Resenha o Mito Fundador
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7/30/2019 Resenha o Mito Fundador
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REVISTA INTER-LEGEREWWW.CCHLA.UFRN.BR/INTERLEGERE
BRASIL: MITOFUNDADORESOCIEDADEAUTORITRIA1
BRAZIL: FOUNDATIONALMYTHANDAUTHORITARIANSOCIETY
Autora: Marilena ChauResenhado por: Winifred Knox2
Marilena Chau nasceu em So Paulo, em 1941, cursou Filosofia e fez
mestrado na Universidade de So Paulo (USP); doutorou-se na Frana, defendendo
tese em 1971; em 1977 aconteceu a defesa de sua tese de livre docncia. Em 1987,
fez concurso e tornou-se professora titular de Filosofia da USP. membro fundador
do Partido dos Trabalhadores (PT) desde a dcada de mil novecentos e oitenta. A
autora tem tambm participado ativamente das discusses sobre educao e cultura
em algumas gestes do PT, inclusive na atual, do presidente Luiz Incio Lula daSilva.
Elaborar resenha de um de seus livros uma tarefa ousada, pois Chau tem
se notabilizado por sua capacidade de escrever sobre complexas questes
filosficas, trazendo fundamentos bsicos de Filosofia para iniciantes na arte do
pensamento dessa cincia. Isto denota sua capacidade de escritura. O que
Ideologia, um de seus livros com mais de cem mil cpias vendidas, e Convite
Filosofia soos que mais a popularizaram. Mas, Chau tem escrito tambm sobre
1CHAU, Marilena. Brasil, Mito Fundador e Sociedade Autoritria. 4. ed. So Paulo:Fund.Perseu Abramo, 2001.103 p.2Winifred Knox, mestra em Sociologia pelo IFCS/UFRJ e doutoranda do Programa de Ps-Graduaoem Cincias Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do NorteEndereo: rua Tilpia n. 19, Ponta Negra, Natal/RN, CEP 59090750. Tel.: (84) 32364746 e (84)99872514.e-mail: [email protected]
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poltica, cultura popular e democracia, alm de outros temas, tendo dois grandes
trabalhos filosficos/acadmicos sobre Merleau Ponty e Espinosa.
A coleo Histria do Povo Brasileiro, criada em fins do sculo XX pela
Editora Perseu Abramo, tem como objetivo trazer uma viso abrangente e
alternativa da histria brasileira, buscando combinar rigor e linguagem acessvel
sobre temas de relevncia, como em Brasil: Mito Fundador e sociedade autoritria,
que um dos volumes da coleo e serve como exemplo de trabalho questionador
sobre o pensamento social e histrico brasileiro. Outros volumes j lanados
tambm se destacam, dentre os quais: Afogados em leis: a CLT e a cultura poltica
dos trabalhadores brasileiros, de John French, e O imprio do Belo Monte: vida e
morte de Canudos, de Walnice Nogueira Galvo.
Brasil: Mito Fundador e sociedade autoritria de Marilena Chau pretende
chegar ao cerne de nossas questes mais profundas, enquanto brasileiros e, como
povo/nao, com formao sociopoltica bem caracterstica. Este livro foi escrito no
momento em que o pas pensava em festejar 500 anos de descobrimento. No
entanto, a autora inverte a questo indagando ao leitor sobre o que realmente se
deveria comemorar naquele quinto centenrio de descobrimento.
Para ela, o mito fundador do Brasil, revestido de diversas formas no
pensamento social, ao longo da historia brasileira fornece a base para as
comemoraes, porm trata-se de uma criao ideolgica formulada para impor
uma viso de mundo que beneficia alguns poucos brasileiros.
Ento, j no primeiro captulo, Com f e orgulho, a autora explica a idia de
mito que a est guiando na elaborao do livro. O mito entendido no s no
sentido etimolgico do termo (mythos narrao pblica de feitos lendrios de uma
comunidade), mas tambm em sentido antropolgico, como uma espcie de
narrativa utilizada para explicar, entender, ou ainda justificar determinada realidade,
soluo imaginria para tenses, conflitos e contradies que no encontramcaminhos para serem resolvidos no nvel da realidade. (p. 9).
Neste sentido, o mito pode ser compreendido na ideologia, ou seja, atravs
das idias produzidas com intencionalidade clara de mascarar a verdadeira situao
de uma dada realidade. Chau mostra uma srie de esteretipos produzidos pelo
pensamento social atravs da literatura, dos escritos acadmicos/cientficos, dos
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Desde 1980, no entanto, as noes de nao e nacionalidade se deslocam
para o campo das representaes j consolidadas, servindo para legitimar nossa
sociedade autoritria, e neste contexto que a autora critica o semiforo construdo
como: Brasil 500 anos.
Nos captulos seguintes, a autora reflete sobre as vrias formas que o
semiforo Brasil se firma do sculo XIX ao sculo XX. O verde-amarelismo, no
terceiro captulo, tratado via imagem celebrativa do pas essencialmente agrrio,
imagem construda pela classe dominante brasileira que incorpora as idias do
Brasil colnia de explorao. Contudo, observa que, a partir de meados do sculo
XX, o verde-amarelismo, criado pelas elites, re-significado e passa a operar como
compensao imaginria para a condio perifrica e subordinada do pas. assim
que o semiforo nao, atravs do verde-amarelismo, nada mais faz do que manter
o mito fundador do Brasil.
Outra forma de construo e formao do semiforo Brasilse d atravs da
produo intelectual de sua elite, assunto abordado no captulo quatro Do IV ao V
centenrio. Nesta direo, ela faz uma anlise de trabalhos de alguns intelectuais,
tais como: Afonso Celso (Visconde do Ouro Preto) em Porque me ufano de meu
pas; Euclides da Cunha em Os Sertes; Slvio Romero em O Carter nacional, As
origens do povo brasileiro e a Histria da literatura brasileira. Analisa tambm
algumas instituies, dentre as quais: o Instituto Histrico Geogrfico Brasileiro
(IBGE), criado em 1838, que desde ento tem a tarefa de oferecer ao pas um
passado glorioso e um futuro promissor(p.50) e esta vem sendo realizada.
Em seu ltimo captulo O Mito Fundador, Marilena Chau discorre sobre a
forma como foi produzido o mito fundador do Brasil. Primeiramente, relacionado
Natureza, pois funda-se nela, desde o descobrimento doBrasil, em 1500, atravs da
idia do Paraso na Terra, o Topos do Oriente como o Jardim do den, o que nos
lana para fora do mundo da histria concreta.Nessa perspectiva, a servido voluntria a forma de explicao, como
tambm a justificativa da escravido de negros e ndios pelas elites, pelo
mecanismo da naturalizao da escravido no Brasil Colnia.
A segunda forma teria sido a sagrao da histria pela divinizao dos
governantes, que representam Deus, e no dos governados. O direito divino dos
reis, juntamente com a sagrao da histria, pela concepo de tempo judaico-
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cristo adotada, na qual tudo est determinado por Deus. Essa forma acaba por
destituir os sujeitos de sua subjetividade e ao. Assim, o mito engendra uma viso
messinica da poltica que possui como parmetro o ncleo milenarista do embate
csmico final entre a luz e a treva, o bem e o mal, de sorte que o governante ou
sacralizado (luz e bem) ou satanizado (treva e mal).
Na concluso, Comemorar?, a nfase d-se pela dvida. O ttulo j sugere
contundente desfecho da autora que faz, por conseguinte, uma reflexo sobre a
sociedade brasileira. Fortemente verticalizada, e homogeneizadora das diferenas,
em verdade, contraditoriamente retrica, a sociedade brasileira vem impedindo as
diferenas enquanto realizaes das subjetividades ou como alteridade. No h,
finalmente, segundo Marilena Chau, motivos ufanistas para comemorao do: Brasil
500 anos.
Pontuamos ainda que existem diferentesinterpretaes realizadas por outros
autores sobre a miscigenao das raas no Brasil, que o colocam como terra de
mestiagem, no sentido positivo, afirmativo da identidade social. No entanto, o ponto
de vista adotado por Chau, neste livro, sobre a formao social do povo brasileiro,
mostra que o debate ainda suscita uma profunda reflexo da qual longe estamos de
esgot-la plenamente nesta resenha.3
Portanto, reafirmamos que o livro, por sua linguagem acessvel e
argumentao veemente, fornece subsdios fundamentais para uma reflexo sobre
questes que se encontram fecundas ainda no pensamento social brasileiro.
Todavia, um livro que poderamos considerar indispensvel a estudantes e
professores e a todos que desejarem refletir acerca das razes do Brasil.
3 Sobre as expresses assinaladas cf. Souza Filho, A. Brsil: Terre de mtissages, Paris,PUS,2003 e sobre o assunto cf. SOUZA, J.A Modernizao Seletiva. Uma reinterpretao dodilema Brasileiro.Braslia: EdUnb, 2000.
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