Resultado do XXIV Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos

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Antônio Roberto de Carvalho, Poesia Alvorecer; Braz Augusto de Oliveira, Poesia Escritora; Eder Rodrigues, Poesia O mar de Tereza; Eder Rodrigues, Poesia A arte de acenar aos trilhos; Fernanda Hamann de Oliveira, Poesia Avatares de nós dois; Francisco Bandeira Lima Junior, Poesia Inspiração; Guilherme Amoroso Romão, Poesia Do Mar; Iná Brasílio de Siqueira, Poesia Fixação; Ivan Vagner Marcon, Poesia Saudade; Jair Sales de Almeida, Poesia Tu e teus outros Anjos; Jair Sales de Almeida, Poesia Falta-me tu em uma nova poesia; Jairo Cézar Soares de Souza, Poesia O Mito do Tamarindo; João Alexandre Voegas Costa Neto, Poesia Mais-que-ceticismo; José Camilo Lelis, Poesia Eco; José Carlos Barbosa de Aragão, Poesia A palavra; Lídia Varela Sendin, Poesia O Talvez de um Sonho; Luis Kifier, Poesia Retrato de Família; Marinaldo Alves de Lima, Poesia O pêndulo do relógio de ponto; Otacílio Cesar Monteiro, Poesia Espelho; Rodrigo Alves de Lima, Poesia Errante.

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Sumário1º Lugar..............................................................................................................................................2

Avatares de nós dois..............................................................................................................................2

2º Lugar..............................................................................................................................................3

O Mito do Tamarindo.............................................................................................................................3

3º Lugar..............................................................................................................................................4

O Mar de Tereza.....................................................................................................................................4

4º Lugar..............................................................................................................................................5

A arte de acenar aos trilhos....................................................................................................................5

5º Lugar..............................................................................................................................................6

Espelho...................................................................................................................................................6

Melhores Intérpretes.........................................................................................................................7

1º Lugar: Christoff da Silva Cirino.......................................................................................................7

Retrato de família...................................................................................................................................7

2º Lugar: Christiane Ribeiro................................................................................................................8

O Mar de Tereza.....................................................................................................................................8

3º Lugar: Marcos Paulo Barreto de Araújo.........................................................................................8

Errante...................................................................................................................................................8

Demais Poesias Finalistas...................................................................................................................9

A palavra................................................................................................................................................9

Alvorecer..............................................................................................................................................10

Do mar..................................................................................................................................................11

Eco........................................................................................................................................................13

Escritora...............................................................................................................................................14

Falta-me tu em uma nova poesia.........................................................................................................15

Fixação.................................................................................................................................................16

Inspiração.............................................................................................................................................17

Mais-que-ceticismo (homenagem a Augusto dos Anjos em sua poesia: “ceticismo”)..........................18

O pêndulo do relógio de ponto............................................................................................................19

O talvez de um sonho...........................................................................................................................21

Saudade................................................................................................................................................22

Tu e teus outros Anjos..........................................................................................................................23

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1º Lugar Avatares de nós dois

Fernanda Hamann de OliveiraRio de Janeiro, RJ

Intérprete: Angélica Vargas Santana

O fascínio pela escritaé o primeiro a me inspirar:você, Jean-Paul Sartre,eu, Simone de Beauvoir.

Eu trilhando o caminhoque os seus passos me apontarem:você, Martin Heidegger,eu, Hanna Arendt.

Você desejando me ternuma ganância impertinente:eu, Marilyn Monroe,você, o presidente.

Eu dando vida e contornoàs cenas que você imagina:você, Federico Fellini,eu, Giulietta Masina.

Você criando homenagensa um amor que nos faz existir:eu, Gala, a musa,você, Salvador Dalí.

Artista e modelo nus,eternos no mesmo instante:você, Pablo Picasso,eu, a sua amante.

Nossa casa com jardim,colorida na primavera:eu, Frida Kahlo,você, Diego Rivera.

Ai, quanto tempo perdidono gozo cego da fantasia:eu sonhando acordada,e você nem desconfia.

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2º LugarO Mito do Tamarindo

Jairo Cézar Soares de SouzaJoão Pessoa, PB

Intérprete: Fabrício Manca de Souza

Ao lado do triste Lago,à sombra do Tamarindo,repousa mui encantado,o sorriso de um Menino.

Os galhos de pés descalços,feito estrelas reluzindo,cobrem deste infante os passos,com a luz de um beijo amigo.

O Sol, pastor de mil gados,acha graça o pequenino,que abraçado ao Pau D’arco,faz-se um com o Tamarindo.

A Lua, dona do pasto,não crê ser isso possível:- Como pôde a velha árvorecometer tal desatino?

E hoje, o velho Lago,em feições de espelho antigo,reflete com olhos d’água,um Menino Tamarindo.

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3º LugarO Mar de Tereza

Eder Rodrigues da SilvaBelo Horizonte, MG

Intérprete: Christiane RibeiroI- O mar não existe meu neto.É coisa inventada para o olhar não secar de vez.

Acho que ela nunca me levou até láporque todos os barcos que sabiaancoravam nas margens do papel.

Vivia dizendo que nenhum encontro se firma nas águasporque a superfície é tão improvável quanto o fundo.

Assim esclareciaqualquer desentendimento maiordo que esse de existir a esmo,principalmente quando curava a securados passos com banhos de hortelã.

IIEla passou a vida remendandotudo o que tinha ao alcance.Como se a costura prendessetudo o que não viu.Nunca aceitou meu convite para sair dali.Dizia ser impossível deixar a casa sozinha.

Depois de muito tempo,quando eu trouxe provas da existência do marnuma garrafa de praia,ela provou com desconfiança edisse que aquilo era um punhado de choroe não servia como rastro.

IIIA distância é a verdade infundadamais doída que se atenta.Toda essa história de mapasé só uma forma de tê-la sempre por perto.

A única vez que minha avó sentiu o marse aquietar no semblante,fechou os olhos com tanta forçaque nunca mais abriu.

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4º LugarA arte de acenar aos trilhos

Eder Rodrigues da SilvaBelo Horizonte, MG

Intérprete: Thales Teixeira de Almeida

“O coração de Minasestá enferrujado de mistérios.”

Dantas Motta(Escritor Mineiro 1913-1974)

Depois que o tremdeixou de desenhar na paisagem alheia,abandonamos a mania de abençoar o adeus.

Os trens que a gente juntou durante a vida,eu larguei pelos cantose segui pelas curvas férreasque a memória nunca entende.

Naquela época,dava um trem no corpo quando te via,que nem o mais lúcido dos poetasseria louco de rimar com a precisãodesnecessária que as vias repetem.

Todo mundo sabeque há o dia da partida e o da chegada.Mas quando a morte surge sem nenhum apitoé um trem de doido que descarrilhaaté o olhar mais acostumado com o rumo.

Antes havia o que hoje não se espera.Ninguém mais foi embora.Nunca mais chegou ninguém.

Esse trem chamado desejoestacionou no meu olhare nunca mais coube inteiro numa fotografia.

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5º LugarEspelho

Otacilio César MonteiroLimeira, SP

Intérprete: Fabrício Manca de Souza

É tão esquisita, tão feia, tão mortaminha triste aldeia quando se debruçano espelho fosco do rio que a corta!

Não mais belas aves de febris gorjeios,não mais galanteios de flores silvestresnem bichos trançando brinquedos agrestes.Em volta somente sirenes, fumaçae gente que passa em confusos trajetos,além de nojentos e podres dejetos.

Já fizeram água os nossos costumes.Aqui, só volumes, grandezas modernasem torres, em ondas, em bytes, em fios.Nesse corre-corre, nessa louca ânsia,quem dá importância às coisas da terra,quem erra em defesa das matas e serras,quem sente na pele a secura dos rios?

E por isso decai, junto ao rio, paique a viu nascer e fez crescer um dia,a aldeia grande que se degenera.Quem por ela passa em vã correriajamais avalia o mal que a espera.

O rio que passa em minha triste aldeianão é, caro amigo, nunca, o Rio Tejo.Mas o rio que passa em minha triste aldeiafoi um dia, creia, para mim o Tejo.

E hoje, qual sangue que me tange a veia,é barco na areia que em vão manejo,é pastoso mangue, já não serpenteia.Meu rio – não ria – é somente um brejo.

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Melhores Intérpretes

1º Lugar: Christoff da Silva Cirino

Retrato de famíliaAutor: Luis Kifier

Belo Horizonte, MG

Naquele tempo prevalecia o costumee o vento se contentavaem não trazer notícia alguma.A família ainda repousavano lugar mais nobre da sala,e a ausência era só repentina.Alguém que por algum motivo nãoteve como ir.Domingo era o pau de macarrão grossocom molho de extrato.O frango seduzido com quirerae o terreiro,palco do seu fim desejado.As crianças brigavam pelos pedaçoscomo se o jogo fosse a sorte mais infantil.Tinha também a conversa pelos vãos,a arte dos primos, o pecado dos outrose a reza que antecedia o doce de cidra.Era uma tradição ver todos juntosEsfregando a louça na baciaaté os rumores de morte sumiremjunto com o milagre da espuma.Logo o tempo amarela os retratose o vento começa a trazer notícias.A feição entristecequando a reunião vira só um retratodaquele tempo.Lembrança da época emfamília tinha jeito e gosto de domingo.

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2º Lugar: Christiane Ribeiro

O Mar de TerezaAutor: Eder Rodrigues da Silva

Belo Horizonte, MG

3º Lugar: Marcos Paulo Barreto de Araújo

ErranteAutor: Rodrigo Alves de Lima

Uberlândia, MG

Livrei-me do relógio para ganhar tempo.Tranquilo, destilei do mundo a mecânica.Vivo a desabrigo, na cidade e no campo,Sem pânico, cônscio da realidade cênica.

Cínico e maltrapilho, condenado a santo,Sinto no fascínio que toda pessoa sente,Diante deste ser itinerante e indiferente,Uma vã curiosidade, estúpido espanto.

Como se um inominável mistério me vestisseE algum imaginário minério em mim existisseQue fosse a liga entre o divino e o satânico.

Mas o figurino fizemos juntos, nos bastidores.A têmpera da personagem é a arte dos atores.E o saldo de valores? Apenas adubo orgânico.

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Demais Poesias Finalistas

A palavraJosé Carlos Barbosa de Aragão

Belo Horizonte, MGIntérprete: Cícero Luiz Neder Morando Queiroz

A palavra é minha armameu brinquedo. Com elafaço-me face da luacombato dragõesde mãos nuassem medo.

A palavra é meu casulominha dama. Com elarolo na camaquando o desesperono meio da noiteclama.

A palavra é meu compassomeu braço. Com elarisco no ar arabescosabro silênciose abraços.

A palavra é minha estradae vela. Com elaalço voo, zarposobrevoo o meu quarto:uma viagem

e tanto.

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AlvorecerAntônio Roberto de Carvalho

Registro, SPIntérprete: Amanda Olímpio Ferraz

Sutil alvorecer desponta atrás do monte,lançando frouxa luz na cúpula da ermidae um pálido clarão se espalha no horizonte,no parto matinal que reinaugura a vida!

Nostálgica canção de rumorosa fontepromove o despertar da noite adormecidae o córrego fugaz que escorre sob a pontevai fecundando o chão da várzea colorida.

Aos poucos nasce o sol, com raios fulgurantes,iluminando o céu e as serras mais distantes,no mágico esplendor que jorra das alturas.

O astro sideral que a tudo envolve e aqueceé um anjo pastoril, no dia que amanhece,velando o imenso lar de todas as criaturas.

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Do marGuilherme Amoroso Romão

LisboaIntérprete: Pedro Donato

Com é bom eu vir do marDe braços abertos, veloz

Com o firmamento a convidarA mim a soltar a voz

Eu vim de viagem, simE se por vezes a velejar

Noutras vezes abri as asasQuando o tema era voar

E nas criaturas me reviComo espelho lá colocado

Era sempre o mar reforçadoDe sonhos que balançam em si

Vim do mar e sob as estrelasFui ouvindo os cantares de glõria

Tinham versos de poema e históriaQue eram vento nas nossas velas

Aqui cheguei e por que encontreiOs campos verdes que se prometeram

Laivos de infinito que combateramPelos pacíficos dotes do rei

Pois decido então plantarNo solo fértil airoso

A semente e observarQue caula nasce poderoso

E então digo eu para mimQue dom é este que surgiu assim?

Do mar eu vim e vim decididoErguer as paredes e ser o castelo

Deixar que me habitem, pois estou instruídoA ser tão útil quanto de belo

Ser todo humano e chegar aos céusVoando com as assas que singram nas costas

Olhar mais além do que tapam os véusConhecer e divulgar os resultados das apostas

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E quanto mais suboMais céu eu vejo

Mais mar me espelhaE me reflecte um beijo

Do mar é ser livreÉ navegar sobre um céu que flutua

E faz das vontades marésTem personalidade muito sua

Está na hora de lhe ganhar o rumoSer piloto e mapa de aprumo

Saborear a madeira da embarcaçãoSer a floresta desta união

Tomo as rédeas e rumo adentroDas terras que pedem semeio

Chegou a hora de chegar ao centroDa questão cuja solução premeio

E sinto o raio de luzQue me acalenta em qualquer idade

Tem uma mensagem que seduzE convida a ser a felicidade

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EcoJosé Camilo Lelis

Recife, PEIntérprete: o autor

Entre as escarpas grito por socorro,talvez exista alguém, uma pessoapara ajudar-me, do contrário morro.Mas meu grito cansado, inútil, soa.

Extenuado e agonizante, corro,modero o passo, escuto. O grito ecoana barreira da solidão, tal morro,em cujo cimo a voz não sobrevoa.

Qual um louco a gritar e a correr,ninguém escuta, nem me pode ver,a noite me derrama seu negrume.

Último grito inda a barreia impede,e num eco macabro retrocede,só a mim cab e ouvir o meu queixume.

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EscritoraBraz Augusto de Oliveira

Ipatinga, MGIntérprete: Lucas dos Anjos Castro

A saudade é escritora.Com seus verbosFaz o passado mover moinhosQuebra as grades do tempo,Libertando a esperança.

A saudade é escritora.Conhece-me.É em suas páginas de linhas infinitasQue encontro o verdadeiro alimentoPara sobrepujar o tempo.

A saudade é escritora.Sei dos seus livros,Guardo todos elesJunto comigo.

A saudade é escritora.Leio essa autoraDos meus sentimentos,Dos meus amores,Dos meus dissabores,Da minha vida.

A saudade é escritora.Em suas páginas,Sorrisos ou lágrimas atiçam em mim as lembranças.Quais senhas que assanham meus sonhos,Elas abrem os roteiros que guardam o meu ser.

A saudade é escritora,Dá-me todos os momentos,Que vão desde as sementesAté os frutos,Matando a fome do meu viver.

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Falta-me tu em uma nova poesiaJair Sales de Almeida

Tomé-Açu, PAIntérprete: Heitor Haas Barbosa

Eis-me aqui nessas tantas que iluminovivendo do que exala o pensamento.Fugir não sei porque meu passo é lento;ficar preciso, mas me falta o tino.

Do orgasmo agora falta o desatino.Falta-me tu, na pátria momento.Meus versos choram como chora o ventoe a vida treme como treme o sino!

Tudo bem que por ela apedrejado,que tal mão não me quer ver afagado...Que faço se sem ela a vida é oca?

Talvez a véspera do escarro seja,mas que fazer à boca que me beija?Que fazer sem o beijo dessa boca?

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FixaçãoIná Brasílio de Siqueira

Baependi, MGIntérprete: a autora

Ah... teus olhos selvagens, felinos,têm a cor das águas de rios de outono

e fingindo um sono-meninorevelam segredos proibidos

(que nunca desvendei...)

São olhos atrevidos, abusados,de chuvas de março molhados

que me envolvem e me arrastam(em pecado) ladeiras abaixo...

e sou grão de areia em teu turbilhão(de onde não sairei...)

Teus olhos fechados,cerrados, envoltos em brumas

de noites de Invernoocultam a chama guardada

em teu coração, e acendem a Paixãoem lareira de Sonhos(e não me aquecerei)

Teus olhos de flor e de mel (ternura-criança)me contam de tanto e de tudo

de andanças – cheganças(que nunca verei...)

Teus olhos de corçatêm estranha força de animal no cioe afagam e me afogam em desejo...

emergindo lembranças a fio,desnudando momentos sem pejo

(que tão somente eu sonhei...)

Ah... Teus olhos de cio,de chuvas de março,de cheias enchentes,de noites de Inverno,

de flor e de mel,de terra molhada...

Ah... Teus olhosde corça encantadae de rios de outono,em doce abandono,têm muito do Céu...

(onde eu nunca estarei...)XXIV Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos

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InspiraçãoFrancisco Bandeira Lima Júnior

Caucaia, CEIntérprete: Amanda Olímpio Ferraz

É força abstrata que se concretizadepois da estrofe ser concretizada,quando a voz do anjo, em sussurro, avisaem uma frequência bem sincronizada.

Parece que a mente é purificadapor fluidos divinos, tão pura; desliza...e a alma, do corpo, fica separada,livre como o ar, leve como a brisa.

O poeta (agente direto da lira)Transfigura o rosto depois que se inspira,Em um transe cósmico, ligando os dois mundos...

Nasce a poesia de repentementecomo racha o solo e eclode a sementedos solos mais puros, dos chãos mais fecundos.

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Mais-que-ceticismo (homenagem a Augusto dos Anjos em sua poesia: “ceticismo”)João Alexandre Viegas Costa Neto

Brasília, DFIntérprete: Thales Teixeira de Almeida

Voltando do pão-de-cada-diapercebo-me num diário pessoal de ofensasabsorto, volvendo-me em descrençasaniquilando interiormente a vida

Desejo mais que tudo ter algum sentidodeixar das angústias um minutona resignação plena de existir nesse mundoe ficar diante da fé, mudoa poder dizer ter vividoà espera de qualquer milagre absurdo

Absurdo milagre de pensarque o céu é prêmio aos joelhos desgastadoso inferno dos incrédulos desgraçadose que a Terra há de ser o superno lugar(de todo aquele que não se rebelar)

Chega!... de cerrar a boca com pãofalsear a íntima razãoentreter a vida em busca de dinheirobuscar algum sentido verdadeirofugir em qualquer crença ou religiãoe chegar a nenhuma lógica conclusão

Falsa face da naturezaapunhala a minha carcaça mentalzurzindo-me com incertezasabandonando-me alguresquais momentos insanos, já de costumeco’a face beijando o lodaçal

Luta inglória pela “Augusta” dúvida vencidasepultados os desejos de elucidação da criação em mimrestando dessa existência obrigatória e inventivaa profana consciência embutidaem um frágil corpo sem elosjogado feito coisa perdidaem universos paralelosnuma libertária queda sem fim

Vazio de luta pela vidaliça interior que há em mimraça humana entre estrelas esquecidaimpávida melancolia, mais-que-ceticismo sem fim!

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O pêndulo do relógio de pontoMarinaldo Alves de Lima

Olinda, PEIntérprete: Regina Célia Aguiar de Rezende

Tic-tac, tic-tac, tic-tac,Assim bate o relógio de ponto.O seu pêndulo vai e volta sem parar.Aliás, vai e vai, pois o tempo não volta,E o homem vai correndo neste tempoPara o seu trabalho executar.

É manhã e chegam os trabalhadores,Querendo correr mais que o pênduloÉ preciso, logo, o cartão de ponto bater!O homem tornou-se escravo do tempoE enquanto o pêndulo vai e vaiO homem continua a correr.

Não adianta, o pêndulo é implacável!Chegou tarde? Para que reclamarQue o relógio está adiantado?Corra, corra, pegue logo o seu cartão.Nem adianta fazer cara feia;Vai bater o ponto atrasado!

E enquanto o pêndulo vai e vai,Na oficina começa o expedienteE as máquinas estão funcionando.Os minutos e as horas passam;É preciso adiantar a produçãoE os operários continuam trabalhando.

E também lá na grande indústria,Outros operários já labutamApegados à linha de montagem.Carros, máquinas são fabricados;Enquanto no relógio de pontoO pêndulo vai e vai, na sua engrenagem.

Na escola a professora espera;E enquanto o pêndulo vai e vaiO aluno faz a prova, apavorado!Pois no tempo que teve pra estudar,Jogava bola com os colegasE agora teme ser reprovado!

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Page 21: Resultado do XXIV Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos

E lá na repartição públicaO relógio de ponto funcionaRitmando a sua burocracia.Em meio a documentos oficiais,Os servidores públicos trabalhamNa rotina de todos os seus dias.

No comércio as lojas já abriram;Todas com seu relógio de ponto,Com seus pêndulos que sempre vão e vão.E enquanto o tempo vai passando,Balconistas vendem mais e mais,Pois desejam aumentar a comissão.

Nos hospitais corre-se contra o tempoPara que vidas sejam salvasE cada segundo é importante.Mas enquanto o pêndulo vai e vai,Um coração deixa de bater:Morreu um paciente agonizante.

Por toda cidade se trabalhaE o movimento é intenso, barulhento,Com todos à beira de um ataque.Mas, em cada relógio de ponto,O pêndulo calmamente vai e vaiNo contínuo tic-tac, tic-tac.

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Page 22: Resultado do XXIV Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos

O talvez de um sonhoLídia Varela Sendin

Piracicaba, SPIntérprete: Maria José de Souza Salles

Quero dormir envolta em névoa fina,Rolando o corpo em sua maciez,Enquanto dentro de suave neblinaMeu sonho embala a minha placidez.

É um sonho sim, de proporção divina,Tão calmo sonho, tão certa altivez.E só quem sonha é quem mais imaginaQue o bom na vida é ter algum talvez.

O sonho é como dar motor ao mundo.Ter sempre o certo pode aborrecer,Nunca o ter é triste por demais.

Então que venham em sono profundo,Mesmo qe morram ao alvorecer,Pois cada sonho é um talvez a mais.

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Page 23: Resultado do XXIV Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos

SaudadeIvan Vagnes Marcon

Porto Feliz, SPIntérprete: Maria José de Souza Salles

Minhas mãos tocam apenas o ventrelento e profundo de minha existência

enquanto o tempo corre livrepelas ruas vazias de meu ser:

ausência.

Vez por outra, preencho o vaziocom uma foto de nostálgica alegria

e arrisco-me solitário, tendo somente friosombra e pensamento por companhia:

agonia.

Emoções das horas inexatas e divididasque se apresentaram em parcas esperanças

insinuando-me várias belezas finitascomo tua presença que me envolveu:

lembranças.

Arte em mim a falta do teu abraçoa vontade de perdoar os deslizes

mas este abismo, este nosso espaçoerodiu-me na pele a tua marca:

cicatrizes.

Meu pensamento explode em verbofico de braços abertos à espera da intimidade

mas não consigo dizer o que queroe o silêncio se faz em dor e eco...

Saudade.

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Tu e teus outros AnjosJair Sales de Almeida

Tomé Açu, PAIntérprete: Arthur Arruda Leal

Eu tive teu soluço nos meus ombrose vi tuas certezas sepultadasnum campo de cem mil flores cortadas;fantasmas de tristezas e de assombros.

Eu vi a tua paz entre os escombrose vi tuas palavras decepadas;te vi nos ossos, entre rimas fardas,loucas do tempo em vermes e desombros...

Essas obras, amargas e polidas,de certa forma assim de assassinaram –por muitas vezes o teu ser morreu,

mas tuas mortes se tornaram vidasno Augusto céu dos Anjos que falaramco’as outras po-e-si-as do teu Eu.

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XXIV CONCURSO NACIONAL DE

POESIAS AUGUSTO DOS ANJOS

2015

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