restauração mataciliar cerrado
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RESUMO: Em experimento visando a recuperao da cobertura florestal da mata ciliar em
domnio de cerrado na Estao Experimental de Assis, SP, foram utilizadas 20 espcies arbreas,
selecionadas em funo de sua ocorrncia natural em matas ciliares da regio ou, no caso das
espcies comerciais, com base na adaptabilidade a solos com lenol fretico superficial ou
pouco profundo. As espcies foram agrupadas em nove tratamentos (puros e mistos) com
quatro repeties, totalizando 3624 mudas, plantadas em uma rea de 16308m2. Nove anosaps o plantio, foram avaliados a sobrevivncia, a cobertura das copas e o crescimento das
espcies plantadas. Dentre os tratamentos destacou-se o plantio puro de Pinus elliottiivar.
densa, com as mais elevadas taxas de sobrevivncia, cobertura e crescimento. No houve
diferena significativa entre os tratamentos quando as mesmas espcies foram plantadas em
mdulos ou aleatoriamente. Dentre as espcies nativas de mata ciliar em domnio de cerrado,
destacaram-se pela alta sobrevivncia, cobertura e crescimento: Tapirira guianensis,
Anadenanthera falcata e Calophyllum brasiliense. As espcies nativas oriundas de formaes
florestais tiveram sobrevivncia baixa ou nula, crescimento e cobertura medocres.
PALAVRAS-CHAVE: Mata ciliar, Recomposio, Cerrado
ABSTRACT: Twenty arboreal species were planted with the aim of restoring the riparian forest,
in the Assis Experimental Station, So Paulo State, Brazil. The experimental area is included inthe cerrado domain, even in its border region. Species were choosen based upon their natural
ocurrence along the rivers in neighboring areas, comprising forests and cerrados. Comercial
species were elected by their adaptability to wet soils. Species were grouped in nine treatments
(pure and mixed), four replication each. Covering a total area of 16308m2, 3624 seedling were
planted. Nine years after planting, survival, crown cover and growth of the species and treatments
were evaluated. The best results were obtained with Pinus elliottiivardensa, that presented de
highest survival and growth. There was not significative differences between aleatory and mo-
dule planting, when species of the same group were used. Among the native species, those
adapted to cerrado soils, especially Tapirira guianensis, Anadenanthera falcata and Calophyllum
brasiliense have presented the best growth and survival. Species not adapted to cerrado soils
presented low or nul survival and bad growth.
KEYWORDS: Riparian forest, Restoration , cerrado
SCIENTIA FORESTALIS
n. 56, p. 135-144, dez. 1999
Recomposio da mata ciliar em domnio de cerrado, Assis, SP.
Riparian forest restoration in cerrado, Assis, SP, Brazil
Giselda Duriganliton Rodrigo da Silveira
INTRODUO
A preocupao com a conservao e arecuperao da cobertura florestal ao longo
dos rios relativamente recente no Brasil etem sido objeto de discusses amplas e fre-
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estrutura e a composio das matas ciliares na-turais e/ou os processos naturais de sucessona elaborao de modelos de revegetao.
Kageyama et al. (1986) propunham a clas-sificao sucessional das espcies e o plantiono campo em mdulos com a localizao pre-cisa das espcies de diferentes estgiossucessionais. O plantio em mdulos, porm,dada a sua dificuldade operacional, nunca che-gou a ser adotado em larga escala.
Na maioria dos casos, os plantios de recom-posio de mata ciliar tm sido efetuados emregies de domnio florestal. Para regies decerrado existem poucas informaes dispon-veis sobre a vegetao natural das margens dos
rios e ainda menos resultados de pesquisas dis-ponveis sobre tcnicas de revegetao. Ossolos nessas reas so pobres em nutrientes,cidos, com elevada saturao de alumnio e,
muitas vezes, com drenagem deficiente. Essascaractersticas, juntas, tornam essas reas ex-tremamente difceis de serem reflorestadas.
Partindo da hiptese de que diferentes es-pcies apresentariam desempenho distinto con-forme a sua origem e que diferentes combina-es de espcies produziriam resultados dis-tintos na recobertura da faixa ciliar em solos decerrado, foi planejado e executado o experimen-to de que trata o presente trabalho, na EstaoExperimental de Assis, SP, em 1989.
Estabeleceu-se como objetivo da pesquisaencontrar espcies e/ou combinaes de es-pcies que proporcionassem mais rapidamen-te a recobertura do terreno, visando, essencial-
mente, fornecer proteo aos recursosabiticos: solo e gua, fornecendo subsdiospara projetos de recuperao de matas ciliaresem condies ambientais semelhantes.
METODOLOGIALocal
A Estao Experimental de Assis localiza-se na regio oeste do Estado de So Paulo,
sob as coordenadas 22o
35 S e 50o
22 W, auma altitude mdia de 562m. O solo predomi-nante na Estao Latossolo vermelho escurolico. Na rea do experimento, no entanto, dotipo Areia Quartzosa Hidromrfica, com lenolfretico superficial a pouco profundo. O tipo cli-mtico, segundo Kppen, Cwa, com precipi-tao pluviomtrica anual mdia de 1480mm,sujeito a geadas espordicas.
O plantio experimental ocupa uma rea de16308m2, localizada em torno das nascentes e
ao longo da margem direita da gua do BarroPreto, pequeno tributrio da Bacia do
Paranapanema, estando as parcelas distribu-das dentro dos limites da faixa de preservaopermanente estabelecida por lei (30m).
Espcies utilizadas no plantio
As espcies plantadas foram agrupadasconforme sua zona de ocorrncia natural, comosegue :
Espcie Nome Popular Estgio Sucessional
Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. Angico-do-cerrado Pioneira
Calophyllum brasiliense Camb. Guanandi Climcica
Cedrella odorata L. var. xerogeiton Rizz. & Her Cedro-do-brejo Secundria
Prunus myrtifolia (L.) Urb. Pessegueiro-bravo Climcica
Solanum inaequale Vell. Cuivira Pioneira
Tapirira guianensisAubl. Peito-de-pombo Secundria
GRUPO I - Espcies de cerrado: espcies nativas da regio, adaptadas ao solo do local de plantio (cido, mido e de
baixa fertilidade)
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Espcie Nome Popular Estgio Sucessional
Bauhinia bongardii Steud. Moror Secundria
Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze Estopeira Secundria
Centrolobium tomentosum Guill. Ararib Secundria
Cytharexyllum myrianthum Cham. Pau-viola Pioneira
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong. Tamboril Secundria
Genipa americana L. Genipapo Climcica
Lonchocarpus muehlbergianus Hass. Embira-de-sapo Pioneira
Peltophorum dubium (Speng.) Taub. Canafstula Secundria
Poecilanthe parviflora Benth Corao-de-negro Climcica
Sebastiania commersoniana (Baill.) Smith & Downs. Branquilho Pioneira
Tabebuia avellanedae Lor. Ex Griseb. Ip-roxo Secundria
GRUPO II - Espcies da mata: espcies nativas de matas ciliares da regio, ocorrendo em solos de alta fertilidade.
Espcie Nome Popular
Euterpe edulis Mat. Palmito-branco
Hevea brasiliensis Mill. Arg. Seringueira
Pinus elliottiiEngelm var. densa Little & Dormann Pinus
GRUPO III - Espcies Comerciais: espcies de valor comercial, nativas ou introduzidas.
A escolha das espcies baseou-se na suaocorrncia natural s margens dos rios da re-gio e, no caso das espcies comerciais, nasua adaptabilidade a solos com lenol freticosuperficial ou pouco profundo. Heveabrasiliensis e Pinus elliottiivar. densa so es-pcies que apresentam ainda a vantagem depossibilitarem a explorao econmica semimplicar no corte das rvores, que no permi-tido na faixa ciliar.
Delineamento experimental
Foram estabelecidos nove tratamentos,com quatro repeties, num total de 36 parce-
las, com distribuio inteiramente casualizada.Cada parcela constituda por 75 plantas, sen-do 39 plantas teis, em espaamento 3,0m x1,5m, num total de 3624 mudas ( plantas teis,bordadura interna e externa).
Os tratamentos esto relacionados a seguir:
1- Plantio puro de Tapirira guianensis (GrupoI).
2- Plantio puro deAnadenanthera falcata (Gru-po I).
3- Plantio puro de Cytharexyllum myrianthum(Grupo II).
4- Plantio puro de Pinus elliottiivar. densa (Gru-
po III).5- Plantio consorciado de Hevea brasiliensis xEuterpe edulis (Grupo III).
6- Plantio consorciado de espcies do Grupo I,organizadas em mdulos, de modo que as pio-neiras viessem a sombrear as secundrias eclimcicas.
7- Plantio consorciado de espcies do GrupoII, organizadas em mdulos, de modo que aspioneiras viessem a sombrear as secundrias
e climcicas.8- Plantio consorciado de espcies do Grupo I,com distribuio aleatria.
9- Plantio consorciado de espcies do GrupoII, com distribuio aleatria.
As parcelas em mdulos foram instaladasconforme esquematizado na Figura 1.
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que na revegetao desejvel o recobrimentorpido do terreno.
A cobertura definida por GreigSmith(1964) como a proporo do piso ocupada pelaprojeo perpendicular da parte area dos indi-vduos, podendo ser estimada ou medida e ex-pressa em porcentagem. Neste experimentodeterminou-se a cobertura atravs da frmula:
nC = 100 S Ci / A , onde
i = 1
C = grau de cobertura (%)
Ci = rea da projeo da copa do indivduo iCi = p Di2 / 4
Di = dimetro mdio da copa do indivduo i (m)
n = nmero de indivduos medidos na rea A
A = rea da parcela til (m2 )
RESULTADOS E DISCUSSO
Os resultados experimentais obtidos emtermos de sobrevivncia, crescimento e cober-tura so apresentados nas Tabelas 2 (tratamen-
tos) e 3 (espcies).Analisando-se os resultados com base no
desempenho silvicultural das espcies, verifi-ca-se que, de modo geral, a sobrevivncia baixa e o ritmo de crescimento das rvores temsido muito lento. No entanto, esta parece ser aregra para plantios de recomposio de matasciliares. Barbosa et al. (1992), embora com da-dos obtidos apenas 5 meses aps o plantio,
Tratamento Sobrevivncia * DAP Altura Cobertura
(%) mdio (cm) mdia(m) das copas (%)
18 meses 9 anos 9 anos 18 meses 9 anos 18 meses 9 anos
Tapirira guianensis (Puro) 90,37 ab 69,23 ab 4,58 bc 1,10 a 5,20 bc 8,05 a 136,08 a
Anadenanthera falcata (Puro) 53,85ab 50,00abcd 5,34 b 0,57bc 4,15bcd 4,37abc 50,73 ab
Cytharexyllum myrianthum (Puro) 31,43 b 0,00d - 0,14 c - 0,35 d -
Pinus elliottiivar. densa (Puro) 100,00 a 94,02 a 15,14 a 0,75 ab 11,30 a 8,23 a 126,33 ab
Hevea brasiliensis x Euterpe edulis 33,98b
23,08bcd
2,13c
0,76ab
4,65bcd
1,63cd
11,98b
Espcies de cerrado em mdulos 72,43 ab 53,20 abc 5,96 b 0,80 ab 4,70 bc 5,00 ab 91,88 ab
Espcies de mata em mdulos 55,75 ab 12,82 bcd 1,25 d 0,36 bc 2,06 cd 1,68 cd 2,68 b
Espcies de cerrado plantio aleatrio 77,58 ab 49,36 abcd 6,73 b 0,75 ab 5,09 bc 5,48 ab 121,39 ab
Espcies de mata plantio aleatrio 64,75 ab 10,26 bcd 0,78 d 0,38 bc 1,44 d 2,60 bc 1,42 b
OBS.: Valores seguidos da mesma letra dentro de uma coluna no diferem significativamente entre si pelo Teste Tukey
(p=0,05).
* Para efetuar a anlise estatstica incluindo sobrevivncia 0 e 100%, as variveis foram transformadas em y=arc.sen vx/
100. Os valores apresentados na tabela, no entanto, so as mdias no transformadas.
Tabela 2. Sobrevivncia, crescimento e cobertura das copas nos diferentes tratamentos em recomposio da mata ciliar,
Assis, SP, aos 18 meses e aos 9 anos aps o plantio.
(Survival , growth and crown cover in different treatments, in riparian forest restoration, Assis, SP, 18 months and 9 years
after planting).
encontraram incremento mensal em altura de0,13 a 1,10m/ano. A mortalidade observadapelos autores j era bastante alta, aos 5 me-
ses aps o plantio, oscilando de 2 a 22,5% paraas 10 espcies nativas plantadas em Mogi-Guau, SP.
Salvador e Oliveira (1992), testando esp-cies em solos periodicamente midos e de bai-xa fertilidade, encontraram, em Paraibuna, SP,incremento anual em altura entre 0,41m e1,24m, dois anos aps o plantio.
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Espcies Sobrevivncia DAP mdio Altura mdia Dimetro mdio das copas IMA
(%) (cm) (m) (m) (m)
Pinus elliottiivar. densa 94,02 15,4 11,3 3,0 1,23
Anadenanthera falcata 79,85 6,59 5,00 2,83 0,53
Hevea brasiliensis 66,07 2,66* 4,65* 1,41* 0,49*
Tapirira guianensis 55,88 7,38 5,84 2,93 0,62
Calophyllum brasiliense 50,00 5,5 4,34 2,05 0,45
Tabebuia avellanedae 41,03 0,93 2,10 0,45 0,21
Peltophorum dubium 40,00 - 1,08 0,68 0,09
Prunus myrtifolia 30,00 3,5 3,57 1,33 0,37
Genipa americana 17,65 1,17 2,02 0,56 0,20
Enterolobium contortisiliquum 16,70 1,00 1,52 0,90 0,14Sebastiania commersoniana 14,30 3,00 3,50 2,00 0,36
Centrolobium tomentosum 1,90 - 0,50 0,30 0,03
Solanum inaequale - - - - -
Euterpe edulis - - - - -
Cedrela odorata var. xerogeiton - - - - -
Bauhinia bongardii - - - - -
Lonchocarpus muelbergianus - - - - -
Citharexyllum myrianthum - - - - -
Cariniana estrelensis - - - - -
Poecilanthe parviflora - - - - -
Tabela 3. Sobrevivncia e crescimento das espcies nove anos aps o plantio, em mata ciliar, Assis SP. DAP=dimetro
a 1,30m do solo; IMA=incremento mdio anual em altura.
(Species survival and growth nine years after planting in riparian forest, Assis, SP, DAP=diameter at 1,30m above the
ground; IMA=mean annual heigth increment).
* todos os indivduos foram destrudos pela geada 5 anos aps o plantio, tendo rebrotado do toco.
Em plantios experimentais realizados pelaCESP (Kageyama, 1992) em diferentes regiesdo Estado, os incrementos anuais em alturavariaram de 0,22m (espcie climcica) a 4,04m(espcie pioneira), aos 12 meses de idade.
Messina (1998), obteve, durante o primeiroano aps o plantio de mata ciliar em So Carlos,SP, incremento anual em altura oscilando entre0 e 335,29cm e sobrevivncia entre 16,67%(Euterpe edulis) e 100%, para espcies nativasda regio.
Verifica-se que os resultados publicados soobtidos em avaliaes muito preliminares, etendem a sofrer grandes modificaes com otempo.
O experimento de que trata o presente tra-balho, avaliado oito meses aps o plantio
(Durigan, 1990), apresentava resultados desobrevivncia superiores a 85% para todas asespcies, com exceo do palmito (Euterpeedulis), com apenas 28%. No entanto, aps 9anos, todas as espcies apresentaram sobre-vivncia inferior a 80%, com exceo do Pinuselliottiivar. densa, com 94,02%. Oito espciesapresentaram sobrevivncia nula e, dentre asnativas, apenas quatro ultrapassaram 50%. O
teste Tukey utilizado para comparao dasmdias nem sempre aponta as diferenas evi-dentes entre os tratamentos. Isto ocorre comfreqncia em experimentos com essnciasnativas, que apresentam altos coeficientes devariao. Neste experimento, estes coeficien-tes foram especialmente elevados para os va-lores de sobrevivncia, muito sujeitos a varia-
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margens dos rios no florestal, podendo seconstituir de campos graminosos midos, ondeas rvores naturalmente no se desenvolvem.
Plantar rvores nessas reas totalmente con-tra-indicado, devendo ser preservada a vege-tao natural, tal qual ela .
CONCLUSES
Para recuperao da cobertura florestal smargens dos rios em regies de domnio decerrado recomenda-se o plantio de espciesadaptadas s condies desfavorveis de ferti-lidade do solo destas regies.
O plantio puro de Pinus elliottiivar. densa,embora no restitua a diversidade da vegeta-o, proporciona rapidamente a recobertura doterreno, podendo ser recomendado nas situa-
es em que proteger o solo e os recursoshdricos mais importante ou urgente do querestaurar a biodiversidade.
Mantidas as densidades proporcionais en-tre as espcies dos diferentes estgiossucessionais, no h vantagens em se efetuaro plantio em mdulos, uma vez que os resulta-dos so os mesmos obtidos com a distribuioaleatria das espcies no campo.
AUTORES E AGRADECIMENTOS
GISELDA DURIGAN Pesquisador Cientficodo Instituto Florestal, da Estao Experimentalde Assis Caixa Postal 104 - 19800-000 - As-sis, SP. E-mail: [email protected]
LITON RODRIGO DA SILVEIRA Ps-gra-duando do CRHEA, Centro de RecursosHdricos e Ecologia Aplicada do Departamentode Hidrulica e Saneamento EESC USP - Av.Dr. Carlos Botelho, 1465 - Caixa Postal 359 -CEP 13560-250 - So Carlos SP
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