Resenha - O Canto Dos Malditos
-
Upload
amandavargas -
Category
Documents
-
view
34 -
download
2
description
Transcript of Resenha - O Canto Dos Malditos
Disciplina: Psicopatologia Adulto
Professor: Marilza Izidro Vieira Pacheco de Carvalho
Alunos: Aldira Bodachne Muhlmann
Alessandra Veloso
Leliane Regina do Nascimento Wendrechovski – RA 1001260058
Luis Alberto Gustavo Niemies Jeremias – RA 1001360157
Mansur Marcos Trad
Resenha: O Canto dos Malditos
Os tempos eram outros, nada do que prevalecia na época, como a ideia
de liberdade, era possível ser seguida, mas os jovens tomavam seus
caminhos.
Com, Austry, um jovem que mistura sua rebeldia com o cotidiano, não
poderia ter sido diferente.
A identificação com a turma do Foto Clic, que acabou se tornando o
quartel general do grupo, onde podiam experimentar e vivenciar o novo,
através do uso de maconha e outras drogas, acaba influenciando os primeiros
passos do jovem e conduzindo a suas primeiras aventuras.
Uma viagem a Camboriú, intensifica sua relação com o grupo, e Austry
que apesar da vida agitada acaba compreendendo que os estudos eram uma
saída interessante e um propósito de vida, investindo nas aulas de arte,
surgindo ai o desejo de ser ator.
Um novo convite, nova viagem, mochila nas costas, Austry se vê em
plena Copacabana, Rio de Janeiro, anos 70. Envolto em uma situação onde
cada um tem que tomar conta de si, acaba dormindo na praia e apreendendo
uma forma de sobrevivência, se misturando a muitos outros que seguiam o
mesmo trajeto. Acaba descobrindo uma companheira e também uma colega de
Curitiba, intensificando suas aventuras e adquirindo um certo tipo de confiança.
A experiência da primeira batida policial acaba vindo com a prisão, pelo
motivo de vadiagem e o desejo do retorno a casa se torna presente.
De volta à rotina, a policia de Curitiba está de olho no grupo do Foto Clic,
e no retorno de uma nova aventura ao Camboriú, o grupo é surpreendido por
um policial com má fama, mas as habilidades os livram desta situação.
Não é possível prever o que acontecerá na vida de qualquer pessoa,
porém, sabemos que a adolescência é a fase dos sonhos e, alguns
adolescentes tiveram suas trajetórias e fantasias, interrompidas drasticamente,
e, necessitando enfrentar uma dura realidade e rotina, em hospitais
psiquiátricos. Essa foi a realidade vivenciada por Austry.
Rebelde e com hábitos duvidosos, foi encaminhado, por seus familiares,
ao hospital psiquiátrico para desintoxicação. Austry considerava que, o uso da
maconha não era prejudicial e, que o controle estava em seu poder e que suas
reações opositoras e até agressivas em casa faziam parte de comportamento
de adolescentes.
Para Austry, que estava na fase de estudos para vestibular, àquela
realidade não fazia o menor sentido tinha perdido totalmente a sua autonomia.
Não compreendia porque seu pai o deixou no hospital e queria que algum
médico respondesse às suas indagações, mas no hospital as coisas não
aconteciam no seu tempo.
A sua percepção inicial das pessoas que estavam no hospital, deixou-o
muito triste. Os diferentes grupos espalhados no hospital tinham características
diversas e, particularmente temia o que via num determinado canto. Alguns
pareciam normais e outros não dava para nominar a gravidade de suas
fisionomias e condições.
Ao conversar com Rodrigo, um dos internos foi informado do
funcionamento do local e, recebeu algumas dicas para não cair no
eletrochoque. E, a partir deste momento começou a refletir no divisor de águas
que existe para os que estão dentro e fora de um hospital psiquiátrico.
A outra contradição na cabeça de Austry era quanto ao motivo de ter
sido encaminhado para o hospital, uso de maconha e, agora mesmo sem ter
sido examinado ou entrevistado pelo médico o estavam medicando sem ao
menos conhecê-lo. Para ele ficava a dúvida tirar a maconha e substituí-la por
outras drogas?
Na medida em que o tempo passava eram muitas as indagações, para
Austry. Em alguns momentos as lembranças da sua vida fora do hospital,
estudo, família e amigos e, no hospital, os internos com diferentes histórias,
reações e comportamentos.
Finalmente, chega o dia das visitas e, mais um ritual para ser refletido.
Desde muito cedo a recomendação era para deixar tudo limpinho e
arrumadinho. Austry tinha a esperança de falar com seu pai, mas sabia que só
teria visita liberada depois de quinze dias de internamento.
A intensificação da amizade com Rogério, vem em auxilio ao sofrimento.
Austry agora já aguardado a terceira sessão de eletrochoque relata ao amigo
que está fazendo uso da medicação que lhe é fornecida, mesmo sendo
advertido sobre isso. Seus movimentos já estão lentos e uma certa indiferença
se abate sobre Ele.
A possibilidade dos dois dividirem o mesmo quarto traz alívio, mesmo
provocando a indignação do administrador do Hospital, mas ao ver a aplicação
no amigo, Austry tentou fugir da situação, sendo obrigado a mais uma sessão,
essa a terceira, menos uma de um total de doze a que seria exposto.
Sua esperança agora estava concentrada nos dias de visita, sábado e
domingo podiam significar um alívio de que o pai, ao receber suas informações
sobre o tratamento o pudesse retirar daquele lugar. Conseguiu somente uma
palavra de que conversaria com o doutor Alo para que não utilizassem mais o
eletrochoque. O alívio não veio. Nova sessão de eletrochoque e novas dores, o
sofrimento após essas sessões era cruel e causava um enorme desconforto.
Muitas vezes o caminho para casa quando se trata de estar saindo de
em um sanatório pode ser mais doloroso do que parece. Fazendo até mesmo
preferir ficar onde está. Foi o que aconteceu com Austry, o garoto não se sentia
bem em casa, pois havia acostumado com a ideia de que o hospício era seu
lugar e só lá as pessoas o aceitariam como ele realmente era. Lá não existia
curiosidade em vê-lo, lá era só mais um entre tantos.
Infelizmente sabemos que o preconceito existente na sociedade é algo
difícil de combater, quando falamos de um ex-detento logo vemos olhares
tortos se cruzarem, como quem diz, aqui não tem lugar para um cara desses.
Pois é, para um “ex-louco” é praticamente a mesma coisa. Austry teve muita
dificuldade em inserir-se no mercado, a princípio não pelo seu histórico, até
porque tinha vergonha e não contava pra ninguém, mais devido aos temidos
eletrochoques em que passou e doses exageradas de medicamentos que
tomou no hospital, com isso sua capacidade de raciocínio e fala ficou
comprometida e tudo ficava mais complicado quando ele ao invés de contar
sua história e arriscar ter a compreensão de um ou de outro, preferia sofrer
calado.
Na nossa condição de seres humanos somos capacitados a nos
enquadrar e acostumar com aquilo que deparamos na nossa frente, para viver
melhor ou até mesmo para sobreviver. Austry aos poucos foi se acostumando
novamente com sua vida em sociedade, passando a ter um bom
relacionamento com as pessoas, conseguindo novos empregos e até mesmo
se destacando em alguns deles.
Porém a rebeldia do garoto foi algo que falou mais alto, por varias vezes
se envolveu em brigas de rua o que resultava em algumas noites em atrás das
grades. Em uma das vezes, foi tão agredido pelos policiais que resolveu passar
suas próprias fezes em seu corpo, para que no dia seguinte os policiais não
encostassem nele, isso soou como coisa de “louco” e resultou em um novo
internamento, onde continuou a sofrer agressões físicas pelos enfermeiros e ter
tratamento desumano.
Austry inicia uma trajetória de 3 anos e 6 meses por intermédio de
diferentes hospitais psicológicos. Onde convive com negligência, ausência de
profissionalismo, agressões físicas e morais, conhecendo a realidade do que
era camuflado atrás dos muros e pavilhões dos hospitais do país, nesta época.
Quando finalmente conseguiu sair de sua última internação, após uma
tentativa de suicídio onde colocou fogo numa cela de punição, resolveu
denunciar todo o sistema que o manteve excessivamente medicado durante
anos. Processou os profissionais responsáveis pelo tratamento imposto e
chamou a atenção da mídia para desmascarar as crueldades que ocorriam
naquele lugar.
Austregésilo Carrano participou ativamente do Movimento
Antimaniconial e suas denúncias colaboraram efetivamente no processo de
Reforma Psiquiátrica. Apesar de toda sua luta, morreu deixando para trás
dívidas de indenizações para os agressores que o processaram por danos
morais, ao encontrarem seus nomes expostos no livro.
Tais relatos contribuem para o futuro psicólogo, pois descreve a rotina
cruel de vigilância e repressão imposta aos doentes mentais, onde ficavam
confinados em asilos, hospitais gerais ou manicômios como delinquentes e
excluídos da sociedade em geral. Uma vez que remete a reflexão sobre as
dificuldades que sofre o doente que necessita de tratamento no país e não
possui o devido apoio humanizado, financeiro e estrutural com profissionais
qualificados e preparados.
BUENO, Austregésilo Carrano. Canto dos Malditos. Rio de Janeiro: Rocco, 2001