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    Da retrica categoria esttica: a importncia da releitura do sublime em Burke

    Glucia Antonovicz Lopes - 54783

    Nestas consideraes, apresentaremos, de forma breve, como Burke tratou a noo de

    sublime, em contraposio ao belo, em sua obra Uma investigao filosfica sobre a origem de

    nossas ideias de sublime e do belo. Ademais, dissertaremos, baseados no percurso feito pelo

    autor, a repercusso ocasionada pelos seus pressupostos.

    A importncia do Burke em sua poca, isto , sculo XVIII, diz respeito ao fato de que

    embora o autor no tenha sido o primeiro a escrever sobre o sublime, foi o primeiro a tentar

    sistematizar o conceito. A consequncia deste ato foi a sua influncia sobre outros importantes

    autores, como por exemplo, Kant e Schiller. Retomaremos esta questo frente.

    Antes de adentrarmos nas ideias elaboradas por Burke sobre o sublime, interessante

    voltarmos a sua concepo clssica, mais precisamente em Longino1, em que o sublime era

    considerado um sentimento de arrebatamento do esprito humano, provocado pelo ponto mais

    elevado de uma obra:

    [...] o sublime de certa forma o ponto mais alto, a eminncia do

    discurso [...] o sublime, quando se produz no momento oportuno, como

    o raio ele dispersa tudo e de imediato manifesta, concentrada, a fora

    do orador [...] (LONGINO, p. 44, 1996)

    Como podemos observar, Longino no toma o sublime somente como mera tcnica de

    retrica, sua reflexo metafrica conduz o conceito para alm do limite da escrita. Dando

    continuidade a noo acima exposta, no sculo XVIII, a releitura do sublime, baseada em

    Longino, faz com que o mesmo seja considerado uma categoria esttica, garantindo-lhe

    autonomia juntamente com outras categorias estticas, como por exemplo, o feio e o belo, e no

    mais como um estilo de escrita elevado, caracterizao oriunda da retrica. Na obra de Burke,

    1 Vale ressaltar que Longino, na antiguidade clssica, tambm teve importante papel para o desenvolvimento do

    conceito de sublime, visto que tambm fora um dos primeiros a sistematiz-lo em sua poca, sem os preceitos

    retricos.

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    mantm-se a noo de que o sublime um arrebatamento do esprito humano, contudo, o

    mesmo ocasionado atravs da associao de dois tipos de estados, a dor e o prazer positivos,

    fazendo com que, segundo o autor, o sublime diferencie se do belo, pois este ltimo gera,

    apenas, o prazer.

    O autor chega a esta concluso por meio da investigao das paixes humanas, em outras

    palavras, Burke, ao longo do texto, explicar o sublime por meio das emoes humanas que

    atingem os espritos. De incio, ressalta que para que as paixes sejam movidas necessrio

    curiosidade sentimento mais elementar somado a dor e/ou prazer.

    Outra novidade apresentada pelo autor diz respeito ao tratamento do estado de dor e de

    prazer, vistos pela grande maioria como um subordinado ao outro para garantia de existncia,

    a dor nasce invariavelmente da eliminao do prazer, assim como julgam que a origem do

    prazer est na cessao ou diminuio de uma dor (1993, p. 42), em Burke assumem uma

    caracterizao totalmente oposta a esta. Segundo o autor, o prazer e a dor tm carter positivo

    ou negativo, isto , presente e ausente, e, para alm disto, so estados totalmente independentes.

    A fim de embasar sua argumentao, o autor nos apresenta um terceiro estado de esprito:

    a indiferena ausncia de dor ou de prazer. Burke ir dedicar uma seo reflexo sobre a

    no dependncia destes sentimentos, vejamos um exemplo:

    Toda espcie de prazer nos proporciona uma satisfao efmera e,

    quando acaba, retornamos indiferena, ou antes camos em uma

    tranquilidade suave, tingida da cor agradvel da sensao anterior.

    (BURKE, p. 44, 1993)

    Ou seja, a ausncia de prazer no necessariamente gera a dor e vice-versa. Com base nas

    ideias acima expressas, o autor ir expor um terceiro estado humano, o deleite. Este estado

    especial, visto que no se trata de um simples prazer, ou prazer presente, pois est vinculado ao

    sentimento de dor. um prazer relativo, que por este motivo chamado de deleite.

    Para efeito do sublime, faz-se necessrio uma dor negativa, ou seja, no presente, mas

    que apresentada. Esta gerar o deleite pela sua prpria condio de ausncia, mantendo a

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    autopreservao humana, que fora provocada pelas paixes da dor e/ou do perigo. Vale ressaltar

    que, quando o perigo/dor iminente, isto , positiva e presente no gera o deleite, so

    simplesmente dor e perigo, do contrrio, quando ausentes, so deliciosas (BURKE, p. 48, 1993).

    Outra fonte do sublime, segundo Burke, a simpatia - podemos entender por

    solidariedade e/ou compaixo -, pois deve ser considerada como uma espcie de substituio,

    mediante a qual nos colocamos no lugar de outrem e somos afetados, sob muitos aspectos, da

    mesma maneira que eles. (BURKE, p. 52, 1993) Logo, quando o homem est diante de algum

    que sofreu um infortnio, ele coloca se na situao deste algum, sofre o mesmo infortnio, e

    deleita, pelo fato de a desventura estar expressa e sentida, mas no presente, uma dor

    negativa.

    Em suma, tudo aquilo que incitar ideias sobre a dor ou perigo, no geral, terror, pode ser

    fonte de sublime, visto que esto relacionadas a uma outra ideia apresentada pelo autor, a

    autopreservao, provocando a mais forte emoo que o espirito capaz de sentir.

    Como fontes de prazer, o autor nos apresenta a imitao e a ambio. A primeira

    relacionada s prticas humanas que acabam por nos moldar e nos caracterizarmos como

    humanos, e a segunda, como um sentimento de superao em relao a prtica de outrem, por

    este motivo, as prticas so aperfeioadas. Vejamos que nenhuma destas paixes envolvem a

    dor, logo, produzem apenas o prazer positivo.

    Como dissemos no comeo destas consideraes, Burke ir contrapor a ideia do belo com

    a do sublime, para isto, o autor considera o belo como uma categoria social em que no somente

    a contemplao da beleza entre homens e mulheres, bem como de animais, gera uma sensao

    de prazer e de alegria, apenas. Vale ressaltar que, para exemplificar a dor e o prazer o autor

    toma uso do homem em sociedade. A dor presente, ou positiva, a solido humana total,

    enquanto que o prazer gerado quando o homem est em sociedade.

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    A partir do que foi demonstrado acima, podemos ponderar que Burke alm de ser um

    importante autor, pois a sua noo de que a possibilidade de perigo gera o sublime influenciou

    autores como Schiller, visto que o sublime, segundo este autor, emancipao humana diante

    da sua condio natural dos seres a morte, pois frente fora da natureza, o homem capaz

    de domar seus sentimentos e sentir o deleite, por no estar em perigo. Notemos, abaixo, um

    exemplo de correspondncia de ideias entre os autores Burke e Schiller sobre o sublime:

    O sentimento de sublime um sentimento misto. Ele consiste numa

    juno de um estado de dor, que se exprime no seu grau mximo como

    um horror, com um estado de alegria, que pode se intensificar at o

    encantamento [...] (SCHILLER, p. 60, 2002)

    Como dito no incio do trabalho, Burke influenciou no apenas Schiller como Kant com

    suas ideias inovadores em relao ao sublime. Infelizmente, e devido aos objetivos e propores

    da presente reflexo, no poderemos aprofundar nossa reflexo acerca da influncia de Burke

    sobre Kant, tal feito iria fugir s nossas intenes, que foram apresentar de forma breve as

    principais ideias expostas por Burke em parte de sua grande obra, demonstrando assim, a

    contribuio deste autor elaborao do conceito do sublime como uma categoria esttica a

    partir do sculo XVIII.

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    Bibliografia

    BURKE, Edmund. Uma investigao filosfica sobre a origem de nossas ideias sobre

    o sublime e do belo. Campinas: Papirus, 1993.

    LONGINO. Do Sublime. Traduo de Filomena Hirata. So Paulo: Martins Fontes, 1996.

    SCHILLER, Friedrich. O belo da arte, in: Kallias ou sobre a beleza. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar, 2002.