Resenha Mais_guia Afetivo Da Periferia_marcus Faustini

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 Os fabulosos prazeres da periferia do livro “Guia Afetivo da Periferia”, de Marcus Vinícius Faustini Recheado de pequenos prazeres, o livro de Marcus Vinícius Faustini é diferente de tudo aquilo que já se leu. É simples. E por ser tão delicado, é delicioso. Mas, falo de uma delicadeza ácida, se é que isso é possível. O “Guia Afetivo da Periferia” é uma viagem interna pela cidade maravilhosa, mas para além dos cenários festivos das novelas de Manoel Carlos, ou sangrentos do estilo favela movie. O relato ao estilo memória-presente é bem escrito. Poético, crítico e de uma beleza visceral, o livro é comparado a Amélie Poulain da periferia e o leitor percorre, como se fosse ele próprio, os caminhos por onde Faustini viveu e se descobriu. Lembranças de noites quentes com um ventilador azul ligado, as linhas de ônibus e trens que pegava, os livros lidos, a iniciação na cultura punk, as latas de sardinha e os azulejos amarelos na pia de casa são algumas das coisas que proporcionam ao leitor a sensação de que ele próprio já vivenciou tais citações. Os namoros com moças fãs de cinema francês, as leituras dentro dos ônibus e trens, as observações dos prédios da cidade e os pedidos de trocados para a mãe, no intuito de comprar doces na venda da esquina são algumas das afeições que o garoto franzino, vítima de tuberculose e calçado com botas ortopédicas brinda os leitores, sejam eles do gueto ou não, numa viagem gostosa e com sabor de saudade da infância. Quem viveu nos anos 1980 não pode perder o relato, que integra a coleção Tramas Urbanas, da editora Aeroplano e vem incrementado de várias imagens da época, além das boas histórias. Fotografias da família reunida na mesa, com uma garrafa de coca-cola comprada na venda da esquina somente aos domingos ou do vídeo-game Atari, que na época fez a cabeça dos garotos são algumas das lembranças que traçam o caminho que o leitor deve  percorrer por entre as memórias de Faustin i, uma pessoa tão comum a ponto de passar uma noite inteira chorando dentro de um ônibus, por saudade, que é absurdamente encantador.  Não é o tipo de livro que dá vontade de terminar, porque ao chegar no último parágrafo, temos a certeza de que o autor poderia continua r escrevendo a própria história, para sempre, que seria bom ler e compartilhar, afinal, há muita afetividade que une quem escreve e quem lê – porque há vivência sincera e mais, guarda um destino fabuloso. * Jéssica Balbino é jornalista, escritora e blogueira ( www.jessicabalbino.blogspot.com )

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Os fabulosos prazeres da periferia do livro “Guia Afetivo da

Periferia”, de Marcus Vinícius Faustini

Recheado de pequenos prazeres, o livro de Marcus Vinícius Faustini é diferente de tudo

aquilo que já se leu. É simples. E por ser tão delicado, é delicioso. Mas, falo de umadelicadeza ácida, se é que isso é possível. O “Guia Afetivo da Periferia” é uma viageminterna pela cidade maravilhosa, mas para além dos cenários festivos das novelas deManoel Carlos, ou sangrentos do estilo favela movie.O relato ao estilo memória-presente é bem escrito. Poético, crítico e de uma belezavisceral, o livro é comparado a Amélie Poulain da periferia e o leitor percorre, como sefosse ele próprio, os caminhos por onde Faustini viveu e se descobriu.Lembranças de noites quentes com um ventilador azul ligado, as linhas de ônibus etrens que pegava, os livros lidos, a iniciação na cultura punk, as latas de sardinha e osazulejos amarelos na pia de casa são algumas das coisas que proporcionam ao leitor asensação de que ele próprio já vivenciou tais citações.

Os namoros com moças fãs de cinema francês, as leituras dentro dos ônibus e trens, asobservações dos prédios da cidade e os pedidos de trocados para a mãe, no intuito decomprar doces na venda da esquina são algumas das afeições que o garoto franzino,vítima de tuberculose e calçado com botas ortopédicas brinda os leitores, sejam eles dogueto ou não, numa viagem gostosa e com sabor de saudade da infância.Quem viveu nos anos 1980 não pode perder o relato, que integra a coleção TramasUrbanas, da editora Aeroplano e vem incrementado de várias imagens da época, alémdas boas histórias.Fotografias da família reunida na mesa, com uma garrafa de coca-cola comprada navenda da esquina somente aos domingos ou do vídeo-game Atari, que na época fez acabeça dos garotos são algumas das lembranças que traçam o caminho que o leitor deve

 percorrer por entre as memórias de Faustini, uma pessoa tão comum a ponto de passar uma noite inteira chorando dentro de um ônibus, por saudade, que é absurdamenteencantador.

 Não é o tipo de livro que dá vontade de terminar, porque ao chegar no último parágrafo,temos a certeza de que o autor poderia continuar escrevendo a própria história, parasempre, que seria bom ler e compartilhar, afinal, há muita afetividade que une quemescreve e quem lê – porque há vivência sincera e mais, guarda um destino fabuloso.

* Jéssica Balbino é jornalista, escritora e blogueira (www.jessicabalbino.blogspot.com )

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