tripálio, um

instrumento formado por três paus, próprio para atar os condenados ou manter preso os animais

difíceis de ferrar. A origem etimológica associa o trabalho à tortura.

Todavia, é pelo trabalho que a natureza é transformada mediante o

esforço coletivo para, por exemplo, arar a terra, colher seus frutos, domesticar animais, modificar paisagens e construir cidades. E não

somente isso, pois é também pelo trabalho que se formam instituições

como a família, a escola e até mesmo o Estado; a ciência, a arte e a

filosofia.

É possível dizer, portanto, que o ser humano se faz pelo trabalho, pois a

partir do momento em que produz algo, constrói a própria subjetividade, ou seja, se modifica e enriquece, desenvolve a

imaginação, aprende a se relacionar e a superar obstáculos. Como

condição de humanização, o trabalho liberta, ao viabilizar projetos e

concretizar desejos.

Para se emancipar, a mulher precisou ter amplo acesso ao

mercado de trabalho, não só

para garantir sua autonomia financeira, mas também para

formar uma nova identidade e garantir maior liberdade nas

suas escolhas.

O trabalho surge como controvérsia à Geografia Determinista de

Ratzel, deteriorando a imagem da natureza como fator determinante;

atuando como uma possibilidade de se sobrepor a ela [natureza].

Trabalhar é uma linha tênue, o contraste, entre a tortura e a

emancipação.

� ÓCIO E NEGÓCIO

Nas sociedades tribais, a divisão das tarefas se baseia na cooperação e

na complementação, e não na exploração, tanto a terra como os frutos

do trabalho pertencem a toda a comunidade. Para Jean-Jacques Rousseau, filósofo do século XVIII, a desigualdade surgiu a partir do

momento em que alguém cercou um terreno e se lembrou de dizer “isto

é meu”, criando, assim, a propriedade privada.

A partir de então surgiram as guerras, os conflitos ideológicos, a relação

de dominação e a desigual apropriação dos frutos do trabalho. Desde as civilizações mais antigas, como as da Mesopotâmia e do Egito, existe a

divisão daqueles que mandam [projetam, concebem e inventam] e aqueles que somente obedecem e executam. Apresenta-se assim a

dicotomia [divisão] entre a concepção e a execução do trabalho.

Para os neodarwinistas sociais, essa dicotomia trata-se de um processo

natural, pois alguns teriam mais talento para pensar, enquanto outros só seriam capazes de realizar atividades braçais. Entretanto, a

sociedade possui mecanismos que mantêm a divisão, não conforme a

capacidade, mas sim de acordo com a classe a que cada um pertence.

Entre os antigos gregos e romanos, que viviam em sociedades

escravagistas, era nítida a divisão entre as atividades intelectuais e

braçais, com a evidente desvalorização desta última, caracterizando a

hierarquia social. Um dos indícios da divisão era a educação, por ser

privilégio dos proprietários. Séculos depois, esse fator foi mantido como

critério na Idade Média, quando a Igreja detinha o poder, ou seja, o

conhecimento. Não por acaso, a palavra escola na Grécia antiga significava literalmente “o lugar do ócio”, onde as crianças aprendiam

jogos, música e retórica, a arte de bem falar.

Nota: o termo ócio não tinha naquele tempo o mesmo significado de hoje. Atualmente, o ócio significa o não fazer, o descanso. Para os

gregos, tratava-se daquilo que os isentavam dos deveres da subsistência

para gozarem de tempo livre e se dedicarem a funções mais nobres, como guerrear, fazer política, pensar e decidir. Entre os romanos,

manteve-se o sentido original grego, tanto é que o trabalho para

sustentar a vida era identificado como negócio [nec-otium, não-ócio].

Até a Idade Média, a riqueza se restringia a posse de terras. John Locke compreende como cidadão aquele que detém a posse da terra,

da propriedade privada, estando apto, assim, a dedicar-se à política e

servir ao Estado. Entretanto, durante a Idade Moderna, as atividades

mercantis e manufatureiras desenvolveram-se a tal ponto que a riqueza

passou a abranger também a posse do dinheiro, provocando a

expansão das fábricas que culminou com a Revolução Industrial no

século XVIII.

Tais acontecimentos decorreram da ascensão da burguesia enriquecida,

que valorizava a técnica e o trabalho, uma vez que estes constituíam

um segmento originado dos servos libertos dos senhores feudais no fim

da Idade Média. Por isso, a máquina exercia grande fascínio: no século XVIII, Pascal inventou a primeira calculadora, Torricelli construiu o

barômetro e Galileu inaugurou o método das ciências naturais,

baseado na técnica e no experimento.

Francis Bacon, com seu lema “saber é poder”, realça o papel histórico da ciência e do saber instrumental, capaz de dominar a natureza. Dessa

forma, rejeita as concepções tradicionais de pensadores “sempre prontos para tagarelar”, mas que “são incapazes de gerar, pois a sua

sabedoria é farta de palavras, mas estéril em obras”. Numa linha

semelhante, Descartes afirma:

Pois elas [as noções gerais da física] me fizeram

compreender que é possível chegar a conhecimentos

muito úteis à vida, e que, em vez dessa filosofia

especulativa que se ensina nas escolas, se pode

encontrar uma outra prática, pela qual [...] poderíamos

emprega-los da mesma maneira em todos os usos para

os quais são próprios, e assim nos tornar senhores

possuidores da natureza.

Tem início, então, o ideal prometeico [relativo a Prometeu, simboliza a

valorização da técnica e do trabalho humano] da ciência. Embora Bacon

e Descartes seguissem linhas de reflexão diferentes, ambos destacavam

a técnica como capaz de “dominar a natureza”. Estava ocorrendo uma

mudança do enfoque na relação entre o pensar e o fazer.

No campo político e econômico, estavam sendo elaborados os princípios

do liberalismo. Superando as relações de dominação entre senhores e

servos, foi instituído o contrato de trabalho entre indivíduos livres, o

que significa o reconhecimento do trabalhador no campo político.

� O TRABALHO COMO MERCADORIA: ALIENAÇÃO

No século XIX, o desenvolvimento da economia capitalista foi capaz de determinar uma curiosa situação. Mesmo produzindo riquezas em um patamar astronômico, o capitalismo ainda estava cercado por desigualdades que indicavam a diferença social e econômica das classes

burguesa e operária.

A exploração dos operários fica

explícita em extensas jornadas de trabalho em péssimas instalações, salários baixos, arregimentação de

crianças e mulheres como mão de obra barata. Era a mais-valia de Karl Marx, pela qual as empresas

garantiam maior lucro através da

máxima exploração do proletariado.

Para Marx, a pessoa deve trabalhar para si, no sentido de que deve trabalhar para fazer-se a si mesma um ser humano. O que não significa

trabalhar sem compromisso com outros, uma vez que o trabalho é uma

tarefa coletiva e, como tal, visa o bem comum.

Marx nega que o liberalismo possa garantir a igualdade entre as partes, pois o operário perde mais do que ganha, já que produz para outro, e

não escolhe o salário, não escolhe o horário nem o ritmo do trabalho que irá lhe controlar. Como resultado, o indivíduo torna-se estranho,

alheio a si próprio, alienado.

Segundo Rousseau, o poder do povo é inalienável, porque só a ele

pertence; na linguagem comum, a pessoa alienada perde a compreensão do mundo em que vive. Para Karl Marx, a alienação não é puramente

teórica, uma vez que se faz presente na vida real quando o produto do

trabalho deixa de pertencer a quem o produziu.

No novo contexto capitalista, ao vender sua força de trabalho mediante salário, o operário também se transforma em mercadoria. Ocorre então

o que Marx chama de fetichismo da mercadoria e reificação do trabalhador.

• O fetichismo é o processo pelo qual a mercadoria, um ser inanimado, adquire “vida”, uma vez que a mercadoria (manufatura) quando finalizada, não mantinha o seu valor real

de venda, que segundo ele era determinado pela quantidade de

trabalho materializado no artigo, mas sim, que esta, por sua vez

adquiria uma valoração de venda irreal e infundada, como se não fosse fruto do trabalho humano e nem pudesse ser mensurado, o

que ele queria denunciar com isto é que a mercadoria parecia perder sua relação com o trabalho e ganhava vida própria.

• A reificação [do latim res, coisa] é a transformação dos seres humanos em “coisas”. Em consequência a humanização da

mercadoria leva à desumanização da pessoa, à sua coisificação,

isto é, o indivíduo é transformado em mercadoria.

� DISCIPLINA

A alienação não se aplica apenas à produção do trabalhador, mas

também às formas do consumo. Outros pensadores investigaram as

mudanças decorrentes do capitalismo, analisando-as sob o ângulo da instauração da era da disciplina. Segundo Michel Foucault, um novo

tipo de disciplina facilitou a dominação mediante a “docilização” do

corpo.

Em ambientes de trabalho

normalmente são representados

dois modelos disciplinares: o religioso [silêncio] e o militar [hierarquia, disposição em fileiras].

A disciplina é mantida pelos supervisores, que avaliam a

qualidade do serviço, evitam conflitos e fazem cumprir os regulamentos

por meio de proibições [não fale alto, não pronuncie palavras de baixo calão, não fume], regas de horários [começa a tirania do relógio para

entrada, saída e intervalos] e ainda penalidades como multas,

advertências, suspensões e demissões.

Para Foucault, na estrutura do olhar vigilante, forma-se a sociedade disciplinar, regida por um conjunto de normas de conduta, que conta

com a criação de instituições fechadas, voltadas para o controle social.

As normas, portanto, visam tornar o corpo mais dócil, suscetível à dominação, o que Foucault exemplifica com maestria em sua obra

Microfísica do poder.

� A TIRANIA DO RELÓGIO

O poeta brasileiro Mário Quintana, em Das ampulhetas e das

clepsidras, diz o seguinte:

Antes havia os relógios d’água, antes havia os relógios de

areia. O tempo fazia parte da natureza. Agora é uma

abstração – unicamente denunciada por um tic-tac

mecânico, como o acionar contínuo de um gatilho numa

espécie de roleta russa.

Na era capitalista, eficácia, organização e padronização

transformaram-se em palavras de ordem e todo movimento passa a ser

controlado externa e artificialmente. Foi isso que aconteceu quando os

proprietários de fábricas, na busca por maior produtividade,

implantaram sistemas de racionalização [economia de tempo].

O norte-americano Frederick Taylor, no início do século XX, elaborou uma teoria conhecida como Taylorismo. Taylor estabeleceu um

controle científico, por meio da medição por cronômetros, para que a

produção fabril fosse cada vez mais simples e rápida.

A mesma intenção levou

Henry Ford a instalar as

esteiras em suas fábricas, um processo de padronização da produção

em série. Ficava muito mais

nítida a separação entre a

concepção e a execução do trabalho, isto é, entre o

projeto e a sua realização,

entre o pensar e o fazer. O Fordismo, como ficou conhecido, consistia

no parcelamento das tarefas, que reduzia a atividade a gestos mínimos.

Cada operário era responsável por uma ação específica, encarregado de

trabalhar numa determinada parte do produto.

O operário não tinha conhecimento do que fazia, não compreendia o processo de montagem como um todo, somente aquilo que era

encarregado de fazer. Dessa forma, o trabalho era desvalorizado e a

produção, maximizada.

Aliado à lógica da produção em série, o investimento em

publicidade visava a provocar artificialmente a necessidade de

compra. Estava nascendo a sociedade de consumo com seus

patrocinadores, anunciantes, facilidades de crediário e

campanhas publicitárias

veiculadas com o intento de seduzir as massas. Desse modo, as fábricas

não só produziam o produto, como também produziam o consumidor.

� O CAPITALISMO DA GLOBALIZAÇÃO

A partir das décadas de 70 e 80, mudanças radicais nas maneiras de

trabalhar repercutiram no modo de vida tanto nas cidades como no campo. Com o surgimento de novos padrões de produtividade, a

tendência nas fábricas foi de quebrar a rigidez do Fordismo e do

Taylorismo.

O novo sistema de produção é mais flexível por atender aos pedidos à medida da demanda, com planejamento a curto prazo. No modelo do

Toyotismo, ao contrário do Fordismo, é privilegiado o trabalho em

equipe, a descentralização da iniciativa, além da necessidade da polivalência da mão de obra, já que o trabalhador deve controlar

diversas máquinas ao mesmo tempo. Na segunda metade do século XX,

notou-se o deslocamento da mão de obra para o setor de serviços. Não

que isso tenha diminuído a importância da produção industrial e

agrícola, acontece que elas também dependem do desenvolvimento de técnicas de informação e comunicação. Hoje, as pessoas consomem

em seu cotidiano serviços de publicidade, comunicação, comércio,

pesquisa, saúde, educação, turismo etc.

� SOCIEDADE DE CONSUMO

A exploração e a alienação da produção estendem-se para a esfera do

consumo. A organização dicotômica do trabalho reduz as possibilidades de o trabalhador encontrar satisfação na maior parte da sua vida,

enquanto se sente obrigado a realizar tarefas desinteressantes. Muitas vezes, essa situação cria a necessidade artificial de se proporcionar

prazer pela posse de bens.

As necessidades são estimuladas artificialmente por meio da publicidade, que leva o indivíduo a consumir sempre mais. A ânsia do

consumo perde toda a relação com as necessidades reais, o que faz com que as pessoas gastem mais do que precisam e, às vezes, mais do que têm, caracterizando o consumo alienado. Os produtos, por exemplo,

são expostos nas vitrines, geralmente os mais caros a altura dos olhos das pessoas, sempre com preços destacados, com anúncios de

promoção e/ou liquidação. Mesmo que não precise de tal produto, o indivíduo sente-se tentado a comprá-lo em razão da oportunidade. É o

famoso dobro pela metade do preço.

O comércio facilita a realização dos desejos ao possibilitar o

parcelamento das compras, promover liquidações e ofertas de ocasião.

As mercadorias são rapidamente postas fora de moda porque seu

design se tornou obsoleto ou porque um novo produto se mostrou

indispensável, seja televisão, geladeira, celular ou carro.

Sob a questão da produção e do consumo, debruçam-se inúmeros

filósofos, dentre os quais os pensadores da Escola de Frankfurt, movimento que surgiu na Alemanha na década de 1930. Para eles, a técnica apresentada no início como libertadora pode se mostrar, afinal,

como artífice de uma ordem tecnocrática opressora. Ao submeter-se

passivamente aos critérios de produtividade e desempenho no mundo

competitivo do mercado, o indivíduo perde muito do prazer de sua

atividade. Por isso, Max Horkheimer acrescenta que “a doença da

razão está no fato de que ela nasceu da necessidade humana de

dominar a natureza”. E mais, que “a história dos esforços humanos

para subjugar a natureza é também a história da subjugação do homem

pelo homem”.

Na sociedade capitalista, os interesses definem-se pelo critério da eficácia, uma vez que a organização das forças produtivas visa atingir

níveis sempre mais altos de produtividade e competitividade.

Herbert Marcuse chama de unidimensionalidade a perda da dimensão crítica, pela qual o trabalhador não percebe a exploração de que é

vítima, estando condenado a uma “euforia na infelicidade”.

� CIVILIZAÇÃO DO LAZER

O lazer é uma criação da civilização industrial e apareceu como fenômeno de massa com características específicas contrapondo-se ao

período de trabalho. As reivindicações dos trabalhadores acerca do lazer

obtiveram alguns êxitos muito lentamente a partir da ação dos

sindicatos, tais como diminuição da jornada de trabalho para oito

horas, semana de cinco dias úteis e férias.

O lazer ativo não é um simples “deixar passar o tempo livre”, mas

aquele no qual a pessoa pode escolher algo prazeroso. Por exemplo,

duas pessoas que assistem ao mesmo filme podem ser ativas ou passivas, dependendo da maneira como se posicionam para comparar, avaliar, julgar e apreciar por si mesmas, independentemente de

modismos ou de propagandas massificantes.

O problema está em

saber se a indústria

cultural propicia

alternativas de

escolhas ou se as

cidades oferecem infraestrutura que garanta aos mais

pobres a ocupação do seu tempo livre com

atividades gratuitas ou

menos dispendiosas.

Tais restrições reduzem

as possiblidades de lazer ativo, não alienado.

De certa forma, nos últimos anos tem se proliferado o acesso ao entretenimento no que si diz respeito à utilização das mídias sociais.

Estas, no entanto, têm sido cada vez mais moldadas em detrimento das vontades de um Estado entregue às mãos de um poder oligárquico. A

microfísica do poder de Foucault mais uma vez é personificada diante

da tentativa de padronizar comportamentos em meios nos quais outrora

os indivíduos eram ditos como “livres”, como é o caso da internet diante

do Marco Civil.

� O CONSUMO NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

O filósofo francês Gilles Lipovetsky prefere não demonizar o consumo, mas aceita-lo como fenômeno do tempo atual. Ele observa que, desde o

final dos anos 1970, devido às técnicas de marketing e de preços mais

baixos, os bens se tornaram acessíveis a um maior número de pessoas,

inclusive para as de menor poder aquisitivo. Desse modo, surgiu uma

nova fase de consumo mais intimista e personalizada.

Para ele, os consumidores estão mais interessados em qualidade de

vida, comunicação e saúde, têm melhores condições de fazer uma

escolha entre diferentes propostas da oferta, determinando que o consumo ordene-se “cada dia um pouco mais em função de fins, de

gostos e critérios pessoais”.

Apesar de considerar o consumidor mais crítico, Lipovetsky reconhece o

poder massificante da publicidade e os malefícios do hiperconsumismo, entendido como a ilusão de que a mercadoria

proporciona a garantia da felicidade e satisfação pessoal. Ao contrário, o que preenche a vida é o que permite ao ser humano inventar-se a si

mesmo e inventar coisas.