Resenha Reformas Educacionais - Uma Análise Sociológica

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Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 27 (2): 1-54, jul./dez. 2002 89 RESENHA POPKEWITZ, Thomas S. Reforma educacional: uma política socio- lógica B poder e conhecimento em educação. Trad. Beatriz Afonso Neves. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. 294 p. Marília Gouvea de Miranda* Susie Amâncio Gonçalves de Roure** Thomas S. Popkewitz, professor e pesquisador do Departamento de Currículo e Ensino, da Universidade de Wisconsin B Madison, nos Estados Unidos da América, tem se dedicado à pesquisa das políticas e das tendências pedagógicas que caracterizam o proces- so de escolarização na atualidade, em especial em seu país. Entre outros artigos e livros publicados no Brasil, destaca-se seu estudo sobre a reforma educacional norte-americana, cujo objetivo é anali- sar como este processo, ao articular poder e conhecimento, consti- tui-se como um meio, por excelência, de regulação social. Segundo o autor, o estudo da reforma requer uma melhor conceituação dos termos reforma e mudança, uma vez que o senso comum os tem associado, de forma reducionista, respectivamente à idéia de progresso ou de procedimentos administrativos. Na medida em que desenvolve sua análise, Popkewitz vai construindo, reposicionando e rearticulando estes dois conceitos. Suas questões são: AO que constitui a reforma? Quais são seus significados variáveis ao longo do tempo? Como são produzidos esses significa- dos?@ Adverte, no entanto, que não se trata de identificar mecanismos globais de controle segundo ele, típicos da sociologia do conheci- mento no início dos anos 70 B, mas de verificar como a reforma estabelece relações com os diversos níveis de relações sociais, compreendendo desde a organização das instituições até a autodisciplina e a articulação da percepção e da experiência que orienta a ação dos indivíduos. Prefere, assim, o conceito de regulação social ao de controle social para nomear os Aelementos ativos de poder presentes nas capacidades individuais socialmente produzidas e disciplinadas@, preocupando-se ainda com as formas específicas e regionais pelas quais o poder afeta, produz e limita as relações sociais. Nesse sentido, preocupa-se com as teorias do discurso, visando compreender as regras e padrões de textos como modelo.p65 7/9/2005, 3:52 PM 89

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RESENHA

POPKEWITZ, Thomas S. Reforma educacional: uma política socio-lógica B poder e conhecimento em educação. Trad. Beatriz AfonsoNeves. Porto Alegre,Artes Médicas, 1997. 294 p.

Marília Gouvea de Miranda*SusieAmâncio Gonçalves de Roure**

Thomas S. Popkewitz, professor e pesquisador do Departamento deCurrículo e Ensino, da Universidade de Wisconsin B Madison, nosEstados Unidos da América, tem se dedicado à pesquisa daspolíticas e das tendências pedagógicas que caracterizam o proces-so de escolarização na atualidade, em especial em seu país. Entreoutros artigos e livros publicados no Brasil, destaca-se seu estudosobre a reforma educacional norte-americana, cujo objetivo é anali-sar como este processo, ao articular poder e conhecimento, consti-tui-se como um meio, por excelência, de regulação social.Segundo o autor, o estudo da reforma requer uma melhorconceituação dos termos reforma e mudança, uma vez que o sensocomum os tem associado, de forma reducionista, respectivamente àidéia de progresso ou de procedimentos administrativos. Na medidaem que desenvolve sua análise, Popkewitz vai construindo,reposicionando e rearticulando estes dois conceitos. Suas questõessão: AO que constitui a reforma? Quais são seus significadosvariáveis ao longo do tempo? Como são produzidos esses significa-dos?@Adverte, no entanto, que não se trata de identificar mecanismosglobais de controle segundo ele, típicos da sociologia do conheci-mento no início dos anos 70 B, mas de verificar como a reformaestabelece relações com os diversos níveis de relações sociais,compreendendo desde a organização das instituições até aautodisciplina e a articulação da percepção e da experiência queorienta a ação dos indivíduos. Prefere, assim, o conceito deregulação social ao de controle social para nomear os Aelementosativos de poder presentes nas capacidades individuais socialmenteproduzidas e disciplinadas@, preocupando-se ainda com as formasespecíficas e regionais pelas quais o poder afeta, produz e limita asrelações sociais. Nesse sentido, preocupa-se com as teorias dodiscurso, visando compreender as regras e padrões de textos como

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prática social e, ainda, as condições históricas em que predominamum discurso determinado.A maneira pela qual Popkewitz afirma e justifica seu objeto explicitasuas grandes influências teóricas e metodológicas. Adotando umaperspectiva parcialmente próxima das práticas discursivas caracteri-zadas como pós-estruturalistas, Popkewitz orienta sua construçãoteórica no sentido de aglutinar as contribuições de Foucault, daescola histórica francesa dos Annales, de Bourdieu e de Habermas,alinhando-se em certos momentos às concepções de Apple e Rorty,dentre outros nomes de relevância no cenário da pesquisa social eeducacional norte-americana.Na introdução e no primeiro capítulo, Popkewitz analisa alguns dosprincípios sociológicos e epistemológicos do estudo acerca dareforma educacional, evidenciando os conceitos básicos para acompreensão do processo pelo qual se articulam escola, conheci-mento e poder no processo de modernização e mudança dasinstituições sociais. À escola são atribuídas as funções de inser-ção social do indivíduo, de transmissão de saberes e informaçõesnecessários ao desenvolvimento econômico do país, bem como deformação de hábitos e condutas individuais que garantam a estabili-dade das relações em sociedade. As reformas, no contexto daescolarização, constituem-se, portanto, como um mecanismo deajuste dos processos pedagógicos às demandas sociais, políticas eeconômicas da sociedade em transformação.Neste sentido, Popkewitz discute o conceito de ecologia da refor-ma. A palavra ecologia é usada para indicar os múltiplos fatores epráticas sociais ligados ao fenômeno da escolarização que, organi-zados regionalmente, constroem as noções de mundo, de trabalho,de progresso e de indivíduo. Interessa ao autor entender, através dasrelações de poder e das concepções acerca do conhecimentoligadas à escolarização, de que maneira determinados processosde organização formal das práticas sociais se estruturam como umdiscurso capaz de produzir não apenas uma ordem institucional,mas também capacidades e desejos individuais.As relações entre poder e conhecimento passam a sermediatizadas por uma crescente profissionalização einstitucionalização do saber. O desenvolvimento das ciênciasvoltadas para o problema do indivíduo, em especial a psicologia, eas expectativas de progresso centradas na escola trazem para oâmbito da educação e das reformas educacionais os instrumentos

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conceituais e práticos necessários à formação, regulação e controledas relações em sociedade.Segundo Popkewitz, as mudanças na esfera socioeconômica nodecorrer dos séculos XIX e XX acabam fazendo da prática e daciência pedagógicas, no que diz respeito à organização da escola eà formação de professores e, ainda, ao próprio desenvolvimento daciência da educação, um meio de proporcionar um campo social noqual a formação e o governo do indivíduo tornam-se possibilidade eobjetivo, o que determina substancialmente a consolidação doestado moderno.Nos Estados Unidos, o desenvolvimento industrial e tecnológicoaliado aos valores protestantes e burgueses imprime à reforma umcaráter progressista em que a formação do indivíduo deve se dar nosentido de torná-lo independente, produtivo e autodisciplinado. Agarantia de um “futuro perfeito” encontra-se calcada na tendência deburocratização das instituições e de profissionalização, como ummeio de desenvolvimento competente e sistemático das relaçõessociais.A idéia de melhoramento social é vista como um campo primordialda atuação das ciências humanas seculares. A autoridade de Deus,como reguladora da vida social, passa a ser substituída pela autori-dade da ciência. Por decorrência, o conhecimento sistematizadocomo ciência ou profissão desloca para a escola todas as expecta-tivas de redenção social, tanto no plano moral quanto no político-econômico.Na medida em que percorre a história de constituição das escolas,das universidades e da ciência nos Estados Unidos, Popkewitzdemonstra como a educação, básica e superior, se desenvolveatrelada aos interesses políticos e econômicos. Referindo-se àpesquisa educacional, lembra que essa vem sendo subsidiada pelogoverno e por organizações filantrópicas ou empresariais, guiadaspor suas próprias metas e ideologias. Desta forma, as práticaspedagógicas vão sendo orientadas pela formação profissional e pelapesquisa desenvolvida nas universidades, o que, segundo o autor,se dá através de uma complexa rede de acordos administrativos. Ospadrões públicos para a prática escolar, legitimados pela ciência,terminam por consolidar um enfoque epistemológico e social demudança, na mesma medida em que tornam possível o “controleinstrumental” da produção nas escolas e nas universidades.Para Popkewitz, as ciências da educação definem a postura peda-

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gógica e as políticas educativas em articulação com as demandassociais, estabelecendo as estruturas de produção e sua regulação.Assim sendo, as reformas educacionais que ocorreram durante oséculo XIX e início do XX trazem as marcas de uma nova concepçãode produção, de vida social e de aprendizagem, sendo definida apartir de organizações curriculares centradas na formação dehabilidades intelectuais, técnicas e morais, voltadas paraprofissionalização e para o exercício da cidadania nos moldes dademocracia liberal em expansão.Através da discussão sobre a produção psicológica do período emquestão, de Thorndike a Dewey, passando pela influênciabehaviorista na pedagogia, Popkewitz vai pontuando a relação entreos enfoques teóricos sobre sujeito, conhecimento e sociedade e aorganização e institucionalização das relações sociais. Em seuponto de vista, a psicologia educacional, que se desenvolve a partirde então, oferece as tecnologias de formação, manipulação epredição do self, tornando-se um discurso capaz de atribuir osproblemas do governo do Estado ao indivíduo e de ocultar o dilemasocial da educação numa sociedade heterogênea e diferenciada.Ao analisar o impacto das ciências da educação sobre os conteú-dos e currículos escolares, o autor ressalta a relação que essasmantêm com o processo de formação de professores. Além deestabelecer os critérios cognitivos e morais a serem trabalhadospelo professor, a aplicação de tais ciências à educação cria critéri-os para o ensino de qualidade e para sua profissionalização.O perfil do educador constitui-se pelo discurso da profissionalizaçãoe pela tendência à feminilização. Essas características relacionam-se à transferência gradual da formação da criança da família para aescola, o que faz da ação feminina na docência uma mediaçãoentre as distintas organizações da família e da escola. À figurafeminina no ensino, assim como na família, continua sendo dada afunção de inserção social da criança, bem como de formação morale disciplinar para o convívio em sociedade, acrescendo-se o preparotécnico e intelectual. Observa, ainda, que o magistério se apresen-tava, nessa época, como uma possibilidade de atuação profissional“segura” e virtuosa para a mulher.A partir do capítulo quinto até o final do livro, ao tratar das reformaseducacionais norte-americanas das décadas de 1960 e 1980, oautor passa a discorrer sobre a epistemologia social que fundamen-ta as reformas contemporâneas, relacionadas às transformações

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tecnológicas, políticas e econômicas que marcam o mundo, sobre-tudo, no período que se segue à Segunda Guerra Mundial. Taisreformas são marcadas por quatro aspectos principais: o aumentoda profissionalização, a maior ênfase na ciência, a expansãoeconômica e a esperança espiritual.As premissas salvacionistas estabelecidas para as primeirasreformas educacionais na sociedade moderna sinalizavam para um“melhoramento social” e um “futuro perfeito”, produtivo, justo epróspero, no qual a ciência e a educação se apresentavam como agarantia de progresso. Tais expectativas, não alcançadas a conten-to, continuam demarcando o tom da reforma em 1960, estreitandoainda mais o vínculo entre essas expectativas e a escola.As mudanças nas bases econômicas fazem com que a reforma emcurso se direcione para a busca das sensibilidades necessáriaspara a formação da mão-de-obra numa economia dependente deciência e tecnologia, cada vez mais marcada pelo sentido pragmáti-co e competitivo. Popkewitz critica, ainda, a promessa de um futurofeliz reafirmada pelo forte ativismo social deste período, que leva aescola a se deparar com novas demandas ligadas a seu papel naluta por superação das desigualdades sociais.À educação, portanto, é dada a função de preparar uma força detrabalho atenta ao conhecimento científico, de rápido raciocínio, decaráter e moral equilibrados e proprietária de suas própriascapacidades, o que o autor denomina como desenvolvimento doindividualismo possessivo, vinculado à concepção de conhecimentocomo construção pessoal, decorrente da interação entre as capaci-dades inatas do indivíduo e a socialização.Tais características implicam uma postura pedagógica que permitao desenvolvimento espontâneo e natural do aluno, respeitando seupróprio ritmo e suas diferenças individuais. As práticas pedagógicaspassam a se orientar pelo desenvolvimento de habilidades cognitivase pessoais individualizadas. É possível perceber a forte influênciados pressupostos escolanovistas nos enfoques pedagógicos destaépoca, posteriormente respaldados pela teoria do desenvolvimentocognitivo de Piaget. Na avaliação do autor, o construtivismo repre-senta a possibilidade teórico- metodológica de uma pedagogiavoltada para o individualismo possessivo, que, legitimado pelainfluência da psicologia na educação, acaba contribuindo para aconstituição de novas noções de conhecimento, autonomia, discipli-na e poder, que compõem o discurso das reformas da década de

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1960.A nova perspectiva de escolarização, traçada pela reforma de 1980,apresenta uma relação muito próxima dos parâmetros da reformaanterior. Popkewitz afirma que, de certa forma, as propostas con-temporâneas ampliam e estendem o individualismo possessivo e acrença no futuro perfeito, ainda que as condições históricas específi-cas da atualidade devam também ser consideradas.Popkewitz considera que a percepção da escola como instituiçãoredentora se explica, de uma certa forma, pelo caráter protestantevinculado à escolarização. Segundo ele, os valores espirituais emorais cultivados pelas diretrizes educativas têm colaborado para amanutenção da autoconfiança da nação americana, que se identificacomo a nação eleita, o povo escolhido por Deus, e, portanto, a maispróxima de suas dádivas e bênçãos, entre as quais se incluem,preferencialmente, as materiais.O futuro da nação americana requer um processo educativo cadavez mais competente, centrado no segmento social mais próximoda formação bem-sucedida e perfeita: a infância. As criançastornam-se a chave para o progresso social. A supremacia americanadiante da competitividade mundial requer da educação voltada paraa criança um comprometimento cada vez maior com a qualidade,com a eficiência, com a padronização e com o controle dos méto-dos pedagógicos.Deve-se ressaltar que os objetivos educacionais se mobilizam nosentido da preponderância do mercado como delimitador dasrelações sociais. Aliada à concepção de estado mínimo, a ênfasenas demandas de ampliação e globalização do mercado temrepresentado a necessidade do estabelecimento de padrões indivi-duais de regulamentação social, em que o sujeito auto-referidotorna-se cada vez mais disciplinado, motivado, competitivo e eficien-te. A crença geral no mercado, como elemento de equilíbrio eeficiência social, acaba sendo assimilada pela própria educação,tornando-a palco de uma crescente vinculação com a racionalidadeinstrumental.Para Popkewitz, o discurso pedagógico atual subverte a relaçãoentre meios e fins da educação, o que faz com que as estratégiaseducacionais para a eficiência e qualidade da aprendizagem tornem-se os objetivos finais das implementações da reforma. As atividadescomo as tarefas escolares, a motivação e o aprendizado tornam-seum fim em si mesmos, fazendo com que conceitos caros ao pro-

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cesso de construção de conhecimento, como flexibilidade edescentralização do processo educativo, autonomia, pensamentocrítico e consciência social, sejam revertidos à ótica quantitativa dospadrões de desempenho escolar e de profissionalização.Esse instigante estudo sobre a reforma educacional americana, adespeito de suas particularidades, revela uma certa similaridadecom a reforma da educação em curso em outros países, inclusiveno Brasil, em especial no que se refere ao tom retórico da reformacomo busca necessária de qualidade e profissionalização da educa-ção e nas bases teóricas e epistemológicas que subsidiam asconcepções de mudança nos novos enfoques pedagógicos, sobretu-do naquelas de orientação psicológico-cognitivistas.Observe-se que Popkewitz, orientado por suas convicções teórico-metodológicas, recusa análises macroestruturais e aproximaçõesapressadas entre as reformas realizadas em diferentes países. Asestruturas são entendidas como conjunto de relações e não comoqualidades estáveis e inflexíveis. Agrega, em sua análise, como seestivesse construindo um mosaico, categorias como mercado,racionalidade instrumental e reificação, sem a preocupação deprecisar o sentido lógico e histórico desses conceitos. Essascaracterísticas confirmam a preocupação do autor em negar asdeterminações constitutivas dos processos analisados, limitando-se a considerar, sem realizar uma síntese, as múltiplas questõesimbricadas em torno da reforma educacional em seu país.O posicionamento metodológico de Popkewitz desconsidera asdeterminações constitutivas do capitalismo que, como se sabe,apesar de suas manifestações parciais e localizadas, configuramforças sociais que tendem a se universalizar. A constituição de umtipo de racionalidade se torna explicativa dos processos sociais nãoapenas nos Estados Unidos, mas também em outros lugares domundo, com maior ou menor ênfase, dependendo de inúmerosfatores que determinarão a absorção desse discurso. Mas, mesmoconsiderando esses limites, não se pode deixar de reconhecer quea análise realizada em Reforma educacional: uma política sociológi-ca constitui uma importante contribuição para a compreensão e odebate sobre a reforma educacional contemporânea.A análise sobre a constituição do modelo escolar e científico ameri-cano levanta uma série de questionamentos em relação à educaçãobrasileira, uma vez que Popkewitz remete-se ao estudo da coloniza-ção e da influência religiosa protestante como um fator de

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direcionamento das políticas educativas americanas voltadas para aindependência, competitividade e autogoverno do self. Essascaracterísticas contrastam com a realidade brasileira, contudoratificam a tese do autor, segundo a qual as abordagens pedagógi-cas envolvem múltiplos fatores da organização social e findam porforjar novas relações de conhecimento e poder.Com referência ao processo de escolarização e concepção deformação social no Brasil, cabe discutir como, a partir de nossasrealidades históricas e culturais, tais noções se sedimentam nodesenvolvimento da teoria e prática educativas. Além disso, osdesdobramentos de sua análise no sentido da constituição deconcepções voltadas para os problemas contemporâneos da subjeti-vidade e escolarização, como conhecimento, poder, currículo,moralidade, disciplina, formação e profissionalização do professor,fazem da obra de Popkewitz uma leitura primordial para pesquisado-res, estudiosos e profissionais da educação.

* Professora da Faculdade de Educação/UFG e Doutora em Histó-ria e Filosofia da Educação.** Professora da Faculdade de Educação/UFG e Mestre em Educa-ção Brasileira.

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