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1 FACULDADE REDENTOR INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA BRASILEIRA Luiz Walter CARLOS DA SILVA RESGATE HISTÓRICO E CULTURAL AFRO-BRASILEIRO: CONTRIBUIÇÃO PARA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL. Proposta de resgate da nossa Identidade Nacional com a colaboração da Arqueologia. BELFORD ROXO – RJ, JANEIRO DE 2013

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FACULDADE REDENTOR

INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA

PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA BRASILEIRA

Luiz Walter CARLOS DA SILVA

RESGATE HISTÓRICO E CULTURAL AFRO-BRASILEIRO:

CONTRIBUIÇÃO PARA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

NACIONAL.

Proposta de resgate da nossa Identidade Nacional com a colaboração da Arqueologia.

BELFORD ROXO – RJ, JANEIRO DE 2013

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FACULDADE REDENTOR

INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA

PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA BRASILEIRA

ESGATE HISTÓRICO E CULTURAL AFRO-BRASRILEIRO:

CONTRIBUIÇÃO PARA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

NACIONAL.

Proposta de resgate da nossa Identidade Nacional com a colaboração da Arqueologia.

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado

para obtenção do Grau de pós-graduado Lato Sensu

em Arqueologia Brasileira, pela Faculdade Redentor

e o Instituto de Arqueologia Brasileira.

Orientador: Prof. Doutorando Henrique Gaio.

BELFORD ROXO – RJ, JANEIRO DE 2013

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Luiz Walter CARLOS DA SILVA

RESGATE HISTÓRICO E CULTURAL AFRO-BRASILEIRO:

CONTRIBUIÇÃO PARA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

NACIONAL.

Proposta de resgate da nossa Identidade Nacional com a colaboração da Arqueologia.

PARECER DO EXAMINADOR:

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

BELFORD ROXO – RJ, JANEIRO DE 2013

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FICHA CATALOGRÁFICA

CARLOS DA SILVA, Luiz Walter; Resgate Histórico e

Cultural Afro-Brasileiro: contribuição para a construção da

Identidade Nacional; Artigo de conclusão Pós-graduação em

Arqueologia Brasileira; Belford Roxo, RJ; Instituto de

Arqueologia Brasileira, Faculdade Redentor; 2013.1.

1. Arqueologia Brasileira; 2. Brasil;

3. Contemporâneo; 4. Arqueologia: Resgate da

cultura Afro-Brasileira e contribuição para a

construção da Identidade Nacional; 5. Identidade

Nacional.

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RESGATE HISTÓRICO E CULTURAL AFRO-BRASILEIRO: CONTRIBUIÇÃO

PARA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL.

RESUMO.

O presente artigo propõe destacar a relevância da Arqueologia, na identificação, no

resgate, e na valorização da cultura do nosso povo e a sua contribuição na construção de nossa

identidade nacional. Conforme a pré-disposta delimitação, discorrer-se-á sobre a contribuição

da cultura afro-brasileira, as apontadas e ratificadas por trabalho arqueológico, no centro do

Rio de Janeiro, área do Valongo (Projeto Porto Maravilha). É importante salientar esse

momento que tem destacado a cultura negra como partícipe e importante contribuidora para a

formação e a construção das motivações necessárias para uma identidade que reflita

diretamente a consolidação dos nossos laços, a interação e o constante crescimento em

direção da construção de nossa identidade nacional.

Palavras-chave:

Patrimônio cultural; vestígios materiais; preservação; igualdade racial; identidade nacional e

cidadania.

ABSTRACT.

This article aims to highlight the relevance of archeology, in the their contribution in

building our national identity. As pre-arranged boundaries, it talk about the contribution of

African-Brazilian culture, and the pointed to or endorsed by archaeological work in the center

of Rio de Janeiro, Valongo area, and the Marvelous Port project. It is important to note that

this moment has pointed black culture as a participant and an important contributor to the

formation and construction of the motivations necessary for an identity that reflects directly

the consolidation of our ties, interaction and steady growth toward the construction of our

national identity.

Keywords:

Cultural heritage; material remains; preservation, racial equality, national identity and

citizenship.

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AGRADECIMENTOS.

Na construção desse artigo, várias pessoas foram de extrema importância, tanto na parte acadêmica, como na parte social e na parte econômica. Entre essas pessoas, agradeço todos os companheiros, de turma, pelo bom convívio; agradeço ao Prof. H. Gaio, por ser meu orientador; agradeço a representante Graziela, pela dedicação, pela eficácia e pelo total comprometimento com as demandas de nossa turma; agradeço os amigos Divino, Antônio e Ulisses, pelas ajudas e orientações arqueológicas e pelas boas conversas; agradeço aos camaradas, esses são irmãos, Marcel e Mabel, pelo convite para participar do curso e propiciar, quando foi necessário, as condições financeiras para que continuasse; agradeço a Dra. Professora Ruth Percise Nogueira, por muito me ajudar nas questões ortográficas; e em particular, agradeço ao Dr. Prof. Ondemar, por, em vários momentos, nos transmitir equilíbrio, experiência e sabedoria. Desejo tudo de bom a todos.

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SUMÁRIO.

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................pg. 08.

2. PROJETO PORTO MARAVILHA...............................................................................pg. 10.

3. SÍTIO ARQUEOLÓGICO DO VALONGO/GAMBOA - CENTRO DO RIO DE

JANEIRO – RJ...................................................................................................................pg. 10.

4. A LEI Nº 11.645, DE 10 DE MARÇO DE 2008...........................................................pg. 13.

5. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL NO BRASIL..........................pg. 13.

6. A QUESTÃO DO RESGATE E VALORIZAÇÃO CULTURAL...............................pg. 15.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................pg. 17.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................pg. 19.

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INTRODUÇÃO

Hoje, conforme ocorreu no século XIX nos países europeus, o Brasil busca se

construir, se reconhecer e se transformar em uma nação através do resgate, do conhecimento e

do reconhecimento das suas verdadeiras raízes e das culturas oriundas de seu povo, erguendo

este patrimônio cultural e o remetendo para a apropriação e conscientização nacional a fim de

que o reconheçam como seu, uma atitude necessária para estimular e construir a

conscientização de autoestima, noção de pertencimento e identidade nacional, que são os

aspectos de nossas identidades que emergem de nosso “pertencimento” às culturas: étnicas,

raciais, linguísticas e religiosas.1

Este processo, de construção da identidade nacional, conta e se apoia, entre outros,

nas novas diretrizes e conteúdos da educação, onde se destaca a valorização e a recente

introdução, obrigatória, dos estudos das histórias e culturas afro-brasileira e indígena, nos

estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados.2 E também,

como se observa, no aumento do interesse de resgate, preservação e salvamento dos trabalhos

arqueológicos realizados tanto em áreas onde houve predomínio de escravidão e presença do

negro, como nos locais de influência e convívio indígena. A lei 11.645, de 10 de março de

2008, que em seu Art.1o, § 1o, determina de forma explicita que:

O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da

história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir

desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos,

a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena

brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as

suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do

Brasil3.

Esta é uma iniciativa concreta e eficaz para se começar a romper com a estrutura

eurocêntrica, resultante do processo colonizador que, entre outros, impunha a religiosidade

cristã, que até hoje tem forte influência na cultura de nossa sociedade. Esta lei contribui,

através do conhecimento e abordagem pretendida, para a valorização e destaque da cultura

afro-brasileira e da cultura indígena; para a superação do racismo e das desigualdades raciais;

e, consequentemente, para a implementação, consolidação do orgulho e autoestima em ser 1 STUART HALL; A identidade cultural na pós-modernidade. SP: DP&A Editora, 2003, pág. 47 a 63.

2 LEI Nº 11.645, de 10 de março de 2008.

3 GOMES DOS SANTOS, Jocéli Domanski; A LEI 10.639/03 E A IMPORTÂNCIA DE SUA

IMPLEMENTAÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

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negro ou indígena - vide a quantidade dos autorreconhecimentos, hoje, comumente

registrados -, além de tornar o Brasil mais equânime a partir do reconhecimento da nossa

diversidade cultural.

Conforme registrado adiante, esse artigo monográfico será fundamentado nas

pesquisas na área da Rua do Valongo (antigo caminho do Valongo) na Gamboa, centro do Rio

de Janeiro - RJ, Brasil. Local onde em todo período escravista, e até hoje, se caracteriza por

existir demograficamente e ter nos costumes, grande incidência e influência do negro. Sua

relevância baseia-se na necessidade do resgate e manutenção de nosso patrimônio cultural.

Cabe destacar que o mesmo está dentro da proposta do IAB, Instituto de Arqueologia

Brasileira, e conta com a necessária bibliografia, que possibilita novas perspectivas e

conhecimentos, através da identificação, do resgate e do conhecimento de nosso patrimônio

cultural, remetendo-o para a apropriação e conscientização nacional, a fim que o reconheçam

como seu patrimônio cultural, em uma atitude estimulante e construtiva para a

conscientização, a autoestima e a visão – o sentimento - de inclusão. Desta forma, se

construirão as motivações necessárias para a criação de uma identidade nacional que reflita

diretamente na consolidação dos laços, de interação, de harmonia e crescimento nacional.

Deste se modo contribuirá para a disseminação da cultura material e imaterial, fortalecendo e

implementando a prática da cidadania, com bases sólidas na concepção de inclusão e

pertencimento nacional.

Devido a limitações de tempo, estrutura e recursos financeiros, este estudo se

restringirá e se sustentará prioritariamente, nas principais fontes historiográficas, documentais

e bibliográficas apresentadas e produzidas por necessidade de diagnosticar o patrimônio

histórico e o potencial arqueológico detectado e ratificado pela Arqueologia, por momento do

empreendimento de revitalização da região portuária do Rio de Janeiro (Projeto Porto

Maravilha), apresentado em 2008/2009,4 ocasião em que foram observadas fontes

bibliográficas - em um trabalho arqueológico com metodologia e técnica, principalmente

quando houve necessidade de se utilizar e observar restaurações. Esse fato se justifica para

evitar a descaracterização e alteração do documento manipulado e consequentemente a

produção, conclusão e ou informação errônea sobre a análise do objeto – bem como para

4 PROJETO PORTO MARAVILHA. . Disponível em: <http://portomaravilha.com.br/conteudo/revistas/Boletim%20do%20Porto%203%20web.pdf>

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demarcar as sobreposições de ocupações humanas dos diversos grupos sociais que se fixaram

ao longo dos séculos, nas referidas áreas.

PROJETO PORTO MARAVILHA

Conforme enfatizado no projeto, a Zona Portuária é caracterizada pelo crescimento

urbano, cuja ocupação se deu paralelamente ao desenvolvimento da cidade, como um

somatório e um entrelaçamento de forças e contra forças, onde houve diversos momentos de

transformações e transições geofísicas naturais e ou produzidas pelo homem. É consenso que

desde o início da ocupação da Baía de Guanabara e fundação da cidade do Rio de Janeiro por

Estácio de Sá em 1565, essa região demonstrou características mais do que propícias para a

atividade econômica e portuária, devido às suas condições climáticas e geográficas

adequadas, aliadas à extrema exuberância das terras circundantes. Realidade que o Projeto

Porto Maravilha busca resgatar com a finalidade de promover a reestruturação local, por meio

da ampliação, articulação e requalificação dos espaços públicos da região, visando à melhoria

da qualidade de vida de seus atuais e dos seus futuros moradores, e a sustentabilidade

ambiental e socioeconômica da área.5

SÍTIO ARQUEOLÓGICO DO VALONGO/GAMBOA - CENTRO DO RIO DE JANEIRO –

RJ.

Segundo Honorato, em 1569 foi criada a primeira freguesia, a de São Sebastião. E

devido ao aumento da população e expansão territorial da cidade, fez-se necessário a criação

de novas freguesias e no final do período monárquico, já se identificavam 21 freguesias,

incluindo as urbanas e as ligadas à cidade do Rio de Janeiro, e entre esta a de Santa Rita –

atualmente Zona Portuária -, local que se caracterizava por uma sucessão de enseadas, onde

hoje é denominado área do Valongo / Gamboa6. Nessa época o mar a penetrava

profundamente, e seus manguezais se estendiam até o hoje Campo de Santana. O autor nos

afirma ainda, que desde o século XVII, a malha urbana é ligada à região do Valongo através

de sua parte noroeste. E que em sua encosta foram abertas diversas ruas e caminhos, entre elas 5 PROJETO PORTO MARAVILHA. 6 HONORATO, Claudio de Paula; Valongo: O Mercado de Escravos do Rio De Janeiro 1758 -1831 – O Espaço da

Cidade, pag. 25

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a Rua da Saúde. Assim, no início do século XIX, o Rio de Janeiro já era uma das mais

importantes cidades do Império Colonial Português, sendo inclusive a sede do Vice-Reino do

Brasil e principal entreposto comercial entre a Colônia e a Metrópole.7

Com as evoluções estruturais da Cidade, acrescidas de várias outras transformações, e

com o passar dos tempos, a freguesia de Santa Rita, hoje Valongo, caiu no esquecimento,

vindo a ser coberto pela malha urbana que se expandiu na região portuária em fins do século

XIX. O local só foi redescoberto em 1996, quando proprietários de um sobrado, localizado

na Rua Pedro Ernesto, em reforma de sua residência, durante as escavações encontraram

ossadas dos negros ali enterrados, quando o local ainda pertencia ao antigo mercado negreiro.

Durante esta reforma, quando os operários faziam sondagens para o alicerce, encontraram

milhares de dentes e fragmentos de ossos humanos. Haag nos aponta que como em uma “cena

de crime”, era preciso saber quem eram as vítimas e determinar sua origem.8 Desta forma foi

encontrado o Cemitério dos Pretos Novos que, foi criado em 1722, em frente ao Largo de

Santa Rita, e transferido em 1769 para a região do Valongo - entre outros motivos, o

complexo do Valongo foi criado para tirar os negros do centro do Rio, pois eles eram vistos

como ameaça à saúde, “carregadores de doenças” e um perigo à ordem pública. Hoje é

um Sítio Arqueológico e Centro Cultural localizado na zona portuária da cidade do Rio de

Janeiro. Conforme Haag, "Preto novo" era a nomenclatura dada aos escravos assim que

desembarcavam no porto do Rio de Janeiro.9 O autor também nos mostra que esta

nomenclatura era uma forma clara de referência ao “uso” do escravo enquanto “coisa”, pronta

a ser gasta pelo sistema escravista10. O autor aponta ainda que o referido cemitério foi entre o

final do século XVIII (1772) e início do século XIX (1830), um barracão do antigo mercado

negreiro localizado no Valongo (faixa do litoral carioca que ia da Prainha à Gamboa), e que

neste local eram "depositados" todos os escravos que desembarcavam das viagens dos navios

negreiros. Devido às longas viagens, praticamente todos os negros que chegavam à, então,

Colônia Portuguesa encontravam-se muito debilitados, e uma porcentagem significativa

destes cativos, morria em seus primeiros dias de Brasil, sendo seus corpos eram enterrados

dentro de barracões ou nos arredores do mercado. Em 1830 o mercado foi fechado, em parte

pelo inconveniente das atividades, pelo mau cheiro, por reclamações dos moradores, e 7 HONORATO, Claudio de Paula; Valongo: O Mercado de Escravos do Rio de Janeiro 1758 -1831 – O Espaço da

Cidade, pag. 33 e 37. 8 HAAG, Carlos; Escravidão Negra e Arqueologia. 9 HAAG, Carlos; Ossos que falam: Escavações na Zona Portuária do Rio de Janeiro revelam retrato pouco conhecido da escravidão; pags. 24 – 29. 10 HAAG, Carlos; Escravidão Negra e Arqueologia.

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também como uma forma das autoridades locais mostrarem aos ingleses que estavam

“respeitando” o tratado de extinção do tráfico, imposto pela Inglaterra e assinado em 1827. Na

realidade, porém, a atividade só mudou de endereço.11 Em meio às obras de revitalização da

Zona Portuária da Cidade do Rio de Janeiro, foram descobertas recentemente as estruturas do

antigo mercado de escravos. Os achados históricos justificam a ideia da prefeitura de criar um

memorial no local. Hoje, historiadores e arqueólogos da prefeitura conduzem escavações nas

ruínas recentemente encontradas.

Mas a história do sítio arqueológico não para por aí, durante dois anos, o historiador e

arqueólogo Reinaldo Tavares estudou a delimitação de toda a área e achou vestígios não só de

cemitérios de escravos, mas também de sambaquis - sítios pré-históricos - com datação de 3 a

4 mil anos, e nos afirma que esse tipo de sambaqui urbano é raro, único no Rio de Janeiro, o

que faz aumentar o interesse pela Região Portuária da cidade.12

De acordo com Honorato, depois da transferência do mercado de escravos para o

Valongo, área quase rural, distante dos olhares curiosos dos viajantes estrangeiros, adensou-se

com a construção de novos trapiches, armazéns, mercados, casas de negociantes e pequenas

lojas. É nas ruínas desse entorno que, através do trabalho de arqueólogos e historiadores da

Prefeitura do Rio de Janeiro responsáveis pelas escavações, estão se resgatando e

reconstruindo parte de nossa história, através de análises e tratamentos metodológicos de

objetos pertencentes aos escravos, como joias, amuletos, etc. Ainda, conforme Honorato, a

estrutura existente era justamente os “Homens de Valongo” - não por acaso, a forma como

eram denominados os traficantes -, mas dela também participavam comissários da alfândega,

capitães dos navios, tropeiros, ciganos, libertos e até ladrões. Honorato ainda aponta não ser

exagero afirmar que parte substancial da sociedade carioca contemporânea passou por ali,13

daí a importância e grandeza desse trabalho arqueológico.

11 HAAG, Carlos; Escravidão Negra e Arqueologia. 12 CDURP; História e descobertas sob as duas da Gamboa. 13

HONORATO, Claudio de Paula; O Mercado de Escravos do Rio de Janeiro 1758 -1831 – O Espaço da Cidade.

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A LEI Nº 11.645, DE 10 DE MARÇO DE 2008.

A relevância da referida lei é divulgar e produzir conhecimentos, bem como atitudes,

posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os

capazes de interagir com os objetivos comuns que garantam respeito aos direitos legais e

valorização da identidade cultural afro-brasileira, como outras que direta ou indiretamente

contribuem para a formação da identidade cultural brasileira. Entretanto, não se pode deixar

de apontar a deficiência de parte dos professores, que em sua formação não receberam

preparo especial para o ensino da cultura africana e suas influências na cultura e formação da

identidade do nosso país, tenha dificuldades para trabalhar essa temática, obstáculos que

devem ser tratados e superados.14

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL NO BRASIL.

É destacado por Fiorin que a identidade nacional é uma criação moderna que começa

ser construída no século XVIII e desenvolve-se plenamente no século XIX. E que antes dessa

época não se pode falar em nações propriamente ditas, nem na Europa nem em outras partes

do mundo15. Fiorin que dialoga com diversos autores, entre eles: Renan, (1947, p. 903);

Thiesse, (1999, p. 12); Zilberberg e Fontanille, (2001, p.27). 16, nos mostra que uma nação é

feita do legado de lembranças, aceito por todos como uma herança, simbólica e material, de

modo que pertencer a uma nação é ser um dos herdeiros desse patrimônio comum, reconhecê-

lo e reverenciá-lo. Logo, a nacionalidade é uma identidade, e esse processo de formação

identitária se consistiu na determinação do patrimônio de cada nação e na difusão de seus

cultos.

Conforme Machado, enquanto no passado a identidade de uma pessoa era determinada

por seu lugar na comunidade em relação às hierarquias sociais e cosmológicas, em tempos

modernos a sociedade de massa foi sendo tecida por redes diversas de identidade17. O autor

ainda argumenta que a nacionalidade como fonte da identidade teria surgido da necessidade

das comunidades modernas serem reconhecidas e terem algum conforto frente a um mundo

instável e indiferente, ou seja, compartilhar língua, cultura, tradições, história permite que

14

LEI Nº 11.645, de 10 de março de 2008. 15

FIORIN, Jose Luiz; A construção da identidade nacional brasileira; Ed. Bakhtiniana, São Paulo, v.1,n.1, p. 115-126, 2009. 16 Idem. 17

MACHADO, Lia Osório; SISTEMAS, FRONTEIRAS, e TERRITÓRIO.

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pessoas reconheçam umas as outras, com a vantagem adicional de facilitar a cooperação e a

proteção. Ainda segundo Machado, os primeiros e verdadeiramente naturais limites dos

estados são os limites internos, que emergem dos laços invisíveis gerados pela mesma

ascendência e a mesma língua, ou seja, pela totalidade de uma cultura18.

Guimarães, nos mostra que é no bojo do processo de consolidação do Estado Nacional

que se viabiliza um projeto de pensar a história brasileira de forma sistematizada19. A criação,

em 1838, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) vem apontar em direção à

proposta ideológica em curso. Uma vez implantado o Estado Nacional, impunha-se como

tarefa o delineamento de um perfil para a "Nação brasileira", capaz de lhe garantir uma

identidade própria no conjunto mais amplo das "Nações", de acordo com os novos princípios

organizadores da vida social do século XIX. Guimarães argumenta que a gestação de um

projeto nacional para uma sociedade marcada pelo trabalho escravo e pela existência de

populações indígenas, envolvia dificuldades específicas. E que num processo muito próprio

ao caso brasileiro, a construção da ideia de Nação não se assentava sobre uma posição à

antiga metrópole portuguesa; muito ao contrário, a nova Nação brasileira se reconhece

enquanto mantenedora de certa tarefa civilizadora iniciada pela colonização portuguesa,

assegurando desta forma a possibilidade de continuidade com Portugal e da construção das

metáforas de parentesco.

Dessa maneira, Vianna nos diz que além do trabalho de estabelecer um patrimônio

comum às diversas regiões de um país os quais seriam, por exemplo: os ancestrais comuns de

fluminenses, pernambucanos, baianos, paulistas e gaúchos - para criar, de fato, um mundo de

nações não basta fazer o inventário de sua herança; nem sempre ela existe, sendo preciso

antes de tudo construí-la, inventá-la - é necessário buscar algo que possa ser um vivo

testemunho de um passado prestigioso e represente da eminente coesão nacional20. E que essa

é uma tarefa ampla, longa e coletiva, pois a Nação nasce de um postulado e de uma invenção.

Sendo ela um condensador da alma nacional, deve ser elaborada e apresentar um conjunto de

elementos simbólicos e materiais tais como: uma história, que estabeleça uma continuidade

com os ancestrais mais antigos; uma série de heróis, modelos das virtudes nacionais; uma

língua; monumentos culturais; um folclore; lugares importantes e uma paisagem típica;

18

MACHADO, Lia Osório; apud, Christopher W. Morris (1998) 19

GUIMARÃES, Manuel Luis Salgado; Nação e Civilização nos Trópicos: O Instituto Histórico e Geográfico e o projeto de uma História Nacional. 20

VIANNA, Alexandre Martins; Estado-Nação, Razão e Identidade, 2004.pag. 116-117.

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representações e símbolos oficiais, etc. Vianna também nos mostra como os valores tomam

forma e circulam no discurso, podendo-se dizer que há culturas que se vêm como unidade e

outras como misturas, o que significa que há dois mecanismos a regê-las: o princípio de

exclusão e o princípio da participação, inclusão21. Com base no exposto a Arqueologia,

através da educação patrimonial, se sustenta como necessária a reconstrução, ao resgate e

exposição do conhecimento de como era o modo de vida, os costumes e cultura dos nossos

antepassados. Propiciando aqueles aspectos de nossas identidades que surgem de nosso

"pertencimento" a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais.

Fato que consolida os laços, a interação e o crescimento nacional. Pois conforme Fiorin,

“quando uma ideia se apodera da consciência das massas, ela se torna uma força

material”22.

A QUESTÃO DO RESGATE E VALORIZAÇÃO CULTURAL.

Barreto da Silva nos aponta que cultura é uma expressão da construção humana, e que

é construída através do diálogo entre as pessoas no dia a dia, numa interação social onde são

construídos gradativamente símbolos e significados que têm sentido para essas pessoas, e são

compartilhados entre elas23. Sustenta também que a construção de uma cultura está repleta de

elementos e significados que vão identificar esse povo como pertencente a uma determinada

comunidade ou região, diferenciando-os de outras comunidades, surgindo assim, a identidade

cultural. E que a cultura de um povo deve se remeter à sua origem, seu princípio, sua memória

cultural e suas raízes, com o objetivo de manter acesa a construção de sua própria história.

Sem, contudo se fechar e deixar de conhecer, dialogar e experimentar outras novas culturas,

como forma de valorizar a diversidade cultural dos demais povos e propiciar seu

enriquecimento cultural.

Fundada em 22 de agosto de 1988 (Lei nº 7.668), no clima da reconquista das

liberdades democráticas e do centenário da Abolição da Escravatura no Brasil, a Fundação

Cultural Palmares tomou para si o combate à intolerância racial no Brasil. Assim surgiu o

primeiro órgão de Estado a ter como eixo central a questão racial, mais especificamente o

21

VIANNA, Alexandre Martins; Estado-Nação, Razão e Identidade, 2004, pag. 117-118. 22

FIORIN, Jose Luiz; (apud, MARX; 2001 p. 53) A construção da identidade nacional brasileira; pag. 119. 23

BARRETO DA SILVA; (apud, ARIAS, 2002 P.103), A importância das raízes culturais para a identidade cultural do individuo.

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fortalecimento e o fomento dos valores políticos, culturais, sociais, econômicos e do

patrimônio afro-brasileiro, redefinindo o papel do Estado brasileiro na luta contra as

discriminações.24 Conforme aborda Fiorin, a literatura teve um papel fundamental no trabalho

de constituição da nacionalidade25. Os autores românticos, com especial destaque para

Alencar, estiveram na linha de frente na construção da identidade nacional. De acordo com o

autor, entre os livros de Alencar, o mais importante para determinar esse patrimônio

identitário, é O Guarani. Fiorin destaca que nele determina-se a paisagem típica do Brasil,

onde não ocorrem cataclismos naturais, como furacões, tornados, terremotos, etc. e que, além

disso, começa-se a elaborar um modelo explicativo da singularidade da cultura brasileira, pois

é essa especificidade que constituiria o Brasil como uma nação. Daí, os modelos explicativos

das autodescrições culturais exercerem um papel muito importante nas diferentes formações

sociais. Fiorin nos mostra ainda que se começa, no Romantismo, construir a noção de que a

cultura e a origem da nação brasileira se assentam em uma mistura, Peri e Cecília. E essa

nação teria, portanto, um caráter cultural luso-tupi. O Guarani mostra, além da fundação da

nacionalidade, outra fundação, a da língua falada no Brasil. Não se tratava do português tal

como é falado em Portugal, mas de um português modificado pela natureza brasileira. O autor

argumenta ainda que a independência linguística dos padrões portugueses era tão importante

quanto à independência política, e que na primeira metade do século XX, havia outro

movimento de construção identitária, que se assenta também sobre a mistura, pois considera a

mestiçagem como o jeito de ser brasileiro. Fiorin também aponta em Casa-Grande &

Senzala, de Gilberto Freyre (1933) considera-se eufórica a mistura, e o Brasil celebra a

contribuição de brancos, negros e índios na formação da nacionalidade, exaltando o

enriquecimento cultural e a ausência de fronteiras em nossa cultura. E que de nosso ponto de

vista, o misturado é completo, e o puro é incompleto, é pobre26. Havendo então: todo um culto

à mulata, representante por excelência da raça brasileira; o sincretismo religioso, sinal de

tolerância; o convívio harmônico de diversas culturas, inclusive algumas que se digladiam em

outras partes do mundo, como a árabe e a judaica.

Fiorin, com base em seus diálogos com diversos autores,27 nos mostra que a

concepção da mistura, como o jeito de ser brasileiro, apodera-se das consciências das massas

por meio do futebol, quando defende que a mestiçagem é que dá a genialidade do futebol

24

FUNDAÇÃO PALMARES, revista, 2009. 25

FIORIN, Jose Luiz; A construção da identidade nacional brasileira; pag. 119. 26

FIORIN, Jose Luiz; A construção da identidade nacional brasileira; pag. 120. 27

FIORIN, Jose Luiz; A construção da identidade nacional brasileira; pag. 117 – 121.

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nacional. Logo, esse esporte ser um reflexo do jeito brasileiro, que se utiliza de vários

elementos irracionais de nossa formação cultural e social, como a capoeira e o samba, ao lado

da “molecagem baiana”, da “malandragem carioca” e até do “cangaço nordestino”, unindo

eficiência e malandragem, objetividade e transgressão, transforma as ideias da “ginga” e do

“jogo de cintura” que estão presentes.28 O autor observa que, no entanto, as coisas no interior

da cultura se passam de modo diferente, pois na mistura havia sistemas não aceitos, daí ela ser

discriminada29. Por exemplo, no período inicial de construção da nacionalidade, não há a ideia

da miscigenação das três raças que hoje se diz terem constituído a nação brasileira, mas

somente a dos índios e brancos, os negros estavam excluídos, essa mistura não era desejável,

pois, afinal, tratava-se de escravos. Mais tarde surge a ideologia do branqueamento, que

participou do estímulo às grandes imigrações europeias, ocorrida em meados do século XIX.

Fiorin, ainda nos mostra que outros diversos autores, mesmo não denunciando o preconceito,

o revelam em suas obras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Diante ao exposto ratifico a importância do instrumento Arqueologia, nas pesquisas,

nos resgates, nos salvamentos e na educação patrimonial com propósito de contribuir e

propiciar que as experiências e colaborações históricas dos brasileiros afrodescendentes sejam

inseridas na realidade nacional, conforme Barreto da Silva,30 nos afirma: “Um povo que não

tem raízes acaba se perdendo no meio da multidão. São exatamente nossas raízes culturais,

familiares, sociais, que nos distinguem dos demais e nos dão uma identidade de povo, de

nação”. Vejo como corretos, os que defendem que as Histórias e as culturas Afro-brasileira e

indígena devam estar presentes nos estudos da formação básica, transformando os alunos em

cidadãos capazes de construir relações ético-sociais e pedagógicas, sendo essas relações

medidas preventivas e fundamentais contra o favorecimento da discriminação. Daí ser

necessário e fundamental entendê-las enquanto realidade social, produtora da própria história

e conforme afirma Stuart Hall,31

É preciso desconstruir o racismo que apesar de manter distância necessária das

outrora absurdas ideias de inferioridades e superioridades biológicas, insiste na

28 MARANHÃO, Tiago Jorge F. Albuquerque; Apolo versus Dionísio no campo da História: o futebol em Gilberto Freire; artigo, 2003. 29

FIORIN, Jose Luiz; A construção da identidade nacional brasileira; pags. 121-124. 30

BARRETO DA SILVA, Susie; (aput, Pedroso, 1999) A importância das raízes culturais para a identidade cultural do individuo. 31

STUART HALL (aput, Gílroy, 1992, p.87); A identidade cultural na pós-modernidade.

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apresentação e defesa de uma definição imaginária da nação como uma

comunidade cultural única, construindo e defendendo a imagem da cultura

nacional com base na sua branquitude ideológica.

Nesse contexto a Arqueologia se mostra uma importante ferramenta, agregador e

impulsionador de uma sociedade democrática, solapando o passado, e a partir do resultado

do seu trabalho, estimulando reflexões e debates - observando que devemos ter em mente

que a conscientização e o respeito à diversidade cultural nacional contribui para delinear

as diferenças numa única identidade - que possam vir contribuir com o provocar da

conscientização coletiva sobre a importância de todas as nossas raízes culturais, e que o

resgate dessas despertará interesse sobre a própria cultura, criando maior consciência quanto à

importância de suas raízes para preservação de sua história, visão de pertencimento e

solidificação da identidade nacional.

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