Resenha Políticas de Diversidade

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Resenha do Artigo "Políticas de Diversidade nas Organizações: Uma Questão de Discurso?", por Luiz Alex Silva Saraiva e Hélio Arthur Reis Irigaray.

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Resenha do Artigo POLTICAS DE DIVERSIDADE NAS ORGANIZAES: UMA QUESTO DE DISCURSO?"DIVERSITY POLICIES IN ORGANIZATIONS: A MATTER OF SPEECH?Janis, KassandraGraduando em Cincia da Computao Centro Universitrio de Belo Horizonte - MGAntunes, Lucas

Graduando em Cincia da Computao Centro Universitrio de Belo Horizonte - MGResumoEsta uma resenha do artigo Polticas de Diversidade Nas Organizaes: Uma Questo de Discurso? de autoria dos professores Luiz Alex Silva Saraiva e Hlio Arthur Reis Irigaray. O texto tem como objetivo avaliar a eficcia das polticas de diversidade nas organizaes, atravs de uma pesquisa baseada em documentos e entrevistas com empregados que representam minorias e no minorias. Palavras-Chave: Polticas Organizacionais; Diversidades Polticas; Discursos Empresariais.Abstract

This is a review of the article Diversity Policies in Organizations: A Matter of Speech? by the teachers Luiz Alex Silva Saraiva and Hlio Arthur dos Reis Irigaray. The text has as objective to evaluate the efficacy of the diversity policies in organizations, through a research based on documents and interviews with employees which represent minorities and non-minorities.Keywords: Organizational Policies; Political Diversities; Business Speech.

Introduo

Segundo os professores, a questo da diversidade tem se consolidado na pauta empresarial em todo o mundo, principalmente em razo das diferenas na fora de trabalho. Aspectos como gnero, etnia, orientao sexual, idade, crena religiosa ou limitaes fsicas, por exemplo, assinalam a heterogeneidade (ALVES; GALEO-SILVA, 2004; FLEURY, 2000; NKOMO; COX, 1994), demandando prticas que harmonizem lucro e justia social (ROBINS; COULTER, 1998). Seu estudo orienta-se pela seguinte questo: o quanto efetiva a implementao de polticas de estmulo diversidade em filiais brasileiras de uma empresa multinacional? Tal questionamento se justifica medida em que h lacunas nos estudos sobre polticas de gesto da diversidade no Brasil (ARANHA E OUTROS, 2006). Desenvolveram um estudo de caso, com base em pesquisa documental nas polticas da organizao quanto diversidade associada a entrevistas com empregados dos escritrios do Rio de Janeiro e de So Paulo de uma empresa multinacional do ramo tecnolgico, denominada NORTEC. Esta empresa implantou, em meados da dcada de 1990, em todas as suas filiais em mais de 100 diferentes pases, a poltica de diversidade da matriz. Neste estudo assume-se o pressuposto que formalizar polticas de estmulo diversidade no significa incluso de minorias, e por isso se busca analisar: a) a poltica de diversidade desta organizao com base na anlise do discurso, verificando seus preceitos e proposies implcitas e explcitas; b) as percepes dos empregados de minorias beneficiadas sobre a efetividade de tal poltica; e c) o posicionamento dos empregados de no-minorias sobre a poltica organizacional de diversidade.Discursos Empresariais e Questo da LegitimidadeEm linhas gerais, os discursos empresariais no plural, porque atuam em mltiplos nveis e em diferentes frentes difundem uma nova viso de organizao, tratando de aspectos dspares e, ao mesmo tempo, complementares, na tessitura de uma viso de cidado (mais do que de empregado), e da comunidade (mais do que da empresa), em busca de legitimidade. Essa procura de legitimidade por meio da adoo de prticas organizacionais discutida por vrias correntes tericas, entre as quais o neoinstitucionalismo. Alguns neoinstitucionalistas discutem que as empresas adotam prticas para se legitimar, por exemplo, junto ao mercado (LOUNSBURY; CRUMLEY, 2007), aos clientes (WAILES; MICHELSON, 2008), e a outros pblicos que chancelem o que se faz na organizao, um rgido processo de busca de sustentao, submetendo as estratgias a agentes institucionalizados. Em relao diversidade, os discursos so particularmente ambguos. Em busca de legitimidade social, ao investir em prticas no discriminatrias, as organizaes se habilitam a ser percebidas como mais socialmente responsveis do que outras que no adotem a mesma postura (WAILES; MICHELSON, 2008). Contudo, so de se considerar a efetividade e os desdobramentos dos discursos empresariais pr-diversidade. A efetividade se refere intensidade com que so praticadas as polticas de igualdade de oportunidades entre indivduos de segmentos socialmente discriminados. Os desdobramentos so um efeito da adoo ou no de tais medidas, pois a legitimidade ameaada quando os indivduos no acreditam nas polticas pela ausncia de oportunidades de ascenso e de reconhecimento.

A questo da diversidade nas organizaesA dcada de 1980 trouxe tona diversos estudos sobre a diversidade da fora de trabalho, questionando a viso hegemnica de que as diferenas individuais pouco influenciavam o ambiente e os resultados da organizao. Em essncia, a diversidade se relaciona ao respeito individualidade e ao seu reconhecimento (Fleury, 2000), a forma pela qual os indivduos se percebem suas identidades visveis e invisveis. Para a teoria da identidade social, os indivduos tendem a classificar em categorias a si prprios e aos outros, com efeitos sobre as interaes humanas (SLUSS; ASHFORD, 2007), um processo que implica esteretipos e, eventualmente, estigmas. No raro, indivduos de identidades minoritrias so alvo de discriminao.Revelaes do Campo

Viso da empresa

A poltica formal da empresa permite interpretaes sobre o estmulo diversidade: (01) (...) NORTEC tem demonstrado comprometimento contnuo com as pessoas e com prticas empregatcias justas. Como a NORTEC tem crescido e expandido suas atividades pelo mundo, sua fora de trabalho tem se tornado mais diversificada, [a qual] ajuda a companhia a alcanar seu pleno potencial. Reconhecendo e desenvolvendo os talentos de cada indivduo traz novas ideias NORTEC.O fragmento (01) traz, inicialmente, um tema explcito: o comprometimento com as pessoas e com prticas empregatcias justas. O explcito neste fragmento que h uma visvel permuta, na qual o reconhecimento trocado por resultados organizacionais: o comprometimento contnuo com as pessoas, assim, se submete a uma base estritamente capitalista (AKTOUF, 2004).(02) A companhia se beneficia da criatividade e inovao que resulta quando a NORTEC que tem diferentes experincias, perspectivas e culturas trabalhando juntos. Isso o que dirige a inveno e alta performance na NORTEC. Ns acreditamos que uma fora de trabalho diversificada e bem gerenciada expande a base de conhecimento, habilidades e compreenso intercultural da NORTEC, o que, por sua vez, nos habilita a entender, relatar e responder mudana de diversidades dos nossos clientes, conectando-os ao poder da tecnologia. Nosso comprometimento geral refletido na nossa filosofia de diversidade e incluso.O fragmento (02) explicita a viso da empresa sobre a diversidade, reforando as concluses de Aranha e outros (2006). A organizao se beneficia das diferenas, e, isso o que dirige a inveno e alta performance na NORTEC, uma associao explcita entre a diversificao da fora de trabalho e a capacidade de alcance das expectativas dos clientes, o que sugere uma lgica regida no por um genuno interesse social, mas pela busca da legitimidade junto ao mercado (LOUNSBURY; CRUMLEY, 2007), aos clientes (Wailes; Michelson, 2008), por meio do uso instrumental do discurso (SARAIVA e outros, 2004).(03) Filosofia de Diversidade e Incluso da NORTEC

Uma fora de trabalho diversificada e altamente realizadora uma vantagem competitiva sustentvel que diferencia a NORTEC. Ela essencial para vencer nos mercados e comunidades ao redor do mundo.

Um ambiente de trabalho flexvel e inclusivo, que valoriza as diferenas, motiva os empregados a contribuir com o seu melhor.

Para melhor servir aos nossos clientes, ns devemos atrair, desenvolver, promover e reter uma fora de trabalho diversificada.O fragmento (03) explicitamente aborda a diversidade como fonte de vantagem competitiva sustentvel que propicia que a empresa vena nos mercados ao redor do mundo. O vocbulo vencer sugere uma lgica de luta, em que a empresa associa a vitria diversidade, que a auxiliaria a entender as diferenas, derrotando os concorrentes pela adeso dos empregados ao projeto organizacional (SENNETT, 1999).Viso das minorias

Sob a tica dos membros entrevistados das minorias que trabalham na NORTEC, as polticas de estmulo diversidade apresentam limites. Independentes da minoria a que pertencem, as denncias de discriminao e excluso se assemelham:

(06) o discurso muito bonitinho, mas no tem nenhum negro gerente ou diretor (empregado negro).(07) Falam tanto em poltica de diversidade aqui na empresa, mas meu companheiro no tem os mesmo direitos que as mulheres dos meus amigos tm: plano de sade, seguro, viagem-prmio (empregado homossexual). Os fragmentos discursivos (06) e (07) ilustram a interdiscursividade, quando um discurso distinto do enunciador por ele enunciado. O personagem explcito discurso mobilizado no fragmento discursivo (06) na forma de contradio. Embora seja bonitinho, implcito pressuposto de formalidade e explcito de ironia, no tem nenhum negro gerente ou diretor, sugerindo dificuldades na ascenso profissional dessa minoria. O fragmento (07) mobiliza o discurso da empresa, implicitamente subentendido como difundido, mas no efetivo, pois no h igualdade no tratamento de casais homossexuais em relao aos heterossexuais. ConclusoAtravs de pesquisas bem elaboradas e concretas, os professores concluram que a implementao de polticas de diversidades em uma ou mais filiais de multinacionais, pode ser bem-sucedida, no vendo pelo lado dos afetados, que podem ser vtimas de esteretipos raciais e discriminaes sociais. Certamente essas polticas so um perigo para as organizaes e at para a sociedade, visto que h um conflito social durante sua aplicao. Devido a isso e outras circunstncias, sua efetividade altamente questionvel. s empresas e aos funcionrios, deve ser elaborado um plano que lhes proporcione coletividade e parcialidade, afinal, somos todos humanos, no h motivo para discriminaes.Referncia Bibliogrfica Poltica de Diversidade nas Organizaes: Uma Questo de Discurso?

Luiz Alex Silva Saraiva Professor Adjunto do Departamento de Cincias Administrativas da Faculdade de Cincias Econmicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Atua como Pesquisador, Professor e Orientador, nos nveis de Graduao e de Ps-Graduao, na rea de Estudos Organizacionais em perspectivas interdisciplinares relacionadas a Cidades, Discursos, Diversidade e Diferenas, Economia Criativa, Histrias e Memrias, Poderes, Prticas, Simbolismos e Trabalho.

Hlio Arthur Reis Irigaray Doutor em Administrao de Empresas pela FGV-EAESP (2008), Mestre em Administrao de Empresas, pela PUC-Rio (1997) e Bacharel em Economia pela University Of Northern Iowa (1986). Atualmente professor da FGV-EBAPE, onde tambm exerce a funo de coordenador-adjunto do Mestrado Executivo em Administrao de Empresas. Tem interesse nas seguintes reas de pesquisa: diversidade e relaes de trabalho, bem como os impactos dos discursos e prticas de sustentabilidade das organizaes nas relaes de trabalho e nas comunidades envolvidas.